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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO DE JOINVILLE
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DE INFRAESTRUTURA
CLAUDIA MARINA PEREIRA
ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DE PATOLOGIAS NA UBS COSTA E SILVA
Joinville
2018
CLAUDIA MARINA PEREIRA
ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DE PATOLOGIAS NA UBS COSTA E SILVA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Engenharia Civil de Infraestrutura, do curso de Engenharia Civil de Infraestrutura da Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico de Joinville.
Orientadora: Msc. Valéria Bennack
Joinville
2018
ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DE PATOLOGIAS NA UBS COSTA E SILVA
CLAUDIA MARINA PEREIRA
Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do título de bacharel em Engenharia Civil de Infraestrutura na Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico de Joinville.
Joinville (SC), 27 de novembro de 2018.
Banca Examinadora:
_____________________________________
Mestre Eng. Valéria Bennack Presidente/Orientador
_____________________________________
Mestre Eng. Juliana Cristina Frankowiak Membro
_____________________________________
Eng. Luciana Dambrós Membro
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à Deus por me dar sabedoria, forças e a capacidade
de obter e reter conhecimento ao longo da graduação.
Aos meus pais Marcio Russo Pereira e Marina de L. Ramos Pereira por todo
amor, apoio, incentivo, encorajamento, confiança e por sempre estarem ao me lado,
sendo minha base e meus exemplos tanto na minha vida acadêmica, quanto na minha
vida pessoal e profissional.
Aos meus irmãos Alex Ramos Pereira e Marcio Russo Pereira Junior, bem
como minha cunhada Andressa dos Angelos Pereira, que me aturaram mesmo nas
épocas de provas e entregas de trabalhos, sempre me motivando a nunca desistir do
meu sonho.
Agradeço também aos demais familiares e amigos pessoais que de alguma
forma contribuíram, seja direta ou indiretamente, para que eu pudesse chegar até aqui.
À minha orientadora Prof. Msc. Valéria Bennack, por aceitar meu convite para
orientação, por ter tido paciência e cedido do seu tempo para me direcionar. Suas
sugestões de melhorias e conhecimentos foram muito importantes, tanto no decorrer
da graduação como na realização deste trabalho.
Agradeço aos amigos que fiz ao longo da graduação, tanto os que entraram
comigo na universidade, porém seguiram cursos distintos, como os que tive o prazer
de conhecer no andamento do curso. Vocês tornaram esses anos mais divertidos e
fáceis de levar.
Agradeço a Secretaria Municipal da Saúde de Joinville, por permitir acesso ao
local e aos dados da obra, bem como aos servidores que trabalham tanto na
Secretaria, em especial a engenheira Luciana Dambrós por ceder do seu tempo e
energia para me acompanhar na obra, como na UBS Costa e Silva.
Agradeço a Universidade Federal de Santa Catariana e a todos os
professores do Campus de Joinville, que colaboraram com a construção da minha
jornada na UFSC e partilharam comigo todo o conhecimento ao longo dos anos de
graduação.
Enfim, agradeço a todos que de alguma forma me ajudaram, incentivaram,
torceram pelo meu sucesso e estiveram ao meu lado. Muito obrigada a todos!
“Há uma força motriz mais poderosa que o vapor, a eletricidade e a energia atômica:
A vontade”.
(Albert Einstein)
RESUMO
O termo patologia, no contexto da construção civil, refere-se a todas as manifestações
que prejudicam o desempenho da estrutura e suas partes, no decorrer do ciclo de vida
da edificação. Falhas de projeto, construtivas e de manutenção, na maioria dos casos,
estão vinculadas à grande ocorrência de patologias nas edificações. Antes de
qualquer correção acerca dos quadros patológicos, é necessário obter o
conhecimento da sua origem e as circunstâncias ou meios que propiciaram o
desenvolvimento de tais patologias. Inserido nesse cenário, esse trabalho tem como
objetivo identificar as principais manifestações patológicas encontradas na estrutura
da Unidade Básica de Saúde (UBS) Costa e Silva, localizada na cidade de Joinville,
Santa Catarina, tanto na área externa como na área interna, visando a análise das
possíveis causas e buscando possíveis medidas preventivas ou corretivas que
poderiam impedir ou minimizar tais patologias. A unidade passou por duas ampliações,
sendo a segunda ampliação e reforma concluída em 2015. Foi escolhido o estudo das
patologias no concreto em um órgão público devido ao grande volume de usuários
que circulam, permanecem e tem acesso à unidade. A metodologia adotada para a
elaboração do estudo consiste na junção dos dados levantados em vistoria, análise
de projeto e complementação com referencial teórico. Como resultado do estudo, a
construção apresentou várias patologias tanto na área externa como interna, sendo
as fissurações as mais recorrentes e de identificação visual mais perceptível.
Conforme análises envolvendo fatores como localização, forma de manifestação,
configuração e espessura das aberturas das fissurações na estrutura, constatou-se
que a possível causa das fissurações é a sobrecarga na estrutura. A princípio, tais
fissuras não representam danos críticos à estrutura, porém medidas devem ser
tomadas para não agravar a situação.
Palavras-chave: Patologia. Construção. Reforma. Ampliação
ABSTRACT
The pathology term, on the civil construction field, refers on all manifestations that are
harmful to the performance of a structure and its parts during the life cycle of an
edification. Most of the times, the failure on the project of construction and maintenance
are linked to a great number of pathologies in edifications. Before any kind of
rectification about the pathological cases, it’s necessary to know about its origin and
circumstances or ways which contributed to the development of the pathology. Based
on this case, the main objective of this project is identifying the main pathological
manifestations found on the civil structure at the Costa e Silva Basic Health Unit, in
Joinville, Santa Catarina. This identification happened not only inside the building but
also outside in order to find, analyze and search for the preventive and corrective
measures that could stop or minimize those pathologies. This unit went trough two
different enlargements; the last enlargement and renovation was finished in 2015.
Since there is plenty of people that wander the building and have access to the building,
the studies about pathologies on concrete of this public building were chosen. The
methodology used to base this project is about gathering data on the inspection, project
analyzes and elucidation with theorical references. As result of this project, the building
presented plenty of pathologies inside and outside the building; furthermore, the
fissures were the most recurrent and easiest to notice. Based on the analyzes among
reasons like localization, way of manifestation, shape and the thickness of the fissures,
the project concludes that the main cause of the fissures is the overweight over the
structure. At first, those fissures do not present harms to the structure; however,
measures must be taken in order not to worsen the situation.
Keywords: Pathologies, Construction, Renovation, Enlargement.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Propriedades dos Materiais....................................................................... 23
Figura 2 – Principais setores envolvidos na gestão da qualidade na aquisição de
materiais .................................................................................................................... 29
Figura 3 – Manutenção.............................................................................................. 31
Figura 4 - Causas intrínsecas .................................................................................... 33
Figura 5 - Processos físicos de deterioração ............................................................ 42
Figura 6 - Fissuras em função do tipo de solicitação ................................................ 47
Figura 7 - Fissura por compressão ............................................................................ 47
Figura 8 - Vigas sujeitas a fissuração ........................................................................ 47
Figura 9 - Fissuração em viga submetida a flexocompressão ................................... 48
Figura 10 - Casos de deficiência de capacidade resistente em lajes ........................ 48
Figura 11 - Comportamento do conjunto de vigas e pilares ...................................... 48
Figura 12 - Incorreção na execução da ancoragem, por excesso de ganchos na
mesma seção ............................................................................................................ 49
Figura 13 - Formação de fissuras por assentamento plástico do concreto ............... 49
Figura 14 - Exemplos de fissuração por movimentação de formas e escoramentos 49
Figura 15 - Configurações típicas de fissuras de retração ........................................ 49
Figura 16 - Fissura causada pelo deslocamento da armadura principal em relação à
posição original ......................................................................................................... 50
Figura 17 - Tipos de corrosão de uma barra de aço no concreto .............................. 50
Figura 18 - Fissuração por recalque diferencial dos apoios ...................................... 50
Figura 19 - Fissuração por trabalho diferenciado dos dois materiais ........................ 50
Figura 20 - Vista superior da localização da UBS Costa e Silva ............................... 53
Figura 21 - Vista frontal da UBS Costa e Silva .......................................................... 53
Figura 22 - Distância entre UBS Costa e Silva e rio .................................................. 54
Figura 23 - Vista superior de UBS com identificação do rio ................................... 54
Figura 24 - Planta baixa da UBS Costa e Silva antes da 2ª ampliação e reforma .... 56
Figura 25 -Planta baixa da UBS Costa e Silva com 2ª ampliação e reforma ............ 57
Figura 26 - Planta baixa da UBS Costa e Silva com as áreas a construir e demolir . 58
Figura 27 - Planta baixa da UBS Costa e Silva com as áreas definidas da 1ª e 2ª
ampliação .................................................................................................................. 59
Figura 28 – Projeto estrutural da área pertencente a 2ª ampliação e reforma .......... 60
Figura 29 - Projeto da UBS com identificação das áreas externas com patologias .. 62
Figura 30 - Vista da lateral direita da UBS Costa e Silva .......................................... 63
Figura 31 – Vista do estacionamento e da lateral direita da UBS Costa e Silva ....... 63
Figura 32 - Fissura na lateral direita da edificação .................................................... 64
Figura 33 - Fissuras na lateral direita da edificação .................................................. 65
Figura 34 - Correção das fissuras em 2016 .............................................................. 65
Figura 35 - Vista da lateral esquerda da UBS Costa e Silva ..................................... 66
Figura 36 - Vista da lateral esquerda da UBS Costa e Silva ..................................... 66
Figura 37 - Falta de uniformidade na coloração ........................................................ 67
Figura 38 - Pintura descascando ............................................................................... 67
Figura 39 - Diferença de tonalidade das tintas .......................................................... 68
Figura 40 - Fissura destacada pelo detalhe g ........................................................... 69
Figura 41 - Fissura pouco nítida destacada pelo detalhe h ....................................... 69
Figura 42 - Fissuras na lateral esquerda da unidade ................................................ 70
Figura 43 - Fissuras na lateral esquerda da unidade ................................................ 71
Figura 44 - Obstáculos cilíndricos impedindo fluxo de veículos ................................ 72
Figura 45 - Vista da parte dos fundos da UBS Costa e Silva .................................... 72
Figura 46 – Fissura e descascamento da tinta nos fundos da unidade ..................... 73
Figura 47 - Vista frontal da UBS Costa e Silva .......................................................... 74
Figura 48 – Fissura e descascamento da tinta na parte frontal da unidade .............. 75
Figura 49 - Ampliação do detalhe "P" ........................................................................ 75
Figura 50 - Recalque na parte frontal da unidade ..................................................... 76
Figura 51 - Recalque na parte frontal da unidade ..................................................... 76
Figura 52 - Medição da abertura do recalque ............................................................ 77
Figura 53 - Recalque na parte frontal da unidade ..................................................... 77
Figura 54 - Patologia na parte frontal da unidade ..................................................... 78
Figura 55 - Projeto da UBS com identificação das áreas internas com patologias ... 79
Figura 56 - Relação entre projeto e área com fissura conforme círculo 1 ................. 80
Figura 57 – Fissura visualizada conforme direção .................................................... 81
Figura 58 - Medição da abertura da manifestação patológica do detalhe "h" ............ 81
Figura 59 - Relação entre projeto e área com fissura conforme círculo 2 ................. 82
Figura 60 - Ampliação da fissura do detalhe "g" ........................................................ 82
Figura 61 - Medição da abertura da fissura do detalhe "g" ........................................ 83
Figura 62 - Fissura do detalhe "g" vista do outro lado da parede .............................. 83
Figura 63 – Relação entre projeto e área com fissuras e destacamento de argamassa
conforme círculo 3 ..................................................................................................... 84
Figura 64 – Fissura na área interna destacada pelo detalhe "a" ............................... 85
Figura 65 - Ampliação da fissura com destacamento de argamassa ........................ 85
Figura 66 – Ampliação da patologia da área interna destacada pelo detalhe "c" ...... 86
Figura 67 - Medição da abertura da patologia do detalhe "c" .................................... 86
Figura 68 – Relação entre projeto e área com recalque conforme círculo 5 ............. 87
Figura 69 - Relação entre projeto e área com fissura conforme círculo 4 ................. 88
Figura 70 - Medição da abertura da manifestação patológica do detalhe "e" ............ 89
Figura 71 - Relação entre projeto e área com fissura conforme círculo 6 ................. 89
Figura 72 - Ampliação da patologia realçada no detalhe "f" ...................................... 90
Figura 73 - Medição da abertura da fissura do detalhe "f" ......................................... 90
Figura 74 - Relação entre projeto e área com fissura conforme círculo 7 ................. 91
Figura 75 - Área que compreende a 1ª ampliação entre as 2ª ampliações, antes e
durante 2ª ampliação e reforma ................................................................................ 92
Figura 76 - Pilar nivelado em 2015 ............................................................................ 92
Figura 77 - Junção entre a viga de concreto e a base de madeira realçada no detalhe
"i" ............................................................................................................................... 93
Figura 78 - Junção entre a viga de concreto e a base de madeira realçada no detalhe
"i" e “j” ........................................................................................................................ 93
Figura 79 – Encontro entre a base de madeira e elemento estrutural da área interna
central........................................................................................................................ 94
Figura 80 – Fissura no piso destacada pelo detalhe “L” ............................................ 95
Figura 81 - Manifestação patológica em piso cerâmico ............................................ 95
Figura 82 - Patologia realçada pelo detalhe "m" ....................................................... 96
Figura 83 - Medição da abertura da manifestação patológica do detalhe "m" ........... 96
Figura 84 - Projeto com as regiões que sofreram fissuras ........................................ 99
Figura 85 - Projeto estrutural da 2ª ampliação e reforma com destaque das áreas com
fissuras estruturais .................................................................................................. 102
Figura 86 - Classificação das fissuras da área externa ........................................... 103
Figura 87 - Classificação das fissuras da área interna ............................................ 104
Figura 88 - Fissuras verticais em pilares sob excessiva carga vertical de compressão
................................................................................................................................ 106
Figura 89 - Análise de uma possibilidade de recalque ao longo de um eixo principal do
prédio ...................................................................................................................... 107
Figura 90 - Projeto com as regiões que sofreram recalque ..................................... 108
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Causas de possíveis falhas durante a etapa de concepção de estruturas
.................................................................................................................................. 26
Quadro 2 - Causas de possíveis falhas durante a etapa de execução de estruturas 28
Quadro 3 - Problemas decorrentes da qualidade inadequada dos materiais e
componentes aplicados à estrutura ........................................................................... 30
Quadro 4 - Deficiências na concretagem .................................................................. 34
Quadro 5 - Inadequação de formas e escoramentos ................................................ 36
Quadro 6 - Deficiências nas armaduras .................................................................... 37
Quadro 7 - Causas Naturais ...................................................................................... 40
Quadro 8 - Principais causas que proporcionam fissuras ......................................... 45
Quadro 9 - Relação entre causa e visualização da fissura característica ................. 47
Quadro 10 - Algumas causas de desagregação do concreto .................................... 51
Quadro 11 - Identificação resumida dos detalhes nas áreas externas e internas ..... 97
Quadro 12 - Classificação da Manifestação Patológica na Área Externa................ 100
Quadro 13 - Classificação da Manifestação Patológica na Área Interna ................. 101
Quadro 14 - Configuração de fissuras em vigas ..................................................... 105
Quadro 15 - Configuração de fissuras em pilares ................................................... 105
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Classificação da patologia pela abertura pela norma ............................... 43
Tabela 2 - Classificação de fissura conforme espessura da abertura segundo Rosso
.................................................................................................................................. 43
Tabela 3 - Classificação de fissura conforme espessura da abertura segundo Oliveira
.................................................................................................................................. 43
Tabela 4 - Ocorrência das manifestações patológicas nas áreas externa e interna da
unidade...................................................................................................................... 98
Tabela 5 - Classificação do grau de dano da fissura através da espessura da abertura
................................................................................................................................ 111
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Recebimento do Manual do Proprietário ................................................. 31
Gráfico 2 - Causa das Patologias segundo estudos europeus .................................. 32
Gráfico 3 - Percentual das ocorrências de manifestações patológicas ..................... 98
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17
1.1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 18
1.1.1 Objetivo geral.................................................................................................. 18
1.1.2 Objetivos específicos ..................................................................................... 18
1.2 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO .................................................................... 18
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 20
2.1 CONSTRUÇÕES................................................................................................. 20
2.2 CONCEITO DE VIDA ÚTIL, DESEMPENHO, DETERIORAÇÃO E
DURABILIDADE ........................................................................................................ 20
2.2.1 Vida Útil, Desempenho, Deterioração e Durabilidade aplicado a Estruturas
.................................................................................................................................. 21
2.3 DEFINIÇÕES SOBRE ELEMENTOS ESTRUTURAIS ........................................ 24
2.4 CONCEITO DE PATOLOGIA DAS ESTRUTURAS ............................................ 24
2.4.1 Patologias na Etapa de Concepção de Estruturas ...................................... 25
2.4.2 Patologias na Etapa de Execução de Estruturas......................................... 27
2.4.3 Patologias na Etapa de Utilização de Estruturas......................................... 30
2.5 CAUSAS DE PATOLOGIAS NAS ESTRUTURAS .............................................. 32
2.5.1 Causas Intrínsecas de Patologias................................................................. 32
2.5.1.1 Falhas Humanas na Execução de Estruturas ............................................... 34
2.5.1.1.1 Deficiências de Concretagem ..................................................................... 34
2.5.1.1.2 Inadequação de Escoramentos e Formas .................................................. 35
2.5.1.1.3 Erros associados a colocação das armaduras ........................................... 37
2.5.1.1.4 Utilização incorreta de materiais de construção ......................................... 38
2.5.1.2 Falhas Humanas Durante a Utilização .......................................................... 39
2.5.1.3 Causas Naturais ............................................................................................ 39
2.5.2 Causas Extrínsecas........................................................................................ 40
2.6 PROCESSOS DE DETERIORAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO ..... 41
2.6.1 Fissuração ...................................................................................................... 42
2.6.1.2 Causas de Fissuras ....................................................................................... 44
2.6.2 Desagregação do Concreto ........................................................................... 50
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 52
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA .................................................................. 52
3.2 LOCALIZAÇÃO DO ESTUDO DE CASO ............................................................ 52
3.3 LEVANTAMENTO DE DADOS ........................................................................... 55
3.3.1 Processos legais para realização da obra na UBS Costa e Silva............... 55
3.3.2 Projeto da UBS Costa e Silva ........................................................................ 55
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 61
4.1 ÁREA EXTERNA ................................................................................................. 61
4.1.1 Lateral Direita da Unidade ............................................................................. 63
4.1.2 Lateral Esquerda da Unidade ........................................................................ 66
4.1.3 Fundos da Unidade ........................................................................................ 71
4.1.4 Frente da Unidade .......................................................................................... 74
4.2 ÁREA INTERNA .................................................................................................. 78
4.2.1 Região Esquerda ............................................................................................ 80
4.2.2 Região Direita ................................................................................................. 84
4.2.3 Região Central ................................................................................................ 91
4.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................... 97
4.2.1 Análise das Fissuras e Possível Causa ...................................................... 100
4.2.1.1 Análise das Fissuras ................................................................................... 100
4.2.1.2 Possível Causa do Desenvolvimento de Fissuras na estrutura ................... 105
4.2.2 Métodos e materiais para reparo das fissuras na estrutura ..................... 110
4.2.3 Avaliação dos Riscos Inerentes à Estrutura .............................................. 111
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 112
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 114
ANEXOS ................................................................................................................. 119
17
1 INTRODUÇÃO
Na construção civil, diferentemente de uma atividade industrial, os
componentes são empregados em locais onde permanecerão no decorrer da vida útil
da estrutura (SOUZA; RIPPER, 1998).
Através dos tempos, obras grandiosas de engenharia vêm mantendo-se,
apesar das intempéries e ações do homem. Porém, as edificações envelhecem e a
durabilidade das construções pode ser afetada por várias razões que compreendem
desde a inadimplente economia de recursos até o desconhecimento técnico da
composição ou natureza dos materiais utilizados nos projetos (GUIMARÃES,1997).
Como resultado do envelhecimento precoce das construções existentes tem
crescido o número de estruturas de concreto armado com manifestações patológicas
nos últimos anos (HELENE, 2004).
Problemas em construções, de um modo geral, podem ser minimizados e até
evitados quando são tomados cuidados no projeto e na execução das obras. Porém,
quando as falhas surgem, detectar sua origem é uma tarefa que nem sempre é fácil.
As falhas geralmente estão associadas a deficiências de projeto, especificação de
material, execução, utilização ou falta de manutenção do edifício (BAUER, 2018).
As Unidades Básicas de Saúde (UBS) têm como objetivo atender até 80% dos
problemas de saúde da população, garantindo serviços mais próximos aos cidadãos,
na comunidade, com boa estrutura física, evitando que os casos sejam encaminhados
a emergências e hospitais (BRASIL, 2018). Os principais procedimentos realizados
nas UBS envolvem a realização de consultas médicas, curativos, tratamento
odontológico, aplicação de vacinas e coletas de exames laboratoriais. Os usuários do
SUS também podem obter medicação básica e em alguns casos, encaminhamentos
para especialidades (BRASIL, 2016).
A UBS Costa e Silva é uma unidade que foi reformada e ampliada, sendo
efetuada também a revitalização das áreas externas da unidade (JOINVILLE, 2015).
Porém, devido a intervenções executadas na construção existente, visando atender
uma demanda maior e da melhor forma, a construção apresentou alterações
perceptíveis na estrutura, nas paredes e no piso, denominadas de patologias.
18
1.1 OBJETIVOS
Foram definidos objetivos geral e específicos para orientação acerca do
desenvolvimento deste trabalho.
1.1.1 Objetivo geral
Analisar as patologias apresentadas na Unidade Básica de Saúde Costa e
Silva localizada no município de Joinville – SC.
1.1.2 Objetivos específicos
Realizar levantamento das patologias existentes na UBS Costa e Silva;
Definir uma patologia para aprofundamento do estudo;
Analisar possíveis causas que originaram essa patologia;
Avaliar riscos inerentes à estrutura, conforme patologia em estudo;
Propor soluções para corrigir o problema.
Para atingir os objetivos propostos acima, foi necessário um estudo
documental, através de análise de projetos e de referências relativas à UBS Costa e
Silva, visita in loco e levantamento fotográfico das patologias.
1.2 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO
O trabalho está organizado em cinco capítulos, distribuídos entre Introdução,
Revisão Bibliográfica, Metodologia, Resultados e Conclusão.
O Capítulo 1 é formado pela Introdução, no qual apresenta os aspectos gerais,
objetivos e a estruturação do trabalho.
No Capítulo 2 é apresentado a Fundamentação teórica, no qual faz uma
revisão da literatura com base no tema do trabalho.
19
No Capítulo 3 aborda-se a metodologia utilizada no trabalho, caracterizando
a pesquisa e introduzindo informações sobre o estudo de caso, como a localização e
dados.
O Capitulo 4 constituiu os Resultados e Discussões, com a devida análise das
patologias apresentadas na unidade básica de saúde, tanto na área interna como
externa.
No Capítulo 5 são apresentadas as conclusões e sugestões para trabalhos
futuros.
20
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O presente capítulo estabelece os fundamentos para o trabalho, utilizando
referenciais teóricos sobre construções, patologias, causas, consequências e
prevenção, no âmbito da deterioração das construções.
2.1 CONSTRUÇÕES
As pirâmides egípcias, as fortalezas dos incas, o templo dos maias, os
aquedutos romanos, a Grande Muralha da China são exemplos de obras que foram
construídas há muitos séculos, apresentando longevidade, servindo de testemunhas
da criatividade humana (GUIMARÃES,1997).
As edificações antigas, até a década de 70, apresentavam elevada robustez,
característica essa que resultava em pequenas deformações, raramente perceptíveis.
Após essa época, as construções sofreram redução de dimensão nos elementos que
compõem a parte estrutural, o que impactou em estruturas mais esbeltas e sujeitas a
deformações antes imperceptíveis (CUNHA; LIMA; SOUZA, 1996).
No início das construções em concreto, o que compreende o começo do
século XX até a década de 80, o bom senso e a experiência do profissional era o que
ditava as regras de construção, sendo a durabilidade subjetiva, assegurada através
de exigências prescritivas (MEDEIROS; ANDRADE; HELENE, 2011). Marcelino (2008)
complementa que, aliado à expansão imobiliária, a falta de tempo e de mão-de-obra
qualificada, foram construídas edificações que desconsideraram, talvez por
desconhecimento, fatores que poderiam causar manifestações indesejáveis às
estruturas, justificando casos de acidentes.
2.2 CONCEITO DE VIDA ÚTIL, DESEMPENHO, DETERIORAÇÃO E
DURABILIDADE
Vida útil é o termo associado ao período que determinado material, com suas
respectivas propriedades, permanecerá acima dos limites mínimos especificados,
21
enquanto que desempenho trata do comportamento em serviço de cada produto no
decorrer de sua vida útil (SOUZA; RIPPER, 1998).
Alguns materiais alteram suas propriedades físicas e químicas em função das
características de seus componentes e das condicionantes impostas pelo meio
ambiente, o que pode comprometer o desempenho dos mesmos. Esse fenômeno
pode ser chamado de deterioração (SOUZA; RIPPER, 1998).
O conceito de durabilidade é definido como a capacidade de desempenhar as
funções para o qual foi proposto, ao longo do tempo e sob condições de uso
(FAGUNDES NETO, 2013).
Apesar de uma edificação ser composta de várias partes, o que determina sua
vida útil, de forma geral, é a estrutura e a fundação, visto que não podem ser alteradas
na sua essência. Uma estrutura de concreto armado não é eterna e diversas causas
podem levar ao comprometimento estrutural (MARCELINO,2008).
2.2.1 Vida Útil, Desempenho, Deterioração e Durabilidade aplicado a Estruturas
Aplicado a estruturas, vida útil é o período de tempo em que os edifícios e
seus sistema resistem às atividades para as quais foram projetados e construídos,
atendendo aos níveis de desempenho previsto, considerando a constante e correta
execução de manutenção (FAGUNDES NETO, 2013). O conhecimento da vida útil de
cada material ou estrutura é importante para o desenvolvimento de programas de
manutenção apropriados (SOUZA; RIPPER, 1998).
Desempenho está ligado ao comportamento que se espera de uma edificação
quando em uso, dentro de determinadas condições, buscando satisfazer as
necessidades dos usuários ao longo do tempo de vida útil (CAMPOS, 2013).
Desempenho insatisfatório é resultante de fatores como falhas involuntárias,
inexperiência, má utilização dos materiais, envelhecimento natural, erros de projetos,
entre outros, que contribuem para a deterioração das estruturas (ARIVABENE, 2015).
A deterioração da estrutura é algo inevitável, mesmo quando há um programa
adequado de manutenção. O nível de deterioração que cada estrutura sofrerá pode
variar, pois está relacionado, entre outras causas, a possíveis falhas de projeto ou de
22
execução. Todavia, a estrutura pode chegar ao fim da vida útil com um bom
desempenho (SOUZA; RIPPER, 1998).
Um fator importante quando se fala de deterioração de estruturas é considerar
a dependência entre a resistência do concreto e da armadura com relação a
resistência da estrutura de concreto à ação do meio ambiente e ao uso. A estrutura
estará comprometida, como um todo, quando qualquer um dos dois, concreto ou
armadura, deteriorar de forma considerável (HELENE, 2004). A situação ideal é
desenvolver um projeto que possibilite uma boa execução da construção conciliando
com uma manutenção adequada, de tal forma que os níveis de deterioração sejam
minimizados (SOUZA; RIPPER, 1998).
Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a norma
brasileira NBR 6118:2014 menciona que durabilidade “consiste na capacidade da
estrutura resistir às influências ambientais previstas e definidas em conjunto pelo autor
do projeto estrutural e pelo contratante, no início dos trabalhos de elaboração do
projeto”. Figueiredo (2018) confirma que a durabilidade está relacionada às
propriedades do material e sua exposição ao longo do tempo em um determinado
ambiente e afirma que durabilidade é fundamental para aumentar a vida útil da
edificação. Complementando, Fagundes Neto (2013) menciona que a durabilidade
expressa as condições em que a edificação mantém o desempenho requerido durante
a vida útil e deve ser quantificada em “anos”.
Segundo Souza e Ripper (1998), quando se trata de durabilidade de
estruturas de concretos, esse conceito, aplicado ao material concreto, está
intimamente associado a água, visto que a quantidade de água junto com a
quantidade de ligante, definirá características que são indicadores de qualidade do
material.
Além da água, outro fator a ser considerado é a agressividade ambiental que
pode ser definida pela “capacidade de transporte dos líquidos e gases contidos no
meio ambiente para o interior do concreto”. (SOUZA; RIPPER, 1998).
Ainda para Hagemann (2011), nenhuma obra é feita sem materiais e a
qualidade e durabilidade de uma construção dependem diretamente da qualidade e
da durabilidade dos materiais que nela são empregados, conforme apresentado na
Figura 1:
23
Figura 1 - Propriedades dos Materiais
Fonte: Adaptado de Hagemann (2011).
Então, o resultado da interação entre a estrutura de concreto, o ambiente e as
condições de uso, de operação e de manutenção define a durabilidade da edificação.
Uma mesma estrutura pode ter diferentes comportamentos no decorrer do tempo,
conforme suas diversas partes e forma de utilização das mesmas (MEDEIROS;
ANDRADE; HELENE, 2011).
São essenciais a identificação e o correto diagnóstico das causas de
deterioração das estruturas, pois determinará os métodos e técnicas a serem
utilizados a nível de recuperação, garantindo a vida útil, segurança, desempenho,
durabilidade e estética das peças. Esse tipo de análise minimiza custos de
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
DUREZA
TENACIDADE
PLASTICIDADE
POROSIDADE
DESGASTE
MASSA
DUCTIBILIDADE
VOLUME
MASSA E PESO
ESPECÍFICO
RESISTÊNCIA AOS
ESFORÇOS
24
manutenção, podendo eliminar fatores que contribuiriam na formação de patologias
nas estruturas de concreto armado (ARIVABENE, 2015).
2.3 DEFINIÇÕES SOBRE ELEMENTOS ESTRUTURAIS
Pilares são elementos preponderantemente de seção retangular (a menor
dimensão deve ser de 19 cm) ou circular, dispostos normalmente na posição vertical.
São responsáveis por receber a carga das vigas, conduzindo até as fundações.
Devem ser colocados nos cantos da edificação, no cruzamento de vigas principais e
em pontos de sensibilidade estrutural. BOTELHO; MARCHETTI, 2010).
Vigas são elementos estruturais projetados para suportar cargas aplicadas
perpendicularmente a seus eixos longitudinais (HIBBELER, 2009).
Lajes, segundo a NBR 6118:2014, são elementos de superfície plana sujeitos
principalmente a ações normais a seu plano. Segundo Botelho e Marchetti (2010), há
dois tipos de lajes, as de forro, que têm a função de receber carga dos telhados e dar
conforto térmico e acústico, e as de piso, que têm a função de cobrir o andar térreo e
ser o piso do andar superior.
2.4 CONCEITO DE PATOLOGIA DAS ESTRUTURAS
Arivabene (2015) explica que o termo “patologia” deriva do grego pathos
(doença) e logia (estudo) e significa “estudo da doença”. No contexto da construção
civil, denomina-se patologia os estudos dos danos ocorridos em edificações. Como é
encontrada em vários aspectos, as patologias abrangem termos como manifestações
e quadros patológicos.
Ainda Souza e Ripper (1998) complementam que o estudo das patologias das
estruturas é um campo da engenharia voltado para o aspecto de identificação e
reconhecimento de anomalias, ou seja, se ocupa no “estudo das origens, formas de
manifestação, consequências e mecanismos de ocorrência das falhas e dos sistemas
de degradação das estruturas”.
A tripé formado de materiais, execução e controle tecnológico e de qualidade
deve ser considerado para obter sucesso na execução de obras de engenharia. O
25
cuidado com o projeto, a execução e a utilização de materiais de qualidade adequada
minimiza a possibilidade de surgimento de patologias (FORTES; SOUZA; JUNIOR,
2008).
Os problemas patológicos podem ser classificados em simples e complexos.
A patologia simples é a que admite uma padronização, no qual envolve o diagnóstico
e sem a necessidade de conhecimentos altamente específicos para sua resolução.
Porém, as patologias complexas envolvem uma análise individual, detalhada e de
conhecimentos altamente especializados (SOUZA; RIPPER, 1998).
As manifestações patológicas são os primeiros sinais que a estrutura
apresenta problemas que não devem ser negligenciados. Na maioria das vezes,
algumas manifestações são tratadas sem a determinação de sua causa, o que pode
levar ao tratamento incorreto (MARCELINO,2008).
A origem dos problemas patológicos, com exceção da ocorrência de
catástrofes naturais, é decorrente de falhas que ocorrem durante a realização de
atividades envolvendo as três etapas básicas e gerais da construção civil, que são as
etapas de concepção, execução e utilização (SOUZA; RIPPER, 1998).
2.4.1 Patologias na Etapa de Concepção de Estruturas
A etapa de concepção da estrutura está relacionada ao contexto inicial do
projeto. As normas brasileiras de concepção de projeto, principalmente a NBR
6118:2014, recomendam que as estruturas em concreto sejam analisadas em dois
níveis, nas quais devem ser feitas verificações. Os níveis são a adequação de sua
resposta às condições de trabalho (estado limite de serviço) e a margem de segurança
quanto à possibilidade de colapso local ou global (estado limite último) (CUNHA; LIMA;
SOUZA, 1996).
As falhas associadas à etapa de concepção podem aparecer durante o estudo
preliminar, no anteprojeto ou na elaboração do projeto de execução, e a complexidade
da resolução de um problema, decorrente de uma falha de projeto, é determinada pelo
tempo decorrido do início da falha, ou seja, uma falha não detectada, gerada no início,
requer posteriormente uma solução mais complexa e implica em mais gastos (SOUZA;
RIPPER, 1998).
26
Falhas de projetos podem causar consequências sérias nas obras. Falha na
consideração de cálculo adequado do efeito do vento, falha no dimensionamento e no
detalhamento adequados na punção de lajes, falhas de cálculos e de detalhamento
da armação do bloco de fundação são alguns exemplos de falhas nessa etapa que
podem ser mencionadas (MILLEN, 2017).
Mais alguns exemplos são citados de forma ampla por Souza e Ripper (1998),
no Quadro 1, que mencionam ainda que falhas originadas em um estudo preliminar
ou anteprojeto, geralmente são responsáveis, se não forem detectadas e corrigidas,
pelo encarecimento da obra.
Quadro 1 - Causas de possíveis falhas durante a etapa de concepção de estruturas
CAUSAS DE POSSÍVEIS FALHAS DURANTE A ETAPA DE
CONCEPÇÃO DE ESTRUTURAS
Elementos de Projeto Inadequados
Falta de compatibilização entre projetos
Especificação inadequada de materiais
Detalhamento insuficiente ou errado
Detalhes construtivos inexequíveis
Falta de padronização das representações
Erros de Dimensionamento
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998).
A comissão de revisão da NBR 6118:2014, numa decisão visando evitar
falhas e prezando pela segurança das vidas humanas, alterou o item 5.3.1 da norma
de 2003 que previa a verificação de projetos estruturais “dependendo do porte da
obra”, retirando essas palavras do parágrafo. Assim, na atualização de 2014, sobre a
avaliação da conformidade de projeto, a norma de 2014 diz que a avaliação técnica
de projeto “deve ser realizada por profissional habilitado” e que “deve ser realizada
antes da fase de construção e, de preferência simultaneamente com a fase de projeto”.
Desta forma a avaliação técnica de projeto deve ser feita para todo tipo de projeto
estrutural (MILLEN, 2017).
Para Viegas (2008) uma estrutura durável somente será obtida se as
recomendações da NBR 6118 forem adotadas no projeto, acompanhadas da inspeção
27
para a liberação da concretagem, assegurando formas estanques e limpas,
armaduras isentas de corrosão e na posição especificada em projeto e a espessura
do cobrimento de acordo com a agressividade do meio de exposição.
2.4.2 Patologias na Etapa de Execução de Estruturas
A primeira atividade a ser desenvolvida na etapa de construção é o
planejamento da obra, onde se realizam todos os procedimentos para que a obra
tenha um bom andamento como programa de atividades, mão-de-obra, definições
com relação ao canteiro de obras e a parte de compras. Apesar de parecer algo lógico,
iniciar uma etapa após o término de outra, na prática, isso raramente ocorre, trazendo
transtornos denominados ‘adaptações’, facilitando a ocorrência de erros (SOUZA;
RIPPER, 1998).
Para González (2008), o planejamento da construção consiste na organização
para a execução, e inclui o orçamento, que visa questões econômicas, e a
programação da obra, ou seja, distribuição das atividades no tempo. O planejamento
pode ser dividido a longo, médio e curto prazo:
a) Longo prazo: com pouco detalhamento, considerando definições como
emprego de mão de obra própria ou terceirizada, nível de mecanização,
organização do canteiro de obra, prazo de entrega, forma de contratação
e relacionamento com o cliente.
b) Médio prazo: trabalha-se com atividades ou serviços a serem executados
nos 4 a 6 meses seguintes. Visa a remoção de empecilhos à produção
com a identificação da necessidade de compra de materiais ou
contratação de empreiteiros.
c) Curto prazo: visa à execução propriamente dita, com uma programação
de 4 a 6 semanas, detalhando as atividades a serem executadas.
Na etapa de execução, todos os problemas identificados na concepção
podem ser extremamente agravados com procedimentos inadequados à construção
(CUNHA; LIMA; SOUZA, 1996).
Conforme Souza e Ripper (1998), as falhas no processo de construção podem
ser das mais diversas, algumas perceptíveis e outras de difícil verificação, que só são
28
detectados após algum tempo de uso. As falhas são oriundas das mais diversas
causas, sendo algumas delas listadas no Quadro 2:
Quadro 2 - Causas de possíveis falhas durante a etapa de execução de estruturas
CAUSAS DE POSSÍVEIS FALHAS DURANTE A ETAPA DE
EXECUÇÃO DE ESTRUTURAS
Falta de condições locais de trabalho
Falta de capacitação profissional da mão-de-obra
Falta de controle de qualidade de execução
Má qualidade dos materiais e componentes
Irresponsabilidade técnica
Sabotagem
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998).
Para que haja redução de riscos e incertezas, um sistema de controle de
qualidade adequado e atualizado, associado ao controle de produtividade da mão-de-
obra, seria fundamental. Medidas como implementação de incentivos impactam na
produtividade, podendo contribuir para melhoria das atividades (SOUZA; RIPPER,
1998).
Com relação aos materiais utilizados na execução, devem ter qualidade
satisfatória para evitar incômodos posteriores. A gestão da qualidade na aquisição de
materiais em uma empresa construtora envolve diversos setores como os de projeto,
suprimentos, execução de obras, entre outros, trabalhando de forma integrada para
garantir a satisfação dos clientes em relação a qualidade dos materiais adquiridos,
conforme Figura 2 (SOUZA; MEKBEKIAN, 1996).
29
Figura 2 – Principais setores envolvidos na gestão da qualidade na aquisição de
materiais
Fonte: Adaptado de Souza e Mekbekian (1996).
Para atingir um produto final de elevada qualidade, é essencial que seja
divulgado, entre os trabalhadores, o maior número de informações técnicas relevantes,
sobre os materiais a utilizar e a estrutura a construir (SOUZA; RIPPER, 1998).
Especificações claras, com requisitos definidos e documentados, reduz eventuais
desentendimentos, e conduz a produtos finais em conformidade com as normas
(SOUZA; MEKBEKIAN, 1996).
Para Campos (2013), a qualidade pode ser definida como o grau de
integração e coerência alcançado entre os fins propostos e os meios empregados. O
desenvolvimento de uma metodologia de desempenho, através das normas para
edificações, faz com que os especialistas transmitam de maneira clara suas decisões,
30
contemplando as exigências dos usuários, à indústria e aos demais que intervêm na
obra, de modo que se desenvolvam as soluções técnicas adotadas, conforme
previsões econômicas, no que diz respeito a materiais e métodos de produção, os
quais passam a ser controlados, testados e avaliados.
É muito comum problemas patológicos com origem em uma baixa qualidade
dos materiais e componentes e refletem um sistema de controle, fiscalização e
aceitação dos materiais deficiente por parte do setor de construção (SOUZA; RIPPER,
1998), conforme alguns exemplos demonstrados pelo Quadro 3:
Quadro 3 - Problemas decorrentes da qualidade inadequada dos materiais e componentes aplicados à estrutura
PROBLEMAS DECORRENTES DA QUALIDADE INADEQUADA DOS
MATERIAIS E COMPONENTES APLICADOS À ESTRUTURA
Menor durabilidade
Erros dimensionais
Presença de agentes agressivos incorporados
Baixa resistência mecânica
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998).
2.4.3 Patologias na Etapa de Utilização de Estruturas
Nessa etapa, a estrutura pode apresentar problemas patológicos relacionados
à utilização não especificada em projeto ou da falta de um programa de manutenção
adequado, sendo o usuário, apesar de ser o maior interessado no bom desempenho
da estrutura, o gerador da deterioração estrutural (SOUZA; RIPPER, 1998). Tal fato
pode ser justificado pelo desconhecimento ou não recebimento do manual do
proprietário, denominado como Manual de Operação, Uso e Manutenção, com
conteúdo definido pela NBR 14037:2011, visto que a obrigatoriedade da entrega deste
manual é relativamente recente (OLIVEIRA; SILVA FILHO, 2014). No Gráfico 1, há
um exemplo do resultado, em percentual, de uma pesquisa realizada com 464
entrevistados em Porto Alegre (RS) acerca do recebimento do manual do proprietário.
31
Gráfico 1 – Recebimento do Manual do Proprietário
Fonte: Adaptado de Oliveira e Silva Filho (2014).
Oliveira e Silva Filho (2014) ainda mencionam que a ausência de medidas de
prevenção e tratamento de pequenas falhas levam a um agravamento de condições
que impactam em gastos significativos. Uma estratégia de inspeção e manutenção
bem articulada permite desembolsos menores, parcelados e previsíveis. Além disso,
a ausência de manutenção aumenta o risco de acidentes, tanto de colapsos totais,
como do desprendimento de partes. Por isso, para Gomide (2015), na fase pós-obra,
o uso exige manutenção, conforme observado na Figura 3:
Figura 3 – Manutenção
Fonte: Adaptado de Gomide (2015).
1%
4% 5%
22%
68%
Não respondeu Sim, direto da construtora
Sim, do antigo proprietário Não sei o que é manual do proprietário
Não recebi
32
2.5 CAUSAS DE PATOLOGIAS NAS ESTRUTURAS
Para o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da Arquitetura (2018), o
conhecimento das causas das patologias da construção civil e como evitá-los é uma
preocupação fundamental para proceder aos reparos exigidos e evitar que a estrutura
deteriore. Muitos estudos já foram realizados, principalmente na Europa, com esse
objetivo, e é possível ter uma ideia geral sobre a origem de patologias, estando em
primeiro lugar a falha com projetos deficientes, conforme Gráfico 2. No Brasil ainda
não há tantas pesquisas comprovatórias como na Europa.
Gráfico 2 - Causa das Patologias segundo estudos europeus
Fonte: Adaptado de Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da Arquitetura (2018).
Tratando em grupos, duas classificações podem ser utilizadas para as causas
responsáveis pela deterioração das estruturas de concreto, que são as causas
intrínsecas e as causas extrínsecas, ambas decorrentes de falhas humanas, causas
naturais próprias do material ou ações externas (SOUZA; RIPPER, 1998).
2.5.1 Causas Intrínsecas de Patologias
As causas intrínsecas são as inerentes às estruturas, nas quais têm sua
origem nos materiais e peças estruturais. Essas causas podem ser decorrentes de
11%
7%
45%
22%
15%
CAUSAS DAS PATOLOGIAS
Má utilização pelos usuários Outros Falha de projetoFalha de execução Má qualidade dos materiais
33
falhas humanas, qualidade e características do material e ações externas (SOUZA;
RIPPER, 1998).
Para a doutora em engenharia estrutural Sandra Maria de Lima, conforme
relatado por Santos (2013), os motivos que levam a falhas humanas associadas a
própria estrutura podem ser divididos amplamente em duas causas:
1. Falta de conhecimento sobre a tecnologia do concreto;
2. Imprudência dos envolvidos.
Na Figura 4 observa-se as causas intrínsecas aos processos de deterioração
das estruturas de concreto:
Figura 4 - Causas intrínsecas
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998).
FA
LH
AS
HU
MA
NA
DU
RA
NT
E A
CO
NS
TR
UÇ
ÃO
DEFICIÊNCIAS DE CONCRETAGEM
• Transporte
• Lançamento
• Juntas de Concretagem
• Adensamento
• Cura
INADEQUAÇÃO DE ESCORAMENTOS E FORMAS
ERROS ASSOCIADOS A COLOCAÇÃO DAS ARMADURAS
UTILIZAÇÃO INCORRETA DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
FA
LH
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HU
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AS
NA
TU
RA
IS
CAUSAS PRÓPRIAS À ESTRUTURA POROSA DO CONCRETO
CAUSAS QUIMICAS
CAUSAS FÍSICAS
CAUSAS BIOLÓGICAS
34
2.5.1.1 Falhas Humanas na Execução de Estruturas
As falhas durante a construção estão intimamente ligadas à qualificação
profissional da equipe técnica, sendo bem frequentes os erros por defeitos
construtivos (SOUZA; RIPPER, 1998). Sandra Maria de Lima, em relato a Santos
(2013), menciona que erros envolvendo a displicência e o desconhecimento das
tecnologias, causadas pelos profissionais envolvidos, acabam encarecendo a obra em
até cinco vezes.
2.5.1.1.1 Deficiências de Concretagem
Os itens de verificação na etapa de concretagem envolvem as condições para
o início da execução do serviço, transporte, recebimento, lançamento, adensamento
e cura do concreto (SOUZA; MEKBEKIAN, 1996). As falhas associadas às
deficiências de concretagem mais comuns estão listadas no Quadro 4.
Outra situação pode ocorrer nas juntas de concretagem, que são os pontos
de ligação de duas concretagens (BOTELHO; MARCHETTI, 2010). As mesmas
nunca deverão ser realizadas em regiões de elevada tensão tangencial. Ao escolher
a localização, deve-se levar em consideração a durabilidade, resistência e estética
(SOUZA; RIPPER, 1998).
Quadro 4 - Deficiências na concretagem
Continuação (...)
35
Quadro 4 - Deficiências na concretagem
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998).
2.5.1.1.2 Inadequação de Escoramentos e Formas
A principal função das formas é condicionar a geometria da estrutura acabada
a certas tolerâncias dimensionais, de modo a não causas interferências ou danos a
etapas subsequentes da construção (SOUZA; MEKBEKIAN, 1996). Já o escoramento
tem a função de suportar o peso da estrutura e a sobrecarga de pessoas e
equipamentos durante a concretagem. Quando o concreto ganha alguma resistência,
ETAPA FALHAS
POSSÍVEIS
CONSEQUÊNCIAS
Lançamento mal executadoDeslocamento das armaduras
e/ou chumbadores
Lançamento de massa
sobre uma superfície no
qual completou o processo
de endurecimento
Segregação dos diversos
componentes (efeito chicote)
Pode levar ao acúmulo de água
exsudada
Segregação entre o agregado
graúdo e a nata de cimento ou
a argamassa (geração de
pontos frágeis na estrutura)
Ocorrência de focos de
corrosão
Pode levar à formação de vazio
na massa (ninhos e cavidade)
Irregularidades na superfície
(bolhas)
Comprometimento do aspecto
estético
Facilita a penetração dos
agentes agressores
Aumento da porosidade
superficial
Retração
Deformações específicas e
diferenciadas entre as
camadas da peça
Geração de tensões que
poderão provocar fissurações
do concreto
Cura inadequada
Lançamento do
Concreto nas Fôrmas
Lançamento em Plano
Inclinado
Vibração e
Adensamento do
Concreto
Execução incorreta
DEFICIÊNCIAS
NA
CONCRETAGEM
Cura
36
conforme o tempo definido por especialista, é possível remover parte desse
escoramento (MARTINS, 2018).
As falhas mais comuns no que se refere à inadequação de escoramentos e
formas convencionais são a falta de limpeza e de aplicação de desmoldantes nas
formas antes da concretagem, insuficiência de estanqueidade das mesmas, retirada
prematura das formas e escoramentos e remoção incorreta dos escoramentos
(SOUZA; RIPPER, 1998). As possíveis manifestações patológicas podem ser
observadas no Quadro 5.
Quadro 5 - Inadequação de formas e escoramentos
FALHAS POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS
INADEQUAÇÃO
DE FORMAS E
ESCORAMENTOS
Falta de limpeza e de
aplicação de desmoldantes
nas formas antes da
concretagem
Ocasionar distorções e
embarrigamentos nos elementos
estruturais
Pode levar a necessidade de
enchimento de argamassa maior
que o habitual
Mais argamassa pode gerar,
consequentemente, sobrecarga da
estrutura
Insuficiência de
estanqueidade das formas
Concreto mais poroso
Exposição desordenada dos
agregados
Retirada prematura das
formas e escoramentos
Deformações na estrutura
Acentuada fissuração
Remoção incorreta dos
escoramentos. Surgimento de trincas nas peças
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998).
Para evitar as manifestações patológicas, a limpeza das formas deve ser feita
no mesmo dia após o término da concretagem, com água corrente. Desmoldantes
facilitam o processo de desenforma do concreto, pois formam uma fina camada oleosa
entre as formas e o concreto, impedindo a aderência entre ambos e facilitando a
desenforma. Quando utilizado de forma adequada, proporciona o reaproveitamento
das formas (MARTINS, 2018).
Erroneamente, a retirada do escoramento está associada somente a obtenção
de uma resistência mínima para o concreto (CUNHA; LIMA; SOUZA, 1996). A
37
estrutura de concreto ainda não é capaz de suportar a carga sozinha. O chamado
escoramento remanescente permanece apoiando a laje por mais algum tempo, até
que o concreto ganhe resistência suficiente (MARTINS, 2018).
2.5.1.1.3 Erros associados a colocação das armaduras
Os problemas patológicos oriundos de erros/falhas associadas a colocação
das armaduras são muito frequentes. A prevenção contra esses erros está na
observância aos projetos e especificações de origem (SOUZA; RIPPER, 1998). Os
erros mais comuns e suas possíveis consequências estão apresentados no Quadro 6:
Quadro 6 - Deficiências nas armaduras
Continuação (...)
38
Quadro 6 - Deficiências nas armaduras
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998).
Algumas medidas para evitar patologias devem ser tomadas como verificar
se a amarração está firme o suficiente para impedir a movimentação do conjunto de
armaduras quando do transporte e/ou concretagem, observar se o cobrimento mínimo
das armaduras está de acordo com as normas, atentar para a colocação de protetores
plásticos nas pontas dos arranques, entre outras (SOUZA; MEKBEKIAN, 1996).
2.5.1.1.4 Utilização incorreta de materiais de construção
A utilização incorreta de materiais também é atribuída a falhas humanas.
Trata-se com pouca importância as especificações de materiais e o estudo de
dosagem de concreto, conforme observado por Sandra Maria de Lima em relato a
Santos (2013). Para Souza e Ripper (1998), a responsabilidade desse tipo de falha
pertence ao projetista, engenheiro ou responsável da obra, visto que se trata de um
conjunto de decisões. Alguns exemplos são mencionados abaixo:
Utilização de concreto com fck (Resistência característica à compressão
do concreto) inferior ao especificado;
Utilização de aço com características diferentes das especificadas;
Assentamento das fundações em camadas de solo com capacidade
resistente inferior à requerida;
Utilização de agregados reativos;
Utilização inadequada de aditivos;
Dosagem inadequada de concreto.
POSSÍVEIS
Excessiva concentração de
barras emendadas em uma
mesma seção
Utilização incorreta de métodos
de emenda
Redução da aderência das
barras ao concreto
DEFICIÊNCIAS
NAS
ARMADURAS
Deficiências nos sistemas de emenda
Má utilização de anticorrosivos nas barras da
armadura
FALHAS
39
Falhas técnicas normalmente se associam a tentativa de melhorar as
propriedades do concreto, adicionando água além do necessário, deixando o
concreto poroso, de baixa resistência e com elevada retração. (SOUZA; RIPPER,
1998). Quando se aumenta o teor de água de uma mistura, ganha-se trabalhabilidade,
pois facilita o manuseio do concreto, que tenderá a ocupar facilmente os espaços das
formas, porém perde-se resistência e durabilidade (BOTELHO; MARCHETTI, 2010).
Outro erro é a utilização de areia úmida, sem qualquer redução de água na
mistura, aumentando o fator água/cimento (SOUZA; RIPPER, 1998).
A NBR 6118:2014 fixou o fck = 200 kgf/cm² (20MPA) como o fck mínimo para
ser usado como resistência estrutural. fck inferiores são usados somente como
concreto magro (usado para base ou camada de sacrifício) ou para enchimento. Um
concreto com maior fck, além de ser mais resistente, é menos permeável e mais
durável e resistente às agressões (BOTELHO; MARCHETTI, 2010).
2.5.1.2 Falhas Humanas Durante a Utilização
As causas intrínsecas geradas de falhas humanas na fase de utilização da
construção, além da possível utilização inadequada, estão ligadas a ausência de
manutenção. Um conjunto de medidas que visem manter materiais e peças estruturais
adequadas às condições na qual se destinam, ou seja, manutenção programada, é o
que amenizaria o surgimento de patologias (SOUZA; RIPPER, 1998). Ações como
melhorar a formação de técnicos, com foco na conservação de edifícios, aumentar a
percepção de usuários sobre o funcionamento e estado de conservação de imóveis e
implantar estratégias de inspeção e manutenção preventiva são necessárias para
manter a estrutura com desempenho satisfatório (OLIVEIRA; SILVA FILHO, 2014).
2.5.1.3 Causas Naturais
Segundo Souza e Ripper (1998), as causas naturais são as causas “inerentes
do próprio material concreto e à sua sensibilidade ao ambiente a aos esforços
solicitantes, não resultando, portanto, de falhas humanas ou de equipamentos” e
classificam-se conforme Quadro 7:
40
Quadro 7 - Causas Naturais
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998).
2.5.2 Causas Extrínsecas
São causas, segundo Souza e Ripper (1998), provenientes de fatores que
agridem a estrutura de “fora para dentro”, durante fases de concepção ou ao longo da
vida útil. Nesse contexto são mencionados:
Falhas humanas durante a concepção como modelização estrutural
inadequada, má avaliação das cargas, detalhamento errado ou
insuficiente, inadequação ao ambiente, incorreção na interação solo-
estrutura e incorreção de juntas de dilatação;
Falhas humanas durante a etapa de utilização da estrutura, como
alterações estruturais, sobrecargas exageradas, alteração das
condições do terreno de fundação;
Ações mecânicas, tais como choques de veículos, recalque das
fundações e ações imprevisíveis (acidentes);
Ca
usa
s p
róp
ria
s à
estr
utu
ra p
oro
sa
do
co
ncre
to
Reduzir a porosidade impacta em minorar a fissuração que
pode ser gerada. A prevenção deve-se concentrar na correta
dosagem do concreto, além dos demais cuidados nas etapas
de preparação, transporte, lançamento, vibração e cura
(impedimento de evaporação da água hidratada da pasta).
Considerando evitar a deterioração do concreto por agentes
agressivos, quanto menor os índices de permeabilidade e
porosidade, melhor
Ca
usa
s
qu
ímic
as
Foram desenvolvidas combinações que visam obtenção de
aderência entre o cimento e os agregados, contribuindo para o
aumento da resistência e homogeneidade do concreto. Porém,
há o risco de obter reações de origem expansiva, na qual
anula a coesão do concreto
Ca
usa
s
físic
as
São resultantes da variação da temperatura, da insolação, do
vento e da água, seja através de chuva, gelo e umidade. Os
agentes da natureza agem, principalmente, nos períodos de
endurecimento de concreto
Ca
usa
s
bio
lóg
ica
s
Podem resultar do ataque quimico gerado pelo crescimento de
raízes de plantas que se instalam em fissuras ou grandes
poros do concreto, ou pela ação de fungos.
CAUSAS
NATURAIS
41
Ações físicas;
Ações químicas.
2.6 PROCESSOS DE DETERIORAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO
A maioria das causas que levam a deterioração das estruturas poderiam ser
evitadas pela escolha correta de materiais e métodos de execução, projeto detalhado
ou pela realização de manutenção. Exemplos disso são a falta de conhecimento do
local, falta de cuidados em detalhes construtivos, ousadia em projetos arquitetônicos,
especificações incorretas ou ausência das mesmas. As outras causas envolvendo
sobrecargas, impactos ou acidentes são mais difíceis de serem previstas. Se as
causas forem acrescidas de erros envolvendo a execução, a estrutura poderá
apresentar patologias graves (SOUZA; RIPPER, 1998).
Para a recuperação de estruturas deterioradas são necessárias etapas,
conforme explanado por Carmona Filho (2016), nas quais envolvem:
Definir, conforme experiência e visita à obra, o grau dos danos à
estrutura;
Verificar se existem mais danos, além dos observados pelo usuário;
Decidir se é necessária uma intervenção emergencial;
Coletar informações que caracterizem as causas dos danos;
Realizar ensaios de campo e laboratoriais;
Com as informações em posse, definir a causa dos danos e a melhor
forma de corrigi-la;
Detalhar métodos, materiais e meios para eliminar a origem dos danos,
por meio de reparos e reforços estruturais;
Aplicar os reparos e reforços necessários para eliminar a origem dos
danos.
Seguindo a linha de raciocínio de Carmona Filho (2016) e antes de buscar as
soluções, conforme Souza e Ripper (1998) orientam, deve-se ter o conhecimento
acerca das causas e dos seus efeitos patológicos, nos quais podem ser observados
na Figura 5:
42
Figura 5 - Processos físicos de deterioração
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998).
2.6.1 Fissuração
A fissuração é a patologia mais comum em estruturas de concreto e,
visivelmente, a mais perceptível. Quando a solicitação é maior do que a capacidade
de resistência do material, a fissura tende a aliviar suas tensões. Quanto mais frágil e
maior for a restrição imposta ao movimento dos materiais, maiores serão a magnitude
e a intensidade da fissuração (CORSINI,2010). Porém, nem sempre é considerada
uma deficiência estrutural, visto que o concreto fissura por natureza, devido à baixa
resistência à tração. A origem, intensidade e magnitude da fissura definirá se a mesma
pode ser enquadrada como deficiência estrutural (SOUZA; RIPPER, 1998).
Desenvolver análises consistentes, determinar a configuração e abertura
(variação ao longo do tempo) correta das fissuras, extensão e profundidade são
pontos fundamentais para obter, com precisão, a causa e efeito do processo de
fissuração (SOUZA; RIPPER, 1998).
O termo fissura é tecnicamente mais utilizado que o termo trinca e tornou-se,
basicamente, uma classificação geral. Algumas normas e peritos podem classificar as
fissuras com diferentes nomes, de acordo com a espessura da abertura, conforme
observado nas Tabelas 1, 2 e 3 (CORSINI,2010). A NBR 9575:2003 que trata de
FIS
SU
RA
ÇÃ
ODeficiencias de Projeto
Contração Plástica
Assentamento do Concreto/ Perda de Aderência
Movimentação de Escoramentos e/ou Formas
Retração
Deficiências de Execução
Reações Expansivas
Corrosão das Armaduras
Recalques Diferenciais
Variação de Temperatura D
ES
AG
RE
GA
ÇÃ
O
DO
CO
NC
RE
TO
Fissuração
Movimentação das Formas
Corrosão do Concreto
Calcinação
Ataque Biológico
PE
RD
A D
E
AD
ER
ÊN
CIA
43
impermeabilização - seleção e projeto, classifica a manifestação patológica conforme
Tabela 1:
Tabela 1 - Classificação da patologia pela abertura pela norma
ABERTURA
MICROFISSURA FISSURA TRINCA
< 0,05 MM < 0,5 mm > 0,5 mm < 1,0 mm
Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003).
Segundo Rosso apud São Paulo (2006), as classificações dadas para as
fissuras, de acordo com a espessura da abertura, são fissura, trinca, rachadura ou
fenda, conforme Tabela 2.
Tabela 2 - Classificação de fissura conforme espessura da abertura segundo Rosso
MANIFESTAÇÃO PATOLÓGICA ABERTURA (mm)
Fissura Até 0,5
Trinca De 0,5 a 1,0
Rachadura De 1,0 a 1,5
Fenda Superior a 1,5 mm
Fonte: Adaptado de Rosso apud São Paulo (2006).
Porém, Oliveira (2012) inclui na classificação o termo brecha, definindo
intervalos diferentes de aberturas para a classificação das manifestações patológicas,
conforme Tabela 3.
Tabela 3 - Classificação de fissura conforme espessura da abertura segundo Oliveira
MANIFESTAÇÃO PATOLÓGICA ABERTURA (mm)
Fissura Até 0,5
Trinca De 0,5 a 1,5
Rachadura De 1,5 a 5,0
Fenda De 5,0 a 10,0
Brecha Acima de 10,0
Fonte: Adaptado de Oliveira (2012).
44
Para o engenheiro Paulo Grandiski, conforme relatado por Corsini (2010),
essa nomenclatura utilizada pela norma pode ser aplicada às fissuras passivas, que
não variam ao longo do tempo. As fissuras ativas, no entanto, possuem variação
higrotérmica, a qual é a ação simultânea de dilatação e retração provocada pela
absorção de água e pela variação de temperatura na edificação. Neste caso, essa
nomenclatura é inaplicável, pois a classificação mudaria em função da temperatura.
2.6.1.1 Tipos de Fissuras
A análise das estruturas com fissuras envolve a elaboração de um
mapeamento das fissuras e a classificação da mesma. Com base nesses parâmetros,
pode-se proceder com a determinação das suas causas e determinar processos de
recuperação e/ou reforço (SOUZA; RIPPER, 1998).
São divididas de acordo com sua forma de manifestação, que pode ser geo-
métrica ou mapeada. Essas duas classes são subdivididas, entre fissuras ativas (que
têm variações sensíveis de abertura e fechamento) e passivas (não apresentam
variações sensíveis ao longo do tempo). As ativas podem ser sazonais ou
progressivas (crescente). As geométricas (ou isoladas) podem ocorrer tanto nos
elementos da alvenaria, quanto em suas juntas de assentamento. As mapeadas (ou
disseminadas) podem ser formadas por retração das argamassas, por excesso de
finos no traço ou por excesso de desempenamento. Com frequência, são aberturas
superficiais (CORSINI,2010).
2.6.1.2 Causas de Fissuras
Apesar de frequentemente a configuração de uma fissura parecer semelhante
à outra, suas causas podem ser bem diferentes. Na maioria dos casos, as fissuras
são inspecionadas visualmente e, assim, o diagnóstico dependente da experiência do
profissional. Mas é possível fazer análises com auxílio de instrumentação também
(CORSINI,2010).
Segundo Souza e Ripper (1998), as principais causas que proporcionam o
surgimento de fissuras estão descritas no Quadro 8:
45
Quadro 8 - Principais causas que proporcionam fissuras
Continuação (...)
46
Quadro 8 - Principais causas que proporcionam fissuras
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998).
Além de mencionar as principais causas, no Quadro 9, Souza e Ripper (1998)
exemplificam, através de figuras, a forma que a fissura assume conforme as causas
que estimulam o seu surgimento.
47
Quadro 9 - Relação entre causa e visualização da fissura característica
CAUSAS VISUALIZAÇÃO DA PATOLOGIA CONFORME CAUSA
Deficiências de projeto por tipo de
solicitação
Figura 6 - Fissuras em função do tipo de solicitação
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998)
Deficiências de projeto por baixa
resistência a compressão
simples
Figura 7 - Fissura por compressão
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998)
Deficiências de projeto - Deficiência
de capacidade resistente em vigas
Figura 8 - Vigas sujeitas a fissuração
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998)
Continuação (...)
48
Quadro 9 - Relação entre causa e visualização da fissura característica
CAUSAS VISUALIZAÇÃO DA PATOLOGIA CONFORME CAUSA
Deficiências de projeto por baixa
resistência a flexão composta
Figura 9 - Fissuração em viga submetida a flexocompressão
Fonte: Souza e Ripper (1998)
Deficiências de projeto - Deficiência
de capacidade resistente em lajes
Figura 10 - Casos de deficiência de capacidade resistente em lajes
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998)
Deficiências de projeto em encontros
Figura 11 - Comportamento do conjunto de vigas e pilares
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998)
Continuação (...)
49
Quadro 9 - Relação entre causa e visualização da fissura característica
CAUSAS VISUALIZAÇÃO DA PATOLOGIA CONFORME CAUSA
Deficiências de projeto
Figura 12 - Incorreção na execução da ancoragem, por excesso de ganchos na mesma seção
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998)
Assentamento do concreto e Perda de aderência do concreto e das
barras da armadura
Figura 13 - Formação de fissuras por assentamento plástico do concreto
Fonte: Souza e Ripper (1998)
Movimentação de formas e
escoramentos
Figura 14 - Exemplos de fissuração por movimentação de formas e escoramentos
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998)
Retração do Concreto
Figura 15 - Configurações típicas de fissuras de retração
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998)
Continuação (...)
50
Quadro 9 - Relação entre causa e visualização da fissura característica
CAUSAS VISUALIZAÇÃO DA PATOLOGIA CONFORME CAUSA
Deficiências de Execução
Figura 16 - Fissura causada pelo deslocamento da armadura principal em relação à posição original
Fonte: Souza e Ripper (1998)
Corrosão da Armadura
Figura 17 - Tipos de corrosão de uma barra de aço no concreto
Fonte: Souza e Ripper (1998)
Recalques diferenciais
Figura 18 - Fissuração por recalque diferencial dos apoios
Fonte: Souza e Ripper (1998)
Variação de temperatura
Figura 19 - Fissuração por trabalho diferenciado dos dois materiais
Fonte: Souza e Ripper (1998)
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998).
2.6.2 Desagregação do Concreto
Desagregação do concreto é a separação da massa do concreto endurecido
em partes, normalmente com desprendimento de agregados, podendo ser provocada
51
tanto por ataques químicos como pela adoção de um traço pobre ao concreto
(ARANHA, 1994, apud ANDRADE, 1997).
Segundo Souza e Ripper (1998), a fissuração, movimentação de formas,
ataques biológicos, corrosão e calcinação do concreto são algumas das causas de
sua desagregação, conforme confirmado pelo Quadro 10:
Quadro 10 - Algumas causas de desagregação do concreto
DESAGREGAÇÃO
DO CONCRETO
FIS
SU
RA
ÇÃ
O
Nos casos em que há fissuras, normalmente resulta no desplacamento do concreto, principalmente o da camada de cobrimento das armaduras.
MO
VIM
EN
TA
ÇÃ
O
DE
FO
RM
AS
A degradação, nesse caso, ocorre por criação de juntas de concretagem não previstas ou fuga de nata de cimento pelas juntas das formas, o que provoca a segregação e posteriormente a desagregação.
AT
AQ
UE
S
BIO
LÓ
GIC
OS
As ações biológicas, ao atingirem o concreto, geram tensões internas e fraturam o mesmo.
CO
RR
OS
ÃO
Apesar de o concreto ser um material bem resistente à corrosão, a mesma pode ocorrer quando o material é de má qualidade, sendo muito poroso, permeável, segregado e impuro, o que facilitam a ação de agentes agressivos. A corrosão do concreto pode ocorrer por lixiviação (dissolução, arraste e deposição de hidróxido de Cálcio existente na massa de cimento Portland), química por reação iônica (reação de substâncias existentes no meio agressivo com o cimento endurecido) e por expansão (reações de sulfatos com componentes do cimento).
CA
LC
INA
ÇÃ
O
DO
CO
NC
RE
TO
Os efeitos da ação do fogo sobre o concreto, ou seja, a calcinação do concreto, pode ser caracterizada pela alteração e pela perda de resistência. Na temperatura de 600°C, inicia-se a degradação e fratura do concreto, decorrente da expansão dos agregados, devido as tensões internas.
Fonte: Adaptado de Souza e Ripper (1998).
52
3 METODOLOGIA
Este capítulo tem a finalidade de caracterizar a pesquisa, descrever os
procedimentos e as considerações utilizadas para o desenvolvimento deste trabalho,
de forma a possibilitar as análises acerca do objetivo do estudo.
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
A partir dos conceitos abordados, por se tratar de um estudo de caso, foi
realizada uma análise documental, descritiva e exploratória, com a finalidade de
identificar as manifestações patológicas que a unidade básica de saúde apresentou,
averiguar as possíveis origens geradoras das manifestações patológicas, verificar os
riscos à estrutura e propor soluções, se viável.
Segundo Gil (2009), alguns propósitos dos estudos de caso envolvem
descrever a situação do contexto em que está sendo feita uma determinada
investigação, formular hipóteses e explicar as variáveis causais de determinado
fenômeno em situações complexas.
A pesquisa que é um estudo de caso conta com muitas das técnicas utilizadas
pelas pesquisas históricas, acrescido da capacidade de lidar com uma ampla
variedade de evidências - documentos, entrevistas e observações, visto que esse tipo
de pesquisa é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos
contemporâneos, quando não se podem manipular comportamentos relevantes (YIN,
2001).
No estudo proposto, a análise englobou manifestações patológicas visíveis da
estrutura, não descartando a possibilidade de haver mais manifestações em processo
de desenvolvimento ou pouco perceptíveis à vista humana.
3.2 LOCALIZAÇÃO DO ESTUDO DE CASO
O terreno onde foi construído a UBS Costa e Silva, que constitui o caso
estudado neste trabalho, situa-se no município de Joinville (SC), na rua Comandante
53
Telles de Mendonça, 65 – bairro Costa e Silva, conforme Figura 20 e 21. A UBS fica
situada à distância de 01 km da unidade básica de saúde da família (UBSF) Willy
Schossland, 02 km da UBS Glória, 03 km das UBS’s Bom Retiro e Saguaçu e 05 km
da UBS Vila Nova Sede (UBS Brasil, 2018). A UBS Costa e Silva possui atualmente
uma área construída de 554,13 m², sendo 165 m² em área ampliada na 2ª ampliação
(JOINVILLE, 2015).
Figura 20 - Vista superior da localização da UBS Costa e Silva
Fonte: Google Earth (2018).
Figura 21 - Vista frontal da UBS Costa e Silva
Fonte: Autora (2018).
54
A edificação foi construída a uma distância aproximada de 5,30 metros do
início da margem do Rio Walter Brandt, pertencente a Bacia Hidrográfica do Cachoeira,
conforme pode ser observado através das Figuras 22 e 23.
Figura 22 - Distância entre UBS Costa e Silva e rio
Fonte: Adaptado de Google Maps (2018).
Figura 23 - Vista superior de UBS com identificação do rio
Fonte: Adaptado de SIMGEO (2018).
55
3.3 LEVANTAMENTO DE DADOS
O levantamento de dados acerca da obra de reforma e ampliação, realizada
na UBS Costa e Silva, foi primordial para o entendimento acerca das manifestações
patológicas que a obra apresentou. Essa etapa levantou tanto a parte documental
envolvendo processos legais para a realização da obra, como a parte de projetos.
3.3.1 Processos legais para realização da obra na UBS Costa e Silva
As aquisições feitas pela administração pública, seja de caráter direto ou
indireto, independente de sua instância, são realizadas mediante licitação. As
licitações são o meio pelo qual o governo, de modo imparcial, seleciona e habilita as
empresas. As modalidades de licitações, no que se refere às obras e serviços de
engenharia, são as modalidades Convite, Tomada de Preço e Concorrência
(JOINVILLE, 2018).
Em 2013, foi licitada, através da modalidade Tomada de Preço nº 264/2013, o
objeto ‘Contratação de pessoa jurídica habilitada para atuação em serviços e obras
de engenharia/arquitetura para prestar serviços de reforma e ampliação da Unidade
Básica de Saúde do Costa e Silva’, na qual a empresa Planojet Construções LTDA foi
a vencedora, firmando o Termo de Contrato nº 404/2013. O valor total licitado foi de
R$ 477.198,53, com prazo total estimado de execução de 240 dias, conforme
cronograma físico-financeiro, e prazo de vigência do contrato de 330 dias,
compreendendo o período de 10 de dezembro de 2013 à 05 de novembro de 2014
(JOINVILLE, 2013). O cronograma físico-financeiro da obra, estimado pela Secretaria
Municipal da Saúde para a licitação, é apresentado no Anexo A.
3.3.2 Projeto da UBS Costa e Silva
O projeto da UBS Costa e Silva foi elaborado pela empresa Helpcon
Construções, Projetos e Serviços LTDA, em conformidade com as necessidades
56
estipuladas pela Secretaria Municipal da Saúde. Antes da UBS Costa e Silva ser
reformada e ampliada, a mesma já havia passado por uma ampliação, segundo o que
foi informado por engenheiros da Secretaria em visita ao órgão mencionado.
Referente a essa primeira ampliação, não foi possível obter documentos ou
informações aprofundadas acerca da mesma.
Na Figura 24 é possível ver a planta baixa do projeto arquitetônico da unidade
antes da ampliação e reforma tratada nesse trabalho, ou seja, a segunda ampliação.
Figura 24 - Planta baixa da UBS Costa e Silva antes da 2ª ampliação e reforma
Fonte: Adaptado de Joinville (2011).
57
O projeto que previu a segunda ampliação e reforma da unidade é exposto na
Figura 25.
Figura 25 -Planta baixa da UBS Costa e Silva com 2ª ampliação e reforma
Fonte: Adaptado de Joinville (2011).
As áreas que estavam destinadas a construção e demolição na UBS Costa e
Silva, estão especificadas na planta baixa do projeto arquitetônico da UBS Costa e
58
Silva como áreas a construir e demolir, de acordo com a hachura aplicada, conforme
Figura 26.
Figura 26 - Planta baixa da UBS Costa e Silva com as áreas a construir e demolir
Fonte: Adaptado de Joinville (2011).
59
Na Figura 27, apresenta-se a planta baixa do projeto arquitetônico da unidade,
identificando os ambientes que surgiram da primeira ampliação e os ambientes que
são oriundos da segunda ampliação.
Figura 27 - Planta baixa da UBS Costa e Silva com as áreas definidas da 1ª e 2ª ampliação
Fonte: Adaptado de Joinville (2011).
60
Na Figura 28, apresenta-se o projeto estrutural da 2ª ampliação e reforma
unidade.
Figura 28 – Projeto estrutural da área pertencente a 2ª ampliação e reforma
Fonte: Adaptado de Joinville (2011).
61
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste capítulo apresentam-se os resultados obtidos a partir dos
levantamentos realizados na UBS em estudo, e respectivas análises de tais resultados.
Os levantamentos in loco permitiram visualizar patologias que a unidade
apresentou após a execução da obra.
4.1 ÁREA EXTERNA
A área externa pode ser dividida em 4 regiões de análise, nas quais são a
parte frontal, lateral esquerda, lateral direita e fundos da unidade. Por estarem
expostas diretamente às ações climáticas, essas regiões têm mais propensão a
apresentarem patologias quando comparada as regiões internas da unidade.
Para facilitar o entendimento dos ambientes externos que apresentaram
patologias, destacou-se, no projeto da unidade, tais áreas, conforme Figura 29. As
manifestações patológicas identificadas na lateral direita da unidade estão
representadas através da delimitação circular 1, na lateral esquerda através das
delimitações circulares 2,3 e 4, nos fundos da unidade através da delimitação circular
5 e na parte frontal através das delimitações circulares 6, 7 e 8 no projeto.
62
Figura 29 - Projeto da UBS com identificação das áreas externas com patologias
Fonte: Adaptado de Joinville (2011).
63
4.1.1 Lateral Direita da Unidade
Na lateral direita da unidade, encontra-se o amplo estacionamento destinado
a servidores e usuários da unidade, conforme observado nas Figuras 30 e 31.
Figura 30 - Vista da lateral direita da UBS Costa e Silva
Fonte: Autora (2018).
Figura 31 – Vista do estacionamento e da lateral direita da UBS Costa e Silva
Fonte: Autora (2018).
64
A lateral direita apresenta algumas fissuras. Na Figura 32, no detalhe “a” é
possível observar que as mesmas foram corrigidas, porém é visível a falta de
uniformidade na edificação. Essa falta de uniformidade devido a correção aplicada, é
vista de longe pela diferença de coloração. Com a proximidade é possível verificar que
a superfície é mais áspera devido a correção aplicada não ter sido tratada em
conformidade com a superfície do local.
O detalhe “b” é possivelmente uma continuação da fissura corrigida no
detalhe “a”, não tendo sido realizada a correção ou voltando a aparecer após correção,
ou uma fissura que se desenvolveu próximo a região corrigida.
Figura 32 - Fissura na lateral direita da edificação
Fonte: Autora (2018).
No detalhe “c”, contido na Figura 33, é possível ver a diferença de coloração
na parede, indicando que foram efetuadas correções, porém a patologia persiste,
apresentando-se na forma de fissura em sentido vertical com mudança de direção
para a esquerda.
65
Figura 33 - Fissuras na lateral direita da edificação
Fonte: Autora (2018).
A Figura 34 confirma que houve correções devido ao surgimento de fissuras
em 2016, tanto no detalhe “a”, como no detalhe “c”. No detalhe “c”, a fissura voltou a
aparecer parcialmente no mesmo local onde foi corrigido, desenvolvendo-se em local
onde não havia a necessidade de correção em 2016.
Figura 34 - Correção das fissuras em 2016
Fonte: Joinville (2016).
66
4.1.2 Lateral Esquerda da Unidade
A lateral esquerda da unidade, conforme exposta nas Figuras 35 e 36, não é
destinada a circulação de usuários, porém há uma porta nos fundos da unidade que
possibilita o acesso de servidores a essa região.
Figura 35 - Vista da lateral esquerda da UBS Costa e Silva
Fonte: Autora (2018).
Figura 36 - Vista da lateral esquerda da UBS Costa e Silva
Fonte: Autora (2018).
67
Várias patologias são observadas nessa região. Na Figura 37, no detalhe “d”
é possível observar que foram executadas correções, como apresentado pela falta de
uniformidade na coloração.
Figura 37 - Falta de uniformidade na coloração
Fonte: Autora (2018).
No detalhe “e”, conforme Figura 38, é possível ver que a pintura está
“descascando”. Isso pode ter sido ocasionado por ações climáticas, químicas ou até
mesmo pequenas ações mecânicas, como a colisão de objetos. Como a região de
análise é muito pequena, fica difícil direcionar para uma causa específica.
Figura 38 - Pintura descascando
Fonte: Autora (2018).
68
Apesar de não apresentar uma patologia, no detalhe “f” é possível ver a
diferença de tonalidade das tintas utilizadas, destacando onde foi efetuada a 2ª
ampliação da unidade, neste caso, do lado direito do detalhe, conforme Figura 39.
Figura 39 - Diferença de tonalidade das tintas
Fonte: Autora (2018).
No detalhe “g”, conforme Figura 40, é possível observar uma fissura grande
circundando a região onde foi efetuado uma correção, ou seja, em uma área de
fragilidade.
No detalhe “h”, nota-se, mesmo que encoberto por uma tentativa de
correção, uma fissuração na parede da unidade conforme Figura 41.
69
Figura 40 - Fissura destacada pelo detalhe g
Fonte: Autora (2018).
Figura 41 - Fissura pouco nítida destacada pelo detalhe h
Fonte: Autora (2018).
70
Com relação a Figura 42, no detalhe “i” é perceptível a grande fissura
apresentada, que na parte superior se manifesta em sentido horizontal passando por
pontos de fragilidade como fixação do condicionador de ar e pela passagem da
tubulação, descendo de forma vertical e abrindo em ramificações mais próximas do
meio para fim da parede.
Figura 42 - Fissuras na lateral esquerda da unidade
Fonte: Autora (2018).
No detalhe “j”, saindo de um ponto frágil como a fixação do ar condicionado
há uma fissura, de uma dimensão menor que a fissura apresentada no detalhe “i”,
mas que pode se agravar.
71
No detalhe “k” e “L”, presentes na Figura 43, são apresentadas fissuras,
fissuras essas mais brandas no detalhe “L”, em sentido vertical. No detalhe “k”, nota-
se que a fissura tem duas origens ou se manifestou para dois lados distintos. A
princípio, pode-se dizer que a fissura se inicia no canto inferior da janela, passando
pelo ponto de fragilidade gerado pela fixação da grade da janela, abrindo tanto para a
direita como para a esquerda. Para o lado direito, a extensão da fissura é maior.
Figura 43 - Fissuras na lateral esquerda da unidade
Fonte: Autora (2018).
4.1.3 Fundos da Unidade
A parte dos fundos da unidade, como comentado anteriormente, fica a uma
proximidade de 5,30 metros do início das margens do rio. Conforme observado na
Figura 44, há obstáculos cilíndricos feitos de concreto que, conforme informado pelos
servidores, servem para impedir que os veículos circulem por aquela região. Esse tipo
de ação impacta na compactação do solo próximo à unidade. Considerando que é um
solo com alta umidade pela proximidade com o rio e que solos com maiores umidades,
tendem a ter um aumento na repulsão entre partículas, a compactação as orienta,
posicionando-as paralelamente, ficando com a estrutura ‘dispersa’ (PINTO,2006).
Esse tipo de compactação forçada, não é prevista e dimensionada em projeto, pode
gerar patologias na edificação.
72
Figura 44 - Obstáculos cilíndricos impedindo fluxo de veículos
Fonte: Autora (2018).
Há relatos também que na rua Guilherme há muito fluxo de caminhões e
nesses casos, quando há esse fluxo excessivo, a unidade vibra com trânsito local.
Na Figura 45, é possível observar que nos fundos da unidade, apesar dos
obstáculos, continua a movimentação de carros, os quais ficam estacionados pela
maior parte do tempo, apesar de conter um amplo estacionamento na unidade,
fazendo compressão não homogênea no solo.
Figura 45 - Vista da parte dos fundos da UBS Costa e Silva
Fonte: Autora (2018).
73
No detalhe “M”, presente na Figura 46, possivelmente ocorreu uma infiltração,
causada por algum vazamento na tubulação de drenagem pluvial, presente na figura,
ou pela água da chuva que pode ter penetrado através de um telhado com vazamento,
perceptível através do descascamento da tinta. Além disso, no lado esquerdo é
possível observar uma fissura na qual foi efetuado correção, porém a mesma ainda
aparece.
Figura 46 – Fissura e descascamento da tinta nos fundos da unidade
Fonte: Autora (2018).
74
No detalhe “N” é possível ver uma fissura que possivelmente teve sua origem
do canto inferior da janela.
4.1.4 Frente da Unidade
A unidade está acessível à população através da rua Comandante Telles de
Mendonça, onde está a frente da unidade. Nesse local, nos extremos esquerdo e
direito, estão as áreas contempladas através da segunda ampliação, foco do trabalho.
Uma pequena área da região frontal, constitui uma área ampliada na primeira
ampliação. Essas áreas de ampliação estão demarcadas em projeto nesse estudo.
Figura 47 - Vista frontal da UBS Costa e Silva
Fonte: Autora (2018).
Na Figura 48, há dois detalhes que são destacados, detalhe “P” e “o”. No
detalhe “o”, pertencente a rampa de acesso à unidade, há uma grande fissura
observada na parte lateral da rampa. No detalhe “P”, ampliado através da Figura 49,
há uma mancha na parede e, no extremo inferior da mancha, o descascamento da
pintura.
75
Figura 48 – Fissura e descascamento da tinta na parte frontal da unidade
Fonte: Autora (2018).
Figura 49 - Ampliação do detalhe "P"
Fonte: Autora (2018).
76
Nas Figuras 50 e 51, através do detalhe “q”, observa-se o que aparenta ser o
recalque do piso no lado esquerdo, baseando-se na vista frontal da unidade.
Figura 50 - Recalque na parte frontal da unidade
Fonte: Autora (2018).
Figura 51 - Recalque na parte frontal da unidade
Fonte: Autora (2018).
Na Figura 52, foi posicionada uma trena para verificar qual a abertura, ou seja,
qual a distância que o piso desceu, resultando em, basicamente, 01 centímetro de
recalque do piso.
77
Figura 52 - Medição da abertura do recalque
Fonte: Autora (2018).
As patologias apresentadas pelos detalhes “r“ e “s”, presentes na Figura 53,
estão intimamente associadas ao recalque do piso. No detalhe “r”, nota-se que o piso
está parcialmente conectado a estrutura e parcialmente conectado ao piso a esquerda,
ou seja, ainda não acompanhou o recalque do piso. Lateralmente é possível ver o
desnivelamento entre os pisos.
Figura 53 - Recalque na parte frontal da unidade
Fonte: Autora (2018).
78
No detalhe “s”, conforme Figura 54, é perceptível a fissura horizontal no piso
cerâmico na mesma linha dos cantos das paredes no qual foi registado o recalque,
paralelo a porta. Porém, essa fissura também pode ser decorrente de má colocação
do piso, com vazios na parte inferior.
Figura 54 - Patologia na parte frontal da unidade
Fonte: Autora (2018).
4.2 ÁREA INTERNA
A área interna, diferentemente da área externa, não está exposta diretamente
as variações climáticas, porém como a unidade passou por reforma e ampliação,
áreas que atualmente são internas, já foram externas no histórico da unidade.
Para facilitar entendimento dos ambientes internos que apresentaram
patologias, associou-se os ambientes apresentados nas figuras com o projeto da
unidade. As patologias nas áreas internas foram divididas em três regiões, sendo a
região direita, esquerda e central, tendo como referência a frente da unidade. As
manifestações patológicas identificadas na região esquerda da unidade estão
representadas, em projeto, através das delimitações circulares 1 e 2, na região direita
através das delimitações circulares 3, 4, 5 e 6 e na região central através da
delimitação circular 7, conforme Figura 55.
79
Figura 55 - Projeto da UBS com identificação das áreas internas com patologias
Fonte: Adaptado de Joinville (2011).
80
4.2.1 Região Esquerda
A maioria das patologias não estão concentradas nessa região da unidade,
porém, as patologias manifestaram-se próximo ou na divisão entre a unidade base e
2ª ampliação ou entre a 1ª e 2ª ampliação, conforme projeto.
Na Figura 56, destaca-se o detalhe “h”, representado pelo círculo 1 no projeto.
Figura 56 - Relação entre projeto e área com fissura conforme círculo 1
Fonte: Autora (2018).
A fissura, destacada no detalhe “h”, pode ser vista conforme direção do
observador através da Figura 57, identificando uma fissura de grande extensão.
81
Figura 57 – Fissura visualizada conforme direção
Fonte: Autora (2018).
A Figura 58 mostra a medição da abertura da manifestação patológica do
detalhe “h”. Essa abertura é em torno de 2 mm.
Figura 58 - Medição da abertura da manifestação patológica do detalhe "h"
Fonte: Autora (2018).
82
No detalhe “g” na Figura 59, representado pelo círculo 2 em projeto, e
ampliado pela Figura 60, é possível ver a formação de uma fissura no canto superior
da abertura do vão, que se ramifica levemente.
Figura 59 - Relação entre projeto e área com fissura conforme círculo 2
Fonte: Autora (2018).
Figura 60 - Ampliação da fissura do detalhe "g"
Fonte: Autora (2018).
83
A Figura 61 mostra a medição da abertura da manifestação patológica do
detalhe “g”, sendo essa abertura em torno de 1 mm. A Figura 62 trata-se da mesma
patologia, porém vista do lado oposto da parede, ou seja, a manifestação patológica
está em ambos os lados.
Figura 61 - Medição da abertura da fissura do detalhe "g"
Fonte: Autora (2018).
Figura 62 - Fissura do detalhe "g" vista do outro lado da parede
Fonte: Autora (2018).
84
4.2.2 Região Direita
A maioria das manifestações nessa região estão concentradas na divisão
entre a unidade base e a 1ª ampliação ou entre a unidade base e a 2ª ampliação,
conforme projeto. Na Figura 63 é possível ver que o limite mencionado, entre unidade
base e a 1ª ampliação e suas manifestações patológicas, é separado por um corredor.
A figura dá noção de quais áreas foram afetadas, nesse caso, em 03 (três) áreas
distintas, conforme círculo 3 em projeto.
Figura 63 – Relação entre projeto e área com fissuras e destacamento de argamassa conforme círculo 3
Fonte: Autora (2018).
No detalhe “a”, na Figura 64, observa-se a grande fissura na parte inferior da
viga. Observa-se que a mesma continua a se manifestar, conforme pode ser
observado no detalhe “b”, na Figura 65, no qual é uma continuação da fissura em “a”
ou vice-versa, porém com destacamento de argamassa.
85
Figura 64 – Fissura na área interna destacada pelo detalhe "a"
Fonte: Autora (2018).
Figura 65 - Ampliação da fissura com destacamento de argamassa
Fonte: Autora (2018).
Na Figura 66, nota-se o desenvolvimento de uma fissura no detalhe “c”, na
junção pilar e alvenaria, o que provavelmente é uma continuidade a fissura no detalhe
“a” ou vice-versa.
86
Figura 66 – Ampliação da patologia da área interna destacada pelo detalhe "c"
Fonte: Autora (2018).
Na Figura 67 mostra a medição da abertura da manifestação patológica do
detalhe “c”, no caso, em torno de 2 mm.
Figura 67 - Medição da abertura da patologia do detalhe "c"
Fonte: Autora (2018).
87
O recalque apresentado no detalhe “d” da Figura 68, na área do círculo 5 no
projeto, se manifestou na mesma linha do recalque apresentado no detalhe “q” da
área externa.
Figura 68 – Relação entre projeto e área com recalque conforme círculo 5
Fonte: Autora (2018).
Na mesma sala, porém no canto direito da mesma, representado pelo círculo
4 no projeto, foi identificado uma grande fissura, conforme Figura 69, destacada pelo
detalhe “e”
88
Figura 69 - Relação entre projeto e área com fissura conforme círculo 4
Fonte: Autora (2018).
A Figura 70 mostra a medição da abertura da manifestação patológica do
detalhe “e”, ou seja, uma abertura em torno de 5 mm.
89
Figura 70 - Medição da abertura da manifestação patológica do detalhe "e"
Fonte: Autora (2018).
Na Figura 71, representada pelo círculo 6 no projeto e destacada pelo detalhe
“f”, apresenta-se uma fissura próximo ao encontro de paredes.
Figura 71 - Relação entre projeto e área com fissura conforme círculo 6
Fonte: Autora (2018).
90
A Figura 72 mostra, de forma mais visível, a fissura representada pelo
detalhe “f”.
Figura 72 - Ampliação da patologia realçada no detalhe "f"
Fonte: Autora (2018).
A Figura 73 mostra a medição da abertura da manifestação patológica do
detalhe “f”, no caso, em torno de 2 mm.
Figura 73 - Medição da abertura da fissura do detalhe "f"
Fonte: Autora (2018).
91
4.2.3 Região Central
As patologias da região central estão identificadas pelo círculo 7 no projeto.
Como as patologias encontram-se próximas, optou-se em não delimitar a área de cada
patologia em projeto e unificar as mesmas em um círculo que delimitasse todas. Na
Figura 74 é possível ter uma prévia da região onde será analisada as patologias.
Figura 74 - Relação entre projeto e área com fissura conforme círculo 7
Fonte: Autora (2018).
A área, visível em projeto, que compreende a 1ª ampliação entre as 2ª
ampliações, era uma área aberta, porém coberta, sendo possível visualizar suas vigas
e pilares. Junto com a 2ª ampliação, foram realizadas reformas, sendo essa área
contemplada. Na Figura 75 é possível visualizar que ao lado da viga e do pilar
existente, foram executados uma nova viga e pilar para reforçar a estrutura. O pilar
existente foi nivelado, conforme Figura 76. Posteriormente, o pilar, juntamente com a
parte inferior e encontro das vigas, foram revestidos com uma base de madeira, dando
a impressão que as duas vigas são apenas uma.
92
Figura 75 - Área que compreende a 1ª ampliação entre as 2ª ampliações, antes e durante 2ª ampliação e reforma
Fonte: Adaptado de Joinville (2015).
Figura 76 - Pilar nivelado em 2015
Fonte: Joinville (2015).
O detalhe “i”, presente nas Figuras 77 e 78, e o detalhe “j”, presente na Figura
78, identificam, em ambos os casos, a base de madeira fixada na parte inferior da viga.
Os detalhes expõem as áreas de junção entre a viga de concreto e a base de madeira
93
Figura 77 - Junção entre a viga de concreto e a base de madeira realçada no
detalhe "i"
Fonte: Autora (2018).
Figura 78 - Junção entre a viga de concreto e a base de madeira realçada no
detalhe "i" e “j”
Fonte: Autora (2018).
Na Figura 79 é possível observar o encontro entre a base de madeira e o pilar
de concreto, conforme detalhe “i” e detalhe “k”
94
Figura 79 – Encontro entre a base de madeira e elemento estrutural da área
interna central
Fonte: Autora (2018).
Na Figura 80, há o desenvolvimento de uma linha de fissura atravessando os
pisos cerâmicos, tendo origem em um dos cantos do pilar. A Figura 81, amplia o
detalhe “L”.
95
Figura 80 – Fissura no piso destacada pelo detalhe “L”
Fonte: Autora (2018).
Figura 81 - Manifestação patológica em piso cerâmico
Fonte: Autora (2018).
No detalhe “m” da Figura 82, nota-se a fissura no piso cerâmico. Essa
patologia desenvolveu-se do lado direito do pilar, enquanto que a patologia
representada pelo detalhe “L”, desenvolveu-se do lado esquerdo do pilar.
96
Figura 82 - Patologia realçada pelo detalhe "m"
Fonte: Autora (2018).
A abertura da manifestação patológica do detalhe “m”, mostrada pela Figura
83, é em torno de 1 mm.
Figura 83 - Medição da abertura da manifestação patológica do detalhe "m"
Fonte: Autora (2018).
97
4.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Mediante identificação das patologias, para uma análise dos resultados
levantados, foi elaborado o Quadro 11 com a identificação resumida dos detalhes
expostos nas áreas externas e internas.
Quadro 11 - Identificação resumida dos detalhes nas áreas externas e internas
DETALHE MANIFESTAÇÃO PATOLÓGICA
ÁREA EXTERNA ÁREA INTERNA
Detalhe a - Fissura
Detalhe b Fissura Fissura
Destacamento da argamassa
Detalhe c Fissura Fissura
Detalhe d - Recalque
Detalhe e Pintura descascando Fissura
Detalhe f - Fissura
Detalhe g Fissura Fissura
Detalhe h Fissura Fissura
Detalhe i Fissura -
Detalhe j Fissura -
Detalhe k Fissura -
Detalhe L Fissura Fissura
Detalhe M Pintura descascando Fissura
Detalhe N Fissura -
Detalhe O Fissura -
Detalhe P Mancha de umidade
Pintura descascando -
Detalhe q Recalque -
Detalhe r Desnivelamento do piso -
Detalhe s Fissura -
Fonte: Autora (2018).
Foi elaborada a Tabela 4 com os números de repetições de cada tipo de
patologia detectada na UBS Costa e Silva, computando as repetições nas áreas
externa e interna da unidade.
98
Tabela 4 - Ocorrência das manifestações patológicas nas áreas externas e internas da unidade
OCORRÊNCIA DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS
CLASSIFICAÇÃO QUANTIDADE DE REPETIÇÕES
Destacamento da argamassa 1
Desnivelamento do piso 1
Fissura 20
Mancha de umidade 1
Pintura descascando 3
Recalque 2
TOTAL 28
Fonte: Autora (2018).
Para uma visualização melhor das manifestações patológicas que a unidade
apresentou, conforme classificação, é exposto no Gráfico 3, os percentuais
correspondentes às ocorrências das patologias encontradas nas áreas internas e
externas.
Gráfico 3 - Percentual das ocorrências de manifestações patológicas
Fonte: Autora (2018).
Através dessas informações, foi possível verificar que a manifestação patológica que mais apresentou repetições foi a fissura com 71%.
3% 4%
71%
4%
11%
7%
OCORRÊNCIA DE MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS
Destacamento da argamassa Desnivelamento do piso Fissura
Mancha de umidade Pintura descascando Recalque
99
A Figura 84 destaca quais áreas, internas e externas, sofreram fissuração,
conforme projeto arquitetônico.
Figura 84 - Projeto com as regiões que sofreram fissuras
Fonte: Adaptado de Joinville (2011).
100
4.2.1 Análise das Fissuras e Possível Causa
Como as fissuras apresentaram alto índice de repetições na edificação,
analisar as fissuras que são estruturais e sua possível causa faz-se necessário, antes
de qualquer sugestão de correção do problema.
4.2.1.1 Análise das Fissuras
De acordo com a visita in loco, registros fotográficos, medições, projeto e
localização, foi possível classificar a manifestação patológica, quanto ao tipo, forma
de manifestação (geométrica ou mapeada) e indicar sua abertura, conforme Quadros
12 e 13, tanto na área externa como na área interna.
Quadro 12 - Classificação da Manifestação Patológica na Área Externa
ÁREA EXTERNA
DETALHE
CLASSIFICAÇÁO FORMA DE
MANIFESTAÇÃO
ABERTURA
(mm) GERAL
SEGUNDO
ROSSO
SEGUNDO
OLIVEIRA
Detalhe b Fissura - - Geométrica Sem acesso
Detalhe c Fissura Fenda Rachadura Geométrica 2
Detalhe g Fissura - - Geométrica Sem acesso
Detalhe h Fissura - -
Geométrica Sem acesso
Detalhe i Fissura Fenda Rachadura Geométrica 2
Detalhe j Fissura Fissura/
Trinca
Fissura/
Trinca Geométrica < 1
Detalhe k Fissura Fissura/
Trinca
Fissura/
Trinca Geométrica < 1
Detalhe L Fissura Fissura/
Trinca
Fissura/
Trinca Geométrica < 1
Detalhe N Fissura Fissura/
Trinca
Fissura/
Trinca Geométrica < 1
Detalhe O Fissura Fenda Rachadura Geométrica 4
Fonte: Autora (2018).
101
Quadro 13 - Classificação da Manifestação Patológica na Área Interna
ÁREA INTERNA
DETALHE
CLASSIFICAÇÁO
FORMA DE
MANIFESTAÇÃO
ABERTURA
(mm)
GERAL SEGUNDO
ROSSO
SEGUNDO
OLIVEIRA
Detalhe a Fissura - - Geométrica Sem acesso
Detalhe b Fissura - - Mapeada Sem acesso
Detalhe c Fissura Fenda Rachadura
Geométrica 2
Detalhe e Fissura Fenda Rachadura Geométrica 5
Detalhe f Fissura Fenda Rachadura
Geométrica 2
Detalhe g Fissura Trinca Trinca Geométrica 1
Detalhe h Fissura Fenda Rachadura Geométrica 2
Fonte: Autora (2018).
Através da identificação e da localização das fissuras, fazendo uma
associação com projeto estrutural, conforme Figura 85, foi possível classificar as
fissuras como fissuras estruturais e não estruturais, o que englobam fissuras na
alvenaria, no piso, na pintura ou na rampa, conforme Figuras 86 e 87.
Todas as fissuras estruturais foram classificadas, quanto a forma de
manifestação, como fissuras geométricas.
102
Figura 85 - Projeto estrutural da 2ª ampliação e reforma com destaque das áreas
com fissuras estruturais
Fonte: Adaptado de Joinville (2011).
103
Figura 86 - Classificação das fissuras da área externa
Fonte: Autora (2018).
FISSURA NA ESTRUTURA
Detalhe bFISSURA NÃO ESTRUTURAL
Detalhe c
FISSURA NÃO ESTRUTURAL
Detalhe g
FISSURA NÃO ESTRUTURAL
Detalhe h
FISSURA NA ESTRUTURA
Detalhe iFISSURA NÃO ESTRUTURAL
Detalhe j
FISSURA NÃO ESTRUTURAL
Detalhe k
FISSURA NÃO ESTRUTURAL
Detalhe L
FISSURA NÃO ESTRUTURAL
Detalhe N
FISSURA NÃO ESTRUTURAL
Detalhe O
104
Figura 87 - Classificação das fissuras da área interna
Fonte: Autora (2018).
FISSURA NA ESTRUTURA
Detalhe aFISSURA NÃO ESTRUTURAL
Detalhe b
FISSURA NÃO ESTRUTURAL
Detalhe c
FISSURA NA ESTRUTURA
Detalhe e
FISSURA NA ESTRUTURA
Detalhe f FISSURA NÃO ESTRUTURAL
Detalhe g
FISSURA NA ESTRUTURA
Detalhe h FISSURA NÃO ESTRUTURAL
Detalhe L
FISSURA NÃO ESTRUTURAL
Detalhe m
105
4.2.1.2 Possível Causa do Desenvolvimento de Fissuras na estrutura
Analisando o projeto, as áreas que sofreram patologias caracterizadas como
fissuras na estrutura são as áreas de ampliação, principalmente a 2ª ampliação, entre
elas a divisão entre a unidade base e as ampliação ou entre ambas as ampliações.
Os Quadros 14 e 15 mostram configurações de fissuras em vigas e pilares,
indicando provável causa.
Quadro 14 - Configuração de fissuras em vigas
FISSURAS EM VIGAS
DIREÇÃO DA FISSURA CAUSA PROVÁVEL EXEMPLO
Inclinada Sobrecarga
Vertical Flexão da Peça
Fonte: Adaptado de Rio de Janeiro (2018)
Quadro 15 - Configuração de fissuras em pilares
FISSURAS EM PILARES
DIREÇÃO DA FISSURA CAUSA PROVÁVEL EXEMPLO
Inclinada Recalque da fundação
Horizontal
Recalque da fundação
ou por ação de cargas
excêntricas
Vertical Sobrecarga
Fonte: Adaptado de Rio de Janeiro (2018).
106
As fissuras por sobrecargas em pilares são predominantemente verticais e
ocorrem pelo excessivo carregamento de compressão em pilares mal dimensionados,
conforme mostra a Figura 88 (DUARTE, 1998).
Figura 88 - Fissuras verticais em pilares sob excessiva carga vertical de compressão
Fonte: Duarte (1998).
A maior parte das fissuras estruturais que a UBS Costa e Silva apresentou
são verticais. Fissuras estruturais verticais nos pilares podem caracterizar sobrecarga.
A sobrecarga possui como mecanismo de ruptura o surgimento de fissuras verticais,
que se originam por excessivos carregamentos verticais de compressão, o que leva a
constatar que a sobrecarga é a possível causa mais indicada da maioria das fissuras
estruturais na unidade. Essa sobrecarga pode ser justificada pelo
subdimensionamento dos pilares. A menor dimensão dos pilares retangulares deve
ser 19 cm e constatou-se, em análise ao projeto estrutural, que há pilares com 15 cm
na menor dimensão.
Conforme mencionado por Souza e Ripper (1998), as deficiências de projeto
podem levar a fissuras com configuração própria, de acordo com o tipo de esforço que
estão submetidas as peças estruturais, como a baixa resistência à compressão nesse
caso. Elementos de projeto inadequados, especificação insuficiente ou errada ou
erros de dimensionamento são exemplos de deficiências de projeto que afetam o
desempenho da estrutura.
107
Todavia, algumas estruturas em que os projetos foram desenvolvidos com as
corretas considerações de carga, podem apresentar manifestações patológicas, em
virtude de serem submetidas a sobrecargas superiores às de projeto. Nas obras
públicas é elevado o número de problemas associados a sobrecargas em elementos
estruturais, devido à grande quantidade de carga permanente imposta aos mesmos.
Essas cargas tem o valor muito superior ao especificado em projeto, dando origem a
manifestações patológicas nesses elementos (ANDRADE, 1997).
Porém, o recalque diferencial das fundações é uma causa que não deve ser
descartada totalmente, apesar de que, aparentemente, só o piso recalcou. As
edificações, tanto durante como após a conclusão da obra, por um determinado
período de tempo, estão sujeitas a deslocamentos verticais, lentos, até que seja
atingido o equilíbrio entre o solo e o carregamento aplicado (SOUZA; RIPPER, 1998).
Normalmente, as configurações das fissuras provocadas por recalques
diferenciais são inclinadas. Porém, conforme a vista C-C da Figura 89, a fissura pode
desenvolver-se horizontalmente, conforme vista da edificação, semelhante a fissura
apresentada em uma extensão no detalhe “i” na área externa
Figura 89 - Análise de uma possibilidade de recalque ao longo de um eixo principal do prédio
Fonte: Manã (1978) apud Duarte (1998).
108
Na Figura 90, há o destaque das regiões em que é visualizado o recalque,
conforme comprovado pelo registro fotográfico, chegando a aproximadamente 1 cm
na área a esquerda, onde foi possível fazer tal medição.
Figura 90 - Projeto com as regiões que sofreram recalque
Fonte: Adaptado de Joinville (2011).
As causas dos recalques diferenciais de fundação podem ser decorrentes de
heterogeneidade do solo ou dos próprios elementos de apoio, por superposição de
109
bulbos de pressões no caso de fundações próximas ou por expansão do solo de
fundação, nos quais geram esforços na maioria das vezes não previstos em projeto
(CARMONA FILHO; CARMONA, 2013).
O terreno de fundação é um dos elementos responsáveis pela estabilidade da
obra, em termos de capacidade de resistir aos esforços que lhe são transmitidos pela
estrutura. Em qualquer construção é fundamental conhecer as características do solo,
o que se pode obter através da realização de furos de sondagem (SOUZA; RIPPER,
1998).
Para ampliação da UBS Costa e Silva, não foram realizados ensaios de
sondagem no terreno para verificar as características do solo. Além disso, eventuais
sondagens realizadas para construção da unidade base também não foram
consideradas nas ampliações, visto que não constam tais ensaios nos históricos da
obra, tanto da unidade base, nos quais não foi obtido nenhuma documentação, como
nas ampliações. Outro fator é que o solo do local deve conter alto índice de percolação
de água (movimento subterrâneo da água através do solo), decorrente da proximidade
do rio com o terreno, o que pode gerar o recalque da fundação, visto que,
frequentemente, o recalque pode estar associado com a diminuição dos índices de
vazios, que ocorre pela expulsão da água pelo peso da estrutura (PINTO, 2006).
Nesse caso, era fundamental a realização do ensaio de sondagem como parâmetro
para estipular a consistência (solos argilosos) ou estado de compacidade (arenosos)
do solo, fornecendo subsídios para escolha do tipo de fundação.
Além disso, tipo e estado do solo (vários estados de compacidade - areias -
ou vários estados de consistência – argilas), a interferência de fundações vizinhas,
disposição do lençol freático, intensidade da carga, tipo de fundação (direta ou
profunda) e cota de apoio da fundação são fatores importantes que podem levar a
recalque e consequentemente fissuras nas edificações.
Na parte ampliada, o tipo de fundação executada foram blocos de concreto
armado com perfuração a trado e estacas de 3 metros (fundação rasa).
Deve-se levar em consideração que, principalmente nas obras de ampliação,
quando não são tomadas precauções, como a realização de sondagens nesse caso,
com o tempo, verifica-se o surgimento de fissuras entre a construção nova e a antiga,
110
já que as fundações da antiga já se estabilizaram, enquanto que as fundações da nova
ainda vão recalcar por um período de tempo (SOUZA; RIPPER, 1998).
4.2.2 Métodos e materiais para reparo das fissuras na estrutura
Antes de aplicar qualquer tipo de reparo nas fissuras, é importante a
classificação da fissura em passivas ou ativas, visto que as ativas continuam
deformando no decorrer no tempo. Algumas fissuras, que se deformam
constantemente por um período de tempo e poderiam ser classificadas como ativas,
posteriormente se tornam passivas, pois param de deformar. Com relação as fissuras
passivas podem ser utilizadas produtos convencionais para seu tratamento, tais como
epóxis de vários tipos, metacrilatos, poliuretanos chamados de estruturais, micro
cimentos, entre outros. No caso das fissuras ativas o tipo de tratamento tem que ser
realizado com materiais elásticos de forma a absorver as deformações sem fissurar,
tais como acrílicos, borrachas, poliuretanos, entre outros (CARMONA FILHO;
CARMONA, 2013).
Uma vez realizada a análise das fissuras para verificar se as mesmas são
passivas ou ativas é possível proceder com os reparos. Considerando o caso mais
crítico, ou seja, ativa, uma sugestão de tratamento é o sistema que se baseia em
membranas acrílicas e selagem, na qual são empregados materiais como o fundo
preparador de paredes, o selante acrílico, o impermeabilizante de lajes e paredes e a
tela de poliéster. Segundo Corsini (2010), esse sistema é constituído de basicamente
4 etapas:
A primeira etapa envolve a preparação da superfície com abertura de
sulco (Ranhura ou depressão aberta numa superfície) sobre a fissura com
aproximadamente 1,0 cm de profundidade e de largura.
A segunda etapa é a remoção do acabamento em torno da parede,
contados 10 cm para cada lado da fissura, até atingir o reboco, removendo
a pintura existente. É aplicado na fissura e nas faixas laterais um fundo
preparador de paredes.
A terceira etapa consiste no tratamento da fissura. Deve-se preencher a
fissura com selante acrílico por meio de aplicador. Posteriormente, após
decorrer o tempo necessário, é aplicado o impermeabilizante acrílico,
111
diluído com 10% de água, sobre a fissura e as faixas laterais. Na segunda
demão do impermeabilizante é fixada a tela de poliéster, de 20 cm de
largura, sobre toda a faixa da fissura, orientando-se pela forma da fissura.
A quarta etapa é formado pelo nivelamento da superfície com massa
acrílica em camadas finas. E para finalizar, aplicado a tinta látex acrílica.
4.2.3 Avaliação dos Riscos Inerentes à Estrutura
Para classificação dos riscos inerentes à estrutura em relação a manifestação
patológica de maior incidência, foi verificado a espessura da abertura das fissuras e
comparada com o a Tabela 5, adaptada de Burland et al (1977).
Conforme a abertura das fissuras que a unidade apresentou, a maioria
encontra-se enquadrada no grau de dano pequeno, ou seja, com abertura menor que
5 mm, não apresentando risco eminente de comprometimento estrutural.
Tabela 5 - Classificação do grau de dano da fissura através da espessura da abertura
GRAU DE DANO CLASSIFICAÇÃO DE DANO TÍPICO ESPESSURA DAS
FISSURAS (mm)
Desprezíveis Fissura muito fina. < 0,1
Muito pequenos Fissuras estreitas de fácil reparo, visíveis sob
inspeção detalhada. < 1
Pequenos
Fissuras facilmente preenchidas. Várias
fissuras pequenas no interior da edificação.
Fissuras externas visíveis e sujeitas a
infiltração. Pode afetar também portas e
janelas, emperrando um pouco nas
esquadrias
< 5
Moderados
O fechamento das fissuras requer
significativo preenchimento. Portas e janelas
emperradas.
5 a 15 ou
um número de fissuras > ou
= 3
Severos
Necessidade de reparos maiores. Paredes
fora de prumo, com eventual deslocamento
de vigas de suporte. Esquadrias de portas e
janelas fora de esquadro.
15 a 25,
mas também depende do
número de fissuras
Muito severos
Perigo de instabilidade. Requer maior reparo
envolvendo reconstrução parcial ou total.
Usualmente > 25,
mas depende do número de
fissuras
Fonte: Adaptado de Burland et al (1977).
112
5 CONCLUSÃO
Uma construção pode apresentar diversas manifestações patológicas e em
variadas formas, nas quais impactam no desempenho da edificação, não atendendo
adequadamente uma ou mais funções para as quais foi construída, encurtando,
quando não tratadas, sua vida útil. Detectar as causas, normalmente é uma tarefa
difícil, visto que uma mesma manifestação patológica pode ser expressa por várias
causas, sendo as mesmas associadas a falhas de projeto, execução, utilização ou
fatores externos. Além disso, requer experiência do profissional em identificar e
classificar as patologias e apontar os devidos reparos, quando necessário.
Identificações incorretas podem levar a tratamentos incorretos, o que pode impactar
na segurança, estética e durabilidade da estrutura.
Nesse estudo, foi realizada a análise das patologias apresentadas na UBS
Costa e Silva, com o levantamento das mesmas através de visita in loco e registro
fotográfico. Através desse levantamento, foi identificado que as patologias mais
recorrentes são fissuras, apresentando 71% de incidência, sendo que desse
percentual, aproximadamente 32% são fissuras estruturais, o que tornou seu
aprofundamento necessário. Medições quanto às aberturas foram realizadas para
verificar os riscos que a patologia representa para a edificação.
Embasada na literatura, a possível causa do surgimento das fissuras na
estrutura está associada a sobrecarga, possivelmente devido ao
subdimensionamento dos pilares. Chegou-se a essa constatação conforme a
configuração das fissuras e análise do projeto estrutural. Porém, não se descarta a
possibilidade de recalque na fundação, visto que a unidade apresentou
aproximadamente 01 cm de deformação, aparentemente, no piso de áreas que foram
executadas a 2ª ampliação.
A partir do conhecimento da causa das fissuras, foi possível propor técnicas
de reparo, de acordo com a classificação quanto a forma de manifestação e
assumindo o tipo de atividade das fissuras. Porém, antes de proceder com os reparos,
tal hipótese deve ser confirmada.
Constatou-se que as fissuras não representam riscos de condenar a estrutura,
porém deve-se proceder com os reparos para não agravar o quadro atual.
113
Possíveis estudos podem ser realizados nessa área, como:
Estudo aprofundado para verificar se há outras causas para as
patologias apontadas, inclusive para as fissuras, sendo que nesse estudo foi
aprofundado apenas o caso das fissuras estruturais;
Estudo aprofundado para verificar se as fissuras na unidade são ativas,
com várias medições, em um período de tempo maior, para comprovar se há
alteração ou não da espessura da abertura com o tempo, se expandiram em
dimensão e se há novas manifestações patológicas na unidade;
Estudo aprofundado do tipo de solo do local, com realização de ensaio
de compactação Proctor para obter o teor de umidade. Verificar se o solo está
está em processo de recalque. Se sim, estimar, com auxílio de cálculos, o
quanto o solo, onde estão as segundas ampliações, vai recalcar, conforme
tempo médio de compactação do solo.
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ANEXOS
ANEXO A - Cronograma físico-financeiro da obra para licitação
Fonte: Joinville (2011)