Upload
dodan
View
229
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
EXPERIÊNCIAS DE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL NO RIO
GRANDE DO SUL:
Estudo de caso nos municípios Cerro Grande do Sul, Ibarama, Maquiné, Montenegro,
Sobradinho.
CARMEN ELENA BERMÚDEZ SÁNCHEZ
Florianópolis, SC – Brasil2002
ii
EXPERIÊNCIAS DE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL NO RIO
GRANDE DO SUL:
Estudo de caso nos municípios Cerro Grande do Sul, Ibarama, Maquiné, Motenegro,
Sobradinho.
Dissertação apresentada para a obtenção do Grau de Mestre em Agroecossistemas, doCentro de Ciências Agrária da Universidade Federal de Santa Catarina
Autora: CARMEN ELENA BERMÚDEZ SÁNCHEZ*Orientador: Prof. Dr. LUIZ CARLOS PINHEIRO MACHADO
Florianópolis, julho 2002
* Economista Agrícola
iii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINACENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS
DISSERTAÇÃOSubmetida por Carmen Elena Bermúdez Sánchez
Como um dos requisitos para a obtenção do Grau de
MESTRE EM AGROECOSSISTEMAS
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Dr. Wilson Schmidt Prof. Prof. Msc. Mário Luiz Vincenzi
CCA/UFSC CCA/UFSC
Profª. Drª. Maria José Reis Dr. José Antônio Costabeber
CFH/UFSC EMATER – RS
Aprovada em 17/07/2002
:Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado Prof. Dr. José A Ribas. Ribeiro
Orientador Coordenador
iv
Contribuir para conservar: a vida, representada na natureza,
a beleza de tudo o que enxergamos e o amor em todas nossas ações,
são questões que iluminam e dão sentido ao caminho que percorremos
(Carmen Elena)Dedico:
A DEUS por permitir-me desfrutar deste momentopelo amor, a paz e a felicidade que me ofereceno oceano da complexidade da vida.
A meu Pai, ELADIO MANUEL,pelo grandioso amor e entrega que, em vida,teve para com seus filhos e a terra,enfrentando com coragem e valentia as adversidades,mostrando sempre confiança em Deus e nasabedoria da natureza.ensinando com exemplos o valor do amor, da vida, dasolidaridade, da simplicidade, da importância da autonomiae dedicação no trabalho, especialmente da terra,encorajando-nos na luta por nossos ideais.
A minha querida Mãe CLARA INÉSQue com sua simplicidade, amor e compreensãoé a inspiradora de grande parte de meus sonhos
A meus irmãos pelo amor, carinho e permanenteapoio - Juanita, Eladio, Dalgis, Everth, Eloy,Freddy e Norelsis.
A todos meus familiares por estarem semprepresentes, em especial, Anais.
A Francisco José pela compreensão e as atenções.
E a todos os agricultores(as) que trabalham com amor e dedicaçãona terra e lutam com coragem e perseverança por sua conservação.
v
Agradecimentos
Neste momento, em que se confundem os sentimentos e as emoções e, se desfruta
por alcançar um objetivo na vida, em uma carreira em que o tempo passa tão depressa que
muita vezes desejamos reiniciar de novo, graças aos bons e maravilhosos momentos
vividos. Hoje entrego um trabalho acadêmico, fruto da dedicação, esmero, fé, coragem,
valor e, sobretudo, muita confiança no Deus maravilhoso sempre presente, que me permite
viver momentos especiais, nos quais, pude conviver com pessoas sensacionais, que se
entregaram, oferecendo-me algo de si de forma espontânea e desinteressada. Por isso, ainda
a palavra “obrigado”, em sua essência, representa uma grandeza, ela é até pequena para
expressar quanto agradecida estou por tudo o que pude viver e desfrutar, apreender,
compreender e compartilhar, receber sem o compromisso de pagar. Muito obrigada digo, a
Deus e a todas aquelas pessoas que me apoiaram, compreenderam e me brindaram
condições para sentir-me membro de uma família, onde com o bom convívio, solidariedade
e contínuas mostras de amor e carinho, permitiram dissipar as saudades de minha gente.
São muitas as pessoas pelas quais sinto um profundo agradecimento e este momento é curto
para nomear a todas, peço pois, desculpas aquelas que omiti, mas que ficam presentes no
meu coração. De forma especial, manifesto meus agradecimentos:
- Ao casal de norte-americanos Christopher e Victoria, por comunicar-me a
existência do curso; no Paraguai, a Cipri e Arlindo pelo apoio para entrar em contato com a
coordenação do curso.
- Arnaldo, Janete e Maristela pela acolhida, compreensão, amizade e carinho.
- Marília coordenadora do curso, pelo apoio oportuno e a amizade.
- Irineu que mais que secretário é um amigo.
- A todos os professores do curso, pela amizade, a disposição e o apoio em atender
nossas inquietudes, contribuindo no nosso mergulho pelo mundo do conhecimento, onde as
grandes interrogações ultrapassam o espectro de respostas encontradas. Meus maiores
agradecimentos a todos e, muito especial à Profª Anne Lore pela compreensão e apoio em
momentos críticos.
- Ao Prof. Luiz Carlos Pinheiro Machado toda minha gratidão, pela amizade,
paciência, compreensão e sugestões como orientador.
vi
- Ao Prof. Antônio Uberti, pela amizade e colaboração.
- A todos os mestrandos (as) do curso de Agroecossistemas em especial os colegas
das turmas 1999, 2000, 2001 e 2002, pelos momentos de convívio na escola e fora dela, por
mostrarem-se sempre amigos, construindo momentos inesquecíveis cheios de carinho, em
que o sentido e valor da amizade sempre alimentaram nosso dia a dia, fazendo passageiros
os momentos de dor e tristeza apresentados. Obrigado por todas as mostras de amor e
carinho, obrigado por ter tido o privilégio de conhecer-lhes e compartir uma especial e
produtiva etapa de minha vida, onde encontrei mais que amigos, irmãos, especialmente:
Ariadne, Laurilene, Marcelo, Giehl, Ana Maria, Osmar, Luiz, Ornella, Valmir, Carlos,
Gilmar, Rainer, Vanessa...; aos colegas e amigos da turma 2001, Claúdio (e sua esposa
Regina), Sidinei, Murílio, Marcel, Dieter, Maristela, Flávia, Marta, Ana Paula, Vivi,
Lidiane, Koller...; as calegas e amigas de outras turmas, Luciana e Cíntia, e da 2002
Natasha, Fabiana, Elder, Gaya, Luciano.., por todos os bons momentos compartilhados.
- A Liêge Maria (minha mãe brasileira), que com sua amizade, amor, carinho e
entrega, sempre esteve disposta em apoiar-me, alentar-me e motivar-me nos momentos
difíceis desta caminhada.
- Aos agricultores, dirigentes, técnicos e profissionais das organizações visitadas –
Coolméia, Ecocitrus, Centro Ecológico e Emater-RS, (escritório central e Sobradinho), pela
acolhida, disposição, colaboração e a amizade no desenvolvimento do trabalho de campo,
em especial, Hamilton, Wilson e Wilceo, Edelí, Ademar, Martim, Paulo, Selmo, Claúdio,
Rosane, Elio...; aos técnicos e profissionais Roberta, Jaime, César, Daniela, Renete, Glacy,
Andrés, Dicílio, Soel...;
- Aos servidores do CCA, que com simplicidade e carinho, sempre tinham um
sorriso para brindar, em especial a equipe da biblioteca, do restaurante e do curso de
Agroecossistemas.
- À Capes, pela bolsa de conclusão de curso
- À Secretaria de Assuntos Comunitários da UFSC, em especial a Lilian pela
oportuna ajuda recebida.
E a todas aquelas pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para concretizar
este sonho e tornaram minha vida mais feliz, em especial os Padres Joaquim, Marcos e
Carlos e a Elizabete (por doar-se na correção do português).
vii
Nós ficamos isolados, cada um puxandopara si, e quem ainda ficou no
convencional, acredito que na agriculturaestá quebrado. Nós temos mais chances desobreviver dentro da agricultura orgânica e
de forma organizada.(Ademar agricultor entrevistado)
“Quando sonhamos sozinhos, é só um sonho.Quando sonhamos juntos, é o começo de umarealidade” Dom Hélder Câmara”.
A natureza é vida, luz e alegriaaos olhos e à alma; dediquemos
um pouco de nosso tempo econhecimento para mergulhar em
seus mistérios (Carmen Elena)
viii
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS ................................................................................................ XII
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... XV
LISTA DE FOTOS........................................................................................................
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ..................................................................
XVI
XVII
RESUMO ...................................................................................................................... XVIII
RESUMEN ................................................................................................................... XIX
ABSTRACT ................................................................................................................. XX
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1
1.1 Objetivo geral ................................................................................................ 3
1.1.1 Objetivo específico ........................................................................................ 4
1.2 Caracterização do trabalho de campo ............................................................ 4
CAPITULO 1 ............................................................................................................... 9
1 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS ................................................................. 9
1.1 Agricultura orgânica ...................................................................................... 14
1.1.1 Características principais da agricultura orgânica ......................................... 16
1.2. Agricultura sustentável .................................................................................. 18
1.3 Agroecologia ................................................................................................. 21
1.3.1 Diversidade e integração dos sistemas .......................................................... 23
1.3.2 Manejo e conservação do solo e água ........................................................... 24
1.3.3. Escolhas de variedades .................................................................................. 27
1.3.4 Nutrição vegetal ............................................................................................ 27
CAPITULO 2 ............................................................................................................... 35
2 CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO E DA AGRICULTURA NA ÁREA
ix
DE ESTUDO ................................................................................................ 35
2.1 Povoamento do Estado .................................................................................. 35
2.2 Alguns aspetos geográficos do Rio Grande do Sul e na área da pesquisa .... 36
2.2.1 Vegetação ...................................................................................................... 37
2.2.2 Clima ............................................................................................................. 38
2.2.3 Solo ................................................................................................................ 38
2.3 População ...................................................................................................... 39
2.4 Estrutura fundiária e economia ...................................................................... 40
2.4.1 Atividades econômicas e uso da terra no Rio Grande do Sul ....................... 41
2.5 Situação da produção agropecuária no Rio Grande do Sul ........................... 43
2.6 Política de governo do Rio Grande do Sul .................................................... 45
2.7 Aspectos políticos-administrativos no Rio Grande do Sul ............................ 47
CAPITULO 3 ............................................................................................................... 50
3 ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA
SUSTENTÁVEL E DA PRODUÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL .......... 50
3.1 História e algumas características da produção agrícola com bases
ecológica no Estado e na área em estudo ...................................................... 50
3.1.1 Processo de transição agroecológica em algumas unidades de produção
no Rio Grande do Sul e na área de pesquisa.................................................. 53
3.2 Caracterização das organizações de inserção dos agricultores, objeto de
estudo .............................................................................................................
55
3.2.1 Cooperativa Ecológica Coolméia .................................................................. 55
3.2.2 Ecocitrus (Cooperativa de Citricultores) ....................................................... 58
3.2.3 Cooperativa Coagricel ................................................................................... 60
CAPITULO 4 ............................................................................................................... 62
4 CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO EM ESTUDO 62
4.1 Os proprietários e as unidades de produção .................................................. 62
4.1.1 Infra-estrutura doméstica e acesso a serviços básicos .................................. 65
x
4.1.2 As unidades de produção agrícolas (UPAs) .................................................. 68
4.1.3 Disposição e desempenho da mão-de-obra nas unidades de produção
agrícola .......................................................................................................... 72
4.2 DIMENSÃO TÉCNICA–AGRONÔMICA ........................................................... 76
4.2.1 A experiência dos agricultores na produção .................................................. 76
4.2.2 Uso do solo .................................................................................................... 77
4.2.3 Manejo e conservação de solo ....................................................................... 80
4.2.4 Uso de insumos ............................................................................................. 84
4.2.5 Manejo de pragas, doenças e plantas companheiras ..................................... 87
4.2.6 Rendimentos e produtividade na produção ................................................... 89
4.2.7 Produção animal ............................................................................................ 91
4.2.7.1 Produção bovina ............................................................................................ 92
4.2.7.2 Produção de aves ........................................................................................... 93
4.2.7.3 Produção de suínos ........................................................................................ 94
4.2.7.4 Produção de outros espécies de animais nas unidades .................................. 95
4.2.8 Dificuldades, desafios e potencialidade técnica agronômica ........................ 97
4.3 DIMENSÃO ECONÔMICA .................................................................................. 101
4.3.1 Patrimônio das famílias ................................................................................. 102
4.3.2 Despesas geral dos agricultores estudados..................................................... 104
4.3.3 Renda bruta nas unidades de produção.......................................................... 107
4.3.4 Renda líquida nas unidades............................................................................ 114
4.3.5 Comercialização da produção........................................................................ 116
4.3.6 Entraves, potencialidades e desafios da dimensão econômica....................... 119
4.4 DIMENSÃO ECOLÓGICA................................................................................... 121
4.4.1 Práticas conservacionistas ............................................................................. 121
4.4.2 Entraves, potencialidades e desafios da dimensão ecológica ....................... 125
4.5 DIMENSÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA ................................................... 126
xi
4.5.1 Serviços de assistência técnica, financiamento e pesquisa ............................ 128
4.5.2 Entraves limitações e desafios político-institucionais.................................... 130
CAPITULO 5................................................................................................................ 131
5 CONCEPÇÃO E APRECIAÇÃO DOS AGRICULTORES E DOS
TÉCNICOS ................................................................................................... 131
5.1 Motivações e razões dos agricultores para produzir de forma sustentável ... 131
5.2 Grau de satisfação das famílias objetos de estudo ........................................ 132
5.3 Meios de difusão da agricultura sustentável .................................................. 136
5.4 Os técnicos e suas percepção ......................................................................... 137
5.4.1 Motivações que movem os agricultores para produzirem de forma
sustentável, segundo a percepção dos técnicos ............................................. 138
5.4.2 Percepções dos profissionais e dos técnicos com respeito à disposição de
crédito por parte do governo de estado dos técnicos entrevistados ...............
138
138
5.4.3 Benefícios que a produção sustentável oferece aos agricultores segundo a
percepção dos profissionais e técnicos entrevistados .................................... 140
6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES................................................................
REFERÊNCIAS.............................................................................................
145
149
ANEXOS
Anexo 1. Questionário para produtores de bases ecológicas ...................................... 155
Anexo 2. Questionário para técnicos .......................................................................... 164
xii
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Total da população em cinco municípios do Rio Grande do Sul ......... 40
QUADRO 2 Atividades econômica dos estabelecimentos rurais no Rio Grande do
Sul ........................................................................................................ 42
QUADRO 3 Utilização das terras no Rio Grande do Sul.......................................... 42
QUADRO 4 Valor da produção animal e vegetal no Brasil, Região Sul e no Rio
Grande do Sul com valores das receitas .............................................. 44
QUADRO 5 Valor da população animal e vegetal no brasil, no Sul e no Rio
Grande do Sul ...................................................................................... 44
QUADRO 6 Escolaridade da população estudada no Rio Grande do Sul ............... 65
QUADRO 7 Áreas agricultáveis e com culturas nas unidades de produção
estudadas ............................................................................................. 69
QUADRO 8 Área e produção de bases ecológicas nas unidades de produção
estudadas .............................................................................................. 70
QUADRO 9 Área ocupada com cultivos convencionais em seis unidades de
produção estudada ... ............................................................................ 71
xiii
QUADRO 10 Disposição e desempenho da mão-de-obra nas unidades de produção
estudadas .............................................................................................. 75
QUADRO 11 Distribuição e uso do solo nas unidades produção agrícola ................ 79
QUADRO 12 Distribuição da área total das unidades de produção agrícola ............. 80
QUADRO 13 Percentagens de agricultores segundo implementos agrícolas
utilizados no preparo do solo nas unidades de produção estudadas .... 81
QUADRO 14 Percentagem de agricultores segundo as práticas de manejo e
conservação de solo nas unidades de produção agrícolas estudadas ... 84
QUADRO 15 Percentagem de agricultores segundo a utilização de adubos nas
unidades de produção agrícolas estudadas ........................................... 85
QUADRO 16 Rendimentos de produção das principais culturas encontradas nas
unidades de produção estudada ............................................................ 90
QUADRO 17 Percentagem de agricultores na produção, número médio de animais
e condições de produção nas unidades produtivas ............................... 96
QUADRO 18 Diferença nutricional entre produtos orgânicos e convencionais ........ 100
QUADRO 19 Valor do patrimônio dos agricultores estudados (R$) ......................... 103
QUADRO 20 Valor e percentagem das despesas anuais das famílias estudadas (R$) 106
QUADRO 21 valor da renda bruta obtida pelos agricultores estudados .................... 111
xiv
QUADRO 22 Renda bruta obtida no sistema de produção de bases ecológica e
convencional nas UPAs estudadas ....................................................... 112
QUADRO 23 Valor percentual das receitas obtidas na produção dos sistemas com
bases ecológica, semi-convenconal e convencional nas unidades
estudadas .............................................................................................. 113
QUADRO 24 Valor da renda líquida obtida pelas famílias estudados ....................... 115
xv
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Localização dos municípios visitados .................................................. 5
FIGURA 2 Percentual de agricultores estudados segundo suas origens no RS ..... 63
FIGURA 3 Faixa etária dos agricultores visitados no Rio Grande do Sul ............. 64
FIGURA 4 Percentagem do valor total das despesas anuais nas unidades de
produção estudadas .............................................................................. 105
FIGURA 5 Distribuição percentual das receitas que compõem a renda bruta das
famílias estudadas ............................................................................... 108
FIGURA 6 Relação da renda bruta por unidade de produção agrícola .............. 10
FIGURA 7 Principais canais de comercialização utilizados pelos agricultores
estudados .............................................................................................. 116
xvi
LISTA DE FOTOS
FOTO 1. Prática agroecológica de conservação de solo................................................... 82
FOTO 2. Prática agroecológica de conservação de solo................................................... 82
FOTO 3. Manejo de solo em área de cultura convencional............................................. 82
FOTO 4. Manejo de solo em área de cultura convencional............................................. 82
FOTO 5. Conservação de semente.................................................................................... 86
FOTO 6. Conservação de semente.................................................................................... 86
FOTO 7. Cisco de arroz carbonizado................................................................................ 86
FOTO 8. Produção de insumos agroecológicos................................................................ 86
FOTO 9. Produção de compostagem na Usina de Ecocitrus. Montenegro....................... 117
FOTO 10. Produção de compostagem na Usina de Ecocitrus. Montenegro...................... 117
FOTO 11. Produção de compostagem na Usina de Ecocitrus. Montenegro...................... 117
FOTO 12. Estratégia de conservação do supermagro........................................................ 117
FOTO 13. Manejo de produtos a serem comercializados.................................................. 123
FOTO 14. Embalagem de citrus para exportação. Ecocitrus, Montenegro........................ 123
FOTO 15. Produtos comercializados na feira de Coolméia. Porto Alegre........................ 123
FOTO 16. Produtos comercializados na feira de Coolméia. Porto Alegre........................ 123
FOTO 17. Produtos comercializados na feira de Coolméia. Porto Alegre........................ 123
xvii
LISTA DE SIGLAS
AGAPAN – Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural
AS – PTA – Assessoria e Serviços – Projeto Agrícola Alternativo
AAEs – Associações de Agricultores Ecologistas
BANRISUL Banco do Estado do Rio Grande do Sul
CAPA Centro de Apoio ao Pequeno Produtor
CEPAGRI – Centro de Promoção do Pequeno Agricultor
CETAP - Centro de Tecnologia Alternativas Populares
DACC – Departamento de Agroindústria, Cooperação e Comercialização
DESER – Departamento de Estudos Sócio-econômicos Rurais
EMATER/RS– Associação Riograndense de Empreendimentos Assistência Técnica e
Extensão Rural.
FETAG – Federação do Trabalhadores na Agricultura
FEPAGRO - Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária
FIBGE – Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
GTZ – Agência de Cooperação Técnica Alemã
IBD – Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MPA – Movimentos de Pequenos Agricultores
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra
NRC – Concelho Nacional de Pesquisas. National Researarch council
ONG – Organização não Governamental
PANPA – Programa de Apoio a Novos Produtores Agropecuários
PTA – Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologia
PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
RS – Rio Grande do Sul
SARGS – SOCIEDADE DE Agronomia do Rio Grande do Sul
UPAs – Unidades de Produção Agrícolas.
xviii
RESUMO
Há várias vertentes que perseguem a harmonização entre as atividades produtivas e anatureza, entre as quais se encontra a agricultura sustentável, que é o eixo deste trabalho.Seu objetivo é caracterizar e analisar a situação de 17 unidades de produção sustentável eseus atores sociais em cinco municípios do Rio Grande do Sul (Cerro Grande, Ibarama,Maquiné, Montenegro e Sobradinho), apontando seus entraves, potencialidade eoportunidades. A análise foi baseada na pesquisa de campo realizada com agricultoresfamiliares dedicados a práticas agrícolas sustentáveis, além de outros atores sociais, comotécnicos e profissionais da área. Na metodologia, teve-se em conta o abordagem sistêmicana estruturação das entrevistas. A coleta dos dados fez-se através de entrevistas semi-estruturadas com agricultores, técnicos e profissionais na área pesquisada, combinando-seos dados e a análise quantitativa e qualitativa das informações coletadas. Foramorganizados e analisados os componentes socio-econômicos, ténico-agronômicos,econômicos, ecológicos e políticos-instituicionais da realidade investigada. Os principaisfundamentos teóricos utilizados na análise incluem a agricultura de base familiar e suascaracterísticas, bem como as práticas, técnicas e os processos que identificam a agriculturasustentável. O trabalho de campo analisou as condições em que se desenvolvem asatividades produtivas nas unidades pesquisadas, além do desempenho e o grau de satisfaçãodos agricultores nestas atividades e a participação dos técnicos e profissionais. Através daanálise dos referidos dados. Entre vários outros aspectos, constatou-se que acima de 65%das unidades de produção investigadas apresentam viabilidade econômica, embora partedelas ainda utilize, além das práticas alternativas, o sistema de produção convencional.Identificou-se, assim, a persistência de vários problemas, os quais considera-se que sejamocasionados, em parte, pela falta de planejamento nas unidades produtivas e, em parte pelafalta de pesquisas na área. Um último aspecto bastante importante nesse quadro é o apoioque o governo de Estado vem dando a esta agricultura, através de programas decapacitação, financiamento à produção e à industrialização dos produtos.
Palavras chaves: agricultura sustentável, agricultura com base ecológica, unidade deprodução agrícola, práticas conservacionistas.
xix
RESUMEN
Hay varias corrientes que buscan la armonía entre las actividades productivas y lanaturaleza, entre ellas está la agricultura sustentable, que es el centro deste trabajo y tienecomo objetivo caracterizar y analizar la situación que presentan 17 unidades de producciónsustentable y sus actores sociales en cinco municipios de Rio Grande del Sul (CerroGrande, Ibarama, Maquiné, Montenegro y Sobradinho), apuntando sus problemas,potencialidades y sus oportunidades. El análisis fue basado en el trabajo de campo realizadocon agricultores familiares dedicados a las prácticas agrícolas sustentables, además de otrosactores sociales como técnicos y profesionales del área. En la metodología se tuvo encuenta el abordajen sistémico. Los datos fueron copilados a través de entrevistas semi-estructuradas dirigidas a éstes. Fueron organizados y analizados componentessocioculturales, técnicos-agronómicos, ecomónicos, ecológicos y político-institucionales dela realidad investigada. Los principales fundamentos teóricos, utilizados en el análisisincluyen las características de la agricultura de base familiar, así como prácticas, técnicas yprocesos que identifican la agricultura sustentable. En el trabajo de campo fueronanalizadas las condiciones en que se desarrollan las actividades productivas en las unidadespesquisadas; también, se tuvo en cuenta el grado de satisfacción de los agricultores en estasatividades y la participación de los técnicos y profesionales en el processo productivo. Pudoconstatarse que mas del 65% de las unidades de producción visitadas presentan viabilidadeconómica, siendo utilizados en varias de estas duplo sistemas de producción (alternativo yconvencional). Entre los problemas identificados, considérase como causa principal deellos, la falta de planificación en las unidades de producción y también la falta de pesquisasen el área. Un aspecto importante en el avance de esta agricultura es el apoyo que elgobierno departamental y municipal están ofreciendo en pro de su desarrollo, a través deprogramas de capacitación y financiamiento a la producción y a la industrialización de losproductos.
Palabras Claves: Agricultura sustentable, agricultura con base ecológica, unidad deproducción agrícola, prácticas conservacionistas.
xx
ABSTRACT
Sustainable agriculture is one of several approaches to unifying agricultural practices andthe conservation of nature, the focus of this work. Seventeen farms with sustainableagricultural practices were studied, in five municipalities in the state of Rio Grande do Sul(Cerro Grande, Ibarama, Maquiné, Montenegro, and Sobradinho). Data were collected insemi-structured field interviews of the family farmers, technical advisors, and others whointeracted with the family farms. A systems approach to farming was used in the interviews.Data was gathered on socio-economic, agronomic ecological, and political components ofthe farming systems. Studies on sustainable agriculture and family farming were thetheoretical basis for the analysis of the data gathered. The conditions of agriculturalproduction, the success and satisfaction that farmers enjoyed, and the role played byextension agents and other professional participants in the process were analysed. Theresults of this analysis showed that 65% of the farms studied had sound long-term economicviability, using a combination of alternative and conventional agricultural practices. Datawas gathered on socio-economic, agronomic ecological, and political components of thefarming systems. Studies on sustainable agriculture and family farming were the theoreticalbasis for the analysis of the data gathered. The conditions of agricultural production, thesuccess and satisfaction that farmers enjoyed, and the role played by extension agents andother professional participants in the process were analysed. The results of this analysisshowed that 65% of the farms studied had sound long-term economic viability, using acombination of alternative and conventional agricultural practices.
Key words: sustainable agriculture, ecological basis do agriculture, agricultural productionunit, conservation practices.
1
I. INTRODUÇÃO
A motivação para analisar experiências de sistemas agrícolas de produção
alternativa em relação à produção convencional e aprofundar o estudo do tema, me
levaram a desenvolver esta dissertação, optando por realizar a pesquisa de campo em
municípios do Rio Grande do Sul, com agricultores com certo tipo de produção agrícola
sustentável. O fato de conhecer, em 1998, algumas experiências de produção de
agricultores associados à Coolméia, ao Ecocitrus e ao Centro Ecológico, me levaram a
optar a desenvolver o trabalho de campo com esses agricultores.
A agricultura alternativa é considerada como “processo de permanente
aprendizagem” (PRETTY, 1995)1. Envolve atividades econômicas, culturais, processos
naturais e, fundamentalmente, processos socioculturais, numa construção humana, vista
com possibilidades de promover transformações em todo o sistema agroalimentar,
enfrentando grandes desafios. Dentre eles, a necessidade de manter-se economicamente
produtiva, tornar-se socialmente mais justa, adequar-se às exigências da proteção da
qualidade ambiental, demandando disposição, ações e pesquisas no desenvolvimento
dos sistemas de produção, requer também, maior interação entre os aspectos de natureza
técnica e sociológica (organização, relacionamento e integração) como assessoria
técnica e articulação com o mercado, inclusive com o aproveitamento do grande
potencial que há na demanda crescente de produtos orgânicos.
O adjetivo “alternativa” para a agricultura é usado para enfrentar parte dos
problemas ocasionados pela “Revolução Verde” e pelo uso abusivo dos recursos. Dentre
os problemas ambientais citam-se: erosão, desertificação, poluição por agrotóxicos e por
fertilizantes solúveis e a perda da biodiversidade, além do controle do capital e das
terras férteis por parte dos maiores e mais ricos produtores, em detrimento dos
agricultores mais pobres.
1 PRETTY (1995) diz que a “agricultura sustentável é, portanto, não apenas um modelo ou um pacote aser simplesmente imposto “e mais um processo de aprendizagem”.
2
Esta agricultura, denominada aqui, de início, agricultura alternativa ou
genericamente agricultura sustentável, está também disponível aos pequenos
agricultores que não têm acesso às grandes e custosas chamadas inovações tecnológicas.
Embora essa agricultura exija maior capacidade de gerenciamento, mais mão-de-obra e
melhor qualificada, mais conhecimentos técnicos e pesquisas sobre as inter-relações do
ecossistema, tem-se conhecimento de pequenos agricultores que vêm enfrentando, com
êxitos, coragem, persistência e dedicação essas exigências, com a valorização do seu
saber e de sua capacidade de adaptação.
Desde o momento em que a produção agrícola deixou de ser tratada como uma
questão meramente técnica e passou a ser vista como um processo com dimensões
sociais, ambientais, culturais, políticas e econômicas, passou-se a avaliar “os saberes
locais” e tê-los em conta no desenvolvimento de projetos, programas e atividades de
produção sustentável dirigidos a grupos de pessoas com características específicas,
como são os agricultores estudados neste trabalho.
Neste processo de desenvolvimento da produção sustentável, há algumas
tecnologias que estão realmente contribuindo de maneira decisiva para o aumento do
bem-estar dos indivíduos e do aprimoramento dos sistemas sociais mas, requer-se de
mais tecnologias socialmente apropriadas que apontem, necessariamente, à eficiência
econômica, respeitando a vida de um modo geral e dos humanos em particular.
Após conhecerem-se algumas experiências de êxito na produção sustentável nas
quais seus atores demonstraram satisfação no desenvolvimento e no desempenho de
suas funções, justifica-se a proposta de estudar e de compreender fundamentação da
produção com bases ecológicas dos agricultores pesquisados, através do estudo de caso,
com o intuito de contribuir para um melhor desenvolvimento desta produção.
Este trabalho pretende discutir aspectos da produção com bases ecológicas em
pequenas unidades de produção, relacionando sua funcionalidade como um todo, tendo
em conta a problemática e os entraves que enfrentam, as potencialidades que
apresentam e o grau de satisfação que têm os agricultores no desempenho das atividades
produtivas. Aponta-se, também, alguns aspectos relacionados ao desenvolvimento desta
agricultura, segundo a percepção dos próprios agricultores e dos técnicos entrevistados,
com a intenção de dar um enfoque sistêmico ao estudo do tema.
3
Como ponto de partida, considero que a produção com base ecológica contribui
para a sustentabilidade dos recursos e a produção lucrativa nos agroecossistemas. Minha
inquietude inicial radicava em conhecer a forma como os agricultores podiam conseguí-
lo. Que estratégias, métodos e processos empregavam. De que forma enfrentavam os
múltiplos problemas inerentes a esta produção nas unidades produtivas. Mas, para
estudar isso, tinha que dar resposta a outra questão importante: como e com que
parâmetros analisar as complexidades das unidades produtivas e o que chamo de
sustentabilidade e como analisar os múltiplos dados presentes na agricultura sustentável,
inerentes às unidades produtivas.
Estas questões me levaram a decidir pela abordagem sistêmica, como ferramenta
ou meio que poderia contribuir para o estudo e análise, do desempenho dos
agroecossistemas. Isso me levou a traçar os objetivos do trabalho, ou seja, de estudar
algumas condições em que se desenvolve a produção com bases ecológicas no Estado
de Rio Grande do Sul e muito especialmente nas unidades de produção pesquisadas.
1.1. OBJETIVO GERAL
O objetivo deste trabalho é caracterizar e analisar a situação de 17 unidades de
produção agrícola com bases ecológicas e seus atores sociais em cinco municípios do
Rio Grande do Sul - Cerro Grande do Sul, Ibarama, Maquiné, Montenegro e
Sobradinho, apontando os entraves, as potencialidades e as oportunidades apresentadas
no desenvolvimento da produção, além de apontar algumas sugestões que possam
contribuir com o melhoramento desta produção.
4
1.1.1. Objetivos específicos
Estudar os respectivos agroecossistemas, tendo em vista as dimensões de tipo
sociocultural, técnico-agronômico, econômico, ecológico e políticoadministrativo,
buscando caracterizar os agricultores, mediante a utilização do enfoque sistêmico2, para
conhecer o funcionamento das unidades de produção agrícola e identificar as que
apresentam melhores condições de sustentabilidade na produção;
- Analisar as estratégias de produção adotadas no período de transição e após o
estabelecimento da produção sustentável nas unidades.
- Analisar o desempenho das unidades de produção, a fim de apontar algumas
alternativas que viabilizem uma maior sustentabilidade nas atividades agrícolas.
1.2. Caracterização do trabalho de campo
Foram analisadas 17 unidades familiares de produção, com diferentes perfis. Entre
elas, sete encontram-se em processo de transição para práticas agrícolas sustentáveis e,
10, já as praticavam regularmente. A pesquisa foi desenvolvida em cinco municípios do
Rio Grande do Sul. A localização geográfica destes municípios mostra-se na figura 1.
2 Segundo PINHEIRO (1995) esta abordagem teórica parte da hipótese que os sistemas devem serestudados no seu todo, e não apenas no fenômeno em si, dando ênfase á inter-relações entre as partes eentre o sistema e o ambiente.Para este autor (2000), o enfoque sistêmico tem sido aplicado na agricultura em resposta às crescentescríticas e falhas de projetos reducionistas e disciplinares de desenvolvimento rural direcionados aospequenos agricultores familiares. Este enfoque trata de solucionar ou minimizar os problemas complexos.A abordagem sistêmica visa ao estudo do desempenho total de sistemas. Na agricultura este enfoque temse tornado cada vez mais necessário, devido à crescente complexidade de sistemas organizados pelohumano e da emergência do conceito de sustentabilidade, lançando novos desafios na área rural,sobretudo em relação à questão socioambiental. Requerendo a grande maioria dos sistemas agropecuáriosum abordagem holística e multidisciplinar, a fim de melhor serem entendidos e analisadosKHATOUNIAN (2001), considera que o abordagem sistêmica por englobar o todo, tem sido útil para oestudo das pequenas propriedades familiares e/ou propriedades orgânicas por apresentarem estas elevadasdiversidade e integrações internas. Considera que o objetivo final do exercício de análise e de síntese éidentificar as possibilidades e limitações das propriedades para o atendimento dos objetivos dosagricultores.
5
FIGURA 1. Localização dos municípios visitados
Ibarama Montenegro . Maquiné
Sobradinho Cerro Grande do Sul
Dos agricultores familiares no processo de transição para a agricultura sustentável,
dois estão nos municípios de Ibarama e, cinco, em Sobradinho. Dos agricultores
familiares orgânicos, dois estão em Cerro Grande do Sul, um, em Maquiné e, sete , em
Montenegro.
A eleição dos agricultores foi através de sugestões de profissionais, técnicos e
extensionistas na área, na busca de uma amostra representativa das condições em que se
desenvolvem a produção com bases ecológicas, na área pesquisada.
As ferramentas metodológicas utilizadas foram: visitas às unidades produtivas,
entrevistas com agricultores, profissionais e técnicos de instituições do governo e
ONGs, que têm destaque na produção sustentável na região.
Foram elaborados questionários e roteiro de entrevistas semi-estruturadas
dirigidos a agricultores (anexo I), entrevistas de caráter semi-estruturado dirigidas a
técnicos e extensionistas (anexo II), obtendo-se dados quantitativos e qualitativos, além
6
de algumas informações de caracter subjetivas, sendo algumas dessas entrevistas
gravadas em fita cassete.
As informações de campo foram coletadas em maio, junho e dezembro de 2001.
Foram visitadas, além das 17 unidades de produção, várias sedes da Emater, incluindo a
central em Porto Alegre, a Fepagro e cooperativas. Entre elas, a Coolméia, a Ecocitrus e
a Coagricel. Foram entrevistados oito técnicos e cinco profissionais dessas instituições.
Nos questionários foram abordados diversos aspectos e dimensões, entre eles, as
dimensões sociocultural, técnico-agronômico, econômico, ecológico e político-
institucional dos sistemas de produção.
As variáveis e componentes da dimensão ou aspecto sociocultural que investiguei
têm a ver com aspectos dos membros da família (sexo, faixa etária, estado civil,
escolaridade, etnia, entre outros), além daqueles que pudessem identificar, com clareza,
suas condições de vida, tais como infra-estrutura doméstica (condições habitacionais,
saneamento básico, locomoção, atividades sociais, etc.), acesso aos principais serviços
públicos (educação, saúde, transporte) e, sobretudo, características específicas da
produção agrícola, compreendendo-se como tal, a produção vegetal e a produção animal
e a disponibilidade de mão-de-obra familiar ou contratada.
Quanto à dimensão técnico–agronômica sintetiza-se a forma como o agricultor
desenvolve as diferentes atividades agrícolas produtivas, técnicas e práticas de manejo
de recursos, culturas/espécies, práticas de conservação de solo, controle de pragas e
doenças, rendimento, finalidade da produção e aspectos no desenvolvimento das
práticas agronômicas.
Quanto à dimensão econômica, buscou-se constatar a situação econômica-
financeira que apresentam as diferentes famílias nas unidades de produção estudadas.
Aponta-se também, aspectos gerais relacionados ao tempo de dedicação dos produtores
às atividades produtivas, os financiamentos, as relações dos bens patrimoniais, os
custos, as rendas, a rentabilidade na produção, entre outros.
No que diz respeito à dimensão ecológica procurou-se investigar o manejo dos
recursos naturais , a reciclagem de resíduos, o uso de insumos orgânicos ou sintéticos, o
controle de pragas e doenças, entre outros.
Na dimensão político-institucional teve-se em conta o apoio e o respaldo das
instituições no desenvolvimento agrícola, algumas políticas públicas que apoiam o
7
processo de transição da produção, além de algumas percepções dos agricultores frente
à política pública e o desempenho dos técnicos e profissionais nas atividades produtivas.
Foram revisadas algumas informações gerais sobre o Estado do Rio Grande de
Sul, relacionadas aos aspectos naturais e geográficos que incidem na produção, tais
como vegetação, clima, hidrografia, incluindo dados estatísticos da população, produção
agropecuária, estrutura fundiária, entre outros.
Para a análise e interpretação dos dados coletados foram inicialmente analisados
de forma separada, os diferentes componentes das dimensões antes apontadas,
articulando-as posteriormente, neste processo teve-se em conta a unidade de produção
como um todo. Grande parte dos resultados obtidos nas visitas foram sistematizados em
tabelas. Já os comentários e as observações, serviram como subsídio na análise e
argumentação do trabalho.
Isso me permitiu estruturar esta dissertação em seis capítulos. Assim na
introdução apresenta-se a temática da pesquisa, seus objetivos e os marcos
metodológicos para o análise das condições em que se encontram as unidades de
produção pesquisadas. Também se destacam os procedimentos e métodos analíticos da
pesquisa.
O primeiro capítulo trata das questões teóricas que orientam o trabalho.
No segundo capítulo apresentam-se características históricas e geográficas do
Estado de Rio Grande do Sul, além de outras relativas à produção agropecuária, à
política administrativa e à participação de órgãos do governo nessas políticas.
Aspectos mais gerais do trabalho são apresentados no terceiro capítulo como a
história e algumas características da produção de base ecológica no Estado.
Os resultados da pesquisa de campo são apresentados no quarto capítulo, onde,
utilizando-se o enfoque sistêmico, foram estudadas e analisadas as características
consideradas relevantes dos aspectos socioe-conômicos e culturais, sobretudo
enfocando a caracterização das unidades de produção dos agricultores em suas
dimensões técnico-agronômico, econômico, ecológico e político-institucional, de modo
a possibilitar a compreensão dos agroecossistemas, e as formas de produção
empregadas, assim como também as estratégias e processos utilizados nas unidades de
produção, visando estas como um todo.
8
No quinto capítulo são apresentadas as percepções que os agricultores têm à
respeito de suas condições de vida, destacando-se suas percepções sobre as próprias
práticas agropecuárias sustentáveis. Apresenta-se, ainda, nesse capítulo as concepções e
observações de técnicos agrícolas e profissionais de instituições públicas e não
governamentais envolvidos no processo produtivo.
As considerações finais e as sugestões são apresentadas no sexto capítulo, no qual
tenta-se sintetizar alguns dos aspectos antes apontados, sobretudo em relação aos
desafios e problemas enfrentados pelos agricultores em análise. Ao final, encaminha-se
sugestões consideradas importantes para contribuir com o desenvolvimento da
agricultura sustentável nas unidades de produção pesquisadas.
9
CAPÍTULO 1
1. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
Para analisar o ambiente onde interagem os sujeitos do estudo, levou-se em
consideração o conceito de desenvolvimento3 que pressupõe o humano, a sociedade e as
inter-relações com a natureza, num agir contínuo dos primeiros, na procura de
estratégias para seu desenvolvimento.
Na escolha dos procedimentos metodológicos, houve necessidade de abordar-se
diferentes dimensões compatíveis com a complexidade dos sistemas agrícolas
estudados. Para isso, utilizou-se o enfoque sistêmico, operado por meio de componentes
e de variáveis. Salienta-se que foram analisados os dados, tanto quantitativos quanto
qualitativos.
O enfoque sistêmico4 foi assumido por considerar-se um método que procura
compreender a complexidade das diversas interações dos sistemas agrícolas, permitindo
analisar e entender a unidade de produção como um todo, de forma dinâmica, em que os
componentes presentes inter-relacionam-se permanentemente.
Tratar o tema da produção de bases ecológicas significa considerar também o
perfil sociocultural dos atores sociais que intervêm nela. Esta parte do trabalho
contempla algumas teorias existentes que caracterizam, em parte, o comportamento e o
3 A essência deste conceito esta no processo de escolha e bem-estar das pessoas. As três escolhasessenciais se resumem na capacidade para: 1) ter uma vida longa e saudável; 2) adquirir conhecimento 3)ter acesso aos recursos necessários para contar com um padrão de vida adequado. E mais, de valorizar: aliberdade, tanto política, econômica e social; a oportunidade de ser criativo e produtivo; o respeitopróprio; os direitos humanos garantidos (PNUD, 1997).4 Segundo DURAND (1998), é possível destacar quatro conceitos fundamentais que estruturam o enfoquesistêmico: 1- Inter-relações: a relação entre dois elementos não é uma simples ação causal de umelemento sobre outro, mais existe uma troca entre os elementos e um processo de retroalimentação. 2-Totalidade: Um sistema é um todo que não pode ser analisado por meio de suas partes separadamente. 3-Organização: está relacionada à idéia de um tipo de otimização dos componentes do sistema e seu arranjo,por isso comporta aspectos estruturais e funcionais. 4- Complexidade: está relacionada a causas inerentesà composição do sistema (número e características de suas inter-relações), causas provenientes dasincertezas de seu meio ambiente e outras relações entre ordem e desordem.
10
agir desses atores, especificamente nas questões antropológicas que demarcam a forma
de pensar, agir e o envolvimento que eles apresentam no processo produtivo agrícola. A
revisão bibliográfica, refere-se a alguns aspectos das razões e da lógica que orientam os
agricultores em suas escolhas e estratégias de produção, além dos conceitos centrais e
reflexões sobre a produção sustentável.
Os agricultores fazem suas escolhas em relação a suas práticas e em suas
condutas, movimentando-se em um meio social e em um tempo determinado, na
tentativa de alcançar suas metas, mas sob pressões exercidas pelo entorno físico-social–
econômico, que pode interferir, de diferentes formas, na dinâmica do sistema de
produção. Recebem influências de diversos tipos, entre as quais as dos membros da
família, da comunidade, do mercado, média, do serviço de assistência técnica e de
extensão rural, e ainda das companhias vendedoras de insumos. Há, ainda, uma
interferência direta nas decisões e nas estratégias implementadas nas unidades de
produção, as quais buscam, quase sempre, a satisfação nas atividades de produção.
No processo de tomada de decisão e de definição das estratégias produtivas, os
agricultores as realizam num ambiente complexo, apresentando múltiplos objetivos,
expectativas, pressões e conflitos na busca de um relativo equilíbrio; perseguindo uma
série de interesses, sendo estes, muitas vezes, de caracter econômico. Com respeito ao
agir dos indivíduos SAHLINS (1979), critica algumas correntes de pensamento que
advogam que as decisões e escolhas dos indivíduos derivam de sua atividade racional na
perseguição de seus melhores interesses, usualmente na esfera econômica. Estas
consideram que toda atividade, ação, ou padrão de comportamento é essencialmente
orientado por razões práticas, a partir de seu interesse utilitário, buscando sempre a
maximização das relações meios – fins, visando o maior proveito material possível. Já
este autor considera que é a cultura do indivíduo que cria a utilidade, que fundamenta
seus valores e interesse, partindo do suposto que o indivíduo vive num mundo material
mais de acordo com o esquema simbólico criado por ele mesmo.
Frente a essas posições é mais adequado levar em conta tanto a razão prática,
como a razão simbólica nas decisões dos indivíduos, independentemente de suas
derivações. Considera-se, assim, importante identificar as razões simbólicas dos
agricultores juntamente com seus interesses, entre eles os econômicos, como estratégia
que possa contribuir na adoção de práticas agropecuárias sustentável.
11
É importante conhecer essas razões, especialmente levando-se em conta que os
agricultores, sobretudo os familiares, fazem parte de um grupo social heterogêneo,
desenvolvendo-se em situações variadas e específicas, contendo toda uma diversidade.
Como diz LAMARCHE (1993), “a agricultura familiar não é um elemento da
diversidade, mas contém nela mesma toda esta diversidade”. O que sem dúvida, ocorre
na produção sustentável seja de base familiar, seja de base patronal.
Apesar da referida diversidade é indispensável ressaltar que os agricultores
familiares de um modo geral produzem representações próprias, especialmente relativas
ao processo de trabalho, possibilitando o reconhecimento de aspectos em comum entre
suas experiências, manifestadas na forma de perceber as relações dos humanos entre si e
com as coisas de seu interesse, como o relaciona WOORTMANN (1990),. Assim, esse
autor aponta entre os agricultores familiares algumas características comuns a
segmentos sociais camponeses, ou seja, agricultores tradicionais, que em maior ou
menor grau, fazem também parte do universo sociocultural dos agricultores familiares
em geral. De acordo com esse autor, os agricultores concebem a terra, o trabalho e a
família de forma interdependente e integrado às categorias, aos valores e às
representações, os quais marcam sua forma de viver, de produzir e de relacionar-se com
a natureza. A terra apresenta-se como o maior patrimônio que possuem, não só pelo
valor econômico que possa ter, mas também como aponta, WANDERLEY (1999), por
representar-lhes um território, lugar de vida e de trabalho e a garantia da produção
cultural da família, ela própria tomada como um valor e não simplesmente como um
“pool” de força de trabalho. Assim, parte das atividades e das estratégias produtivas dos
agricultores, buscam manter o patrimônio (terra), de tal forma que permita a
continuidade das atividades produtivas por meio das futuras gerações, tentando, se
possível, manter parte de seu patrimônio sociocultural.
Esse patrimônio cultural expressa, segundo LAMARCHE (1993), o sistema de
valores, de representações e do saber tradicional construído e acumulado
historicamente, graças aos desafios enfrentados no cotidiano, servindo de guia à
compreensão do presente e, também, para projetar o futuro. Esse autor considera o
patrimônio sociocultural importante e determinante no processo de tomada de decisão,
intervindo, ainda, nas escolhas políticas e econômicas no decorrer do processo
produtivo. Influencia também, na determinação, em alguns casos, das escolhas
12
tecnológicas a serem utilizadas nas unidades produtivas e em suas perspectivas como
empreendedores, ao manifestarem-se em relação a custos, receitas e riscos, tomando
decisões empresariais cuja eficiência, muitas vezes, dificilmente pode ser entendida por
pessoas estranhas a eles.
Do ponto de vista sócio-econômico apresentarei, a seguir, a definição da
agricultura familiar segundo o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar, Decreto N° 1.946, de 28 de junho de 1996 e algumas outras questões
relevantes que ajudam na compreensão e na categorização dos agricultores estudados.
Segundo este programa, a agricultura familiar é considerada modelo de
organização da produção agropecuária onde predomina a interação entre a gestão e o
trabalho, a direção do processo produtivo pelos proprietários e o trabalho familiar
complementado pelo trabalho assalariado, valorizando a diversificação, a durabilidade
dos recursos e a qualidade de vida. Sendo esta definição abrangente quanto à
diferenciação dos agricultores familiares – consolidados, em transição e periféricos,
considerados os graus de integração ao mercado, das inovações tecnológicas, da gestão
produtiva, da participação em políticas públicas e do controle da terra, jamais superior a
100 hectares. Valorizando-se o caráter familiar de forma tão acentuada, que foi
escolhida para qualificar uma forma de organização da produção agrícola em
contraposição à coexistente forma hegemônica objetivada nas empresas e nas
orientações mais gerais das políticas públicas, NEVES, (1998), mostra dessa
valorização encontram-se em estudos realizados nas mudanças do meio rural, entre eles
com SILVESTRO et al (2001), que consideram que não existe atividade econômica
onde as relações familiares tenham tanta importância como na agricultura familiar.
Reconhecendo a importância social, econômica e territorial das unidades de produção
familiar, estrutura bimodal, coincidência entre o local (local de residência e local de
trabalho), esses autores consideram a agricultura familiar “unidade indissolúvel de
geração de renda”, na qual os filhos e filhas integram-se aos processos de trabalho,
contribuindo nas atividades produtivas desde muito cedo até dominar os principais
aspectos da própria gestão das unidades, facilitando, assim, a transferência patrimonial,
a continuação da atividade profissional paterna e a retirada das gerações mais velhas da
direção das unidades produtivas. (Ainda em algumas populações dados de migrações
para centros urbanos parecem até certo ponto contrariar este conceito).
13
Esta “unidade indissolúvel de geração de renda” apresenta diversidade de formas
de organização da produção agrícola, as que segundo NEVES (1998), estão assentadas
numa orientação econômica demostrando também como já foi afirmado, a importância
dos significados culturais e a visão de mundo dos agricultores familiares. Essa autora
aponta, ainda, que as mudanças nas atividades agrícolas e especialmente nas unidades
de produção organizadas como patrimônio familiar tem que ser entendidas por suas
multidimensões e compreendida desde diferentes aspectos, entre eles: os fatores de
mudança sociais (que também podem desdobrar-se em outros fatores afetivos e morais),
os fatores fundamentais ao entendimento das razões e das alternativas de tomadas de
decisões, os saberes acumulados que orientam as decisões e suas estratégias, além das
questões econômicas.
Vale, ainda, destacar, em relação à agricultura familiar, a questão de sua
rentabilidade econômica. Esta agricultura também apresenta possibilidades de novas
formas de organização da produção no âmbito das economias de mercado,
apresentando-se, segundo JONES (2000), como alternativa importante e viável nas
possibilidades de desenvolvimento de uma agricultura eficiente sustentada em mão-de-
obra familiar com produtividade e eficiência, dadas as possibilidades cientificas,
técnicas, organizacionais, entre outras existentes atualmente. Esse autor diz que o
produtor familiar tem possibilidade de apropriar-se do produto de seu trabalho e até
parte do excedente produzido, quando sua magnitude ultrapassar os seus custos de
reprodução, possibilitando sua realização no mercado.
Frente a esse aspecto, são vários os casos conhecidos de agricultores familiares
que encontraram na produção agrícola a fonte não só de sustento da família, como
também de capitalização, o que foi concretamente observado em alguns dos agricultores
familiares estudados neste trabalho, os quais conseguiram a reprodução do capital e
apresentaram investimentos nas unidades de produção. Ainda temos que reconhecer que
são muitos os agricultores familiares que necessitam alcançar essa situação, o que
ocorreria de melhorar-se as possibilidades dos agricultores familiares se apropriarem do
produto de seu trabalho, de obterem maior lucro nas atividades agrícolas, possibilitando
assim, condições de melhorar a agricultura familiar. Considerando que isso depende, em
parte, das condições de mercado, das possibilidades de conseguirem baixar seus custos
de produção e poderem colocar seus produtos de forma competitiva no mercado.
14
Constatou-se que são nas questões de mercado, onde vários agricultores familiares
encontram o maior obstáculo no desenvolvimento da produção.
NEVES (1998), também considera a articulação entre agricultura familiar e a
sustentabilidade como fundamento para a elaboração de modelo próprio de
desenvolvimento, os quais segundo CANUTO (1998), podem fortalecer-se nos estilos
existentes e emergentes de agricultura de bases ecológica, na construção de uma
agricultura e uma sociedade mais sustentável
A seguir são apresentados vários aspectos que caracterizam a agricultura com
base ecológica. Tenta-se manter na apresentação certa ordem cronológica segundo seu
desenvolvimento.
1.1 Agricultura Orgânica
No século XX a agricultura foi marcada por acontecimentos que permitiram aos
agricultores a oportunidade de escolha no sistema de produção. Segundo EHLERS
(2001), no passagem desse século, fui predominante o otimismo e a aceitação das
teorias de Justus von Liebig que introduziu a prática da adubação química na
agricultura. Surgindo nas décadas 20 e 30 movimentos “rebeldes”(como foram
chamados por esse autor), contrários à adubação química que valorizavam o uso de
matéria orgânica e de outras práticas culturais favoráveis aos processos biológicos.
Entre esses movimentos “rebeldes” encontra-se a agricultura orgânica, a qual apresenta
várias definições, apresentando-se a :
LAMPKIN (1996), quem diz que a agricultura orgânica pode ser definida como
uma abordagem para a agricultura onde o objetivo é criar sistemas de produção
agrícolas integrando humanos, ambiente e que sejam economicamente sustentáveis, que
maximizem a confiança nos recursos renováveis com o manejo e a interação dos
processos ecológicos e biológicos, como também fornecer níveis de cultivos aceitáveis à
nutrição humana e para o gado, com proteção contra pragas, e doenças e um retorno
apropriado aos humanos.
A agricultura orgânica, considerada, portanto, como uma alternativa frente à
produção convencional, apresenta como protagonistas iniciais os agricultores,
15
especialmente da Índia e de outras partes do mundo, na medida que eles por tradição,
realizavam atividades produtivas utilizando algumas práticas de conservação dos
recursos naturais que tinham a disposição.
Segundo EHLERS (2001), a agricultura orgânica, cujos princípios foram
fundamentados entre os anos de 1925 e 1930 pelo pesquisador inglês Sir Albert Howard
e disseminados na década de 40 por Jerome Irving Rodale nos E.U.A. Na década do 60
foi se mostrando como alternativa para o padrão da agricultura convencional que vinha
apresentando problemas energéticos e econômicos e causando cada vez mais danos
ambientais, a partir da erosão dos solos. No final da década de 70. Nos anos 80, a noção
de agricultura orgânica já apresentava um campo conceitual e operacional mais preciso.
Nos anos 90, este tipo de agricultura apresentou um rápido desenvolvimento na Europa,
Canadá e E.U.A, onde o número de unidades de produção orgânica e a demanda dos
consumidores cresceu rapidamente com menor crescimento nos países
subdesenvolvidos.
É importante e relevante o sucesso que durante um século mostrou a produção
sustentável, mais exatamente a agricultura orgânica, que em seu início teve poucos
seguidores. Atualmente vem tendo maior aceitação e demanda em vários países. Dai
pode-se deduzir que durante o século XXI a agricultura orgânica, tanto vegetal, como
animal, se expandirá, participando em maior escala na produção industrial.
Segundo EHLERS (2001), Howard, considerado o pai da produção orgânica, em
suas obras, além de ressaltar à importância da utilização da matéria orgânica nos
processos produtivos, mostra que os solos não devem ser entendidos apenas como um
conjunto de substâncias, (tendência proveniente da química analítica), pois nele ocorrem
uma serie de processos vivos e dinâmicos essenciais à saúde das plantas.
Dado o desenvolvimento histórico da agricultura orgânica as palavras biológico,
ecológico, biodinâmico, orgânico-biológico, natural e sustentável podem ser tomadas
como sinônimos de orgânicos, necessita-se de tempo para esses conceitos fundirem-se
em um só coerente, que hoje é prática mundial.
O termo "orgânico" é melhor entendido como se referindo não ao tipo de
insumos usados, mas ao conceito da unidade produtiva como um organismo, o qual
todos as partes componentes (os minerais do solo, matéria orgânica, microorganismos,
insetos, plantas, animais e humanos) interagem para criar um todo coerente. Este é
16
empregado para designar modelos não convencionais de agricultura que adotam certos
princípios básicos de manejo dos recursos naturais, do solo, da nutrição vegetal e da
proteção das plantas.
1.1.1 Características principais da agricultura orgânica
LAMPKIN (1996), descreve as características da produção orgânica como
segue:
- proteger a longo prazo da fertilidade dos solos mantendo os níveis de matéria
orgânica, promovendo a atividade biológica do solo e a intervenção mecânica
cuidadosa;
- fornecer nutrientes indiretamente aos cultivos usando fontes de nutrientes
relativamente insolúveis que tornam-se disponíveis para a planta pela ação dos
micro organismos do solo;
- possibilitar a auto-suficiência de nitrogênio através do uso de leguminosas e fixação
biológica de nitrogênio, como também a reciclagem efetiva de matéria orgânica,
incluindo resíduos de cultura e de gado;
- controlar ervas daninhas, doenças e pragas confiando principalmente nas rotações de
cultivo, predadores naturais, diversidade, adubo orgânico, variedades resistentes e
intervenção térmica, biológica e química limitada (preferencialmente mínima);
- manejo do gado, dando total atenção ás suas questões de adaptações evolutivas,
necessidades comportamentais e bem-estar dos animais com respeito á nutrição,
habitação, saúde, procriação e criação;
- atenção cuidadosa ao impacto do sistema agrícola sobre um ambiente amplo e a
conservação dos habitats naturais e de vida selvagem..
Além destas características, menciona-se outras técnicas usadas na produção
orgânica, que têm muita importância no bom desenvolvimento de qualquer unidade de
produção. São elas:
- emprego de água de fontes biológicas e quimicamente puras.
- uso de defensivos alternativos e armadilhas específicas.
- planejamento e contabilidade da produção agrícola.
17
A certificação dos produtos orgânicos, com uma série de normas técnicas
exigidas para a obtenção do "selo verde ou selo orgânico", é um mecanismo informal
que visa assegurar qualidade aos consumidores.
Segundo LAMPKIM (1996), os sistemas agrícolas orgânicos atraíram crescente
atenção nas duas últimas décadas, pois percebeu-se que ofereciam algumas soluções
para os problemas habituais dos setores agrícolas dos países industrializados, graças ao
potencial de fornecer benefícios em termos de proteção ambiental, conservação de
recursos não renováveis, melhoria da qualidade dos alimentos, redução na produção de
produtos excedentes e a reorientação da agricultura para áreas de mercados. Outro
aspecto atraente desta produção é o econômico. HAWKEN et al (1999), dizem que as
vantagens econômicas das práticas orgânicas ficaram demonstradas nas operações
comerciais de uma grande amplitude de produtos, em diferentes climas e vários tipos de
solo. Segundo eles, essas vantagens tendem a aumentar nas unidades de produção
familiar, trazendo mais benefícios sociais. Também considera que pode disseminar-se
mundialmente com sucessos através do modelo "o agricultor em primeiro lugar", que
valoriza, habilita, suplementa e aprende com os conhecimentos locais, a fim de obter
resultados complexos e individualmente programados, em vez de impor um conjunto
uniforme de técnicas simplificadas pela "transferência de tecnologia, "de cima para
baixo.
Estes autores apontam que a agricultura orgânica está percorrendo um longo
caminho rumo à produção de alimentos de melhor qualidade, a partir de insumos
menores e mais sustentáveis; conquistando mercados, consumidores e praticantes.
Consideram que a agricultura baseada em modelos mais naturais poderá reduzir o
desmatamento, a agressão nas áreas de cultivo e a freqüente fertilização, o que poderia
gerar maior eficiência energética e maior dependência de energia renovável.
Consideram que tais medidas, provavelmente eliminariam muito as emissões
humanas de óxido nitroso, já que grande parte destas, podem ser produzidas pelas
reações de fertilizantes sintéticos com as bactérias de solo. Nesse aspecto, há a
possibilidade de fixar muito dióxido de carbono com a utilização de matéria orgânica,
no húmus, graças ao acúmulo de uma biota de solo ricamente diversificada. Segundo
estes autores as práticas orgânicas ou de poucos insumos industriais, principalmente,
nos Estados Unidos e Alemanha, demostraram que após alguns anos de reequilibro,
18
pode-se reverter as perdas de carbono, protegendo simultaneamente o clima do planeta e
o solo do agricultor.
Algumas informações da produção de orgânicos no Brasil foram encontradas em
DAROLT (2000), que afirma que o país no final do século XX, ocupava o trigésimo
quarto lugar no “ranking” dos países exportadores de produtos orgânicos. Nos últimos
anos o crescimento das vendas chegou a 50% ao ano e as áreas cultivadas poderiam
estar perto dos 100 mil hectares, em cerca de 5.000 unidades de produção orgânica.
Segundo os estudos realizados, considerou que aproximadamente 70% da produção
orgânica brasileira se encontrar nos estados do Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul,
Minas Gerais, Espírito Santo. São Paulo e Paraná, cujos mercados vêm aumentando
significativamente. Como exemplo, a cidade de São Paulo, conta com um potencial de
comercialização de 5 milhões de dólares/ano. Porém, atinge apenas 35% desse valor,
apontando que, ao nível nacional, o mercado para produtos orgânicos vem crescendo
10% ao ano, desde 1990, com grande potencial de exportação para o mercado europeu,
asiático e americano.
1.2 Agricultura Sustentável
A crise energética dos anos 70 e suas intensas repercussões na economia mundial,
bem como as reações às crescentes externalidades ambientais, o uso irrefreável de
recursos naturais e energéticos demandados pelo modelo de Revolução Verde, foram
algumas das razões que ocasionaram a crise do padrão convencional da agricultura. Daí
emergiu a necessidade de estilos alternativos nos sistemas produtivos agrícolas, com
interação dos componentes socioculturais, técnico-agronômico, econômicos e
ambientais, contando com o apoio político-institucional. Grande parte da literatura
considera esses fatores básicos para se conseguir uma agricultura sustentável
Segundo EHLERS (1999), a expressão agricultura sustentável passa a ser
empregada com maior freqüência, em meados dos anos 80, assumindo também
dimensões econômicas e socioambientais, ainda que, o termo sustentável, com relação
ao uso da terra, dos recursos bióticos, florestais e pesqueiros fosse usado desde décadas
anteriores.
19
Segundo esse autor, as múltiplas definições literárias para definir a “agricultura
sustentável” incorporam aspectos como:
- manutenção a longo prazo dos recursos naturais e da produtividade agrícola;
- o mínimo de impactos adversos ao ambiente;
- retornos adequados aos produtores;
- otimização da produção das culturas com o mínimo de insumos químicos;
- satisfação das necessidades humanas de alimentos e de rendas;
- atendimento das necessidades sociais das famílias e das comunidades.
Com relação às práticas agrícolas e a utilização dos recursos naturais, grande parte
da literatura inclui a redução do uso de pesticida, e de fertilizantes solúveis, o controle
da erosão do solo, a rotação de culturas, a integração da produção animal e vegetal e a
busca de novas fontes energéticas.
FLORES et al.(1994), consideram que os sistemas de produção agrícola
obrigatoriamente terão que ser sustentáveis, embora as tecnologias não sejam soluções
para todas as questões ambientais. Para este autor a agricultura sustentável só é viável
com a obtenção de níveis econômico de produtividade, com sistemas produtivos viáveis
em termos agronômicos, sociais e ecológicos, atendendo a demanda de curto e longo
prazo, alcançando sustentabilidade e crescimento da produção como metas compatíveis,
objetivando maior eficiência energética e conservação ambiental, além de considerar
também a necessidade de desenvolver e empregar mas tecnologias. Já para ALMEIDA
(1999), na agricultura sustentável é reservado um lugar importante à tecnologia, aos
processos e métodos de produção, caracterizando o sistema alternativo pela auto-
suficiência, a descentralização e a desconcentração presente neste sistema produtivo.
Segundo ALTIERI (1999), o objetivo maior desta agricultura, a partir do enfoque
agroecológico é a manutenção da produtividade agrícola com o mínimo possível de
impactos ambientais e com retornos econômicos-financeiros adequados à meta de
redução da pobreza.
Segundo ALMEIDA (1999), as noções de autonomia e autoconstrução (do meio,
das identidades, etc) permitem aos interessados pela agricultura sustentável tomar
consciência das possibilidades que permitirão a eles próprios construir seu futuro, seja
no plano específico do trabalho ou em um nível sócio-econômico e cultural mais amplo.
No aspecto técnico agronômico, de acordo com Holas (apud ALMEIDA, idem)
20
consideram a tecnologia como aquela “que vai na direção da harmonia entre o solo, a
vida animal e a vida vegetal”.
Segundo DAROLT (2000), o ponto comum entre as correntes que busca um
sistema de produção sustentável no tempo e no espaço, é o manejo e a proteção dos
recursos naturais, sem a utilização de produtos químicos agressivos à saúde humana e
ao meio ambiente, mantendo o incremento da fertilidade e a vida do solo, a diversidade
biológica e respeitando a integridade cultural dos agricultores.
Segundo PINHEIRO MACHADO (1998): “a agricultura sustentável esta inserida
no desenvolvimento sustentável e deve implicar, conceitualmente, o desenvolvimento
de uma sociedade mais justa, onde os valores humanos se sobreponham aos objetivos de
lucro e de simples reprodução do capital. Não se trata, pois, de gerar tecnologia para
perpetuar as injustiças hoje vividas pela grande maioria da população do globo terrestre.
A agricultura sustentável, como aqui é entendida, implica, previamente, na
sustentabilidade do ser humano, isto é, ao exercício pleno da sua cidadania, o que se
entende por dispor de trabalho, habitação, saúde, educação, cultura e lazer, como
condições mínimas a serem atendidas.
A agricultura sustentável é assim um conjunto de técnicas que objetiva maximizar
os benefícios sociais e econômicos da auto-sustentabilidade do processo produtivo,
minimizar e mesmo eliminar a dependência de insumos provenientes de processos de
síntese química e de proteger o ambiente, através da otimização do emprego dos
recursos naturais e sócio-econômicos disponíveis na unidade de produção ou na região,
para a produção de alimentos sadios, matérias primas, bens e utilidades de forma
sustentável no tempo e no mesmo espaço físico, e que seja eficiente social, econômica,
técnica, energética, ambiental e culturalmente, começando e o atendimento das
necessidades básicas da cidadania do ator principal, o ser humano.
A discussão sobre a agricultura sustentável, por outro lado, está presente em
vários setores da sociedade, por várias razões, entre elas a necessidade e o desejo
crescente da população em obter alimentos “limpos” e viver em melhores condições
ambientais, fatores esses positivos para a expansão desta agricultura.
No meio rural, em geral, e no Rio Grande do Sul em particular, essas
experiências são restritas, pois desde o início foram mobilizadas por agricultores
familiares, por técnicos e por organizações não governamentais, sem apoio de órgãos
21
públicos no processo de transição inicial, em 1999, se instala o atual governo estadual.
No entanto, houve influências sociais e específicas na dinâmica sócio-política e
econômica local que estimularam práticas orgânicas, atraindo outros agricultores.
Poucos pesquisadores estiveram dispostos a superar os rumos e os desafios dessa
produção.
No desenvolvimento da agricultura sustentável contribuíram: a fragilidade do
padrão convencional, os problemas energéticos e os ambientais, além do interesse
despertado por parte da população em relação aos métodos e os processos alternativos
que, com o passar do tempo e com o desenvolvimento lento e gradativo da produção,
vem comprovar o seu potencial inexplorado, como expressa EHLERS (1994),“a
agricultura sustentável é vista como uma possibilidade de se promover transformações
sociais, econômicas e ambientais em todo o sistema agro-alimentar, passando pelas
pesquisas, pelos hábitos de consumo alimentar ou pela revisão das relações entre países
do Norte e do Sul. Transformações que levam em conta a promoção da melhoria na
qualidade de vida de centenas de milhões de habitantes”.
A visão desse autor pode ser considerada ambiciosa. No entanto, o tempo vem
demostrando as vantagens que apresenta a produção sustentável, especialmente na
recuperação e na sustentabilidade das pequenas unidades de produção, ao conhecer-se
várias experiências produtivas, com ótima produtividade unida ao processo de proteção
ambiental.
1.3. Agroecologia
Segundo EHLERS (2001), no início dos anos 80, a agroecologia foi se firmando
no interior do sistema de pesquisa norte-americano. Ainda muito antes dessa fase fizera
parte de alguns cursos de agronomia como uma disciplina científica. Atribuindo-se
grande parte de seu desenvolvimento a – Klages (apud EHLERS, ídem) - esse autor
considerava que para compreender as complexas relações entre a agricultura e os
ecossistemas, tinha-se que levar-se em conta os fatores fisiológicos e agronômicos que
influenciam a distribuição e adaptação de culturas de determinadas espécies.
Posteriormente, incluiu os componentes históricos, tecnológicos e sócio-econômicos
que caracterizavam os diferentes ambientes como determinante para a produtividade das
lavouras. Outros pesquisadores chaves no desenvolvimento da agroecologia, segundo
22
este autor, foram Tischler, quem formulara os princípios da ecologia agrícola. Já Wilsie,
Chang e Loucks ajudaram a aproximar a agronomia da ecologia. Nos anos 70 e inícios
do 80, a facilidade de pesquisa contribuiu positivamente para o conhecimento ecológico
destacando-se os trabalhos de vários pesquisadores, entre eles Gliessman e Altieri.
ALTIERI (1989), enuncia a Agroecologia como disciplina de base científica, em
cuja definição incorporava idéias ambientais e de sentimento social acerca da
agricultura, tendo em conta a produção e a sustentabilidade ecológica dos sistemas de
produção.
Atualmente esta disciplina apresenta outros estudiosos, entre eles estão Noorgard,
Sevilla Guzmán, Toledo e Leff, que reafirmam a agroecologia como ciência de caráter
multidisciplinar.
Esta disciplina é considerada, segundo ALTIERI (1995), uma nova abordagem
que integra os princípios agronômicos, ecológicos, sócio-econômicos à compreensão e
avaliação do efeito das tecnologias sobre os sistemas agrícolas e à sociedade como um
todo. Tem como primeiro princípio a preservação e ampliação da biodiversidade para
produzir a auto-regulação e sustentabilidade dos agroecossistemas. Também enfoca os
estudos de fenômenos ecológicos dentro do campo de cultivo, tal como relações
depredador/presa, a competência de cultivos/plantas invasoras e seu propósito é
iluminar a forma, a dinâmica e as funções dessas relações (ALTIERI, 1995).
A agroecologia com seus princípios, conceitos e metodologias permite estudar,
analisar, dirigir, desenhar e avaliar agroecossistemas, sendo estes encarados como
unidade fundamental de estudos, em que os ciclos minerais, as transformações
energéticas, os processos biológicos e as relações socioeconômicas são investigadas e
analisadas em seu conjunto, demandando maior conhecimento na análise e interpretação
das complexas interações existentes entre as pessoas, os cultivos, os solos e os animais
(ALTIERI, 1989).
Segundo CAPORAL e COSTABEBER (2000), a agroecologia leva em
consideração as bases científicas para apoiar o processo de transição do modelo de
agricultura convencional para estilos de agricultura de bases ecológicas ou sustentáveis,
assim como do modelo convencional de desenvolvimento a processos de
desenvolvimentos rural sustentáveis. Esta disciplina vem sendo fonte de inspiração e
ação nas atividades produtivas em busca de uma agricultura mais sustentável.
23
Ao se optar pelo caminho da produção sustentável, normalmente, se adota o
enfoque sistêmico na busca de sistemas agrícolas auto-sustentáveis, onde os agricultores
tendem a apresentar uma visão global das unidades de produção e do processo
produtivo e trabalham de acordo com esta visão, mas, tendo em conta seus propósitos e
metas e as características que apresentam as unidades produtivas, tentando otimizar
grande parte das relações existentes no sistema de produção. Esta situação exige
conhecimentos e muita disposição por parte dos agricultores, além de maior
planejamento na produção e o desenvolvimento do espírito observador e criador destes
no processo produtivo.
Os agricultores que praticam a agricultura sustentável utilizam uma série de
processos e técnicas que geralmente são comuns entre as diferentes correntes que fazem
parte deste tipo de agricultura. A seguir apontaremos alguns destes na tentativa de
relacioná-los com os resultados da pesquisa.
1.3.1 Diversificação e integração dos sistemas
A diversidade nos sistemas de produção é ponto chave para o desenvolvimento
integral das unidades produtivas, em que os sistema se complementam entre si,
diminuindo os riscos de produção, além de contribuir com a manutenção da fertilidade e
a sustentabilidade das unidades de produção, e também com o controle de pragas e
doenças. Na agricultura de base ecológica as áreas cultivadas estão sujeitas a uma
complexa dinâmica influenciada pelo grau de diversificação que apresentem as unidades
de produção.
ALTIERI (2000), cita que os sistemas possuem características agroecológicas
variadas, dependendo se a diversificação dos cultivos assume uma dimensão espacial ou
temporal, se são utilizados plantas anuais ou perenes e se os animais estão integrados ao
sistema. A diversificação pode obter-se a través de sistemas como policultivos, rotação
das culturas, consorciações, sistema de cultivo-criação, áreas de reservas de mato, etc.
Estas estratégias na diversificação dos sistema apresentam efeitos benéficos para a
fertilidade do solo, potencializando a reciclagem de nutrientes, melhorando o
microclima local. Também protege as culturas contribuindo para reduzir patógenos e
24
insetos-praga, melhora a qualidade da água, além de contribuir na produtividade dos
sistemas.
Tanto a diversificação como a integração requerem ser administradas em toda
unidade produtiva, como diz KHATOUNIAN (2001), Não se trata simplesmente de
diversificar, mais de diversificar funcionalmente, e dentro dos limites impostos pela
capacidade de administrar, requerendo-se o planejamento em todas as atividades e o
melhor aproveitamento do potencial das unidades de produção, na busca da eficiência
no uso dos recursos.
1.3.2 Manejo e conservação do solo e da água
O solo é o recurso mais importante para a agricultura, e sua conservação e
melhoramento são elementos chaves no desenvolvimento da agricultura de base
ecológica. Este é considerado um organismo vivo e a base da sustentação de todo o
sistema produtivo. Necessitando-se mantê-lo sadio para a produção de alimentos fibras
ou qualquer outro produtos.
Para KHATOUNIAN (2001), o manejo de solo na agricultura de base ecológica é
orientada para a ativação e alimentação da atividade biológica. Dentro dessa linha de
raciocínio, o solo é enfocado como um organismo que exige alimentação (com
biomassa e oxigênio para os microrganismos e a mesofauna) e proteção (à incidência
direta do sol e da chuva, visando a manter a umidade, temperatura e porosidade
propícias ao desenvolvimento dos organismos do solo).
São vários os procedimentos e as técnicas conservacionistas que os agricultores
empregam no manejo e conservação do solo, destacam-se: o uso de adubação verde e
orgânica, compostagem, cobertura morta, além do uso de cultivo mínimo e plantio
direto, curvas de níveis, barreiras rompe-ventos entre outros.
No preparo do solo as recomendações são o emprego de implementos que não
interfiram na atividade microbiana deste, e se evite o revolvimento, sendo
recomendados o plantio direto e o cultivo mínimo com aração mínima e pouco
profunda. O uso da enxada rotativa, encontrada em poucas unidades produtivas, é pouco
recomendado, e se possível deve-se evitá-la.
25
Um aspecto a discutir-se nas práticas de manejo do solo é o excesso de
revolvimento do solo, nas unidades produtivas, aspecto este que interfere na
sustentabilidade dos sistemas. É importante considerar posicionamentos como os de
BLEY (1999), que cita “o arado como um dos mais freqüentes e mais graves erros
praticados pelos agricultores e que dá origem à erosão do solo, na intenção de oxigená-
lo mais, é consumido junto com a matéria orgânica”. Em muitos casos o
reabastecimento da matéria orgânica é insuficiente comprometendo a fertilidade do solo
e a produtividade das culturas nas unidades produtivas.
Vários autores apontam alguns aspectos que devem ser levados em conta no
manejo do solo com revolvimento e com menores conseqüências negativas, porém com
alto nível de matéria orgânica no solo. Assim, BAVER et al. (1973) dizem: “a
continuidade de um sistema de manejo pode ocasionar a redução da estabilidade dos
agregados, a não ser que o nível de matéria orgânica seja alto e o manejo ou a aração
sejam realizados em condições ótimas de umidade”.
Segundo MONEGAT (1998), “a degradação da estrutura provoca várias
conseqüências no solo como: redução da infiltração e aumento do escoamento
superficial da água das chuvas e da erosão, com perdas de nutrientes e de matéria
orgânica e com redução da eficiência dos fatores físicos de crescimento. Como
resultado final, ocorre a redução da eficiência de outras tecnologias empregadas, como a
fertilização química e a orgânica, a irrigação e a capacidade genética das culturas
utilizadas”. Para evitar-se isto é necessário nutrir o solo e mantê-lo coberto.
Quanto a isso considera-se que a falta de cobertura no solo é considerada a
principal causa de erosão do solo. MONEGAT (1991), aponta que segundo especialistas
no tema, 95% da erosão é provocada por isto. A cobertura no solo pode ser viva o
morta, ela impede o impacto direto da chuva no solo, reduzindo o potencial erosivo e os
raios solares, contribuindo com a umidade do solo, a infiltração da água, diminuindo o
escorrimento superficial e as perdas de água, solo e nutrientes.
A cobertura viva – adubo verde -, contribui no aumento das culturas, apresenta-se
como saída eficiente no controle de nematódeos, apresenta também vantagens sobre
outros métodos de controle, pode contribuir também para a fertilidade do solo com o
reciclagem de nutrientes e poupar insumos, na medida que minimize a demanda de
fertilizantes, especialmente de origem externo à unidade produtiva. São diferentes os
26
tipos de plantas utilizados pelos agricultores pesquisados, desde as famílias de
gramíneas (aveia, azevém, centeio e cevada, entre outros), leguminosas (ervilhaca,
tremoço, feijão miúdo, crotalarias, feijão de porco, guandu, mucuna, soja perene), até
crucífera (nabo forrageiro), mas também se usam as plantas espontâneas para este fim.
Estas plantas são incorporadas ao solo na aração e derrubadas nas áreas cultivadas
normalmente na época de floração. As áreas com estas espécies são pequenas nas
unidades de produção visitadas.
A cobertura morta, apresenta quase a mesma função da cobertura viva, nesta é
usado especialmente a palha, sendo empregada geralmente no plantio direto e nas áreas
hortícolas. Estas práticas contribuem na diminuição da mão-de-obra, pelo maior
controle de ervas daninhas, o uso do cultivo mínimo e plantio direto, também algumas
espécies são utilizadas na produção de forragem para alimentação animal.
Outra prática importante e muito utilizada nas unidades visitadas é a rotação de
culturas a qual contribui no controle de pragas e doenças, no controle natural de plantas
invasoras, na disponibilidade de elementos minerais no solo, segundo CEPAGRI
(1991), cada tipo de planta extrai do solo para seu desenvolvimento maiores quantidade
de diferentes elementos minerais do que outros e exploram diferentes camadas deste por
possuírem diferentes tipos de formação de raízes, contribuindo também para manter a
vitalidade e estrutura do solo. Nesta prática o ideal é alternar espécies de famílias
diferentes entre elas, leguminosas e gramíneas. Alguns estudos sugerem trocar as
culturas, dando um intervalo de no mínimo dois anos para plantar novamente a mesma
cultura. Sendo comum encontrar em nosso meio e na área pesquisada intervalos de só a
metade do tempo sugerido.
Apresenta-se também a culturas intercaladas ou consorciadas como forma de
associar diferentes culturas, buscando potencializar a produção, aproveitando melhor as
áreas, evitando o desequilíbrio, controlando insetos, evitando doenças e buscando a
produtividade nas culturas. Nesta prática requer-se de certos cuidados e conhecimentos
para evitar a competição de nutrientes e energia solar entre algumas combinações. O uso
desta prática é comum nas áreas de culturas perenes nas unidades visitadas.
Outra prática ligada com o solo é a conservação das fontes de águas, seja de rios,
arroios, mananciais, alguns delas estão sendo poluídas com resíduos muitas vezes
tóxicos, sejam industriais (metais pesados ou outras substâncias químicas), lixo comum
27
ou resíduos agrícolas (agrotóxicos e adubos solúveis). Sugerindo-se como estratégia de
conservação, preservar a mata ao redor das fontes e nas margens dos rios, além de
controlar o uso de resíduos químicos perto a essas fontes.
1.3.3 Escolhas de Variedades
Na agricultura de bases ecológica é notória a deficiência que se tem pela falta de
sementes de variedades adaptadas às condições ecológicas locais. Tendo os agricultores
que recorrer às variedades híbridas no mercado convencional, contribuindo assim com a
dependência dos insumos externos nas unidades produtivas, além de ter que assumirem
qualquer vulnerabilidade que possam apresentam as sementes ou mudas adquiridas no
processo de produção. Este tipo de agricultura proíbe o uso de espécies e variedades de
plantas modificadas geneticamente (transgênicos), as quais põem em perigo de
contaminação alguns áreas cultivadas pela facilidade de propagação do gen em alguns
culturas.
No caso dos agricultores pesquisados, vários deles, não escapam desta situação, já
que, alguns estão cercados por vizinhos que produzem de sob o sistema convencional e
eles mesmos adquirem semente nestes mercados, correndo o risco de obter insumos
indesejáveis na produção, apresentando-se poucas alternativas ao respeito.
1.3.4. Nutrição Vegetal
Um dos objetivos da agricultura de bases ecológicas é recuperar o solo até o ponto
de, se possível, obter o equilíbrio, mantendo sua fertilidade e uma ativa atividade
biológica nele. ZAMBERLAN e FRANCHETI (1994), apontam que tanto as plantas, os
animais, o ar, a água, como os microorganismos, estão entre os elementos que têm a sua
parcela de contribuição para que o solo tenha e mantenha uma verdadeira fertilidade.
Sendo fundamental a matéria orgânica na nutrição deste e das plantas, privilegiando-se
os adubos orgânicos, os quais são transformados pelos seres vivos do solo (entre eles as
minhocas), antes de ser progressivamente absorvidos pelas plantas, usando-se também,
adubos de origem mineral.
28
Entre os principais efeitos que a matéria orgânica produz no solo CEPAGRI
(1991), aponta: favorece o aumento dos microorganismos, aumenta a capacidade de
infiltração e retenção de água, diminui a erosão, deixa o solo mais solto “fofo”, mantém
o solo com vida e capacidade de produção por tempo indeterminado, conserva a
temperatura do solo constante. Esta deve ser fornecida ao solo constantemente, com o
uso de esterco coloca-se grande parte dos elementos e nutrientes e micronutrientes que
este requer. Considera-se que somente em fósforo o esterco não são muito ricos, sendo
este nutriente retiro firmemente pelo solo. Podendo-se adicionar este nutriente
preferencialmente a través de fosfatos naturais (são rochas moídas que provêm de
minas) se as plantas não conseguem extraí-lo do solo.
Têm-se outros fertilizantes minerais naturais pouco solúveis, como potássio (K),
cálcio (Ca), magnésio (Mg), além de micronutrientes como boro (Bo), ferro (Fe), zinco
(Zn), cobre (Cu), cobalto (Co), entre outros, os quais servem como complemento da
matéria orgânica no aporte destes elementos fundamentais. O fornecimento destes dá-se
especialmente no uso da farinha de ossos, rochas moídas, semi-solubilizadas ou tratadas
termicamente. Considerando-se que as plantas necessitam de mais elementos dos
conhecidos regularmente. Segundo alguns pesquisadores franceses observaram que as
plantas têm necessidade de 32 elementos para seu desenvolvimento. Estes elementos
deverão ser pouco solúveis de tal forma que possam ser assimilados paulatinamente
pelas plantas.
Em casos de deficiência de potássio é estimulado o uso de cinza de origem
vegetais e o sulfato de potássio ou cloreto de potássio. Já os micronutrientes são
subministrados ao solo e as culturas a través de misturas fermentadas em um meio
orgânico na tentativa de quelatizá-los para aplicação nas plantas como adubo foliar,
caso do supermagro5, que tem sido muito utilizado. Outros produtos desta índole estão
sendo desenvolvidos pelo pesquisador Soel Claro e seu equipe de colaboradores no
município de Sobradinho, CLARO (2001), Estes produtos são identificados como
Biobov (biofertilizantes regeneradores de solo), Bioframbov (biofertilizantes para
adubação de solo), Franfresco (fertilizantes foliar), estes produtos são obtidos através da
fermentação de dejetos fresco de bovinos, cama de frango ou dejeto fresco de galinhas,
5 Supermagro é um biofertilizante líquido usado como adubo foliar. Ë resultado da fermentação de estercoe água, adicionados micronutrientes sob forma de seus sais química ao material em fermentação. O nomede supermagro faz referência a Delvino Magro, o técnico agrícola quem desenvolveu o produto.
29
além da água leite e melados. Apresentam como função fornecer nutrientes ao solo e as
plantas, e principalmente nitrogênio e potássio (com o uso de dejeto de franco ou
galinha) em substituição ao uso de uréia e cloreto de potássio nas adubações de
cobertura.
Também são produzidos outros biofertilizantes enriquecidos com macro e
micronutrientes a partir do uso do super-magro e de outros biofertilizantes tradicionais,
cuja função principal é suprir as deficiências de alguns desses elementos em forma
específicas. Com estes produtos o pesquisador e seu equipe de trabalho estão
oferecendo alternativas para o melhoramento da fertilidade do solo e o desenvolvimento
de produções mais sadias. Como diz BONILLA (1992), que a agricultura de base
ecológica propõe “alimentar o solo” e não a planta, devendo-se estimular a vida
microbiana do solo e o substrato dos nutrientes, a matéria orgânica (Estas práticas que
buscam nutrir o solo a as plantas vem dando bom resultados) Fazendo estabelecer o
equilíbrio natural entre os diversos componentes, para que as plantas absorvam os
nutrientes na medida de suas necessidades, para desenvolver-se de forma sadia,
harmônica e equilibrada, criando uma fonte de felicidade, saúde e bem-estar para
aqueles que delas se alimentam
Vale ainda destacar que na agricultura de bases ecológicas a presença de insetos,
fungos, bactérias, ervas e outros não devem significar que estes sejam pragas doenças
ou invasoras. Em situação normal de equilíbrio nos sistemas produtivos estes não
deveram ser prejudiciais. Somente em situações de desequilíbrio tornam-se pragas,
doenças e invasoras intervindo negativamente nos sistemas. Nestes casos, necessitam-se
conhecer as causas e intervir para buscar o equilíbrio do sistema a través de métodos
alternativos, privilegiando os preventivos, e só em casos extremos utilizar-se produtos
químicos no manejo destas. A respeito disso, PRETTY (1995), aponta que nestes casos
os agricultores precisam de um vasto campo de possíveis tecnologias que possam fazer
uso de processos agroecológicos de depredação, competição e parasitismo para
controlar as pragas mais efetivamente do que somente os pesticidas. Este autor
considera os pesticidas, como muitos de nós, perigoso tanto para a saúde humana como
para o sistema produtivo, além de considera-los ineficiente, em alguns casos, no
controle de pragas, pelas possibilidade de criar o ressurgimento de pragas pela
destruição de seus inimigos naturais.
30
Diante esta situação, faz-se necessário optar por métodos alternativos, se possível,
preventivos como: diversificação, rotação e consorciação entre culturas, integração das
atividades, reflorestamento, reciclagem de biomassa nas unidades, produção de matéria
orgânica, nutrição do solo, além de sistemas de quebra-ventos, plantas atraentes a
insetos, entre outros. Entre estes métodos encontram-se mecanismos para: aumentar a
resistência da planta, controle biológico incluindo uso de feromônios, proteção física,
repelentes e tratamentos curativos.
Ainda todos estes métodos são apropriados, considerando-se como uns dos mais
importantes a nutrição das plantas, a través do solo em condições sadias. Como diz
CHABOUSSOU (1993), que para prevenir as plantas dos ataques de insetos e
microorganismos estas devem receber una alimentação saudável e equilibrada a través
do solo.
A nutrição e resistência das plantas pode conseguir-se com o emprego de espécies
resistentes adaptadas às condições da região, acompanhadas de técnicas culturais que
contribuam com o melhoramento da estrutura do solo e o uso dos biofertilizantes que
reforçam as defesas das plantas. Além desta, considera-se importante também no
controle de pragas e doenças o controle biológico, utilizando inimigos naturais,
requerendo-se nas unidades produtivas sítios de refúgios para estes, os controle
integrado de praga demanda do agricultor informação e técnicas adequadas para
resolver esses problemas. Sendo usados em poucos casos o feromônios como
mecanismo para confundir os machos evitando a proliferação dos insetos. Além desses,
os métodos, como a proteção física (estufas plásticas, armadilhas mecânicas e
luminosas, etc) e os tratamentos curativos com preparos caseiros a base de plantas e
produtos minerais simples e pouco tóxicos (utilizando-se soluções de óleo vegetal, calda
bordaleza e sulfacalcica6, querosene, sabão, além de produtos homeopáticos, todos estes
6 Segundo CLARO (2001), a calda bordaleza é um preparado a base de sulfato de cobre e cal, resultandouma solução rica em macronutrientes secundários e micronutrientes. Caracteriza-se por sua ação emdiversas doenças fúngicas, em várias espécies de culturas. Possuindo também uma relativa açãobactericida e em alguns casos age como repelente de insetos e influi positivamente no metabolismo dasplantas, nutrindo-as a través dos nutrientes contidos em sua formulação e ativando o processo enzimáticoe estimulando a proteossíntese. Tornando as plantas mais resistentes às pragas, moléstias e adversidadesclimáticas A calda sulfocálcica é um inseticida, acaricida, e fungicida, obtido pela reação química entreenxofre e cal virgem no processo de ebulição resultando na formação de polissulfetos de cálcio comsubstancias inertes. Tem ação sobre pragas e doenças. Acredita-se que a ação positiva sobre afitossanidade das plantas se dê em parte, pela influencia positiva desta no metabolismo das plantas peloseu conteúdo em cálcio, magnésio, enxofre e micro-elementos, ativando o processo enzimático eestimulando a proteossíntese.
31
métodos são recomendados a serem usados antes de empregar-se pesticidas nas
unidades produtivas.
As ervas que denominamos de invasoras devem ser vista como plantas
inconvenientes aos cultivos, somente quando se apresentam em grandes quantidades e
com plantas semelhantes, fazendo concorrência. Em caso contrario deve-se manejar
corretamente, tendo-se em vista especialmente as funções que desempenham, entre elas:
aumentam a quantidade de palha para proteger o solo contra chuvas, sol, erosão e
contribuem com sua fertilidade, algumas fornecendo nitrogênio (leguminosas), ou
sinalizam o potencial ou problemas do solo, além de produzir matéria verde, retiram das
camadas profundas do solo diversos minerais e os deixa disponíveis à cultura futura,
(ZAMBERLAN e FRONCHETI,1994). Além de servir de refúgio para inimigos
naturais e no controle das próprias invasoras por suas propriedades alelopáticas.
O controle destas ervas torna-se uma preocupação na agricultura sustentável,
considerando-se duas maneira para controlá-las: uma preventiva (tendo solos sadios e
equilibrados, e evitando tratos culturais que favoreçam estas ervas como: evitar -
implementos rotativos que reduzem a espessura da capa superficial do solo; evitar o
revolvimento de capas profundas do solo; trabalhar o solo antes que as ervas tenham
tempo de germinar). A outro maneira é o combate, o qual pode realizar-se por métodos
mecânicos (aração, gradagem, capinas, roçadas), físicos (cobertura morta, adubação
verde) ou biológica (plantas com efeitos alelopáticos).
Qualquer método químico deve ser dispensado no controle destas ervas. Os
agricultores devem optar por estratégias especificas nas condições das unidades de
produção, o que exige maior conhecimento destas ervas e criatividade na
implementação de estratégias de manejo e controle, objetivando sempre o equilíbrio
entre elas e as culturas semeadas nas unidades de produção.
Outra questão importante nesta agricultura é a criação animal, fazendo parte da
integração nas atividades dos sistemas produtivos, o qual não só representa fonte de
alimento e renda aos agricultores, mas também participa da reciclagem de elementos
nutritivos, contribuem com seus dejetos na fertilidade das unidades e no controle de
ervas em alguns casos.
Manter animais nas unidades sustentável é fundamental para a integração do
sistema, para o abastecimento da proteína animal da família, em alguns casos é fonte de
32
renda, além de participar no reciclagem dos elementos nutritivos. Com seus dejetos
(matéria orgânica), contribuem para manter a nutrição do solo, a fertilidade do sistema e
a diversificação nas unidades com a produção de forrageira para sua alimentação, e
também, em outros casos pode servem no trabalho pesado nas unidades produtivas, caso
dos bovinos e cavalos. Na produção de bases ecológicas se recomendam animais de
raças resistentes, adequadas às condições do clima da região, buscando se possível
mante-los em condições muito próximas a seus lugares de origem, na procura de seu
bem estar, tentando satisfazer as suas necessidade alimentares e etológicas.
Geralmente nas unidades as espécies de animais e o número destas estão ligadas
ás condições econômicas dos agricultores e à restrição de áreas agrícolas, influindo
também no manejo (livre e confinado), que é uma prática pouco recomendada na
produção de base ecologia, sendo considerado por KHATOUNIAN (2001), como
grande sumidouro da fertilidade do solo, pelas perdas de nutrientes e biomassa na urinas
e nos dejetos dos animais. Além de facilitar em alguns casos a infestação de parasitoses,
que a sua vez leva ao controle com produtos químicos.
Na nutrição dos animais se recomenda a alimentos produzidos nas unidades
produtivas ou adquiridas em outros unidades de bases ecológicas, além dos aditivos
naturais para as rações e silagem, e na mineralização a sal marinho. Já no tratamentos
veterinários as recomendações vão direcionadas aos produtos naturais, a homeopatia e
fitoterapia, tentando excluir do sistema os tratamentos a base de produtos químicos.
Outra questão importante das atividades pecuária nas unidades de produção é a
captação da energia solar, insumo limpo e sem custo. MELLO (1986), aponta que “a
energia não se transforma automaticamente em alimento, fibras e resinas somente pela
radiação solar, ele diz que essa incorporação energética, no processo dá-se através dos
animais, entre eles os bovinos que se alimentam de pasto e produzem grande
quantidades de matéria orgânica. Segundo PINHEIRO MACHADO (2000), “Um
bovino de 500 quilogramas, em média bosteia 25 quilogramas e urina 14 litros”.
contribuindo para o preparo de fertilizantes foliares ou outra forma de adubo orgânico
como compostagem; dependendo das quantidades disponíveis Considerando-se
importante maximizar o uso deste insumo e os outros, provenientes da produção animal,
já que em grande parte das unidades produtivas conta com poucos animais, sendo
crescente a necessidade de matéria orgânica que estas unidades apresentam.
33
PINHEIRO MACHADO (2000), considera também “que é necessário utilizar
todos os recursos disponíveis na unidade de produção, utilizando ao máximo a energia
solar, via pasto e animal; sucessão animal e vegetal; biologia do solo; nutrientes
provenientes da chuva e do ar e elementos oriundos da transmutação com baixa
energia”, para um melhor desempenho nas unidades de produção.
MONEGAT (1998), por sua vez, afirma que “a eficiência energética do sistema
de produção parece não ser uma preocupação do agricultor, mesmo porque foge, na
maioria dos casos, da sua possibilidade de percepção; mais que o balanço energético
pode transformar-se em ferramenta útil para o técnico, principalmente na avaliação de
sistemas de manejo do solo com abordagem sistêmica e holística”. Já MELLO (1986),
salienta que a análise energética de agroecossistemas permite compreender além dos
fluxos de energia, identificar pontos de desperdícios energéticos e dos componentes que
podem ser substituídos por outros de maior eficiência, contribuindo assim para o
aprimoramento do sistema de produção. Segundo estimativas deste autor, os sistemas
com uso de tração animal, trabalho humano e adubação orgânica caracterizam-se por
apresentar menores gastos de energia fóssil do que o sistema convencional.
Para ter uma idéia da quantificação dessa diferencia, foi recorrido a BONILLA
(1992), que analisando os estudos abrangentes realizados por Lockeretz et al.(apud
BONILLA, idem), quem estudando dezesseis fazendas convencional e igual número de
fazenda de base ecológicas concluiu que o gasto de energia das primeiras fora maior em
2,34 vezes. Já Hodges (apud BONILLA, idem), segundo seu estudo encontrou uma
diferença maior de 2,5 vezes para as mesmas fazenda dois anos após do primeiro
estudo. Aponta este autor que, em media para produzir uma tonelada de produto, a
agricultura convencional precisa de 2,3; 2,5 até 3 vezes mais energia que na agricultura
sustentável. Representados em kcal, mostra que para cada kcal de produto, é necessário
utilizar em torno de 0,9kcal. Já na agricultura de base ecológica considera necessário
0,38 kcal, salientando que, como dados médios existem muitas diferenças entre culturas.
Mas que, como média conservadora das vantagens energéticas da agricultura ecológica
poderia afirma-se que ela precisa a metade de calorias que a convencional para produzir
os mesmo rendimento bruto.
O balanço energético é a relação entre a energia utilizada e a produzida em
forma de produtos agrícolas. No sistema convencional, grande parte dessa energia é
34
gasta com adubos sintéticos, agrotóxicos, combustíveis para as máquinas; grande parte
da sustentável é de origem biológico, trabalho humano e animal, energia contida na
sementes e mudas. Recorrendo a outras pesquisas, o autor expõe que, segundo análise
por produto encontraram que a mandioca, o milho, a cana de açúcar estão entre os
melhores transformadores de energia, já a criação de bovinos, suínos, aves de corte,
ovos, tomate, café, cebola e banana, apresentam balanço negativo. Ainda com este
trabalho no tinha-se a intenção de analisar o possível balanço energético nas unidades
de produção. Ao analisar-se a informação anterior e relacioná-la com os produtos
produzidos nas unidades produtivas visitas e, com o sistema de manejo delas, poderia-se
dizer que o balanço energético destas é baixo, com possibilidade de encontrarem-se
resultados negativos, intuição esta que seria bom confirmar com posteriores estudos ao
respeito.
A seguir serão apontados vários aspectos que caracterizam o estado de Rio
grande do Sul, entre eles, a agricultura, tendo em conta também algumas questões
específicas nos municípios onde se desenvolvera a pesquisa.
35
CAPITULO 2
2. CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO E DA AGRICULTURA NA ÁREA DO
ESTUDO
Neste capítulo, se apresenta brevemente algumas características geográficas,
dados populacionais e de produção do estado do Rio Grande do Sul, apontando também
aspectos relacionados à política do governo, isto com o propósito de descrever, em
parte, as condições em que se desenvolve a produção agropecuária no Estado e nela a
produção de bases ecológicas, esta, em alguns dos municípios visitados.
O Estado do Rio Grande do Sul pertence à Região Sul do Brasil; localiza-se
entre Santa Catarina - ao norte, Uruguai - ao sul, Argentina - a oeste e Oceano Atlântico
- ao leste. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, (IBGE) 2000, o
Estado do Rio Grande do Sul possui 467 municípios, agrupados em 35 microrregiões,
numa área total de 282.062 km², com uma população de 10.187.798 habitantes.
2.1. Povoamento do Estado
Neste item, aponto as principais etnias e culturas que povoaram o Rio Grande do
Sul, entre elas, as européias a partir do século XVII, e hoje seus descendentes
encontram-se distribuídos nos diferentes municípios do Estado, participando do
desenvolvimento das atividades agropecuárias, entre os que estão aqueles o realize a
pesquisa.
Originariamente o território gaúcho foi povoado por várias nações indígenas,
entre as quais citam-se as três mais antigas: ao norte os Jês (Cainganges, Guaianás), na
faixa central os Tapes; no sul e no oeste os Chanas (Numuanos, Charruas, Guenoas,
bem como a grande nação dos Guarani, os quais foram submetidos a variadas formas de
extermínio pela dominação dos europeus, espanhóis e portugueses (FAGUNDES,
1997).
36
A partir das disputas entre Portugal e Espanha, o território foi povoado com a
participação das missões jesuítas que atuaram nos territórios brasileiro e argentino.
Desde 1627, são relatadas incursões de jesuítas espanhóis. O povoamento de europeus
intensificou também com a imigração de casais açorianos entre 1.740 e 1.760. Com a
independência do Brasil, o Rio Grande do Sul constituiu-se em província do Império.
Em 1824, teve início a imigração de colonos alemães que se dedicaram à agricultura e
impulsionaram o povoamento da região do Vale do Rio dos Sinos. Durante mais de 50
anos, a chegada de europeus ao Rio Grande do Sul foi uma constante. Os italianos
vieram a partir de 1875 e fixaram-se, especialmente, na região serrana. Esses imigrantes
mantiveram suas culturas e seus costumes, os quais foram refletidos, também, nas
atividades agropecuárias que realizavam (Grande Enciclopédia Laureasse Cultural,
1998).
No começo do século XX, o Estado já não era mais o produtor quase que
exclusivo de produtos pastoris. A lavoura, graças à imigração, desenvolvera-se, não só
abastecendo o Estado, como também exportando para o abastecimento do mercado
interno. (Enciclopédia Mirador Internacional, 1995)
Caracteriza-se, na época, por ser uns dos estados mais prósperos e produtivos do
país, difundindo-se vários sistemas de produção agrícola com bases empíricas, num
processo lento e gradativo de expansão e de consolidação em área e produção.
2.2. Alguns aspectos geográficos do Rio Grande do Sul e na área da
pesquisa
Neste item, apresenta-se alguns dados da vegetação característica do estado,
dando ênfase à vegetação natural presente nos municípios visitados, do clima e algumas
questões de solo.
O estado está constituído, em sua maior parte, por áreas planas e onduladas e de
pouca altitude, com cerca do 70% do território em cotas inferiores a 300 m. O relevo do
Rio Grande do Sul apresenta cinco unidades morfológicas: Planície Litorânea, Planalto
Sedimentar ou Arenítico-basáltico, Depressão Central, Planalto Uruguaio-Rio-
grandense, ou Serras de Sudeste e Planície da Campanha.
O município de Cerro Grande do Sul situa-se a 110 km de Porto Alegre e possui
uma área total de 324,4km2, localizado na Região Metropolitana de Porto Alegre, na
37
Microrregião de Camacuã. O relevo da região é bastante acidentado, com morros cuja
altura média fica em torno dos 400m.
Maquiné têm 624km², localiza-se na Região Metropolitana de Porto Alegre, na
Microrregião Osório. Apresenta uma parte da área no litoral e outra na Região Serrana,
com planícies e altitudes inferiores a 40 metros.
Montenegro possui 440km², localizado na Região Metropolitana de Porto Alegre,
na Microrregião Montenegro, na Depressão Central. O relevo caracteriza-se por
apresentar amplas planícies aluviais e coxilhas sedimentares.
Ibarama têm 195 km² e Sobradinho 238 km² localizadas na Região Centro
Oriental Rio Grandense, na Microrregião Santa Cruz do Sul encontram-se na Encosta
Inferior da Serra do Nordeste, Planalto Superior, com altitudes decrescentes de 200
metros e as planícies com menos de 40 metros. (Macrozoneamento agroecológica e
econômica do estado, RS, 1994), (Levantamento de reconhecimento dos solos do estado
RS, 1973), (IBGE, 2000).
2.2.1. Vegetação
A vegetação original correspondia a dois tipos de formações: as florestas e os
campos. Ambos, atualmente, encontram-se bastante alterados pela ação antrópica. Os
campos recobriam cerca do 65% do território principalmente na Campanha, na
Depressão Central e nos trechos menos acidentados do Planalto sedimentar. As florestas
ocupavam cerca do 30% do território; a floresta subtropical, latifoliada, é encontrada,
ainda, nas encostas orientais da Serra Geral; a mata de araucária, hoje - praticamente
desaparecida pela exploração predatória - predominava nas regiões mais elevadas do
planalto ou em manchas isoladas em meio às áreas campestres do norte do Estado. Os
5% restantes do território gaúcho correspondem à vegetação litorânea das restingas.
Segundo Macrozoneamento Agroecológico e Econômico do Estado do Rio
Grande do Sul (1994), a vegetação natural característica dos municípios visitados e das
regiões ecoclimáticas são: Maquiné, no Litoral em que se encontram florestas
ombrófilas mistas e densas; Montenegro, na Depressão Central, apresenta área de tensão
ecológica e florestas estacionais deciduais; estando esta presente, também, na Encosta
38
inferior da Serra do Nordeste, onde se localizam os municípios de Sobradinho e de
Ibarama; apresentando também campos mistos.
2.2.2. Clima
A temperatura média anual do Estado é de 18°C, variando de 16°C a 19,6°C,
dependendo da região, com temperaturas mais altas na Campanha e algumas regiões do
Planalto e da região Fronteira Sudoeste.
Em quase todo o Estado o clima predominante é o subtropical – Cfa segundo o
sistema de classificação de Köepper (MORENO, 1961) - com chuvas ao longo do ano.
O índice pluviométrico ao redor de 1.500 mm anuais, variando de 1.100 a 2.500 mm em
relação às diferentes regiões fisiográficas. As regiões do Litoral, Depressão Central e
Campanha são as áreas onde ocorrem as menores precipitações; nas Encostas do
Nordeste, do Planalto Médio e de Campos de Cima da Serra encontram-se as maiores
precipitações. Os verões são mais quentes na Campanha e menos nas áreas de Planalto,
onde, no inverno, verifica-se a ocorrência eventual de nevadas. As geadas ocorrem com
freqüência em todo o Estado, entre maio e setembro. A freqüência das chuvas é muito
variada, em decorrência dos períodos chuvosos e períodos secos. (Levantamento de
Reconhecimento dos Solos do Estado do Rio Grande do Sul, 1973).
2.2.3. Solo
O município de Montenegro, segundo o Levantamento de Reconhecimento dos
Solos do Estado do Rio Grande do Sul (1973), apresenta solos Argiloso Vermelho
Distróficos, Nitossolo Vermelho Eutroférrico, Neossolo Litólico Eutrófico,. Profundos e
medianamente profundos, de coloração bruno e vermelha; são arenosos também;
porosos e bem drenados. Quimicamente são ácidos, com saturação de bases baixas a
alta, pobre a médio em nutrientes e matéria orgânica, apresentando teores menores a 1%
até 3%. São solos pobres em nutrientes disponíveis, saturação e soma de bases baixas e
com problemas de toxidez de alumínio, além de baixo conteúdo de fósforo disponível.
39
São muito suscetíveis à erosão quando cultivados. Possuem pequena capacidade
de retenção de água, considerando-se conveniente a irrigação. Apresenta como
principais limitações: a fertilidade natural que é muito baixa e, em alguns casos, a
erosão em decorrência da pouca capacidade de reter a umidade em conseqüência da
textura arenosa e do uso de implementos agrícolas.
Em Maquiné, os solos, Nitossolo Vermelho Eutroférrico, Neossolo Litólico
Eutrófico são predominantemente profundos e arenosos. Quimicamente são solos
moderadamente ácidos, com somas de bases baixa à alta, livres de acidez nociva e pobre
em nutrientes disponíveis. A matéria orgânica existente é menor de 2%. São nulos os
riscos de erosão. A falta de água é de ligeira a moderada, pelo que é conveniente a
irrigação.
Os municípios de Cerro Grande do Sul, Ibarama e Sobradinho apresentam solos
Argilosos Vermelhos Distróficos, Nitossolo Vermelho Eutroférrico, Neossolo Litálico
Eutrofico, de profundidade média, de coloração bruno avermelhada escura a
avermelhada, de moderados a bem drenados. Quimicamente são solos ácidos, com
saturação de bases baixa e teores altos de alumínio trocável. O conteúdo de matéria
orgânica vai de baixo a médio, em torno de 2% até acima de 3%. Com fertilidade
natural moderada, fortemente ácidos, apresentam, também, problemas pelo alumínio
trocável. A erosão é moderada a muito suscetível devido ao relevo. Apresentam ligeira
falta de água, sendo conveniente a irrigação. As limitações apresentadas são: deficiência
na fertilidade natural, erosão e do uso de implementos agrícolas.
2.3. População
A população, segundo o censo demográfico da IBGE de 2000, é de 10.187.798
habitantes, no Estado, com uma densidade demográfica média de 36,10 hab/km².
Apresenta 18,35% (1.869.814) habitantes que residem no meio rural. Na população total
do Estado, encontra-se uma proporção de 3.82% a mais de mulheres, em comparação
com os homens (4.994.719 homens e 5.193.079 mulheres). No entanto, na área rural
registra-se maior número de homens (976.335 homens e 893.479 mulheres),
representando uma diferença de 8,49%.
40
De 1991 a 2000, a população total do Estado cresceu em 11,48% (passou de
9.138.670 a 10.187.798 habitantes), e a população rural decresceu numa proporção
ainda maior de 12,71% de (2.142.128 a 1.869.814 habitantes). Manteve-se praticamente
a diferença entre o número de homens e mulheres, que passou de 8,58% para 8,49%.
O total da população nos municípios visitados está expresso no quadro 1, em que
se vê que 66,7% esta na área rural: Cerro Grande do Sul, Ibarama e Maquiné, estas têm
mais do 70% da população nas áreas rurais, o contrário vê-se nos municípios de
Montenegro e de Sobradinho, onde esta população é inferior ao 30%.
QUADRO 1: Total da população em cinco municípios do Rio Grande do Sul
Municípios Total dapopulação
Populaçãourbana
nº
Porcenta-gem(%)
Populaçãorural
nº
Porcenta-gem(%)
Cerro Grande
do Sul 8.273 1.616 19,53 6.657 80,47
Ibarama 4.454 956 21,46 3.498 78,54
Maquiné 7.304 1.925 26,35 5.379 73,65
Montenegro 54.692 48.862 89,34 5.830 10,66
Sobradinho 16.328 11.670 71,47 4.658 28,53
Fonte: Dados populacionais IBGE, 2000
2.4. Estrutura Fundiária e Economia
A seguir, apresenta-se algumas características da estrutura fundiária no Estado,
enfatizando a pequena propriedade. Também exponho as atividades econômicas e o uso
das terras, maquinarias e implementos agrícolas nessas.
Em 1985, o Estado possuía 497.172 propriedades rurais que ocupavam uma área
de 23.821.695 ha. Desses, 430.054 propriedades (86,5%) possuíam áreas até de 50 ha,
ocupando o total 6.074.542 ha, ou 25,5% da área total, e também responderam por 49%
do valor da produção agropecuária e por mais do 70% da produção hortigranjeira,
especialmente a de alimentos básicos e a de matérias primas para as indústrias.
Segundo dados do Censo Agropecuário 1995-1996, 87% das propriedades
familiares no Brasil possuem menos de 50 ha. O Estado apresentava depois da uma
41
década, menor número desses estabelecimento rurais, diminuindo 13,52%. Passando de
497.172 propriedades em 1985 a 429.958 propriedades em 1995, havendo, portanto,
uma visível tendência à concentração da propriedade rural.
Das propriedades do Estado, 83,11% estão sob a responsabilidade de seus
proprietários, fazem parte desse grupo também os agricultores pesquisados. 6,26% são
manejados por arrendatários; em parcerias, encontram-se 5,33% destas, já os ocupantes
têm 5,40%.
2.4.1. Atividades econômicas e uso da terra no Rio Grande do Sul
Grande parte das propriedades rurais no Estado é destinada às atividades
agrícolas, especialmente, às lavouras, sejam elas temporárias (46,47%) ou mistas
(24,72%) lavoura permanente (4,37%); silvicultura e exploração florestal (1.70%);
horticultura (1,16%) e a produção de carvão vegetal (0,16%). Para a produção animal,
são destinados (21,38%) delas e, para a pesca e para a aquicultura (0,05%), como
mostra o quadro 2.
Parte dessas atividades encontram-se presentes nas unidades visitadas,
especialmente as agrícolas, sendo poucas as que apresentam áreas para aquicultura e a
produção de carvão nelas é escassa.
Assim, a produção vegetal ocupa 78,42% das propriedades do Estado; e a animal
21,42%. Outras atividades econômicas, como as que produzem carvão vegetal, só
dispõem de 0,16%. Saliente-se, ainda, que grande parte dos estabelecimentos do Estado
são destinados à produção agrícola, muito embora o mesmo não aconteça com o uso
dado às terras.
42
QUADRO 2: Atividades econômicas dos estabelecimentos rurais no Rio Grande
do Sul em 1995
Ocupação Nº de propriedades % do total
Lavouras temporárias 199.827 46,47Horticultura 5.002 1,16Lavouras permanentes 18.807 4,37Pecuária 91.920 21,38Lavoura mista 106.280 24,72Silvicultura e exploraçãoflorestal
7.295 1,70
Pesca e aquicultura 155 0,04Produção de carvão Vegetal 672 0,16Total 429.958 100,00Fonte: Censo Agropecuário, IBGE 1995-1996
Expressa representatividade a área total ocupada em pastagens 53,58%: 48,27%
pastagens nativas e naturalizadas e 5,31% cultivados. As lavouras ocupam 28,79%:
lavouras temporárias 24,89% (descanso 2,94%) e lavouras permanentes 0,96%. As áreas
com matas e florestas representam 11,52%: 8,63% são matas e florestas nativas; 2,89%,
plantadas. As áreas produtivas sem ocupação são 1,01% e as destinadas ao outros fins
são de 5,10%. Segundo IBGE (1995-1996), o Rio Grande do Sul conservava, assim,
quase 50% da vegetação nativa em pastagens, matas e florestas. Esses dados encontram-
se no quadro 3.
QUADRO 3: Utilização das terras no Rio Grande do Sul - 1995
Uso das terras Área (ha) %
Lavouras permanentes 208.993 0,96Lavouras temporárias 5.426.369 24,89Lavouras temporária em descanso 641.780 2,94Pastagens nativas e naturalizadas 10.523.566 48,27Pastagens cultivadas 1.156.762 5,31Matas e florestas nativas 1.881.493 8,63Matas e florestas cultivadas 630.138 2,89Terras produtivas não usadas 220.080 1,01Outros 1.111.706 5,10Total 21.800.887 100,00
Fonte: Censo Agropecuário, IBGE 1995-1996
43
Encontrou-se diferença significativa entre estes dados e os dados obtidos na
pesquisa de campo, especialmente, na área de pastagens, já que as propriedades
visitadas apresentam poucas áreas destinadas a este fim, devido especialmente à pouca
área que tem e à preferência e necessidade pelas lavouras como se poderá observar mais
adiante.
Geralmente, nas áreas de cultivos, são empregados maquinarias e implementos
agrícolas, frutos da “modernização” agrícola presente em algumas partes do Estado,
sendo considerado como um dos estados mais mecanizados do pais. Possuía mais de
18% das máquinas e implementos agrícolas do Brasil representados por tratores, por
máquinas para plantio direto, por colheitadeiras e instrumentos para tração animal.
2.5. Situação da produção agropecuária do Rio Grande do Sul
O valor da produção animal do Estado representa 12,30% do total nacional e a
produção vegetal representa 13,31%. Essas produções representam 11,76% da receita
geral do País, como se vê no quadro 4. O Estado participa com o 39,77% da produção
animal - sul do País - e 41,98% da produção vegetal. Nesses valores, incluem-se os
resultados da produção com base ecológica no Estado, a qual precisa ser reportada
separadamente para, entre outras razões, conhecer o grau de crescimento que possa estar
apresentando no Estado, na Região Sul e no País. No entanto, existem alguns dados
específicos dessa produção manejados pelas organizações e empresas produtoras, sendo
esses pouco conhecidos pela estatística oficial.
O setor agropecuário gaúcho é um dos mais produtivos do Brasil, destacando-se
na economia nacional desde o início do povoamento.
O Rio Grande do Sul possui o maior rebanho de ovinos do País. Representa o
terceiro na produção de leite e, no valor total da produção agropecuária, com 12,9%;
depois é São Paulo, 17,6% e Minas Gerais, 13,4%. Ocupa o segundo lugar na produção
vegetal com 13,3%; depois de São Paulo, 20,7% e, inclusive, o terceiro na produção
animal com 12,3%; Minas Gerais com 14,8% e São Paulo 12,8%.
44
QUADRO 4: Valor da produção animal e vegetal no Brasil, região Sul e Rio
Grande do Sul, com valores das receitas
Regiões valor
Da produção Das receitasAnimal Vegetal
Informantes valor(mil reais)
Informantes valor(mil reais)
Informantes
Valor(mil reais)
Brasil 3.647.390 18.829.580 4.339.318 28.958.662 4.631.404 43.622.749Sul 845.327 5.823.332 927.663 9.179.920 972.477 13.039.368RioGrandedo Sul
376.410 2.315.792(12,30%)
404.784 3.854.115(13,31%)
420.296 5.132.178(11,76%)
Fonte: Censo Agropecuário IBGE 1995-1996
Na Região Sul, o Estado apresenta maior valor da produção, tanto vegetal
(41,98%) como animal (39,76%), ocupando o primeiro lugar entre os estados do Sul
com 41,12% do valor total da produção. Esses dados estão expostos no quadro 5.
Acrescentando-se que se desconhece o desenvolvimento e o crescimento da produção
com base ecológica da região pela razão já exposta.
QUADRO 5: Valor da produção animal e vegetal no Brasil, no Sul e no Rio
Grande do Sul
Região Produção animal(1.000 de reais)
Produção vegetal(1.000 de reais)
Total (1.000 de reais) %
Brasil 18.829.581 28.958.663 47.788.244 100
Sul 5.823.332 9.179.920 15.003.252 31,39
Rio Grande do Sul 2.315.792 3.854.115 6.169.907 12,91
Fonte: Censo Agropecuário IBGE 1995-1996
Ainda que a produtividade e a rentabilidade da pequena propriedade no Estado
conte com pouco suporte estatístico, estas vêm demonstrando sua importância social e
econômica na economia do Estado e na economia nacional. Segundo a Emater-RS
(1994), a pequena dimensão das propriedades não contribuía para que os agricultores
alcançassem, isoladamente, níveis satisfatórios de produtividade e rentabilidade. Em
vista disso, vinha diminuindo o acesso deles aos recursos essenciais disponíveis,
45
destacando-se o crédito rural, a mecanização, a eletrificação rural, o armazenamento, a
irrigação, os insumos, a infra-estrutura em geral, a saúde, a educação, entre outros. Já
sete anos depois, DESER7 (2001), ressalta a importância desta na economia estadual, ao
expor que os agricultores familiares possuem o 95% das pequenas propriedades e
respondem por 58% do valor bruto da produção do Estado, produzindo três vezes mais
por ha do que os agricultores patronais, sendo responsáveis por 86,4% do pessoal,
ocupando 1,2 milhões de pessoas. Respondendo também pela manutenção de um posto
de trabalho a cada sete ha ocupado, a agricultura patronal necessita 74 há e
responsabiliza à pequena produção pelo abastecimento de importantes parcelas de
alimentos básicos. Embora, continue enfrentando vários dos problemas apontados pela
Emater.
Segundo o informativo, as propriedades com até 50 ha representam 87% das
propriedades rurais do Estado. Além disso, ele apontando o Rio Grande do Sul como
uns dos maiores produtores rurais do País, como mostram também as estatísticas
oficiais. Mostrando a importância que tem a produção familiar na economia do Estado e
do País, no uso da terra e no emprego da mão-de-obra.
Prossegue-se com várias questões da política do governo no Estado direcionadas
ao setor agropecuário, tendo em conta algumas exigências requeridas no
desenvolvimento dos programas do governo.
2.6. Política de Governo no Rio Grande do Sul
As políticas de governo de Estado para o setor agropecuário partem da concepção
de desenvolvimento baseado na sustentabilidade. Nesse contexto, desde 1999 a
Emater/RS, como empresa responsável pelo serviço oficial de extensão rural, assumiu a
estratégia de priorizar a agricultura familiar mais descapitalizada, trabalhar pela
produção de alimentos limpos e por um modelo tecnológico que agrida menos o
ambiente. E, para isso, vem apoiando-se em metodologias participativas que permitam
aos agricultores participar nas decisões do processo de desenvolvimento.
7 DESER: Departamento de Estudos Sócio-econômicos Rurais. Informativo de conjuntura agrícola ecomercialização do Alto Uruguai, maio-junho 2001. N°1.
46
As ações da extensão rural foram voltadas para a construção de um novo modelo
de desenvolvimento que prevê o resgate da dignidade da profissão de agricultor e da
atividade agropecuária no Rio Grande do Sul, além da inclusão de uma parcela desses
agricultores que estavam sendo excluídos do processo produtivo (EMATER-RS, 2000).
Entre suas principais linhas de ações estão: Produção ecológica de alimentos, manejo
ecológico de solo, agroindústria familiar, qualidade de vida e bem-estar social, entre
outros.
A construção do novo modelo da Emater vem exigindo nova postura e novo tipo
de atuação, além de um novo profissional da extensão rural preparado para compreender
que os agroecossistemas co-evoluem com os sistemas sociais e biológicos. Este novo
enfoque exige dos extensionistas a capacidade de compreender os aspetos da vida dos
indivíduos e suas relações sociais, assim como os aspectos da historia dos diferentes
atores individuais e coletivos com os quais atuam.( CAPORAL, F. R. e
COSTABEBER, 2001).
A política e a estratégia do governo também buscam a revitalização e
revigoramento da pesquisa agropecuária do Estado para atender as demandas a respeito.
A FEPAGRO (Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária), assumindo parte destas
políticas, tem procurado orientar suas ações no sentido de incorporar a teoria dos
sistema agrários e centrar a ação institucional na agricultura familiar. (FEPAGRO,
2001).
Entre as políticas que o Governo de Estado do Rio Grande do Sul, através do
Departamento de Agroindústria, Cooperação e Comercialização – DACC, vem
adotando, está uma série de medidas para auxiliar o desenvolvimento econômico e
social dos agricultores e de suas organizações, facilitando assim a implantação de
agroindústrias de pequeno porte e de caráter familiar.
O Programa de Agroindústria Familiar contempla uma série de medidas como
legislação sanitária animal às pequenas agroindústrias, tais como simplificação da
legislação ambiental (a respeito disso, percebe-se que, tanto técnicos como alguns
agricultores pesquisados gostariam que essa legislação fosse ainda mais flexível das
condições que apresenta no momento da pesquisa); financiamento facilitado para a
compra de equipamentos e infra-estrutura, viabilização da nota do produtor para
produtos processados; implantação de uma central de embalagem; fortalecimento dos
47
produtos para as agroindústrias familiares por meio de um selo de identificação e de
apoio publicitário; implantação de cursos de formação e de apoio à comercialização
viabilização de novos mercados e promoção dos produtos da agricultura familiar.
Além do esforço de um novo aprendizado para transferir o potencial da gestão da
unidade de produção para a agroindústria familiar, os agricultores familiares deverão
lutar por mudanças nas políticas públicas, de crédito, pesquisa e extensão rural, por
adequação da legislação (sanitária, associativa e providenciaria) à realidade do campo e
demais estrangulamentos de tais iniciativas. Também pela necessidade de mudar o
sistema de produção do fumo, o que incide, em parte, na precária situação econômica,
social e ambiental no meio rural e, particularmente, em alguns dos municípios visitados,
uma vez que o fumo constitui a base da economia de muitos agricultores convencionais,
incluindo parte dos agricultores que se encontram no processo de transição
agroecológica, como é o caso de 35% dos agricultores visitados.
2.7. Aspectos político-administrativos no Estado do Rio Grande de Sul
O Rio Grande de Sul tem vivido, nos últimos anos, um processo intenso de
redirecionamento de suas políticas públicas vinculadas à posse do Governo Popular
(1999), liderado pelo Partido dos Trabalhadores, em coalizão com os demais partidos da
Frente Popular.
A ação governamental no campo da agricultura e do abastecimento tem como
objetivos a incorporação de algumas das bandeiras defendidas ao longo das últimas
décadas pelos movimentos sociais e ONGs com atuação no meio rural. Este se
caracteriza por ser de participação popular, que busca um desenvolvimento
economicamente viável, ecologicamente sustentável e socialmente justo. Ainda que o
regime seja capitalista, persegue estratégias de desenvolvimento que favoreçam, no
possível, a matriz produtiva existente no Estado, na busca de valorizar as
potencialidades da economia local. Trata também de favorecer a agricultura familiar, a
reforma agrária, de apoiar a micro, pequena e média empresa, alguns sistemas locais de
produção e alguns segmentos excluídos da sociedade. Na busca da construção de um
desenvolvimento mais justo, no esforço de criar mecanismos que resultem em
constantes melhorias à vida dos gaúchos.
48
A estrutura produtiva do Estado está fundamentada na agricultura, nos setores
complexos industriais (metalmecânicos, coureiro, calçadista), agroindustrial, entre
outros. No setor agrícola, foi considerado o Celeiro do Brasil e, atualmente, é um dos
maiores produtores agrícolas do País.
As ações do governo estão direcionadas em quatro linhas de ações para o setor
primário: i) incentivo à agricultura familiar ii) à implementação da reforma agrária iii) à
defesa da soberania alimentar e iv) à adoção da Agroecologia como novo paradigma.
Os principais programas do governo são:
* Programa de Agroindústria Familiar, o qual destina recursos para pequenas
agroindústrias de mão-de-obra familiar, possibilitando a agregação de valor ao trabalho
dos agricultores. Esse programa simplifica a legislação sanitária e ambiental para a
construção de novos estabelecimentos, tornando mais fácil o acesso ao crédito e
estimulando a comercialização dos produtos.
* Programa RS Rural: busca recuperar a qualidade de vida e melhorar as
condições da produção da população pobre do campo, por meio de projetos integrados
de infra-estrutura familiar e comunitária, do manejo dos recursos naturais e da geração
de renda.
* Programa de Reforma Agrária: reflete a preocupação em possibilitar acesso à
terra para trabalhadores rurais que estão fora do sistema produtivo. O modelo de pólos
regionais trabalha para inserir vários assentados em áreas próximas umas das outras,
melhor aproveitamento dos investimentos de infra-estrutura, promovendo o crescimento
econômico de toda a região. Outra característica importante deste programa consiste no
incentivo à produção agroecológica, respeitando a saúde dos agricultores e o ambiente
onde vivem.
* Programa de Produção, Agroindustrialização e Comercialização de Produtos
Ecológicos, - Rio Grande Ecológico: financia a produção e a comercialização de
produtos agroecológicos, promove a formação de agricultores com base nesses
princípios e oferece-lhes assistência técnica.
A soberania alimentar e a melhoria da condição nutricional da população gaúcha
contam também com o Plano Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional
Sustentável. A meta é ampliar o acesso da população aos alimentos, reduzindo seu custo
49
no orçamento familiar, além de assegurar a qualidade biológica, sanitária, nutricional e
tecnológica dos alimentos oferecidos
Fundamentado nessas iniciativas, integrando toda a agropecuária gaúcha, o
governo está tentando construir um novo pilar para o desenvolvimento, respeitando sua
vocação histórica à atividade primária.
Após apontar brevemente algumas características geográficas, populacionais,
econômicas e parte das ações e estratégias que o atual governo propõe e vem
desenvolvendo em prol de uma sociedade mais justa e uma agricultura mais
desenvolvida no Estado, passa-se a descrever vários aspectos da agricultura com bases
ecológica no Rio Grande do Sul.
50
CAPITULO 3
3. ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA
SUSTENTÁVEL E DA PRODUÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL
Este capítulo inicia-se com a história do desenvolvimento da produção
sustentável no Estado, apresentando parte dos acontecimentos que serviram de alicerce
em seu avanço e contribuíam com seu fortalecimento, especialmente, nas pequenas
unidades de produção. Apresentam-se também alguns aspectos da transição
agroecológica na região, além de serem apontados vários aspectos das organizações
onde os agricultores estudados estão inseridos.
3.1. História e algumas características da produção de bases ecológicas no
Estado e na área em estudo
Segundo PAULUS (1999), a primeira entidade ecologista do Rio Grande do Sul
foi a União Protetora da Natureza, fundada em 1950 por Henrique Roessler, em São
Leopoldo, a qual tinha como objetivo principal a proteção ambiental. Já GONÇALVES
(1996), fazendo uma breve passagem pela historia da ecologia no Brasil, considerava
que, no final da década do 60, o movimento ecologista era socialmente mais enraizado
no Rio grande do Sul, que reunia ecologistas a partir da luta a favor do ambiente.
A longo dos anos, especialmente a partir da década do 70, teve início a importante
participação de algumas entidades e de ONGs na questão ambiental. Criou-se, assim,
em 1974, a primeira entidade ambientalista do Brasil, a AGAPAN (Associação Gaúcha
de Proteção ao Ambiente Natural), a qual tinha, entre seus fundadores, José
Lutzemberger e outros que intervieram na questão da produção com vários debates
sobre os sistemas de produção agrícola, entre eles: a contaminação ambiental, os danos
ocasionados pelo sistema de produção agrícola ao solo e ao ambiente. No final dessa
década, em 1987 foi criada a Cooperativa Coolméia em Porto alegre, intervindo também
nesses debates.
51
No início dos anos 80, houve outro importante movimento no Estado a respeito da
questão dos agrotóxicos - incorporando-se às ONGs e outras entidades, como a
Sociedade de Agronomia do Rio Grande do Sul (SARGS), também alguns Engenheiros
Agrônomos e técnicos vinculados à extensão rural de instituições oficiais, quem
conseguiram a implementação da Lei dos Agrotóxicos, pioneira no Brasil.
Nesta década, surgiram várias organizações, entre elas: CAPA Centro de Apoio ao
Pequeno Agricultor (1982), localizada em São Lourenço do Sul; Centro Ecológico
(antigo Projeto Vacaria), iniciado em 1984, no município de Ipê; CETAP-Centro de
Tecnologias Alternativas Populares (1985), com sede em Passo Fundo; a Fundação
Gaia, vinculada ao ecologista José Lutzemberger em Pântano Grande, criada em 1987.
Além de PTA (hoje AS-PTA – Assessoria e Serviços – Projeto Agricultura Alternativa).
Essas ONGs e Cooperativas, começaram a atuar, nessa década na produção sustentável,
apoiando as associações de agricultores. Também no município de sobradinho, o
Engenheiro Agrônomo Soel Claro e seus colaboradores, iniciaram suas pesquisas nas
práticas agroecológicas, sobretudo nas técnicas de produção.
Na década do 90, fundou-se a cooperativa Ecocitrus, sediada em Montenegro, a
qual contou com a participação e apoio da assistência técnica por parte de Emater-RS.
Essas e outras organizações de agricultores, como iniciativas pontuais de menores
expressões, contribuíam no desenvolvimento da produção com bases ecológicas no
Estado. Segundo CAPORAL (2001), dentro das instituições do Estado, nunca houve,
até 1999, uma política institucional de apoio ao processo de transição para a produção
sustentável na assistência rural. O que se teve foi uma política tradicional do tipo
conservacionista. Já, ao final da década de 90, foram propostos debates sobre o papel da
extensão rural na transição agroecológica, dada a política do novo governo em favorecer
o desenvolvimento rural sustentável, tendo em vista a agricultura familiar. Os debates
teve a participação de grupos de profissionais de entidades como a Emater-RS,
representantes dos agricultores da FETAG (Federação dos Trabalhadores na
Agricultura), MPA (Movimento de Pequenos Agricultores), Movimentos de Mulheres e
o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), os quais tinham em seus
programas a questão da agricultura com base ecológica como proposta alternativa.
52
Desses debates, resultou a nova missão da Emater-RS, que colocou como
objetivo central trabalhar para o desenvolvimento rural sustentável, com bases nos
princípios da agroecologia e tendo como centro a agricultura familiar (assentados de
reforma agrária, agricultores mais pobres, pescadores, artesãos e famílias indígenas).
Em uma nova forma de intervenção no meio rural, depois de 45 anos de trabalho de
extensão rural convencional, a Emater-RS teve um enorme desafio, que foi enfrentar as
exigências do novo tipo de agricultura, uma vez que o seu corpo funcional é formado
nas escolas convencionais, na lógica da Revolução Verde, com uma história e uma
cultura vinculadas a esse tipo de intervenção.
Assim, ela organizou um processo de transição institucional, baseado no enfoque
do desenvolvimento sustentável, nas bases e nos princípios da agroecologia, com uma
metodologia de intervenção diferenciada da tradicional.
Durante esse processo de transição, a Emater-RS desenvolveu algumas ações,
tais como: a instituição de programas com linhas de crédito para financiar a agricultura
ecológica “Rio Grande Ecológico” (juros zero); a abertura do edital na fundação de
pesquisa para esta e para a Agroecologia; a realização de uma série de eventos, entre
eles, seminários, cursos de Agroecologia aplicada (relacionados à tecnologia e
intervenção) e à instituição do fórum que gerasse e propiciasse mais debate sobre o
tema.
Esses e outros acontecimentos foram a base para o desenvolvimento da produção
sustentável no Rio Grande do Sul, onde estas organizações e a Emater buscam
diagnosticar e sistematizar a situação que apresenta esta produção no Estado. Como
resultado disso, o Escritório Central da Emater-RS (no início de 2001) informava a
existência de 3.770 agricultores produzindo com bases ecológicas, numa área de 13.000
hectares, os quais faziam parte das diversas organizações apontadas acima.
Considerando que atualmente esses dados sejam maiores, graças aos incentivos e apoio
do governo do Estado e o grande interesse que vêm despertando nos agricultores e na
população rural pela produção sustentável.
53
3.1.1. Processo de transição agroecológica em algumas unidades de produção
no Rio Grande do Sul e na área da pesquisa
A transição agroecológica, considerado o processo de mudança que busca
construir novos estilos de desenvolvimentos agrícolas apoiados em tecnologias menos
agressivas ao ambiente e que correspondam a uma sociedade mais justa, em prol da
sustentabilidade dos agroecossistemas, tenta frear, em parte, as conseqüências da
“Revolução Verde” - dependência da agricultura para com a industria, severas agressões
ao ambiente, a homogeneização das agriculturas mundiais, maior descapitalização do
pequeno agricultor incidindo no crescimento do êxodo rural, entre outros - e fortalecer o
passo de maior número de agricultores da agricultura convencional ou tradicional para
uma agricultura econômica, ecológica e socialmente equilibrada.
Considerando-se que a passagem de um sistema de produção para outro pode
levar vários anos em condições geralmente modificáveis CLARO (2001), aponta que
esse período é influenciado por vários fatores, mas considera que o processo de
transição possa dar-se entre um a quatro ou cinco anos. Tendo também grandes
possibilidades de aumentar o risco na produção, haja vista a falta de prática e de
conhecimento no novo tipo de agricultura, por parte de técnicos e agricultores, aliados à
dificuldade que alguns agricultores têm em adquirir os insumos agroecológicos
necessários nas atividades produtivas. Ainda que se conte com trabalhos a esse respeito,
como os do Engenheiro Agrônomo Soel Claro em Sobradinho, que requer ser mais
difundido e conhecido entre os agricultores. Em alguns casos, o incremento ao ataque
de pragas e doenças, entre outros fatores, também influi para que muitos agricultores
mantenham-se distantes do sistema de produção agroecológico, encontrando-se, entre e
processos do sistema alternativo, no intuito de melhorar sua saúde e de outras razões:
segurança econômica representada nas atividades agrícolas que realizam, em que alguns
continuam nas atividades do sistema convencional, mas adotando práticas sua família,
além de desenvolver práticas agrícolas que reduzam a agressão ao ambiente.
Alguns agricultores descapitalizados mostram receio para participar do processo
de transição por ele representar-lhes maiores riscos, uma vez que não dispõem de capital
para amortizar as prováveis perdas econômicas que possam apresentar-se nas etapas
iniciais do processo, ainda que o processo de transição para este tipo de agricultura no
54
Estado conte com incentivos por parte do governo para apoiar essas iniciativas, além
dos programas que buscam o fortalecimento da agricultura familiar, que pode favorecer
a um número representativo de agricultores descapitalizados.
Entre os aspectos que vêm sendo identificados no processo de transição nas
unidades de produção no Estado, está a implementação de algumas das práticas
agroecológicas. Entre elas está a diversificação dos agroecossistemas, especialmente
com rotações de culturas, notando-se esforços de alguns agricultores em aproveitar os
benefícios que oferecem algumas das espécies utilizadas como coberturas, mas, que
requerem maior conhecimento e estratégias para organizar formas mais diversificadas
na produção, como no caso das áreas das monoculturas, o fumo, por exemplo, em que,
mais que diversificar a produção, são necessárias estratégias que viabilizem a transição
do sistema convencional ao ecológico com menores riscos na produção e nos
rendimentos.
Outro aspecto chave no avanço da produção com base ecológica é o novo
direcionamento da pesquisa agropecuária para as abordagens sistêmicas dos
agroecossistemas, permitindo com isso estudar as unidades como um todo, nos
diferentes componentes e dimensões que a formam. Além disso, ainda é preciso de
tempo para que estas mudanças surtam seu efeito. Elas necessitam, principalmente,
segundo EHLERS (1999), da pressão social por uma agricultura mais “limpa” que
conserve os recursos naturais, produza alimentos mais saudáveis, que permita o acesso
mais democrático ao uso da terra e uma distribuição mais igualitária de seus
rendimentos. Sendo determinante também o acesso a mercados e à influencia dos
movimentos organizados da sociedade civil.
Sob as perspectivas de um novo estilo de desenvolvimento da agricultura, vive-
se em vários lugares no Rio Grande do Sul um período rico em ações, em críticas e em
debates com estratégias que apontam novas formas de organização da produção e do
consumo, em que a autonomia, a decisão, a determinação e a coragem das famílias
rurais envolvidas são muito importantes para seu desenvolvimento. Sendo os
agricultores os atores principais neste processo, seguidos pelos técnicos e os
pesquisadores da área rural, faz-se indispensável também a participação e o
comprometimento dos consumidores no processo, inclusive, tendo-se em conta as
demais condições socioculturais e econômicas dos atores, especialmente dos
55
agricultores. Ressaltando-se, entretanto, que essas ações ainda não propiciam um nível
quantitativo capaz de interferir nas forças de mercado. Mas que, no processo da
transição, é necessário fortalecer-lhes como mecanismo estratégico para o avanço e
melhor desenvolvimento da agricultura com base ecológica.
3.2. Caracterização das organizações de inserção dos agricultores, objetos
do estudo
Como foi visto anteriormente, os agricultores objeto do estudo fazem parte de
organizações cooperativas, entre as quais estão COOLMÉIA, ECOCITRUS e
COAGRICEL. Esta última foi criada como resultado da primeira etapa no
desenvolvimento do Plano Piloto de Agricultura Ecológica para a Região Centro-Serra
do Rio Grande do Sul.
A seguir, serão citados alguns aspectos relevantes que caracterizam estas
organizações, assim como a importância que apresentam no desenvolvimento da
produção sustentável no Estado.
3.2.1 Cooperativa Ecológica Coolméia
A Cooperativa Ecológica Coolméia, com sede em Porto Alegre, foi constituída
em 23 de janeiro de 1978 como “Cooperativa dos Membros da Fundação Dr. Serge
Raynaud de La Ferrière Ltda.”, a partir de uma reunião de associados da “Grande
Fraternidade Universal”. Entre os objetivos da Coolméia, estão: a defesa, a divulgação e
a aplicação dos princípios cooperativistas, ecologistas e naturistas, visando a defesa e o
bem-estar econômico, social e de saúde de seus associados, comunidade em geral e da
natureza como um todo.
Segundo ALVES (2001), ela iniciou como cooperativa de consumidores
preocupados pela espiritualidade, pela saúde, buscando boa alimentação e preocupando-
se com o consumo de alimentos sadios (linha vegetariana), apresentando-se a demanda
por estes produtos, sendo que, na época, poucos agricultores tinham condições de
satisfazê-la. A partir da década do 80, com o surgimento dos grupos ecológicos,
56
fortaleceu-se a preocupação pela natureza e realizou-se o primeiro curso de Agricultura
Ecológica, época em que surgem as primeiras propostas concretas de interligar
cooperativismo e ecologismo como uma síntese das filosofias ecológica, naturista e
cooperativista. A necessidade da agricultura orgânica começa a se propagar, a demanda
crescente desses produtos e os preços oferecidos levou outros agricultores a produzir de
forma orgânica e interessar-se por fazer parte da cooperativa.
Nos anos 81 e 82, os movimentos ecológicos foram fortes no estado, crescendo
também o número de simpatizantes da cooperativa. Como organização ambientalista,
teve participação na luta contra o uso de agrotóxicos, contribuindo na criação da Lei
contra os Agrotóxicos, como resultado de um trabalho conjunto de mais de 50
entidades, entre as quais, a Coolméia teve uma militância ativa.
Em 1984-1985 organizam a lanchonete e o restaurante e participam de eventos
ecológicos. Profissionaliza-se o sistema de compras na busca de fornecedores
ecológicos pelo interior e organizam-se os setores de entreposto.
Segundo MESQUITA (2002), em 1986, a Coolméia promove e realiza no
tradicional Parque da Redenção a feira ecológica Tupambaé que, traduzido em guarani,
significa “Terra de Deus”. Nesse ano, a Cooperativa adquiriu o nome do movimento
ecológico. Em 1987, realiza com sucesso a 2ª Feira Tupambaé, além da criação de uma
escolinha para os filhos dos associados. Em 1989 se estruturo como cooperativa, com a
reformulação do estatuto social, dá-se a integração de três tipos de cooperativa:
consumo, produção e trabalho, sob o nome de Cooperativa Ecológica Coolméia. Nesse
mesmo ano, é realizada a 3ª Tupambaé com a Escola “Amigos do Verde”, mostrando
trabalhos, produção (ainda que fosse pouca na época), relações cooperativas e vendas de
produtos ecológicos. Também tinha em vista demostrar e divulgar a viabilidade da
agricultura ecológica num processo de resgate da dignidade do agricultor em sua
identidade geográfica, agindo no local e pensando globalmente, dando sentido à defesa
da saúde do humano e da natureza. A partir do sucesso nas vendas dessa feira, os
cooperados decidiram organizar as feiras mensalmente.
Em 1990, as feiras passam de mensais a quinzenais e, para valorização dos
produtores, seus nomes começam a figurar nos rótulos e nas embalagens. Outros dois
fatos marcantes foram a elaboração de um conceito próprio de agricultura ecológica e
do Regimento dos Agricultores. O termo agricultura não era percebido apenas como
57
produção de alimentos, mas como cultura do e no campo, resgatando as criações
culturais do ser humano no trato com a terra em todas as suas etapas e manifestações,
buscando também um resgate dos saberes locais e regionais.
Em 1991, o progressivo aumento da produção propicia regularidade no
fornecimento de produtos, permitindo uma paulatina diversidade de frutas e verduras e
conduz à ocorrência semanal da Feira dos Agricultores Ecologistas.
Em 1994, a Coolméia abriu uma nova feira no bairro Menino Deus, no pátio do
antigo Parque de Exposições Agropecuárias da Secretaria de Agricultura do RS, feira
esta que funciona atualmente duas vezes por semana e, como a outra mais antiga,
mantém fortes vínculos com associações de produtores rurais ecologistas do interior do
Estado.
No que diz respeito à certificação dos produtos orgânicos, os dirigentes desta
cooperativa têm assumido uma postura radical à certificação destes. Para eles, o
principal é ressaltar o saber e os valores de respeito, honestidade e lealdade com clientes
externos e internos; satisfazer e superar as expectativas dos funcionários e clientes;
oportunizar o crescimento profissional; gostar do que faz e fazer bem feito; além de
estimular a consciência de produzir e consumir alimentos ecologicamente saudáveis.
No transcorrer dos vinte e quatro anos de existência da Cooperativa, tem sido
apresentadas reorganizações internas e mudanças estatutárias, através da instância do
núcleo de tecnologia, exercendo um papel de apoio e militância na discussão das
questões técnicas que envolvem posicionamentos políticos, como a Lei dos
Agrotóxicos, a questão da certificação de produtos orgânicos e, mais recentemente, a
questão das embalagens plásticas nos alimentos e suas conseqüências sobre a saúde
humana. A instância técnica de Ecotecnologia ocupa-se de aspectos nutricionais,
preocupações ambientais com plástico, lixo, e realiza visitas aos agricultores,
principalmente aos que participam das feiras.
Com o projeto “Existência”, na edição de textos a que denominam cartilhas,
manifestam suas posições como militantes, formadores e informadores a respeito de
temas “eco-polêmicos”, como os agrotóxicos, transgênicos, biodiversidade e
embalagens, além de cartilhas orientadoras sobre a fabricação caseira de adubos
orgânicos ou minerais. Mantém ainda uma parceria com a revista inglesa “The
58
Ecologist', através do trabalho de duas sócias consumidoras que respondem por uma
edição em português da mesma (MESQUITA, 2002).
Entre os prêmios recebidos, obtiveram o Tevê Educativa/Governo Estadual,
durante a Expointer, feira agropecuária anual, em agosto de 2001, com um dos prêmios
na categoria "Agricultura Familiar".
A Cooperativa mantém, entre suas prioridades, a integração de seus associados.
Em 2001, ela contava com mais de 1800 associados, considerando a terceira parte como
membros ativos, localizados em diferentes pontos do Estado.
Os membros da cooperativa buscam fortalecer as redes participativas, com
oposição à certificação, porque consideram que o interessante é a confiança no
relacionamento entre o agricultor e o consumidor; razão pela qual a cooperativa mantém
ambos os grupos, como associados na busca de fortalecer os intercâmbios entre eles, na
procura por afiançar o cooperativismo, promover a troca de informações e melhorar
financeiramente o desempenho da cooperativa, já que a falta de financiamento vem
sendo um dos problemas persistentes na cooperativa.
A Coolméia é considerada uma das instâncias-chave para o desenvolvimento da
agricultura com base ecológica em vários municípios do Estado, assim como também na
organização de estratégia para conscientizar a população urbana da importância dos
produtos ecológicos.
3.2.2 Ecocitrus (Cooperativa de Citricultores)
Esta cooperativa foi criada em 1994 pela iniciativa de um grupo de quinze
citricultores, os quais faziam parte de uma organização de produção convencional
(Associação de Citricultores do Vale de Caí). Dentre seus objetivos e propósitos
estavam o de produzir, especialmente citrus (laranja e bergamota) sem veneno,
motivados pelo aspecto econômico da produção (obtenção de maior renda) e em virtude
da preocupação pela saúde das famílias e pela conservação do ambiente.
A cooperativa conta com uma sede central no município de Montenegro. Em
sua consolidação como cooperativa, teve um papel importante a criação da usina para a
produção de adubo, utilizando resíduos das indústrias de tanino como fonte de matéria
orgânica. Na organização da usina conto, com o incentivo do Programa Pró-Renda em
59
convênio com GTZ - Alemanha, da Emater e o interesse dos associados. Inicialmente, o
adubo produzido era destinado exclusivamente para os associados da cooperativa.
Atualmente, há superprodução que deve levar os dirigentes a optarem por novas
estratégias para a sua distribuição.
A Ecocitrus, atualmente conta com 40 associados, constituindo 60 famílias, com
uma área cultivada com citrus de 400 hectares aproximadamente; a produção, por
propriedade, oscila entre 1.000 caixas (nas áreas de pouca fertilidade) a 15.000 e 20.000
caixas de frutas (em áreas férteis e cultivos com boa manutenção). Pode-se dizer que
este grupo de agricultores cooperados usa poucos insumos externos nas indústrias
agroquímicas e ainda apresentam forte dependência na adquirição de sementes.
A cooperativa esta organizada internamente em diretorias, tendo uma diretoria
geral e quatro diretorias setoriais (usina, comercialização, produção e ética e
divulgação). Conta com um técnico que presta assistência aos associados, cujos serviços
são financiados pela própria cooperativa, além de contar com a equipe técnica da
Emater-RS dos escritórios municipais.
Como toda organização, ainda têm problemas. O mais grave é a comercialização
do produto em relação a volumes e à classificação, dado que o mercado8 absorvia
somente 60% da produção e, destes, só 20% eram comercializados como produtos
ecológicos. Uma parcela de 40% da produção era comercializada nos padrões
tradicionais e, aproximadamente, igual porcentagem ficava nos pomares por falta de
mercado. Esta situação e o apoio do governo do estado para a produção com bases
ecológicas levou os produtores a optarem pela agroindústria. Recentemente, obtiveram
o financiamento das instalações (R$ 202.000), através do Programa de Agroindústria
Familiar, que financiou a aquisição dos equipamentos para beneficiamento de frutas e
para extração e processamento de suco. Com a abertura da fábrica de suco, os
associados esperam resolver a falta de colocação do produto e contar com maior renda
que lhes permita fazer outros investimentos nas unidades, especialmente, na
manutenção e ampliação das áreas com citrus, além de possibilitar maior diversificação
na produção.
8 Os mercados desses produtos são: feiras, supermercados, pequenos mercados, quitandas e vendas aatravessadores, especialmente, de São Paulo. Este último distribuir parte do produto em São Paulo, etentava fortalecer a comercialização nos mercados europeus. No momento da pesquisa, os associados aEcocitrus embalavam o produto para tal fim.
60
Outro problema observado é o aparecimento da mancha preta (doença) na fruta,
a qual aumenta com o transcorrer do tempo. Ainda que os agricultores sejam
conscientes dos efeitos negativos da monocultura, essa prática prevalece e a mancha
preta na fruta persiste e aumenta. Com respeito a isso, os agricultores concluíram que
não atenderam ainda ao equilíbrio ecológico nas unidades, mas têm planejado
implementar sistemas agroflorestais nas áreas do cultivo de citrus. Entretanto, existem
poucas unidades produtivas com atividades iniciais para o estabelecimento deste
sistema.
Entre as perspectivas de ações e desafios para o futuro, expõem: comercializar
todas as safras, consolidar a agroindústria, aumentar o número de agricultores e a
produção ecológica, diversificar a produção; produzir em maior harmonia com o
ambiente, tendo como finalidade competir mais eficientemente no mercado, de tal
forma que consigam colocar os produtos que o atual mercado não consegue absorver e
fazer da região uma área de produção agroecológica.
3.2.3 Cooperativa Coagricel
Esta cooperativa tem como sede Sobradinho e faz parte das estratégias de ação
do Plano Piloto de Agricultura Ecologica para a Região Centro-Serra no Rio Grande do
Sul. O Plano tem como objetivo principal transformar a região em polo de produção
ecológica e de ecoturismo rural, visando a geração de emprego e renda, a proteção do
meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida no campo e na cidade, em busca de
contribuir com a promoção do desenvolvimento rural sustentável.
Na busca desses objetivos, foram apresentadas várias ações estratégicas, entre as
quais estão: promover a organização dos agricultores, consolidar uma marca para os
produtos ecológicos produzidos na região, formar um banco de sementes ecológicas
para promover o resgate e a multiplicação das sementes crioulas entre os agricultores,
apoiar a criação de associações ou cooperativas de consumidores ecológicos. Entre
outras estratégias, encontra-se a criação de uma central regional de comercialização de
produtos ecológicos (Cooperativa de Associações Ecológicas), com o objetivo de
facilitar as ações agroecológicas, principalmente em relação ao processo de
comercialização. Sendo cristalizada esta estratégia com a criação de COAGRICEL, em
61
maio de 1999, constitui-se num dos principais componentes estratégicos do plano,
sendo incorporados na estrutura da cooperativa o banco de semente, marca regional para
a comercialização dos produtos ecológicos, o conselho de ética e a central regional de
comercialização.
A Cooperativa foi fundada com a participação de 35 associados, obtendo-se a
legalização como cooperativa ecológica a partir de junho de 2000. O número de
associados é crescente, apresentava 110 em 2001. Esta cooperativa tem a missão de
atuar exclusivamente com produtos ecológicos, priorizando o trabalho com grupos de
famílias ou associados ecológicos na produção e comercialização de produtos
produzidos em oito municípios (Sobradinho, Ibarama, Sete Estrelas, Arroio do Tigre,
Segredo, Tunas, Estrela Velha, Lagoa e Lagoa Bonita do Sul) integrantes do Plano
Piloto, projetando-a no futuro com a função de um centro expedidor de produtos
ecológicos. Além desses produtos “in natura” ou industrializados, a cooperativa também
comercializa insumos como fertilizantes, caldas e outros produzidos na região, como
fruto de constantes pesquisas e experimentações de um grupo de pessoas orientados
pelo Engenheiro Agrônomo Soel Claro da Emater. Os produtos são comercializados,
quando possível, diretamente ao consumidor final, na sede da cooperativa ou nas feiras
e em supermercados.
Um dos problemas que têm enfrentado a cooperativa é a falta de produtos em
determinadas épocas; falta de capacitação aos funcionários, falta de comprometimento
de alguns agricultores com a cooperativa, entre outros, a partir dos quais se pode
perceber a necessidade de melhor planejamento da produção direcionada à
comercialização e uma melhor preparação de todos os associados nos princípios
cooperativos.
62
CAPITULO 4
4. CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO EM ESTUDO
Neste capítulo, serão analisados os diferentes aspectos da realidade dos
agricultores estudados e que interagem continuamente com a natureza. Trata-se das
condições sociais, culturais e econômicas que apresentam os sujeitos em estudo, assim
como a forma em que estão organizadas as unidades de produção e a gestão
desempenhada por eles e por suas famílias. São apresentados diferentes aspectos
técnico-agronômicos, ecológicos e institucionais, os quais ajudam na compreensão da
caracterização e do funcionamento das unidades de produção.
Com o intuito de conhecer os sujeitos estudados, serão apresentados vários
aspectos que os caracterizam, assim como o meio onde estão inseridos. Para isso, são
apontadas especificamente questões como suas origens, faixa etária, nível de
escolaridade, a infra-estrutura doméstica que possuem e os serviços públicos de acesso,
a participação que têm na comunidade, além de serem expostos aspectos relevantes das
atividades produtivas nas unidades.
4.1. Os proprietários e as unidades de produção
Fazem parte do grupo pesquisado, 78 pessoas (53% mulheres e 47% homens),
organizadas em 17 famílias, com uma média de 4,5 pessoa por família. Todos são
gaúchos, 83% nascidos no município onde residem e 17% em áreas próximas. São
descendentes de agricultores europeus, especialmente alemães (44%), e italianos (41%),
mantendo algumas tradições culturais próprias desses diferentes grupos étnicos no que
se refere a hábitos. Incluem-se aí comidas típicas, tradições festivas e atividades
produtivas. A etnia incide, também, na realização de algumas práticas agrícolas, sempre
ligadas à diversificação da unidade produtiva, e na agroindustrialização dos produtos,
como é o caso da vinicultura, dos descendentes italianos. Os outros agricultores
estudados são de origem polonesa (3%), e francesa (3%), além de 9% deles que se
63
autodenominarem “brasileiros”, ou seja, não admitindo nenhuma ascendência européia.
Esses dados estão na figura 2.
FIGURA 2. Percentual de agricultores estudados, segundo suas origens, no RS.
Fonte: Pesquisa de campo, maio – junho, 2001.
Pode-se considerar a população formada por jovens, já que 24,4% encontram-se
na faixa de 0 a 15 anos, 56,4% estão entre 16 e 45 anos, e 19,2% tem mais de 45 anos,
como se vê na figura 3. Os agricultores pesquisados apresentam, em média, 24 anos de
experiência agrícola e de permanência nas mesmas unidades produtivas, realizando
quase que as mesmas atividades produtivas. Na produção sustentável, esses agricultores
estão há seis anos, em média, variando entre os que possuem de dois a dezoito anos de
experiência.
Todos são proprietários das unidades de produção, as quais são administradas
pelos homens. As mulheres apresentam uma importante e ativa participação em
diferentes atividades (lar, atividades agrícolas e algumas na agroindustrialização
caseira). Alguns jovens entrevistados manifestaram desejo de permanecer nas unidades,
desde que as condições de produção e comercialização melhorem.
Cerca de 73% das pessoas visitadas são economicamente ativas9, ao contrário da
situação geralmente encontrada em outras regiões onde há um alto percentual de
pessoas idosas na área rural .
9 Considera-se aqui a população economicamente ativa a partir dos 15 anos até 65 anos, ainda o IBGE(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) tem considerado esta categoria a partir dos 10 anos,dependendo as atividades que realizem os jovens. No caso estudado, nota-se que os adolescentes menoresde 15 anos encontram-se mais dedicados aos estudos e às atividades do lar, oferecendo aos pais maiordedicação nas lavouras agrícolas.
Alemã44%
Francesa3%
Italiano41%
Polonesa3%
"Brasileiro"9%
Alemã Italiano "Brasileiro" Francesa Polonesa
64
FIGURA 3. Faixa etária dos produtores visitados no Rio Grande do Sul.
Fonte: Pesquisa de campo, maio – junho, 2001.
O nível de escolaridade dos agricultores vem melhorando entre as gerações mais
jovens, devido ao interesse demonstrado pelos pais em relação à educação dos filhos.
Há, entretanto, 57,7% das pessoas sem concluir o ensino fundamental e 14,1% que
concluíram, sendo que, 7,7% concluíram o ensino médio e 2,6% o nível superior. Igual
percentagem é de crianças menores de três anos, como se observa no quadro 6. Dos
39,7%10 dos agricultores que concluíram o ensino fundamental, 20,5% continuaram o
ensino médio, no entanto, apenas 7,7% concluíram. Observa-se que, dos que
terminaram o ensino médio, 5,2% ingressaram no ensino superior. Destes, metade
(2,6%) continuam na academia e a outra concluiu seu curso. Foi notório o fato de não
serem encontradas pessoas sem escolaridade, uma vez que todas, sem exceção,
realizaram algum tipo de estudo formal. As mulheres apresentam maior grau de
escolaridade que os homens. Isso indica que as mulheres podem vir a assumir novos
papéis em termos de empreendedorismo ou de apoio às atividades já desenvolvidas,
considerando que uma parte delas capacita-se em outras áreas, podendo contribuir para
este meio social, como educação ou fisioterapia e ter uma atuação mais ampla no
desenvolvimento rural.
Essa situação permite inferir que, entre o grupo de pessoas estudadas, encontram-
se potencial e possibilidades para que mais adultos e jovens continuem com os estudos.
Com isso, irá aumentar o número de pessoas preparadas e com conhecimentos entre as
10 O percentual 39,7% resulta da diferença do total da população pesquisada, menos o percentual deagricultores que não concluíram o ensino fundamental 57,7%, mais as crianças menores de três anos2,6%.
24,40%
28,20%
28,20%
12,80%6,40%
0-15 16-30 31-45 46-60 >60
65
comunidades e na área rural em geral. No entanto, isso só ocorrerá quando, ao
concluírem seus estudos, encontrarem espaços e condições para desempenharem seus
potenciais nas regiões de origem.
QUADRO 6. Escolaridade da população estudada no Rio Grande do Sul.
Escolaridade Em concluir Concluído Total %
N° % N° %Sem iniciar * - - - - 2 2.6Ensinofundamental
45 57,7 11 14,1 56 71,8
Ensino médio 10 12,8 6 7,7 16 20,5Nível superior
2 2,6 2 2,6 4 5,2Total 78 100
Fonte: Pesquisa de campo. Maio – junho 2001
• Crianças menores de três anos
4.1.1. Infra-estrutura doméstica e acesso a serviços básicos.
Para avaliar a infra-estrutura doméstica e o nível geral da qualidade de vida que
apresentam as famílias, foram levados em conta os seguintes aspectos: moradia,
saneamento, locomoção, acesso aos serviços públicos, lazer, entre outros. Foram
consideradas condições favoráveis ao lazer e às atividades sociais, uma vez que as
famílias participam da sociabilidade local na comunidade, com atividades de lazer,
sobretudo as dominicais, em que participam das atividades religiosas, esportivas
(dispõem de áreas para esse fim), festas próprias das culturas de origem; possuem
condições para sair de férias ara lugares que ficam fora da localidade.
Vários agricultores têm moradias confortáveis. Assim, 47% das residências
visitadas encontram-se em boas condições; são construídas com tijolos, telha de barro,
boa distribuição interna, com comodos apropriados para o número de pessoas da
família, piso de azulejo ou cimento. Os serviços de esgoto e de coleta de lixo são
comuns a todos e realizados pela prefeitura municipal. Alguns agricultores enterram o
lixo quando o mesmo não é recolhido; vários têm telefone residencial; a totalidade das
casas também apresenta bom abastecimento de água (seja de poços artesianos, vertentes
66
ou reservatórios), energia elétrica e reciclagem de restos orgânicos - como
compostagem – ou são usados diretamente nas hortas e lavouras.
As moradias com menos conforto, 53%, são, em grande parte, construídas com
tijolos, sendo poucas as de madeira, 17,6%, entre as quais 6% carecem de esgoto. Em
alguns casos, o lixo comum é queimado ou enterrado, haja vista a falta de coleta por
parte da municipalidade.
Das famílias entrevistadas, 82% possuem transporte próprio, seja automóvel,
camioneta ou caminhão. O veículo é utilizado para o deslocamento próprio e transportar
a produção às feiras ou locais de venda. Os que não contam com este bem têm à
disposição os veículos do serviço público da comunidade e, muitas vezes, das
organizações em que estão associados. Entretanto, 5,9% dos agricultores mostraram
certa inconformidade pela qualidade irregular do serviço público prestado, ressaltando
alguns aspetos negativos, tais como: poucos veículos e alto custo pelo serviço
(inviabilizando, em alguns casos, a comercialização dos produtos, especialmente em
épocas de pouca produção). 18% dos agricultores ressaltam o problema das longas
distâncias entre os centros de produção e os centros de comercialização, especialmente
no caso das feiras realizadas em Porto Alegre, onde participam os agricultores
associados à Coolméia.
Os serviços públicos existentes são educação, saúde (médico e odontológico) e
transporte. Em nível geral, são eles considerados bons por 70% da população estudada,
ainda que alguns se encontrem a grandes distâncias das unidades, como é o caso do
serviço médico para 76% dos agricultores. Para 82% destes, a qualidade do serviço de
educação e odontológico é boa, como também para 59% os demais serviços de saúde e
de transporte são considerados bons. Em geral, grande parte dos agricultores avalia a
qualidade desses serviços positivamente, mas para alguns, são considerados como
regulares, porém com potencial para melhorar. Outro serviço que está à disposição é a
medicina alternativa, que beneficia 70% das famílias visitadas. Este serviço é de caráter
particular e prestado por membros da comunidade.
A disposição de alguns serviços na cidade, tais como educação, saúde, mercados
dos produtos e a relativa proximidade das unidades de produção e de moradia com
centros urbanos contribuem para a interação rural-urbana, sobretudo aos jovens, para os
quais há a oportunidade de escolha entre os dois espaços em seus planos futuros.
67
Outro serviço importante é o dos meios de comunicação. Todas as famílias
contam com mais de uma fonte de informação como rádio e televisão, e a metade delas
conta com acesso ao jornal. Vários agricultores (55%) reconhecem as instituições
oficiais e ONGs como entes-chave no desenvolvimento de encontros e de cursos que
contribuem para sua formação.
No aspecto religioso, todas as famílias professam algum tipo de credo,
identificam-se como católicos, sendo que 75% participam da igreja católica e 25% são
protestantes. A participação na igreja é considerada como momento de reflexão,
relaxamento e renovação, o que contribui para a retomada das forças para as atividades
cotidianas, especialmente as produtivas.
Na produção, todas as famílias dedicam-se às atividades agrícolas e afirmam
contar com certa facilidade de financiamento, sendo que 90% dos agricultores
beneficiam-se com créditos, com o objetivo de melhorar as condições produtivas nas
unidades. Vários dos agricultores consideram, no entanto, que o crédito é insuficiente,
se comparado com as necessidades que apresentam.
Em termos de sociabilidade local, todos os chefes de família fazem parte de
alguma(s) organização(es), especialmente cooperativas (88%); grupos da comunidade
(65%); associações (23,5%); sindicatos (23,5%) e grupos ecológicos (5,9%.). Estes
reconhecem a importância da organização no desenvolvimento da produção e da
comercialização, uma vez que ela incide fortemente também na capacitação durante o
processo de transição para a produção sustentável. Os agricultores mantêm vínculos
associativos com organizações e cooperativas de produtores como - Comacel (no
município de Arroio do Tigre); Hermocitrus (no município de Harmonia) e
Coopermonte (no município de Montenegro) e algumas associações de fruticultores e
agroindústrias, formadas especialmente por mulheres.
Depois de expor alguns aspectos característicos dos agricultores e suas famílias,
serão descritose analisados aspectos relevantes das unidades de produção, sendo que
algumas dessas questões retomadas com maior detalhe.
68
4.1.2. As unidades de produção agrícola (UPAs)
Neste item serão tratados os aspectos gerais encontrados nas unidades de
produção, como área e distribuição, cultivares e o sistema de manejo, mão-de-obra,
maquinarias e implementos utilizados nas lavouras e acesso à assistência técnica, com o
intuito possibilitar ao leitor uma maior compreensão da maneira como estão organizadas
as unidades em suas diferentes dimensões, das quais se tratará mais adiante.
As unidades de produção apresentam áreas inferiores a 50 ha, com a média de
19,14 ha, sendo classificadas como pequenas unidades produtivas. Elas têm 94,7% de
área agricultável, representando, em média, 18,12 ha por unidade; as áreas têm de 0,32
ha a 42 ha. São aproveitadas com cultivos (anuais e perenes, especialmente frutíferas)
233,92 ha, ou seja uma média de 13,75 ha, em áreas que vão desde 0,3 ha a 39 ha. As
áreas com culturas representam 71,9% do total da área das unidades produtivas, que
serão representadas no quadro 7. Esse mostra o total das áreas das unidades, aquelas que
estão aptas para desenvolver as atividades agrícolas e a relação percentual entre elas,
além das áreas ocupadas com cultivos, a relação percentual existente entre elas e o total
da áreas das unidades. O quadro ilustra a diversidade de culturas encontradas nas
unidades produtivas no período visitado e as principais atividades realizadas pelos
agricultores.
Das áreas ocupadas com culturas (233,92 ha), 55,22% são destinadas à produção
agrícola com bases ecológicas (129,17 ha), apresentando, em média, 7,6 ha por unidade,
numa extensão que vai desde 0,3 ha até 36 ha. As culturas anuais predominantes nessas
áreas são: milho, feijão, aipim, batata e algumas hortaliças, ocupando 19,78 ha, o que
representa 15,31% da área total com cultivo; encontram-se em média 1,24 ha por
unidade; dados esses especificados no quadro 8.
Em grande parte das unidades produtivas, as culturas anuais predominantes
encontram-se cultivadas em pequenas áreas, sob o sistema sustentável, entretanto, as
maiores áreas cultivadas com estas culturas são manejadas sob o sistema convencional.
As culturas perenes, especialmente as frutíferas, ocupam 109,39 ha, apresentando uma
área média por unidade produtiva de 8,41 ha. Os pomares de citrus predominam nas
propriedades, ocupando maior número de produtores e áreas cultivadas, se comparados
com as outras espécies frutíferas produzidas, conforme aparece ilustrado no quadro 8.
69
As áreas com culturas perenes representam 84,69% da área cultivada com cultivos
de bases ecológicos , que estão presentes em 76,47% das unidades, com destaque para o
cultivos de citrus em áreas que vão desde 0,5 ha até 36 ha. Encontra-se parte dos
pomares associada com as espécies anuais predominantes, sendo essa área destinada à
produção dessas espécies, especialmente, ao consumo familiar, com exceção das
hortaliças, já que, em várias unidades, grande parte da produção é comercializada
através da cooperativa Ecocitrus, com sede no município de Montenegro.
QUADRO 7. Áreas agricultáveis e com culturas das unidades de produçãoestudadas.
Produ-tor
a-Área(ha)
b-Área
agricultável
%%
(b/a)*
c-Áreacomcultura
%%(c/a)**
Principais culturas
1 4,5 4,0 88,90 2,5 55,5 Cana-de-açúcar, frutíferas, feijão, aipim, milho,batata, hortaliças
2 34 33,5 98,50 31,5 92,6 Uva, feijão aipim, milho, hortaliças3 0,5 0,32 64,00 0,3 60,0 Hortaliças, mudas de hortaliças4 8 7,75 96,90 6,25 78,1 Fumo, feijão, aipim, milho, cebola, batata,
amendoim, morango5 28 27,5 98,20 18,5 66,1 Reflorestamento (eucaliptos), feijão, milho,
pomar6 27 23,0 85,18 16,0 59,2 Fumo, feijão, aipim, milho, cebola, batata,
hortaliças7 24 23,7 98,75 14,5 60,4 Fumo, feijão aipim, milho, batata, hortaliças,
reflorestamento (eucaliptus)8 23,7 22,7 95,78 17,7 74,7 Fumo, feijão, milho, pomar, batata, hortaliças9 7 6,50 92,86 3,5 50,0 Feijão, milho, aipim, batata, hortaliças
10 18,2 15,8 86,81 2,6 14,3 Uva, pomar hortaliças11 16,5 14,5 87,88 13,0 78,8 Pomar, aipim, milho, batata, hortaliças12 5 4,8 96,00 4,5 90,0 Pomar, aipim, milho, hortaliças13 8 8,0 100,00 6,5 81,2 Pomar, aipim, milho, hortaliças, feijão14 19 17,07 89,84 12,0 63,2 Pomar, aipim, milho, hortaliças, feijão,
reflorestamento (eucaliptus)15 20 19,0 95,00 18,5 92,5 Pomar, aipim, milho, hortal., feijão16 40 38,0 95,00 27,0 67,5 Pomar, aipim, milho, hortaliças, feijão, batata17 42 42,0 100,00 39,0 92,8 Citrus, hortaliças
Total 325,4 308,14 233,92 -Média 19,14 18,12 92,33 13,76 -
Fonte : Pesquisa de campo, maio – junho, 2001
* Relação da área agricultável das unidades com o total das áreas
** Relação da área ocupada com culturas e o total da área das unidades
70
QUADRO 8 Área e produção de bases ecológicas nas unidades de produção
estudadas
Área (ha)culturas de basesecológicas
CulturasAgri-cultor
Área (ha)comculturas/unidades
Área(ha)culturasde basesecologicas Anuais Perenes Anuais Perenes
1 2,5 2,0 1,5 0,5 Feijão, aipim, milhobatata, cana-de-açúcar,, hortaliças
Goiaba, pêssego,abacate, banana
2 31,5 1,5 0,5 1,0 Feijão, aipim, milho,hortaliças
Uva
3 0,3 0,3 0,3 - Hortaliças e mudasde hortal.
-
4 6,25 1,0 1,0 - Aipim, batata,amendoim, morango,cebola
-
5 18,5 3,5 2.0 1,5 Aipim, batata,amendoim, cebola
Laranja e pêssego
6 16,0 2,0 2,0 - Aipim, batata,hortaliças
-
7 14,5 0,7 0,5 0,2 Aipim, , hortaliças Bergamota, figo,laranja
8 17,7 8,5 5,7 2,8 Aipim, batata, feijãohortaliças
Pêssego, figo, laranjamarmelo
9 3,5 3,5 3,5 - Aipim, milho batata,feijão hortaliças
-
10 2,6 0,6 0,2 0,4 Pepino Uva, laranja11 13,0 13,0 1,5 11,5 Hortaliças Laranja bergamota em
associação comculturas anuais
12 4,5 4,5 - 4,5 - Laranja bergamotaem associação comculturas anuais
13 6,5 6,5 0,01 6,49 Hortaliças Laranja bergamotaem associação comculturas anuais
14 12,07 10,07 0,07 10,0 Hortaliças Laranja bergamotaem associação comculturas anuais
15 18,5 15,5 0,5 15 Hortaliças Laranja bergamotaem associação comculturas anuais
16 27,0 20,0 0,5 19,5 Hortaliças Laranja bergamotaem associação comculturas anuais
17 39,0 36,0 - 36 - Laranja bergamotaTotal 233,92 129,17 19,78 109,39Média 13,76 7,60 1,32 8,41Fonte : Pesquisa de campo, maio – junho, 2001
71
Outra cultura perene encontrada foi o eucalipto, que faz parte das áreas em
reflorestamento. O quadro 8 mostra as áreas ocupadas com culturas anuais e perenes
(especialmente as frutíferas) de bases ecológicas nas unidades produtivas. pode-se
observar nos dados colhidos, a pouca diversidade de frutíferas para o consumo da
família, observando-se, inclusive, algumas unidades em que elas são quase inexistentes.
Há, portanto, a possibilidade de fortalecer a produção e diversidade dessas
espécies para suprir a necessidades das famílias e até para comercialização, mesmo que
seja em pequenas quantidades.
A área cultivada e manejada sob o sistema convencional ocupa 66,05 ha,
representando 28,24% da área com culturas e estando presente em 35,3% das unidades
estudadas. Três são as culturas : fumo (numa área de 14,25 ha), feijão (18,8 ha) e milho
(33,0 ha), todas mantidas como monoculturas com sistema de rotação periódico. Grande
parte desta produção é comercializada, especialmente, em cooperativas localizadas nas
proximidades das unidades de produção. O milho também é usado na alimentação de
animais (galinhas, suínos, gado, entre outros). O quadro 9 mostra as áreas ocupadas com
culturas mantidas sob o sistema convencional, identificando as unidades produtoras,
assim como a área total ocupada com estas culturas.
QUADRO 9. Área ocupada com cultivos convencionais em seis unidades deprodução estudadas
Área (ha)/unidade de produção Culturas
2 4 5 6 7 8 Total
Fumo - 2,75 - 7 3,5 1 14,25
Milho 15 1 4 3 5 5 33
Feijão 15 1 1 1 0,8 - 18,8
Total 30 4,75 5 11 9,3 6 66,05
Média 15 1,58,3 2,5 3,67 3,3 2,0 22,012
Fonte: Pesquisa de campo, maio – junho, 2001
As diferentes lavouras são, em grande parte, realizadas com mão-de-obra
familiar, ainda que 50% dos agricultores tenha falta de mão-de-obra, ela é suprida com
mão-de-obra contratada, especialmente temporária, nos períodos de plantio e colheita.
Há várias razões para isso, tais como: baixo número de pessoas na família, a presença
72
de casais jovens com filhos pequenos e a prioridade que os pais têm pela educação dos
jovens frente ao trabalho nas unidades de produção.
Todas as unidades têm acesso à assistência técnica prestada por instituições
oficiais ou particulares. Existe maior demanda de técnicos para acompanharem as
diferentes atividades produtivas, especialmente para assessorias na produção
sustentável. Destacam os agricultores que falta aos técnicos e profissionais, hoje
disponíveis, uma maior preparação e capacitação na produção sustentável.
A totalidade dos agricultores dedica-se à produção agrícola, da qual obtém
grande parte de sua renda. Nas unidades visitadas, mantêm-se maquinas, equipamentos
e ferramentas de trabalho. A qualidade, a quantidade e a modernidade destes
equipamentos estão diretamente relacionadas às condições financeiras do agricultor,
como também às exigências da cultura. Assim, encontrou-se 47% dos agricultores com
tratores e carretas e 29,4% com microtratores, roçadeiras e carregadeiras. Esses
equipamentos têm muita importância na produção, na colheita e no transporte dos
produtos, especialmente para os produtores de cítrus e para os que mantêm sistemas
convencionais em suas unidades produtivas.
4.1.3. Disponibilidade e desempenho da mão-de-obra nas unidades de produçãoagrícola
Na análise do desempenho e da disponibilidade da mão-de-obra nas unidades
produtivas, considerou-se a existente na família, especialmente a dos membros ativos na
produção e, também a mão-de-obra contratada. Essas foram relacionadas depois com as
áreas cultivadas, mostrando a relação da mão-de-obra predominante, a quantidade
disponível por família, a contratada e a disponibilidade de mão-de-obra total nas áreas
cultivadas, como mostra o quadro 10.
Em sua totalidade, os homens mostraram liderança no gerenciamento das
unidades, embora 17,6% também trabalhem fora da unidade. As mulheres e os jovens11
são agentes importantes no processo de produção, dividindo o tempo de trabalho entre
unidades com outras atividades, como o trabalho cotidiano no lar ou, em algum casos, a
“agroindústria caseira”. Além disso, uma grande parte dos jovens também estuda.
11 Na análise da mão-de-obra nas unidades, teve-se em conta o desempenho de mulheres e jovens, mas, naquantificação, usou-se a relação 1 para homem e 0.5 mulheres e jovens.
73
Os resultados no quadro 24 mostram que, do total de partic ipação de pessoas
no trabalho das unidades familiares, 77,63% correspondem a trabalho na propriedade
em que vivem, ratificando-se com esta percentagem o seu caráter familiar. Já 22,37%
são mão-de-obra contratada, especialmente temporária.
É importante mencionar que quase a totalidade da mão-de-obra familiar
encontra-se ativa nas UPAs, mostrando que os agricultores e seus familiares estão
dedicados e comprometidos com a produção agrícola e que a contratação de mão-de-
obra é uma necessidade para que se mantenha a área cultivável em produção, dado que,
em várias unidades, a mão-de-obra familiar é insuficiente para desenvolver os diferentes
trabalhos programados. Em 64,7% das unidades, contrata-se mão-de-obra, em
quantidades que vão de um até quatro trabalhadores. Ressalta-se que mais de 50% dos
agricultores fazem apenas uma contratação. Grande parte dela é temporária,
especialmente para épocas de plantio e de colheita. Em algumas unidades produtivas, é
pouco o valor a pagar por essas despesas.
Encontrou-se três casos de contratação contínua, os quais dependiam do
desenvolvimento de atividades pontuais como, por exemplo, a produção de frango, a
colheita de citrus e a produção contínua de mudas de hortaliças para a venda. Duas
unidades fazem mais de duas contratações de mão-de-obra para desenvolverem,
especialmente, na produção de fumo, citrus e frango, incidindo fortemente nas suas
despesas.
Pela pouca disponibilidade de mão-de-obra que apresentam algumas unidades,
torna-se difícil resolver o problema de contratação de forma rápida. Pode-se melhorar
com muito esforço da família e melhor manejo e eficiência técnica.
Na relação entre área cultivável e mão-de-obra familiar ativa, busca-se mostrar
a diferença entre elas, relacionando-as com a contratação de mão-de-obra. Nos
resultados do quadro 10, pode-se observar que entre elas não é apresentada uma relação
direta entre a maior área cultivável e a contratação. Foram encontradas unidades que,
com 0,2 ha e 0,58 ha, apresentam contratação, contrastando com outras que, com 7,25 e
8,85 ha que não contratam, permitindo inferir que, além da contratação de mão-de-obra,
da área e as culturas a produzir, os agricultores têm em conta, também, as atividades e a
exatidão no tempo a realizá-las, a fim de oportunizar o uso da tecnologia disponível.
74
Vários agricultores consideram que se melhorar a oferta de tecnologia
especializada na produção alternativa, o problema de contratação de mão-de-obra
poderia reduzir-se. Outra questão exposta por alguns foi a dificuldade para contratar
mão-de-obra no momento requerido e nas épocas de demanda, ocasionando, em alguns
casos, atraso nas atividades agrícolas.
No quadro 10 observa-se o percentual do trabalho familiar realizado em cada
unidade produtiva. Mostra-se que as famílias com carência de mão-de-obra suprem-na
com trabalho contratado, num percentual que vária de acordo com as necessidade nas
unidades produtivas. Assim denota-se que, em duas destas unidades, a disponibilidade
de trabalho familiar só cobre 43%, contratando-se o 57% restante, o que representa a
maior contratação de mão-de-obra nas unidades, repercutindo no aumento das despesas
familiares. No entanto, depara-se com unidades produtivas que apresentam menor
necessidade de mão-de-obra, em percentual de 14%, complementando-se com 86% do
trabalho familiar. Em outras seis unidades, o trabalho familiar é suficiente para cobrir as
necessidades, dispensando a força de trabalho contratada. Onde falta a mão-de-obra
familiar, recorrem à contratação de pessoal em quantidade que vai desde um até quatro
trabalhadores.
Quanto ao equivalente mão-de-obra familiar em cada unidade produtiva, ela
está disponível nas unidades em quantidade que vão de um até seis, apresentando, em
média, de dois a três membros da família trabalhando continuamente nelas.
Ao somar-se o equivalente da mão-de-obra familiar e da contratada nas
unidades, observa-se entre um e sete trabalhadores, apresentando em média de três a
quatro pessoas encarregadas de realizar as atividades agrícolas.
Outra questão estudada foi a relação área cultivada/mão-de-obra familiar
disponível, no intuito de apontar a dimensão das áreas manejadas pelos membros da
família e conhecer o aporte da mão-de-obra contratada na sua redução. Pode-se observar
que ainda, com contratação de mão-de-obra, a relação continua sendo alta para vários
agricultores, sendo esta uma das razões práticas para quem se apoiaram em maquinarias
e implementos do sistema convencional, na intenção de poupar mão-de-obra familiar
disponível.
Do total da população estudada, encontrou-se que 71,8% desempenhando
ativamente nas unidades produtivas, representando esta percentagem 98,3% do total da
75
população economicamente ativa. Pode-se dizer que, nas atividades produtivas das
unidades, têm-se condições de absorver a mão de obra familiar, mostrando-se
insuficiente em 64,7% delas, permitindo, com isso, inferir-se que as unidades de
produção vêm funcionando como fonte de emprego para quase a totalidade dos
membros das famílias.
QUADRO 10. Disposição e desempenho da mão-de-obra nas unidades de produção
estudadas
UPAs
%T
raba
lho fa
mili
ar
%
Con
trat
a-çã
oM
ão-d
e-ob
ra d
is-
poní
vel
da fam
ília
(h,m
,j)*
Uni
dade
Equ
ival
ent
e a
mão
-de-
obra
fa
mil
iar
ati
vana
s
unid
ade
s Uni
dade
Mão
-de-
obra
cont
rata
da Uid
ade
Equ
ival
ent
e m
ão-
de-o
bra
tota
l na
UP
AU
nida
deR
elaç
ãoár
eacu
lti
vada
/mã
o-de
-ob
ra
fam
iliar
(ha)R
elaç
ãoá-
re
acu
ltiv
ada
/mão
-de
-obr
ato
ta
l(h
a)
1 50 50 1h 1 1 2 2,5 1,252 71,4 28,6 3h, 2m 4 2 6 7,9 5,253 66,7 33,3 1h, 1j 1,5 1 2,5 0,2 0,124 50 50 1h, 1m 1,5 2 3,5 4,16 1,795 66,7 33,3 1h, 1m,
1j2 1 3 9,25 6,17
6 50 50 2h, 1m,1j
3 4 7 5,33 2,29
7 100 - 1h,1m, 1j 2 - 2 7,25 7,258 100 - 1h, 2m 2 - 2 8,85 8,859 87,5 12,5 5h, 2m 6 1 7 0,58 0,510 100 - 1h, 2m 2 - 2 1,3 1,311 100 - 2h 2 - 2 6,5 6,512 100 - 2h, 2m 3 - 3 1,5 1,513 100 - 1h, 1m 1,5 - 1,5 4,33 4,3314 75 25 1h, 2m 2 1 3 6,0 4,0015 80 20 1h, 1m,
2j2,5 1 3,5 7,4 5,29
16 62,5 37,5 1h, 4m 3 3 6 9 4,517 60 40 2h, 1m 2,5 2 4,5 15,6 8,66
Mé-dia
77,63 22,37 1,6h,1,3m,0,3j.
2,44 1,73 3,56 5,74 4,09
% 68,6 31,4
Fonte: Pesquisa de campo, maio – junho. 2001
(h, m, j)* relaciona o número de homens, mulheres e jovens que participam das
atividades produtivas na unidade.
A continuação se exporá aspectos relevantes à dimensão técnico-agronômica
encontrados nas unidades produtivas visitadas
76
4.2 DIMENSÃO TÉCNICO-AGRONÔMICA
Neste item, serão tratadas as condições em que os agricultores realizam as
atividades produtivas, expondo aspectos como o tempo de experiência que eles têm
nessas atividades; a forma de manejo dos recursos, especialmente do solo; as condições
de desenvolvimento da produção vegetal e animal; os insumos utilizados nas área;
enfim, busca-se conhecer a forma, as técnicas usadas e as condições em que os
agricultores desenvolvem a produção sustentável nas 17 unidades de produção
pesquisadas.
4.2.1. A experiência dos agricultores na produção
Neste item, mostraremos o tempo de experiência que os agricultores têm
acumulado nas atividades de produção agrícola, além do tempo de experiência nas
atividades da produção sustentável.
A pesquisa mostrou que, em média, os agricultores têm 30 anos de experiência
na produção agrícola, e o tempo de permanência na unidade de produção é em média de
24 anos. Isso indica que grande parte dos agricultores nasceu e permanece na mesma
unidade, e ali tiveram a oportunidade de desenvolver atividades de produção sob o
sistema tradicional, sendo influenciados por aspectos culturais de seus antecessores
(avós e pais de origens e culturas européias). Houve forte influência para mudar o
sistema convencional para sistemas sustentáveis. Os agricultores que mudaram têm em
média seis anos de experiência nesta produção. Destes, alguns apresentam pouca
experiência no novo sistema. Das unidades produtivas visitadas, 41,2% têm áreas
certificadas, somando um total 90 ha. O tempo médio de certificação é de quatro anos, e
o órgão certificador é o IBD (Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural). Essas
áreas pertencem aos agricultores associados à Ecocitrus, os quais se regem pela
normativa internacional da produção orgânica.
Depois de apresentar rapidamente o tempo de experiências dos
agricultores nas atividades agrícolas, será apontada a maneira como é usado o solo e a
distribuição apresentada nas unidades de produção visitadas.
77
4.2.2. Uso do solo
Em relação à utilização do solo, estuda-se a intensidade com que cada unidade
produtiva é trabalhada e o tipo de atividades que os agricultores nela desenvolvem.
Foram observadas, na distribuição da superfície total das unidades, áreas ocupadas com
lavouras (de bases ecológicas e convencional), pastagens, pousio/capoeira, preservação
permanente, reflorestamento, áreas com infra-estrutura doméstica, além de áreas não
agrícolas. Geralmente as unidades apresentam de quatro a cinco destas áreas.
As áreas ocupadas com culturas mostram alta pressão das culturas. Somam-se a
isso algumas práticas de manejo prejudiciais, como a mobilização do solo (a maior
parte, duas vezes por ano), especialmente nas áreas de culturas anuais, e a insuficiente
deposição de matéria orgânica, contribuindo para a degradação do solo. No entanto,
outras práticas de manejo, como a rotação de culturas ou a produção de adubo verde12
em pequenas áreas, são realizadas.
As unidades produtivas apresentam áreas com culturas de bases ecológicas
somando quase 40% da área total, sendo notória também a influência dos sistemas de
produção convencionais em seis delas, cuja ocupação representa uma área de 20,30% do
total de área das unidades produtivas estudadas.
Nas áreas ocupadas com pousio/capoeira, encontrou-se em 64,7% das UPAs em
extensões que vão de 0,5 ha até 4 ha, representando 20,80 há e perfazendo 6,39% da
área total, o que apresenta 1,89 ha em média nas unidades produtivas. Essa prática
permite o descanso de 8,9% das áreas cultivadas nas unidades, contribuindo, em parte,
com a sua recuperação transitória. Observou-se menor uso dessa prática nas unidades
produtoras de citrus, o qual exige manejo constante, especialmente durante a colheita da
fruta.
Outra razão da pouca área de pousio é que alguns agricultores necessitam de
todas as áreas para produzir, uma vez que os mesmos dispõem de superfícies pequenas.
12 As espécies de adubo verde encontradas nas áreas ocupadas com culturas perenes foram: naboforrageiro, soja perene, feijão miúdo, crotalária, além das espécies espontâneas da região. Já a ervilhaca,tremoço mucuna, crotalária, estavam presentes em pequenas áreas das culturas anuais, além das plantasespontâneas, sendo incorporadas na preparação do solo com a sua mobilização. Outro adubo verdeencontrado foi o guandu, fazendo parte de um pequeno cordão vegetal entre culturas anuais em umaunidade.
78
Também influi no uso dessa prática a importância que ela possa ter para os agricultores
quanto à tomada de decisões e programação das atividades produtivas nas unidades.
Os resultados mostram também que 23,5% das UPAs não têm áreas com
pastagem, sendo que as que possuem somam 24,90 ha, representando 7,65% da área
total estudada. Isso mostra a pouca disponibilidade de áreas à produção animal,
repercutindo na integração das atividades entre lavoura e criação. Considera-se
necessária uma maior integração entre estas atividades para viabilizar maior
disponibilidade de dejetos nas unidades de produção, como forma de incrementar a
produção de matéria orgânica que possa contribuir com a recuperação e manutenção da
fertilidade do solo.
As áreas com reflorestamento estão presentes em 64,7%, somando 38,7 há, que
representam 11,89% da área total estudada. Ainda Predominam em algumas áreas o
cultivo de eucaliptos, deslocando as espécies nativas pela facilidade de produção,
aceitação e a forte demanda da espécie introduzida nos mercados locais, regionais e
nacionais.
Foram encontradas, em 76,5% das UPAs, áreas de preservação permanente
ocupando 28,52 ha, que representam 8,76% do total da área. Vários agricultores
manifestaram o desejo de manejar estas áreas com espécies florestais nativas que lhes
represente renda. Necessitam, para esse propósito, de planejamento organizado para
continuar com a conservação destas áreas nas unidades produtivas.
A infra-estrutura doméstica, como moradia, caminhos, currais, entre outros, está
presente em 88,2% das unidades, abrangendo uma área total de 10,23 ha, em áreas que
vão desde 0,18 há até 2,0 ha. Os agricultores que não dispõem desses espaços, têm
moradias em pequenos sítios próximos.
Também foram encontradas áreas não agrícolas em 41,2% das unidades, em
extensão que vão desde 0,2 ha até 2 ha, abrangendo 7,025 ha da área total estudada, as
quais são ocupadas por açudes, banhados, corredores e caminhos internos para a
mobilização de implementos agrícolas e maquinarias. Também há entre elas áreas
degradadas ou muito pedregosas, que são encontradas em poucas unidades de produção.
O quadro 11 a seguir mostra as áreas das unidades de produção e a maneira
como cada uma delas está distribuída.
79
QUADRO 11. Distribuição e uso e solo nas unidades de produção agrícolas
Distribuição a terra/ produtor
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17To-tal
Área (ha) 4,5 34 0,5 8 28 27 24 23,7 7 18,2 16,5 5 8 19 20 40 42 325,4
Lavouraorgânica
2,0 1,5 0.3 1 3,5 2 0,7 8,5 3,5 0,6 13,0 4,5 6,5 10,07
15,5
20 36 129,17
Pastagem 0,5 2,0 - 0,5 3 2 6,4 - 0,5 3,2 - 0,3 - 1 0,5 4 1 24,90
Pousio/capoeira
0,5 - - 1 3 1 2,3 3 1,5 4 0,5 - - 3 1 - 20,80
Preservação perma-nente
0,5 - 0,02
- 3 4 0,5 2 1 6 1 - 1,5 1 - 6 2 28,52
Refloresta-mento
0,5 - - 0,5 10 3 4,5 3,2 - 2 - - - 2 3 7 3 38,70
Infra-estrutura
0,3 0,5 0.18
0,25
0,5 2 0,3 1 0,5 0,5 1,5 0,2 - 1 0,5 1 - 10,23
Área nãoagrícola
0,2 - - - - 2 - - - 1,9 0,5 - - 0,925
0,5 1 - 7,025
Lavouraconvencional
- 30 - 4,75
5 11 9,3 6 - - - - - - - - - 66,05
Fonte: Pesquisa de campo, maio – junho, 2001.
80
Já o quadro 12 ilustra a maneira como está distribuído o total da área estudada,
além do percentual que representa cada distribuição na sua totalidade.
QUADRO 12. Distribuição da área total das unidades de produção agrícola
Distribuição Área (ha) %
Lavoura orgânica 129,17 39,70Pastagem 24,90 7,65Pousio/capoeira 20,80 6,39Preservação permanente 28,52 8,76Reflorestamento 38,70 11,89Infra-estrutura 10,23 3,14Área não agrícola 7,025 2,16Lavoura convencional 66,05 20,30Total 325,40 99,99
Fonte: Pesquisa de campo, maio – junho, 2001
Depois de ser mostrado o uso e distribuição das áreas nas unidades de produção,
continuamos com a apresentação das práticas de manejo e conservação nelas realizados
pelos agricultores.
4.2.3. Manejo e conservação de solo
A seguir, será apontada a forma como os agricultores realizam o preparo de solo
nas UPAs, os implementos e maquinarias utilizados, e as práticas que geralmente são
empregadas nas lavouras.
No preparo de solo, observou-se uma movimentação intensiva, sobretudo nas
áreas de culturas anuais e olerícolas, expondo a microvida do solo às chuvas e à
insolação, favorecendo, assim, a erosão. Esta movimentação é realizada com vários
tipos de implementos agrícola, observando-se que: 29,41% das UPAs tinham
equipamentos de arado com tração animal; 41,17% mecanizado com grade e 5,88%
enxada rotativa, que é danosa à estrutura do solo.
Segundo BLEY (1999), “o arado da origem à erosão do solo, na intenção de
oxigenar mais o solo é consumida a matéria orgânica” e como já fora mencionado,
grande parte das unidades produtivas apresentam insuficiente abastecimento desta. O
mesmo autor sustenta que “as técnicas de arar e gradear as terras aceleram a atividade
microbiana nos solos tropicais, aumentando o consumo de matéria orgânica, tornando
81
o solo mais denso além de desestruturá-lo, facilitando o escoamento superficial das
águas das chuvas, causando a erosão hídrica”.
A esta situação somam-se a falta de cobertura vegetal em muitas áreas cultivadas,
a excessiva movimentação de solo nas áreas com culturas anuais e, em alguns casos, o
uso de maquinaria pesada. Fatores como estes contribuem com o empobrecimento do
solo em suas condições físico-químicas e biológicas, sendo um dos aspectos mais
importantes e urgentes a intervir na busca da eficiência nas práticas de recuperação e
conservação do solo a serem usadas.
Recomenda-se evitar tanto quanto possível a movimentação de solo e, para isso,
tem-se que usar nas unidades práticas de cultivo mínimo e plantio direto. O plantio
direto só esteve presente em 5,88% das unidades e sempre em áreas com sistema de
manejo convencional, onde, por um lado, protegem o solo com cobertura, mas com
prejuízos pela sua contaminação com produtos químicos.
Pôde-se também constatar que os agricultores são conscientes do prejuízo que
algumas destas práticas causam ao solo, haja vista que, com as práticas alternativas
atuais, eles não conseguem economizar mão-de-obra e decidem continuar com as
práticas agressivas.
O quadro 13 relaciona o percentual de agricultores com os respectivos
implementos agrícolas usados no preparo do solo.
QUADRO 13. Percentagens de agricultores segundo implementos agrícolasutilizados no preparo do solo nas unidades de produção estudadasPreparo de solo utilizado N° de agricultores %
Arado com tração animal 9 52,94Arado mecanizado 9 52,94Enxada rotativa 1 5,88Subsolador 1 5,88Plantio direto 1 5,88
Fonte: Pesquisa de campo, maio – junho, 2001
Assim, o uso de práticas que reduzem a movimentação do solo é muito pequeno,
embora seja uma técnica indicada pelas normas da agricultura de bases ecológicas.
82
MANEJO DE SOLO
Carmen Elena Bermúdez S.
Carmen Elena Bermúdez S.
Carmen Elena Bermúdez S.
.
Foto 1. Prática agroecológica deconservação de solo. Agricultor deMaquiné, maio 2001.
Foto 2. Prática agroecológica de conservação de solo (cobertura com feijão miúdo). Agricultores de Sobradinho, maio 2001
Foto 3. Manejo de solo em área de cultura convencional.
Agricultor de Ibarama, maio 2001
Foto 4. Manejo de solo em área de cultura convencional.
Agricultor de Ibarama, maio 2001
Carmen Elena Bermúdez S.
83
Considera-se que, além de pouca disposição de mão-de-obra nas UPAs, é fator
importante a falta de pesquisa e de mais referências técnicas que reduzam a incerteza
quanto aos resultados.
A rotação, sucessão e consórcio de culturas são considerados indispensáveis na
diminuição de risco de pragas e doenças, além de melhorar o aproveitamento de
nutrientes, contribuindo também para a diversificação da fauna e flora edáfica e para a
manutenção da diversidade do sistema. A rotação de culturas é usada em 94,1% das
unidades de produção, sobretudo nas culturas anuais e hortícolas (algumas delas são
milho-feijão, aipim-milho, feijão-hortaliças, milho-batata, batata-feijão, entre outras); já
o consórcio entre plantas é utilizado em 41,1%, especialmente nas culturas perenes
(observou-se citrus com pêssego, citrus com florestal nativo, citrus com culturas anuais,
como aipim, feijão, batata, hortaliças, entre outros). Já nas culturas anuais, observa-se
pouco o consórcio, e as em que ele está presente ocupavam pequenas áreas. Outras
práticas realizadas são: adubação verde, considerada importante por 88,2% dos
agricultores, sendo muito comum nos pomares e pouco nas áreas de cultivos anuais,
como foi mencionado anteriormente.
A cobertura morta (especialmente gramíneas) é usada em 17,6% das UPAs em
áreas de horticultura, utilizando-se para tal fim estas espécies, restos de culturas e parte
da mesma vegetação espontânea. Nessas áreas, também são empregadas a irrigação
47,06%, e estufas 17,6%. A maior parte conta com instalações rústicas.
Outra prática pouco utilizada é o manejo e uso de variedades resistentes; só
11,8% são conscientes da sua importância, os quais são aqueles que, além de produzir
com estas variedades, mantêm estoque de sementes para sua conservação nas unidades.
O quadro 14, mostra as diferentes práticas de manejo e de conservação do solo que os
agricultores realizam, além do valor percentual no uso nas unidades produtivas.
Considera-se importante rever o excesso de movimentação que apresentam as
áreas ocupadas com culturas anuais nas unidades visitadas ou minimamente reduzirem o
grau de intervenção com o emprego de cultivos mínimos, aumentando o potencial da
produção de matéria orgânica para estas áreas, mantendo maiores áreas com coberturas
de diversas espécies como adubo verde, melhorando a fertilidade do solo, aumentando a
produção, a produtividade e a eficiência de algumas práticas e tecnologias usadas pelos
agricultores na busca de melhores resultados na produção sustentável.
84
QUADRO 14: Percentagem de agricultores, segundo as práticas de manejo e
conservação de solo nas unidades de produção agrícola estudadas.
Práticas de conservação No de agricultores % de uso nas UPAs
Rotação de culturas 16 94,1Consórcio entre plantas 7 41,1Adubação verde (incorporada) 15 88,2Adubação mineral 5 29,4Adubação orgânica 16 94,1Cobertura morta 3 17,6Variedades melhoradas 2 11,7
Fonte: Pesquisa de campo, maio – junho, 2001
Para tal fim, é muito importante ter em conta as estratégias e os insumos usados
nas unidades de produção que levem a uma maior otimização dos recursos disponíveis
nas unidades. A seguir, serão apresentados os insumos utilizados, enfatizando a
necessidade da integração lavoura-pecuária para a produção de dejetos animais como
forma de aumentar a disponibilidade de adubos orgânicos nas unidades de produção.
4.2.4 Uso de insumos
Neste item, levar-se-á em conta o emprego, por parte dos agricultores, de
recursos internos e externos à unidade produtiva, especialmente de sementes e de
adubos orgânicos.
Notou-se, em grande parte dos agricultores, dependência de recursos externos na
obtenção de insumos orgânicos, tais como sementes, mudas, alguns produtos minerais
para preparos caseiros, adubos orgânicos, grãos e outros produtos industrializados,
como a ração animal. Constatou-se que todos compram sementes em diferentes
proporções e espécies, como hortaliças, grãos, mudas frutíferas e florestais. Há a
produção de mudas de aipim e de batata e, em menor proporção, de sementes de milho,
de feijão, de amendoim, entre outras.
No que se refere ao adubo orgânico, a dependência é menor, visto que, 76,4%
dos agricultores o produzem, especialmente à base de dejetos de animais em quantidade
proporcional à produção animal presente nas unidades e à estratégia de coleta e manejo
dos dejetos. Em grande parte das unidades, no entanto, as quantidades geradas são
insuficientes para atender às necessidades. A produção de adubos geralmente é utilizada
85
nas áreas de hortaliças, dependendo do volume produzido, e grande parte do adquirido é
usado em algumas áreas de culturas anuais e perenes. Os agricultores associados da
Ecocitrus dispõem de grandes quantidades de compostagens produzidas na usina da
cooperativa no município de Montenegro e vários deles enfrentam dificuldades no
transporte do composto até as unidades produtivas.
Dos agricultores, 17,6% compram adubo orgânico, especialmente de origens
avícola. Pode haver aí um risco de contaminação das áreas onde são utilizados, já que,
segundo pesquisa realizada no mestrado de Agroecossistema, na cama de frango,
encontrou-se resíduos de antibióticos depois de ser submetido à processo de degradação
dessas substâncias durante seis meses. Isso indica a necessidade de cuidado na aquisição
destes adubos fora das unidades produtivas, os quais podem trazer riscos para o
ambiente e à saúde humana. Dessa forma, propõe-se neste estudo, a compostagem para
viabilizar a cama de aviário como adubo (SANTOS, 2002).
Já os adubos minerais, sejam fosfato ou calcário, são comprados por 29,4% dos
agricultores. Igual percentagem adquire adubos de síntese química como uréia, salitre,
sulfato ou nitrato de potássio ou de fósforo. Entre outros adubos orgânicos usados, está
o Supermagro (biofertilizante líquido), o qual requer, também, a compra de alguns
insumos como micronutrientes minerais. O quadro 15 apresenta os diferentes tipos de
adubos utilizados nas unidades de produção agrícola estudadas.
QUADRO 15: Percentagens de agricultores, segundo a utilização de adubos nasunidades de produção agrícolas estudadas
Tipo de adubos % de agricultor
Esterco (bovino, aves, suínos) 76,4
Calcários 29,4
Fosfato natural 29,4
Supermagro 29,4
Chorume 23,5
Compostagem 47,0
De síntese químicos 29,4
Fonte: Pesquisa de campo, maio – junho, 2001
86
Manejo e conservação de sementes. Produção de insumos agroecológicos
Carmen Elena Bermúdez S.
Carmen Elena Bermúdez S.
Carmen Elena Bermúdez S.
Carmen Elena Bermúdez S.
Foto 5. Conservação de semente. Agricultor deMaquiné, maio 2001
Foto 6. Conservação de semente. Agricultores deMontenegro, maio 2001
Foto 7. Cisco de arroz carbonizado. Agricultor de Sobradinho, maio 2001
Foto 8. Produção de insumos agroecológicos. Agricultor de Sbradinho, maio 2001
87
Ao se produzir e usar maior quantidade de dejetos nas unidades, pode-se
apresentar grandes possibilidades de melhorar a fertilidade do solo, aumentar a
diversidade biológica e evitar o risco de contaminação com a compra e uso de produtos
externos à unidade produtiva. Para tal fim, necessita-se fortalecer a integração lavoura-
criação para o fornecimento dos dejetos que podem contribuir para reduzir a
dependência de insumos externos e obter benefícios, como diz MORAES et al.
(2000),“a integração lavoura-pecuária pode contribuir para a sustentabilidade das
propriedades agropecuárias em um sentido amplo, a través de benefícios biológicos e
financeiros”. A integração lavoura-pecuária precisa ser considerada como um processo
em que os agentes participativos (humano-meio físico, cultura e criação, entre outros)
convivem harmoniosamente em benefício de todos e, consequentemente, da
manutenção sustentável do agroecossistema. Nesse sentido, indicadores econômicos
também são fundamentais e denotam a importância dos processos de integração
lavoura-pecuária na segurança das atividades desenvolvidas nas unidades.
Outro aspecto muito importante na segurança e bom desempenho das atividades
produtivas nas unidades é a forma como os agricultores realizam o manejo e controle de
pragas, doenças e plantas companheiras.
4.2.5. Manejo de pragas, doenças e plantas companheiras
Com a agricultura sustentável, procura-se minimizar os problemas causados por
pragas e doenças, na busca do equilíbrio ecológico nas unidades de produção, ainda que
o ideal seja não contar com elas e, se possível manter os agroecossistemas em
equilíbrio, nos quais, os insetos, fungos, bactérias, parasitas, nematóides e demais,
convivam em harmonia com seus respectivos inimigos comuns, em solos porosos e
férteis, mantendo a diversidade vegetal e animal.
Nesta pesquisa, observou-se que algumas culturas apresentam problemas de
pragas e doenças em várias unidades, como na cultura da batata e hortaliças, além de
frutíferas, como cítricos, parreiras e pessegueiros. Os agricultores tentam controlar ou
minimizar estes problemas com aplicações de caldas, seja sulfocálcica ou bordaleza,
preparados caseiros e o manejo das culturas, entre outras práticas. Essas práticas
contribuem com a redução da infestação das pragas e doenças em grande parte das
culturas afetadas. No controle da mancha preta no citrus, os agricultores consideram que
88
os resultados obtidos com o uso destas práticas não são satisfatórios, e alguns
manifestaram o desejo de diversificar as áreas, especialmente com espécies florestais
que sirvam de sombrio ao citrus.
Grande parte das plantas companheiras13 está sendo usada como adubo verde,
tanto nas áreas de culturas anuais, incorporando-as ao preparo de solo (ainda considera-
se que a matéria verde ou orgânica deva manter-se na superfície do solo para contribuir,
entre outros aspectos, com a sua porosidade), quanto usados como reciclagem de
nutrientes e de matéria orgânica e também como cobertura verde nas áreas de cultivos
perenes, estas plantas devem ser mantidas em um nível que não prejudiquem o acesso
da cultura a nutrientes, à água e à luz. É muito importante manter este controle para
evitar a competição entre essas plantas e as culturas estabelecidas.
No controle das plantas companheiras, predomina o sistema manual. Emprega-se
a capina com enxada em 82,3% das unidades, especialmente em pequenas áreas. O
controle químico com a aplicação de herbicidas é utilizado em 29,4% nas áreas maiores.
Esta prática é considerada perniciosa ao processo produtivo sustentável e é usada nas
áreas manejadas com sistema convencional e nas unidades produtivas que apresentam
sistema de manejo da produção misto (de bases ecológicas e convencional). O controle
com tração animal e mecanizado é usado em 17,6% das unidades produtivas. Outra
técnica de controle observada foi o uso de plástico transparente (pouco usada),
funcionando bem em pequenas áreas, mas inviável economicamente em áreas maiores,
além dos inconvenientes de ordem ambiental, pois o mesmo não é reciclável.
Depois de descrever e analisar o uso e a distribuição do solo nas unidades
produtivas, as práticas de manejo controle e conservação utilizadas, assim como os
insumos empregados na produção, passamos a expor e analisar os rendimentos de
produção obtidos em várias culturas anuais e perenes encontradas nas unidades de
produção. Na análise, leva-se em conta a média entre os rendimentos de cada cultura
nas unidades.
13 Plantas companheiras são plantas pertencentes a espécies ou famílias que se ajudam e secomplementam mutuamente, não apenas na ocupação do espaço e utilização de água, luz e nutrientes,mas também por meio de interações bioquímicas chamadas de Efeitos Alelopáticos. Estes podem sertanto de natureza estimuladora quanto inibidora, não somente entre plantas, mas também em relação ainsetos e outros animais (www. planetaorgânico.com).
89
4.2.6. Rendimentos e Produtividade na produção.
O propósito deste item é expor algumas razões que impediram calcular a
produtividade das culturas encontradas nas unidades de produção estudadas, mas,
apresentam-se os rendimentos de produção a elas pertinentes, segundo dados repassados
pelos agricultores.
A produtividade agrícola é considerada tema polêmico. Tem sido convertida
num dos pontos fracos da agricultura sustentável, em razão da dificuldade em se obter
dados de produção concretos e precisos por parte dos agricultores e dos técnicos (devido
à falta de registro de produção nas unidades, incidindo também na pouca importância
que representa para os agricultores), além da dificuldade que apresenta em se conhecer
com exatidão os volumes produzidos na grande maioria das culturas, devido
especialmente ao destino que esses volumes tomam (consumo familiar) e a falta de
hábito para realizar a gestão da produção por parte dos agricultores e suas famílias.
Considera-se que a falta de estratégias e de determinação por parte de agricultores e
técnicos para a obtenção destes dados também influem neste aspecto.
Os dados de rendimento na produção de algumas culturas, fornecidos pelos
agricultores (em grande parte aproximados), apresentam-se no quadro 16, que mostra
os rendimentos na produção de oito culturas, anuais (cinco), e perenes (três), presentes
nas unidades produtivas, incluindo os dados das três culturas produzidas sob o sistema
convencional. Os rendimentos de produção nas culturas hortícolas são ainda mais de
difícil obtenção. Isso por que o sistema de manejo (rotação, ciclo produtivo curto,
sistemas de consórcio) destas culturas agrava o problema da falta de controle e de
registros na produção.
É importante mencionar que, na produção sustentável, além de levar em conta a
produtividade e os rendimentos agrícolas que o sistema possa apresentar, buscam-se
também objetivos do tipo ambiental e social (os quais, até o presente, são poucos os
métodos que se têm para avaliá-los, e os existentes são pouco usados), valorizando com
isto ainda mais esta produção.
Ao analisar-se os dados do rendimento na produção das culturas de feijão e do
milho, observou-se que aqueles obtidos sob o sistema orgânico foram inferiores aos
convencionais em 10,14% e 9,37%, respectivamente.
90
Os dados para calcular-se a produtividade ainda não puderam ser obtidos pelas
razões já expostas, entretanto, os agricultores afirmam que o custo de produção no
sistema orgânico é menor, ainda que não precisaram seu valor proporcional.
Observou-se que as frutíferas mostraram rendimentos baixos. Considera-se que
seja por que, em grande parte, são cultivos novos, nos primeiros ciclos de produção. Já
no citrus, a maioria dos agricultores só contabiliza os volumes comercializados (caixas),
deixando de informar as quantidades que não conseguiram vender por falta de mercado
ou por manifestação de doença (mancha preta da fruta). Outro fator observado foi o
grande distanciamento entre plantas, representando menor número por área,
repercutindo nos volumes colhidos, mas favorecendo a fitossanidade nos cultivos.
QUADRO 16: Rendimentos de produção das principais culturasencontradas nas unidades de produção estudadas.
Rendimentos (t/ha)Culturas
Orgânica ConvencionalFeijão 1.24 1.38Milho 3.48 3.84Fumo - 1.90Mandioca 8.50 -Batata 11.70 -Laranja 9.47 -Pêssego 3.31 -Uva para vinho 9.50 -Fonte: Pesquisa de Campo, maio – junho, 2001
Sob este aspecto, vários agricultores mostraram interesse em melhorar a
produtividade e os rendimentos de algumas culturas, especialmente as comerciais.
Manifestaram a necessidade de ter maior conhecimento e domínio nas práticas de
manejo capazes de contribuir com seus propósitos.
Ao analisar os rendimentos de produção das culturas de bases ecológicas e a
média dos rendimentos das mesmas culturas para o estado, dados obtidos pelo IBGE,
pode-se constatar valores maiores para as primeiras, especialmente para as culturas
anuais, dentre elas, destacam-se o feijão e a batata. Já nas frutíferas, dá-se o contrário,
sendo os resultados nas UPAs analisadas bastante inferiores à média do estado.
Esta situação é um desafio para futuras pesquisas, sendo importante e urgente
estudos de custo de produção e produtividade no sistema de produção sustentável, a fim
de apagar grande parte das dúvidas e incertezas que se tem a este respeito.
91
Considera-se para tal fim, a necessidade de desenvolver pesquisas e parcerias
com agricultores, no intuito de obter estas informações que são instrumentos
importantes na tomada de decisões por parte de agricultores, técnicos e pesquisadores. E
aos profissionais, esta questões: que, quando e como cultivar de tal forma que contribua
com a conservação dos recursos, mas que também se obtenha bons resultados
produtivos.
Há instituições de caráter público e privado, comprometidas com o
desenvolvimento da produção sustentável no Rio Grande do Sul, que possuem
condições favoráveis para mudar a atual situação. Outro aspecto que pode favorecer a
análise econômica é a forma como os agricultores distribuem o solo nas áreas
cultivadas, já que prevalece a rotação de culturas com pouco sistema de consórcio entre
culturas anuais, especialmente, as quais facilitam a análise econômica, sendo muito
importante e decisiva a disposição dos agricultores em adiantar estes estudos.
Depois de descrever e analisar as condições que apresentam a produção agrícola
nas unidades de produção estudadas, passamos a apontar os aspectos relevantes da
produção animal, no intuito de estimular maior integração entre elas e as atividades
agrícolas e, se possível, aumentar a produção animal nessas unidades.
4.2.7. Produção animal
O propósito deste parte do trabalho é apontar as condições em que os
agricultores desenvolvem as atividades pecuárias, levando-se em conta as espécies
encontradas (espécies animais maiores e menores) e sua forma de manejo; o tipo de
alimentação utilizada; os tratamentos sanitários empregados, sem maiores detalhes, e a
finalidade da produção.
Nas áreas de pastagens, constatou-se que as mesmas são destinadas para o
mantimento dos animais, e encontraram-se geralmente com poucos piquetes e,
especialmente, com espécies nativas. Nota-se que poucos agricultores mantêm práticas
de enriquecimento destas espécies; aqueles que as empregam, o fazem com poucas,
sendo utilizado, geralmente, para tal fim, a aveia, além de ervilhaca em pequenas áreas.
A grande maioria dos agricultores tem produção de animais em pequena escala.
Entre eles, bovinos, suínos e aves. Assim, 88% dos agricultores possuem bovinos e
92
aves, em média cinco cabeças de bovino/agricultor e 76 galinhas/agricultor. Os suínos
estão em 76% das unidades, em média de oito animais/agricultor.
A alimentação dos animais é à base de produtos orgânicos ou agroecológicos e
convencionais, e o gado recebe a maior proporção de produtos “limpos”. A produção
de animais, além de ser fonte de alimentos, também é fonte de renda para algumas
famílias.
Foi notória a pouca atividade que contribuía para agregar valor a esta produção,
com exceção da produção do franco semi-industrial.
A seguir, exporemos as condições em que os agricultores desenvolvem as
produções bovina, suína e avícola nas unidades produtivas. Abordaremos também
alguns aspectos das espécies menores encontradas.
4.2.7.1 Produção bovina
Os agricultores produzem cerca de 75% do total de produtos usados na
alimentação dos bovinos (pasto e milho), comprando os restante 25% (ração, sal
mineral; alguns agricultores compram milho). Nos tratamentos sanitários que os animais
recebem, a maior parte é à base de produtos químicos, 40% (adquiridos nas veterinárias
locais, para o tratamento de prevenção e controle de verminoses, carrapatos, entre
outros). Em igual porcentagem, os agricultores usam esses produtos juntamente com
naturais (os anteriores mais preparos caseiros feitos com produtos extraídos geralmente
da mesma unidade produtiva, à base de plantas e alguns produtos como alho macho,
limão, entre outros) e somente 20% utilizam só estes produtos naturais.
No manejo dos animais, 60% são criados livres, em piquetes que apresentam
poucas divisões, e os restantes, 40%, encontram-se em áreas mais restritas, em sistemas
de semi-confinamento.
A bovinocultura está destinada predominantemente à produção de carne.
Destina-se para tal fim 80%, com uma produção média de 417 kg/carne/ano, por
unidade produtiva. Já a produção bovina com características para carne e leite atende
20% da produção, apresentando em média de 2067 litros/unidade de produção/ano e
5,66 litros/vaca/dia.
A produção bovina é destinada principalmente à fonte de alimentos para a
família, a produção de dejetos e, algumas vezes, ao trabalho nas lavouras. São poucos os
93
agricultores que, além dessas finalidades, mantêm a produção como fonte de renda. Já a
perspectiva de 67% dos agricultores é de manterem o número de animais no futuro e
somente 33% desejam aumentar o rebanho. Isso pode implicar que seriam poucas as
unidades de produção, as quais teriam a oportunidade de integrar um pouco mais às
atividades de lavoura e pecuária, em função do aumento do rebanho.
4.2.7.2 Produção de aves
Na produção de aves, predomina a galinha caipira, cujo destino, em grande parte, é o
consumo familiar. Três agricultores produzem frango industrial dirigido ao mercado.
Dois deles produzem quase 300.000 frangos industrializados/ano, sob o sistema de
integrados14,sendo comercializados diretamente à empresa fornecedora de matéria-
prima para a produção.
O terceiro agricultor produz o mesmo frango com um sistema diferenciado15 de
alimentação e de manejo, o qual é considerado semi-industrial, sendo
comercializado domiciliarmente nas cidades próximas à unidade de produção. Com este
sistema, o agricultor participa de ganhos nas etapas de produção e comercialização,
obtendo maiores benefícios com a agregação de valor, no abate, embalagem e
comercialização diretamente do produto com o consumidor final.
Este último agricultor manifesta maior satisfação com esta situação e mais
ganhos econômicos, relacionando sua atual situação com a vivida anteriormente quando
produzia para as companhias do sistema de integrados.
Todos os agricultores estudados produzem grãos e outros produtos para a
alimentação das aves, alcançando, em muitos casos, só 70% do necessário. Neste
aspecto, para atender a alimentação da criação, complementa com produtos do mercado
convencional, (30%) com produtos deste sistema de produção, contribuindo para manter
14 Este sistema observou-se especialmente na produção de fumo 23,5% das unidades, e de frangoindustrial 11,8% destas; fazendo parte da diversidade encontrada nas unidades, como estratégia naprocura por maior estabilidade econômica na produção por parte dos agricultores. Sistema este que, alémde submeter aos agricultores a homogeneização das condições técnicas, retira-lhes também autonomia naprodução de matéria prima controlada pela indústria.15 No sistema diferenciado, as aves (industrias) apresentam de 4 a 4,5 meses de vida, durante os quais, naalimentação e no tratamento recebem progressivamente maiores proporções de produtos orgânicos,iniciando com produtos industrializados (ração e tratamento convencional) e finalizando com produtosorgânicos. Já no manejo, a cada mês trocam de seção no galpão, com áreas mais amplas. A partir doterceiro mês, são soltos em piquetes com abundantes pastos e recebem alimentos orgânicos e tratamento,no possível, com produtos naturais, até o abate.
94
a alimentação mista das aves (produtos “limpos” e produtos convencionais). Entre estes
produtos estão a ração, o milho convencional, farelo de arroz, semente de girassol e
outros.
Os tratamentos sanitários das aves, em grande parte, são à base de produtos
químicos, 40% (especialmente do frango industrial), e/ou acompanhados com produtos
naturais, 33,3% (como o caso dos frango semi-industrial). Poucos são os agricultores
que só utilizam os produtos naturais, 20% (casos de galinha caipira). Alguns destes
produtos utilizados são o limão, alho macho, sementes de várias espécies e algumas
plantas. A percentagem de agricultores que não trata os animais é de 6,7% (galinhas
caipiras), porque os mesmos consideram sadia a sua produção. O sistema de manejo
mais utilizado é o semi-confinado, 46,6%, já o sistema livre é empregado em 40,0%, em
função da disponibilidade de áreas e pequenos piquetes. Isto facilita a coleta ou dispõe
os dejetos. O restante 13,4% mantém-se em sistema de confinamento.
A produção de galinhas caipiras está dirigida, em grande parte, à produção de
ovos, carne para o consumo familiar e como fonte de renda para 46,7% das famílias.
Isso serve de estímulo para que 66,7% dos agricultores queiram aumentar a produção.
4.2.7.3. Produção de suínos
Na suinocultura, participam 76,5% dos agricultores, com uma média de oito
suínos/produtor. Observou-se que a disponibilidade de alimentação e de espaço físico
são fatores limitantes da quantidade dos animais.
Os agricultores produzem 69,2% dos alimentos para esses animais, sob o sistema
convencional e orgânico, em quantidades quase que proporcionais. Para suprir a
deficiência da produção, 30,8% são abastecidos com produtos convencionais. Isso
mostra que grande parte dos animais são alimentados com produtos convencionais e
também 46,1% recebem tratamento sanitário convencional. Na maioria dos casos, são
mantidos em confinamento. Criam-se livres 30,8% e, em sistemas de semi-
confinamento 23,1%. Notou-se nesta produção o emprego de técnicas usadas no sistema
convencional no que se refere à alimentação, tratamento sanitário e manejo dos animais.
Os agricultores expuseram a necessidade de alternativas para melhorar esta situação, já
que, em geral, gostariam de produzir estes animais com sistemas de manejo mais
ecológicos.
95
A produção é destinada ao consumo, à venda e, em menor proporção, à produção
de dejetos. Dado o bom resultado econômico que apresenta a atividade, 53,8% dos
agricultores desejam aumentar a produção, dependendo das condições favoráveis que
possam dispor para tal fim, especialmente no auto-abastecimento de alimentos e infra-
estrutura.
4.2.7.4 Produção de outras espécies de animais nas unidades
Foram encontrados nas unidades de produção outros animais menores, entre eles:
15 marrecos, 8 galinhas angolas, 3 gansos, em uma UPA; 22 patos distribuídos em três
UPAs; 7 eqüinos encontrados em quatro UPA s; 11 ovelhas pastavam em duas UPA s e
38 caixas de abelhas em uma UPA. Grande parte destes animais é alimentada com
produtos da própria unidade, considerados orgânicos. Os gansos e eqüinos recebem
tratamentos sanitários com produtos químicos, alternando-os com produtos naturais para
o restante dos animais, com exceção das abelhas. Geralmente, o manejo destes animais
é livre ou em semi-confinamento.
A produção de mel é considerada boa, produzindo 750 kg/ano, dependendo das
condições ambientais e de outros fatores. A produção obtida das espécies menores, além
de contribuir com a alimentação familiar e fonte de renda, também as aves contribuem
na produção de dejetos. A maioria dos agricultores tem como perspectiva manter o atual
número destes animais.
Na criação de animais, parte da produção é comercializada de forma
diferenciada (como os animais produzidos em sistema de produção orgânico), em
especial, por parte dos agricultores associados à Coolméia e à Ecocitrus, embora os
preços sejam semelhantes aos do mercado convencional.
Considera-se importante aumentar, se possível, o número de animais nas
unidades produtivas e integrá-los ainda mais à produção vegetal com vistas à otimização
da reciclagem dos nutrientes (dejetos animais, biomassa vegetal), maior independência
dos insumos externos (ração, adubos orgânicos e alguns produtos nos tratamentos
sanitários) e a potencialização de todos os benefícios diretos e indiretos do processo de
integração.
O quadro 17 resume as condições em que é desenvolvida a produção animal e
apresenta as informações em termos de percentual como: agricultores nas atividades,
96
procedência dos alimentos, tratamentos sanitários empregados, sistema de manejo dos
animais, além do propósito e finalidade da produção. O quadro também mostra as
perspectivas dos agricultores em manter ou aumentar o atual lote de animais nas
unidades.
QUADRO 17. Percentagem de agricultores na produção, número médio deanimais e condições de produção nas unidades produtivas.
Animais/Discriminação. Bovinos Suínos Aves Ovinos Eqüi-nos
Abe-lhas
% de agricultores na produção 88,2 76,5 88,2 11,8 23,5 5,9
Número médio de animais 5 8 76 5 2 38caixas
Orgânica 50,0 30,8 47,0 100 100 100
Convenc. 5,0 23,0 5,0 - - -
Produzem
Mista 20,0 15,4 18,0 - - -
Orgânica 11,0 7,7 13,0 - - -
Alimentação ( % )
Compram
Convenc. 14,0 23,0 17,0 - - -
Natural 20 30,8 20 - - -Químico 40 38,5 40 100 100 -Misto 40 23,1 33,3 - - -
Tratamentosanitário
Não usam - 7,7 6,7 - - 100Livre 60 30,8 33,3 100 100 100
Semi-confinado 40 23,1 46,6 - - -Manejo
Confinado - 46,1 20,0 - - -
Carne 80 100 86,7 80
Dupla propósito 20 - 13,3 20Produção
Outros - - - - 100 100
Consumo 33,3 46,1 33,3 80 - 2 Cons. e Renda 13,3 38,5 46,7 - - 98Trabalho 13,3 - - - - -Cons. e p. dejeto 33,3 7,7 20 - - -Poupança 6,7 - - - - -
Finalidade
Outros - - - 20 100 -Manter 67 46,2 33,3 80 80 66,6Perspectivas
Aumentar 37 53,8 66,7 20 20 33,3
Fonte: Pesquisa de campo, maio – junho, 2001
97
Depois de apresentar aspectos importantes ao desenvolvimento das atividades das
produções agrícola e pecuária na sua dimensão técnica agronômica, serão expostos
alguns pontos identificados como dificuldades, desafios e potencialidades. Nesta
sentido, temos como intuito contribuir para a maior compreensão das condições de
produção das unidades e apontar sugestões que possam servir para seu melhor
desenvolvimento.
4.2.8. Dificuldades, desafios e potencialidades técnico-agronômicas
São várias as dificuldades que os agricultores enfrentam no aspecto técnico-
agronômico para a produção sustentável. Há problemas ocasionados, em grande parte,
pela falta de pesquisas e de estudos na área, em virtude do grande desequilíbrio
ecológico que sofreram algumas das unidades estudadas, e que ainda sofrem,
especialmente, aquelas em que os agricultores mantêm áreas com produção
convencional e práticas que atentam contra o equilíbrio dos sistemas. Como é a intensa
movimentação do solo, estes desafios deverão ser superados.
Verificou-se que falta maior interesse pela produção sustentável por parte das
instituições de pesquisa, ensino e desenvolvimento de tecnologias agrícolas, notando-se
muito interesse na área da extensão rural e assistência técnica. Também se notou a falta
de entusiasmo, de motivação e de perseverança de maior número de agricultores nas
proximidades das unidades de produção estudadas que acreditem na produção
sustentável, sendo maior o número de agricultores voltados ao sistema convencional, os
quais mostraram-se pouco conscientes do prejuízo que esse sistema pode ocasionar a si
mesmo e a sua família. Neste sentido, isto pode ter contribuído para um desequilíbrio
ecológico.
O desempenho dos órgãos de pesquisa científica e tecnológica poderia minimizar
os problemas que apresenta o desenvolvimento da produção sustentável, além de uma
maior integração com a extensão rural e assistência técnica no fluxo de geração e
divulgação das informações até os agentes necessitados e interessados por essa questão,
especialmente os agricultores.
Aponta-se uma maior disposição e disponibilidade de experiência e informação,
assim como também de conhecimento técnico na agricultura sustentável, no controle do
equilíbrio ecológico das regiões, disponibilidade de insumos, de maquinaria e
implementos apropriados (sendo muito importante essa divulgação na área estudada).
98
Considera-se que, em grande parte, estas necessidades seriam satisfeitas com a
realização de pesquisas, estudos e experimentos por parte de profissionais, de técnicos e
da participação decisiva dos agricultores e seus grupos de colaboradores na produção,
convertendo esse controle no maior desafio que possa apresentar a agricultura
sustentável na área estudada.
A respeito dos agricultores, eles precisam dispor de condições para desenvolver e
valorizar o espírito experimentador, inovador e a criatividade, o que pode manifestar-se
no processo de geração de conhecimento e de tecnologias. Considera-se importante que
aproveitem a visão e a compreensão que eles têm dos agroecossistemas onde se
encontram inseridos, podendo contribuir para a criação de tecnologias e do
conhecimento científico da agricultura verdadeiramente sustentável.
Deveria valorizar-se mais a importância que os agricultores têm no
desenvolvimento da pesquisa científica, pelo fato de serem eles que convivem
quotidianamente com a natureza, conhecem as inter-relações e vínculos existentes nos
agroecossistemas, apresentando condições para ajudar os pesquisadores a compreendê-
los.
Como desafio, julga-se necessário contribuir com um maior desenvolvimento dos
agricultores nesse aspecto, no processo de geração de novas estratégias, novos sistemas
tecnológicos e somando novos conhecimentos, para que possam participar mais
ativamente na solução dos problemas em suas unidades de produção e fora delas,
contribuindo, desta forma, para uma maior independência desses agricultores com
respeito à extensão rural e à assistência técnica.
Outro desafio é o resgate do maior número possível de experiências práticas dos
agricultores para avaliá-las e sistematizá-las de tal forma que contribuam como
referência de pesquisa e instrumento motivador para o seu melhor desenvolvimento.
Precisa-se, também, de parcerias entre pesquisadores, profissionais das indústrias de
fabricação de equipamentos e implementos agrícola e os agricultores na organização e
fabricação de implementos adaptáveis às condições do terreno e do agricultor.
Outra dificuldade que apresentam alguns agricultores é a falta de planejamento da
produção, repercutindo nas estratégias da produção e na comercialização dos produtos,
nos controles dos registros e na organização em nível geral da produção. Os agricultores
necessitam melhorar o planejamento na produção pela mesma complexidade do sistema
de produção e das exigências do mercado, para dar continuidade à oferta de produtos
99
demandados pelo mercado, em qualidade e quantidade exigidas, tendo em conta, antes
de tudo, a capacidade produtiva das unidades de produção.
A respeito da importância do planejamento e bom gerenciamento das unidades
produtivas, considerou-se oportuno citar o depoimento de um agricultor: “a produção
na minha propriedade melhorou quando meu irmão e eu repartimos o trabalho; ele
ficou com a parte de comercialização, a parte econômica, e eu com a produção, a parte
técnica. Desde então, sabemos quanto investimos, quanto ganhamos e quanto fazemos
por produto, se perdemos ou ganhamos. Hoje sabemos em qual produto se perde ou se
ganha e qual tem que se deixar de produzir. Nós, agora, com o planejamento, estamos
progredindo mais e queremos produzir mais e vender em outras feiras”.
É importante considerar que as unidades com sistema de produção sustentável e
com bom gerenciamento apresentam condições favoráveis para manter a família
dignamente, oferecendo produtos de qualidade e quantidades significativas, sendo
indispensável o planejamento continuo. Como afirmaram MAY E MOTTA (1994), ao
descrever que, para alcançar a sustentabilidade no sistema de produção, são necessárias
várias medidas, entre elas, a pesquisa inovadora juntamente com processos de
planejamento e gerenciamento.
Tendo-se como desafio contribuir neste aspecto com os agricultores, facilitando-
lhes condições para que consigam e mantenham um efetivo gerenciamento com
objetivos claros e mecanismos adequados para alcançá-los, observando sempre a
capacidade de suporte dos ecossistemas e tentando garantir a sustentabilidade
econômica e ecológica. Acredita-se que tudo isso dependerá da capacidade que
apresentem em traçar objetivos de curto prazo e criar incentivos consistentes com os
objetivos de longo prazo.
Já como potencialidade, pode-se mencionar a proteção da saúde humana e dos
recursos naturais, na medida em que seja fortalecido o uso das práticas e procedimentos
da agricultura sustentável, em todas as áreas das unidades de produção, apresentando
aos agricultores menos exposições com produtos tóxicos, reduzindo-se, através do
tempo, os teores de agrotóxicos no solo e nos alimentos, contribuindo, assim, com a
harmonização do ambiente em que a atuação dos agricultores leve em conta as leis da
natureza, na busca de satisfazer suas necessidades e contribuir com o equilíbrio
ecológico.
Outra potencialidade ao produzir-se de forma ecológica é a produção de alimentos
com boa qualidade nutricional que, sem dúvida, é superior, ainda que haja polêmica a
100
respeito. Esses alimentos possuem maior teor de vitaminas, de sais minerais e
apresentam melhor sabor e maior conservabilidade, como mostra o quadro 18, que
apresenta dados comparativos entre frutas e hortaliças orgânicas e convencionais, de
acordo com pesquisa feita com amostras, ao acaso, em supermercados e em lojas de
produtos naturais na Inglaterra, segundo a Revista Bioagricultura, (1995).
QUADRO 18. Diferença nutricional entre produtos orgânicos e convencionaisProduto Convencional (por100g) Orgânico (por100g) Diferença %
Maçã (vitamina C) 19,3 mg 21,6 mg + 11,9Tomate (vitamina C) 18,0 mg 21,8 mg + 21,1Tomate (vitamina C) 3,5 mg 4,7 mg + 34,3Cenoura (potássio) 217 mg 269 mg + 24,0Batata (frutose) 0,7 g 1,2 g + 71,4Batata (glicose) 1,2 g 2,0 g + 66,0Batata (ferro) 4,7 mg 5,7 mg + 21,3Batata (cálcio) 56,4 mg 64,0 mg + 13,5Batata (zinco) 1.350ìg 1.810ìg + 34,1Fonte: Associação Campden de Pesquisa em Alimentos e Bebidas, Grã-Bretanha 1990.
Nota: g = grama; mg = miligrama; ìg = micrograma (um milionésimo de grama)
Outra questão importante no processo de produção sustentável é a oportunidade
de integrar melhor os membros da família nas atividades produtivas, representando
fontes de saúde (alimentos e ambiente mais sadios), de trabalho e de maior satisfações
das pessoas comprometidas com esta produção. Estes aspectos devem levá-los a
comprometerem-se mais com um melhor desenvolvimento da agricultura
verdadeiramente sustentável, assim como também a todos os simpatizantes desta
agricultura.
Depois de expor várias questões que afetam o desenvolvimento da agricultura
sustentável, especialmente nas unidades produtivas visitadas, e de apontar alguns
desafios considerados importantes para intervir de forma rápida neste processo e
também de mostrar algumas potencialidades que apresenta esta produção, passamos a
mostrar as condições econômica e financeira que apresentam os agricultores estudados.
A seguir, prosseguiremos com a descrição e análise dos aspectos contemplados na
dimensão econômico-financeira das respectivas unidades de produção estudadas, no
intuito de apontar as condições financeiras que apresentam os agricultores como
resultado das atividades produtivas sustentáveis.
101
4.3 DIMENSÃO ECONÔMICA
Os agricultores buscam, com suas atividades produtivas, renda, mas também,
querem melhorar as condições sociais das famílias e as condições ecológicas nas
unidades produtivas. Com os complexos sistemas de produção sustentável, evidenciam-
se sérios problemas e desafios a serem enfrentados, sobretudo no aspecto econômico,
influindo grandemente na decisão de esforçar-se e transitar por caminhos cheios de
incertezas, de desafios e de altos riscos. Na medida em que os sistemas de produção
sustentável vão se consolidando, os aspectos econômico, social, ecológico e tecnológico
deverão ficar favorecidos, principalmente o tecnológico, já que na busca de maior
produtividade, os agricultores, desenvolvem estratégias que ajudam no avanço
tecnológico da produção. E tudo isso, unido a muitos esforços das famílias, são
necessários para produzir nas unidades e obter rentabilidades razoáveis e capazes de
manterem-se no tempo e no espaço físico.
Analisando as unidades de produção como sistemas e considerando vários dos
componentes que fazem parte da dimensão econômica, estudam-se os seguintes
aspectos: a disponibilidade e o desempenho da mão-de-obra familiar e assalariada, a
renda bruta, as despesas e o patrimônio das famílias. Analisou-se também a capacidade
de capitalização e de investimento que as famílias possuem. Nas despesas, não se
considerou os custos de produção por cultura. Os agricultores forneceram todas as
informações de uma forma agregada, sendo que mais do 60% são aproximações. Isso é
conseqüência da já mencionada falta de registros contábeis das atividades produtivas.
Um aspecto que não afetou o desenvolvimento do trabalho, mas deve ser
levado em conta, é a diferença nos volumes da produção que os agricultores obtêm entre
um ano e outro, em algumas culturas e produtos de origem animal. Em alguns casos,
esta diferença pode ser de até de 100% na produção, incidindo diretamente na renda
obtida pelos agricultores, uma vez que, em média, mais de 80%, depende da produção
agrícola e, conseqüentemente, há reflexos nas despesas do ano, na capitalização e nos
investimentos da família.
A seguir, apontaremos os aspectos que refletem as condições econômico-
financeiras das famílias, entre as quais estão: o patrimônio (representado por todos os
ativos possuídos pelos agricultores), as despesas gerais (compreende todas as despesas
dos agricultores e suas famílias, além das incorridas no processo produtivo) e as rendas
brutas e liquidas obtidas (considera todas as rendas obtidas pela família, sejam
102
agrícolas, pecuárias ou por outras atividades realizadas dentro e fora das unidades
produtivas, inclusive aposentadorias). Com a intenção de apreciar a capacidade de
capitalização e investimento que possam apresentar e, se possível, analisar a
possibilidade de se apontar a forma de fortalece-las.
4.3.1 Patrimônio das famílias
O patrimônio das famílias está representado por todos os ativos que possuem
os agricultores, como a terra e os investimentos realizados, entre eles, as benfeitorias, as
máquinas e os implementos, os carros, entre outros.
O valor dos investimentos indica a capacidade de capitalização do agricultor
através do tempo. A análise mostra que, em algumas unidades (46,7%), o valor dos
investimentos totais é maior que o valor da terra. Inferindo-se que as atividades
agrícolas permite que se capitalizem e investam nelas.
É importante mencionar que vários agricultores informaram o valor total das
terras com o valor das benfeitorias, sendo o valor dos investimentos superior ao valor da
terra. O quadro 19 mostra os valores das terras e de grande parte das benfeitorias.
Representam o valor aproximado do patrimônio de 88,2% dos agricultores estudados.
No quadro 19, pode-se observar que o valor da terra apresenta diferenças
significativas, isto devido especialmente à extensão que têm e ao seu uso, influindo,
também, na sua localização.
Segundo os dados fornecidos pelos agricultores, as unidades produtivas
apresentam valores que vão desde R$ 10.000 até R$ 200.000. Pode-se afirmar que
26,7% das unidades apresentam valores inferiores a R$ 20.000; desde este valor até R$
50.000, encontrou-se em 53,3% das unidades. Denota-se que quase 80% das unidades
estudadas aparecem com valores de até R$ 50.000, sendo que 13,3% dessas unidades
têm valores próximos (maiores) a este, e somente 6,7% ostenta valores superiores,
alcançando até R$ 200.000.
Em síntese, o valor de todas as unidades produtivas é R$ 699.200,
representando 49,77% do patrimônio total dos agricultores, ponderando-se como valor
médio R$ 46.613.
Já no valor das benfeitorias, observou-se que vai desde R$ 7.500 até R$
218.000, sendo superior ao valor da terra em 46,7% das unidades. Estima-se que 33,3%
das unidades apresentam benfeitorias por valor inferior a R$ 20.000; já em 40% delas, o
103
valor é superior a esse, mas não supera os R$ 50.000, observando-se que a maioria das
unidades produtivas, (73,3%), apresentam até este valor nas benfeitorias. 13,3% das
unidades possuem valores próximos a esse (maiores) e 13,3% mostram valores
superiores (R$ 104.000 e R$ 218.000). Isso resulta num total de R$ 705.600,
representando 50,33% do patrimônio total das famílias e mostra, com isto, a disposição
que têm os agricultores de investir nas atividades agrícolas.
QUADRO 19. Valor do patrimônio dos agricultores estudados em R$
AgricultorValor da terra
(a)Valor benfeitorias
(b)Total
patrimônio (c) % a/c % b/c
1 50.000 7.500 57.000 87,0 13.02 15.000* 46.000 61.000 24,6 75,43 25.000* 8.000 33.000 75,8 24,24 12.000 23.200 35.200 34,1 65,95 50.000 29.200 79.200 63,1 36,96 54.000 104.600 158.600 34,0 66,07 40.000 10.000 50.000 80.000 20,08 50.000 35.000 85.000 58,8 41,29 10.000 17.000 27.000 37,0 63,010 18.200* 8.700 26.900 67,7 32,311 - - - - -12 25.000 50.000 75.000 33,3 66,713 30.000 60.800 90.800 33,0 67,014 70.000* 55.000 125.000 56, 44,015 50.000 32.600 82.600 60,5 39,516 200.000* 218.000 418.000 47,8 52,217 - - - - -
Total 699.200 705.600 1.404.800 - -% 49,77 50,33 100 - -
Média total 46.613 47.040 93.653 - - Fonte: Pesquisa de campo, maio – junho, 2001
* Representa o valor total das terras mais algumas benfeitorias, especialmente,
construções ou melhoras na moradia
Observou-se que o valor total do patrimônio das famílias vai desde R$ 26.900
até R$ 418.000. 33,3% do valor do patrimônio alcança até R$ 50.000; 46,7% do
patrimônio dos agricultores é superior ao valor anterior e inferior a R$ 100.000, e os
20% restantes estão acima destes. Os agricultores apresentaram R$ 93.653 como valor
médio do patrimônio.
104
O quadro 19 também aponta a relação percentual entre os valores da terra e as
benfeitorias com o valor total do patrimônio de cada família, no intuito de facilitar a
compreensão da constituição do patrimônio.
4.3.2 Despesas gerais das famílias
Para melhor compreensão das despesas anuais que os agricultores mantêm
com a família e com as atividades produtivas, elas foram divididas em despesas
familiares, compra de insumos, pagamento de mão-de-obra, impostos e serviços
públicos, incluindo-se neste o valor a depreciação de algumas benfeitorias.
O quadro 20 e figura 4 apresentam os valores dos gastos aproximados,
ocorridos nas unidades produtivas. Observa-se que a maior despesa é com a compra de
insumos, representando, em média, 37,8% do total dos gastos. Assim, ao analisar-se as
despesas de cada família, verifica-se que em 56,2% dessas despesas representa o maior
valor, especialmente nas famílias que produzem com sistemas orgânicos. Já em grande
parte das famílias em processo de transição, as despesas ocasionadas pela compra de
insumos foram superiores. Percebe-se a necessidade de utilizar-se mais o potencial de
recursos que possam apresentar as unidades na redução desses gastos, especialmente na
produção e conservação de sementes para uso exclusivo das unidades, na produção de
maior quantidade de adubo orgânico, melhor aproveitamento de plantas medicinais e
sementes no tratamento sanitário de animais; controle de insetos e prevenção de doenças
na produção vegetal. Encontraram-se agricultores que perseguem tal fim e, é claro, a
necessidade de maior disposição e dedicação, além de pesquisas para obterem-se
resultados que possam melhorar as despesas com gastos.
Parte dos agricultores expressou que “os gastos com a família são altos pelo
alto valor que compramos os produtos que não produzimos e os que necessitamos para
produzir”. Outro depoimento de um citricultor diz: “nosso produto, de um tempo para
cá, não tem preço. Temos que vender o produto a preços muito baixos, pela
necessidade que temos em não deixá-lo se perder na propriedade. Mas os produtos que
temos que comprar são cada vez mais caros, sejam alimentos, medicamentos ou
qualquer outro produto que necessitamos”.
Considera-se que esta situação só melhoraria com maior planificação nas
unidades produtivas, com maior diversificação, com maior disponibilidade, interesse,
105
conhecimento e organização para aproveitar os recursos e o potencial que apresentam.
Entretanto, é importante ressaltar que, segundo PINHEIRO MACHADO, (2002), da
Fundação Getúlio Vargas, de 1994 a 2002, os preços recebidos pelos produtores
aumentaram 87%, enquanto que os insumos e equipamentos aumentaram em 137%,
com uma descapitalização superior a 40%.
Outro gasto importante para 58,8% dos agricultores são as despesas com mão-
de-obra contratada, representando em média 11,3% das despesas anuais. Considera-se
difícil de reduzir este valor pelas razões expostas anteriormente.
Já o valor do percentual , referente às despesas, está representado por
pagamentos de serviços públicos e o registro da depreciação de algumas benfeitorias,
como também por pagamento de impostos, taxas de sindicatos e associações,
representando 1,5% das despesas analisadas.
FIGURA 4. Percentagem do valor total das despesas anuais nas unidades deprodução estudadas
Fonte: Pesquisa de campo, maio – junho, 2001.
No quadro 20, observa-se que as despesas dos agricultores vão desde R$ 3.192
(agricultor 1) até R$ 43.060 (agricultor 9). Esses valores refletem a intensidade
produtiva nas unidades, independentemente da extensão das áreas cultivadas. Tem-se,
assim, que 31,2% dos agricultores apresentam despesas por quantias que, em média,
alcançam R$ 6.331,4 anuais, ou seja, R$ 527,6, por mês. Esta cifra é maior do que dois
salários mínimos, de acordo com o atual valor oficial federal (R$ 200) ou do estadual do
Rio Grande do Sul (250 R$). Já os agricultores que aparecem com valores médios nas
despesas, 37,5%, gastam em média R$ 12.626 anuais, representando R$ 1.052,2 por
mês, sendo este valor maior que cinco salários mínimos em nível federal e a quatro
salários em nível estadual.
38%
33%
16%
11% 2%
I n sumos
Gastos fami l iares
Serviços públicos eoutrosMão de obra
Impostos esindicatos
106
QUADRO 20. Valor e percentagens das despesas anuais das famílias estudadas emR$
Agricultor Despesasfamiliares¹
Despesasinsumos²
Desp. mão-de-obra
Despesa.Impostos esindicatos
Despesasserviçospúblicos
Total
1 2.000 450 150 72 520 3.1922 5.000 23.000 4.200 40 5.600 37.8403 5.000 12.850 2.000 18 2.000 21.8684 3.300 5.100 600 45 1.420 10.4655 7.200 2.700 1.000 45 2.040 12.9856 2.000 7.400 1.000 35 3.800 14.2357 5.000 7.100 - 45 860 13.0058 3.000 2.350 - 30 1.600 6.9809 14.071 20.026 4.000 3.120 1.843 43.06010 2.120 2.650 - 59 850 5.67911 4.000 1.200 - - 1.720 6.92012 5.200 2.706 - 30 2.800 10.73613 4.500 2.100 - 36 2.250 8.88614 5.000 2.050 3.500 80 3.700 14.33015 9.600 3.250 5.400 200 3.000 21.45016 11.000 4.800 8.000 140 8.500 32.44017 - - - - - -Total 87.991 99.732 29.850 3.995 42.503 264.071% 33,3 37,8 11,3 1,5 16,1 100Média 5.500 6.233 2.985 266 2.556 16.504Fonte: Pesquisa de campo, maio – junho, 2001
¹ Os dados acima compreendem gastos com educação, saúde, alimentação, transporte, vestimenta, lazer
etc.
² Compreendem compra de adubos, sementes, mudas, insumos para preparo de caldas, medicamentos,
alimentos para animais, aluguel de maquinarias e terra, embalagem para a comercialização e outros.
As maiores despesas, 31,2%, ascendem, em média, a R$ 31.331 anuais ou R$
2.611 mensais, representando 13 salários mínimos do valor federal e 10,4 salários do
valor estadual. Como se vê, há grande diferença de gastos entre as famílias estudadas.
O valor médio das despesas anuais dessas famílias é de R$ 16.504 ou R$
1.375,37 por mês. Comparados esses dados com os salários mínimos, tem-se que, em
média, os agricultores podem gastar em despesas gerais mais de seis salários mínimos
federais mensais, ou seja, 5,5 salários mínimos do Estado de Rio Grande do Sul.
Considerando-se que, para que haja retorno, é necessário que as rendas obtidas devam
ser maiores ou iguais a esses valores.
107
Após conhecer as despesas que os agricultores mantêm com as atividades
produtivas e com suas famílias, seguiremos apontando os valores da renda bruta e
líquida obtida pela família nas unidades produtivas, a fim de apreciar a capacidade de
capitalização e investimentos que apresentam os agricultores e suas famílias .
4.3.3. Renda bruta nas unidades de produção
Geralmente, a renda bruta16 nas unidades de produção está formada por mais de
uma receita, seja pela comercialização de produtos vegetais, animais, venda de mão-de-
obra de algum membro da família, por aposentadoria ou por aluguel de maquinaria.
Algumas famílias realizam industrialização caseira, como panificação, doce ou geléia.
A renda obtida refere-se ao valor da produção vegetal. Os valores das receitas obtidas
pelos agricultores encontram-se no quadro 21, no qual o valor obtido pelos agricultores
nas atividades agrícolas representa 80,58% do total da renda bruta. Já na
comercialização de produtos de origem animal, somente 41,1% dos agricultores obtêm
renda, representando 13,76% do total da renda bruta. Alguns agricultores obtêm outras
receitas pela venda de mão-de-obra para organizações em que participam como
associados, especialmente na Ecocitrus. Em 17,6% das famílias, há essa renda de mão-
de-obra, o que representa 3,92% renda bruta total. Há, ainda, as receitas por
aposentadoria17 em 11,8% das famílias, cujo valor contribui para a renda bruta em um
total de 1,27%. Só um agricultor informou o aluguel de maquinaria18, representando na
renda bruta menos de 0,5%. Possivelmente é maior o número de agricultores que obtêm
receita por este meio. As percentagens de participação das receitas na renda bruta das
famílias são mostradas na figura 5.
16 Renda bruta considera-se o somatório de todas as receitas obtidas na unidade de produção, nasdiferentes atividades que desenvolvam os membros da família, incluída a aposentadoria.17 Os beneficiados diretos são três mulheres que obtiveram a aposentadoria por diferentes motivos, entreeles, viuvez, velhice e doença.18 Alguns dos agricultores não consideram o aluguel de maquinaria como fonte de renda, pela formacomo facilitam o serviço, sendo geralmente em troca de produtos, especialmente alimentos ou insumousado na produção ou em troca de outro serviço.
108
FIGURA 5. Distribuição percentual das receitas que compõem a renda bruta das
famílias estudadas.
Fonte: pesquisa de campo maio – junho 2001
Ao serem analisados os resultados da figura 6, pôde-se ver que 25% das
receitas anuais apresentam valor inferior a R$ 10.000,00, com a média R$ 7.695,00 ou
R$ 641,25 por mês. Este grupo de agricultores passa por dificuldades financeiras,
ocasionadas, em parte, pela pouca produção agrícola e, em alguns casos, pela falta de
diversificação nas unidades, além de dificuldades na comercialização dos produtos,
como pouca demanda nas épocas de plena produção e os baixos preços.
Outros 25% das rendas anuais estão entre R$ 10.000,00 e 20.000,00,
apresentando como média anual R$ 15.087,00 ou R$ 1.257,30 por mês. Esse valor
revela que este grupo tem melhores condições econômicas, e pode-se observar maior
diversificação na produção comercializada. Para melhorar o valor da receita, vários
desses agricultores realizam a produção e comercialização de animais (frango
industrial), apesar de também apresentarem dificuldades com o preço baixo da venda
dos produtos. Outro fator que contribui com uma maior receita para poucas famílias
(dois), é o trabalho fora da unidades (Usina da Ecocitrus), o que representa em média
34,22% de sua renda total.
0,47%
3,92%
80,58%
13,76%
1,27%
Produção agrícola Produção animal Venda de mão-de-obraAposentadoria Aluguel
109
Fonte: Pesquisa de campo, maio – junho, 2001
Ambos os grupos de agricultores têm potencial para melhorar a situação que
apresentam em média, 18,75% das receitas anuais alcançam R$ 24.099,00 ou R$
2.008,25 por mês. Desses agricultores, dois mantêm as unidades diversificadas e, além
da produção vegetal, tentam manter a integração com animais, obtendo rendas,
especialmente, nas produções de frango semi-industrial, porco e mel. Já um terceiro
agricultor apresenta pouca diversificação na unidade, mas ocupa maior área (13 ha),
apresentando também os mesmos problemas de mercado, optando por outras receitas,
como trabalho na sede da Ecocitrus e aluguel de maquinaria. Essas receitas contribuem
para melhor bem-estar para a família.
Também 18,75% dos agricultores apresentam uma receita média anual de R$
41.433,00 ou R$ 3.452,78 por mês. Nessas unidades é notória a produção diversificada,
com alta participação na produção convencional, como frango industrial, grãos e fumo,
apresentando ainda produção de bases ecológicas com pouca agregação de valor.
Já os restantes, 12,5%, apresentam as maiores receitas: R$ 70.000,00 anual e R$
5.666,00 mensal. Essas famílias destacam-se por produzir sob o sistema orgânico, um
com citrus em monocultivos, e o outro com sistema diversificado, comercializando a
produção diretamente com o consumidor final.
Analisando esses dados, verifica-se que 25% das famílias passam por uma difícil
situação econômica; 25% encontram-se apenas em condições econômicas aceitáveis;
37,5% apresentam boas condições nesse aspecto e 12,5 obtêm bons resultados
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000R
end
a b
ruta
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
Unidade de produção agrícola
Gráfico 6 Relação da renda bruta por unidade de produção agrícola
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
110
econômicos na produção agrícola, permitindo-lhes, assim, melhorar seus investimentos
nas unidades produtivas e capitalizar-se.
No quadro 21 estão as cinco fontes de receitas em que as famílias obtêm os
recursos econômicos para seu sustento e a manutenção das unidades produtivas.
Verifica-se que, nessas unidades, a renda agrícola é a única comum entre elas,
apresentando grandes diferenças entre seus valores e variando de R$ 2.200 a R$ 68.938
Considera-se que esta grande diferença entre os valores da receita obtida nas
atividades agrícolas deva-se a vários fatores presentes entre os que intervêm a área
cultivada, a própria cultura, o processo produtivo e o processo de comercialização dos
produtos, entre outros.
As receitas obtidas na produção animal provêm da criação de frangos,
especialmente o industrial e semi-industrial; já a produção suína apresenta pouca
contribuição, sendo menores as receitas obtidos com a produção bovina, aves e mel.
Isso mostra quão significativa é a produção agrícola na manutenção da família e das
unidades produtivas estudadas. Observou-se ainda que, para vários agricultores, a
produção convencional é muito representativa, com investimento significativo e a
obtenção de boas receitas, tornando difícil a desvinculação desses agricultores a este
sistema de produção a curto prazo. Isto é um desafio para os seguidores da produção
sustentável, na luta por uma agricultura mais limpa e também mais lucrativa, no intento
de ganhar mais adeptos.
No quadro 22, relacionam-se as receitas brutas obtidas nas UPAs nos sistemas
de produção com base ecológica e convencional, observando-se que, além dos 35,3%
dos agricultores que produzem alimentos vegetais sob este duplo sistema de produção,
11,76% deles também produzem animais com sistema de manejo convencional,
dirigidos especialmente ao mercado, com rendas que superam às obtidas nas atividades
agrícolas.
Em 41,2% das unidades, grande parte das receitas que sustentam as famílias e
contribuem para a manutenção das unidades, provém das atividades de produção
convencional, identificando-se em 17,6% dessas, a produção animal como fonte de
maior renda.
111
QUADRO 21. Valores da renda bruta obtida pelos agricultores estudados.
Agricultor Produçãoagrícola
R$
Produçãoanimal
R$Aluguel
R$
AposentadoriaR$
Venda demão-de-obra
R$Total
1 2.200 700 - 3.600 - 6.5002 38.500 - - - - 38.500
319 - - - - - -4 11.200 - - - - 11.2005 1.000 20.000 - - - 21.0006 39.000 - - - - 39.0007 19.823 - - - - 19.8238 18.057 3.400 - - - 21.4579 68.938 4.060 - - - 72.99810 7.800 480 - - - 8.28011 8.700 - - - - 8.70012 8.137 - - - 7.840 15.97713 6.300 - - - 1.000 7.30014 3.400 9.950 - - - 13.35015 20.000 - 2.000 - 7.840 29.84016 25.000 20.000 1.800 - 46.80017* 63.000 - - - - 63.000
Total 341.055 58.590 2.000 5.400 16.680 423.725% 80,49 13,83 0,47 1,27 3,94 100,00
Média 21.316 8.370 2.000 2.700 5.560 24.925Fonte: Pesquisa de campo, maio-junho 2001
Ao analisar as receitas dos agricultores que produzem de forma convencional,
percebe-se o grande esforço que teriam que fazer para dedicarem-se completamente à
produção sustentável e satisfazerem grande parte de seus desejos, na medida em que
eles buscam obter maiores ganhos com esta produção. Considera-se que estes
agricultores só mudarão de sistema, se conseguirem fortalecer a produção sustentável,
representando-lhes igual ou mais rentável que a convencional, na qual encontrem
possibilidades para utilizar menos mão-de-obra e obtenham rendimentos semelhantes ou
maiores a estes, além de melhores condições de mercado para os produtos, quanto à
demanda e preços. Essa é uma situação de grande desafio a enfrentar por parte de quem
quer contribuir com a expansão da agricultura sustentável.
19É importante anotar que o agricultor n° 3 produz para comercializar mudas, especialmente, hortícolas ecompostos orgânicos, como inseticidas, fungicidas, supe-rmagro, entre outros. Não leva registro contábilda produção, preferindo não dar informação do valor da receita obtida, mas a renda que obtém contribuina reprodução de atividade produtiva, na manutenção da família e no pagamento de mão-de-obra de umapessoa quase que permanente. O agricultor 17 obtém uma renda maior ao valor informado, já que contacom outras receitas de aluguel das maquinarias e veículo, limitando-se a informar só a receita obtida pelaprodução de citrus na unidade de produção.
112
QUADRO 22 Renda bruta obtida no sistema de produção de basesecológicas e convencional nas UPAs estudadas.
Agricultor/unidade
Produçãoagrícolatotal R$
Produçãoagrícolade baseecoló
gica R$
Produçãoagrícolaconven-
cional R$
Produçãoanimal
Total R$
Produçãoanimalde base
ecológicaR$
Produçãoanimalconven-
cional R$
Produçãoanimal
semi-con-vencional
R$1 2.200 2.200 - 700 700 - -2 38.500 7.000 31.500 - - - -3 - - - - - - -4 11.200 2.200 9.000 - - - -5 3.000 1.000 2.000 20.000 - - 20.0006 39.000 5.000 34.000 - - - -7 19.823 5.823 14.000 - - - -8 18.057 8.057 10.000 3.400 3.000 400 -9 68.938 68.938 - 4.060 4.060 - -10 7.800 7.800 - 480 480 - -11 8.700 8.700 - - - - -12 8.137 8.137 - - - - -13 6.300 6.300 - - - - -14 3.400 3.400 - 9.950 - 9.950 -15 20.000 20.000 - - - - -16 25.000 25.000 - 20.000 - 16.600 3.40017 63.000 63.000 - - - - -Total 343.055 242.555 100.500 58.590 8.240 26.950 23.400% 80,58 70,7 29,3 13,76 14,1 46,0 39,9Média 21.441 15.160 16.750 8.370 2.060 8.983 11.700
Fonte: Pesquisa de campo, maio e junho. 2001
No quadro 23, mostra-se a relação percentual que representam as receitas totais
da produção de lavoura e de criação por unidade, nos sistemas de produção de base
ecológica, semiconvencional e convencional, no intuito de expor a proporção em que as
atividades produtivas sob esses sistemas contribuem para as rendas familiares.
Observa-se que, do total da renda de lavoura e de criação, 62,44%, representada
por R$250.795, provém do sistema de base ecológica, em percentagens que vão desde
um mínimo de 4,3% (R$ 1.000), em uma unidade, até 100% na metade das unidades
estudadas, apresentando entre elas as maiores rendas obtidas pelas famílias. No entanto,
o valor total das receitas da produção convencional representa 31,73% (R$ 127.450),
em quase metade das unidades estudadas, apresentando percentagens sobre a produção
que vão desde 8,7% (valor mínimo R$ 2.000), até 87% (R$ 34.000).
113
QUADRO 23 Valor percentual das receitas totais obtidas na produção dos
sistemas com base ecológica, semiconvencional e convencional nas unidades
estudadas.
AgricultorRenda bruta
total daProdução
R$
Produção deBase Ecológica R$
%ProduçãoConven
cional R$%
ProduçãoSemicon-vencional
R$
%
1 2.900 2.900 100 - - - -2 38.500 7.000 18,2 31.500 81,8 - -3 - - - - - - -4 11.200 2.200 19,6 9.000 80,4 - -5 23.000 1.000 4,3 2.000 8,7 20.000 876 39.000 5.000 12,8 34.000 87,2 - -7 19.823 5.823 29,4 14.000 70,6 - -8 21.457 11.057 51,5 10.400 48,5 - -9 72.998 72.998 100 - - - -10 8.280 8.280 100 - - - -11 8.700 8.700 100 - - - -12 8.137 8.137 100 - - - -13 6.300 6.300 100 - - - -14 13.350 3.400 25,5 9.950 74,5 - -15 20.000 20.000 100 - - - -16 45.000 25.000 55,5 16.600 36,9 3.400 7,617 63.000 63.000 100 - - - -
Total 401.645 250.795 - 127.450 - 23.400% 100 62,44 - 31,73 - 5,8 -
Média 25.103 15.674 - 15.931 - 11.700 -Fonte: Pesquisa de campo, maio e junho. 2001
Já os 5,83% restantes representam R$ 23.400 da receita total, obtida no sistema
de produção diferenciado (aspectos ecológicos e convencionais), que poderiam servir
como indicadores no processo de transição agroecológico.
Após conhecer as receitas brutas que os agricultores obtêm, assim como suas
famílias no processo produtivo agrícola, esses valores serão relacionados com o
equivalente aos salários mínimos da Nação e o Estado, com a finalidade de comparar a
situação econômica das famílias com esse indicador.
Relacionando-se as receitas brutas que as famílias obtêm nas UPAs, com o
valor do salário mínimo brasileiro e do Estado do Rio Grande do Sul, pode-se inferir
que os agricultores que apresentam pouca produção e baixa renda, obtêm somente 2,7
salários mínimos brasileiros. Esses valores são crescentes nas demais unidades,
observando-se um máximo equivalente a 30,4 salários mínimos, quantia esta obtida por
uma família. É difícil que essa família ganhe tal quantia em atividades urbanas.
114
Ao estudar-se as menores receitas, observou-se que 29,4% dessas famílias
podem, em média, obter até 3,5 salários mínimos.
Na relação dessas receitas com o valor do salário mínimo do Estado de Rio
Grande do Sul, verificou-se que as famílias com receitas menores ganham somente 2,16
salários mínimos mensais; já nas maiores receitas, as famílias podem ganhar um
máximo de 24,33 salários mínimos. Observou-se que o grupo das famílias com menores
rendas (29,4%) apresenta dificuldades econômicas e tenta encontrar soluções na
produção sustentável para melhorar a sua situação.
Depois de expor as fontes de rendas e detalhar a agrícola e pecuária por
agricultor, mostrando a participação que apresentam essas fontes na renda bruta total,
além de relacioná-las com o equivalente aos salários mínimos oficiais, apontaremos a
seguir a renda líquida que fica com o agricultor e sua família, com a intenção de
conhecer a liquidez que elas apresentam na produção.
4.3.4. Renda líquida nas unidades
A renda líquida representa o valor líquido que sobra, descontados todos os
gastos relativos à produção, incluindo a mão-de-obra contratada e outras despesas como
impostos, serviços gerais, incluída a depreciação de alguns investimentos. Esta renda
aponta o potencial de acumulação de capital e de investimento que as famílias possam
apresentar.
Nos dados mostrados no quadro 24, observa-se que 33,3% das unidades
familiares apresentam rendas líquidas inferiores a R$ 2.400,00 anuais. Isso revela que a
capacidade de capitalização é inferior a um salário mínimo. Uma parcela de 13,3%
apresenta rendas líquidas negativas, considerando-se como causas dessa situação os
problemas de comercialização de seus produtos, além de compromissos financeiros
adquiridos para investimentos familiares e produtivos.
Já 20% das famílias com renda líquida entre R$ 2.601 até R$ 5241 são
consideradas em fase de transição econômica, com instabilidade momentânea, mas com
boas condições para crescer e desenvolver mais atividades produtivas. E 46,7% das
famílias apresentam renda líquida de R$ 6.818,00 até R$ 29.938,00 anualmente,
representando de 2,8 até 12,5 salários mínimos (nacional), considerando-se estas
unidades em pleno desenvolvimento econômico, já que conseguem remunerar os
membros da família e reinvestir na estrutura produtiva. Pode-se inferir que essas
115
famílias mantêm estabilidade econômica. Parte desses dados estão no quadro 24, onde
se mostra que as melhores rendas líquidas estão nas unidades seis, oito e nove. A
unidade um, fica nesse grupo, e não foi considerada porque tem mais de 50% de sua
renda em aposentadoria. A unidade nove apresenta maior renda líquida, mas também
possui a maior despesa. As unidades seis e oito, apresentam maiores rentabilidades do
que a unidade nove. É oportuno registrar que essas unidades 6 e 8 têm a cultura do fumo
em suas atividades.
QUADRO 24 Valor da renda líquida obtida pelas famílias na área estudada.Agricultor Renda bruta
R$DespesasTotais R$
Rendalíquida anual
R$
Rendalíquida
mensal R$1 6.500 3.192 3.308 2762 38.500 37.840 660 553 - (21.868) - -4 11.200 10.465 735 615 21.000 12.985 8.015 6686 39.000 14.235 24.765 2.0647 19.823 13.005 6.818 5688 21.457 6.980 14.477 1.2069 72.998 43.060 29.938 2.49510 8.280 5.679 2.601 21711 8.700 6.920 1.780 14812 15.977 10.736 5.241 43713 7.300 8.886 -1.586 -13214 13.350 14.330 -980 -8215 29.840 21.450 8.390 69916 46.800 32.440 14.360 1.19717 (63.000) - - -
Total 360.725 242.203 118.522 9.877% 88,2 88,2 88,2 88,2
Média 24.048 16.147 7.901 658 Fonte: Pesquisa de campo, maio e junho. 2001
( ) Esses valores foram excluídos do total e da média por estar incompletos.
Ao se tratar das despesas brutas e líquidas obtidas pelos agricultores como
produto das atividades produtivas, passamos brevemente a considerar as condições que
estes agricultores apresentam na comercialização dos produtos, tendo-se em conta
especialmente os canais de negociação usados por eles.
116
4.3.5 Comercialização da produção
A comercialização é considerada um ponto crítico por vários agricultores,
especialmente pelos citricultores que, nos últimos quatro e cinco anos, vêm obtendo
rendas baixas pela pouca saída que tem o produto ou pelo baixo preço de venda.
Apresentam situação parecida à produção sazonal de hortaliças e de alguns cultivos
anuais.
Para melhorar os problemas que se apresentam na comercialização, os
agricultores mantêm mais de um local de venda dos produtos, como as feiras e
cooperativas, e também as vendas, nas unidades de produção, a membros da
comunidade. Constatou-se que há poucos casos de comercialização por atravessadores.
Outros canais de comercialização são: sistemas de venda localizados e domiciliar, como
é o caso do frango semi-industrializado, pequenos mercados ou quitandas e com
organizações ou atravessadores de São Paulo, especialmente na comercialização de
citrus, como mostra a figura 7.
FIGURA 7. Principais canais de comercialização utilizados pelos
agricultores.
Fonte: Pesquisa de campo, maio e junho. 2001
A g r i c u l t o r o r g â n i c oe a g r o e c o l ó g i c o
C o o p e r a t i v a s
F e i r a s
A t r a v e s s a d o r e s
Q u i t a n d a s
P e q . m e r c a d o s
S u p e r m e r c a d o s
C o m e r c i a l i z a ç ã o– S ã o P a u l o
C o n s u m i d o rf inal
117
Produção de compostagem e supermagro Carmen Elena Bermúdez S.
Carmen Elena Bermúdez S.
Carmen Elena Bermúdez S.
Carmen Elena Bermúdez S.
Fotos 9,10 e 11. Produção de compostagemna Usina de Ecocitrus. Montenegro, maio 2001.
Foto 9.
Foto10.
Foto11.
Foto 12. Estratégia de conservação dosupermagro. Agricultor de Cerro Grande do Sul
junho 2001.
118
Nos preços dos produtos, existem contradições entre as informações prestadas
pelos agricultores. Vários expressaram que os produtos orgânicos ou agro-ecológicos
tinham uma margem de até 50% a mais em comparação com o convencional; outros,
que não encontram diferença no mercado. Parte do produto está sendo vendida sem
diferenciação, especialmente no caso dos citricultores que apresentam grandes volumes
de produção. Outros produtores consideram que o preço de alguns produtos é baixo e
vêem a necessidade de organizar melhor o sistema de comercialização.
Outro aspecto observado, especialmente nas feiras, foi o volume significativo
de sobras de alguns agricultores pela pouca demanda dos produtos. Considera-se que
esta situação deva-se, em parte, à falta de estudo e de pesquisa de mercado para uma
melhor planificação da produção ligada à comercialização, nas quantidades que,
geralmente, os diferentes canais de comercialização demandam periodicamente em
quantidade, qualidade, diversidade e regularidade, a preços acessíveis aos diferentes
estratos sociais da comunidade.
Vários agricultores mostraram interesse em consolidar a produção sustentável
nas unidades, dependendo do desenvolvimento da comercialização, em especial dos
preços dos produtos. Faz-se necessário explorar melhor os canais de comercialização
com potencial e atuais (como a organização de pequenas feiras perto das unidades de
produção, fortalecimento da comercialização nas cooperativas de agricultores, além de
potencializar a oferta de produtos com valor agregado e tentar recuperar o sistema de
troca de produtos entre agricultores). Isto pode servir como estratégia para o aumento
dos benefícios econômicos dos agricultores, os quais dependem, em grande parte, da
comercialização. Tendo exposto alguns aspectos considerados importantes na
dimensão econômica, como o patrimônio que possuem os agricultores, a disponibilidade
de mão-de-obra nas unidades, as despesas tanto familiares como das atividades
produtivas, as rendas obtidas pelas famílias de atividades produtivas realizadas dentro e
fora das unidades, além de apontar-se alguns aspectos do processo de comercialização
dos produtos, passamos a considerar várias questões que influem no desenvolvimento
econômico das unidades, consideradas como entraves, potencialidade e desafios nesta
dimensão.
119
4.3.6 Entraves, potencialidades e desafios da dimensão econômica
São vários os entraves que apresentam os agricultores nessa dimensão. A mais
freqüente, apontada por 76,5% dos agricultores, é o baixo preço de venda dos produtos
e as dificuldades de venda, devido, em grande parte, aos grandes volumes ofertados
pelos agricultores, especialmente nas épocas estacionais de produção, frente a um
sistema de comercialização insuficiente, em alguns casos, sobretudo, em épocas de alta
produção, como é visto refletido em 29,4% dos agricultores, que expressaram
problemas por falta de mercado. Isto permite-nos afirmar que o forte entrave está na
dificuldade de articular o processo de produção com a comercialização, geralmente pela
falta de planejamento, sendo isso notório a 35,3% dos agricultores que vêem nesses
problemas um entrave forte à consolidação da produção alternativa na unidade, somada
à falta de recursos econômicos, sentida por 53% dos agricultores.
Essa situação que limita as condições de investir em infra-estrutura,
tecnologias e mão-de-obra afeta a pontualidade dos pagamentos, especialmente no caso
dos agricultores que, segundo a análise da renda obtida, apresentam condições difíceis
ou apenas aceitáveis.
Outros entraves sentidos pelos agricultores são: a falta de mão-de-obra
qualificada (35,3%), com experiência na produção sustentável, os elevados custos de
produção e de transporte (35,3%), especialmente para aqueles agricultores que ficam
isolados de outros agricultores orgânicos e longe de centro importante de
comercialização de seus produtos, como é a feira de Porto Alegre. Isso foi manifestado
por vários agricultores, especialmente, pela baixa produção que apresentam em algumas
épocas do ano.
Algumas potencialidades encontradas foram o desejo e a disposição que vários
agricultores apresentaram em lutar para reduzir os problemas que estão enfrentando,
principalmente o da comercialização, através da exploração de outros canais. Um caso
concreto consistiu na organização de uma fábrica de sucos em Montenegro, por parte de
Ecocitrus, a qual não só agregará valor ao produto, como também aumentará a
oportunidade de colocar os excedentes, especialmente a fruta de inferior qualidade, que
geralmente ficava nos pomares.
Alguns agricultores buscam outros canais de comercialização, tentando
organizar ou fortalecer feiras perto das unidades de produção. Os agricultores agro-
ecológicos, algumas vezes, preferem vender diretamente ao consumidor nas suas
120
unidades de produção, antes de levarem o produto à Cooagricel. Com isso, conseguem,
muitas vezes, melhor preço. Essa atitude também poupa trabalho e tempo, além da
economia no transporte.
Outro potencial que se tem muito a explorar é a agregação de valor na
transformação e no processamento de maior número de produtos (vegetal e animal), em
virtude de grande parte da comercialização ser feita com produto “in natura”,
objetivando-se a necessidade de fortalecer a divulgação da produção e a troca de
informação na busca de maior demanda, aproveitando-se, se possível, do apoio por
parte de governo do estado, com o programa de fortalecimento à agro-industria familiar.
O grande desafio que se tem traduz-se por tornar realidade o grande potencial
que os agricultores têm em relação à produção sustentável. Como contribuir para a
preparação de técnicos e de agricultores no planejamento organizado da produção e da
comercialização para que os produtos de bases ecológicas cheguem à maior parte da
população? Vislumbra-se que se faz necessário, também, campanhas fortes de
“marketing” dos produtos, através dos quais os consumidores tenham garantia de obter
produtos verdadeiramente “limpos”, podendo contar com maior respeito, eqüidade e
lealdade entre os atores da produção e da comercialização. Frente a essa situação de
perspectivas, sugestões e necessidade de agir, é compartilhado o comentário de um
profissional da área, quando diz: “se queremos ver crescer significativamente a
produção alternativa, temos que agir em nossos campos de trabalho sempre em direção
do que queremos, temos que voltar a ser agricultores, agir conjuntamente com eles,
encarar juntos os grandes desafios, os problemas que se apresentam. Só assim seremos
capazes de contribuir verdadeiramente com sua expansão nas nossa área de
influência”
A seguir, serão apontadas as práticas agro-ecológicas que os agricultores
adotam nas unidades produtivas e também serão expostos alguns aspectos considerados
como entraves e desafios na dimensão ecológica, além de potencialidades nela
percebidas.
121
4.4 DIMENSÃO ECOLÓGICA
Esta dimensão pretende descrever as diferentes formas e práticas de manejo
usadas pelos agricultores na intenção de conservar os recursos. Também são
apresentados alguns problemas a esse respeito. Neste item, mencionaremos alguns
fatores que incidem no desenvolvimento, como:
4.4.1 Práticas conservacionistas
Na pesquisa de campo, foram observadas áreas de preservação natural,
práticas conservacionistas, reciclagem de restos orgânicos e comuns, a diversidade nas
unidades, a integração entre as lavouras, a criação, as florestas, a degradação e a
percepção dos agricultores frente a esta dimensão.
Nesse espaço, foram encontradas áreas de preservação natural em 76,5% das
unidades produtivas, com extensões que vão desde 0,02 ha até 6 ha, sendo 35,3%
menores de 2 ha, e 64,7% entre 2 a 6 ha, como se viu no quadro 11.
Estas áreas têm importância significativa para os agricultores que
manifestaram a intenção de mantê-las, mesmo em pequenas proporções. Em média,
representam 8,76% da área total das unidades, ficando longe das indicações da Lei
Federal de Reserva Legal que estabelece que a unidades devem ter, no mínimo, 20% da
área total preservada com vegetação nativa. Das unidades estudadas, somente uma se
ajusta a esta lei; das restantes que apresentam estas áreas, poucas têm condições para
atendê-la.
Em compensação, 64,7% dos agricultores mantêm áreas com reflorestamento
em extensões que vão desde 0,5 ha até 10 ha, representando 11,89% da área total. Além
disso, grande parte das espécies cultivadas não são nativas, mantendo-se com uma
finalidade comercial. Também foi encontrado 20,65% do total da área destinado à
preservação permanente e ao reflorestamento. Duas unidades não apresentam essas
áreas, devido, em parte, à pouca extensão que apresentam, além da preferência dos
agricultores por outras culturas que lhes representam produção a curto prazo.
Outras práticas realizadas pelos agricultores e facilmente observadas na
pesquisa de campo foram as rotações de culturas, em especial, na produção de culturas
anuais e hortícolas; o consórcio e a adubação verde, predominando nas culturas perenes,
sobretudo nos pomares. Já as práticas, como quebra-ventos, plantio direto, cultivo
122
mínimo e proteção de fontes de água são usados em menores proporções e em menor
número de unidades.
A reciclagem de resíduos orgânicos foi notória. O uso de restos de culturas,
esterco, chorume e cinza, ainda que a produção dessa última seja pouca, pelo baixo
consumo de lenha que, em geral, as famílias apresentam. Em algumas unidades, a
produção de esterco e de chorume é baixa, limitando-se seu uso a pequenas áreas
hortícolas ou de criação.
O composto e o chorume são utilizados especialmente pelos agricultores de
citrus, visto que dispõem de grandes quantidades, graças à usina que é propriedade da
Ecocitrus. Ali são preparadas grandes quantidade desses adubos, com restos urbanos,
especialmente de fábricas, como foi exposto anteriormente no item 4.3.3, da Ecocitrus.
Vários agricultores têm problema no transporte desses insumos, pela deficiência de
meios de transporte apropriados para serem levados até as unidades de produção e ali
serem distribuídos nas diferentes áreas de cultivos.
Na diversificação dos sistemas, há diferenças entre as unidades. O grupo de
citricultores apresentou menor diversidade de culturas. Em geral, nas áreas cultivadas,
encontrou-se pouca diversidade de espécies frutíferas e até de culturas anuais.
Observou-se entre quatro a seis espécies cultivadas, além, de algumas espécies
hortícolas. Esses dados foram mostrados no quadro 7.
Na análise da integração entre as atividades, foi notória a intenção de alguns
agricultores em melhorar as inter-relações entre as atividades. No entanto, encontraram
dificuldades, sendo essas de maior grau no grupo que teve dificuldades no planejamento
nas atividades produtivas. Notória, também, é a necessidade de organizarem-se melhor
as trocas entre os setores produtivos e otimizar o aproveitamento entre as atividades –
lavoura criação –florestais.
A degradação dos recursos naturais estudados, em termos de processos
erosivos e áreas de solos descobertos, foi verificado em quase todas as unidades,
principalmente, nas áreas destinadas à produção de culturas anuais, ocasionada pela
mecanização. O solo fica exposto à insolação, aos ventos, às fortes chuvas, além do uso
de produtos químicos (dessecantes, adubos sintéticos, entre outros), nas áreas de
lavouras convencionais e, em alguns casos, o uso de pouco ou nenhum adubo orgânico -
que potencialize a vida do solo – nas áreas de lavouras anuais. Esta situação é
considerada uma das principais causas do baixo rendimento em algumas culturas.
123
Manejo e embalagem de produtos a comercializar. Feira
Carmen Elena Bermúdez S.
Carmen Elena Bermúdez S.
Carmen Elena Bermúdez S.
Carmen Elena Bermúdez S.
Carmen Elena Bermúdez S.
Foto 13. Manejo de produtos a serem comercializados.Agricultor de Cerro Grande do Sul, junho 2001.
Foto 14. Embalagem de citrus para exportação. Ecocitrus, Montenegro,
maio 2001
Foto 15
Foto 16
Foto 17
Fotos 15, 16 e 17. Produtos comercializados na feira deCoolméia. Porto Alegre, junho 2001.
124
Vale expor de um agricultor que, embora conhecendo os benefícios que se
obtém com a produção sustentável, resiste em deixar a forma convencional, mesmo
consciente do empobrecimento do solo, da necessidade e da dependência dos insumos
químicos, além da exposição da saúde, quando diz:
-“desde que consegui estabelecer no pomar a soja perene, não tenho
necessidade de capinar; o solo não apresenta erosão porque está totalmente coberto.
Mas, nas áreas de culturas anuais, tenho continuamente que arar, capinar ou passo
secante antes do plantio nas lavouras convencionais, o solo tem muitas pedras e
dificulta muito as lavouras, e tenho que usar certinho o adubo químico para que
produza bem. Às vezes, sinto desejos de trocar a propriedade”.
Esse agricultor tem 10 anos com duplo sistema, podendo-se observar a
diferença de degradação do solo nas áreas convencionais. Frente a esta situação,
percebe-se que esse agricultor considera a produção convencional importante porque foi
o alicerce que contribuiu para estabelecer-se com sucesso na produção da unidade
produtiva, especialmente no aspecto econômico e associativo. Influindo ainda para
manter o duplo sistema de produção, podendo-se inferir que na medida que obtenha
bons resultados na produção sustentável, este sistema de produção seria fortalecido em
toda a unidade, já que, atualmente, há 53,5% do total da renda sob este sistema
produtivo, embora na produção agrícola obtenha maior renda (55,4%) na produção
convencional. Considera-se que outra razão para manter esta produção seja a
implementação de estratégias para ter menos contato com os produtos tóxicos usados
nesta produção, como mecanismo para melhorar a saúde, mas carecendo de estratégias
eficientes para melhorar também a saúde do solo. Ainda tem-se outros aspectos que
contribuem para manter o duplo sistema: a facilidade no manejo das plantas espontâneas
com produtos agrotóxicos e a pouca disponibilidade e mão-de-obra na família.
Outras questões observadas, ainda em poucas unidades, foram as extrações de
algumas espécies de madeira em áreas de preservação permanente; nessas áreas,
apresentam-se raleios e clarões. Já o reflorestamento com a cultura de eucaliptos, como
monocultura, vem provocando o recesso na recuperação de algumas espécies nativas.
4.4.2 Entraves, potencialidades e desafios da dimensão ecológica
São vários os aspectos a serem refletidos nas atividades, nos métodos e nas
práticas utilizadas pelos agricultores caso se queira melhorar o equilíbrio ecológico em
125
grande parte das unidades. Considera-se o uso contínuo de arado o principal problema a
superar, pois, apesar de seus malefícios, está presente em mais do 50% da área
estudada. O solo apresenta insuficiência de matéria orgânica e, em vários casos,
nenhuma disponibilidade da mesma. São usados agroquímicos em 35,3% das unidades,
mantendo-se pouca diversidade em várias delas.
Embora algumas unidades apresentem bom desempenho, esses aspectos têm que
ser superados para reduzir os impactos negativos e para potencializar ao máximo o bom
desenvolvimento de suas atividades produtivas.
A agricultura sustentável propõe práticas que contribuem para melhorar o
potencial da dimensão ecológica, mas necessita-se trabalhar com mais empenho e com
entusiasmo no reforço das práticas agronômicas e ecológicas que contribuam para
melhorar e conservar o potencial do solo, a diversidade de espécies nas culturas e do
paisagismo em geral, com plantas e animais adaptadas às condições locais, otimizando-
se a produção e o uso de energia solar, além de reduzir, até eliminar, se possível, o uso
de produtos tóxicos nas unidades produtivas.
O paisagismo tornou-se importante potencial a ser explorado em algumas
unidades, visto que vários agricultores, especialmente os citricultores, estão motivados a
oferecer estes serviços, particularmente aqueles que dispõem de alguma infra estrutura
nas unidades que possam restabelecer para tal fim, o que significaria trabalhar, não só
em forma harmoniosa com a natureza, mas também, diversificar a produção de
alimentos “limpos”, tendo em conta a proteção dos recursos e a organização da estética
como atrativo ecoturístico.
Os agricultores manifestaram uma certa “consciência ecológica” ao expor
algumas preocupações com essas questões, que foram, principalmente, em relação aos
resíduos de agrotóxicos. A grande maioria (82,35 %) posicionam-se frente a esse
problema, embora alguns deles continuem usando esses produtos.. De alguma forma,
eles ou um membro da família tiveram problema de intoxicação com agrotóxicos.
Também 53% mostraram preocupação pela qualidade das águas contaminadas,
principalmente pelo uso de agrotóxicos na região; 47% demonstraram preocupação
quanto ao desmatamento que vem causando a produção agrícola, sobretudo a
convencional; 35,3% mostrou preocupação pela baixa produtividade das culturas e dos
animais; 29,4% pela perda da biodiversidade, e só 23,5% foram conscientes da
degradação do solo pela erosão, e 11,76% consideram que os resíduos devem ser
melhor manejados.
126
Dos agricultores, 83,3% mostraram interesse em estabelecer a produção orgânica
ou agroecológica em toda a unidade produtiva; ratificando, de fato, que a agricultura
sustentável é boa pelas razões expostas anteriormente, e o desejo de obter melhores
preços nos produtos vendidos, já que circuitos orgânicos podem diminuir riscos
econômicos na segurança de venda dos produtos. Embora vários agricultores sustentem
que os preços de alguns produtos não têm diferenças significativas, mantendo-se quase
o mesmo valor em comparação aos convencionais, considerando que é uma razão muito
significativa para produzir de forma sustentável, ter-se-á possibilidade de produzir
alimentos “limpos” em quase toda a unidade. Quanto a isso, tem-se que dizer que os
agricultores utilizam para a alimentação da família os produtos “limpos”, sendo que, da
produção animal, consomem e também vendem parte dela.
A seguir, abordaremos vários aspectos que mostram o desempenho da gestão
pública no desenvolvimento da produção de bases ecológicas, tendo-se em conta alguns
apreciações dos agricultores frente a essa questão.
4.5 DIMENSÃO POLÍTICO-INSTITUCIONAL
Apontaremos, neste item, algumas ações realizadas pela gestão pública que
beneficia diretamente os agricultores pesquisados, além da apreciação frente ao
desempenho da política pública do Estado, mais especificamente na região onde estão
inseridos. Leva-se, assim, em conta, aspectos importantes para o desenvolvimento das
atividades agrícolas sustentáveis como: a assistência técnica, financiamentos aos
investimentos produtivos, formas de obtenção e de divulgação de informações.
Os agricultores praticantes da agricultura sustentável do Estado podem
considerar-se privilegiados por contar, desde 1999, com uma política de governo que se
preocupa em apoiar e em fortalecer essa produção. As ações e os esforços do último
governo de Estado foram muito importantes para o avanço e o desenvolvimento desse
tipo de agricultura, notando-se no investimento na formação de grupos de técnicos e de
profissionais dedicados à extensão, além de outras estratégias como financiamento à
produção e outros programas já mencionados anteriormente no capítulo três. Com isso,
o governo busca a consolidação dessa agricultura mas, considera-se ainda que se
necessite de certo período de tempo, dedicação e muita perseverança por parte de todos
os interessados nesse objetivo.
127
Atualmente os agricultores têm à disposição alguns incentivos, especialmente os
de caráter financeiro, de capacitação e de informação, principalmente na fase de
conversão. Além disso, os agricultores contam com outros apoios governamentais em
nível nacional, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF), lançado pelo Ministério de Agricultura e Abastecimento. Esse programa
vem favorecendo o desenvolvimento de pequenas unidades agrícolas de produção e
beneficiando alguns dos agricultores estudados. Também dispõe de uma linha de crédito
coordenada pelo Banco de Brasil, desde 1999, que prioriza o crédito para investimentos
em produção sustentável. Outra questão de caráter político e que pode ser considerada
importante, pois favorece o desenvolvimento da produção sustentável, especificamente
a orgânica, foi a publicação da Instrução Normativa n° 007, de maio de 1999,
BRASIL(1999), que traça normas para esta produção, tanto a vegetal quanto a animal.
Grande parte dos agricultores do Rio Grande do Sul conta com apoio institucional
público e, também com o privado, como de ONGs e cooperativas no desenvolvimento
das atividades produtivas. Segundo os dados da pesquisa, os agricultores receberam, em
sua grande maioria, apoio institucional na fase inicial da produção sustentável. Isto foi
ratificado por 82,35% dos agricultores que apresentaram a Emater como a instituição
oficial do Estado responsável pela assistência técnica e capacitação nessa produção; a
Coolméia, que oferece a seus cooperados assistência técnica e capacitação, além de
contribuir no processo de comercialização dos produtos; a Ecocitrus, cooperativa que
oferece apoio à produção e em sua comercialização, dispondo também de um assessor
técnico e uma usina de compostagem, da qual distribuem insumo aos agricultores
associados de forma gratuita.
Outros programas do governo dos quais receberam ou recebem algum beneficio
apontados pelos agricultores foram:
- Pró–Guaiba (Programa para o desenvolvimento ecologicamente sustentável e
socialmente justo da região hidrográfica do Guaíba) que, com o Projeto Agroecológia e
Reflorestamento Ambiental, financia o estabelecimento de práticas ecológicas em
unidades produtivas na Região Hidrográfica do Guaíba, a juros baixos (4% anual).O
valor em média dos financiamentos é de US$ 50020 por hectare (aproximadamente R$
1.500), favorecendo os agricultores com 25% do financiamento como recurso não
20 Segundo o Noticiario Uol-Economia o valor do dólar comercial em agosto setembro 2002 US$1,00/ R$
3,00 oscilante, mantendo-se em média neste valor.
128
retornável. Esse valor deve ser aplicado em práticas agro-ecológicas, saneamento
básico, reflorestamento ambiental ou proteção de nascentes nas unidades.
- Pró–Renda, Projeto asumido pela Emater, o qual fase parte do Programa de
Desenvolvimento Local Sustentável. Com o Projeto persegue-se promover o
melhoramento das condições de vida dos agricultores, com base na mobilização de seu
potencial de auto-ajuda. Pro-Renda é um projeto de cooperação técnica Brasil –
Alemanha (GTZ).
- GTZ-Governo do Estado contribuiu na Ecocitrus com capital financeiro e
humano na construção da Usina de compostagem.
- A Prefeitura Municipal também contribui com projetos de desenvolvimento e
financiamento desta produção.
- Caritas Diocesana tem apoiado, em casos pontuais, com financiamento a
projetos produtivos nessas linhas, beneficiando um agricultor do grupo pesquisado.
Além disso, alguns agricultores apontam os sindicatos como instância em que
encontram apoio e estímulo para a produção, ainda que não seja do tipo econômico.
Salienta-se que a maior parte desses programas e projetos contribui com o avanço do
sistema de produção sustentável em diferentes regiões do Estado.
De forma geral, os agricultores consideram que a agricultura com base ecológica
tem grande possibilidade para expandir-se, por diferentes razões, entre as quais estão o
fortalecimento da proposta da agricultura familiar, por parte dos governos estadual e
federal, além dos programas e projetos de governo, já expostos, reconhecendo também a
disposição e empenho de muitas pessoas que se identificam e compartilham do seu
avanço.
4.5.1 Serviços de assistência técnica, financiamento e de pesquisa
Segundo as informações dos agricultores, 82,35% deles vêm recebendo
assistência técnica das instituições como a Emater e das cooperativas de Coolméia,
Ecocitrus, Coagricel e da Universidade Federal de Santa Maria (ainda que seja em
questões pontuais como pesquisa e construção de estufas), além do Banrisul. Pôde-se
observar, em campo, o esforço e o interesse que apresentam alguns técnicos da Emater e
das ONGs em integrar-se, para juntos enfrentar o acúmulo de desafios deste sistema de
produção.
129
Dos agricultores estudados, 76,5% acessaram os financiamentos para os
empreendimentos da produção sustentável. Alguns possuem áreas com produção
convencional nas unidades produtivas. Do restante, alguns já cancelaram o
financiamento, outros estão em processo de tramitação, e vários decidiram manter a
produção com recursos próprios.
Considera-se que esta última decisão deveria ser tomada pelos agricultores de
base ecológica à medida que fossem capitalizando-se, o que contribuiria para reduzirem
a dependência do capital externo, permitindo às entidades financiadoras a oportunidade
de dispor de capital para outros agricultores que quisessem produzir sob esse sistema.
Alguns dos órgãos financiadores, nos quais os agricultores vêm apoiando-se para
as atividades produtivas são: Banco do Estado do Rio Grande do Sul, com os programas
Pro-Guaiba, Pro-solo, Rio Grande Ecológico e Pampa.
Após relacionar o desenvolvimento dos técnicos e dos pesquisadores, os
agricultores percebem que ambos têm interesses nas questões ecológicas. Os
agricultores apontam que alguns participam mais ativamente no trabalho com eles, na
produção de alimentos sadios para manter a saúde da população, no melhoramento das
suas condições de vida e do ambiente.
Na questão de capacitações e de informações em geral, incluindo o aspecto
tecnológico, os agricultores encontram apoio nas instituições e ONGs, mediante o
quadro de técnicos e de profissionais dedicados a essa agricultura. No relacionamento
com elas,
os agricultores percebem deficiências nos conhecimentos agro-ecológicos. Apontam,
ainda, a necessidade de maior preparação do quadro de técnicos e de profissionais da
área, além do desenvolvimento de pesquisas e experimentações que contribuam para o
avanço da produção sustentável nas diferentes regiões do estado. O governo do estado
mostra interesse em melhorar esta situação, percebendo-se a necessidade de um período
maior de tempo para uma melhor preparação de técnicos e profissionais nesta produção.
Considera-se que a quantidade desse período de tempo dependerá das relações,
estratégias e interesse das pessoas envolvidas no processo. Mas, os agricultores
apreciam a disposição destes em prepararem-se melhor e contribuir mais decididamente
no avanço dessa produção.
Em questões de capacitação e assessorias, os profissionais e técnicos oferecem aos
agricultores parte dos conhecimentos e informações que têm à disposição, através de
cursos e informações técnicas por meio de cartilhas, informativos, boletins, além de
130
outras fontes especificas, como os meios de comunicação: o rádio, a televisão e,
algumas vezes, o jornal.
Os agricultores consideram o apoio institucional importante e necessário para o
desenvolvimento dessa produção por facilitar-lhes informações, capacitação e
financiamentos, além de facilitar-lhes estratégias para o intercâmbio entre agricultores
de diferentes regiões, contribuindo com a difusão e divulgação da produção e da
comercialização destes produtos.
Além das razões expostas pelos agricultores, aprecia-se a importância da gestão
do Estado para se formar e manter um eixo articulador na integração das instituições
que participam em prol dessa agricultura, apresentando oportunidade de se desenvolver
programas e projetos com mais abrangência para o desenvolvimento das mais amplas
ações de caráter sociocultural-ambientais nas regiões onde se encontrem maior número
de agricultores.
4.5.2 Entraves, limitações e desafios político-institucionais
Uma das maiores limitações nesta dimensão é a falta de conhecimento e de
experiências por parte dos técnicos e profissionais encarregados da assistência técnica
no desenvolvimento da produção sustentável, em especial, o da parte oficial, os quais,
muitas vezes, têm sobrecarga no trabalho, dispondo de pouco tempo para observar,
analisar e debater com os agricultores aspectos específicos da produção no campo, no
intercâmbio de informações e no conhecimento técnico-agricultor.
Encontram-se outras limitações, como a formação agrícola dos técnicos e dos
profissionais, que ainda continua sendo convencional; igualmente, os órgãos de
pesquisa e a falta de parcerias entre órgãos do Estado, o agricultor e as empresas
responsáveis pela fabricação de maquinaria e implementos agrícolas.
Outros desafios são os de organizar e programar o financiamento às pesquisas e
aos estudos na área, apoiados nas experiências empíricas dos agricultores e assim
avançar no processo de conhecimento da produção.
Outro desafio consiste em garantir aos consumidores a obtenção de produtos
verdadeiramente “limpos”. Com respeito a isto, considera-se que, enquanto se aceita o
estabelecimento de duplos sistemas agrícolas de produção (convencional e sustentável)
nas unidades, fica a dúvida da autenticidade e da sanidade dos produtos.
131
CAPÍTULO 5
5 CONCEPÇÕES E APRECIAÇÕES DOS AGRICULTORES E DOSTÉCNICOS
A intenção deste capítulo é mostrar as motivações e as razões que levaram os
agricultores a produzir de forma sustentável e conhecer, em parte, o grau de satisfação
que isto lhes trouxe, além da percepção que eles têm do desenvolvimento desta
produção no futuro. Também se apresentam alguns percepções dos profissionais e
técnicos entrevistados relacionados a motivações dos agricultores, ao apoio que o
governo vem oferecendo a esta produção e aos benefícios que a produção sustentável
pode brindar esses agricultores.
5.1. Motivações e razões dos agricultores para produzirem de forma
sustentável
Entre as diversas questões que temos a conhecer da produção sustentável,
encontram-se as razões e as motivações que movem os agricultores a mudar de sistema
de produção, sendo este um fator importante que pode aproximar-nos mais de sua
realidade e a entender melhor seus propósitos e metas.
Ao sintetizar as informações, podemos observar que houve três fatores que
influenciaram os agricultores a mudar de sistema de produção; os rendimentos
econômicos, a saúde e a conservação dos recursos naturais.
Questionados sobre as razões que os levaram a passar à produção sustentável,
76,4% mencionaram a saúde, tanto pessoal, quanto familiar e também pelos
consumidores; e 64,7% em razão da preocupação pela conservação dos recursos
naturais. Os agricultores mostraram-se influenciados pelo preços de mercado, 47,1% e
41,2% por sentirem a necessidade de melhorar a produtividade na unidade. Considera-
se que 88,3% deles foram influenciados pelo aspecto econômico. Já 35,3% foram
influenciados por convicções ideológicas (produzir alimentos “limpos” como ideal de
vida) e 29,4% pela conjuntura política atual, favorável no Rio Grande do Sul.
132
De forma geral, os agricultores acham que essa agricultura tem grande
possibilidade para expandir-se por diferentes razões, como a saúde dos agricultores e
dos consumidores, a proteção do ambiente, considerando o fato da harmonização com o
meio, a redução dos custos de produção e, algumas vezes, pela atração dos preços dos
produtos e pelo aproveitamento dos nichos de mercado. Igualmente pelo fortalecimento
da proposta da agricultura familiar, pela redução no uso de agrotóxicos e a certificação
dos produtos. Como menos influentes, apontam: a conscientização e os interesses
despertados nos agricultores que têm maior disposição no desempenho das diferentes
atividades nas unidades e as facilidades na comercialização de alguns produtos. Grande
parte dos agricultores considera a produção sustentável a única maneira de manter a
sustentabilidade do sistema, mostrando a importância que representa este sistema de
produção para os agricultores, uma vez que eles podem manter-se dignamente na
produção agrícola, além de conservarem seu patrimônio.
5.2. Grau de satisfação das famílias objeto de estudo
Para avaliar o grau de satisfação do agricultor e sua família, levou-se em conta as
apreciações pessoais, assim como o desempenho e os resultados obtidos nas atividades
produtivas. Considerou-se também como um aspecto de relevância a motivação, a
dedicação e a continuidade das atividades de produção sustentável.
Das famílias estudadas, 58,8% mostraram-se satisfeitas com o padrão de vida que
possuem atualmente, e as restantes 41,2%, estiveram divididas entre pouco satisfeitas e
não satisfeitas. A estas apreciações, acrescenta-se a satisfação das necessidades não
materiais como: descanso, lazer, cultura.
Aqueles agricultores que estão satisfeitos com seu padrão de vida mostraram
também sua satisfação com as atividades produtivas ao expressar que estão vendo
desenvolvimento na produção; alguns se sentem quase auto-suficientes e com mais
saúde ao alimentar-se com produtos limpos; outros sentem que recuperam parte da auto-
estima, sentindo-se mais cidadão se consideram que ainda podem melhorar; alguns
deles também destacam que contam com possibilidades e condições de programarem-se
para tirar férias, ainda que não seja todos os anos. Entre esses agricultores satisfeitos
com seu padrão de vida, está grande parte dos que obtêm as maiores rendas da atividade
produtiva. Fazem parte, também, agricultores com menores renda, mas que são
133
conscientes dos benefícios (econômico, social e ambiental) que estão obtendo desde que
decidiram dedicar-se à produção sustentável.
Dos grupos de agricultores com pouca satisfação (27,4%) e nenhuma
satisfação (13,8%) sobre seu padrão de vida, uma parcela afirmou que o processo de
transição para a agricultura sustentável custa críticas, perseguições e precisa ser desfeito
para estruturar-se novamente; um outro grupo comentou que faltam mais lucros e que o
resultado de seu desempenho pode melhorar. Nota-se nesses agricultores que a maior
insatisfação relacionada ao padrão de vida deriva da pouca produção, levando-os a obter
baixa renda, o que não corresponde às suas expectativas. Um outro aspecto abordado foi
o pouco acompanhamento, em alguns casos, da família, seja por questões de estudos,
doença, entre outros aspectos.
Mesmo não tendo alcançado o grau de contentamento e de desempenho desejados
nas unidades produtivas, todos os agricultores expressaram algum grau de satisfação em
relação a essas unidades, cuja razão atribui-se ao fato de conservar os recursos naturais,
assim como proporcionar um melhoramento geral da propriedade, que se reflete em
maior fertilidade do solo, aumento da produção e da produtividade, maior diversidade,
maior viabilidade econômica, maior independência na produção, mais saúde aos
membros da família, menos custo na produção e melhor retorno econômico. Pode-se
inferir que, na medida em que os agricultores conseguem melhorar os aspectos
econômicos, sociais e ambientais nas unidades, aumenta o grau de satisfação da família.
É importante mencionar que estas razões foram expostas, em sua grande maioria, por
agricultores que têm mais tempo na produção sustentável.
Salienta-se, ainda, que esses agricultores também gostariam de continuar
melhorando nos aspectos técnicos, primeiramente, seguidos dos aspetos econômicos,
sócio-administrativos e ambiental para aumentar a produção. Os citricultores, por
exemplo, manifestaram o desejo de mudar a monocultura, aumentar as vendas dos
produtos diferenciados, como produto ecológico, organizar melhor o inter-
relacionamento com as atividades produtivas na unidade e aproveitar melhor o tempo.
Nas lavouras, segundo a ordem de prioridade, gostariam de manter o solo mais fértil, ter
maior área para manejar e produzir, se possível, durante todo o ano. Considera-se que o
melhoramento do solo, tanto quanto a possibilidade de produzir durante todo o ano,
dependerão do planejamento de estratégias e de readequação de práticas de manejo do
solo e do sistema de cultivo. Para isso, precisaram dispor de condições mínimas como,
por exemplo, variedades apropriadas às condições locais, disponibilidade de irrigação
134
em algumas áreas das unidades, demanda pelos produtos e maior acompanhamento
técnico. Já a utilização de uma área maior poderia ocasionar, em algumas unidades,
maior dependência de insumos, maquinaria e de implementos, como também mão-de-
obra contratada. Para outros agricultores, dispor de maior área seria uma oportunidade
para aumentar a produção sustentável e a renda em sua unidade produtiva.
Os agricultores também gostariam de dispor de acompanhamento técnico
contínuo, de melhorar o planejamento das lavouras e das técnicas usadas para terem
condições de aumentar a produção e a produtividade e de diminuir o uso de insumos na
lavoura convencional, assim como ter mais tempo dedicado à produção sustentável.
Ressalta-se que os agricultores trabalham na perspectiva de reduzir o uso de insumos
nas lavouras convencionais e de dedicar mais tempo às atividades sustentáveis, não
apontando ainda, de forma clara, para o fim da produção convencional em suas
unidades.
Aqueles agricultores que apresentam menor grau de satisfação expuseram que
gostariam de melhorar o aspecto agronômico, econômico e sócio-administrativo nas
unidades, tendo em conta, em última instância, o aspecto ambiental. Especificamente,
eles querem aumentar a produção, comercializar a preços justos e melhorar a infra-
estrutura nas unidades em geral.
Nas lavouras, mais propriamente, gostariam de contar com solos mais férteis,
melhor acompanhamento da família e de técnicos, os quais pudessem contribuir para
melhorar o planejamento nas lavouras e as técnicas de produção. Tudo isso visa a
aumentar a produtividade e a mão-de-obra disponível na unidade, ainda que seja
contratada. Também pretendem fazer canalização e distribuição da água nas áreas de
cultivo, especialmente de produção hortícola e melhorar o manejo. É importante para
estes agricultores o envolvimento da família para continuar com a produção sustentável
em meio da pressão forte dos sistemas convencionais na região. Considera-se que o
melhoramento das condições produtivas destas unidades será possível se houver maior
acompanhamento técnico, com pessoal qualificado no sistema sustentável e financeiro
adequado.
Mesmo considerando a heterogeneidade do grupo, foram verificadas neste
trabalho algumas aspirações comuns, como organizar melhor a unidade, fazendo-a mais
diversificada e produtiva, melhorar a saúde e produzir de forma sustentável em toda a
unidade e divulgar a produção sustentável para que ela aumente de forma geral. Alguns
querem progredir mais, melhorando a infra-estrutura na unidade e aumentando os
135
ganhos; outros, incentivar e motivar os filhos a continuarem trabalhando na produção
sustentável, além de querer aumentar a área de produção. Vários agricultores têm uma
forte vontade e disposição de melhorar as unidades, mesmo quando eles apresentam
deficiência técnica e necessitam de maior assessoria e de um apoio quase que
personalizado.
Algumas aspirações dos agricultores que manifestaram menor satisfação no
padrão de vida são: viver em comunidade, em harmonia com a natureza e, se possível,
organizar a unidade para oferecer turismo rural, industrializar parte da produção obtida,
parar a produção com o sistema convencional, sobretudo o de fumo e livrar-se das
dívidas. Os agricultores que mostraram preocupações com as dívidas contraídas no
sistema convencional não têm conseguido obter a renda suficiente para saldá-las.
Percebeu-se em alguns (poucos) agricultores, na etapa de transição, certo receio
em continuar as atividades produtivas sustentáveis, condicionando-as ao seu sucesso
nessa etapa inicial, mostrando-se a expectativa em continuar no processo de transição
agroecológico de obter resultados econômicos positivos na referida etapa. Essa situação
torna-se difícil pelo fato de encontrar-se na etapa crítica (transição) de maiores riscos na
produção sustentável.
Grande número de agricultores, especialmente aqueles que se mostraram mais
satisfeitos com o resultados obtidos na produção, gostariam que seus descendentes
continuassem na agricultura, organizando melhor a unidade e valorizando a profissão de
agricultor. Eles consideram também que, mantendo-se na produção sustentável, a vida
de seus filhos melhoraria, porque teriam mais autonomia no trabalho e certa proteção
contra o sistema capitalista vigente. Outros vêem que a produção sustentável oferece
maiores possibilidades de emprego, visualizando-a como alternativa segura e saudável
ao emprego. Pode-se observar que, mesmo nas unidades melhor organizadas, os
agricultores manifestaram o desejo de que seus sucessores as melhorassem. Isso indica
o potencial que essas unidades apresentam, mostrando certa visão de longo prazo ou um
compromisso intergeracional.
Procurou-se verificar, dessa forma, a visão de futuro em relação à unidade
produtiva. Optou-se por um horizonte próximo de cinco anos. A quase totalidade das
respostas dos agricultores – de que a produção de base ecológica aumentaria porque a
terra estaria mais fértil e teria-se maior diversidade de espécies deve-se ao fato de
alguns consideram a produção sustentável um bom negócio, já que se reduzem os custos
e se obtém mais produção na unidade, aumentando a oferta e, consequentemente, o
136
consumo dos produtos ecológicos. Consideram também que teriam mais demanda da
assistência dos técnicos; alguns também mostraram-se dispostos a trabalhar em maiores
áreas, ainda que seja como parceiros. O interessante é que eles estão visualizando
melhores condições na fertilidade do solo e maior diversificação de produtos num
futuro. Considerando seu desejo e disponibilidade para superar as dificuldades
apontadas, necessitam de reforço do apoio técnico e financeiro, além das orientações
para superar o problema da fertilidade do solo.
Os agricultores - como responsáveis diretos das atividades de lavoura e criação e
como conhecedores de grande parte da problemática que se enfrenta ao produzir-se de
forma sustentável - dão algumas sugestões dirigidas àqueles que se encontram na etapa
de início desta produção, entre elas: que mantenham a fé, a confiança e a dedicação,
como também força e coragem, iniciando com cautela, prudência, constância e
perseverança. Que tenham vontade e convicção para mudar e que acreditem na
mudança, mantendo-se com disponibilidade para buscar assessoria técnica e que,
organizados, façam continuamente a troca de conhecimentos e de experiências.
É interessante considerar aqui as sugestões que fazem os agricultores para aqueles
que estão enfrentando problemas ou dificuldades na produção sustentável. Para eles, é
necessário manter o otimismo, a perseverança e um maior comprometimento com a
produção, realizar troca de idéias e experiências com outros agricultores, especialmente,
com aqueles que têm sucesso nessa produção; trabalhar, se possível, organizados em
família, buscando o apoio técnico e analisando cuidadosamente as causas dos problemas
para tentar solucionar; aproveitar o potencial que têm disponível, sabendo adaptar-se às
condições que possuem .Além disso, recomendam o trabalho em grupo, compartilhando
sempre as informações e conhecimentos.
Tendo em vista a importância que têm os meios de comunicação na difusão da
agricultura sustentável, quisemos conhecer as percepções que os agricultores tinham a
esse respeito.
5.3 Meios de difusão da agricultura sustentável
A divulgação das práticas e as trocas de experiências na potencialização e na
expansão da agricultura sustentável é um ponto a ser considerado. Em relação a esta
difusão, levou-se em conta a percepção que os agricultores têm a respeito desse fator.
64,7% consideram que os melhores meios para difundir esta produção entre os
137
consumidores são o jornal e as feiras. Outros consideram mais efetivos a televisão
(58,8%); o rádio e as publicações (52,9%); 41,2% confiam nos mercados e 35,3%
percebem a importância dos órgãos do governo na difusão dessa agricultura.
Para uma melhor divulgação e ampliação da produção agrícola sustentável, de
acordo com os agricultores entrevistados, seria necessário, em primeiro lugar,
conscientizar a sociedade sobre os aspectos positivos em termos de uma alimentação
mais sadia e a contribuição desse tipo de produção para a proteção ambiental. Em
segundo lugar, seria indispensável ampliar os conhecimentos técnicos sobre aspectos,
tais como manter maior diversidade nas propriedades e melhor controle de plantas
invasoras. Em terceiro lugar, garantir canais de comercialização, mais estabilidade nos
preços dos produtos, com caráter diferenciado e redução de custos na produção e, por
último, garantir acesso à política de crédito agrícola.
A expansão da agricultura sustentável, de forma geral, segundo os agricultores,
apresenta grande possibilidade, por diferentes razões: pela saúde dos agricultores e
consumidores, pela proteção do ambiente, considerando o fato da harmonização com o
meio, pela redução dos custos de produção, algumas vezes a atração dos preços do
produto e o aproveitamento dos nichos de mercado, também pelo fortalecimento da
proposta da agricultura familiar, a redução no uso de agrotóxicos e a certificação dos
alimentos. Como menos influentes para a expansão desta produção, apontam a
conscientização e os interesses despertados nos produtores que têm maior disposição no
desempenho das diferentes atividades nas unidades as facilidades na comercialização de
alguns produtos e considerar a produção de bases ecológicas, a única maneira de manter
a sustentabilidade do sistema.
Depois de expor algumas percepções dos agricultores, passarei a apontar aspectos
relevantes na percepção dos técnicos e profissionais com respeito ao atual
desenvolvimento e futuro da produção sustentável no Estado.
5.4 Os técnicos e suas percepções
O relacionamento entre técnicos(as) e profissionais da área agropecuária que
atuam em instituições do Estado, em ONGs e cooperativas foi outro aspecto importante
observado. Eles expuseram os objetivos das instituições onde prestam serviços, além de
expor os programas que vêm desenvolvendo, os problemas enfrentados e outros
aspectos gerais de cada instituição. Também expressaram as percepções que têm com
138
respeito às razões ou aos interesses que movimentam os agricultores para produzir de
forma sustentável, o apoio do governo à essa maneira de produzir, o que consideram
que ainda necessita ser oferecido pelo governo aos agricultores para que seja dado um
melhor desenvolvimento desta produção e os benefícios que ela pode oferecer aos
agricultores.
5.4.1 Motivações que movem os agricultores para produzirem de forma
sustentável, segundo a percepção dos técnicos
Nas percepções dos técnicos, eles também identificaram o aspecto econômico como
o maior incentivo que leva aos agricultores a optarem por esta produção e, em segunda,
instância consideram que é a preocupação pela própria saúde e dos membros da família,
devido ao alto índice de intoxicação por uso de agrotóxicos na região. Como pode-se
observar, estas apreciações coincidiram com os resultados da pesquisa com os
agricultores, o que permite inferir que eles buscam melhorar sua saúde mas, sobretudo,
perseguem maiores ganhos com a produção sustentável.
Outras razões expostas, mas consideradas menos determinantes, foram o
aproveitamento das tendências dos mercados; a autovalorização; busca da auto-
sustentabilidade nas unidades e o melhoramento da precária situação econômica e social
na qual vivem alguns dos agricultores nas regiões onde foi realizada a pesquisa, devido
à monocultura do fumo. Essas apreciações coincidem com as posições expostas pelos
agricultores, identificando vários fatores de tipo socio-econômico e ambiental como os
mais importantes motivos para produzirem de forma sustentável. Foi notório, por parte
dos técnicos, a pouca percepção nas motivações de natureza ideológica (como ideal de
vida, produzir alimentos sadios) e só algumas derivadas da conjuntura política, graças
aos financiamentos e capacitações oferecidas pelas instituições do Estado.
5.4.2 Percepções dos profissionais e dos técnicos com respeito à disposição de
crédito por parte do governo de Estado
Os profissionais e os técnicos entrevistados consideram que o apoio oferecido
pelo governo aos agricultores, na produção sustentável, é importante, significativo e
fundamental para o seu avanço. Alguns consideram que ainda é insuficiente, tendo em
vista que as dificuldades para o desenvolvimento desta agricultura no Estado são muitas
139
e requerem maior investimento no aspecto financeiro, especialmente no crédito agrícola.
Alguns consideram necessária uma reforma metodológica em todos os níveis, e que se
dê prioridade a programas educativos em nível formal e não formal, além de
capacitação profissional para técnicos e agricultores.
Salienta-se ainda que outros consideram que o governo do Estado deveria apoiar
o desenvolvimento dessa produção nos aspectos financeiros, fortalecendo os incentivos
desta produção, ampliando as linhas de créditos da produção para questões específicas
(irrigação, máquinas e equipamentos apropriados), oferecendo maior apoio à
comercialização direta dos produtos, criando canais ou pontos de comercialização;
também, criando um seguro agrícola contra riscos à produção sustentável, sobretudo
para o pequeno agricultor familiar. Nas questões técnicas, precisa-se fortalecer o
desenvolvimento de tecnologias locais por meio de parcerias,
técnicos/produtores/governo e incluir semente de adubo verde de inverno e de verão no
sistema vigente de “troca-troca”. Nas questões de políticas públicas, precisa-se reformar
a legislação das agroindústrias, fazendo-as mais flexíveis aos agricultores; fortalecer as
informações à população consumidora sobre a importância dos alimentos “limpos”,
mediante os meios de comunicação (televisão, rádio, jornais, revistas, etc); investir
ainda mais em recursos humanos (aumentando agentes de extensão, estrutura física e
locomotora que facilite o monitoramento dos trabalhos iniciados, evitando-se assim a
descontinuidade no monitoramento e na assessoria aos agricultores).
Tomando como referência as percepções dos profissionais e técnicos, aprecia-se
que, em questão de crédito para programas e projetos da envergadura da produção
sustentável no Estado, a possibilidade de os recurso serem insuficientes à disposição
dos agricultores interessados, e que deveria ser dada prioridade ao financiamento da
produção àqueles agricultores com maior dedicação e melhores resultados. Assim, além
de premiar-lhes, sirvam de exemplo e estímulo aos que mostrassem indecisão ou pouca
entrega à produção nas unidades, considerando-se que também poderia servir como
monitores nas atividades produtivas da vizinhança. Portanto, considera-se de muita
importância financiar a ampliação e o fortalecimento dos canais de comercialização, já
que este é um dos maiores entraves que vêm enfrentando esta produção, mostrando a
possibilidade de agravar-se, se continuar o estímulo à produção sem a devida ampliação
desses canais.
Outro aspecto considerado importante para ser financiado são as pesquisas na
identificação de plantas locais que possam servir de cobertura, já que o reconhecimento
140
de espécies locais nas propriedades, formando simbiose com as culturas do interesse
dos agricultores, especialmente para áreas de cultivos anuais, pode ser considerado um
importante avanço no caminho da sustentabilidade dos sistemas de produção,
possibilitando manter a diversidade e conservando melhor o solo.
5.4.3 Benefícios que a produção sustentável oferece aos agricultores segundo
a percepção dos profissionais e técnicos entrevistados
Vários são os benefícios apontados que os agricultores podem obter com a
produção sustentável, segundo as apreciações dos profissionais e técnicos. Entre eles,
estão: o desenvolvimento sustentável nas unidades, viabiliza a produção rentável na
agricultura familiar, a redução dos custos de produção; possibilita trabalho às famílias
nas unidades, permitindo, condições de emprego e de renda para que os agricultores
possam permanecer nas atividades produtivas, dispondo de produtos alimentícios mais
“limpos”, contribuindo para melhorar sua saúde, da população e do ambiente,
conservando os recursos naturais, especialmente a terra, com a recuperação de solo, da
água, da flora, da fauna e a preservação da vida, permitindo, se possível, promover o
ecoturismo rural.
Os técnicos, analisando algumas questões pessoais dos agricultores com respeito
aos resultados da produção sustentável, consideram que esta oferece-lhes maior
independência na produção, podendo produzir maior diversificação de produtos, com
menor uso de insumos externos nas unidades de produção e também com maior
autonomia frente aos mercados convencionais, além de contribuir com a maior auto-
estima dos agricultores e a valorização do trabalho, potencializar a organização e
estimular o desenvolvimento de tecnologias apropriadas a suas condições.
Ao refletir sobre os benefícios que, segundo os profissionais e técnicos podem
obter os agricultores com esta produção, não há duvida alguma de que isso é uma
realidade. Mas, considera-se que só se consegue com muito apoio, persistência,
dedicação e preparação por parte dos agricultores. Esses benefícios vêm interligados uns
aos outros; pode-se dizer que a consecução de um deste é suporte para que outro(s)
possa emergir e se fortalecer, por isso necessita-se de um bom alicerce para alcançar-se
maiores benefícios com a sustentabilidade das unidades produtivas.
141
Ao analisar-se esses benefícios com as observações realizadas em campo, pode-
se apontar que vários estão presentes nas unidades produtivas, sobretudo naquelas
melhor organizadas.
Os profissionais e os técnicos consideram que parte destes benefícios podem ser
alcançados no presente pelos agricultores pesquisados, dependendo de seu interesse,
atitude e dedicação, podendo, no futuro, obter maiores benefícios representados em
melhor proteção dos recursos naturais disponíveis, principalmente o solo, com a
recuperação de suas condições físicas, químicas e biológicas, sustentabilidade
econômica e ambiental, representadas em maiores índices de estabilidade na produção e
no saneamento ambiental das unidades e da região. Além disso, contribui com seu
bem–estar, com mais saúde, trabalho, emprego e renda nas áreas rurais, como também
lhes permite possibilidade de contar com maior independência do sistema agronegócios
vigente, e o fortalecimento da agroindustrialização de produtos com maiores opções
para o desenvolvimento do ecoturismo nas regiões; a ativação da economia no setor
rural e na cidade; mais justiça social no campo e na cidade e o aumento na auto-estima
dos agricultores, contribuindo para tornar mais digna e valorizada a profissão do
agricultor, na medida em que as condições e os resultados da produção sejam melhores.
As experiências têm demostrado que é possível conseguir os benefícios, tanto no
presente como no futuro, apontados pelos técnicos e profissionais, mas, é necessário
insistir para que se consiga a sustentabilidade futura em qualquer unidade produtiva, e
intervir o menos possível nos recursos naturais, sobretudo o solo, que é a base da vida e
o êxito de toda produção organizada. Considera-se que, se for garantido o apoio
financeiro da produção, melhorem-se e ampliem-se os canais de comercialização, e que
o solo tenha melhor manejo direcionado à conservar sua fertilidade, o uso de agrotóxico
seja reduzido à mínima quantidade e, se possível, eliminados nas unidades produtivas.
Entretanto, mesmo que qualquer benefício apontado pelos técnicos possam ser
alcançados, considera-se que são várias as questões que ainda têm que se fazer para
conseguir um pleno desenvolvimento sustentável em grande parte das unidades
produtivas pesquisadas.
Alguns técnicos consideram que esta produção constitui uma mudança
socioeconômica para qualquer região, já que, entre outros aspectos, está, de certa forma,
direcionada a desenvolver tecnologia alternativa na produção de alimentos limpos (que
é quase a tendência mundial). Os técnicos mostram-se seguros na sua expansão, em
nível de Estado, ainda que seja com problemas. Consideram inclusive que o apoio às
142
políticas e incentivos do governo, a disponibilidade, a dedicação e a decisão que
demonstram alguns agricultores, além do comprometimento que um número crescente
de instituições governamentais e não governamentais apresentam, estão contribuindo no
desenvolvimento dessa produção no Estado. Mas também se considera que, no
processo de transição para esta agricultura, encontram-se agricultores influenciados pela
desconfiança e o receio, levando em conta iniciativas mal sucedidas anteriormente.
Segundo as percepções dos técnicos, várias são as razões que levam muitos
agricultores a não optarem pela produção sustentável. Entre elas estão: a necessidade
que apresentam de imediato retorno na produção, as exigências de mudanças, desta
produção e a resistência de muitos agricultores, em especial, daqueles em que a
estrutura física da unidade e sua estrutura mental estão organizados há muitos anos no
sistema convencional, alicerçadas especialmente na produção de fumo. Essas
produções assegura-lhes renda todos os anos, mesmo em condições climáticas
adversas, além dos incentivos que oferece aos agricultores financiamento a longo prazo
e a juros baixos.
Outras razões expostas foram a acomodação de alguns agricultores no trabalho
que é possível na produção de fumo, frente às grandes exigências da produção
sustentável, em mais mão-de-obra, ao menos no início do processo; conhecimentos
sistêmicos, pela mesma complexidade dos sistemas; insegurança quanto a tecnologias
de produção sustentável disponível (poucos acreditam na viabilidade das poucas
tecnologias apropriadas existentes); alguns manifestaram o medo de enfrentar a
possibilidade de não encontrar saída à produção (comercialização); o fato de estar
descapitalizados aumenta o medo e a insegurança na produção, visto que, com o
insucesso no início da produção, o agricultor ficaria ainda mais descapitalizado para
reinvestir nas unidades produtivas. Consideram, em síntese, alguns profissionais e
técnicos que, entre as principais razões do receio que apresentam os agricultores, estão:
a falta de conscientização nos benefícios que podem produzir , além da importância que
oferece a produção sustentável no bem-estar das famílias e a necessidade que se tem de
produzir ecologicamente para o bem de todos, as populações e o ambiente em geral.
Diante desta situação, aprecia-se claramente que uns dos fatores que intervêm
determinantemente nesta decisão é o fator econômico. Seja na descapitalização dos
agricultores ou risco de expor a renda que estão obtendo. Este posicionamento mostra a
fragilidade que apresentam os mercados dos produtos de bases ecológicas, frente a
certa segurança dos sistemas convencionais e considerando-se normal esta situação em
143
regiões é áreas com pouco período de tempo no processo de transição para esta
agricultura. Esta situação leva à necessidade de criar novos mercados para os novos
produtos, impulsionados pelo o estimulo desta produção. Aprecia-se que se tem muito a
fazer para reverter esta situação, considerando-se importante estudar, nas regiões, as
potencialidades dos mercados destes produtos e a organização de estratégias que
permitam explorar-lhes e fortalecer os canais de comercialização existentes.
Outro aspecto que deve ser considerado, de acordo com os técnicos, é que alguns
agricultores que estão experimentando com ambos sistemas (convencional e
sustentável) e obtém bons ganhos no sistema convencional, percebem muitas
possibilidades de se manterem nesse sistema. Por isso sugere-se persistir no
fortalecimento daquelas unidades que apresentam menores ganhos, tendo em vista a
população mais vulnerável pelo sistema vigente (convencional), podendo-se tentar
desenvolver neles a sensibilidade para a adoção definitiva da produção sustentável,
ressaltando a importância que tem a produção de bases ecológicas para todos.
Outras percepções dos técnicos entrevistados foram com respeito ao
desenvolvimento da produção sustentável no Estado, considerando que essa será a
prioridade do governo, mostrando possibilidades de expandir-se e comprometer-se com
maior número de agricultores, técnicos, políticos e consumidores, contribuindo para
diminuir o gasto na área da saúde, promoção do saneamento ambiental e o futuro
promissor aos agricultores e consumidores comprometidos com ela. Considera-se que
tudo isso pode acontecer com maior planejamento na produção e na busca de sua
consolidação, através de estratégias e metas a curto prazo que contribuam como
alicerce ao desenvolvimento de metas a longo prazo, com a intervenção decisiva dos
agricultores, técnicos, profissionais, além de muito apoio por parte do governo de
Estado.
Considera-se também de muita importância o fato de conhecer e levar em conta
os propósitos e metas dos agricultores, igualmente suas prioridades para compreensão
de seu comportamento, posicionamento e a razão de suas decisões.
Considera-se que o otimismo, dedicação e desempenho demonstrados pelos técnicos e
pelos profissionais que trabalham no desenvolvimento desta produção, contribuem
eficientemente para o avanço e o fortalecimento desta agricultura no Estado em maior
número de agricultores que possam apresentar nas unidades produtivas.
Dessa forma, verifica-se que, na produção sustentável, deve-se fortalecer, entre
suas prioridades, um melhor ganho para os agricultores, considerando uma possível
144
análise mais minuciosa das unidades produtivas, onde seus proprietários optarem por ela
e apresentarem bom desempenho no aspecto socioeconômico e ambiental, buscando,
com isto, contar com ferramentas práticas que possam contrapor, em parte, à visão que
alguns têm da pouco produtiva e de baixa renda da produção de base ecológica. Além
de insistirem na organização e realização das práticas agroecológicas de forma
planejada e controlada, de tal forma que possa reduzir os riscos na produção e,
juntamente com este controle, organizar os registros de produções por culturas e em
forma integral das atividades produtivas nas unidades.
Ao se expor estratégias desta índole, demanda-se, além da presença técnica.
Exige-se, assim, maior dedicação e entrega dos agricultores e suas famílias e um forte
desejo por contribuir com o desenvolvimento de ações que, além de beneficiá-los,
possam servir de estímulos e motivações para outros agricultores, participando também
de um melhor desenvolvimento desta produção, da qual seus benefícios traspassam as
fronteiras agrícolas.
145
CAPÍTULO 6
6. CONCLUSÕES e SUGESTÕES
Ao caracterizar-se e analisar-se a situação das unidades, emergem as seguintes
conclusões gerais:
Além do objetivo de obter maiores lucros com a produção sustentável, observa-se,
também, o desejo de melhorar o bem-estar familiar e a reprodução de seu patrimônio, o
que, em muitos casos, norteia suas decisões e ações.
Mais de 65% das unidades têm viabilidade econômica com geração de renda que
lhes permite a capitalização e o investimento na produção. Nas restantes, os agricultores
e suas famílias passam por dificuldades econômicas, mas podem obter renda bruta
superior a dois salários mínimos, quantia que apenas lhes permite sobreviver dentro de
limites bem restritos.
Foram identificados os seguintes problemas para o desenvolvimento das atividades
produtivas:
- falta de pesquisa e de estudo na área, em virtude do grande desequilíbrio
causado pelo mau uso dos recursos e o uso de agrotóxicos;
- falta de experiência, informação e conhecimento técnico por parte dos agentes
de extensão, influindo nisso sua formação convencional. Há pouca
disponibilidade de mão-de-obra qualificada para atender às exigências da
agricultura sustentável;
- pouca disponibilidade de mão-de-obra familiar em algumas unidades;
- problemas com o controle de pragas, doenças e de plantas companheiras;
- os agricultores adotam várias práticas e procedimentos conservacionistas, mas a
mobilização intensiva do solo é marcante nas unidades produtivas;
- falta de maquinarias e equipamentos apropriados para esta produção;
- grande parte das unidades produtivas apresenta pouca diversidade e falta de
integração das atividades agrícolas, de criação e florestais;
- grande parte dos agricultores apresentam forte dependência dos insumos
externos, incluindo matéria orgânica, pela falta de disponibilidade em suas
unidades;
146
- somado a isso, 35% das unidades apresentam parcelas sob sistema convencional
com uso de agrotóxicos que, direta ou indiretamente, contribuem para a
contaminação do solo e da água;
- além das grandes dificuldades técnico-agronômicas que enfrentam os
agricultores, ocorrem também problemas com a comercialização dos produtos;
- falta de mercado para os produtos da época, contrastando com a falta desses
para atender à demanda fora de safra;
- falta de estudo de mercado e planejamento na produção direcionada á demanda
real dos produtos;
- a falta de parcerias entre órgãos de pesquisas, agricultores e os fabricantes de
maquinarias;
Alguns aspectos positivos observados no desenvolvimento da pesquisa que
merecem ser ressaltados foram:
- A ativa participação de alguns jovens nas atividades produtivas alterna-se- com
os estudos ou tarefas do lar. Eles manifestam o desejo de permanecer nas
atividades produtivas, seja como técnico ou seja como produtor, desde que
contem com melhores condições nas unidades. Esse posicionamento foi
compartilhado também pelos país desses jovens.
- Ressalta-se o otimismo, entusiasmo e motivação percebidos em vários
agricultores para contribuir com o desenvolvimento de estudos e pesquisas que
levem à sustentabilidade dos agroecossistemas;
- Alguns agricultores, mesmo com menor retorno econômico, e com os risco de
mudanças que envolvam incertezas, enfrentam com otimismo a situação.
Constatou-se, também, algumas potencialidades nas atividades produtivas, tais
como:
- o desejo, a disposição e o agir de alguns agricultores na busca de alternativas ao
processo de comercialização;
- a contribuição do governo do estado no desenvolvimento do desafiante caminho
da expansão e consolidação da produção sustentável.
- A maioria dos agricultores pesquisados reconhece na produção sustentável
possibilidades de melhorar seu bem-estar e a dos consumidores melhorando a
saúde, além de possibilitar a obtenção de maior ganho econômico na produção.
147
SUGESTÕES
A par das conclusões antes mencionadas, cabem as seguintes sugestões:
- reforçar a gestão nas unidades no que diz respeito à organização e à
implementação de estratégias no manejo de solo;
- intensificar as pesquisas para identificar espécies nativas que possam ser
utilizadas como cobertura verde;
- estimular a integração lavoura–criação e atividade florestal nas unidades,
potencializando e aumentando a produção animal;
- motivar os agricultores de citrus à diversificação na produção. E, se possível,
fazer parcerias para a distribuição da compostagem a agricultores não sócios
dessa cooperativa;
- além de oferecer aos agricultores capacitação e orientação no aspecto
econômico-administrativo da produção, seria bom envolver os filhos nesse
processo e, se possível, buscar o apoio das escolas rurais para a utilização de
estratégias escolares com orientações sobre questões básicas da administração e
controle nas atividades produtivas;
- considera-se necessário que as políticas públicas do estado estendam-se aos
centros de formação nos diversos níveis para tratar, se possível, de contribuir
com a implementação na educação formal do estudo da agroecologia;
- fortalecer a integração agricultor–técnico–profissional nas pesquisas;
- desenvolver tecnologias que poupem mão-de-obra e agridam menos o solo;
- fortalecer as estratégias de conscientização dos agricultores para a proteção do
ambiente;
- fortalecer os atuais mecanismos de comercialização dos produtos e,
paralelamente, organizar estratégias que contribuam com seu incremento;
- considera-se necessário fortalecer a organização e o planejamento da produção
de maior número de agricultores de acordo a aptidão agrícola de cada
microrregião, estimulando a comercialização entre elas e entre regiões,
requerendo respaldo do governo de estado, especialmente nas etapas iniciais de
implementação dessas estratégias;
- reduzir a dependência de recursos externos;
- sugere-se acompanhamento técnico para o levantamento dos dados do custo de
produção e dos dados de produtividade nas culturas;
148
- como não é fácil para os agricultores conservar o ambiente e obter renda que
lhes permita manter o bem-estar familiar, considera-se importante o
desenvolvimento de mais pesquisas com a participação deles, nas quais se tente
identificar os pontos de estrangulamento para a expansão dessa agricultura.
O relacionamento com os agricultores, o interesse pelo avanço da agricultura
sustentável em prol do bem-estar do pequeno agricultor e o desenvolvimento deste
trabalho levam a ressaltar sugestões para estudos e pesquisas das questões anteriormente
expostas, considerando que podem contribuir significativamente com o
desenvolvimento desta produção:
- a realização de estudo de mercado na busca de estratégias dirigidas a fortalecer
os canais de comercialização dos produtos em forma local, regional, nacional e,
se possível, internacional, como suporte para a expansão desta produção;
- obtenção de dados de custo de produção e produtividade dos produtos,
facilitando condições aos agricultores para que, após esse período, fiquem com
condições de atualizar continuamente os dados. Considera-se muito importante o
envolvimento dos jovens e das mulheres nesse processo;
- Sugeri-se também pesquisas para tratar de eliminar ou reduzir o trabalho manual
(penoso) e o uso de herbicidas, considera-se que uma estratégia poderia ser a
identificação de espécies locais que possam servir como cobertura,
especialmente, nas áreas de cultivos anuais e hortícolas.
149
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, J. A construção social de uma nova agricultura : Tecnologia agrícola emovimentos sociais no sul do Brasil. Ed Universidade UFRGS, Porto Alegre. p. 65-67. 1999.
ALTIERI, Miguel A. Agroecologia : As bases científicas da agricultura alternativa. Riode Janeiro: PTA/FASE, p.28-31. 1989.
ALTIERI, Miguel A. Agroecologia : A dinâmica produtiva da agricultura sustentável.ed. da Universidade UFRGS, Porto Alegre. p.60-61. 2000
ALTIERI, Miguel A. Agroecologia : Bases científicas para una agricultura sustentable.Santiago: CLADES. p.17-21. 1995
ALVES, Glaci. Entrevista concedida pela Coordenadora do Ecotec. Coolméia. maio2001
BAVER, L.D et alli. Física do solo. UTEHA. México. 529 p. 1973.
BLEY Jr., Cícero. Erosão solar: riscos para a agricultura nos trópicos. Ciência Hoje ,Rio de Janeiro, v. 25,n. p.24-29. 1999.
BONILLA, J. A Fundamentos da agricultura ecológica : Sobrevivência e qualidadede vida. Ed. Nobel, São Paulo. p.145, 231-234. 1.992.
BRASIL, Instrução Normativa N° 007 do Ministério da Agricultura e doAbastecimento, maio de 1999. Diário oficial da União, Brasília, n° 94 , Seção1,p.11, 19. maio 1999.
CANUTO, J. C. Agricultura ecológica familiar, mercados e sustentabilidadesocioecologia global . Agricultura familiar. Desafios para a sustentabilidade.Coletânea. Aracaju: Embrapa-CPATC, SDR/MA. p.36. 1998.
CAPORAL, F. R. Entrevista concedida pelo Diretor Técnico da Emater-RS. PortoAlegre, maio 2001.
CAPORAL, F. R.; COSTABEBER J. A Agroecologia e Desenvolvimento RuralSustentável : Extensão rural inicia transição agroecológica. Porto Alegre:EMATER/RS. p.26. 2000.
______________________________________. Agroecologia e DesenvolvimentoRural Sustentável : Perspectivas de uma nova extensão rural. Porto Alegre:EMATER/RS. p.31 – 32. 2001.
150
CEPAGRI. Agricultura alternativa ecológica. Livro verde. Caçador. SC. 37, p.47-50.1991.
CHABOUSSOU, F. A teoria da trofobiose : Novos caminhos para uma agriculturasadia. ed. Arte Composição Ltda. Porto Alegre. p.9. 1993
CLARO, S.A Referências tecnológicas para a agricultura familiar ecológica : Aexperiência da região Centro-Serra do Rio Grande do Sul. EMATER/RS-ASCAR.Porto Alegre. p.25-43 . 2001.
DAROLT, Moacir. R. As dimensões da sustentabilidade: Um estudo da agriculturaorgânica na Região Metropolitana de Curitiba, Paraná : Meio Ambiente eDesenvolvimento. Curitiba 2000 (Tese de Doutorado) Universidade Federal doParaná. p.71.
_____________________ Estado e características atual da agricultura orgânica nomundo. Revista Brasileira de Agropecuária. Ano 1 - nº 9. São Paulo. p.47-48.2001.
DESER. Informativo de conjuntura agrícola e comercialização do Alto Uruguai, . N°1.maio-junho 2001.
DURAND, D. La Systémique. Que sais-je? 8 édition. Paris:Presses Universitaires deFrance . p.128. 1998.
EHLERS, Eduardo. M. O que se entende por agricultura sustentável. São Paulo.
1994. Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais) USP
___________________. Agricultura sustentável. Origens e perspectivas de um novoparadigma. 2 a ed. Ed. Agropecuária Guaíba. p.102-103. 1999
___________________. Agricultura Alternativa : uma perspectiva histórica RevistaBrasileira de Agropecuária. Ano 1 - nº 9. São Paulo. p.24 -37. 2001.
EMATER/RS. Informe do setor primaria do Rio Grande do Sul 1994.
_____________ Revista Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável : ExtensãoRural inicia transição agroecológica, VI. nº 1, Porto Alegre. jan/mar, p.5-6. 2000.
____________Levantamento de dados da produção de bases ecológicas no Rio Grandedo Sul. Ascar. Porto Alegre jan/ fev, 2001
Enciclopédia Mirador Internacional, Encyclopaedia Britannica do Brasil PublicaçõesLtda. São Paulo – Rio de Janeiro – Brasil. p.9.944, 9.946-9.947. 1995.
FAGUNDES, A. A. História do Rio Grande do Sul. Martins Livreiro: Porto Alegre,1997
151
FEPAGRO. Proposta de revitalização da pesquisa agropecuária estadual. PortoAlegre. março 2001.
FLORES, M.X. et al. Novos desafios da pesquisa para o desenvolvimento sustentável.Revista agricultura sustentável. Jaguarúna, v.1, n°1. p.13-15. jan/abr. 1994
Grande Enciclopédia Laureasse Cultural. Nova Cultura Ltda., p.5.069-5.070.1.998
GONÇALVES, C. W. P. Os (des) caminhos do meio ambiente. 5 ed. São Paulo:Contexto. p.16. 1996
HAWKEN. P., LEVINS. A., HUNTER. L., Natural. Capitalism. Creating the nextindustrial revolution. Little, Brown And Company. Boston New York Londres. p.189-198. 1999.
IBGE. Censo Agropecuário - 1995/1996, n°1 Rio de Janeiro: IBGE, 1998
IBGE Rio Grande do Sul. Disponível no site http://www.ibge.gov.br/cidadesat/ default.php.acesso novembro 2001.
JONES, A. da S; BRESSAN, M Produção familiar, pós-modernismo e capitalismo :Possibilidades da agricultura independente. Revista Agroecologia eDesenvolvimento Rural Sustentável. Porto Alegre EMATER/RS. v.1, n°1, p.39-44 jan/mar 2000.
KHATOUNIAN, C. A. A reconstrução ecológica da agricultura. Botucatu SP. ed.Agroecológica. p.38-40, 61, 241. 2001
LAMARCHE, H (coord.). A agricultura familiar: uma realidade multiforme.Campinas: Editora da UNICAMP, vol II. p.19. 1993.
LEVANTAMENTO E RECONHECIMENTO DOS SOLOS DO ESTADO DO RIOGRANDE DO SUL, Ministério da Agricultura. Recife. p.12, 18-20, 23-24, 90-92,95-97, 134-136, 154-156, 184-186, 190-196. 1973.
LAMPKIN. N., Organic Farming : Sustainable agriculture in practice. Londres: Cab.Internacional. 1996.
LAMPKIN. N. e PEDEL. S., The Economic of Organic Farming. An internationalperspective. Londres: Cab. Internacional. 1996.
MACROZONEAMENTO AGROECOLÓGICO E ECONÔMICO ESTADO DO RIOGRANDE DO SUL. Governo de Estado do Rio Grande do Sul. Secretaria daagricultura e abastecimento Volume II. Porto Alegre. 1994.
MAY, Peter. H e MOTTA, Ronaldo S. da. “Valorizando a natureza” : Analiseeconômica para o desenvolvimento sustentável. ed. Campus. p.99,118. 1994.
MELLO, R. Análise energética de agroecossistemas: o caso de Santa Catarina.Florianópolis. 1986 (Tese de Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina.
152
MESQUITÁ, Zila. Certificação de produtos orgânicos: Percepções no setor deEcotecnologia – Ecotec da Cooperativa Ecológica Coolméia: primeirasaproximações. Porto Alegre. Escola de Administração/PPGA/UFRGS. p.17. 2002.
MONEGAT, C. Avaliação multidimensional do desempenho de três sistemas demanejo de solo sob cultivos consorciados e em sucessão e com uso de traçãoanimal e força braçal humana. Florianópolis 1998 Dissertação (Mestrado emAgroecossistemas) CCA UFSC. p.23.
_______________ Cobertura vegetal do solo: Importância, manejo e benefícios.ACARESC. Chapecó SC. p.20. 1991
MORAES A. de S., I ALVES, S. J. et al. Integração lavoura-pecuária. In: Reunião deGrupo Técnico em forrageira do Com Sul – Zona Campos, XIX. Maringá, UEM,2000 Anais.
MORENO, J.A. Clima do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. p.12. 1961.
NEVES, D. P. Agricultura familiar . Desafios para a sustentabilidade. Coletânea.
Aracaju: Embrapa-CPATC, SDR/MA. p.13-16. 1998.
PAULUS, G. Do padrão moderno à agricultura alternativa: Possibilidades detransição. Florianópolis 1999. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas). CCA.UFSC. p.100 – 101.
PINHEIRO MACHADO, L.C. Definição de agricultura sustentável. Apontamento deaula. Curso de Pós-Graduação em Agroecosssistemas 1998. CCA/UFSC.Florianópolis.
________________________ Definição de agricultura sustentável. Apontamento deaula. Curso de Pós-Graduação em Agroecosssistemas. 2000. CCA/UFSC,Florianópolis.
PINHEIRO MACHADO, P. T. (Fundação Getúlio Vargas) Correio do Povo. PortoAlegre. p.8. 29 de Maio. 2002.
PINHEIRO, S. L. G O enfoque sistêmico na pesquisa e extensão rural, (FSR/E): Novosrumos para a agricultura familiar ou apenas a reformulação de velhos paradigmasde desenvolvimento? In: ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA EMSISTEMAS DE PRODUÇÃO, 2. (1995: Longrina) Anais. Londrina: IAPAR.p.22-52. 1995.
________________________ O enfoque sistêmico e o desenvolvimento ruralsustentável: Uma oportunidade de mudança da abordagem hard-systems paraexperiências soft-systems. Revista Agroecologia e Desenvolvimento RuralSustentável. v.1, n°2. Porto Alegre. p.27-28. abr/jun 2000
153
PNUD. Relatório do Desenvolvimento Humano 1997. Ed. Trinova Lisboa. p.245.1997.
PRETY, Jules. N. Regeneratin agriculture : Policies end practices for sustainabilityand self-reliance. Londres: Earthscan publications ltda, 320 p. 1995.
Revista Bioagricultura Qualità nutrizionale degli alimenti biogici. da AssociaçãoItaliana para a Agricultura Biológica, Vignola, MO. p.28. maio – junho 1995.
SAHLINS, Marshall. Cultura e razão prática. Rio de Janeiro: Zahar, 1979
SANTOS, I. I. dos. Promotores de crescimento na alimentação de frango de corte:Desempenho zootécnico e análise de resíduos (antimicrobianos) na cama deaviário. Florianópolis 2002. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) CCA.UFSC. p.78.
SILVESTRO, M. L; ABRAMOVAY, R.; MELLO, M. A.; DORIGON, C.;BALDISSERA,(averiguar se deixar o cambiar por et. Al.) I. T. Os impasses sociaisda sucessão hereditária na agricultura familiar. Florianópolis: Epagri; Brasília:Nead/Ministério de Desenvolvimento Agrário, p.25-30. 2001
UOL. Notícias. Economia. Disponível site www.noticias.uol.com.br/economia, acessado,20/08/02
WANDERLEY, Maria N B. Raízes históricas do campesinato brasileiro. In:TEDESCO, J.C: Agricultura familiar: realidades e perspectivas. 2. Ed. PassoFundo: EDIUPF. p.21-55. 1999.
WOORTMANN, Klaas. “ Com parente não se neguceia: o campesinato como ordemmoral”. In Anuário Antropológico. Brasília: UnB, n. 87. p.11-73. 1990.
ZAMBERLAN, J.; FRONCHETI, A. Agricultura alternativa : Um enfrentamento àagricultura química. 2ª edição. Ed. P. Berthier. Passo Fundo p.83-87, 103-107. 1994.