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VOZEIRO DA ASSEMBLEIA COMARCAL DE NÓS-UNIDADE POPULAR DE VIGO NÚMERO 5 · JANEIRO - FEVEREIRO - MARÇO DE 2013 Gente sem casa, casas sem gente Durante o ano 2012 mais de 1.200 imóveis fôrom embargados no mu- nicípio de Vigo e produzírom-se 564 despejos. Esta cifra seria maior se as execuçons de despejo nom se tivessem congelado desde o mês de novembro até o final do ano por ordem do governo, umha medida pretensamente “de graça” que só vai adiar o problema sem solucionar ab- solutamente nada. O dado contrasta com o censo de vivendas vazias que, segundo o Instituto Galego de Esta- tística, se acha perto das 20.000. Eis a macabra ironia à que se enfrenta o povo trabalhador vigues. Os proprie- tários acaparam vivendas suficien- tes para albergar a todas as famílias despejadas durante os próximos 40 anos, mas ainda assim decenas som expulsas das suas casas cada mês e abandonadas à sua sorte. As 4.500 pessoas que atualmente vivem nas ruas da Galiza (segundo os pouco fiáveis dados oficiais) som a melhor testemunha da gravíssima situaçom pola que passam as clas- ses populares. Por se fosse pouco, os principais beneficiários desta sangria, os bancos, vivem hoje das injeçons de dinheiro público que é pago polos mesmos trabalhadores e trabalhadoras aos que roubam as suas moradas. O famoso artigo 47 da constituiçom espanhola, que ou- torga a todos os súbditos o direito a umha morada digna, nom é mais do que o remate para esta brincadeira desagradável. Nos últimos tempos abundam as vo- zes que se alçam contra esta escan- dalosa injustiça. Desde os coletivos de apoio às pessoas afetadas até os oportunistas de qualquer pelagem em parlamentos e concelhos, cla- mam contra a inumanidade dos des- pejos. Desta variada oposiçom par- tem todo tipo de propostas, a cada qual mais ocorrente, sobre como frear o drama. Proponhem-nos a daçom em pagamento, períodos de carência, limitar a concessom de hi- potecas, procedimentos concursais e subsídios à banca e aos utentes. Porém, todos eles batem de frente contra a realidade do capitalismo, contra a certeza de que enquan- to permitamos que a vivenda seja umha mera mercadoria com a que negociar, nada vai mudar. Chegados a esse ponto, som poucos os que conseguem dar um passo ao frente e assumir que o modelo de proprie- dade privada que o capitalismo nos impom é incompatível com o direito a ter um teto. Figérom-nos aceitar pola força que devemos respeitar o direito dos ricos a possuir as vivendas antes que o di- reito dos pobres a viver dignamente, mas agora começamos a ver que se- melhante lógica só nos traz famílias na rua, suicídios e pobreza extrema. A única saída possível à atual situa- çom é colocar as necessidades bá- sicas do povo trabalhador por cima de qualquer outra consideraçom: há que expropriar as vivendas vazias aos bancos e às imobiliárias para entregar-lhas às obreiras e obreiros sem recursos. E ainda mais, se o go- verno nom quer assumir esta tarefa teremos que ser nós mesmas quem o fagamos. É intolerável que alguns se fagam de ouro especulando com os direitos mais elementares do povo e deve ser proibido imediatamente. Se em Vigo existem milhares de vi- vendas vazias em maos dos empre- sários, há que reparti-las imediata- mente entre as viguesas e vigueses com menos recursos: desemprega- das, jovens, reformados e famílias numerosas. Se isto incomoda os proprietários, pior para eles, antes de contentar a umhas poucas em- presas com balanços anuais multi- milionários devemos preocupar-nos por garantir umha vida digna para o resto da sociedade. Só medidas como esta modificarám realmente a desesperada situaçom que atra- vessamos atualmente, o resto de receitas milagrosas que nos oferece a esquerda parlamentar som umha simples maquilhagem para tapar um problema estrutural que precisa du- mha intervençom radical e decidida. Entrevista a Paco Martínez Projetado novo centro comercial no Calvário Sanidade pública está a ser destruída NÓS-UP reclama independência Se o presente é de luita, o futuro é nosso Multas de tránsito atingem 9 milhons anuais Vizinhança exige infraestruturas municipais O membro do comité de em- presa de Vitrasa explica-nos os objectivos e resultados da última greve na empresa. O pequeno comércio do bairro do Calvário vê-se ameaçado pola construçom dumha nova grande superfície. O estado dos hospitais vigue- ses ilustra o processo de des- mantelamento deste serviço. A esquerda independentista mostra em Vigo o seu rejeita- mento à Constituiçom. Artigo de opiniom de Adriám Vasques sobre a luita da ju- ventude contra o capitalismo. O governo municipal está a fi- nanciar a sua gestom aumen- tando exponencialmente a ar- recadaçom em multas. Bairros e paróquias deman- dam mantimento básico de ruas e canalizaçons de água. Página 2 Página 3 Página 3 Página 3 Página 4 Página 3 Página 3 SUMÁRIO

Faro Obreiro nº5

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Já na rede o número 5 do Faro Obreiro

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Page 1: Faro Obreiro nº5

VOZEIRO DA ASSEMBLEIA COMARCAL DE NÓS-UNIDADE POPULAR DE VIGO NÚMERO 5 · JANEIRO - FEVEREIRO - MARÇO DE 2013

Gente sem casa, casas sem genteDurante o ano 2012 mais de 1.200 imóveis fôrom embargados no mu-nicípio de Vigo e produzírom-se 564 despejos. Esta cifra seria maior se as execuçons de despejo nom se tivessem congelado desde o mês de novembro até o final do ano por ordem do governo, umha medida pretensamente “de graça” que só vai adiar o problema sem solucionar ab-solutamente nada. O dado contrasta com o censo de vivendas vazias que, segundo o Instituto Galego de Esta-tística, se acha perto das 20.000. Eis a macabra ironia à que se enfrenta o povo trabalhador vigues. Os proprie-tários acaparam vivendas suficien-tes para albergar a todas as famílias despejadas durante os próximos 40 anos, mas ainda assim decenas som expulsas das suas casas cada mês e abandonadas à sua sorte. As 4.500 pessoas que atualmente vivem nas ruas da Galiza (segundo os pouco fiáveis dados oficiais) som a melhor testemunha da gravíssima situaçom pola que passam as clas-ses populares. Por se fosse pouco,

os principais beneficiários desta sangria, os bancos, vivem hoje das injeçons de dinheiro público que é pago polos mesmos trabalhadores e trabalhadoras aos que roubam as suas moradas. O famoso artigo 47 da constituiçom espanhola, que ou-torga a todos os súbditos o direito a umha morada digna, nom é mais do que o remate para esta brincadeira desagradável.

Nos últimos tempos abundam as vo-zes que se alçam contra esta escan-dalosa injustiça. Desde os coletivos de apoio às pessoas afetadas até os oportunistas de qualquer pelagem em parlamentos e concelhos, cla-mam contra a inumanidade dos des-pejos. Desta variada oposiçom par-tem todo tipo de propostas, a cada qual mais ocorrente, sobre como frear o drama. Proponhem-nos a daçom em pagamento, períodos de carência, limitar a concessom de hi-potecas, procedimentos concursais e subsídios à banca e aos utentes. Porém, todos eles batem de frente

contra a realidade do capitalismo, contra a certeza de que enquan-to permitamos que a vivenda seja umha mera mercadoria com a que negociar, nada vai mudar. Chegados a esse ponto, som poucos os que conseguem dar um passo ao frente e assumir que o modelo de proprie-dade privada que o capitalismo nos impom é incompatível com o direito a ter um teto.

Figérom-nos aceitar pola força que devemos respeitar o direito dos ricos a possuir as vivendas antes que o di-reito dos pobres a viver dignamente, mas agora começamos a ver que se-melhante lógica só nos traz famílias na rua, suicídios e pobreza extrema. A única saída possível à atual situa-çom é colocar as necessidades bá-sicas do povo trabalhador por cima de qualquer outra consideraçom: há que expropriar as vivendas vazias aos bancos e às imobiliárias para entregar-lhas às obreiras e obreiros sem recursos. E ainda mais, se o go-verno nom quer assumir esta tarefa

teremos que ser nós mesmas quem o fagamos. É intolerável que alguns se fagam de ouro especulando com os direitos mais elementares do povo e deve ser proibido imediatamente.

Se em Vigo existem milhares de vi-vendas vazias em maos dos empre-sários, há que reparti-las imediata-mente entre as viguesas e vigueses com menos recursos: desemprega-das, jovens, reformados e famílias numerosas. Se isto incomoda os proprietários, pior para eles, antes de contentar a umhas poucas em-presas com balanços anuais multi-milionários devemos preocupar-nos por garantir umha vida digna para o resto da sociedade. Só medidas como esta modificarám realmente a desesperada situaçom que atra-vessamos atualmente, o resto de receitas milagrosas que nos oferece a esquerda parlamentar som umha simples maquilhagem para tapar um problema estrutural que precisa du-mha intervençom radical e decidida.

Entrevista a Paco Martínez

Projetado novo centro comercial no Calvário

Sanidade pública está a ser destruída

NÓS-UP reclama independência

Se o presente é de luita, o futuro é nosso

Multas de tránsito atingem 9 milhons anuais

Vizinhança exige infraestruturas municipais

O membro do comité de em-presa de Vitrasa explica-nos os objectivos e resultados da última greve na empresa.

O pequeno comércio do bairro do Calvário vê-se ameaçado pola construçom dumha nova grande superfície.

O estado dos hospitais vigue-ses ilustra o processo de des-mantelamento deste serviço.

A esquerda independentista mostra em Vigo o seu rejeita-mento à Constituiçom.

Artigo de opiniom de Adriám Vasques sobre a luita da ju-ventude contra o capitalismo.

O governo municipal está a fi-nanciar a sua gestom aumen-tando exponencialmente a ar-recadaçom em multas.

Bairros e paróquias deman-dam mantimento básico de ruas e canalizaçons de água.

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SUMÁRIO

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ENTREVISTA

“Negociou-se o convénio luitando na rua. Como umha luita de classe, como umha luita obreira”Faro Obreiro entrevista Paco Martínez, trabalhador de Vitrasa e membro do Comité de Empresa pola CIG.Ao longo do mês de dezembro o quadro de pessoal de Vitrasa se-cundou umha greve indefinida. Quais eram as reivindicaçons que provocárom o conflito?

As reivindicaçons principais do con-flito eram obter dous descansos semanais, porque até o de agora ví-nhamos fazendo turnos de 8 dias de descanso ao mês. Podiamos ter nu-mha semana um dia ou botar semana e meia sem nengum descanso. E ao mesmo tempo, termos dous fins de semana e meio fixos ao mês. Além

disso, pedíamos nom trabalhar os dias feriados. Os descansos,fôrom umha das partes principais das nos-sas reivindicaçons.

Umha reivindicaçom que perdemos na greve foi a jornada de trabalho. Tínhamos umha jornada de 1.735 horas ao ano e a empresa queria subi-la a 1.800. A nossa parte prin-cipal na reivindicaçom era manter a jornada de trabalho como mínimo, os dous dias de descanso semanais e mais os 14 dias feriados do ano. Além disso, solicitávamos 22 dias de férias laborais, nom naturais, o que supom arredor de 33 dias.

Que avanços lográrom as traba-lhadoras e trabalhadores?

Conseguiu-se um investimento cara o futuro. O que figemos foi criar umha base social para a negocia-çom do próximo convénio, no ano 2014.

Também conseguimos ter umha quinta paga extra em setembro, de 550€. No 2012 nom tivemos nengu-mha classe de incremento econó-mico, mantivemos o mesmo salário que no ano 2010. Por isso solicita-

mos umha compensaçom de 300€ consolidáveis, e para o ano 2013 umha compensaçom de 250€, fa-zendo um total de 550€ que vamos cobrar no mês de setembro. Porque, pensando também nas famílias que tenhem filhos, que tenhem que pa-gar o colégio e os livros, sempre é umha boa ajuda.

Vitrasa é umha empresa privada mui repressora. Durante a concessom, a Vitrasa ninguém lhe fijo umha greve geral; a dia de hoje os trabalhadores/as nom tenhem medo ao patronato.

O transporte público nom deve ser um negócio. Perante o mau ser-viço a utentes e más condiçons laborais que padece o quadro de pessoal, a municipalizaçom de Vi-trasa é umha necessidade?

Seria aconselhável e necessário que fora municipal como a àgua, como o lixo. É um serviço que tinha que ser público, o que supom uns benefícios para a cidadania, já que, se o esta-mos pagando, devemos exigir um serviço público de qualidade.

Também o problema vem do Conce-lho, que nom permite a Vitrasa au-mentar o serviço. É o que dá licença para modificar as linhas, a frequên-cia dos autocarros e as paróquias a onde se deslocam. Se umha as-sociaçom vicinal solicita que polo seu bairro passe um autocarro cada meia hora, Vitrasa fai um estudo e o concelho é quem o aprova. Nom negamos que entre Vitrasa e o Con-celho haja um acordo, é todo umha corruptela política.

Outro grande problema é a frequên-cia e os horários que nos impom a empresa. Nom podemos ter umha linha como a C3 que vai de Coia ou

Bouças até o alto da Encarnaçom atravessando toda a cidade, e ter-mos 40 minutos para fazer 14 qui-lómetros donde cada 100 metros tés umha parada.

Os serviços e horários de Vitrasa som inviáveis numha cidade como Vigo que mudou nos últimos 5 anos. Os horários da empresa levam im-plantados desde há 15 ou 20 anos. Quando entrei a trabalhar no ano 1996, deslocava numha jornada de trabalho uns 1.000 viageiros/as. A maioria da gente de Vigo nom ti-nha carro, era um luxo. Os tempos mudárom e a gente começou a ter um ou dous carros na casa. Desceu o número de viageiros, aumentou o trânsito e as retençons, e com a modernizaçom da cidade o horário segue sendo igual, mas nom tés o mesmo tempo para fazer o percurso.

No momento que o Concelho tenha que fazer-se cargo do transporte público, sabemos que deve realizar modificaçons no bilhete. O estudan-tado, desempregados/as e jubilados/as nom deverám pagar, e as famílias numerosas devem ter descontos.

A configuraçom atual do serviço de Vitrasa nom vincula a periferia com o centro, para cobrir as ne-cessidades reais do povo. Para atingir estes objetivos, como con-figurarias tu o serviço?

Por exemplo, de Coia a Encarnaçom ida e volta: o que faria seria cortar a linha à metade do trajeto, através dumha pequena “central” na zona centro, ou repartida em várias zonas da cidade. Mais um exemplo, a C3 que vai polo centro de Vigo até o cru-zamento de Colom. Esse autocarro daria a volta e o que vem de Chape-la iria até o cruzamento de Colom. O cartom de Vitrasa deveria ser como o de outras cidades nas que podes ter um bono mensal que nom conta as viagens que fagas. Viajas todo o mês as vezes que queiras e só pa-gas umha quota.

Vigo necessita um novo modelo integral de transporte coletivo, económico e nom contaminante. Na década de sessenta foi supri-

mido o tranvia. Qual é a viabili-dade de recuperar este meio de transporte, tal como existe em boa parte da Europa?

O primeiro é humanizaçom das ruas e desenhar a cidade para o trans-porte público. Em lugar dum tranvia, poderia haver um metro ligeiro em ruas grandes como Gram Via, elimi-

nando os jardins do meio. Por ai po-deria circular o tranvia direçom rua Corunha e passar por Beiramar, ao mesmo tempo instalar paradas para fazer transbordo com o autocarro e que se combinaram, além do uso do bono, que empregaríamos em diver-sos transportes.

FARO OBREIRO · Número 5 · Janeiro - Fevereiro - Março 2013

“Vitrasa é umha empresa privada mui repressora. Durante a concessom, a Vitrasa ninguém lhe fijo umha greve; a dia de hoje os/as trabalhadores/as

nom tenhem medo ao patronato.”

“O serviço tinha que ser público e de qualidade; a dia de hoje é um serviço

privado mas nom de qualidade”

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Centro comercial Bandeira ameaça o pequeno comércio do bairro do Calvário

Sanidade pública está a ser desmantelada em Vigo

Estám prontas para começar as obras para a construçom dum novo centro comercial no bairro do Calvá-rio, concretamente no velho prédio Bandeira que permanece desocupa-do desde a década de 80.

Todo aponta a que a licitaçom desta obra está vinculada aos interesses da cadeia de supermercados Merca-dona, que instalaria aqui a sua quar-ta grande superfície na cidade.

Durante os últimos anos, diversos coletivos reclamárom todo tipo de usos para os terrenos, desde a

construçom de vivendas sociais até a sua utilizaçom para fins culturais e recriativos. Porém, finalmente a lógi-ca capitalista impom-se sobre os in-teresses do povo trabalhador e este espaço será destinado aos negócios dumha empresa.

É de salientar o efeito catastrófico que estas instalaçons vam ter sobre o pequeno comércio do bairro, que com certeza forçará o feche de mui-tos pequenos estabelecimentos e a perda de postos de trabalho. Em es-pecial, será o mercado municipal do Calvário quem padecerá as piores

consequências. Trata-se também dumha má notícia para as trabalha-doras e trabalhadores do setor, pois os empregos do ramo serám subs-tituídos polos contratos precários e mal remunerados que caraterizam às grandes superfícies comerciais.

Trata-se ademais dumha instala-çom completamente inecessária, pois existem nas proximidades duas grandes superfícies deste tipo, umha delas do mesmo grupo. Fica em evi-dência que a construçom deste cen-tro comercial só responde aos inte-resses empresariais de Mercadona.

Mercadona promove estas instalaçons que substituirám os empregos no ramo por contratos precários, temporais e mal remunerados.

O estado dos hospitais públicos do município está a degradar-se com velocidade vertiginosa. A imagem que se está a tornar habitual das áreas de urgências retrata perfeita-mente esta situaçom: doentes nos corredores, camas nas salas de esperas, instalaçons que caem aos pedaços e pessoal insuficiente para dar umha atençom adequada.

A isto soma-se a denúncia por parte das trabalhadoras e trabalhadores dos cortes nas condiçons salariais e laborais perpetrados desde as admi-nistraçons sanitárias.

No entanto, continua a construçom com dinheiro público dum novo cen-tro hospitalário que será gerido por empresas privadas para o seu lucro.

Vizinhança exige mantimento de infraestruturas básicas

Caballero quer que paguemos os serviços públicos a base de multas de tránsito

NÓS-UP reivindica independência para a Galiza no Dia da Constituiçom espanhola

Os desorbitados orçamentos dos últimos anos para “humanizar” as ruas de Vigo demostrárom ser inú-tiles para atender as necessidades vicinais em infraestruturas urbanas.

As permanentes obras para embe-lecer o centro da cidade resultárom ser apenas um envoltório de luxo que oculta gravíssimas deficiências na maior parte do município.

Acumulam-se as denúncias popu-lares polo mal estado do pavimento

em grandes bairros como Teis ou Cabral, assim como pola ineficiência das canalizaçons de águas residuais e pluviais.

O deterioro das infraestruturas fai-se mais notório enquanto nos arreda-mos do centro, sendo as paróquias periféricas as que piores condiçons apresentam com ruas praticamen-te intransitáveis, com pavimentos abandonados desde há anos e ca-rentes de passeios adequados para o tránsito de peons.

O Concelho de Vigo arrecadou no ano 2011 nada menos que 9 milhons de euros em conceito de multas de tránsito. Esta quantidade multiplica várias vezes o que vem sendo habi-tual para cidades de tamanho com-parável à nossa.

Boa parte destes ingressos vam pa-rar diretamente à empresa SCI, que é a encarregada de executar os co-bros levando umha comissom de até 45% do importe.

O governo municipal está a utilizar as sançons aos utentes do carro para balancear uns orçamentos in-sostíveis que se caraterizam polo esbanjamento em obras inúteis e o pagamento de caríssimos serviços

privados como a água, eletricidade ou transporte coletivo, que deveriam ser geridos polo Concelho.

Na manhá de 6 de dezembro, coin-cidindo com o aniversário da Consti-tuiçom monárquica espanhola, rea-lizamos umha açom simbólica para reivindicar a independência para a nossa Pátria.

Enquanto as “forças vivas” espa-nholas realizavam os tradicionais atos institucionais em homenagem à Constituiçom de 1978, a Unidade Popular realizou açons reivindicati-vas consistentes no desdobramento de faixas de grandes dimensons em pontos significativos e emblemáticos

do País. Em Vigo, o local escolhido foi o miradouro da zona velha, em frente do Centro Comercial A Laje, onde se despregou umha grande fai-xa com a legenda “Independência”.

Com estas açons, a esquerda in-dependentista quer denunciar, mais umha vez, a falta de qualquer legi-timidade da Constituiçom franquista de 1978, “Carta Magna” que impom graves restriçons de direitos sociais e económicos fundamentais, com destaque para os direitos nacionais que como povo nos assistem.

FARO OBREIRO · Número 5 · Janeiro - Fevereiro - Março 2013

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Se o presente é de luita, o futuro é nossoADRIÁM VASQUES ARRANZ // Responsável do Grupo de Base de BRIGA em Vigo

// Vozeiro da Assembleia Comarcal de Vigo de NÓS-Unidade Popular // Correio eletrónico: [email protected]: www.nosgaliza.org // Twitter: @nosgaliza // Facebook: http://www.facebook.com/pages/NÓS-Unidade-Popular/254570641316Sede Comarcal: Rouxinol 16, rés-do-chao (36205 - VIGO) // Telefone: 637 18 78 51 // Encerramento da ediçom: 11 de fevereiro de 2013 // Depósito legal: FARO OBREIRO e NÓS-Unidade Popular nom partilham necessariamente a opiniom dos artigos assinados // Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos

As e os jovens temos certo poder revolucionário, transformador. Por isso, no atual sistema em que temos que desenvolver-nos, sistema que tem medo à qualquer alteraçom ou mudança no estado de cousas atual, existem certos fatores, certas bases ou pilares estabelecidos que bus-cam apagar qualquer sufoco rebel-de. A juventude da Galiza do século XXI temos negado o nosso livre de-senvolvimento, as nossas oportuni-dades, o nosso direito à rebeliom e à auto-organizaçom, e o nosso futuro.

Cumpre mencionar que a crise do capitalismo em que atualmente vi-vemos agudiça problemas já exis-tentes, exceptuando, talvez, o incre-mento incontrolado do desemprego e da emigraçom juvenil, assim como o pioramento das nossas condiçons laborais, que se bem foi um retroces-so geralizado para a classe trabalha-dora, para nós fijo aumentar a even-tualidade, os contratos de formaçom e aprendizagem por salários irrisó-rios junto com o aumento da idade para este modelo de contrataçom, a nom cotizaçom à Segurança Social ou bonificaçons para o empresário, impossibilidade de emancipaçom, etc...

A juventude de Vigo nom é alheia a quase 50% de desemprego juvenil galego, nem à média de 70 jovens que emigram diariamente, senom todo o contrário: somos boa parte dessa juventude.

O discurso burguês, a ideologia do-minante, penetra na juventude me-diante a reproduçom acrítica por par-te do poder adulto, desde os nossos parentes até o nosso professorado ou patronato. Assim, som contínu-as as disputas de pais e nais com os seus filhos e filhas: discussons sobre a hora de chegada a casa, medo fraternal ao fracasso nos es-tudos, medo às amizades, medo à organizaçom de jovens com outros jovens, medo à consciência política que reproduz isso de “para evitar problemas nom te metas em políti-ca”, etc... E ainda se agrava nas jo-vens: dependência do pai para che-gar a casa devido ao perigo de sofrer acosso sexual, menos concessons, reproduçom dos roles de ama de casa (servir, limpar...).

No posto de trabalho, com grande desilusom, vejo como amigos e ami-gas com ou sem ideais anticapitalis-tas som os primeiros em filiar-se aos sindicatos amarelos do patronato por medo a perder o emprego, nu-mha situaçom onde o emprego já é o melhor dos agasalhos, a explora-çom socializada, a exploraçom como único meio de vida. Esta situaçom dá certa independência económica em troques de miséria. Miséria que tem que ser erradicada mediante a evasom durante o fim de semana e através dum único modelo de ócio noturno: consumismo exacerbado,

drogas e álcool, formas de sociabi-lizaçom e reunions de jovens como os famosos botelhons, criados polos próprios hábitos do capitalismo, os escasos recursos económicos da ju-ventude e a eliminaçom de qualquer alternativa organizada por jovens ou dirigida a eles e elas.

E aqui é onde se vê mais claramen-te o papel do capitalismo e dos seus meios de comunicaçom: criminaliza-çom da juventude e discurso hipócri-ta. Como se tomassem como exem-plo aquele verso do rapeiro dum grupo famoso “beber é viver, mas nom o fagas”, a classe dominante alimenta este tipo de ócio como a única saída para afogar as misérias mas, à vez, tenta manter um equilí-brio entre jovens que ocupam ruas e vizinhança mediante a repressom (restringir zonas de concentraçom de jovens, entrar nos locais de ócio, etc...) deste jeito as forças do esta-do consiguem certa socializaçom, a vizinhança está tranquila, os jovens seguem evadindo-se da realidade nos lugares controlados e a peque-

na burguesia noturna mantém os seus benefícios. A isto podemos acrescentar as numerosas mortes de jovens por conduzir ébrios devido a umha falta lamentável de transpor-te público eficaz, que impede a jo-vens de Sampaio, Cabral, Matamá, Candeám, Beade, Valadares, etc deslocar-se até o centro da cidade, sofrendo multas contínuas nos con-trois policiais.

As jovens, pola sua banda, é na ju-ventude quando tenhem que enfren-tar-se a maltratos psicológicos do companheiro ou de amigos. Quantas vezes temos visto açons e palavras dentro dos nossos grupos derivados do machismo protetor, da premissa de que as amigas ou companheiras som propriedade dos jovens, o que dá como resultados pelejas absur-das... discurso que inclusive repro-duzem também as mulheres. Trans-tornos alimentícios derivados dum modelo inasumível, baseados na utilizaçom do corpo da mulher como estereotipo dumha beleza afastada da realidade, que pom um nível inal-

cançável, cria modas às que há que obeceder para nom ficar fora do que a sociedade demanda. Essa “bele-za” também é violência machista.

Existem alternativas. Devemos organizar-nos e plantar-lhes cara e deixar de laiar-nos ou de mostrar a nossa desconformidade através das redes sociais. Exigir que os espaços existentes sejam reais e nom buro-crácias que para nada servem como a Casa da Juventude ou a área do Concelho dedicada ao ócio juve-nil como Sube-te ao castro, que na informaçom sobre drogas também participemos, que podamos estabe-lecer nós o nosso ócio, reivindicar o direito a rebelar-nos, a ter consci-ência política, de classe, feminista e nacional. Caminhar face as três pa-lavras de ordem que som soluçom à nossa opressom: independência, so-cialismo e feminismo. Nom ter medo a auto-organizar-nos. Juntos nom nos calarám. E se o presente é de luita, o futuro é nosso.

Programa Tático para a Rebeliom PopularElaborado ao longo dos últimos me-ses por NÓS-UP, o PTRP som cen-tos de medidas concretas para um governo obreiro e popular, patriótico e feminista.

Este documento, que pretende ser o roteiro da esquerda independen-tista e socialista galega em relaçom às reivindicaçons e luitas do nosso povo e da nossa classe, é umha proposta incompleta, que se irá de-senvolvendo, alongando e aperfei-çoando com base nas sugestons, análises e contributos da militáncia obreira, dos movimentos sociais, do associativismo, das ordens profissio-

nais, das organizaçons sindicais e gremiais, das entidades desportivas, culturais, juvenis, de mulheres, eco-logistas e ambientalistas, dos mais variados agentes sociais conscien-tes de que a libertaçom do País e a emancipaçom do povo trabalhador galego só será possível por meio da independência e o socialismo.

Som propostas para hoje, para ocu-par espaços de contrapoder, para guiar a nossa intervençom nas luitas populares, para dotar de gps à ne-cessária organizaçom da rebeliom popular.