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Estudo Das Sobrecargas Posturais Em Fisioterapeutas - Uma Abordagem Biomecânica Ocupacional
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO
ESTUDO DAS SOBRECARGAS POSTURAIS EM FISIOTERAPEUTAS: UMA ABORDAGEM BIOMECNICA
OCUPACIONAL
DISSERTAO DE MESTRADO
CELEIDE PINTO AGUIAR PERES
Florianpolis - SC 2002
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO
ESTUDO DAS SOBRECARGAS POSTURAIS EM FISIOTERAPEUTAS: UMA ABORDAGEM BIOMECNICA
OCUPACIONAL
CELEIDE PINTO AGUIAR PERES
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia de Produo.
Florianpolis - SC 2002
2
CELEIDE PINTO AGUIAR PERES
ESTUDO DAS SOBRECARGAS POSTURAIS EM FISIOTERAPEUTAS: UMA
ABORDAGEM BIOMECNICA OCUPACIONAL
Esta Dissertao foi julgada adequada para obteno do Ttulo de Mestre em Engenharia de Produo, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo (PPEGP) da Universidade Federal de Santa
Catarina, em 20 de Dezembro de 2002.
_______________________________
Prof. Edson Pacheco Paladini, Dr
Coordenador do Curso
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________
Prof. Antnio Renato Pereira Moro, Dr
Orientador PPGEP - UFSC
_______________________________
Profa. Eliete Medeiros, Dra.
_______________________________
Prof. dio Luiz Petroski, Dr.
3
DEDICATRIA
Com muito carinho, dedico este trabalho aos meus
queridos pais, Jair G. de Aguiar (in memorian) e
Nair P. de Aguiar, que me deram o alicerce da vida
para a busca do saber que no se aprende nos
livros.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus pela infinita graa e poder, me julgando capaz no percurso desta
caminhada.
Em especial ao Prof. Dr. Antonio Renato Pereira Moro, pelo privilgio do
convvio na orientao deste trabalho, na inestimvel pacincia, compreenso e pelo
seu exemplo de dedicao profissional.
A todos os docentes do mestrado pelos valiosos ensinamentos e na
disposio em sempre ajudar.
Ao meu esposo, Luis Alberto Batista Peres, pelo incentivo e presena
constante no percurso desta jornada.
s minhas queridas filhas Luisa Aguiar Peres e Marina Aguiar Peres, pela
cooperao na minha ausncia para a realizao deste trabalho.
Ao meu querido irmo Jair Csar Pinto de Aguiar, pelo entusiasmo de vida e
pelo estmulo minha dedicao profissional.
A todos da minha famlia, que sempre acreditaram na minha capacidade de
aprender.
A todos os amigos que compartilharam no auxlio, companheirismo e apoio
nas horas difceis desta caminhada.
Aqueles que engrandeceram este trabalho com sua disponibilidade e
participao ativa, sem os quais no teria sido possvel a realizao desta pesquisa.
A todos aqueles que direta ou indiretamente contriburam para a realizao
deste trabalho.
5
RESUMO
PERES, Celeide Pinto Aguiar. Estudo das sobrecargas posturais em fisioterapeutas: uma abordagem biomecnica ocupacional. Florianpolis, 2002, 128 fs. Dissertao (Mestrado em Engenharia de Produo) Programa de Ps-graduao em Engenharia de Produo, UFSC, 2002.
A presente pesquisa teve como objetivo principal identificar a incidncia de distrbios posturais em profissionais fisioterapeutas, relacionando-os com os movimentos e posturas adotadas durante as suas atividades prticas na rotina de trabalho. O estudo contou com a participao de 156 fisioterapeutas, com idade compreendida entre 20 e 42 anos, residentes em Cascavel Paran e regio. O mtodo utilizado para as anlises biomecnicas da postura foi o proposto por Ovako Working Posture Analysing System (OWAS), aliado a um questionrio do tipo survey, para verificao de queixas msculo-esquelticas. O resultado deste estudo levantou uma alta incidncia em desconfortos posturais nesses profissionais, com destaque para as seguintes regies: cervical (51,28%), lombar (33,97%), dorsal (30,12%), membros superiores (16,66%) e membros inferiores (7,69%). Os movimentos de maior expresso, por sua relao com as sobrecargas posturais, esto relacionados aos procedimentos fisioterpicos de tcnicas manuais, por exigirem movimentos de flexo e/ou rotao de tronco; da mesma forma, so maximizadas pela quantidade de horas trabalhadas e o nmero de pacientes atendidos por dia. A pesquisa permitiu concluir que o profissional fisioterapeuta fica exposto a um grau de constrangimento postural importante, que o classificaria como uma profisso de alto risco com propenso a doenas ocupacionais, principalmente, aquelas associadas a coluna vertebral.
Palavras-chave: Sobrecargas Posturais; Procedimentos Fisioterpicos; Biomecnica Ocupacional.
6
PERES, Celeide Pinto Aguiar. I study of the overloads postural in physiotherapists: an approach occupational biomechanics. Florianpolis, 2002, 128 fs. Dissertation (Master's degree in Engineering of Production) - Program of Masters degree in Engineering of Production, UFSC, 2002.
ABSTRACT
The main objective of the present research project was to identify the incidence of
postural disturbances in physical therapists, relating such disturbances to the
movements and postures which the said professionals adopt during their practical
activities their work routine. The study ha the participation of 156 physiotherapists
with comprehended ages between 20 and 42, them being residents of Cascavel,
Paran, Brazil. The method employed for analyses of posture was proposed by the
Ovaco Posture Working Analysing System (OWAS) in conjunction with survey-type
questionnaires for the verification of muscular-skeletal complains. The result of this
study brought to light a high incidence of different types of postural discomfort in
those professionals, the most notable of which being those in the following regions:
cervical (51,28%), lumbar (34,97%), dorsal (30,12%), the upper limbs (16,66%) and
the lower limbs (7,69%). The movements of greatest expression, because of their
relation to postural stress, are related to the physiotherapeutic procedures of manual
techniques by requiring movements of flexion and/or of trunks. In the same way, they
are maximized by the quantity of workload hours and the number of patients seen per
day. The results allowed for the conclusion that physical therapists are constantly
exposed to a degree of important postural constraint, and that as such, this would
classify physiotherapy as a high-risk profession with a certain inclination towards
occupational ailments, principally, those associated with the spinal column.
Key words: Postural Stress, Physiotherapeutic Procedures, Occupational Biomechanics.
7
SUMRIO
RESUMO ........................................................................................................ 5
ABSTRACT..................................................................................................... 6
LISTA DE FIGURAS ....................................................................................... 9
LISTA DE TABELAS E QUADRO................................................................. 11
LISTA DE ANEXOS ...................................................................................... 12
1 INTRODUO.......................................................................................... 13
1.1 O Problema de Pesquisa.................................................................. 13
1.2 Objetivo Geral................................................................................... 15
1.3 Objetivos Especficos ....................................................................... 15
1.4 Justificativa ....................................................................................... 16
1.5 Delimitao do Estudo...................................................................... 17
1.6 Limitao do Estudo ......................................................................... 18
1.7 Pergunta de Pesquisa ...................................................................... 18
2 REVISO DA LITERATURA..................................................................... 19
2.1 Postura Corporal............................................................................... 19
2.1.1 Postura em P............................................................................... 22
2.1.2 Postura Sentada ............................................................................ 23
2.2 Aspectos Antomo-fisiolgicos da Postura....................................... 27
2.3 Aspectos Biomecnicos da Postura ................................................. 32
2.4 Posturas Adotadas no Trabalho ....................................................... 39
2.5 Caracterizao da Atividade Profissional de Fisioterapia ................. 42
2.6 Distrbios Msculo-esqueltico da Coluna Vertebral ....................... 43
2.7 Sobrecargas Posturais Relacionadas ao Trabalho........................... 46
2.8 Cervicalgia, Cervicobraquialgia e Dorsalgia ..................................... 51
2.9 Lombalgia ......................................................................................... 55
2.10 Dor Muscular .................................................................................. 57
2.11 Fatores de Risco, Carga de Trabalho e Distrbios Posturais
em Fisioterapeutas ......................................................................... 59
8
2.12 Mtodo Ovaco Working Analysing Sistem - OWAS........................ 64
3 METODOLOGIA ....................................................................................... 71
3.1 Procedimentos Metodolgicos.......................................................... 71
3.1.1 Populao e amostra..................................................................... 71
3.1.2 Local da Pesquisa ......................................................................... 71
3.1.3 Variveis de Estudo....................................................................... 72
3.1.3.1 Variveis demogrficas .............................................................. 72
3.1.3.2 Variveis operacionais................................................................ 73
3.1.4 Instrumentos de Avaliao ............................................................ 74
3.1.4.1 Do questionrio........................................................................... 74
3.1.4.2 Do Mapa de Desconforto Corporal ............................................. 75
3.1.4.3 Mtodo OWAS............................................................................ 75
3.1.5 Procedimentos............................................................................... 75
4 RESULTADOS.......................................................................................... 79
4.1 Anlise das Atividades...................................................................... 79
4.2 Tratamento dos Dados ..................................................................... 79
4.3 Anlise dos Dados............................................................................ 80
4.3.1 Do Questionrio............................................................................. 80
4.3.2 Do Mapa de Desconforto Corporal ................................................ 84
4.3.3 Do Mtodo Ovaco Woeking Analysing Sistem - OWAS ................ 86
4.4 Discusso dos Resultados ............................................................. 101
5 CONCLUSO ......................................................................................... 108
6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS........................................................ 112
7 ANEXOS................................................................................................. 117
9
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Medidas de Presso nas Posturas de P e Sentada sem
Apoio Dorsal......................................................................... ....25
FIGURA 2 Posio de Geometria de Presso Mnima .............................. 28
FIGURA 3 Movimentos de Flexo e Extenso da Regio Cervical ........... 34
FIGURA 4 Resultante do Peso Corporal na Postura Ereta.................. ...... 35
FIGURA 5 Deslocamento do Ncleo Pulposo do Disco Intervertebral........36
FIGURA 6 Foras de Reao num Levantamento de Peso....................... 38
FIGURA 7 Fora de Reao e Fora de Cisalhamento (L5/S1)
com Carga............................................................................... 39
FIGURA 8 Alteraes Orgnicas por Contrao Muscular Sustentada ..... 59
FIGURA 9 Modelo Biomecnico Momentos e Foras de Reao em
Trs Posturas Diferentes, sem Carga nas Mos...................... 63
FIGURA 10 Posies das Costas, Braos e Pernas do Sistema OWAS... 66
FIGURA 11 Definio das Atividades ........................................................ 67
FIGURA 12 Definio das Caractersticas da Postura............................... 68
FIGURA 13 Modelo de Anlise das Categorias ......................................... 68
FIGURA 14 Modelo de Anlise das Atividades em Geral .......................... 69
FIGURA 15 Mapa de Desconforto Corporal............................................... 77
FIGURA 16 Distribuio da Populao Tempo de Atuao Profissional ... 80
FIGURA 17 Distribuio de Horas de Trabalho por dia ............................. 80
FIGURA 18 Freqncia de Atendimento Dirio ......................................... 81
FIGURA 19 Postura Sentada no Tablado .................................................. 84
FIGURA 20 Postura de Joelho no Tablado com Rolo................................ 85
FIGURA 21 Postura Sentada no Tablado .................................................. 85
FIGURA 22 Postura Sentada no Tablado .................................................. 87
FIGURA 23 Resultados das Atividades Desenvolvidas ............................. 88
FIGURA 24 Demonstrativo das Categorias nas Atividades
Desenvolvidas no Tablado ..................................................... 89
FIGURA 25 Postura Sentada no Tablado .................................................. 89
FIGURA 26 Resultados das Atividades Desenvolvidas no Tablado .......... 90
10
FIGURA 27 Demonstrativo das Categorias nas Atividades
Desenvolvidas no Tablado ..................................................... 91
FIGURA 28 Postura em P com a Bola ..................................................... 91
FIGURA 29 Postura de Joelho no Tablado com a Bola ............................. 92
FIGURA 30 Resultados das Atividades Desenvolvidas no Tablado
Com Bola ............................................................................... 92
FIGURA 31 Demonstrativo das Categorias nas Atividades
Desenvolvidas no Tablado com Bola ..................................... 93
FIGURA 32 Postura de Joelho no Tablado com Rolo................................ 93
FIGURA 33 Resultado das Atividades Desenvolvidas no Tablado com
Rolo........................................................................................ 94
FIGURA 34 Demonstrativo das Categorias nas Atividades
Desenvolvidas no Tablado com Rolo..................................... 95
FIGURA 35 Postura de P......................................................................... 95
FIGURA 36 Resultados das Atividades na Barra Paralela......................... 96
FIGURA 37 Demonstrativo das Categorias nas Atividades
Desenvolvidas na Barra Paralela ........................................... 97
FIGURA 38 Postura em P no Div........................................................... 97
FIGURA 39 Resultados das Atividades Desenvolvidas no Div ................ 98
FIGURA 40 Demonstrativo das Categorias nas Atividades
Desenvolvidas no Div........................................................... 99
FIGURA 41 Demonstrativos de Todas as Categorias para as
Atividades Desenvolvidas .................................................... 100
FIGURA 42 Demonstrativo das Categorias 3 e 4 nas Atividades
Desenvolvidas...................................................................... 101
11
LISTA DE TABELAS E QUADROS
TABELA 1 Percentual Relativo ao Peso das Partes do Corpo .................. 45
TABELA 2 Distribuio da Incidncia de Dor............................................. 82
TABELA 3 Distribuio da Freqncia de Movimentos e Posturas
de Trabalho do Fisioterapeuta ................................................. 86
TABELA 4 Distribuio da Incidncia de Alterao no Hbito de
Trabalho ................................................................................... 83
TABELA 5 Distribuio da Incidncia da Diminuio do Tempo de
Contato com o Paciente ........................................................... 83
TABELA 6 Distribuio da Incidncia dos Sintomas.................................. 84
QUADRO 1 Relao entre Posturas Adotadas no Trabalho e as
Regies Corporais Afetadas .................................................. 50
12
LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1 - Parecer do Comit de tica em Pesquisa da Universidade
Estadual do Oeste do Paran - UNIOESTE............................ 119
ANEXO 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento.................... 121
ANEXO 3 - Questionrio ............................................................................. 123
13
1 INTRODUO
1.1 Problema de Pesquisa
Os padres culturais e o estilo de vida moderna da populao, impondo cada vez
mais atividades especializadas e limitadas, provocam sobrecargas estruturais no
corpo humano. A alta incidncia de problemas posturais em adultos relaciona-se
com a tendncia para esse padro de atividade, especializado ou repetitivo, aliado
ao sedentarismo e vcios posturais carregados desde a infncia (KENDALL, 1995).
A literatura aponta um nmero crescente de trabalhadores das mais diversas
reas profissionais que apresentam comprometimentos posturais, muitas vezes
promovendo dores na coluna vertebral, em conseqncia da atividade desenvolvida
na sua jornada de trabalho. Os profissionais da rea da sade esto inclusos nas
referncias de altos ndices de dor na coluna vertebral relacionados ocupao
laboral.
Males como a lombalgia e a cervicalgia so considerados pequenos para os
quais a medicina no oferece um tratamento eficiente. Por essa razo, essencial
que as pessoas tenham conhecimento desta realidade para poder proteger o
sistema msculo-esqueltico e evitar situaes de desconforto por excesso de carga
causada por posturas prolongadas.
Dentre os profissionais da rea de sade, que apresentam distrbios posturais,
esto os fisioterapeutas, cuja atividade profissional implica em exigncias do sistema
msculo-esqueltico, com movimentos repetitivos de membros superiores,
manuteno de posturas estticas e dinmicas por tempo prolongado, e movimentos
de sobrecarga para a coluna vertebral.
Acredita-se que, as habilidades profissionais exigem padres posturais que
podem contribuir para a exacerbao do problema, principalmente nos
fisioterapeutas que se envolvem em atividades de grande recrutamento fsico para
14
atendimento de seus pacientes em ambientes hospitalares, de clnicas e
atendimento domiclio.
Segundo Scholey e Hair (1989), o fato dos fisioterapeutas trabalharem em
servios de reabilitao com pacientes altamente dependentes e de sobrecarga
fsica, induz a uma efetiva participao dessa classe profissional, em um grupo de
alto risco de comprometimentos msculo-esquelticos desde o incio de sua carreira
profissional.
Outra hiptese dessa crtica situao pode ser o tipo de atividade desenvolvida
no atendimento ao paciente, como a utilizao tcnicas manuais cujo esforo fsico
requer alm da habilidade, coordenao motora e fora muscular por parte do
fisioterapeuta atuante; ou o estilo de vida deste profissional, que muitas vezes em
seus horrios livres e de descanso se dedicam a outras atividades que reforam o
comprometimento postural ou at mesmo deixam de praticar alguma atividade fsica,
possibilitando o desencadeamento de algias ou disfunes msculo-esquelticas.
Entretanto, alguns profissionais desta rea podem trabalhar em situaes iguais
de stress fsico e no desenvolverem dores nas costas. Isto demonstra que esses
sintomas podem ser de caracterstica multifatorial ou que variam conforme as
condies fsicas ou de treinamento profissional.
A educao dos fisioterapeutas para suas atividades de trabalho deve ser efetiva
contrabalanando os efeitos do stress ocupacional, para reduzir o nvel das dores
nas costas. Um acesso ergonmico utilizando anlise do trabalho seria apropriado
para orientar educao e os cuidados da coluna vertebral desses profissionais da
rea da sade.
Nesta pesquisa, avaliou-se a incidncia de alteraes posturais em
fisioterapeutas e como essas alteraes esto relacionadas s suas atividades
profissionais, principalmente sob os aspectos biomecnicos na rotina de trabalho.
O estudo deste grupo de profissionais demonstra aspectos interessantes por se
tratar de atividades desenvolvidas com sobrecargas fsicas e psquicas, das quais os
fisioterapeutas esto expostos no ambiente de trabalho a que se delegam, e que
15
nem sempre esto em condies fsicas apropriadas para o auxlio de seus
pacientes.
1.2 Objetivo Geral
Analisar a incidncia das sobrecargas posturais em fisioterapeutas, decorrentes
das posturas adotadas nos procedimentos teraputicos durante as atividades de
trabalho.
1.3 Objetivos Especficos
Caracterizar o profissional no contexto do trabalho;
Identificar as regies corporais com maior relato de queixas de dores msculos-esquelticos;
Identificar as posturas corporais constrangedoras nas atividades profissionais do fisioterapeuta;
Identificar os procedimentos fisioterpicos que exigem maior carga postural ao fisioterapeuta;
Selecionar os eventos posturais mais significativos para anlise biomecnica recorrentes da atividade profissional do fisioterapeuta;
Analisar biomecanicamente os eventos posturais a partir do modelo preconizado pelo Mtodo OWAS;
16
Nessa perspectiva, surgiu o interesse em pesquisar este assunto, principalmente
por se tratar de profissionais da rea da sade que cuida do bem estar fsico de seus
pacientes.
1.4 Justificativa
Durante sua formao profissional, o estudante de fisioterapia educado para
uma demanda de pacientes com problemas fsicos e ensin-los a evitar dores nas
costas. Um estudo realizado, na Califrnia em 1985, revelou que 29% dos
fisioterapeutas atuantes relataram j ter experimentado essas dores mesmo antes
dos 30 anos de idade. Sendo que, 58% desses episdios ocorreram durante os
quatro primeiros anos de formao profissional.
Apesar da fisioterapia ser uma profisso cujo objetivo maior promover a sade
do indivduo, na grande maioria dos ambientes de trabalho, as condies
ergonmicas so precrias o que proporciona a execuo de tarefas de trabalho que
induzem danos sua prpria condio fsica no atendimento a seus pacientes.
Estudos sobre distrbios musculares em fisioterapeutas apontam vrios fatores
biomecnicos de risco para a atividade que esses profissionais desenvolvem.
Mierzejewski e Kumar (1997), citam como atividades relacionadas ao
comprometimento da coluna lombar em fisioterapeutas atos como mobilizar, curvar-
se, segurar, levantar, transportar, empurrar e puxar o paciente.
De acordo com Bork (1996), um estudo realizado entre 128 fisioterapeutas de 46
estados americanos, entre 1943 e 1993, 80% demonstraram evidncias de distrbios
msculo-esquelticos com prevalncia em regio lombar (45%), punho e mo
(29,6%), regio dorsal (28,7%) e regio cervical (24,7%). Este resultado foi atribudo
ao levantamento ou transferncia de pacientes dependentes, idade do paciente e
prtica especfica de tratamento.
17
So muitos os profissionais Fisioterapeutas que exercem suas atividades em
atendimento ao paciente neurolgico em colchonetes ou tatames, dispostos no cho
ou sobre um tablado de madeira, onde se posicionam de maneira desconfortvel e
de modo desajeitado, realizando flexo, com ou sem rotao de tronco, e muitas
vezes tendo que realizar movimentos de sustentao de peso ou vencer algum grau
de hipertonia do paciente, respondendo a movimentos sbitos ou inesperados do
paciente, utilizando sua fora corporal numa posio indesejvel e com tarefas
repetitivas. Normalmente, essa postura sentada acompanhada de flexo dos
membros inferiores, o que torna bastante exaustivo, tendo poucas opes de
mudanas de postura.
A dor nas costas, decorrente de posturas inadequadas no ambiente de trabalho,
uma das desordens ocupacionais mais encontradas pelos pesquisadores e, segundo
Couto (1995), identificada por estudos epidemiolgicos e anlises biomecnicas. A
adoo de posturas inadequadas na realizao de determinadas funes,
associadas a outros fatores de risco existentes no posto de trabalho, como
sobrecarga imposta coluna vertebral, vibraes e manuteno de uma postura por
tempo prolongado constitui nas maiores causas de afastamento do trabalho e de
sofrimento humano.
Mesmo se tratando de um tema relevante, percebe-se a escassez de referncias
em sobrecargas posturais em fisioterapeutas, por atividades profissionais. Porm,
este um tema de grande importncia no meio profissional.
Esta pesquisa trar uma melhor compreenso das caractersticas do processo
sade/doena da atividade de trabalho do fisioterapeuta, para ajudar na melhoria
das condies profissionais, principalmente nos aspectos fsicos destes profissionais
e conseqentemente poder contribuir para uma boa qualidade de vida no trabalho.
1.5 Delimitao do Estudo
A delimitao deste estudo compreender a anlise dos constrangimentos
18
posturais em Fisioterapeutas, principalmente queles que utilizam tcnicas manuais
em atendimento aos seus pacientes, utilizando-se mtodos na identificao das
posturas de trabalho, propondo recomendaes para melhores condies de vida
profissional.
1.6 Limitao do Estudo Este estudo teve por limitao o fato da pesquisa ser de caracterstica transversal
impossibilitando uma anlise mais aprofundada acerca da freqncia de algumas
ocorrncias.
O Mtodo de avaliao postural utilizado (OWAS), no analisa as posturas das
articulaes das extremidades dos membros superiores, como punho e mo.
1.7 Pergunta de Pesquisa
Quais as posturas adotadas nos procedimentos fisioterpicos que trazem
sobrecarga msculos-esquelticas aos profissionais fisioterapeutas?
19
2. REVISO DA LITERATURA Parte desse trabalho foi realizada, com levantamento sistemtico sobre o tema
em bases de dados cientficos com consultas disponibilizadas nas pginas
eletrnicas da Internet, como:
Bireme/OPAS/WHOLIS/OMS Sistema Integrado de Informaes do Centro Latino-Americano de Informaes;
Lilacs Literatura e Perdicos Latino-Americana e do Caribe;
Medline Medicine on line;
www.eps.ufsc.br Pgina de base de dados da Engenharia de Produo e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina;
www.usp.br Pgina de bases de dados de Ps-graduao da Universidade de So Paulo.
O restante foi pesquisado em livros, peridicos e publicaes de tese de
doutorado e dissertaes de mestrado.
As palavras chaves utilizadas na pesquisa foram: sobrecargas posturais;
procedimentos fisioterpicos; biomecnica ocupacional.
2.1 Postura Corporal A postura tem sido objeto de estudo desde h muito tempo e descrita por muitos
autores sob diferentes contextos. As posturas so utilizadas para realizar atividades
com o menor gasto energtico, e atravs das posies mantidas pelo tronco, que
20
se determina eficincia do movimento e as sobrecargas impostas coluna
vertebral. Freqentemente determinada pela natureza da tarefa ou do posto de
trabalho.
De acordo com Smith e Lehmkuhl (1997), postura um termo definido como
uma posio ou atitude do corpo, a disposio relativa das partes do corpo para uma
atividade especfica, ou uma maneira caracterstica de sustentar o prprio corpo. O
corpo pode assumir muitas posturas consideradas confortveis por longos perodos
e realizarem as mesmas tarefas. Quando ocorre um desconforto postural por
contrao muscular contnua, tenso ligamentar, compresso ligamentar ou ocluso
circulatria, normalmente procura-se acomodar o corpo em uma nova atitude
postural. Quando no se alteram as habituais posies, podem ocorrer leses
teciduais, limitao de movimentos, deformidades ou encurtamentos musculares
restringindo as atividades de vida diria sejam elas em postura sentada, em p ou
deitada.
Kendall (1995), definiu postura como o arranjo caracterstico que cada indivduo
encontra para sustentar o seu corpo e utiliz-lo na vida diria, envolvendo uma
quantidade mnima de esforo e sobrecarga, conduzindo eficincia mxima do
corpo. A grande interao entre as musculaturas esttica e dinmica evidenciada
entre os vrios autores, quando se referem a qualquer atividade corporal, onde a
postura dinmica est associada a execuo de tarefas numa soma de vrios
movimentos articulares que permitem realizar as atividades de trabalho, enquanto
que a postura esttica associa-se manuteno do tnus dando base necessria
estabilizao das estruturas centrais do corpo (escpulas, coluna vertebral e pelve).
Para a Academia Americana de Ortopedia citada em 1983 por Knoplich, postura
um arranjo relativo das partes do corpo e, como critrio de boa postura, o equilbrio
entre suas estruturas de suporte (msculos e ossos), que as protegem contra uma
agresso por trauma direto ou deformidade progressiva por alteraes estruturais. J
a m postura aquela onde h falha no relacionamento das vrias partes do corpo,
induzindo ao aumento de agresso s estruturas de suporte produzindo um
desequilbrio nas bases de suporte corporal. Postura inadequada exigir maiores
foras internas para a execuo de uma tarefa e postura correta promove boas
21
condies biomecnicas, o que leva um maior rendimento com relao energia
localizada. O autor descreve que a postura esttica exige, geralmente baixos nveis
de tenso muscular e o estado prolongado de contrao muscular produz
compresso dos vasos sangneos, reduzindo o fluxo de sangue e o fornecimento
de oxignio, o que leva ao desconforto e dor muscular, provocando fadiga mais
rapidamente que a postura dinmica.
Bienfait (1995), defende que, um corpo est em equilbrio estvel quando a
vertical traada a partir de seu centro de gravidade cai no centro da base de
sustentao e que o centro de gravidade geral resultante de todos os centros de
gravidade segmentares em relao ao peso, havendo tantos centros de gravidade
quantas forem s posies em nossa esttica. E as curvaturas vertebrais no so as
mesmas para todos os indivduos diferenciando principalmente pelas raas,
especialmente as lombares, mais pronunciadas na raa negra do que as da raa
branca e na raa amarela geralmente ocorrem o inverso, isto , uma inverso da
curvatura lombar.
Os membros inferiores so a base slida e estvel da estrutura corporal na
postura em p, constituindo a plataforma de apoio. Sua posio que condicionam a
forma, a dimenso e a orientao da base de sustentao, cujas variaes so
elementos capitais na esttica do corpo humano, sobretudo, sua estabilidade.
Enquanto o tronco o elemento mvel que desloca o centro de gravidade,
controlado pela musculatura tnica; e a cabea e o pescoo controlam a
coordenao do conjunto, onde a cabea impera a verticalidade dela prpria e a
horizontalidade do olhar.
A literatura aponta o fisioterapeuta como um dos profissionais da rea da sade
que mais sofrem carga fsica durante suas atividades de trabalho, pelas posturas
adotadas durante os atendimentos aos seus pacientes. Mierzerjewski e Kumar
(1997), Bork (1996) e Cromie (2000), afirmam o aparecimento de sintomas de dores
em membros superiores e coluna vertebral por movimentos repetitivos e posturas
inadequadas durante as atividades de trabalho dos fisioterapeutas. A coluna
vertebral sofre com essas posturas, pois em grande parte delas este profissional
trabalha em flexo e/ou rotao de tronco, porm so poucas as referncias
22
bibliogrficas sobre as conseqncias de m postura, sobrecargas posturais e
movimentos antifisiolgicos durante essa atividade profissional.
2.1.1 Postura em p
Esta postura altamente fatigante, pois exige grande trabalho esttico da
musculatura envolvida nesta postura. A circulao sangnea das extremidades
corporais fica diminuda, porm os trabalhos desenvolvidos dinamicamente em p
promovem menos fadiga que aqueles desenvolvidos estaticamente ou com pouco
movimento corporal. De acordo com Santos e Dutra (2001), na posio em p ocorre
um aumento da presso hidrosttica do sangue nas veias das pernas com acmulo
de lquidos tissulares nas extremidades inferiores promovendo a dilatao das veias
das pernas, edema tecidual do tornozelo e fadiga muscular dos msculos da
panturrilha.
As tarefas que exigem a posio em p por tempo prolongado promovem fadiga
muscular na regio das costas e pernas que piora com a inclinao do tronco e da
cabea, provocando dores na regio alta da coluna vertebral. H uma sobrecarga
maior quando os braos esto dispostos acima da cintura escapular, principalmente
sem apoio produzindo dores nos ombros (DUL, 1991).
Kapandji (2000), descreve que na posio ortosttica com apoio simtrico dos
membros inferiores, a coluna lombar se apresenta em curvatura anterior, a lordose
lombar. J num apoio assimtrico sobre um membro inferior, a coluna lombar
apresenta uma concavidade para o lado do apoio, devido bscula da pelve, para
isso a coluna dorsal adota uma postura produzindo uma concavidade para o lado do
membro sem carga. J a coluna cervical adota uma curvatura para o lado da
curvatura lombar, isto , de concavidade para o lado de apoio. O autor relata que
estudos eletromiogrficos de Brgger revelaram que, durante a flexo anterior do
tronco, os primeiros msculos a se contrarem so os paravertebrais, seguidos dos
glteos, squios-tibiais e sleos. E no final deste movimento a coluna vertebral se
estabiliza pela ao passiva nica dos ligamentos vertebrais, tornando como ponto
23
fixo, a pelve, retendo o movimento de anteverso pelos squios-tibiais. Durante a
retificao, a musculatura intervm em ordem inversa; primeiramente os squios-
tibiais, depois os glteos e depois os lombares e dorsais. Quando a coluna j se
encontra em posio ortosttica retilnea, os msculos da regio posterior (trceps
sural, squiotibiais, glteos e paravertebrais) encontram-se em contrao tnica por
pequeno desequilbrio para frente, enquanto os abdominais ficam relaxados.
2.1.2 Postura sentada
Grande parte das atividades de trabalho de um indivduo realizada na posio
sentada. Esta postura tem sua origem na definio hierrquica de posies sociais,
reservadas queles de maior poder.
Historicamente a literatura relata que no incio deste sculo a postura sentada
passou a ser vista como uma posio de conforto para as atividades, proporcionando
bem estar e melhor rendimento no trabalho com menor gasto energtico. E com o
aumento do trabalho sentado, principalmente nos pases industrializados,
desenvolveu-se uma maior ateno aos tipos de assento levando ao
desenvolvimento das aplicaes mdicas e ergonmicas para a configurao de
assentos de trabalho (GRANDJEAN, 1998). O simples fato de se sentar, coloca a
coluna vertebral numa postura anormal.
Rio e Pires (2001), concluram que, sob o ponto de vista biomecnico, por melhor
que seja, a postura sentada impe carga significativa sobre os discos intervertebrais,
cerca de 50% (COUTO, 1995), principalmente da regio lombar, e se mantida
estaticamente por perodo prolongado pode produzir fadiga muscular e
conseqentemente dor. Devemos lembrar que os discos intervertebrais so
estruturas praticamente desprovidas de nutrio sangunea e que o aumento em sua
presso interna reduz a nutrio do mesmo promovendo uma degenerao desta
estrutura. Seu comprometimento estrutural menor que a postura em p. Grandjean
(1998), descreve com clareza que as vantagens da postura sentada so o alvio dos
membros inferiores, baixo consumo energtico, menor sobrecarga ao corpo e alvio
24
circulao sangunea. Porm, pesquisadores como Nachemson e Anderson citado
por Grandjean (1998), demonstram atravs de mtodos precisos, que na postura
sentada, a mecnica da coluna vertebral perturbada produzindo desgastes e
conseqentemente leses nos discos intervertebrais, pela presso que essas
estruturas sofrem nesta postura, principalmente por tempo prolongado.
Outro fator importante no aumento da presso dos discos intervertebrais descrita
por Couto (1995), o fato de que a mesma se d de maneira assimtrica onde a
poro anterior do disco se apresenta sob presso, enquanto que a poro posterior
se apresenta sob tenso favorecendo a patologias discais. Essas alteraes
fisiolgicas ocorrem no somente na regio baixa da coluna vertebral, mas tambm
na regio alta, produzindo irritaes nervosas da coluna cervical, ombros e membros
superiores, manifestando-se como a sndrome cervical com sintomas de dor e
rigidez da regio da nuca de maneira bastante freqente.
De acordo com Kapandji (2000), na posio sentada com apoio isquitico e sem
apoio no encosto, o peso corporal cai unicamente sobre os squios e a pelve sofre
um equilbrio instvel, promovido por uma anteverso de pelve, levando a
hiperlordose lombar e aumento das curvaturas cervical e dorsal. Os msculos da
cintura escapular e dos membros superiores agem para manter a esttica da coluna
vertebral que em longo prazo produz dores nessa regio. E na postura sentada com
apoio squio-femoral, tronco inclinado para frente e apoio dos cotovelos sobre os
joelhos, o apoio se d nas tuberosidades isquiticas e regio posterior das coxas, a
pelve se encontra em anteverso, e com o aumento da cifose dorsal h retificao
da lordose lombar. uma posio de relaxamento da cadeia muscular posterior que
diminui o efeito de cisalhamento sobre o disco lombosacro e o tronco permanece
com um mnimo de esforo muscular.
A ao de se sentar com apoio squio-sacral coloca a pelve em retroverso
moderada e reduz ou anula a lordose lombar, ocorrendo uma retificao dessa
regio. Nessa posio da coluna lombar, o formen que permite a passagem das
razes nervosas se abre e a atividade dos msculos extensores da coluna
interrompida, reduzindo assim a compresso qual os discos intervertebrais so
submetidos. A posio com retificao da lordose lombar, como foi descrito por
25
Williams (1965), utilizada no repouso adicional para aliviar os casos mais agudos.
Este autor reconheceu a nocividade na posio sentada prolongada e descreveu a
ocorrncia de uma destruio do disco intervertebral, resultante de uma causa
postural e conforme Santos e Dutra (2001), a postura sentada proporciona alvio nos
membros inferiores com melhor circulao sangunea, posicionamento menos
forado do corpo, menor gasto energtico; porm promove flacidez abdominal e
desenvolvimento da cifose dorsal da coluna vertebral.
A posio sentada apresenta vantagens sobre a postura em p, pois o corpo se
apia em maior rea de superfcie como assento, encosto, braos da cadeira,
portanto menos cansativa, porm as atividades que exigem maiores foras so
melhores executadas na postura em p (DUL, 1991).
Pesquisa realizada por Andersson e Nachemson (1974) referida por Grandjean
(1998), revelou que a presso no interior do disco intervertebral na postura sentada
maior do que na postura em p, pelos mecanismos de rotao posterior da bacia,
endireitamento da regio sacral e retificao da lordose lombar. Uma presso de
100% sobre os discos intervertebrais na postura em p, essa presso passa a 140%
na postura sentada e a 190% na postura sentada com inclinao do tronco para
frente. Na Figura 1, esto demonstradas as medidas de presso intradiscal nas
posturas em p e sentada, sem encosto.
A B C D E F G H Figura 1: Medidas de Presso Discal nas Posturas de P e Sentada sem Apoio
Dorsal Fonte: Chaffin, 2001 Adaptado de Andersson et al, 1974.
26
De acordo com Chaffin (2001), a postura sentada dividida nas posies
anterior, mdia e posterior de acordo com a localizao do centro de massa corporal
e afeta a proporo do peso do corpo transmitida para as diferentes superfcies de
apoio. Esta postura depende do formato do assento, dos hbitos posturais e da
tarefa a ser desenvolvida sendo a mais freqente aquela com inclinao anterior do
tronco. A altura e a inclinao do assento, a posio, forma e inclinao do encosto e
a presena de outros tipos de apoio influenciam na postura. Segundo o autor, vrios
outros fatores indicam um aumento do risco de lombalgia e dorsalgia em indivduos
que realizam tarefas predominantemente nesta postura e por perodos prolongados.
Kelsey e Hardy (1975) citado por Chaffin (2001), encontraram em seus estudos,
riscos triplicados de desenvolvimento de hrnia de disco em indivduos que passam
mais da metade da jornada de trabalho dentro do automvel, pelo tempo prolongado
nesta postura ou vibrao no ato de dirigir ou ainda na combinao dos dois fatores.
Grandjean (1998), cita o pesquisador Lundervold sobre um estudo
eletromiogrfico onde demonstrou que a postura sentada com leve inclinao
anterior do tronco reduz o trabalho esttico da musculatura da coluna vertebral, e
que at certo ponto recomendvel, porm a sobrecarga para os discos
intervertebrais evidente, tornando compreensvel que a postura sentada um
problema para a coluna vertebral do ser humano.
Estudos descritos por Andersson (1974), comprovaram que a presso discal
consideravelmente menor na posio em p do que na postura sentada sem apoio,
por deformao do disco, pela retificao da coluna lombar e pelo aumento de carga
do tronco na rotao posterior da pelve e rotao anterior da coluna lombar e tronco.
A presso discal na postura sentada reduzida quando o encosto inclinado
posteriormente, principalmente num ngulo de 110o da horizontal, explicado pelo
aumento na transferncia de carga do tronco para o encosto e pelo aumento da
lordose lombar que produz uma reduo na deformao dos discos intervertebrais
lombares. A utilizao de apoio dos braos, principalmente sobre a mesa de
trabalho, outro fator importante na reduo da presso dos discos intervertebrais
lombares por reduo dos momentos de fora sobre a coluna lombar.
27
A mudana de postura durante a atividade de trabalho de grande importncia
para a sade do sistema msculo-esqueltico, possibilitando, alm da reduo de
cargas estticas e variao da utilizao de estruturas articulares e musculares.
A postura semi-sentada tem sido proposta para algumas situaes de trabalho,
porm no como nica alternativa para o trabalhador durante sua jornada de
trabalho, pois esta postura ainda no apresenta concluses definitivas podendo ser
utilizada apenas por pequenos perodos (RIO e PIRES, 2001).
2.2 Aspectos Antomo-fisiolgicos da Postura A postura corporal considerada normal no adulto, quando o eixo vertical do
corpo humano, numa posio ereta, passa pelo vrtex, apfise odontide da
segunda vrtebra cervical, corpo da terceira vrtebra lombar e projeta-se no solo, no
centro do quadriltero de sustentao, eqidistante dos dois ps. O ngulo sacral
deve ser de 32 graus, o disco vertebral entre a terceira e quarta vrtebra lombar
estritamente horizontal e a terceira vrtebra lombar deve se apresentar mais
anteriorizada, de acordo com Bricot (2001).
Segundo Kendall (1995), uma postura padro pode apresentar pontos de
referncia por estruturas anatmicas coincidentes com um fio de prumo ao se
colocar lateralmente ao corpo do homem, devendo este passar ligeiramente posterior
ao pice da sutura coronal, atravs do meato auditivo externo, atravs do processo
odontide do xis, atravs dos corpos das vrtebras lombares, ligeiramente posterior
ao centro da articulao do quadril, ligeiramente anterior ao eixo da articulao do
joelho, atravs da articulao calcneo-cubidea. Para a adoo desta postura, h
necessidade de um sistema muscular equilibrado com a participao das fibras
tnicas e tnico-fsicas, que apresentam grande capacidade resistncia fadiga
muscular, apesar de menor fora contrtil. Se esta relao de equilbrio estiver
alterada, pode ocorrer uma desarmonia entre os segmentos corporais, produzidas
por foras contrrias desequilibradas e induo de um quadro antlgico. Vrios so
28
os fatores que comprometem o equilbrio de foras musculares, entre eles o distrbio
no tnus muscular neurognico, que por muitas vezes alterado pela presena de
dor. Ou o desuso ou o super uso de determinado grupo muscular, em detrenimento
de seu opositor e leses nervosas.
A manuteno de uma determinada atitude corporal propicia mudanas
estruturais no msculo estriado esqueltico como forma de adaptao postural,
sendo essas alteraes as responsveis pela perda da flexibilidade do corpo
(CORBIN, 1980 e CRAWFORD, 1993).
Viel e Esnault (1999), citam a posio de presso mnima descrita por Thornton
(1978), (Figura 2), como aquela de menor compresso intradiscal determinada pela
abertura da articulao coxofemoral de 120o a 128o, com o mnimo de trao
ligamentar, promovendo um estado de relaxamento, permitindo a conservao das
curvaturas vertebrais nos valores normais do indivduo.
Figura 2: Posio de Geometria de Presso Mnima Fonte: Thornton, (1978).
Na adoo de uma postura com sobrecarga para a coluna vertebral, ocorre a
diminuio no comprimento da fibra muscular relacionada mantida em encurtamento,
que pode ocorrer numa postura corporal mantida inadequadamente ou por tempo
prolongado, associado perda da extensibilidade, devido s alteraes no tecido
29
conjuntivo, predispe a diminuio da amplitude articular e a leses e/ou dor e
reduo da fora mxima de contrao, esclarecidos por Williams (1978) e Maxwell
(1992).
Para manuteno da postura corporal, utilizamos a coluna vertebral como a
principal estrutura de transmisso de peso do corpo humano, capaz de sustentar
grandes cargas, assegurando a proteo da medula espinhal, associada com a
manuteno de equilbrio e apoio corporal. Tambm como responsvel pela
determinao da amplitude de movimento do tronco, possibilitando uma flexibilidade
adequada (GRIEVE, 1994).
A poro anterior da coluna vertebral (corpos e discos), proporciona sustentao
do peso corporal, amortecimento de choques e mobilidade em todas as direes.
Enquanto a poro posterior proporciona proteo medula espinhal, orientao e
limitao dos msculos do tronco e extremidades (SMITH, 1997).
A coluna vertebral mantm o eixo longitudinal do corpo por uma haste
multiarticulada e seus movimentos ocorrem como resultado de movimentos
combinados de cada vrtebra individualmente, conforme descreve Lippert (1996).
Esta estrutura composta por 33 (trinta e trs) vrtebras, arranjadas em quatro
curvaturas fisiolgicas que do equilbrio e fora coluna vertebral. Sendo
distribuda em sete vrtebras cervicais, formando uma curvatura convexa anterior
denominada lordose cervical, doze vrtebras torcicas, formando uma curvatura
convexa posterior, denominada cifose dorsal ou cifose torcica, cinco vrtebras
lombares, formando uma curvatura convexa anterior, denominada lordose lombar,
desenvolvida em resposta ao apoio do peso corporal e influenciado pelo
posicionamento plvico e dos membros inferiores; e cinco vrtebras fundidas do
sacro e quatro a cinco vrtebras fundidas do cccix, formando a curvatura
sacrococcgea. As curvaturas cervical e lombar so mveis, e a torcica e a sacral
so rgidas. A juno na qual termina uma curvatura e comea a prxima ,
geralmente um local de maior mobilidade e que est mais vulnervel leso, sendo
elas: regies cervicotorcica, toracolombar e lombossacral da coluna vertebral
(HAMILL e KNUTZEN, 1999).
30
Kapandji (2000), descreve a coluna vertebral como uma estrutura de forma
retilnea numa vista posterior, podendo se manifestar em alguns indivduos, uma
certa curvatura transversal sem que se refira a um caso de curvatura patolgica,
quando esta permanece dentro de um estreito limite. A presena das curvaturas
vertebrais aumenta a resistncia da coluna vertebral aos esforos de compresso
axial.
A coluna vertebral apresenta como componentes de sua estrutura:
Vrtebra: formada por uma massa cilndrica ssea esponjosa, circundada por uma fina camada de osso cortical, compostas pelo corpo vertebral (poro mais
macia da vrtebra), o arco posterior com forma de ferradura, onde se fixam as
apfises articulares, os pedculos que anteriormente se articulam com as apfises,
as lminas que posteriormente se fixam na apfise espinhosa e ainda as apfises
transversas que se soldam sobre o arco posterior das apfises articulares.
Disco intervertebral: componente vital para a coluna vertebral localizado entre duas vrtebras adjacentes, responsvel pela distribuio das cargas, permitindo um
movimento adequado a pequenas cargas e prov a estabilidade em cargas maiores.
Formado por uma parte central, uma massa gelatinosa denominada ncleo pulposo
e uma parte perifrica formada por um anel fibroso circundante denominado anel
fibroso.
Ligamentos espinhais: estruturas que desenvolvem uma variedade de funes, como minimizar a fora muscular necessria para os movimentos
coordenados, restringir os movimentos dentro de limites definidos e promover um
suporte adicional para a coluna vertebral sob condies traumticas. O sistema
ligamentar to importante quanto o sistema sseo, so eles que asseguram a
solidez e a flexibilidade do conjunto (BIENFAIT,1989).
Sob qualquer forma de carga sobre a coluna vertebral, a parte mais fraca do
sistema vertebral, tende a falhar, seja na compresso ou toro da coluna vertebral.
Altas presses nos componentes vertebrais podem levar degenerao das
31
superfcies das facetas articulares podendo produzir certos tipos de dores nas costas
(GRIEVE, 1994).
A coluna vertebral, como um todo, considerada uma estrutura composta por
articulaes do tipo triaxial, isto , articulaes que permitem movimento ativo em
trs eixos (pontos que atravessam o centro de uma articulao em torno da qual ela
gira), e o movimento articular ocorre de um eixo que est sempre perpendicular a um
plano (linhas de referncia ao longo das quais o corpo se divide em anterior e
posterior, superior e inferior e lateral direito e lateral esquerdo). LIPPERT (1996),
descreve os movimentos da coluna vertebral como sendo:
Flexo e extenso: movimento de inclinao anterior e posterior do tronco, que ocorre no plano sagital, em torno do eixo frontal.
Flexo lateral ou inclinao lateral: movimento de inclinao lateral do tronco, que ocorre no plano frontal, em torno do eixo sagital.
Rotao: movimento de toro do tronco, que ocorre no plano transversal, em torno do eixo vertical
A musculatura responsvel pelo equilbrio dinmico atravs dos gestos
voluntrios conscientes denominada de musculatura dinmica e a musculatura que
reage de uma maneira reflexa para controlar os desequilbrios segmentares atravs
do equilbrio esttico denominada musculatura esttica. A funo dinmica da
coluna vertebral pode ser resumida em duas grandes funes: a deambulao,
funo ascendente originada de cintura plvica e dos membros inferiores: e a
preenso, funo descendente originada de cintura escapular e dos membros
superiores. Alguns msculos podem ser considerados totalmente dinmicos e suas
poucas unidades tnicas so devidas sua tenso permanente, e preparam o
msculo para uma contrao rpida; so os grandes msculos do movimento, em
geral os dos membros. Outros msculos so praticamente tnicos, cuja interveno
rpida nos desequilbrios bruscos ou quedas repentinas, so os msculos
antigravitacionais, seja equilibrando as articulaes de carga ou suspendendo os
segmentos pendulares. Enfim, uma terceira categoria so os msculos dinmicos
32
cujas unidades tnicas so submetidas a aferncias centrais e apresenta uma
atividade postural direcional preparando um msculo para um movimento preciso,
so os msculos do tronco e das cinturas plvica e escapular (BIENFAIT, 1995).
2.3 Aspectos Biomecnicos da Postura
A postura uma das variveis mais importantes, afetando tanto a fora dinmica
quanto a fora esttica de um indivduo. Quando os msculos esquelticos agem em
torno das articulaes, girando os segmentos corpreos adjacentes, o fator
biomecnico pode ser observado, pela ao da fora muscular atravs dos braos
de alavanca. Com a modificao do ngulo articular, os braos de potncia tambm
alteram, modificando assim a ao da fora muscular na produo do movimento de
acordo com o comprimento do brao de alavanca. Os aspectos biomecnicos
posturais so relevantes na capacidade de realizao de tarefas extenuantes dos
trabalhadores (CHAFFIN, 2001).
O estudo da biomecnica surgiu h muito tempo, desde o sculo XVI com a
utilizao do conceito de perodo constante de oscilao para medir freqncia
cardaca com um pndulo pelo fsico Galileu Galilei. Os aspectos biomecnicos
relacionados ao sistema msculo-esqueltico foram demonstrados por Leonardo da
Vinci (1452-1519) e a preocupao de minimizar os traumas ao ser humano
mecanicamente, induzido pela atividade laboral foi concluda por Tichauer (1978)
citado em Chaffin (2001). A partir da houve avanos necessrios da biomecnica
ocupacional como base cientfica e aplicao para que os trabalhadores sejam
capazes de executar suas tarefas sem riscos de leso. De acordo com Chaffin, essa
evoluo tem ocorrido significativamente nas ltimas dcadas dando apoio
variedade de aplicaes prticas demandada atualmente.
Estudos radiogrficos referidos por Chaffin (2001), mostram que a postura
sentada anterior com inclinao do tronco para frente obtida quando a coluna est
ereta ou em leve cifose e rotao anterior da pelve, podendo estar associada a uma
33
cifose total da coluna vertebral ou ainda com presena de lordose lombar. Nesta
postura o centro de massa encontra-se frente das tuberosidades isquiticas e as
pernas suportam mais de 25% do peso corporal. A postura sentada posterior ocorre
com a formao de uma retificao lombar ou cifose da coluna vertebral associada a
uma retroveso de pelve. Nesta postura menos de 25% do peso corporal
suportado pelas pernas e o centro de massa encontra-se atrs das tuberosidades
isquiticas. Andersson (1974), em estudos radiogrficos na mudana de postura de
p para sentada sem apoio dorsal, revelou uma reduo de 38o na lordose lombar,
principalmente por rotao posterior da pelve em 10o, e pequenas alteraes
angulares entre L1 e L2 e entre L2 e L3 e ainda alterao de aproximadamente 4o na
articulao sacro-ilaca.
Mandall (1981), afirma que o ngulo mximo de flexo nas articulaes dos
quadris de 600 e que os 300 formam-se pela retificao da lordose da coluna
lombar.
De acordo com estudos realizados por Moro et al (1999), na postura sentada
ocorre uma mudana significativa na curvatura anatmica vertebral, ocorrendo uma
inverso da coluna lombar, um aumento da cifose torcica e uma diminuio do
ngulo plvico produzindo uma retroverso plvica.
Na regio cervical existem duas colunas, uma superior, que tem como funo o equilbrio vertical da cabea durante os movimentos do corpo; constituda por dois
sistemas articulares: a articulao occipito-actloideana (C0-C1), com movimentos de
flexo e extenso e a articulao atlas-xis (C1-C2), com movimentos de rotao e
outra inferior, que tem como funo os deslocamentos da cabea e a orientao do olhar que comanda todos os nossos gestos; constituda pelas articulaes C2-C3, C3-
C4, C4-C5, C5-C6, C6-C7, C7-D1. Os movimentos das duas colunas so sempre
capazes de dissociarem-se.
34
Figura 3: Movimentos de Flexo e Extenso da Regio Cervical Fonte: Wall, (1991).
A horizontalidade do olhar pode ser garantida por uma anteflexo ou uma
posteroflexo da coluna cervical anterior, associada a uma flexo ou a uma extenso
occipitais. na regio da coluna dorsal num sistema descendente que, ocorrem
todas as compensaes das posies da cabea e da coluna cervical, sejam
estticas ou dinmicas (BIENFAIT, 2000).
O peso corporal, a tenso nos ligamentos vertebrais e nos msculos
circundantes, a presso intra-abdominal e qualquer carga externa aplicada so
foras que atuam sobre a coluna vertebral (Figura 4). Na postura ereta a principal
carga que age sobre a coluna axial, contribuindo para a compresso vertebral.
Para manter a posio ereta do corpo, o torque deve ser contrabalanado pela
tenso nos msculos tensores do tronco (HALL, 2000).
35
Figura 4: Resultante do Peso Corporal na Postura Ereta Fonte: HALL, (2000).
Na flexo do tronco ou dos braos, os braos do momento se tornam maiores e
contribuem para aumentar o torque flexor e isto explica porque aconselhvel
levantar ou conduzir peso o mais prximo possvel do tronco. Em flexo plena, a
tenso no ligamento interespinhoso contribui muito para a fora de cisalhamento
anterior aumentando a sobrecarga nas articulaes facetarias. Em flexo lateral e
toro axial, necessrio um padro mais complexo de ativao dos msculos do
tronco para flexo e extenso. A coluna em flexo lateral e em toro axial gera uma
fora de compresso de 1400N e 2.500 N, respectivamente (HALL, 2000).
De acordo com Kapandji (2000), as foras de compresso sobre o disco vertebral
aumentam com o aumento do peso do corpo acima do disco vertebral, considerando
o peso dos membros superiores, tronco e cabea. Num movimento de flexo anterior
do tronco, o ncleo pulposo do disco deslocado para trs e ocorre um aumento na
tenso dos ligamentos do arco posterior (A). Num movimento de extenso do tronco,
o ncleo pulposo do disco deslocado para frente e ocorre um aumento na tenso
dos ligamentos do arco anterior (B). Na flexo lateral ou inflexo lateral da coluna
vertebral, o ncleo pulposo se desloca para o lado da convexidade (C);
esquematizadas na Figura 5. Esses movimentos em excesso ou repetidos,
principalmente com carga, induzem a formao das hrnias de disco.
Fc = Fora de Compresso Fs = Fora de Cisalhamento Fr = Fora Resultante (peso)
36
(A) (B) (C)
Figura 5: Deslocamento do Ncleo Pulposo do Disco Intervertebral Fonte: Kapandji, (2000).
O termo momento de fora (M) ou torque descrito por Enoka (2000), como a
capacidade de uma fora para produzir rotao de um corpo em relao a um eixo, e
definido como o produto da Fora (F), em Newton, pela distncia perpendicular entre
a linha de ao da fora e o eixo de rotao (d), em metros, representada pela
equao:
De acordo com Knutzen e Hamill (1999), a carga nas vrtebras lombares durante
uma atividade de levantamento de peso aumenta, principalmente com o aumento da
distncia entre o peso e o tronco, isto , ao se levantar um objeto, deve-se aproxima-
lo do corpo de maneira que o brao de alavanca (distncia entre L3 ao ponto onde a
fora de gravidade atua no corpo e no objeto), seja o mais curto possvel para
favorecer a execuo do movimento.
Segundo Looze et al (1998), a carga deve ser mantida na coluna vertical, isto , o
centro de gravidade deve passar o mais prximo possvel ao eixo longitudinal do
corpo. Alm disso, a capacidade de carga mxima deve ser determinada atravs da
anlise de FMI (Fora Isomtrica Mxima) da musculatura envolvida, e para
manuteno de postura ortosttica no dever exceder 50% da FMI.
De cordo com os autores, as cargas aplicadas na coluna vertebral so
M = Fxd
37
produzidas pelo peso corporal, pela fora muscular que age sobre cada segmento
mvel, pelas cargas externas que esto sendo manipuladas e pelas foras de pr-
carga que esto presentes devido s foras dos discos e ligamentos. Sobre as
vrtebras lombares na posio em p, h uma carga axial de compresso de 700N,
que pode ter valores acima de 3000N numa sobrecarga como num levantamento de
peso a partir do solo ou simplesmente reduzida pela metade (300N) na posio de
decbito dorsal.
Nesta ltima postura em relaxamento ou repouso, h uma reduo significativa
das cargas sobre a coluna lombar devido perda das foras do peso corporal.
Porm, com os membros inferiores em extenso, h uma imposio de carga sobre
esta regio devido trao do msculo psoas, que pode ser diminuda com um
suporte embaixo dos joelhos semi-fletidos, produzindo um relaxamento deste
msculo. J na postura sentada, as presses aumentam em 40% em relao a
postura em p.
Alguns estudiosos desenvolveram modelos biomecnicos para avaliar as foras
que agem sobre diferentes estruturas do corpo humano e algumas vezes estimar a
magnitude mxima permissvel para o manuseio de uma carga em vrias posturas, o
tamanho adequado das ferramentas de trabalho e a configurao menos estressante
de postos de trabalho. Esses modelos podem auxiliar na obteno de dados sobre a
capacidade msculo-esqueltica provenientes de diferentes fontes como referncia
para projetos de postos de trabalho. H situaes de trabalho em que os modelos
so a nica forma de estimar as condies de risco em potencial em certos tecidos
do sistema msculo-esqueltico (CHAFFIN, 2001).
Chaffin (2001), afirma que os modelos biomecnicos foram desenvolvidos para
representar os fenmenos cuja complexidade se reduz no conhecimento do
funcionamento dos componentes das funes msculo-esquelticas de um sistema
biomecnico, com avaliao de situaes reais. Alguns modelos foram utilizados
para calcular foras e momentos sobre o disco intervertebral L5/S1, pois h um
grande nmero de trabalhadores incapacitados por dores lombares associadas ao
trabalho manual, surgimento de leses do punho por esforos manuais repetitivos,
especialmente quando realizadas em posturas inadequadas extremas, e ainda para
38
a determinao das foras musculares em diferentes posturas, que fornecem a base
para diretrizes em relao ao nmero esperado de pessoas capazes de realizar uma
determinada tarefa. Neste modelo a posio de dois segmentos quando o indivduo
inclina o tronco anteriormente ou quando agacha para realizar o levantamento de um
objeto, foi determinada por dados onde mostram que a medida que o tronco fletido
anteriormente, a pelve contribui para o movimento aps 20 a 30, girando numa
proporo de cerca de 2 para cada 3 de inclinao do tronco. Inversamente, se o
joelho fletido, a pelve gira no sentido anti-horrio aps cerca de 45 numa
proporo de aproximadamente 1 para cada 3 de flexo do joelho.
Numa carga movida para mais ou menos prxima do tronco, a resposta da Fora
de Compresso seria bastante afetada. O modelo demonstra que um risco em
potencial sobre a coluna vertebral existe para alguns trabalhadores, quando os
mesmos elevam uma carga de maior peso, mais prximo ao corpo ou de menor peso
longe do corpo. No modelo apresentado na Figura 6 as foras examinadas so as de
cisalhamento (Fs) do disco intervertebral (L5/S1), a fora de compresso do disco
(Fc), e o momento resultante, em M1 maior que em M2, devido a distncia entre a
carga (P) e o ponto de encontro das foras atuantes (L5/S1), (CHAFFIN, 2001).
Figura 6: Foras de Reao num Levantamento de Peso Fonte: Chaffin, (2001).
Na Figura 7 , observa-se as Foras de Reao e a Fora de Cisalhamento em L5-
S1 produzidos pela carga (CHAFFIN, 2001).
39
Figura 7. Fora de Reao e Fora de Cisalhamento (L5/S1) com carga Fonte: Chaffin, (2001).
De acordo com Grieve (1994), a grande maioria dos estudos biomecnicos
enfatiza a importncia da compresso ou carga de toro sobre a coluna vertebral,
porm pouco se desenvolveu sobre a determinao das propriedades mecnicas do
segmento de movimento na inclinao do tronco. E os movimentos fisiolgicos da
coluna vertebral, raramente so puros em torno de um nico eixo, mas sim numa
combinao destes.
2.4 Posturas Adotadas no Trabalho
Todo trabalhador adota um tipo de postura de acordo com a funo que exerce
em sua atividade de trabalho, e mesmo no intencionalmente, procura utilizar-se de
uma postura que lhe seja o mais confortvel possvel.
Os fatores pessoais no trabalho tambm influenciam na postura adotada pelo
fisioterapeuta como, trabalhar prximo ou no limite fsico j com sinais de fadiga, dar
continuidade s atividades mesmo com dor na musculatura postural e treinamento
inadequado sobre a preveno dos distrbios posturais.
40
Os fisioterapeutas sofrem grande carga de trabalho esttica durante suas
atividades de trabalho, porm so poucas as referncias sobre as conseqncias de
m postura e movimentos antifisiolgicos durante a atividade desses profissionais.
Wisner (1997) afirma que a carga est presente em todos os tipos de atividades,
sejam laborais ou no, podendo ser classificada sob os aspectos fsico, cognitivo e
psquico.
Van Doorn (1995), estudou o nmero registrado ao Social Security Program of
Nethrland por uma pesquisa realizada ao longo de treze anos, onde observou um
grande nmero de profissionais com acometimento da coluna vertebral, em especial
da regio lombar, destacando-se os profissionais odontlogos, mdicos,
fisioterapeutas e veterinrios. O autor props um programa preventivo a esses
profissionais, recomendando aos fisioterapeutas exerccios de alongamento da
musculatura paravertebral lombar entre o atendimento aos seus pacientes,
solicitao de auxlio ao manusear pacientes e retificao da coluna durante suas
atividades ocupacionais.
Molumphy (1985), estudou quase quatrocentos fisioterapeutas norte-americanos
e identificou a incidncia de 29% de lombalgia relacionada atividade desenvolvida
no trabalho, durante as idades de 21 e 30 anos e que cerca de 18% dos profissionais
pesquisados mudaram de rea de atuao. Isto foi atribudo aos fatores de risco
relacionados ao tipo de atividade profissional desenvolvida pelo fisioterapeuta
durante sua vida profissional como: manuteno de uma postura por tempo
prolongado, movimentos freqentes de flexo e toro da coluna vertebral,
levantamento e manuseio de cargas e exposio a vibraes, entre outros.
Entre tantas outras pesquisas, esperavam-se menores taxas de distrbios
musculares relacionados coluna vertebral, pelo conhecimento e envolvimento dos
profissionais da rea em programas de tratamento aos seus pacientes. Embora
tenham experincia clnica em desordens msculo-esquelticas, esses profissionais
no apresentam imunidade para esses tipos de distrbios, devendo desenvolver
estratgias especficas para reduzir ou prevenir potencialmente essas condies
41
(BORK, 1996). Os fisioterapeutas que apresentam maiores acometimentos na regio
lombar relacionados por Holder (1999), so aqueles que exercem suas funes em
centros de reabilitao (75%), que atendem pacientes externamente ao servio
(64%) e em centros hospitalares (63%), com 667 fisioterapeutas americanos
estudados. Destes fisioterapeutas pesquisados que sofreram distrbios musculares,
quase setenta por cento relataram exacerbao dos sintomas pela prtica clnica,
com 28% daqueles que aplicaram terapia manual, 30% em transferir pacientes, 35%
em levantar pacientes e 36% pela manuteno de uma mesma postura por perodo
prolongado. Para os autores, esses profissionais da sade, relataram mudanas nos
hbitos de trabalho, contaram com a ajuda de outros profissionais e utilizaram
mudana de postura freqentemente durante o trabalho. As posturas mais
comumente utilizadas pelos Fisioterapeutas so as posturas em p, sentada,
ajoelhada e semi-sentada, com flexo anterior do tronco e flexo com rotao do
tronco, mantidas por tempo prolongado. Torn (2001) afirma que, o tronco estando
em rotao na atividade de trabalho sobrecarrega as articulaes da coluna vertebral
e produz a sensao de desconforto e dor para essa regio.
Cromie (2000), refere alguns fatores pessoais relacionados aos distrbios
posturais em fisioterapeutas como: trabalhar prximo ao limite fsico continuar
trabalhando mesmo lesionado, falta de treinamento ou treinamento inadequado na
preveno destes distrbios.
Num estudo epidemiolgico realizado atravs de um questionrio entre 926
fisioterapeutas graduados pela University of Iowa Physical Therapy Program, entre
1943 e 1993, relatado por Bork (1996), foi demonstrado alta prevalncia de
desordens msculo-esquelticas na regio lombar (45%), na regio dorsal (28,7%) e
na regio cervical (24,7%). Num estudo de 243 fisioterapeutas na Gr Bretanha,
Scholey e Hair (1984), encontraram uma prevalncia de dores nas costas de 38%.
Estas pesquisas determinaram tambm que o episdio inicial de dor nas costas mais
freqentemente ocorreu em fisioterapeutas entre 21 e 30 anos de idade.
42
2.5 Caracterizao da Atividade Profissional de Fisioterapia
A fisioterapia a cincia da sade que estuda, previne e trata os distrbios
cinticos funcionais, intercorrentes em rgos e sistemas do corpo humano, gerados
por alteraes genticas, por traumas e por doenas adquiridas. Suas aes so
fundamentadas em mecanismos teraputicos prprios, sistematizados pelos estudos
da Biologia, das Cincias Morfolgicas, das Cincias Fisiolgicas, das patologias, da
Bioqumica, da Biofsica, da Biomecnica, da Cinesia e da Sinergia Funcional de
rgos e de sistemas do corpo humano.
A fisioterapia uma atividade regulamentada pelo Decreto-Lei n 938/69, de 13
de outubro de 1969.
O Fisioterapeuta o profissional da sade, com formao acadmica superior, habilitado para a construo do diagnstico dos distrbios cinticos funcionais, prescrio das condutas fisioteraputicas, sua ordenao e induo no paciente bem como, o acompanhamento de evoluo do quadro funcional e a sua alta do servio. (CREFITO, 2001).
O Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO), a
instituio de controle social da classe, com a responsabilidade de fiscalizar o
exerccio profissional. No Brasil, forma-se um conjunto de nove conselhos regionais,
integrando o rgo mximo da classe com jurisdies federais, cuja funo adotar
providncias indispensveis realizao dos objetivos institucionais em todo
territrio nacional. Pela Lei n 6.316/75, para o exerccio profissional do fisioterapeuta
no pas, exigida formao em curso universitrio superior, registro do seu ttulo no
Conselho Profissional da categoria e sua atividade profissional s permitida aps a
concesso de autorizao de trabalho ou Carteira de Identidade Profissional de
Fisioterapeuta (CREFITO, 2001).
O fisioterapeuta atinge uma grande rea de atuao no mercado de trabalho,
podendo desenvolver suas atividades em hospitais, clnicas, ambulatrios,
consultrios, centros de reabilitao, unidades bsicas de sade, empresas, ensino,
clubes esportivos, instituies filantrpicas e outros. E como recursos teraputicos
43
utiliza, alm das tcnicas fisioterpicas manuais, agentes fsicos como eletroterapia,
hidroterapia, fototerapia, termoterapia e cinesioterapia (CREFITO, 2001). De acordo
com o Conselho Regional de Fisioterapia CREFITO (2001), atualmente h no
Brasil, mais de 40 mil fisioterapeutas e estima-se que 50% desses profissionais
estejam atuando no mercado de trabalho como fisioterapeutas. E comumente, em
suas funes, realiza atividades de sobrecarga em seu sistema msculo-esqueltico,
como deambulao e transporte de pacientes dependentes, tcnicas manuais que
exigem fora muscular, posicionamento inadequado e desconfortvel no atendimento
a seus pacientes, movimentos repetitivos, e postura em p ou sentado por tempo
prolongado. Isto significa que em mdia, 20 mil desses profissionais podem estar
sofrendo de algum distrbio postural, em conseqncia do tipo de atividade que
desenvolve com seus pacientes.
2.6 Distrbios Msculo-esquelticos da Coluna Vertebral
A postura importante na manuteno de uma coluna saudvel. As alteraes
posturais so muito comuns na populao em geral. Hamil e Knutzen (1999),
referem que a incidncia de sobrecargas posturais que levam a leses do tronco
muito alta. A coluna vertebral pode sofrer uma srie de alteraes nas suas
estruturas causadas por atividades motoras ou posturas inadequadas adotadas pelo
trabalhador, e estudos epidemiolgicos e anlises biomecnicas do corpo humano
em atividade identificam algumas situaes de trabalho como sendo potencialmente
promotoras de problemas osteomusculares da coluna vertebral.
Kendall (1995) afirma que, os padres culturais e o estilo de vida da populao
moderna propiciam sobrecargas estruturais no corpo humano, impondo cada vez
mais atividades especializadas e limitadas. A alta incidncia de problemas posturais
em adultos relaciona-se com a tendncia para um padro de atividade especializado
ou repetitivo aliado ao sedentarismo e vcios posturais carregados desde a infncia.
A vida moderna, posturas erradas, mveis inadequados, vida sedentria e emoes
mal elaboradas, condenam o homem s lombalgias. Existem alteraes na coluna
44
vertebral, associadas ao desuso, uso indevido, envelhecimento ou um processo de
enfermidade especfico.
A aplicao de estresses posturais pode e deve ser totalmente controlada alm
de se eliminar o principal fator predisponente para a dor lombar. vital assegurar
que o elemento humano, em qualquer sistema de trabalho, seja suprido com
suficiente informao, treinamento e habilidades necessrias para a eliminao do
estresse ocupacional (WYKE, 1994).
Em 1993, Keyserling citado em Caffin (2001), demonstra que a flexo anterior do
tronco por tempo prolongado causa extremo nvel de fadiga muscular na regio
lombar e Hagberg (1982) demonstrou que movimentos repetitivos e elevao dos
braos acima dos ombros por tempo prolongado causam dor e fadiga muscular e em
alguns casos, tendinites.
Muitos estudos tm atribudo a dor lombar postura ocupacional. Howorth (1946)
citado por Omino (1992), classificou a postura de trabalho em postura esttica e
postura dinmica, onde na postura esttica a lombalgia pode ocorrer quando a
regio lombar constantemente sobrecarregada por longo perodo; enquanto que
em postura dinmica a dor lombar pode ocorrer quando essa regio
sobrecarregada por um perodo curto de tempo ou solicitada repetidamente com
sobrecarga. Para o autor, postura dinmica foi definida como uma postura em
movimento, em ao ou em preparao para o movimento. Seu estudo demonstrou
que a postura dinmica induz lombalgia.
Quando a postura mantida estaticamente por tempo prolongado, isto , com
contraes isomtricas e repetitivas, as fases de relaxamento muscular tornam-se
muito curtas, promovendo a fadiga muscular que pode ser detectada atravs da
sensao de desconforto por um estmulo irritante denominado dor muscular ou
"isquemia" (CHAFFIN, 2001).
Para Iida (1990), o corpo assume trs posturas bsicas no trabalho ou no
repouso: as posies deitadas, sentadas e a de p. Em cada uma delas est
45
envolvido o esforo muscular para manter a posio relativa das partes corporais
conforme demonstrado na Tabela 1:
Tabela 1: Percentual Relativo ao Peso das Partes do Corpo
PARTES DO CORPO % DO PESO TOTAL DO CORPO
Cabea
Tronco
Membros Superiores
Membros Inferiores
6 a 8%
40 a 46 %
11 a 14 %
33 a 40 %
Fonte: Iida, (1990).
Para qualquer postura assumida, h presso interna sobre os discos
intervertebrais da coluna vertebral e de acordo com o pesquisador sueco
Nachemson (1974), essa presso se modifica em diferentes posies do corpo. Eles
concluram que quando o indivduo est sentado, a presso nos discos
intervertebrais maior que na postura em p, explicado pela rotao posteriormente
da bacia, provocando uma alterao na biomecnica da coluna vertebral, produzindo
uma cifose da regio lombar, conduzindo a um aumento da presso nos discos
intervertebrais da coluna lombar.
Alguns comprometimentos corporais e problemas tpicos associados com
disfunes posturais so relatados por Kisner e Colby (1998), como:
Diminuio da amplitude de movimento por desequilbrio de flexibilidade;
Tenso muscular e dor devido sobrecarga em estruturas sensveis;
Diminuio na fora e resistncia fadiga muscular por ms posturas adotadas ou ao desuso das mesmas;
Estabilizao inadequada do tronco e utilizao precria do controle da coluna vertebral, por desequilbrios entre comprimento, fora, resistncia e coordenao
muscular;
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Incapacidade de manuteno da postura e preveno da dor, por falta de aplicao de uma biomecnica saudvel para a coluna vertebral;
Alterao do alinhamento e controles normais na percepo sinestsica pelos hbitos posturais defeituosos prolongados;
Diminuio da amplitude de movimento por desequilbrio de flexibilidade.
Grandjean e Hnting (1977), concluram que as altas resistncias estticas,
repetitivas e excessivas, aumentam o risco de processos inflamatrios ou
degenerativos.
O uso de uma abordagem baseada na compreenso da epidemiologia,
ergonomia e a educao da sade, deve ser aplicado de forma preventiva,
assegurando a eficincia para a manuteno de uma postura correta ao longo de
toda vida. O diagnstico precoce, das alteraes posturais, fator fundamental para
preveno de maiores intercorrncias.
2.7 Sobrecargas Posturais Relacionadas ao Trabalho Nos ltimos 20 anos tem-se aumentado os estudos referentes coluna vertebral,
pelas manifestaes de alteraes posturais decorrentes na maioria das vezes pela
manuteno da postura nas exigncias das atividades de trabalho.
O estilo de vida da populao moderna leva a inadequaes musculares que
propiciam sobrecargas estruturais, principalmente na coluna vertebral, devido
imposio de atividades especializadas e limitadas; sedentarismo e manuteno de
posturas inadequadas, por perodos prolongados. Fatores ambientais tal como
projeto ergonmico deficiente da maioria dos assentos disponveis nos ambientes de
trabalho, manuteno da postura em p por tempo prolongado, atividades de
carregamento de carga proporcionando sobrecarga nas estruturas da coluna
47
vertebral, manuteno dos membros superiores e inferiores em posio de
desconforto por muito tempo, manuteno de postura sentada com flexo ou toro
do tronco e muitas outras posturas inadequadas para o corpo humano que
proporcionam estresse fsico, gerando queda na produtividade de trabalho. Qualquer
alterao na coluna vertebral pode gerar solicitaes funcionais prejudiciais que
ocasionam aumento de fadiga no trabalhador e leva ao longo do tempo a leses
graves, at mesmo irreversveis.
Mooney (2000), relata que, uma das maiores causas de afastamento prolongado
do trabalho e de sofrimento humano so os transtornos da coluna vertebral. As
cervicalgias e lombalgias apresentam uma incidncia impressionantemente alta no
trabalhador, muitas vezes precipitada pelas condies de trabalho que decorrem da
utilizao biomecanicamente incorreta da mquina humana. Segundo a
organizao mundial da sade, estima-se que 80% da populao mundial ainda vai
sofrer ou j sofreu de dores nas costas. Aproximadamente 60% dessas dores so
causados por dores musculares, em geral por retraes dos msculos devido m
postura, esforo fsico, movimentos repetitivos feitos de maneira errada e
predisposio gentica.
Quase metade da populao que trabalha na indstria est sofrendo de dores
nas costas no Brasil, sendo a segunda causa de afastamento de trabalho, s
perdendo para doenas ligadas ao sistema nervoso, como o alcoolismo e epilepsia.
Todos os anos, doentes pagam por tratamentos mdicos, hospitalizaes,
reabilitaes e penses por incapacidades (MANDAL, 1981).
Iida (1990), afirma que um trabalhador durante uma jornada de trabalho pode
assumir centenas de posturas diferentes, e em cada tipo de postura, um diferente
conjunto de musculatura requisitado. Se o trabalhador executa suas atividades
numa postura esttica prolongada, seja ela de p ou sentada, ter um ndice de dor
e desconforto menor com a alternncia de postura. Se o trabalhador atuar na postura
em p durante toda a jornada, maior nmero de grupos musculares estaro atuando
contra a ao da gravidade proporcionando maior desconforto e dor, acionando
precocemente o mecanismo de fadiga muscular. E o trabalhador que atua numa
48
postura na qual se sente confortvel e sem dor, apresentar melhores ndices de
eficincia e produtividade.
A coluna vertebral como todas as estruturas do corpo humano necessita de
movimentos, por sofrer freqentes situaes de trabalho onde as posturas so
mantidas por longo tempo em atividade muscular ou movimentos repetitivos s
custas de mesmos grupos musculares, levando ao aumento da tenso muscular
podendo apresentar o aparecimento de processos irritativos, produzindo at
processos inflamatrios nas estruturas osteoarticulares com sintomas, entre eles, a
dor, que pode muitas vezes levar a um grande consumo energtico e,
conseqentemente fadiga muscular. Outro fator importante a ser considerado a
compresso dos vasos sanguneos e estruturas adjacentes causada por situaes
de atividade muscular sustentada ou apoio de uma mesma superfcie corporal,
provocando diminuio do aporte sanguneo levando sensaes de formigamento,
desconforto ou dor localizada ou, em situaes mais graves, processos inflamatrios.
Com o passar do tempo, por manuteno ou repetio de uma presso significativa
sobre o disco intervertebral atravs de manuseio de cargas em posio
biomecanicamente desfavorvel, ocorre uma diminuio ou uma perda de sua
elasticidade e resistncia, tornando precoce o incio de um processo degenerativo
fisiolgico e at mesmo a ecloso de uma hrnia de disco. Apesar do avano
tecnolgico em muitas atividades de trabalho, como levantar, empurrar, puxar ou
transportar carga por processos mecanizados, que reduzem agresses fsicas
diretamente coluna vertebral, ainda so identificadas situaes de trabalho onde
h grande exigncia de esforo fsico para as suas realizaes, colocando em risco a
coluna vertebral do trabalhador (KNOPLICH, 1983; GRANDJEAN, 1980).
Os maus hbitos posturais, muitas vezes, vindos da infncia constituem-se em
uma das primeiras razes para o desenvolvimento das alteraes no-funcionais nos
tecidos moles que circundam os segmentos espinhais. Quando certas posturas
defeituosas so mantidas por longos perodos de tempo, perde-se simultaneamente
a capacidade de executar certos movimentos. A negligncia postural pode
eventualmente induzir disfuno irreversvel, resultando em uma perda permanente
de movimento e funo e possivelmente no desenvolvimento de deformidade
postural. O estiramento excessivo das estruturas que envolvem a coluna vertebral
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(msculos e ligamentos) induz deformao mecnica e resulta em dor postural.
Portanto, a fadiga ligamentar sucede a fadiga muscular (WAYKE, 1980).
Em termos gerais, excluindo-se a dor nas cost