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Farmacos&Medicamentos

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Revista voltada ao ramo farmaceutico

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Logística e Supply Chain Management Assumem Papel Fundamental na Indústria Farmacêutica

E sta revista Fármacos& Medicamentos 58 levanta uma importante questão, em seu artigo de capa, da seção Terceirização, abordando a logística de medicamentos. Esse

tema foi escolhido devido à relevância desta parte do processo, ou do ciclo de vida dos medicamentos, na saúde dos usuários destes e de outros produtos para a saúde, pois um acondicionamento ina-dequado ou uma entrega não-conforme acarreta diversos riscos e pode reduzir sua eficácia ou tornar negativa sua ação. A logística, como área do conheci-mento, tem vivido um período de crescente evolução e aprimoramento, tal qual outras áreas em uma organiza-ção, e possui grande complexidade e abrangência, portanto, sempre merece uma atualização.

Na seção Legislação, compartilha-mos uma análise sobre o atual ensi-no superior de farmácia e bioquímica no Brasil, bem como o impacto dos profissionais recém saídos das Univer-sidades no mercado de trabalho, em artigo escrito por Lauro D. Moretto e que foi extraído de sua aula magna brilhantemente proferida no Curso de

Pós-Graduação Lato Sensu Gestão e Tecnologia Farma-cêutica - Engenharia Farmacêutica do Instituto Racine. O autor faz ainda uma retrospectiva da evolução do ensino farmacêutico, desde a criação da primeira instituição de ensino superior em farmácia (1891) até os dias de hoje.

Sabendo da responsabilidade do fabricante de produtos farmacêuticos em garantir a compatibilidade entre o reci-piente e a substância que ele contém, na seção Embalagem e Rotulagem evidenciamos as diferenças entre acondicionar produtos farmacêuticos em embalagens de vidro e em emba-lagem plásticas bem como suas vantagens e desvantagens.

Na seção Instalações e Projetos Farmacêuticos completa-mos a seqüência de artigos sobre máquinas de comprimir rotativas com um artigo sobre punções e matrizes, uma vez que a eficiência de uma máquina de comprimir está direta-mente associada à qualidade das ferramentas utilizadas.

A validação de métodos analíticos cromatográficos foi o tema escolhido para a seção Garantia e Controle da Qualidade, em função de sua importância nas rotinas dos laboratórios de controle de qualidade.

Uma das indústrias que mais pode se beneficiar com o advento da nanotecnologia é, indubitavelmente, a indústria farmacêutica. Por esta razão, na seção Ingredientes Farma-cêuticos, publicamos artigo que atualiza o leitor no que se refere aos Sistemas de Liberação Controlada (SLC), consi-derado um exemplo inteligente de como a nanotecnologia efetivamente contribui para a pesquisa neste setor.

Finalizamos esta F&M 58 com a seção Navegue, em que os profissionais Ricardo Hirschfeld e Adalberto Vieira indi-cam para navegação sites que abordam o assunto logística e Supply Chain Management, reforçando sua importância.

Boa Leitura!

Nilce BarbosaPresidente do Grupo Racine e Coordenadora Técnica Editorial da revista Fármacos&Medicamentos

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S u m á r i o

Nesta Edição

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Correspondências

Legislação

Embalagem e Rotulagem

Instalações e Projetos Farmacêuticos

Garantia e Controle da Qualidade

Terceirização

Ingredientes Farmacêuticos

Leia no Portal Racine - www.racine.com.br

Navegue

Jornal

Ensino Farmacêutico: a Falta de Sincronia entre a Evolução Científica e Tecnológica e a Legislação para a Indústria Farmacêutica

Materiais em Contato com Produtos Farmacêuticos: Vidro x Plástico

Mecanismos de Compactação - Punções e Matrizes

Validação de Métodos Analíticos em Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

Acuracidade de Estoque em Logística de Medicamentos e Produtos para a Saúde

Nanotecnologia como Inovação a Fármacos e Medicamentos

Segurança e Saúde no Trabalho (SST): Governança, Risco e Compliance em Face do Novo Conceito de Doença Ocupacional

Logística e Supply Chain Management

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Administração

Meio Ambiente

Embalagem

Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC)

Comercial

Planejamento, Programação e Controle de Produção (PPCP)

Gerência e Diretoria

Técnicos e Trainees

Assuntos Regulatórios

Operacional

Expedição

Supervisão, Coordenação e Chefias

Controle da Qualidade (CQ)

Produção

Jurídico

Almoxarifado

Marketing

Engenharia

Supply Chain

Compras

Presidência

Garantia da Qualidade

Biotecnologia

Pesquisa & Desenvolvimento (P&D)

Finanças e Contabilidade

Segurança e Saúde Ocupacional

Departamento Médico-Científico

Recursos Humanos (RH)

Logística

Observe, em cada artigo, as Áreas de Circulação, conforme a legenda abaixo:

Eu Leio a F&M

“Visão técnica e gerencial em uma única publicação. Este é o conte-údo oferecido ao público da revista Fármacos&Medicamentos. Assuntos fundamentais à indústria farmacêutica, abordados por profissionais atuantes e que partilham suas experiências com os leitores.

Mantendo a mesma qualidade apresentada desde seus primeiros números e o compromisso de oferecer atualização a seus leitores, a F&M inovou. Apresenta novas seções e um novo layout, que estimula ainda mais a leitura de seu conteúdo.

Estruturada de forma a garantir que a informação seja disponibili-zada aos departamentos-alvo, a revista contribui com soluções para o dia-a-dia da indústria farmacêutica. Viabilizar o acesso às melhores práticas em legislação, projetos, manufatura, inovação e gestão. Este é o desafio que esta publicação supera a cada edição.

Embora o foco da publicação seja a industria farmacêutica, utilizo e recomendo a leitura desta revista como material de consulta e fonte de atualização para áreas correlatas, como a área cosmética.”

Maria Aparecida Lima Moreira,coordenadora e docente de Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu e Curso Intensivo e docente de cursos de extensão do Instituto Racine

aria Aparecida Lima Moreira é graduada em química pela Escola Superior de Quí-mica da Faculdades Oswaldo Cruz (FOC), pós-graduada em administração industrial pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini/Universidade de São Paulo (USP), especia-lista em gestão da inovação na empresa e

administração de marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e possui aperfeiçoamento para gestores pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Possui 22 anos de expe-riência em empresas nacionais de grande porte, sendo 17 anos dedicados à Pesquisa & Desenvolvimento e cinco anos de atuação em marketing. Atualmente presta assessoria para os segmentos de cosméticos e limpeza doméstica e é mem-bro das Comissões Técnicas de Saneantes e Cosméticos do Conselho Regional de Química - IV Região (CRQ-IV), além de coordenadora e docente dos Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão, Tecnologia e Desenvolvimento dos Produtos Domissanitários, Gestão e Tecnologia Cosmética - Engenharia Cosmética, Pesquisa & Desenvolvimento de Produtos Cosméticos - Cosmetologia Avançada e do Curso Intensivo Desenvolvimento de Produtos Domissanitários e docente de outros cursos de extensão do Instituto Racine

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OPER

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Marque um visto após a leitura

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SCC

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Agradecemos as manifestações enviadas de:Universidade Comunitária Regional de Chapecó (UNOCHAPECÓ), ▪Chapecó (SC)

A revista Fármacos&Medicamentos (ISSN 1807-1678) é uma publicação bimestral da RCN Comercial e Editora Ltda., dirigida a empresas e profissionais das indústrias química, farmacêutica e farmoquímica.

PresidenteNilce Barbosa

Diretores ExecutivosArnivaldo DiasMarco QuintãoRenato CintraSérgio Slan

Coordenação Técnica EditorialNilce Barbosa - CRF-SP 9.609

Editor e Jornalista ResponsávelAndré Policastro - MTb 42.774

Jornalista e RevisoraKelly Monteiro - MTb 06.447

Assistente Técnica EditorialSandra Aquino G. Moretto - CRQ-IV 04226912

Colaboraram nesta EdiçãoAnil Kumar Singh, Cid Pereira, Daniela da Cunha Souza Patto, Eduardo Braga Simaika, Elisabete Pinto Breuing, Juliano A. Bonacin, Lauro D. Moretto, Sandra de A. Graça Moretto, Selma de A. e Graça

Projeto Gráfico e Editora de Arte Cinthia Suenaga Assinaturas e CorrespondênciasRua Padre Chico, 93 CEP 05008-010 - São Paulo - SPTel/Fax: (11) 3670-3499 E-mail: [email protected]

Para AnunciarJoão Masiero - Executivo de NegóciosTel./Fax: (11) 3670-3499E-mail: [email protected]

Artigos e matérias assinadas não refletem necessariamente a opinião da RCN Comercial e Editora Ltda.

Crédito de foto: Arquivo Racine e divulgação.

Ano XMaio/Junho de 2009

Tiragem5.000 exemplares

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C o r r e s p o n d ê n c i a s

Envie suas críticas, sugestões e elogios sobre o novo visual e conteúdo da revista Fármacos&Medicamentos para o e-mail [email protected]

Envie-nos sua opinião sobre a nova revista Fármacos&Medicamentos

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Histórico

O ensino de graduação oferecido pelos cursos de farmácia, no Brasil, não está acompanhando as rápidas e radicais transformações por que pas-sam as indústrias do ramo da saúde, gerando um enorme descompasso, com conseqüências que comprome-tem a imagem dos estabelecimentos de ensino e não atendem aos anseios dos profissionais e dos setores indus-triais farmacêuticos, de cosméticos e de alimentos.

A razão deste descompasso está na velocidade em que se incluem leis, decretos e regulamentos no ar-cabouço de regulação que disciplina

“A solução dos problemas hoje constatados exige um planejamento com ações em curto, médio e longo prazo, mapeando as deficiências e propondo modificações estruturadas, revisando inclusive as decisões recentemente incluídas no currículo do profissional farmacêutico.”

Circular para:

ADM

GDIR

ENGCQ

TTSCCRH

PRODPRES

Ensino Farmacêutico: a Falta de Sincronia entre a Evolução Científica e Tecnológica e a Legislação para a Indústria FarmacêuticaLauro D. Moretto

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as atividades relacionadas com a pesquisa tecnológica, produção, controle, distribuição, transporte e comercialização de medicamentos, produtos para a saúde incluídos na categoria de cosméticos e alimentos dietéticos e industrializados.

A solução dos problemas hoje constatados exige um planejamento com ações em curto, médio e longo prazo, mapeando as deficiências e propondo modificações estrutura-das, revisando inclusive as decisões recentemente incluídas no currículo do profissional farmacêutico.

Evidentemente, as reformas que podem ser apontadas como necessá-rias neste planejamento não resolvem o descompasso apontado, o qual somente pode ser combatido com ações isoladas por parte de vários agentes da sociedade, dentre os quais se incluem os próprios esta-belecimentos de ensino responsáveis pelos programas de graduação e de pós-graduação, os estabelecimentos

de ensino complementar e as en-tidades associativas das categorias profissionais e empresariais.

A constatação feita tem histórico, relativamente fácil de ser resgatado a partir da proclamação da República, com registros que possibilitam um mapeamento do processo evolutivo, apontando as eras marcantes e abrin-do o debate para que se possa dar origem a um verdadeiro renascimento do ensino farmacêutico.

As atividades farmacêuticas no Brasil aparecem de forma estruturada a par-tir de 1808, marcado pela presença de D. João VI. É muito mais difícil recuperar o histórico desta área do conhecimento no período colonial.

Com a vinda da corte portuguesa ao Brasil, inicia-se o ciclo de pro-dução de medicamentos, muito bem registrada no compêndio “LQFEx 200 anos - história de uma grande jornada”, editado pelo Laboratório Farmacêutico do Exército, sob a coordenação do ilustre farmacêutico

Cel. Marco Antônio de Oliveira.No referido compêndio encontram-se

os dados históricos referentes à produção de medicamentos para as instituições militares, inclusive a criação da Botica Real Militar, em 21 de maio de 1808, cuja preciosidade pode ser visitada no referido laboratório.

Em São Paulo, o ensino farma-cêutico completa exatamente 110 anos de existência, precedido de uma luta encetada por ilustres far-macêuticos da capital paulista, que propugnavam pela criação de uma Escola de Farmácia. Recuperar as razões que levaram à evolução, até nossos dias, não exige trabalho exageradamente extenuante, já que existem registros em livros e revistas brasileiras da época.

A era do ensino farmacêutico voltada para a preparação e dispensação nos estabelecimentos comerciais

A pesquisa de novos medicamentos e sua elaboração em farmácias ou

“Em São Paulo, o ensino farmacêutico completa exatamente 110 anos de existência, precedido de uma luta encetada por ilustres farmacêuticos da capital paulista, que propugnavam pela criação de uma Escola de Farmácia.”

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boticas remonta séculos e somente passou a ser objeto de mudança de orientação a partir da revolução industrial. O setor industrial farmacêu-tico, de verdade, somente inseriu-se neste contexto a partir de 1850, ou seja, há cerca de 160 anos.

Até o advento da industrialização de medicamentos, o ensino farmacêutico era realizado nos moldes tradicionais, com base nos produtos naturais de origem botânica, animal ou mineral.

No Brasil, o ensino farmacêutico, em suas origens, foi instituído para atender à demanda das grandes cidades da época, baseando-se nos modelos europeus.

O ciclo de evolução da profis-são farmacêutica no Brasil contém muitos fatos marcantes, a maioria deles desconhecida da população e também de muitos profissionais da categoria. Nestes se encontram ações que germinaram e que continuam a se multiplicar entre nós.

Nos registros da Profª Maria Aparecida Pourchet Campos, em seu livro “A vida da Faculdade de Ciências Farmacêu-

ticas da Universidade de São Paulo”, editado em 1984, encontram-se notas históricas que remetem ao passado. Destes registros, alguns possibilitam compreender e interpretar a evolução da profissão farmacêutica estruturada, em seus primórdios.

Até 1889, o único estabelecimen-to de ensino superior existente na então Província de São Paulo era a Faculdade de Direito. Em 1893 foi criada a Escola Politécnica.

Atendendo aos anseios de uma coletividade ainda em estruturação, a Lei nº 19, datada de 24 de novembro de 1891, autorizava a criação de uma Academia de Medicina, Cirurgia e Farmácia na cidade de São Paulo. Para esta instituição ficaram reser-vados quinhentos contos de réis do orçamento do Estado.

Desde então, inúmeras foram as atividades e manifestações, muito especialmente da Sociedade Farma-cêutica Paulista, criada em 1894, que congregava oito diretores e 12 outros sócios fundadores. A Revista Pharmaceutica, órgão oficial da So-

ciedade Farmacêutica Paulista, em sua edição de 15 de maio de 1895, continha o seguinte editorial: “São Paulo tem necessidade de uma insti-tuição d’onde saiam moços capazes de trabalhar em química, habilitados para a indústria e com coragem e conhecimentos bastantes para se enfrentarem com as dificuldades de uma análise séria e importante”.

Em 1896, na mesma revista apare-cia o editorial “a missão do Governo não está terminada. Uma Escola de Farmácia Modelo, talhada nos moldes das da França, Rússia e outros países onde o farmacêutico é justamente res-peitado como um homem de ciência pela perfeição do ensino que recebe, viria completar o ciclo dessas reformas que têm proporcionado ao Estado de São Paulo lugar proeminente na Federação brasileira”.

Muitos nomes, dentre os quais se incluem Frederico Schaumann, José Eduardo Macedo Soares, Bráulio Go-mes, Luiz Manoel Pinto de Queiroz, João Baptista da Rocha, Luiz Cursino, José de Paula Souza Camargo, França

“O ciclo de evolução da profissão farmacêutica no Brasil contém muitos fatos marcantes, a maioria deles desconhecida da população e também de muitos profissionais da categoria.”

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Pinto, Joaquim Mariano da Rocha e Christovam Buarque de Hollanda, que hoje se prestam à identificação de ruas ou dão nome a instituições de ensino, estão ligados à criação ou direção da Escola de Farmácia, precursora de Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.

A Bráulio Gomes coube o privi-légio de ser o primeiro diretor da Escola de Farmácia, criada em 12 de outubro de 1898, bem como a ele coube a tarefa desafiadora de fazer funcionar e prosperar um ideal de muitos de nossos compatriotas. Christovam Buarque de Hollanda fez parte da primeira relação de docentes da Escola de Farmácia, tendo sido designado catedrático da disciplina de Botânica I, tendo como colega Alfredo Loefgreen, que se ocupou da cátedra de Botânica brasileira.

Passado mais de um século, apesar da criação de muitas outras facul-dades de Farmácia, da inserção do Brasil no rol dos grandes produtores de medicamentos e da existência de um considerável número de farma-

cêuticos, é possível verificar que os problemas na pesquisa, na produ-ção, no controle, na dispensação de medicamentos e outras atividades correlatas ainda são muitos.

Destes relatos históricos é possível extrair a verdadeira razão para a pri-meira fase do ensino farmacêutico no Estado de São Paulo. Naquela época já se apontava para a necessidade de descoberta de novos medicamentos para a população e, apesar do início da era da industrialização na área farmacêutica, ela era ainda incipiente no Brasil, cabendo aos próprios far-macêuticos nas farmácias descobrir, produzir e dispensar medicamentos.

Esta fase foi relativamente curta e sua transição se deu a partir de 1920, quando já se identificava a necessidade de inscrever os esta-belecimentos que se dedicavam à produção industrial de medicamentos. Aqui se insere a criação do Depar-tamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), criado em 2 de janeiro de 1920 pelo Decreto-Lei nº 3.897, que se encarregava prioritariamente dos

serviços sanitários terrestres, marítimos e fluviais, bem como da profilaxia rural, destinado a transformar o assunto de saúde pública em uma questão verdadeiramente pública.

A terminologia Vigilância Sanitária, hoje incorporada ao arcabouço da legislação brasileira, aparece em 1923, quando da promulgação do Decreto nº 16.300, proposto por Carlos Chagas, que estabeleceu as competências do DNSP.

A era da industrialização de medicamentos no Brasil

Em 8 de setembro de 1931, com a promulgação do Decreto nº 20.377, foram oficialmente definidas as atri-buições da profissão farmacêutica no Brasil e, pela primeira vez, foram definidos os critérios para registro de medicamentos industrializados.

O início da era da industrialização conviveu com a ambigüidade natural com a era precedente, ou seja, a elaboração de medicamentos nas farmácias, com os principais atores atuando em ambos os campos.

“Passado mais de um século, é possível verificar que os problemas na pesquisa, na produção, no controle, na dispensação de medicamentos e outras atividades correlatas ainda são muitos.”

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Um dos mais ilustres brasileiros que trabalhou intensamente nessa ambigüidade foi Cândido Fontoura da Silveira, ilustre farmacêutico e boticário que se tornou também ilustre e bem sucedido empresário industrial.

Coube a Cândido Fontoura, em 1933, como líder de um grupo de farmacêuticos, criar o “Syndicato dos Industriaes de Productos Chimicos e Pharmaceuticos”, assumindo a Pre-sidência desta nova entidade. Essa entidade transformou-se, posterior-mente, no Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (SINDUSFARMA). A biografia de Cândido Fontoura contém registros emocionantes, que relatam de forma clara e precisa seus ideais, compromissos éticos, vocação empresarial e educacional, além de sua liderança.

Da atuação das entidades associa-tivas e da categoria empresarial, no início do período conhecido como a época dourada das descobertas, surgem propostas que se orientam para a promulgação do Decreto nº

20.397, de 14 de janeiro de 1946, que atualizou e disciplinou as ati-vidades da indústria farmacêutica no Brasil, agora já no período pós-guerra. O DNSP converteu-se no Serviço Nacional de Fiscalização de Medicina, com a sigla SNFM, que em 1957 passou a ser designado Serviço Nacional de Fiscalização de Medicina e Farmácia (SNFMF), para poder dedicar-se às atividades industriais farmacêuticas.

O ensino farmacêutico na era dinâmica da industrialização

As reformas introduzidas na legis-lação geraram imediatas alterações no ensino farmacêutico, com as fa-culdades ampliando o currículo com a incorporação de novas disciplinas e aumentando a carga horária. Essas alterações levaram a um currículo com quatro anos letivos de duração e com a inclusão de disciplinas relacionadas com as atividades de controle de qualidade, tecnologia far-macêutica e com a inclusão também de disciplinas da área biofarmácia. A

Comissão de Biofarmácia do SNFMF se responsabilizava pela avaliação dos novos medicamentos, com função assessora do referido órgão.

Com a reformulação do ensino, em 1970, inclusive na Universidade de São Paulo (USP), o currículo do profissional farmacêutico passou a constituir-se de três áreas de profis-sionalização que persistem até os dias atuais, compreendendo fármacos e medicamentos, alimentos e análises clínicas e toxicológicas. Destas áre-as, a de fármacos e medicamentos estava e ainda está voltada para a formação de profissionais para os estabelecimentos industriais.

Paradoxalmente, a reforma do ensino antecedeu a atualização da legislação introduzida pela Lei nº 6.360, de 1976, que criou a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, conhecida por SNVS, em substituição ao SNFMF.

Ainda no final do século passado foi promulgada a Lei nº 9.787, que criou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), substituindo a SNVS, que assumiu papel ainda maior

“As reformas introduzidas na legislação geraram imediatas alterações no ensino farmacêutico, com as faculdades ampliando o currículo com a incorporação de novas disciplinas e aumentando a carga horária.”

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no contexto dos órgãos precedentes. Embora ainda tenha algumas funções do antigo DNPS, orientam-se mais para a regulamentação das atividades relacionadas com os medicamentos, produtos dietéticos, de higiene pessoal e de cosméticos, de uso domissanitá-rio, assim como de produtos para a saúde e reativos para fins diagnósticos. As atividades relacionadas com te-mas predominantemente epidemio-lógicos estão sendo exercidas pelo Ministério da Saúde.

A estrutura atual do ensino farmacêutico

No que se refere ao atual ensino farmacêutico, tem-se a impressão de que a reforma recentemente implantada parece apenas burocrática, regredindo aos modelos que compuseram aquelas introduzidas em 1960 e 1970, não se atentando para as impressionantes conquistas científicas e por espeta-culares avanços tecnológicos, que promoveram transformações em uma velocidade inimaginável.

O conhecimento acerca dos fár-macos e dos medicamentos não é mais casual como era até algumas

décadas atrás. As pesquisas pla-nejadas e organizadas, os avanços científicos e tecnológicos, a proteção aos inventos e muitos outros fatores relevantes possibilitaram atingir o nível de desenvolvimento atual.

O conhecimento atual de fármacos e medicamentos, quando comparado com aquele de um século atrás, quan-do se iniciou o ensino farmacêutico em São Paulo, mostra uma evolução que provavelmente ninguém poderia prognosticar. Da mesma forma, hoje são limitadas as possibilidades de se prever o futuro, mesmo para um curto período de dez a 20 anos, sem qualquer possibilidade de prever o estágio no final deste século.

Sabe-se que a biotecnologia está em sua fase intermediária de desen-volvimento, com uma enorme varie-dade de fármacos e medicamentos em estudos. Sabe-se, também, que os produtos da engenharia genética para uso na medicina estão apenas em sua fase inicial. Associa-se a ambas estas ciências a tradicional pesquisa de síntese química, os estudos com os microorganismos e com as plantas, sem considerar

“O profissional farmacêutico que se destina às atividades industriais tem conhecimentos insuficientes para atuar em estabelecimentos produtores de medicamentos, necessitando de programas de treinamento e desenvolvimento para bem desempenhar suas funções.”

outras como a nanotecnologia, da qual pouco sabemos atualmente. Enfim, nos próximos anos surgirão muitas novidades.

Por outro lado, o profissional far-macêutico que se destina às ativida-des industriais tem conhecimentos insuficientes para atuar em estabele-cimentos produtores de medicamen-tos, necessitando de programas de treinamento e desenvolvimento para bem desempenhar suas funções. Esses conhecimentos mínimos não podem ser supridos nos estabelecimentos de ensino, pois é praticamente impossí-vel ampliar o número de disciplinas, uma vez que a profissão farmacêutica é multidisciplinar, envolvendo áreas relacionadas a análises clínicas e toxicológicas, alimentos, fármacos e medicamentos, além das atividades relacionadas às farmácias comercial e hospitalar.

No estágio atual, os programas das faculdades não estão adequados à formação de um profissional que se dedicará a atividades industriais. Além disso, praticamente não há oferta de cursos de extensão ou de aperfeiçoamento ou mesmo de

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L e g i s l a ç ã o

atualização tecnológica nos estabe-lecimentos de ensino superior. O resultado se traduz na canalização do profissional farmacêutico para atuar como analistas em controle de qualidade ou como elementos para atuar em área regulatória.

Os cursos de graduação não estão levando em conta as radicais mu-danças que ocorreram na legislação das indústrias farmacêuticas. As Boas Práticas de Fabricação (BPF), embora conhecidas desde 1963, dinamizadas mundialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1992 e adotadas em 1995 no Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), praticamente e de fato, ainda não foram incorporadas na grade curricular das faculdades. Idêntica constatação pode-se fazer em relação às atividades industriais de alimentos e cosméticos.

A crescente evolução das ciências e da tecnologia farmacêutica exige mu-danças na formação acadêmica, com a criação de áreas de especialização. Estas devem atender à demanda do mercado e não apenas o que se supõe seja demanda de mercado.

Na realidade, as indústrias farma-cêuticas necessitam de profissionais qualificados para atuar em ambientes em que os recursos de infra-estrutura estejam de acordo com a legislação, em que as máquinas desempenhem suas funções, conforme os requisitos do processo do produto. Dispondo-se destes recursos, necessita-se de um profissional que conheça perfeita-mente as etapas e as variáveis do processo produtivo, além de saber supervisar seus subordinados.

A engenharia farmacêutica é uma especialização do profissional far-

macêutico para suprir demandas do setor industrial farmacêutico não contempladas nos programas de graduação dos estabelecimentos de ensino. Inclui-se no rol desta especialização conhecimentos rela-cionados à infra-estrutura, às ins-talações e às máquinas, bem como seus correspondentes fundamentos científicos e tecnológicos. Aqui, se inserem temas sobre pisos, paredes, tetos, iluminação, ar-condicionado, ar estéril, vapor limpo, água purifi-cada, água para injetáveis e tantos outros, inclusive meio ambiente. Além disso, pode-se ampliar o âmbito da física industrial, para estudar, com a necessária profundidade, todas as operações unitárias, tais como divisão, separação, secagem, filtra-ção etc. Assim, o conhecimento dos fenômenos de transporte envolvidos

“A crescente evolução das ciências e da tecnologia farmacêutica exige mudanças na formação acadêmica, com a criação de áreas de especialização. Estas devem atender à demanda do mercado e não apenas o que se supõe seja demanda de mercado.”

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na secagem de granulados, tanto em estufa quanto em leito fluidiza-do, pode ser citado como um dos exemplos. Outros exemplos incluem tecnologia de tratamento de ar (es-téril, desumidificado, com pressão positiva etc.), sistema de tratamento de água (purificada, para injetáveis etc.) e vapor, construção de pisos e paredes que atendam aos requisitos de boas práticas, além de muitos outros. Esses conhecimentos são imprescindíveis para a qualificação de máquinas, equipamentos e ins-talações, condição essencial para a validação de processos produtivos.

As demandas do mercado: situação atual e oportunidades

Os profissionais farmacêuticos são utilizados, predominantemente, na indústria farmacêutica, em atividades

técnicas internas tais como controle e segurança de qualidade, produção, pesquisas tecnológicas e registro de medicamentos, bem como ativida-des administrativas relacionadas a planejamento, programação e controle da produção, atividades de divulgação e comercialização, dentre outros.

Desde a criação da ANVISA, em 1999, alterações significantes foram introduzidas na legislação e regulamentação das atividades industriais farmacêuticas no Brasil. Essas alterações foram geradas em blocos econômicos, especialmente na União Européia e no MERCOSUL. Nas últimas duas décadas, a ICH tem promovido um intenso traba-lho de harmonização regulatória, o qual tem sido acolhido pela OMS e internalizado em vários países.

Algumas atividades recém-intro-duzidas nas atividades industriais estão sendo destacadas para os profissionais farmacêuticos, sem a adequada formação. São elas: qualif icação de fornecedores e prestadores de serviços, qualifica-ção de máquinas, equipamentos e instalações, validação de métodos analíticos e processos produtivos, bem como atividades relacionadas com armazenamento, transporte e distribuição de medicamentos.

Por outro lado, inúmeras são as demandas de especialistas na área do conhecimento farmacêutico que não são supridas pelo ensino de graduação vigente. Sem a pre-tensão de relacionar todas, podem ser citadas áreas que não dispõem de profissionais qualificados com apropriada formação tais como

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Indústria farmacêutica brasileira: ensino e legislação - Cronologia

DNSP SNFM SNFMF SVS

Criação da Escola de Farmácia

Lei nº 20.377/31 Regulação farmacêutica

Decreto nº 20.397/46 Autorização sanitária

Lei nº 6.360/76Secretaria de Vigilância Sanitária

RDC nº 134/01Boas Práticas de Fabricação

RDC nº 40/04(Registro)Fitoterápicos

RDC nº 199/06Notificação simplificada

Decreto Lei no 3897

Criação do SINDUSFARMA, 26 de abril

Decreto Lei nº 41.904/57Regulamento SNFMF National Serviço de Fiscalização da Medicina e Farmácia

Lei nº 9782/99Criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária

Lei nº 9787/99Medicamentos genéricos

Resoluções (Registro)RDC nº 132/03EspecíficosRDC nº 133/03SimilaresRDC nº 135/03GenéricosRDC nº 136/03NovosRDC nº 139/03 Homeopáticos

Resolução(Registro)RDC nº 315/05Biológicos

Lei nº 12.964/08São Paulo Dia da Indústria Farmacêutica Paulista

MERCOSUL

1963/1970Reforma do

ensino

2004Reforma do

ensino

1898 1920/3 1931 1933 1946 1957 1976 1999 2001 2003 2004 2005 2006 2008

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L e g i s l a ç ã o

biodisponibilidade/bioequivalência, registro de medicamentos, treina-mento/auditoria de Boas Práticas de Fabricação e Controle (BPF e C), estudos de estabilidade, validação de processos, validação de méto-dos de análise, gerenciamento de riscos farmacêuticos, qualificação de equipamentos, farmacovigilân-cia, estudo de fitoterápicos, estudo de medicamentos biotecnológicos, estudo de medicamentos por novas tecnologias (por exemplo, nanotecno-logia), patenteamento de processos, divulgação, promoção e propaganda, planejamento, programação e con-trole da produção, logística farma-cêutica, gestão de projetos, seleção otimizada de máquinas, engenharia e manutenção farmacêutica. Destas, algumas estabelecem a necessidade de profissionais responsáveis, que não existem no mercado, introduzidas na regulamentação deste ano, como é o caso da farmacovigilância.

Reflexões e visão de futuroDiante deste complexo quadro de

constatações, problemas e oportuni-dades, pode-se vislumbrar algumas atividades que deverão orientar

o ensino em um futuro próximo, dentre as quais se incluem: ampliar a especialização após a graduação, promover atualização e desenvol-vimento de profissionais, já que estão atuando em áreas específicas, incentivar e motivar as entidades associativas de profissionais e de categorias econômicas no pro-cesso de organização e oferta de programas de desenvolvimento e educação continuada e inserir novas disciplinas curriculares.

Apesar de ser natural e normal o incentivo ao desenvolvimento de profissionais especializados, não se acredita que possam ser criadas decomposições da profissão farma-cêutica para os profissionais que se orientam para as atividades industriais, com diferentes denominações como engenheiro farmacêutico, químico-farmacêutico, químico-farmacêutico-biólogo. Essa reflexão pode parecer inovadora ou utópica no Brasil, porém alguns modelos já existem em outros países com formatação que poderia ser adotada aqui.

O que é mais factível é a insti-tuição de algumas especializações para os profissionais farmacêuticos

para atuarem em áreas de produ-ção, mercadologia, regulamentação, bem como de assuntos científicos e tecnológicos, dentre outras. Nestes casos, as entidades associativas, tanto de profissionais quanto da categoria econômica, não mais poderão permanecer passivas, pois são aquelas que mais conhecem a demanda, podendo investir recursos nos campos mais promissores.

Outra tendência, ainda em estágio embrionário, é a da criação de meca-nismos de avaliação profissional por um órgão da categoria, qualificando-o para o mercado de trabalho, à seme-lhança do que ocorre com algumas outras categorias profissionais.

A tendência do mercado de trabalho é selecionar profissionais com com-provada especialização, possuindo os conhecimentos básicos de um profis-sional farmacêutico, avaliado por um órgão da categoria profissional.

Somente com uma mudança forte e estruturada no processo de forma-ção, desenvolvimento e educação continuada poderão os profissionais farmacêuticos desempenhar, com efi-ciência, o papel atribuído legalmente pela sociedade brasileira.

Lauro D. Moretto é farmacêutico-bioquímico, professor doutor, responsável pela disciplina supervisão da produção da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) e vice-presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (SINDUSFARMA). É autor do livro Gerenciamento da Produção para Farmacêuticos, publicado pela RCN Editora.

F M

O conteúdo deste artigo foi desenvolvido com base na aula magna proferida no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu Gestão e Tecnologia Farmacêutica - Engenharia Farmacêutica do Instituto Racine.

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Aestabilidade de produtos farmacêu-ticos depende de fatores ambientais como temperatura, umidade e luz e de outros relacionados ao próprio produto como propriedades físicas e químicas de substâncias ativas e excipientes farmacêuticos, forma far-macêutica e sua composição, processo de fabricação, tipo e propriedades dos materiais de embalagem.

Os materiais em contato com produtos farmacêuticos devem obe-decer à regra geral de não afetar os produtos nem ser por eles afetados. Os recipientes e tampas de medica-mentos não devem ser reativos, aditivos ou absorventes, de forma a alterar a segurança, a identidade, a potência, a qualidade ou a pureza do medica-mento, ultrapassando os requisitos oficiais ou outros estabelecidos.

Ademais, os materiais que com-põem as superfícies dos utensílios e equipamentos em contato com os produtos devem ser apropriados, isto é, capazes de resistir aos agentes de limpeza e desinfecção, assim como às condições físicas dos processos (temperatura, pressão, pH etc.) sem perda de integridade ou alteração.

“Os recipientes e tampas de medicamentos não devem ser reativos, aditivos ou absorventes, de forma a alterar a segurança, a identidade, a potência, a qualidade ou a pureza do medicamento, ultrapassando os requisitos oficiais ou outros estabelecidos.”

Circular para:

COM COMP CQ

EMB ENG GQ

PPCP PROD SC

SCC

Materiais em Contato com Produtos Farmacêuticos: Vidro x PlásticoSandra de A. Graça Moretto

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Figura 1 - Condições a serem satisfeitas pelas superfícies dos utensílios em contato com os produtos

composição química, distingue-se o vidro neutro ou boro-silicato, com forte resistência hidrolítica e aos choques térmicos, e o vidro calco-sódico, com resistência hidrolítica moderada.

O vidro apresenta muito boa resistência face aos produtos orgânicos, mas ele é atacado pela água e pelas soluções ácidas e alcalinas. A deter-minação da alcalinidade da água, após contato com o vidro (conseqüência da cessão, pelo vidro, de substâncias minerais solúveis na água), permite avaliar a resistência hidrolítica deste vidro.

Além disso, a Farmacopéia Européia distingue três tipos de vidro (I, II, III), segundo sua resistência hidrolítica. Cada um deles convém para usos determinados. É possível, todavia, utilizar recipientes com uma resistência hidrolítica superior àquela recomendada para uma dada preparação. O vidro não deve ceder substâncias em quantidades capazes de afetar a estabilidade da preparação ou de apresentar risco de toxicidade. É o fabricante de um produto farmacêutico que se empenha em garantir a compatibilidade entre o recipiente de vidro e a substância que ele contém.

Figura 2 - Três tipos de vidros da Farmacopéia Européia 5.0

Material Produto

Sem reaçãoSem absorçãoSem liberaçãoResistente à limpezaResistente à desinfecçãoResistente aos processos

Na prática, os materiais utilizados e aceitos pelas autoridades sanitárias podem pertencer a três grupos:

Vidro; ▪

Aço inoxidável; ▪

Polímeros. ▪

Neste artigo daremos um destaque especial para recipientes para acon-dicionamento de medicamentos em material de vidro e plástico.

VidroO vidro possui qualidades prote-

toras superiores, estando disponível em vários tamanhos e formatos. É aprovado pela Food and Drug Ad-ministration (FDA) e não se deteriora com o tempo.

O vidro é um material que atual-mente tem utilização em embalagens tipo ampolas, flaconetes, seringas pré-preenchidas ou auto injetáveis, cartuchos ou carpules etc., pois suas boas propriedades, como transpa-rência, estabilidade, dureza, inércia e superfície lisa são, infelizmente, antagonizadas por sua fragilidade e sua resistência térmica limitada.

Sob o ponto de vista químico, o vidro é composto pela sílica (SiO2)n, o fundente (Na2O)m e o estabilizante (CaO)p. Ele possui uma estrutura semi-organizada, constituída por uma rede tetraédrica de SiO4, cujos espaços livres estão ocupados por íons Na.K ou Ca. Esta estrutura pode sofrer nume-rosas alterações como, por exemplo, a substituição parcial do silício pelo boro ou fósforo, o que permite dar ao vidro propriedades particulares.

A Farmacopéia Européia considera o vidro somente como material uti-lizado na fabricação de recipientes de acondicionamento. Segundo sua

A Farmacopéia Americana (USP) distingue quatro tipos de vidros (I, II, III e NP), segundo sua resistência hidrolítica. Os recipientes do tipo I são de vidro boro-silicato de alta resistência, os de tipo II são de vidro calco-sódico tratado e os dos tipos III e NP são de vidro calco-sódico.

Figura 3 - Utilização dos quatro tipos de vidro da Farmacopéia Americana (USP 28)

Vidro do tipo I Vidro neutro de resistência hidrolítica elevada

Resistência devida à

composição química da

massa

Resistência devida a um tratamento

de superfícieVidro do tipo III Vidro calco-sódico (habitualmente) de resistência hidrolítica média

Vidro do tipo II Vidro calco-sódico (habitualmente) de resistência hidrolítica elevada

Convém para a maior parte das preparações (para uso parenteral ou não)

Ensaios de resistência hidrolítica são efetuados a fim de determinar o tipo de vidro (I, II ou III) e de avaliar a resistência hidrolítica

Convém, em geral, para:- Preparações em veículo não-aquoso para uso parenteral;- Pós para uso parenteral (exceto preparações liofilizadas);- Preparações para uso não-parenteral

Convém para a maior parte das preparações aquosas ácidas e neutras (para uso parenteral ou não)

Tipo I Tipo II Tipo III Tipo NP

Geralmente utilizado para preparações

parenterais (ácidas, neutras e alcalinas)

Geralmente utilizado para preparações

parenterais ácidas e neutras

Pode ser utilizado para soluções parenterais

alcalinas, se os estudos demonstram

estabilidade

Só pode ser utilizado para preparações

parenterais se os estudos demonstram estabilidade

Geralmente utilizado para produtos

não parenterais (produtos de uso oral ou tópico)

A norma NBR 11819 (2004) apresenta as características dimensionais, físicas, químicas e de resistência mecânica, os procedimentos de inspeção, os critérios de aceitação e a rejeição e as metodologias de ensaio que devem ser aplicados na

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produção e utilização de embalagens de vidro destinadas ao acondicionamento de produtos farmacêuticos, líquidos, drágeas, pós, emulsões e injetáveis, seja para produtos industrializados, produtos produzidos em farmácias com manipulação ou produtos naturais. A norma apresenta ainda uma descrição das classes de não-conformidades visu-ais a serem adotadas para esse tipo de embalagem e os Níveis de Qualidade Aceitáveis (NQA) estabelecidos.

Os requisitos tratados na NBR 11819 são aplicáveis aos frascos tipo II, tipo III e NP (não parenteral), utilizados no acondicionamento de produtos farma-cêuticos. Os do tipo I não são incluí-dos (vidro de borosilicato, geralmente empregado na fabricação de frascos,

seringas e ampolas) por possuírem nor-mas e requisitos específicos destinados a esta classe destes produtos.

Materiais poliméricosOs plásticos têm se transformado no

material de embalagem farmacêutico mais popular. É um material forte, leve, razoavelmente inerte, quimicamente resistente e pode ser feito de vários polímeros para aplicações específicas. Os plásticos comuns mais utilizados são o polietileno (baixa e alta den-sidade), poliestireno, polipropileno, policloreto de vinila (PVC) e polietileno tereftalato (PET). Os plásticos são uma mistura de compostos homólogos com uma variação de peso moleculares. Os plásticos contêm também outras

substâncias tais como resíduos do pro-cesso de polimerização, plasticizantes, estabilizantes, antioxidantes, pigmentos e lubrificantes. Como o seu nome indica, são materiais constituídos pela repetição de um mesmo elemento ou elementos (monômero ou monômeros). No primeiro tipo, fala-se de políme-ros, enquanto que no segundo são chamados de copolímeros. Todavia, o termo polímeros é freqüentemen-te empregado no sentido geral de materiais poliméricos e compreende tanto os autênticos polímeros quanto os copolímeros. Enquanto os monô-meros são moléculas de fraca massa molecular, as moléculas dos materiais poliméricos são macromoléculas de massa molecular elevada.

Características Polietileno de alta densidade

Polietileno de baixa densidade Polipropileno Poliestireno PVC PET

Transparência Enevoado transparente Enevoado translúcido Transparente Transparente Transparente Transparente

Absorção de água Baixa Baixa Baixa Moderada Baixa Baixa

Permeabilidade ao vapor d’água Baixa Muito baixa Muito baixa Alta Baixa Baixa

Permeabilidade ao O2Alta Moderada-alta Moderada-alta Alta Baixa Baixa

Permeabilidade ao CO2Alta Moderada-alta Moderada-alta Alta Baixa Baixa

Resistência a ácidos Muito boa Muito boa Muito boa Boa Muito boa Muito boa

Resistência ao álcool Boa Boa Muito boa Pobre Muito boa Muito boa

Resistência a álcalis Boa Boa Muito boa Boa Boa Boa

Resistência ao óleo mineral Pobre Moderada Boa Moderada Boa Boa

Resistência a solventes Boa Boa Boa Pobre Moderada Boa

Resistência ao calor Pobre Moderada Boa Moderada Moderada-pobre Moderada

Resistência ao frio Pobre Moderada Boa Moderada Moderada-pobre Moderada

Resistência a alta umidade Excelente Excelente Excelente Excelente Excelente Excelente

Resistência ao impacto Excelente Boa Moderada-boa Pobre-boa Moderada-excelente

Moderada-excelente

Neutralidade (ser inerte) Destacada Excelente Boa-excelente Muito pobre Pobre Muito boa

Figura 4 - Materiais plásticos e suas características

Segundo descrito na Farmacopéia Européia 5.0, item 3.1.1 (materiais utilizados na fabricação de recipientes), os materiais poliméricos apresentam propriedades muito variáveis em função de sua composição química.

Problemas com embalagens de plásticoGeralmente os problemas mais

comuns com embalagens plásticas farmacêuticas são a permeabilidade, a lixiviação, a sorção, a reatividade com os componentes do produto envasado e a alteração das proprie-dades do plástico.

PermeabilidadeTrata-se da transmissão de gases, va-

pores ou líquidos através da embalagem plástica. Pode favorecer a hidrólise e a oxidação do produto envasado.

LixiviaçãoÉ quando um ingrediente da embalagem

migra para o produto envasado. Isto é relativamente comum em embalagens de PVC que contenham plasticizantes,

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tal como o dietlhexilftalato (DHEP). O DHEP pode migrar da embalagem para a solução do produto.

SorçãoResulta na perda de um princípio

ativo de uma forma farmacêutica por adsorção (fixação da substância na superfície do plástico) ou por adsorção pelo plástico da embalagem.

Conclusão

É importante salientar que se deve falar de grupos, pois se trata de materiais que podem possuir grande variabilidade em sua composição, o que leva a um amplo leque de propriedades. De fato, falar de vidro ou polímero tem apenas um sentido muito geral, pois sem definições prévias de sua composição exata é impossível, por exemplo, dar qual-quer opinião sobre seu emprego

farmacêutico. A seguir podemos observar uma tabela com sugestão de formas farmacêuticas x embalagens.

Figura 5 - Formas farmacêuticas x embalagens

Forma farmacêutica Embalagem sugerida

Comprimidos/Cápsulas Frascos pequenos de boca larga, de vidro ou de plástico de rosca ou pressão

LíquidosRecipientes ovais. Para líquidos viscosos o frasco a ser utilizado

deve ser de boca larga. Líquidos orais flavorizados podem perder o flavorizante através da volatização e permeação através da

embalagem plástica. Deve-se optar, neste caso, pelo vidro

Pós (a granel) Frascos de boca larga, geralmente de plástico

Pó dividido Papéis, sachês individuais, saquinhos de plástico

Preparações oftálmicas líquidas (colírios) Frasco gotejador de plástico, seringas (eventualmente)

Pomada ou gel oftálmico Tubos de metais, seringas (eventualmente)

Preparações óticas (preparações líquidas para uso otológico)

Frasco gotejador (vidro/plástico)

Soluções nasais Frasco gotejador (vidro/plástico), frasco spray (plástico)

Pomadas/Cremes Pote, tubo, seringa

Supositórios Cartelas plásticas (molde), sachês de plástico ou alumínio

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De um modo geral, tanto as embalagens plásticas quanto as embalagens de vidro são perfei-tamente adequadas, desde que se faça uma análise crítica do conte-údo x embalagem, no sentido de verificar a compatibilidade química do conteúdo com a embalagem, de modo a preservar a estabilidade da forma farmacêutica. F M

Sandra de A. Graça Moretto é graduada em química industrial e em ciências pela Faculdades Oswaldo Cruz (FOC), com mestrado em tecnologia bioquímico-farmacêutica pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP). Possui experiência na área química, com ênfase em química orgânica (síntese de fármacos) e química analítica, tendo atuado como colaboradora da Farmacopéia Brasileira revisando metodologias analíticas e monografias de matérias-primas. É auditora líder ISO NBR 17025/2005, instrutora da Rede Metrológica de São Paulo (REMESP) para cursos nas áreas de gestão ambiental (tratamento de resíduos) e gestão da qualidade, além de professor adjunto da Universidade Paulista (UNIP), docente do Curso Lato Sensu de Pós-Graduação Gestão e Tecnologia Farmacêutica - Engenharia Farmacêutica e coordenadora do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu Formação de Auditores para a Cadeia Industrial Farmacêutica - Auditoria Farmacêutica do Instituto Racine e assistente técnica-editorial da revista Fármacos&Medicamentos.

Referências BibliográficasBotet J. Boas práticas de instalações e projetos farmacêuticos. RCN Edi- ▪tora, p.168-170, 2006.

Ferreira AO. Guia prático da farmácia magistral. 2ª edição, p. 475- ▪477, 2002.

Jaime SM. Frascos de vidros para produtos farmacêuticos: padronização ▪e especificação junto à ABNT - Boletim de tecnologia e desenvolvimento de embalagens. No 2, v. 17, 2005.

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Aperfeita produção de comprimidos está diretamente relacionada com a sincronia existente entre a máquina compactadora e as ferramentas (punção e matrizes) utilizadas. Ambas devem estar perfeitamente dimensionadas. Além disso, a qualidade e o tipo do granulado também influenciarão dire-tamente no bom desempenho da má-quina e na produção de comprimidos. Para haver sincronia, é importante que as ferramentas sejam produzidas sob rígidos padrões de qualidade, desde a escolha do aço, a manufatura, até a produção do relatório dimensional.

Neste artigo será abordada a impor-tância das ferramentas no mecanismo de compactação de fármacos.

Produção das ferramentasO aço é o material mais comum

utilizado na produção de ferramen-tas. Embora existam outros materiais como o plástico, o metal duro e o aço inoxidável, o aço é o mais amplamente utilizado devido ao seu custo, disponibilidade, dureza, maleabilidade em diferentes formas, resistência aos materiais corrosivos e ao excessivo desgaste, com boa relação dureza x tenacidade.

O aço-ferramenta, como produto

“É importante que as ferramentas sejam produzidas sob rígidos padrões de qualidade, desde a escolha do aço, a manufatura, até a produção do relatório dimensional.”

Circular para:

SCC

PRODPPCP

GQENGCOMP

OPER

Mecanismos de Compactação - Punções e MatrizesElisabete Pinto Breuing

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industrial utilizado na fabricação de punções e matrizes, é uma liga ferro-carbono na qual se adicionam elementos de liga com o propósito de se conseguir propriedades especiais que o deixem em condições de uso dentro dos objetivos para os quais foi elaborado. Os elementos de liga mais usuais são cromo, níquel, tungstênio, vanádio, molibdênio, cobalto, manganês, silício, alumínio, fósforo, enxofre, entre muitos outros. É a variedade desses elementos na composição dos aços que permite a formação de diferentes tipos de ligas. São produzidos forjados e laminados com alto índice de qua-lidade e devem obedecer às normas internacionais. Os aços-ferramentas dividem-se em várias classes, entre elas os aços-ferramentas para trabalho a frio. Fazem parte desse grupo os aços VC131, VD2, VF800AT, VND e VW3 (denominação Villares), entre outros. Cada tipo de aço-ferramenta apresenta propriedades próprias e deverá receber tratamento térmico específico.

O aço deve proceder de empresas que garantam uma boa qualidade, com emissão de certificado de qua-lidade, pois ele é a alma da ferra-menta. É necessário frisar também que um bom aço mal trabalhado gera uma ferramenta de vida curta, fonte de prejuízos financeiros, perda de tempo e atrasos na produção, além

“O aço deve proceder de empresas que garantam uma boa qualidade, com emissão de certificado de qualidade, pois ele é a alma da ferramenta.”

do descontentamento do usuário em relação à mesma. É importante que o fabricante das ferramentas também siga os padrões internacionais e forneça todos os certificados para rastreabilidade dos mesmos. Atualmente, o padrão utilizado especificado para os fabricantes de ferramentas é do Tableting Specification Manual (antigo IPT).

Seja qual for o aço-ferramenta escolhido, inicialmente ele é usinado, seguido pelo complemento mais importante, que é o tratamento térmico (têmpera e revenimento). Esse processo permite alterar a estrutura do material, aumen-tando a dureza. A seguir, a peça é retificada e polida.

Embora diferentes fabricantes utilizem diferentes ligas de aço-ferramenta, os resultados alcançados são similares quando o material é processado de maneira adequada. É importante salientar que quando se aumenta a dureza de um material tende-se a dar maior resistência ao desgaste, mas a ferramenta nesse caso torna-se mais quebradiça (frágil). Por outro lado, quando se reduz a dureza tende-se a aumentar o desgaste, reduzindo a chance de quebra, o que torna a ferramenta tão macia que ela pode distorcer-se permanentemen-te durante o processo de compressão. O fabricante da ferramenta é o mais indicado para solucionar e discutir com o cliente qual é o melhor material, entre todos disponíveis no mercado, para corresponder às necessidades produto/custo/benefício do cliente.

Depois do polimento, podem ser aplicados sobre os punções e matrizes os tratamentos superficiais. Esses tratamentos reduzem, por exemplo, o desgaste e a corrosão e melhoram a lubricidade. Existem vários tipos de tratamentos e coberturas disponíveis no mercado que podem ser aplicadas às ferramentas de aço a fim de aumentar a sua durabilidade e reduzir os problemas encontrados durante a compactação. Entre eles, a aplicação de cromo duro é a mais utilizada, pois aumenta a dureza e evita o ataque de substâncias corrosivas.

Outros tratamentos podem ser realizados dependendo dos problemas quími-cos e mecânicos no processo de compactação. Pode-se citar como exemplo a aplicação de cromo catalisado, que dificulta a corrosão em atingir a base do metal, e o Physical Vapour Deposition (PVD), que em português significa deposição física de vapor (titânio ou cromo) e que proporciona elevadíssima dureza superficial, baixo coeficiente de atrito, propriedades de antiadesão e maior resistência ao desgaste abrasivo.

Depois de acabadas, todas as ferramentas devem passar pelo controle de qualidade e serem identificadas individualmente com o número do jogo, data

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e lote. A identificação é importante pois permite a rastreabilidade de todo o processo.

Como são peças precisas, as fer-ramentas devem ser armazenadas e manuseadas com o máximo de cuidado a fim de evitar problemas na produção, conforme discutido mais adiante.

Formato das ferramentas e suas implicações

O sucesso de um produto não está, muitas vezes, associado somente a sua embalagem, mas também ao fato da pastilha fazer parte de todo o projeto. O comprimido deve ter uma forma única e diferenciada e que corresponda às expectativas do fabricante. Também deve obedecer a certos critérios como tamanho, facili-dade de manuseio, dosagem, formato etc. Na parte da gravação existe uma infinidade de opções como gravação de logotipos e símbolos, letras, códigos de identificação, textura etc.

Mas, antes de escolher o formato e tipo de gravação, é necessário levar em consideração a natureza e o tipo de granulado a ser compac-tado. Deve ocorrer um equilíbrio entre a complexidade do desenho e a facilidade de produção tanto das ferramentas como das pastilhas.

embaçando as letras da gravação ou do desenho. Quanto mais complexo o formato e a grava-ção, maior a probabilidade de ocorrer esse fato;

O formato deve ser adequado ao ▪tamanho da ponta: pontas com diâmetro muito pequeno devem trabalhar em condições específicas e em velocidade menor;

Necessidade de técnicas de ▪extração: o formato das pasti-lhas e muitos detalhes podem dificultar a saída (extração) das pastilhas. Como é um processo que afeta somente os punções inferiores, é normal colocar a face menos complexa da pastilha nos punções inferiores.

A simplificação do formato favorece a repetibilidade das pastilhas. Portanto, os punções podem ser feitos com os mais finos e variados detalhes, mas a mecânica do processo de compressão é um fator limitante.

Punção e matrizNo processo de compactação, o

comprimido é formatado quando o punção superior se encontra com o inferior dentro da matriz. Na Figura 1 a seguir estão representados o punção superior, o inferior e a matriz com sua terminologia.

É importante ressaltar que quanto mais complicado for o desenho da pastilha, mais problemas associados com a produção serão observados. Esse fator é essencial em máquinas que desenvolvem alta velocidade. Portanto, é necessário escolher com cuidado o formato da ferramenta para que ela alcance o resultado esperado durante a produção.

Há certas restrições no processo de compactação que estão relacionadas ao material a ser comprimido e que devem limitar a escolha do formato:

Aprisionamento de ar no material ▪comprimido: o aumento da pro-fundidade da face do punção e a complexidade do formato levam a um maior aprisionamento de ar, que pode produzir o apare-cimento do capping;

Pressão necessária para uma ▪compactação satisfatória: para ser comprimido, todo produto precisa que uma certa pressão seja exercida sobre ele. Portanto, o excesso de pressão exercido nas extremidades de determinados formatos é a principal causa de quebra de ferramentas;

Tendência do granulado de ▪aderir na superfície do punção produzindo resíduos: alguns materiais, quando comprimidos, grudam na superfície do punção,

“Deve ocorrer um equilíbrio entre a complexidade do desenho e a facilidade de produção tanto das ferramentas como das pastilhas.”

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Figura 1 - Punção superior, inferior e matriz

Superfície plana da cabeça

Ângulo ou raio da cabeça

Ângulo interno da cabeça

Chaveta (nos punções irregulares e/ou multi-pontas)

Canal do retentor

Borda da faceFace

Altura da matrizProfundidade

da face

Diâmetro da matriz

Extremidadeda ponta

Ponta

Corpo

Pescoço

Cabeça

Diâmetro da cabeça

Furo da matriz

Canal de fixação da matriz

Co

mp

rim

ento

to

tal

Co

mp

rim

ento

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al

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As ferramentas são classificadas de acordo com o diâmetro do corpo e o diâmetro externo da cabeça. Os punções mais utilizados são do tipo B e D. A Tabela 1 a seguir mostra as medidas padrões TSM e EURO (europeu) desses punções.

A escolha do tipo de punção de-penderá do modelo da máquina e do formato do comprimido.

Comprimento do punçãoÉ necessário sempre acompanhar as

medidas do comprimento dos punções para evitar problemas na produção de comprimidos. O desvio excessivo no comprimento pode resultar em

danos maiores na máquina e em uma produção com baixa qualidade.

O primeiro passo é a padroniza-ção da medida dos punções, já que medidas diferentes poderão levar a interpretações errôneas do mesmo problema. O comprimento do punção é uma medida fácil de se obter e por meio dela pode-se avaliar a qualidade dos comprimidos, sendo essa medida a base do controle de qualidade.

A medida do comprimento do punção é importante parâmetro de análise já que:

A variação no comprimento afeta ▪o peso individual, a densidade e a espessura dos comprimidos;

O comprimento do punção infe- ▪rior controla o preenchimento de grânulos na matriz;

A combinação do comprimento ▪dos punções superior e inferior controla a densidade e a espessura dos comprimidos;

O controle do peso dos comprimi- ▪dos não é constante com punções com diferentes comprimentos.

O usuário dos punções pode fa-cilmente verificar o comprimento utilizando um relógio comparador adaptado a um suporte. Na Figura 2 a seguir estão representados os métodos para a medida do compri-mento dos punções.

Tabela 1 - Padrões de punções e matrizes

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não haver mistura entre lotes diferentes de punções.

A diferença no comprimento é fator importante no controle do volume, peso, espessura e densidade do comprimido. Assim, ferramentas fora das especificações ou com problema devem ser marcadas e separadas do restante do jogo.

Controle da vida útil e manutençãoA vida útil das ferramentas depende

da qualidade das mesmas, mas tam-bém dos cuidados que são tomados diariamente. É importante realizar periodicamente controle visual e ve-rificação do comprimento e diâmetro da ponta dos punções.

O armazenamento do jogo de fer-ramentas é também um fator funda-mental na manutenção da qualidade dos comprimidos. Após o uso, o jogo deve ser limpo e lubrificado com óleo protetivo e armazenado em ordem numérica em embalagem adequada e identificada externamente. Tal procedimento facilita não apenas a visualização completa do jogo mas também favorece a medição do mesmo, a observação de qualquer dano e principalmente evita possí-veis prejuízos nas ferramentas. Um dos fatores de maior ocorrência de danos com os punções é a queda, o atrito entre as ferramentas e o cho-que com outros materiais durante a manipulação e/ou armazenamento inadequado das ferramentas.

Os seguintes fatores requerem atenção, já que podem afetar a vida útil dos punções:

Produto corrosivo e/ou abrasivo; ▪

Força de compressão excessiva ▪(sobrecarga);

Desgaste da guia sobre a cabeça ▪do punção;

Danos causados pela manipula- ▪ção e colocação incorreta das ferramentas;

Corrida acidental dos punções ▪sem o granulado;

Tamanho insuficiente da borda ▪na ponta do punção;

Figura 2 - Métodos para a medida do comprimento dos punções

Existem dois métodos de medida:Comprimento total: o punção é ▪medido a partir da parte plana da cabeça do punção até a borda da face;

Comprimento funcional: o punção ▪é medido a partir da parte plana da cabeça até o fundo da face. A profundidade da face (conca-vidade) é calculada a partir da diferença entre o comprimento total e o funcional.

Para padronizar qual é o melhor método a ser utilizado para a medida dos punções, deve-se considerar dois fatores básicos:

O desgaste que ocorre com o 1. atrito da ponta do punção na matriz;

A tolerância, que é a variação 2. permitida no tamanho da base dos punções, e o desgaste das ferramentas.

Com o uso dos punções, esses dois fatores influenciarão amplamente a medida do comprimento total. Por outro lado, as medidas de compri-mento funcional praticamente não vão se alterar. Portanto, o compri-mento funcional é a medida mais constante e é utilizada para controle das ferramentas tanto durante a ma-nufatura como durante a produção de comprimidos.

Deve-se ressaltar também que, dentro de um mesmo jogo, todos os punções devem ter o mesmo compri-mento. Portanto, é muito importante

Relógio comparador

Apalpador abaulado

Apalpador pontiagudo

Co

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ento

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Co

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al

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I n s t a l a ç õ e s e P r o j e t o s F a r m a c ê u t i c o s

3 2 F á r m a c o s & M e d i c a m e n t o s 5 8 M a i o / J u n h o 2 0 0 9

Ponta e/ou borda do punção ▪amassada - A causa aparente e mais comum é o encontro de um punção com outro ou com outra superfície durante a manipulação. Neste caso, é possível realizar cuidadosamente um polimento ou uma retificação. É importante orientar o operador a nunca ligar máquina sem granulado e também ter o máximo de cuidado com a manipulação das ferramentas;

Rebarba de metal na ponta do ▪punção - Verificar também se não há desgaste acentuado da ponta do punção com diminuição do diâmetro. As causas podem ser várias: desalinhamento da ponta do punção, desgaste da guia ou do platô, excentricidade entre a ponta e o corpo do punção, va-zamento do granulado e bordas excessivamente finas em uma face profunda. Todos os pontos devem ser analisados com o fabricante da ferramenta. É necessária a substituição da ferramenta;

Manchas na face do punção - Po- ▪dem ser causadas por granulado abrasivo ou corrosivo. Verificar a lubrificação do granulado e limpar as ferramentas após o uso. Consultar o fabricante das ferramentas e verificar se há um

material mais adequado para o uso desse tipo de granulado;

Anel na matriz - O aparecimento ▪do anel (desgaste) no furo da matriz é normal. É causado pela pressão contínua na área de compacta-ção. Pode ser causado também pelo uso de granulado corrosivo e/ou abrasivo. Às vezes, podem ocorrer problemas na extração por aderência do comprimido no momento da saída. Utilizar a matriz do outro lado. Quando o desgaste for anormal, apurar se o material utilizado pelo fabricante é o adequado. No caso de gra-nulado abrasivo, utilizar banhos no furo da matriz que atenuem esse processo;

Deformação da ponta do punção - ▪A deformação da ponta do punção com ou sem alteração do compri-mento funcional tanto no punção inferior como no superior indica excesso de pressão. É possível fazer uma simples constatação girando o punção em uma superfície plana. Se o comprimento não foi alterado é possível recuperar o punção. Caso contrário, é necessária a substituição. Averiguar também a medida do diâmetro da ponta na extremidade e no fim da ponta. Se essas medidas variarem, também

Defeito interno no punção; ▪

Dureza excessiva na ponta do ▪punção;

Excessiva profundidade da face ▪do punção;

Desgaste no rolo compressor; ▪

Desgaste no curso da guia; ▪

Ausência de lubrificação no rolo ▪compressor;

Pouco lubrificante no granulado. ▪

A atenção com os itens descritos certamente aumentará a durabilidade das ferramentas.

Problemas com as ferramentasA maioria das empresas, durante

o processo de produção, se depara com problemas com as ferramentas. Muitas vezes os custos são altos e poderiam ser evitados se fosse dada a devida atenção durante a opera-ção da máquina de comprimir. Se o problema não é solucionado logo no início, os danos podem resultar no custo de um jogo novo ou mesmo em um reparo maior na máquina.

Ao menos dois terços dos problemas durante a produção de comprimidos poderiam ser evitados se fossem ob-servadas três regras básicas:

Manter a pressão de compactação 1. mais baixa possível;

Limpar e lubrificar a máquina 2. apropriadamente;

Manter os punções e matrizes em 3. boas condições.

A seguir estão relacionados os problemas observados mais freqüen-temente com as ferramentas:

Quebra da ponta do punção ▪- Quando ocorre a quebra na ponta do punção, seja na borda, na ponta, seguindo a superfície da face ou a letra de gravação, a causa provável é o excesso de dureza e pressão utilizada durante a compactação. Nesse caso, a ferramenta deve ser descartada. É necessário orientar o operador que a máquina compressora deve trabalhar com o mínimo de pressão para produzir o comprimido;

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Referências Bibliográficas

Elisabete Pinto Breuing é graduada em biomedicina e mestre em farmacologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)/Escola Paulista de Medicina (EPM). Fez pesquisa na área de farmacologia

e ministrou aulas práticas para os cursos de biomedicina, medicina e enfermagem da UNIFESP/EPM. Atualmente é diretora da Elisabete Tools e Consultora Empresarial da Máquinas Neuberger.

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será necessária a substituição da ferramenta;

Desgaste da cabeça do punção - ▪Quando a parte plana da cabeça do punção apresenta desgaste, com remoção de fragmentos de metal, indica excesso de pressão ou desgaste no rolo de compressão. É importante ressaltar que se esse problema não for solucionado rapi-damente poderá ocorrer desgaste e danos sérios tanto nas ferramentas como na máquina. Novamente é necessário orientar o operador que a máquina compressora deve trabalhar com o mínimo de pressão para produzir o comprimido. Se o problema for com o rolo com-pressor será necessário contatar o fabricante da ferramenta e/ou o fabricante do rolo;

Marcas na cabeça do punção - ▪Indicam que o punção não está rodando e o rolo compressor pode estar preso ou danificado, causando desgaste somente da cabeça. Tal acontecimento é causado pelo excesso de pressão ou pela ausência de lubrificação nos punções superiores. Neste caso, a cabeça do punção poderá ser recuperada. É indispensável averiguar se os punções estão correndo livremente e corrigir o problema. Caso contrário poderão ocorrer problemas na máquina. Se o punção trabalhar forçado, sob pressão desnecessária, ocorrerão danos no rolo compressor, afetando todos os punções da máquina;

Riscos no corpo do punção - Os ▪riscos indicam a ausência de lu-brificação e/ou corpo do punção muito justo no platô. Neste caso, realizar a lubrificação adequada ou polimento do corpo do pun-ção. Os riscos também podem ser decorrentes da presença de pó ou outros produtos na guia do punção. É imprescindível realizar uma limpeza das guias;

Desgaste no ângulo interno da ▪cabeça - Indica que o punção está preso, às vezes causando danos na guia de subida ou descida. A causa pode ser a ausência de lubrificação no punção, problema

de divergência entre o ângulo da cabeça do punção e a guia ou ainda problema de desgaste da guia. Em tal situação é necessária a reposição do punção. Neste caso, realizar uma limpeza das guias. É necessário verificar se os punções estão correndo livremente e corrigir o problema. Caso haja divergên-cia entre o ângulo da cabeça e o ângulo da guia é necessário con-tatar o fabricante da ferramenta e verificar se foram produzidas de acordo com o padrão.

ConclusãoA produção de comprimidos

depende diretamente da harmonia entre a máquina compactadora e suas ferramentas. Portanto, para haver sincronia, é importante que as ferramentas sejam produzidas sob rígidos padrões de qualidade e este-

jam de acordo com as especificações técnicas da máquina compactadora. Assim sendo, a escolha do formato da ferramenta é importante e deve levar em consideração a natureza e o tipo de granulado a ser compactado e a velocidade da máquina. É necessário o acompanhamento constante da medida do comprimento do punção, já que ele é um fator importante no controle de volume, peso, espessura e densidade do comprimido. As ferra-mentas fora das especificações ou com problema devem ser imediatamente separadas do restante do jogo. Caso seja detectado algum problema e ele persistir, mesmo depois de adotadas ações nesse sentido, deve-se contatar o fabricante da ferramenta. Embora a qualidade das ferramentas minimize a possibilidade de problemas, isso não elimina danos por negligência. F M

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I ntroduçãoO controle de qualidade de medi-

camentos destaca-se pelo número e diversidade de técnicas analíticas. Este número cresce com o desenvolvimento de novos fármacos e normalmente é necessário o desenvolvimento de novas técnicas para analisá-los.

Para garantir a confiabilidade destes novos métodos analíticos e utilizá-los no controle de qualidade, os mesmos devem ser previamente validados.

A validação de métodos analíticos é um processo no qual estudos es-tatísticos são utilizados para garantir que o método em questão atenda as exigências desejadas, fornecendo uma evidência documentada de que o método realiza aquilo para o qual é indicado fazer 1.

Entre os métodos analíticos mais empregados na indústria farmacêutica, destaca-se a cromatografia líquida de

“A validação de métodos analíticos é um processo no qual estudos estatísticos são utilizados para garantir que o método em questão atenda as exigências desejadas, fornecendo uma evidência documentada de que o método realiza aquilo para o qual é indicado fazer.”

Circular para:

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ENGCQ

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Validação de Métodos Analíticos em Cromatografia Líquida de Alta EficiênciaDaniela da Cunha Souza Patto, Anil Kumar Singh, Cid Pereira

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alta eficiência, que está presente em mais de 90% das monografias da Farmacopéia Americana 2.

Assim, este ar t igo tem como objetivo comentar brevemente os principais aspectos da validação em cromatografia líquida de alta eficiência.

Processo de validaçãoSegundo a RDC nº 210, validação

é o ato documentado que atesta qualquer procedimento, processo, equipamento, material, operação ou sistema que realmente conduza aos resultados esperados 3, ou seja, é um processo que fornece uma evidência documentada de que o método é confiável ao que se aplica 15.

A validação de métodos analíticos tem como objetivo demonstrar que as análises executadas forneçam resultados que permitam uma ava-liação dos parâmetros especificados de qualidade do produto, assegu-rando a implantação do método e verificando a confiabilidade dos resultados analíticos em função do procedimento utilizado.

O processo de validação pode ser aplicado em testes de controle de matéria-prima, testes de controle

executados em fases intermediárias do processo de fabricação, testes de controle de produto acabado e testes de estabilidade.

Antes de iniciar a validação, é necessário que os equipamentos e materiais estejam calibrados, os ana-listas sejam treinados e qualificados e que se utilize substâncias químicas de referência. Essas substâncias são espécies com estabilidade e natureza confiáveis, para análises quantitativas e qualitativas, permi-tindo comparação entre espécies analisadas, além de ser parâmetro de exatidão. É essencial que os estudos de validação sejam representativos e conduzidos de modo que a variação da faixa de concentração e os tipos de amostras sejam adequados. Um método para um composto majoritá-rio requer um critério de aceitação e uma abordagem diferente de um método desenvolvido para análise de traços 4.

A confiabilidade analítica de um método cromatográfico pode e deve ser avaliado por meio de estudos dos seguintes parâmetros: seletividade, linearidade, exatidão, precisão, limite de detecção, limite de quantificação e robustez.

“Antes de iniciar a validação, é necessário que os equipamentos e materiais estejam calibrados, os analistas sejam treinados e qualificados e que se utilize substâncias químicas de referência.”

Seletividade/EspecificidadeA seletividade de um método

cromatográfico é sua capacidade de analisar e/ou quantificar, de forma inequívoca, o analito em presença de componentes que podem interferir em sua determinação. A seletividade avalia o grau de interferência de espécies como outro princípio ativo, excipiente, impureza ou produtos de degradação. A seletividade garante que o pico/resposta seja exclusivamente do composto de interesse 4.

A seletividade é o primeiro passo no processo de validação do méto-do desenvolvido, por exemplo, de HPLC. No estudo deste parâmetro faz-se a comparação dos resultados obtidos na análise da amostra con-taminada com impurezas, estruturas relacionadas ou excipientes (placebo) com o resultados da amostra não contaminada. A análise será sele-tiva se demonstrar que o resultado da amostra não é afetado por esses contaminantes.

Outra maneira de se avaliar a se-letividade do método é por meio do teste de stress, em que as amostras são colocadas em condições extremas para acelerar o processo de degrada-ção. Geralmente, utilizam-se quatro

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da curva. Os outros pontos podem ser determinados de acordo com os guias de validação como a RE nº 899 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) 8, ou Q2(R1) do International Conference on Harmo-nisation of Technical Requirements for Registration of Pharmaceuticals for Human Use (ICH) 7, sendo que os limites da curva de linearidade podem variar de 80% a 120% da concentração teórica do teste para determinação quantitativa do analito em matérias-primas ou em formas farmacêuticas. Para determinação de traços utiliza-se a concentração do nível da impureza esperado até 120% do limite máximo especificado. Porém, esses limites são sugestões e cabe ao analista determinar quais são os limites mais adequados para a validação do seu método em estudo.

Cada solução deve ser analisada em triplicata e com a média destas análises deve ser construído um gráfico concen-tração versus área do pico. Utilizando um método matemático chamado de regressão linear, calcula-se a equação da curva (y=ax+b) e o coeficiente de correlação R2. Este parâmetro permite uma estimativa da qualidade da curva obtida, pois quanto mais próximo de 1,0, menor a dispersão dos pontos experimentais. Um coeficiente maior que 0,999 é considerado como evi-

dência de um ajuste desejável dos dados 10. A ANVISA 8 recomenda um coeficiente de correlação linear igual a 0,99 e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualida-de Industrial (INMETRO) 11 um valor acima de 0,90.

PrecisãoÉ a habilidade do método de repro-

duzir o mesmo resultado, embora não necessariamente o correto, sempre que o procedimento é executado. Repre-senta a dispersão de resultados entre ensaios independentes, repetidos de uma mesma amostra ou padrões, sob condições definidas 6, 11. Na prática, em validação de métodos, o número de determinações geralmente é pequeno (dez injeções) e o que se calcula é a estimativa do desvio padrão entre as respostas analíticas.

Outra expressão da precisão ocorre por meio da estimativa do desvio padrão relativo (RSD), também conhecido como coeficiente de variação. Normalmente, métodos que quantif icam compostos em macro requerem RSD de 1 a 2%. Em métodos de análise de traços ou impurezas, são aceitos RSD de até 20%, dependendo da complexidade da amostra 12. Uma maneira simples de melhorar a precisão é aumentar o número de replicatas 4.

“Cada solução deve ser analisada em triplicata e com a média destas análises deve ser construído um gráfico concentração versus área do pico.”

condições: hidrólise alcalina, hidrólise ácida, hidrólise oxidativa com H2O2 3% e hidrólise neutra. Estas soluções são aquecidas a temperaturas elevadas e monitoradas até o aparecimento de produtos de degradação. Se houver degradação da amostra em uma destas condições, o pico desses produtos não poderá ter o mesmo tempo de retenção do pico da amostra, de-monstrando, assim, que o sinal da amostra não é afetado por produtos de degradação 5. As concentrações das soluções ácida e alcalina, assim como o tempo de aquecimento, devem ser avaliados pelo analista de acordo com a substância analisada.

LinearidadeNa linearidade, avalia-se a capa-

cidade do método em demonstrar que os resultados (área ou altura do pico) são proporcionais à concentra-ção do analito, dentro de uma faixa determinada de aplicação 2, 6, 7.

São necessários pelo menos cinco concentrações diferentes para traçar uma curva de linearidade. Estes pontos são determinados durante o desen-volvimento do método. Em primeiro lugar, identifica-se a concentração de analito, em que a altura do pico seja entre 80 e 120 mAU. Esta concen-tração é chamada de concentração teórica do teste e será o ponto central

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Reprodutibilidade é o grau de concordância entre os resultados das medições de uma mesma amostra, efetuados em condições variadas 13. Refere-se aos resultados dos estudos de colaboração entre laboratórios e deve ser considerada em situações de padronização de procedimentos analíticos.

ExatidãoA exatidão é sempre considerada

dentro de certos limites, a um dado nível de confiança (aparece sempre associada a dados de precisão). Es-tes limites podem ser estreitos em níveis de concentração, elevados e mais amplos em níveis de traços 4. O ICH 6 estabelece que um mínimo de nove determinações envolvendo um mínimo de três níveis de concentra-ção diferentes deve ser obedecido. Por exemplo, ensaios em triplicata para três níveis de concentração. Esta recomendação também é seguida pela ANVISA 8.

Um dos processos mais utilizados na indústria para avaliar exatidão de um método de HPLC é o ensaio de

recuperação.O padrão da substância é adicio-

nado à matriz isenta da substância ou à amostra (enriquecimento da amostra). Na maioria dos casos, a dispersão dos resultados aumenta com a diminuição da concentra-ção e a recuperação pode diferir substancialmente a altas e baixas concentrações. Por esse motivo, a recuperação deve ser avaliada na faixa de concentração esperada para composto de interesse. Isto pode ser feito adicionando o padrão à amostra em ao menos três diferentes concentrações, por exemplo, próximo ao limite de quantificação, próximo à concentração máxima permitida pelo método em teste e em uma concentração próxima à média da faixa de uso do método. Para aná-lises de traços, o Grupo de Analistas de Resíduos de Pesticidas (GARP) 14 recomenda que se trabalhe em níveis de adição de uma, duas e dez vezes o valor do limite de quantificação. Para componentes em maiores concentrações, os níveis de adição podem ser 50, 75, 100, 125 e 150%

A precisão em validação de métodos é considerada em três níveis diferentes: repetibilidade, precisão intermediária e reprodutibilidade 4.

A repetibilidade envolve várias medições da mesma amostra em diferentes preparações, é denomi-nada precisão intra-ensaio e pode ser expressa por meio do RSD 4. O INMETRO 11 recomenda sete ou mais repetições e a ANVISA 8 e o ICH 6 sugerem um mínimo de nove determinações, cobrindo o limite especificado do procedimento (três níveis de concentração, três repeti-ções de cada um).

Precisão intermediária indica o efeito das variações dentro do laboratório devido a eventos como diferentes dias, diferentes analistas ou diferentes equipamentos ou uma combinação destes fatores 6. A precisão interme-diária é reconhecida como a mais representativa da variabilidade dos resultados em um único laboratório e, como tal, é aconselhável que seja adotada. Quanto ao número de ensaios, utilizar o mesmo sugerido pelo ICH 6 e pela ANVISA 8.

“Precisão intermediária indica o efeito das variações dentro do laboratório devido a eventos como diferentes dias, diferentes analistas ou diferentes equipamentos ou uma combinação destes fatores.”

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do nível esperado para a substância 7. As medições de recuperação são ex-pressas em termos de porcentagem da quantidade medida da substância em relação à quantidade adiciona-da à amostra, em um determinado número de ensaios 4.

Limite de detecçãoO limite de detecção (LD) representa

a menor concentração da substância em exame que pode ser detectada, mas não necessariamente quantificada 6, 11. O LD pode ser determinado por meio do método relação sinal-ruído e no método baseado em parâmetros da curva analítica.

Método relação sinal-ruído: pode ser aplicado somente em procedi-mentos analíticos que mostram a linha de base, tal como HPLC. Para determinar a relação sinal-ruído é efetuada a comparação entre a medição dos sinais de amostras em baixas concentrações, conhecidas do composto de interesse da matriz 14, e um branco (matriz isenta do com-posto de interesse) destas amostras. É estabelecida uma concentração

mínima na qual a substância pode ser facilmente detectada. A relação sinal-ruído pode ser de 3:1 ou 2:1, proporções geralmente aceitas como estimativas de detecção.

Método baseado em parâmetros da curva analítica: pode ser expresso como LD = 3,33 (Dp/a), onde Dp é a média do desvio padrão das respostas e a é o coeficiente angular da curva analítica da linearidade.

Limite de quantificaçãoO limite de quantificação (LQ)

representa a menor concentração da substância em exame que pode ser medida, utilizando um procedimento experimental 6, 11.

Como LD, o LQ é expresso como uma concentração, sendo que a pre-cisão e a exatidão das determinações também devem ser registradas. Esse critério é uma boa regra a ser seguida, porém não se deve esquecer que a determinação do LQ representa um compromisso entre a concentração, a precisão e a exatidão exigidas. Isto significa que, quando decresce o nível de concentração do LQ, a

medição torna-se menos precisa. Se houver necessidade de maior precisão, uma concentração maior deve ser registrada para LQ 4.

Os mesmos critérios de LD podem ser adotados para o LQ utilizando a relação 10:1, ou seja, o LQ pode ser calculado utilizando o método visual, a relação sinal-ruído ou a relação entre a estimativa do desvio padrão da resposta DP e a inclinação da curva analítica de linearidade por meio da equação LQ = 10(Dp/a).

O melhor caminho para se cal-cular LQ e LD é utilizar o método baseado nos parâmetros da curva analítica e posteriormente verificar experimentalmente o valor de LQ encontrado 4.

RobustezA robustez mede a vulnerabilidade

de um método analítico a pequenas variações 11. Diz-se que um método é robusto quando este não é afe-tado por pequenas variações em seus parâmetros, como a variação das proporções do solvente (de 2 a 5%), pH da fase móvel, (0,1 a 0,5

“O limite de quantificação (LQ) representa a menor concentração da substância em exame que pode ser medida, utilizando um procedimento experimental.”

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F M

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Daniela da Cunha Souza Patto é engenheira química graduada pela Universidade de São Paulo (USP) - Lorena e mestre em orgânica e dou-tora em ciências na área de química orgânica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é químico de pesquisa nas Indústrias

Químicas Taubaté (IQT) e professora titular da Universidade Paulista (UNIP).

Anil Kumar Singh é farmacêutico e bioquímico graduado pela Jamia Hamdard University, Nova Deli, Índia, e doutor em produção e controle farmacêutico pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. Atualmente é supervisor sênior

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da Mas Pharma (Ranbaxy), em Nova Deli, Índia, e docente e pesquisador da FCF-USP.

Cid Pereira é bacharel em química e mestre em química inorgânica pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e doutor em físico-química pela USP. Atualmente é professor titular da UNIP.

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Considerações finaisPara que um estudo de validação

seja conduzido com sucesso, é necessário que se tenha conheci-mento da legislação referente às substâncias em estudo e as diretrizes propostas pelas agências reguladoras que atuam na área farmacêutica.

É ideal que se faça uma opção da linha a ser seguida durante todo o processo.

A validação de métodos pode ser um procedimento tedioso, mas a qualidade dos resultados gerada está diretamente relacionada com a qualidade do processo.

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T e r c e i r i z a ç ã o

4 4 F á r m a c o s & M e d i c a m e n t o s 5 8 M a i o / J u n h o 2 0 0 9

Oinventário é a ação de contar o esto-que físico e comparar com o estoque sistêmico, com o objetivo de eliminar as distorções entre estes estoques e apurar o resultado da empresa.

A acuracidade de estoque (inventory accuracy) é a eficácia dos controles da empresa e reflete a diferença entre o estoque físico e o sistêmico. O cálculo é obtido por meio da divisão entre o valor contábil do estoque físico por Stock Keeping Unit (SKU) - Unidade de Controle de Estoque, conforme contagem do inventário e o estoque contábil ou estoque reportado pelo sistema antes dos ajustes de inventário.

A acuracidade de estoque é um dos principais Key Performance Indicators (KPI) ou Indicadores de Performance Chave que refletem os direcionadores (drivers) de valor estratégico, podendo

“A acuracidade de estoque é um dos principais Key Performance Indicators (KPI) ou Indicadores de Performance Chave que refletem os direcionadores (drivers) de valor estratégico, podendo ser mensurada periodicamente nos inventários rotativos e contabilizada no inventário Global, os quais, muitas vezes, ocorrem apenas uma vez por ano.”

Circular para:

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SC

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Acuracidade de Estoque em Logística de Medicamentos e Produtos para a SaúdeEduardo Braga Simaika

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ser mensurada periodicamente nos inventários rotativos e contabiliza-da no inventário Global, os quais, muitas vezes, ocorrem apenas uma vez por ano.

Em uma operação logística com-plexa, a filosofia de outsourcing ou terceirização de gestão, que delega a provedores especializados a mo-vimentação de mercadoria, é muito utilizada devido a este processo não fazer parte do negócio central (core bussiness) da empresa, sendo a acuracidade de estoque um im-portante driver para a cobrança de multas contratuais do depositante (contratante) ao operador logístico (contratado). Este acordo é deno-minado Service Level Agreement (SLA) ou acordo sobre o nível de serviço, que analisa a qualidade da operação e vincula ao contrato de terceirização.

Segundo pesquisa, o indicador de acuracidade do estoque atinge, em média, no Brasil, 95%, sendo que as melhores práticas de mercado têm índice de 99,95% em países como o Japão e os Estados Unidos da América (EUA).

A proposta deste artigo é demonstrar, com um estudo de caso (case), as ferramentas utilizadas no levantamento das causas, as tecnologias e as ações realizadas para elevar este importante indicador de desempenho às melhores práticas de mercado, tendo em vista as características específicas para a movimentação de medicamentos e produtos para a saúde.

Peculiaridades do segmento de fármacos & medicamentos Nas operações de movimentação e armazenagem de medicamentos e

produtos para a saúde encontram-se algumas características que exigem uma complexidade técnica e sistêmica mais elaborada como:

Princípios ativos iguais para itens comerciais diferentes; ▪

Multiplicidades de embalagens diferentes; ▪

Controle de lote e validade; ▪

SKU sem EAN freqüentes em materiais para a saúde; ▪

Acondicionamento específico segundo normas do segmento; ▪

Controles rígidos de temperatura e umidade; ▪

Unidade de manipulação muito pequena; ▪

Grandes volumes de atendimento. ▪

Levantamento das causasNa busca de oportunidades de melhoria foi utilizado o Método de Análise

de Solução de Problemas (MASP), pois propicia a utilização das ferramentas da qualidade de forma ordenada e lógica, facilitando a análise de proble-mas, a determinação de suas causas e a elaboração de um plano de ação para a eliminação dessas falhas.

Para o levantamento das causas prováveis foi utilizada a ferramenta da qualidade Diagrama de Ishikawa, popularmente conhecida como diagrama “Espinha de Peixe”, utilizada para facilitar a interpretação e a identificação das causas do problema, analisando a relação de causa e efeito, por meio dos seis M (meio ambiente, mão-de-obra, método, matéria-prima, máquinas e equipamentos e medidas).

Após as causas levantadas, utiliza-se o Gráfico de Pareto para determinar o impacto de cada causa, segundo levantamento de ocorrência, resultando na Figura 1 a seguir.

Figura 1 - Gráfico de Pareto

Máquina Material

Método

Meio ambiente

MediçãoMão-de-obra

Informação na posição do estoque com defasagem devido à separação ser com picking list

Deficiência de matemática básica e lógica na contagem e separação (picking)

Acuracidade de estoque

Lentidão na análise e solução dos problemas pela baixa organização de itens/SKU/Restrições/ Depositante por rua e Qtde elevada do SKU por local

Itens sem EAN

“O indicador de acuracidade do estoque atinge, em média, no Brasil, 95%”

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T e r c e i r i z a ç ã o

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Diagrama de IshikawaSeguem as principais causas con-

forme as análises de divergências levantadas no estudo de caso da acuracidade de inventário:

A deficiência de matemática ▪básica foi uma grande surpresa no levantamento das causas. Os erros de contagem na separação e conferência decorriam mais por falta de matemática básica e ló-gica do que por falta de atenção. Para constatar o levantamento realiza-se uma prova com todos os operadores de separação e conferência, medindo o conheci-mento das propriedades básicas e lógicas, porém menos de 10% da equipe conseguiu atingir a média pretendida de 70%;

A troca de produtos no ato da ▪separação era alto, principal-mente com os materiais médico-hospitalares, por não possuírem o código de barras reconhecido universalmente pela European Article Numbering (EAN), soma-do à grande similaridade visual dos itens;

Dificuldade no gerenciamento de ▪análise de divergência e inventário rotativo devido à separação ser realizada em picking list, pois sua baixa ocorria somente ao final da coleta, deixando a posição de armazenagem desatualizada durante o processo de picking;

A presença de um mesmo item ▪espalhado em diversas ruas e misturado em uma mesma posi-ção com outros itens dificultava a contagem e análise de divergência de uma separação.

Ações implementadasRealizou-se uma reunião com os

responsáveis pelas áreas envolvidas na qual foi utilizada a técnica de brainstorming, em que a equipe multidisciplinar apresenta suas idéias, sem censura, para as possíveis ações a serem tomadas. Esta técnica visa a quantidade de idéias e a forma de organização das mesmas para um melhor resultado das ações.

Após este levantamento foi utilizado o Sistema GUT (Gravidade, Urgência e Tendência), para determinar quais ações deveriam ser priorizadas para a melhor construção do plano de ação. Assim, utiliza-se a Tabela 1 a seguir para pontuar cada ação de acordo com o seu impacto.

Tabela 1 - Sistema GUT (Gravidade, Urgência e Tendência)

Valor Gravidade Urgência Tendência

3 Resolve o problema Até uma semana Piorar com o tempo

2 Ameniza o problema De uma semana a um mês Manter

1 Adia o problema Mais de três meses Reduzir com o tempo

Com isso, as ações realizadas segundo os métodos descritos anteriormente e estudo de caso em análise foram:

Treinamento de matemática básica, lógica e conceitos básicos de me- ▪dicamentos e produtos para a saúde, conseguindo recuperar 70% das equipes deficientes de coleta, conferência e entrega;

Reformulado o processo de recrutamento e seleção com a inclusão de ▪prova e análise de Predictive Index (PI);

Realizadas transferências internas para a adequação quanto ao perfil do ▪colaborador e ao perfil da vaga;

A melhoria nas equipes de coleta, conferência e entrega após os trei- ▪namentos realizados, reformulação do recrutamento e as transferências internas de colaboradores resultaram em uma significativa melhora na acuracidade de entrega, devido a uma melhor interpretação dos produtos e cálculo preciso para as quantidades requisitadas;

Utilizados coletores de rádio freqüência em 100% das coletas, assim, ▪a baixa do estoque na posição de armazenagem ocorreu no ato da se-paração. Conseguindo saber a qualquer momento a quantidade exata de um SKU em estoque, essa alteração viabilizou o inventário rotativo e a análise de divergência de coleta;

Implantação do conceito de local cativo que define um único grupo de ▪locais em área nobre (área de picking), neste caso mercadoria armaze-nada no primeiro nível da estrutura porta palete, a qual não necessita de empilhadeira para a movimentação, sendo reabastecido periodicamente por meio de ressuprimento automático com os estoques da área não nobre

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(área não picking), nível superior que necessita a utilização de empilhadeira;

No ressuprimento automático o ▪sistema respeita a priorização de saída do item mais antigo - First Expire First Out (FEFO), tradu-zindo, primeiro que vence é o primeiro que sai - gerenciando as mercadorias do estoque de acordo com o prazo de validade. O sistema informa ao operador de empilhadeira os locais de origem e destino a serem transferidos, a fim de manter a área de picking com a quantidade necessária para o atendimento dos pedidos;

Com a movimentação de itens ▪somente no local cativo, a faci-lidade de contagem na área não picking devido à padronização das quantidades acelera os processos de análise de divergência de separação e contagem durante o inventário rotativo, garantindo uma melhor acuracidade de estoque;

Na implementação do local ca- ▪tivo o sistema foi parametrizado para priorizar o armazenamento de cada SKU o mais próximo de seu local cativo, acelerando o processo de ressuprimento e facilitando a contagem de um SKU. Para isso foi realizado planejamento na escolha dos locais cativos respeitando o giro, o volume e as características de coleta e ressuprimento de cada SKU;

Para os produtos sem o código ▪de barra foi criado, no ato do recebimento, um procedimento interno para a identificação de cada SKU com o código interno, identificando também o lote e a validade, garantindo o correto armazenamento, separação, con-tagens de inventário e análises de divergências.

Resultados obtidosO Gráfico 1 a seguir demonstra a melhoria na acuracidade de esto-que, atingindo o índice de 99,98% no último inventário (dezembro de 2008), com 0,03% acima das me-lhores práticas de mercado.

Referências Bibliográficas

Eduardo Braga Simaika é forma-do em engenharia de produção pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Possui mais de dez anos de experiência em grandes operações logísticas como Americanas.com, Shoptime e Digilog. Atualmente atua como gerente de fármacos no Grupo TPC sendo responsável por todas as

operações de medicamentos e pro-dutos para a saúde, dentre as quais a operação da Secretaria de Saúde do Município de São Paulo (SMS-SP)com a distribuição de medicamentos para os 650 pontos de entregas - Unidades Básicas de Saúde (UBS), Atendimen-tos Médicos Ambulatoriais (AMA) e Farmácias Dose Certa.

Ballou RH. Business Logistics/Sup- ▪ply Chain Management. 5th edition, 2004, P.

Brasil. TigerLog Consultoria e Trei- ▪namentos em Logística Ltda. KPIs. 2009. http://www.tigerlog.com.br/logistica/kpi.asp

F M

Gráfico 1 - Acuracidade de estoque

Como todo e qualquer plano de melhoria contínua, os resultados mais significativos ocorreram nos primeiros meses de implantação. Isso devido à utilização de técnicas para a identificação dos impactos de cada causa e a priorização das ações a serem realizadas.

O incremento do programa de qua-lidade e de melhoria contínua, que já fazem parte do plano estratégico da empresa, somado ao comprome-timento da equipe e posicionamento sistêmico e continuado pela equipe de TI, realizando as melhorias em tempo hábil e preciso, em sincronia com as alterações dos processos operacionais,

formaram o lastro fundamental para o crescimento continuado e a correta implementação das ações planejadas, evitando o retrabalho por meio do acompanhamento in loco em cada etapa do projeto.

A parceria com o cliente em uma relação transparente, honesta e profissional complementou para consolidar os resultados obtidos de modo sustentável.

Para o cumprimento das melhores práticas de mercado, os principais diferenciais se encontraram na atenção, na persistência aos de-talhes e na constante quebra dos paradigmas operacionais.

100.00%99.80%99.60%99.40%99.20%99.00%98.80%98.60%98.40%98.20%98.00%97.80%97.60%97.40%97.20%97.00%

06/2007

Acuracidade $ Melhores práticas

12/2007 06/2008 12/2008

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5 0 F á r m a c o s & M e d i c a m e n t o s 5 8 M a i o / J u n h o 2 0 0 9

C onceito de nanotecnologiaA nanotecnologia compreende

um novo paradigma na ciência, em que as dimensões e as propriedades dos materiais são tratadas na escala nanométrica. Tais materiais passam a apresentar novos comportamentos ou propriedades diferentes daquelas ob-servadas em escala macroscópica.

O prefixo “nano” vem do grego “anão” e é utilizado para designar uma parte em um bilhão, ou seja, um nanômetro (1 nm ou 10−9 -m) e corresponde a um bilionésimo de um metro. Para se ter uma idéia desse tamanho, 1 nm corresponde a cerca de 10 átomos enfileirados ou ao diâmetro de um nanotubo de carbono. Uma molécula de DNA

“O prefixo ‘nano’ vem do grego ‘anão’ e é utilizado para designar uma parte em um bilhão, ou seja, um nanômetro (1 nm ou 10−9 -m) e corresponde a um bilionésimo de um metro. Para se ter uma idéia desse tamanho, 1 nm corresponde a cerca de 10 átomos enfileirados ou ao diâmetro de um nanotubo de carbono.”

Circular para:

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GQ

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COMPCOM

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SC SCC

Nanotecnologia como Inovação a Fármacos e MedicamentosJuliano A. Bonacin

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tem uma dimensão de cerca de 100 nm, um pouco menor que um vírus, por exemplo. Fazendo uma comparação mais simples, pode-se verificar que o diâmetro de um fio de cabelo é 0,1 mm ou cerca de 100.000 nanômetros.

Analisando em termos tecnológicos, uma primeira motivação para o de-senvolvimento dessa tecnologia está associada ao fato de que um número cada vez maior de possibilidades venha a ser reunido em sistemas de dimensões muito pequenas, au-mentando assim sua compactação, capacidade de operação e eficiência. No entanto, mais que a procura pelo simples benefício direto da redução de tamanho, a grande motivação para o desenvolvimento de objetos e dis-positivos nanométricos reside no fato de que novas propriedades físicas e químicas, antes ausentes no material macroscópico, são observadas.

Na verdade, a alteração das pro-priedades de um material ao atingir a escala nanométrica se deve à com-binação de dois fatores: de um lado os efeitos quânticos, oriundos das dimensões nanométricas, e de outro

os efeitos superficiais, ocasionados pelo aumento na razão entre a área e o volume. Com isso, a nanotecnologia busca um melhor aproveitamento das novas propriedades desses nanoma-teriais que são obtidas por meio do controle de propriedades, tamanho e formas adequadas 1, 2.

Toda essa revolução nas propriedades intrínsecas dos novos materiais abre um grande mercado a ser explorado em nanotecnologia. Praticamente todos os segmentos industriais de grande porte podem se beneficiar e aproveitar dessas vantagens competi-tivas em seus produtos, podendo-se destacar as indústrias de polímeros, têxteis, resinas, semicondutores, dispositivos eletrônicos, sensores de precisão, energia, produtos químicos, alimentos, cosméticos e fármacos. O potencial desta nova tecnologia criou um clima de competição científica e tecnológica, movendo recursos humanos e financeiros na indústria mundial. Estima-se que a produção industrial anual excederá a um trilhão de dólares entre 2010 e 2015 e que cerca de 15% dos produtos vendidos apresentarão algum componente que

“Estima-se que a produção industrial anual excederá a um trilhão de dólares entre 2010 e 2015 e que cerca de 15% dos produtos vendidos apresentarão algum componente que envolva nanotecnologia.”

envolva nanotecnologia, requerendo aproximadamente dois milhões de profissionais especializados 3.

Indústria farmacêutica e oportunidades

Uma das indústrias que mais pode se beneficiar com o advento da na-notecnologia é, indubitavelmente, a indústria farmacêutica. Na Figura 1 pode ser observado um estudo sobre a evolução da indústria química nos últimos anos no Brasil e nesse estudo constata-se uma crescente ascensão no faturamento líquido do complexo químico brasileiro e um aumento da participação do setor farmacêutico. O faturamento do setor farmacêutico, em 2007, foi de aproximadamente 15 bilhões de dólares e, para manutenção desse valor e aumento das receitas, o setor investe altos montantes em pesquisa e desenvolvimento.

Atualmente, o gasto com o desen-volvimento de um novo fármaco é de cerca de meio bilhão de dólares e o tempo empregado para tal desenvolvi-mento é de dez a 20 anos. Além disso, não se pode esquecer que pesquisa e desenvolvimento envolvem certos

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5 2 F á r m a c o s & M e d i c a m e n t o s 5 8 M a i o / J u n h o 2 0 0 9

riscos, embora em alguns casos estes sejam controlados ou minimizados. Uma das alternativas utilizadas pe-las empresas para minimizar custos, prazos de desenvolvimento e risco é o desenvolvimento incremental de fármacos já existente e de eficácia comprovada. Com isso, é possível despender valores entre 50 a 100 milhões de dólares e diminuir o tempo de pesquisa para aproximadamente cinco anos 4. Além disso, abre espa-ço para o patenteamento de novas apresentações e novas formulações, oferecendo ao desenvolvedor vantagens competitivas no mercado. Aliando-se ao conceito de desenvolvimento incre-mental, outro aspecto importante na minimização dos riscos de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) é o desenvol-vimento em conjunto com institutos de pesquisa e, principalmente, com empresas de desenvolvimento de base tecnológica.

Uma perspectiva para o desenvol-vimento incremental de fármacos consiste na elaboração de uma nova apresentação baseada em Sistemas de Liberação Controlada (SLC) ou drug delivery systems. Os SLC são um exemplo inteligente de como a nanotecnologia efetivamente contribui para a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação no setor.

Figura 1 - Crescimento na indústria brasileira e distribuição por setores entre 1997 e 2007

“Os SLC são um exemplo inteligente de como a nanotecnologia efetivamente contribui para a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação no setor.”

Fonte: Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM), Análise SupraNano

Sistemas de Liberação Controlada (SLC)Os SLC, utilizados no campo farmacêutico, apresentam outras apli-

cações em diferentes segmentos, por exemplo, no setor alimentício, que utiliza este conceito para adição de agentes flavorizantes, estabi-lizantes, conservantes e mascarantes de sabor. A indústria cosmética tanto emprega essa tecnologia para aumento do tempo de vida de componentes ativos instáveis como também para melhorar sua pene-tração na pele.

Dentre os SLC empregados na indústria farmacêutica, pode-se des-tacar as tecnologias que estão atingindo o estado da arte como as na-noesferas, as nanocápsulas, os hidróxidos lamelares, os dendrímeros e associações com ciclodextrinas. Na Figura 2 pode ser observada uma ilustração dos diferentes sistemas de liberação controlada.

Faturamento líquido do Complexo Químico - BrasilUSD bilhões

Uso industrial

Farmacêutico

Higiene pessoalAdubos e fertilizantes

Sabões e detergentesPesticidas

Tintas e vernizesOutros

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Figura 2 - Sistemas de Liberação Controlada (SLC)

(1) Nanoesferas, (2) Nanocápsula, (3) Hidróxidos lamelares, (4) Dendrímeros e (5) Interação de fármacos com ciclodextrina

As nanoesferas apresentam-se como partículas menores que 1 µm e de composição polimérica em que o fármaco ou o princípio ativo do medicamento encontra-se uniformemente distribuído no interior da matriz polimérica. Já as nano-cápsulas apresentam um sistema do tipo reservatório em que o fármaco está solubilizado em um solvente, ou não, no interior da cápsula, cuja parede pode ser formada por um ou mais polímeros. A mem-brana ou parede vai se rompendo e liberando o conteúdo de acordo com a alteração do ambiente. Esta tecnologia permite uma liberação programada ajustar a tal parâmetro as variações de temperatura, força iônica, pressão, atrito e até mesmo choque de pH 5, 6.

1

4

F = Fármaco

5

2 3

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5 4 F á r m a c o s & M e d i c a m e n t o s 5 8 M a i o / J u n h o 2 0 0 9

Outros sistemas interessantes são os hidróxidos lamelares ou hidróxidos duplos lamelares, que promovem processos de intercalação de alguns fármacos entre suas lamelas. Com isso, nesse tipo de SLC o indivíduo pode ingerir via oral o novo medi-camento e, ao entrar em contato com o suco gástrico, este sofre um processo ácido-base tendo sua lamela dissolvida. Esse sistema é interessante em casos de tratamento por fármacos que atacam a mucosa gastrointestinal ou substâncias que estimulam a produção excessiva de suco gástrico, pois a dissolução das lamelas alcalinas, além de auxiliar na neutralização do sistema digestório, promove a liberação do fármaco 7.

No caso dos dendrímeros, os fár-macos estão distribuídos entre suas cadeias orgânicas e sofrem processo de liberação à medida que encontram um ambiente químico apropriado.

Os SLC baseados em ciclodextrinas consistem em uma interação supramo-lecular do tipo hóspede-hospedeiro entre as moléculas de ciclodextrina e os fármacos. Esse efeito promove uma melhor solubilização do fármaco em água (no caso de fármacos inso-lúveis) e uma liberação posterior no organismo durante a solubilização do sistema. Para interação entre ciclo-dextrinas e fármacos, as moléculas ativas têm que apresentar estruturas ou cadeias hidrofóbicas que possam interagir com a cavidade interior de ciclodextrina 8.

Desempenho dos SLCA tecnologia de liberação controlada

de fármacos representa uma das fron-teiras da ciência e da nanotecnologia e envolve aspectos multidisciplinares, podendo contribuir inequivocamente para uma melhoria na saúde huma-na. O objetivo dos SLC é manter a concentração do fármaco dentro do nível terapêutico por um determinado tempo de tratamento, utilizando-se de uma única dosagem ou um nú-mero bem reduzido. Um fármaco convencional apresenta oscilações

no nível plasmático e por isso torna-se necessário ingeri-lo várias vezes durante o tratamento. A diferença de concentração plasmática efetiva em função do tempo, comparando-se sistemas convencionais aos de liberação controlada, pode ser melhor visualizada na Figura 3.

Figura 3 - Modelo simplificado de liberação controlada de fármacos

Esse processo de liberação lenta, gradativa ou controlada oferece inúmeras vantagens quando comparado ao tratamento com fármacos ou medicamentos convencionais. Dentre essas vantagens destacam-se:

Utilização de fármacos de todas as formas, características ou solubilidade ▪variadas;

Especificidade de atuação nos alvos, sem a necessidade de sistemas ▪carreadores complexos;

A eficácia terapêutica, com liberação controlada e progressiva do fármaco, ▪a partir da desestruturação ou solubilização da matriz;

Diminuição significativa dos efeitos colaterais e aumento do tempo de ▪permanência na circulação;

Minimização da quantidade de fármacos utilizados, ou seja, maior efici- ▪ência ou eficiência equivalente com quantidade reduzida;

Aumento da estabilidade de fármacos hidrolisáveis ou facilmente ▪oxidáveis.

Regulamentação e ética profissionalOs SLC apresentam-se como uma revolução no setor farmacêutico no

aspecto econômico. Contudo, sua maior contribuição está no tratamen-to de doenças, no alcance de alvos específicos ou na minimização dos efeitos colaterais. Além disso, a utilização de uma quantidade menor de princípios ativos e um aumento de eficiência pode proporcionar minimi-zação de custos de produção e promover economia de átomos e energia. Com vistas a isso, os SLC podem dar início a um grande passo rumo ao desenvolvimento sustentável e à utilização dos conhecimentos de química verde (green chemistry).

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Tratamento

Super dosagem

Sub dosagem

Tempo

Liberação convencional

Liberação controlada

Nível terapêutico

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Por se tratar de uma tecnologia emergente, são necessários estudos avançados e responsáveis para uma maior compreensão dos benefícios apresentados e eventuais problemas. Não existe qualquer tecnologia, sis-tema ou processo que não apresente vantagens e desvantagens, daí a importância de estudos sérios e não tendenciosos. Torna-se indispensá-vel a participação do governo na regulamentação dos procedimentos, normas, estudos e no fomento de pesquisa e incentivos à inovação. Mas o governo não pode caminhar sozinho e por isso é fundamental o diálogo com institutos de pesquisa, Universidades, empresas de tecno-logia e a própria indústria.

A nanotecnologia, diferentemente de outras tecnologias, não surgiu pri-meiro do empirismo e posteriormente voltou para o estudo e o entendimen-to. Essa (nano)tecnologia surgiu do pensamento de cientistas, das idéias de visionários que vislumbravam um mundo melhor. Primeiramente, a nanotecnologia surgiu no “papel” e posteriormente foi para a “bancada”. Atualmente, a nanotecnologia está sendo conduzida por profissionais, por pesquisadores, por cientistas e por empresários que despendem anos de dedicação ao estudo e aprimora-mento desses conceitos. Por isso, a nanotecnologia está sendo lapidada por profissionais. Caso contrário, na mão de amadores, poderia haver inúmeros problemas. Um trabalho sério somente é realizado por pro-fissionais qualificados, com apoio governamental, estudos isentos e, principalmente, fundamentado na ética profissional.

Considerações finais e perspectivasAs indústrias que estiverem mais

atentas a essa tecnologia e mais bem preparadas poderão encontrar um mercado pouco explorado pela frente, tendo condições de realizar avaliação de mercado adequada, pes-quisa, desenvolvimento e inovação diferenciada. Com isso, é possível

se tornar líderes de mercado no Brasil e no restante do mundo. Essas perspectivas também estão abertas aos profissionais: químicos, enge-nheiros, farmacêuticos, bioquímicos, enfermeiros, médicos, pesquisadores etc. São estes os protagonistas desse desenvolvimento. Além disso, tam-bém se observa um grande espaço no mercado para novas empresas de desenvolvimento, P&D e de alta tecnologia, assim como para start up, do tipo spin off ou spin out.

Espera-se que a atuação da na-notecnologia no setor farmacêutico traga novos fármacos ou novas apresentações destes, com maior eficiência e menores efeitos colate-rais. Acredita-se que seja possível a liberação dos princípios ativos em F M

regiões específicas ou atuação siner-gística entre dois ou mais fármacos, o que não seria possível com química tradicional. Além disso, com um maior entendimento e estudo dos SLC espera-se uma maior segurança nos produtos encontrados no mercado e uma melhora na qualidade dos tratamentos.

Pode-se ir além, utilizar a imagi-nação e a criatividade e, quem sabe, em um futuro não muito distante, exista algum produto no mercado com características once a week, ou seja, se tomaria uma única dose por semana e não ocorreria o esqueci-mento e a conseqüente interrupção do tratamento, de maneira que os maiores beneficiados dessa tecnologia seríamos todos nós.

Referências Bibliográficas

Juliano A. Bonacin é graduado em química pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e doutorado e pós-

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L e i a n o P o r t a l R a c i n ew w w . r a c i n e . c o m . b r

5 8 F á r m a c o s & M e d i c a m e n t o s 5 8 M a i o / J u n h o 2 0 0 9

A Governança, a Gestão de Riscos e a Conformidade (GRC) são questões de extrema importância que permeiam, ou pelo menos assim deveria ser, toda a corporação e não apenas ao Chief Executive Officer (CEO), ao Chief Fi-nancial Officer (CFO) ou ao Conselho Administrativo (CA) e aos acionistas, pois seus impactos certamente, de uma forma ou de outra, incidem sobre toda a organização e podem, dependendo da conduta, ser devastadores.

As questões de GRC consistem na integração de conceitos e práticas de governança (corporativa), riscos (sua gestão) e compliance (aos regulatórios) e devem suportar, qualificar e, por que não, inovar os processos corporativos.

“A Governança, a Gestão de Riscos e a Conformidade (GRC) são questões de extrema importância, pois seus impactos, certamente, de uma forma ou de outra, incidem sobre toda a organização e podem, dependendo da conduta, ser devastadores.”

Circular para:

SSO

RHJURGDIR

Segurança e Saúde no Trabalho (SST): Governança, Risco e Compliance em Face do Novo Conceito de Doença OcupacionalSelma de A. e Graça

DMCAREGADM

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A Gestão de Riscos pode ser de-finida como um processo contínuo e sistêmico de lidar, prevenir ou mitigar qualquer evento que possa interromper todo tipo de operação e continuidade do negócio.

Por sua vez, a conformidade (ou compliance) envolve estar de acordo com qualquer processo contratual, mecanismo regulatório ou legislação específica e vigente.

Neste artigo, pretendo destacar as questões sobre risco e sua gestão, que, por sua vez estão intrinsecamente relacionadas à preservação da saúde ocupacional e do ambiente de trabalho, seja como forma de harmonização do processo de produção, seja como parte da atividade empresarial e mesmo pelo resultado que se espera, pela socie-dade, de sua participação na cadeia produtiva, como “um todo”.

A palavra risco, em si, encerra uma série de questões que abor-dam o risco estratégico, o risco operacional (financeiro), passando, ainda, por diversos tipos ou espé-cies de riscos, como riscos em TI, riscos de indisponibilidades físicas e ambientais, climáticas, riscos do negócio, riscos à integridade física e psíquica do ser humano, dentre

outros. No caso vertente, a idéia é levar o leitor à reflexão, uma vez que o contexto legislativo de nosso País, mormente para as questões relacionadas ao contrato de traba-lho e à forma de custeio prevista na legislação previdenciária para a manutenção das aposentadorias especiais, remetem, coercitivamente, ao fiel diagnóstico do que realmente acontece na empresa.

Aspectos jurídicos da reformulação do conceito de acidente do trabalho x doença ocupacional

A par t ir da edição da Lei nº 11.430/2006, a doença ocupacional passou a representar relação “entre Classificação Internacional de Doen-ças (CID) e segmento econômico”. Nesse sentido, passo a elucidar os aspectos técnicos e jurídicos adotados pela nova Instrução Normativa nº 31, editada pela Previdência Social no dia 11 de setembro de 2008, su-cessora da INMPS nº 16/2007 e que teve por escopo a operacionalização da conduta da perícia médica, para a caracterização, ou não, do Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP) e, via de conseqüência, a descaracte-rização de benefício previdenciário

para acidentário.Observa-se, de plano, que, sob

o enfoque técnico (competência legal e funcional), passou o perito às seguintes condutas:

A - Autonomia e exclusividade •para a caracterização do NTEP, tanto em razão da constatação de “doença profissional” quanto em razão de doença ocupacional, pela análise do CID x segmento econômico (lista A e B do anexo V do Decreto no 6042/2007);

B - Autonomia para a caracte-•rização do NTEP, pela avaliação individual e em razão de acidente típico ou pelo diagnóstico de comprometimento da saúde física ou mental em razão do ambiente laboral;

C - Autonomia para a caracte-•rização do NTEP, em razão da “significância estatística” esta-belecida pelo rol de doenças/CID vinculados ao segmento. Vê-se, portanto, que a nova IN nº 31/2008 vem definir, com maior amplitude, o conceito técnico do NETP, autorizando expres-samente o perito da previdência à fixação de causa e efeito para a conversão de benefícios até então tidos como previdenciários (B 91), como acidentários e, via

“A conformidade (ou compliance) envolve estar de acordo com qualquer processo contratual, mecanismo regulatório ou legislação específica e vigente.”

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L e i a n o P o r t a l R a c i n ew w w . r a c i n e . c o m . b r

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de trabalho individual);

E - Quando a decisão da perícia •for com base no NTEP (prevalência epidemiológica - CID x segmento), à empresa cabe a contestação diretamente na Agência da Pre-vidência Social (APS). No caso de indeferimento da contestação, aí sim o recurso deverá ser feito ao CRPS. Nessa situação, haverá efeito suspensivo da modalidade do benefício concedido.

Impacto do Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP) no custo da empresa

A partir do Decreto nº 6042/2007 surge um indexador sobre o Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), chamado de fator acidentário previdenciário e que tem como fato gerador de tributo, freqüência, gravidade e custo, para a Previdência Social, em decorrência da concessão de benefícios auxílio-doença. Este indexador passa a se multiplicar sobre o SAT (que as empresas recolhem para os cofres da Previdência Social em função de seu grau de risco e incidente sobre a folha de salários).

É certo que, em razão do adiamento da cobrança do Fator Acidentário de Prevenção (FAP) - alíquota tributária, para janeiro de 2010, a partir da

de conseqüência, com todos os reflexos jurídicos no contrato de trabalho, conforme veremos adiante. Vale ressaltar que, contra a decisão de conversão do benefício previdenciário para acidentário, nos termos do artigo 3º, inciso I e II, do texto retro transcrito, caberá apenas recurso ao Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS). Portanto, não será permitido o questionamento da decisão contra o perito que a proferiu, cabendo à empresa, no prazo de 30 dias a partir do conhecimento da con-versão, promover o dito recurso, situação em que está permitida a juntada de novos documentos, inclusive estatísticas médicas, diagnósticos individuais e outros, que se prestem à comprovação do afastamento do NTEP, para o caso concreto;

D - Quando a decisão da perícia •do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) for formulada com base nos nexos técnicos profis-sional/trabalho ou por doença equiparada a acidente de tra-balho/individual e o empregador discordar da decisão, será possível interpor recurso ao CRPS. Essa medida, no entanto, não terá efeito suspensivo (para a hipótese de doença profissional ou acidente

publicação do Decreto nº 6577, de 26 de setembro de 2008, prima face, passaram as empresas a desfrutar de “certo fôlego” financeiro. Mas, de qualquer forma, o NTEP está em vigor. E se não tem havido recurso administrativo para a sua descarac-terização, o certo é que as taxas de freqüência, gravidade e custo estão alimentando o “fapímetro”, para não se falar nas implicações jurídicas, pelo reconhecimento, pelo perito, do NTEP, com a obrigação de pa-gar: a)com reflexos financeiros nos contratos de trabalho, tendo em vista que os acidentes e/ou afastamentos tidos pela Previdência Social como acidentários ainda remetem a empresa ao recolhimento pretérito do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e ao respeito à estabilidade de 12 meses, prevista na legislação previdenciária; b) no relevante au-mento do passivo trabalhista, em razão das indenizações, se a empresa não provar, com robusta prova documental (prevenção e controle epidemiológico, inclusive, do ambiente de trabalho) e competência do perito assistente, com vistas à descaracterização do NTEP; c) aumento expressivo do recolhimento previdenciário, em juízo, hoje da ordem de 20% so-

“A partir do Decreto nº 6042/2007 surge um indexador sobre o Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), chamado de fator acidentário previdenciário.”

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F M

Leia a versão integral deste artigo no Portal Racine: www.racine.com.br

bre as verbas salariais devidas; d) eventual sujeição a execuções fiscais previdenciárias, pelo não pagamento da alíquota complementar - FAP; e) eventual sujeição a ação regressiva, promovida pela Previdência Social (artigo 120 da Lei nº 8213/91), para ressarcimento dos cofres públicos, por negligência, imprudência na manutenção, preservação e controle da saúde ocupacional.

Gestão integrada - importância do RH no domínio antecipado da informação para a contraprova legal do NTEP

O Sistema de Gestão de Pessoas

(SGP) foi construído de forma a asse-gurar a captação, capacitação, fixação e agrupamento de potenciais huma-nos, minimizando a possibilidade de perdas nos investimentos praticados. Pois bem, esta gestão de pessoas implica na discussão e avaliação dos planos de ações elaborados a partir do desdobramento das diretrizes propostas, estabelecendo novas me-tas corporativas - exata definição do planejamento, execução e controle das práticas de gestão.

Destaco, também, que, a partir do Decreto nº 6042/2007, a vigilância epidemiológica (identificação, análise e

Selma de A. e Graça é graduada em direito pela Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), pós-graduada em direito do trabalho pelo Núcleo de Desenvol-vimento Amauri Mascaro Nascimento e formada pelo Centro da Qualidade, Segurança e Produtividade (QSP) para o Brasil e América Latina como auditora interna pela norma OSHAS 18.001. Possui mais de 20 anos de experiência profissional em consultoria e assessoria

jurídica terceirizada em empresas na-cionais e multinacionais. Atualmente é consultora jurídica e instrutora do QSP, consultora jurídica e ministrante de cursos em relações trabalhistas e Segurança e Saúde do Trabalho (SST) do Sindicato da Indústria Farmacêutica do Estado de São Paulo (SINDUSFARMA) e integrante do grupo de coordenação e auditoria do Prêmio SINDUSFARMA de Qualidade 2009.

acompanhamento de funcionários com agravos à saúde em geral - absenteísmo elevado -, doenças ocupacionais e acidentes de trabalho) passaram a ser questão sine qua non para a descarac-terização do NTEP e, reflexamente, a redução da alíquota do FAP.

Portanto, a identificação, o controle e a monitoração de um programa de gestão integrado impõem inovadores desafios impostos às áreas de Recursos Humanos (RH) e aos gestores, bem como de suas consultorias externas, inclusive advogados e médicos do trabalho, e que estão muito além do “básico controle da saúde ocupacional”.

“A identificação, o controle e a monitoração de um programa de gestão integrado impõem inovadores desafios impostos às áreas de Recursos Humanos (RH) e aos gestores, bem como de suas consultorias externas.”

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N a v e g u eL o g í s t i c a e

S u p p l y C h a i n M a n a g e m e n t

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www.ilos.com.brEste site é o mais completo e referência em assuntos relacionados

a logística e Supply Chain Management. Formado por uma equipe renomada de membros do Instituto COPPEAD de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cujo líder é o Dr. Paulo Fleury. A abordagem é ampla, tratando de questões mercadológicas, índices econômicos, cursos e artigos publicados. É indispensável para os profissionais que desejam se manter atualizados com o que existe de mais significativo disponível na web.

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Adalberto Vieira é graduado em publicidade e relações públicas pela Universidade Anhembi Morumbi. Atualmente é responsável pelo desenvolvimento de novos negócios no Brasil do operador logístico CSI Cargo, de origem Argentina.Ricardo Hirschfeld é graduado em engenharia mecânica e pós-graduado em administração de marketing pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e fez MBA em logística empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e em gestão de operações pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP). Atualmente é executivo de novos negócios da AGV Logística.

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J o r n a l

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Visando o mercado latino-americano, a CPhI South America 2009 reunirá executivos de empresas fabricantes de química fina, distribuidores de matérias-primas e laboratórios farmacêuticos. Mais de oito mil visitantes são espe-rados, de 26 a 28 de agosto de 2009, no Transamérica Expo Center, em São Paulo (SP). Promovida pela UBM Brazil, uma das líderes mundiais no setor de organização de eventos técnicos, a CPhI é considerada referência internacional na área de feiras farmacêuticas, sendo o maior evento do mundo de ingredientes farmacêuticos. A versão européia já acontece há 18 anos. Paralelamente à CPhl South America ocorrerá, entre outros eventos, a P-MEC South America - Feira internacional e de fornecedores de máquinas e equipamentos para a indústria farmacêutica.

Os visitantes da CPhI são compradores da indústria farmacêutica, profissionais

que trabalham na área de pesquisa & desenvolvimento e legislação, além de compradores internacionais, represen-tantes de outros países que queiram importar no mercado europeu os pro-dutos brasileiros, os traders e os distri-buidores. O evento conta com o apoio das principais entidades relacionadas à produção de medicamentos e fornece-dores de insumos farmacêuticos.

Um dos destaques da feira é o lança-mento do BioPh - Biosolutions for Phar-ma, área especialmente voltada para a biotecnologia. O espaço antecipa o que será apresentado na CPhI Worldwide, na Europa, em outubro próximo - neste ano tendo como sede a cidade de Madri, na Espanha - e tem como objetivo mostrar aos visitantes as principais tendências mundiais para o setor.

Outros eventos paralelos são o 2nd Latin American Pharma Business Fórum, que abordará dados do setor, informações

sobre o mercado latino-americano, temas referentes à regulamentação e cases de sucesso. A ISPE - Afiliada Brasil (Associação Internacional de Engenharia Farmacêutica) coordenará a primeira edição do ISPE Brazil Life Science Con-gress. Durante os três dias do evento especialistas da área de tecnologia na fabricação de medicamentos debaterão sobre os temas Ar comprimido para a indústria farmacêutica, Nova norma brasileira NBR 16401:2008/Normas de filtros absolutos, Cold chain na indústria farmacêutica, SIP - Steam in Place, HVAC para áreas limpas - projetos, ensaios e certificações, Transporte para cadeia fria, Águas grau farmacêutico PW e WFI, Validação de processos estéreis e não estéreis, Excelência operacional 6 na indústria farmacêutica, Procedimentos de operação e manutenção em Loops PW/ECAW Eletrochemical activated water, Harmonização das farmacopéias e Excelência operacional OEE na indústria farmacêutica. Organizado pelo Con-selho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), no dia 27 será realizado o Seminário sobre Pesquisa Clínica, que abordará diferentes temas. A programação paralela conta ainda com o 1º Simpósio SINDUSFARMA de Gestão Farmacêutica, promovido pelo Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (SINDUSFARMA), que inclui palestras e debates sobre assuntos diversos. Os eventos paralelos à CPhI South America e à P-MEC South America são pagos e as inscrições podem ser realizadas pelos sites www.cphi-sa.com.br ou www.pmec-sa.com.br.

CPhI South America 2009 Atrai Participantes Internacionais e Foca Insumos Farmacêuticos

CPhI South America - Feira Internacional de Ingredientes para a Indústria FarmacêuticaP-MEC South America - Feira Internacional de Fornecedores de Máquinas, Equipamentos e Serviços para a Indústria FarmacêuticaData e horário: 26 e 27 de agosto de 2009, das 13h às 20h, e 28 de agosto de 2009, das 13h às 18hLocal: Transamérica Expo Center - São Paulo (SP) - BrasilEndereço: Dr. Mário Villas Boas Rodrigues, 387 - Santo AmaroSite: www.cphi-sa.com.br e www.pmec-sa.com.brE-mail: [email protected] e [email protected]