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Eu e Tu - Martin Buber Introdução 1 a 3

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E UE T U

. MARtlN BUSER

A   atualidade de   Mar tin Buber   sefundamenta em  um duplo aspecto:n9   vigor com   q ue   suas reflexõestornam·   possíveis novas reflexões   eno comprometimento deste pensa-mento com   a realidade   concreta.P.ensamentoe reflexão assinara.mum pacto indestrutível   com .a pra-xis,   com a   situação concreta daexistência. Suas obr as   filosóficastem influenciado vár ias das Giên;cias Humanas como a   psiquiatria, a

. psicologia, a educação. O'cupandolugar preponderante na Filosofia daExistência. EU E TU representa,sem~úvida, o estágio mais completoe madúro da filosof ia do diálogo deMartinBuber. Pod e-se dizer que a

 principal intuição   d e Bu ber  f oi   exa-tamente o sentido do conceito   d er elação para signif icar    aquilo que,d e   essencial,   acontece   entre ser eshumanos   e   entre o homem e   Deus.

Eu e   Tu

GO NTEUDO:  AS PAL AV  RAS--PRIN C iPI O.   A RELAÇÃO.   o  E  N··

CONTRO.   o  MUNDO DO HOMEM . INS TITUIÇÕES E SENTIME  N-TOS .   RESPO N SABILIDADE  ,   LI -

 BERDADE, A LIE  NAÇ  ÃO.   o   TU ET ERNO. A   SI TUAÇÃO RELI  -GIOS  A   DO HOM E  M.   F É E   REVE -

 L AÇ  ÃO. OS MIS  T  ICISMOS.NO LIVRO SE LÊ; COM   A CRIANÇA SE APRENDE.

~.

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Eu(Prepar ad a   pelo Centro de Catalogação-na-Fonte,

Câmara Brasileira do Livro,   SP)

B931e

.2.ed .

Buber, ~artin,   1878-1965.r , l ; "

Eu e'   tu; tradução do alemão,

notas de Newton Aquiles von Zuben.

Cortez   &   Moraes, 2.   ed . rev. .1979.

e   Tu

introdução e

São Paulo,

TRADUÇÃO DO ALEMÃO,   INTRODUÇÃO E

 NOTAS POR 

1.   Deus   - Conhecimento 2.   Filosofia Judaica3.   Misticismo - Judaismo 4.   Relacionismo 5.Vida   I.   Zuben, Newton Aquiles von, 1942 -   n.Título.

Professor na Faculdade de Educaçãoda Unicamv.

CDD-181.3-111-128,5

-211

-296.71

1ndices para catálogo sistemático:

1. Conhecimento de Deus   :   Teologia natural 211

2'. Deus : Conhecimento : Teologia natural 211

3.   Filosofia judaica 181.3

4. Misticismo   :   Judaísmo 296.71

5.   Relacionismo   :   Ontologia   ;   'Filosofia 111

6.   Vida   ;   Metafisica   ;   ~Ilosofia 128.5

2é! EDiÇÃO

REVISTA

CORTEZ   &   MORAESSÃO PAULO

1979

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Tr aduzido do original alemão

1011.und Du,   8-   ed .   Lambert Schneider ,   Heidelberg, 1974

I

CONTEUDO

INTRODUÇÃO   . .  . .  .  . .  . .  .  .  .  .  .  .  .  . . .  .  .  . .  .  . .   . .  . . . .  .   V1.   Dados Biográficos XI2.   Características do Pensamento XV3.   Influências XXII

4.   EU e TU, De uma Orttologia da Relação a umaAntropologia do Inter-humano   . .  .  .  .  .  ..   XL

 Nenhuma parte desta obra pode ser duplicada ou   r eproduzid POST-SCRIPTUM   ~I   •   •   • • •   •   •   •   ••   139sem autor ização expressa dos editores.   ' "

 NOTASDO TRADUTOR 157

©   CORTEZ   &   MüRAES

R .   Ministro Godoy,   1002 - Fones:   (011) 62-8987 e 864-12050fS -   São Paulo - SP

Printed in Brazil Impresso no Brasil

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o  paradoxo é-a paixão do pensamento; o pensador sem paradoxo é como um amante

sem paixão, um   .sujeito medíocre. MarHnBuber, por ter assumido o paradoxo tanto emsua vida como em suas obras, se apresentacomo um dos grandes pensadores de nossaépoca. Sua mensagem antropológica constitui,sem dúvida, um mar ,co essencial dentro dasciências humanas e da filosofia. A dimensão

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Buber ao mundo intelectual do Ocidente comoexímio escritor e como  o revelador desta cor ~r ente d a   mística judaica.

.   Entretanto,   devemos reconhecer que a

vasta produção   de Buber ainda permanece des~conhecid a  em nosso  meio. A nosso ver, a atua~lidade de Martin Bu ber se   fundamenta numduplo   as pecto:   primeiramente no vigor comque suas reflexões tornam  possíveis novas refle~xôes. Embora pertencentes   ao   passado,'   elas.. pr ovocam" a ponto de exercer fascínio sobreaq ueles que Icomelas se d epar am;   em' segundolugar, no compr ometimento deste pensamento

com a realidade   concreta, com a experiênciavivida. Pensamento e   r eflexão   assinaram um pacto   indestrutível com a praxis, com a situaçãoconcr eta da existência. Mar tin Buber repre~senta um  dos exemplos do verdadeiro vínculode responsabilidade entre ref lexão e ação, entre

 praxis e logos.   Para   ele a exper iência existen~cial d e presença ao mundo  ilumina as ref lexões.A f onte de seu pensamento é sua vida; suaexistênci a é a   .manif estação'   concreta de suasconvicções.

A cr escente presença das id éias de MartinBuber se faz sentir de um modo bastante mar ;..cante nos mais diversos domínios da culturamod erna.   Seus estudos sobre a Bíblia e o   Ju ~daÍsmo tiveram uma influência decisiva nateologia contempo'rânea, sobr etudo na teologia

 protestante.   Suas obras   filosóficas têm influen~ciado várias das chamad as ciências humanas:

 psiquiatria,   psicologia,   educação, sociologia etoda uma corrente da filosofia contemporâneaque se pr eocupa com o sentido da existênciahumana em todas as suas manifestações.   Amensagem buberiana evoca no pensamento

contempor âneo.   uma notável nostalgia do hu...mano.   Sua voz ecoa exatamente numa épocaque paulatina e inexoravelmente se deixa to...mar por ,um esquecimento sistemático daquiloque e maIS característico no homem: a sua hu .manidade. Sendo assim, a obra de Buber é fun .damental para a abordagem.   da questão antro-

 pológica.   ..Esta mensagem humana,'   fornecida ao

homem, contemporâneo caracteriza ...se por umaexigência de revisão de nossas perspectivassôbre   o  sentido d a   existência   humana.   A   nos...tal~ia   q ue envolve uma conversão propõe   um

 pr ojeto de existência   a  ser  r ealizado e não umasimples volta   a um passad o   d istante   numa pos-tura de mer o saud osismo r omântico. A   af irma...ção do humano   não é um  o bjeto de   análises?bjetivas,   exatas,   infalíveis,   lIlglS   sim   um  pro...J~to q_ueenvolve o risco supremo da   pró pria

sltuaçao humana da reflexão. Não raras vezes o pensamento de   Bu ber 

sofreu interpretações ambíguas, e até mesmoerrôneas,   que poderiam facilmente ser evitadasse se tivesse observado uma certa postura deabor dagem exigida pela pr ofundidade da obr a.Martin Buber não é um pensador qualquer, nãoé um autor no meio de outros perf azendo umsistema de pensamento filosófico ou teológico.

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Há muita verdade na auto~caracterização deBuber como "atypischer Mensch" (homem atí~

 pico). Como não se trata de uma construçãosistematicamente elaborada, sua obra exige

uma abordagem cuidadosa e criteriosa; osaventureiros   à   busca de soluções rápidas ereceitas para crises existenciais poderão decep~cionar~se logo nas primeiras páginas, desenco~rajados pelas ruelas austeras de um pensamen~to que várias vezes se manifesta por conceitos,frases e passagens obscuros.   .

 Nossa inte" ção aqui é introduzir as prin~cipais idéias de" Buber ao leitor que o desc~nhece ou o conhece através de breves citações. Não se trata de um trabalho exaustivo sobre o pensamento de Buber ou sobre a sua filosofia.Trata~se de uma introdução   à  leitura de EU E .TU que ora apresentamos em tradução portu~guesa. No entanto, como a nosso ver EU E TUé a chave de todas as outras obras de Buber,acreditamos que o leitor, após o conhecimentodeste livro, poderá mais facilmente abordar qualquer estudo deste grande pensador.

A essência do pensamento buberiano re..vela~se, talvez mais do que a maioria dos ou~tros pensadores, estruturada como um círculo.Isto decorre do sentido que Buber deu ao com~

 prometimento da reflexão com a existênciaconcreta, ao vínculo da praxis e do logos. Talcomprometimento é uma das características

 principais do pensamento de Buber. No pró~ prio nível da reflexão,   pelo fato de a filosofiaser um desvelamento progressivo, seus esfor.

ços ontológicos aparecem necessariamente en~trelaçados com reflexões práticas. Este apro..fundamento filosófico anseia sem cessar um

ambiente de busca de um efetivo engajamento.Sua filosofia do diálogo - da relação - pontocentral de toda a sua reflexão tanto) no campoda filosofia ou dos ensaios sobre religião, polí..tica, sociologia e educação, atingiu sua expres~são madura em EU _ E TU graças   à fonte repre ..sentada.  pelo Hassidismo e sua mensagem. Namística hassídica Buber encontrou não só o princípio, mas a luz e o molde para   a   suarefle ..

x~o. Podemos mesmo afirmar que·a compreen.saode EU E TU será completa quando for le~vada em consideração toda a influência da

.mística em geral (Budismo, TaoÍsmo, a místicaalemã, a mística judaica) e mais especifica~mente do Hassidismo.

 No entanto, Buber não pode ser conside..rado um representante de um misticismo irra~ciona1. Senão, como articular tal qualificação

com sua obra EU E TU que traz reflexões reli..giosas profundamente ligadas a uma ontologia?Além do mais, a dimensão ontológica de suareflexão não nos permite afirmar que estamosdiante de um sistema filosófico "pronto" domesmo modo como podemos dizer que a filoso..

.fia de Hegel se apresenta como um sistema.Entretanto, podemos, em n.ossa preocupaçãode refletir criticamente sobre o pensamento deBuber ,   destacar temas ou conceitos mais impor~tantes e centrais contidos na obra e que servemde estrutura conceitual para a abordagem de

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1) DADOS BIOGRÁFICOS

.   Martin Buber nasceu em Viena aos 8 defever eir o de   1878.  Após o divórcio de seus pais,

 partiu para Lembe+g, ;na GalíCia, cidade onde

moravam   seus avós paternos.   Bu~er passo~assim sua primeira infância com seu avô Salo-mão Buber ,   grande autoridade da Haskalah.Junto desta família o jovem Buber teve a chan-ce de .experimentar a união harmoniosa   .entrea tradição judaica autêntica e o espírito liberalda.   Haskalah.   A atmosfera.   era propícia par auma piedade sadia e para um profundo respeito pelo estudo.   Teve aí a oportunidade de apren-

der o hebreu, de ler os textos bíblicos e d etomar contato com a tradição.· judaica.   Aos   14anos voltou a morar com o pai.   Matriculou-seno ginásio polonês de Lemberg. A filosofia, soba forma de dois livros, marcou sua primeira einfluente presença na vida de Buber entre seus15   e   17   anos:·  Nesta época, como ele mesmonos relata,·   o seu espírito estava tomado por idéias de tempo e de espaço.   ~m sua obra   "0

 problema do'  homem"  ele faz alusão a uma ex- periência que exerceu profunda inf luência so- br e sua vida..,...;."Um constrangimento, que não podia ex plicar,  tinha se apoderado de mim:  eutentava, .sém cessar, imaginar os limites do es-

 paço, ou senão a inexistência de um limite, umtempo que .começa e que ter mina. sem começonem fim. Um era tão'  impossível quanto o ou-tr o;   um deixava tão pouca esperança quanto   o

outro;   contudo, falavÇlm-nos que não havia

outros pontos da doutrina ou das   id éias   q ueseriam,   neste caso,   consequências do   temaessencial.

Esquematicamente,   a obra de Buber podeapresentar -se sob   tr ês facetas :   Judaimo,   onto-logia e antropologia.  Cada uma delas se liga àsoutras de um modo circular .   A. renovação,   pro- jeto que Buber   propõe ao Judaismo, implicauma ontologia da relação que, por  sua vez, temsuas consequêndas em vár ios campos,   taiscomo educação e política.   Podemos abordar essas facetas .deum modo cronológico ou lógico.Dentro desta última perspectiva, a ontologi~ darelação (da palavra como diálogo) está pre-

sente como fundamento de todos os outros   te-mas,   seja de um modo retrospectivo nas suasconcepções sobre o  J udaismo e na hermenêuti-ca do Hassidismo, seja de um modo prospectivona sua tradução da Bíblia, na sua antropologiafilosófica,   em seus estudos sobre educação ou

 política,   orientados para uma ética do interhu-n:ano.   O fato primordial do pensamento deBuber é a relação, o diálogo na atitude exis-

tencial do face-a-face. Nesta' introdução propomos ao leitor  algu-

mas consider ações   sobre os dados biográf icosde Buber ,   algumas características de seu pen-samento e de sua vida,   as pr incipais idéias que

. o influenciaram (aqui destacar emos a místicahassídica) e f inalmente fazemos algumas   r e-flexões sobre o sentido de EU E TU no conjun-to da obr a.

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opção senão escolhendo um ou outro de taisabsurdos.   Sob forte tensão, eu vacilava entreum e outro, e acreditava que iria enlouquecer ,

e este perigo tanto me ameaçava que eu pensa ..va seriamente em escapar da confusão por meiodo suicídio". Foi então que lhe caiu às mãoso livro   UProlegámenos"    de Kant, onde encon..trou uma resposta para sua indagação.   Nesselivro ele verificou que o espaço e o tempo nãosão nada mais que formas'   através das quaisefetuamos a percepção das coisas e que elasem nada afetam o ser das coisas existentes.

~ol>'"

Descobriu tamoém que tais formas entram, de.algumas maneira, na constituição de nossosseJ?tidos.  É tão impossível dizer que o mundoé infinito no espaço e no tempo, quanto dizer que é finito, pois "nem um nem outro podeser contido na experiência" e nenhum pode ser encontrado no mundo. "Eu podia", diz Buber,..dizer a mim mesmo que o Ser mesmo estásubtraído tanto ao infinito quanto ao finito

espacial e temporal, pois que não faz senãoaparécer no espaço e no tempo, e não se esgotaa si mesmo nesta sua aparência. Eu começavaentão a perceber que há o eterno, muito dife..rente do infinito, e que, não obstante, pode ha..ver uma comunicação entre eu, homem,   e oeterno". (O   problema do homem).   Outro livrolido por Buber foi   "Assim falava Zaratustra",de'  Nietzche~ Buberse empolgou tanto com a

mensagem de Zaratustra que resolveu traduzi ..10   para o polonês. A visão nietzscheana dotempo como eterno retorno impediu Buber de

ter um concepção diferente do tempo e da eter ..nidade.

Em 1896 Buber entrou para a Universi ..

dade de Viena,   matriculando ..se no curso deFilosofia e História da Arte.   Mais do que emqualquer lugar, encontrava ..se em Viena oexemplo típico de uma cultura aberta a todasorte de influências, oriundas de todos os qua..drantes do mundo intelectual.   Encontravam ..seaí elementos eslavos,   judeus e românicos. Arecém-formada escola vienense era neo..român..tica e o lirismo ou o diálogo lírico estava aí

 presente em sua forma de criação e expressão.Toda a atmosfera.  da intensa vida social e eul..tural de Viena contribuiu para tornar Buber um devoto da literatura, da filosofia, da ártee do teatro. Isso contribuiu de algum modo paraque ele esquecesse suas raízes judaicas. Nãofoi senão mais tarde, no final de seus cursosuniversitários, que a consciência da força e

 profundidade da tradição judaica ressurgiu.

Em 1901 entrou na Universidade de Berlimonde foi aluno de Dilthey e G. Simmel.   EmLeipz~g e Zurich dedicou-se ao estudo da psi..quatrxa e da sociologia.   Em 1904 recebeu emBerlim, o título de doutor em Filosofia '

Em Berlim entrou em contato co~ umaco~unidade fundada pelos irmãos H. e]. Hart,a Neue Gemeinschaft",   que representava umo~sis para a jovem geração:   aí os jovens po..

dlam se expressar livremente.   A comunidadeapresentava um desejo ardente de novos tem- pos:   o lema era viver mais profundamente a

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tornar""se presente aos outros. acolhendo""osin""condicionalmente em sua alteridade.   A aber""tura e a disponibilidade com relação ao outroencontravam em Buber um suporte: a zona de

silêncio,   na qual se inscreve a confiança nooutro.   O olhar encontra rapidamente o calor ea gratuidade da resposta. Quem ouve se não é para responder? Tal disponibilidade lhe forainspirada. desde a juventude. pela vida das.comunidades hassídicas que havia visitado du...rante a estadia na casa de seu avô.   SalomonBuber .   Nesta época a semente do Tu já haviasido lançada:   0  lugar dos outros é indispensá ...ve1 para a nossa realização existencial.

A plenitude citada por MareeI não seriaverídica se acaso não soubéssemos descobrir. aolado da amabilidade do a,colhimento e da aber""tura aos outros. a firmeza de sua personalidade,quando se tratava de defender um ponto devista considerado como certo. Tal firmeza eralogo orientada para uma constante procura do

verdadeiro. em meio às múltiplas verdades.Esta plenitude no diálogo caracterizava a pró"" pria postura intelectual de Buber. pois ele nun""ca se desligava do mundo. e suas idéias nuncaeram extogitadas numa reclusão acadêmica.Ele viveu plenamente as tarefas do mundo taiscomo elas se lhe apresentavam. Desde os pri...meirbs anos de sua formação intelectual vemos  'Buber    à   frente de grupos estudantis.   Dentro

do movimento sionista com o qual se unira. eleentrou em conflito com os seus dirigentes poisestes só se mostravam interessados em assun-

tos políticos ou diplomáticos~ O jovem Buber ,liderando um pequeno gr upo. defendeu umaconcepção mais ampla do sionismo: uma con...cepção que fosse. em sua· essência,  um esforço

de libertação e purificação interior e um meiode elevar o nível social e cultural das massas judaicas.   Esta firmeza de atitude demonstravauma vida interior muito madura e consciente. baseada numa compreensão bastante aguda dosentido de Iíberdade pessoal.   Somente tal vidainterior poderia lhe dar ·  forças para.   enfrentar as dificuldades inerentes à sua própria exis...tência, dificuldades estas provindas da marcaque a circunstância histórica impingia não só a.ele mas a muitos outros,   a ponto de torná-Ios pessoas diferentes, pois eram judeus. Isto.   aoinvés de lhe ser desfavorável ou um motivo dedesdém. enriqueceu sua experiência ao reve-lar""lhea verdadeira origem de seu poder cria""dor.

Outra característica marcante destaperso ...

'nalidade e deste espírito filosófico, foi umagrande fé no humano. Ele vivia ardentementeo "Menschensein" e pôde superar todas as suasdificuldades. buscando uma solução para o

 problema existencial do homem atual.  Ele haviaentendido a voz que o interpelava, e ao mesmotempo desejava que todos os homens tentassemresponder a ela. Buber nunca quis fi.gurar comoo porta""voz de um sistema filosófico. Via sua

missão como uma resposta à vocação que haviarecebido:   a de levar os homens a descobrirema realidade vital de suas existências e a abri-

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rem os olhos para a situação concreta que esta~vam vivendo. Como   Sócrates, ele ajudava, comsua presença,   o   "parto dos es píritos" nos ho...mens.   Seu esforço   foi sempre   sustentad o pela

es perança de atingir o fim, pois sem ~. espe..r ança não se encontrará o ines perad o, maces~sível   e não~encontrá'vel,   como já afirmavaHerác1ito.

Bu ber não se deixa etiquetar por qualquer sistema doutrinário'   conhecido. QualifIcaçõescomo'   místico, existendalista ou'   personalistanada mais fazem d o que   d esvirtuar o sentidod e   sua vida e de sua obra. Aliás,   ele. mesm.o

se .q ualificou como   .•atypischer ~en~ch". Omaior compr omisso   de sua ref~exao e co~ aex per iência   concreta,   com a   vIda. ~le alIou,com r ara f elicidade,   a postur a   e as   vIrtudes deum homem atual (de seu tempo, do século XX)com as raízes   pr ofundas do Judaísmo pr imitivo.Em   realidade,   ele encar nava o sábio e  o pro...feta   tentando simplesmente   advertir   os homensa   respeito de sua situação. Não.  se trata~a de

r eceitas tradicionalmente   conhecIdas ou lmpe...rativos inadiáveis, mas   um a pelo   aos homens para que vivessem sua hum:anid a~e'majs pro .fundamente, movidos pela nostalgia do huma .

no.

"Durante a primeiragúerra mundial,   de...

 pois que meus próprios   pensamentos sobre ~scoisas mais elevadas haviam tomado uma   OrI'"

entação decisiva, eu falava às vezes sobre mi...nha posição a meus amigos; ela era semelhantea umá ·estreita aresta'. Desejava exprimir com

.   isso que não me coloco numa larga e alta pIa .

nície de um sistema feito de proposições segu .ras quanto ao Absoluto, mas sobre uma sendaestreita de um rochedo, entre dois abismos,onde não existe segurança alguma de ciênciaeminciável,   mas onde existe a certeza do en...contro com aquilo que está encoberto". (O

 probl~ma do homem,   pág. 92 da tradução fran...cesa).   Esta afirmação revela, talvez melhor que qualquer outra, o significado e o valor da

vida   e  do pensamento de Buber .   Nela podemosencontrar não   somente a "santa insegurança"mencionada   em sua obra .. Daniet'    (1913),mas também todo vigor e profundeza poéticae.filosófica de EU E TU   Esta" estr eita aresta"não é   uma solução d e tr anqüilidade qu~ setorna um ref úgio para   os es píritos   pusilânimes:não   é,   de forma alguma. uma   posição   de  f aci...lidade que tende a transcend er tâ existência   r ealeivada de paradoxos e contr adições, ignor an .do...os simplesmente a fim de escapar das situa .ções delicadas e embaraçosas provocad as por eles.  Tal "aresta" onde Buber se coloca,   é an .tes de mais nada o vislumbre da   união   para .doxal da plenitude, superando as soluções decompromisso daquilo que geralmente éenten .dido como dilemas  ou alternativas: orientação   .

...atualização, Eu...Tu Eu lsso, dependência ...liber .dade, bem...mal,   unidade dualidade. A união dos

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contrários permanece um mistério na profundaintimidade do diálogo. Diálogo é plenitude.

De fato. "diálogo" é uma categoria que pode servir de via de acesso à  compreensão da

obra de Buber.   "Diálogo" foi o tipo de com~ promisso de relação que a vida e a obra desteautor selaram entre si.

Apesar da vida de Buber ostentar profun~das marcas de divisões. de contrastes.   de opo~sições, não é sob esta categoria de ruptura quedevemos abordá~la. Pode parecer uma divisão,a distinção exi'Stenteentre dois períodos de suavida, o primeiro até 1938 (período alemão) eo segundo. de 1938 até a sua. morte (períodoisraelense). Eles, em verdade, estão estreita~mente unidos. Sem dúvida, Buber conheceuexperiências drásticas de profunda ruptura,mas sua vida permanece única. plenamente vol~tada para uma aspiração: o humano. Em cadaaspecto de sua vida e de sua obra. seja o as~

 pecto filosófico seja o aspecto religioso. o polí...tico ou o existencial. um fator único os centra~liza numa mensagem vivida: o diálogo. EU ETU, publicado em 1923, no período alemão,fundamenta suas obras posteriores, mesmo asdatadas do período israelense, e que versavamsobre educação, sociologia. política e principal~mente sua antropologia filosófica. Estas últimasnada mais são que explicitações ou manifesta~ções enriquecidas por outras experiências exis~tenciais da filosofia do diálogo de EU E TU.Por outro lado, os seus estudos sobre Judaismoe sobre o Hassidismo, no segundo período, re~

fletem a intuição primitiva e o mesmo   "elan"de uma renovação em profundidade do Judais...mo apresentado primeiramente em seus   liEn~saios sobre   o  Juda{smo",   publicados em 1909.

 Não se pode falar propriamente de cond i~cionamento de um dos temas sobre os outros.O modo pelo qual Buber os relaciona ao longode suas reflexões, fazendo-os como que equi~fundamentantes. é a principal característica deseu filosofar. Mesmo tratando dos mais diver .sos temas em qualquer dos campos, separada .mente, percebemos neles a presença marcanteda unidade que subjaz a todos eles. Por isso

aquele que deseja ouvir o que Buber  tem a dizer ,não poderá nunca operar qualquer cisão entreuma obra e outra.   É conveniente completar oestudo de EU E TU pela leitura de outrosescritos tanto de cunho filosófico, ensaios quecompõem sua antropologia filosófica, ou p. ex.li Caminhos   de   utopia"    e outros escritos decunho político e social,   assim como os ensaios

. e obras consagrados ao Judaísmo.

Ademais,   é   notável em Buber o sentido profundo de diálogo que ele estabelece entresua própria vida e a sua reflexão. Ambas fir-mam um pacto de profundo e mútuo compro~misso. São auto-determinantes. Para Buber,

 porém, o conteúdo vivido da experiência huma~na, em todas as suas manifestações, vale maisque qualquer sistematização conceituaI.

Assim o "diálogo" (a relação dialógica)

não é uma categoria   à qual ele chegou por viasde raciocínio dedutivo, mas, como ele próprio

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qualificoUem EU E TU, o encontro ,~essencia,~-mente um evento e como tal ele acontece.Sem dúvida Buber foi profundamente marcado

 por aquilo que, quando ainda criança em visitaa uma comunidade hassídica, acontecia entre o

hassid, sequioso de palavras de conforto e ori-entação,   eo tsadik, o guia da comunidade,   queconfortava seus hassidim com palavras. Domesmo modo foi singular . para ele a experiênciana adolescência quando, em ,casa de seu avô,

 brincava com seu cavalo favorito até que emdado momento "algo aconteceu",   algo   li foidito" a ele e ele respondeu ao apelo; o diálogoacontecera.   A fonte de onde brotou o dialógico

era pois profundamente vivencial, concreta,existencial.

3) INFLUÊNCIAS.a) Considerações geraisMartin Buber é mais um pensador do que

um filósofo acadêmico ou um teólogo profissio",

nal.   A vitalidade de seu pensamento toma suaforça no sentido da concr etude existencial daex periência de presença ao mundo. A obra éinexoravelmente unida à vida.   A grande dife...rença entre Buber e grande parte dos· filósofos profissionais repousa no sentido que é atribu{doà relação entre uma questão teórica e a praxis.A uma questão qualquer os filósofos respondematravés da exposição de posições teóricas, ape .lando para a experiência existencial ou,   diga..

mos, para o planoempírito,   .somente comosimples ilustração para a retidão das teorias.Estas não mantêm para eles um vínculo pro-fundo com a praxis ou,   se houver tal vínculo,ele é mais uma imposição de normas e orien-

tações que nunca surtem efeito,   pois simples-mente ignoram o sentido profundo da praxis.Esta nada tem a dizer .   Buber, ao contrário, ra-dica a gênese e o desenvolvimento de sua re...flexão na riqueza e na força vital de sua expe-riência concreta.   Em Buber reflexão e ação(logos e praxis) foram intimamente relaciona ...das.

Embora Buber   não deixe· claro·   as suas

referências filosóficas e históricas e não se preo...ctlpe com sua inclusão no seio de Umsistemaou de um contexto hístórico...filosófico, numaintrodução parece...nos interessante não omitir asua situação·   dando uma r eferência ao climaonde seu pensamento se desenvolveu,   as influ-ências que sofreu e o molde no qual seu pensa ...mento tomou força. Devemos retificar em partea afirmação· de que Buber nãd ~deixa claro, em

seus escritos, as referências às influências por ele sofridas. Ele af ir mou com clareza a sua di...vida para com Feuerbach quando diz   que delerecebeu um impulso decisivO com relação aosentido do Eu e do Tu e, de um modo geral.no que d iz   respeito à questão antropológ'ica.(Cfr .   "O   problema do homem"  ,   pág.   46 datradução francesa).

Distinguiremos dois tipos de influênCias e

experiências que gravitam ativamente na intui-

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ção criadora de Buber .   No primeiro, de ordemfilosófica,   incluiremos algumas personalidadesque estiveram presentes na reflexão de Buber eo clima ou movimento filosófico dentro do qual

se situam Buber e sua obra. No segundo, englo~ baremos. de modo geraL o misticismo -- budis~ta, o taoÍsta e o judaico --   mais particularmentea mística hassídica.

Vários fatores provocaram em Buber anostalgia do humano.   Muitas influências deforça variada serviram como provocação, outrascomo   t' elan". ~ara a reflexão, outras como su~ porte ou como' clima. Não nos é possível,   no

âmbito desta introdução, um estudo minuciosodessas influências, embora reconheçamos suaimportância. Podemos, no entanto, enumerá~las,e consagrar um momento para aquela que foi pelo menos bastante significativa ao seu pensa~mento e que a nosso ver contribuiu decisiva~mente para a compreensão   d o  sentido da men~sagempor ele legada -- aquela que tê~lo~iadespertado para a procura incansável do "pa~raíso perdido":   a nostalgia do humano.   Talinfluência foi o Hassidismo.   Um   estudo mi~nucioso e profundo sobre as influências sofri~das por Buber pode ser encontrado na notávelobra de Hans Kohn:   Martin Buber sein Werk und seine Zeit    (Martin Buber sua obra e seutempo) .

Talvez Feuerbach seja um dos autoresmais citados na obra de Buber. Em suas pró~

 pr~as palavras, disse ele que recebeu.   como jáafIrmamos, de Feuerbach um impulso decisivo

 para a construção de sua filosofia do diálogo.Primordial no pensamento de Feuerbach sobre

o conhecimento do homem é que ele consideraeste como o objeto mais importante da filosofia.Ele não   vê o homem enquanto indivíduo,   mascomo a relação entre o eu e o tu. No parágrafo59 de sua obra   Princípios da Filosofia   do Fu~turo   Feurbach _  afirma: "O homem,  individual~mente não possui a natureza humana em simesmo nem como ser moral nem como ser 

 pensante.   A natureza do homem não é contida

somente na comunidade, na unidade do homemcom o homem, mas numa unidade que repousaexclusivamente sobre a realidade da diferençaentre eu e tu", Feuerbach rejeita a filosofia daidentidade absoluta pois esta leva a uma nega~ção   das distinções imediatas (isto está bemclaro no parágrafo 56 da mesma obra) .Feurbach estabelece a distinção entre eu e tucomo uma forma de rejeição ao idealismo.

Buber, retomando a intuição de Feurbach,   diri~giu seu interesse para a relação entre os sereshumanos.   A maior crítica que Buber apresentouà  tese de Feuerbach diz respeito   à substituição,feita " por Feuerbach, da relação com Deus pelarelaçao eu e tu, Buber ainda criticou o método postulativo de Feuerbach -- segundo Buber,este método impediu que Feuerbach levasseadiante suas intuições e suas afirmações.

É patente certa afinidade entre Buber eKant.   Há íntima relação entre as idéias de

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Buber e o princípio kantiano no plano da moral:não devemos tratar nosso semelhante simples~mente.como meio,   mas também como um fim~nos diversos tipos de relação Eu~Tu,   o homemé considerado como fim e não   ,como meio.   Hásem dúvida vários modos através dos   .quais

trato meu Tu como um meio (eu peço sua aju~da, eu solicito uma informação), assim como hádiversas maneiras pelas quais sou tratado comomeio. O encontro onde a totalidade do homemestá presente e onde existe total reciprocidadeé um dos modos de Eu,..Tu. Éerrado catalogar todos os outros modos de Eu-Tu. que não co-nhecem a total reciprocidade, como modos deEU,..ISSO.

Tanto a obra como o estilo de Nietzschemarcaram profundamente o pensamento deBuber. Como já vimos, o próprio Buber relataa impressão causada pelo livro   Assim falava·

 Zaratustra,   ainda na sua fase de adolescência.Merecem especial destaque os seus mestres

mais próximos Dilthey e Simmel.   Franz Ro-senzweig, líder da Academia Judaica Livre deFrankfurt e amigo íntimo do autor esteve tam,..

 bém presente nas reflexões de Buber, sobre-tudo através da obra   UDer  Stern   der  Erloesung" (A estrela da Redenção),   publicada em 1921.

Gustav Landauer também exerceu influ-ência sobre Buber. A amizade com Landauer 

 proporcionou significativa riqueza de idéias paraBuber .   Desde o primeiro encontro em Berlin

 por volta de 1900 até a morte de Landauer em1922, uma grande amizade uniu os dois pensa-

dores.   De um modo particular, foram  as con,..cepções de Landauer sobre o conceito de (o,..munidade que chamaram a atenção de Buber .Além disso,   ambos estavam interessados noestudo da mística. Foi a primeira edição moder ,..na dos escritos de Mestre Eckart, editada por 

Landauer. que levou Buber a estudar o pensa,..mento místico alemão. O método de Buber nacoleta e na compilação dos contos hassídicos bastante se assemelha com o método empregado por Landauer na sua edição e interpretação daobra do Mestre Eckart.·

Se quiséssemos inserir Buber dentro deuma corrente do pensamento filosófico talvez

 pudéssemos optar pela Filosofia da Vida ("Le,..

 berisphilosophie").   N~ste ponto é marcante ainfluência de seu mestre Dilthey. Do mesmomodo, muitas das afirmações, passagens ouconceitos utilizados por Buber permitem apro,..ximá~lo de um certo ..intuicionismo". Porém,estas duas correntes não poderiam ser toma,..das aqui no seu sentido técnico ou como éusualmente empregado na histó~iada f ilosofia.Avançamos esta afirmação com todo o cuidado,

 pois qualquer precipitação ao generalizar acar ,..retaria em erro histódco- Buber não se filiaa movimento filosófico algum,   ainda que possa~mos, comcuidado, aproximá';lo de uma correnteou de um método.   Sem dúvida alguma, Buber é tributário de uma época; várias vezes ele deve

 pagar um certo preço pela própria situaçãohistórica que vivenciou.

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De modo geral,   não é difícil constatar queas obras de Buber revelam um profundo com~ promisso com a vida. A vida é realizada e con~firmada somente na concretude do "cada~dia".Segundo Buber, o projeto da filosofia é expli~citar a concretude vivida da existência humanaa partir do próprio interior da vida. Percebe~seque este pácto com a existência concreta levouBuber a uma postura um tanto cética frente aossistemas filosóficos. Tal atitude de reserva e decerto ceticismo era comum na tradição da "Le~

 bensphilosophie". O trecho de uma das impor...tantes obras dé1'Bubera que aludimos há pouco,

onde ele falava da "estreita aresta", denota estaatitude cética não só para com os sistemas filo~sófi,cos mas também para com a atitude filosó~fica de um modo geral.   Para Buber, a filosofiae o filosofar são primordialmente atos de abs...tração. Esta afirmação implica Uma crítica   à

maneira de abordar a realidade, na medida emque estes atos de abstração nos separam daconcretude da existência vivida. Abordando o

sentido do estudo da existência humana (doconhecimento antropológico), Buber é sufiden ...temente claro em estabelecer a distinção entrea abstração e o conhecimento antropológico,opondo entre si os dois modos de abordagem.Aquela nos separa da vida enquanto que estetenta abordar o fluxo concreto da vida partindode-seu interior. A abordagem própria   à   antro...

 pologia filosófica deve ser realizada como umato vital.   "Aí não se conhecerá". diz Buber referindo ...se à  abordagem antropológica, "per ...

manecendo na praia contemplando as espumasdas ondas. Deve~se correr o risco, é necessárioatirar~se na água e nadar". (Cfr. O   problemado homem.   página   18   da tradução francesa).

Várias afirmações de Buber permitemaproximá~lo do intuicionismo. Este deve ser entendido ,comouma participação na concretudeda vida, em oposição ao conhecimento concei...tual próprio de um espectador alienado   à   con~cretude do fluxo existencial.   Buber critica ateoria Bergsoniana da intuição, pois vê nela umcerto perigo. Com efeito, no ato da- intuição,

 pode~se ser subjugado pelo ato da intuição

sem, com isso, atingir a verdadeira realidade doobjeto intuido que se coloca aquém do mo~mento de presença, momento este em que serealiza a intuição. Podemos dizer simples e de~liberadamente (o âmbito desta introdução nãonos permite aprofundar tais afirmações) queBuber se aproxima da perspectiva intuicionistana medida em que distingue radicalmente duasatitudes de situação no mundo, dando primazia

à   atitude pré~cognitiva e pré~refIexiva (não...conceitual) existente entre o homem e o enteque se lhe defronta no evento da relação dia...lógica.

Por fim notemos que vários conceitos uti...lizados por Buber e cujo sentido se aproximadaquele dado pelo intuicionismo decorrem tam...

 bém da influência exercida por Dilthey.

*O interesse que norteou Buber para o es...tudo das fontes da mística e dos ensinamentos

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 judaicos teve sua origem num sentimento pro-fundo de carência de fundamento de sua pró-

 pria existência. Esta procura de raízes o con-duziu para aquilo que, sob diversas formas,

 podemos chamar de   liauto-afirmação judaica".

O   primeiro passo foi sua participação, aindanos tempos de universidade no movimento sio-nista. Porém, logo em seguida, ele liderou omovimento de oposição contra a facção política<:omandada por Theodor Herzl, radicalizando adsão no seio da instituçião. A fundação de unI'-estado político não deveria ser senão uma fasedo renascimento judaico.

Foi ainda o descontentamento consigomesmo que o conduziu ao estudo da mística judaica, estudando os místicos alemães MestreEckart e Angelus Silesius. Encontrou-se assimcom a mística hassídica ,cuja vitalidade operouuma transformação em seu pensamento. 'Deum intelectual alemão   à   procura de raizes ju-daicas Buber passou a ser um pensador cujo-espírito era profundamente judaico. A paixão pelo humano encontrava raízes na sua lealdade para com o seu povo.

Exatamente nesta época, quando aprofun-dava seus contatos com o Hassidismo, lhe· so'"

 breveio um novo tipo de estímulo  .intelectual:as primeiras traduções das obras   'de Kierke",gaard. O teor da mensagem soava-:-Ihecomouma exigência de que toda a filosofia deveriaser centrada na existência concreta do indivíduo.Embora diferentes em suas manifestações,Kierkegaard e Nietzsche rejeitavam o idealis-

mo filosófico. Enquanto Kierke·gaard rejeitavao racionalismo filosófico a partir da afirmaçãoda   fé   religiosa, Nietzsche o fazia a partir dacriatividade humana.

De uma fase mística Buber passou por uma. fase existencial cujo principal, exemplo   é

 Damei ,   obra publicada em 1913. A união como Absoluto já não era mais procurada por ser ilusória, ela não opera a união no interior daexistênica individual; nela o próprio ser não élevano à sua verdadeira integração e a separa ...ção interior permanece. O próprio conceito deunidade será visto posteriormente como umafalha' na sua abordagem valorativa da existên ...cia humana. EU E TU contém severas cdticas   à

 proposta mística da unidade. Esta categoriaserá substitu{da pela categoria da relação queé   fundamental para a compreensão do sentidoda existência humana. "No princípio   é  areia   ...ção". A relação, o diálogo, será o testemunhooriginário e   O, testemunho final da existênciahumana.

 b) O HASSIDISMOBuber   é  conhecido tanto pela sua filosofia

do diálogo como pelos seus estudos sobre oHassidismo, sobretudo pela sua obra ., DieErzaehlungen der Chassidim"  ,   que apareceuem tradução portuguesa sob o título "Históriasdo Rabi".   (Editora Perspectiva)

Embora não encarasse sua tarefa como umempreendimento hermenêutico e histórico,   Bu'"

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 ber legou ao Ocidente uma das tradições reli~giosas de grande riqueza mística e espiritual.O assíduo contato e a intimidade que manteve,durante anos, com este movimento'   da místicahassídica representaram para Buber mais do que

uma simples influência, o clima ou o molde doseu pensamento.Diz Buber que um dos aspectos mais vitais

do movimento hassídico é o fato de que oshassidim contavam entre si histórias sobre seuslíderes, os tzadikim. Grandes coisas haviam

 presenciado,   . participando delas e a eles cum... pria relatá~la~   testemunhá ...las. "A palavrautilizada para narrá~las é mais que mero dis~

curso: transmite às gerações vindouras o quede fato ocorreu, pois a própria narrativa passaa ser acontecimento, recebendo consagração deum ato sagrado" (dr.   Histórias   do Rabi,   pág.11).

 Não se trata de uma mera coletânea ela~ borada por Buber, pois, como ele mesmo afir~ma, "o que os hassidim narravam em louvor deseus mestres não podia ser enquadrado em

qualquer molde literário já formado ou em for...mação" ...   "O ritmo interno dos hassidim é por demais acelerado para a forma calma de nar...rativa popular, queriam dizer m.uito mais doque ela podia conter. (Idem" pág.   12). Buber entendeu sua tarefa como uma sorte de "in .formação" -- no sentido de dar formas -- des .tas lendas que os hassidim contavam sobre seustzadikim. E mais,  "devido ao elemento sagrado

que a enforma devido  à   vida dos tzadikim e   à

ale'gria elevada dos hassidim, essa lenda é mé~tal precioso, embora por vezes impuro, mistti...rado   à escória." (Idem pág. 13).

Contrariamente a algumas críticas que lheforam dirigidas, Buber não utiliza a massa in..

forme das lendas como um veículo de suas próprias idéias a respeito da mística hassídic~.Os personagens principais -- os tzadikim --não são meros porta~vozes daquilo que Buber  pretensamente havia colocado em suas bocas,ou no entusiasmo dos que reletavam - os has..sidim - para o bem de sua causa,   .ou de stipfilosofia do diálogo, ou de suas idéias sobreDeus, religião ou mística. Buber nos narra o

que ele ouviu e não o que ele nos queria falar.O metal precioso de que fala Buber, poderiaser melhor entendido como pedra preciosa, umdiamante que deverá ser lapidado. O fato deque ele não acrescenta nada em seu relato des~tas histórias, não' significa que Buber nô...lasdeu como encontrou, ou que nos relatou tudoo que encontrou; ele atingiu a perfeição atravésda lapidação, do esmero. Ele próprio diz que

"História do Rabi" por exemplo, contém umdécimo de tudo o que foi coletado. Este livro,em bela tradução, vai nos mostrando pedras

 preciosas, uma após as outras, sem haver esta~ belecimento de hierarquia entre elas. Todqsrevelam o sentido religioso e humano da exis...têncía concreta dos tzadikim dentro de umatradição religiosa viva e cheia de piedade.

Herman Hesse, referindo ...se a esta obra

de Buber, afirmou em carta datada de 1950:

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"Buber. como nenhum outro autor vivo, enri..queceu a literatura universal com um genuínotesouro" .

Pode ....se af irmar que Buber encontrou   ....seduas vezes com o Hassidismo.   A primeira, em

sua infância, quando acompanhou o pai duranteuma visita a uma comunidade hassídica deSadagora naGALíCIA (Polôni~). Nesta oca ..sião misturavam ....se a espontaneIdade de umacriança aberta ao mundo, que vive todas ~sexperiências e permanece nelas,. e .u.ma coiIlun~""dade que ainda retratava a prImItiva comum•.dade dos primeiros discípulos do Baal ..Schen •.-Tov. Em seu trabalho   "Meu caminho para o.

 Hassidismo"  ,   Buber, relatando aquele encontro,afirmou que recebeu tudo como criança, isto é,não com6pensamento mas como imagem e sen ..timento.

As recordações deste encontro desvanece •.ram através dos anos até que à procura de raí"zes e de sua auto ..afirmação encontrou •.se com omovimento sionista que representou um retornoao judaismo na vida de Buber. Foi então queum livro,   Testamento   de  Israel   Baal ....Schen....Tovcaiu •.lhe às mãos e sua   leitura fê•.lo ex perimen •.tar a alma hassídica; nessa época ele visl.~m•.

 brou o significado primitivo de ser judeu. Euvia aberto a mim",   diz Buber . "o juda{smo comoreligiosidade, como piedade. como Hassidismo.As imagens de minha infância,   a lembrança dotzadik e de sua comunidade me iluminaram eme levantaram.   e reconheci a idéia do homem

 per f eito. Ao mesmo tempo descobr i   .a vocação

de  proclamar isto ao mundo".   ("Meu C aminho par a   o Hassidismo",   pág.   89   d e   "H inweise").

 No juda{smo   da diáspora   .sem pre   houvecomunidades cujos membr os se chamavam"hassid"   (piedoso,   devoto).   O.   Hassidismo

sur giu na Polonia, no   século XVIII.   Car acte •.rizava •.se  por um   esforço de renovação da   mís....tica judaica  .. Um tr aço comum a   todas essascomunidades   .hassídicas é que por   .sua santi ....dade, piedade e união com Deus. aspiravam auma vida santif icada aqui na ter r a.   Esta novamanifestação do juda{smo é ,uma vida nova,   naqual o antigo e o tradicional são aceitos e se mos•.tram transfigurados na simples e cotidiana exis •.

tência de cada um. para lhe proporcionar umanova luz. Com o Hassidismo aparece um novosentido de piedade. A manifestação deste es....

 pírito de renovação se concretizava na pessoado tzadik, o mestre. o líder da comunidade. Ofundador do movimento foi R ,abi Israel benEliezer. apelidado de Baal Shen ..Tov.   o pos•.suidor do bom Nome (1700 1760).   Ele e seusdiscípulos se dedicaram à uma vida de fervor .alegria e piedade.   Representci\r am uma reaçãocontra o rabinismo tradicional.   na sua tendêncialegalista e intelectual; enfatizavam a simplici ....dade,   a devoção de cada dia..   na concretudede cada momento e na santificação de cadaação.   Esta ênfase na piedade e   no amor   deDeus tem suas raízes nos Profetas e nos Salmos;

Se quisermos situar o Hassidismo no   con....texto do Judalsmo pós .... bíblico,   podemos consi ..derá-Io.   segundo   M.   Fr iedman. como   o encon ..

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tio de três correntes: a lei judaica apresentadana Halakhah talmúdica; a lenda judaica ex . pressa na Haggadah; e a tradição mística ju .daica ou Kabbalah. O Hassidismo não admitedivisão entre ética e religião. Não há distinçãoentre a relação direta com Deus e a relaçãocom o companheiro. Ademais, a ética não selimita a uma ação ou a uma regra determinada. No Hassidismo a Kabbalah se tornou   ethos.afirma Buber; este movimento não reteve daKabbalah senão o necessário Dara a fundamen .tação teológica de uma vida 'inspirada na res . ponsabilidade ~e cada indivíd~uopela parte domundo que lhe foi confiada.

Buber resumiu assim o sentido da mensa...

gem hassídica: Deus pode ser contemplado emcada coisq.,e atingido em cada ação pura. "Oensinamento hassidico   é   essencialmente umaorientação para uma vida de fervor, em alegriaentusiástica" (Histórias do Rabi, p. 20). Esteensinamento não é uma teoria que existe inde... pendentementede sua realização. mas é acomplementação teórica de vidas realmentevividas por tzadikim e hassidim. Vê...se um

novo tipo de relação entre o mundo e Deus,que não é simplesmente panteÍsta, pois não háabsorção de um pelo outro. A imanência deDeus não im.plicaabsorção do mundo por Deus.Pelo contrário, ao afirmar esta relação, a dou .trina hassídica pode ser qualificada de panen .teÍsta, isto é, longe de uma identificação entreDeus e mundo ela signifi'cae afirma a realidadedo mundo como mundo...em...Deus. "O comércio

real do homem com Deus tem não só seu lu~r,mas também seu objeto no mundo. Deus se di...rige diretamente ao homem por meio destascoisas e destes seres que Ele coloca na sua vida:o homem responde pelo modo pelo qual ele se

conduz em relação a estas coisas e seres en .viados de Deus" (Prefácio de   Livros H assí .dicas,   dr. tradução francesa do prefácio narevista   Dieu uivant.   1945, p. 18).

O Hassidismo retoma o ensinamentodeIsrael e lhe dá uma expressão prática. Já queo mundo é a "morada" de Deus, ele se torna

 por isso -- do ponto de vista religioso ,......,umsacramento (idem). Para Buber, o Hassidismo

denunciou e afastou o perigo da separação en...tre a "vida em Deus "e a "vida no mundo".Buber considera, aliás, esta separação como o pecado original e a doença infantil de toda..religião". Ele ..eliminou efetivamente o muroque dividia o sagrado e o profano, ensinandoa executar toda ação profana como santificada.O Hassidismo realiza uma união autêntica econcreta. "Sem resvalar para o panteÍsmo", diz

.Buber",  ti

que aniquila ou debilita o valor dosvalores -- a reciprocidade da relação entre ohumano e o divino, a realidade do Eu e do Tuque não cessa mesmo à   beira da eternidade --o hassidismo tornou manifestas, em todos osseres e todas as coisas, as irradiações divinas,as ardentes centelhas divinas, e ensinou comose aproximar delas, como lidar comelas e, mais,como elevá...las. redimi,..lase reatá...las  à sua raiz

 primeira" (Histórias do Rabi, pág. 21). O

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Hassidismo ensina a todos a presença do Deus ..no mundo.

Como ser á o homem responsável pela ta-refa de realizar Deus no mundo? "Se dirigesa força integral de tua paixão ao destino uni-versal de Deus,   se f izeres aquilo que tens afazer, seja o que fôr ,  simultaneamente com todatua força e com essa.   intenção sagrada, aKavaná, reune Deus e a Schehiná,   eternidadee tempo. Para tanto não precisas ser erudito,nem sábio: nada é necessário exceto umaalma humàna,   unida em si e dirigida indivisa...mente para o seu alvo divino" (Idem,   p. 22).

O Hassidismo concretizou profundamente,Comonos mostram as  "Histórias do Rabi".   três

virtudes que se tornaram essenciais para a rea...lização da tarefa de cada um: o amor ,  a alegriae a humildade. Foi pelo amor que o mundo f oicriado e é através dele que será levado   à   per...feição. O temor de Deus é somente uma portaque leva ao amor de Deus, que ocupa lugar central na relação entre Deus e o homem. Deusé amor, é a capacidade de amar, é a mais pro...funda participação do homem em Deus.

A· alegr ia entusiástica pr ovém do reconhe .cimento da presença de Deus em todas as coi.sas.   A.   humildade é a procur a constante doverdadeiro si...mesmo que atinge sua perfeiçãocomo parte de um   todo,   de uma comunidade.Todas as virtudes atingem sua per feição pelaoração no sentido mais lato de qualquer açãosantificada em q ualquer   momento  d o dia ou danoite.

A ver d ad eira relação   com o tzadik susten...tará o hassid em sua   busca de  r ealização. Otzadik é o ampar ador    do cor  po e da alma. Agrande taref a   do tzadik é   faciltiar   aos   seushassidim a relação imed iata Com·Deus e nãosubstituí-Ia.   Ele deverá or ientar   .o hassid .   emsua tensão,   em seu ir-em-direção-a ...Deus. "Um·dos pr incípios fundamentais do hassid ismo",diz Buber , "é que o tzadik e o povo dependemum do outro ...   "   Sobre sua inter-r elação   re...

 pousa a realidade hassídica. "Aqui tocamosaquela base vital do hassid i~mo,   da qual seesgalha a vida entre entusiasma dores e entu-siasmados.  A relação entre o tzadik e seus d is...cípulos é tão somente a sua   mais intensa   con-

centração.   N esta relação,   a recipr ocidade sedesenvolve no sentido da máxima clareza.   Omestre ajuda os discípulos a se encontrarem e,nas horas de· depressão, os discípulos ajudamo mestre a reencontrar-se. O mestre inflama asalmas dos discípulos;  e eles o rodeiam e ilumi...nam. O discípulo pergunta e,   pela forma desua pergunta,   evoca, sem o saber, uma respostano espír ito do mestre, a qual não teria nascidosem essa pergunta".   (Histórias do r abi,   p. 25).

A vitalidade do fervor religioso,   o ensina...mento completado pela pr ática cotidiana   econcreta;   um novo   ti po de  r elação com Deusde "serviço" a Deus,   através do mundo;   u~

 profundo espírito de comunidade;   o amor comoelemento fundamental;   a   inter ...relação,   no au...têntico inter-humano do tzadik e seus hassadimformando a comunidade;   a alegr ia entusiástica;

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8/18/2019 Eu e Tu - Martin Buber Introdução 1 a 3

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o novo sentido do mundo e das relações dohomem com o mundo; a transposição da divi-são entre o sagrado e o profano, tais são al-gumas das principais facetas do ensinamentohassídico que marcaram decisivamente o pen~

samento e a vida de Buber.A intimidade de Buber com o hassidismo

repousa sobre uma inefável relação de simpa-tia.   Ela produziu um vínculo de autopatia, isto

é,   se Buber delapidou as "histórias" auxilian--do--as a se manifestarem mais claramente, domesmo modo,   a mensagem.   do hassidismo fe-,cundou e provocou o pensamento de Buber.Talvez se pudesse falar de remode1agem mú-

tua. O Hassidismo foi o farol .convidativo, de--cisivo e provocador de uma tomada de cons-ciência da tarefa e do sentido da existênciahumana no mundo.