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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Engenharia de Alimentos KARLA ARIANE SILVEIRA MUNHOZ ESTUDO DA CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO DA COR, ÁCIDO ASCÓRBICO E CONSISTÊNCIA AO LONGO DA CADEIA DE PROCESSAMENTO INDUSTRIAL DE POLPA CONCENTRADA DE TOMATE CAMPINAS 2016

ESTUDO DA CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO DA COR, ÁCIDO …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/305404/1/Munhoz_Karla... · a obtenção do título de Mestra em Tecnologia de Alimentos

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia de Alimentos

KARLA ARIANE SILVEIRA MUNHOZ

ESTUDO DA CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO DA COR,

ÁCIDO ASCÓRBICO E CONSISTÊNCIA AO LONGO DA

CADEIA DE PROCESSAMENTO INDUSTRIAL DE POLPA

CONCENTRADA DE TOMATE

CAMPINAS

2016

KARLA ARIANE SILVEIRA MUNHOZ

ESTUDO DA CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO DA COR,

ÁCIDO ASCÓRBICO E CONSISTÊNCIA AO LONGO DA

CADEIA DE PROCESSAMENTO INDUSTRIAL DE POLPA

CONCENTRADA DE TOMATE

Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra em Tecnologia de Alimentos.

Orientador: Prof. Dr. Flávio Luís Schmidt

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA KARLA ARIANE SILVEIRA MUNHOZ, E ORIENTADA PELO PROF. DR. FLÁVIO LUÍS SCHMIDT.

CAMPINAS

2016

COMISSÃO EXAMINADORA

Dr. Flávio Luís Schmidt (Orientador)

Faculdade de Engenharia de Alimentos - UNICAMP

Dr. Pedro Esteves Duarte Augusto (Titular)

Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - USP

Dra. Rosiane Lopes da Cunha (Titular)

Faculdade de Engenharia de Alimentos - UNICAMP

Dr. Alfredo de Almeida Vitali (Suplente)

Pesquisador

Dra. Priscila Efraim (Suplente)

Faculdade de Engenharia de Alimentos - UNICAMP

A ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no

processo de vida acadêmica do aluno.

À minha família, pelo amor incondicional, incentivo e ensinamentos de

perseverança, honestidade e dedicação aos estudos.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, acima de tudo, por iluminar o meu caminho,

preparando-me para cada oportunidade e fortalecendo-me para enfrentar os

desafios.

Agradeço aos meus pais pelo amor com que sempre me incentivaram nos

estudos e no trabalho, respeitando e honrando minhas escolhas. Sem a ajuda,

companheirismo e inspiração de vocês, nenhuma das minhas conquistas teria sido

possível.

Ao meu esposo Renato, pela parceria, paciência e amor em todos os

momentos, desde o princípio.

Ao meu orientador, professor Flávio, pela confiança, otimismo e paciência

com que me guiou, desde a graduação e em cada passo deste trabalho. Obrigada

por toda a ajuda, pela generosidade e leveza com que compartilhou comigo seus

valiosos conhecimentos.

À querida amiga Simone, que compartilhou comigo as primeiras ideias, e

depois as ansiedades e a alegria de concluir mais uma importante etapa de nossas

vidas profissionais.

À Cargill, por disponibilizar a estrutura de laboratórios, informações e

insumos para a execução deste estudo. Ao meu gestor Marcos Guirardello, pela

confiança, incentivo e todo o conhecimento compartilhado.

Aos meus companheiros de equipe, Tatiana e Vanúcio, por me ensinarem

diariamente e por me ajudarem em todas as etapas do trabalho desenvolvidas na

fábrica de Goiânia. Muito obrigada também a todos os profissionais da Cargill

Goiânia que compartilharam comigo seu tempo e conhecimento.

À equipe do Centro de Inovação, pelo suporte desde o início, em especial

aos companheiros do laboratório de Convenience: Sérgio, Carime, Marília, Lucas,

Gustavo, Marina, Silvana e Jéssica.

Aos membros da comissão examinadora, pela revisão criteriosa e pela

contribuição valiosa nas discussões dos resultados.

Agradeço a todas as muitas outras pessoas que de alguma forma

contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho e fizeram parte desta conquista!

RESUMO

O tomate é largamente consumido no mundo e a polpa concentrada é o

principal produto derivado do tomate cultivado para fins industriais. Um dos maiores

desafios da indústria é tornar a cadeia produtiva mais sustentável e eficiente para

atender simultaneamente às demandas de redução de custos e melhoria de

qualidade. Este trabalho teve como objetivo indicar alternativas reais de melhoria do

processo industrial de produção de polpa concentrada de tomate, através do estudo

da influência da temperatura ao longo da cadeia de processamento nos principais

parâmetros de qualidade: (1) ácido ascórbico, importante indicador de qualidade de

processo; (2) cor, parâmetro que influencia diretamente a aceitação de todos os

produtos derivados de tomate e (3) consistência, determinante na aceitação pelo

consumidor, e de especial relevância para o desenvolvimento de produtos como

molhos e ketchup. Amostras de polpa de tomate concentrada a 29°Brix foram

submetidas a tratamento térmico em banho termostático com recirculação de água a

60 e 70°C por 96h e a 80°C por 48h. Amostras foram retiradas em tempos

intermediários, resfriadas e analisadas quanto ao teor de ácido ascórbico, cor

CIELAB (L*a*b*, a*/b* e TPS), consistência em consistômetro Bostwick e textura em

texturômetro TA XT Plus. Foram comparados os mesmos atributos em amostras de

polpa com diferentes tempos de armazenamento para correlação dos dados

cinéticos com os resultados reais. Tanto a degradação do ácido ascórbico quanto a

degradação dos parâmetros de cor foram bem descritas por modelos cinéticos de

primeira ordem e a dependência da temperatura foi satisfatoriamente representada

pela lei de Arrhenius. Tanto a consistência Bostwick quanto os atributos de firmeza e

consistência medidos em texturômetro não foram afetados significativamente pela

temperatura de tratamento térmico. O método de Bostwick mostrou-se satisfatório

para avaliação da textura e controle de qualidade em polpa de tomate, apresentando

resultados comparáveis aos obtidos em texturômetro. A partir dos parâmetros D e z

obtidos e do mapa térmico do processamento industrial da polpa concentrada foram

calculados os valores F, ou seja, o efeito da temperatura, em cada etapa do

processamento, tornando possível a identificação das etapas de esterilização e

armazenamento como críticas para a degradação da vitamina C e dos parâmetros

instrumentais de cor. Diferentes cenários de melhoria da etapa de esterilização e

das condições de armazenagem foram propostos, oferecendo à indústria uma

avaliação crítica do processo e informações confiáveis para fomentar a melhoria da

qualidade sensorial da polpa concentrada de tomate, aliada à segurança do

alimento.

Palavras-chave: Polpa de tomate, vitamina C, cor, textura, tratamento térmico.

ABSTRACT

Tomato is widely consumed in the world and its concentrated paste

represents the main derived product from industrial tomato cultivars. One of

industry’s biggest challenges is to produce in a sustainable and effective chain to

simultaneously fulfill the cost reduction and quality improvement demands. This study

aimed, therefore, to propose real alternatives for industrial processing improvement,

focused on tomato paste main quality attributes: (1) ascorbic acid content, important

process quality indicator; (2) color, main parameter influencing majority of tomato

products customer’s acceptance and (3) consistency, determinant customer’s

acceptance factor and especially relevant in the development of products such as

sauces and ketchup. Samples of tomato paste (29°Brix) were subjected to thermal

treatment in thermostatic water bath with recirculation at 60 and 70°C for 96h and at

80°C for 48h. Samples were collected at intermediate times, cooled down and

analyzed for ascorbic acid content, CIELAB color values (L*a*b*, a*/b* and TPS),

consistency measured in Bostwick consistometer and texture parameters measured

with TA XT Plus Texture Analyzer. Also, tomato paste samples with different storage

times were compared as to the same attributes, to correlate kinetic data with real

process results. Both ascorbic acid and instrumental color parameters degradation

were well described by first-order kinetic models. Temperature dependence was

satisfactory represented by Ahrrenius law. Either Bostwick consistency as firmness

and consistency attributes measured by the texture analyzer equipment weren’t

affected by thermal treatment temperature. The Bostwick method was satisfactory for

texture evaluation and quality control in tomato paste, showing comparable results to

those obtained in texturometer. From D and z parameters obtained from kinetic study

along with the thermal map of tomato paste industrial processing, F values for each

processing step were calculated, representing the effect of temperature. Through

that, it became possible to identify sterilization and storage as critical steps to the

degradation of vitamin C and instrumental color parameters. Different scenarios for

improving sterilization step and storage conditions have been proposed, offering the

industry a critical assessment of the process and reliable information to foster

improvement in sensory quality of concentrated tomato paste, ensuring food safety.

Keywords: Tomato paste, vitamin C, color, texture, thermal treatment.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Estrutura básica do fruto do tomate. ........................................................ 19

Figura 2 - Fluxograma genérico do processamento da polpa concentrada de tomate. .................................................................................................................................. 24

Figura 3 - Estrutura molecular do licopeno (C40H56). ................................................ 26

Figura 4 - Estruturas de isômeros cis e trans do licopeno. ...................................... 28

Figura 5 - Consistômetro Bostwick. .......................................................................... 32

Figura 6 - Diagrama esquemático do teste de retroextrusão. ................................... 33

Figura 7 - Curva típica resultante de testes de retroextrusão. .................................. 33

Figura 8 - Mecanismo de conversão do ácido L-ascórbico. ...................................... 35

Figura 9 - Representação gráfica da ordem das reações, sendo ʋ a taxa e a a

concentração do reagente. ........................................................................................ 37

Figura 10 - Localização do município de Hidrolândia. .............................................. 40

Figura 11 - Fluxograma do processamento da polpa concentrada de tomate,

contendo etapas de coleta de amostras para correlação com as condições reais do processo industrial destacadas. ................................................................................ 41

Figura 12 - Representação gráfica do teste de retroextrusão. .................................. 46

Figura 13 - Cinética de degradação do ácido ascórbico em polpa de tomate a 60, 70 e 80°C (média ± desvio padrão). ............................................................................... 48

Figura 14 - Comparação gráfica entre diferentes modelos cinéticos para descrever a degradação de ácido ascórbico em polpa de tomate concentrada ........................... 50

Figura 15 - Relação linear para determinação do parâmetro k de degradação do ácido ascórbico. ........................................................................................................ 53

Figura 16 - Representação gráfica de Arrhenius da constante cinética de primeira

ordem para degradação do ácido ascórbico em polpa de tomate ............................. 53

Figura 17 - Curva da retenção de ácido ascórbico para o cálculo do valor D para a degradação do ácido ascórbico ................................................................................. 54

Figura 18 - Curva de resistência térmica para o cálculo do valor z para a degradação do ácido ascórbico. ................................................................................ 54

Figura 19 - Relações linearizadas para determinação dos parâmetros k para cada

atributo de cor. .......................................................................................................... 59

Figura 20 - Representação gráfica de Arrhenius para degradação dos parâmetros instrumentais de cor em polpa de tomate.................................................................. 60

Figura 21 - Curva de resistência térmica para o cálculo do valor z para a

degradação de cor. ................................................................................................... 60

Figura 22 - Curvas da retenção de cor para o cálculo do valor D para a degradação

de cor. ....................................................................................................................... 61

Figura 23 - Evolução da consistência Bostwick ao longo do tempo de aquecimento às três temperaturas estudadas. ............................................................................... 65

Figura 24 - Curvas resultantes do ensaio de retroextrusão em Texturômetro TA XT

Plus. .......................................................................................................................... 65

Figura 25 - Evolução da força máxima medida em Texturômetro após tratamento térmico a 60 e a 70°C por diferentes intervalos de tempo. ........................................ 66

Figura 26 - Evolução da consistência medida em Texturômetro após tratamento térmico a 60 e a 70°C por diferentes intervalos de tempo. ........................................ 67

Figura 27 - Representação gráfica das temperaturas mínimas, máximas e médias

mensais no município de Goiânia, GO ...................................................................... 68

Figura 28 - Gráfico de vida de prateleira para alterações de vitamina C e cor. ........ 69

Figura 29 - Comparação do parâmetro de cor TPS no tempo inicial e final para

polpas com diferentes vidas-de-prateleira. ................................................................ 70

Figura 30 - Comparação da consistência Bostwick no tempo inicial e final para polpas com diferentes vidas-de-prateleira. ................................................................ 70

Figura 31 - Comparação dos teores finais de vitamina C em polpas com diferentes

períodos de armazenamento. .................................................................................... 71

Figura 32 - Mapa térmico do processo produtivo de polpa de tomate concentrada. 73

Figura 33 - Gráfico da taxa letal para o cálculo do valor F para a degradação de

vitamina C. ................................................................................................................ 74

Figura 34 - Gráfico da taxa letal para cálculo do valor F para a degradação de cor.74

Figura 35 - Relação entre tempo de aquecimento e temperatura de processo para

(1) redução de 5D de esporos de B. coagulans, (2) cor correspondente a a*/b* = 1,8 e (3) 90% de retenção de vitamina C. ....................................................................... 86

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dados de produção dos últimos três anos e previsão para 2015 referentes aos dez maiores produtores mundiais, em mil toneladas . ....................... 22

Tabela 2 - Tempos e temperaturas definidos em ensaios cinéticos preliminares. .... 43

Tabela 3 - Índices de cor e cálculo correspondente .................................................. 45

Tabela 4 - Caracterização físico-química da polpa utilizada no estudo cinético. ...... 47

Tabela 5 - Concentrações de ácido ascórbico (mg/ 100g) durante o aquecimento a diferentes temperaturas............................................................................................. 48

Tabela 6 - Comparação entre os modelos de ordem zero e primeira ordem para descrever a cinética de degradação de ácido ascórbico em polpa de tomate concentrada. .............................................................................................................. 49

Tabela 7 - Comparação da qualidade do ajuste de modelos de ordem zero, primeira,

½, 1 ½ e segunda ordem para descrever a cinética de degradação do ácido

ascórbico em polpa de tomate concentrada. ............................................................. 50

Tabela 8 - Parâmetros cinéticos para a degradação de ácido ascórbico em polpa de

tomate concentrada. .................................................................................................. 55

Tabela 9 - Resultados obtidos para os parâmetros de cor L*, a*, b*, TPS e a*/b*

durante o aquecimento da polpa de tomate a diferentes temperaturas. ................... 57

Tabela 10 - Comparação entre os modelos de ordem zero e primeira ordem para descrever a cinética degradação dos parâmetros de cor em polpa de tomate concentrada. .............................................................................................................. 58

Tabela 11 - Parâmetros cinéticos para a degradação de cor em polpa de tomate concentrada. .............................................................................................................. 63

Tabela 12 - Resultados obtidos de consistência Bostwick durante o aquecimento da polpa de tomate a 60, 70 e 80°C. .............................................................................. 64

Tabela 13 - Resultados obtidos de firmeza, ou força máxima, medida em

Texturômetro, após tratamento térmico a 60 e a 70°C por diferentes intervalos de tempo. ....................................................................................................................... 66

Tabela 14 - Resultados obtidos de consistência, medida em Texturômetro, após

tratamento térmico a 60 e a 70°C por diferentes intervalos de tempo. ...................... 67

Tabela 15 - Comparação de resultados analíticos de polpas de tomate concentradas

produzidas em três diferentes safras......................................................................... 69

Tabela 16 - Efeito da temperatura de cada etapa do processamento da polpa de tomate concentrada na degradação da vitamina C. .................................................. 75

Tabela 17 - Efeito da temperatura de cada etapa do processamento da polpa de

tomate concentrada no parâmetro de cor L*. ............................................................ 76

Tabela 18 - Efeito da temperatura de cada etapa do processamento da polpa de

tomate concentrada no parâmetro de cor a*. ............................................................ 77

Tabela 19 - Efeito da temperatura de cada etapa do processamento da polpa de

tomate concentrada no parâmetro de cor b*. ............................................................ 78

Tabela 20 - Efeito da temperatura de cada etapa do processamento da polpa de tomate concentrada no parâmetro de cor TPS. ......................................................... 79

Tabela 21 - Efeito da temperatura de cada etapa do processamento da polpa de

tomate concentrada no parâmetro de cor a*/b*. ........................................................ 80

Tabela 22 - Resumo dos valores z e F para cada parâmetro avaliado. .................... 81

Tabela 23 - Simulação do valor F da etapa de armazenagem para 4 propostas de

melhoria das condições atuais de armazenagem da polpa de tomate concentrada. 81

Tabela 24 - Simulação do valor F da etapa de esterilização (holding) para 5 propostas de melhoria na etapa de esterilização da polpa de tomate concentrada. . 83

Tabela 25 - Simulação do efeito das propostas de armazenagem nos parâmetros

TPS e a*/b*. ............................................................................................................... 85

Tabela 26 - Simulação do efeito das propostas de esterilização nos parâmetros TPS

e a*/b*........................................................................................................................ 85

Tabela 27 - Resultados das análises de Brix, umidade, teor de vitamina C e consistência Bostwick realizadas nas amostras coletadas ao longo do processo produtivo de polpa de tomate concentrada. .............................................................. 87

Tabela 28 - Resultados das análises de cor realizadas nas amostras coletadas ao longo do processo produtivo de polpa de tomate concentrada. ................................ 87

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO GERAL ....................................................................................... 16

2. OBJETIVOS ........................................................................................................ 18

2.1. Objetivo geral ................................................................................................ 18

2.2. Objetivos específicos .................................................................................... 18

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 19

3.1. Tomate.......................................................................................................... 19

3.2. Produção e consumo .................................................................................... 21

3.3. Processamento de tomates no Brasil ........................................................... 22

3.4. Atributos de qualidade do tomate e seus produtos ....................................... 26

3.4.1. Cor (Licopeno) ....................................................................................... 26

3.4.2. Textura................................................................................................... 30

3.4.3. Ácido Ascórbico (Vitamina C) ................................................................ 34

3.5. Cinética Química .......................................................................................... 36

4. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................... 40

4.1. Obtenção da matéria-prima .......................................................................... 40

4.2. Armazenamento ........................................................................................... 42

4.3. Análises físico-químicas para caracterização da matéria-prima ................... 42

4.3.1. pH .......................................................................................................... 42

4.3.2. Sólidos solúveis totais (ºBrix) ................................................................. 42

4.3.3. Acidez titulável total ............................................................................... 42

4.3.4. Umidade ................................................................................................ 43

4.4. Determinação dos parâmetros cinéticos ....................................................... 43

4.5. Análise instrumental de cor em Colorímetro Hunter Lab .............................. 44

4.6. Determinação de ácido ascórbico (vitamina C) ............................................ 45

4.7. Análise de consistência ................................................................................ 45

4.8. Análise de textura ......................................................................................... 45

4.9. Correlação da análise teórica com as condições reais de processo ............ 46

4.10. Forma de análise dos resultados .................................................................. 46

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................ 47

5.1. Cinética de degradação do ácido ascórbico ................................................. 47

5.2. Cinética de degradação da cor ..................................................................... 56

5.3. Cinética de degradação da textura ............................................................... 63

5.4. Vida-de-prateleira e correlação com resultados reais ................................... 68

5.5. Simulações de condições de processo e armazenamento ........................... 71

5.6. Correlação do estudo cinético com condições reais do processo industrial . 87

6. CONCLUSÕES ................................................................................................... 89

6.1. Sugestões para a continuidade dos estudos ................................................ 89

7. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 91

16

1. INTRODUÇÃO GERAL

O tomate é largamente consumido no mundo e, no Brasil, é cultivado

predominantemente na região central do país. Os cultivos de tomate são destinados

ao consumo in natura e ao abastecimento industrial, constituindo-se em duas

cadeias produtivas distintas desde as variedades utilizadas, formas de cultivo até o

consumo final. Por ser um fruto de durabilidade limitada e período de produção

agrícola curto, grande parte do tomate produzido para fins industriais é transformada

em polpa concentrada, que é reconstituída ao longo do ano, principalmente durante

a entressafra, para a fabricação dos produtos processados a base de tomate

(BRITO; CASTRO, 2010; CHANFORAN et al., 2012; CLEMENTE; BOITEUX, 2012).

Dentre os parâmetros de qualidade essenciais para a classificação e

aceitação dos produtos industrializados de tomate estão a cor e a consistência. O

padrão de cor desejável tanto em tomates in natura quanto na polpa concentrada,

vermelho-intensa e uniforme, se deve à presença de carotenoides, dos quais o

licopeno representa cerca de 80%. A manutenção da cor em produtos de tomate

depende diretamente do controle de fatores de processo que desencadeiam a

oxidação ou a isomerização térmica dos carotenoides originalmente presentes no

fruto. Ao longo da cadeia de processamento da polpa concentrada, a presença de

oxigênio é limitada, fazendo do aquecimento a principal causa de alterações de cor.

O controle da degradação e da isomerização do licopeno, originalmente na forma

trans, para a estrutura cis (menos vermelha) pode ser alcançado através do correto

dimensionamento das etapas de processo que envolvem a aplicação de

temperaturas elevadas, como a inativação enzimática, a concentração e a

esterilização, visando preservar a cor e melhorar a qualidade dos produtos de

tomate em geral (BARREIRO; MILANO; SANDOVAL, 1997; SHI; MAGUER, 2000;

SMITH; MORRIS, 1998; MOTAMEDZADEGAN; TABARESTANI, 2011).

A consistência em produtos de tomate está intimamente ligada ao custo,

além da aceitação sensorial. Os principais fatores que afetam a consistência da

polpa concentrada de tomate são: as diferenças de composição entre cultivares; a

variação de composição a diferentes estágios de maturação do fruto; o conteúdo de

sólidos totais e sólidos insolúveis; a distribuição do tamanho de partículas e o

formato das partículas insolúveis; o binômio tempo/ temperatura do tratamento

17

térmico inicial (hot break ou cold break) (HAYES; SMITH; MORRIS, 1998; SÁNCHEZ

et al., 2012).

Apesar de conter quantidades moderadas de ácido ascórbico (vitamina

C), o tomate é considerado uma importante fonte desta vitamina devido a seu alto

consumo, tanto fresco como na forma de produtos processados. A vitamina C é

relativamente termo lábil e considerada um dos nutrientes mais sensíveis a

condições adversas, por isso seu teor é frequentemente tomado como indicador de

alterações gerais de qualidade em alimentos processados (KOH;

CHAROENPRASERT; MITCHELL, 2011; BENASSI, 1990). (HAYES; SMITH;

MORRIS, 1998; STEVENS, 2006).

Para prever realmente a degradação de determinado nutriente em

condições conhecidas de processamento e compreender como processos industriais

podem afetar os teores e a estabilidade de compostos bioativos, bem como outros

parâmetros importantes de qualidade, o estudo cinético mostra-se um dos métodos

mais eficazes para a escolha de melhores processos e operações.

A cadeia produtiva de polpa concentrada no Brasil enfrenta atualmente o

desafio da busca pela produção sustentável, concomitantemente à necessidade de

aumento de competitividade no crescente mercado interno, através da redução de

custos e melhoria da qualidade. A perda de qualidade da polpa de tomate

concentrada gera impacto direto em produtos derivados como molhos prontos,

extratos e ketchup, cuja qualidade é percebida e avaliada diretamente pelos

consumidores finais. Espelhados na Califórnia, Estado norte-americano responsável

por expressivos 35% da produção mundial, os grandes produtores brasileiros optam

pelo sistema menos custoso de armazenamento, em condições não controladas, ou

seja, a temperatura ambiente em pátios abertos. Como as safras brasileira e

americana ocorrem no mesmo período do ano, o produto americano permanece

exposto às condições ambientais brandas do inverno do sul dos Estados Unidos,

enquanto o produto brasileiro é submetido às condições drásticas do verão na região

Centro-Oeste. Por esse motivo, esse sistema de armazenamento, apesar de

eficiente em custos, contribui para a deterioração da polpa concentrada nacional ao

longo de sua vida-de-prateleira, exposta ao calor e à luz solar direta.

O tempo máximo de estocagem nas condições citadas é estabelecido, em

média, em 24 meses. Pode-se ainda somar à vida-de-prateleira da polpa

18

concentrada mais 12 a 18 meses, considerando-se os casos em que esta é utilizada

no processamento de produtos de tomate, como molhos e extratos, durante a

entressafra. Nestes casos, a perda de qualidade da polpa é percebida diretamente

nos produtos que chegam à mesa do consumidor, refletindo em grande variabilidade

nos parâmetros de qualidade dos produtos processados de tomate ao longo do ano.

O presente trabalho deve, portanto, auxiliar a indústria na identificação ao

longo da cadeia de processamento industrial de polpa concentrada de tomate, das

etapas críticas para a degradação dos principais atributos de qualidade: cor,

consistência e teor de vitamina C. O estudo da cinética de degradação deve prover

dados para direcionar a aplicação de melhorias no processamento, manipulação e

armazenamento da polpa concentrada de tomate, aliando segurança de alimentos e

qualidade sensorial.

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral

Identificar as etapas críticas do processamento da polpa concentrada de

tomate em relação à qualidade do produto.

2.2. Objetivos específicos

Obter parâmetros cinéticos de degradação de vitamina C, cor e

consistência da polpa de tomate concentrada.

Estudar o efeito da temperatura ao longo da cadeia de processamento da

polpa de tomate concentrada nos parâmetros: cor, consistência e vitamina C.

Dar indicativos para a melhoria do processo.

19

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Tomate

O tomate é um fruto de importância mundial, reconhecido por suas

propriedades nutricionais e amplamente consumido tanto in natura, quanto

processado na forma de suco, concentrados e polpas, molhos prontos, tomates

pelados enlatados, ketchup e sopas (CHANFORAN et al., 2012; KOH;

CHAROENPRASERT; MITCHELL, 2011; MIRONDO; BARRINGER, 2015;

MOTAMEDZADEGAN; TABARESTANI, 2011).

A estrutura básica do fruto do tomate, ilustrada na Figura 1, é composta

pelo pericarpo e pela polpa, que é constituída pela placenta e pelo tecido locular. Os

lóculos são envolvidos pelo pericarpo e incluem as sementes, envoltas por

membranas gelatinosas. O exocarpo ou pele, o mesocarpo e uma estrutura

unicelular que divide os lóculos, formam o pericarpo. O tomateiro (Solanum

lycopersicum L. = Lycopersicum esculentum Mill.) é cultivado comercialmente em

todos os continentes (BARRETT; GARCIA; WAYNE, 1998; CLEMENTE, 2015;

CLEMENTE; BOITEUX, 2012; KOH; CHAROENPRASERT; MITCHELL, 2011).

Figura 1 - Estrutura básica do fruto do tomate.

A temperatura é um dos fatores ambientais mais importantes para o

desenvolvimento do tomateiro, uma cultura de estação quente, que requer

temperaturas diurnas de 25 a 30°C e temperaturas noturnas de 16 a 20°C para obter

crescimento ótimo. O processo de maturação do fruto é especialmente influenciado

Sementes

Parede interna do

pericarpo

Cavidade locular (consistência gelatinosa, onde

ficam as sementes)

Parede externa do

pericarpo

Tecido placental

20

pela temperatura: temperaturas próximas a 10°C assim como superiores a 30°C

originam frutos de tonalidades amareladas ou manchadas, visto que a síntese de

licopeno é afetada nessas condições. A umidade relativa é outro importante fator

ambiental que influencia o desenvolvimento da planta. Umidades muito elevadas

favorecem o desenvolvimento de doenças, o aparecimento de rachaduras nos frutos

e dificultam a fecundação pela compactação do pólen. A umidade ótima para o

desenvolvimento do tomateiro, portanto, oscila entre 60 e 80% (CLEMENTE;

BOITEUX, 2012; GOULD, 2013; MOTAMEDZADEGAN; TABARESTANI, 2011).

Na região central do Brasil, o plantio de tomate se inicia em fevereiro e se

estende até junho. A colheita normalmente é iniciada em junho e segue até outubro.

O período de cultivo de tomate no Brasil é o mais extenso dentre as principais

nações produtoras e este fato se dá devido à ausência de fatores limitantes, tanto no

início quanto no final da safra. No entanto, nos extremos da safra existem fatores

restritivos que dificultam a produção e não permitem que a cultura de tomate alcance

todo o seu potencial produtivo e de qualidade. O principal fator restritivo é a forte

umidade presente no período de chuvas das regiões tradicionais de cultivo, que

atingem a cultura de tomate nas áreas iniciais transplantadas em fevereiro e podem

afetar a colheita planejada para outubro (BRASÍLIA, 2015; CLEMENTE; BOITEUX,

2012).

De forma geral, os períodos de colheita mais curtos, de cerca de 45 dias,

ocorrem na China, enquanto que os mais longos são observados em diversos

países da Europa, e duram entre 60 e 75 dias. Na Califórnia, principal região

produtora mundial, a colheita é distribuída em cerca de 90 a 100 dias. No cenário

nacional, em alguns casos o período de colheita fica próximo a 150 dias. A safra

longa tem como principal benefício o melhor aproveitamento da capacidade

instalada nas fábricas e das áreas irrigadas das fazendas produtoras; por outro lado,

tende a provocar maior variação dos principais indicadores da cadeia produtiva do

tomate industrial (produtividade, volume de safra, Brix, cor, etc.) (CLEMENTE;

BOITEUX, 2012).

Os cultivos de tomate são destinados ao consumo in natura e ao

abastecimento industrial, constituindo-se em duas cadeias produtivas distintas desde

as variedades utilizadas, formas de cultivo até o consumo final. Direcionadas em

atender a crescente demanda por produtos derivados de tomate, as empresas

21

processadoras, em parceria com produtores rurais, institutos de pesquisa e

fornecedores de insumos, desenvolveram lavouras específicas para abastecimento

das fábricas. A utilização de variedades próprias para processamento industrial, com

maior uniformidade de maturação, firmeza, cor, viscosidade e outros parâmetros

mais adequados a este mercado, bem como o cultivo em áreas mais extensas foram

práticas determinantes para o aumento de volume e da qualidade do tomate

produzido. Entre a segunda metade da década de 1990 e o início dos anos 2000, a

introdução e o rápido aumento da área plantada com híbridos, somados à utilização

do transplante de mudas, gerou também forte aumento da produtividade média de

tomates para processamento industrial no Brasil (BRITO; CASTRO, 2010;

CLEMENTE; BOITEUX, 2012).

3.2. Produção e consumo

A produção mundial de tomate em 2014, segundo o WPTC (World

Processing Tomato Concil) foi de quase 40 milhões de toneladas. Apesar de liderar

a produção de tomate para processamento industrial na América Latina, o Brasil

ocupa o sétimo lugar no ranking mundial dos maiores produtores, sendo responsável

por apenas 4% do total de tomates produzidos para industrialização.

A produção de tomate industrial no Brasil, o chamado tomate rasteiro,

teve início em Pernambuco, no final do século XVlll. A partir da década de 1950, a

cultura de tomate passou a se desenvolver no Estado de São Paulo, o que levou ao

processo de implantação das agroindústrias. Vislumbrando a possibilidade de cultivo

do tomate durante a maior parte do ano, com o intuito de reduzir o período de

ociosidade da indústria na entressafra, na década de 1980 a cultura de tomate foi

levada para a região Nordeste, principalmente para Pernambuco e norte da Bahia.

Atualmente, a produção agrícola de tomate no Brasil tem maior importância nas

regiões do Sudeste e Centro-Oeste. Em 2008 o Estado de Goiás detinha a maior

participação na produção nacional (29,7%), seguido por São Paulo (19,9%) e Minas

Gerais (12,0%), que juntos concentram cerca de 60% do total produzido no país. O

Estado de Goiás é líder absoluto na produção de tomate no país, responsável por

72% do volume nacional, e apresenta índice de produtividade (ton/ha)

significativamente maior que a média nacional (BRITO; CASTRO, 2010; DIEESE,

2010; REVISTA KLFF, 2015).

22

Tabela 1 - Dados de produção dos últimos três anos e previsão para 2015

referentes aos dez maiores produtores mundiais, em mil toneladas (WPTC, 2015).

País 2012 2013 2014 2015

(previsto) Média

2012 a 2015 Produção mundial

EUA (Califórnia) 11460 11020 12707 13607 11729 32%

China 3230 3850 6300 6500 4460 16%

Itália 4500 4080 4914 5000 4498 12%

Espanha 1935 1650 2700 2700 2095 7%

Iran 1750 1900 2200 2200 1950 6%

Turquia 1750 2150 1800 2500 1900 5%

Brasil 1294 1500 1400 1394 1398 4%

Portugal 1190 997 1197 1250 1128 3%

Chile 668 682 810 820 720 2%

Tunísia 840 618 720 850 726 2%

O sistema agroindustrial de tomate no País é caracterizado por uma

cadeia agroalimentar. A industrialização propriamente dita compreende a indústria

de transformação primária e a indústria de transformação secundária, as quais se

integram e se complementam (BRASÍLIA, 2015).

O setor de produtos atomatados, que movimenta mais de R$ 2,6 bilhões

por ano, passou por uma queda de 25% na safra de 2012, decorrente de problemas

climáticos. O crescimento constante na venda de extratos e molhos, de

aproximadamente 17% ao ano, tem garantido a manutenção da demanda por

matéria-prima. A indústria ainda importa por ano entre 60 e 70 toneladas de polpa

concentrada da fruta, originada principalmente do Chile e da China. Grande parte do

tomate industrial cultivado no Brasil é proveniente de híbridos desenvolvidos por

multinacionais como, por exemplo, a H. J. Heinz, com sede em Pittsburgh, nos

Estados Unidos. A Embrapa Hortaliça, localizada em Gama (DF), tem investido no

desenvolvimento de novas variedades de tomate industrial, a fim de suprir

nacionalmente as demandas do setor (SANTIAGO, 2013).

3.3. Processamento de tomates no Brasil

Por ser um fruto de vida-de-prateleira limitada e período de produção

agrícola curto, o consumo mais frequente se dá na forma de produtos processados,

23

que incluem extratos de tomate, suco de tomate, molhos prontos, tomate pelado

enlatado, ketchup, dentre outros (CHANFORAN et al., 2012).

Grande parte do tomate produzido para fins industriais é transformada em

polpa de tomate concentrada, que é reconstituída ao longo do ano, principalmente

durante a entressafra, para a fabricação dos produtos processados a base de

tomate. A polpa de tomate concentrada consiste numa dispersão de partículas

sólidas em um meio aquoso, também chamado soro, resultado da concentração do

suco de tomate após a remoção da pele e sementes. É produzida a partir de um

processo que tem como etapa mais importante o tratamento térmico inicial, que visa

à inativação enzimática, seguido de diversas etapas como refinação, evaporação e

esterilização, apresentadas na forma de fluxograma na Figura 2 (KOH;

CHAROENPRASERT, 2011; SÁNCHEZ et al., 2012).

A definição de concentrado de tomate, segundo a Agência Nacional de

Vigilância Sanitária, ANVISA (BRASIL, 2005), indica que o produto deve conter no

mínimo 6% de sólidos solúveis naturais de tomate e pode ser adicionado de sal e ou

açúcar. Depois de classificados, lavados e selecionados, os tomates passam por um

sistema conhecido como “break”, no qual os tomates são triturados para possibilitar

a posterior extração do suco. Os tomates selecionados podem ser processados por

dois métodos: “hot break” ou “cold break”. O processo de “hot break” envolve o

rápido aquecimento do tomate, durante ou imediatamente após a trituração, a

temperaturas que podem variar de 70 a 95°C. Este aquecimento preliminar visa à

inativação das enzimas pectinolíticas, poligalacturonase (PG) e pectina

metilesterase (PME), resultando em um produto de alta viscosidade, porém acarreta

perdas ou alterações de sabor. No sistema “cold break”, os tomates são submetidos

a temperaturas mais brandas de 60 a 65°C gerando um produto menos viscoso

devido à ação das enzimas pectinolíticas, mas com sabor e cor preservados

(GOULD, 2013; HUI; EVRANUZ, 2015; KOH; CHAROENPRASERT, 2011;

MOTAMEDZADEGAN; TABARESTANI, 2011; SÁNCHEZ et al., 2012;).

24

Figura 2 - Fluxograma genérico do processamento da polpa concentrada de tomate

(BRASÍLIA, 2015).

Recebimento dos tomates

Classificação

Descarga

Transporte Hídrico

Lavagem

Seleção

Lavagem

Trituração (“Chopping Pump”)

Tratamento Térmico “Hot Break” ou “Cold Break”

Tanque Pulmão

Despolpamento e refinação

Pele e sementes

Suco

Evaporação (Concentração)

Tratamento Térmico (Esterilização)

Resfriamento Asséptico

Enchimento Asséptico

Armazenagem

25

A etapa seguinte do processamento consiste na extração do suco através

dos processos de despolpamento e refinação, ou seja, extração do suco de tomate

da polpa aquecida e remoção da pele e sementes em extratores com peneiras

metálicas rotativas. A escolha do tamanho dos orifícios de abertura das peneiras de

refinação está geralmente associada à textura desejada à polpa concentrada final.

Esta etapa é crítica para a degradação da vitamina C, dada à extensa área de

exposição aos íons metálicos presentes nas peneiras e ao oxigênio do ar. Na etapa

seguinte, o suco obtido é concentrado por evaporação a uma pasta com teor de

sólidos solúveis de 28 a 30° Brix. A evaporação ou concentração é comumente

realizada em evaporadores de 2 a 4 efeitos, a baixas pressões e com sistemas de

reaproveitamento de vapor para aumento da eficiência energética do processo. No

processo asséptico, depois de concentrada, a polpa passa por um tratamento

térmico para esterilização a 105-110°C por até 10 minutos, é resfriada a 35-48°C e

envasada em bolsas laminadas assépticas. (HAYES; SMITH; MORRIS, 1998; KOH;

CHAROENPRASERT, 2011; SÁNCHEZ et al., 2012).

O futuro das empresas está orientado pelo trinômio básico da

competitividade, ou seja, produção sustentável, minimização de custos e otimização

da qualidade. Para se alcançar esses parâmetros, as condições de máxima

eficiência técnica e econômica são exigidas pela cadeia produtiva do tomate para

processamento, principalmente, nos setores à montante, no setor produtivo e de

processamento (MELO; VILELA, 2015).

Os produtos de tomate estão atualmente presentes nas mesas de famílias

de diversas classes sociais, em todas as regiões do país. Mesmo que o consumo

médio das famílias brasileiras ainda seja considerado baixo se comparado ao de

mercados consolidados de países desenvolvidos, observa-se contínuo crescimento

do mercado nacional de produtos atomatados. O crescimento do mercado interno

está associado principalmente à mudança do hábito de consumo dos brasileiros, que

tiveram seu poder de compra aumentado nos últimos anos. Além do crescimento da

produção e venda de produtos acabados, o Brasil é visto atualmente como potencial

exportador e alternativa de fornecimento de polpa de tomate para diversos países

consumidores que não contam com produção própria suficiente para o total

abastecimento de seus mercados. Este cenário motiva a busca por melhores

processos agrícolas, mas também traz a necessidade de busca de melhorias de

26

processo, qualidade e eficiência em toda a cadeia produtiva (CLEMENTE;

BOITEUX, 2012).

3.4. Atributos de qualidade do tomate e seus produtos

3.4.1. Cor (Licopeno)

A cor é um parâmetro essencial na classificação do fruto e dos produtos

industrializados de tomate. A influência da coloração dos frutos e dos produtos finais

processados vai além da aceitação do consumidor: a cor da polpa concentrada é um

dos fatores determinantes de seu preço (CLEMENTE; BOITEUX, 2012).

O padrão de cor desejável tanto em tomates in natura quanto na polpa

concentrada, vermelho-intensa e uniforme, interna e externamente, se deve à

presença de carotenoides, dos quais o licopeno representa cerca de 80% (HAYES;

SMITH; MORRIS, 1998).

Durante o amadurecimento, as clorofilas responsáveis pela cor verde dos

frutos são degradadas gradualmente devido ao desenvolvimento dos carotenoides,

sendo o licopeno o último a ser formado. Os carotenoides são moléculas orgânicas

altamente insaturadas, por isso são considerados muito reativos e susceptíveis à

oxidação e isomerização. O licopeno é um caroteno alicíclico, com 11 duplas-

ligações conjugadas (Figura 3). Essa cadeia é responsável pela típica absorção da

luz na região visível e, consequentemente, pela sua coloração vermelho alaranjada.

Como todos os carotenoides, o licopeno é apolar e fotossensível (FERREIRA, 2001;

LEONI, 2001).

Figura 3 - Estrutura molecular do licopeno (C40H56) (ADITIVOS... 2010).

Diversos autores reportam aumento nos teores medidos de licopeno

durante o processamento térmico de tomate. Isso se deve ao fato de a maior fração

de licopeno estar localizada no pericarpo externo e na pele, junto à porção de fibra

insolúvel do tomate. Durante o tratamento térmico, o rompimento das membranas e

paredes celulares libera o licopeno da porção insolúvel do tomate, solubilizando-o e

tornando-o mais biodisponível e acessível para extração (ALVES, 2009; DEWANTO;

et al., 2002).

27

Os carotenoides presentes no tomate estão sujeitos à degradação

durante o processamento, sendo a oxidação a maior causa. Esta depende de alguns

fatores como: disponibilidade de oxigênio, baixa atividade de água, alta temperatura,

presença de íons metálicos, presença de antioxidantes e lipídios. A oxidação

durante o processamento do tomate em polpa concentrada ocorre principalmente na

etapa de extração e refinação do suco, devido à exposição ao ar e metais ao passar

pelas peneiras finas utilizadas na separação da pele e sementes (HAYES; SMITH;

MORRIS, 1998; MOTAMEDZADEGAN; TABARESTANI, 2011).

Outra importante reação envolvendo o pigmento avermelhado em

produtos de tomate é a isomerização do licopeno, originalmente na forma trans, para

a estrutura cis (menos vermelha), durante o aquecimento, resultando em mudança

de cor. Dentre as causas da isomerização do licopeno estão a exposição ao calor,

luz e ácidos. As estruturas dos isômeros do licopeno são mostradas na Figura 4.

Adicionalmente, a clorofila, que pode estar presente no suco devido à trituração de

tomates verdes durante o processo produtivo, é convertida a feofitina, de cor verde-

oliva. O controle do teor de clorofila presente no processamento inicial dos produtos

de tomate, bem como o controle do comportamento de isomerização do licopeno

pode preservar a cor e melhorar a qualidade dos produtos de tomate em geral

(BARREIRO; MILANO; SANDOVAL, 1997; SHI; MAGUER, 2000).

28

Figura 4 - Estruturas de isômeros cis e trans do licopeno (AGARWAL; RAO, 2000).

Shi e Maguer (2000) reportaram que a porcentagem de licopeno decresce

em longos períodos de estocagem com exposição a altas temperaturas e em

presença de oxigênio. Segundo os autores, o fator que mais contribui para a

degradação do licopeno durante a estocagem é a presença de oxigênio.

Sendo a cor e a aparência os primeiros atributos de qualidade que levam

os consumidores a comprar e apreciar um produto, décadas atrás a indústria de

tomate americana identificou a necessidade de utilizar uma metodologia mais rápida

e fácil de quantificar tais atributos que a análise sensorial. Em 1972, o United States

Department of Agriculture (USDA) e a Universidade da Califórnia, iniciaram um

estudo que tinha como objetivo correlacionar a classificação visual de produtos de

tomate com métodos instrumentais de medição de cor. Este estudo, que comparou

diversos instrumentos de medição de cor disponíveis à época, originou equações

utilizadas até os dias atuais para classificação instrumental de produtos de tomate

29

quanto à cor: os “índices de tomate processado” ou, originalmente, “Processed

Tomato Scores”. Foram geradas equações para calcular, a partir dos parâmetros de

cor medidos pelos sistemas Hunter Lab ou CIELAB, o índice de cor de diferentes

produtos de tomate: polpa (TPS), molho (TSS), ketchup (TCS) e suco (TJS)

(BARRETT; ANTHON, 2008).

Cada instrumento validado para medição de cor em produtos de tomate

possui equações próprias, como por exemplo:

UD Davis Reference LabScan 5100:

TPS = - 46,383 + 1,021 a + 10,607 b + 0,42198 b2 (Equação 1)

HunterLab LabScan XE:

TPS = - 40,926 + 1,061 a + 9,473 b – 0,346 b2 (Equação 2)

HunterLab ColorFlex:

TPS = - 81,852 + 1,069 a + 15,390 b – 0,591 b2 (Equação 3)

A definição de padrões de cor para produtos de tomate permitiu à

indústria classificar tanto a matéria-prima quanto os produtos acabados de acordo

com a mesma escala e, assim, oferecer ao consumidor produtos de qualidade visual

constante. Entretanto, além da cor, a quantificação e o monitoramento do teor de

licopeno em produtos de tomate vêm se tornando cada vez mais importantes num

mercado consumidor que busca cada vez mais atributos de saudabilidade e

produtos funcionais (BARRETT; ANTHON, 2008; ROLDÁN-GUTIÉRREZ; DE

CASTRO, 2007).

A estrutura química do licopeno faz com que este seja muito eficiente no

sequestro do oxigênio singleto e de radicais livres, sendo por isso reconhecido como

poderoso composto antioxidante. A propriedade antioxidante do licopeno é

associada à prevenção de inúmeras doenças, como alguns tipos de câncer,

arteriosclerose, catarata e doenças cardiovasculares (DA SILVA; SCHNEIDER,

2009; D'SOUZA; SINGHA; INGLE, MORRIS, 1992).

A determinação do licopeno utilizando métodos químicos ou

cromatográficos é reconhecidamente onerosa e pouco prática para a indústria e

produtores de tomate. Para tornar a quantificação de licopeno em produtos de

tomate mais acessível, diversos estudos têm sido conduzidos com o propósito de

30

correlacionar os valores L*, a* e b* obtidos pela leitura rápida, simples e pouco

custosa utilizando um colorímetro. Embora a absorbância possa ser atribuída a

diversos carotenoides, o licopeno é o carotenóide majoritariamente presente no

tomate e seus produtos. Por essa razão, observa-se que o método colorimétrico

pode apresentar boa correlação com métodos analíticos precisos, como a

cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) (ARIAS, 2000; DAVIS; FISH;

PERKINS-VEAZIE D'SOUZA, 2003; SINGHA; INGLE, Morris, 1992).

3.4.2. Textura

Apesar de o termo “textura” ser comumente associado a sólidos ou

semissólidos, as propriedades de textura de um alimento viscoelástico, como a

polpa concentrada de tomate, englobam a consistência e a viscosidade (BARRETT;

GARCIA; WAYNE, 1998).

A medida das propriedades de textura de um alimento pode ser feita por

métodos sensoriais ou objetivos. Os métodos objetivos, também chamados

instrumentais, podem ser agrupados em três classes: (1) Fundamentais: medem

propriedades reológicas bem definidas por engenheiros ou cientistas. Os métodos

fundamentais tem pouca correlação com avaliações sensoriais, visto que são

limitados a medir apenas uma propriedade isolada da amostra. (2) Imitativos:

simulam através de instrumentos o que ocorre na boca durante a mastigação do

alimento. (3) Empíricos: incluem uma variedade de testes rápidos, simples e pouco

custosos. Apesar de vagos quanto às propriedades que medem e seus fundamentos

teóricos, são de fácil aplicação e apresentam boa correlação com a percepção

sensorial da textura dos alimentos, por isso são os mais utilizados na indústria de

alimentos. Neste grupo são incluídos os métodos de avaliação de textura de

produtos de tomate mais populares na indústria (BARRETT; GARCIA; WAYNE,

1998; BOURNE, 2002).

A consistência é um dos parâmetros mais importantes na avaliação da

qualidade e na aceitabilidade de produtos industrializados de tomate (ALVIAR;

REID, 1990; MOHR, 1987; SÁNCHEZ et al., 2012).

O termo “consistência” está relacionado a fluidos não-Newtonianos ou

semissólidos, como molhos, purês e pastas, com partículas suspensas e moléculas

solúveis de cadeias longas. A consistência de um produto é tipicamente medida, na

31

prática, através da observação do escoamento ou espalhamento do mesmo

(BARRETT; GARCIA; WAYNE, 1998; TEHRANI; GHANDI, 2006).

Em produtos de tomate, polpas de alta consistência trazem redução de

custo aos fabricantes de molhos, extratos e ketchup. Como a legislação brasileira

apenas fixa um limite mínimo de sólidos de tomate para a categoria de produtos

concentrados de tomate, mas não para molhos, ketchups, sopas e demais

derivados, o objetivo principal da indústria quando se trata do desenvolvimento de

novos produtos atomatados é atender aos padrões de qualidade exigidos pelo

consumidor: consistência e cor. Dessa forma, uma polpa de alta consistência

permite obter a mesma viscosidade aparente com a adição de menor quantidade de

sólidos de tomate, reduzindo o custo da formulação. A consistência de concentrados

de tomate e seus produtos está relacionada, em maior parte, à quantidade de

sólidos insolúveis presentes, que incluem células íntegras ou fragmentos celulares,

polímeros de cadeias longas de lignina, celulose e hemicelulose, bem como

componentes pécticos. Tais partículas suspensas são altamente hidratadas e

ocupam grande volume, apesar de representarem baixo teor de sólidos (BARRETT;

GARCIA; WAYNE, 1998; HAYES; SMITH; MORRIS, 1998; TEHRANI; GHANDI,

2006).

Os principais fatores que afetam a consistência da polpa concentrada de

tomate são: as diferenças de composição entre cultivares; a variação de composição

a diferentes estágios de maturação do fruto; o conteúdo de sólidos totais e sólidos

insolúveis; a distribuição do tamanho de partículas e o formato das partículas

insolúveis; a temperatura do tratamento térmico inicial (hot break ou cold break)

(HAYES; SMITH; MORRIS, 1998; SÁNCHEZ et al., 2012).

Mohr (1987) comparou cinco diferentes métodos objetivos para medição

da consistência de suco e purê de tomate, sendo eles: consistômetro Bostwick,

viscosímetro Brookfield, Viscosímetro de fluxo direto (Efflux-tube), texturômetro

OTMS e viscosímetro Cannon-Fenske. O estudo comparativo demonstrou que a

consistência Bostwick e a medida da força máxima das curvas obtidas através do

teste de retroextrusão utilizando o texturômetro OTMS apresentaram melhor

correlação com a avaliação sensorial da consistência.

Apesar de não ser considerado um método oficial para a determinação de

consistência em polpa de tomate, o consistômetro Bostwick (Figura 5) tem sido

32

largamente utilizado na indústria e é o método recomendado pelo USDA (United

States Department of Agriculture) para determinação de consistência em produtos

de tomate. O instrumento foi desenvolvido por E. P. Bostwick especificamente para

medir a consistência de purê e pasta de tomate. O método Bostwick é atualmente o

mais difundido na indústria de tomates e consiste em colocar a amostra a 20°C, sem

incorporar bolhas, no compartimento do instrumento e liberar a pequena porta para

que o produto escorra pela escala graduada em centímetros, durante um período de

tempo controlado de 30 segundos (BARRETT; GARCIA; WAYNE, 1998; HAYES;

SMITH; MORRIS, 1998; TEHRANI; GHANDI, 2006; USDA, 1971).

Figura 5 - Consistômetro Bostwick.

O segundo método objetivo de medição de textura que mais se

correlaciona com avaliações sensoriais, citado por Mohr (1987), foi criado na década

de 60 a partir do desenvolvimento de instrumentos capazes de medir e registrar o

histórico de variação de força e deformação de diversos produtos, utilizando

diferentes células de prova. Neste grupo de instrumentos incluem-se desde o

popular medidor da qualidade de farinhas Brabender até os versáteis texturômetros

Instron Universal Testing Machine e Ottawa Texture Measuring System (OTMS)

(BARRETT; GARCIA; WAYNE, 1998).

De acordo com Alviar e Reid (1990), o teste de retroextrusão utilizando

um texturômetro é uma boa opção para determinar a consistência de produtos de

tomate para propósitos científicos, por ser capaz de retornar valores reológicos,

menos empíricos que o consistômetro Bostwick, porém mais acessível e simples de

33

operar que um reômetro rotacional. Bourne (2002) descrevem que o teste de

retroextrusão consiste na compressão da amostra, dentro de um recipiente, por um

pistão, forçando-a a se mover na direção oposta. As Figura 6 e 7 ilustram,

respectivamente, um diagrama esquemático do teste e a curva força x distância

tipicamente obtida a partir de testes de retroextrusão.

Figura 6 - Diagrama esquemático do teste de retroextrusão. (a) O disco de

compressão desce, entrando em contato com a superfície da amostra; (b) A amostra

é comprimida; (c) A amostra é extrusada através do ânulo. (BOURNE, 2002)

Figura 7 - Curva típica resultante de testes de retroextrusão. (A-B) A amostra é

deformada e comprimida no pequeno espaço sob o disco de compressão; (B-C)

Umidade da amostra começa a ser expelida até o ponto de ruptura C; (D) Início da

inversão do sentido de movimento do disco. (BOURNE, 2002)

Ânulo Disco ou pistão

Célula de extrusão

Alimento

a b c

Distância

Forç

a

34

Apesar de serem rápidos, constantes, de boa reprodutibilidade, fácil

manipulação e adaptáveis a diferentes tipos de amostras, instrumentos como o

texturômetro são custosos, exigem manutenção e não são portáteis (BARRETT;

GARCIA; WAYNE, 1998; BOURNE, 2002).

No estudo comparativo de Mohr (1987) citado anteriormente, o

instrumento desenvolvido por E. P. Bostwick foi recomendado para estudos de rotina

e controle de qualidade de produtos de tomate por apresentar, além de boa

correlação com resultados sensoriais, também ser um método versátil, simples de

utilizar e de baixo custo.

3.4.3. Ácido Ascórbico (Vitamina C)

Apesar conter quantidades moderadas de vitamina C, o tomate é

considerado uma importante fonte desta vitamina devido a seu alto consumo, tanto

fresco como na forma de produtos processados (HAYES; SMITH; MORRIS, 1998;

STEVENS, 2006).

Com o aumento do consumo de produtos processados na dieta ocidental,

tem-se buscado cada vez mais compreender como processos industriais podem

afetar os teores e a estabilidade de compostos bioativos, como a vitamina C, com o

objetivo de melhorar a qualidade dos produtos oferecidos aos consumidores. A

vitamina C é termo lábil e considerada um dos nutrientes mais sensíveis a condições

adversas, por isso seu teor é frequentemente tomado como indicador de alterações

gerais de qualidade em alimentos processados (KOH; CHAROENPRASERT;

MITCHELL, 2011; BENASSI, 1990).

A vitamina C tem sua atividade em alimentos associada ao conteúdo de

ácido L-ascórbico, Figura 8 (I), que pode ser facilmente oxidado, de modo reversível,

a ácido dehidroascórbico (DHAA), Figura 8 (II), quando exposto a fatores como luz,

temperatura, presença de enzimas oxidantes e catalizadores metálicos (Fe3+, Cu2+,

Zn2+). Sua atividade vitamínica é perdida quando o ácido dehidroascórbico é

convertido irreversivelmente em ácido 2,3 dicetogulônico (DKGA), Figura 8 (III), e por

fim a produtos de degradação de mais baixas massas moleculares (BENASSI,

1990).

35

Figura 8 - Mecanismo de conversão do ácido L-ascórbico (I) em ácido

dehidroascórbico (II) e ácido 2,3 dicetogulônico (III).

A presença de oxigênio, a exposição à luz, metais como cobre e ferro e

enzimas contendo cobre e ferro em seu grupo prostético são catalisadores eficientes

da decomposição da vitamina C. Em presença de oxigênio, a degradação do ácido

ascórbico ocorre simultaneamente por mecanismos anaeróbico e oxidativo, este

último com contribuição consideravelmente maior (CRUZ; VIEIRA; SILVA; 2008;

ROJAS; GERSCHENSO, 2001).

Estudos demonstram que em produtos processados de tomate, apenas

metade do conteúdo de ácido ascórbico presente nos frutos frescos é retido após o

processamento térmico. Koh, Charoenprasert e Mitchell (2012), em estudo sobre o

efeito do processamento industrial da pasta de tomate sobre a vitamina C,

reportaram que as maiores reduções no teor de vitamina C foram identificadas

durante a etapa de “hot break”. Os autores também identificaram perdas

significativas de vitamina C durante a estocagem prolongada à temperatura

ambiente por até 12 meses.

Para prever realmente a degradação de determinado nutriente em

condições conhecidas de processamento, o estudo da cinética de destruição mostra-

se um dos métodos mais eficazes para a escolha de melhores processos e

operações a fim de minimizar perdas de qualidade. Diversos autores estudaram a

cinética de degradação do ácido ascórbico em matrizes alimentícias, encontrando

resultados semelhantes. Lee et al. (1997) indicou que a degradação do ácido

ascórbico em suco de tomate em relação à temperatura, pH e catalisadores

metálicos seguia uma reação de primeira ordem. O modelo de reação de primeira

ordem também foi encontrado por Gabas, Telis-Romero e Menegalli (2003) e

36

Burdurlu, Koca e Karadeniz (2006) para descrever a cinética de degradação do

ácido ascórbico em função da temperatura em ameixas liofilizadas e sucos cítricos

concentrados, respectivamente.

3.5. Cinética Química

A palavra “cinética”, do grego kinesis, significa movimento. Cinética

química é o nome dado à ciência que estuda a velocidade com a qual as reações

químicas ocorrem, os fatores que as influenciam, bem como descreve as

características dessas reações na forma de modelos matemáticos (HOUSE, 2007;

PEDRO, 2009).

Durante o processo térmico e o armazenamento de alimentos, diversas

transformações, desejáveis e indesejáveis, ocorrem. Além da reação biológica

desejável de destruição ou inativação de microrganismos e enzimas, objetivada nos

processos térmicos de alimentos, outras transformações ocorrem, cujas velocidades

são afetadas pela temperatura. Exemplos de reações desejáveis no processamento

térmico de produtos de tomate são o amolecimento de tecidos devido ao cozimento,

a inativação de enzimas pectinolíticas e a inativação de microrganismos. Reações

indesejáveis, no entanto, podem ocorrer durante o processo térmico e durante o

período de armazenamento do alimento, como a degradação do sabor, a destruição

de vitaminas e carotenoides responsáveis pela cor avermelhada (TEIXEIRA NETO

et al., 1996).

O conhecimento das reações indesejáveis que podem ocorrer no alimento

a ser processado é imprescindível para a melhoria de processos térmicos e para a

determinação da vida-de-prateleira do alimento processado, bem como as condições

ideais de armazenamento. Todas essas reações, desejáveis ou indesejáveis, podem

ser representadas matematicamente. Os padrões de ordem zero ou de primeira

ordem descrevem a maioria das alterações observadas em alimentos. A Figura 9

traz um esquema gráfico das reações de zero, primeira e segunda ordem

(AZEREDO; BRITO, FARIA, 2004; TEIXEIRA NETO et al., 1996).

37

Figura 9 - Representação gráfica da ordem das reações, sendo ʋ a taxa e a a

concentração do reagente (HOUSE, 2007).

De forma simplificada, a taxa de degradação de determinado atributo de

qualidade em um alimento pode ser representada pelas equações:

(Equação 4)

(Equação 5)

De modo que seja (4) a definição da taxa de reação (r) como a redução

na concentração do reagente A em função do tempo (θ), e (5) a redução de atributos

desejáveis (A) em função do tempo (θ), k a constante aparente da reação (uma

constante de proporcionalidade entre a taxa de reação e a concentração dos

reagentes) (AZEREDO; BRITO, FARIA, 2004).

O efeito da temperatura sobre as taxas de reação são evidenciados pelos

mais antigos estudos cinéticos. Visto que a temperatura é um fator ambiental

possível de ser controlado, muitos métodos de estimativa de vida-de-prateleira de

alimentos são baseados na aplicação de modelos matemáticos cuja variável

principal é a temperatura. O modelo mais usado para este fim é a equação de

Arrhenius, que pode ser expressa através da Equação 6:

(Equação 6)

Ordem zero

1ª Ordem

2ª Ordem

38

Onde k representa a constante da reação; A = constante para cada

sistema, relacionada à frequência das colisões moleculares; EA representa a energia

de ativação, ou energia mínima necessária para o início da reação; R = constante

universal dos gases (8,31 J.mol-1.K-1) e T = temperatura absoluta, em Kelvin

(AZEREDO; BRITO, FARIA, 2004; TEIXEIRA NETO et al., 1996).

Alternativamente, é possível representar o efeito da temperatura na

velocidade das reações em alimentos utilizando-se o valor z, também chamado

“Método de Bigelow”, popular na área microbiológica e largamente utilizado em

cálculos de esterilização de alimentos. O valor z (geralmente expresso em °C)

representa o intervalo de temperatura que leva a uma variação de 10 vezes na

velocidade da reação e pode ser obtido a partir dos valores D (min). O valor D,

também denominado tempo de redução decimal, é definido como o tempo

necessário para reduzir a população microbiana a um décimo do valor inicial a

determinada temperatura ou, de forma genérica, é o tempo necessário para a

redução de 90% da concentração inicial do constituinte estudado a uma temperatura

constante (GERMER et al., 1995; TEIXEIRA NETO et al., 1996).

O conhecimento dos parâmetros cinéticos de degradação dos atributos

críticos de qualidade de um alimento possibilita a obtenção de equações para

predizer seu grau de deterioração em função de temperaturas variáveis e, desta

forma, prever sua vida-de-prateleira em diversas condições de distribuição e

armazenagem, ou ainda, identificar melhorias no processo e cadeia logística

(AZEREDO; BRITO, FARIA, 2004; TAOUKIS et al., 1997).

O parâmetro Q10 descreve como a velocidade de uma reação é alterada

pelo aumento da temperatura em 10°C, definido por Labuza (1982 apud PEDRO,

2009) como:

(Equação 7)

O valor de Q10 é frequentemente utilizado no desenvolvimento de

produtos na indústria alimentícia como forma alternativa de expressar mudanças de

temperatura. É também chamado de fator de aceleração em estudos de vida-de-

prateleira e relaciona-se com a equação de Ahrrenius conforme segue:

39

(Equação 8)

A utilização da Equação 8 para faixas amplas de temperaturas, no

entanto, pode induzir à obtenção de resultados errôneos. É prática usual na indústria

de alimentos, por exemplo, simplificar o conceito de Q10 para uma razão genérica na

qual a velocidade de qualquer reação dobra com o incremento de 10°C na

temperatura de estocagem. Esta regra empírica, porém, não se aplica para todos os

tipos de alterações em alimentos, podendo invalidar o estudo de vida-de-prateleira

de diversos produtos (AZEREDO; BRITO, FARIA, 2004; PEDRO, 2008; VAN

BOEKEL, 2008).

40

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1. Obtenção da matéria-prima

Para o estudo da cinética de degradação, polpa concentrada de tomate,

produzida a partir de variedades de tomate industrial plantadas em 2015 (N-901, H-

9553, H-9992, U-2006, IT-761, IT-619) foi cedida pela Cargill Agrícola. Foram

coletadas amostras de polpa concentrada das safras de 2013, 2014 e 2015,

envasadas em bolsas assépticas de aproximadamente 4 kg. Tomate in natura da

variedade N-901, que representa o maior volume colhido, foi coletado na fazenda

experimental da Cargill, localizada a 32 km da capital Goiânia, no município de

Hidrolândia, Goiás (Figura 10).

Figura 10 - Localização do município de Hidrolândia (Fonte: Raphael Lorenzeto de

Abreu/ CC-BY-2.5).

Amostras para correlação com as condições reais do processo industrial

foram cedidas pela empresa Cargill Agrícola, de sua planta de processamento de

produtos de tomate situada na cidade de Goiânia, GO. Foram coletadas amostras ao

longo da linha de produção de polpa de tomate concentrada em 4 etapas

independentes, destacadas no fluxograma da Figura 11: (1) tomates triturados

coletados de tanque pulmão após tratamento térmico para inativação enzimática, hot

break, a 70-90°C por 4-5 minutos; (3) suco de tomate após a separação da pele e

sementes; (4) polpa de tomate concentrada, após o último efeito do concentrador e

41

(5) polpa de tomate concentrada e esterilizada, após o enchimento asséptico, em

bolsas de aproximadamente 4 kg.

Figura 11 - Fluxograma do processamento da polpa concentrada de tomate,

contendo etapas de coleta de amostras para correlação com as condições reais do

processo industrial destacadas.

Recebimento dos tomates

Classificação

Descarga

Transporte Hídrico

Lavagem

Seleção

Lavagem

Trituração (“Chopping Pump”)

Tratamento Térmico “Hot Break”

Tanque Pulmão

Despolpamento e refinação

Pele e sementes

Suco

Evaporação (Concentração)

Esterilização (injeção direta de vapor)

Enchimento Asséptico

Armazenagem

70 - 90°C/

4 a 5 min

Máx.

24h

Máx. 10 min

3° efeito: 50-60°C 2° efeito: 60-70°C

1° efeito: 80-90°C

105 - 115°C

29-30°C/ 7 a 24 meses

42

4.2. Armazenamento

As amostras coletadas, com exceção da polpa concentrada esterilizada,

foram congeladas logo após a coleta e armazenadas a temperatura média de –15°C

até a execução dos ensaios. A polpa concentrada esterilizada, envasada em bolsas

assépticas, foi armazenada a temperatura ambiente até análise.

4.3. Análises físico-químicas para caracterização da matéria-prima

Foram avaliadas as características físico-químicas como pH, teor de

sólidos solúveis (ºBrix), acidez titulável e umidade do tomate in natura, da polpa de

tomate concentrada e das amostras coletadas ao longo do processamento industrial

da polpa de tomate concentrada.

4.3.1. pH

A concentração hidrogeniônica das amostras foi determinada por medida

direta em potenciômetro (Denver Instruments UB-10), calibrado com soluções

tampão pH 4 e 7, conforme manual do equipamento (INSTITUTO ADOLFO LUTZ,

2008).

4.3.2. Sólidos solúveis totais (ºBrix)

O teor de sólidos solúveis (°Brix) foi determinado por leitura direta em

refratômetro digital de bancada (Abee Mark II, Reichert Technologies), utilizando-se

uma a duas gotas da amostra homogeneizada, filtrada em algodão, para remover

pele e outros resíduos insolúveis que podem interferir na leitura. Os graus Brix

referem-se à porcentagem em massa de sacarose em solução a 20°C (INSTITUTO

ADOLFO LUTZ, 2008).

4.3.3. Acidez titulável total

A acidez titulável foi determinada por titulação com hidróxido de sódio 0,1

N, segundo método 942.15, AOAC, 2006.

43

4.3.4. Umidade

A umidade foi determinada pelo princípio de termogravimetria, com

secagem por halógeno, utilizando o analisador de umidade modelo HB43-S Mettler

Toledo®.

4.4. Determinação dos parâmetros cinéticos

Os parâmetros cinéticos k (min-1) ou D (min); e Ea (kJ/mol) ou z (°C) de

degradação da cor, vitamina C, consistência e textura foram determinados para a

polpa concentrada de tomate (29° Brix). Para tal foram realizados ensaios de

degradação térmica, conforme descrito na Tabela 2.

Onde:

k (min-1) = constante de velocidade de reação;

D (min) = tempo de redução decimal;

Ea (kJmol-1) = energia de ativação;

z (°C) = índice térmico.

Tabela 2 - Tempos e temperaturas definidos em ensaios cinéticos preliminares.

Temperatura (°C) Tempo (h)

60 0 12 24 36 48 60 72 84 96

70 0 12 24 36 48 60 72 84 96

80 0 6 12 24 30 36 48 - -

Devido à quantidade de amostra necessária para as análises de

consistência e textura e à dificuldade de colocar amostras viscosas de polpa

concentrada em pequenos tubos, acondicionaram-se as amostras em frascos

transparentes de poliestireno com tampa de rosca, de volume aproximado de 120

ml.

Os frascos foram submetidos a tratamento térmico imersos em banho

termostático com circulação de água, da marca Lauda, para aquecer as amostras

nas três temperaturas estudadas. Para minimizar variações de temperatura durante

o tempo de tratamento térmico das amostras, o banho foi mantido fechado com

tampa própria. A temperatura no centro dos frascos foi medida com auxílio de

termômetro de haste e, a cada intervalo de tempo estabelecido, os frascos foram

44

transferidos para um banho termostático frio, regulado a temperatura de 2°C, a fim

de interromper o tratamento térmico e, em seguida, analisados em triplicata.

Conforme sugerido por Barreiro et al. (1997), devido à quantidade de

amostra utilizada, as amostras foram pré-aquecidas em micro-ondas para acelerar a

transferência de calor, reduzindo assim o período de transição de temperatura da

amostra à temperatura do experimento. Para estabelecer o tempo de aquecimento,

testes de tentativa e erro foram conduzidos para determinar o tempo e a potência

necessários para que a amostra atingisse a temperatura do experimento ±2°C. A

temperatura da amostra foi medida depois de a mesma ter sido removida do forno

de micro-ondas, posicionando-se a haste do termômetro no centro geométrico do

recipiente, após homogeneização da amostra.

4.5. Análise instrumental de cor em Colorímetro Hunter Lab

A análise instrumental de cor foi realizada em colorímetro (Hunterlab®

modelo LabScan XE), através de cubeta de quartzo de 64 mm. O aparelho foi

calibrado para medição de reflectância (RSIN), no sistema de cor CIELAB (L*, a* e

b*), iluminante tipo C e ângulo do observador de 2°, conforme manual do

equipamento, para obtenção das coordenadas colorimétricas L*, a* e b* (onde L* =

Luminosidade; a* e b* = coordenadas cromáticas, sendo a* = intensidade de

vermelho e b* = intensidade de amarelo).

O equipamento foi calibrado com azulejos padrões preto e branco antes

das medições. Checagens com azulejo padrão vermelho (L*=26,18; a*= 27,3 e b*=

12,7) foram realizadas periodicamente. O azulejo padrão tem como função a

verificação da repetitividade do instrumento medidor. Industrialmente, a utilização do

azulejo padrão vermelho é importante para checar a reprodutibilidade de leitura de

diferentes colorímetros utilizados na classificação de produtos processados de

tomate (suco, polpa, molhos, dentre outros).

Os índices Fresh Tomato Score (FTS), Tomato Juice Score (TJS) e

Tomato Paste Score (TPS) foram calculados de acordo com as expressões contidas

na Tabela 3.

45

Tabela 3 - Índices de cor e cálculo correspondente (HUNTER LAB, 2015).

Produto Índice Cálculo

(Baseado nos valores L, a, b)

Suco de Tomate TJS 25.114 + 0.939a - 1.638b

Polpa de Tomate Concentrada TPS - 40.926 + 1.061a + 9.473b - 0.346b2

Tomate in natura TFS 100 ((21.6/L) – (7.5b/La))

A cada leitura a cubeta foi preenchida com o mesmo volume de amostra e

uma capa preta opaca foi posicionada sobre ela para prevenir interferência da luz

ambiente na medida.

4.6. Determinação de ácido ascórbico (vitamina C)

A determinação da vitamina C foi realizada por iodometria, segundo o

método 3664/IV, do Instituto Adolfo Lutz (2008).

Alíquotas de polpa adicionadas de solução de ácido sulfúrico a 20%,

solução de iodeto de potássio a 10% e solução indicadora de amido a 1% foram

tituladas em triplicata com solução de iodato de potássio (0,2 mM) até coloração

azul.

4.7. Análise de consistência

A determinação de consistência das amostras de polpa concentrada de

tomate foi realizada segundo metodologia descrita por Leonard, 1980. Utilizou-se

consistômetro Bostwick, modelo MA441 do fornecedor “Marconi Equipamentos para

Laboratório”, com capacidade de 75 mL de amostra. Para leitura, a concentração

das amostras de polpa concentrada de tomate foi padronizada, através de diluição a

12% NTSS (natural tomato soluble solids) ou 12°Brix com água deionizada. A

temperatura das amostras diluídas foi ajustada para 25°C para leitura da

consistência.

4.8. Análise de textura

As determinações de textura foram realizadas através de teste de

retroextrusão, com o auxílio do Texturômetro Universal Testing Machine, modelo TA

XT Plus, marca Stable Micro Systems. No teste de retroextrusão, um pistão é

46

forçado através da amostra e o produto é expelido ao redor do disco, conforme

mostra a Figura 12.

Figura 12 - Representação gráfica do teste de retroextrusão.

Após o tratamento térmico, as amostras foram resfriadas a 20°C para

análise da textura. As leituras foram feitas diretamente no pote de poliestireno de

diâmetro interno de 40 mm e altura 70 mm, onde as amostras foram acondicionadas

para o tratamento térmico. A geometria (probe) utilizada para o teste de

retroextrusão foi o disco de acrílico de 35 mm de diâmetro, código A/BE – d35.

4.9. Correlação da análise teórica com as condições reais de processo

Os parâmetros cinéticos de degradação da cor, da vitamina C e da

consistência foram comparados com as etapas do processamento industrial de

tomate. Durante o processo foram observados os tempos e temperaturas de

tratamento, desde o recebimento do tomate até o armazenamento em pátio ou

prateleiras, observando-se o quanto cada etapa influencia nestas características.

4.10. Forma de análise dos resultados

Todas as análises foram realizadas em triplicata, sendo considerado,

portanto, o resultado médio e o seu respectivo desvio padrão.

Quando aplicável, os resultados das determinações foram avaliados

estatisticamente, através de Análise de Variância ANOVA e Teste de Tukey ao nível

de significância de 5% para a comparação entre as médias.

47

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os estudos cinéticos de degradação de vitamina C, cor, consistência e

textura foram conduzidos a partir de polpa de tomate concentrada produzida na

safra de 2015, com as características descritas na Tabela 4.

Tabela 4 - Caracterização físico-química da polpa utilizada no estudo cinético.

Propriedades (*) Resultados

Umidade (% b.u.) 67,35 ± 0,23

Sólidos solúveis totais (ºBrix) 29,64 ± 0,10

pH 4,31 ± 0,01

Acidez titulável total (% ácido cítrico) 2,11 ± 0,06

(*) Valores expressos como média ± desvio padrão.

Os tempos de pré-aquecimento das amostras em micro-ondas, a fim de

atingir as temperaturas de tratamento térmico definidas para o estudo cinético foram

as seguintes: 5 minutos para atingir 60°C no centro geométrico, após

homogeneização; 7,5 minutos para atingir 70°C; e 9,5 minutos para atingir 80°C.

Frente aos tempos totais de aquecimento, 96 horas a 60 e a 70°C e 48 horas a

80°C, os tempos de pré-aquecimento podem ser considerados desprezíveis.

5.1. Cinética de degradação do ácido ascórbico

Os dados obtidos da degradação de ácido ascórbico nas três

temperaturas estudadas foram analisados quanto à ordem de reação e, em seguida

foram calculados os parâmetros cinéticos pelos métodos de Bigelow e de Arrhenius.

Para a determinação da ordem de reação, foram plotados os valores de

concentração de ácido ascórbico versus o tempo de aquecimento a cada

temperatura, como mostram a Tabela 5 e a Figura 13.

48

Tabela 5 - Concentrações de ácido ascórbico (mg/ 100g) durante o aquecimento a

diferentes temperaturas.

Ácido Ascórbico (mg/ 100g)

Tempo (h) 60°C 70°C 80°C

0 75,3 ± 0,9 75,3 ± 0,89 75,3 ± 0,89

6 45,9 ± 1,02

12 53,8 ± 1,1 46,1 ± 1,59 33,4 ± 0,49

24 51,7 ± 4,4 33,2 ± 1,04 21,9 ± 1,75

30 23,5 ± 1,08

36 42,4 ± 1,4 27,4 ± 1,07 20,8 ± 1,42

48 38,1 ± 1,5 22,0 ± 0,74 24,0 ± 3,38

60 37,2 ± 0,4 20,2 ± 0,69

72 33,6 ± 1,9 19,4 ± 0,99

84 26,7 ± 0,9 19,3 ± 1,19

96 21,2 ± 1,2 16,1 ± 0,78 (*) Valores expressos como média ± desvio padrão.

Figura 13 - Cinética de degradação do ácido ascórbico em polpa de tomate a 60, 70

e 80°C (média ± desvio padrão).

A concentração de ácido ascórbico nas amostras de polpa de tomate

concentrada diminuiu com o aumento do tempo de aquecimento nas três

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

0 20 40 60 80 100

Co

nce

ntr

açã

o á

c. a

scó

rbic

o (

mg

/ 1

00

g)

Tempo (horas)

60

70

80

49

temperaturas (60, 70 e 80°C), como era esperado. Mais de 50% do ácido ascórbico

inicialmente medido foi degradado nas condições estudadas (71,8% a 60°C, 78,6%

a 70°C e 68,1% a 80°C), o que permite concluir que os tempos de aquecimento

aplicados foram suficientes para avaliar a cinética da reação.

Taoukis e Labuza (1996) e Labuza (1984) mencionam que a maioria das

reações estudadas em alimentos são caracterizadas como cinéticas de ordem zero

ou primeira ordem. Ainda, Teixeira Neto et al. (1996) citam reações de primeira

ordem como as mais frequentes em alimentos, dentre as mais importantes:

desenvolvimento microbiano, degradação de vitaminas e pigmentos durante o

processamento e armazenamento, inativação enzimática e destruição de toxinas por

aquecimento. Com base na literatura, portanto, os resultados obtidos do estudo de

degradação térmica do ácido ascórbico foram testados nos modelos de ordem zero

e de primeira ordem, conforme evidencia a Tabela 6.

Tabela 6 - Comparação entre os modelos de ordem zero e primeira ordem para

descrever a cinética de degradação de ácido ascórbico em polpa de tomate

concentrada.

Ordem zero Primeira ordem

Temperatura (°C) Equação da reta R2 Equação da reta R2

60 y = -0,4705x + 64,802 0,91 y = -0,0049x + 1,8335 0,96

70 y = -0,4884x + 54,448 0,71 y = -0,0061x + 1,7303 0,86

80 y = -0,9245x + 55,573 0,64 y = -0,0102x + 1,7232 0,72

O exame visual da Figura 13 (modelo de ordem zero) e da

Figura 14 (II), (modelo de primeira ordem), bem como a avaliação

dos coeficientes de determinação (R2) mostrados na Tabela 6, não permitem

afirmar com certeza que o modelo de primeira ordem representa

satisfatoriamente a reação estudada. Por esse motivo, testou-se também os

resultados obtidos nos modelos de ½, 1 ½ e segunda ordem, cuja comparação

gráfica é exposta na

Figura 14. Os coeficientes de determinação (R2) de cada modelo são

comparados na Tabela 7.

50

Figura 14 - Comparação gráfica entre diferentes modelos cinéticos para descrever a

degradação de ácido ascórbico em polpa de tomate concentrada, sendo (I) modelo

de ½ ordem; (II) modelo de primeira ordem; (III) modelo de 1½ ordem e (IV) modelo

de segunda ordem.

Tabela 7 - Comparação da qualidade do ajuste de modelos de ordem zero, primeira,

½, 1 ½ e segunda ordem para descrever a cinética de degradação do ácido

ascórbico em polpa de tomate concentrada.

R2

Ordem da Reação 60°C 70°C 80°C

Zero 0,91 0,71 0,64

½ 0,94 0,79 0,68

Primeira 0,96 0,86 0,72

1 ½ 0,95 0,92 0,73

Segunda 0,91 0,95 0,74

Tanto a avaliação visual dos gráficos da Figura 14 quanto os coeficientes

de determinação (R2) sugerem que o modelo de primeira ordem descreve

satisfatoriamente a reação de degradação do ácido ascórbico em polpa de tomate

2,50

3,00

3,50

4,00

4,50

0 20 40 60 80 100

ln [ác. ascórb

ico]

Tempo (h)

0,00

0,15

0,30

0,45

0,60

0 20 40 60 80 100

2*[

ác. ascórb

ico]-

½

Tempo (h)

0,00

0,02

0,03

0,05

0,06

0 20 40 60 80 100

1/ [

ác. ascórb

ico]

Tempo (h)

0,00

4,00

8,00

12,00

16,00

0 20 40 60 80 100

2*[

ác. ascórb

ico]·½

Tempo (h)

(I) (II)

(III) (IV)

51

apenas à temperatura de 60°C. Para as temperaturas de 70 e 80°C, o modelo de

segunda ordem apresenta coeficientes de determinação mais próximos de 1, no

entanto, a representação gráfica não mostra dados organizados de forma

perfeitamente linear.

Robertson e Samaniego (1986) reportaram resultado semelhante ao

estudar a degradação de ácido ascórbico em suco de limão. Para Singh et al. (1976

apud ROBERTSON; SAMANIEGO, 1986) e para Lin e Agalloco (1079 apud

ROBERTSON; SAMANIEGO, 1986), a reação de primeira ordem é válida somente

quando o oxigênio está contido em abundância (degradação aeróbica) ou quando

está completamente ausente do meio (degradação anaeróbica). Quando oxigênio

está presente em concentrações limitadas, como no presente estudo em que a

incorporação de ar na amostra não foi controlada, os autores reportam que a

cinética de segunda ordem observada pode representar que a reação depende tanto

da concentração de oxigênio, quando da de ácido ascórbico.

Van Boekel (1996) sugere ainda que o conceito de ordem de reação é

puramente empírico e que o uso de modelos de ordem simples para descrever

reações complexas em alimentos é útil quando o interesse é prever a vida-de-

prateleira ou estudar alterações químicas durante o processamento, mas não é

recomendado para entender o mecanismo da reação química.

O modelo de segunda ordem não é frequentemente reportado na

literatura de ciência dos alimentos. Van Boekel (2008) reitera que, supondo que um

dos reagentes esteja presente em excesso, a constante de velocidade de reação de

segunda ordem pode ser simplificada para uma constante de “pseudo-primeira

ordem”. Isso reforça a tese de que a cinética observada experimentalmente não

necessariamente descreve bem o mecanismo da reação. Uma solução para essa

problemática pode ser a aplicação da modelagem multi-resposta, bastante utilizada

para explicar cientificamente os mecanismos de reação, muito embora não seja

frequentemente utilizada em aplicações práticas.

Com foco no objetivo principal de comparar as alterações de três

importantes parâmetros de qualidade ao longo do processamento e armazenagem

da polpa concentrada de tomate, a degradação anaeróbica do ácido ascórbico

melhor representa o comportamento da polpa de tomate durante o período de

estocagem após concentração e envase asséptico. Por esse motivo, selecionou-se

52

para este trabalho o modelo de primeira ordem. O modelo de primeira ordem

também foi utilizado para descrever a cinética de degradação do ácido ascórbico em

diferentes matrizes alimentícias, como apresentado por Lee et al.. (1997) em suco

de tomate, Gabas, Telis-Romero e Menegalli (2003) em ameixas liofilizadas,

Burdurlu, Koca e Karadeniz (2006) em sucos cítricos concentrados, Rajchl et al.

(2010) em ketchup e Pedro (2006) em extrato de tomate. A escolha da cinética de

primeira ordem permite ainda o cálculo das constantes cinéticas pelos modelos de

Arrhenius e Bigelow.

Dessa forma, as constantes cinéticas do modelo de Arrhenius foram

calculadas a partir da regressão linear da concentração de ácido ascórbico em

função do tempo para as três temperaturas, 60, 70 e 80°C. A inclinação das retas da

Figura 15 corresponde à constante da velocidade da reação k (h-1) a cada

temperatura.

Na Figura 16 observa-se o logaritmo da constante da velocidade em

função do inverso da temperatura absoluta, onde uma linha reta confirma que a

reação segue a equação de Arrhenius com bom ajuste linear (R2 = 0,94). A

inclinação representa E/R.

53

Figura 15 - Relação linear para determinação do parâmetro k de degradação do

ácido ascórbico (média ± desvio padrão).

Figura 16 - Representação gráfica de Arrhenius da constante cinética de primeira

ordem para degradação do ácido ascórbico em polpa de tomate (média ± desvio

padrão).

2,50

2,70

2,90

3,10

3,30

3,50

3,70

3,90

4,10

4,30

4,50

0 20 40 60 80 100

ln C

on

c. á

c. a

scó

rbic

o m

(mg

/ 1

00

g)

Tempo (horas)

60

70

80

R² = 0,9423

3

3,2

3,4

3,6

3,8

4

4,2

4,4

4,6

4,8

2,8 2,85 2,9 2,95 3 3,05

-ln

k (

h-1

)

1/T·103 (K-1)

54

As constantes cinéticas de degradação do ácido ascórbico foram

alternativamente determinadas pelo modelo de Bigelow, com a finalidade de avaliar

a intensidade do binômio tempo e temperatura. Para isso, os dados experimentais

foram plotados em escala logarítmica de base 10 versus o tempo de aquecimento

em horas.

Figura 17 - Curva da retenção de ácido ascórbico para o cálculo do valor D para a

degradação do ácido ascórbico (média ± desvio padrão).

Figura 18 - Curva de resistência térmica para o cálculo do valor z para a

degradação do ácido ascórbico (média ± desvio padrão).

1,00

1,10

1,20

1,30

1,40

1,50

1,60

1,70

1,80

1,90

2,00

0 20 40 60 80 100

log

Co

nc. á

c. a

scó

rbic

o (

mg

/ 1

00

g)

Tempo (horas)

60

70

80

R² = 0,9499

1,90

1,95

2,00

2,05

2,10

2,15

2,20

2,25

2,30

2,35

50 55 60 65 70 75 80 85

log

D (

h)

Temperatura (°C)

55

Um resumo dos parâmetros cinéticos calculados para a degradação do

ácido ascórbico é mostrado na Tabela 8.

Tabela 8 - Parâmetros cinéticos para a degradação de ácido ascórbico em polpa de

tomate concentrada.

Arrhenius Bigelow

k60°C 1,13 · 10-2 h-1 D60°C 203,22 h

k70°C 1,41 · 10-2 h-1 D70°C 163,18 h

k80°C 2,36 · 10-2 h-1 D80°C 97,65 h

ln ko 8,36 h-1 z 62,84 °C

Ea 35,70 kJ/mol

O resultado encontrado de energia de ativação difere da faixa citada por

Taoukis et al. (1997) para descrever reações de degradação de nutrientes, quando

obteve 100 kJ/mol, reportada também por Pedro (2006) em extrato de tomate. No

entanto, resultados de energia de ativação inferiores a 100 kJ/ mol foram também

obtidos por Rajchl et al. (2010) em ketchup, Zanoni (2003) em polpa de tomate e Lee

et al. (1977) em suco de tomate.

Os valores de D e z encontrados na literatura para degradação de ácido

ascórbico em produtos de fruta não estabelecem um padrão comum. Rajchl et al.

(2010) encontrou parâmetros cinéticos significativamente diferentes ao comparar

ketchups produzidos a partir da mesma polpa de tomate, com pequenas diferenças

de formulação. Este estudo exemplifica bem como a complexidade das matrizes

alimentícias, bem como as diferenças no processamento e condições de estudo

interferem nos resultados cinéticos observados. De maneira geral, os valores de k, D

e z obtidos no presente estudo demonstram dependência térmica dentro das faixas

reportadas em literatura para produtos semelhantes.

56

5.2. Cinética de degradação da cor

Os resultados obtidos para os parâmetros de cor L*, a*, b*, TPS e a*/b*

durante o aquecimento da polpa de tomate às três temperaturas estão apresentados

na Tabela 9.

Para a determinação da ordem de reação, foram plotados os valores de

cada parâmetro versus o tempo de aquecimento a cada temperatura. A Tabela 10

mostra que bons ajustes foram observados tanto para o modelo de ordem zero

quanto para o modelo de primeira ordem. Em uma reação de ordem zero, a

velocidade de conversão do reagente depende apenas do tempo, enquanto que em

uma reação de primeira ordem a velocidade depende também da concentração dos

reagentes envolvidos. O modelo de primeira ordem mostrou coeficientes de

determinação (R2) ligeiramente maiores ou iguais aos encontrados através do

modelo de ordem zero para todos os parâmetros. Por esse motivo, o modelo de

primeira ordem foi adotado para o cálculo dos parâmetros cinéticos de degradação

da cor. O comportamento de primeira ordem também foi observado por Barreiro et

al. (1997) e Rajchl et al. (2010) para degradação de cor em produtos de tomate.

Analogamente, Lee e Chen (2002) descreveram comportamento cinético de primeira

ordem para a degradação de licopeno em sistemas modelo em diferentes

temperaturas.

57

Tabela 9 - Resultados obtidos para os parâmetros de cor L*, a*, b*, TPS e a*/b* durante o aquecimento da polpa de tomate a

diferentes temperaturas.

Tempo (horas)

T (°C) Parâmetro 0 6 12 24 30 36 48 60 72 84 96

60

L* 23,93 ± 0,01 23,91 ± 0,03 23,81 ± 0,00 23,61 ± 0,05 23,6 ± 0,02 23,38 ± 0,00 22,86 ± 0,04 22,99 ± 0,02 22,64 ± 0,01

a* 22,98 ± 0,04 23,33 ± 0,07 23,06 ± 0,03 22,76 ± 0,02 22,28 ± 0,02 22,05 ± 0,02 21,49 ± 0,01 21,56 ± 0,01 21,23 ± 0,02

b* 13,79 ± 0,01 13,87 ± 0,02 13,79 ± 0,00 13,69 ± 0,01 13,65 ± 0,01 13,55 ± 0,01 13,22 ± 0,02 13,35 ± 0,01 13,16 ± 0,01

TPS 48,27 ± 0,06 48,63 ± 0,06 48,37 ± 0,06 48,07 ± 0,06 47,57 ± 0,06 47,3 ± 0,00 46,6 ± 0,00 46,77 ± 0,06 46,33 ± 0,06

a*/b* 1,67 ± 0,00 1,68 ± 0, 00 1,67 ± 0, 00 1,66 ± 0,00 1,63 ± 0,00 1,63 ± 0,00 1,63 ± 0,00 1,62 ± 0,00 1,61 ± 0,00

70

L* 23,93 ± 0,01 23,41 ± 0,04 23,07 ± 0,01 22,37 ± 0,01 21,56 ± 0,01 20,99 ± 0,02 20,16 ± 0,02 19,55 ± 0,01 19,14 ± 0,01

a* 22,98 ± 0,04 22,29 ± 0,07 21,79 ± 0,02 20,54 ± 0,00 19,08 ± 0,03 18,32 ± 0,02 16,97 ± 0,03 16,09 ± 0,02 15,48 ± 0,01

b* 13,79 ± 0,01 13,5 ± 0,06 13,41 ± 0,01 12,93 ± 0,01 12,43 ± 0,01 12,1 ± 0,02 11,57 ± 0,02 11,21 ± 0,02 10,94 ± 0,01

TPS 48,27 ± 0,06 47,53 ± 0,06 47, ± 0,00 45,5 ± 0,00 43,6 ± 0,00 42,5 ± 0,00 40,37 ± 0,06 38,87 ± 0,06 37,7 ± 0,00

a*/b* 1,67 ± 0,00 1,65 ± 0,00 1,63 ± 0,00 1,59 ± 0,00 1,54 ± 0,00 1,51 ± 0,00 1,47 ± 0,00 1,44 ± 0,00 1,41 ± 0,00

80

L* 23,93 ± 0,01 22,43 ± 0,01 21,34 ± 0,03 19,58 ± 0,01 18,82 ± 0,00 18,31 ± 0,02 17,04 ± 0,01

a* 22,98 ± 0,04 20,81 ± 0,02 19,04 ± 0,02 16,13 ± 0,02 15,19 ± 0,00 14,22 ± 0,02 12,61 ± 0,05

b* 13,79 ± 0,01 12,97 ± 0,01 12,33 ± 0,02 11,19 ± 0,01 10,82 ± 0,01 10,42 ± 0,01 9,66 ± 0,01

TPS 48,27 ± 0,06 45,81 ± 0,02 43,48 ± 0,02 38,86 ± 0,02 37,19 ± 0,01 35,29 ± 0,05 31,67 ± 0,07

a*/b* 1,67 ± 0,00 1,6 ± 0,00 1,54 ± 0,00 1,44 ± 0,00 1,4 ± 0,00 1,36 ± 0,00 1,31 ± 0,00

(*) Valores expressos como média ± desvio padrão.

58

Tabela 10 - Comparação entre os modelos de ordem zero e primeira ordem para

descrever a cinética degradação dos parâmetros de cor em polpa de tomate

concentrada.

Ordem zero Primeira ordem

Temp. (°C) Equação da reta R2 Equação da reta R2

L* 60 y = -0,014x + 24,085 0,92 y = -0,0003x + 1,3819 0,92

70 y = -0,0527x + 24,102 0,99 y = -0,0011x + 1,3838 0,99

80 y = -0,1405x + 23,338 0,97 y = -0,003x + 1,3701 0,99

a* 60 y = -0,0075x + 13,921 0,87 y = -0,0004x + 1,3692 0,92

70 y = -0,0316x + 13,947 0,99 y = -0,0019x + 1,3729 0,99

80 y = -0,0851x + 13,493 0,98 y = -0,0054x + 1,35 0,99

b* 60 y = -0,0075x + 13,921 0,87 y = -0,0002x + 1,1438 0,87

70 y = -0,0316x + 13,947 0,99 y = -0,0011x + 1,1464 0,98

80 y = -0,0851x + 13,493 0,98 y = -0,0032x + 1,1324 0,99

TPS 60 y = -0,0245x + 48,72 0,91 y = -0,0002x + 1,6878 0,91

70 y = -0,1174x + 49,117 0,98 y = -0,0012x + 1,6936 0,99

80 y = -0,3467x + 47,809 0,99 y = -0,0038x + 1,6835 1,00

a*/b* 60 y = -0,0008x + 1,6801 0,87 y = -0,0002x + 0,2254 0,87

70 y = -0,0028x + 1,6805 0,99 y = -0,0008x + 0,2264 0,99

80 y = -0,0076x + 1,6457 0,98 y = -0,0022x + 0,2175 0,99

Conforme esperado, todos os valores de cor (L*, a*, b*, a*/b* e TPS)

apresentaram decréscimo com o aumento do tempo de aquecimento, às três

temperaturas estudadas, decaindo de forma mais acentuada quanto maior a

temperatura.

As constantes cinéticas do modelo de Arrhenius foram calculadas a partir

da regressão linear dos valores de cor em função do tempo para as três

temperaturas. As inclinações das retas mostradas na Figura 19 correspondem às

constantes da velocidade da reação k (h-1) a cada temperatura.

59

Figura 19 - Relações linearizadas para determinação dos parâmetros k para cada

atributo de cor.

Plotando-se o logaritmo da constante da velocidade em função do inverso

da temperatura absoluta obteve-se uma linha reta para cada um dos atributos de

cor, com excelente ajuste linear para o modelo de Arrhenius (R2 > 0,99). As

inclinações das retas representam E/R (Figura 20).

2,80

2,90

3,00

3,10

3,20

0 12 24 36 48 60 72 84 96

ln (

L*)

Tempo (horas)

(I) 2,40

2,60

2,80

3,00

3,20

0 12 24 36 48 60 72 84 96

ln (

a*)

Tempo (horas)

(II)

2,05

2,25

2,45

2,65

0 12 24 36 48 60 72 84 96

ln (

b*)

Tempo (horas)

(III) 3,40

3,60

3,80

4,00

0 12 24 36 48 60 72 84 96

ln (

TP

S)

Tempo (horas)

(IV)

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0 12 24 36 48 60 72 84 96

ln (

a*/

b*)

Tempo (horas)

(V)

60

Figura 20 - Representação gráfica de Arrhenius para degradação dos parâmetros

instrumentais de cor em polpa de tomate.

Para avaliação da intensidade do binômio tempo e temperatura na

degradação da cor, foram determinadas as constantes cinéticas de degradação dos

atributos de cor também pelo modelo de Bigelow a partir dos gráficos das Figuras 21

e 22.

Figura 21 - Curva de resistência térmica para o cálculo do valor z para a

degradação de cor.

3

4

5

6

7

8

2,8 2,85 2,9 2,95 3 3,05

-ln

k (

h-1

)

1/T *103 (K-1)

L

a

b

TPS

a/b

2,00

2,20

2,40

2,60

2,80

3,00

3,20

3,40

3,60

3,80

55 60 65 70 75 80 85

log

D (

h)

Temperatura (°C)

L

a

b

TPS

a/b

61

Figura 22 - Curvas da retenção de cor para o cálculo do valor D para a degradação

de cor.

A alteração de cor ao longo do tempo de aquecimento pode também ser

verificada visualmente, conforme mostram as fotos do Quadro 1.

1,20

1,25

1,30

1,35

1,40

0 12 24 36 48 60 72 84 96

log (

L*)

Tempo (horas)

(I) 1,00

1,10

1,20

1,30

1,40

0 12 24 36 48 60 72 84 96

log (

a*)

Tempo (horas)

(II)

0,80

0,90

1,00

1,10

1,20

0 12 24 36 48 60 72 84 96

log (

b*)

Tempo (horas)

(III)

1,40

1,50

1,60

1,70

1,80

0 12 24 36 48 60 72 84 96

log (

TP

S)

Tempo (horas)

(IV)

0,10

0,15

0,20

0,25

0 12 24 36 48 60 72 84 96

log (

a*/

b*)

Tempo (horas)

(V)

62

Quadro 1. Comparação visual da evolução de cor ao longo do tempo de

aquecimento às três temperaturas estudadas (tubos de ensaio organizados do

tempo zero ao tempo final de aquecimento, da esquerda para a direita).

Temperatura Comparação fotográfica

60°C

70°C

80°C

A redução dos parâmetros instrumentais de cor pode ser comprovada

visualmente pelo escurecimento da polpa com o aquecimento às três temperaturas,

mais perceptivelmente a 70 e a 80°C.

Um resumo dos parâmetros cinéticos calculados para a degradação de

cor é mostrado na Tabela 11.

0h 12h 24h 36h

48h 60h 72h 84h 96h

0h 12h 24h 36h

48h 60h 72h 84h 96h

0h 6h 12h

24h 30h 36h 48h

63

Tabela 11 - Parâmetros cinéticos para a degradação de cor em polpa de tomate

concentrada.

Arrhenius Bigelow

Parâmetro k60°C

(h-1)

k70°C

(h-1)

k80°C

(h-1)

ln ko

(h-1)

Ea

(kJ/ mol)

D60°C

(h)

D70°C

(h)

D80°C

(h)

z

(°C)

L* 5,98 · 10-04 2,45 · 10-03 6,95 · 10-03 35,99 120,10 3850,15 938,63 331,34 18,78

a* 1,01 · 10-03 4,40 · 10-03 1,25 · 10-03 37,69 123,36 2283,52 522,72 183,98 18,28

b* 5,51 · 10-04 2,56 · 10-03 7,35 · 10-03 38,37 126,88 4177,45 899,62 183,98 14,75

TPS 5,16 · 10-04 2,73 · 10-03 8,76 · 10-03 42,57 138,71 4463,42 843,82 262,89 16,26

a*/b* 4,57 · 10-04 1,85 · 10-03 5,17 · 10-03 35,23 118,75 5036,76 1247,69 445,66 18,99

Apesar de reportar o mesmo perfil de degradação para todos os atributos

de cor em estudo semelhante com polpa de tomate, Barreiro et al. (1997) encontrou

parâmetros cinéticos que demonstram maior sensibilidade da cor à temperatura. Os

valores encontrados no presente estudo aproximam-se mais dos obtidos por Rajchl

et al. (2010) em ketchup. As divergências constatadas podem estar relacionadas às

condições do estudo (tempo de aquecimento, temperaturas avaliadas, aeração) e a

características de composição da matriz alimentícia utilizada.

5.3. Cinética de degradação da textura

A degradação térmica da textura foi avaliada através de dois métodos, o

primeiro mais comumente empregado na indústria de produtos atomatados

globalmente - a consistência Bostwick - e o segundo, mais preciso, que fornece

dados mais completos do ponto de vista científico.

Os resultados das medidas feitas em consistômetro Bostwick ao longo do

tempo de aquecimento às três temperaturas estudadas encontram-se expostos na

Tabela 12.

Observa-se que a 60 e 70°C os valores iniciais e finais de consistência

encontrados são idênticos. O consistômetro Bostwick é comumente utilizado para

monitoramento rápido de qualidade na linha de produção de produtos de tomate

como polpas, extratos, molhos prontos e ketchups, e sua escala é dividida em

intervalos de 0,5 cm. Tendo em vista a precisão da escala, não há diferença entre as

64

leituras feitas ao longo do tempo total de observação a 60 e 70°C. A diferença

estatística encontrada deve-se ao baixo desvio padrão entre as replicatas.

A 80°C a degradação da consistência foi observada a partir de 6 horas de

aquecimento. No entanto, não se constata diferença estatística entre as amostras

aquecidas por 6 a 48 h (tempo total do estudo a 80°C).

Desta forma, pode-se inferir que, em ambiente fechado e admitindo perda

de umidade insignificante, a temperatura de tratamento térmico exerce efeito muito

pequeno sobre a consistência da polpa de tomate concentrada. A Figura 23 ilustra

comparativamente os resultados de consistência Bostwick encontrados às três

temperaturas avaliadas.

Tabela 12 - Resultados obtidos de consistência Bostwick durante o aquecimento da

polpa de tomate a 60, 70 e 80°C.

Consistência Bostwick (cm/ 30s)

Tempo (min) 60°C 70°C 80°C

0 (4,0 ± 0,0) ab (4,0 ± 0,0) c (3,9 ± 0,0) c

6 (4,3 ± 0,1) b

12 (3,9 ± 0,1) ab (4,0 ± 0,0) bc (4,5 ± 0,0) ab

24 (3,9 ± 0,1) ab (4,0 ± 0,0) c (4,6 ± 0,1) a

30 (4,5 ± 0,0) ab

36 (4,1 ± 0,3) a (4,3 ± 0,1) a (4,5 ± 0,0) ab

48 (4,2 ± 0,0) a (4,2 ± 0,0) a (4,5 ± 0,0) ab

60 (4,0 ± 0,0) ab (4,2 ± 0,1) ab

72 (3,7 ± 0,1) b (4,2 ± 0,1) ab

84 (4,0 ± 0,0) ab (4,1 ± 0,0) bc

96 (4,0 ± 0,0) ab (4,0 ± 0,0) c

(*) Valores expressos como média ± desvio padrão.

(**) Valores em uma mesma coluna com a mesma letra não diferem significativamente

entre si ao nível de significância de 5% pelo teste de Tukey.

65

Figura 23 - Evolução da consistência Bostwick ao longo do tempo de aquecimento

às três temperaturas estudadas.

As análises feitas em Texturômetro TA XT Plus produziram as curvas

ilustradas na Figura 24, típicas de testes de retroextrusão. Os resultados das

amostras submetidas a tratamento térmico a 80°C não foram expostos, pois durante

o tratamento térmico a esta temperatura os frascos transparentes de poliestireno

deformaram-se, impedindo a comparação das leituras pela diferença de altura inicial

entre as amostras.

Figura 24 - Curvas resultantes do ensaio de retroextrusão em Texturômetro TA XT

Plus. (I) Amostras submetidas a tratamento térmico a 60°C e (II) Amostras

submetidas a tratamento térmico a 70°C.

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

0 6 12 24 30 36 48 60 72 84 96

Co

nsis

tên

cia

(cm

/ 3

0 s

)

Tempo (h)

60

70

80

(I) (II)

66

Tabela 13 - Resultados obtidos de firmeza, ou força máxima, medida em

Texturômetro, após tratamento térmico a 60 e a 70°C por diferentes intervalos de

tempo.

Força Máxima (gf)

Tempo (h) 60°C 70°C

0 (1070,12 ± 62,31) a (1070,12 ± 62,31) a

12 (999,51 ± 13,34) ab (1050,22 ± 39,86) a

24 (1029,17 ± 48,21) ab (1013,54 ± 21,66) ab

36 (1001,84 ± 37,60) ab (835,23 ± 26,79) c

48 (899,72 ± 16,90) b (844,58 ± 19,94) c

60 (976,49 ± 16,90) ab (914,91 ± 33,86) bc

72 (924,52 ± 55,13) b (924,52 ± 34,02) bc

84 (940,60 ± 20,33) ab (922,57 ± 20,72) bc

96 (929,48 ± 25,01) b (926,86 ± 7,68) bc

(*) Valores expressos como média ± desvio padrão.

(**) Valores em uma mesma coluna com a mesma letra não diferem significativamente entre si ao

nível de significância de 5% pelo teste de Tukey.

Nas curvas da Figura 24, o pico de força ao final da etapa de compressão

da amostra representa a firmeza. A área entre a curva e o eixo x representa a

consistência, medida em (gf·s).

Como mostra a Tabela 13, a degradação da firmeza foi observada a partir

de 48 horas de aquecimento a 60°C e a partir de 36 horas de aquecimento a 70°C.

No entanto, as amostras coletadas nos tempos seguintes, até o final do estudo, não

apresentaram diferença estatística entre si.

Figura 25 - Evolução da força máxima medida em Texturômetro após tratamento

térmico a 60 e a 70°C por diferentes intervalos de tempo.

0,00

200,00

400,00

600,00

800,00

1000,00

1200,00

0 12 24 36 48 60 72 84 96

Fo

rça

xim

a (

gf)

Tempo (h)

60°C

70°C

67

A degradação da consistência medida em Texturômetro (Tabela 14 e

Figura 26) mostrou comportamento similar ao observado para os parâmetros de

Firmeza e de consistência Bostwick, demonstrando pouca influência da temperatura

sobre os parâmetros de textura avaliados. É possível afirmar que o método de

Bostwick é satisfatório para avaliação da textura e controle de qualidade em polpa

de tomate. Apesar de pouco preciso, este equipamento simples e de baixo custo foi

capaz de demonstrar resultados comparáveis aos obtidos no Texturômetro,

equipamento mais preciso e sofisticado.

Tabela 14 - Resultados obtidos de consistência, medida em Texturômetro, após

tratamento térmico a 60 e a 70°C por diferentes intervalos de tempo.

Consistência (gf·s)

Tempo (h) 60°C 70°C

0 (25397,05 ± 1341,09) ab (25397,05 ± 1341,09) ab

12 (26900,77 ± 436,16) a (27539,50 ± 1889,89) a

24 (25877,92 ± 1081,45) ab (25497,97 ± 936,120) ab

36 (26701,58 ± 1269,80) a (21190,24 ± 694,58) c

48 (22058,57 ± 400,20) b (20453,27 ± 491,18) c

60 (24449,96 ± 400,20) ab (22700,57 ± 622,74) bc

72 (22235,77 ± 2083,87) b (22757,48 ± 1362,50) bc

84 (23926,52 ± 912,98) ab (23002,98 ± 834,63) bc

96 (23878,18 ± 999,10) ab (23216,42 ± 853,15) bc

(*) Valores expressos como média ± desvio padrão.

(**) Valores em uma mesma coluna com a mesma letra não diferem significativamente entre si ao

nível de significância de 5% pelo teste de Tukey.

Figura 26 - Evolução da consistência medida em Texturômetro após tratamento

térmico a 60 e a 70°C por diferentes intervalos de tempo.

0,00

5000,00

10000,00

15000,00

20000,00

25000,00

30000,00

35000,00

0 12 24 36 48 60 72 84 96

Co

nsis

tên

cia

(g

f·s)

Tempo (horas)

60°C

70°C

68

5.4. Vida-de-prateleira e correlação com resultados reais

A partir dos modelos de cinética de reações pode-se obter o gráfico de

vida-de-prateleira, que permite uma correlação visual dos parâmetros mais

importantes na degradação da qualidade do produto.

No presente estudo, visto que a polpa é armazenada em pátio

descoberto, tomou-se como temperatura de referência a média anual das

temperaturas máximas diárias no município de Goiânia, GO segundo o CIIAGRO

(Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas), de 28,7°C esquematizada

na Figura 27.

Figura 27 - Representação gráfica das temperaturas mínimas, máximas e médias

mensais no município de Goiânia, GO (período de 01/01/1961 até 03/05/2010)

(CIIAGRO, 2015).

A Figura 28 mostra o gráfico de vida-de-prateleira com seis retas distintas,

representando as alterações de vitamina C e dos 5 atributos de cor avaliados (L*, a*,

b*, TPS e a*/b*). Nota-se que à temperatura de referência de 28,7°C, ou seja, a

temperatura crítica de armazenamento da polpa concentrada durante a entressafra,

a alteração no conteúdo de vitamina C é mais relevante que as alterações de cor.

Apenas à temperatura de aproximadamente 85°C as alterações de cor é que

passam a ser mais relevantes para determinar a vida de prateleira do produto, com

destaque para o parâmetro a*, que representa a variação de cor verde (-)/ vermelho

(+) na escala Hunter.

0

5

10

15

20

25

30

35

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Te

mp

era

tura

(°C

)

Mês

Máxima

Mínima

Média Diária

69

Figura 28 - Gráfico de vida de prateleira para alterações de vitamina C e cor.

É importante observar que modelos cinéticos, em teoria, restringem-se a

variações dentro faixa de temperatura estudada. A extrapolação dos resultados

obtidos para temperaturas fora da faixa estudada (60 a 80°C) é comumente utilizada

na indústria de alimentos em testes acelerados de estabilidade, com o objetivo de

reduzir o tempo requerido para se determinar a vida-de-prateleira de um produto. Os

resultados obtidos devem ser interpretados com cautela e, sempre que possível,

validados nas condições reais de estocagem.

A Tabela 15 traz a comparação de resultados analíticos de polpas de três

diferentes safras, ou seja, com diferentes vidas-de-prateleira. Os resultados do

tempo inicial foram extraídos dos laudos analíticos emitidos no dia de produção.

Para o conteúdo de vitamina C não há dados disponíveis para o tempo inicial, pois

este parâmetro não faz parte dos controles de rotina do fabricante.

Tabela 15 - Comparação de resultados analíticos de polpas de tomate concentradas

produzidas em três diferentes safras.

Parâmetro

Safra 2013 (27 meses)

Safra 2014 (16 meses)

Safra 2015 (3 meses)

Inicial* Final Inicial* Final Inicial* Final

Brix 28,8 29,4 29,3 29,3 29,6 29,6

Umidade - 66,1 - 66,1 - 66,4

Cor (TPS) 46,9 18,7 ± 0,0 46,2 41,5 ± 0,0 47,3 48,3 ± 0,1

Vitamina C (mg/ 100g ms) - 54,8 ± 3,1 - 66,6 ± 0,8 - 230,0 ± 0,8

Consistência (cm/ 30s) 3,5 5,5 ± 0,1 2,0 4,0 ± 0,1 3,0 4,1 ± 0,1 (*) Valor médio referente ao plano de amostragem fabril para garantia de qualidade da polpa de

tomate concentrada.

0

2

4

6

8

10

12

14

0 50 100 150 200

- ln

k

Temperatura (°C)

Vitamina C

L*

a*

b*

TPS

a*/b*

Tref28,7

70

Nota-se claramente através da Figura 29 a queda acentuada (60%) na

medida de cor TPS após 27 meses de armazenamento a temperatura ambiente.

Figura 29 - Comparação do parâmetro de cor TPS no tempo inicial e final para

polpas com diferentes vidas-de-prateleira.

Diferente do observado no estudo cinético, a Figura 30 mostra aumento

da consistência Bostwick com o aumento do tempo de armazenamento a

temperatura ambiente, ou seja, a polpa de tomate concentrada analisada mostrou-se

mais fluida quanto maior sua vida-de-prateleira. A diferença observada para a polpa

com 3 meses da data de produção pode ser atribuída a diferenças no equipamento

de medição. Após 27 meses da data de produção observou-se aumento de 56% na

medida de consistência Bostwick.

Figura 30 - Comparação da consistência Bostwick no tempo inicial e final para

polpas com diferentes vidas-de-prateleira.

Assim como previsto pelo estudo cinético, o teor de vitamina C mostrou

queda brusca ao longo do tempo de armazenamento da polpa (Figura 31).

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

3 16 27

Co

r (T

PS

)

Vida-de-prateleira (meses)

Inicial

Final

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

3 16 27Co

nsis

tên

cia

(cm

/ 3

0 s

eg

)

Vida-de-prateleira (meses)

Inicial

Final

71

Considerando teor de vitamina C inicial similar para as polpas das três safras

avaliadas, visto que foram produzidas a partir das mesmas variedades de tomates,

nota-se uma queda de 76%. Em concordância com o gráfico de vida-de-prateleira,

este parâmetro mostrou-se o mais sensível e susceptível à degradação.

Figura 31 - Comparação dos teores finais de vitamina C em polpas com diferentes

períodos de armazenamento.

5.5. Simulações de condições de processo e armazenamento

Uma grandeza muito utilizada na representação do efeito do tratamento

térmico sobre alimentos é o valor F, ou valor de processamento. O valor de F denota

a intensidade de um tratamento térmico qualquer e sua dimensão é o tempo.

Os conceitos de D e z são fundamentais para o cálculo de F, o qual é

sempre indicado numa temperatura de referência e vinculado ao índice térmico (z)

do parâmetro em questão. Assim, temos x

yFque significa que a temperatura de

referência é y e o valor do índice térmico é x. Por exemplo, quando referimos a 10

1,121F=

10 minutos subentende-se que se trata de um resultado de valor de esterilização de

10 minutos na temperatura de referência de 121,1°C e índice térmico de 10°C, não

importando em qual temperatura o produto foi processado ao longo do tempo. Trata-

se de uma equivalência de taxa letal (TL) multiplicada pelo tempo de exposição.

A função letalidade ou taxa letal, TL, representa o poder letal de cada

temperatura em relação à temperatura de referência, Tr. A taxa letal é adimensional.

z

TrT

TL 10 (Equação 9)

0,0

50,0

100,0

150,0

200,0

250,0

3 16 27

Vitam

ina C

(m

g/ 100g b

s)

Período de armazenamento (meses)

72

A letalidade é a taxa da destruição ou inativação do parâmetro em

questão (microrganismo, vitamina, cor, etc.) referida a uma dada temperatura de

referência (Tr). Quando a temperatura T é igual à temperatura de referência, a taxa

letal é 1.

Com esta equação é possível determinar os valores equivalentes de

processo (taxa letal) a qualquer temperatura, desde que se conheça o valor z do

parâmetro em estudo. Este conceito é válido para o cálculo dos processos de

pasteurização, esterilização, ou outras reações de transformação de alimentos.

Quando a temperatura varia ao longo do tempo no processamento, para

calcular o valor F é necessário conhecer a variação da temperatura durante o

tratamento térmico. Utilizando-se o perfil de temperatura pode-se calcular o valor de

F pela integração numérica da taxa letal.

O método mais comum consiste em integrar ponto a ponto utilizando-se a

regra do trapézio. Patashnik (1953) desenvolveu esse método de cálculo do valor de

esterilização bem prático que trabalha direto com os dados da taxa letal. A partir do

perfil de temperatura experimental o valor de esterilização pode ser calculado

utilizandose a regra do trapézio, conforme Equação 10.

)2

...2

( 1221

0 n

nn

TLTLTLTLTL

TLtF

(Equação 10)

Onde,

Δt = incremento de tempo (minuto) ou (s)

TLi = taxa letal no intervalo i, na temperatura i, calculado conforme

Equação 9, com 0 i n

n = número de iterações.

A Figura 32 ilustra o mapa térmico do processo produtivo de polpa de

tomate concentrada, construído a partir de temperaturas e tempos médios de

processamento da polpa de tomate concentrada ao longo do período de safra. Os

tempos em cada etapa podem variar de acordo com vazão das linhas, que por sua

vez é regulada de acordo com a classificação do tomate recebido (concentração de

sólidos inicial, cor e consistência). Os valores utilizados na construção da Figura 32

e nos cálculos subsequentes foram coletados do sistema de registro de processo da

planta produtiva, considerando o cenário crítico de operação.

73

Figura 32 - Mapa térmico do processo produtivo de polpa de tomate concentrada.

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

Tem

pera

tura

(°C

)

Tempo (horas)

Esterilização

Resfriamento

Armazenagem

0

Colheita, transporte, recebimento, classificação,

lavagem e seleção

Trituração e inativação enzimática

Concentração 3° efeito

Concentração 2° efeito

Concentração 1° efeito

Envase asséptico

24 meses

Refinação

74

A partir do mapa térmico e do valor z de degradação do ácido ascórbico e

dos atributos de cor, calculou-se a taxa letal (TL) de cada etapa do processamento

da polpa de tomate concentrada. Tomou-se como temperatura de referência a

temperatura média do estudo cinético, de 70°C. A área de cada intervalo do gráfico

de TL versus tempo (Figuras 33 e 34) foi calculada pelo método de Patashnik (1953)

para obter o valor F e comparar, assim, como o tratamento térmico em cada etapa

do processo afeta os parâmetros de qualidade avaliados. Os resultados obtidos

estão expostos nas Tabelas 16 a 21.

Figura 33 - Gráfico da taxa letal para o cálculo do valor F para a degradação de

vitamina C.

Figura 34 - Gráfico da taxa letal para cálculo do valor F para a degradação de cor.

0

1

1

2

2

3

3

4

4

Taxa L

eta

l

Tempo de processo (horas)

Vitamina C

0

50

100

150

200

250

300

Texa L

eta

l

Tempo de processo (horas)

b

TPS

a

L

a/b

75

Tabela 16 - Efeito da temperatura de cada etapa do processamento da polpa de

tomate concentrada na degradação da vitamina C.

Etapa do processo Temperatura

(°C) Tempo

(h) TL TL·Δt

Efeito (%)

Colheita 28,7 0,00 0,22 0,00 0,0

Transporte do campo à fábrica 28,7 2,00 0,22 0,44 0,0

Recebimento e drenagem da carga 28,7 6,00 0,22 1,32 0,0

Amostragem e classificação 28,7 18,00 0,22 3,96 0,1

Transporte hídrico, lavagem, seleção 28,7 1,00 0,22 0,22 0,0

Trituração e aquecimento para inativação enzimática

77,5 0,08 1,32 0,67 0,0

Inativação Enzimática (holding) 77,5 0,42 1,32 0,55 0,0

Refinação 70,0 0,08 1,00 0,10 0,0

Armazenamento de suco (tanque pulmão)

70,0 1,00 1,00 1,00 0,0

Concentração 3° efeito 55,0 0,42 0,58 0,33 0,0

Concentração 2° efeito 75,0 0,42 1,20 0,37 0,0

Concentração 1° efeito 90,0 0,42 2,08 0,68 0,0

Tanque pulmão Flash Cooler 85,0 0,13 1,73 0,24 0,0

Aquecimento para esterilização 106,5 0,25 3,81 0,69 0,0

Esterilização Flash Cooler (holding) 106,5 0,13 3,81 0,51 0,0

Resfriamento e envase asséptico 36,5 0,25 0,29 0,51 0,0

Equilíbrio com temperatura ambiente 28,7 0,50 0,22 0,13 0,0

Armazenagem 28,7 17280 0,22 3800,85 99,7

Da Tabela 16 extrai-se que a perda de vitamina C ocorre quase que

exclusivamente durante o período de armazenamento da polpa concentrada. Isso se

deve ao alto valor z (62,84°C), que mostra que a cinética de degradação deste

nutriente é pouco dependente da temperatura. É importante ressaltar que a forma de

trabalho adotada no estudo cinético praticamente excluiu a influência do oxigênio,

buscando simular o que ocorre na maior parte do processo industrial, desde a etapa

inicial de concentração. Outra consideração importante feita é a de que a

concentração de sólidos não alterou substancialmente a cinética de reação, de

forma a possibilitar a comparação do processo desde a colheita, onde o fruto de

tomate apresenta concentração média de 4,6% de sólidos solúveis, até o

armazenamento da polpa concentrada a 29°Brix. Tal consideração é corroborada

por Torales e colaboradores (2008), que sugerem que a velocidade de degradação

independe da concentração de sólidos solúveis em estudo cinético da degradação

de ácido ascórbico em purê de pêssego a diferentes concentrações de sólidos.

76

Tomando-se para análise exclusivamente as etapas de processamento

industrial do tomate, ou seja, a partir da trituração dos frutos para inativação

enzimática até o envase asséptico da polpa concentrada, e recalculando o efeito da

temperatura, observa-se que a concentração e a esterilização são as etapas

térmicas de maior relevância na destruição da vitamina C, e contribuem

respectivamente com 46% e 21% para o valor F total do processo (excluindo-se a

etapa de armazenamento).

Tabela 17 - Efeito da temperatura de cada etapa do processamento da polpa de

tomate concentrada no parâmetro de cor L*.

Etapa do processo Temperatura

(°C) Tempo

(h) TL TL·Δt

Efeito (%)

Colheita 28,7 0,00 0,01 0,00 0,0%

Transporte do campo à fábrica 28,7 2,00 0,01 0,01 0,0%

Recebimento e drenagem da carga 28,7 6,00 0,01 0,04 0,0%

Amostragem e classificação 28,7 18,00 0,01 0,11 0,1%

Transporte hídrico, lavagem, seleção 28,7 1,00 0,01 0,01 0,0%

Trituração e aquecimento para inativação enzimática

77,5 0,08 2,51 1,25 0,8%

Inativação Enzimática (holding) 77,5 0,42 2,51 1,05 0,7%

Refinação 70,0 0,08 1,00 0,15 0,1%

Armazenamento de suco (tanque pulmão)

70,0 1,00 1,00 1,00 0,7%

Concentração 3° efeito 55,0 0,42 0,16 0,24 0,2%

Concentração 2° efeito 75,0 0,42 1,85 0,42 0,3%

Concentração 1° efeito 90,0 0,42 11,62 2,81 1,9%

Tanque pulmão Flash Cooler 85,0 0,13 6,29 1,12 0,7%

Aquecimento para esterilização 106,5 0,25 87,90 11,77 7,8%

Esterilização Flash Cooler (holding) 106,5 0,13 87,90 11,72 7,7%

Resfriamento e envase asséptico 36,5 0,25 0,02 10,99 7,3%

Equilíbrio com temperatura ambiente 28,7 0,50 0,01 0,01 0,0%

Armazenagem 28,7 17280 0,01 108,79 71,8%

Fazendo-se análise similar da Tabela 17, tem-se que o parâmetro de cor

L*, que representa a luminosidade e varia de preto (zero) a branco (100), também

tem sua maior degradação durante a armazenagem da polpa. Avaliando-se apenas

as etapas de processamento, os maiores índices térmicos são observados nas

etapas de esterilização. Fazendo uma correlação com o comportamento observado

no estudo cinético e comprovado visualmente, a cor do tomate ao longo do

77

processamento tende a ficar cada vez mais escura, assumindo valores menores de

L*. Para frear o escurecimento da polpa, conhecidamente rejeitado pelos

consumidores, deve-se focar em melhorias no binômio tempo e temperatura da

esterilização e, principalmente, nas condições de temperatura e no tempo máximo

de armazenamento da polpa concentrada.

Tabela 18 - Efeito da temperatura de cada etapa do processamento da polpa de

tomate concentrada no parâmetro de cor a*.

Etapa do processo Temperatura

(°C) Tempo

(h) TL TL·Δt

Efeito (%)

Colheita 28,7 0,00 0,01 0,00 0,0%

Transporte do campo à fábrica 28,7 2,00 0,01 0,01 0,0%

Recebimento e drenagem da carga 28,7 6,00 0,01 0,03 0,0%

Amostragem e classificação 28,7 18,00 0,01 0,10 0,1%

Transporte hídrico, lavagem, seleção 28,7 1,00 0,01 0,01 0,0%

Trituração e aquecimento para inativação enzimática

77,5 0,08 2,57 1,29 0,9%

Inativação Enzimática (holding) 77,5 0,42 2,57 1,07 0,8%

Refinação 70,0 0,08 1,00 0,15 0,1%

Armazenamento de suco (tanque pulmão)

70,0 1,00 1,00 1,00 0,7%

Concentração 3° efeito 55,0 0,42 0,15 0,24 0,2%

Concentração 2° efeito 75,0 0,42 1,88 0,42 0,3%

Concentração 1° efeito 90,0 0,42 12,41 2,98 2,1%

Tanque pulmão Flash Cooler 85,0 0,13 6,61 1,19 0,8%

Aquecimento para esterilização 106,5 0,25 99,14 13,22 9,3%

Esterilização Flash Cooler (holding) 106,5 0,13 99,14 13,22 9,3%

Resfriamento e envase asséptico 36,5 0,25 0,01 12,39 8,7%

Equilíbrio com temperatura ambiente 28,7 0,50 0,01 0,01 0,0%

Armazenagem 28,7 17280 0,01 94,93 66,7%

A coordenada a* é muito importante na avaliação da cor em produtos de

tomate, pois quantifica a variação de cores do verde (valores negativos) para o

vermelho (valores positivos). Como observado para o parâmetro L*, a armazenagem

é a etapa mais relevante para a degradação do componente a*. Na avaliação do

processo, é na esterilização que ocorrem as perdas mais significativas.

Analogamente, visando à manutenção da cor vermelha dos produtos de tomate,

maior atenção deve ser dada a estas duas etapas da obtenção da polpa

concentrada.

78

Tabela 19 – Efeito da temperatura de cada etapa do processamento da polpa de

tomate concentrada no parâmetro de cor b*.

Etapa do processo Temperatura

(°C) Tempo

(h) TL TL·Δt

Efeito (%)

Colheita 28,7 0,00 0,00 0,00 0,0%

Transporte do campo à fábrica 28,7 2,00 0,00 0,00 0,0%

Recebimento e drenagem da carga 28,7 6,00 0,00 0,01 0,0%

Amostragem e classificação 28,7 18,00 0,00 0,03 0,0%

Transporte hídrico, lavagem, seleção 28,7 1,00 0,00 0,00 0,0%

Trituração e aquecimento para inativação enzimática

77,5 0,08 3,23 1,61 1,0%

Inativação Enzimática (holding) 77,5 0,42 3,23 1,34 0,9%

Refinação 70,0 0,08 1,00 0,18 0,1%

Armazenamento de suco (tanque pulmão)

70,0 1,00 1,00 1,00 0,6%

Concentração 3° efeito 55,0 0,42 0,10 0,23 0,1%

Concentração 2° efeito 75,0 0,42 2,18 0,47 0,3%

Concentração 1° efeito 90,0 0,42 22,71 5,19 3,3%

Tanque pulmão Flash Cooler 85,0 0,13 10,40 2,07 1,3%

Aquecimento para esterilização 106,5 0,25 298,52 38,61 24,9%

Esterilização Flash Cooler (holding) 106,5 0,13 298,52 39,80 25,7%

Resfriamento e envase asséptico 36,5 0,25 0,01 37,32 24,1%

Equilíbrio com temperatura ambiente 28,7 0,50 0,00 0,00 0,0%

Armazenagem 28,7 17280 0,00 27,25 17,6%

A coordenada b* representa a variação de cor entre o azul (valores

negativos) e o amarelo (valores positivos). Observa-se que para este parâmetro o

período de armazenagem não exerce tanta influência na degradação térmica quanto

a etapa de esterilização. A degradação deste parâmetro reforça o aspecto visual

escurecido, pela maior presença do componente de cor azul. É possível minimizá-la

trabalhando em melhorias na etapa de esterilização, permitindo a manutenção do

prazo de estocagem atual, de 24 meses.

79

Tabela 20 - Efeito da temperatura de cada etapa do processamento da polpa de

tomate concentrada no parâmetro de cor TPS.

Etapa do processo Temperatura

(°C) Tempo

(h) TL TL·Δt

Efeito (%)

Colheita 28,7 0,00 0,00 0,00 0,0%

Transporte do campo à fábrica 28,7 2,00 0,00 0,01 0,0%

Recebimento e drenagem da carga 28,7 6,00 0,00 0,02 0,0%

Amostragem e classificação 28,7 18,00 0,00 0,05 0,0%

Transporte hídrico, lavagem, seleção 28,7 1,00 0,00 0,00 0,0%

Trituração e aquecimento para inativação enzimática

77,5 0,08 2,89 1,45 1,1%

Inativação Enzimática (holding) 77,5 0,42 2,89 1,21 0,9%

Refinação 70,0 0,08 1,00 0,16 0,1%

Armazenamento de suco (tanque pulmão)

70,0 1,00 1,00 1,00 0,8%

Concentração 3° efeito 55,0 0,42 0,12 0,23 0,2%

Concentração 2° efeito 75,0 0,42 2,03 0,45 0,3%

Concentração 1° efeito 90,0 0,42 16,98 3,96 3,1%

Tanque pulmão Flash Cooler 85,0 0,13 8,36 1,58 1,2%

Aquecimento para esterilização 106,5 0,25 175,62 23,00 17,9%

Esterilização Flash Cooler (holding) 106,5 0,13 175,62 23,42 18,3%

Resfriamento e envase asséptico 36,5 0,25 0,01 21,95 17,1%

Equilíbrio com temperatura ambiente 28,7 0,50 0,00 0,00 0,0%

Armazenagem 28,7 17280 0,00 49,69 38,8%

O índice TPS, utilizado para a classificação da polpa de tomate quanto à

cor, apresenta comportamento similar ao componente b* ao longo do processo. A

armazenagem exerce importante influência na degradação deste índice de cor, no

entanto, a intensidade da etapa de esterilização é ainda mais relevante. Utilizando-

se o mesmo racional exposto anteriormente, melhorias na etapa de esterilização

permitiriam melhora no índice TPS, ainda que a estocagem se prolongasse por 24

meses.

80

Tabela 21 - Efeito da temperatura de cada etapa do processamento da polpa de

tomate concentrada no parâmetro de cor a*/b*.

Etapa do processo Temperatura

(°C) Tempo

(h) TL TL·Δt

Efeito (%)

Colheita 28,7 0,00 0,01 0,00 0,0%

Transporte do campo à fábrica 28,7 2,00 0,01 0,01 0,0%

Recebimento e drenagem da carga 28,7 6,00 0,01 0,04 0,0%

Amostragem e classificação 28,7 18,00 0,01 0,12 0,1%

Transporte hídrico, lavagem, seleção 28,7 1,00 0,01 0,01 0,0%

Trituração e aquecimento para inativação enzimática

77,5 0,08 2,48 1,24 0,8%

Inativação Enzimática (holding) 77,5 0,42 2,48 1,03 0,7%

Refinação 70,0 0,08 1,00 0,15 0,1%

Armazenamento de suco (tanque pulmão)

70,0 1,00 1,00 1,00 0,6%

Concentração 3° efeito 55,0 0,42 0,16 0,24 0,2%

Concentração 2° efeito 75,0 0,42 1,83 0,42 0,3%

Concentração 1° efeito 90,0 0,42 11,30 2,74 1,8%

Tanque pulmão Flash Cooler 85,0 0,13 6,16 1,09 0,7%

Aquecimento para esterilização 106,5 0,25 83,56 11,22 7,2%

Esterilização Flash Cooler (holding) 106,5 0,13 83,56 11,14 7,1%

Resfriamento e envase asséptico 36,5 0,25 0,02 10,45 6,7%

Equilíbrio com temperatura ambiente 28,7 0,50 0,01 0,01 0,0%

Armazenagem 28,7 17280 0,01 115,21 73,8%

A razão a*/b* é afetada pelo tempo de armazenagem de forma similar ao

componente a. Em muitas indústrias processadoras de tomate este parâmetro é

utilizado no lugar do índice TPS para classificação de cor da polpa concentrada.

Nesses casos, a classificação dispensada imediatamente após a produção pode ser

significativamente alterada ao longo da vida-de-prateleira do produto.

A somatória das áreas (TL·Δt) calculadas para cada trecho do processo

equivale ao valor de F do processo completo de produção da polpa para cada

parâmetro avaliado, como resume a Tabela 22.

Os dados da Tabela 22 reforçam que o parâmetro mais afetado pelo

processo é a vitamina C, que possui o maior valor de z, ou seja, é pouco

dependente da temperatura, sendo muito afetada pelo tempo total de processo e

armazenagem. Dentre os atributos de cor, a razão a*/b* é o que apresenta maior

valor F.

81

Tabela 22 - Resumo dos valores z e F para cada parâmetro avaliado.

z (°C) F (h)

Vitamina C 62,84 3.812,57

L* 18,78 151,48

a* 18,28 142,25

b* 14,75 155,12

TPS 16,26 128,18

a*/b* 18,99 156,10

Identificadas as etapas críticas para a degradação dos parâmetros de cor

e vitamina C é possível simular cenários de esterilização e armazenagem da polpa

buscando minimizar os efeitos do processo.

A proposta mais simples, em teoria, é a melhoria das condições de

armazenagem da polpa concentrada. Considerando-se as opções de redução da

vida-de-prateleira e controle da temperatura de estocagem, foram construídas quatro

propostas. A Tabela 23 compara o resultado do valor F, considerando a etapa de

armazenagem das quatro propostas.

Tabela 23 - Simulação do valor F da etapa de armazenagem para 4 propostas de

melhoria das condições atuais de armazenagem da polpa de tomate concentrada.

Parâmetro

F (h)

Atual Proposta 1 Proposta 2 Proposta 3 Proposta 4

28,7°C/ 24 meses

28,7°C/ 18 meses

28,7°C/ 12 meses

23°C/ 24 meses

23°C/ 12 meses

Vitamina C 3.800,85 2.850,64 1.900,43 3.087,22 1.543,61

L* 108,79 81,59 54,39 54,24 27,12

a* 94,93 71,20 47,46 46,45 23,23

b* 27,25 20,44 13,63 11,24 5,62

TPS 49,69 37,27 24,84 22,25 11,12

a*/b* 115,21 86,41 57,60 57,90 28,95

No processo atual a polpa concentrada é envasada em embalagens

flexíveis assépticas com capacidade de 2 toneladas de polpa e armazenada em

grandes caixotes de madeira em pátio aberto, vulneráveis a variações da

temperatura ambiente, expostos à chuva e incidência de luz solar direta ao longo de

um período máximo de 24 meses. Para o cálculo de F para a condição atual de

armazenagem, considerou-se temperatura ambiente constante, em seu cenário mais

82

crítico. Desta forma, foi tomada como temperatura ambiente a média anual das

temperaturas máximas diárias no município de Goiânia (CIIAGRO, 2015).

Como esperado, a proposta 4, que considera a combinação do controle

da temperatura e redução do tempo máximo de armazenagem, mostrou a maior

redução do valor F, ou seja menor impacto na degradação dos atributos de cor e de

vitamina C. Nota-se que para a retenção de vitamina C, a redução da vida-de-

prateleira pela metade (proposta 2) já contribui para uma redução de quase 50% no

valor de F, reforçando a baixa dependência da temperatura. Levando-se em

consideração que a cor é um dos atributos de qualidade mais importantes em

produtos de tomate, as propostas 2 e 3 trariam resultados equivalentes de melhoria

para o produto ao fim de sua vida-de-prateleira.

A escolha entre uma das propostas dependerá da comparação entre

investimento e flexibilidade logística. A proposta 2 exige pouca ou nenhuma

alteração do modelo produtivo atual, no entanto, reduz pela metade a flexibilidade

logística. Essa escolha pode acarretar em prejuízos no caso de uma colheita ruim ou

de queda na produção de derivados da polpa, como molhos prontos e extratos. Já a

proposta 3, exige investimento inicial alto para controle da temperatura ambiente,

que exigiria a cobertura do pátio de estocagem atual e a instalação de ventiladores e

aspersores de água ou outro aparato de climatização. Um cenário intermediário é

simulado pela proposta 1, que visa manter a flexibilidade atual quanto ao

planejamento de produção, não exige investimentos e traz quase 10% de redução

do valor F para o parâmetro de cor TPS, crítico para todos os produtos a base de

tomate produzidos na entressafra.

A segunda etapa no processo da polpa concentrada a contribuir

relevantemente para a degradação da cor e, em menor escala, da vitamina C, é a

esterilização. Propostas de melhoria do binômio tempo/ temperatura devem

primordialmente considerar a eficácia do tratamento térmico da redução da carga

microbiana a níveis aceitáveis para o produto, consideradas suas condições de

armazenagem.

Para simulação de diferentes cenários de tratamento térmico considerou-

se a faixa de temperatura de operação do trocador de calor, de 104 a 108°C. O

tempo de residência do produto a cada temperatura foi calculado utilizando a

relação:

83

log(DT2/DT1) = (T1T2)/z (Equação 11)

O microrganismo alvo considerado foi o esporo de Bacillus coagulans,

relacionado a produtos derivados de tomate e de elevada resistência térmica. Os

valores de D 121,1°C referenciados na base de dados LDz Base (2015) variam

consideravelmente. Em literatura, para produtos de tomate, foram encontrados

valores de 0,07 min (STUMBO, 1973), 0,0211 min (MALLIDIS et al., 1990) e 0,013

min (PENG et al., 2012). Tomou-se para cálculo o valor médio de 0,347 min e z =

10°C. Foi considerado o nível de redução para deteriorantes de 5 ciclos decimais

preconizado pelo órgão americano FDA (Food and Drug Administration) para

produtos acidificados.

A partir dos dados expostos, foram construídas cinco propostas, descritas

no Quadro 2. Os valores de F do processo podem ser comparados na Tabela 24

Quadro 2 - Propostas de alteração no binômio tempo/ temperatura da

esterilização buscando melhoria na retenção de cor e vitamina C.

Propostas Binômio tempo/ temperatura

Processo Atual 106,5°C/ 8 min

Proposta 1 104°C/ 8,9 min

Proposta 2 105°C/ 7,07 min

Proposta 3 106°C/ 5,61 min

Proposta 4 107°C/ 4,46 min

Proposta 5 108°C/ 3,54 min

Tabela 24 - Simulação do valor F da etapa de esterilização (holding) para 5

propostas de melhoria na etapa de esterilização da polpa de tomate concentrada.

Parâmetro

F (h)

Atual Proposta 1 Proposta 2 Proposta 3 Proposta 4 Proposta 5

Vitamina C 0,51 0,52 0,42 0,35 0,29 0,24

L* 11,72 9,60 8,62 7,73 6,95 6,23

a* 13,22 10,73 9,67 8,70 7,85 7,07

b* 39,80 29,97 27,83 25,82 23,99 22,26

TPS 23,42 18,28 16,73 15,30 14,01 12,81

a*/b* 11,14 9,15 8,21 7,35 6,60 5,91

84

Devido à baixa dependência da temperatura, a melhoria observada na

retenção de vitamina C através da alteração do binômio tempo/ temperatura da

etapa de esterilização não é tão considerável quanto a observada nos parâmetros

de cor. Como previsto pelo princípio HTST (High Temperature, Short Time), os

menores danos térmicos são observados nas propostas que combinam

temperaturas mais altas e tempos de retenção mais curtos. É importante ressaltar

que os cinco cenários de otimização propõem o mesmo nível de redução de esporos

de B. coagulans, de 5 ciclos decimais. Dessa forma, o controle contínuo da carga

microbiológica inicial das matérias-primas e das Boas Práticas de Fabricação é

imprescindível para que os processos térmicos propostos garantam a segurança do

produto final.

Utilizando-se a Equação 12 e os valores de F calculados para as

diferentes propostas, é possível simular valores finais dos parâmetros de interesse.

log N0 – log N = 1/DT*t (Equação 12)

Substituindo N0 e N pelos valores inicial e final, respectivamente, do

parâmetro de cor TPS, considerando t = F e T = temperatura de referência = 70°C,

tem-se:

TPSf = 10^[log(TPS0)-1/(D70*F)] (Equação 13)

Aplicando-se a Equação12 para o parâmetro a*/b*, obtém-se:

a*/b*f = 10^[log(a*/b*0)-1/(D70*F)] (Equação 14)

Segundo os padrões de classificação de polpa concentrada de tomate

estabelecidos pela USDA, polpas com índice TPS de 45 a 50 são consideradas de

boa qualidade de cor. Já polpas com índice TPS abaixo de 39 são classificadas

como abaixo do padrão desejável por apresentarem coloração escurecida ou

amarronzada. Goose e Binstead (1973) citam que a relação a*/b* maior que 1,90

indica polpa de alta qualidade, já razões menores que 1,80 indicam que a polpa

pode ser inaceitável para produtos onde a cor vermelho vivo é desejada.

Tomando-se como exemplo de cálculo uma polpa de boa classificação de

cor, com TPS0 = 48 e a*/b*0 = 1,9, é possível simular a degradação da cor nas

85

etapas de armazenamento e de esterilização, a partir dos valores F calculados para

os diferentes cenários de melhoria de processo das Tabelas 23 e 24.

Tabela 25 - Simulação do efeito das propostas de armazenagem nos parâmetros

TPS e a*/b*.

Parâmetro

F (h)

Atual Proposta 1 Proposta 2 Proposta 3 Proposta 4

28,7°C/ 24 meses

28,7°C/ 18 meses

28,7°C/ 12 meses

23°C/ 24 meses

23°C/ 12 meses

TPSf 41,91 43,36 44,85 45,17 46,56

a*/b*f 1,54 1,62 1,71 1,71 1,80

Os cálculos da Tabela 25 mostram que, após 24 meses à temperatura

ambiente, ou seja, nas condições atuais de armazenagem, a polpa perde 14 pontos

(30%) no parâmetro de cor TPS, não merecendo mais a classificação de qualidade

inicialmente atribuída. Apenas nas propostas 3 e 5, que envolvem o controle da

temperatura de estocagem, a polpa ainda poderia ser considerada de alta qualidade

ao final da vida-de-prateleira. Efeito similar é observado para a relação a/b, utilizada

como parâmetro principal de classificação de cor por alguns produtores de polpa de

tomate concentrada. O valor F para a relação a*/b* reafirma a semelhança das

propostas 2 e 3 quanto ao efeito térmico na polpa de tomate.

Tabela 26 - Simulação do efeito das propostas de esterilização nos parâmetros TPS

e a/b.

Parâmetro

F (h)

Atual Proposta 1 Proposta 2 Proposta 3 Proposta 4 Proposta 5

106,5°C/ 8 min

104°C/ 8,9 min

105°C/ 7,07 min

106°C/ 5,61 min

107°C/ 4,46 min

108°C/ 3,54 min

TPSf 45,03 45,66 45,86 46,04 46,20 46,35

a*/b*f 1,86 1,87 1,87 1,87 1,88 1,88

As simulações calculadas na Tabela 26 mostram com maior clareza a

extensão da perda de cor na etapa de esterilização. O processo atual responde por

6% de redução do parâmetro TPS e 2% da razão a*/b*. As propostas 1 e 2 não

acarretam ganhos expressivos de cor, no entanto, maiores temperaturas

combinadas a tempos mais curtos têm menor impacto na degradação de cor. A

validação das propostas de melhoria da etapa de esterilização e a verificação dos

86

reais benefícios para a cor do produto devem levar em conta a capacidade

operacional dos trocadores de calor e as oscilações de vazão ao longo do período

produtivo, a fim de garantir em primeiro lugar a segurança microbiológica do produto.

Para simular a busca por uma gama mais ampla de combinações tempo x

temperatura de processo, a Figura 35 mostra curvas equivalentes a (1) tempo

equivalente para a redução de 5 ciclos decimais de Bacillus coagulans, calculada a

partir de valores de D obtidos por Sandoval, Barreiro e Mendoza (1992); (2)

parâmetro de cor a*/b* equivalente a 1,8, calculada segundo o modelo cinético de

primeira ordem exposto na Tabela 10; e (3) 90% de retenção de vitamina C,

calculada através das equações do modelo cinético de primeira ordem, mostrado na

Tabela 6.

Figura 35 - Relação entre tempo de aquecimento e temperatura de processo para

(1) redução de 5D de esporos de B. coagulans, (2) cor correspondente a a*/b* = 1,8

e (3) 90% de retenção de vitamina C.

A interpretação da Figura 35 revela que qualquer ponto sobre a curva de

destruição térmica de esporos de B. coagulans permite atingir a esterilidade

comercial da polpa de tomate concentrada. À temperatura de 85,2°C a redução da

carga microbiana deve ser atingida no mesmo tempo que a retenção de 90% de

vitamina C. Neste ponto, no entanto, a degradação de cor será superior à tolerada

sensorialmente.

1

201

401

601

801

1001

0 20 40 60 80 100

Te

mp

o (

min

)

Temperatura (°C)

90% retenção Vitamina C

a*/b* = 1,8

TDT 5D B. coagulans

87

5.6. Correlação do estudo cinético com condições reais do processo

industrial

As Tabelas 27 e 28 listam os resultados obtidos das análises de amostras

coletadas ao longo do processo produtivo de polpa de tomate concentrada. Para

evitar erros de interpretação provenientes da remoção de água ao longo do

processo quando comparados em resultados absolutos, o teor de vitamina C nas

amostras é apresentado em base seca.

Tabela 27 - Resultados das análises de Brix, umidade, teor de vitamina C e

consistência Bostwick realizadas nas amostras coletadas ao longo do processo

produtivo de polpa de tomate concentrada.

Sólidos solúveis (°Brix)

Umidade (%)

Vitamina C (mg/ 100g ms)

Consistência (cm/s)

Tomate in natura 4,1 94,6 406,21 ± 5,96

Hot Break 4,1 95,2 373,96 ± 4,39

Suco 4,0 95,1 379,13 ± 8,54

Concentrador 25,0 73,3 358,48 ± 8,53 3,90 ± 0,10

Polpa asséptica 28,8 68,4 236,67 ± 0,86 4,07 ± 0,09

Tabela 28 - Resultados das análises de cor realizadas nas amostras coletadas ao

longo do processo produtivo de polpa de tomate concentrada.

L* a* b* TPS a*/b*

Tomate in natura 18,34 ± 0,05 18,98 ± 0,01 9,20 ± 0,02 - 2,06 ± 0,00

Hot Break 23,71 ± 0,00 27,29 ± 0,01 12,79 ± 0,00 - 2,13 ± 0,00

Suco 23,02 ± 0,00 27,53 ± 0,01 12,60 ± 0,01 - 2,19 ± 0,00

Concentrador 23,76 ± 0,01 27,72 ± 0,01 13,92 ± 0,00 53,30 ± 0,00 1,99 ± 0,00

Polpa asséptica 23,92 ± 0,00 27,13 ± 0,00 14,01 ± 0,00 52,70 ± 0,00 1,94 ± 0,00

Chanforan et al. (2012) demonstrou que apenas metade do conteúdo

inicial de ácido ascórbico analisado no tomate in natura é preservado após o

processamento dos frutos em polpa de tomate e que a maior perda ocorre durante a

etapa de inativação enzimática. Comportamento semelhante foi reportado por

Abushita et al. (2000). No presente estudo observou-se perda de 42% quando

comparadas as concentrações de ácido ascórbico no fruto in natura e na polpa

asséptica, resultado condizente com os trabalhos anteriores.

88

A coleta de amostras de um processo industrial acarreta em uma melhor

avaliação das condições reais de produção, porém não permite a correlação direta

do tomate analisado com a amostra de polpa coletada ao fim do processo. A

concentração inicial de vitamina no tomate in natura mostrou-se mais baixa que

reportado em literatura, o que pode ser atribuído a diversos fatores, como variedade

do fruto, condições do solo e perdas por oxidação decorrentes do congelamento,

descongelamento e extração manual do suco para análise. O conteúdo de ácido

ascórbico analisado ao longo do processo demonstrou perdas maiores nas etapas

de inativação enzimática (Hot Break) e esterilização. Sabe-se também que a

degradação da vitamina C pode ser muito acelerada na presença de oxigênio. Essa

variável não foi controlada no presente estudo de degradação. É possível que

algumas etapas manuais de coleta e preparo de amostras tenham incorporado mais

oxigênio e, por outro lado, sabe-se que no processo industrial o contato com o ar

pode ser minimizado no transporte por tubulações.

A degradação da cor ao longo do processo é mais bem avaliada pela

relação a*/b* e pelo parâmetro L*, visto que o índice TPS é aplicado apenas a

produtos concentrados de tomate. As maiores variações são observadas após a

etapa de inativação enzimática, onde ocorre aumento do componente de cor L*, que

indica escurecimento da polpa, mas também aumento dos componentes a* e b*,

indicando aumento na intensidade de cor vermelha. A queda do índice TPS entre o

concentrador e o envase asséptico confirma o resultado do estudo cinético que

indica degradação da cor na etapa de esterilização.

A consistência Bostwick mostrou-se semelhante entre as amostras

retiradas logo após a concentração e após a esterilização. A pequena diferença

observada pode ser atribuída tanto à precisão do equipamento de medição quanto à

possível degradação das estruturas de pectinas e fibras durante o tratamento

térmico da etapa de esterilização.

89

6. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos neste estudo permitem concluir que a cor e a

concentração de ácido ascórbico são parâmetros de qualidade críticos, que sofrem

alterações significativas ao longo do processo produtivo e do período de

armazenagem da polpa de tomate concentrada.

Tanto a degradação do ácido ascórbico quanto a degradação dos

parâmetros de cor foram bem descritas por modelos cinéticos de primeira ordem e a

dependência da temperatura foi satisfatoriamente representada pela lei de

Arrhenius.

A degradação do ácido ascórbico mostrou baixa dependência da

temperatura na faixa estudada. Apesar de ser um nutriente presente em importante

concentração no fruto in natura, a vitamina C apresenta perdas expressivas ao longo

do período de armazenamento da polpa concentrada, dificultando a preservação

deste nutriente em produtos industrializados de tomate, principalmente em períodos

de entressafra.

Os atributos de textura não foram afetados significativamente pela

temperatura de tratamento térmico. O estudo comparativo permitiu afirmar que o

método de Bostwick para controle da consistência, largamente utilizado na indústria,

é satisfatório para avaliação da textura e controle de qualidade em polpa de tomate,

sendo capaz de demonstrar resultados comparáveis aos obtidos em texturômetro.

Os cálculos do efeito da temperatura em cada etapa do processamento

da polpa concentrada permitiram a identificação das etapas de esterilização e de

armazenagem como responsáveis pela maior parcela da degradação dos atributos

de qualidade estudados. A proposta de diferentes cenários visando a preservação

principalmente da cor, atributo diretamente avaliado pelos consumidores finais de

produtos derivados de tomate, almeja auxiliar a indústria na avaliação crítica do

processo e na busca constante da manutenção da qualidade sensorial e da

flexibilidade produtiva, sempre priorizando a segurança do alimento.

6.1. Sugestões para a continuidade dos estudos

Para estudos futuros, sugere-se o acompanhamento das variações dos

parâmetros de cor, textura e consistência da polpa concentrada nas condições reais

de estocagem para melhor compreensão da influência do tempo e das variações

90

reais de temperatura ambiente sobre os atributos estudados. Adicionalmente, a

construção da curva térmica de aquecimento e resfriamento em diferentes tipos de

trocadores de calor utilizados para a esterilização de polpa de tomate concentrada

poderiam também agregar conhecimentos valiosos para a otimização desta etapa,

permitindo aliar estabilidade microbiológica e preservação dos atributos de

qualidade.

Estudos futuros com controle da presença de oxigênio no processo

podem dar informações adicionais importantes no que se refere à degradação da cor

e da vitamina C em produtos de tomate.

O acompanhamento das propriedades de textura ao longo do período de

armazenamento através da análise de viscosidade em cisalhamento, bem como o

estudo da hidrólise da pectina, podem elucidar as diferenças observadas nas polpas

testadas.

91

7. REFERÊNCIAS

AGARWAL, Sanjiv; RAO, Akkinappally Venketeshwer. Tomato lycopene and its

role in human health and chronic diseases. Canadian Medical Association

Journal, v. 163, n. 6, p. 739-744, 2000.

ALVES, Adriana Barreto. Compostos antioxidantes da polpa de tomate: efeito

do processamento e da estocagem. 2009. 163 f. Tese (Doutorado) -

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