evangélico - caio fábio - sal fora do saleiro [rev]

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  • 8/7/2019 evanglico - caio fbio - sal fora do saleiro [rev]

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    SSaall FFoorraa ddoo SSaalleeiirroo

    Caio Fbio

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    C a p t u l o I

    OQUESERSALDATERRA?

    "Vs sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser inspido,como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senopara, lanado fora, ser pisado pelos homens." (Mateus 5:13)

    Nos dias de Jesus, todos os grupos religiosos de Israel viviam comosal dentro do saleiro. Alguns deles no mereciam nem ser chamados desal, porque tinham perdido completamente o sabor. A santidade,existencialmente, comea dentro, no interior do indivduo, mas tem sua

    representao na secularidade, no mundo. Os contedos cristos tem queser colocados de maneira que a sociedade humana os perceba, a fim deque o desejo de Jesus se cumpra; para que, vendo o carter da Igreja e suasaes, o nome do Pai, que est nos cus, seja glorificado. Isto ver areproduo do "jeito" de Deus no mundo, nos Seus filhos que, semelhana do Pai, so bondosos, generosos, sensveis para amar eperdoar, humanos, intensamente apaixonados pela obra, comprometidoscom a misso, conscientes do seu tempo e da sua hora e daresponsabilidade para com Deus e para com o mundo, respondendo a estecom o mesmo amor com o qual Deus reage todos os dias, fazendo vir solsobre maus e bons e chuva sobre justos e injustos:

    "(...) porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, evir chuvas sobre justos e injustos." (Mateus 5:45)

    Com isso Jesus estava querendo dizer:

    "Vivendo assim, afeta-se de tal modo a sociedade humana,constrangendo-a de maneira to profunda, impactando a 'conscincia' doplaneta, que se fora ainda que sem palavras, sem alardes, sem presses,sem manipulaes e sem tirania , o mundo, a despeito da vontade e daconscincia deste. Deste modo, fora-se o planeta a glorificar o vosso Paique est nos cus."

    No entanto, nos tempos de Jesus, no havia essa visualizao de seter um grupo humano vivendo em nome de Deus as implicaes de uma

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    f que produzisse no corao da sociedade humana essa resposta deperplexidade, de xtase diante da verificao da presena de Deus na vidade Seus filhos. Ao contrrio, havia grandes grupos religiosos vivendo,cada um a seu modo, uma vida seca, estril, oca e concomitantementealienada do planeta, cheios de motivaes religiosas e vazios de Deus. E

    quase sempre as motivaes religiosas daqueles grupos os impeliam auma relao de distanciamento do resto da vida em sociedade, por razesas mais distintas. Havia, por exemplo, o grupo dos essnios, os quaisviviam s margens do Mar Morto, afirmando, da maneira maismaniquesta possvel, a diviso entre o bem e o mal no mundo, alm deacharem que eram a semente dos filhos da luz do planeta, e que o resto dahumanidade estava fadada condenao e ao juzo. Por isso, omovimento dos essnios foi de retrao no apenas fsica e geogrfica,

    mas de alienao espiritual, mental, quase que total, acerca do queacontecia com o resto da histria humana, especialmente com Israel.

    Havia tambm o grupo dos fariseus, os quais no viviam separados,mas que assumiram para si uma "superioridade religiosa", os quais seconcebiam como o grupo religioso mais acentuadamente preocupado comas obrigaes e realizaes dos caprichos divinos na Terra. Caram numliteralismo total relativo Palavra de Deus. Se Deus dizia:

    "Guarda a Palavra na tua cabea."

    Eles amarravam uma caixinha de couro na cabea com umpedacinho da Lei dentro, e andavam com ela na testa. Se Deus dizia:

    "Pe a Minha Palavra no teu brao direito."

    Eles amarravam do mesmo modo caixas ao brao contendo poresda Escritura, objetivando dar uma materialidade total e absoluta, numainteno de cumprir a Palavra de Deus, literalmente. Se se dissesse:

    "Pe-na nos umbrais da porta da tua casa."

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    Eles faziam a mesma coisa. Viviam num literalismo absoluto, nocumprimento da Palavra. O que Jesus denunciava nos fariseus era essaexterioridade sem nenhuma conseqncia prtica, tal como a Palavra quecarregavam na testa como fetiche divino, mas que no era trazida nocorao, no humanizando a vida, no a tornando mais generosa, mais

    obediente; no a desafiando a uma proximidade maior de Deus, da SuaPalavra e da necessidade do prximo. Um outro grupo era o formadopelos Zelotes que assim se chamavam porque se achavam os portadoresda espada da justia divina no planeta. Segundo eles prprios, eramcheios de zelo para se fazer justia, seja ela poltica ou social. Tambm sealienavam do resto do mundo, no necessariamente por razes religiosasem funo de cerimoniais, liturgias ou pelas mesmas razes do legalismodos fariseus ou da alienao maniquesta dos essnios, alienavam-se do

    resto do mundo pelo simples fato de que eram politicamente obcecados,puristas, detalhistas, cheios de juzo, de preconceitos, dominados pelaidia de construo de uma teocracia na terra, a qual fosse constituda poruma sociedade que preconizasse os valores vividos por eles, exercendo opoder, em nome de Deus. Por isso, eram alienados do resto do planeta,vivendo sua prpria causa, suas prprias discusses, alimentados dentrodo seu prprio mundinho, fechados para as grandes demandas do resto

    da sociedade.Outro grupo contemporneo de Jesus era o dos saduceus, cuja

    maioria era formada de sacerdotes, portanto, trabalhando dentro dotemplo, oficiando, diante de Deus, todos os sacrifcios e todas ascerimnias. E, justamente por esta razo, presos dentro dum claustrolitrgico que no se comunica com as demais dimenses da vida. SurgeJesus, num ambiente religioso como este, e fala no necessariamente paranenhum daqueles grupos especficos, no Se dirigindo a uma platiaformada por essnios, fariseus, zelotes e saduceus, mas a uma platiaformada por gente que no tem "pedigree", que no carrega "grifes"religiosas, ou seja, a um grupo formado por pessoas do povo: pescadores,fiscais de impostos, prostitutas sensibilizadas, pais de famlia curiosos,mes esperanosas, gente simples que vem de todas as partes; gentedoente, angustiada, possessa, oprimida; gente sadia, gente alucinada,gente culpada, outras nem tanto; enfim, gente de todo tipo. Jesus olha

    para aquelas pessoas, vendo a semente de um novo tempo e de uma novacomunidade; vendo nelas o que ningum mais v; enxergando nelas umpotencial que s Deus consegue vislumbrar na pessoa humana. Jesus olha

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    para aquelas pessoas, cuja maioria no tinha nome, estirpe, precedidosapenas pelos primeiros discpulos que j naquela hora estavam setransformando em apstolos; os outros eram uma massa annima. E Jesuslhes diz, com toda esperana de Deus falando ao homem; com toda avontade Divina de ver a Sua Palavra Se materializar:

    "Vs sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser inspido,como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senopara, lanado fora, ser pisado pelos homens." (Mateus 5:13)

    Quando se observam os outros evangelhos e os movimentos deJesus, parece que, at aquele momento, no havia ningum consciente da

    possibilidade de se viver uma vida to fantasticamente desafiadora erevolucionria. Ningum jamais disse isso. Olhar para um grupo deexcludos, de indigentes e dizer-lhes:

    "Vs sois o sal da terra".

    Em outras palavras, Jesus estava lhes dizendo:

    "Vou transformar vocs naquilo que vai dar gosto ao mundo. Voujogar uma 'pitada' de Deus neste planeta. E conto com vocs para seremesse tempero da graa divina na Terra."

    COMO SER O SAL DA TERRA

    A questo : o que que Jesus estava tentando ensinar com essamensagem, com essa figura do sal, o qual no existe para estar dentro dosaleiro; que no existe para estar protegido, guardado, mas que sal daterra, e no sal dentro do sal; sendo sal dentro de um contexto totalmentediferente do seu prprio contedo de sal. O que Jesus est querendo dizerquando diz aos discpulos:

    "Vocs vo viver em meio a diferenas, a coisas que lhes soestranhas. Vou jog-los dentro de algo que radicalmente o oposto de

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    vocs. Vocs no esto no mundo para procurar uniformidade para assuas prprias vidas. Ao contrrio, vocs vo viver num ambienteessencialmente avesso a vocs, para que possam alter-lo."

    O que Jesus estava querendo dizer com isso? Pelo menos trs coisas.A primeira acerca da mensagem existencial que nos trazida por Jesus.Quando Ele diz "Vs sois o sal da terra", Jesus est afirmando umcontedo existencial extremamente diferente. Ele quer dizer:

    "Vocs vo ser o elemento diferenciador deste planeta, dando gosto Terra."

    A Terra a que Ele est-se referindo no a terra arvel e cultivvelna qual se pode plantar uma semente; mas a sociedade humana. Segundo

    Jesus, viver neste mundo no tem sabor, amargo; a existncia inspidae sem prazer. O que Jesus est dizendo que a Sua expectativa, quanto nossa existncia no mundo, a mais prazerosa possvel. Ningum fala desal, de gosto, de tempero, sem falar de uma existncia com sabor, alegria,incitamento, desafio e sem aventura. Quando Jesus nos diz que somos osal da terra, Ele nos afirma que a nossa vida tem que ser a maissaborosamente fantstica que esse mundo j viu, uma vez que ela tem deter, no seu cerne, um contedo de gosto para o desgosto da terra. Ele nos

    diz ainda que devemos ser o paladar de Deus nessa terra inspida, sendo oelemento que traz sabor a uma existncia inteiramente destituda de sabor.Agora, o que isso tem a ver com o projeto da existncia da Igreja noplaneta? s vezes, vejo muitos projetos eclesisticos existindo para tirar osabor, estragar o prazer e arruinar a vida. Onde h gosto, ns o tiramos.Onde existe a esperana, passamos a pregar o pessimismo. A segundacoisa que Ele est dizendo quando afirma que somos o sal da terra queh uma dimenso tica nessa vocao. Se por um lado levamos sabor ao

    mundo, levando-lhe um contedo existencial radicalmente diferentedaquele que o mundo tem em si mesmo, por outro lado no somos iguaisao mundo. Alis, a nossa utilidade, diz Jesus, est em que mantenhamosdentro da Terra, dentro da sociedade humana, enquanto damos sabor egosto, a diferena. "Vs sois o sal da terra".

    Ns somos o sal, a terra a terra. Quando o sal fica com gosto deterra, tornando-se inspido, vira monturo, no sendo possvel diferenci-lo

    de um monte qualquer. Para ser sal, tendo sentido e significao, torna-senecessrio manter o contedo imaculado. Destarte, a diferena no vai serestabelecida e medida por critrios visveis, como tamanho de cabelo, o

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    uso ou no de batom, o porte ou no de jias, o ter ou no ter... Adiferena no esta. A diferena tica, a qual se relaciona com as demaisdimenses da vida, comeando com as de natureza mais privada e indopara aquelas mais pblicas. No se est falando, aqui, de legalismos ou deliteralismos; porm da manuteno do esprito de justia, de verdade, de

    bondade, que se traduz em comportamento bondoso, que jamais se tornafrouxo, e de uma liberalidade humana que jamais se torna libertina, masque mantm um contedo de verdade, a qual no se transforma num"justicismo" executor, mas de uma verdade vivida em amor. Essadimenso diferenciadora, a qual se carrega, juntamente com Jesus, paradentro do mundo. Isso no pode ser negociado; isso no pode ser alterado.S quando se mantm isso que, mesmo nos vestindo como os outroscidados nossa volta; ainda que fazendo parte de uma mesma

    comunidade lingstica, portanto, falando uma mesma lngua; emborasendo pessoas vivendo uma mesma poca que outras, somos radicalmentediferentes da gerao da qual fazemos parte. A terceira coisa que Jesus dizquando afirma que somos o sal da terra algo relativo natureza social.

    A primeira dimenso existencial (leva-se gosto ao desgosto doplaneta) . A segunda dimenso de natureza tica (-ser sal na terra, e noda terra; -ser sal no dentro do saleiro, mas na terra, fazendo-se parte de

    algo que totalmente diferente da nossa natureza intrnseca, mantendo adiferena, porm, conservando o contedo) . A terceira diferena tem umadimenso social. Jesus no diz:

    "Voc o sal da terra."

    Mas:

    "Vs sois o sal da terra".

    Isso plural, comunitrio, coletivo, social. No umaandorinha sozinha trazendo o vero, porm uma revoada de pssarosesperanosos com uma nova poca, com uma nova estao. No umcavaleiro solitrio com a inteno quixotesca de transformar o mundo, noentanto algum inserido numa comunidade de f, olhando para fora edizendo:

    "Voc, eu, ns enfim, vamos viver como o sal da terra."

    Isso, portanto, conquanto no iniba nossos sonhos pessoais, nossaspotencialidades individuais e nossos desejos mais ntimos, tal dimensonos compele a rever a nossa vida, a nossa existncia e o nosso projeto

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    pessoal como tendo necessariamente que fazer parte de algo maior do quens, que o nosso prximo. No uma questo de ser o sal da terra, masde ns sermos o sal da terra, em nome de Jesus.

    METFORAS DO SAL

    Jesus usou a mesma idia do sal fora do saleiro, por meio de outroselementos contagiantes, quais sejam: o gro de mostarda e o fermento,elementos que penetram e que atingem outras realidades para alm de simesmos em alguns outros contextos, no Novo Testamento. VejamosMateus 13:31-32:

    "Outra parbola lhes props, dizendo: O reino dos cus semelhante a um gro de mostarda, que um homem tomoue plantou no seu campo; o qual , na verdade, a menor detodas as sementes, e, crescida, maior do que ashortalias, e se faz rvore, de modo que as aves do cu vmaninhar-se nos seus ramos."

    Nesta parbola a do gro de mostarda , Jesus usa uma outralinguagem, uma outra figura, um novo elemento, uma outra metfora, noentanto trazendo a mesma idia de que o reino de Deus contagiante,alterando o que est sua volta, penetrando nos ambientes e situaesexteriores, modificando-os. Interessante neste texto que h umadinmica nele, a qual de dentro para fora:

    "(...) O reino dos cus semelhante a um gro demostarda".

    O Reino dos Cus assemelhado a uma semente, a qual plantadana terra, enterrada, portanto; germinando, sai da terra, vindo de dentropara fora. Ele o Reino dos Cus aparece do lado de fora, porm vindo decontedos essenciais interiores; originando-se do smen, da semente, da

    essncia de vida.O segundo elemento de que Jesus lana mo: o fermento , enfocando

    a mesma idia, encontra-se em Mateus 13:33:

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    "Disse-lhes outra parbola: O reino dos cus semelhanteao fermento que uma mulher tomou e escondeu em trsmedidas de farinha, at ficar tudo levedado."

    Aqui tambm h uma dinmica: comea em um ponto, indo paraoutro, ou seja, de contedos afirmados que crescem, impregnando einvadindo outros mundos, outros ambientes.

    Parece que ao afirmar imagens desse tipo Jesus est afirmando,sobretudo, um princpio do Reino de Deus, o qual s tem sua eficcia, suarazo de ser se puder manter tal dinmica que vem de dentro para fora,de um ponto para o outro, ou esta de manter a diferena enquanto est

    presente, dando gosto onde h desgosto, proporcionando vida onde hmorte e desesperana, num processo sucessivo de relaes comunitriasimpregnadas pela conscincia da presena de Deus na vida daqueles quechamam ao Pai de Jesus Cristo de "Meu Pai".

    DO LADO DE FORA DO SALEIRO

    Jesus viveu os Seus trs anos de ministrio como sal fora do saleiro.E quando Ele nos diz "(...) Vs sois o sal da terra", Jesus nos est revelandoessa dinmica que consiste em afirmar que, primeiramente, alguma coisa ,e, depois que , passa a ser efetivamente dentro de um outro contedo.Quando vemos os trs anos do Seu ministrio, constatamos as aes clarasde Deus agindo, dando o Seu gosto ao desgosto da vida.

    Primeiramente, observamos os cenrios da liberdade de Jesus paraviver o gosto de Deus no desgosto da terra. Vale dizer que todos essescenrios so contrrios, avessos ao confinamento da religio. nasociedade, e no mundo, onde a vida mais acontece com toda a suaintensidade que Jesus se encontra. na vida em sociedade que Jesusmarca o Seu ponto, fazendo dela o Seu "point". Os "points" dEle no solugares tidos e consagrados como religiosos. So apenas "points". Um doslugares mais freqentados por Jesus conforme lemos nos Evangelhos foi a

    praia (Mateus 13:3; Marcos 4:1; Lucas 5:3; Joo 21:4) .Obviamente que a praia dos tempos de Jesus no se compara com as

    praias dos dias de hoje, no sendo Jesus um "rato de praia" (embora eu,

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    particularmente, tenha gostado muito de uma entrevista apresentada peloPare & Pense, em que o surfista Joj de Oliveira, no quadro Atletas deCristo, sendo entrevistado pelo Alex Dias Ribeiro, lhe disse que Jesus foi oprimeiro surfista da terra, porque andou por sobre as guas) . A praiarepresenta um contedo de liberdade, de amplitude; uma geografia sem

    confinamento, livre, sem fronteiras, pela qual as pessoas passam semimpedimentos. Essa a praia, a beira-mar da Galilia dos gentios, emIsrael. A praia, para Jesus, constitui-se num dos cenrios prediletos do Seumover. Outra expresso freqente que encontramos nos Evangelhos, comrelao a Jesus, "a caminho" (Mateus 20:17; Marcos 8:27; Lucas 10:38;Joo 12:12) , mostrando que Ele vive a glria de Deus, o amor pelo Pai, agraa divina e a misericrdia eterna do Criador de todos os seres com aliberdade de quem esbanja tudo isso pelo caminho. Jesus tambm

    freqentava vrios banquetes, pois era neles que encontrava os pecadoresque precisavam ser salvos: "Ento lhe ofereceu Levi um grande banqueteem sua casa; e numerosos publicanos e outros estavam com eles mesa.Os fariseus e seus escribas murmuravam contra os discpulos de Jesus,perguntando: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores?Respondeu-lhes Jesus: Os sos no precisam de mdico, e, sim, os doentes.No vim chamar justos, e, sim, pecadores ao arrependimento." (Lucas

    5:29-32)Jesus freqentava os cenrios do dia-a-dia, como o submundo pelo

    qual Ele tambm passou. Um bom exemplo disso foi a "entrada" dele navida dos gadarenos pagos, criadores de porcos e desprezados pelosjudeus. (Marcos 5:1-17) . Jesus pregava em praa pblica, no comrcio, nacasa das pessoas.

    Por exemplo, na casa de Zaqueu (Lucas 19:5) , na casa de Jairo

    (Lucas 8:41) , em casa de fariseu (Lucas 7:36) . Jesus tambm pregava nocampo, local onde Ele faz comparaes marotas:

    "Olhem! Vocs querem saber como Deus ? Olhem os lrios docampo. Salomo, coitado, era um pobreto diante da riqueza com queDeus veste esses lrios!... A glria de Salomo plida diante desses lrios.Olhem para eles. Vejam que extravagncia Divina".

    essa mensagem que sai da terra, que sai do campo, que sai da gua,

    que sai da mesa, que sai da montanha, local onde Ele se recolhe, onde Eleora, onde Ele ensina um grupo menor; lugar onde Ele faz o sol se ofuscar,se ocultar diante do Seu rosto reluzente, quando da transfigurao

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    (Mateus 17:2) . Em outras palavras, em relao aos cenrios do evangelhonos quais Jesus atuou, ns O vemos realizando, na prtica, o que Joodisse acerca da Nova Jerusalm, quando a vislumbrou dizendo que nelaencontrou rio cristalino (Apocalipse 22:1) , praa (Apocalipse 21:21) ; noentanto, no foi encontrado ali santurio:

    "Nela no vi santurio..." (Apocalipse 21:22a)

    Jesus, ento, j vive uma "avant-premire" da Nova Jerusalm, demodo que aonde Ele vai, a glria de Deus vai junto; Ele vai a um cemitrio,a uma tumba e a ressurreio acontece; Ele vai a um casamento e a guatransforma-se em vinho; enfim, aonde Ele vai, a glria do Cordeiro estpresente. Naqueles trs anos do ministrio de Jesus, no apenas vemos aatuao de algum que vive na prtica o compromisso de dar gosto aodesgosto do mundo, nos cenrios os mais diversificados, mas tambm amanifestao disso nos relacionamentos construdos por Ele nosevangelhos.

    Ser sal da Terra pode significar ser pastor de prostitutas. Ser sal daterra pode significar tornar-se amigo de fiscais corruptos, embora isto no

    signifique cumplicidade naquilo que praticam, mas, sim, ter um coraoaberto para eles, no fechando-lhes a porta. Ser sal da terra significa dargosto vida desgostosa dos lamuriantes, dos oprimidos, dos doentes, dosestivadores que carregam cargas pesadas tanto fsicas, como emocionais eespirituais, aos quais Jesus diz:

    "Vinde a mim todos os que estais cansados e

    sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vs o meujugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde decorao; e achareis descanso para as vossas almas. Porqueo meu jugo suave e o meu fardo leve." (Mateus 11:28-30)

    Em outras palavras, Jesus est dizendo:

    "Vinde a mim, vs que sois estivadores do diabo. Parem de carregaressa carga, porque o meu jugo e suave e o meu fardo leve."

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    Ser sal da terra, nesse contexto, significa ser gente para osdesumanizados; significa trazer esperana de Deus queles cujoshorizontes so limitados. H pessoas que vivem uma vida to limitadaque no conseguem perceber que um dia nasceram e que um dia vomorrer. O mnimo que um indivduo pode ter de tirocnio histrico

    poder dizer:"Sei que um dia nasci, e que um dia morrerei."

    Mas, h pessoas que nem lembram que nasceram e que um dia vomorrer. At que vem Jesus invadindo tais vidas, ajudando-as a olhar paratrs e dizer:

    "Eu nasci para um propsito."

    Jesus vem, ajudando-as a olhar para a morte e dizer como o apstoloPaulo:

    "(...) Tragada foi a morte pela vitria." (I Corntios 15:54b)

    De modo que tais pessoas podem dizer:

    "Eu no sou eterno, mas tenho vida eterna. Eu no sou eterno, masestou imortalmente ligado vida do Senhor Jesus."

    Jesus vem ao mundo para se relacionar com pessoas desse tipo:prostitutas, pessoas corruptas e corrompidas, doentes, funcionriospblicos, militares, religiosos e irreligiosos.

    Para Jesus, "o que cair na rede peixe". por isso que Ele conta aparbola que diz:

    "O reino de Deus ainda semelhante a uma rede que,lanada ao mar, recolhe peixes de toda espcie." (Mateus13:47)

    Atente para a parte final do versculo: "(...) recolhe peixes de todaespcie." Jesus acaba com o "nazismo religioso", com a seletividade e com

    a segregao religiosa, recolhendo todos os tipos de pessoas.

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    "E quando j est cheia, os pescadores arrastam-na para apraia e, assentados, escolhem os bons para os cestos, e osruins deitam fora. Assim ser na consumao do sculo:Sairo os anjos e separaro os maus dentre os justos".(Mateus 13:48-49)

    Para Jesus, "caiu na rede peixe".

    A terceira coisa que vemos na vida de Jesus nos Seus trs anos deministrio, vivendo como sal de Deus, dando gosto ao desgosto do mundo, a qualidade do contedo da Sua mensagem, que era uma mensagempara o lado de fora. Os temas dos discursos de Jesus so os maiscorriqueiros possveis, ou os mais prximos da realidade humana.Dinheiro, por exemplo, um tema sobre o qual Ele fala bastante, no para

    pedir, como s vezes se faz hoje em dia, desesperadamente, usando o Seunome. Todos ns precisamos de dinheiro, no se podendo ser romnticocom relao a isso. Todos precisamos de dinheiro para fazer a obra deDeus. Mas o dinheiro no o objetivo da nossa espiritualidade. Umpastor , certa vez, contou-me sobre uma igreja a qual ele visitou, ondeassistiu a um dos espetculos mais estarrecedores e pavorosos de sua vida.Contou-me ele que uma pessoa, frente da igreja, dirigia-se s outrasdizendo:

    "Vocs no querem me dar dinheiro por qu? Vocs acham que eusou ladro? Se vocs do dinheiro para algum, dem para mim. Se vocsno do para mim, acabam dando para outro ladro. Ento, dem paramim, porque, ao menos, este aqui ladro de Deus."

    Aquele meu amigo me disse ainda que o pastor daquela igrejaconseguiu tirar tudo. Disse ele que primeiramente aquele pastor pediu R$

    10.000. Ningum deu. Depois R$ 5.000.Ningum deu. Mas de R$ 500,00 para baixo, ele conseguiu alguns

    cheques. E, j ao final, ele pediu:

    "Agora, aqueles que s tm o da passagem!"

    Um monte de gente levantou-se. E ele disse:

    "Ento, venham aqui. Dem, porque se vocs no derem, Deus no

    vai abeno-los."No era esse o dinheiro sobre o qual Jesus falava. Jesus falava do

    perigo do dinheiro, ao nos dominar, entrando em nosso corao,

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    tornando-se o nosso referencial absoluto, o nosso amor, a nossa paixo,tornando-nos escravos dele.

    Jesus tambm mostrou a natureza do dinheiro, a qual perversa namaioria das vezes, e de como s a graa de Deus coloca o dinheiro numadireo que pode dar glria para Deus. Jesus falou de tudo: de juzes, detribunais, de vivas pobres (Marcos 12:43) ; falou de filhos que saem decasa e de outros que ficam aborrecidos dentro dela (Lucas 15:11-32) ; faloude como se constri uma casa, desde a preparao dos seus alicerces(Mateus 7:24-27) ; falou de receita de cozinha (Mateus 13:33) ; falou demoedinhas perdidas (Lucas 15:8) ; falou de plantao e de como aquiloque plantado pode ser destrudo por outras sementes ruins (Mateus13:24-30) ; falou de rvores que no do fruto (Mateus 3:10) ; falou de

    assaltos em estradas e de como, s vezes, religiosos passam, indiferentes, tragdia e dor humana, ao passo que outros que no tm nenhumaconfisso de nenhuma religiosidade so os mais solidrios (Lucas 10:25-37) ; falou do drama dos trabalhadores (Lucas 10:7b) ; falou de talentos ede recursos que so mal utilizados, guardados ou timidamente enterrados(Mateus 25:24) ; enfim, falou da vida.

    Jesus falou pouco de anjos, os quais so mencionados por Ele, namaioria das vezes, num plano escatolgico, final.

    SALGANDO A TERRA

    Olhando para a vida de Jesus, o que devemos fazer?

    Olhando para as mensagens que Ele pregou, para os cenrios por

    onde Ele andou, para os relacionamentos que Ele teceu e construiu;olhando para o fato de que ns somos o sal da terra e tendo conscincia deque foi Ele Jesus quem mais salgou o planeta, sendo pelo gosto que Eletrouxe a este mundo que vivemos at hoje, seno a vida seria impossvel;olhando, enfim, para a Sua vida, como que ns devemos viver? Primeiro,precisamos rever o cenrio da nossa misso.

    Comparemos o cenrio da nossa misso com o da misso de Jesus.

    Vivemos, s vezes, uma enorme ironia. Sabe qual ?Quando chegamos ao mundo, com todas as suas categorias,

    contedos e realidades, em geral, nos aquietamos, nos amordaamos,

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    engolindo o discurso j pronto, fazendo o exerccio do mimetismo,tornando-nos exatamente iguais, no na aparncia, mas nocomportamento. Assim, nos dirigimos para esse ambiente protegido, que o saleiro, que a igreja, na qual abrimos o peito, "trovejando" a justiadivina, pregando e assumindo a ousadia fantstica de servos do Senhor.

    Mas, na igreja que podemos estar quietos, sem a necessidade deestarmos nos afirmando tanto, por estarmos no meio dos nossos irmos. o local no qual devemos olhar para dentro de ns mesmos, tratar nossasferidas. Mas o que acontece? Parece que subimos num palco, preocupadoscom a "performance", com o desempenho, com a teatralidade. L fora, noentanto, que o lugar do encontro, do confronto, de olhar no olho dooutro, que o lugar da verdade, que o lugar de ser, simplesmente nosembutimos dentro de ns mesmos, sendo dissolvidos no nada. De modo

    que a nossa misso acaba sendo afirm-la para aqueles que a conhecem eque no a fazem no cenrio onde ela deveria ser feita, ainda que falandodela num lugar onde ela no existe, e falando dela para missionrios semmisso, porque no lugar de se faz-la, voltamos para a igreja, dizendo quetemos uma misso que, na verdade, no vivemos. Deste modo, o cenrioda misso passa a ser o saleiro, sendo sal dentro do saleiro, sal do sal, luzda luz.

    Geralmente, aqueles que vemos do lado de fora com coragem debradar, so xiitas que esto muito mais para muulmanos do que paracristos. So os "guerreiros raivosos", que usam o nome de Jesus. O livroque usam a Bblia, no o Coro, mas a espiritualidade deles muulmana. Estes no so o sal da terra; so os "megafones" da terra, nohavendo neles nada, alm de gritaria. O que quero dizer com isso queno adianta s ir para as praas pblicas pregar, cantar, ou ento ir para asrdios, TVs, escrever livros, se a mensagem no estiver coerente com avida e com as atitudes. Vai-se levantar uma bandeira religiosa, mas no seestar sendo sal.

    Portanto, devemos comparar os cenrios da misso de Jesus com osda nossa. Pensemos nos da dele: beira mar, a caminho, no banquete, emcasa, na vida, no submundo, entre as pessoas. Onde que andamosfalando de Jesus? Ser que s quando nos sentimos em maioria?Raramente vejo algum testemunhando de Jesus, quando esse algum

    minoria.Segunda coisa rever os nossos relacionamentos e o tempo que ns

    investimos neles. Vejamos o tempo que Jesus investia em gente do lado de

  • 8/7/2019 evanglico - caio fbio - sal fora do saleiro [rev]

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    fora do saleiro. Eu fico pensando, por exemplo, nos meus relacionamentos.Eu me converti h 22 anos passados e os meus relacionamentos eramtodos do lado de fora do saleiro. Eu era terra da terra e p do p. QuandoJesus entrou na minha vida, Ele desafiou-me a ser sal da terra. Numprimeiro momento, eu vim do mundo para a misso.

    Comecei a pregar em todos os lugares. Alguns amigos comearam adizer sobre mim:

    "Ele parece um carro velho; onde para, prega."

    Depois dessa primeira fase (do mundo misso) vem a segunda: damisso ao monastrio. Esta se d quando descobrem que algum estfazendo misso e convidam esse algum para ensinar como faz-la. Com

    isso vai-se deixando a esquina, a praa, a vida, ficando distante dolinguajar do cotidiano, comeando a usar uma outra linguagem, ficando-se extremamente sofisticado; o nmero de pessoas que antes o entendiamdiminui a cada dia. No meu caso particular, eu me vi falando a pessoasque gostavam de ouvir sobre misso, as quais sentiam um "cafunmissionrio" invadindo o corpo delas todo, ficando to concentradas noque ouviam, que experimentavam a sensao de que, enquanto elesouviam, o mundo melhorou s porque pensaram em misso.

    Depois veio uma outra etapa: do monastrio misso no mundo.Nunca me senti tanto fazendo misso no mundo como nos ltimos 5 anos.Fazendo misso num mundo no qual nem se pode imaginar que se podefazer misso, at que se comea a perceber que pode haver luz brilhandonele; que um olhar, que um sorriso, que um gesto, as mais insignificantesexpresses, a linguagem, o falar e o silenciar esto gerando uma revoluodentro das pessoas. At que se comea a perceber que elas vo se

    sensibilizando, vulnerabilizando-se diante de algo que mais forte do queelas. De forma que elas comeam a querer ouvir tais palavras de gosto,comeando a dizer:

    "Eu no sou evanglico. Para ser franco, eu no gosto de evanglico.Mas, h algo que vocs falam que fascinante."

    Esse algo s pode ser Jesus de Nazar. Ento, comea-se a descobriro quanto nossa vida pode ser contagiante, provocativa, revolucionria,

    perturbadora e prazerosamente divina. A segunda coisa, portanto, quedevemos fazer rever os nossos relacionamentos, tendo que reaprender oque ser gente para uma gente que no sabe o que ser gente; tendo que

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    lidar com pago; tendo que lidar com incrdulo, vendo nele um crente empotencial, em nome de Jesus. s vezes no se d a mnima importncia aum incrdulo. Conforme vou encontrando os incrdulos mais incrdulosdeste mundo, cumprimento-os dizendo-lhes:

    "Como que vai meu querido irmo?"

    A, o sujeito leva aquele susto:

    "Mas eu no sou evanglico!..."

    "Mas quem est falando de 'evanglico'? Eu estou falando deencontrar Deus, Jesus."

    O sujeito j vai ficando sensibilizado, s vezes at atemorizado.

    "No precisa ficar com medo ou preocupado. Eu no vou maltrat-lo."

    Com essa postura, comea-se a olhar para as pessoas vendo nelas oque elas podem ser. Como que voc acha que Jesus olhou para Pedro?Pedro no estava pescando, trajando colarinho clerical, nem tampoucomitra sacerdotal. Era um pescador desgrenhado. Jesus olha para ele e diz:"Eu sei o que voc pode ser. Eu o farei pescador de homens."

    Esse olhar um olhar prospectivo, vendo apstolos em pescadores,servas de Deus em prostitutas, escritores em fiscais de rendas:

    "Vem c, Mateus. A partir de hoje voc vai deixar de contar dinheiro,para contar a histria das histrias. Voc vai escrever acerca da BoaNova."

    assim que Jesus vai vendo, no dando a mnima importncia aoque eles eram, chegando a ser ridiculamente simples.

    E l vai Mateus largando caneta, papel, mesa, atropelando todomundo e dizendo:

    "Como que ?! Eu no sei de nada!

    "No faz mal, no. Voc aprende."

    construindo vnculos inimaginveis, vendo Deus onde ningum Ov, vislumbrando potencial onde ningum o enxerga, visualizando genteonde ningum v gente, vendo irmo onde s h inimigo.

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    Terceira coisa que precisamos fazer rever a nossa mensagem. Noestou me referindo a pastores apenas. A pastores evidente. Temos queparar de pregar essa "abobrinhada" que temos falado. Nem a mulheragenta mais ouvir o marido, indo os filhos para a igreja de um outropastor. Se um pastor quer ver se a mensagem que ele prega tem alguma

    significao, basta ver como que esposa e filhos o olham. Temos querever os temas das nossas mensagens. H temas dos quais s evanglicosgostam. necessrio que um pastor decida se vai pregar sobre um temaque s evanglico gosta ou sobre um tema que vai impactar o mundo.Para fazer que uma igreja delire. No preciso ser ungido, estar cheio doEsprito Santo; basta saber apertar o boto certo, que a igreja vai loucura.Infelizmente, isso verdade. Encontro, todos os dias, um bando desalafrrios fazendo isso, no acreditando nem na mensagem que eles

    mesmos esto pregando. Um dia, ouvi uma histria de um arquiteto queestava projetando uma igreja. A pedido do pastor, logo na entrada delahaveria uma cruz. Ele tambm queria que fosse colocado algumdispositivo naquela cruz, a fim de que, quando algumas pessoas atocassem, sentissem uma espcie de vibrao. " para criar um clima!"justificou-se o pastor.

    Vejo tambm igrejas com determinadas "modas"; uma passa, outra

    vem. Muita gritaria, muita manifestao fantstica, muita coreografia,muita empolgao na celebrao, mas para a Palavra, pouco estudo,pouco compromisso. imprescindvel decidir se se quer falar paraagradar a egos adoecidos de uma parte dos evanglicos ou se se quer sersal da terra.

    C a p t u l o I I

    SENDOSALFORADOSALEIRO"E no aparecendo, havia j alguns dias, nem sol nemestrelas, caindo sobre ns grande tempestade, dissipou-seafinal toda a esperana de salvamento. Havendo todosestado muito tempo sem comer. Paulo, pondo-se em p nomeio deles, disse: Senhores, na verdade era preciso terem-me atendido e no partir de Creta, para evitar este dano eperda. Mas, j agora vos aconselho bom nimo, porquenenhuma vida se perder de entre vs, mas somente o

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    navio. Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quemeu sou e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo:Paulo, no temas; preciso que compareas perante Csar,e eis que Deus por sua graa te deu todos quantos navegamcontigo. Portanto, senhores, tende bom nimo; pois euconfio em Deus, que suceder do modo por que me foi dito.Porm necessrio que vamos dar a uma ilha." (Atos27:20-26)

    No Captulo anterior, falou-se acerca do ser sal fora do saleiro, dosal que d gosto ao desgosto da vida, trazendo-lhe o sabor de Deus existncia. Neste, estaremos abordando comparativamente, duasexperincias de relacionamento humano completamente distintas. Aprimeira, a de Jonas, o profeta, que entra num navio para fugir de Deus e

    no o consegue, tendo o seu propsito malogrado. A segunda, a de Paulo,o apstolo, que entra num navio, como prisioneiro, a fim de cumprir avontade de Deus e o faz a contento, tendo a sua atitude conseqnciasextraordinrias. So duas experincias vividas por personagens emcontato com sociedades pags. Jonas, viajando num navio cosmopolitano,no qual havia pessoas que tinham crenas em deuses os mais diversos(Jonas 1:5) . Paulo tambm estava viajando num navio cosmopolitano,cercado de presos, com um nmero de tripulantes e passageiros chegandoa 276 pessoas (Atos 27:37) . Tal navio era capitaneado por um centurioromano (Atos 27:1) e com uma tripulao provavelmente grega. O queacontece com esses dois personagens totalmente diferente, ainda queviajando em navios, e no mesmo mar o Mediterrneo; apesar de amboschamarem o mesmo Deus de Deus (Jonas 2:6b; Atos 27:23) ; conquantofaam suas oraes para o mesmo Ser espiritual, crido como o Deus nico,verdadeiro e eterno. Mas, as respostas que cada um d a Deus so

    distintas, pelo simples fato de que as compreenses de cada um delessobre o mundo, sobre a histria, sobre o prximo, sobre as religies, sobreas culturas e sobre as sociedades humanas eram radicalmente distintas.Ento a questo : por que que Jonas no consegue salgar o ambienteonde est, ao passo que Paulo consegue contagiar, contaminar com suavida as pessoas que estavam sua volta?

    Jonas o sal que no quer salgar; Paulo o sal que quer salgar aterra inteira. Por qu? Por causa de possurem teologias diferentes. Jonastinha uma teologia da segregao, do apartheid, a teologia do "eu-sou-mais-santo-do-que-o-resto-da-sociedade", uma teologia da eleio de Deusque trabalhava contra a incluso do eleito no mundo, sendo uma eleio

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    que exclua e que era exclusiva aos eleitos, portanto exclusiva e excludente.J Paulo, mesmo se concebendo como um eleito para a misso de Deus noplaneta, via tal eleio como inclusiva, inserindo-o na graa e na bondadede Deus para o mundo todo. Jonas se imagina algum que tem a missode separar os homens. Paulo, porm, se entende como algum que tem

    diante de si a misso de destruir muralhas, barreiras, com o propsito dechamar os diferentes a uma s f em um s Senhor, que Jesus Cristo.Veja como so importantes as nossas concepes, nossa viso da realidadeque nos cerca. No basta chamar Deus de Pai, no basta dizer que JesusCristo o Senhor; no basta proferir palavras como salvao, redeno elibertao, at porque em si mesmas elas no significam nada. Quandoalgum chama Deus de Pai, ele pode estar chamando Deus de pai namesma perspectiva por meio da qual filhos caprichosos chamam seus pais

    de pais, ou seja, eles tm uma relao doentiamente fechada e confinadacom quem chamam de pai, no conseguindo v-lo e nem a si mesmoscomo fazendo parte de um relacionamento mais amplo com o resto dacomunidade humana. Quando algum chama Jesus de Senhor, isso nosignifica muita coisa. s vezes, ouve-se algum dizer que Jesus o Senhor,e realmente Jesus o dono de sua vida. No entanto, ouve-se, s vezes, umoutro algum chamando Jesus de Senhor, todavia com uma significao

    de ditador, de "Hitler" de sua vida, no vendo a submisso como umaprerrogativa da misso, mas confundindo misso com dominao.

    Avaliar as palavras que usamos, como tambm os contedos queelas veiculam, fundamental, visto que elas refletem e traduzem, dealgum modo, a nossa compreenso do mundo e a nossa resposta a Deus e vida.

    SALGANDO OS RELACIONAMENTOS

    Outra coisa que deve vir nossa mente para que entendamos comoessas duas pessoas Jonas e Paulo so to diferentes no meio em que atuam, a que tem a ver com o resultado da resposta deles aos contextos em quecada um se insere. Ambos estavam num navio, sendo fustigados por umatempestade avassaladora, cercados de pessoas pags, vivendo uma

    situao imensamente tensa e dramtica, no limiar entre a vida e a morte,mas, conquanto tais circunstncias tenham sido experimentadas porambos, a reao de cada um deles diferente diante delas. Jonas tem uma

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    viso excludente, portanto, que exclui, porque pensa nos ninivitas comoinimigos do povo de Deus, declarando guerra queles que sopoliticamente diferentes dele, sucumbindo a um nacionalismo fascista,pensando em si e no povo de Deus como eleitos e separados do contato edo convvio com o resto da sociedade humana. Em virtude dessa viso de

    mundo, conseqncias trgicas se evidenciam na sua vida. Primeiraconseqncia trgica na vida de Jonas se explicita no fato de que ele noconseguia amar os diferentes, s amando os iguais. Se gente como ele,este consegue amar, porm sucumbindo reao dos pagos, aos quais jse referia Jesus, dizendo acerca deles que tratavam bem queles que ostratavam bem; tratavam mal aos que os tratavam mal; amavam aos que osamavam; enfim Jesus falava sobre a previsibilidade do pago: d-se bemcom quem igual; d-se mal com quem diferente.

    Jesus, porm, recomendou-nos o contrrio, dizendo que deveramosquebrar a previsibilidade relacional na sociedade:

    "Ouvistes que foi dito: Amars o teu prximo, e odiars oteu inimigo. Eu, porm, vos digo: Amai os vossos inimigos eorai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos dovosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre

    maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque seamardes os que vos amam, que recompensa tendes? Nofazem os publicanos tambm o mesmo? E se saudardessomente os vossos irmos, que fazeis de mais? No fazemos publicanos tambm o mesmo?" (Mateus 5:43-47)

    "Digo-vos, porm, a vs outros que me ouvis: Amai osvossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizeiaos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam. Ao quete bate numa face, oferece-lhe a outra; e ao que tirar a tuacapa, deixa-o levar tambm a tnica; d a todo o que tepede; e se algum levar o que teu, no entres emdemanda. Como quereis que os homens vos faam, assimfazei-o vs tambm a eles." (Lucas 6:27-31)

    O prprio Paulo, escrevendo aos cristos de Roma, advertiu-osquanto a isso:

    "Pelo contrrio, se o teu inimigo tiver fome, d-lhe decomer; se tiver sede, d-lhe de beber; porque, fazendo isto,

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    amontoars brasas vivas sobre a sua cabea. No te deixesvencer do mal, mas vence o mal com o bem." (Romanos12:20-21)

    Pagos e incrdulos so os que se do bem com os iguais; cristos

    amam os diferentes. A segunda conseqncia trgica que acontece na vidade Jonas que ele queria fazer misso entre aqueles de que gostava, numaespcie de misso da auto-afirmao, a qual no constri nada, uma vezque destinada queles que so obviamente complacentes ao que lhesest destinando a palavra; a misso entre aqueles que assimilam ummesmo ponto de vista.

    Misso, para Jonas, significava preservao do povo de Israel, nosendo ganhar aqueles que estavam distantes de serem ganhos. Erainconcebvel para ele abraar os ninivitas repudiveis, os inimigospolticos do povo de Israel. Por isso, Jonas preferiu no ter um futuro a terum presente com quem ele no gostava, preferindo que sua vida notivesse futuro algum, e no querendo, sob nenhuma hiptese, viver comquem ele no se d bem. Jonas, de certo modo, daquele tipo de genteque diz: "Se no cu vai ter ninivita, eu prefiro ficar no inferno."

    Com isso, Jonas se torna amargo, custico, hostil, em guerraprofunda dentro de si mesmo contra aqueles que acha que so inimigosdo povo de Deus. Seu mundo reduz-se a um determinado universo: hpessoas "convertveis" e pessoas que, mesmo querendo se converter, Jonasno as queria.

    "Se eu fizer apelo, e algum ninivita se converter, fao de conta queno vi e termino o culto antes. poderia pensar Jonas. Em contrapartida,veja como a compreenso que Paulo tinha de Deus permitia-lhe ter um

    significado de misso totalmente diferenciado do de Jonas. Primeiramente,Paulo dizia que preferia se perder a perder aqueles pelos quais Jesusmorreu:

    "Digo a verdade em Cristo, no minto, testemunhandocomigo, no Esprito Santo, a minha prpria conscincia. (...)porque eu mesmo desejaria ser antema, separado deCristo, por amor de meus irmos, meus compatriotas,segundo a carne." (Romanos 9:1 e 3)

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    O compromisso de Paulo era to levado a srio que a sua prpriavida poderia ser destruda, aniquilada e arruinada, no querendo, demodo algum, que ningum por quem Jesus morreu viesse a se perder, noimportando se era judeu ou gentio, se era escravo ou livre, se eramonotesta ou politesta, se era crente ou pago. Paulo concebia o mundo

    como feito por Deus, para Deus e que por isso devendo se reconciliar comDeus. Em razo disso, ele fazia de tudo para com todos, para ver seconseguia salvar alguns:

    "(...) Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todosos modos, salvar alguns." (I Corntios 9:22b)

    Em virtude disso, mesmo no fim da vida trado, espoliado,abandonado, sendo "passado para trs" por alguns que diziam ser seusamigos mas no eram, Paulo escreve a segunda carta a Timteo (Captulo4) , onde se v o "apagar das luzes" de sua vida, mas tambm se v achama viva da f na sua alma, continuando a sonhar com o mundo quevai ser impactado pela graa de Deus e pelo evangelho de Jesus Cristo:

    "Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas, tendoamado o presente sculo, me abandonou e se foi paraTessalnica; Crescente foi para a Galcia, Tito para aDalmcia. Somente Lucas est comigo. Toma contigo aMarcos e traze-o, pois me til para o ministrio. (...)Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhorlhe dar a paga segundo as suas obras. (...) Na minhaprimeira defesa ningum foi a meu favor; antes, todos meabandonaram. Que isto no lhes seja posto em conta. Mas o

    Senhor me assistiu e me revestiu de foras, para que, pormeu intermdio, a pregao fosse plenamente cumprida, etodos os gentios a ouvissem; e fui libertado da boca do leo.O Senhor me livrar tambm de toda obra maligna, e melevar salvo para o seu reino celestial. A ele, glria pelossculos dos sculos. Amm." (II Timteo: 4:9-11;14;16-18)

    J sabemos porque essas duas pessoas Jonas e Paulo do respostasto diferentes mesma situao; j conhecemos tambm os resultados dese ter uma teologia adoecida ou de se ter uma construo teolgica sadiana mente; como uma empurra para uma exclusividade egosta, enquanto

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    outra empurra para uma exclusividade altrusta da graa de Deus queinclui os que esto fora.

    SENDO O SAL QUE QUER SALGAR

    Agora, o interessante olhar e fazer algumas comparaes entreesses dois homens no episdio da viagem que cada um fez. Vejamos o queacontece com Jonas de um lado, e com Paulo de outro.

    A viagem de Jonas mostra a sua postura de sal que no quer salgar.A viagem de Paulo mostra a postura de quem quer salgar tudo. H 11comparaes que podem ser estabelecidas entre esses dois homens, nas

    suas respectivas viagens. A primeira comparao pode ser feita comrelao falta de projeto da viagem de Jonas. Chegando em Jope (Jonas1:3a) , Jonas quer comprar uma passagem. Algum lhe pergunta:

    "Para onde o senhor quer ir?"

    "Para o lugar mais distante da terra."

    Naqueles dias, o lugar mais distante talvez fosse concebido como "o

    lugar onde o vento faz a curva" ou "onde Judas perdeu as botas". Esselugar era Tarsis (Jonas 1:3b) , o lugar mais distante que se conhecia,localizado ao sul da Espanha.

    " para l que eu vou." dizia Jonas.

    "O que o senhor vai fazer l?" perguntou o bilheteiro.

    "No, ainda no sei." respondeu-lhe Jonas. "Eu s acho que Deus no

    visita aquele lugar. por isso que eu vou para l."Paulo, no entanto, entra no navio sabendo para onde vai.

    "Para onde voc vai, Paulo?"

    "No diga nada para eles, no. Mas, os 'bobos' aqui esto melevando direto para Csar. Aleluia!" poderia ter dito ele.

    Quando lhe disseram a respeito dele:

    "Prendam-no!"Paulo exclamou:

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    "Oba!"

    Paulo tinha uma fixao, uma obsesso. Ele sabia para onde ia.

    " para l que eu estou indo. Vou pregar para Csar. Esse navio novai ficar encalhado, porque eu tenho que chegar l."

    Jonas usa sua liberdade para fugir. Paulo, entretanto, usa o fato deestar preso para fazer a vontade de Deus at o fim. Jonas entra no navio ese aliena. Diz-nos a Bblia que ele foi para o poro do navio, deitou-se edormiu profundamente (Jonas 1:5b) . Paulo diferente: entra no navio e seintegra. Sabe quantas pessoas viajam com ele, a ponto de precisar onmero: 276 pessoas a bordo (Atos 27:37) . Fica amigo do centurio (Atos27:3) , faz amizade com o piloto, compreende as foras polticas que agem

    no navio, integrando-se inteiramente ao ambiente. Jonas no ora nunca,nem por ele, nem por ningum e nem por coisa alguma. Os pagosestavam durante a tempestade fazendo viglia; todos jejuando (Jonas 1:5a) ,s Jonas, porm, olhando contemplativamente toda a situao dedesespero sua volta. Seus companheiros de viagem lhe diziam: "Tu s onico que no oras aqui, 'evanglico'!"

    J Paulo entra no barco e ora por todos (Atos 27:35) , tornando-se ointercessor do navio, dizendo-lhes, no meio da tempestade:

    "Mas, j agora vos aconselho bom nimo, porque nenhumavida se perder de entre vs, mas somente o navio. Porqueesta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou e a quemsirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, no temas; precisoque compareas perante Csar, e eis que Deus por suagraa te deu todos quantos navegam contigo. Portanto,senhores, tende bom nimo; pois eu confio em Deus, que

    suceder do modo por que me foi dito. Porm necessrioque vamos dar a uma ilha." (Atos 27:22-26)

    Que coisa maravilhosa era a vida de Paulo! Que diferena radical!Jonas se considera a causa da tragdia. Quando lhe perguntaram o quedeveriam fazer para que o mar se acalmasse, ele lhes respondeu:

    "(...) Tomai-me, e lanai-me ao mar, e o mar se aquietar;porque eu sei que por minha causa vos sobreveio estagrande tempestade." (Jonas 1:12)

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    O grande inimigo daquele barco no era o diabo, mas o profeta.Pior do que o diabo um profeta desobediente.

    Eles lhe perguntam:

    "O que a gente faz?!"Ele no diz:

    "T amarrado!"

    Mas diz:

    "Amarrem-me e joguem-me no mar, porque eu que sou oproblema, a urucubaca de vocs."

    Paulo, porm, v o vento, as ondas, a tempestade e todos os demaissinais da tragdia e da calamidade, mas no diz que aquilo porinterveno do diabo, no diz que por culpa do homem ou do vento, noresponsabiliza o centurio, nem o piloto e nem a si mesmo.

    "O vento o vento, a onda a onda, a natureza a natureza.Entretanto, apesar disso tudo, no porque eu seja bom, mas em virtude dagraa de Deus que me separou para levar o evangelho, no vai cair nemum fio de cabelo da cabea de ningum."

    Olhando Jonas, vemos a sua desistncia da vida:

    "Podem jogar-me ao mar. Eu no tenho coragem de me suicidar!Matem-me!"

    Paulo diferente! Lendo Atos 27, ns encontramos um apstoloapaixonado pela vida, querendo viver, ansiando por chegar Roma.

    Paulo quer cumprir cabalmente o seu ministrio, querendo olhar para trse dizer:

    "Combati o bom combate, completei a carreira, guardei af." (II Timteo 4:7)

    Paulo o ser humano mais vivo daquele barco! ele quem diz:

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    "(...) Senhores, vejo que a viagem vai ser trabalhosa, comdano e muito prejuzo, no s da carga e do navio, mastambm das nossas vidas." (Atos 27:10)

    Em outras palavras, Paulo lhes estava dizendo:

    "No devemos ir, porque, se formos, vamos 'quebrar a cara'."O pessoal foi e "quebrou a cara". Depois Paulo diz:

    "No devamos ter vindo, mas j que viemos e 'quebramos a cara',levantemos a cabea! E tem mais: nimo, porque Deus disse que ningumvai se perder."

    Quando a situao vai ficando insustentvel, os marinheiros

    resolvendo desertar num bote (Atos 27:30-31) , ele chama o capito e diz:"Se essa mo-de-obra especializada sair do barco, nem anjo ajuda. O

    anjo do Senhor me disse que nos vai ajudar, mas que era para 'segurar' osmarinheiros aqui, porque quem entende de ventos so eles, no apstolo."

    Paulo um indivduo operoso! Ele v todos trabalhando h muitotempo, desanimados, sem vontade de comer e lhes diz:

    "Gente! Se ns no comermos, no teremos foras para remar."

    E comea a comer, dando graas e partindo o po; e todos comemcom ele (Atos 27:34-36) . vida que Paulo tem dentro de si; uma vontadeenorme de ir adiante que o motiva. Jonas perde o respeito de todos,chegando o prprio capito do navio a lhe dizer: "Voc doido, homem?Como voc diz que cr num Deus que criou o cu, a terra e o mar, e tentafugir dele? Ns, pagos, temos deuses que atuam em reas especficas.

    Quando estamos fugindo de um deus que criou a terra, vamos para o mar;quando a gente est fugindo do deus das guas, vamos para a terra.Agora, voc diz que cr num Deus que tudo criou, e vem para o meio domar?! Seria melhor que voc amarrasse uma pedra ao pescoo e sesuicidasse!"

    Jonas recebe uma "aula de teologia" do capito do navio.

    Jonas perde o respeito de todos. Paulo, ao contrrio, ganha orespeito de todos. Chega ao barco algemado e acorrentado e, depois deum dia, depois de uma semana, ele se torna o homem mais livre do barco.No fim, os soldados queriam matar a todos os prisioneiros para que estes

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    no fugissem nadando (Atos 27:42) ; no entanto, o centurio, por amor aPaulo, impediu que isso ocorresse, preservando a vida de todos eles (Atos27:43) . Paulo ganhou o respeito de todos. Jonas "vomitado" em Nnive el prega com raiva e com rancor, acontecendo o que ele no queria: todosda cidade se convertem (Jonas 3:10) . Paulo chega em Malta, vai-se

    relacionando com as pessoas do lugar, enchendo-se de amor, chamando aspessoas do lugar pelo nome, entrando na casa delas, comendo com elas,orando por suas doenas, curando suas enfermidades (Atos 28:7-10) ,convivendo com elas trs meses (Atos 28:11a) , depois dos quais apopulao da ilha inteira fica abalada com o evangelho de Jesus. Jonasquase "se envenena" de dio, ao ver a morte de uma planta (Jonas 4:6-9) .A rvore que lhe dava sombra morre e ele entra em crise:

    "Que ser de mim sem a minha rvore?!" a histria do amor de Jonas! E por uma rvore!

    Dava at um romance: Captulo I: "Como sentia falta dela sem saberquem era ela"; Captulo II: "Eis que ela aparece"; Captulo III: "Me fazsombra"; Captulo IV: "Ela morre"; Captulo V: "Eu morro com ela". Este o amor de Jonas! Um "amor profundo", por uma "causa nobre". Jonas e arvore.

    Ele era o profeta mais ecologicamente desgraado do planeta.

    Paulo chega na ilha de Malta e l mordido por uma vbora, nodando a mnima importncia a isso (Atos 28:3-5) . Jonas v uma plantamorrer quer morrer junto com ela; Paulo picado por uma cobra e diz:

    "Sai pra l!"

    Todos ficam admirados:

    "E a, gente! Vamos cantar 'Voc tem valor'."

    E todos ficam esperando que ele caia morto:

    "Ele vai cair... O dedo dele vai inchar... Ele vai ficar roxo... Quandocomear a bater palmas, suas mos vo comear a se desencontrar... Elevai cair morto de repente..." E nada disso acontecia. No entanto, Pauloestava animado, para espanto daqueles que no o conheciam (Atos 28:6) ,

    de modo que comearam a pensar e a dizer:" um deus que est entre ns!"

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    Jonas considera os ninivitas uns brbaros, no querendo ir pregar-lhes por este motivo. No entanto, veja como Paulo descreve os habitantesda ilha de Malta:

    "Os brbaros trataram-nos com singular humanidade". (Atos 28:2a)

    A mente excludente de Jonas o faz olhar o ninivita considerando-oum brbaro; a mente potencialmente inclusiva e graciosa de Paulo o fazolhar para os brbaros e dizer acerca deles:

    "So todos gente."

    Jonas ora pela destruio da cidade, orando para que isso acontea(Jonas 3:10-4:1-3) . Paulo passa trs meses orando pelos doentes da ilha(Atos 28:9-11) , vendo cada um deles, em nome de Jesus, ser curado. Mas,

    por que dois homens que criam no mesmo Deus agem to diferentes?Jonas tinha uma teologia poltica que o afastava do mundo. Paulo tinhauma teologia da compaixo e da graa que o fazia ver o mundo como asua parquia, como lugar de Deus no qual a Sua glria seria implantada.

    MARCAS DO SAL FORA DO SALEIRO

    Se Paulo nos ensina, num navio, como salgar o mundo, nossapergunta agora deve ser a seguinte: Quais as principais marcas do homeme da mulher que so sal fora do saleiro? O que aprendemos com Paulo,um ser humano que mesmo em meio a tantas circunstncias adversas,consegue dar gosto ao desgosto de uma viagem miservel? Quais so asgrandes marcas de Paulo que eu e voc precisamos assimilar? H oitocaractersticas na vida de Paulo que devemos guardar, internaliz-las e

    pensar nelas. So marcas de gente que d gosto s viagens maisdesgostosas da Histria. A primeira delas bom senso. Algo queimpressiona em Paulo que ele um evangelista cheio de bom senso, nofazendo o gnero do evangelista "arrebatada e carismaticamente doido".Paulo cheio do Esprito Santo: vm doentes, ele os cura; vm demnios,ele os manda sair; discerne espritos; prega com uno... Mas ele no doido. A realidade para Paulo no negada, no tentando falsear os

    dados e as informaes do mundo concreto, e no sublimando o queexiste: o que existe existe; o que . Em Atos 27:9-10, ele adverte a respeitodos problemas e perigos que encontraro durante a viagem:

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    "No saiamos deste porto, porque, se o vento nos pegar, vamos nosarrebentar."

    O pessoal insiste em ir. Ele diz:

    "No vamos, no!..."

    O que um evanglico "tradicionalmente doido" faria no lugar dePaulo? Certamente diria:

    "Ns vamos pela f! O vento est amarrado!... As ondas estoseguras!"

    Infelizmente, isso que acontece. Quanto "mais espiritual" mais sembom senso. a espiritualidade suicida.

    Mas, temos medo do bom senso, porque houve um "contgio" nonosso meio em termos de se fazer acreditar que a f genuna louca.Quando agimos com bom senso, algum diz:

    "No tem f."

    Se o barco no qual Paulo viajava no fosse ocupado por umcenturio romano, soldados romanos, prisioneiros e mais uma tripulaogrega, mas se fosse um navio s de evanglicos e Paulo tivesse dito para

    no irem em razo do vento e da tempestade, certamente o haveriamjogado para fora do barco. Possivelmente argumentariam com Paulo:

    "Qual , irmo?! Voc no tem f, no!... Ns somos filhos do Rei!...Os ventos tm mais que parar quando passarmos... A causa nobre...Voc no quer ir pregar para Csar?..."

    F, na nossa compreenso, virou sinnimo de estupidez.

    Porque no nosso meio existe a idia de que para que algumrealmente tenha f necessrio autoflagelar-se, tendo um projeto de vidaessencialmente suicida, dizendo:

    "Vamos para o mar revolto e o vento e a tempestade que se danem!"

    Mas Paulo olha para as adversidades que esto ao seu redor,interpretando-as com profundo bom senso. Ou seja: se vai chover, por queno levar o guarda-chuva? Se vai ventar forte, por que no se abrigar? Se

    no prudente sair quela hora, por que no esperar? No devemostentar ao Senhor nosso Deus. Olhemos a vida com bom senso.

    Em Atos 27:33-34, ns vemos Paulo com o mesmo bom senso:

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    "Enquanto amanhecia, Paulo rogava a todos que sealimentassem, dizendo: Hoje o dcimo quarto dia em que,esperando, estais sem comer, nada tendo provado. Eu vosrogo que comais alguma coisa; porque disto depende avossa segurana; pois nenhum de vs perder nem mesmo

    um fio de cabelo."

    Em outras palavras, ele est dizendo:

    "Comam, porque se no comerem, vocs no tero foras paravelejar, nem para nadar, nem para se agarrar a tbuas, tentando o prpriosalvamento. No adianta nem orar. Vocs tem agora que comer."

    A segunda marca de Paulo a sua positividade nas atitudes. Amente positiva dele impressiona. De um lado um bom senso realista; deoutro uma positividade construtiva capaz de reverter catstrofes emsituaes amenas. Em Atos 27:21b-22, Paulo diz:

    "(...) Senhores, na verdade era preciso terem-me atendido eno partir de Creta, para evitar este dano e perda. Mas, jagora vos aconselho bom nimo, porque nenhuma vida seperder de entre vs, mas somente o navio."

    Ou seja: Paulo lhes est dizendo:

    "O que no tem remdio remediado est. Levantem a cabea!"

    No ano de 1995, l pelo ms de junho, recebi um telefonema de quea Fbrica de Esperana, o maior projeto social da VINDE, estava em

    chamas. Corri para l, e, da Avenida Brasil eu via labaredas. Comecei aclamar a Deus por misericrdia... Trabalhando com um maarico, noconserto de uma estrutura metlica do telhado de um dos galpes, ofuncionrio ocupado com tal servio no viu quando uma fagulha passoupor entre as frestas da telha, caindo em caixas altamente inflamveis.Quando l cheguei, o fogo ainda estava alto, e todos ns, funcionrios daFbrica e moradores da comunidade, auxiliavam os bombeiros a pr fimno fogo, que por Deus foi debelado.

    Algum, ento, perguntou:

    "E agora, pastor? Est desanimado?"

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    "Este caminho sem volta." respondi. "O fogo que est aqui nonosso corao muito maior que este, e ainda que tenhamos de comeartudo de novo, ns o faremos, para a glria de Deus."

    A tendncia humana diante do imprevisto, diante da tribulao edas intempries da vida se quedar ao desnimo, ao desespero. Paulo,porm, nos ensina que quem cr no Deus Todo-Poderoso pode crer quedo caos Ele ir suscitar salvao e livramento. A terceira marca quepercebemos na vida de Paulo sua sobrenaturalidade.

    Isto : Paulo tem uma mente aberta para o sobrenatural, vendo anjosvisitando tempestades. Ele no v anjos diria e corriqueiramentesegurando ventos, mas os v invadindo as catstrofes do dia-a-dia,trazendo palavra de nimo e consolao da parte de Deus vida humana.

    o que se pode constatar em Atos 27:23-26:

    "Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu soue a quem sirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, no temas; preciso que compareas perante Csar, e eis que Deus porsua graa te deu todos quantos navegam contigo. Portanto,senhores, tende bom nimo; pois eu confio em Deus, quesuceder do modo por que me foi dito. Porm necessrio

    que vamos dar a uma ilha."

    Imaginemos a situao: Paulo, em meio quela tempestade,reunindo todos e dizendo-lhes:

    "Vem c, gente. Todo mundo aqui. Capito, ontem noite, o anjo deDeus, de Quem eu sou e a Quem eu sirvo, esteve comigo aqui neste navio.Ele me disse: -- Ningum vai se perder. Nem um fio da cabea de

    ningum." Bom senso, positividade e sobrenaturalidade. Vejamos comotais caractersticas no so incompatveis. H pessoas que acham que parahaver sobrenaturalidade precisa haver o aniquilamento do bom senso.Paulo profundamente racional na anlise das coisas, tendo f quando af precisa ser posta em ao como desafio. Antes do mal (a tempestade)chegar, ele usa o bom senso. Se o mal tornou-se inescusvel, ele respondea isso com positividade, evocando a interveno sobrenatural de Deus.Outra marca de Paulo pode ser definida pela palavra "valoridade". O quevem a ser "valoridade"?

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    Primeiramente, trata-se de um neologismo criado por mim,querendo significar a capacidade de perceber os contedos e os valoresdas coisas. O que que tem valor? O que que no tem valor? VejamosAtos 27:22b:

    "(...) porque nenhuma vida se perder de entre vs, massomente o navio."

    Para Paulo, o navio era bagatela; o navio, pode-se fazer outro; vidano! bonita essa caracterstica dele. O mundo percebe quem que dvalor a vida e quem que no d. Se se quiser ganhar o respeito daspessoas, deve-se deix-las perceber que vida vida; coisa coisa.

    Paulo se aproxima de seus companheiros de viagem e lhes diz:

    "Gente, o navio ns vamos perder; mas todas as vidas sero salvas."

    Assim sendo, as pessoas que estavam naquele navio comearam aperceber:

    "Esse homem me ama!"

    Imaginemos o contrrio."Deus precisa deste navio."

    E comeariam as reunies de orao pelo navio. E todos orando pelonavio, pela vela do navio, pela ncora do navio.

    H igrejas assim, nas quais a vida humana no tem valor algum,mas bens materiais como casa, fazenda, acampamento, templo novo tmproeminncia. Gente que pensa assim no tem o respeito nem do diabo.Porm, quando as pessoas, sejam elas ricas, sejam elas pobres, comeam aperceber que a igreja est interessada mais nelas do que nas coisas delas,ela comea ganhar respeito e a sua palavra passa a ser ouvida. A quintamarca de Paulo sua praticabilidade. Em Atos 27:30-32, encontramos essacaracterstica de ser prtico em Paulo:

    "Procurando os marinheiros fugir do navio e, tendo arriado o

    bote no mar, a pretexto de que estavam para largar ncorasda proa, disse Paulo ao centurio e aos soldados: Se estesno permanecerem a bordo, vs no podereis salvar-vos.

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    Ento os soldados cortaram os cabos do bote e o deixaramafastar-se."

    Paulo, em outras palavras, estava dizendo:

    "O saber humano, em alguns momentos, essencial. O senhor capito e entende de guerra. Eu sou apstolo e entendo as coisas de Deus.Agora, quem entende de navio aqui so os marinheiros."

    O fascinante que Paulo tem a mente cheia da grandeza e da graada sabedoria de Deus, mas respeita o acervo da sabedoria e da cinciahumana dada por Deus s Suas criaturas, feitas Sua imagem esemelhana. Ele do tipo de gente que se tiver de contratar umaconsultoria para a monitorao de algum empreendimento, ele contrata.

    Com isso, acaba aquele pensamento infantil e tolo do tipo "eu sou filho doRei e por isso sei tudo e mais do que todo mundo". No sejamos "filhos doRei" burros. Paulo era "filho do Rei" mais do que a maioria dos "filhos doRei" que conhecemos por a. Mas ele disse:

    "Olha, quem entende de barco aqui so esses pagos. Mantenham-nos aqui, porque precisamos deles."

    Imaginemos um apstolo dizendo que precisa da ajuda tcnica deum pago. Isso vem a depor contra todas as nossas espiritualidadesseparatistas.

    "Eu sei combater principados e potestades, mas quem sabe combaterondas marinheiro. No importa se seja crente ou pago. A experinciahumana inegvel."

    Imaginemos o mundo sendo invadido por essa mentalidade de

    Paulo. As fbricas, as reparties pblicas, os escritrios cheios de bomsenso, de positividade, de sobrenaturalidade, de "valoridade" e depraticabilidade! No possvel que algum que tenha tal maneira depensar e proceder no seja percebido. A sexta marca de Paulo sualiderana espiritual natural. Ele no chega se apresentando e dizendo:

    "Reverendo Paulo de Tarso, conhecido pelo discernimento espiritualexercido no curso de 37 anos de ministrio bem-sucedido e comaproximadamente 2.114 curas realizadas e que j pregou o evangelho paramais seres humanos vivos neste planeta. Ningum pregou mais do que eu.E mais do que isto: ningum conhece mais as estradas romanas do queeu."

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    Paulo no faz isso. A nica vez que ele faz isso escrevendo asegunda carta Igreja de Corinto, na qual ele mesmo diz que assim o fazia"como por loucura", de modo insensato:

    "O que falo, no o falo segundo o Senhor, e, sim, como porloucura, nesta confiana de gloriar-me. E posto que muitosse gloriam segundo a carne, tambm eu me gloriarei.Porque, sendo vs sensatos, de boamente tolerais osinsensatos.Tolerais quem vos escravize, quem vos devore, quem vosdetenha, quem se exalte, quem vos esbofeteie no rosto.Ingloriamente o confesso, como se framos fracos. Mas,naquilo em que qualquer tem ousadia, com insensatez oafirmo, tambm eu a tenho. So hebreus? Tambm eu. So

    israelitas? Tambm eu. So da descendncia de Abrao?Tambm eu. So ministros de Cristo? (falo como fora demim) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito maisem prises; em aoites, sem medida; em perigos de morte,muitas vezes.Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de aoitesmenos um; fui trs vezes fustigado com varas, uma vezapedrejado, em naufrgio trs vezes, uma noite e um diapassei na voragem do mar; em jornadas muitas vezes, emperigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos nodeserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmos;em trabalhos e fadigas, em viglias muitas vezes; em fome esede, em jejuns muitas vezes; em frio e nudez. Alm dascoisas exteriores, h o que pesa sobre mim diariamente, apreocupao com todas as igrejas." (II Corntios 11:17-28)

    Paulo chega no navio como gente. No chega pigarreando suagrandeza apostlica. Paulo chega no navio acorrentado, entrando em

    silncio, deixando acontecer. Daqui h uns minutos, o primeiro contatocom o centurio.

    "P", esse preso da pesada! Gente boa mesmo!" certamente pensou ooficial.

    Depois, indo ao convs, conversa com o piloto acerca das gaivotasdo mediterrneo, sobre o azul das guas...

    "Que prisioneiro interessante!" poderia tambm ter pensado omestre do navio.

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    Com relao aos demais presos, Paulo no se faz de mais importante,tratando a todos bem. Lucas est junto escrevendo a histria, incluindo-secomo narrador na narrativa. E, durante a tempestade, Paulo toma a frente,trabalha, anima, exorta, incentiva, ora, agradece... O capito fica perplexo:

    "Esse preso fantstico mesmo!"

    Antes da hora de sair para a viagem, Paulo tinha advertido:

    "No saiam, no, porque vai ser perigoso!..."

    Mas, no lhe do ouvidos:

    "Ns vamos, sim!"

    E "quebram a cara". Durante a tempestade, ele diz: "

    Vocs deviam ter-me ouvido."

    Mas, Paulo no assume uma atitude negativa e pedante, dizendo:

    "Bem feito! Bem feito! Bem feito! Eu falei!... Eu disse que isso iaacontecer!... Bem feito! Bem feito! Bem feito!"

    Ao contrrio! Paulo lhes diz:

    "Deviam ter-me ouvido, mas j que no o fizeram, nimo! Novamos nos desanimar, nem nos desesperar."

    E continua:

    "Porque um anjo do Senhor, que criou todas as coisas, apareceu-meontem noite e disse-me que nenhum fio de cabelo da cabea de ningumvai cair."

    a partir daqui que a espiritualidade de Paulo comea a se tornar

    explcita. At ento foram dias de relacionamento humano, de servio, deencontro, de conversa, de generosidade no trato. Agora entram em cenaoraes (Paulo ora a Deus com seus companheiros de viagem para que odia nasa, a fim de que possam enxergar, e a fim de que o Senhor lhes dfora para remar) . Paulo no pede uma luz sobrenatural provinda daescurido, mas pede a luz do sol.

    Paulo vai exercendo liderana. Quando ningum quer comer, ele

    parte o po, d graas e diz:"Comam!"

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    Quando chegam ilha de Malta, e Paulo mordido por uma vbora,ele a sacode no fogo, ficando tranqilo, crendo na palavra de Jesus quedissera que se alguma coisa mortfera beber, no lhe far mal; e se pegarem serpente, no lhe morder. Paulo est ali apostolicamente dizendo comaquele fato que no andava brincando de beber veneno nem com

    serpentes. Mas que cria na Palavra de Deus e que, embora picado,confiava em Deus e na Sua vontade para com a obra que ele Paulo tinhaque realizar naquela ilha e em Roma.

    Depois disso, explicita-se mais ainda sua espiritualidade, quandocomea a curar pessoas moradoras da ilha. Ora pelo pai de Pblio, queestava com uma disenteria horrvel.

    Cura-o e muitas outras pessoas vm. Paulo ficou trs meses naquela

    ilha. E at hoje se encontram nela os resduos, os registros e o filo de umadas comunidades crists mais antigas do planeta. Essa uma maneira deser sal fora do saleiro, exercendo uma liderana espiritualmente natural,no-artificial, que no impositiva, tirana, mas que cresce medida queos fatos a confirmam. A stima marca na vida de Paulo a "tratabilidade". mais um neologismo criado para nomear essa caracterstica de Paulo notratar bem as pessoas. Vejamos Atos 28:2a: "Os brbaros trataram-nos comsingular humanidade".

    Sabe o motivo pelo qual os brbaros os trataram bem?

    Porque primeiramente estes foram bem tratados. Os presos do navioe todos que viajam com Paulo, dentro em pouco estavam gravitando aoseu redor, por uma razo simples: ele sabia tratar bem as pessoas. A Bbliadiz que devemos fazer aos outros aquilo que queremos que os outros nosfaam.

    "Como quereis que os homens vos faam, assim fazei-o vstambm a eles." (Lucas 6:32)

    A oitava e ltima marca da vida de Paulo sua "evangelicidade", ouseja, a qualidade daquilo ou daquele que evangelstico. extraordinrio como tal caracterstica presente em Paulo! Como a

    evangelizao nele "escorre" para dentro dos veios da vida comnaturalidade, conquistando coraes, no os dominando pela imposio!No entanto, conquista-os pelo amor gradual, pela imposio dos fatos do

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    amor. Quando o informam acerca do pai de Pblio que est doente, Paulose solidariza e ora pelo ancio. Quando dizem que h uma multido dedoentes na cidade, ele diz:

    "Pode vir, porque vamos orar com amor e com paixo!"

    Isto "evangelicidade". qualidade evangelstica. No umprograma, um projeto, um mtodo, uma estratgia. vida de salvao egraa "escorrendo" para dentro do mundo, em nome de Jesus. Concluindo,vimos como Paulo foi sal para salgar aquele navio, aquele contexto deadversidade, de dificuldades, em meio a pessoas diferentes e, muitasvezes, hostis. E ns? Para sermos agentes dessa salvao, nesse navio davida que est afundando no planeta, precisamos urgentemente dessas oitomarcas na nossa vida: bom senso, positividade, sobrenaturalidade,

    "valoridade", "praticabilidade", liderana natural, "tratabilidade" e"evangelicidade".

    Que Deus nos d compreenso hoje para que queiramos ser essesque do gosto mesmo estando no navio do desgosto, em nome de Jesus.

    C a p t u l o I I I

    SAL,SIM!FANTICO,NO!"E aconteceu que, ao se completarem os dias em que deviaele ser assunto ao cu, manifestou no semblante a intrpidaresoluo de ir para Jerusalm, e enviou mensageiros que oantecedessem. Indo eles, entraram numa aldeia desamaritanos para lhe preparar pousada. Mas no o

    receberam porque o aspecto dele era de quemdecisivamente ia para Jerusalm.Vendo isto, os discpulos Tiago e Joo perguntaram: Senhor,queres que mandemos descer fogo do cu para osconsumir?Jesus, porm, voltando-se os repreendeu [e disse: Vs nosabeis de que esprito sois]. [Pois o Filho do homem noveio para destruir as almas dos homens, mas para salv-las].E seguiram para outra aldeia." (Lucas 9:51-56)

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    Tenho estado muito preocupado, ultimamente, com o esprito defanatismo que tem invadido a igreja evanglica, no Brasil. Nestes 20 anos,tambm tenho estado muito alegre por ver que a igreja evanglica temcrescido muito e, com isso, que muita gente est encontrando Jesus e, nEle,salvao, libertao, esperana e a possibilidade de uma vida melhor. E

    esta tem sido a razo da minha vida e misso que Deus me confiou, emfuno da qual esforo-me e vivo.

    Entretanto, angustia-me ver que, algumas vezes, esse crescimento, oqual tem o seu aspecto extraordinrio, vem tomando contornos de algono to sadio, adoecido, estranho, que se assemelha enfermidade, patologia, redundando em evidncias explicitamente fanticas. Estamosvivendo, hoje, no Brasil, um momento no qual precisamos definir o que

    queremos que acontea em nossa ptria.O que queremos que acontea no nosso pas? Como povo de Deus,

    temos duas opes: a primeira querer ver o Brasil evanglico; a segunda ver o Brasil de Jesus. O que queremos? Ver o Brasil evanglico ou ver oBrasil de Jesus? O Brasil pode ser evanglico sem ser de Jesus, como podetambm ser de Jesus sem ser evanglico. E pode ser evanglico e ser deJesus! E pode ser de Jesus e ser evanglico! Isto porque o fato de serevanglico no significa que ser de Jesus; e o fato de ser de Jesus nosignifica que ser evanglico, uma vez que, se tudo aquilo que fosse deJesus tivesse que ser, necessariamente, evanglico, Jesus s estaria tendovez na Histria de 180 anos para c, quando o Movimento Evanglico talqual o conhecemos hoje comeou a existir. Se, para ser de Jesus, o mundotivesse que ser protestante, Jesus s estaria agindo e atuando nele de 500anos para c, quando da Reforma Protestante. Enfim, Deus tem meios emodos de fazer que a Sua salvao entre no mundo sem, obrigatoriamente,

    ter que faz-la evanglica.A Igreja pode ser de Jesus, e ser evanglica. No h nada

    incompatvel com isso. Mas, a Igreja pode ser evanglica, e o pas no qualest inserida tambm, sem que ambos sejam de Jesus, porque o fato de serevanglico religiosamente falando no implica uma relao direta comJesus e com Seu evangelho. s vezes, desenvolvemos esquemas religiososque se tornam independentes de Deus e divorciados dEle, existindo como

    uma cultura autnoma, no tendo mais nada a ver com a origem de todasas coisas, a saber, Deus, o Criador.

  • 8/7/2019 evanglico - caio fbio - sal fora do saleiro [rev]

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    Ora, isso aconteceu com o judasmo, que no incio fora a religio deDeus e que acabou sendo, depois de algum tempo, uma religio que, emmuitas fases da Histria, lutou contra Ele. Isso tambm ocorreu com omovimento farisaico, que no incio fora um movimento defensor do zelopelas coisas de Deus, tornando-se, ao final, o "carro-chefe" que deflagrou a

    morte histrica de Jesus. Isso se verificou, de igual modo, no cristianismooriginal dos apstolos, do Novo Testamento, que, 300 anos depois, foi"constantinianizado", transformando-se num movimento de naturezapoltica com vistas unificao do Imprio Romano, em decorrncia doque a Igreja se foi paganizando, at que ela mesma criou o momento maisescuro da histria da civilizao humana (a Idade das Trevas) do ocidentecom as Cruzadas e o advento da Santa Inquisio, feitas em nome do Pai,do Filho e do Esprito Santo, utilizando a cruz e todos os demais

    elementos sagrados do cristianismo, ainda que o Esprito Santo neles noestivesse presente, nos quais Jesus estivesse ausente e nos quais Deus noSe manifestasse, mas o diabo.

    Ns, hoje, estamos vivendo um momento singular, quando vemos af espalhando-se pelo Brasil. Aleluia! No entanto, a pergunta quedevemos nos fazer, com relao expanso da f neste pas, o quequeremos que acontea com o Brasil. Queremos v-lo apenas tornar-se

    uma nao evanglica, tendo templos em todos os lugares, vendo amaioria das lideranas polticas confessando-se evanglicas, tendo muitosveculos de comunicao evanglicos, com uma boa parte dos recursosfinanceiros do pas em poder daqueles que se dizem evanglicos, etc?!...

    Mas, o Brasil vai continuar o mesmo! Na mesma misria, com osmesmos casos de corrupo, com a mesma prtica poltica... Talvez, at,pior, pelo fato de no haver mais nenhuma referncia evanglica qual se

    possa recorrer, no se tendo esperana de alguma coisa alternativa,porque o que era alternativo se acabou tornando em algo associado ao queexiste de pior no mundo, que por sua vez passou a usar o nome de Deuspara justificar suas aes.

    isso que queremos? Ou queremos um pas de Jesus? Um pas noqual o corao das pessoas esteja cheio do evangelho de Jesus; no qual ossinais do evangelho estejam presentes sinais de justia, de verdade, de

    solidariedade, de generosidade, de bondade, de f sadia, de prosperidadeequilibrada e justa os quais evidenciem que a mo de Deus estabenoando a terra como um todo; sinais de salvao genuna, quedesembocam numa transformao da mente, da conduta, da vida, dos

  • 8/7/2019 evanglico - caio fbio - sal fora do saleiro [rev]

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    relacionamentos e dos vnculos os mais diversos. isso que queremos? Oque queremos que acontea ao Brasil? Gostaria em muito de quedissssemos que queremos ver o Brasil se tornar um pas de Jesus, vendoo Reino de Deus sobre esta terra, o qual estar sobre ns no quandoformos maioria, mas quando esta terra estiver salgada pelo evangelho do

    Senhor Jesus; quando houver mais sinais de justia feita em nome de Deusdo que de injustia; quando houver mais sinais do amor de Deus do quede escndalos; quando houver mais manifestao do Esprito Santo doque do poder humano que manipula as coisas. A, sim, estaremos "cara acara" com manifestaes do Reino de Deus e do evangelho do SenhorJesus.

    O que isso tudo que foi exposto at o presente momento tem a ver

    com o texto que abre este Captulo? Porque tal texto mostra a grande eprimeira manifestao de que processos de corrupo, de distoro e de"fanatizao" da f esto mais prximos de ns do que imaginamos. Notexto de Lucas 9:51-56 no encontramos a descrio de um episdio doqual Jesus estivesse ausente. Ao contrrio! Jesus est presente, andandocom Seus discpulos Tiago e Joo (Lucas 9:54a) , sendo que este ltimoentrou para a histria conhecido como o Apstolo do amor (Joo 13:23;19:26) . Mas, estes homens, ainda que andassem com Jesus, vendo a Sua

    maneira de tratar, de amar e de acolher as pessoas, e o pblico ao qual EleSe dirigia e o qual Ele privilegia, que, em geral, era formado por doentes,carentes de amor, desprezados pela vida; estes homens que O tinhamvisto dar demonstraes cabais e evidentes do Seu amor imenso emisericordioso aos seres humanos; estes homens Tiago e Joo , todavia,sucumbem "sndrome do poder". Ao chegarem a uma aldeia desamaritanos, incumbidos por Jesus de Lhe prepararem pousada (Lucas9:52) uma vez que Ele j estava com uma espcie de "santa obsesso" peloCalvrio, pondo-Se a caminho em direo a Jerusalm, para onde estavaindo, nada podendo det-Lo (Lucas 9:53) , dizendo a Seus discpulos queO antecipassem, indo de cidade em cidade a fim de Lhe prepararempousada, noite aps noite. E, chegando a uma aldeia de samaritanos, osdiscpulos lhes disseram:

    "O nosso Mestre vem vindo a! Vamos preparar um lugar aqui paraEle descansar."

    "Que bom! Tomara que Ele venha" disseram os samaritanos. "QueEle fique vontade entre ns."

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    Entretanto, quando Jesus chega quele lugar, Ele diz:

    "Eu no quero ficar aqui, no! Vou passar frente."

    O texto claro, uma vez que diz: "(...) no semblante a intrpidaresoluo de ir para Jerusalm". (Lucas 9:51b)

    Os samaritanos se sensibilizaram com isso e usaram de bom senso:"Que pena! Seria uma honra O termos aqui entre ns! Mas, o que

    podemos fazer? Ele est querendo ir adiante, deixemo-Lo ir."

    Assim, os samaritanos no lanaram mo de nenhum argumentoque, de algum modo, pudesse dissuadi-Lo da sua inteno, fazendo-Opermanecer entre eles. Simplesmente disseram: "Se o Senhor quer passar,pode passar."

    E Jesus passou. No entanto, Tiago e Joo, frustrados, disseram:

    "O que esse pessoal pensa que somos?!"

    Os discpulos no iriam dizer para Jesus:

    "Mestre, o Senhor quer que faamos vir fogo do cu para consumi-Lo?"

    Mas, dirigiram toda a sua frustrao para o "mais fraco", para o"herege", para quem no gozava de boa reputao, que era o samaritano.

    "(...) Senhor, queres que mandemos descer fogo do cupara os consumir?" (Lucas 9:54b)

    L no fundo do corao de Tiago e Joo havia uma frustrao

    enorme, por terem feito tudo aquilo que Jesus determinara, preparando-Lhe pousada, para, no fim, Ele resolver passar adiante, no considerandodo ponto de vista daqueles discpulos o esforo que dispenderam paraque Sua passagem pela aldeia de samaritanos fosse a mais agradvelpossvel.

    "Algum vai ter que pagar por isso! Ah, vai sim!" pensaram Tiago eJoo.

    J que no podem "descontar" em Jesus, eles dizem a Este:

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    "O Senhor quer que a gente mande descer fogo do cu paraconsumir esse pessoal?"

    Impressiona-me o fato de que esse episdio ocorreu cerca de 2000anos atrs, com Jesus presente. Imaginemos hoje. Se se tem coragem, napresena de Jesus, de se manipular o nome de Deus e o Seu poder contraalgum ou contra um grupo de quem ou do qual no se gosta,imaginemos nos dias de hoje, sem a Sua presena fsica! Se nos primrdiosda f e diante de Jesus algum tem o atrevimento de fazer um pedidocomo aquele, imaginemos a que a natureza humana pode recorrer quando,num af de religiosidade, exacerba tal sentimento, acreditando que Deus eo Seu poder esto disponveis para o atendimento dos nossos caprichos,demandas e frustraes.

    Fanatismo no salva, apenas amargura a vida. No texto de Lucas9:51-56, o que se constata o sintoma bsico essencial para o nascimentode um esprito de fanatismo.

    Tiago e Joo deixam-se dominar pelo esprito de seita, a qual seconcebe como um grupo fechado de iluminados, os quais tm umaconexo especial com Deus, usando o poder dEle a seu prprio favor,contra aqueles ou contra aquilo de que no gostam. H algum tempo atrs,

    li num jornal de So Paulo uma matria sobre uma mulher que foi a umaigreja dita evanglica, na qual encontrou um pastor vendendo umapulseirinha, cujo valor era R$ 50,00. Tal pastor dizia:

    "Quem quiser a bno de Deus tem que comprar essa pulseirinhapara colocar no pulso. s R$ 50,00! Quem vai querer a bno de Deus?"

    E uma grande fila se formou na frente do plpito onde estava aquelepastor vendendo aquela pulseirinha, a qual "traria" a bno daquela

    semana. Quem no tivesse aquela pulseirinha no ganharia nenhumabno naquela semana.

    Aquela mulher egressa da macumba achou estranho aquilo tudo,pois cria em que as coisas de Deus eram de graa. E ficou observandotudo que se passava sua frente. Ao seu lado, uma senhora desabafava:

    "Eu queria tanto essa bno da semana! Mas eu no tenho R$ 50,00...S R$ 5,00!... Ser que ele me vende a pulseirinha por R$ 5,00, s para eulevar essa bno?"

    Ela disse:

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    "Vai l! Ele pastor. Tem que ter um pouquinho de compaixo, n!"

    "S se voc for comigo!" a senhora lhe falou.

    E para l foram as duas. Chegando l, aquela senhora disse:

    "Pastor, eu quero levar a bno da semana... Mas, eu no tenho R$

    50,00. Eu s tenho R$ 5,00."O pastor imediatamente lhe respondeu:

    "Olha, minha filha! Traz mais R$ 45,00 que a bno sua.

    Deixa os R$ 5,00 e traz mais R$ 45,00."

    "Mas, pastor, eu no tenho mais! Eu s tenho R$ 5,00." Ela disse."Sem mais R$ 45,00 no leva!" Afirmou o pastor.

    Ento aquela mulher oriunda da macumba, e que estava seaproximando da f dirige-se quele pastor, dizendo:

    "No possvel, pastor! As bnos de Deus so de graa. Ningumcompra nada dEle. Deus misericordioso! Ns damos a Ele por gratido.Ns no compramos nada dEle."

    O pastor lhe respondeu incisivamente:

    "Aqui, no! Ou compra, ou no leva!"

    "No possvel! Ento, isso aqui no de Deus." Ela argumentou.

    Ao terminar de dizer isso conforme o relato dessa mulher naquelejornal ela levou uma pernada que a derrubou no cho.

    Depois disso, ouviu algum dizer:

    "Chutem!"

    Ela disse ainda que alm dos inmeros chutes que lhe deram,agarraram-na pelos cabelos, levantando-a do cho para lhe darem socosno rosto, no estmago, nas costas... Isso tudo durou meia-hora, segundoela. Durante a "sesso" de espancamento, algum disse:

    "Ela est possessa pelo demnio!" Ela, porm, dizia:

    "No! Eu estou falando em nome de Deus!"

    E apanhou, apanhou, at que se calou de tanto apanhar.

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    Ela foi embora para casa toda arrebentada. De casa, levaram-na parao hospital e depois para a delegacia. O que que faz que tais coisasaconteam? Naquele mesmo jornal li uma reportagem intitulada "O diaem que quase queimei na fogueira", escrita por um jornalista que visitouuma igreja tambm dita evanglica, scondido, fazendo uma matria,

    encontrando material farto para o seu trabalho. Esquisitices de todo tipo,com manifestaes de manipulao e c