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EXPERIMENTOS FÍSICOS NAS SALAS DE AULA DO ENSINO FUNDAMENTAL: MEIO DE ACESSO À LINGUAGEM FÍSICA Guilherme Urias a [[email protected]] Alice Asiss b [[email protected]] a UNESP – Universidade Estadual Paulista, Campus de Guaratinguetá – Cursinho da Feg b UNESP – Universidade Estadual Paulista, Campus de Guaratinguetá - DFQ R ESUMO Neste artigo, propomos o uso de experimentos no ensino fundamental (alunos a partir de sete anos), a fim de que se possa aproveitar a natural curiosidade dos alunos para trabalhar os conceitos físicos presentes no seu cotidiano, introduzindo a linguagem científica na sua estrutura cognitiva, pois a falta dessa linguagem pode ser uma das causas das dificuldades no aprendizado dos alunos quando estiverem no ensino médio. No entanto, nos deparamos com o problema da má formação dos profissionais que lidam com as crianças nas primeiras séries do ensino fundamental, que não possuem embasamento teórico mínimo para ensinar e exemplificar os fenômenos físicos a partir de experimentos. Levantamos esse problema da formação dos professores de Ciências, a fim frisarmos a necessidade de que conceitos específicos sobre a física poderiam estar presentes na formação acadêmica desses professores, visando facilitar o seu trabalho com os alunos por meio de experiências relacionadas aos diversos tópicos da física. Isso viabilizaria a introdução da física, por meio de experimentos de fácil compreensão, no ensino fundamental, o que poderia propiciar aos alunos a motivação para aprenderem essa disciplina , bem como colocá-los em contato com a ciência, despertando o pensamento crítico e aperfeiçoando a percepção dos fenômenos por meio da observação. Assim, acreditamos que o processo de construção da rede de significados físicos, a partir da obtenção de subsunçores ligados à física, pode ser facilitado se iniciado no ensino fundamental. Com isso, consideramos que o ensino de física pode ser priorizado nessa fase, visando à formação dos subsunçores necessários para aprendizagem dessa disciplina no ensino médio. I NTRODUÇÃO A busca da superação de um ensino de Física pautado em resoluções automáticas de equações desprovidas de significado conceitual para os estudantes é crescente. Para uma aprendizagem significativa, se faz necessário que o professor propicie o entendimento dos conceitos físicos, por meio de discussões acerca dos conteúdos em questão, a partir das concepções prévias dos estudantes. Para isso, é preciso que o professor, no papel de facilitador, encontre uma forma qualitativa de transformar a teoria em prática, ou seja, buscar meios didáticos que estabeleçam as ligações necessárias para a efetiva compreensão dos fenômenos físicos e, assim, fornecer uma visão diferenciada do mundo que o cerca. Neste trabalho sugerimos a utilização de um modelo que pode facilitar o processo de aprendizagem dos conceitos físicos, a partir da formação de uma rede de significados que é estabelecida quando o aluno associa os fenômenos físicos ao seu cotidiano. Nessa perspectiva, “o conhecimento pode ser visto como uma rede de significados, em permanente processo de transformação”, de modo que os significados se modificam a cada nova relação entre os referidos conhecimentos, uma vez que “a cada nova interação, a cada possibilidade de diferentes interpretações, uma nova ramificação se abre, um significado se transforma, novas relações se estabelecem, possibilidades de compreensão são criadas” (SMOLE). Na tentativa de criação dessa rede de significados, propomos o uso de experimentos no ensino fundamental (alunos a partir de sete anos), a fim de que se possa aproveitar a natural

Experimentos fisicos na sala de aula

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Artigo científico de Guilherme Urias e Alice Assiss sobre ensino de Física no Ensino Fundamental

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  • EXPERIMENTOS FSICOS NAS SALAS DE AULA DO ENSINO FUNDAMENTAL: MEIO DE ACESSO LINGUAGEM FSICA

    Guilherme Urias a [[email protected]] Alice Asissb [[email protected]]

    aUNESP Universidade Estadual Paulista, Campus de Guaratinguet Cursinho da Feg

    bUNESP Universidade Estadual Paulista, Campus de Guaratinguet - DFQ

    RESUMO

    Neste artigo, propomos o uso de experimentos no ensino fundamental (alunos a partir de sete anos), a fim de que se possa aproveitar a natural curiosidade dos alunos para trabalhar os conceitos fsicos presentes no seu cotidiano, introduzindo a linguagem cientfica na sua estrutura cognitiva, pois a falta dessa linguagem pode ser uma das causas das dificuldades no aprendizado dos alunos quando estiverem no ensino mdio. No entanto, nos deparamos com o problema da m formao dos profissionais que lidam com as crianas nas primeiras sries do ensino fundamental, que no possuem embasamento terico mnimo para ensinar e exemplificar os fenmenos fsicos a partir de experimentos. Levantamos esse problema da formao dos professores de Cincias, a fim frisarmos a necessidade de que conceitos especficos sobre a fsica poderiam estar presentes na formao acadmica desses professores, visando facilitar o seu trabalho com os alunos por meio de experincias relacionadas aos diversos tpicos da fsica. Isso viabilizaria a introduo da fsica, por meio de experimentos de fcil compreenso, no ensino fundamental, o que poderia propiciar aos alunos a motivao para aprenderem essa disciplina , bem como coloc-los em contato com a cincia, despertando o pensamento crtico e aperfeioando a percepo dos fenmenos por meio da observao. Assim, acreditamos que o processo de construo da rede de significados fsicos, a partir da obteno de subsunores ligados fsica, pode ser facilitado se iniciado no ensino fundamental. Com isso, consideramos que o ensino de fsica pode ser priorizado nessa fase, visando formao dos subsunores necessrios para aprendizagem dessa disciplina no ensino mdio.

    INTRODUO

    A busca da superao de um ensino de Fsica pautado em resolues automticas de equaes desprovidas de significado conceitual para os estudantes crescente. Para uma aprendizagem significativa, se faz necessrio que o professor propicie o entendimento dos conceitos fsicos, por meio de discusses acerca dos contedos em questo, a partir das concepes prvias dos estudantes.

    Para isso, preciso que o professor, no papel de facilitador, encontre uma forma qualitativa de transformar a teoria em prtica, ou seja, buscar meios didticos que estabeleam as ligaes necessrias para a efetiva compreenso dos fenmenos fsicos e, assim, fornecer uma viso diferenciada do mundo que o cerca.

    Neste trabalho sugerimos a utilizao de um modelo que pode facilitar o processo de aprendizagem dos conceitos fsicos, a partir da formao de uma rede de significados que estabelecida quando o aluno associa os fenmenos fsicos ao seu cotidiano. Nessa perspectiva, o conhecimento pode ser visto como uma rede de significados, em permanente processo de transformao, de modo que os significados se modificam a cada nova relao entre os referidos conhecimentos, uma vez que a cada nova interao, a cada possibilidade de diferentes interpretaes, uma nova ramif icao se abre, um significado se transforma, novas relaes se estabelecem, possibilidades de compreenso so criadas (SMOLE).

    Na tentativa de criao dessa rede de significados, propomos o uso de experimentos no ensino fundamental (alunos a partir de sete anos), a fim de que se possa aproveitar a natural

  • curiosidade desses alunos para trabalhar os conceitos fsicos presentes no seu cotidiano, introduzindo a linguagem cientfica na estrutura cognitiva desses aprendizes, pois a falta dessa linguagem pode ser uma das causas das dificuldades no aprendizado dos alunos quando estiverem no ensino mdio.

    Nesse sentido, fundamental que os professores de cincias do ensino fundamental recebam uma formao acadmica adequada, a fim de que tenham condies de aplicar experimentos com o embasamento terico necessrio para viabilizar aos alunos uma aprendizagem significativa.

    Para tanto, propomos que as atividades sejam fundamentadas na teoria da aprendizagem significativa de Ausubel (1968), em que os subsunores so os protagonistas da rede de significados, pois ancoram os novos conceitos na estrutura de conhecimentos que os alunos j possuem.

    Assim, cria -se a possibilidade da utilizao de aulas experimentais para formar esses subsunores na estrutura cognitiva dos alunos, de forma a facilitar o caminho para a aprendizagem significativa. Se, de fato, for possvel criar essas ncoras de conhecimentos que iro fabricar a rede de significados fsicos, estaremos a caminho da resoluo de um grave problema, que a falta de entendimento e de interesse dos alunos pela fsica.

    Neste artigo, propomos a utilizao de um experimento simples, envolvendo o conceito de presso, com alunos do ensino fundamental, mediante uma abordagem que pode propiciar a aprendizagem significativa relativa aos conceitos envolvidos no experimento.

    FSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL

    A fsica uma das disciplinas mais temidas pelos alunos do ensino mdio. A forma como a fsica abordada em sala de aula, privilegiando-se o tratamento formal dos contedos sem significado conceitual para o estudante, est bem distante dos fenmenos fsicos presentes no nosso cotidiano. Essa abordagem gera o desinteresse dos alunos por essa disciplina. Nesse sentido, acreditamos que a utilizao de uma abordagem mais qualitativa no ensino fundamental, partindo das concepes que os alunos trazem, pode propiciar a curiosidade e o interesse desses alunos em aprenderem a fsica.

    Sabemos que a fsica est intrinsecamente associada ao cotidiano, rodeando nossas aes e despertando curiosidades que geram questes que os homens ambicionam responder e, sob esse aspecto, a fsica se distancia da matemtica. No que a compreenso aritmtica seja dispensvel, mas a percepo desses fenmenos naturais fica dependente apenas da curiosidade pertencente ao homem.

    O ser humano questiona naturalmente, especialmente quando criana. As crianas so curiosas por natureza, pois esto no incio do processo de construo da rede de significados, que engloba todas as suas experincias vividas at o momento. Crianas sempre colocam aos adultos perguntas do tipo por que assim?, por que isso acontece?, como isso acontece?, o que tem aqui dentro?, em se tratando de fsica, por que o Sol brilha?, qual o tamanho do espao?, por que as coisas caem?, por que ficou gelado?, por que ficou quente?, por que o cu azul?. Todas essas perguntas demonstram a curiosidade das crianas. Elas necessitam das respostas, pois a pergunta como elemento criativo faz a conexo entre as experincias cotidianas e o conceito criado pela criana.

    Mas por que com o passar dos anos essa curiosidade desaparece? Por que os alunos do ensino mdio repudiam a fsica?

    A m formao dos professores de Cincias do ensino fundamental pode ser uma das causas desses pr oblemas, pois os profissionais responsveis por educar as crianas no possuem conhecimentos especficos sobre esse assunto.

    Esses professores no tm a formao direcionada para conceitos especficos da fsica, impossibilitando assim, abordagens de contedos em experimentos que poderiam ser realizados em sala de aula. Nesse sentido, como podemos esperar que nossos alunos cheguem ao ensino mdio

  • com conhecimentos fsicos bsicos, se os professores que os ensinam no receberam formao pedaggica relacionada Fsica na graduao para uma explanao adequada desses contedos?

    Isso leva muitos desses professores a no se sentirem capacitados para trabalharem com os contedos relativos Fsica, e conseqentemente, possuem dificuldades em fazerem uso das atividades experimentais necessrias para introduzir os conceitos fsicos relacionados ao cotidiano dos alunos (Charpak, 1996).

    Com isso, nos deparamos com o problema da m formao dos profissionais que lidam com as crianas nas primeiras sries do ensino fundamental, que no possuem embasamento terico mnimo para ensinarem e exemplificarem os fenmenos fsicos a partir de experimentos. Thomaz (2000, p.368) coloca alguns questionamentos relativos a essa questo, dentre os quais destacamos:

    Ser que na formao de professores de cincias est se ajudando os futuros

    professores a refletir, elaborar e concretizar estratgias relativamente realizao da componente experimental de modo a desenvolver as capacidades cientficas dos seus futuros alunos?

    No ser urge nte encontrar uma maneira de ajudar os professores de cincias, j trabalhando no terreno, a refletir sobre o papel da experimentao no processo do ensino/aprendizagem?

    Nesse sentido, as concepes dos professores sobre o papel do experimento so

    determinantes no modo como ele vai utiliz-lo, propiciando ou no o desenvolvimento das capacidades cientficas dos alunos. Da a necessidade da formao adequada dos professores de Cincias, a fim de viabilizar que eles utilizem abordagens que propiciem o desenvolvimento dessas capacidades.

    Levantamos esse problema da formao dos professores de Cincias, a fim frisarmos a necessidade de que conceitos especficos sobre a fsica estejam presentes na formao acadmica desses professores, visando facilitar o seu trabalho com os alunos por meio de experincias relacionadas aos diversos tpicos da fsica.

    A introduo da fsica, por meio de experimentos de fcil compreenso, pode propiciar aos alunos a motivao para aprenderem essa disciplina, bem como coloc-los em contato com a cincia, despertando o pensamento crtico e aperfeioando a percepo dos fenmenos por meio da observao. Para tal, fundamental a utilizao de estratgias metodolgicas adequadas, que privilegiem a reflexo e a formulao de hipteses por parte dos alunos. Segundo Arajo e Abib (2003, p.190),

    a utilizao adequada de diferentes metodologias experimentais, tenham elas a natureza de demonstrao, verificao ou investigao, pode possibilitar a formao de um ambiente propcio ao aprendizado de diversos conceitos cientficos sem que sejam desvalorizados ou desprezados os conceitos prvios dos estudantes. Assim, mesmo as atividades de carter demonstrativo, (...) que visam principalmente a ilustrao de diversos aspectos dos fenmenos estudados, podem contribuir para o aprendizado dos conceitos fsicos abordados, na medida em que essa modalidade pode ser empregada atravs de procedimentos que vo desde uma mera observao de fenmenos at a criao de situaes que permitam uma participao mais ativa dos estudantes, incluindo a explorao dos seus conceitos alternativos de modo a haver maiores possibilidades de que venham a refletir e reestruturar esses conceitos.

    Nessa perspectiva, o professor deve direcionar a atividade experimental, utilizando

    estratgias que facilitem a ancoragem dos conceitos presentes nos experimentos na estrutura cognitiva do aluno. O professor ainda deve determinar quais so os subsunores que o aluno possui em sua rede de significados, pois identificando esses subsunores (concepes prvias), poder planejar a seqncia e a forma de trabalhar os conceitos envolvidos.

    Assim, acreditamos que o processo de construo da rede de significados fsicos, a partir da obteno de subsunores ligados fsica, mediante a utilizao de experimentos, pode ser facilitado

  • se iniciado no ensino fundamental. Com isso, consideramos que o ensino de fsica pode ser priorizado nessa fase, visando melhor formao dos alunos.

    TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

    A teoria da aprendizagem significativa de David Ausubel (1968) enfatiza a importncia dos conceitos prvios para a aquisio dos novos conhecimentos.

    De acordo com Moreira e Massini (1982), o problema principal da aprendizagem consiste na aquisio de um corpo organizado de conhecimentos e na estabilizao de idias inter-relacionadas que constituem a estrutura da disciplina (p.41). Nesse sentido, fazer ligaes entre as experincias vividas no cotidiano dos alunos e as teorias fsicas, pode facilitar a compreenso dos tpicos tericos de fsica trabalhados em sala de aula. Essas assimilaes podem contribuir para a criao de alguns subsunores na rede de significados dos alunos. As concepes cotidianas iro ancorar os novos conhecimentos de forma a produzir uma forte ligao entre eles. Por exemplo, quando se pensa em limo, muitas outras lembranas so resgatadas na rede de significados da pessoa, como fruta, redonda, cida, etc. Essa organizao acontece com tudo o que se conhece, e quanto mais essas informaes so acessadas, mais forte a ligao entre elas, e se torna progressivamente mais fcil acess -las na rede.

    Nesse sentido, importante colocar os alunos em contato com a fsica, por meio de experimentos simples que demonstrem a manifestao dos fenmenos fsicos, para que os conceitos aprendidos em sala de aula sejam relacionados aos conceitos envolvidos no experimento, fornecendo assim, condies para que os novos conhecimentos possam ser ancorados na rede de significados. A m formao da rede de significados fsicos pode ser um dos motivos pelos quais os alunos do ensino mdio apresentam uma grande dificuldade em aprender fsica.

    Sendo assim, a fsica introduzida no ensino fundamental pode viabilizar que os alunos construam, em sua rede de significados, os subsunores adequados para que venham a ser utilizados quando forem trabalhados os contedos de Fsica no ensino mdio.

    No ensino mdio, muitos dos conceitos que so introduzidos no fazem parte da estrutura cognitiva dos alunos, o que dificulta que eles associem esses conhecimentos com os fenmenos fsicos presentes no seu cotidiano, no conseguindo assim, fazer a articulao entre o dia -a-dia e os fenmenos fsicos.

    Porm, esse fato no implica que os alunos que nunca tiveram contato com a Fsica antes do ensino mdio, no tenham condies de aprenderem significativamente os seus contedos. A introduo dos conceitos fsicos no ensino fundamental pode facilitar aprendizagem dos referidos contedos no ensino mdio, pois a bagagem de subsunores que o aluno traz pode dar condies para que ele ancore os conceitos em sua rede de significados fsicos.

    Segundo Carvalho (2005), a linguagem cientfica fundamental para o entendimento significativo dos conceitos fsicos. Essa autora ressalta que preciso que o estudante consiga ver algum sentido no conjunto de questes feitas pelo professor e principalmente que compreenda a Fsica como uma forma diferente de pensar e falar sobre o mundo, que ele passe a entender essa outra lngua - a lngua das cincias (p.61).

    Nessa perspectiva, consideramos que um dos problemas relativos dificuldade em aprender fsica, bem como outras cincias, est associado deficincia na formao da estrutura cognitiva do aluno, em que smbolos e significados fsicos podem estar deriva em sua rede de conhecimentos. Ou seja, podem no existir subsunores que estabeleam a ancoragem dos novos conhecimentos. Essa deficincia pode se dar em virtude de os conceitos fsicos no terem sido trabalhados de forma adequada no ensino fundamental, no propiciando a formao da estrutura lingstica cientfica que facilite a aprendizagem significativa desses conceitos.

    Ausubel (1968) aponta que

    para todas as finalidades prticas, a aquisio de conhecimento na matria de ensino depende da aprendizagem verbal e de outras formas de aprendizagem simblica. De fato,

  • em grande parte devido linguagem e simbolizao que a maioria das formas complexas de funcionamento cognitivo se torna possvel (p. 79).

    Na teoria da aprendizagem significativa de Ausubel a linguagem destacada como meio que possibilita a interao social, o que facilita a construo de sua estrutura cognitiva.

    Sendo assim, uma estratgia metodolgica que se utilize de experimentos em aulas de Fsica no ensino fundamental pode viabilizar a interao social, bem como propiciar que sejam trabalhados os smbolos e os significados que possibilitam a assimilao dos contedos fsicos para a formao da estrutura da linguagem cientfica. importante destacar que, mesmo que os experimentos sejam realizados de forma demonstrativa por parte do professor, possvel a explorao das concepes iniciais dos alunos e a ocorrncia da interao social em sala de aula.

    PROPOSTA DE UMA ATIVIDADE EXPERIMENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL

    Neste trabalho, partindo da hiptese de que a utilizao de experimentos no ensino fundamental pode viabilizar a construo de uma rede de significados fsicos na estrutura cognitiva do aluno, sugerimos a utilizao de uma atividade experimental simples, que pode ser realizada com materiais do cotidiano, a fim de trabalhar o conceito de presso.

    O experimento consiste na utilizao de uma garrafa pet, na qual so feitos cinco orifcios alinhados, em alturas diferentes. Ao preenchermos essa garrafa com gua, possvel trabalhar o conceito de presso, uma vez que esse est relacionado velocidade com que o jato de gua sai de cada orifcio.

    importante destacar a necessidade de que se coloque um anteparo vertical em frente aos jatos, a fim de focar a ateno do aluno para a velocidade dos jatos de gua ao sarem dos orifcios. Essa estratgia de colocar o anteparo vertical na frente da garrafa decorre do fato de que o alcance horizontal depende tanto da velocidade inicial do jato, como da altura em que esse se encontra. Segundo Dornelles Filho (1996, p.78), os orifcios posicionados simetricamente acima e abaixo de hmax tero o mesmo alcance, como mostra a Figura 01.

    Figura 01: Representao do alcance dos jatos de gua. O alcance mximo se d pelo orifcio em hmax

    (DORNELLES FILHO, 1996)

    Ao iniciar o vazamento de gua, os alunos podero perceber que cada jato sai com uma velocidade diferente, como ilustrado na Figura 02. Nesse momento, o professor pode levantar o seguinte questionamento: Por que a velocidade do jato de gua que sai do orifcio mais prximo da base da garrafa maior?

  • Figura 02: Exemplo do experimento evidenciando os jatos de gua com diferentes velocidades importante que os alunos formulem hipteses para responder a esse questionamento, o que

    pode levar o professor a perceber quais so os subsunores que os alunos tm em sua rede de significados que podem contribuir para a elaborao do conceito de presso. Identificar o que os alunos sabem sobre o assunto fundamental para a continuidade do trabalho, pois os conceitos podero ser corrigidos ou incrementados no decorrer da experincia.

    Para iniciar a construo desse conceito importante que o professor leve os alunos a estabelecerem a relao de dependncia entre o posicionamento do orifcio e a altura da coluna de gua. Mediante essa percepo, o professor pode reforar essa relao de dependncia por meio do seguinte questionamento: Por que a velocidade de cada jato diminui com a diminuio da coluna de gua? Esse questionamento pode levar os alunos a relacionarem a velocidade de sada de cada jato com a altura da coluna de gua.

    A partir dessa relao, o professor pode sistematizar e organizar as idias trabalhadas, a fim de introduzir o conceito de presso, induzindo os alunos a compreenderem que a maior coluna de gua exerce uma maior presso sobre o orifcio, ou seja, compreenderem que a presso diretamente proporcional altura da coluna de gua. Essa presso exercida pela coluna de gua tem como conseqncia uma velocidade maior do jato. Isso pode levar os alunos a construrem, em sua rede de significados, a relao de dependncia entre a velocidade do jato, a altura da coluna de gua e a presso.

    Essa abordagem pode viabilizar a criao de alguns subsunores bsicos na rede de significados fsicos, o que pode favorecer a aprendizagem significativa desses conceitos quando forem trabalhados com maior profundidade e abrangncia no ensino mdio.

    CONSIDERAES FINAIS

    Freqentemente, as dvidas nas salas de aula so frutos da falta de conceitos fsicos, da falta de conhecimento matemtico e da dificuldade de associar um tpico a outro. Em uma aula em que os conhecimentos fsicos so trabalhados de forma fragmentada, os alunos no conseguem estabelecer a rede de significados, o que os levam a no compreenso desses conhecimentos, bem como das equaes que os constituem.

    A introduo da fsica no ensino fundamental pode facilitar a criao de subsunores, contribuindo para a aprendizagem significativa dos alunos. Para uma aprendizagem significativa, necessrio que o aluno consiga estabelecer essa rede de significados, interligando os conhecimentos fsicos. Essa aprendizagem ser facilitada se esses conhecimentos forem articulados ao seu cotidiano, j que os alunos podem manifestar mais interesse em aprenderem quando aplicados a uma situao real.

    Se assim for, fica claro que em nosso sistema educacional existe uma lacuna a ser preenchida, que a falta do ensino de fsica no ensino fundamental. Essa pode ser uma das causas

  • das dificuldades dos alunos ao tomarem contato com essa disciplina pela primeira vez no ensino mdio.

    Essas dificuldades podem ser decorrentes da falta da linguagem cientfica que no est inserida na estrutura cognitiva dos alunos, pois a grade curricular deficiente no que se refere aos contedos especficos de Fsica.

    A estratgia metodolgica proposta neste artigo pode propiciar o acesso linguagem da Fsica articulada ao cotidiano dos alunos, o que pode levar criao dos subsunores necessrios para viabilizar uma aprendizagem significativa de alguns conceitos que sero trabalhados no ensino mdio.

    Para tanto, necessrio que o professor levante problemas e induza os alunos a concluses adequadas do ponto de vista cientfico. esperado que os alunos j possuam algumas concepes sobre diversos fenmenos. Tais concepes so decorrentes da vivncia do cotidiano, e so construdas a partir da percepo imediata do aluno da realidade que o cerca. Essas concepes, geralmente, no so cientificamente corretas. Moldando-as de acordo com os conceitos fsicos, j no ensino fundamental, possvel estabelecer na estrutura cognitiva do aluno uma organizao conceitual que pode facilitar a sua compreenso futura dos contedos.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    AUSUBEL, D.P. (1968). Educational psychology: a cognitive view. New York, Holt, Rinehart and Winston.

    CARVALHO, A. M. P. Introduzindo os alunos no universo das cincias. In: Jorge Werthein; Clio da Cunha. (Org.). Educao Cientfica e Desenvolvimento: O que pensam os cientistas. Braslia: UNESCO, 2005, v., p. 61-67.

    CHARPAK, G. (1996). La Main a la Pte : Les Sciences a l'cole Primaire. Frana: Flammarion.

    DORNELLES FILHO, A.A. Uma questo em hidrodinmica. Caderno Caterinense de Ensino de Fsica, v.13, n.1, p.76-79, 1996

    MOREIRA, M. A., MANSINI E. F. S. (1982). Aprendizagem Significativ a: A teoria de David Ausubel. Brasil, Editora Moraes.

    SMOLE, K. C. S. Aprendizagem significativa: o lugar do conhecimento e da inteligncia. Disponvel em: . Acesso em 10/04/2008.

    THOMAZ, M.S.A. A experimentao e a formao de professores de cincias: uma reflexo. Caderno Catarinense de Ensino de Fsica, v.17, n.3, PP.360-369, 2000.