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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE ADERÊNCIAS PERITONIAIS E DA PRODUÇÃO DE COLÁGENO AO IMPLANTE DO COMPÓSITO TELA DE POLIPROPILENO-FILME À BASE DE QUITOSANA EM SUÍNOS Apóstolo Ferreira Martins Orientadora: Profa. Dra. Neusa Margarida Paulo Goiânia 2013

ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

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Page 1: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

ADERÊNCIAS PERITONIAIS E DA PRODUÇÃO DE COLÁGENO AO

IMPLANTE DO COMPÓSITO TELA DE POLIPROPILENO-FILME À BASE DE

QUITOSANA EM SUÍNOS

Apóstolo Ferreira Martins

Orientadora: Profa. Dra. Neusa Margarida Paulo

Goiânia

2013

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APÓSTOLO FERREIRA MARTINS

ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

ADERÊNCIAS PERITONIAIS E DA PRODUÇÃO DE COLÁGENO AO

IMPLANTE DO COMPÓSITO TELA DE POLIPROPILENO-FILME À BASE DE

QUITOSANA EM SUÍNOS

Tese apresentada à Escola de

Veterinária e Zootecnia como requisito

parcial para a obtenção do título de

Doutor em Ciência Animal.

Área de concentração:

Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Linha de Pesquisa:

Técnicas cirúrgicas e anestésicas,

patologia, clínica cirúrgica e cirurgia

experimental

Orientadora: Dra. Neusa Margarida Paulo

Comitê de Orientação:

Profa. Dra. Naida Cristina Borges – EV/UFG

Prof. Dr. Renato Miranda de Melo – FM/UFG

Goiânia

2013

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Dedico esse trabalho a Deus, à

minha esposa Geracina, às

minhas filhas Maria Rosa e

Marianna e aos meus Pais

Apóstolo e Marlene.

Page 7: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

vii

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a DEUS, o verdadeiro arquiteto de todas as

coisas, que permitiu essa realização. Muitas vezes notamos a sua presença

quando ele coloca pessoas para somar nas nossas vidas. Meus sinceros

agradecimentos à todos.

À minha família, que me acompanhou em todos os momentos durante

essa caminhada.

À minha amiga e orientadora professora Neusa Margarida Paulo, que

de forma incansável, me estimulou e ajudou na realização desse projeto.

Aos meus amigos professores Naida Cristina Borges e Renato Miranda

de Melo, do que posso falar com certeza, meu verdadeiro comitê de orientação,

pela dedicação e presteza que sempre me atenderam.

À professora Ângela Maria Moraes, que gentilmente nos cedeu o

compósito para que pudéssemos desenvolver esse trabalho, e pela

disponibilidade em ajudar na finalização do mesmo participando da defesa.

Aos engenheiros químicos Walter Anibal Rammazzina Filho e Ana

Kelly Girata, pela confecção do compósito usado e gentileza em nos atender.

À minha amiga, professora Liliana Borges de Menezes, pela

inestimável ajuda na área de patologia.

Ao amigo José Belarmino da Gama-Filho, que não mediu esforços para

se deslocar a Goiânia quando precisei do seu auxilio.

Aos meus incansáveis amigos na lida com os animais em todos os

momentos. Sarah Barbosa Martins, Ângela Moni Fonseca, Késia Sousa Santos,

Prìscila Vaz Coutinho, Aline Rodrigues Lemes, Rayssa Kossa Barbosa, Ashbel

Schneider da Silva, Allyne Nayhara de Sá Moreira Pinho, Victor Araújo Arruda,

Gabriela Haver Gabriel, Lorena Souza Oliveira, Sandro de Melo Braga, Mariana

Moreira Andrascko, Danilo Ferreira Rodrigues, Natália Bragatto, Ana Paula Araújo

Costa. Sem vocês não esse trabalho não chegaria ao fim desejado.

Aos amigos e professores Luiz Antônio Franco da Silva, Juan Carlos

Duque Moreno, Adilson Donizeti Damasceno, Paulo Henrique Jorge da Cunha

Page 8: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

viii

que se prontificaram em ajudar a lapidar esse trabalho participando da

qualificação.

Aos professores Eurípedes Laurindo Lopes e Romão da Cunha Nunes,

por ajudar na disponibilização dos suínos.

Aos amigos Antônio de Castro Rezende e Wesley Francisco Neves,

pela torcida ajuda e apoio para essa realização.

Aos amigos Sheila de Almeida de Souza, Vilda Maria dos Reis, João

Vilela Teixeira e Edvalson Vierira da Costa, pelo apoio na preparação dos

materiais e organização durante o experimento.

À todos os professores, funcionários e colegas de curso do programa

de pós-graduação da EVZ.

À todos os funcionários do Hospital Veterinário.

Ao Povo brasileiro com pagamento de impostos, propiciaram a minha

formação nas suas instituições públicas.

À Universidade Federal de Goiás e Escola de Veterinária e Zootecnia

que me acolheram como estudante e profissional.

Ao Hospital Veterinário, que acompanho dia a dia, e sinto como minha

segunda casa.

À empresa Boiforte no nome do amigo Carlos Henrique Barbosa pelo

apoio.

Aos animais de pesquisas que permitem a evolução da medicina e

ajuda na cura dos males do homem e de todos os animais.

Page 9: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

ix

“Ando devagar

porque já tive pressa

e levo esse sorriso

porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte,

mais feliz, quem sabe

só levo a certeza

de que muito pouco sei

ou nada sei.”

Almir Sater & Renato Teixeira

Page 10: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

x

SUMÁRIO

LISTAS DE FIGURAS ............................................................................................................. XII

LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... XV

LISTA DE QUADROS ........................................................................................................... XVI

LISTA DE ABREVIATURAS .............................................................................................. XVII

RESUMO ................................................................................................................................. XVIII

ABSTRACT ............................................................................................................................... XIX

CAPITULO 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..................................................................... 1

1 ASPECTOS GERAIS DO PERITÔNIO ............................................................................. 2

2 ADERÊNCIAS PERITONIAIS .............................................................................................. 3

3 TELAS DE POLIPROPILENO .............................................................................................. 5

4 QUITINA/QUITOSANA ........................................................................................................... 6

5 ULTRASSONOGRAFIA ......................................................................................................... 7

6 VIDEOLAPAROSCOPIA ....................................................................................................... 7

REFERÊNCIAS............................................................................................................................. 8

CAPÍTULO 2 – RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA AO IMPLANTE

INTRAPERITONIAL DO COMPÓSITO TELA DE POLIPROPILENO-FILME À

BASE DE QUITOSANA EM SUÍNOS ................................................................................ 13

RESUMO ...................................................................................................................................... 13

ABSTRACT ................................................................................................................................. 14

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 15

Page 11: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

xi

MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................................... 16

RESULTADOS ........................................................................................................................... 20

DISCUSSÃO ............................................................................................................................... 22

CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 25

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................... 25

CAPÍTULO 3 - ADERÊNCIAS E REAÇÕES TECIDUAIS APÓS IMPLANTE

INTRAPERITONIAL DO COMPÓSITO POLIPROPILENO-FILME À BASE DE

QUITOSANA E DA TELA DE POLIPROPILENO, NA PAREDE ABDOMINAL DE

SUÍNOS ........................................................................................................................................ 28

RESUMO ...................................................................................................................................... 28

ABSTRACT ................................................................................................................................. 29

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 30

MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................................... 32

RESULTADOS ........................................................................................................................... 40

DISCUSSÃO ............................................................................................................................... 47

CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 50

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................... 51

CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 57

ANEXOS ...................................................................................................................................... 58

Page 12: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

xii

LISTAS DE FIGURAS

Capítulo 2

Figura 1 - (A) Tela cirúrgica de polipropileno. (B) Compósito tela de polipropileno-

filme à base de quitosana.....................................................................................17

FIGURA 2 – Tela cirúrgica de polipropileno implantada intraperitonialmente

corrigindo defeito induzido experimentalmente na parede abdominal de

suíno......................................................................................................................19

Capítulo 3

FIGURA 1 – (A) Tela de polipropileno. (B) Compósito tela de polipropileno-filme à

base de quitosana.................................................................................................33

FIGURA 2 - Região cirúrgica após secção da pele, tecido subcutâneo e músculo

oblíquo abdominal externo com visualização da bainha externa do musculo reto

abdominal em suíno (A); Excisão de fragmento do músculo transverso do

abdome com visualização e exposição do peritônio parietal (B); Implante da tela

após incisão do peritônio com sutura contínua simples (C e D)

...............................................................................................................................34

FIGURA 3 – Sonograma transversal da parede abdominal de suíno em que se

identifica a linha alba (seta) e a equivalência à direita e à esquerda das camadas

musculares; músculo oblíquo externo do abdome (OE); músculo reto do abdome

(R); músculo transverso do abdome (T). No detalhe, transdutor posicionado sobre

a linha média.........................................................................................................36

Page 13: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

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FIGURA 4 - Indicação dos três pontos de inserção de instrumental para

videolaparoscopia em suíno; (1) ponto de inserção da agulha de Veress; (2)

ponto de inserção do telescópio com ótica de 30º; (3) ponto para inserção da

pinça laparoscópica auxiliar; sítio do implante do biomaterial (setas vermelhas);

no detalhe, posicionamento da cânula de 5 mm e do telescópio, cavidade

peritonial insuflada e parede abdominal transiluminada. .....................................37

FIGURA 5 - Microscopia eletrônica de varredura (MEV) dos biomaterias tela de

polipropileno de alta gramatura (A) x35 e (B) x55; compósito tela de polipropileno-

filme à base de quitosana (C) x37 e (D) x140. Monofilamento de polipropileno

(PP) e filme à base de quitosana (Q) ...................................................................40

FIGURA 6 – Sonograma (12 MHz) em corte transversal da parede abdominal

íntegra de suíno na região selecionada para o implante do biomaterial. Observa-

se músculo oblíquo externo do abdome (OE), músculo Reto do abdome (R),

músculo Transverso do abdome (T). ....................................................................42

FIGURA 7 - Sonograma (12 MHz) em corte transversal da parede abdominal de

suíno para identificação do compósito e tela implantados. Região sobre os

biomateriais com tecido em organização. (A) Formato ondulado do compósito; à

direita, profundidade em cm da pele ao compósito. (B) Formato linear do

compósito; em detalhe, transdutor posicionado sobre a cicatriz da ferida cirúrgica.

(C) Presença do fígado aderido à tela de polipropileno (seta branca grossa); a

seta fina mostra a sutura de fixação da tela. (D) Região hipoecóica sob o

compósito (seta branca); vesícula biliar (VB)........................................................42

FIGURA 8 - Escores aplicados na avaliação das imagens obtidas durante

exames de videolaparoscopia; escore 0 = ausência de aderências; escore 1 =

aderência de omento; escore 2 = aderência de fígado; escore 3 = aderência de

fígado e omento....................................................................................................43

Page 14: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

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FIGURA 9 –. Fotomicrografias de fragmentos do tecido da parede abdominal de

suíno integrada aos monofilamentos da tela de polipropileno 28 dias após o

implante (HE, 200X e 400X). Tecido conjuntivo frouxo (TCF). Células gigantes de

corpo estranho (setas). Infiltrado mononuclear (MN). Região ocupada pelo

monofilamento da tela (PP)...................................................................................46

FIGURA 10 – Fotomicrografias de fragmentos do tecido da parede abdominal de

suíno aos 28 dias após a implantação do compósito (Coloração HE). (A) 100X,

(B) 200X e (C e D) 400X. Tecido conjuntivo frouxo (TCF). Infiltrado

Polimorfonuclear (PMN). Lacuna ocupada pelo compósito (LOC). Fragmentos do

filme de quitosana (Q)...........................................................................................46

FIGURA 11 - Fotomicrografias de tecidos dos grupos PQ e PP aos 28 dias após a

implantação dos biomateriais sobre luz polarizada. Coloração picrossírius com

aumento de 50X. A) Lâmina do grupo PQ. B) Lâmina do grupo PP. (Q)

Fragmentos do filme de quitosana. (PP) monofilamentos da tela de polipropileno.

(INF) Infiltrado inflamatório. (COL) Colágeno. .....................................................47

Page 15: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

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LISTA DE TABELAS

Capítulo 2

TABELA 1 – Contagem média dos elementos celulares sanguíneos avaliados no

grupo PP e PQ, 24 horas antes da cirurgia (M0), aos dois e sete dias após a

cirurgia (M2, M7). Goiânia, 2013...........................................................................21

TABELA 2 – Dosagem em valores médios de proteínas sanguíneas avaliadas no

grupo PP e PQ, 24 horas antes da cirurgia (M0), aos dois e sete dias após a

cirurgia (M2, M7). Goiânia, 2013...........................................................................22

Capítulo 3

TABELA 1 - Média de peso dos suínos, realizados no grupo PP e PQ no início do

experimento (M0) e 28 dias após no final (M28). Goiânia, 2013. ........................41

TABELA 2 – Resultados da comparação de escores para avaliação

videolaparoscópica das aderências no grupo PP e PQ, aos 28 dias após o

implante intraperitonial do compósito polipropileno-filme à base de quitosana e da

tela de polipropileno. Goiânia, 2013......................................................................44

TABELA 3 – Resultado da comparação de escores para determinação do grau de

inflamação provocado pelo implante do biomaterial nos grupos polipropileno (PP)

e compósito polipropileno-filme à base de quitosana PQ em suínos. Goiânia,

2013.......................................................................................................................44

TABELA 4 - Resultado da comparação de escores para avaliação da qualidade

do colágeno, realizada no grupo PP e PQ, aos 28 dias após implante

intraperitonial do compósito polipropileno-filme à base de quitosana e da tela de

polipropileno Goiânia, 2013...................................................................................45

Page 16: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

xvi

LISTA DE QUADROS

Capítulo 3

QUADRO 1 - Escores para classificação das aderências peritoneais em suínos,

com escala de pontuação para extensão e gravidade das aderências. Goiânia,

2013.......................................................................................................................38

QUADRO 2 – Escores para determinação do grau de inflamação provocado pelo

implante do compósito polipropileno-filme à base de quitosana e da tela de

polipropileno, em suínos. Goiânia, 2013. .............................................................39

QUADRO 3 - Escores para avaliação do colágeno na região do implante junto ao

compósito polipropileno-filme à base de quitosana e da tela de polipropileno, em

suínos. Goiânia, 2013...........................................................................................39

Page 17: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

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LISTA DE ABREVIATURAS

COEP Comitê de Ética em Pesquisa da UFG

C3a e C5a Complemento

EDTA Etilenodiaminotetracético

PDGF Fator de crescimento plaquetário

IGF-1 Fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1

TNF-α Fator de necrose tumoral alfa

TGF-β Fatores de crescimento transformante beta

Ig M Imunoglobulinas M

IFN-γ Interferon gama

IL-1, 2, 4, 5, 6, 9, 10 e 13 Interleucinas

Th1, Th2 Linfócitos T helper 1 e 2

MEC Matriz extracelular

MPA Medicação pré-anestésica

mg Miligramas

mg/kg Miligramas por quilograma de peso corporal

mL Mililitros

mm Milímetros

mmHg Milímetros de mercúrio

M2 Momento 1

M7 Momento 2

M0 Momento inicial

PMN Polimorfonucleares

PP Polipropileno

PQ Polipropileno-Quitosana

PCR Proteína C-reativa

MCP-1 Proteína quimiotáxica de monócitos tipo 1

kg Quilogramas

2QM Solução de quitosana com dobro de massa molar

UI Unidades internacionais

Page 18: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

xviii

RESUMO

Defeitos de parede abdominal podem requerer a reconstrução anatômica e

funcional, o que normalmente é conseguido com emprego de telas. Entretanto,

esses materiais podem desencadear a formação de aderências. Para minimizar,

ou impedir, esse processo uma das faces da tela pode ser revestida por um

produto que se interponha entre este material e o peritônio visceral. O presente

estudo avaliou a resposta sistêmica e tecidual ao implante do compósito tela de

polipropileno-filme à base de quitosana 2QM (grupo PQ), comparado à promovida

pela tela de polipropileno isolada (grupo PP), implantada intraperitonialmente na

cavidade abdominal de suínos. Após 28 dias procedeu-se a avaliação por

ultrassonografia, videolaparoscopia e não se observou diferença significativa

entre os dois grupos de animais com relação à formação de aderências (P >

0,05). As reações sistêmicas foram avaliadas por meio da contagem de

leucócitos, dosagem de proteína C-reativa, proteínas totais séricas, albumina e

globulinas, que também não mostraram diferença significativa entre os grupos (P1

> 0,05). A resposta sistêmica ao compósito foi proporcional à resposta promovida

pela tela de polipropileno. Entretanto, a resposta inflamatória tecidual foi maior no

grupo PP (P = 0,0033). Os polimorfonucleares apresentaram-se estatisticamente

aumentados na região do implante no grupo PQ (P = 0,0068). O colágeno tipo I e

o colágeno total predominaram nas regiões de implante do grupo PP (P = 0,0154

e P = 0,0037 respectivamente). Concluiu-se que o compósito tela de

polipropileno-filme à base de quitosana não promoveu resposta sistêmica nos

animais, mas a resposta inflamatória tecidual foi representada por um influxo

tardio de polimornucleares. Pode-se inferir que a elevada espessura do filme à

base de quitosana e seu longo tempo de degradação in vivo (>28 dias) foram

fatores que dificultaram a incorporação do compósito no tecido receptor.

Palavras-chave: Quitosana, Peritônio, Colágeno, Ultrassonografia,

Laparoscopia.

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xix

ABSTRACT

Abdominal wall defects may require anatomical and functional reconstruction,

what is usually achieved with the use of meshes. However these materials can

trigger the formation of adhesions. To minimize or abolish this process one side of

the mesh can be coated with a product that stands between this material and the

visceral peritoneum forming a composite. The present study evaluated the

systemic and tissue response to the implantation of composite polypropylene

mesh-based film of chitosan 2QM (PQ group), compared to promoted by

polypropylene mesh alone (group PP), intraperitoneally implanted in the

abdominal cavity of pigs. After 28 days evaluation was performed by

ultrasonography and video-laparoscopy. No significant difference was observed

between the two groups of animals with respect to the formation of adhesions (P>

0.05). Systemic reactions were evaluated by means of the leukocyte count, C-

reactive protein dosage, seric total protein, albumin and globulins which also

showed no significant difference between groups (P1> 0.05). The systemic

response was proportional to the composite response promoted by polypropylene

mesh. However, the tissue inflammatory response was higher in the PP group (P =

0.0033). The number of polymorphonuclear cells increased statistically in the

region of the implant in PQ group (P = 0.0068). Type I collagen and total collagen

predominated in the implant regions in PP group (P = 0.0154 and P = 0.0037

respectively). It was concluded that the composite polypropylene mesh-chitosan

based film has not promoted systemic response in animals, but the tissue

inflammatory response was represented by a slow influx of polimornucleares. It

can be inferred that the thickness of the chitosan based film was a factor that

hindered the incorporation the composite by tissue receptor along with the slow

degradation of the polysaccharide in vivo.

Keywords: Chitosan, Peritoneum, Collagen, Ultrasonography, Laparoscopy.

Page 20: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

CAPITULO 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Defeitos da parede abdominal nas diferentes espécies devem ser

corrigidos preferencialmente por meio da aproximação dos planos lesados,

entretanto, esta abordagem pode, dependendo da quantidade de tecido incluído

nos planos de síntese, promover hipertensão abdominal e tensão sobre as linhas

de sutura (MELO, 2011). Nesses casos há necessidade de utilização de telas sem

distorção excessiva da anatomia normal (LICHTENSTEIN et al., 1989). As telas

cirúrgicas comumente utilizadas para reconstrução da parede abdominal, apesar

de ser largamente aceitas pela comunidade cirúrgica, não são isentas da

promoção de alterações teciduais, e a resolução deste problema tem sido alvo de

estudos que visa projetar, controlar e direcionar suas propriedades para uma

resposta biológica específica e modulada (MITRAGOTRI & LAHANN, 2009).

Todo material usado para substituir ou restaurar uma função do

organismo, ficando continuamente ou intermitentemente em contato com os

fluidos corpóreos, é considerado um biomaterial. Deve ser biocompatível, não

despertar respostas adversas nos tecidos, nem sofrer desgastes significativos

decorrentes desta interação. Adicionalmente, esses materiais não podem ser

tóxicos nem carcinogênicos e suas propriedades físicas e mecânicas deverão ser

compatíveis com as dos tecidos onde serão implantados (AGRAWAL, 1998).

Biomateriais derivados de elementos naturais ocupam um lugar de destaque nas

pesquisas biomédicas, já que muitos têm atendido as exigências necessárias

para seu bom desempenho in vivo (LANGER & TIRRELL, 2004). Neste sentido,

pesquisas vêm sendo conduzidas para elaboração de materiais que possam

atender às condições necessárias para sua implantação na cavidade peritonial

(MARTÍN-CARTES et al., 2006).

As próteses, quando implantadas na parede abdominal, normalmente

despertam uma reação inflamatória previsível que evolui para uma fibrose, o que

auxilia na sua incorporação aos tecidos subjacentes. A implantação das próteses

promove então, um suporte mecânico para a parede e permite a formação de um

neoperitônio sobre o material (BELLÓN et al., 2001). Para minimizar ou impedir a

formação de aderências ao implante intraperitonial de telas de polipropileno, uma

Page 21: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

2

das faces da tela pode ser revestida por um produto entre a mesma e o peritônio

visceral. Estes materiais, formados pela associação da tela a outro biopolímero,

são conhecidos como compósitos. A camada adicional atuará então como

sistema de barreira, combinando a força da tela com a ação anti-adesiva do

revestimento (BELLÓN et al., 2001; ZHOU et al. 2007).

Tendo em vista a relevante importância dos biomateriais, das

alterações nos tecidos biológicos e das reações sistêmicas, elaborou-se esse

estudo tendo como material a quitosana que vem revelando-se promissora nas

pesquisas biomédicas. Portanto, os objetivos desse trabalho foram avaliar as

reações sistêmicas agudas e teciduais, bem como, a ocorrência e a extensão de

aderências induzidas pelo compósito tela de polipropileno-filme à base de

quitosana, implantado intraperitonialmente em suínos. Para tanto, foram

analisados os resultados das análises laboratoriais de proteínas C-reativa,

proteínas totais séricas, dosagem de albumina e globulinas e o leucograma;

respostas clínicas pós-implante dos biomateriais; a ultrassonografia no

diagnóstico das reações teciduais e aderências peritoniais; as imagens

videolaparoscopicas da cavidade peritoneal e as reações teciduais induzidas e

avaliadas por meio de microscopia óptica.

1 Aspectos gerais do peritônio

O peritônio é uma membrana originada do mesoderma embrionário e

reveste toda a cavidade abdominal e parte da cavidade pélvica (CROWE &

BJORLING, 1998). É recoberto pelo mesotélio, que se desenvolve entre oito e

dezoito dias de gestação, dependendo da espécie, diferenciando-se de células

cuboides para células alongadas e achatadas presentes ao longo da cavidade

celômica (MUTSAERS, 2002). Esta membrana é a maior serosa do corpo, com

uma área de superfície equivalente à da pele. É responsável pela secreção do

fluido peritonial e proteção visceral. Estruturalmente, o peritônio é constituído por

uma monocamada celular mesotelial, que repousa sobre uma membrana basal

formada por matriz extracelular (MEC), na qual, estão presentes os vasos

sanguíneos e linfáticos. As células mesoteliais possuem núcleos grandes,

Page 22: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

3

proeminentes e ocupam quase todo citoplasma (CHEONG et al., 2001; DURON,

2004; VAN DER WALT & JEEKEL, 2007).

A parede abdominal é recoberta pelo folheto parietal, contudo, os

órgãos abdominais e parte dos pélvicos são revestidos pelo folheto visceral do

peritônio. O espaço formado entre os dois folhetos constitui a cavidade peritonial.

A inervação do peritônio parietal é constituída pelos nervos espinhais, intercostais

e lombares. Os nervos frênicos inervam a lâmina diafragmática, e o nervo

obturador o restante do folheto parietal. A vascularização do peritônio parietal é

representada pelos vasos oriundos da parede abdominal e também pela artéria e

veia mesentérica (CROWE & BJORLING, 1998).

O peritônio é considerado um componente importante do sistema

imune. Para se defender de agressões de diversas naturezas, como por exemplo,

a manipulação cirúrgica, com ou sem implante de um material. Essa membrana

responde por meio de quatro mecanismos: bomba diafragmática (MUTSAERS,

2002; DURON, 2004; SAMMOUR et al., 2010), sistema imune inato

(BROKELMAN et al., 2011), sistema imune específico e formação de abscesso

(SAMMOUR et al., 2010).

2 Aderências peritoniais

As aderências peritoniais são conhecidas há, pelo menos, 1500 anos.

Foram referenciadas em 440 d.C., no entanto, existem indícios de que os antigos

egípcios, conhecidos pelos seus relatos detalhados de anatomia humana, já

haviam descrito a presença de aderências pélvicas alguns séculos antes

(WERNER et al., 2009). Estima-se que na espécie humana as aderências

peritoniais sejam responsáveis por 75% das obstruções do intestino delgado, e

podem levar a um risco de mortalidade de 10% nas complicações mais graves,

quando não diagnosticadas e tratadas rapidamente (SAMMOUR et al., 2010).

Segundo SHAIN et al. (2007), após procedimentos cirúrgicos abdominais, cerca

de 3 a 8% dos pacientes, em determinado momento da vida, apresentarão

obstrução mecânica intestinal.

A abertura cirúrgica da cavidade abdominal em procedimentos gerais

urológicos e ginecológicos pode provocar aderências em 95% dos pacientes.

Page 23: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

4

Estas complicações são consideradas as causas mais importantes de dor

abdominal crônica, obstrução intestinal e infertilidade (DURON, 2007). Os custos

do seu diagnóstico e tratamento são elevados (DUBCENCO et al., 2009).

Considerando os riscos de mortalidade, justifica-se a busca constante por

mecanismos e materiais que previnam a formação das aderências (SAMMOUR et

al., 2010).

Embora existam várias descrições relativas às aderências peritoniais

na espécie humana, o mesmo não ocorre com relação as diferentes espécies

animais, com exceção dos equinos e dos animais de laboratório. Na espécie

equina, quando são realizados procedimentos cirúrgicos do intestino delgado, o

índice de aderências peritoniais pode variar de 14% a 22%, sendo esta a causa

mais comum de dor recorrente, e a segunda causa de celiotomias repetidas. Ao

incluir todas as cirurgias abdominais nessa espécie, a incidência de aderências

está próxima de 5% (WERNER et al., 2009). Porém, a verdadeira prevalência

nessa espécie ainda é desconhecida (CALDWELL & MUELLER, 2010).

Independentemente da espécie abordada, as aderências são o

resultado de um desequilíbrio entre os processos de fibrinogênese e fibrinólise

(SULAIMAN et al., 2002). As lesões da membrana peritonial estão

frequentemente relacionadas às alterações estruturais do mesotélio, o que pode

às vezes, resultar no impedimento do processo de reparo peritonial normal. As

reações inflamatórias, isquemia tecidual, infecções, reações a corpos estranhos,

dentre outros, podem levar a maior liberação de citocinas, o que, associadas ao

atrito entre as vísceras, facilitam ainda mais a perda da cobertura mesotelial

(BITTINGER et al. 1999; STADLMAN et al., 2006). O resultado são os processos

mórbidos citados anteriormente. Para RIESE et al. (2004), as células mesoteliais

em homeostase apresentam uma taxa de mitose geralmente constante, próxima

de 0,5%. Quando o peritônio é lesado, essa porcentagem aumenta para 30% e

pode chegar a 60%. As células mesoteliais são estimuladas pelo aumento dos

níveis de fatores de crescimento, que possuem papel importante na recuperação

peritonial (VAN DER WALT & JEEKEL, 2007).

Todos os mediadores químicos originados por elementos celulares, no

sitio da lesão e presentes no fluido peritoneal, apresentam um papel importante

na recuperação do peritônio após o trauma (KAMEL, 2010). O fator de

Page 24: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

5

crescimento transformante β (TGF β) também é um representante desses fatores.

É capaz de regular a resposta de outras células e estimular os fibroblastos a

sintetizarem proteínas como o colágeno, fibronectina e integrinas. Em

contrapartida, provoca a diminuição da produção de colagenases e heparinases,

cuja função é degradar a matriz extracelular, promovendo acúmulo de tecido

conjuntivo no local da lesão. O TGF β também é considerado um estimulador da

formação de aderências peritoniais (BROKELMAN et al., 2011).

Na presença de um trauma, o peritônio sofre um aumento da

permeabilidade capilar mediado por histamina, com exsudação inflamatória e

deposição de fibrina. As células polimorfonucleares (PMN) são as primeiras a

aparecer no local da lesão e permanecem por um a dois dias em níveis elevados.

A migração dos monócitos através da monocamada mesotelial ao sítio da lesão, é

mais tardia, eles aderem à superfície e se diferenciam em macrófagos. Após três

dias começam a ser recobertos pelo mesotélio, e ficam então, mais profundos.

Normalmente, a matriz de fibrina interconecta as duas membranas peritoniais. A

atividade fibrinolítica é suprimida e como resultado, ocorre à persistência de feixes

de fibrina posteriormente infiltrados por fibroblastos, que, organizarão as

aderências identificáveis clinicamente (CHEONG et al., 2001; DIZEREGA &

CAMPEAU, 2001).

3 Telas de polipropileno

A tela de polipropileno é considerada um biomaterial clássico para

reconstrução da parede abdominal, mas vem sofrendo modificações com o

objetivo de aprimorar o seu arranjo espacial, especialmente no que se refere ao

tamanho dos seus poros, e, consequentemente, reduzir a reação de corpo

estranho e a posterior formação de fibrose. Dessa maneira, se possibilitaria maior

conforto, melhor flexibilidade e mobilidade da parede abdominal (BELLÓN et al.,

2007). A reestruturação espacial das telas se iniciou com o desenvolvimento em

1998 de telas com grandes poros, estabelecendo-se o conceito de telas de baixa

gramatura, que possuem poros maior que 1mm, reduzindo assim as

complicações clínicas decorrentes do processo inflamatório (JUNGE et al., 2012).

Page 25: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

6

Sabendo-se que o desenvolvimento das aderências é decorrente

também do atrito entre superfícies peritoniais lesadas, nas quais há deposição de

fibrina que culmina na união destas superfícies, tem-se proposto a colocação de

um material degradável ou não degradável entre estas. É conhecido como

sistema de barreiras (BELLÓN et al., 2005). Telas com dupla camada também

tem sido desenvolvidas para inibir a formação de aderências viscerais às telas,

quando estas são posicionadas intraperitonialmente (MUYSOMS et al., 2011).

A divulgação do uso das telas cirúrgicas foi estimulada pelas

publicações de Usher (1958) e 30 anos depois pela popularização do seu uso por

Lichtenstein. A reparação dos defeitos de parede abdominal com a utilização de

telas tornou-se então padrão na maioria dos países, é amplamente aceita como

superior em comparação com a reparação realizada por meio de sutura primária.

O resultado desse fato é que tem ocorrido um rápido aumento da variedade de

telas disponíveis no mercado (BROWN & FINCH, 2010). O objetivo principal da

implantação de telas na parede abdominal é promover um reforço desta, e reduzir

os riscos de recidiva do processo original.

4 Quitina/Quitosana

Em 1811, o francês Henri Braconnot estudando cogumelos descobriu

um polímero que recebeu o nome de fungina, que mais tarde foi chamada de

quitina, quando Odier em 1823 conseguiu isolá-la do exoesqueleto de insetos. Em

1859, Rouget colocou a quitina em ebulição com hidróxido de potássio,

desacetilando-a e, dessa forma, sintetizou a quitosana. A quitina pode ser

encontrada em fontes naturais e abundantes como os crustáceos, insetos algas

verdes, leveduras e fungos (CRAVEIRO et al., 1999). A quitina é a segunda fibra

mais abundante na natureza e sua estrutura química é semelhante à da celulose

(LAN et al., 2011).

A quitina e a quitosana são materiais pesquisados com muita

frequência na Ásia, desde os anos 60. O principal objetivo dos estudos é melhor

entender essas fibras quanto aos seus métodos de produção, purificação e sua

química de derivações e aplicações (KHOR & LIM, 2003). A quitosana, por

definição, é um mucopolissacarídeo N-desacetilado derivado da quitina. Tem sido

Page 26: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

7

considerada como uma fibra natural com alto potencial de aproveitamento

biomédico devido a sua biocompatibilidade, biodegradabilidade e não toxicidade,

diferentemente dos polímeros de origem sintética, que apresentam propriedades

limitadas, por isso, a importância das pesquisas relacionadas a este biomaterial

(KUMAR, 2000; LAN et al., 2011).

5 Ultrassonografia

A determinação da topografia dos músculos e bainhas que compõem a

parede abdominal, para fins de localização de pontos ideais destinados para

anestesia loco-regional, é realizada frequentemente por meio do exame de

ultrassonografia em seres humanos (MOKINI et al. 2011; HERRING et al. 2012).

Esse exame também é bastante usado na rotina cirúrgica com o intuito de avaliar

as estruturas da parede abdominal, bem como, a ocorrência de aderências pré e

pós-cirúrgicas na cavidade peritonial (SIGEL et al., 1991). Os defeitos de parede

abdominal, corrigidos com telas e avaliados pela ultrassonografia, podem fornecer

informações importantes sobre o delineamento anatômico desse material, após o

implante, e possíveis complicações esperadas da sua utilização. Esse fato

propicia ao cirurgião uma melhor avaliação pós-operatória e uma decisão mais

rápida em caso de necessidade de nova intervenção (JAMADAR et al., 2008).

6 Videolaparoscopia

Na Medicina Veterinária, a laparoscopia exploratória é realizada quando os

resultados podem evitar a laparotomia desnecessária ou mudar o curso do

tratamento de enfermidades, que acometem a cavidade peritonial. Um dos

benefícios principais dessa técnica é a visibilização de alterações dos tecidos, o

que ajuda no diagnóstico de doenças insuspeitas da cavidade peritonial por

outros exames (FREEMAN, 2009). Essa técnica é facilitada pela distensão da

parede abdominal com gás CO2, seguida da colocação de um endoscópio rígido

através de uma cânula previamente colocada. Para biópsias ou outros

procedimentos, os instrumentos são passados para a cavidade, através de portais

adjacentes. A videolaparoscopia possui um grau de invasão mínimo e uma boa

Page 27: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

8

precisão diagnóstica, aliados à rápida execução das manobras (ROTHUIZEN &

TWEDT, 2009). Na maioria dos procedimentos, vários órgãos podem ser

acessados, simultâneamente, com um pequeno número de portais, normalmente,

dois ou três (MAYHEW, 2009).

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Page 32: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

13

CAPÍTULO 2 – Resposta sistêmica aguda ao implante intraperitonial do

compósito tela de polipropileno-filme à base de quitosana em suínos

RESUMO

A resposta sistêmica causada pela lesão tecidual é bem reconhecida por uma

série de reações humorais e celulares conhecidas coletivamente como resposta

inflamatória aguda. Os eventos que caracterizam essa resposta são leucocitose,

aumento da permeabilidade capilar, aumento nos níveis sanguíneos de proteínas

produzidas pelo fígado, mudanças nas concentrações de esteroides e minerais

além de febre. A magnitude da resposta inflamatória de fase aguda a lesão

cirúrgica é um importante fator para avaliação do estresse cirúrgico o qual pode

ser determinado pelas medidas dos níveis séricos de citocinas e proteínas de fase

aguda (PFA). Sabendo-se que polímeros naturais, como a quitosana, podem ser

utilizados como revestimentos para biomateriais usados na reconstrução da

parede abdominal, objetivou-se no presente estudo avaliar e comparar a resposta

sistêmica aguda ao implante em suínos do compósito tela de polipropileno-filme à

base de quitosana à tela de polipropileno isolada. Doze suínos foram divididos

aleatoriamente em dois grupos (n=6). Um grupo recebeu o implante

intraperitoneal de tela de polipropileno (PP), e o outro recebeu o implante

intraperitoneal do compósito de polipropileno-filme à base de quitosana (PQ). As

alterações sistêmicas foram avaliadas aos dois dias e sete dias pós-implante, por

meio da contagem de leucócitos, proteína C-reativa, proteínas totais séricas e

dosagem de albumina e globulinas. Como resultado não se observou diferença

significativa entre os grupos (P1 > 0,05). Conclui-se que a resposta sistêmica ao

compósito tela de polipropileno-quitosana foi similar à resposta promovida pela

tela de polipropileno de alta gramatura, o que caracterizou a biocompatibilidade

sistêmica da quitosana nas circunstâncias avaliadas.

Palavras-chave: Quitosana, Leucócitos, Resposta de fase aguda.

Page 33: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

14

ABSTRACT

The systemic response caused by tissue lesion is well recognized by a number of

humoral and cellular responses collectively known as acute inflammatory

response. The events that characterize this response are leukocytosis, increased

capillary permeability, increased blood levels of proteins produced in the liver,

changes in the concentrations of steroids and minerals, in addition to fever. The

magnitude of the acute phase inflammatory response to surgical lesion is an

important factor for evaluation of surgical stress which can be determined by

measurements of serum levels of cytokines and acute phase proteins (APP).

Knowing that natural polymers such as chitosan can be used as coatings for

biomaterials used in abdominal wall reconstruction, the aim of the present study

was to evaluate and compare the acute systemic response to the implantation in

pigs of the composite polypropylene mesh-chitosan based film to isolated

polypropylene mesh. Twelve pigs were randomly divided into two groups (n = 6).

One group received intraperitoneal implantation of polypropylene mesh (PP), and

the other group received intraperitoneal implantation of composite polypropylene-

based film of chitosan (PQ). The systemic changes were evaluated at two days

and seven days post-implantation by means of leukocyte counts, C-reactive

protein, seric total protein and albumin and globulins dosage As a result there was

no significant difference between groups (P1> 0.05). We conclude that the

systemic response of the composite polypropylene mesh-chitosan was similar to

the response promoted by a thick isolated polypropylene mesh, which

characterized the biocompatibility of chitosan on the systemic conditions

evaluated.

Keywords: Chitosan, leukocytes, acute phase response.

Page 34: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

15

INTRODUÇÃO

Alterações sistêmicas marcadas por leucocitose, aumento da

permeabilidade capilar, aumento nos níveis sanguíneos de proteínas produzidas

pelo fígado, mudanças nas concentrações de esteroides e de minerais além de

febre, há muito tempo já são conhecidas como respostas sistêmicas quando um

tecido é lesado ou agredido, seja por traumas ou infecções (GAULDIE et

al.,1987).

A produção de materiais prostéticos biocompatíveis tem contribuído

para o aumento do seu uso no reparo de hérnias da parede abdominal. A

avaliação laboratorial da resposta inflamatória ao trauma operatório objetivamente

determina a magnitude do estresse promovido pelo procedimento cirúrgico. A

resposta inflamatória é geralmente estimulada por um grupo de proteínas

denominadas citocinas (GURLEYIK et al., 1998).

Os mediadores químicos na fase aguda iniciam o processo de

recuperação tecidual sendo representados pela IL-8, proteína quimiotáxica de

monócitos tipo 1 (MCP-1), as citocinas TNF-α, IL 1-β, IL-6 fatores de crescimento

transformante beta (TGF-β), fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1

(IGF-1) e fator de crescimento plaquetário (PDGF) (DIZEREGA, 1997; VAN DER

WAL & JEEKEL, 2007). Os fatores de crescimento, juntamente com as citocinas,

estimulam o fígado a produzir proteínas que irão aumentar em concentração na

corrente sanguínea, conhecidas como proteínas de fase aguda positiva

(PETERSEN et al., 2004). A proteína C-reativa geralmente aparece aumentada

durante o curso de um processo inflamatório. Como uma proteína de fase aguda,

primariamente sintetizada pelo fígado, fica reservada no sistema de retículo

endoplasmático dos hepatócitos. Quando ocorre o estímulo para síntese da

mesma, a ligação dessa proteína com o retículo endoplasmático fica diminuída, o

que reflete no seu aumento sanguíneo (DU CLOS & MOLD, 2004).

A proteína C-reativa interage com receptores das células fagocitárias

para mediar a fagocitose e induzir a produção de citocinas anti-inflamatórias, bem

como inibir a quimiotaxia das células polimorfonucleares (MURATA, et. al., 2004).

Após o trauma, estas células são as primeiras a aparecer no local da lesão e

Page 35: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

16

permanecem por um a dois dias em níveis elevados. A migração dos monócitos

através da monocamada mesotelial e ao sítio da lesão é mais tardia (CHEONG et

al., 2001; DIZEREGA & CAMPEAU, 2001).

Agentes bioativos têm sido propostos com objetivo de proteger a tela

da ação do sistema imune inato, modular a fibrose local em pacientes com

deficiência de síntese de matriz extracelular e prevenir de infecções a tela.

Polímeros naturais, como a quitosana, são estudados com esse intuito. São

macromoléculas consideradas imunogênicas, que podem ser reconhecidas e

metabolizadas pelo hospedeiro (JUNGE et al., 2012).

As respostas imunogênicas desencadeadas por estresse, infecções,

inflamações e traumas cirúrgicos podem ser monitoradas por meio de dosagens e

observação de proteínas específicas produzidas pelo fígado (proteínas de fase

aguda positiva). As concentrações presentes na circulação sanguínea aumentam

de forma proporcional à gravidade, desordem, e extensão dos estímulos. As

dosagens de algumas proteínas podem fornecer importantes informações de

diagnóstico e prognóstico no tratamento de doenças (MURATA et al., 2004;

PETERSEN et al., 2004). A dosagem de proteína C-reativa é considera um

importante exame na avaliação das respostas inflamatórias sistêmicas e, também,

como biomarcador de inflamação para a espécie suína (MURATA et al., 2004;

ECKERSALL & BELL, 2010).

O objetivo desse estudo foi avaliar e comparar a resposta sistêmica

aguda ao implante do compósito tela de polipropileno-filme à base de quitosana à

tela de polipropileno.

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFG –

COEP, sob o número 208/2011. Foram utilizados 12 suínos machos híbridos

comerciais e hígidos, com peso médio inicial de 16,25 kg ± 2,34 kg, oriundos do

setor de suinocultura da Escola de Veterinária e Zootecnia, da Universidade

Federal de Goiás. Os animais foram identificados com números nas orelhas,

conforme o sistema de marcação australiano. Foram alocados em baias de

alvenaria, recebendo água potável e ração comercial ad libitum (Ração

Page 36: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

17

Performance Porco®, Boiforte Produtos Agropecuários LTDA, Hidrolândia - GO).

O período de adaptação e monitoramento clínico após a chegada dos suínos foi

de sete dias. Todos foram pesados ao início do experimento.

Para avaliar e comparar a resposta sistêmica aguda ao implante do

compósito tela de polipropileno filme à base de quitosana os suínos foram

alocados aleatoriamente em dois grupos, cada um com seis animais. O grupo que

recebeu o implante intraperitoneal de tela de polipropileno foi denominado PP, e o

grupo que recebeu o implante intraperitoneal do compósito de polipropileno-filme

à base de quitosana foi chamado de PQ.

As telas cirúrgicas de polipropileno com espessura de 0,45 mm e poros

de 0,5 mm2 (Intracorp®, Venkuri indústria de produtos médicos, São Paulo - SP)

foram recortadas no momento da aplicação no tamanho de 4 cm x 4 cm (Figura

1A). Os compósitos de mesmo tamanho foram preparados a partir das mesmas

telas de polipropileno, revestidas de um filme espesso (2QM) de quitosana, com

grau de 95% de desacetilação, que recobriu somente uma face da tela, por meio

da técnica de imersão (Figura 1B), conforme descrito por RAMMAZZINA FILHO

(2011). Os compósitos foram desenvolvidos no Laboratório de Engenharia de

Biorreações e Colóides da Faculdade de Engenharia Química da Universidade

Estadual de Campinas, São Paulo. A esterilização do compósito foi por exposição

a óxido de etileno (ACECIL- Central de esterilização comércio e indústria LTDA,

Campinas - SP).

FIGURA 1 - (A) Tela cirúrgica de polipropileno. (B) Compósito tela de

polipropileno-filme à base de quitosana.

Page 37: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

18

Antes da implantação na parede abdominal, as telas de polipropileno e

os compósitos foram imersos em solução de ringer durante trinta minutos (Ringer

500 ml blowpack®, Halex Istar, Goiânia-GO).

Os animais foram submetidos ao protocolo anestésico, que consistiu de

medicação pré-anestésica (MPA) por dose única da associação cetamina 10

mg/kg (Ketamina Agener 10%®, Agener União-Saúde animal, Embu Guaçu-SP),

azaperone 3mg/kg (Destress® , DES-FAR Laboratórios LTDA, São Paulo-SP) e

midazolam 0,5 mg/kg (Dormonid injetável®, Roche, São Paulo-SP), por via

intramuscular profunda. Após o decúbito do animal, foi introduzido um cateter

intravenoso na veia auricular, para indução da anestesia geral com propofol

3mg/kg (Diprivan®, AstraZeneca, Cotia–SP) e posterior intubação orotraqueal. A

anestesia foi mantida pela administração de isofluorano (Isofluorano®, Instituto

BioChimico e indústria Farmacêutica Ltda, Itatiaia-RJ) com fluxo diluente de

oxigênio de 30 ml/kg/min.

Todos os procedimentos cirúrgicos foram realizados pela mesma

equipe. Procedeu-se à laparotomia paramediana transversal direita, próxima da

cicatriz umbilical, com aproximadamente seis cm de comprimento. Foi realizada a

secção na seguinte ordem: pele, tecido subcutâneo, músculo oblíquo abdominal

externo, bainha externa e o corpo do músculo reto do abdômen e sua bainha

interna. Após a visualização do músculo transverso do abdome, criou-se um

defeito da parede abdominal por meio da excisão de um fragmento longitudinal

deste músculo. O peritônio parietal foi então incisado, permitindo a sua retração.

As telas foram fixadas às margens do defeito por sutura continua simples. No

grupo PQ, a face revestida pelo filme de quitosana ficou voltada para a cavidade

peritoneal. Os planos musculares e o tecido subcutâneo foram aproximados

também por meio de sutura padrão contínua simples. Todas as suturas foram

feitas com fio monofilamentado de polipropileno 2-0 (Figura 2).

A analgesia no período pós-operatório foi garantida pela aplicação

intramuscular de tramadol 2,0 mg/kg (Cloridrato de tramadol®, União Química

Farmacêutica, São Paulo, SP, Brasil), a cada oito horas, nas primeiras 24 horas, e

dipirona 25 mg/kg (Analgex V®, Agener União-Saude animal, Embu Guaçu-SP) a

cada 12 horas durante cinco dias. A antibioticoterapia foi realizada com a

aplicação de três doses de 20.000 UI de benzilpenicilina benzatina/kg de peso

Page 38: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

19

vivo (Benzetacil®, Eurofarma Laboratórios LTDA, São Paulo-SP), com intervalos

de 48 horas. A ferida cirúrgica foi limpa diariamente com solução salina 0,9%

(solução salina 0,9%®,Halex Istar, Goiânia-GO) e desinfetada com solução tópica

de iodo-povidona (Povidine®, Johnson & Johnson, São José dos Campos–SP) até

a completa cicatrização.

FIGURA 2 – Tela cirúrgica de polipropileno implantada

intraperitonialmente corrigindo defeito induzido experimentalmente na parede abdominal de suíno.

Os animais foram avaliados quanto a possível presença de alterações

como: vermelhidão, aumento de volume da região, exsudação e sensibilidade ao

toque por meio de inspeção visual e palpação até o final do experimento, para

verificação da presença de hematoma, seroma e infecção da ferida cirúrgica.

Parâmetros laboratoriais foram obtidos antes e após os procedimentos

cirúrgicos, em três momentos: 24 horas antes (momento zero - M0), dois dias

após a cirurgia (momento um – M2) e sete dias após (momento dois – M7). Para

realização dos exames, amostras de sangue foram colhidas da veia jugular

externa após antissepsia prévia e alocadas em tubos com anticoagulante EDTA e

sem anticoagulante (Vacuette®, Greiner Bio-One Brasil, Americana–SP). Para o

leucograma utilizou-se 3ml de sangue, que foram processados em analisador

hematológico automático veterinário (ABC VET®, ABX Diagnostics, Montpellier -

França). Processou-se ainda, a leitura morfológica diferencial dos leucócitos, por

meio de esfregaços de sangue, corados com corante rápido (Panóptico®,

Page 39: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

20

Laborclin, Pinhais-SP). Do sangue colhido sem anticoagulante, 4ml do soro foram

obtidos por centrifugação, necessários às análises bioquímicas.

Para a mensuração da proteína total sérica e albumina foram utilizados

os métodos colorimétricos de ponto final, utilizando a reação de biureto e a do

verdi bromocresol em meio ácido, respectivamente. A dosagem da proteína C-

reativa foi realizada pelo método de turbidimetria (PCR Turbilatex®, Biotécnica,

Varginha–MG). As análises bioquímicas foram realizadas em equipamento

bioquímico semiautomático (BIO-2000®, Bioplus-Brasil). Todas as amostras foram

processadas e analisadas no mesmo dia da colheita. Os valores basais obtidos

em M0 serviram de referência para comparação dos resultados de laboratório para

todos os animais.

Os dados foram analisados com auxílio do software livre R (R Core

Team, 2013) utilizando de ANOVA, seguido de múltiplos testes de comparação

com valores de P significantes, quando P < 0,05. Os valores de P1 indicam

comparações entre os tratamentos, já os valores de P2 comparações entre os

momentos.

RESULTADOS

O peso médio dos animais foi 16,25 kg, semelhante estatisticamente

entre os grupos (P = 0,1118).

No pós-operatório foi observado seroma nos primeiros 15 dias em

33,33% dos animais do grupo PP e 16,67% do grupo PQ. Infecção superficial da

ferida cirúrgica ocorreu em dois animais (33,33%) dos animais do grupo PP e em

três animais (50%) do grupo PQ.

Não houve diferença significativa entre o grupo PP e PQ na contagem

de leucócitos totais, bastonetes, neutrófilos, eosinófilos, linfócitos e monócitos (P1

> 0,05), exceto para os monócitos que variaram entre os momentos (P2 < 0,05)

conforme Tabela 1.

Page 40: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

21

TABELA 1 – Contagem média dos elementos celulares sanguíneos avaliados no

grupo PP e PQ, 24 horas antes da cirurgia (M0), aos dois e sete dias

após a cirurgia (M2, M7). Goiânia, 2013.

Variável

(mm3)

Momento

Grupos

P1

P2

PP PQ

Leucócitos

M0 11350 8800

0,2655

0,0610

M2 14567 11117

M7 12267 12433

Bastonetes

M0 386 376

0,5394

0,7663

M2 510 264

M7 271 365

Neutrófilos

M0 3500 3112

0,6769

0,0529

M2 5086 4256

M7 5598 5094

Eosinófilos

M0 120 105

0,3341

0,0700

M2 247 257

M7 198 319

Linfócitos

M0 6799 4952

0,0784

0,2246

M2 8033 5756

M7 5612 6044

Monócitos

M0 542 253

0,4014

0,0214*

M2 690 583

M7 587 610

* P < 0,05 - Estatisticamente significativos. Os valores de P1 indicam

comparações entre os tratamentos, os valores de P2 comparações

entre os momentos.

A dosagem da proteína C-reativa, assim como das proteínas séricas,

albumina e globulinas, dois e sete dias após o implante, não revelou variação

significativa entre os grupos (P1 > 0,05). Já a dosagem de proteínas séricas totais

e albumina mostrou diferença significativa entre os momentos (P2 < 0,05) esses

resultados são evidenciados na Tabela 2.

Page 41: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

22

TABELA 2 – Dosagem em valores médios de proteínas sanguíneas avaliadas no

grupo PP e PQ, 24 horas antes da cirurgia (M0), aos dois e sete dias

após a cirurgia (M2, M7). Goiânia, 2013.

Variável

Momentos

Grupos

P1

P2 PP PQ

Proteína C-reativa mg/L

M0 2,30 1,34

M2 2,06 2,31 0,5392 0,2071

M7 1,48 1,56

Proteínas Séricas g/dL

M0 4,90 4,97

0,8340

0,0483* M2 4,86 5,12

M7 5,59 5,33

Albumina

g/dL

M0 3,55 3,70

0,4283

0,0013* M2 3,26 3,70

M7 3,77 3,91

Globulinas

g/dL

M0 1,38 1,27

0,4268

0,1819 M2 1,61 1,42

M7 1,82 1.43

*P < 0,05 - Estatisticamente significativos. Os valores de P1 indicam comparações entre os tratamentos, os valores de P2 comparações entre os momentos.

DISCUSSÃO

A reação inflamatória local ao biomaterial pode ter sido responsável

pelo seroma na região do implante observado nos dois animais do grupo PP e em

um animal do grupo PQ nos primeiros dias do período pós-cirúrgico. Seroma que

não exigiu intervenção e cursando durante 15 dias até a resolução, também foi

um achado de OBER et al. (2008b); VILAR et al. (2009); VILAR et al. (2011)

quando implantaram telas de polipropileno para o reparo de defeitos de parede

abdominal em bovinos, equinos e caprinos respectivamente. A avaliação da

Page 42: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

23

biocompatibilidade de um implante construído pela engenharia de biomaterial

inclui a determinação da resposta sistêmica do hospedeiro aos componentes do

material, dos tecidos e a combinação dos dois. A duração e a intensidade das

reações são dependentes da extensão da lesão criada durante a implantação e

da composição química do biomaterial, dentre outras, influenciando o grau do

processo inflamatório local.

Apesar de ter ocorrido o processo inflamatório local, certamente este

não foi suficientemente intenso para refletir uma resposta sistêmica significativa

ao biomaterial implantado. Este resultado, conhecido como resposta inflamatória

aguda, foi reconhecido por GAULDIE et al. (1987) diferentemente da que foi

encontrado neste estudo, no qual os valores obtidos da dosagem de proteína C-

reativa, substância que aparece precocemente nos processos inflamatórios, não

aumentaram entre os momentos avaliados. Os achados com relação à reação

inflamatória sistêmica contrariam os de DI VITA et al. (2000) que consideram que

reparação abdominal com baixa tensão promovido pela utilização de telas pode

ser associada a um aumento dos mediadores inflamatórios nas primeiras 48

horas, provavelmente causado pela reação de corpo estranho.

Pode se inferir que no presente estudo o tamanho do defeito criado, em

relação ao porte dos animais, não foi suficiente para desencadear uma

leucocitose significativa nos dois grupos avaliados. A leucocitose foi um achado

após implante intraperitonial de telas, por DI VITA et al. (2000) e UZUNKOY et al.

(2000) em humanos, OBER et al. (2008a) em equinos, CHATZIMAVROUDIS et

al. (2008) em leporinos. O tamanho das telas testadas do presente experimento

foi o mesmo usado por MARTÌN- CARTES et al. (2006), que foi

proporcionalmente menor aos usados por esses autores. O tamanho da tela pode

ter contribuído para uma menor resposta sistêmica proporcional conforme

salientaram GAULDIE et. al. (1987). Essa ideia foi reforçada por GURLEYIK et al.

(1998) quando afirmaram que a magnitude da resposta inflamatória de fase aguda

é um importante fator para avaliar o grau de traumatismo de um procedimento

cirúrgico. O aumento nos marcadores da resposta inflamatória sistêmica está

associado a procedimentos cirúrgicos invasivos, que dependendo da extensão da

lesão, provocará a elevação do número dos leucócitos circulantes sanguíneos,

que nem sempre é acompanhado de processos infecciosos.

Page 43: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

24

Embora no presente estudo a resposta inflamatória local não tenha

sido avaliada, o aumento significativo dos monócitos circulantes, observados nos

dois grupos de animais nos momentos M2 e M7, representam um forte indicativo

de cronificação do processo inflamatório desencadeado pela implantação do

biomaterial. O comportamento sistêmico dessas células foi semelhante ao

relatado por CHEONG et al., (2001) e DIZEREGA & CAMPEAU, (2001) que

notaram o aumento dessas células até o sétimo dia da reparação peritonial, após

o trauma. Diferente resultado foi observado por DI VITA et al. (2000) quando

analisaram o comportamento sistêmico dos monócitos e linfócitos nas primeiras 6

e 24 horas após reparação de hérnia em humanos utilizando da técnica de baixa

tensão. As ativações dos macrófagos no sítio do implante em conjunto com a

proliferação dos fibroblastos determinam o início do processo de inflamação

crônica, necessário para o desencadeamento do mecanismo de incorporação dos

biomateriais.

Baseado no conceito de VASCONCELOS (2006) esperar-se-ia que a

espessura 2QM de 1,2 mm do filme à base de quitosana desencadeasse uma

resposta sistêmica e imunogênica mais acentuada no grupo PQ, como salientado

por JUNGE et al. (2012). No entanto, o evento não foi observado no presente

estudo, conforme demonstrou a comparação dos valores de todos os leucócitos e

a dosagem de proteína C-reativa entre os grupos. As propriedades físicas e

químicas dos biomateriais, sua topografia e forma são importantes para definir o

tipo, intensidade e a duração da resposta inflamatória.

A diminuição significativa esperada dos níveis da albumina, também

relatada por MURATA et al. (2004), PETERSEN et al. (2004) e CRAY et al.

(2009), refletiu uma resposta adequada dos animais. As proteínas de fase aguda

podem diminuir ou aumentar em respostas às alterações na homeostase. Agentes

pró-inflamatórios são liberados pelos macrófagos e outras células em respostas a

vários estímulos externos e internos. Esses estímulos promoverão a ativação dos

hepatócitos para síntese de proteínas de fase aguda positiva, concomitantemente,

ocorre a diminuição da síntese de proteínas de fase aguda negativa, como a

albumina, que é o constitutivo proteico plasmático mais abundante.

Page 44: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

25

CONCLUSÃO

A resposta sistêmica do compósito tela de polipropileno-filme à base de

quitosana foi similar a resposta promovida pela tela de polipropileno de alta

gramatura, o que caracterizou a biocompatibilidade sistêmica da quitosana nas

circunstâncias avaliadas.

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Page 47: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

28

CAPÍTULO 3 - Aderências e reações teciduais após implante intraperitonial

do compósito polipropileno-filme à base de quitosana e da tela de

polipropileno, na parede abdominal de suínos

RESUMO

Telas de polipropileno têm sido frequentemente relacionadas a complicações

como aderências, obstruções intestinais, formação de fístulas enterocutâneas. A

quitosana pode servir para evitar o contato direto da tela com peritônio visceral. O

objetivo desse estudo foi avaliar se o filme à base de quitosana apresentaria

potencial anti-adesiogênico em suínos, bem como se este material conseguiria

modular as respostas teciduais. Foram utilizados 12 suínos machos, divididos

aleatoriamente em dois grupos com seis animais; o grupo PP recebeu o implante

intraperitoneal de tela de polipropileno, e o grupo PQ recebeu o implante

intraperitoneal do compósito de polipropileno- filme à base de quitosana. Aos 28

dias pós-operatório, avaliações ultrassonográficas e vídeo-laparoscópicas foram

realizadas, seguidas de eutanásia e posterior colheita de material para avaliações

histológicas. A avaliação ultrassonográfica mostrou índice de acerto de 78,57%

em relação as imagens obtidas por videolaparoscopia no diagnóstico das

aderências. Não houve diferença significativa entre os dois grupos quanto à

formação aderências (P > 0,05). A resposta inflamatória total foi maior no grupo

PP comparada ao grupo PQ (P = 0,0033). As células polimorfonucleares

apresentaram-se estatisticamente aumentadas em número na região do implante

no grupo PQ (P = 0,0068). A observação do colágeno demonstrou discrepância

significativa entre os dois grupos (P = 0,0154 para o colágeno tipo I e P = 0,0037

para o colágeno total). Concluiu-se que o compósito tela de polipropileno-filme à

base de quitosana não preveniu totalmente a formação de aderências e a reação

tecidual não foi acompanhada de respostas de inflamação granulomatosa

característica da incorporação.

Palavras-chave: Quitosana, Telas cirúrgicas, Peritônio, Colágeno,

Ultrassonografia, Laparoscopia.

Page 48: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

29

ABSTRACT

A polypropylene mesh, despite being widely accepted in the surgical routine, has

often been related to complications such as adhesions, intestinal obstruction,

enterocutaneous fistula formation. This material has been improved in its physical

and chemical characteristics. Among the modifications, adding another biomaterial

as chitosan can serve to avoid direct contact of the screen with the visceral

peritoneum. The aim of this study was to evaluate whether the chitosan-based film

present anti-adherent potential as well if this material could modulate tissue

responses. Twelve male pigs randomly divided into two groups of six animals,

were used in the study. The PP group received intraperitoneal implantation of

polypropylene mesh, and the PQ group received intraperitoneal implantation of the

composite polypropylene-chitosan based film. At 28 days postoperative, video-

laparoscopic and ultrasonographic evaluations were performed, followed by

euthanasia and subsequent harvesting of material for histological evaluations. The

ultrasonographic evaluation showed success rate of 78.57% over the images

obtained by video-laparoscopy in the diagnosis of adhesions. There was no

significant difference between the two groups regarding adhesion formation (P>

0.05). The overall inflammatory response was higher in the PP group compared to

PQ group (P = 0.0033). Polymorphonuclear cells were statistically increased in

number the region of the implant in PQ group (P = 0.0068). The observation of

collagen showed significant discrepancy between the two groups (P = 0.0154 for

collagen type I and P = 0.0037 for total collagen). It was concluded that the

composite polypropylene mesh -chitosan based film did not prevented totally the

formation of adhesions and that tissue reaction was not accompanied by

granulomatous inflammation response characteristic of the embodiment.

Keywords: Chitosan, Surgical mesh, Peritoneum, Collagen,

Ultrasonography, Laparoscopy.

Page 49: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

30

INTRODUÇÃO

A busca pela restauração funcional de partes do corpo lesado por

traumas ou doenças tem sido alvo da espécie humana desde tempos remotos

(AGRAWAL, 1998). A medicina regenerativa tem como foco o desenvolvimento

de células, tecidos e órgãos para o propósito de restaurar funções do corpo por

meio de implantes (SALGADO et al., 2012). O grande desafio da engenharia de

tecidos é promover a substituição de tecidos vivos, que são resultados de milhões

de anos de evolução, por materiais que necessitam de ajustes de características

e propriedades que se adequem a este fim (HENCH, 2006).

A parede abdominal é uma parte do corpo que tem despertado

interesse de estudiosos de biomateriais, o que tem revolucionado a cirurgia para o

reparo de alguns defeitos, como as hérnias. O uso de biomateriais para correção

de defeitos de parede visa promover o seu reparo, sem tensão (MATTHEWS et

al., 2003).

A interface formada entre peritônio e um biomaterial usado para

reconstrução de parede abdominal é o objetivo das investigações a respeito do

desempenho do material prostético e visa minimizar as complicações pós-

cirúrgicas, especialmente as aderências (BELLON et al. 2007). Tais complicações

são exemplos que ocorrem com frequência quando se emprega telas na

reparação da parede abdominal, entretanto, esses materiais são largamente

usados na rotina cirúrgica, sendo o seu implante considerado padrão na maioria

dos países (BELLOWS et al., 2008; FODA & CARLSON, 2009; BROWN &

FINCH, 2010). As aderências ocorrem principalmente quando a tela é posicionada

intraperitonialmente (AMMATURO et al., 2010).

Após o trauma, o peritônio sofre um aumento da permeabilidade capilar

mediado por histamina, com exsudação inflamatória e deposição de fibrina. As

células polimorfonucleares (PMN) são as primeiras a aparecer no local da lesão e

lá permanecem por um a dois dias em níveis elevados. A migração dos

monócitos, através da monocamada mesotelial e ao sítio da lesão, é mais tardia.

Os monócitos aderem na superfície, diferenciam-se em macrófagos e após três

dias começam a ser encobertos pelo mesotélio, ficando então, mais profundos.

Page 50: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

31

Normalmente, a matriz de fibrina interconecta as duas membranas peritoniais. A

atividade fibrinolítica é suprimida e como resultado, ocorre a persistência de feixes

de fibrina, posteriormente infiltrados por fibroblastos, que organizarão as

aderências na forma que são identificadas clinicamente (CHEONG et al., 2001;

DIZEREGA & CAMPEAU, 2001)

Uma tela cirúrgica deve ser suficientemente incorporada ao tecido

hospedeiro para evitar a recorrência do defeito original e a migração da tela.

Contudo, é difícil combinar estes requisitos com apenas um tipo de material, uma

vez que algumas características que promovem a incorporação da tela também

induzem a formação de aderências (VAN’RIET et al. 2003). Mas as próteses de

compósitos têm como objetivo melhorar a interface com o peritônio visceral. O

compósito combina a ação de dois biomateriais com propriedades distintas. Um

geralmente é reticular, como as telas de polipropileno, cujos poros servem como

pontos para infiltração do tecido hospedeiro, o outro elemento entra em contato

com o peritônio visceral e ajuda na modulação da reação nesse sítio (BELLÓN et

al., 2005).

A quitosana tem despertado interesse no estudo da prevenção de

aderências, conforme relatado por PAULO et al. (2009), e cicatrização de feridas

(JAYKUMAR et al., 2011). A quitosana é um polissacarídeo produzido pela

desacetilação da quitina, que por sua vez é o principal componente do

exoesqueleto de artrópodes. Suas propriedades gerais incluem

biocompatibilidade, biodegradabilidade, baixa toxicidade, atividade

antimicrobiana, facilidade de processamento, baixo custo e possibilidade de

esterilização (ZHOU et al., 2007; SALGADO et al., 2012). Graças à sua

aplicabilidade em dispositivos de uso médico, filmes derivados desta fibra têm

sido usados (ZHOU et al., 2007). A quitosana apresenta ainda a vantagem de ser

reconhecida e metabolizada pelo ambiente biológico devido a sua similaridade

com outras macromoléculas reconhecidas e metabolizadas pelo organismo

(JUNGE et. al., 2012).

O objetivo deste estudo foi avaliar a ocorrência e a morbidade das

aderências e respostas teciduais, induzidas pelo compósito tela de polipropileno-

filme à base de quitosana, implantado intraperitonialmente em suínos.

Page 51: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

32

Estabelecer a correlação entre os resultados obtidos do exame de

ultrassonografia e de videolaparoscopia.

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFG –

COEP, sob o número 208/2011. Foram utilizados 12 suínos machos, híbridos

comerciais e hígidos, com peso médio inicial de 16,25 kg ± 2,34 kg, oriundos do

setor de suinocultura da Escola de Veterinária e Zootecnia, da Universidade

Federal de Goiás. Os animais foram identificados com números nas orelhas,

conforme o sistema de marcação australiano. Foram alocados em baias de

alvenaria, onde receberam água potável e ração comercial ad libitum (Ração

Performance Porco®, Boiforte Produtos Agropecuários LTDA, Hidrolândia - GO).

O período de adaptação e monitoramento clínico, após a chegada dos animais, foi

de sete dias. Todos os animais foram pesados no início (M0) e no final do

experimento (M28).

Para avaliar a ocorrência e a morbidade das aderências os suínos

foram alocados aleatoriamente em dois grupos, cada um com seis animais. O

grupo que recebeu o implante intraperitoneal de tela de polipropileno foi

denominado PP, e o grupo que recebeu o implante intraperitoneal do compósito

de polipropileno-filme à base de quitosana foi chamado de PQ.

As telas cirúrgicas de polipropileno com espessura de 0,45 mm e poros

de 0,5 mm2 (Intracorp®, Venkuri indústria de produtos médicos, São Paulo - SP)

foram recortadas no tamanho de 4 cm x 4 cm (Figura 1A). Os compósitos de

mesmo tamanho foram preparados a partir de telas de polipropileno revestidas de

um filme espesso (2QM) de quitosana com grau de 95% de desacetilação que

recobriu somente uma face da tela, por meio da técnica de imersão (Figura 1B),

conforme descrito por RAMMAZZINA FILHO (2011). Os compósitos foram

desenvolvidos no Laboratório de Engenharia de Biorreações e Colóides da

Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas, São

Paulo. A esterilização do compósito foi por exposição ao óxido de etileno

(ACECIL- Central de esterilização comércio e indústria LTDA, Campinas - SP).

Page 52: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

33

FIGURA 1 - (A) Tela de polipropileno. (B) Compósito tela de polipropileno-filme à

base de quitosana.

Fragmentos dos biomateriais antes do implante foram analisados no

Laboratório Multiusuário de Microscopia de Alta Resolução (LabMic), da

Universidade Federal de Goiás. Os fragmentos foram submetidos ao processo de

metalização em ouro e as imagens foram obtidas por meio de Microscópio

Eletrônico de Varredura (MEV) (JSM – 6610®, Jeol, USA).

Antes da implantação na parede abdominal, as telas de polipropileno e

os compósitos foram imersos em solução de ringer, durante trinta minutos (Ringer

500 ml blowpack®, Halex Istar, Goiânia-GO).

Os animais foram submetidos ao protocolo anestésico, que consistiu de

medicação pré-anestésica (MPA), por dose única da associação cetamina 10

mg/kg (Ketamina Agener 10%®, Agener União-Saúde animal, Embu Guaçu-SP)

azaperone 3 mg/kg (Destress® , DES-FAR Laboratórios LTDA, São Paulo-SP) e

midazolam 0,5 mg/kg (Dormonid injetável®, Roche, São Paulo-SP), por via

intramuscular profunda. Após o decúbito do animal, foi introduzido um cateter

intravenoso na veia auricular, para indução da anestesia geral com propofol

3mg/kg (Diprivan®, AstraZeneca, Cotia–SP) e posterior intubação orotraqueal. A

anestesia foi mantida pela administração de isofluorano (Isofluorano®, Instituto

BioChimico e indústria Farmacêutica Ltda, Itatiaia-RJ), com fluxo diluente de

oxigênio de 30 ml/kg/min.

Todos os procedimentos cirúrgicos foram realizados pela mesma

equipe. Procedeu-se à laparotomia paramediana transversal direita, próxima da

Page 53: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

34

cicatriz umbilical com aproximadamente 6 cm de comprimento. Foi realizada a

secção na seguinte ordem: pele, tecido subcutâneo, músculo oblíquo abdominal

externo, bainha externa e o corpo do músculo reto do abdome e sua bainha

interna. Após a visualização do músculo transverso do abdome, criou-se um

defeito da parede abdominal, por meio da excisão de um fragmento longitudinal

deste músculo. O peritônio parietal foi então incisado permitindo a sua retração.

No grupo PQ, a face revestida pelo filme de quitosana ficou voltada para a

cavidade peritonial. As telas foram fixadas às margens do defeito por sutura

continua simples. Os planos musculares e o tecido subcutâneo foram

aproximados também por meio de sutura contínua simples. Todas as suturas

foram feitas com fio monofilamentado de polipropileno 2-0 (Figura 2 A, B, C e D).

FIGURA 2 - Região cirúrgica após secção da pele, tecido subcutâneo e músculo

oblíquo abdominal externo com visualização da bainha externa do musculo reto abdominal em suíno (A); Excisão de fragmento do músculo transverso do abdome com visualização e exposição do peritônio parietal (B); Implante da tela após incisão do peritônio com sutura contínua simples (C e D).

A analgesia no período pós-operatório foi garantida pela aplicação

intramuscular de cloridrato de tramadol 2,0 mg/kg (Cloridrato de tramadol®, União

Page 54: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

35

Química Farmacêutica, São Paulo, SP, Brasil), a cada oito horas, nas primeiras

24 horas, e dipirona 25 mg/kg (Analgex V®, Agener União-Saude animal, Embu

Guaçu-SP), a cada 12 horas, durante 5 dias. A antibioticoterapia foi realizada com

a aplicação de três doses, de 20.000 UI de benzilpenicilina benzatina/kg, de peso

vivo (Benzetacil®, Eurofarma Laboratórios LTDA, São Paulo-SP), com intervalos

de 48 horas. A ferida cirúrgica foi limpa diariamente com solução salina 0,9%

(solução salina 0,9%®,Halex Istar, Goiânia-GO) e desinfetada com solução tópica

de iodo-povidona (Povidine®, Johnson & Johnson, São José dos Campos–SP) até

a completa cicatrização. Os animais foram avaliados quanto a possível presença

de alterações como: vermelhidão, aumento de volume da região do implante,

exsudação e sensibilidade ao toque por meio de inspeção visual e palpação até o

final do experimento, para verificação da presença de hematoma, seroma e

infecção da ferida cirúrgica.

Aos 28 dias após a implantação das telas, os animais receberam os

mesmos protocolos pré-anestésicos e de anestesia geral, utilizados nos

procedimentos de implantação do biomaterial, acrescidos de bloqueio local com

lidocaína nos portais de acesso para cavidade peritonial. A pele do abdome foi

lavada com água e sabão e fez-se a tricotomia entre a cartilagem xifóide e o

púbis, estendendo-se lateralmente para região dorsal aos músculos lombares

direito e esquerdo. Os animais foram posicionados em decúbito dorsal para a

realização dos exames de ultrassonografia e, em seguida, a videolaparoscopia,

para o inventário dos achados.

As imagens foram produzidas com aparelho de ultrassonografia

(MYLAB 30 VET®, Esaote Group, Genova, Itália) utilizando transdutor linear

multifrequencial (7,5 MHz a 12 MHz), com a frequência selecionada em 12 MHz.

Para auxiliar no contato acústico entre o transdutor e a pele foi aplicado gel

ultrassonográfico. O estudo foi realizado de modo mascarado, sendo que a

execução e a interpretação dos exames foram de responsabilidade de apenas um

avaliador, sem o prévio conhecimento do resultado da videolaparoscopia.

O exame ultrassonográfico foi utilizado primeiramente com o objetivo

de determinar a topografia dos músculos e bainhas que compõem a parede

abdominal do suíno na área do implante, o transdutor foi posicionado

transversalmente sobre a linha média (Figura 3, detalhe). A linha alba e as

Page 55: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

36

camadas musculares foram identificadas nas duas laterais à direita e esquerda

(Figura 3). A identificação topográfica dos músculos foi realizada com base nos

estudos de MOKINI et al. (2011) e HERRING et al. (2012) para avaliações da

parede abdominal de seres humanos. Na sequência para visibilização da área do

implante, o transdutor foi posicionado sobre a cicatriz cirúrgica para identificação

do biomaterial. As descrições dos achados foram adaptadas de resultados de

estudos conduzidos por JAMADAR et al. (2008) em pacientes humanos, por

VILAR et al. (2009) em equinos e por VILAR et al.( 2011) em caprinos.

FIGURA 3 – Sonograma transversal da parede abdominal de suíno em que se

identifica a linha alba (seta) e a equivalência à direita e à esquerda das camadas musculares; músculo oblíquo externo do abdome (OE); músculo reto do abdome (R); músculo transverso do abdome (T). No detalhe, transdutor posicionado sobre a linha média.

Os vídeos produzidos na cavidade abdominal foram obtidos com

equipamento de videolaparoscopia (Karl Storz®, Tuttlingen, Alemanha). Após a

tricotomia, foi realizada a marcação de três pontos no abdômen formando um

triângulo, conforme preconizado por DIAZ-PIZARRO GRAF et al. (2005). O

primeiro ponto marcado foi próximo, à esquerda da linha média e da cicatriz

umbilical, para inserção da agulha de Veress. Em seguida, procedeu-se a injeção

de CO2 a uma pressão de 8 a 12 mmHg, para promoção do pneumoperitônio. O

segundo ponto marcado, destinado ao primeiro portal de acesso para cavidade

Page 56: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

37

peritoneal, foi delimitado à esquerda da linha média, próximo ao início da prega

inguinal. Foi introduzido neste local o portal de 11 mm e, através deste, o

telescópio com ótica de 30º e 10 mm de diâmetro, para obtenção das imagens. O

terceiro ponto marcado, destinado ao segundo portal de 5 mm, foi localizado à

direita da linha média e no mesmo alinhamento do segundo portal. Através deste

fez-se a inserção de pinça laparoscópica auxiliar para manipulação das estruturas

e órgãos cavitários (Figura 4).

FIGURA 4 - Indicação dos três pontos de inserção de instrumental para

videolaparoscopia em suíno; (1) ponto de inserção da agulha de Veress; (2) ponto de inserção do telescópio com ótica de 30º; (3) ponto para inserção da pinça laparoscópica auxiliar; sítio do implante do biomaterial (setas vermelhas); no detalhe, posicionamento da cânula de 5 mm e do telescópio, cavidade peritonial insuflada e parede abdominal transiluminada.

Para classificação das aderências as imagens foram registradas e

armazenadas, utilizando o programa Zscan (Zscan®, Goiânia, Brasil). A análise

das aderências foi realizada de acordo com escores (Quadro 1) adaptados de JIN

et al.(2009).

Page 57: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

38

QUADRO 1 - Escores para classificação das aderências peritoneais em suínos,

com escala de pontuação para extensão e gravidade das

aderências. Goiânia, 2013.

Escore Descrição

0 Ausência de aderência

1 Aderência de omento na superfície do implante (mínima sem

gravidade)

2 Aderência de vísceras abdominais na superfície do implante

(moderada e grave)

3 Aderência de omento e vísceras abdominais na superfície do implante

(extensa e grave)

Adaptado de JIN et al. (2009).

Após a realização dos exames de imagem, os suínos, ainda

anestesiados, foram submetidos à eutanásia por meio de dose adicional

intravenosa rápida de pentobarbital sódico (25 mg/kg) seguida imediatamente de

2000 mg de cloreto de potássio 10%.

A espessura total da parede abdominal da pele ao peritônio, incluindo o

material implantado, foi removida imediatamente após o óbito dos animais, com a

cavidade abdominal ainda insuflada e transiluminada (Figura 4, detalhe). O bloco

foi fixado em formol tamponado a 10%, durante 24 horas. Posteriormente, o

recorte do material foi realizado no centro e periferia do implante e os fragmentos

foram mantidos por mais 24 horas no formol a 10%, lavados em água corrente e

armazenados novamente em álcool a 70%. Depois foram incluídos em parafina

(Histotecpastilhas® - Merck KgaA - Alemanha) para realização de cortes, com

espessura de 5μm.

Os fragmentos foram corados empregando hematoxilina e eosina (HE)

para verificação da presença e o tipo de infiltrado inflamatório. As avaliações

histológicas foram realizadas a partir de observações em cinco campos, no

aumento de 200X, e correlacionadas aos escores conforme preconizado e

adaptado de MELMAN et al. (2011) de acordo com o Quadro 2. O método de

coloração picrossírius, indicado por MONTES & JUNQUEIRA (1991) e BORGES

et al. (2007), foi utilizado para o estudo do colágeno na região do implante. As

Page 58: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

39

lâminas foram analisadas por meio de microscópio óptico Zeiss (Carl Zeiss do

Brasil Ltda., Brasil) sob luz polarizada, no aumento de 50X. A quantificação do

colágeno foi realizada por meio da aplicação dos escores mostrados no Quadro 3.

QUADRO 2 – Escores para determinação do grau de inflamação provocado pelo

implante do compósito polipropileno-filme à base de quitosana e da

tela de polipropileno, em suínos. Goiânia, 2013.

Escores 0 1 2 3 Resultados

Polimorfonucleares 0 1-5 6-10 Acima de 10

Linfócitos 0 1-5 6-10 Acima de 10

Macrófagos 0 1-5 6-10 Acima de 10

Células gigantes 0 1-2 3-5 Acima de 5

Soma dos escores =

Escore inflamatório individual

Soma dos escores multiplicado por 2 =

Escore inflamatório médio do grupo

Média de todos os escores obtidos individual

=

Adaptado de MELMAN et al. (2011).

QUADRO 3 - Escores para avaliação do colágeno na região do implante junto ao

compósito polipropileno-filme à base de quitosana e da tela de

polipropileno, em suínos. Goiânia, 2013.

Escores Colágeno

0 Ausência de colágeno

1 Discreta presença de colágeno (menos de 25% do campo)

2 Moderada presença de colágeno (26% a 50% do campo)

3 Acentuada presença de colágeno (51% a 100% do campo)

Adaptado de SILVA (2011).

Os dados foram analisados com auxílio do software livre R (R Core

Team, 2013). Os valores de P1 indicam comparações entre os tratamentos, os

valores de P2 comparações entre os momentos, com significância estatística

Page 59: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

40

quando P1 e P2 < 0,05. O teste de Kruskall-Wallis foi utilizado para as variáveis

relacionadas aos escores. Os valores de P indicam comparações entre os grupos,

com significância quando P < 0,05.

RESULTADOS

Os resultados da microscopia eletrônica de varredura revelaram a

presença do filme à base de quitosana revestindo a tela de polipropileno e, ao

mesmo tempo, obliterando os seus poros (Figura 5).

FIGURA 5 – Microscopia eletrônica de varredura (MEV) dos biomaterias tela de

polipropileno de alta gramatura (A) x35 e (B) x55; compósito tela de polipropileno-filme à base de quitosana (C) x37 e (D) x140. Monofilamento de polipropileno (PP) e filme à base de quitosana (Q).

Todos os suínos sobreviveram ao procedimento cirúrgico e aos 28 dias

do pós-operatório sem intercorrências importantes. Ao final do experimento

Page 60: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

41

constatou-se um ganho de peso significativo (P2 < 0,05), com peso médio de 35

kg. Não houve diferença significativa entre os grupos (P1 > 0,05), conforme pode

ser observado na Tabela 1.

TABELA 1- Média de peso dos suínos, realizados no grupo PP e PQ no início do

experimento (M0) e 28 dias após no final (M28). Goiânia, 2013.

Variável

Momento

Grupos P1

P2

PP PQ Peso

M0 17,17 15,33 0,1118

0,0001*

M28 38,17 31,83

* P < 0,05 – Valores Estatisticamente significativos. Os valores de P1 indicam comparações entre os tratamentos, os valores de P2 comparações entre os momentos.

A avaliação clínica revelou no pós-operatório a presença de seroma,

nos primeiros 15 dias após o implante, em 33,33% dos animais do grupo PP e

16,67% do grupo PQ. Infecção superficial da ferida cirúrgica ocorreu em 33,33%

dos animais do grupo PP e em 50% do grupo PQ. Não houve extrusão dos

biomateriais implantados nos dois grupos até o final do estudo.

O exame de ultrassonografia direta transversal sobre a área do

implante demonstrou que as referências anatômicas musculares, previamente

identificadas (Figura 6), não foram observadas em 100% dos animais dos grupos

avaliados aos 28 dias. Foi visto sobre a região do implante tecido em organização

heterogênio com áreas hiperecóicas e pontos hipoecóicos (Figura 7 A, B, C e D).

A distância média dos biomateriais, a partir da pele, foi 3,8 cm nos dois grupos

(Figura 7A). Na observação das telas, o formato ondulado estava presente em

50% dos animais do grupo PP e 83,33% do grupo PQ (Figura 7A). O formato

linear foi observado em 50% dos animais do grupo PP e 16,67% do grupo PQ

(Figura 7B). Os dois grupos mostraram suspeitas de aderências envolvendo

fígado (Figura 7C), vesícula biliar, intestino, omento ou ambos. A sutura de

fixação da tela com o fio monofilamentado de polipropileno foi visível, com pouca

reatividade em 33,33% dos animais do grupo PP e 16,67% do grupo PQ (Figura

7C). No grupo PQ imagem hipoecóica entre o compósito e o peritônio parietal foi

observada em 83,33% dos animais (Figura 7D).

Page 61: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

42

FIGURA 6 – Sonograma (12 MHz) em corte transversal da parede abdominal

íntegra de suíno na região selecionada para o implante do biomaterial. Observa-se músculo oblíquo externo do abdome (OE), músculo Reto do abdome (R), músculo Transverso do abdome (T).

FIGURA 7 - Sonograma (12 MHz) em corte transversal da parede abdominal de

suíno para identificação do compósito e tela implantados. Região sobre os biomateriais com tecido em organização. (A) Formato ondulado do compósito; à direita, profundidade em cm da pele ao compósito. (B) Formato linear do compósito; em detalhe, transdutor posicionado sobre a cicatriz da ferida cirúrgica. (C) Presença do fígado aderido à tela de polipropileno (seta branca grossa); a seta fina mostra a sutura de fixação da tela. (D) Região hipoecóica sob o compósito (seta branca); vesícula biliar (VB).

Page 62: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

43

O exame de videolaparoscopia demostrou aderências em 100% dos

animais do grupo PP e 83,33% dos animais do grupo PQ. As aderências se

formaram entre a superfície do material implantado e o omento maior, fígado ou

ambos. Os escores predeterminados aspectos típicos indicados na Figura 8 foram

aplicados em todas as imagens obtidas. Não houve diferença significativa entre

os grupos testados com relação à formação de aderências (P > 0,05), conforme

demonstrado na Tabela 2.

Quando se comparou os resultados das avaliações de aderências da

videolaparoscopia com os achados da ultrassonografia pode-se estabelecer um

índice de coincidência diagnóstica de 78,57%.

FIGURA 8 – Escores aplicados na avaliação das imagens obtidas durante

exames de videolaparoscopia; escore 0 = ausência de aderências; escore 1 = aderência de omento; escore 2 = aderência de fígado; escore 3 = aderência de fígado e omento.

Page 63: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

44

TABELA 2 – Resultados da comparação de escores para avaliação

videolaparoscópica das aderências no grupo PP e PQ, aos 28

dias após o implante intraperitonial do compósito polipropileno-

filme à base de quitosana e da tela de polipropileno. Goiânia,

2013.

Grupo PP Grupo PQ P Medianas

Videolaparoscopia 1,5 1 0,1202

* P < 0,05 Estatisticamente significativos. Os valores de P indicam comparações entre os grupos.

A avaliação microscópica das lâminas histológicas, após 28 dias da

implantação dos biomateriais, revelou respostas celulares teciduais diferentes

entre os dois grupos. A resposta inflamatória total foi maior no grupo PP quando

comparada a do grupo PQ (P = 0,0033). Os polimorfonucleares apresentaram-se

estatisticamente aumentados numericamente na região do implante no grupo PQ

(P = 0,0068), estando localizados próximos e ao longo do compósito como

infiltrados. Os macrófagos e as células gigantes de corpo estranho mostraram

aumento significativo (P = 0,0017) no grupo PP, próximos aos monofilamentos da

tela. Os linfócitos não apresentaram diferença estatística entre os dois grupos (P

= 0,9999). Estes resultados são mostrados na Tabela 3.

TABELA 3 – Resultado da comparação de escores para determinação do grau de

inflamação provocado pelo implante do biomaterial nos grupos

polipropileno (PP) e compósito polipropileno-filme à base de

quitosana PQ em suínos. Goiânia, 2013.

Elementos avaliados

Grupo PP

Grupo PQ

P

Medianas

Polimorfonucleares 2 3 0,0068*

Linfócitos 2,5 3 0,9999

Macrófagos 3 1,5 0,0017*

Células gigantes 3 0 0,0017*

Escore Inflamatório 21 15 0,0033*

* P < 0,05 Estatisticamente significativos. Os valores de P indicam comparações entre os grupos

Page 64: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

45

Inflamação crônica, caracterizada por infiltrado mononuclear, com

presença de macrófagos, células gigantes de corpo estranho, fibroblastos e

colágeno foi observada no grupo PP junto aos monofilamentos de polipropileno

(Figura 09).

Na avaliação do tecido do grupo PQ observou-se uma camada de

infiltrado predominantemente constituída por polimorfonucleares ao longo do

compósito e próximos a fragmentos do filme de quitosana. Não foram observados

os monofilamentos de polipropileno junto ao tecido conjuntivo frouxo subjacente

(Figura 10).

No grupo PQ o colágeno tipo I (maduro), de cor alaranjada,

apresentou-se distante do compósito separado por uma região menos intensa, de

coloração esverdeada, caracterizando o colágeno tipo III (imaturo) (Figura 11 A).

A coloração alaranjada, característica do colágeno tipo I, predominou no grupo PP

em toda a extensão do tecido, se infiltrando entre os monofilamentos de

polipropileno (Figura 11 B).

A observação do colágeno após a coloração picrossírius demonstrou

uma discrepância estatística, entre os dois grupos (P = 0,0154) para o colágeno

tipo I e para o colágeno total (P = 0,0037), conforme Tabela 4.

TABELA 4 - Resultado da comparação de escores para avaliação da qualidade do

colágeno, realizada no grupo PP e PQ, aos 28 dias após implante

intraperitonial do compósito polipropileno-filme à base de quitosana

e da tela de polipropileno Goiânia, 2013.

Grupo PP Grupo PQ P Mediana

Colágeno tipo I 2,5 1 0,0154* Colágeno tipo III 1,5 1 0,3173 Colágeno total 2,5 1 0,0037*

* P < 0,05 Estatisticamente significativos. Os valores de P indicam comparações entre os grupos

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46

FIGURA 09 - Fotomicrografias de fragmentos do tecido da parede abdominal de

suíno integrada aos monofilamentos da tela de polipropileno 28 dias após o implante (HE, 200X e 400X). Tecido conjuntivo frouxo (TCF). Células gigantes de corpo estranho (setas). Infiltrado mononuclear (MN). Região ocupada pelo monofilamento da tela (PP).

FIGURA 10 - Fotomicrografias de fragmentos do tecido da parede abdominal de

suíno aos 28 dias após a implantação do compósito (Coloração HE). (A) 100X, (B) 200X e (C e D) 400X. Tecido conjuntivo frouxo (TCF). Infiltrado Polimorfonuclear (PMN). Lacuna ocupada pelo compósito (LOC). Fragmentos do filme de quitosana (Q).

Page 66: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

47

FIGURA 11 - Fotomicrografias de tecidos dos grupos PQ e PP aos 28 dias após

a implantação dos biomateriais sobre luz polarizada. Coloração picrossírius com aumento de 50X. A) Lâmina do grupo PQ. B) Lâmina do grupo PP. (Q) Fragmentos do filme de quitosana. (PP) monofilamentos da tela de polipropileno. (INF) Infiltrado inflamatório. (COL) Colágeno.

DISCUSSÃO

O estudo aqui desenvolvido comprovou que os suínos são bons

modelos experimentais para pesquisas relacionadas à parede abdominal.

Conforme HUBER et al. (2012) esta espécie animal é a segunda mais utilizada

nos estudos para implantação de telas para o reparo de tecidos moles.

Considerando que todo procedimento cirúrgico determina certo grau de estresse,

o que pode refletir na diminuição do ganho de peso, pode-se inferir que as

condições pós-operatórias a que os animais foram submetidos foram adequadas,

já que houve um ganho ponderal significativo entre os dois momentos.

O seroma, visível clinicamente nos primeiros 15 dias, em dois animais

do grupo PP e um do grupo PQ foi relacionado à ressecção dos planos

musculares abdominais, o que promoveu a criação de um distanciamento entre a

a pele e a prótese conforme também citado por MIHĂILESCU et. al., (2012).

Outro fator que pode ter sido determinante na formação do seroma foi a reação

inflamatória local do hospedeiro, também considerada por esse autor. O achado

de seroma no grupo PP, proporcionalmente superior ao PQ, contraria o relato de

AMID (1997). Segundo o autor, o rápido preenchimento por tecido conjuntivo dos

Page 67: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

48

poros minimiza a formação de seromas. Não foi necessária a drenagem do

líquido, que desapareceu espontaneamente em 15 dias conforme observado por

VILAR et.al. (2011) em cabras e citado por PARRA et al. (2004) em humanos.

A importância da ultrassonografia para detecção de alterações

relacionadas à implantação das telas pode ser confirmada neste estudo, uma vez

que ficou evidente a ocorrência de dois tipos de complicações descritas após a

implantação da tela: a deformação da tela, caracterizada por uma imagem

ondulada, e o afastamento do compósito dos tecidos adjacentes, caracterizado

por imagem hipoecóica entre os mesmos. Estes achados podem determinar a

falha dos procedimentos de reparação da parede abdominal, conforme salientado

por AMID (1997) e JAMADAR et al. (2008).

A combinação das telas de polipropileno com um biomaterial absorvível

pode proporcionar uma melhora do seu manuseio operatório tornando-a mais

flexível, sendo esta uma característica benéfica como citado por PATEL et al.

(2012). Esta característica pode reduzir o desconforto pós-operatório. No presente

estudo observou-se que o compósito formado pela tela de polipropileno,

associada ao filme espesso 2QM, apresentou flexibilidade limitada mesmo após

sua prévia hidratação antes do implante, contudo, não impediu sua implantação.

A relevância da ultrassonografia foi marcante para o estudo da parede

abdominal normal dos suínos, possibilitando a evidenciação das camadas

musculares e bainhas constituintes. Imagens claras também foram já

evidenciadas em humanos por RANKIN et al. (2006), MOKINI et al. (2011) e

HERRING et al. (2012) nos seus estudos em paredes abdominais íntegras.

Os achados de aderências pelo exame de videolaparoscopia na

totalidade dos animais do grupo PP evidenciou a afirmação que as aderências às

vísceras abdominais são geralmente causa de dor, desconforto e complicações

pós-cirúrgica. É sabido que as telas de polipropileno quando implantadas

intraperitonialmente são adesiogênicas, como salientado por BELLON et al.

(2001) e SAHIN et al. (2007).

As aderências omentais nesse trabalho prevaleceram com maior

incidência nas bordas do implante onde foi aplicada a sutura de fixação das

próteses. Foram ainda encontradas aderências hepáticas, o que pode ser

atribuído ao posicionamento anatômico do órgão do lado direito do abdome,

Page 68: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

49

coincidente com localização do implante do biomaterial na parede abdominal.

Sistemas de barreira são avaliados constantemente com o objetivo de impedir o

contato direto da tela com o peritônio, reduzindo assim, a formação das

aderências. No trabalho de PAULO et al. (2009) o sistema avaliado foi um filme à

base de quitosana, suturado na face peritonial da tela, exibindo resultado

favorável à não formação de aderências, excetuando-se àquelas do omento maior

sobre a zona de sutura similarmente como encontrado também por SCHUG-

PASS et al. (2009).

Após uma lesão peritoneal ocorre exsudação que leva à formação da

matriz de fibrina. Posteriormente esta matriz se organiza gradualmente e é

substituída por um tecido que contém fibroblastos macrófagos e célula gigantes,

interconectando as duas superfícies peritoniais lesadas. Os fibroblastos

contribuem com a deposição de colágeno e também estabilizam e organizam os

feixes de fibrina resultando na persistência das aderências conforme relatado por

CHEONG et al. (2001). Com base nesse mecanismo supõe-se que a ação da

quitosana está relacionada à inibição dos fibroblastos com consequente

diminuição da produção de aderências no sitio do implante. Esta inibição deve

ocorrer dentro de duas semanas, a partir desse período a barreira se torna

desnecessária no local, devendo a mesma ser biodegradada, conforme relatado

por ZHOU et al. (2007). O filme 2QM de quitosana não foi completamente

degradado até os 28 dias, como foi evidenciado pelos exames histológicos do

material coletado.

O filme à base de quitosana, por sua característica densa, serviu de

barreira mecânica junto aos poros da tela de polipropileno, impedindo a migração

das células como sugerido por WEYHE et al. (2006) e PATEL et al. (2012). A

relevância do tamanho dos poros para implantação de biomaterial é expressa

pela observação de que em casos de poros pequenos, o granuloma circunda a

fibra do polímero e a cicatriz se forma distante do material, levando a formação da

placa de cicatriz, o que não propicia espaço para o crescimento tecidual e a

consequente incorporação do material. Esta informação de JUNGE et al. (2012)

justifica a ausência de incorporação dos compósitos do grupo PQ.

A dinâmica da infiltração celular durante o processo de recuperação

peritoneal envolve o surgimento inicial de polimorfonucleares, que devem persistir

Page 69: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

50

por 1 a 2 dias no local. Esta é uma resposta tecidual normal, como citado por

DIZEREGA & CAMPEAU (2001) e XIA & TRIFFITT (2006). A resposta

inflamatória crônica característica nos implantes de telas começa quando os

monócitos e linfócitos são reconhecidos no sítio do implante. Esses eventos

esperados foram claramente visibilizados no grupo PP. O grupo PQ exibiu uma

resposta atípica, caracterizada pelo influxo tardio e constante de

polimorfonucleares no local, o que pode ser justificado pelas alterações adicionais

promovidas pelo material, já que, presenças de fragmentos do filme à base de

quitosana ainda estavam presentes aos 28 dias. Esse fato mudou o quadro de

formação do granuloma, o que estaria provavelmente relacionado à migração de

outros tipos de leucócitos não comuns ao granuloma como citado por ADAMS

(1976).

As fibras colágenas são as maiores constituintes da matriz extracelular,

e atuam como componente estrutural das superfícies externas e internas do

corpo. Também compõem o parênquima de todos os órgãos. As fibras colágenas

são necessárias para os mecanismos de regeneração e reparação tecidual. Esta

informação de SILVER (2009) permite estabelecer a importância do colágeno

para incorporação das próteses. A qualidade do tecido conectivo é determinada

pela quantidade e relação de síntese do colágeno tipo I e tipo III, sendo o tipo I

maduro encontrado no tecido conjuntivo denso. O tipo III imaturo predomina nos

estágios iniciais da cicatrização, devendo existir uma maior proporção do

colágeno tipo I em relação ao colágeno tipo III, conforme relatou JUNGE et al.

(2004). Esta relação foi avaliada na comparação entre os grupos, mostrando que

o grupo PQ apresentou relação colágeno I/III diminuída, o que representa um

tecido conjuntivo imaturo capaz de acarretar a redução da sua força ténsil.

CONCLUSÃO

O compósito tela de polipropileno-filme à base de quitosana 2QM não

impediu totalmente a formação de aderências.

Os achados de aderências obtidos da ultrassonografia direta foram

coincidentes, em sua maioria, com os da videolaparoscopia.

Page 70: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

51

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Page 76: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

57

CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nem sempre os recursos materiais estão à disposição do médico

veterinário para resolver, de forma satisfatória e adequada, os desafios da

profissão, como a resolução de alguns problemas graves em animais. A perda de

tecidos é um deles. Por esse motivo, a utilização de biomateriais tornou-se uma

questão atual e necessária. Com a universalização das informações, a

globalização dos mercados e o avanço das pesquisas médicas, é possível criar

soluções mais apropriadas. O uso de próteses é uma maneira de direcionar o

tratamento para cada paciente, e reestabelecer a qualidade de vida do animal.

No presente estudo ficou evidenciada a importância multidisciplinar das

pesquisas de biomateriais. A engenharia se ocupa dos aspectos físicos e

químicos dos materiais, mas precisa associa-los às respostas biológicas do

hospedeiro, que nem sempre são previsíveis, como no caso de cálculos

matemáticos. Existe então a necessidade do conhecimento das áreas médicas. O

contrário também é verdadeiro.

A quitosana, por se tratar de uma fibra abundante na natureza, é

promissora nas pesquisas médicas, tanto utilizada de forma isolada ou associada

a outros materiais. Por ser facilmente encontrada permite um custo razoável para

produção de biomaterias. Para sua utilização, no entanto, em compósitos

destinados a reparação da parede abdominal e prevenção de aderências,

pesquisas adicionais devem continuar a serem desenvolvidas. O estudo técnico

pode ajudar a responder: Qual deve ser a espessura máxima do filme à base de

quitosana? Qual o arranjo espacial do compósito deve ser o ideal para manter os

poros livres? Qual o tempo exato da degradação do filme?

Page 77: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

58

ANEXOS

Documento de aprovação do COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

Page 78: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

59

Escores utilizados no experimento para comparação da inflamação entre os

grupos.

Escores utilizados para comparação da videolaparoscopia e avaliação do

colágeno.

animal grupo Escores video Escore Colágeno total Escore Colágeno tipo I Escore Colágeno tipo III

1 1 3 3 3 1

2 1 1 3 3 1

3 1 1 2 2 1

4 1 2 3 3 2

5 1 3 2 2 1

6 1 2 3 3 1

1 2 1 1 1 1

2 2 0 2 3 1

3 2 1 1 1 1

4 2 1 1 1 1

5 2 1 1 1 1

6 2 3 1 1 1

Page 79: ESTUDO DA RESPOSTA SISTÊMICA AGUDA, DA FORMAÇÃO DE

60

Resultados individuais do leucograma e provas bioquímicas.