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ESTUDANTES ATENDIDOS PELO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA UNIVERSITÁRIA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC): uma reflexão necessária.
Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos1 Kátia Valéria Nunes de Morais2
Resumo
Este trabalho é fruto de um levantamento exploratório preliminar junto às fichas de inscrição e aos questionários de visitas domiciliares dos candidatos deferidos e incluídos no Programa de Residência Universitária da UFC, no ano de 2013. Tal proposta objetiva apontar o perfil do estudante residente e inferir sobre a importância da assistência estudantil para a permanência e êxito no percurso acadêmico. Além disso, tem o intuito de suscitar o debate acerca das ações que possam fortalecer a política de assistência estudantil na UFC, no sentido de atender as reais necessidades do estudante. Palavras-chave: assistência estudantil, ensino superior, vulnerabilidade
social Abstract
This work is the result of a preliminary exploratory survey together with the registration forms and the questionnaires of home visits of the candidates accepted and included in the UFC University Residency Program, in the year 2013. This proposal aims to show the profile of the resident student and infer about the importance of student assistance for the permanence and success in the academic course. In addition, it aims to raise the debate about the actions that can strengthen the student assistance policy in the UFC, in order to meet the real needs of the student. Keywords: Student assistance, higher education, social vulnerability
1 Doutora em Ciências Sociais. Assistente Social na Universidade Federal do Ceará (UFC). [email protected]
2 Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET). Graduanda em Serviço Social na Universidade Estadual do
Ceará (UECE). [email protected]
2
Introdução
A Universidade Federal do Ceará (UFC), criada em 1954, é composta
atualmente por sete campi – três em Fortaleza (Benfica, Pici e Porangabussu) e os
localizados nos municípios de Sobral, Quixadá, Cratéus e Russas. Considerando os dados
de 2014, divulgados no site da Instituição, o Anuário Estatístico de 2015 registra que 25.719
estudantes estavam matriculados entre os 103 cursos presenciais de graduação3 (74
bacharelados, 27 licenciaturas e 01 tecnólogo). No ano de 2014, foram 5.339 ingressantes
via Sistema de Seleção Unificado (SiSu).
Em 2011, a UFC foi pioneira na adoção integral ao SiSU, o que para a Instituição
significou uma efetiva ação na busca da democratização do acesso ao ensino superior,
destacada em seu Plano de Desenvolvimento Institucional (2013-2017)4. Tal documento
ressalta uma proposta acerca dos compromissos sociais por meio da política de inclusão
social, do programa de assistência estudantil e dos projetos de extensão universitária.
Sobre a assistência ao estudante, a UFC tem buscado seguir as orientações
propostas pelo Programa Nacional de Assistência Estudantil- PNAES (Decreto n.º7.234, de
19/07/2010), instituído pelo Ministério da Educação (MEC), cujos objetivos visam ampliar as
condições de permanência dos estudantes no ensino superior, minimizando os efeitos das
desigualdades sociais, que possam dificultar a permanência na vida acadêmica.
De acordo com o PNAES, há dez áreas prioritárias para a assistência estudantil:
moradia estudantil; alimentação; transporte; saúde; inclusão digital; cultura; esporte; creche;
3 Disponível em http://www.ufc.br/a-universidade/ufc-em-numeros/6906-dados-basicos-2014. Acesso em 07 out.
2016 4 http://www.ufc.br/images/_files/a_universidade/plano_desenvolvimento_institucional/pdi_ufc_2013-2017.pdf
Acesso em 09/11/2013.
3
apoio pedagógico e acesso, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação. O Programa
estabelece que essas ações atenderão aos estudantes matriculados em cursos presenciais
de graduação, que deverão ser selecionados, sobretudo, por critérios socioeconômicos.
Logo, o Plano de Desenvolvimento Institucional (2013-2017) indica que:
A UFC atualmente contempla ações nas áreas de moradia, alimentação, apoio pedagógico, esporte, assistência à saúde e de acessibilidade que beneficiam, diretamente, estudantes vinculados ou não aos programas de assistência estudantil. Os estudantes vinculados aos Programas de Residência Universitária, Auxílio-Moradia, Restaurante Universitário (RU), Bolsa de Iniciação Acadêmica, Apoio Pedagógico e Assistência à Saúde são o foco principal das ações da PRAE. Ações nas áreas de cultura, esporte e acessibilidade são também desenvolvidas pela PRAE e por outras unidades da UFC, sempre focando as necessidades dos estudantes (UFC, 2012, p. 37).
Vale destacar, considerando o Anuário Estatístico de 2015, que no ano de 2014,
a UFC abrangeu 1.200 estudantes com a Bolsa de Iniciação Acadêmica; 870 beneficiários
do Programa de Moradia Estudantil (residência universitária, auxílio moradia no interior e em
Fortaleza), somando-se a 902 Bolsas na área do desporto.
Destas ações nos interessa concentrar a análise no Programa de Residência
Universitária da UFC, tendo em vista a busca do aumento de vagas, com a construção de
novas casas5, bem como a necessidade de melhorias na infraestrutura dos imóveis
existentes. Atualmente, a Instituição conta com 11 residências universitárias, que totalizam
438 vagas. Este trabalho, portanto, é fruto de um levantamento exploratório, realizado de
modo preliminar em 2013, junto às fichas de inscrição e aos questionários de visitas
domiciliares dos candidatos deferidos e incluídos no Programa de Residência Universitária
da UFC. Tal proposta objetiva apontar o perfil do estudante residente e inferir sobre a
importância da assistência estudantil para a permanência e êxito no percurso acadêmico.
Além disso, tem o intuito de suscitar o debate acerca das ações que possam fortalecer a
política de assistência estudantil na UFC, no sentido de atender as reais necessidades do
5 Em 2011 houve a inauguração de um prédio com capacidade para 198 estudantes, no Campus PICI-Fortaleza
e já se encontra em andamento a construção de duas residências no Bairro Benfica (Fortaleza) com capacidade total para 119 estudantes.
4
estudante, buscando como diretriz a universalidade de atendimento nos benefícios e
serviços sociais e não a seletividade meramente por critérios de renda per capta.
Residentes: quem são e de onde vem?
O Programa de Residência Universitária (PRU) é parte integrante da Pró-Reitoria
de Assuntos Estudantis - PRAE6 da UFC e visa atender aos estudantes provenientes do
interior do Ceará ou de outros Estados, que estejam cursando prioritariamente a primeira
graduação; que não tenham núcleo familiar morando na capital cearense, além de
apresentarem condição socioeconômica insuficiente para sua manutenção.
Conforme indicado na Tabela 01, o PRU em 2013 atendeu 402 estudantes dos
cursos de graduação presencial dos Campi de Fortaleza, dentre eles 104 foram deferidos e
incluídos no Programa nos dois processos seletivos realizados em 2013.
Tabela 01 – Capacidade e Lotação das Residências Universitárias
Endereço Residência Capacidade Gênero Lotação
Av. da Universidade, 2635 REU 2635 21
Masculinas
15
Av. da Universidade, 2133 REU 2133 22 19
Av. Carapinima, 1601 REU 1601 10 09
R. Waldery Uchoa, 140 REU 140 12 07
R. dos Remédios, 148 REU 148 06 06
R. Justiniano de Serpa, 433 REU 433 30 Mistas
26
R. Paulino Nogueira, 125 REU 125 76 76
R. Abdenago Rocha Lima, 420 REU PICI7 198 188
Av. da Universidade, 2216 REU 2216 38 Femininas
33
R. dos Remédios, 250 REU 250 06 06
R. Manuelito Moreira, 25 REU 25 19 17
TOTAL 4388 402
FONTE: Divisão de Gestão de Moradia-DIGEM/PRAE/UFC. Levantamento realizado em nov./2013.
6 A PRAE é composta por três Coordenadorias – Assistência Estudantil, Restaurante Universitário e Desporto. A
Coordenadoria de Assistência Estudantil (CASE) tem sob sua gestão três Divisões, quais sejam: i) de Gestão de Benefícios (DIGEB); ii) de Atenção ao Estudante (atendimento Psicológico e Psicopedagógico); iii) de Gestão de
Moradia (DIGEM). Esta última é responsável pela seleção e acompanhamento social dos beneficiários com a residência universitária. Acessar: www.prae.ufc.br 7 Vale esclarecer que da capacidade das vagas existentes na REU PICI, duas são destinadas a pessoas com
deficiência e oito estão reservadas para hospedagens eventuais aos próprios alunos da UFC (não residentes) ou de outras universidades brasileiras e estrangeiras. 8 Cabe acrescentar que da lotação total, nove estudantes encontravam-se, no momento deste levantamento, em
intercâmbio em outros países, por meio do Programa Ciências Sem Fronteiras.
5
O levantamento preliminar sobre o perfil dos estudantes atendidos pelo PRU
retrata aspectos gerais, tais como situações de vida pessoal e familiar assim como
antecedente escolar. Em alguns indicadores, buscou-se centrar as análises especificamente
nos ingressantes em 2013, como os que se refere à renda per capita.
Primeiramente, aponta-se que da lotação total contamos com um número
significativo de estudantes residentes do gênero masculino (57,7%) em comparação à
quantidade de mulheres (42,3%). Esta configuração persiste quando tratamos apenas dos
ingressantes em 2013, dos quais: 63,5% são homens e apenas 36,5% são mulheres. Este
dado pode ser reflexo de dois principais fatores, quais sejam: 1) em 2011, os homens
representaram 54,42% das matrículas na UFC enquanto as mulheres 45,58%. Em 2014,
essa proporção se manteve, dos matriculados 53,65% eram homens e 46,35% mulheres,
conforme os Anuários Estatísticos de 2012 e 2014; 2) a residência universitária requer uma
maior autonomia e independência afetiva do estudante em relação à família, as vezes
inibida, no caso das mulheres, em virtude da cultura machista, ainda vigente em nossa
sociedade. A família cujo modelo permanece patriarcal tende a postergar a saída da mulher
de casa ou a mantê-la em ambientes mais próximos ou de maior confiança familiar.
Logo, a análise do perfil do residente sobre a perspectiva de gênero abre um
questionamento quanto à necessidade de políticas públicas estruturais de fortalecimento
das mulheres na Educação. No sentido de ampliar as condições materiais que assegurem
seu acesso e permanência no ensino superior, buscando compreender e transformar os
mecanismos socioculturais sutis, subjetivos, que vem contribuindo historicamente para a
reprodução das desigualdades de gênero.
Entre a faixa etária e o gênero dos ingressantes no PRU, em 2013, a maioria
estava com idade entre 18 a 21 anos (63,5%), apontando que não houve distorção
significativa entre a idade e o nível de escolaridade. Pelo Gráfico 01 apreende-se que entre
as mulheres, a faixa etária predominante foi de 18 a 19 anos (42,1%) enquanto os homens
estavam na idade entre 20 e 21 anos (34,8%).
6
Verificou-se que os 402 residentes estavam inseridos em um universo de 50
cursos de graduação da UFC. O Gráfico 02 revela que 65,9% deles estudavam nos cursos
dos Centros de Agrárias, Humanidades e Ciências; em contrapartida os cursos com menor
número de residentes (2,7%) localizam-se nas unidades acadêmicas do Labomar, da
Faculdade de Direito e da Faculdade de Medicina e Fisioterapia.
Os cursos de Letras (incluindo as diferentes línguas) e Agronomia receberam a
maior parte dos residentes: 59 e 47 estudantes, respectivamente, somando 26,4% dos
residentes. Em seguida, têm-se os cursos de Pedagogia (22 residentes), Geografia (21),
Economia Doméstica (21), Matemática (18), Química (18), Educação Física (13) e Ciências
Econômicas (11). Na área da saúde, cujos cursos são vistos como de elevada concorrência,
7
o PRU contemplou em 2013, 09 alunos da Farmácia; 07 da Enfermagem; 01 da Fisioterapia;
da Odontologia e Medicina, foram 03 residentes em cada um desses cursos.
Estes dados contribuem para subsidiar a localização da construção de novas
residências. Vejamos que dos nove primeiros cursos referidos anteriormente, seis são
ofertados no Campus do Pici. Do total dos estudantes contemplados no PRU em 2013, 56%
estudavam neste Campus; 37,1% no Benfica; 5,7% no Porangabussu e 1,2% no Labomar.
Além disso, 49,4% das residentes do gênero feminino estudavam no Campus do Benfica
enquanto 64,2% dos homens residentes estudavam no Campus do Pici (gráfico 03).
Dos 214 estudantes que moravam nas residências situadas no Bairro Benfica,
47 deles, ou seja, 21,9% estudavam no Campus do Pici. Uns, por opção, permaneceram
morando em um bairro distante do campus onde estuda; com outros, isso ocorreu por falta
de vagas na REU PICI para transferência. Uma parte dos residentes considera o Bairro
Benfica melhor para mobilidade urbana e com equipamentos sócio-culturais mais
significativos para o segmento juvenil. Outros prefeririam, se houvesse possibilidade,
priorizar o menor deslocamento à faculdade, morando no próprio campus onde estuda.
Estes aspectos devem ser considerados quando do planejamento das ações de
assistência estudantil, sobretudo, no que envolve a infraestrutura para moradia, cultura,
lazer e esporte. Haja vista que uma das principais queixas dos residentes que moram no
8
Campus do PICI é a ausência de atividades e equipamentos de entretenimento na própria
residência e/ou em suas proximidades.
No que diz respeito à minimização do desconforto com o deslocamento entre as
moradias e os locais dos cursos, a UFC implantou desde junho/2013 o sistema de
transporte gratuito realizando o trajeto circular Pici-Porangabuçu-Benfica-Pici diariamente,
das 8hs às 18hs9. No entanto, é necessária uma avaliação a fim de apontar se este serviço
tem atendido as demandas dos estudantes e quais ajustes devem ser propostos.
Um dos principais critérios para o estudante se inscrever no processo seletivo ao
PRU-UFC é não ter núcleo familiar morando em Fortaleza, assim, 94,3% dos residentes, no
ano de 2013, eram oriundos de outros municípios cearense. Todavia, 0,7% deles eram de
Fortaleza10 e apenas 5% vieram oriundos de outros estados, como ilustrado pelo gráfico 04.
Dentre estes últimos, tem-se que 60% são da região nordeste (Bahia, Rio Grande do Norte,
Piauí e Maranhão), 15% do norte (Pará) e 25% proviam do sudeste (São Paulo).
Do total de residentes, a maioria tem núcleo familiar nos municípios de Apuiarés
(11,4%) e Pentecoste (10,9%), localizados na Macrorregião Litoral Oeste do Ceará11, que
abrange 27 municípios, dos quais 17 contam com estudantes residentes na UFC. Vale
mencionar, que nestes dois municípios citados desenvolve-se uma das ações de extensão
universitária da UFC, o Programa de Educação em Células Cooperativas (PRECE), o qual
tem contribuído para o ingresso de estudantes carentes nas universidades cearenses12.
9 Ver http://www.ufc.br/noticias/noticias-de-2013/3744-professores-e-servidores-tecnicos-podem-utilizar-sistema-
de-onibus-entre-os-campi Acesso em 10/11/2013. 10
Cabe esclarecer que estes estudantes, apesar de serem oriundos da própria capital, encontram-se nas seguintes situações: os pais, ou pelo menos um deles, já faleceram; os pais são separados, um não mantém contato com os filhos, o outro mora no exterior. 11
A lei complementar n.º 12.896/1999 estabeleceu oito macrorregiões de planejamento, que compõem o Estado
do Ceará, conforme o Instituto de Pesquisas e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). Ver: http://www2.ipece.ce.gov.br/estatistica/perfil_regional/Perfil_Regional_R2_Litoral_Oeste_2012.pdf Acesso em 09/12/2013. 12
Ver http://www.prece.ufc.br/?page_id=368 Acesso em 11/11/2013.
9
Em 2013, a Região Metropolitana foi a segunda macrorregião cearense com
maior número de estudantes contemplados com o PRU-UFC, no qual 71% concentravam
sua origem familiar nos municípios de Cascavel (17 residentes), Aquiraz (12), Horizonte
(15), Maranguape (15) e Maracanaú (10).
Outro fator, que contribui para a caracterização do perfil socioeconômico do
estudante e é indicado como elemento prioritário junto ao PNAES13, refere-se ao tipo de
instituição na qual o aluno concluiu o ensino médio. Sobre esta questão, levantaram-se os
dados alusivos somente aos ingressantes no PRU em 2013, considerando como referência
o último ano do ensino médio. Assim, o gráfico 05 demonstra que 79,8% dos novos
residentes à época estudaram em escola pública; 11,5% em escolas privadas mediante
bolsa de estudos e 8,7% em instituições particulares.
Outro
fator relevante para nortear as ações socioeducativas e de cunho financeiro de assistência
ao estudante refere-se ao semestre em que ele está cursando a graduação,
simultaneamente, a sua entrada no Programa de Residência Universitária.
13
Art. 5o Serão atendidos no âmbito do PNAES prioritariamente estudantes oriundos da rede pública de
educação básica ou com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio, sem prejuízo de demais
requisitos fixados pelas instituições federais de ensino superior (Decreto n.º 7.234, de 19 de julho de 2010).
10
O gráfico 06 revela que 51% dos ingressantes no PRU/UFC em 2013 estavam
no primeiro semestre do curso enquanto 25% encontravam-se no segundo e 24% cursavam
entre o terceiro e o oitavo semestre. Tal constatação sugere uma atenção prioritária para o
primeiro ano da graduação, sobretudo no que diz respeito aos esclarecimentos sobre os
direitos e deveres acadêmicos; à preocupação com a inserção em um ambiente universitário
que traz consigo uma maior liberdade e autonomia em relação à aprendizagem e busca de
novos conhecimentos e a toda situação propícia ao amadurecimento intelectual e emocional
deste estudante que, acima de tudo, enfrenta as transformações de um momento da vida
considerado de transição da juventude para a fase adulta. Assim, as ações que envolvem as
áreas da psicologia e da psicopedagogia tornam-se de suma importância.
A adaptação ao novo estilo de vida e ritmo de estudos pode não ser tão simples
assim. Sair de casa, ingressar na vida acadêmica, lidar com mudanças em si mesmo e se
adaptar ao curso são processos que trazem inquietações e frustações. Logo, não basta
apenas oferecer possibilidade de acesso ao ensino superior, mas é fundamental também
propiciar condições de permanecer nele – seja arcando com os custos de livros, de
refeições, de transporte, moradia, como com o próprio bem estar físico e mental.
Assim, um aporte financeiro nos semestres iniciais é traduzido como um apoio
institucional extremamente relevante, tendo em vista a impossibilidade de bolsas por mérito
acadêmico no período inicial do curso bem como os gastos com material didático (antes,
não previstos), que pesam no orçamento doméstico, uma vez que, como aponta o gráfico
07, estes residentes possui uma renda per capita familiar muito baixa.
11
Constatou-se que a renda per capita predominante entre os ingressantes em
2013 esteve entre R$ 169,51 a R$ 339,00 (entre ¼ do salário mínimo e ½ salário mínimo).
No geral, são 66,3% dos ingressantes no PRU em 2013 com renda per capita de zero a
meio salário mínimo. Somente 7,7% dos ingressos nesse período apresentaram renda per
capita acima de um salário mínimo. Logo, a família desse estudante não possui meios
financeiros suficientes para suprir a manutenção dele na universidade, a assistência
estudantil seria sua única alternativa. Portanto, além da moradia, o residente tem acesso
gratuito às três principais refeições no Restaurante Universitário e a um auxílio financeiro
para custear uma ceia noturna diária e a alimentação nos finais de semana e feriados14.
Para muitos deles, este auxílio é o único recurso para custeio de todas suas necessidades.
Sobre, ainda, a vulnerabilidade socioeconômica, identificou-se qual seria a
principal fonte de renda da família dos ingressantes em 2013 no PRU; quantas eram
beneficiárias do Programa Bolsa Família e quantas recebiam algum benefício da previdência
social (aposentadoria, pensão, auxílio doença, Benefício da Prestação Continuada-BPC).
14
O auxílio financeiro é variável e equivale ao valor de R$ 22,99 por cada dia do fim de semana e feriado;
acrescido de R$ 4,17 referentes a uma ceia noturna (“quarta refeição”) para todos os dias do mês.
12
O gráfico 08 revela que 44,2% das famílias estavam no Programa Bolsa Família
e que 24% recebiam algum benefício previdenciário. Em geral, as ocupações indicadas são
de pouca qualificação e baixa remuneração, havendo uma concentração de atividades da
zona rural. Quando a ocupação se mostra de nível superior, a maior parte concentra-se na
profissão de professor, geralmente com vínculo temporário ou público municipal, os quais
também oferecem condições precárias de trabalho e salários baixos15.
Com relação ao responsável financeiro pelo residente, ingresso em 2013,
verificou-se que o pai (38,5%) ainda se sobressaiu como o principal provedor da família;
seguido, pela mãe (30,8%); posteriormente, por ambos os genitores (11,5%).
Conforme mostra o gráfico 09, 18,3% dos ingressantes no PRU em 2013
dependem economicamente de outros membros da família, enquanto em um caso, o próprio
residente é responsável por seu sustento mediante uma bolsa da universidade.
Além desses indicadores, os estudos socioeconômicos realizados pela equipe
de técnicas do PRU-UFC (serviço social e pedagogia) informam variáveis valorativas que
15
Observou-se que para aumentar sua renda familiar, o/a provedor, cuja atividade exercida é de professor, tende a acumular vários contratos de trabalho e em municípios diferentes.
13
indicam as condições precárias ou insuficientes da infraestrutura do local de moradia
familiar, cujos imóveis foram, na maior parte, cedidos por parentes ou terceiros. Assim,
estas famílias, em sua maioria, dependem dos serviços e equipamentos sociais públicos em
geral, que quando ofertados são de péssima qualidade e de difícil acesso, inclusive, pela
escassez de meios de transporte e precariedade das estradas nos municípios interioranos.
Desta feita, em 2013 já se suscitava a urgência na ampliação das vagas nas
residências universitárias ou da implementação de outros benefícios no Campus Fortaleza,
semelhantes ao auxílio moradia implantado nos campi do interior. Fato este que veio a
ocorrer nos anos subsequentes (2014, 2015 e 2016), haja vista a superlotação das
residências universitárias. Atualmente, o edital para processo seletivo para as residências
universitárias prevê a inclusão de uma lista de espera com recebimento financeiro do auxílio
moradia temporário até o ingresso em uma residência.
O gráfico 10, a seguir, revela os momentos críticos entre a demanda e a oferta
de vagas nas residências universitárias, no período de 2006 a 2013.
Observa-se que, nos anos de 2007, 2008, 2010 e 2011, a UFC teve dificuldades
no atendimento à demanda estudantil por moradia. Em 2007, os estudantes excedentes no
processo seletivo ocuparam a Reitoria, por isso foi alugada uma casa (localizada na Rua
Major Facundo, n.º 2147) que abrigou 29 alunos até sua desativação em 2011, por ocasião
14
da inauguração da residência universitária no Campus do PICI. Em 2010, a Reitoria alugou
um imóvel (Rua Justiniano de Serpa, n.º 433), com vagas para 30 alunos, existente até hoje.
Reafirmando a necessidade de mais vagas nas residências, enquanto o gráfico
10 já apontava a possibilidade de um novo período de estrangulamento entre a oferta e a
demanda de vagas nas residências universitárias em 2014; o gráfico 11 apresenta um
crescimento de 35% no número de inscritos no processo seletivo entre 2009 e 2013,
reafirmando a urgência no aumento do número de residências universitárias.
Neste quesito, vale ressaltar que não estamos nos referindo a concessão do
auxílio financeiro para pagamento de aluguel, pois este torna-se um benefício muito mais
propício aos efeitos das ações políticas e econômicas de cada governo, sendo mais
vulnerável a cortes orçamentários; além de atender mais às necessidades da especulação
imobiliária local do que às do estudante, elevando os preços dos aluguéis, conforme
determina a lei da oferta e da procura no mercado capitalista.
Considerações Finais
A proposta deste estudo exploratório foi de apontar brevemente as condições de
vida dos estudantes, inseridos no Programa de Residência Universitária (PRU) da UFC, no
ensejo de subsidiar ações institucionais, indo ao encontro do objetivo 07 do Plano de
Desenvolvimento Institucional, qual seja:
Definir uma nova agenda de ações de assistência estudantil de modo a contemplar ao máximo as necessidades dos estudantes e levantar as
15
necessidades institucionais para atender à demanda (...) (PDI/UFC, 2012, p. 104).
O PRU-UFC é uma ação imprescindível para a permanência do estudante no
ensino superior, ao contemplar um público de alta vulnerabilidade socioeconômica. Das
solicitações deste benefício em 2013, menos de 20% dos inscritos foram indeferidos por
razões, tais como: suficiência de renda; omissão de informações; falta de documentação; e
incongruência entre as informações prestadas. Assim, é de suma importância o aumento
das vagas e a melhoria da infraestrutura das residências, além de uma maior atenção aos
residentes matriculados no primeiro ano letivo do curso, principalmente no que se refere ao
apoio financeiro e aos atendimentos psicológico e psicopedagógico.
Vários outros indicadores também devem ser pensados, para além do perfil
socioeconômico familiar, quais sejam: o impacto dessa política nas taxas de evasão e
retenção, na melhoria do rendimento acadêmico dos beneficiários, na heterogeneidade
social, cultural, étnica e de gênero entre os estudantes; a identificação de novos desafios na
relação docente-discente e a possibilidade de uma maior proximidade da universidade
pública e da formação acadêmica com a realidade social do país. Estes são apenas outros
caminhos que a pesquisa sobre a política de assistência estudantil pode seguir.
Referências Bibliográficas
IPECE/Ceará. Perfil Básico Regional 2012 – macrorregião litoral oeste.
UFC. Anuário Estatístico 2012 Base 2011. Fortaleza, Ceará.
PDI/UFC. Plano de Desenvolvimento Institucional (2013-2017). Fortaleza, Ceará.