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ESTUDO DA DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DA CASCA D’ANTA (Drimys brasiliensis Miers) – CONTRIBUIÇÕES PARA SUA CONSERVAÇÃO
Marianna Carmona de Almeida Puschiavo (Licenciada em Biologia - CCBS/UPM – São Paulo/SP –
[email protected]) Luiza Mara Encarnação Rocha (Bióloga –- CCBS/UPM – São Paulo/SP – [email protected])
Oriana A. Fávero (Dra em Geografia – CCBS/UPM – São Paulo/SP – [email protected]). Resumo: Drimys brasiliensis Miers é uma espécie arbórea relictual comum no Domínio da Mata Atlântica que se configura entre as Florestas Tropicais mais ameaçadas e biodiversas do planeta, sendo um dos 34 ‘hotspots’ de biodiversidade da atualidade prioritários para conservação. Popularmente é conhecida como casca-d’anta, sendo utilizada tradicionalmente como antifebril, estimulante, antiespamódica, aromática, antidiarréica e em certas afecções do trato digestivo. Estudos laboratoriais desta espécie evidenciaram a presença de substâncias com alta atividade antifúngica e antioxidante. Outro estudo verificou que indivíduos coletados em diferentes regiões do Chile apresentaram diferentes concentrações das substâncias responsáveis pelas propriedades medicinais desta espécie. Conhecer a distribuição geográfica desta espécie pode oferecer, portanto subsídios para recomendação da proteção e conservação das paisagens onde ela ocorre, estratégias fundamentais para garantia de sua conservação e de seu potencial terapêutico. No presente trabalho verificou-se a distribuição geográfica desta espécie e os habitats de ocorrência preferencial, por meio de levantamentos em literatura científica especializada e da consulta às informações contidas em 374 materiais testemunhos (exsicatas) depositados nos acervos de 12 herbários. De acordo com a literatura Drimys brasiliensis tem ocorrência predominante em ambientes úmidos, temperados e de altitude, e principalmente na Floresta Ombrófila Mista. Quanto à distribuição foram as Américas Central e do Sul, os locais mais indicados, e no Brasil os estados da Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Por sua vez, das informações das exsicatas verificou-se que o Brasil é o principal país onde a espécie ocorre (99% dos locais de coleta dos testemunhos) e que os estados de São Paulo e Paraná foram onde mais coletas da espécie ocorreram totalizando mais da metade das ocorrências (67%). Verificou-se também que somente em 62 testemunhos, cerca de 17% do total consultado, as coletas ocorreram em áreas protegidas. Palavras-chave: Drimys brasiliensis, distribuição geográfica, Mata Atlântica. Abstract: Drymis brasiliensis is a relic, arborean specie most common in Mata Atlântica Domain, witch is included between the most throated and biodiversity Tropical Forests in the planet, correspondent to one of the 34 ‘hotspots’ of biodiversity in the priorities of conservation. Popularly is known as ‘casca d’anta’ and have been traditionally used as anti-fever, stimulating, anti-throes, aromatic, anti- diarrhea and in certain affections of digestive system. Laboratorial studies of this specie evidenced the presence of substances with high anti-fungi activity and anti-oxidant. Another study verified that individuals collected in different regions in Chile evince a variety of concentrations of the substances responsible for the medicinal properties of this specie. Know the geographical distribution of this specie can offer, then, subsidy for recommendation to protection and conservation in the landscape where it occurs, fundamental strategies for it conservation and it therapeutic potential. In this work was verified the geographical distribution of this specie and preferred habitats of their occurrence by drawing on scientific literature and expert consultation of the information contained in 374 material witnesses (exsiccates) deposited in the collections of 12 herbariums. As contented in the literature, Drimys brasiliensis have preferential occurrence in habitat are surrounding humid, seasoned and heighter, mainly in the subtropical moist forest (Floresta Ombrófila Mista). About the distribution, were South and Central America the most commend places, and in Brazil, the states of Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. In other hand, exsiccates information showed that Brazil is the main country where it occurs (99% of local collect of exsiccates) and that São Paulo and Paraná were the states where the species more occurred, totalizing more then half of the occurrences (67%). It was found also that only in 62 exsiccates, about 17% of the total, the collection occurred in protected areas. Key-words: Drimys brasiliensis, geographical distribution, Atlantic Forest.
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Introdução:
A utilização de recursos naturais pelo homem desde os primórdios de sua existência, para o
suprimento de suas diversas necessidades modificou e modifica a evolução natural e a distribuição dos
seres vivos especialmente dos vegetais, na medida em que modifica as paisagens e os ecossistemas em
que estes organismos vivem e seleciona algumas espécies para o cultivo (HEISER Jr, 1977; e
CROSBY, 2002).
Um dos grandes problemas advindos dessas relações entre o homem e a natureza é a perda
acelerada da biodiversidade, pois a maioria das espécies vegetais de interesse para uso humano, em
especial o terapêutico, têm sido exaustivamente exploradas de modo irracional e inconseqüente
causando, em princípio, problemas de desequilíbrio ambiental, especialmente nas formações florestais
tropicais (DI STASI, 1996; GUERRA e NODARI, 2004).
Estima-se que pelo menos 976 espécies de árvores, das cerca de 100.000 conhecidas, estejam
ameaçadas de extinção (FÁVERO, 2007). Alguns autores alertam para o problema da perda de
diversas espécies sem que se conheça sua distribuição e seu potencial para uso, acelerando assim a
perda de recursos genéticos (FRANKEL e SOULI, 1992 apud ROCHA, 2004).
Dentre o potencial de uso dos recursos naturais vegetais destaca-se o uso farmacológico e a
produção de medicamentos (DI STASI, 1996). As espécies utilizadas para fins terapêuticos são
aquelas que apresentam substancias biologicamente ativas oriundas do metabolismo secundário da
planta e que apresentam diversidade de funções biológicas e /ou aplicações na medicina moderna (DI
STASI, 1996; e GOBBO-NETO e LOPES, 2006).
As plantas que sintetizam esses metabólitos secundários sofrem influencia de fatores
ambientais como a sazonalidade, o ritmo cicardiano, as variações de temperatura e a disponibilidade
hídrica e também da interação entre processos químicos, biológicos, físicos, ecológicos e evolutivos
(GOBBO-NETO e LOPES, 2006). A intensidade luminosa constitui um desses fatores que alteram as
concentrações e/ou composições dessas substancias, o que contribui para a crescente preocupação com
a destruição da camada de ozônio.
Desta forma, os estudos de distribuição geográfica e o reconhecimento da dispersão e da
diversidade dessas plantas no tempo e no espaço contribuem para a recomendação da conservação e
proteção de certas áreas, tanto para o suprimento das necessidades humanas quanto para a garantia da
manutenção da biodiversidade (ROCHA, 2004 e FÁVERO, 2007).
A Floresta Tropical é considerada por muitos autores a principal fornecedora potencial de
recursos naturais. Além disso, exerce importantes funções ambientais para a manutenção da vida e
abriga mais da metade de todas as espécies vegetais da Terra (FÁVERO, 2007). Dentre as Florestas
Tropicais mais ameaçadas e, ao mesmo tempo, biodiversas da Terra destaca-se o domínio da Mata
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Atlântica, sendo considerado o 4º hotspots prioritário para conservação, principalmente por possuir
elevada concentração de espécies vegetais e animais endêmicas por quilometro quadrado (MYERS et
al., 2000).
A proteção dos ‘hotspots’ de biodiversidade justifica-se tanto pelos importantes papéis que
exercem na natureza quanto pela manutenção do potencial reprodutivo dos recursos genéticos das
espécies que vivem naquele habitat que, muitas vezes endêmicos, só obterão possibilidade de
utilização e eficácia se obtidos nos locais de origem (PRIMACK e RODRIGUES, 2001; e FÁVERO,
2007).
Nestes casos, a conservação ‘in situ’ apresenta maior eficiência e eficácia (PRIMACK e
RODRIGUES, 2001).
Compatibilizar usos antrópicos e conservação da natureza e da biodiversidade é, portanto, um
grande desafio para o qual os estudos de distribuição das espécies podem oferecer importantes
contribuições, sobretudo daqueles com potencial para suprimento de necessidades humanas ou
particularmente sob pressão do uso antrópico.
Neste contexto destaca-se a espécie arbórea, Drimys brasiliensis Miers. ou casca d’anta, como
é popularmente conhecida, que vem apresentando potencial promissor para usos farmacológicos, dada
a presença de substâncias com alta atividade antifúngica e antioxidante. Além disso, é utilizada
tradicionalmente como antifebril, estimulante, antiespasmódica, aromática, antidiarréica e em certas
afecções do trato digestivo.
Materiais e Métodos:
A espécie foi selecionada de acordo com os resultados obtidos no projeto “Estudo químico de
espécies vegetais – composição micromolecular e avaliação do potencial biológico”. As amostras dos
vegetais utilizados para a preparação de extratos nesse estudo foram colhidas em fragmentos
secundários de Floresta Ombrófila Mista (Mata Atlântica) na Colônia de Férias da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, localizada no Condomínio Umuarama no Município de Campos do Jordão
(SP), principalmente em regiões de altitude, visando análise fitoquímica, biológica e ecofisiológica.
Utilizando resultados preliminares dos ensaios selecionou-se a espécie Drimys brasiliensis (Figura 01),
pois apresentou alto potencial antifúngico (para Cladosporum sphaerospermum) nos extratos etanólico
e hexânico de folhas, e alto potencial anti-radicalar nestes mesmos extratos.
Para revisão e verificação dos principais locais de ocorrência e de dados sobre a distribuição
geográfica desta espécie foi realizado levantamento de artigos científicos, utilizando como palavras-
chave o binômio específico, nos seguintes indexadores de periódicos:
4
Capes (http://www.periodicos.capes.gov.br/portugues/index.jsp) - acesso em fevereiro de 2008.
SinBiota (http://sinbiota.cria.org.br/) – acesso em março de 2008.
Biblioteca Digital da Universidade de São Paulo (http://www.teses.usp.br/) - acesso em abril de
2008;
Scielo – Scientific Electronic Library Online (http://www.scielo.org/php/index.php) - acesso em
setembro de 2008.
Além dos levantamentos em literatura científica especializada procedeu-se a consulta às
informações contidas em 374 materiais testemunhos (exsicatas) depositados nos acervos de 12
herbários.
Figura 01 – Detalhe das flores de Drimys brasiliensis Miers – amostra coletada para elaboração de
exsicata depositada no Herbário da Prefeitura de São Paulo (voucher PMSP 8984 – identificado pela
Dra. Lucia Rossi/IBt). (Foto: FÁVERO, 2007).
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Resultados e Discussões:
Drimys brasiliensis Miers, angiosperma da família Winteraceae ou casca d'anta (PIO
CORRÊA, 1978; e TRINTA e SANTOS, 1997): brasiliensis em alusão ao habitat onde foi coletado
(TRINTA e SANTOS, 1997). Para Feild et al. (2000) as Winteraceae contam com 65 espécies
distribuídas em quatro ou seis gêneros. Para Ehrendorfer et al. (1979) a família possui oito gêneros
reconhecidos.
Sinonímias científicas encontradas para a D. brasiliensis1:
Drimys angustifolia Miers
Drimys brasiliensis var. axillaris (A. St.-Hil.) Miers
Drimys brasiliensis var. montana (A. St.-Hil.) Hauman
Drimys brasiliensis var. sylvatica (A. St.-Hil.) Miers
Drimys granadensis var. axillaris A. St.-Hil.
Drimys granadensis var. campestris A. St.-Hil.
Drimys granadensis var. montana A. St.-Hil.
Drimys granadensis var. sylvatica A. St.-Hil.
Drimys ledifolia Eichler
Drimys montana (A. St.-Hil.) Miers
Drimys retorta Miers
Drimys winteri fo. angustifolia (Miers) Eichler
Para Trinta e Santos (1997) a espécie é descrita da seguinte maneira:
“Arbustos, arvoretas ou árvores até 20m de altura. Folhas pecioladas, a lâminas
obovadas, oblongas ou elíticas, até 14,3cm de comprimento e 5,8cm de largura, de ápice
obtuso, arredondado ou emarginado, de margem plana ou revoluta, concolares ou não,
pecíolos alados ou não, geralmente de 5-25mm de comprimento. Inflorescências terminais, raro
axilares, longo pedunculadas, em geral, com 3-5 flores, algumas vezes até 6; pedúnculos alados
ou não, de 18-60mm de comprimento. Flores brancas, pediceladas; sépalas 2, orbiculadas ou
ovado-arredondadas, de ápice aguçado até apiculado, de 4,5 – 8 mm de comprimento e 3,5 –
8mm de largura; pétalas elíticas ou oblongas, os da série mais externa, maiores, de 6 – 19mm
de comprimento e 2 – 5,5mm de largura, as da série mais interna, menores, de 5 – 12mm de
comprimento e 1,5 – 4mm de largura; gineceu com 5 – 8 carpelos, raro 4 – 12. Frutículos
bacáceos, quando maduros escuro-rajados. Sementes reniformes, negro-brilhantes”.
1 Fonte: Tropicos em http://www.tropicos.org/NameSynonyms.aspx?nameid=50081411, acesso em 01/09/2008.
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Habitats ou Ecossistemas em que ocorre:
Embora genericamente limitadas a ambientes úmidos (com precipitações maiores do que
1.200mm/ano), as espécies da família Winteraceae podem ser encontradas em vários habitats,
incluindo florestas subtropicais, tropicais, costeiras úmidas e de montanha temperada e habitats alpinos
e sobalpinos (FEILD et al., 2000), Para os mesmos autores, a ausência de vasos xilemáticos é a causa
da limitação das Winteraceae a ambientes úmidos.
Winteraceae é mais diversificada nas regiões subtropicais mas ecologicamente mais bem
sucedida em termos de abundância em ambientes temperados. É encontrada em áreas com abundante
precipitação e/ou pouca demanda de evaporação, como ao longo de rios, em sub-habitats e em
florestas montanhosas (FIELD et al., 2000).
Segundo Joly (1985 apud ABREU et al., 2005), o gênero Drimys é restrito às regiões de climas
temperados. Segundo Feild et al. (2000) inclui 6 espécies. Para Ehrendorfer et al. (1979) e Feild et al.
(2000) o gênero tem distribuição geográfica nas regiões da América Central, México e América do
Sul.
Para Ehrendorfer et al. (1979), Feild et al. (2000) e Trinta e Santos (1997), o gênero Drimys é o
único representante da família no dito Novo Mundo e ocorre em regiões frias; desde as florestas
tropicais em Magalhães, no sul do Chile e Argentina, até as tropicais e temperadas nas regiões
montanhosas do México.
No Brasil ocorre em matas de altitude e ciliares de terrenos brejosos ou bem drenados, se
estendendo desde o nordeste e leste até o sul do país (LORENZI e MATOS, 2002).
Drimys brasiliensis é característica dos capões dos campos (Savana) e dos subosques dos
pinhais (Floresta Ombrófila Mista), ocorrendo também nos topos de morro da região da Floresta
Ombrófila Densa da Encosta Atlântica, e mais raramente em áreas das Florestas Estacionais Deciduais
das bacias Paraná-Uruguai, apresentando dispersão significativa, porém, distribuição descontínua e
irregular (TRINTA E SANTOS, 1997).
Trinta e Santos (1997) citam que a espécie é expressivamente esciófita ou de luz difusa e
menos significativamente heliófita e higrófita. Para Marchiori (1997 apud ABREU et al., 2005) é uma
espécie heliófila, perenifólia e seletiva hidrófila, distribuída em florestas riparias e pinhais do planalto
sul-brasileiro.
Trinta e Santos (1997) mencionam que em Santa Catarina a espécie floresce de julho a abril e
frutifica a partir de outubro. Para Pio Corrêa (1978) na época da florescência dão bela aparência à
mata.
Encontrada desde 10 até 1.800m de altitude no Estado de Santa Catarina em associação com as
espécies Podocarpus lambertii Klotzsch, Weinmannia humilis Engl., Siphoneugenia reitzii Legr.,
Myrceugenia euosma (Berg) Legr., Lamanonia speciosa ( Camb.) L. B. Smith, Ilex microdonta
7
Reissek, Ilex breviscuspis Reissek, Mimosa scabrella Benth., Dicksonia sellowiana (Pr.) Hook. e
outras espécies de arvoretas (TRINTA e SANTOS, 1997).
Para Ehrendorfer e Gottsberger (1979, apud TRINTA E SANTOS, 1997) a distinção geográfica
e ecológica do habitat exercem uma ação sobre a morfologia e hábitos dessas plantas. Já segundo Pio
Corrêa (1978) sua expressiva polimorfia é que permite sua adaptação às mais variadas altitudes e
latitudes.
Vale ressaltar que para Marchiori (2006), a variabilidade morfológica (ou a plasticidade
fenotípica) existente no mundo vegetal, como no caso da Drimys brasiliensis, que podem alcançar
menor ou maior altura dependendo de sua variação latitudinal, é chamada de “formas biológicas ou
formas de vida” vegetal. Contudo, para o mesmo autor, as distinções entre arbustos ou árvores, por
exemplo, são classificações muito simples, que não podem ser utilizadas para definir os hábitos dessas
plantas.
Distribuição Geográfica obtida em Literatura:
Verificou-se, de acordo com os dados da literatura, que Drimys brasiliensis tem distribuição
geográfica nas Américas Central e do Sul (PIO CORRÊA, 1978; EHRENDORFER et al., 1979;
TRINTA E SANTOS, 1997; FEILD et al., 2000; MARCHIORI, 2006). Alguns autores afirmam, ainda
que a espécie é nativa do Chile (CABRERA, 2003 apud PEREZ et al., 2007; MUNOZ-CONCHA,
2004; e FRANCO et al., 2006;).
A linha de origem das Winteraceas pode ter sido a mesma das Angiospermas, em geral, que,
segundo vários autores, teriam surgido no início da era Mezozóica e que seus locais de origem sejam a
América do Sul e a região que se estende desde o sudeste da Ásia até o nordeste da Austrália,
incluindo a Nova Caledônia e as ilhas Fiji (MARCHIORI, 2006).
Segundo Marchiori (2006) os reinos florísticos Neotropical e Antártico que se encontraram na
América do Sul têm atual distribuição na Tasmânia, Nova Zelândia, Austrália e extremo sul da África
e alguns genêros, como Drimys e Podocarpus chegaram a alcançar o hemisfério norte via andina.
Já, no Brasil, de acordo com a literatura, a ocorrência da espécie abrange os estados da Bahia,
Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (TRINTA E
SANTOS, 1997; BACKES E NARDINO, 1999 apud ABREU et al., 2005; MARCHIORI, 2006).
Segundo Marchiori (2006) a Drimys brasiliensis ou cataia, como é popularmente conhecida, é
abundante em Itatiaia e em outras regiões montanhosas do sudeste brasileiro. Este autor afirma ainda
que a espécie tem variações distribuídas até a área do México, trazidas principalmente pelo corredor da
região da Cordilheira dos Andes. Lorenzi e Matos (2002) afirmam que Drimys brasiliensis é a única
espécie que ocorre no Brasil. Segundo Trinta e Santos (1997), no Brasil, a espécie tem sua área de
8
dispersão nos estados da Bahia, Minas Gerias, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul.
Distribuição Geográfica obtida de Depósitos em Herbários:
Foram visitados os acervos de 03 herbários e capturados dados de depósitos em acervo, por
meio de acesso à internet, de 09 herbários para o levantamento de informações principalmente do
habitat de ocorrência e de localização geográfica. Este número de herbários foi suficiente para
obtenção de uma tendência de distribuição da espécie conforme mostra o gráfico da Figura 02.
O Quadro 01 apresenta os herbários fontes de dados, como foram obtidos os dados, e quantos
testemunhos foram considerados em cada qual respectivamente.
No gráfico da Figura 03 verificou-se que o Brasil é o principal país onde foram coletados os
exemplares (98%) de Drimys brasiliensis e que os estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio
de Grande do Sul, respectivamente, são onde ocorre o predomínio das coletas da espécie somando
quase a totalidade das ocorrências (93%).
5
910
12 12
14 14 14 14 14 14 14 14
0
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4
6
8
10
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ESA
JBRJ
NYBG MOBOT
DEPAVENEOTRO
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SPSF
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Total
Herbários
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Figura 02 - Suficiência Amostral de Acordo com Local de Ocorrência Obtido nos Testemunhos de
Drimys brasiliensis Depositados nos Herbários
9
PERU0%
Rio de Janeiro
6%
Rio Grande do Sul
7%
Santa Catarina
4%
COSTA RICA0%
Goiás0%
Outros1% Pará
0%
Minas Gerais9%
Bahia5%
PARAGUAI0%
VENEZUELA1%
Paraná32%
São Paulo35%
Figura 03 – Freqüência de distribuição de Drimys brasiliensis de acordo com os Locais de Ocorrência
deTestemunhos Depositados nos Herbários
Da análise dos testemunhos dos herbários, verificou-se predominância de distribuição nos
estados do sul e sudeste brasileiro, estendendo-se até a Bahia e maior ocorrência no Paraná e em São
Paulo, estando em menor freqüência em outros países das Américas.
O mapa da Figura 04 apresenta a distribuição de Drimys brasiliensis, de acordo com as
informações dos testemunhos dos herbários.
10
Quadro 01 – Acervos de Herbários consultados para a Drimys brasiliensis Miers
Herbário Forma de Consulta ao Acervo e Data do Acesso
Total de Testemunhos Consultados
Herbário da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESA)
07/09/2008 Consulta à base de dados Species Link http://splink.cria.org.br/centralized_search
43
Herbário Sérgio Tavares da Universidade Federal Rural de Pernambuco (HST)
07/09/2008 Consulta à base de dados Species Link http://splink.cria.org.br/centralized_search
3
Herbário do Instituto Agronômico de Campinas do Instituto Agronômico de Campinas (IAC)
11/09/2008 Consulta à base de dados Species Link http://splink.cria.org.br/centralized_search
6
Herbário do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)
11/09/2008 Consulta à base de dados Species Link http://splink.cria.org.br/centralized_search
8
Herbário Dimitri Sucre Benjamin Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ)
12/09/2008 Consulta à base de dados Species Link http://splink.cria.org.br/centralized_search
75
Neotropical Herbarium Specimes (NEOTRO)
10/09/2008 Consulta à base de dados do site do Neotropical Herbarium http://fm1.fieldmuseum.org/vrrc/
4
The New York Botanical Garden - Brazilian records (NY)
15/09/2008 Consulta à base de dados Species Link http://splink.cria.org.br/centralized_search
88
Sistema de Informação do Programa Biota/Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (SINBIO)
15/09/2008 Consulta à base de dados Species Link http://splink.cria.org.br/centralized_search
20
Herbário Dom Bento Pickel - Instituto Florestal (SPSF) Visita ao acervo em junho de 2008. 14
Herbário do Depto. de Botânica da Universidade Federal do Paraná (UPCB)
Visita ao acervo em julho de 2008. 80
Herbário Municipal de São Paulo (DEPAVE)
Visita ao acervo pessoalmente em maio de 2008. 16
Missouri Botanical Garden (MO)
17/09/2008 Consutla à bases de dados do Missouri Botanical Garden http://www.tropics.org/Name/50081411
17
11
Figura 04 – Mapa representando a distribuição da Drimys brasiliensis de acordo com 374 testemunhos
depositados nos 12 herbários pesquisados.
É importante salientar que, devido a dificuldades no acesso as informações dos depósitos de
herbários de outros países, por estes não possuírem o acervo disponível na internet, foram consultados
para o presente trabalho poucos herbários internacionais (somente os que possuíam acervo on-line), e
não foi consultado nenhum herbário europeu, fato que pode estar favorecendo a alta freqüência de
distribuição no Brasil.
Pela análise dos estudos existentes Drimys brasiliensis pode ser considerada uma importante
espécie vegetal em relação ao potencial de uso humano, visto que apresenta utilizações terapêuticas
descritas em literatura (PIO CORRÊA, 1978; e TRINTA e SANTOS, 1997) e testadas em
experimentos fitoquímicos e farmacológicos (GRACIOSO et al., 2002; LORENZI e MATOS, 2002;
BRANDÃO et al., 2003; MUNOZ-CONCHA et al., 2004; MALHEIROS et al., 2005; MARTINI et
al, 2006; TRIA et al., 2006; WITAICENIS, 2006; RIBEIRO et al., 2008). Suas principais
propriedades evidenciadas são: a estomática, a ulcerogênica, a antidiarréica e a antinociceptiva, que
estão relacionadas à presença de flavonóides e sesquiterpenos no caule e nas folhas.
12
Destacam-se, no conhecimento do potencial de uso de Drimys brasiliensis, os estudos de
Munoz-Concha et al. (2004) que verificaram que indivíduos coletados em diferentes regiões do Chile
apresentaram diferentes concentrações de compostos químicos como óleos essenciais, terpenos e
flavonóides, os quais são, em várias medidas, os responsáveis pela propriedades medicinais desta
espécie.
As florestas tropicais, em particular no Brasil, o Domínio da Mata Atlântica, têm sido
intensamente exploradas pelas populações humanas tanto para obtenção de recursos quanto para
ocupação. Deste processo temos redução significativa de sua cobertura original, fenômeno que indica
comprometimento da manutenção da biodiversidade e das suas diversas funções ambientais, como por
exemplo o efeito regulatório sobre o clima global, exercido por estes biomas (FÁVERO, 2007).
Por outro lado ainda têm-se verificado que o metabolismo dos vegetais, no qual inúmeros
derivados úteis são sintetizados, está diretamente relacionado às condições ambientais em que estes se
encontram sofrendo alterações significativas, sobretudo na produção secundária, conforme estas
condições se modificam (GOBBO-NETO e LOPES, 2006).
Desta forma, a Drimys brasiliensis em seu habitat predominante, certas fisionomias de
Florestas Tropicais, pode ter seu potencial compromedido dado as formas de exploração humana que
selecionam espécies e áreas visando favorecer determinadas características desejadas. Por isso são
necessárias medidas para a conservação dessas florestas, onde há maior distribuição desta espécie onde
vivem e interagem com outras diversas espécies (GUERRA e NODARI, 2004).
Considerando ainda, a alta distribuição da espécie no Domínio da Mata Atlântica, um dos 34
‘hotspots’ de biodiversidade da atualidade prioritários para conservação (MYERS et al. 2000),
recomenda-se uma ação prioritária para conservação dessas áreas contemplando principalmente
estratégias de conservação ‘in situ’, ou seja, realizada dentro do próprio habitat natural conservado,
pois permite propiciar que a biodiversidade se mantenha dentro do contexto do ecossistema no qual é
encontrada (PAIVA, 1999 apud ROCHA, 2004; e PRIMACK E RODRIGUES, 2001).
Tal estratégia, porém, vem sendo ainda pouco utilizada visto que dos testemunhos de Drimys
brasiliensis analisados, nos herbários, somente 17% foram coletados em áreas protegidas que segundo
Paiva (1999 apud ROCHA, 2004) e Primack e Rodrigues (2001) trata-se da melhor estratégia de
conservação da biodiversidade.
A conservação de espécies ‘in situ’ torna-se ainda mais importante quando lembramos, de
acordo com Gobbo-Neto e Lopes (2006), que existem diversos fatores que influenciam o conteúdo dos
metabólitos secundários dos vegetais, que segundo Di Stasi (1996) e Gobbo-Neto e Lopes (2006),
podem originar compostos medicinais tornando a planta útil para fins terapêuticos.
13
Conclusões:
A distribuição geográfica da espécie está predominantemente nas Américas do Sul e Central,
enquanto no Brasil ela ocorre preferencialmente nos estados da Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Sua ocorrência predominante está em
ambientes úmidos, temperados e de altitude, sendo seu habitat principal a Floresta Ombrófila Mista.
Referências Bibliográficas:
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BRANDÃO, T.A.S.; MALHEIROS, A.; DAL MAGRO, J.; CECHINEL, V.; YUNES, R.A.
Characterization of sesquiterpene polygodial-beta cyclodextrin inclusion complex. Journal of
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