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ESTUDO COLETIVO SOBRE A CONSTRUÇÃO DA AGRICULTURA ECOLÓGICA POR MEIO DO CULTIVO DE ERVAS FINA.
Inez Bernardi Amorim1
Edmilson Cezar Paglia2
RESUMO
O trabalho foi desenvolvido com educandos que frequentavam o Ensino Médio, no período noturno, da EJA – Educação de Jovens e Adultos, no ano de 2011, no Colégio Estadual Conselheiro Zacarias EFM, localizado na Rua Ubaldino do Amaral, 401, no Bairro Alto da Glória, no Município de Curitiba Estado do Paraná. O objetivo dessa temática de intervenção pedagógica foi propor estudos para compreender e promover a agricultura ecológica, por meio do cultivo de ervas finas em pequenos espaços urbanos, com o aproveitamento do lixo orgânico doméstico, bem como a técnica de compostagem necessária para transformação do composto em adubo orgânico, utilizado nesse sistema de cultivo. Que propõe levar aos estudantes o conhecimento a respeito do reaproveitamento do lixo orgânico. O estímulo à socialização do conhecimento despertou nos educandos novas pesquisas em busca de variadas técnicas de plantio, reciclagem de lixo orgânico, processos de compostagem, discussão da temática e conscientização ambiental.
Palavras – chave: lixo orgânico; reaproveitamento; adubo orgânico; cultivo de hortaliças.
1 - Professora de Geografia da Rede Pública do Estado do Paraná, integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2010. Email: [email protected]
2 - Mediador (Orientador) -Universidade Federal do Paraná – UFPR.
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1. INTRODUÇÃO
Para o desenvolvimento das sociedades, o homem estabeleceu relações
com a natureza, criando dinâmicas de sobrevivência em grupos, surgindo assim, os
primeiros agrupamentos. Com o passar dos tempos, o homem percebeu que se
fixando em um determinado lugar alcançaria maior desenvolvimento e maior
variedade e quantidade de alimentos para subsistência, surgindo assim a
agricultura. Deste modo, a população foi crescendo, os grupos tornaram-se
numerosos, surgindo à divisão de trabalho e as relações humanas. Com esse
crescimento populacional, foi necessário ampliar as áreas de produção de
alimentos. A vegetação natural passou a ser devastada para dar espaço a novas
práticas agrícolas. O Planeta Terra foi sendo transformado em nome do progresso
e do consumismo exagerado, causando danos ambientais ao próprio homem.
Como contraponto está sendo observado o crescimento da agricultura
ecológica junto aos pequenos proprietários rurais, a preocupação do homem com
sua saúde e com a preservação ambiental, a retomada de consciência da
sociedade para que gerações futuras possam conviver com uma natureza limpa.
Pretendeu-se com este projeto de intervenção pedagógica propor estudo para
compreender e promover a agricultura ecológica, por meio do cultivo de ervas finas
em pequenos espaços urbanos, bem como estudar as técnicas necessárias para
este sistema de cultivo. Para desenvolver tais atividades, os educandos
pesquisaram e construíram os princípios necessários ao cultivo ecológico. Com
esta prática pedagógica, tivemos a oportunidade de problematizar a situação dos
resíduos sólidos enviados aos aterros sanitários e o desenvolvimento da
autoestima dos estudantes e da comunidade escolar, bem como socializar os
educandos e comunidade escolar envolvidos no Projeto. O trabalho foi construído
mantendo uma forma clara e concisa que viabilizou o desenvolvimento do projeto
em outras escolas, por meio do grupo GTR, aprofundando o conhecimento de
outros educandos da rede pública paranaense. Do ponto de vista do ensino-
aprendizagem, o projeto em prática contribuiu para o enriquecimento pessoal dos
participantes, seu crescimento cultural e sua nova postura ambiental.
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2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Alguns fundamentos sobre processos de Ensino-Aprendizagem
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p.34), faz-se
necessário que o estabelecimento de ensino assegure o conjunto de atividades
planejadas com o intuito de favorecer aos educandos a apropriação dos conteúdos
de maneira crítica e construtiva. A escola, por ser uma instituição social, deve
intervir efetivamente para promover o desenvolvimento e a socialização de seus
estudantes, a organização curricular, as metodologias que são um meio e não um
fim para se efetivar o processo educativo. Fazem-se necessárias práticas
metodológicas flexíveis, com procedimentos que possam ser reestruturados e
adaptados às especificidades da comunidade escolar. A escola tem papel
fundamental na socialização do conhecimento, que deve ser desenvolvido no
coletivo entre os educandos e educadores procurando responder aos desafios da
realidade e de lutar por uma sociedade mais justa e igualitária. Pires et. al. (s/d, p.
303) discorre que os conhecimentos geográficos que os estudantes da EJA já
possuem, contribuirão para enriquecer os saberes necessários para a leitura e as
análises do lugar onde vivem, assim sendo os estudantes poderão fazer uma
relação e comparação do espaço local, com espaço brasileiro e o espaço mundial,
aproximando a escola às demandas da sociedade atual. O estudante da EJA
necessita de um direcionamento diferenciado dos conteúdos, atendendo suas
expectativas e necessidades em seus questionamentos. Segundo Freire (1992.
p.53):
O papel do educador é manter um diálogo problematizador independente do conteúdo a ser indagado. O educador não deverá encher o educando de conhecimento, de ordem técnica, mas proporcionar uma relação dialógica educador-educando, educando-educador, a organização de um pensamento correto entre ambos.O homem surgiu no Planeta Terra, encontrou a natureza farta e rica e uma fantástica biodiversidade. Mas ao longo do tempo, tomou posse deste Planeta e foi sugando a terra, sem refletir se precisaria devolver a ela um dia, tudo o que dela havia retirado. O homem provocou muitas
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transformações na natureza, destruindo o solo. Atualmente, precisa ter cuidados básicos e prioritários antes de ocupá-lo com qualquer tipo de plantação, terá que alimentá-lo com nutrientes, melhorando assim.
2.2 Fundamentos para desenvolver a prática pedagógica
Segundo Morin (2000. p.42), com o surgimento da tecnologia aumentou
consideravelmente a quantidade de alimentos. Porém, há lutas contra uma
agricultura quantitativa, com uso de produtos químicos. A agricultura orgânica e
biológica, ainda considerada cara está em expansão, disputando espaço no
mercado com produtos vindos da agricultura tradicional, cultivados com adubos
químicos, cuja aparência é mais saudável. No Brasil, há progresso e
desenvolvimento, sendo possível encontrar produtos orgânicos competindo com os
industrializados, mas o importante é que os orgânicos têm mais qualidade, a qual
deve ser mantida.
De acordo com Rattner (1999), ao formar uma sociedade sustentável é
essencial entender que um meio ambiente saudável é condição primordial para o
bem-estar, o andamento da economia e a sobrevivência da vida na terra. O
conceito de sustentabilidade requer democracia política, equidade social, eficiência
econômica, diversidade cultural, proteção e conservação do meio ambiente. A
cooperação, a compaixão e a solidariedade são valores vitais para sobrevivência e
qualidade de vida.
Segundo Gadotti (2009, p.49 – 53), sem preocupação social, o conceito de
“desenvolvimento sustentável” esvazia-se de sentido, deve-se falar mais do
“socioambiental” do que do “ambiental” procurando não separar as necessidades
do Planeta das necessidades humanas. Desenvolvimento sustentável só tem
sentido numa economia solidária, uma economia regida pela “compaixão” e não
pelo lucro.
Segundo Upnmoor (2003, p. 13), a agricultura orgânica é um sistema de
produção agropecuária que visa obter produtos de qualidade, associando o uso de
técnicas e insumos naturais renováveis, respeitando o meio ambiente e os
princípios de sustentabilidade, ou seja, através do equilíbrio entre várias atividades,
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busca-se alcançar a maior independência possível de energia e insumos externos à
propriedade rural. A produção, através da reciclagem de recursos naturais, mantém
a fertilidade do solo, por um período de tempo maior, respeita o equilíbrio da
natureza, preserva e mantém as características do meio ambiente, gera renda para
o agricultor e promove a agricultura familiar. Segundo Zamberlam & Froncheti
(2002, p. 106), a agricultura orgânica envolve o procedimento que quebra o círculo
vicioso da agricultura tradicional química, que objetiva o aumento da produção; já a
orgânica fertiliza o solo, através da microvida, que acontece há milhares de anos.
De acordo com Barreto (1985, p. 31), a matéria orgânica obtém-se com a
morte e o processo de decomposição de todo material vivo, (animal, vegetal e o
homem), por meio de agentes biológicos (bactérias, fungos, actinomicetes), que
através das reações químicas transformam um ser morto em matéria decomposta.
Com a decomposição da matéria orgânica obter-se-á o húmus, excelente nutriente
para o solo. O solo estando rico, conservado e adubado com composto orgânico
feito a partir dos resíduos orgânicos domiciliar possui uma estrutura ideal para a
prática da agricultura. Para Pereira Neto (1996, p. 11) a compostagem é a maneira
mais eficiente para reciclagem de resíduos orgânicos. Cerca de 70% do resíduo
doméstico é constituído por matéria orgânica. Sendo assim, esse material pode ser
transformado em fertilizante orgânico (umidificada) para uso agrícola diminuindo,
dessa forma, vários problemas ambientais e sanitários associados a esses.
De acordo com Upnmoor (2003 p. 41), a palavra “composto” designa do
fertilizante orgânico preparado pelo amontoado de restos de animais e vegetais,
ricos em substâncias nitrogenadas, misturados com outros resíduos vegetais
pobres em nitrogênio e ricos em carbono. A mistura tem por finalidade sujeitá-los
por um processo de decomposição microbiológica, ao estado de parcial ou total
unificação. A compostagem pode ser processada em três tipos: I) aeróbica
caracteriza-se pela: presença de ar no interior da biomassa; altas temperaturas que
ocorrem durante o processo de fermentação; liberação de gás carbônico e de vapor
d'água; rápida decomposição da matéria orgânica; eliminação de micro-organismos
e sementes indesejados; II) anaeróbica, caracteriza-se pela: baixa temperatura de
fermentação; ausência de ar atmosférico; gases que são desprendidos (p. ex.
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metano, sulfídrico), acarretando mau cheiro. Sendo um processo mais demorado
que o aeróbio, esse tipo de compostagem não fica isenta de organismos e
sementes indesejados; III) mista, método em que a matéria tem uma fase
submetida a um processo aeróbio seguido de um anaeróbio, ou ao contrário. A
decomposição aeróbica é o processo mais simples e proporciona excelentes
resultados. Ela depende da temperatura, umidade, Ph, tipos de compostos
orgânicos, concentração e tipos de nutrientes disponíveis para os micro-
organismos.
De acordo com Bonilla (1992, p.146), “húmus” e “matéria orgânica” têm
significados diferentes, a princípio pode-se considerar húmus como matéria
orgânica do solo bem digerida. Tal digestão ocorre devido aos fenômenos de
oxirredução, os efeitos da fauna e flora macro e microbianas existentes no solo e
especialmente pelas enzimas segregadas e pelas raízes das plantas, como os
efeitos dos ácidos orgânicos emitidos por elas. Existem vários escritos sobre húmus
e compostagem, mas há quem caracteriza de forma clara e precisa:
Caracteriza-se húmus como uma massa preta untuosa e de cheiro típico de terra. Esta matéria orgânica exerce as mais variadas funções de fertilidade, dentre outras de fornecer gás carbônico e ácido, que agem como municiadores de alimentos para as plantas. Quando existentes no solo o fósforo, o potássio, o cálcio, etc., não podem ser aproveitados pelas plantas, devido ao seu estado de insolubilidade. O ácido húmico e o gás carbônico mobilizam os elementos na forma de humatos e carbonatos, em estado solúvel e em condições, de uso pelas plantas, (RAPOSO, 1967. p.49).
2.3 Unidade Didática
A Unidade Didática foi planejada e construída com a intenção de contribuir
com a temática sustentabilidade e ecologia. Este material possui conteúdos para os
educadores da disciplina de Geografia e as demais que abordam o tema no Ensino
Médio e EJA. O material também contém uma unidade didática, com texto e
atividades que orientam os educandos para a gestão do lixo domiciliar. O
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encaminhamento deste trabalho, intitulado Reciclagem de Resíduos Orgânicos
Domiciliar para Compostagem, foi produzido, para atender as diretrizes curriculares
da EJA, no Ensino Médio, para a disciplina de Geografia. A intenção desta unidade
temática é orientar os educandos para adquirir noções básicas no tema em
questão, tendo também possibilidade de compreender e valorizar a importância da
produção orgânica de alimentos destinados ao consumo próprio, contribuindo com
o meio ambiente.
A proposta vê a possibilidade de resgatar nos educandos um olhar coletivo
do seu entorno, para o aproveitamento de pequenos espaços para cultivo de
hortaliças e ervas finas, e mostrar que o conhecimento pode partir do local onde
está inserido, para o global, e que as atividades de produção do campo fazem parte
do seu cotidiano nas cidades. Castrogiovanni (2007, p.43) ajuda nesta construção
dizendo que “a geografia deve ser trabalhada como instrumento para que os
educandos saibam lidar com a espacialidade e suas aproximações e atuar com
sabedoria no espaço. Tendo uma visão mais clara, poderá compreender que a vida
social se reflete sobre diferentes sujeitos, causadores de transformações,
contradições e conflitos. Assim fica mais fácil avaliar as formas de apropriação,
organizações estabelecidas pelos grupos sociais e buscar meios de intervenção. A
natureza sofre constantes transformações pela sociedade, mas cabe a instituição
escolar acreditar que um dos seus importantes propósitos é motivar a vida de seus
estudantes, e possibilitar situações para que seus educandos adquiram
conhecimento para desenvolver sua autoestima como sujeitos atuantes na
sociedade. Para contribuir com a vida, a população precisa lutar coletivamente
demonstrando interesse, sensibilização e amor pelo espaço onde está inserida,
pois são com solos férteis, que há produção de alimentos necessários aos seres
vivos em geral”.
Sendo assim, o que cada cidadão pode fazer para dar uma mão à mãe
natureza? Que tal iniciar com a organização da separação do lixo domiciliar e dar
uma atenção especial na seleção dos resíduos sólidos? Sugere-se um trabalho
coletivo, iniciando com os educandos, com a comunidade local, para poder
entender as outras comunidades e inserir em todo o município. Será o início de
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uma caminhada para tentar resolver uma pequena parte do problema e descarte
dos resíduos orgânico domiciliar e que contribuirá com a diminuição do lixo nos
aterros sanitários. Por exemplo, é possível utilizar o processo de compostagem
organizando uma composteira, domiciliar, com caixotes de madeira ou plástico,
colocando-a em local protegido da chuva e do sol para não produzir mau cheiro.
Para tanto, a compostagem utilizam-se os resíduos orgânicos produzidos no
próprio domicílio, os quais transformados em composto, este poderá ser utilizado
na adubação do solo para o cultivo de hortaliças, temperos e plantas em geral. Este
trabalho didático visa estabelecer em nossa rotina diária, hábitos e costumes de
vida simples e ecológica, um estilo de cultura e de vida em integração direta e
equilibrada com a natureza.
O sistema de permacultura vem objetivando chegar à sustentabilidade pela
via da alimentação, dando continuidade a outras produções. Existe a possibilidade
de cultivo da própria alimentação, tendo uma horta em pequenos espaços, com
solo produtivo para o cultivo de temperos e hortaliças em geral, em vasos, potes e
floreiras, mesmo nos grandes centros urbanos. Faz-se necessário para isso, a
reciclagem dos resíduos domésticos, com o máximo aproveitamento dos alimentos
e o cuidado com o lixo que está sendo produzido em seu domicílio, dando-lhe o
destino correto. Qualquer lugar em sua residência pode ser usado para
desenvolver seu composto orgânico: no jardim, nas floreiras ou até na sacada é
possível desenvolver a técnica e seu cultivo em vasos.
No mundo contemporâneo existe uma gama imensa de produtos
industrializados. Está difícil a escolha de uma alimentação saudável, pois é preciso
existir a mudança de hábito na vida diária do cidadão, nas escolhas e preferências
daquilo que vai ingerir, seja uma bebida ou a refeição. O ideal seria a busca pela
diminuição do consumo pessoal e a decisão de consumir com qualidade. Essa
seria a melhor alternativa que se poderia adotar como propósito para contribuir com
a ecologia e com a saúde. A humanidade precisa estar atenta aos acontecimentos
que tem em sua casa, o grande volume de lixo produzido diariamente pelas
indústrias e pelo grande consumo de produtos industrializados. O avanço
tecnológico facilitou a vida das pessoas, o progresso é resultado da evolução,
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porém é necessário estar ciente que o desenvolvimento deve ser sustentável às
futuras gerações.
Segundo Documento Nosso Futuro Comum (1991, p.44-49), “o
desenvolvimento sustentável procura atender as necessidades e aspirações do
presente sem comprometer a possibilidade em atendê-las no futuro. Para existir um
desenvolvimento sustentável é necessário minimizar os impactos adversos sobre a
qualidade do ar, da água e de outros elementos naturais, para manter a integridade
global do ecossistema. Esse desenvolvimento é um processo de transformação no
qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do
desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional harmonizam e reforçam o
potencial presente e futuro, a fim de atender as necessidades e aspirações
humanas”. Segundo Gadotti (2009, p. 100), “para salvar o planeta precisamos de
um paradigma que permita o acesso de todos à energia de que cada um precisa.
Necessitamos de uma relação mais sustentável com a natureza e, em vez de nos
considerar “senhores da terra”, devemos nos considerar parte dela”.
Muitas inovações surgiram nos meios de produção, onde hoje os maiores
agricultores usam tecnologias em suas propriedades visando produzir grande
quantidade de grãos destinados a exportação. Mas a nossa alimentação diária vem
daquele pequeno produtor familiar, que não tem muito incentivo e ajuda dos
governantes para melhorar suas propriedades. Esses produtores devem ser mais
valorizados, ter um olhar voltado a eles com mais atenção às suas necessidades
para que possam dar continuidade à produção de alimentos com qualidade
saudável sem poluir o seu entorno.
3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa foi exploratória, pois os educandos realizaram estudos em
diversas bibliografias e também qualitativa, porque buscou-se a sensibilização dos
estudantes quanto à importância do cultivo de ervas finas; o reaproveitamento dos
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resíduos orgânicos; e a contribuição com a sustentabilidade local. Além disso, foi
uma pesquisa de campo porque possibilitou a coleta de dados que baseou-se na
observação dos fatos cotidianos em relação ao destino dos resíduos orgânicos. Foi
também participante, pois houve interação entre estudantes e a comunidade
escolar. A pesquisa-ação aconteceu devido ao fato de que os educandos e demais
participantes buscaram resolver um problema de forma cooperativa e participativa.
O projeto foi desenvolvido no segundo semestre de 2011, com 15 estudantes
da 2ª série do Ensino Médio da EJA, período noturno do Colégio Estadual
Conselheiro Zacarias Ensino Fundamental e Médio - EJA, localizado na Rua
Ubaldino do Amaral, 401, Alto da Glória – Curitiba, Paraná. O projeto de
intervenção teve como meta despertar nos estudantes o interesse pela pesquisa.
Inicialmente, tomaram ciência sobre o encaminhamento do trabalho, a importância
da agricultura ecológica, seu crescimento no Brasil e em outros países. Da prática
deste projeto esperou-se que todos os participantes se sentissem sensibilizados
com o exercício e com o aprendizado, contribuindo com a ecologia e a valorização
do pequeno produtor familiar, responsável pelos principais alimentos que
consumimos. Tiveram também a oportunidade de desenvolver um novo olhar e
reconhecimento aos bravos trabalhadores do campo.
4 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Concomitante ao período de desenvolvimento do Projeto de Intervenção
Pedagógica, acontecia o Grupo de Trabalho em Rede (GTR), com atividades do
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), que estabeleceu um
intercâmbio virtual entre Educadores do PDE e os demais Educadores da Rede
Pública Estadual. O GTR teve o intuito de proporcionar aos Educadores Estaduais
uma opção de formação continuada, permitindo um ambiente de estudo, de
conhecimento e discussão sobre as especificidades do cotidiano escolar,
estimulando e motivando o aprofundamento teórico-metodológico através da troca
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de opiniões, conceitos e experimentos sobre as diversas áreas do currículo escolar
e socializando o Projeto de Intervenção Pedagógica no Colégio, assim como as
etapas de desenvolvimento com os demais Educadores da Rede.
As atividades desenvolvidas no GTR permitiram a interação e a
disseminação de informação entre os participantes do curso, questionando muito
sobre o lixo orgânico domiciliar e seu destino, ocasião em que constatou-se a
existência de muitos projetos semelhantes desenvolvidos por defensores do meio
ambiente e da agricultura familiar que defendem uma cultura agroecológica. Está
surgindo uma nova população com mais consciência, facilitando muito a introdução
de novos métodos, técnicas e práticas, que levam a reflexão das atitudes e ações
concretizadas no dia-a-dia.
No percurso do GTR, os educadores interagiram com debates, discussões e
relatos de algumas experiências e mostram-se muito preocupados com o meio
ambiente, o grau de poluição pela circulação automobilística, o consumo de
produtos com certo exagero e o lixo ainda exposto de forma incorreta.
Consideraram o projeto importantíssimo e viável às escolas públicas, bastando um
bom planejamento, tempo para desenvolver o Projeto, apoio de colegas e gestores
escolares, tendo como matéria prima são a terra, lixo orgânico da cozinha da
escola e da residência dos educandos, vasos, floreiras e pequenos espaços
urbanos, para cultivar ervas finas e hortaliças. Dessa forma os aterros sanitários
receberiam menos lixo e teríamos o meio ambiente mais saudável.
Ao desenvolverem a pesquisa para realizar o processo de compostagem, os
educandos aprimoraram seus conhecimentos e, por meio da prática, foram sendo
motivados para um consumo moderado, com alimentos saudáveis e a propagar a
ideia do projeto a seus familiares, vizinhos e comunidade do bairro, a fim de
incentivar uma educação ambiental. Os educandos também passaram a observar a
quantidade de lixo orgânico que uma residência produz ao realizar sua alimentação
diária e fizeram algumas considerações e reflexões para melhoria de qualidade da
vida.
Segundo uma educadora integrante do GTR: “O título do Projeto foi o grande
motivador para que eu participasse desse GTR, pois visualizamos diariamente
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nossas cidades virando cimento armado e, com esse trabalho, vi a possibilidade de
despertar nos educandos o interesse pelo verde, não importando o grau de
conhecimento como isso vai acontecer. O importante é sensibilizar o colegiado a
buscar uma melhor qualidade de vida para sua família.” Outra educadora diz: “A
escola deve ser o exemplo: começar a trabalhar; a todo o momento é necessário
tratar a questão do lixo com mais responsabilidade; essas atitudes devem partir
também da gestão escolar, pois ainda há quem não se preocupe com esta
questão”. Mais uma educadora integrante do GTR escreve: “A responsabilidade é
de todos, mas a liderança deve partir da gestão escolar, que deverá ser o
motivador do colegiado. A defesa do verde é grande em muitas entidades e as
escolas estão ficando para trás nesta causa; é preciso reverter este quadro, sendo
que temos diariamente contato com milhares de jovens que podem disseminar a
ideia da separação do lixo orgânico e seu aproveitamento com o composto e
plantio de hortaliças para o consumo familiar. Educação ambiental é atitude. A
cultura do consumo de produto orgânico ainda é muito restrita em nossa sociedade
e precisa da educação e do conhecimento para que as pessoas saibam de sua
importância para a saúde, o meio ambiente e seu valor econômico”.
Outro participante cita: ”Na escola, como em todos os espaços públicos há
geralmente uma massificação de ideias. Um rolo compressor que destrói pequenas
centenas de pensamentos mais profundos. Digo isso pensando em como
precisamos atender nossos espaços verdes e criar outros mais. Assim, acredito ser
muito importante suscitarmos em nossos educandos o pensamento voltado às
coisas mais próximas a nós, como é o caso do Projeto, um cultivo orgânico de
ervas finas, que proporcionará mais saúde às pessoas e ao mesmo tempo um
passatempo menos sedentário que aquele a que a maioria das pessoas está
habituada hoje em dia”. Outra educadora do GTR escreveu: “O Projeto Estudo
Coletivo Sobre a Construção da Agricultura Ecológica, por Meio do Cultivo de
Ervas Finas no Colégio Estadual Conselheiro Zacarias Ensino Fundamental e
Médio - apresenta uma temática, sem dúvida, pertinente e muito relevante,
permitindo um trabalho coletivo em suas bases tanto teórico quanto prática. É o
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fazer pedagógico necessário no processo de aprendizagem. É contemplar o
conhecimento e a prática vivenciados”.
Dessa forma, a Proposta de Intervenção Pedagógica em estudo, análise e
aplicação, está bem fundamentada com objetivos e metodologias claros e mostram
a importância de sua implementação na Escola Pública.
Refletir sobre o desenvolvimento sustentável e desenvolver práticas que
contribuam para melhorias na qualidade vida com respeito ao meio ambiente,
através de mudança da postura coletiva no ambiente escolar, são as práticas que
permeiam a construção da agricultura ecológica. “O envolvimento coletivo faz a
diferença e a proposta contempla todo o contexto.” Citação de uma educadora
participante do GTR: ”A produção atende as orientações das diretrizes curriculares
da EJA. As considerações da proposta têm a preocupação de resgatar nos
educandos o olhar coletivo para o entorno e aproveitamento de pequenos espaços
em canteiros ou vasos, para o cultivo de hortaliças. Plantação no quintal é opção
de alimentação mais saudável e econômica, a partir do conhecimento local para o
global”. “A Produção Didático-Pedagógica é de grande relevância e o tema vem ao
encontro aos conteúdos propostos pelas Diretrizes Curriculares. É totalmente viável
o desenvolvimento das atividades propostas devido à sua clareza e objetividade,
possibilitando aos educandos repensar seus hábitos de alimentação e observar a
quantidade de lixo orgânico produzido em uma cozinha domiciliar, cuja matéria
orgânica pode ser utilizada na produção do composto/húmus para o cultivo de
hortaliças em pequenos espaços urbanos, como jardim, floreiras e vasos.”
As atividades da produção do campo fazem parte do cotidiano das cidades:
trabalhar a Geografia de modo que os educandos saibam lidar com a espacialidade
e atuar com sabedoria nesse campo, compreender que a vida social se reflete
sobre diferentes sujeitos responsáveis pelas transformações, contradições e
conflitos, explicar as formas de apropriação e organização estabelecidas pelos
grupos sociais e buscar meios de intervenção.
Os nossos educandos vêm em grande parte da região metropolitana da
cidade, e em geral oriundos do interior do Estado, já habituados à lida com a terra.
É fácil fazê-los entender que podem aproveitar os pequenos espaços e enriquecer
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a alimentação da família em harmonia com a natureza. A proposta é simples e
objetiva. É “um convite à reflexão do entorno” e uma prática de enfrentamento
sobre o que fazer com o lixo orgânico, um dos desafios no nosso caos urbano.
Conhecer o real sentido da sustentabilidade nas nossas atitudes foi um dos
caminhos para recuperação e proteção dos nossos recursos naturais.
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os educandos participaram do projeto desde a coleta do lixo orgânico
perecível, trazendo de casa ou da empresa onde trabalhavam. No primeiro
momento, o projeto foi apresentado aos professores e funcionários e,
posteriormente, aos educandos salientando a importância do mesmo como prática
pedagógica para estimular consciência sobre o meio ambiente. Todos puderam
participar no desenvolvimento do trabalho, coletando o lixo de sua própria cozinha,
para o processo de compostagem, a fim de obter adubo para o cultivo das ervas
finas e diversos tipos de hortaliças. Foi trabalhado a viabilidade econômica e seu
desenvolvido em pequenos espaços urbanos, vasos e floreiras. Houve também
pesquisa no laboratório de informática para que os educandos buscassem
informações sobre o processo de compostagem e tipos de ervas finas mais
conhecidas no uso de sua cultura e culinária.
O processo de compostagem necessita de três meses para sua fermentação
e decomposição, mas para acelerar o processo, o lixo orgânico foi moído em
liquidificador. A compostagem foi produzida em três caixas plásticas, de tamanho
médio, na cor escura, permanecendo em local escuro e seco. As duas primeiras
foram furadas para que o chorume se depositasse na terceira caixa, para depois
ser coletado e misturado com água para regar as plantas, sendo um bom
fertilizante livre de agrotóxicos. Os educandos acompanharam o composto
revolvendo, a matéria orgânica todas as semanas. Houve ainda a
interdisciplinaridade, com a professora de de Química Priscila Frahm Higashiyama,
acompanhando o processo de fermentação e decomposição dos resíduos,e
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explicando e respondendo todos os questionamentos, para sanar as dúvidas dos
educandos. Esses também observavam o desenvolvimento das minhocas, e,
ficavam eufóricos ao descobrir que as mesmas multiplicavam a cada dia, ajudando
na decomposição do composto. Em meados de outubro os educandos revolveram
a terra das floreiras para tirar plantas espontâneas existentes no local. Após 10
dias, o composto foi misturado com a terra pelos estudantes, os quais ficaram
encantados com o resultado da decomposição, fazendo a mistura com as próprias
mãos. Sentiram-se felizes e alguns relembraram as suas raízes, já que vieram do
campo Fizeram o trabalho sem medo de estar com as mãos sujas de terra e
comentavam sobre as atividades que desenvolviam no campo, sendo que não
praticavam esse processo de composto e aproveitamento da matéria orgânica.
Tudo era desperdiçado.
Hoje, com outra visão e conhecimento, os educandos já estão
desenvolvendo o projeto em sua residência, dizendo que nada mais é jogado no
lixo comum e sim utilizado para adubar o solo onde cultivam suas hortaliças. No
final de outubro, foi organizado o plantio das mudas e sementes, oportunidade em
que a educadora da disciplina de Matemática, Raquel Angela Arpini, acompanhou
os educandos para o estudo das medidas superficiais planas das floreiras a serem
cultivadas, a fim de estimar o espaçamento do plantio entre as mudas de ervas
finas. Concluído esse processo, os educandos retornaram ao laboratório de
informática para pesquisas sobre o cultivo em pequenos espaços e vasos. Nesse
momento os estudantes sem acesso à internet foram auxiliados pelos que tinham
mais conhecimento na área de informática, solicitei aos estudantes com a prática
para auxiliar nas pesquisas, no final, os mesmos conseguiram realizar a pesquisa
individualmente. O projeto foi de grande valia, pois os educandos além de
adquirirem conhecimento sobre o tema do Projeto desenvolvido, também tiveram
noções básica de informática, foi gratificante acompanhar a sua evolução, ver a
alegria e a satisfação na descoberta de novos conteúdos nos sites orientados para
a pesquisa, além de prosseguirem na observação do desenvolvimento de
hortaliças, e regando-as quando necessário.
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Os educandos deixaram importantes mensagens de gratificação, além de
fazerem comentários que jamais esquecerei: “Foi um dos melhores momentos que
tivemos durante toda a vida escolar, pois aprendemos muito com as pesquisas,
aperfeiçoamos o nosso conhecimento e, o mais importante colocou-se em prática o
Projeto. Sentimo-nos importantes, motivados, valorizados e muito gratificados por
fazer parte desse Projeto, além de estarmos preparados para dar continuidade ao
trabalho em nossa comunidade”. Também avaliaram o Projeto no todo como
excelente. Com certeza, desenvolver esse trabalho fez a diferença como
educadora, e sinto-me grata, entusiasmada e realizada com os comentários
recebidos dos educandos e dos colegas participantes do GTR.
Finalmente, posso dizer que foi uma das grandes realizações que consegui
almejar ao longo da minha trajetória na vida como educadora. Procuro aperfeiçoar-
me e multiplicar o conhecimento adquirido, passando sempre a ideia de que são as
pequenas atitudes que fazem a diferença, por mais simples que sejam. Porém,
precisamos de tempo para planejar, pesquisar e poder desenvolver os projetos.
Também acredito que a boa vontade, dedicação e carinho podem resultar em
excelentes frutos, e a recompensa será o sucesso no futuro.
A minha participação no PDE foi de fundamental importância, um verdadeiro
desafio pessoal no que se referiu à pesquisa e ao estudo sobre o tema pesquisado,
resultando no meu aprimoramento e crescimento cultural. O trabalho foi
desenvolvido com objetivo de resgatar nos educandos a consciência em preservar
o meio em que vivem, pôr em prática o conhecimento adquirindo, exercendo
diariamente a da coleta diariamente do lixo, a separação e o reaproveitamento do
lixo orgânico e o plantio de hortaliças em pequenos espaços urbanos, com a
compreensão e melhoria do processo ensino-aprendizagem educacional.
Como diz Guimarães Rosa disse: “O homem nasceu para aprender,
aprender tanto quanto a vida lhe permite.” Neste sentido busquei conhecimento
para me tornar melhor nas minhas ações e atitudes.
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REFERÊNCIAS
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