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Ficha Informativa – Auto da Barca do InfernoLíngua Portuguesa – 9º Ano
Ano Lectivo 2006 / 2007
Auto da Barca do Inferno
O Auto da Barca do Inferno é uma obra dramática escrita por Gil Vicente com o objectivo de ser
representada nas cortes no século XV e XVI. Como tal obedece aos cânones das peças de
teatro e respeita as características do texto dramático, tendo divisões em actos, personagens,
indicações cénicas (didascálias) … no entanto, não se preocupou com as leis de estética
clássica no que se refere á acção, ao espaço e ao tempo. Estava, deste modo, mais interessado
em dar corpo ao princípio latino “ridendo castigat mores”, fazendo perpassar diante de nós a
sociedade quinhentista portuguesa, sobretudo nos seus vícios, com o objectivo de moralizar e
divertir em simultâneo.
“Ridendo castigat mores”, que em português significa “ a rir se castigam os costumes”, é o
lema de Gil Vicente em quase todo o seu teatro. A sua crítica social é habilmente construída
através de vários processos geradores do riso. Criticar, provocando o riso nos espectadores,
não só era mais divertido e adequado à função lúdica que o teatro vicentino tinha, como
também permitia que a crítica fosse mais facilmente aceite.
Para tal eram utilizados três tipos de cómico
Cómico de situação: resulta da não adequação de uma personagem à situação em que
se encontra.
Cómico de carácter: resulta de uma não adaptação de uma pessoa à sua realidade.
Cómico de linguagem: resulta de uma não adaptação da linguagem ao contexto em que
é proferida.
Além do cómico, existem outros modos de provocar o riso e de criticar ao mesmo tempo. A
ironia é um deles. Trata-se de um recurso estilístico muito usado por Gil Vicente e que consiste
na utilização de uma expressão de sentido contrário ao que as próprias palavras apresentam,
isto é, diz-se o contrário daquilo que se quer efectivamente dizer.
No que diz respeito à estrutura, esta peça possui uma estrutura externa bastante bem definida
e que é constituída por uma sequência de cenas paralelas, nas quais intervém uma ou mais
personagens. Cada cena corresponde à apresentação de uma personagem, em alguns casos
duas e tem como intuito apresentar um tipo de classe social ou profissional com todos os seus
defeitos e características. A estrutura interna destas cenas é quase sempre a mesma, sendo
constituída por três momentos fundamentais:
A exposição: breve apresentação da personagem em cena.
O conflito: interrogatório duplo, feito pelo Diabo e pelo Anjo, ao condenado.
O desenlace: sentença proferida pelo Anjo ou pelo Diabo, que condena as almas à
viagem na Barca do Inferno.
Professora: Lúcia Martins
Ficha Informativa – Auto da Barca do InfernoLíngua Portuguesa – 9º Ano
Ano Lectivo 2006 / 2007
A repetição da mesma estrutura interna em cada cena determina uma movimentação cénica
semelhante em todas as cenas. De facto, o percurso cénico dos réus é sempre o mesmo.
As personagens desta peça de Gil Vicente são, na totalidade, personagens-tipo, isto é, são
personagens que não se representam unicamente a si próprias, mas que, por serem
detentoras de características atribuíveis ao grupo social ou profissional a que pertencem e não
terem qualquer tipo de densidade psicológica que as distinga das restantes, representam um
conjunto de indivíduos. Assim, o fidalgo representa a nobreza, o frade representa o clero…
Auto de moralidade
Este auto de Gil Vicente é um auto de moralidade pois há uma luta constante entre o bem e o
mal, representados pelo Anjo e pelo Diabo, respectivamente, entre a virtude e o vício, entre a
salvação e a perdição.
Neste auto o Anjo e o Diabo limitam-se a abrir e a fechar as portas das “barcas” enquanto as almas,
trazendo consigo todo o peso de uma vida que só elas viveram, decidem o seu destino.
Professora: Lúcia Martins
Ficha Informativa – Auto da Barca do InfernoLíngua Portuguesa – 9º Ano
Ano Lectivo 2006 / 2007
Personagem Grupo social Signos
cénicos
Percurso cénico Pecados Argumentos de defesa Linguagem Processos de
cómico
Destino
Fidalgo Nobreza Manto,
Cadeira
Pagem
Barca do Diabo
Barca do Anjo
Barca do Diabo
Tirania
Vaidade
Luxúria
Estatuto Social
Morrer repentinamente
Ser fidalgo
Corrente
Tom altivo e
dominador
Linguagem
Carácter
Inferno
Onzeneiro Burguesia Bolsão de
dinheiro
Barca do Diabo
Barca do Anjo
Barca do Diabo
Cobiça
Avareza
Usura
Ganância
Levar o saco vazio Profissional Situação Inferno
Parvo Barca do Diabo
Barca do Anjo
Simplicidade
Ingenuidade
Humildade
Sugere a sua
simplicidade
Linguagem Fica no cais à
espera de ir
para o Paraíso
Sapateiro Artesãos Sapatos
Avental
Barca do Diabo
Barca do Anjo
Barca do Diabo
Roubo
Hipocrisia face à
religião
Exploração
Morreu confessado
Ouviu missas
Fez ofertas
Religiosa e
profissional
Linguagem
Situação
Inferno
Frade Frades Moça
Escudo
Espada
Capelo
Barca do Diabo
Barca do Anjo
Barca do Diabo
Vida mundana Rezas
Dado à virtude
Fazia como os outros
Religiosa
Mundana
Carácter
Situação
Linguagem
Inferno
Alcoviteira Prostitutas Meninas
Armários
Cofres
Feitiços
Virgos
…
Barca do Diabo
Barca do Anjo
Barca do Diabo
Roubo
Mentira
Prostituição
Feitiçaria
Serviu a religião
Era apostolada,
angelada, …
Conseguiu converter
mais meninas do que
Santa Úrsula
Profissional
Religiosa
Sedutora
Carácter
Linguagem
Inferno
Judeu Judeus Bode Barca do Diabo Avareza
(dinheiro)
Não é pior do Brísida
Vaz
Popular
(religiosa)
Linguagem
Situação
Inferno
Corregedor Magistrados Vara Barca do Diabo
Barca do Anjo
Barca do Diabo
Corrupção
Injustiça
Desonestidade
Era juiz de direito
Não era ele que ficava
com as ofertas
Profissional
Tom altivo
Linguagem
(latim)
Inferno
Professora: Lúcia Martins
Ficha Informativa – Auto da Barca do InfernoLíngua Portuguesa – 9º Ano
Ano Lectivo 2006 / 2007
Procurador Magistrados Processos Barca do Diabo
Barca do Anjo
Barca do Diabo
Corrupção
Injustiça
Desonestidade
Bacharel
Morte repentina
Profissional Linguagem Inferno
Enforcado Enforcados Baraço Barca do Diabo Garcia Moniz diz… Carácter Inferno
Cavaleiros Cavaleiros Escudo
Espada
Cruz de
Cristo
Barca do Anjo Paraíso
Advogados de acusação / juízes: Anjo e Diabo
Professora: Lúcia Martins