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Estudo sobre a Influência do Tipo de Personalidade do
Inspetor no Desempenho de Inspeções de Usabilidade
Tayana Conte1, Nayane Maia1, Anna Beatriz Marques
1, Emília Mendes
2,
Guilherme Horta Travassos2
1 USES - DCC – UFAM, CEP 69077-000, Manaus, AM, Brasil 2 PESC – COPPE/UFRJ, Cx Postal 68.511, CEP 21945-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
{ tayana, nayane.maia, anna.beatriz}@dcc.ufam.edu.br, {emilia, ght}@cos.ufrj.br
Abstract. Usability is one of the most relevant factors for the acceptance of
Web applications. Different inspection techniques have been proposed aiming
at detecting usability defects and to increase the quality of Web applications.
However, studies have indicated great variation in the results even when using
inspectors with similar experience. It is possible that other factors not accounted
for have influenced the results of these usability inspections. Therefore, this
paper aims to investigate the influence that different personality profiles (based
on Myers-Briggs Type Indicator) may have upon the performance of usability
inspectors. These results, when compared to a previous study that investigated
the personality profiles of code inspectors, suggest that the allocation of
inspectors based on their personality profiles seems to increase the number of
defects detected in usability inspections.
Keywords: Usability inspection, Software Quality, Personality profiles, MBTI,
Allocation of roles.
1. Introdução
A usabilidade pode ser apontada como um dos fatores que podem influenciar a
melhoria na qualidade de um software, sendo definida como a capacidade que o
software tem de ser entendido, usado e aprendido, e também sua capacidade de
agradar ao usuário, quando utilizado sob condições específicas [1]. Neste contexto, a
usabilidade é de grande importância para a utilização, entendimento, aprendizado e
qualidade de um software.
No caso de aplicações Web, sua importância é ainda maior, pois tais aplicações são
interativas, centradas no usuário e baseadas em hipermídia, onde a interface com o
usuário desempenha um papel central [2], o que motivou várias pesquisas sobre
técnicas de inspeção de usabilidade para aplicações Web como a técnica WDP
proposta por [3], WDP-RT descrita em [4,5] e WE-QT proposta em [6].
Em estudos experimentais que buscavam avaliar a viabilidade dessas técnicas de
inspeção de usabilidade, constataram-se diferentes níveis de resultados em termos de
custo-eficiência (média de defeitos/hora) mesmo com inspetores com mesmos níveis
de experiência (nenhuma ou baixa), o que nos leva a considerar que existem outros
fatores que influenciam na habilidade de inspetores de usabilidade [5].
Figura 1. Resultados de uma inspeção de usabilidade [5]: inspetores com
experiências semelhante (Nenhuma ou Baixa) apresentaram diferentes resultados
(Média Def./Hora).
A influência do time de desenvolvimento é um fator tem sido cada vez mais
estudado na Engenharia de Software [7]. Recentemente os enfoques essencialmente
funcionais têm sido complementados com análises da influência do tipo de
personalidade dos indivíduos no desempenho do time [7]. Esses novos estudos
baseiam-se em obras vastamente difundidas por estudiosos de psicologia de acordo
com os aspectos a serem estudados, tais como: teorias dos tipos de personalidade,
teoria de papéis em time ou estilos cognitivos, além de indicadores de perfis de
personalidade. Segundo Boehm apud [7], tais pesquisas têm sugerido que as questões
pessoais representam o maior potencial para melhorar a qualidade do software e do
processo de desenvolvimento.
Em [8], é descrito um estudo que visa identificar perfis de personalidade que
podem influenciar na habilidade inspetores de código. Faz-se necessário observar se
estes fatores são os mesmos que influenciam na habilidade de inspetores de
usabilidade de uma aplicação.
Para verificar tal hipótese, realizou-se um estudo a fim de identificar quais perfis
de personalidade são mais adequados para o papel de inspetor de usabilidade. Vale
ressaltar que não cabe a este estudo julgar o indivíduo que tem nível de desempenho
melhor ou pior, mas sim verificar quais características o leva a se adequar melhor,
apresentando melhor rendimento em um papel do que em outro. Este estudo teve
como objetivo analisar e aplicar teorias de perfis de personalidade a fim de obter a
relação entre a característica psicológica de um inspetor de usabilidade e seu
desempenho em inspeções de usabilidade.
O restante deste artigo está organizado da seguinte forma: na Seção 2 são
apresentadas pesquisas sobre a influência do tipo de personalidade em Engenharia de
Software e os indicadores de personalidade utilizados, na Seção 3 será descrito o
método de pesquisa deste trabalho. Na Seção 4 serão discutidas as análises dos
resultados obtidos. Por fim, na Seção 5 serão apresentadas as conclusões e trabalhos
futuros relacionados.
2. Pesquisas sobre Influência do Tipo de Personalidade em
Engenharia de Software
A variedade de papéis da área de desenvolvimento tais como analistas, projetistas,
testadores, inspetores, dentre outros, demanda diferentes tipos de personalidade e
comportamento. Estudos mostram que as habilidades requeridas por um determinado
papel podem ter relação com o estilo de personalidade e/ou comportamento de cada
indivíduo. Vários estudos têm sido desenvolvidos buscando identificar características
pessoais que podem influenciar o desempenho no trabalho. Estas características
podem ser identificadas através de vários testes de personalidade. Um dos indicadores
mais utilizados em diversos estudos é o MBTI® [9], descrito a seguir.
2.1 O Indicador MBTI®
Um dos principais pontos de vista dentro da psicologia da personalidade é que a
personalidade pode ser descrita por um conjunto de características, ou seja, um
conjunto fixo de padrões de como a pessoa se comporta, sente e pensa [10]. Essas
características podem ser utilizadas para resumir, explicar e predizer como uma
pessoa vai agir em diferentes situações.
A classificação dos diversos perfis de personalidade se originou há mais de 70 anos
com os trabalhos do psiquiatra suíço Carl G. Jung, que sugeriu que o comportamento
humano não era aleatório, e sim, na verdade, previsível e classificável. Ao longo dos
anos, estudiosos espelharam-se em suas idéias, tentando assim, aprimorá-las,
tornando-as mais reveladoras, como por exemplo, Katharine Briggs e sua filha Isabel
Briggs Myers que desenvolveram o modelo MBTI® em 1942 [11] apud [12], um
indicador ainda muito utilizado em testes de tipo de personalidade atualmente [10].
O MBTI® (Myers-Briggs Type Indicator) é um instrumento de identificação de
características pessoais, que possibilita identificar as características, pontos fortes e
aspectos de desenvolvimento [9]. Os perfis de personalidade propostos por Myers-
Briggs são definidos a partir de quatro grandes dimensões bipolares da personalidade:
(1) Extraversion/Introversion (Extroversão/Introversão), (2) Sensing/iNtuition
(Sensação/Intuição), (3) Thinking/Feeling (Pensamento/Sentimento) e (4)
Judging/Perceiving (Julgamento/Percepção). Os principais aspectos das quatro
dimensões são apresentados na Figura 2.
Os tipos psicológicos citados por Myers-Briggs são classificados nestas quatro
dimensões, cuja escala de preferência varia entre dois extremos. O MBTI® pressupõe
que os indivíduos utilizam vários processos cognitivos, mas tendem a ter uma
preferência entre as dicotomias citadas. O tipo de personalidade individual é
identificado através de um código de quatro letras, cada uma representando o pólo
dominante na dimensão (E ou I, S ou N, T ou F, J ou P). Em teoria, cada um dos
dezesseis diferentes tipos de personalidade medidas pelo MBTI pode ser visto como
um conjunto de padrões que aponta como o indíviduo se comporta.
2.1.1 Os Quatro Temperamentos
Na década de 70, David Keirsey, psicólogo americano, criou um subgrupo para os
tipos psicológicos definidos por Myers-Briggs, e os denominou de “Temperamentos”.
Em essência, temperamento é um estilo pessoal inerente, uma predisposição que
forma a base de todas as nossas inclinações naturais: o que pensamos e sentimos,
desejamos ou necessitamos, o que falamos e o que fazemos. Segundo Keirsey,
temperamento é uma configuração de inclinações, enquanto que caráter é uma
configuração de hábitos [13].
O modelo de Keirsey utiliza quatro temperamentos, de forma que cada um é
composto por quatro tipos de personalidade, obtidos através do indicador de
personalidade MBTI®. Deste modo os temperamentos são definidos pela presença de
duas letras específicas no tipo de perfil de personalidade, sendo elas: SP, SJ, NF, NT.
Tabela 1. Os Quatro Temperamentos. Adaptado de [13]
Temperamento Principais Características
SP (Sensorial
Perceptivo)
“Artesãos”
Sentem-se muito à vontade no mundo externo dos objetos sólidos
que podem ser feitos e manipulados e dos eventos reais que podem
ser experimentados no aqui e agora. Têm sentidos agudos e amam
trabalhar com as suas mãos. Têm uma grande afinidade com
ferramentas e instrumentos. Suas ações têm como objetivo fazer
com que cheguem o mais rápido possível até onde pretendem ir.
Figura 2. Dimensões bipolares da personalidade e suas principais características
citadas em [8]
São impulsivos, adaptáveis, competitivos e ousados. Personalidade
que busca a sensação.
SJ (Sensorial
Julgador)
“Guardiões”
São pessoas sensatas, realistas e sentem-se à vontade em seguir as
regras e cooperar com as autoridades. Preferem trabalhar
consistentemente com o sistema, porque acreditam que, ao longo
prazo, lealdade, disciplina e cooperação realizam o trabalho de
forma correta. São cuidadosos quanto aos prazos e têm uma visão
perspicaz para o excesso ou escassez. São cautelosos quanto às
mudanças. Personalidade que busca segurança.
NF (Intuitivo
Sentimental)
“Idealistas”
Acreditam que a melhor forma para que as pessoas atinjam os seus
objetivos é através da cooperação amigável. Têm um talento único
para ajudar as pessoas a resolver as suas diferenças e assim
trabalharem juntas. Tendem a concentrarem-se no que poderia ser,
em vez de concentrarem-se no que é. Altamente éticos em suas
ações, sempre se comprometem a um estrito padrão de integridade
pessoal. O não visível, é mais importante do que o mundo das
coisas físicas ou factuais. Personalidade que busca identidade.
NT (Intuitivo
Pensador)
“Racionais”
São rigorosamente lógicos e independentes em seu pensamento.
Têm um intenso desejo de atingir seus objetivos. Esforçam-se por
compreender o mundo natural em toda a sua complexidade.
Desejam aprender acerca dos princípios abstratos. São pragmáticos
acerca do como ganharão esse conhecimento. Sentem-se à vontade
ao encontrar as soluções mais eficientes e elegantes para os
problemas. Personalidade que busca conhecimento.
2.2 Estudos sobre Tipos de Personalidades no Desenvolvimento de Software
Estudos mostram que as habilidades requeridas por um determinado papel podem ter
relação com o estilo de personalidade e/ou comportamento de cada indivíduo. Essa
afirmativa pode ser verificada a partir de diversas publicações, algumas das quais
estão apresentadas na Tabela 2.
Tabela 2. Estudos sobre a Influência dos Tipos de Personalidade em
Desenvolvimento de Software
Publicação/ Autores Foco Indicador
Utilizado
FERREIRA &
SILVA [14]
Influência dos perfis psicológicos na
utilização de processo de software
MBTI e Teoria
de Papéis em
Times
GORLA & LAM
[15]
Tipos de personalidade em diferentes
papéis dos times de software
MBTI
MEIRA & SILVA
[7]
Perfis psicológicos mais adequados
aos profissionais responsáveis por
Garantia da Qualidade
Teoria de Papéis
em Times
CUNHA &
GREATHEAD [8]
Perfil psicológico de revisores de
código
MBTI
Pelo fato do foco do estudo descrito em [8] ser em revisores (no caso de revisores
de código), seus resultados são apresentados resumidamente. A pesquisa relatada em
[8] teve o intuito de averiguar se havia alguma relação de um tipo psicológico com o
desempenho do papel de revisor de código. Os autores detectaram que alguns
profissionais apresentaram mais habilidade do que outros. Foi verificado que os
participantes com perfil NT tiveram melhor desempenho dos que os não-NT nos
resultados das revisões de código. Além disso, percebeu-se que a maior diferença foi
entre as pessoas com o tipo NT e SF, sendo eles perfis opostos. De acordo com a
definição, os NTs adquirem melhor as informações a partir de abstrações, enquanto os
SFs adquirem informações de maneira mais fácil a partir de algo concreto. Logo,
como os NTs são conhecidos como "lógicos e habilidosos", pode-se concluir que
essas características os tornam os mais indicados na resolução de problemas. O
resultado de tal pesquisa destaca a importância do estudo que visa o aumento da
produtividade a partir da alocação de perfis adequados a cada papel.
Figura 3. Média de defeitos/hora de revisões de código por dimensões MBTI [8].
3. Método de pesquisa
Esta pesquisa se propõe a averiguar se há relacionamento entre habilidades e perfis
comportamentais dos profissionais que indique maior eficiência (desempenho) no
papel de inspetor de usabilidade, a exemplo da pesquisa sobre a influência do perfil de
personalidade para o papel de inspetor de código [8] utilizando o Indicador de Tipos
de Personalidade de Myers-Briggs (MBTI®). O estudo experimental foi realizado em
três fases, sendo elas: Planejamento, Execução e Análise dos Resultados, conforme
ilustrado na Figura 4.
A fase do Planejamento consistiu nas atividades de (1) caracterização e (2)
planejamento do estudo. Na atividade (1) foi realizada uma revisão da literatura
técnica com o objetivo de coletar dados sobre teorias e tipos de personalidade e
características requeridas por um inspetor de usabilidade. Também foram revisados
trabalhos que utilizaram essas teorias e modelos, a fim de verificar qual melhor se
aplicaria ao problema em questão. Após a revisão, determinou-se que este estudo iria
utilizar o Indicador MBTI®, em virtude de ser amplamente utilizado em estudos cujo
intuito seja relacionar a característica do indivíduo com as habilidades requeridas em
determinado papel. Após a verificação desta caracterização foi realizada a atividade
(2), onde se definiu o objetivo do estudo, apresentado na Tabela 3.
Tabela 3. Objetivo segundo paradigma GQM.
Analisar A influência dos Tipos de Personalidade dos inspetores de
Usabilidade no resultado da inspeção
Com o propósito de Caracterizar
Em relação ao Desempenho apresentado pelos inspetores (em relação ao
número de Defeitos encontrados por hora em inspeção)
Do ponto de vista De pesquisadores em engenharia de software
No contexto de uma inspeção de usabilidade de 2 aplicações web reais (portal
da SBC1 e portal do MPS.BR2) realizada por alunos de
graduação e pós-graduação em Computação da UFAM
A fase de Execução foi realizada em três etapas: (1) estudo piloto, (2) apresentação
do estudo e (3) execução do indicador de personalidade MBTI®. A atividade (1) foi
realizada com a presença de um especialista e de quatro participantes com experiência
em inspeção de usabilidade. Nesta etapa foram apresentadas as teorias e descrição dos
perfis psicológicos, tendo como artefatos o Termo de Consentimento Livre e
1 Portal SBC: {http://www.sbc.org} 2 Portal MPS: {http://www.softex.br/mpsbr/_home/default.asp}
Figura 4. Processo do estudo experimental
esclarecido (TCLE) e as instruções para a realização do indicador de personalidade. A
atividade (2) foi realizada após a verificação e validação dos artefatos e consistiu na
apresentação das teorias e descrição de perfis de personalidade aos participantes do
estudo. Assim, foi ministrado um seminário direcionado aos alunos de graduação e
pós-graduação do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal
do Amazonas, matriculados nas disciplinas de Engenharia de Software e IHC. Ao
término do seminário os participantes receberam o TCLE, onde eram convidados a
participar da atividade (3) do estudo. Então, os participantes foram instruídos a
realizar o indicador online de perfil de personalidade MBTI® e orientandos a enviar o
resultado via email às pesquisadoras. Este indicador de personalidade está disponível
no endereço http://www.inspiira.org, e é baseado no Indicador de Tipos de
Personalidade de Myers-Briggs (MBTI®). Após essa atividade deu-se início a terceira
e última fase do estudo, a análise dos resultados.
Na fase de Análise foram selecionados os resultados dos alunos que haviam
realizado as inspeções de usabilidade, descritas em [4], totalizando 27 (vinte e sete)
participantes. Deste modo, a análise dos resultados abrange as atividades de (1)
tabulação dos dados, (2) análise quantitativa e (3) análise qualitativa. A atividade (1)
consistiu na coleta dos dados enviados pelos participantes com o resultado do perfil
de personalidade. Nesta atividade foram geradas planilhas com a tabulação dos dados
por participante, incluindo os resultados obtidos nas inspeções de usabilidade. Na
atividade (2) realizou-se uma análise quantitativa dos indicadores de perfis de
personalidade (MBTI®), verificando-se qual era o perfil de personalidade mais
presente. Além disso, foram analisadas as dimensões de cada perfil, de forma
individual e por temperamentos. Esses valores quantitativos, após a verificação por
um especialista, foram utilizados na atividade (3), que consistiu em uma análise para
comparar os perfis de cada participante com seus resultados na atividade de detecção
de defeitos em inspeções de usabilidade. O objetivo foi averiguar a relação entre as
características pessoais e o resultado da inspeção individual.
4. Análise dos Resultados
Para esta análise foram considerados os dados referentes aos resultados das inspeções
após a avaliação dos defeitos relatados por grupos de especialistas em usabilidade e
no domínio do problema. Desta maneira, buscou-se garantir que apenas os defeitos
reais apontados por cada inspetor seriam contabilizados.
Para avaliar o se o tipo de personalidade tinha alguma relação com o desempenho
dos participantes na inspeção de usabilidade inicialmente foram calculadas as médias
de defeitos encontrados em função do tempo para cada dimensão de personalidade.
As médias de desempenho por dimensão do MBTI são apresentadas na Tabela 4.
Tabela 4. Médias Defeito/hora dos inspetores por Dimensão MBTI.
Dimensão I E S N T F J P
Média Def/h 8,56 7,66 9,42 5,22 8,10 7,79 7,67 9,35
Desv. Padrão 4,20 3,86 3,75 2,79 3,46 5,06 4,13 4,60
Tabela 5. Mediana (Def./Hora) por Dimensões MBTI.
Dimensão I E S N T F J P
Mediana 7,74 7,7 9,37 4,16 8,4 7,26 5,60 8,52
Para observar os resultados apresentados utilizaremos o percentual obtido pela
diferença entre as Médias Def/hora (Tabela 4) entre duas dimensões dividido pela
média das medianas em Def/hora (Tabela 5) das mesmas dimensões. Esta medida tem
a intenção de sugerir, numericamente, a diferença entre os pólos de cada dimensão,
conforme a Tabela 4. Assim, percebe-se que existe uma pequena diferença nos
resultados obtidos pelas dimensões Emotivos (F) x Pensadores (T) (3,9%) que a
princípio não afetaria significativamente a organização das equipes de inspeção, ou
seja, o desempenho seria equivalente. As dimensões Extrovertidos (E) x Introvertidos
(I) (11,1%), apesar desta variação, ainda seria aceitável principalmente considerando
a variância dos grupos. Por outro lado, as dimensões Julgadores (J) X Perceptivos (P)
(19,74%) e Sensoriais (S) X Intuitivos (N) (57,38%) apresentam uma variação
aumentada no desempenho, resultando em possíveis riscos para se organizar uma
equipe de inspeção, ou seja, grupos organizados com estes perfis podem afetar a
previsibilidade de comportamento dos times de inspeção. A partir disso, decidiu-se
avaliar tais dimensões em virtude da variação observada.
A Tabela 6 mostra os perfis psicológicos segundo o indicador MBTI e o número de
defeitos encontrados por hora de inspeção por cada inspetor. Devido à diferença na
população das amostras não foi realizado um teste estatístico e sim uma análise a
partir de boxplots, utilizando-se a ferramenta SPSS Data Editor.
Tabela 6. Perfil Psicológico e o número de Defeitos/Hora por inspetor
Inspetor MBTI Def/Hora Inspetor MBTI Def/Hora Inspetor MBTI Def/Hora
1 ISFP 15,28 10 ESTP 9,33 19 ESTJ 9,41
2 ISTJ 3,82 11 ESTJ 4,29 20 ISTJ 4,67
3 INTP 4,33 12 ESTJ 14,21 21 ESTJ 4,80
4 INTP 10,80 13 ESTP 9,00 22 ENTJ 4,00
5 ESTJ 10,99 14 ISTP 7,71 23 ESFP 7,26
6 ISTJ 14,67 15 ESFP 12,00 24 ENFP 7,69
7 ENFJ 3,56 16 INTJ 5,60 25 ESFJ 14,40
8 ISTJ 7,76 17 ESFJ 4,09 26 ENFJ 3,67
9 ISTJ 11,00 18 ENFP 2,12 27 ESTJ 9,47
A Figura 5 mostra os boxplots comparando o desempenho por Dimensões MBTI
(dimensões Sensoriais x Intuitivos), em virtude da diferença apresentada na Tabela 5.
Ao se analisar a Figura 5, nota-se que a mediana das amostras da dimensão dos
Sensoriais é significativamente mais alta que a mediana da dimensão dos Intuitivos.
Assim, percebe-se que o grupo dos Sensoriais obteve melhores resultados em
detecção de erros que o grupo dos Intuitivos ao inspecionar a usabilidade de uma
aplicação Web.
Figura 5. Boxplots comparando o desempenho em detecção de erros de
usabilidade por Dimensão: Tipo de Informação Preferida (Sensoriais X Intuitivos).
De acordo com a definição de Jung apud [16], a dimensão Sensação-iNtuição
relaciona-se com o processo de percepção, por meio do qual as informações são
adquiridas, processadas e interpretadas. Suas principais características são
apresentadas na Tabela 7.
Tabela 7. Características de comportamento da dimensão S x N [16].
Sensação
(S)
Caracterizado pela atenção aos detalhes. Os tipos sensoriais sentem-se
confortáveis com fatos concretos que possam ser analisados em
pequenas partes.
Intuição
(N)
Caracterizado pela atenção ao todo e às informações de natureza
abstrata. Os tipos intuitivos sentem-se à vontade com a visão de
conjunto, procuram relações entre conceitos distintos e trabalham bem
com hipóteses ou idéias abstratas.
Ao se comparar os resultados obtidos entre as dimensões S x N, onde os Sensoriais
apresentaram o maior desempenho, pode-se verificar que uma característica que
indica influência na diferença dos resultados dos Sensoriais é a atenção aos detalhes e
INTUITIVOS SENSORIAIS
Defe
ito
/Ho
ra
a
15.0
12.5
10.0
7.5
5.0
2.5
Dimensão do Tipo de Informação Preferida
fatos concretos, enquanto que os Intuitivos demonstram interesse pelo todo e por
idéias abstratas. Fazendo uma analogia ao objeto de inspeção em cada estudo, é
possível inferir que a interface é um fato concreto, enquanto o código é artefato
abstrato. Nossa hipótese é de que isto seja o fator que explique a tendência de
Sensoriais detectarem maior número de erros de usabilidade que os Intuitivos. A
Figura 6 apresenta um esquema conceitual para essa hipótese.
Figura 6. Hipótese do fator de influência para a inspeção de usabilidade.
A Figura 7 mostra os boxplots comparando o desempenho por Temperamentos. Ao
analisar a Figura 7, pode-se notar que a mediana do temperamento SJ (Guardiões) e
do temperamento SP (Artesãos) está superior à mediana dos temperamentos NF
(Idealistas) e NT (Racionais), indicando que os temperamentos da dimensão S
(Sensoriais) apresentam melhor desempenho em uma inspeção de usabilidade que os
temperamentos da dimensão N (Intuitivos). Esses resultados sugerem que inspeção de
usabilidade requer habilidades e características diferentes de inspeção de código,
como descrito em [8], onde foi observado que os inspetores de código que obtiveram
melhores resultados foram os Intuitivos.
Ao analisar a Figura 7 e a Tabela 9, pode-se notar que a mediana do temperamento
SJ (Guardiões) está um pouco mais alta que a mediana do temperamento SP
(Artesãos). Contudo, a variância apresentada pelo grupo dos SJs é maior que a
variância apresentada pelo grupo dos SPs.
Tabela 9. Mediana por Temperamentos
Temperamento NF-Idealistas NT-Racionais SP-Artesões SJ-Guardiões
Mediana 3,61 4,96 9,17 9,41
Figura 7. Boxplots comparando o desempenho em detecção de erros de
usabilidade por Temperamentos
Analisando os temperamentos pertencentes ao grupo dos Sensoriais, caracterizado
pela combinação da dimensão S com as dimensões J ou P, observou-se uma pequena
variância dos resultados quando se comparando os SPs com os SJs. Contudo, o
espectro de desempenho dos SJs, representado por sua variância, permite incluir, em
maioria, inspetores com desempenho semelhantes aos SPs. Embora representem
grupos com perfis diferentes, eles apresentam resultados equivalentes, exceto pela
variação apresentada pelos SJs. Neste caso, seria interessante investigar que outros
fatores diferentes dos perfis de personalidade podem estar influenciando este
comportamento.
4.1 Ameaças à validade do estudo
Em todos os estudos experimentais existem ameaças que podem afetar a validade dos
resultados. As principais ameaças à validade deste estudo são discutidas a seguir.
Em primeiro lugar, a amostra consiste somente de alunos de uma única instituição:
alunos de graduação e pós-graduação em Computação da Universidade Federal do
Amazonas. A homogeneidade da amostra pode limitar a capacidade de generalização
dos resultados.
Outra ameaça à validade é a limitação relacionada ao número heterogêneo de
participantes por amostras dos diferentes temperamentos e perfis de personalidade
apresentados, o que impossibilitou a realização de análise estatística mais elaborada.
Isso se deu pelo fato que primeiro foi realizada a inspeção de usabilidade, para que
SP ARTESÃOS
SJ GUARDIÕES
NT RACIONAIS
NF IDEALISTAS
7.5
5.0
2.5
Boxplots por Temperamento
15.0
12.5
10.0
depois fossem classificados os participantes de acordo com o perfil do MBTI. Então
não houve como selecionar um número equivalente de inspetores com os diferentes
perfis/ temperamentos analisados para as inspeções.
Deve-se ainda considerar como ameaça à validade o fato dos inspetores terem
utilizado uma técnica para auxílio à detecção dos defeitos. Embora todos os inspetores
tenham utilizado a mesma técnica de inspeção, é necessário analisar em estudos
futuros se não ocorre alguma interferência entre a capacidade de utilização da técnica
e o tipo de personalidade.
5. Conclusões e trabalhos futuros
O estudo experimental foi conduzido de forma a caracterizar a influência do tipo de
personalidade do inspetor na etapa de detecção de erros a partir de resultados de uma
inspeção de usabilidade, onde foi levantada a questão se haviam outros fatores, além
da experiência do inspetor, que pudessem explicar o porquê da diferença de resultados
obtidos.
Este artigo utilizou uma pesquisa quantitativa para avaliar o desempenho na
detecção de erros de usabilidade e uma pesquisa qualitativa para caracterizar o
comportamento que exercia influência nos resultados obtidos pelos inspetores.
Com isso, pode-se perceber que existe um indício que inspeção de usabilidade
requer habilidades e características diferentes que revisão de código, dado que os
inspetores que apresentaram melhor desempenho em uma inspeção de usabilidade de
uma aplicação foram os Sensoriais, enquanto que o estudo sobre perfis de revisores de
código [8] indicou que os Intuitivos apresentaram melhor desempenho. Há diferentes
fatores que precisam ser investigados, e combinados com o artefato sob inspeção,
podendo, então, representar fatores de influencia relevantes. Entretanto, investigações
adicionais precisam ser realizadas visando a observar mais diretamente tais
comportamentos.
Conforme mencionado, uma limitação relevante deste estudo está relacionada ao
número heterogêneo de participantes por amostras dos diferentes temperamentos e
perfis de personalidade apresentados. Contudo, como o objetivo do estudo limitava-se
a caracterizar a existência de fatores de influência do perfil de personalidade no
desempenho na detecção de erros, fatores estes que podem levar ao aumento da
qualidade e, conseqüentemente, da produtividade nas inspeções. Ainda assim, esta
limitação apresenta-se como uma oportunidade para realização de uma pesquisa
quantitativa a fim de verificar a validade das suposições levantadas neste artigo,
comparando-se amostras de tamanhos homogêneos para os temperamentos
apresentados.
Este trabalho é parte inicial de uma pesquisa que tem como intuito abordar os
diversos fatores possam influenciar no desempenho de diferentes papeis em projetos
de software. Em função da subjetividade em relação a alocação adequada dos papeis e
sua influência na performance do indivíduo, destaca-se o desafio, superado em função
da importância de estudar cada vez mais aspectos humanos dentro da engenharia de
software, em prol do sucesso e dos interesses da organização como um todo.
Agradecimentos
Os autores agradecem aos participantes dos estudos e aos pesquisadores do USES-
UFAM pelas contribuições na execução desta pesquisa e agradecem o apoio da
CAPES e CNPq
Referências
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