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A MENSAGEM DO EVANGELHO E AS TRADIÇÕES DOS RABINOS 1. Vivência das tradições em família: a. Casamento (Nisu'im, םםםםםם): tem duas fases. A primeira (envolvimento, ןןןןןןן): o pagamento (kanah, ןןן) e o contrato (ketubá 1 , ןןןןן) com as condições (tenaim, ןןןןן). Mt 1,18a, Lc 1,27a, Is 7,14. Nessa ocasião o esposo dizia: Vou preparar-te um lugar na casa de meu pai . Jo 14,2. A segunda fase é a coabitação, kidushin (ןןןןןןן, santificação) porque somente pela presença de uma esposa a casa de um homem é santificada (Mt 1,18). O amigo do esposo prepara a cerimônia (Jo 2,9-11; 3,29). Ele avisa que o tempo da espera terminou (Mt 25,7). Duas procissões (1Mac 9,37-39; Ct 3,6- 11; Mt 25,1-13). No encontro dos esposos há uma festa (Mt 22,1- 14). Cabe ao pai do esposo consegui-lhe uma esposa (Gn 2,18.21-24; 24,4-5.53-58). Somente o homem era obrigado a casar-se. b. Adultério (Na'af, ןןן): não era exclusivamente uma relação sexual, mas atitude de deslealdade (no coração, Jo 8,3- 4). Entre as duas fases do casamento acontecia adultério (Mt 1,19). A pena era o apedrejamento (Jo 8,5; Lv 20,10). c. Divórcio (girushim, ןןןןןןן) e levirato 2 (yibum, ןןן) 3 : o que significa “qualquer coisa” em Dt 1 Ketubôt e kidushin são tratados talmúdicos da ordem Nashim. 2 Cunhado em hebraico yabam, em latim levir. 3 Tratados Yevamôt e Gittin do Talmud da Babilônia, ordem Nashim. 24,1? Em Mt 19,3, os fariseus se apegam a essa frase. Jesus retoma uma tradição antiga que está na LXX: “em caso de pornéia(depravação). A resposta de Jesus em Mt 19,4-6 remonta ao Princípio. O judaísmo valoriza muito o casamento (Ml 2,14-16). O divórcio não é um mandamento, mas uma permissão (Mt 19,7-9). O guett (ןן) para que a mulher não fosse repudiada, descartada. Ela deveria esperar 91 dias para se casar novamente caso não estivesse grávida. Somente o marido poderia dar o divórcio, mas a mulher podia denunciá-lo e exigir dele. Hoje chama-se sh'tar (reputação) o documento emitido pelo marido que libera a mulher para casar com outro. Quando a mulher ficava viúva sem filho homem devia casar-se com o cunhado (primogênito) para dar descendência ao falecido (Dt 25,5-6). O menino que nascesse seria o herdeiro legal do falecido. O levirato visava garantir a descendência (Gn 38) e manter as posses na família (Rt 4). O texto de Mt 22,23s supõe o levirato. Com a monogamia isso ficou quase impossível, nesse caso se recorre à halitsah 4 (liberar, ןןןןן) Dt 25,7-10 sem a qual a viúva não está liberada para casar-se com outro homem. Os askenazim não tem levirato e exigem a halitsah, mas os sefaradim ainda o praticam. Nos tempos bíblicos, sem esses procedimentos a viúva ficava sem meios para sobreviver e no tempo de Jesus 4 Ver tirar a sandália em Rt 4,7-8 e em Jo 1,27 e Mc 1,8.

Evangelho segundo os rabinos I

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Judaismo Messianico

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Page 1: Evangelho segundo os rabinos I

A MENSAGEM DO EVANGELHO E AS TRADIÇÕES DOS RABINOS

1. Vivência das tradições em família:

a. Casamento (Nisu'im, נישוים): tem duas fases. A primeira (envolvimento, אירוסין): o pagamento (kanah, קנה) e o contrato (ketubá1, com (כתובה as condições (tenaim, .(תנאים Mt 1,18a, Lc 1,27a, Is 7,14. Nessa ocasião o esposo dizia: Vou preparar-te um lugar na casa de meu pai. Jo 14,2. A segunda fase é a coabitação, kidushin (קידושין, santificação) porque somente pela presença de uma esposa a casa de um homem é santificada (Mt 1,18). O amigo do esposo prepara a cerimônia (Jo 2,9-11; 3,29). Ele avisa que o tempo da espera terminou (Mt 25,7). Duas procissões (1Mac 9,37-39; Ct 3,6-11; Mt 25,1-13). No encontro dos esposos há uma festa (Mt 22,1-14). Cabe ao pai do esposo consegui-lhe uma esposa (Gn 2,18.21-24; 24,4-5.53-58). Somente o homem era obrigado a casar-se.

b. Adultério (Na'af, נאף): não era exclusivamente uma relação sexual, mas atitude de deslealdade (no coração, Jo 8,3-4). Entre as duas fases do casamento acontecia adultério (Mt 1,19). A pena era o apedrejamento (Jo 8,5; Lv 20,10).

c. Divórcio (girushim, (גירושים e levirato2

(yibum, יבם)3: o que significa “qualquer coisa” em Dt 24,1? Em Mt 19,3, os fariseus se apegam a essa frase. Jesus retoma uma tradição antiga que está na LXX: “em caso de pornéia” (depravação). A resposta de Jesus em Mt 19,4-6 remonta ao Princípio. O judaísmo valoriza muito o casamento (Ml 2,14-16). O divórcio não é um mandamento, mas uma permissão (Mt 19,7-9). O guett (גט) para que a mulher não fosse repudiada, descartada. Ela deveria esperar 91 dias para se casar novamente caso não estivesse grávida. Somente o marido poderia dar o divórcio, mas a mulher podia denunciá-lo e exigir dele. Hoje chama-se sh'tar (reputação) o documento emitido pelo marido que libera a mulher para casar com outro.

Quando a mulher ficava viúva sem filho homem devia casar-se com o cunhado (primogênito) para dar descendência ao falecido (Dt 25,5-6). O menino que nascesse seria o herdeiro legal do falecido. O levirato visava garantir a descendência (Gn 38) e manter as posses na família (Rt 4). O texto de Mt 22,23s supõe o levirato. Com a monogamia isso ficou quase impossível, nesse caso se recorre à halitsah4 (liberar, (חליצה Dt

1 Ketubôt e kidushin são tratados talmúdicos da ordem Nashim.2 Cunhado em hebraico yabam, em latim levir.3 Tratados Yevamôt e Gittin do Talmud da Babilônia, ordem Nashim. 4 Ver tirar a sandália em Rt 4,7-8 e em Jo 1,27 e Mc 1,8.

25,7-10 sem a qual a viúva não está liberada para casar-se com outro homem. Os askenazim não tem levirato e exigem a halitsah, mas os sefaradim ainda o praticam. Nos tempos bíblicos, sem esses procedimentos a viúva ficava sem meios para sobreviver e no tempo de Jesus poderia recorrer a um juiz (Lc 18,3).

d. nascimento de um filho: quando nasce um menino é preciso que alguém, a quem se queira honrar, anuncie “nasceu um menino” (Jó 3,2), “um menino nos foi dado” (Is 9,5; Jr 20,14-16). As mulheres louvam a mãe “bendita és tu, bendito o fruto do teu ventre” (Lc 1,42); “bendito o teu ventre e os teus seios” (Lc 11,27); “que esta geração declare que és bendita” (cf. Lc 1,48). O recém-nascido era envolto em faixas para que ficasse aquecido, protegido de doenças tivesse a pele firmada (Ez 16,4; Lc 2,7.12).

O nome do menino era dado na circuncisão (berit

milah, ברית מילה ), 8 dias após o nascimento. É o pai quem deve impor o nome ao filho no momento em que o reconhece (Lc 1,59; 2,21). Por isso, o nome de Jesus não foi dado por José. Na ocasião ao nome do menino é acrescentado “filho de” (Lc 1,31-32 e genealogias). A circuncisão é uma marca de pertença ao povo e a Deus. Também havia o resgate do filho (pidion ha-ben,

פדיון הבן ) porque todo primogênito pertencia a Deus (Ex 13,11-16; Lc 2,22-24). Lucas não menciona o resgate de Jesus.

Os meninos eram educados pelas mães no conhecimento das tradições. No tempo de Jesus eles também freqüentavam escolas nas sinagogas. Aos 12/13 anos fazia o bar mitzvá ( מצוה בר ) quando estava preparado para assumir a religião e cuidar das coisas de Deus (Lc 2,41-50). O pai escrevia o filho para a cerimônia. O conhecimento da Torah ia da “ignorância” (am ha'aretz, הארץ ,(עם o am ha'aretz la-Torah não havia dos conhecimentos básicos e o am ha'aretz le-mitzvot quem não tinha estudado com os rabinos (Mc 6,2-3); At 4,13). O mais alto grau de estudo era o de talmid hakham (discípulo do sábio), ou seja, o estudioso das tradições (do Talmud5). O casamento de um talmid hakham com a filha de um am ha'aretz é comparado “ao cruzamento de videira verdadeira com uma videira brava, ou seja, inconveniente e desagradável”6. O pai ensinava sua profissão ao filho (Gn 1,27; 2,15.19; Mt 13,55; Mc 6,3; Jo 5,16-21).5 Conjunto de 63 tratados compilados pelos rabinos sobre vários temas, organizados em 6 ordens (grupos de assuntos).6 Pesahim 49a-b (Talmud, ordem Mo’ed).Aíla, nj ([email protected])