20
http://dx.doi.org/10.5902/2236117010688 Revista do Centro do Ciências Naturais e Exatas - UFSM, Santa Maria Revista Eletronica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental - REGET e-ISSN 2236 1170 - v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186 Recebido em: 02.09.13 Revisado em: 02.09.13 Aceito em:13.09.13 Demanda e oferta energética: uma perspectiva mundial e nacional para o etanol 1 Fernanda Schutz 2 , Angélica Massuquetti 3 , Tiago Wickstrom Alves 4 1 Programa de Pós-Graduação em Economia (PPGE) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) 2 Mestre em Economia pelo Programa de Pós-Graduação em Economia (PPGE) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) 3 Professora do Programa de Pós-Graduação em Economia (PPGE) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). 4 Porfessor do Programa de Pós-Graduação em Economia (PPGE) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) Resumo O objetivo do artigo é avaliar a oferta e a demanda de energia no mundo e no Brasil, para os próximos 15-20 anos, e especialmente as perspectivas para o etanol. A metodologia empregada foi a revisão bibliográfica e a análise de cenários futuros a partir de dois estudos, International Energy Outlook 2011 e Plano Nacional Energético 2030. Os resultados demonstram que as perspectivas para o consumo, tanto de combustíveis líquidos quanto de etanol, são otimistas, gerando a expansão da produção. No período analisado não está prevista uma ruptura da atual matriz energética, mesmo com um pequeno aumento da participação das fontes renováveis no total de energia demandada. Palavras Chave: Demanda energética; Oferta energética; Etanol. Abstract This paper estimates the bilateral trade flows between the BRICs – Brazil, Russia, India and China – in the next decades. This study employs a gravity model based on a sample of 57 countries. Trade flows and a variety of other data were collected from 2000 to 2007 to enable the estimation of gravity equations that explain the international trade in this period. By using two different estimation methods – OLS and Tobit – a wide set of parameters was generated, with the aim to choose the most adequate equations for the estimations wanted. Finally, these two best parameter sets were arranged and applied on gravity equations, combined with the Goldman Sachs predictions, in order to obtain future estimations of bilateral trade flows between them in three time-scenarios: short term (2010), midterm (2020) and long term (2030). The results show that the ‘intra-BRICs’ trade flows will grow even more than the GDP of these countries, meaning an increase in the interdependence among these economies, contributing to maintain their economic growth. Keywords: Energy demand; offer energy; Ethanol.

Etanol Perpectiva Mundial 2013

Embed Size (px)

DESCRIPTION

perpectiva mundial de utilização do etanol.

Citation preview

  • http://dx.doi.org/10.5902/2236117010688

    Revista do Centro do Cincias Naturais e Exatas - UFSM, Santa Maria

    Revista Eletronica em Gesto, Educao e Tecnologia Ambiental - REGET

    e-ISSN 2236 1170 - v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    Recebido em: 02.09.13 Revisado em: 02.09.13 Aceito em:13.09.13

    Demanda e oferta energtica: uma perspectiva mundial e nacional para o etanol1

    Fernanda Schutz2, Anglica Massuquetti3, Tiago Wickstrom Alves4

    1Programa de Ps-Graduao em Economia (PPGE) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)2Mestre em Economia pelo Programa de Ps-Graduao em Economia (PPGE) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

    3Professora do Programa de Ps-Graduao em Economia (PPGE) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).4Porfessor do Programa de Ps-Graduao em Economia (PPGE) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

    Resumo

    O objetivo do artigo avaliar a oferta e a demanda de energia no mundo e no Brasil, para os prximos 15-20 anos, e especialmente as

    perspectivas para o etanol. A metodologia empregada foi a reviso bibliogrfica e a anlise de cenrios futuros a partir de dois estudos,

    International Energy Outlook 2011 e Plano Nacional Energtico 2030. Os resultados demonstram que as perspectivas para o consumo, tanto

    de combustveis lquidos quanto de etanol, so otimistas, gerando a expanso da produo. No perodo analisado no est prevista uma

    ruptura da atual matriz energtica, mesmo com um pequeno aumento da participao das fontes renovveis no total de energia demandada.

    Palavras Chave: Demanda energtica; Oferta energtica; Etanol.

    Abstract

    This paper estimates the bilateral trade flows between the BRICs Brazil, Russia, India and China in the next decades. This study employs

    a gravity model based on a sample of 57 countries. Trade flows and a variety of other data were collected from 2000 to 2007 to enable the

    estimation of gravity equations that explain the international trade in this period. By using two different estimation methods OLS and

    Tobit a wide set of parameters was generated, with the aim to choose the most adequate equations for the estimations wanted. Finally,

    these two best parameter sets were arranged and applied on gravity equations, combined with the Goldman Sachs predictions, in order to

    obtain future estimations of bilateral trade flows between them in three time-scenarios: short term (2010), midterm (2020) and long term

    (2030). The results show that the intra-BRICs trade flows will grow even more than the GDP of these countries, meaning an increase in

    the interdependence among these economies, contributing to maintain their economic growth.

    Keywords: Energy demand; offer energy; Ethanol.

  • SCHUTZ; MASSUQUETTI; ALVES

    REGET - v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    3168

    1 INTRODUO

    Ao longo da histria, diversas foram as fontes e as formas de energia utilizadas: fora humana, trao animal, vapor, carvo, petrleo e derivados, biomassa, gua, vento, eletricidade, dentre outras. Elas foram empregadas como meio para a produo de bens e de servios. Se, por um lado, o uso da energia contribui para a sociedade como um todo, por outro, apresenta limites, ques-tionamentos e desafios na medida em que gera impactos sobre o meio ambiente e os indivduos. Neste sentido, destaca-se a energia gerada a partir de combustveis fsseis, como o petrleo em funo dos limites de suas reservas mundiais; as emisses de CO

    2, como uma das causas apontadas para o

    aquecimento global; e os desastres ecolgicos a partir da perfurao de poos de petrleo.

    Com isso, diversos tpicos esto no cen-tro das discusses e das preocupaes mundiais: as mudanas climticas e o aquecimento global, o meio ambiente, a questo energtica, dentreoutros correlacionados. A economia apresenta estrita relao com todos, dada a dependncia notria da sustentao das atividades econmicas. Dentre os quais, avulta-se a questo energtica: uma das bases fundamentais para a produo de bens e de servios, destacando-se a produo de etanol, a qual faz parte de uma ampla discusso de possibilidades e de oportunidades econmicas e ambientais de energias renovveis, juntamente com a energia solar e elica.

    Neste sentido, as fontes energticas apon-tam o caminho escolhido pelas naes em termos econmicos, pois as escolhas so pautadas pelos padres mundiais de produo e consumo de toda sociedade. A matriz energtica sofreu modificaes ao longo do tempo, contudo, hoje possvel afirmar que estamos em uma era das fontes energticas de origem fsseis. Mesmo com processos de busca e introduo de energias limpas e renovveis, o mundo continua investindo na procura de novas reservas de petrleo e de outros materiais. Haja vista o Brasil com uma contradio nacional, com o investimento no Programa Pr Sal e o etanolcomo combustvel limpo e alternativo.

    Neste sentido, o presente artigo apresenta um panorama atual da matriz energtica mundial e nacional, bem como resultados de estudos rea-lizados que apontam, num horizonte de 15 a 20 anos, o comportamento dos energticos utiliza-dos para atender as necessidades e demandas da sociedade. O artigo est divido em quatro sees. Alm desta parte introdutria, a segunda seo aborda brevemente a conceituao de energia e

    de biomassa e como se classificam e o panorama mundial e nacional da matriz energtica. Aps, apresentam-se cenrios futuros para oferta e con-sumo energtico. O etanol o centro da quarta seo, com a discusso sobre sua produo e con-sumo e perspectivas. Por fim, so apresentadas as principais concluses do estudo.

    2 ENERGIA, BIOMASSA E MATRIZ ENER-GTICA

    2.1 CONCEITO E CLASSIFICAOPara Goldemberg e Lucon (2008), a energia

    est relacionada com a capacidade de se realizar e produzir trabalho, sendo a manifestao resul-tante da utilizao de uma fora externa capaz de deslocar algo. Hinrichs e Kleinback (2003, p. 2) esclarecem que a [...] energia no criada oudestruda, mas apenas convertida ou redistribuda de forma para outra, como, por exemplo, a ener-gia elica transformada em energia eltrica ou a energia qumica em calor. Alm disso, para os mesmos autores, h vrias formas de energia: mecnica eltrica, qumica, trmica, radiante e nuclear. O U. S. Energy Information Administra-tion (EIA) classifica a energia, considerando as suas diferentes formas (eltrica, calor, qumica e de movimento) e dividindo-as em duas grandes categorias (energia potencial e energia cintica). A energia potencial a armazenada, podendo se apresentar como qumica, mecnica, nuclear, gra-vitacional. J a energia cintica est relacionada com o movimento, tais como: motora, eltrica, termoeltrica, radiao, dentre outras (EIA, 2012a).

    Para a elaborao do Balano Energtico Nacional (BEN), a Empresa de Pesquisa Energ-tica (EPE) utiliza as seguintes fontes primrias de energia: petrleo, gs natural, carvo vapor, car-vo metalrgico, urnio U

    3O

    8, energia hidrulica,

    lenha, produtos da cana, outras fontes primrias. J as secundrias so: leo diesel, leo combus-tvel, gasolina, gs liquefeito de petrleo (GLP), nafta, querosene, gs cidade e coqueira (derivados do petrleo), lcool etlico, anidro e hidratado (produtos da cana), coque de carvo mineral, ur-nio contido no UO

    2, eletricidade, carvo vegetal,

    produtos no energticos do petrleo e alcatro (EPE, 2011).

    No Quadro 1, possvel visualizar a clas-sificao de fontes energticas ao considerar sua relao temporal de reposio. As fontes energ-ticas no renovveis esto relacionadas com uma origem fssil. J as renovveis apresentam como caracterstica principal a sua composio em bio-

  • REGET -v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    Estimativas do Volume de Comrcio... 3169

    poder comparar de forma homognea os recursos energticos, utiliza-se uma unidade comum, na qual os mesmos so convertidos. Dessa forma, podem ser convertidas em toneladas equivalente de petrleo (tep), toneladas equivalente de carvo (tec), British Thermal Unit (BTU), joule, calorias, entre outros (REIS et al., 2012).

    Os organismos responsveis em sistemati-zar, analisar e disponibilizar dados e informaes referentes s questes energticas convertem os recursos em unidades comuns1 j citadas. Pode-se mencionar como exemplo o BEN, o qual utiliza como unidade comum o tep. Os dados de con-sumo mundial de energia primria, extrados do EIA, esto convertidos em BTUs. Para finalizar o exposto, destacam-se as duas razes pelas quaiso tep a medida bsica adotada no BEN: 1)

    est relacionada diretamente com um energtico importante e; 2) expressa um valor fsico (EPE, 2011, p.193). Os recursos e as reservas brasileiras apresentadas na Tabela 1 referem-se s fontes primrias de energia de origem fssil com dados comparativos dos anos de 1988 e 2010.

    Os dados revelam, por exemplo, que o 1 A fim de uniformizar os dados agregados, adotou-se o tep e suas deri-vaes (Mtep: Milhes de tep ou 106 tep; 10 tep: Mil tep) como medida padro. Quando no for possvel a sua utilizao, a medida adequada ser relacionada e explicada conforme necessidade.

    massa, ou seja, matria viva ou recentemente viva.As fontes renovveis so subdivididas em

    trs categorias: 1) tradicionais; 2) convencionais; e 3) modernas. As tradicionais esto ligadas produo de calor, a partir da queima direta de material orgnico, como a madeira, o carvo vegetal e os resduos orgnicos em geral. E, assim, tida como a forma mais primitiva da utilizao da biomassa. As formas convencionais esto rela-cionadas s hidreltricas, produtoras de energia eltrica. No que tange biomassa moderna, esta inclui processos de converso avanados da mesma, como os biocombustveis. nesta categoria que se encontra o etanol, um biocombustvel derivado das mais diversas biomassas e o qual utilizado, principalmente, no setor de transportes.

    No distante da importncia da clareza do termo energia, conforme j destacado, a mensura-o e a apresentao dos dados dos mais variados recursos energticos tambm so postas como fator relevante. Assim, cada recurso energtico pode ser medido com uma unidade especfica. Para os combustveis lquidos, utilizam-se, em geral, metros cbicos (m), barril (bbl) e litros (l). Os gasosos tambm podem ser medidos em m ou ps cbicos (p). Os slidos, em geral, so men-surados em toneladas (t) e para a energia eltrica: watt-hora (Wh) e potncia watt (W). A fim de

    Quadro 1 - Classificao de fontes energticas

  • SCHUTZ; MASSUQUETTI; ALVES

    REGET - v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    3170

    a combusto aps passagem por um processo, podendo este ser: fsico, termodinmico (pirlise, gaseificao e liquefao) ou biolgico (diges-to anaerbica e fermentao), originando uma segunda fonte energtica, podendo ser slido, lquido ou gasoso. Exemplos de fontes energticas secundrias de biomassa so: biocombustveis, lenha, carvo vegetal e gs. Neste sentido, a energia qumica potencial armazenada nas plantas pode ser utilizada na forma de combustveis.

    A biomassa apresenta-se como fonte pre-dominante na matriz energtica de [...] alguns pases como o Qunia, ndia, Brasil e outros da Amrica do Sul, sia e frica [...] (REIS et al., 2012, p. 281). Assim, a Tabela 2 mostra a produ-o de energia a partir da biomassa, no mundo, considerando os dados disponveis para o perodo de 1999 a 2003.

    Ao comparar ano a ano, o incremento de 1999 para 2000 decresceu em 0,34%. Nos anos seguintes, os incrementos foram positivos: 2000/2001: 0,64%; 2001/2002: 0,55%; e 2002/2003, o incremento foi de 1,42%, tendo uma mdia anualde 0,57% de aumento de energia de biomassa. A sia e a Austrlia so os maiores produtores de energia de biomassa, respondendo, em 2003, por 36,88%. O segundo lugar ocupado ora pela frica, ora pela Amrica Latina. A Amrica Latina foi a regio do mundo em que a produo de energia de biomassa mais aumentou, em mdia, 2,28% ao ano. O incremento mdio anual da frica, da sia e Austrlia, Europa Ocidental e da Rssia--Europa Oriental ficou em 0,20%, enquanto que o Oriente Mdio se manteve constante (CORTEZet al., 2008).

    A partir do exposto, as subsees que seguem so dedicadas a explorar e analisar a

    desenvolvimento tecnolgico, de alguma forma, contribuiu para o aumento das reservas de petr-leo significativamente. Ao comparar os anos de referncia, observa-se um aumento de 506% das reservas provadas de petrleo no Brasil. As reservas de gs natural e de carvo mineral aumentaram, respectivamente, 388% e 252%. A extrao de petrleo na chamada camada pr-sal, desde 2008, tem colaborado para este aumento e segundo a Petrobrs (2013), estima-se que o Brasil chegar a 1 milho de barris/dia, em 2017.

    Outra importante fonte energtica a bio-massa2, umas das principais produzidas e consu-midas no mundo. A biomassa deriva de material que tenha origem viva, orgnica, podendo ser animal, vegetal e micro-organismos, e que pode ser empregado para a produo de energia (CENBIO, 2012). Mais especificamente, est relacionada com uma variedade de materiais orgnicos, os quais podem tomar diversas formas, tais como: cultivares, madeira, serragem, palha, estrume, lixo de papel, refugo domstico, esgotos, entre outros. Alm disso, os resduos oriundos aps a sua utilizao tambm se configuram como fontes energticas. So exemplos de resduos: os florestais e agrcolas e a matria-orgnica, tanto de processos industriais quanto domsticos, comerciais e rurais (REIS et al., 2012).

    A biomassa pode ser utilizada como fonte de energia, direta ou indireta. Diretamente, se produz calor como produto energtico imediato, atravs da sua combusto. A forma indireta

    2 O termo biomassa est relacionado com uma srie de vegetais presentes na natureza, os quais tm origem a partir do processo de fotossntese. Ao absorverem energia solar, gua e dixido de car-bono, transformam esses elementos em energia potencial qumica (REIS et al., 2012).

    Tabela 1 - Recursos e reservas energticas brasileiras dos anos 1988 e 2010Fonte: Brasil (2013); Acioli (1994).

    Fonte: Brasil (2013); Acioli (1994).

    Notas: As reservas de petrleo esto expressas em milhares de m, de gs natural em milhes de m e as de carvo mineral em milhes

    de t. As unidades de medidas utilizadas nesta Tabela refletem as usualmente empregadas para medir cada um dos recursos energticos

    listados. Como o objetivo informar e comparar as reservas indicadas e inferidas dos mesmos, em perodos distintos, manteve-se as

    unidades padro de cada recurso.

  • REGET -v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    Estimativas do Volume de Comrcio... 3171

    Fatores como o desenvolvimento tecno-lgico voltado para a extrao e a produo; a transmisso e a distribuio de energia; a desco-berta de novas fontes de energia; a evoluo da produo e do consumo de bens e servios; o cres-cimento econmico e populacional; entre outros, justificam as transformaes e as substituies de fontes energticas. Seja para manter os padres de crescimento, seja para garantir o desenvolvimento e atender as mais diversas necessidades e desejos da sociedade.

    Segundo Goldemberg e Lucon (2008, p.61), o desenvolvimento significa satisfazer as necessida-des humanas bsicas, incluindo acesso a emprego, alimentao, servio de sade, educao, mora-dia, gua corrente, tratamento de esgoto, etc.. Os mesmos destacam que o padro de consumo energtico est diretamente relacionado com o nvel de renda e que o perfil do uso energtico fundamentalmente diferente entre ricos e pobres. Enquanto aqueles procuram imitar um estilo de vida prevalecente em pases industrializados, apre-sentando padres voltados para um consumo de luxo, estes ltimos tm sua preocupao centrada em energia suficiente para prover as necessidades mais bsicas e essenciais.

    Ainda, segundo os mesmos autores, em 2004, o consumo per capita de energia dos 6,35 bilhes de habitantes no mundo foi, em mdia, de 1,77 tep, aproximadamente, um milho de vezes maior que o consumido pelo homem primitivo. No mesmo ano,

    [...] cada africano consumiu em mdia 0,67 toneladas equivalentes de petrleo (tep); cada brasileiro 1,11 tep; cada chins 1,25 tep. Em compensao cada habitante dos pases desenvolvidos da OCDE consumiu 4,73 tep de energia nesse ano; cada cida-

    atual matriz energtica no mundo e no Brasil, apresentando a demanda e a oferta de energia.

    2.2 OFERTA E DEMANDA ENERGTICA MUNDIAL

    Os padres de oferta e demanda de ener-gia sofreram modificaes ao longo da histria. Podem-se destacar alguns momentos importantes na transformao da matriz energtica, como: o uso da madeira como um dos primeiros energ-ticos utilizados pelo homem; a sua substituio pelo carvo mineral em escala e a introduo do petrleo como principal energtico atualmente. A substituio ou menor uso em escala da madeira pelo carvo d-se, primeiramente, na Europa. Devido intensificao de sua utilizao, por volta do sculo XVI, e sua consequente escassez, o carvo passa a ser o principal energtico a ser utili-zado, a partir da segunda metade do sculo XVIII. Contudo, na Amrica do Norte, o uso intenso da madeira, como fonte principal, ainda estava posto, dada a sua abundncia. O carvo mineral passa a ser empregado em escala no continente americano, no sculo XIX, e responde por 53% do consumo mundial de energia. Desta forma, esta pode ser a primeira grande mudana da matriz energtica: a substituio da madeira em larga escala pelo carvo mineral (REIS et al., 2012).

    O outro destaque a introduo do petr-leo na matriz energtica com explorao a partir de 1853, nos Estados Unidos da Amrica (EUA). A sua introduo em escala no est relacionada com uma possvel escassez do carvo mineral, o qual ainda bastante empregado em algunssetores da economia. Porm, comeava a emergir a necessidade de um energtico que atendesse s demandas de uso final, transporte e armazena-mento, e aos avanos tecnolgicos que estavam ocorrendo naquele perodo (REIS et al., 2012).

    Tabela 2 - Produo de energia a partir da biomassa nas principais regies mundiais no perodo de 1999 a 2003 (106 tep)

    Fonte: Olade (2004 apud CORTEZ et al., 2008, p.16).

  • SCHUTZ; MASSUQUETTI; ALVES

    REGET - v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    3172

    27,50%, enquanto que as regies que mais cresce-ram foram o Oriente Mdio, com uma variao de 387,57%, e a sia-Pacfico, com 264,81%, as quais tambm tiveram as maiores variaes mdias anuais no consumo energtico total com 5,45% e 4,43%, respectivamente. O crescimento da regio sia-Pacfico pode ser explicada, em parte, pelo crescimento populacional da China, nos ltimos anos, o que justificaria o comportamento de cres-cimento exponencial observado na Figura 2. A frica apresentou um crescimento mdio anual de 3,20% e uma variao de 154,68% no consumo energtico, dialogando com o aumento significativo da populao para o mesmo perodo. A Amrica do Norte e a Europa-Eurosia cresceram, em mdia ao ano, 0,84% e 0,13%, respectivamente. Amrica do Sul e Central tiveram um crescimento de 131%. Em termos de produo mundial de energia primria, a Tabela 3 apresenta dados de variao percentual (BP, 2012).

    Ao longo do tempo, no foi apenas o mon-tante do consumo e a produo que mudaram, a composio da matriz energtica mundial tambm sofreu alteraes. Pode-se observar, na Tabela 4, a alterao na participao das fontes primrias de energia.

    Em 1970, o consumo de fontes no reno-vveis (petrleo, carvo mineral, gs natural e energia nuclear) representou 94% do total de energia consumida e, em 2011, este percentual foi de 92%. No que tange s fontes energticas de origem fsseis, estas ainda continuam a ser majoritariamente utilizadas no mundo, corres-pondendo por 87% do consumo mundial. Em 2011, mesmo com uma reduo da participao do petrleo em 13 pontos percentuais, em relao a 1970, as fontes renovveis ainda apresentam uma participao pequena, passando de 6% para 8%. Em 1970, a energia hidrulica foi responsvel por apenas 5% do consumo mundial de energia e, em 2011, por 6%.

    Em termos setoriais, o setor industrial respondeu pela maior participao no consumo energtico mundial em 2011, com 38%, seguido do setor de transportes, com 19%. O setor residencial o terceiro em termos de consumo energtico, com 10% do total, e o setor comercial responde por 6% do consumo mundial de energia. H, ainda, 27% do consumo total de energia no mundo oca-sionado por perdas de eletricidade relacionadas (EIA, 2012b).

    2.3 OFERTA E DEMANDA DE ENERGIA NO BRASIL

    do dos EUA 7,91 tep (GOLDEMBERG; LUCON, 2008, p. 58-59).

    Percebe-se que h uma diferena no con-sumo mdio de energia, por habitante, quando comparado mdia mundial. Esses dados refor-am a relao dos padres de consumo com as necessidades energticas nos mais diversos locais. O cidado estadunidense consumiu, em 2004, apro-ximadamente 4,5 vezes mais energia em relao mdia mundial, enquanto que os africanos menos da metade. Os brasileiros e chineses ficaram pr-ximos da mdia. Em 1970, a Amrica do Norte e a Europa-Eursia foram responsveis por 80% da energia primria, contra 47%, em 2011, demons-trando uma queda na participao no consumo primrio mundial, por conta do crescimento popu-lacional em outras regies. No Oriente Mdio e na frica, apesar da participao do consumo mundial de energia no ultrapassar um dgito, observa-se um avano significativo destas regies, passando de 2%, em 1970, para 6%, em 2011, no Oriente Mdio e de 1% para 3%, de 1970 para 2011, na frica. Em 2011, observa-se um aumento de 25 pontos percentuais no consumo energtico dos pases da sia-Pacfico. A Europa-Eurosia, a Amrica do Norte e a sia-Pacfico responderam, em 2011, por 86% da energia primria consumida no mundo (BP, 2012).

    Outro dado importante diz respeito evolu-o do consumo e oferta total de energia primria no mundo. O consumo e a oferta aumentaram ao longo do tempo, conforme pode ser observado na Figura 1. No perodo que o compreende 1980-2009, percebe-se a evoluo positiva no consumo total mundial de energia primria.

    Ao comparar os anos 1980 e 2009, o con-sumo mundial teve um incremento de 78%, pas-sando de 7.333 milhes de tep para 12.697 milhes de tep. A variao mdia no crescimento do con-sumo energtico mundial foi de 1,96% a.a. e para a oferta mundial de energia foi de 1,83% a.a.. A oferta de energia passou de 7.241 para 12.201 milhes de tep, representando um incremento de 68,49%. Este aumento pode ser explicado, em parte, pelo crescimento da populao mundial, que aumentou em 52,24%, de 1980 para 2009, com uma variao mdia anual de 2,02%. Junto ao crescimento populacional, destaca-se o grau do crescimento econmico mundial que no perodo de 1980 a 2009, foi em mdia 2,8% a.a., segundo World Bank (2013). A Figura 2 apresenta a evo-luo do consumo mundial de energia primria, segundo regies selecionadas.

    A Amrica do Norte teve uma variao de

  • REGET -v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    Estimativas do Volume de Comrcio... 3173

    Figura 1 - Evoluo do consumo e oferta total mundial de energia para o perodo de 1980 a 2009

    Fonte: Elaborao prpria a partir de EIA (2012b).

    Figura 2 - Evoluo do consumo mundial total de energia, por regies, para o perodo de 1980 a 2009

    Fonte: Elaborao prpria a partir de BP (2012).

    Tabela 3 - Produo mundial de energia primria por regio mundial para o perodo 1980 a 2009

    Fonte: Elaborao prpria a partir de EIA (2012b).

  • SCHUTZ; MASSUQUETTI; ALVES

    REGET - v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    3174

    mundial, representando 45% das fontes primrias consumidas no mesmo ano. Em termos do total das fontes de energia no renovveis (petrleo, energia nuclear, gs natural e carvo), o Brasil somou 60% do total de energia primria. Isso demonstra uma forte inclinao dopas para a utilizao de fontes renovveis de energia.

    Ao longo dos anos, a matriz energtica nacional tambm sofreu transformaes. Em 1940, a lenha e o carvo vegetal representavam 83,34% das fontes energticas consumidas pela populao, enquanto que, em 2011, no chegou a 10%. Os pro-dutos da cana-de-acar, em 2011, representaram quase 16%, contra 2,37%, em 1940. O petrleo, seus derivados e o gs natural passaram de 6,41%, em 1940, para 48,76%, em 2011 (BRASIL, 2013). A Figura 3 apresenta a evoluo do consumo final de energia por fonte, considerando a ltima dcada.

    As fontes renovveis (lenha, bagao decana, lcool etlico, eletricidade, carvo vegetal e outras renovveis) representaram, em 2011, 43,59% do consumo nacional de energia. As renovveis que tiveram maior participao foram a eletricidade, com 17%, o bagao da cana, com 11%, enquanto o lcool etlico foi responsvel por 5% do consumobrasileiro de 2011. Em relao variao de 2001

    Em 2011, para cada mil dlares produzi-dos no Brasil foram consumidas cerca de 11,78% de toda energia ofertada internamente. A oferta interna de energia foi de 272,4 milhes de tep para produzir um Produto Interno Bruto (PIB) na ordem de US$ 2.312 bilhes. A energia consumida foi de 257,8 milhes de tep. Cada brasileiro consumiu, em mdia, 1,41 tep no mesmo ano, enquanto que, em 2001, este consumo foi de 1,3 tep/habitante. O setor de transformao de energia foi o que mais a utilizou, com 72% de participao no dispndio de 2011, enquanto que o consumo final respondeu por 28% (BRASIL, 2013).

    A matriz energtica brasileira considera uma das mais limpas do mundo, em razo da forte presena de fontes renovveis de energia, como a gerao de eletricidade a partir de fontes hidru-licas, lenha, produtos da cana de acar e outras fontes renovveis. A partir da Tabela 5, procura-se comparar o consumo de energias primrias do Brasil com o consumo mundial em 2011.

    No Brasil, a energia primria renovvel respondeu por 40% do consumo total, contra 8% no mundo. Contudo, o consumo de petrleo no pas 12 pontos percentuais maiores que o consumo

    Tabela 4 - Composio do consumo da matriz energtica mundial, por fonte de energia primria, para os anos de 1970 e 2011

    Fonte: Elaborao prpria a partir de BP (2012).

    Nota: (*) Dados das fontes renovveis so de 1990 e 2011. No foram encontrados dados equivalentes aos dos anos de 2011 para 1970.

    Assim, optou-se pelo valor mais prximo de 1970.

    Tabela 5 - Comparao do consumo de fontes primrias de energia entre o Brasil e o mundo em 2011

    Fonte: Elaborao prpria a partir de BP (2012).

  • REGET -v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    Estimativas do Volume de Comrcio... 3175

    56% foram de fonte no renovveis, destacando o petrleo, que foi responsvel por 38,63% do total ofertado e 69% do total das fontes no renovveis. As fontes renovveis responderam pelos outros 44% de oferta interna, sendo que os produtos deri-vados da cana, somados com a energia hidrulica e eltrica somaram 30% na oferta global e foram ressveis por 98% de toda oferta de energia reno-vvel. Neste sentido, a Tabela 6 traz uma mdia da oferta interna de energia paras as ltimas cinco dcadas das principais fontes energticas.

    Os dados revelam que petrleo, derivados e gs natural aumentaram trs vezes mais na

    para 2011, o lcool etlico apresentou um incre-mento de 86%, passando de 6.052 10 tep, em 2001, para 12.628 10 tep, em 2011. De todas as fontes consumidas, as nicas que apresentaram uma variao negativa foram o gs canalizado, que teve um consumo de 35 10 tep, em 2001, e no registrou consumo em 2011; e o leo combustvel, que teve a maior variao negativa, passando de 8.469, em 2001, para 4.605 10tep, em 2011, ou seja, um decrscimo de 46% no consumo final (BRASIL, 2013).

    No que se refere oferta interna de ener-gia, do total ofertado em 2011 (272.348 10 tep),

    Figura 3 - Evoluo do consumo final por fonte para o perodo de 2001 a 2011 no Brasil

    Fonte: Elaborao prpria a partir de Brasil (2013).

    Tabela 6 - Mdia da oferta interna de energia por dcada em 10 tep no perodo de 1970 a 2010 no Brasil

    Fone: Brasil (2013).

    Nota: (*) Mdia dos dois anos disponveis para esta dcada: 2010 e 2011. (**) Inclui Outras Fontes Primrias Renovveis e Urnio.

  • SCHUTZ; MASSUQUETTI; ALVES

    REGET - v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    3176

    cipais energticos para o uso predominante de petrleo, derivados e gs natural. Alm disso, percebe-se a introduo e aumento dos produtos de cana a partir de meados da dcada de 1970, demonstrando uma substituio da lenha e carvo vegetal por tais produtos. Esta substituio se d com a implantao do Pr lcool, em 1974, no Brasil, como resposta primeira crise do petrleo no incio dos anos de 1970. A oferta de energia hidrulica e eletricidade tambm aumentam a partir dos anos de 1970, chegando, nos anos 2000, com forte participao e presena conforme j relatado.

    Apresentada a oferta e o consumo de ener-gia de forma geral e agregada, passa-se ao consumo de etanol (lcool etlico). O consumo de lcool etlico apresentou uma variao anual mdia de 8% e teve uma um aumento de 101% de 2001 em relao a 2011, passando de 10.265 10m para

    dcada de 2010 em relao a 1970. Os produtos derivados da cana-de-acar aumentaram oito vezes. Percebe-se um salto na oferta de produtos da cana da dcada de 1970 para 1980, passando de 5.148 10tep para 15.646 10tep. Esse aumento deve-se implantao do Programa Pr lcool, o qual d incio a uma srie de incentivos para a pro-duo de etanol, a fim de se obter um combustvel alternativo ao petrleo e seus derivados, motivado pelas crises do petrleo na dcada de 1970. Para finalizar, em relao s questes relacionadas ao consumo e oferta nacional agregados, apresenta-se a evoluo da matriz energtica no que se refere oferta interna de energia. A Figura 4 mostra a mudana na matriz energtica brasileira ao longo do tempo, tomando como base o perodo de 1940 at 2010.

    A Figura 4 apresenta a transio do carvo vege-

    Figura 4 - Participao por fonte na oferta interna de energia por dcada no perodo 1940 a 2011 no Brasil

    Fonte: Brasil (2013).

    Nota: (*) Outras fontes renovveis.

    Tabela 7 - Consumo brasileiro de recursos energticos para o setor de transportes em 2011

    Fonte: Elaborao prpria a partir de Brasil (2013).

  • REGET -v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    Estimativas do Volume de Comrcio... 3177

    84.101 10 tep, onde aproximadamente, 34,5% foram destinadas produo de carvo vegetal e gerao de energia eltrica. Os outros 65,5% tiveram uso final energtico nos setores residencial, comercial, agropecurio e industrial. Os setores residencial e industrial responderam por 84,7% da lenha com uso final energtico, sendo responsveis quase nas mesmas propores, 42,7% (residencial) e 42% (industrial) (BRASIL, 2013). Neste sentido, apresenta-se, na Figura 5, a evoluo da produ-o brasileira de energia primria de produtos de cana e lenha e total de biomassa para o perodo de 2001 a 2010.

    No perodo apresentado, a produo pri-mria de produtos da cana supera a de lenha e, a partir de 2006, a distncia na produo se acentua. Os produtos da cana apresentaram um crescimento mdio de 9,5% a.a., ao passo que a lenha cresce, em mdia, 1,5% a.a.. Em 2009, a produo de lenha caiu 15,9% e a de cana cresceu 0,5%, resultados que podem ser justificados pela crise mundial de 2008. Percebe-se que o aumento da produo primria de biomassa resultado do incremento dos produtos da cana que, em 2001, eram responsveis por 50,40% do total de bio-massa e a lenha por 49,60%. J em 2010, a lenha respondeu por 34,80% do total da biomassa e a cana por 65,20%. A variao percentual do total de biomassa de 2001 para 2010 foi de 65,62% e dos produtos da cana de acar foi de 114,26%, para o mesmo perodo. Destaca-se, ainda, que a biomassa foi responsvel por 29,55% do total de energia consumida no Brasil e os produtos da cana de acar por 19,27%, demonstrando, assim, a sua importncia (BRASIL, 2013).

    20.65 10m. O setor de transporte rodovirio con-some todo o etanol produzido, tanto o hidratado quanto o anidro, e respondeu por 0,67% de toda energia consumida no pas. A Tabela 7 apresenta o consumo total do setor de transporte por recursos energtico em 2011.

    Os combustveis fsseis representam o maior consumo no setor de transportes, com 82,3%. Dentre estes, o leo diesel o mais utilizado, respondendo por 48,79%. O etanol teve uma par-ticipao de 14,46% no consumo de energticos no setor de transportes em 2011.

    No Brasil, as principais biomassas utili-zadas como recursos energticos so os produtos da cana e a lenha. Os produtos primrios da cana so o o caldo da cana, melao, bagao, pontas, folhas e olhaduras, e como produtos secundrios o lcool anidro e hidratado (EPE, 2011, p.191).A produo do caldo de cana e do melao somou, em 2010, 202.545 10 tep e foram consumidos totalmente pelo setor de transformao3 para a produo de lcool etlico. J o bagao da cana,

    com um consumo total de 158.271 10 tep, no mesmo ano, foi absorvido pelo setor de transforma-o para gerao de energia eltrica (12.752 10 tep) e consumido pelos setores energtico4 (61.843 10 tep) e industrial (83.676 10 tep) (BRASIL, 2013).

    Em 2010, a produo total de lenha foi de

    3 O Setor Transformao agrupa todos os centros de transformao onde a energia que entra (primria e/ou secundria) se transforma em uma ou mais formas de energia secundria com suas correspondentes perdas na transformao (EPE, 2011, p.181).4 Setor energtico: Energia consumida nos Centros de Transforma-o e/ou nos processos de extrao e transporte interno de Produtos Energticos, na sua forma final (EPE, 2011, p.182).

    Figura 5 - Produo de energia primria: produtos da cana de acar, lenha e total de biomassa, para o perodo de 2001 a 2010 no

    Brasil

    Fonte: Elaborao prpria a partir de Brasil (2013).

  • SCHUTZ; MASSUQUETTI; ALVES

    REGET - v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    3178

    membros reduziro a produo, substancialmente, abaixo dos nveis atuais. Com o preo do petrleo em alta, h um incentivo na produo de combus-tveis lquidos no convencionais em relao aos casos de referncia.

    Ao contrrio de um cenrio com preos elevados do petrleo, o cenrio com preos baixos se d devido a uma diminuio da demanda de combustveis por parte de pases no membros da OCDE e um deslocamento na curva de oferta para cima. O aumento da oferta reflexo de maior acesso e regimes fiscais mais atraentes, em reas potenciais de pases no membros da OCDE, bem como nveis mais elevados de produo dos mem-bros da OPEP. A retrao da demanda ocasionada por uma reduo de 1,5 pontos percentuais da taxa de crescimento em relao ao caso de referncia de pases no membros da OCDE.

    Segundo EIA (2011), espera-se que, em 2020, o consumo mundial de energia chegue a 505 quadrilhes de BTUs e, em 2035, a 770 quadrilhes de BTUs. Isso significa um incremento na ordem de 53% para o perodo. Para o caso de referncia, esperado um aumento do consumo energtico tanto para pases membros como no membros da OCDE. Os pases asiticos no membros da OCDE tm o maior aumento projetado, 117%, de 2008 para 2035. A Amrica Central e do Sul tambm apresentam crescimento do consumo de energia primria acima do patamar mundial, na ordem 73%, passando de 28 para 48 quadrilhes de BTUs. Ao passo que o consumo dos pases membros da OCDE cresce com uma taxa de 0,6% em mdia ao ano, para os pases no membros, esta mesma taxa apresenta-se maior, 2,3% ao ano. A Figura 6 apresenta a evoluo da projeo do consumo mundial de energia para o perodo de 2015 a 2035.

    Ao analisar o perodo projetado na Figura 6, o consumo mundial de energia passa de 573 quadrilhes de BTUs, em 2015, para os 770 qua-drilhes de BTUs, em 2035, apresentando um crescimento de 34%. O consumo total dos pases no membros da OCDE apresenta-se maior em todo perodo projetado em relao aos pases membros, com crescimento de 117%. Em 2020, os pases no membros da OCDE consomem 38% a mais de energia que pases membros e, em 2035, este percentual sobe para 67%.

    O crescimento no consumo mundial de energia primria baseado na expectativa da reto-mada do crescimento econmico e da expanso da populao mundial. Para o caso de referncia, o PIB mundial dever crescer 3,4% ao ano, noperodo de 2008-2038. A mesma taxa mdia anual para membros da OCDE de 2,1%. Enquanto que,

    Isto posto, a seo que segue aborda os cenrios futuros e perspectivas para o consumo de energia. Estes cenrios so apontados por alguns estudos realizados por rgos como o Ministrio de Minas e Energia (MME) e a EIA, entre outros, sobre perspectivas futuras em um horizonte de 20 a 30 anos.

    3 CENRIOS FUTUROS PARA OFERTA E CONSUMO DE ENERGIA

    O EIA publicou, em 2011, o International Energy Outlook 2011, o qual traz uma estimativa das perspectivas do consumo de energia para os mercados internacionais para at 2035. O estudo incluiu cinco cenrios: 1) casos de referncia; 2) caso de alta do petrleo; 3) caso baixa do preo do petrleo; 4) caso tradicional alta do petrleo; e 5) tradicional baixa do preo do petrleo (EIA, 2011). Neste artigo apresentam-se as descries dos cenrios 1, 2 e 35. Para o cenrio de casos de referncia, os preos mundiais do petrleo esto projetados em US$ 95,00 por barril, em 2015, aumentando lentamente para US$ 125,00 por barril, em 2035. Este cenrio considerado o melhor em relao aos custos de exploraoe desenvolvimento e de acesso aos recursos do petrleo fora dos EUA. Neste cenrio, os pases membros da Organizao dos Pases Exportado-res de Petrleo (OPEP) iro manter a atual par-ticipao no mercado internacional do petrleo, buscando realizar investimentos futuros para o aumento da capacidade produtiva de petrleo, a fim de responderem por 42% da produo mundial de combustveis lquidos. Para isso, a produo dever aumentar em 11,3 milhes de barris por dia, no perodo de 2008 a 2035.

    Para o cenrio de casos com alta dos preos do petrleo, os preos mundiais esto projetados em US$ 200,00 por barril, em 2035. A elevao dos preos neste cenrio se d por: 1) um aumento na demanda externa de combustveis lquidos para pases no membros da Organizao para a Coo-perao e Desenvolvimento Econmico (OCDE), devido a um crescimento econmico, com taxas maiores em 1,0 ponto percentual, maior que em relao ao caso de referncia; e 2) uma reduo da oferta, gerada por suposies de que diversos produtores no membros da OPEP iro restringir ainda mais o acesso, ou aumentar os impostos sobre reas potenciais de produo e que os pases

    5 A descrio dos demais cenrios pode ser obtida em EIA (2011).

  • REGET -v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    Estimativas do Volume de Comrcio... 3179

    para o setor de transportes aumenta, em mdia, ao ano, 1,4%, ou um total de 46% no perodo de 2008 a 2035. Este setor representa 82% do total do aumento do consumo de combustveis lquidos no perodo de 2008 a 2035, os outros 18% esto relacionados ao setor industrial. Em contraponto, nos demais setores de uso final e gerao de ener-gia eltrica, a sua utilizao diminui (EIA, 2011).

    No longo prazo, est projetado um aumento no consumo mundial de energia de todas as fontes de combustveis at 2035. A projeo da produo de petrleo e de outros lquidos na ordem de 96,6 milhes de barris por dia, em 2020, e de 112,20 milhes de barris por dia, para 2035. A produo de combustveis lquidos (tanto convencionais, quanto no convencionais) aumenta em um total de 26,6 milhes de barris por dia de 2008 para 2035 (EIA, 2011). Isto posto, a Figura 7 mostra o cenrio mundial de crescimento dos recursosenergticos para o perodo de 2015 a 2035 para o caso de referncia.

    Em termos de projeo, os recursos no convencionais (incluindo biocombustveis, leo de xisto e outros) tanto para pases membros como no membros da OPEP, crescem em mdia 4,6% ao ano ao longo do perodo de projeo. Ao considerar que os altos preos do petrleo sejam sustentados, os recursos no convencionais podem tornar-se economicamente competitivos, especialmente quando restries geopolticas ou outras limitem o acesso aos futuros recursos con-vencionais (EIA, 2011).

    A produo mundial de combustveis lqui-dos no convencionais, que totalizaram apenas 3,9 milhes de barris por dia, em 2008, aumenta para 13,1 milhes de barris por dia e responsvel

    para pases no membros, o PIB cresce acima da taxa mundial, 4,6%. Os pases no membros da OCDE devem ser responsveis pelo incremento na demanda do consumo energtico mundial, esperado por um forte crescimento econmico de longo prazo. Este incremento projetado em 85% para pases no membros da OCDE, enquanto que para os pases membros esperado um aumento de apenas 18%, para o caso de referncia (EIA, 2011).

    Contudo, h uma preocupao com a recu-perao e estabilidade econmica frente crise de 2008 dos pases membros da OCDE e que tal recu-perao no deva acompanhar taxas de crescimento altas, como ocorreu em momentos anteriores. Entretanto, as economias emergentes continuam a ter crescimentos elevados, em parte, dado s fortes entradas de capitais e aos elevados preos das commodities. Contudo, presses de inflao e a necessidade de reequilbrio do comrcio externo so apontadas como preocupaes particulares de importantes economias em desenvolvimento (EIA, 2011).

    No que se refere ao setor de transporte, este responde pela maior parte do crescimento total do uso de combustveis lquidos, no perodo projetado. Sua participao aumentou de 54%, em 2008, para 60%, em 2035, no consumo total. Este aumento parte do pressuposto de que no haja avanos tecnolgicos significativos. Para pases no membros da OCDE, deve aumentar a participao do setor de transportes no consumo de combustveis lquidos, em mdia, 2,6%, e para pases membros, 0,3%. Assim, os combustveis lquidos continuam a fornecer a maior parte da energia consumida. Apesar do aumento dos preos dos combustveis, o uso de combustveis lquidos

    Figura 6 - Projeo do consumo mundial de energias primrias para o perodo de 2015 a 2035

    Fonte: Elaborao prpria a partir de EIA (2012b).

  • SCHUTZ; MASSUQUETTI; ALVES

    REGET - v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    3180

    pior cenrio, o consumo de energia final, no Bra-sil, passa de 161,8 106 tep (2005) para 309,3 106

    tep (2030), um aumento de 91%. E para o melhor cenrio, o consumo de energia final pode chegar a 477 106 tep, em 2030, comparado a 2005, refletindo um aumento de 19%. O crescimento demogrfico projetado para 2030 aponta uma populao de 238,5 milhes de habitantes. Ao considerar a oferta interna de energia, o consumo mdio de energia por habitante pode chegar a 2,33 tep/ano, em 2030 (BRASIL, 2007). A Tabela 8 apresenta os dados de oferta interna de energia, projetados para os anos de 2020 e 2030.

    As energias renovveis devem responder por 46,6% da oferta interna de energia, cerca de 2,5 pontos percentuais a mais que em 2011. Os produtos da cana de acar devem representar, em 2030, 18,5% da oferta interna de energia, tam-bm 2,5 pontos percentuais a mais que em 2011, quando foi de 16%. Por outro lado, a participao do petrleo na matriz energtica deve diminuir, respondendo por 28% de toda oferta interna de energia, contra 38% em 2011.

    No que tange aos combustveis lquidos (etanol, leo diesel, gasolina, leo combustvel, GLP, querosene, nafta), o setor de transporte o que apresenta maior demanda por tais combus-tveis. A demanda de combustveis lquidos pelo setor de transportes fica entorno de 75% por ano. Na Tabela 9 verifica-se a demanda para os anos selecionados.

    O setor de transportes o responsvel pelo maior consumo de combustveis lquidos em todos os anos projetados, chegando a representar 77% do total de lquidos em 2030. Os menores consu-midores de combustveis lquidos so os setores

    por 12% da oferta mundial total de lquidos em 2035. Os maiores componentes de produo no convencional futuro so 4,8 milhes de barris por dia de petrleo canadense, 2,2 e 1,7 milhes de barris por dia de biocombustveis dos EUA e do Brasil, respectivamente, e de 1,4 milhes de barris por dia de petrleo extrapesado venezuelano. Esses quatro combustveis lquidos no convencionais representam quase 3/4 do aumento ao longo do perodo de projeo (EIA, 2011).

    3.1 CENRIOS FUTUROS PARA OFERTA E CONSUMO DE ENERGIA NO BRASIL

    O MME elaborou o Plano Nacional de Energia 2030 (PNE 2030), composto por uma srie de estudos temticos, os quais formam a base para a elaborao do relatrio final. Para este artigo, utilizou-se com maior frequncia o PNE 2030: combustveis lquidos e relatrio final. O Plano traa projees de consumo e produo dos recursos energticos no pas. Foram elaborados seis cenrios ao todo, contudo, quatro cenrios nacio-nais foram analisados nos documentos, a saber: 1) Cenrio A: Na crista da onda; 2) Cenrio B1: Surfando a marola; 3) Cenrio B2: Pedalinho; e 4) Cenrio C: Nufrago. Para o estabelecimentodas estratgias de expanso do sistema nacional energtico, o Cenrio B1 foi priorizado. A escolha de tais cenrios justifica-se pela difcil previso da eficcia na gesto dos problemas domsticos no horizonte de at 2030 (BRASIL, 2007).

    Neste sentido, o PNE 2030 aponta para um crescimento do consumo de energia final, acompanhando as projees internacionais. No

    Figura 7 - Evoluo do consumo mundial de energia para o perodo de 2015 a 2035, no caso de referncia

    Fonte: Elaborao prpria a partir de EIA (2012b).

  • REGET -v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    Estimativas do Volume de Comrcio... 3181

    dendo, respectivamente, por 59,83% e 23,65%, do consumo mundial de etanol e juntos representaram uma participao total no consumo de 83,5%. As participaes estadunidense e brasileira de etanol no consumo total de biocombustveis foram 46,22% e 18,27%, respectivamente. As Tabelas 11, 12 e 13 so apresentadas e analisadas em conjunto, dado que elas relacionam a produo e o consumo mundial de combustveis lquidos, biocombustveis e etanol, respectivamente.

    Os biocombustveis representam uma pequena parte do total de combustveis lquidos produzidos e consumidos mundialmente. A oferta e demanda para combustveis ainda bastante direcionada para os derivados de petrleo. Em 2011, os biocombustveis representaram 2,40% da produo e 2,07% do consumo mundial total de combustveis lquidos. A participao do etanol foi menor ainda, 1,71% da produo mundial e 1,60% do consumo. Contudo, a produo e o consumo de etanol relacionado com o total de biocombustveis so praticamente opostos, pois, no mesmo ano, o etanol representou 71,12% da produo mundial de biocombustveis e 77,24% do consumo. A Figura 8 traz o consumo final energtico de etanol para

    comercial e pblico, respondendo em todos os anos por 1% da demanda total cada setor.

    4 PERSPECTIVAS MUNDIAIS E NACIONAIS PARA O ETANOL

    O consumo mundial de biocombustveis, em 2011, foi da ordem de 104 milhes de m. O Brasil foi responsvel por 20,74% do consumo mundial total, ficando atrs, somente, dos EUA, que, por sua vez, participaram com 49,39% do consumo mundial de biocombustveis. No que se refere ao consumo de etanol, o mundo consumiu, em 2011, aproximadamente, 80,5 milhes de m, cerca de 77% do total de biocombustveis (EIA, 2012b). O Brasil e os EUA so os maiores consumidores de etanol. Neste sentido, apresenta-se a Tabela 10 com dados dos dez maiores consumidores de etanol no mundo, em 2011, e a relao na participao do consumo mundial de biocombustveis.

    Os 10 maiores consumidores de etanol somaram 76,11 milhes de m, cerca de 94% do consumo mundial total de etanol. Os EUA e o Brasil foram os maiores consumidores, respon-

    Tabela 8 - Oferta interna de energia em 10 tep projetados para os anos de 2020 e 2030

    Tabela 9 - Evoluo da demanda de combustveis lquidos por setor (mil tep) entre 2015 e 2030

    Fonte: Brasil (2007).

    Fonte: Brasil (2007).

  • SCHUTZ; MASSUQUETTI; ALVES

    REGET - v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    3182

    Assim, as possibilidades para o etanol so muitas. No que se refere sua fabricao, alm da produo primria, a partir de biomassas agrco-las, o mesmo pode ser obtido de materiais celu-lsicos, como resduos agrcolas e resduos do primeiro ciclo de obteno de etanol (bagao da cana-de-acar, por exemplo). O etanol oriundo de material celulsico chamado de etanol de segunda gerao, o qual pode ser produzido por um processo de hidrlisecida ou enzimtica, semelhante ao utilizado com matrias amilceas. Contudo, as enzimas necessrias para obter o etanol de segunda gerao so diferentes das utilizadas,

    o perodo de 2000 a 2011 no Brasil.Entre os anos 2000 e 2006, a produo

    ficou na faixa 5,3-6,3 mil 10 tep, apresentando um salto a partir de 2008 e chegando a 12 mil 10 tep. O etanol hidratado representou, em 2011, 60,51% da produo total de etanol, enquanto que o anidro foi de 39,49%. Em 2001, esta proporoera inversa, onde o anidro era responsvel pela maior parte da produo, com 56,52%, contra 43,48% de etanol hidratado. De 1990 at 2004, o Brasil importou por ano, em mdia, 6% do etanol consumido internamente. Neste mesmo perodo, foi exportado por ano, em mdia, 3,81%.

    Fonte: Elaborao prpria a partir de EIA (2012b).

    Tabela 13 - Produo e consumo mundial de etanol para o perodo de 2005 a 2011 (milhes m)

    Tabela 10 - Dados dos dez maiores consumidores mundiais de etanol e a participao no consumo total de etanol e de biocombustveis em 2011

    Fonte: Elaborao prpria a partir de EIA (2012b).

    Tabela 11 - Produo e consumo mundial de combustveis lquidos para o perodo de 2005 a 2011 (milhes m)

    Tabela 12 - Produo e consumo mundial de biocombustveis para o perodo de 2005 a 2011 (milhes m)

    Fonte: Elaborao prpria a partir de EIA (2012b).

    Fonte: Elaborao prpria a partir de EIA (2012b).

  • REGET -v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    Estimativas do Volume de Comrcio... 3183

    consumo e exportao de etanol para os anos selecionados.

    Para todos os perodos, a produo de etanol aumenta. Destaca-se o aumento das exportaes de etanol, contudo, a partir de 2025, as mesmas podem diminuir, pois o crescimento do consumo ocorre a taxas maiores do que o da produo. No longo prazo, espera-se que o Brasil possa produzir etanol celulsico. Esta possibilidade bastante apontada, contudo a produo majoritria de etanol se d a partir da cana-de-acar.

    As projees mundiais apontam para uma expanso do consumo de energia primria, bem como para o crescimento econmico das econo-mias. Destaca-se que os pases no membros da OCDE devem crescer a patamares maiores que os pases membros. O Brasil tambm acompanha esta expanso do consumo de energia. Os combustveis lquidos, bem como o etanol, tambm seguem este aumento. Na Tabela 15, observa-se a produo e o consumo total de combustveis lquidos para o mundo. Em todos os perodos, tanto a produ-o quanto o consumo de combustveis lquidos

    por exemplo, no milho. Estudos tcnicos e eco-nmicos esto sendo realizados com a finalidade de diminuir o atual custo das enzimas, a fim de tornar o etanol celulsico economicamente vivel e com seu advento a produtividade de etanol por hectare pode dobrar (BENSUSSAN, 2008).

    Somam-se a isso as possibilidades do etanol servir com o insumo para a indstriapetroqumica na produo de uma srie de polmeros-polieti-leno (PE); polipropileno (PP); e policloreto de vinila (PVC). E a sua utilizao como insumo para extrao de hidrognio, o qual, por sua vez, gera eletricidade, alimentando automveis leves movidos porclulas a combustvel. Neste sentido, destaca-se a produo de plsticos j iniciada pela Braskem, que conta com 18 produtos de polietileno produzidos a partir de matrias primas renovveis (BNDES; CGEE, 2008; BENSUSSAN, 2008; BRASKEM, 2013).

    Em termos setoriais, no setor de transportes, o etanol e a gasolina produzidos so consumidostotalmente pelo setor de transportes brasileiro. Na Tabela 14, observa-se a evoluo da produo,

    Figura 8 - Consumo final energtico de etanol (lcool etlico) em 10 tep, no Brasil, no perodo 2000 a 2011

    Fonte: Elaborao prpria, a partir de Brasil (2013).

    Tabela 14 - Produo, consumo e exportao de etanol, projetados para os anos 2015, 2020, 2025 e 2030 (mil m)

    Fonte: Brasil (2007, p.83).

  • SCHUTZ; MASSUQUETTI; ALVES

    REGET - v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    3184

    das exportaes de etanol, sinalizadas pelo Brasil (2007). A produo passa de 3,8 milhes de barris por dia e a demanda para 6,5 milhes de barris por dia. A participao de combustveis lquidos no convencionais, no total da produo de lquidos, em mdia de 24,4% a cada 5 anos. A participao de combustveis lquidos convencionais diminui em dois perodos: 2015/2020, -1,85 pontos percentuais; e 2030 para 2035, 1,15 pontos percentuais. Em relao produo de etanol, os dados projetados de consumo e produo so expostos na Tabela 17.

    Os dados de consumo e produo de etanol esto projetados para at o ano de 2030. A pro-duo de etanol aumenta em mais de 100%, de 2015 para 2030, enquanto que o consumo eleva-se 60%. Como j mencionado, a produo de etanol brasileira supera seu consumo interno, dado que parte desta produo destinada ao consumo externo. Contudo, a quota do consumo interno cresce nos perodos selecionados. Cabe destacar

    aumentam.Os dados demonstram um equilbrio entre

    a oferta e o consumo de combustveis lquidos. Tanto a produo quanto o consumo total de combustveis lquidos aumentam em 20% de 2015 para 2035. A produo passa de 93,3 milhes de barris por dia e a demanda para 93 milhes de barris por dia. Com o crescimento projetado, os biocombustveis representam, em mdia, 3,5% da produo total de combustveis lquidos. Esta participao crescente, passando de 2,57%, em 2015, para 4,19%, em 2030. No que confere aos dados nacionais, com base no estudo do EIA (2011), estes so apresentados na Tabela 16.

    Os dados demonstram um distanciamento entre produo e consumo de combustveis lqui-dos. O consumo total de combustveis lquidos aumenta em 33% de 2015 para 2035, enquanto que a produo eleva-se em 71%. Essa diferena pode ser explicada com a projeo do aumento

    Tabela 15 - Produo e consumo mundial de combustveis lquidos (milhes de barris por dia) para os anos 2015, 2020, 2025, 2030 e 2035

    Fonte: Elaborao prpria a partir de EIA (2012b).

    Fonte: Elaborao prpria a partir de EIA (2012b).

    Tabela 17 - Produo e consumo nacional de etanol (milhes de barris por dia) para os anos 2015, 2020, 2025 e 2030

    Fonte: Elaborao prpria a partir de Brasil (2007).

    Tabela 16 - Produo e consumo brasileiro de combustveis lquidos (milhes de barris por dia) para os anos 2015, 2020, 2025, 2030 e 2035

  • REGET -v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    Estimativas do Volume de Comrcio... 3185

    etanol podem estar voltadas ao desenvolvimento regional, considerando matrias primas disponveis nos locais de instalaes futuras de unidades produtoras de etanol.

    Por fim, nota-se que as perspectivas para o consumo, tanto de combustveis lquidos quanto de etanol, so otimistas, demonstrando, assim, possibilidades para a expanso da produo. Des-taca-se tambm que para o perodo analisado no est prevista uma ruptura ou quebra estrutural da atual matriz energtica, mesmo com um pequeno aumento da participao das fontes renovveis no total de energia demandada.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ACIOLI, Jos de Lima. Fontes de energia. Braslia: Editora UnB, 1994.

    BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONMICO E SOCIAL. BNDES; CENTRO DE GESTO E ESTUDOS ESTRATGICOS. CGEE (Org.). Bioetanol de cana-de-acar: energia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: BNDES, 2008.Disponvel em: . Acesso em: 23 mar. 2012.

    BENSUSSAN, Jaques Alberto. Etanol, um presente com passado e futuro. Textos para Discusso FEE n 50 FEE, Porto Alegre, 2008. Disponvel em: . Acesso em: 09 jan. 2013.

    BP. BP statistical review of world energy. Frederick: BP, 2012. Disponvel em: . Acesso em: 16 maio 2012.

    BRASIL. Ministrio de Minas e Energia. Plano Nacio-nal de Energia 2030. Colaborao Empresa de Pesquisa Energtica. Braslia: MME: EPE, 2007. Disponvel em: . Acesso em: 07 jan. 2013.

    BRASIL. Ministrio de Minas e Energia. Publicaes e indicadores: balano energtico nacional. Disponvel em < http://www.mme.gov.br/spe/menu/publicacoes.html>. Acesso em: 18 fev. 2013.

    BRASKEM. Braskem. Consulta de produtos. Dispo-nvel em:

  • SCHUTZ; MASSUQUETTI; ALVES

    REGET - v. 16 n. 16 nov. 2013, p. 3167 - 3186

    3186

    -Produtos?codProduto=629&grd=true&Familia=6&nmFam=Polietileno%20Verde&CtgFam=&Aplicacao=&Processo=&CurrentPage=0>. Acesso em: 31 jan. 2013.

    CENTRO NACIONAL DE REFERNCIA EM BIOMASSA. CENBIO. Conceituando biomassa. So Paulo, 2012. Disponvel em . Acesso em: 26 nov. 2012.

    CORTEZ, Lus Augusto Barbosa et al. Biomassa no Brasil e no mundo. IN: CORTEZ, Lus Augusto Bar-bosa et al. (Orgs.). Biomassa para energia. Campi-nas, SP: Editora da Unicamp, 2008. cap. 1, p. 15-30.

    EMPRESA DE PESQUISA ENERGTICA. EPE. Balano energtico nacional 2011: ano base 2010. Rio de Janeiro: EPE, 2011. Disponvel em: . Acesso em: 9 jan. 2013.

    GOLDEMBRG, Jos; LUCON, Oswaldo. Energia, meio ambiente & desenvolvimento. So Paulo: Edi-tora da USP, 2008

    HINRICHS, Roger A.; KLEINBACH, Merlin. Ener-gia e meio ambiente. Traduo tcnica de Flvio Maron Vichi, Leonardo Freire de Mello. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.

    REIS, Lineu Belicodos et al. Energia, recursos natu-rais e a prtica do desenvolvimento sustentvel. 2 ed. rev. e atual. Barueri: Manole, 2012.

    U.S. ENERGY INFORMATION ADMINIS-TRATION. EIA. International energy outlook 2011.Washington: EIA, 2012b. Disponvel em: . Acesso em: 14 dez. 2012.

    U.S. ENERGY INFORMATION ADMINISTRA-TION. EIA. What is energy? explained: forms of energy. 2012a. Disponvel em: . Acesso em: 10 out. 2012.

    U.S. ENERGY INFORMATION ADMIN-ISTRATION. EIA. International energy outlook 2011.Washington: EIA, 2011. Dispo-nvel em: . Acesso em: 4 abr. 2013.

    WORLD BANK. Data. Disponvel em: . Acesso em: 10 abr. 2013.