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FICHA PARA CATÁLOGO · 2014-04-22 · Filha de Sebastião Alves, ... Esta obra é composta por 14 contos, sendo que os mesmos contemplam o ... come; porque... - "Mas, criatura,

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FICHA PARA CATÁLOGO

Título:

NAS TRILHAS DE NHÔ BELARMINO E NHÁ GABRIELA:

O CAIPIRA E O PARANÁ NOS ANOS DE 1940 E 1950

Autor Juraci Santos

Escola de Atuação Colégio Estadual Paulo Leminski

Município da escola Curitiba

Núcleo Regional de Educação Curitiba

Orientador Joseli Maria Nunes Mendonça

Instituição de Ensino Superior Universidade Federal do Paraná - UFPR

Disciplina/Área (entrada no

PDE)

História

Produção Didático-pedagógica Unidade Temática

Relação Interdisciplinar

Público Alvo Alunos do Ensino Médio

Localização Rua Coronel Augusto de Almeida Garret, 135 - Tarumã

Curitiba - PR, 82820-520

Apresentação:

A presente Unidade temática é uma proposta para trabalhar com a História local/regional a

partir das seguintes fontes: três canções e uma foto da dupla caipira Nhô Belarmino e Nhá Gabriela,

relacionando com duas telas do artista plástico José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899) e um

fragmento da obra Urupês, publicada por Monteiro Lobato em 1918. Essas fontes permitiram construir

uma narrativa sobre a representação do caipira e do Paraná anos de 1940 e 1950.

Palavras- chave Representação – Caipira – História do Paraná -

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NAS TRILHAS DE NHÔ BELARMINO E NHÁ GABRIELA:

O CAIPIRA E O PARANÁ NOS ANOS DE 1940 E 1950

I - Conhecendo nossos personagens

Nos anos 1940 a 1980, uma dupla caipira fez muito sucesso na cidade de

Curitiba, cantando canções, contando histórias e causos sobre o caipira. Composta

por Nhô Belarmino e Nhá Gabriela em 1940, apresentava-se em circos de bairros

populares e animava festas de famílias da elite da cidade.

Figura 1- Nhô Belarmino e Nhá Gabriela –195 In: GRACIANO, 2009, p. 75.

Qual imagem do caipira e do Paraná foi veiculada por Nhô

Belarmino e Nhá Gabriela por meio de suas canções e de sua

caracterização cênica?

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Texto 1 - Nhô Belarmino

Nhô Belarmino era na verdade Salvador Graciano, nascido em um lugarejo chamado

Santaria, em Rio Branco do Sul, no Estado de Paraná, em 1920. A convivência com o pai

(Antonio Graciano), que era gaiteiro, fez com que Salvador se interessasse por música

desde muito cedo. Seu Antonio foi morar em Santaria a pedido da dona Dulcília (mãe de

Salvador) que queria ficar perto dos seus - “os Teixeira”, família tradicional daquela região.

Porém seu Antonio, que por necessidade exercia a profissão de sapateiro e também

trabalhava na roça, gostava muito mais da gaita do que trabalhar com uma enxada. O povo

de Santaria pouco usava sapatos; algumas pessoas calçavam tamancos e a maioria

andava descalça. Seu Antonio não tinha, portanto, muitos fregueses e decidiu se mudar

para Curitiba com a família, instando-se no Alto da Rua XV e, posteriormente, na Rua

Almirante Tamandaré esquina com a Rua Itupava.

Em Curitiba, Salvador Graciano, com 12 anos de idade, já se apresentava mos circos

que passavam pela cidade, até que um dia avisou aos pais que iria embora com um destes

circos. Os pais dele o proibiram terminantemente, mas em contrapartida tiveram que aceitar

outra ideia do filho: a construção de um teatro ao ar livre no quintal da casa da família

Graciano. O teatro foi improvisado com restos de madeira e sacos de trigo. De início,

Salvador fez dupla com usa irmã Pascoalina, mas como a mesma se casou, ele passou a

cantar com várias outras pessoas.

Os irmãos de Salvador Graciano passaram a participar das atividades do teatro:

colaboravam nas apresentações, elaboravam roteiros, vendiam de amendoim, pipoca, milho

verde; montavam e desmontavam o teatro em outros bairros da cidade. Além disso,

passaram a se apresentar em parques, clubes e circos e também na rádio.

Aos 18 anos, Salvador Graciano foi prestar o serviço militar e, depois de concluí-lo,

por volta de 1942, seguindo recomendações materna, ingressou no serviço público, como

funcionário da Rede Aviação Paraná - Santa Catarina. A mãe de Salvador Graciano se

preocupava com o futuro do filho, pois naquela época o trabalho de artista, assim como a de

jogador de futebol, não era considerado profissão. Durante um ano e meio Salvador

Graciano dividiu-se entre os shows e o serviço público, mas no fim optou pela vida de

artista.

Adaptado de GRACIANO, Ivan. Belarmino e Gabriela: História, causos e prosas.

Curitiba: Gramofone Produtora Cultural, 2009.

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Texto 2 - Nhá Gabriela

Nhá Gabriela era Júlia Alves, nascida em Porto de Cima (litoral paranaense) em

1923. Filha de Sebastião Alves, produtor de canoas e dona Odete, dona de casa. Devido

dificuldades econômicas para criar a filha, o casal decidiu entregar Júlia Alves para ser

criada pela família Rocha. Essa família não era rica, mas tinha melhores condições

econômicas, além de serem muito queridos na região do Porto de Cima. Assim, seu Manoel

Rocha e do Eudóxia da Cruz Rocha adotaram a menina Julia Alves.

A família Rocha mudou-se para Curitiba, tendo como primeira residência a Rua

Princesa Isabel, 185 e posteriormente no bairro Cristo Rei, ao lado do cine Morgenau. Por

fim seus pais compraram um terreno na Rua Itupava, fundos com o Campo do Coritiba

Futebol Clube. Era um caminho sem saída e dava acesso a Rua 21 de abril, paralela a Rua

Mauá.

Adaptado de GRACIANO, Ivan. Belarmino e Gabriela: História, causos e prosas.

Curitiba: Gramofone Produtora Cultural, 2009.

Texto 3 - Encontro de Nhô Belarmino e de Nhá Gabriela. Em 1936, Julia Alves trabalhava em uma fábrica de acolchoados. Um dia faltou

material para trabalho e os funcionários foram dispensados mais cedo. Ela, então, resolveu

acompanhar uma colega de trabalho ao programa de Calouros da Rádio B2, no qual a

amiga cantava e no qual Salvador Graciano tocava. Foi neste dia que Júlia e Salvador se

conheceram. Três meses depois, no ano de 1937, começaram a namorar. Ele tinha 17 anos

e ela tinha 15. Casaram-se em 23 de dezembro de 1939 na Igreja do Cabral.

Formaram a dupla no início de 1940, durante um show no bairro Santa Cândida, em

Curitiba. Nhá Gabriela contou as circunstâncias em que a dupla se formou: “naquela época

não tinha estrada era tudo precário. Então ele (Belarmino) tinha que ir mais cedo, para

reforçar a propaganda, arrumar o salão, o cenário e as cortinas. O resto do pessoal

chegava na hora do show”. Naquele dia, devido uma forte chuva, caiu a ponte que dava

acesso ao bairro, e Dona Julia acabou tendo de participar do show para ajudar o marido,

pois o circo estava lotado. O nome Nhô Belarmino e Nhá Gabriela, veio depois de muito

ensaio. Segundo Salvador Graciano, o nome Nhá Gabriela foi adotado por parecer raro e

engraçado. Depois de formada, a dupla continuou a apresentar-se em circos, quermesses

de igrejas, em festas Juninas no rádio, estádio de futebol e por fim na TV.

Adaptado de GRACIANO, Ivan. Belarmino e Gabriela: História, causos e prosas. Curitiba: Gramofone Produtora Cultural, 2009.

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II - Representações do caipira

A seguir você vai poder observar duas imagens e ler um texto. As imagens

foram produzidas pelo pintor José Ferraz de Almeida Júnior, um artista paulista que

viveu entre 1850 e 1899. Por meio de sua obra, o pintor representou o cotidiano de

indivíduos que viviam no meio rural paulista.

O texto é um fragmento da obra Urupês, publicada por Monteiro Lobato em

1918. Esta obra é composta por 14 contos, sendo que os mesmos contemplam o

cotidiano do caipira - representado na figura do Jeca Tatu, seus costumes e suas

crenças, segundo a perspectiva do escritor.

1. Atividade

a) Observe a figura 1 e descreva as características físicas adotas pela dupla

Nhô Belarmino e Nhá Gabriela.

b) Você considera que as características físicas de Salvador Graciano e Júlia

Alves (os artistas) são coincidentes com as de Nhô Belarmino e Nhá Gabriela

(os personagens)? Justifique sua resposta.

c) Qual a origem social dos artistas? Como chegou a resposta para esta

pergunta?

d) A partir da leitura dos fragmentos de texto 1 e 2, imagine como seria o bairro

Alto da XV e do Cristo Rei na década de 1940 e descreva-os.

e) Quais são as informações que o texto 3 apresenta sobre o bairro Santa

Cândida no ano de 1940? Pesquise: como é o acesso da população ao Bairro

Santa Cândida atualmente. Compare as condições do bairro atualmente e as

existentes em 1940, como descritas por Júlia Alves?

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Texto 4

Na mansão de jeca a parede dos fundos bojou para fora um ventre

empanzinado, ameaçando ruir; os barrotes, cortados pela umidade, oscilam na

podriqueira do baldrame. A fim de neutralizar o desaprumo e prevenir suas

conseqüências, ele grudou na parede uma nossa senhora enquadrada em

moldurinha amarela - santo de mascate.

- "Por que não remenda essa parede, homem de Deus?"

- "Ela não tem coragem de cair. não vê a escora?"

Não obstante, "por via das dúvidas", quando ronca a trovoada, Jeca

abandona a toca e vai agachar-se no oco dum velho embiruçu do quintal - para se

saborear de longe com a eficácia da escora santa.

Continuação do Texto 4

Figura 2

-Violeiro, 1889

Almeida Júnior. Óleo sobre tela – 141 x172 cm Pinacoteca do Estado de São Paulo

Figura 3

Caipira Picando Fumo, 1893 Almeida Júnior. Óleo sobre tela – 202x 141 cm

Pinacoteca do Estado de São Paulo

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Um pedaço de pau dispensaria o milagre; mas entre pendurar o santo e tomar da

foice, subir ao morro, cortar a madeira, atorá-la, baldeá-la e especar a parede, o

sacerdote da grande lei do menor esforço não vacila. É coerente.

Um terreirinho descalvado rodeia a casa. O mato o beira, nem árvores

frutíferas, nem horta, nem flores – nada revelador de permanência.

Há mil razões para isso; porque não é sua a terra; porque se o "tocarem" não ficará

nada que a outrem aproveite; porque para frutas há o mato; porque a "criação"

come; porque...

- "Mas, criatura, com um vedozinho por ali... a madeira está à mão, o cipó é

tanto..."

- Jeca, interpelado, olha para o morro coberto de moirões, olha para o terreiro

nu, coça a cabeça e cuspilha.

- "Não paga a pena."

Todo o inconsciente filosofar do caboclo grulha nessa palavra atravessada de

fatalismo e modorra. Nada paga a pena. Nem culturas, nem comodidades. de

qualquer jeito se vive.

Da terra só quer a mandioca, o milho e a cana. a primeira, por ser um pão já

amassado pela natureza. Basta arrancar uma raiz e deitá-la nas brasas. Não impõe

colheita, nem exige celeiro. O plantio se faz com um palmo de rama fincada em

qualquer chão. Não pede cuidados. Não ataca a formiga. A mandioca é sem-

vergonha.

Bem ponderado, a causa principal da lombeira do caboclo reside nas

benemerências sem conta da mandioca. Talvez que sem ela se pusesse de pé e

andasse. Mas enquanto dispuser de um pão cujo preparo se resume no plantar,

colher e lançar sobre brasas, jeca não mudará de vida. O vigor das raças humanas

está na razão direta da hostilidade ambiente. Se a poder de estacas e diques o

holandês extraiu de um brejo salgado a Holanda, essa jóia do esforço, é que ali

nada o favorecia. Se a Inglaterra brotou das ilhas nevoentas da Caledônia, é que lá

não medrava a mandioca. Medrasse, e talvez os víssemos, mariscando de peneira

no Tâmisa. Há bens que vem para males. A mandioca ilustra este avesso de

provérbio.

LOBATO, Monteiro. URUPÊS. 2 ed. São Paulo: Globo, 2009, p 171-172

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III - Revisando estereótipos

A criação de estereótipos com os quais o caipira era representado no final do

século XIX a meados do século XX, estava associada a concepções sobre a

sociedade, concepções estas compartilhadas por pintores, literatos, cientistas da

época.

Do final do século XIX até meados do século XX, o conhecimento científico

era a forma de conhecimento mais aceito na sociedade brasileira. Assim outras

formas de conhecimento, como a do “caipira” eram consideradas inferiores. Além

disso, nas três primeiras décadas da chamada Primeira República, prevalecia a ideia

de que havia raças superiores e inferiores e que a miscigenação (mistura de raças)

formava uma população enfraquecida e débil (SCHWARCZ, 1994). Segundo essa

convicção - que hoje já se demonstrou ser errada -, o caipira não contribuía para o

progresso do país, uma vez que ele seria resultado da miscigenação.

A semana da Arte Moderna de 1922 em São Paulo permitiu uma reflexão em

relação ao modelo cultura etnocêntrica implantada no Brasil. Artistas brasileiros

fizeram várias apresentações observando a cultura nacional. Este evento pode ser

considerado como um marco na História do Brasil por apresentar de maneira

2. Atividade

a) Compare as representações dos caipiras apresentadas nos quadros de

Almeida Júnior com a caracterização da dupla Nhô Belarmino e Nhá Gabriela,

expressa na Figura 1. Na comparação, procure observar: o ano em que cada

representação foi construída; as semelhanças e as diferenças entre as

características com que os caipiras se apresentam no quadro e na dupla.

Registre em seu caderno.

a) Pesquise: qual era a origem social de Almeida Junior e Monteiro Lobato?

b) Descreva o caipira representado na obra de Almeida Junior.

c) Compare o caipira representado por Almeida Júnior com o representado por

Monteiro Lobato.

d) Consulte um dicionário e encontre a definição de estereótipo. Você considera

que as representações sobre os indivíduos de áreas rurais favorecem a

formação de estereótipos associados a eles?

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sistematizada um enfrentamento ao modelo cultural estabelecido até então.

Destacaram neste evento vários artistas, entre eles podemos citar alguns, a saber:

Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de

Andrade entre outros.

Esse movimento de crítica possibilitou que vários estilos considerados

inferiores fossem valorizados, entre eles a música caipira.

Segundo Rosa Nepomuceno (1999), até a década de 1920, a música caipira

quando cantada na cidade era por artistas urbanos. Foi Cornélio Pires (1884-1958)

que tomou a iniciativa de gravar um disco com canções caipiras. Mas, como

nenhuma gravadora aceitou fazer a gravação, considerando que o gênero não teria

aceitação do público, Cornélio Pires juntou alguns amigos cantores caipiras e, em

1929, pagou para gravar as canções. O disco foi vendido rapidamente, fazendo com

a gravadoras percebessem mais um espaço no mercado cultural – a música caipira.

Contudo, quando Cornélio passou a ser procurados pelas gravadoras, ele recusou

as ofertas, preferindo manter a independência da produção.

Outro processo importante ocorre para que os estereótipos em relação ao

caipira fossem contestados. No governo Vargas (1930-1945), a diversidade racial do

Brasil passa a ser valorizada; cada vez mais a nacionalidade brasileira passa a ser

associada ao encontro e á convivência entre brancos, indígenas e negros, todos

considerados “filhos da pátria”. Essa posição difere muito da maneira como os

intelectuais e políticos avaliavam a multiplicidade racial brasileira até este período,

pois até então a viam como um fator negativo e avaliavam que a miscigenação era

uma coisa ruim para a formação da nação.

O sociólogo Gilberto Freyre, em sua obra - Casa Grande e Senzala, esboçou

o conceito da democracia racial, sugerindo que brancos, indígenas, negros e

mestiços conviviam no Brasil de forma democrática. Freyre foi muito criticado por

desconsiderar os problemas raciais existentes no Brasil, mas sua obra foi importante

para constituir uma visão positiva do negro e do mestiço no Brasil.

Assim, no Brasil dos anos posteriores à década de 1930, havia uma tendência

de se considerar que todos eram filhos da pátria, portanto, teoricamente não deveria

existir diferença entre negro ou branco ou indígena e também entre homem do

campo e da cidade.

Outro processo importante ocorre nos anos posteriores à década de 1930, no

governo de Getúlio Vargas: a industrialização e a expansão urbana. Uma série de

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medidas de promoção da industrialização foram adotadas, entre elas, a construção

da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), iniciada em 1942 e concluída em 1946

(já no governo Dutra).

Mas o que tem haver a CNS, a urbanização com o caipira? Esta siderúrgica

passou a fornecer matéria prima para outras indústrias brasileiras e, o que era antes

importado, passa a ser produzido em nosso país. Este fato acelerou ainda mais o

processo de urbanização e mecanização no campo. Este é um dos fatores que fez

com que se intensificasse a migração para os centros urbanos, para onde os

trabalhadores rurais iam em busca de trabalho e formação para seus filhos. Pois,

muitas pessoas que moravam em áreas rurais nesta época já percebiam que seus

filhos não poderiam continuar sem estudos e também porque buscavam melhores

oportunidades nas áreas urbanas. Assim a dicotomia campo/cidade passou a

existir em um mesmo espaço - o urbano.

IV - O Paraná de Nhô Belarmino e Nhá Gabriela

Será que o processo de urbanização que se intensificou no Brasil a partir de

1920 ocorreu também no Paraná? Compare as tabelas 1 e 2 e perceba o que os

dados podem informar sobre a população rural e urbana do Paraná e do Brasil no

início do século XX.

Tabela 1

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Tabela 2

DISTRIBUIÇÃO RELATIVA DA POPULAÇÃO, POR DOMICILIO, NO PARANÁ (1940-1980)

ANO TOTAL SITUAÇÃO DO DOMICÍLIO

Urbana (%) Rural (%)

1940 100,0 24,5 75,5

1950 100,0 25,0 75,0

1960 100,0 30,7 69,3

1970 100,0 36,1 63,9

1980 100,0 58,6 41,4

FONTE: IPARDES. Séries retrospectivas do Paraná: dados históricos da indústria (1940-1980). Curitiba, 1993. p.17. In: OLIVEIRA, Dennison de. Urbanização e industrialização no Paraná. Curitiba: SEED, 2001, p.10.

Apesar de a Tabela 2 apresentar uma lacuna entre as décadas de 1920 e

1930, acompanhando-a juntamente com a Tabela 1, podemos perceber que a

população urbana tende a se sobrepor à rural do Paraná nestas décadas. Segundo

o historiador Dennison de Oliveira (2001), foi entre 1950 a 1960 que surgiram 65%

dos municípios do Paraná existentes até os anos de 1990. É neste contexto que a

dupla caipira Nhô Belarmino e Nhá Gabriela ganha mais espaço para apresentar sua

arte na cidade de Curitiba. A canção cuja letra vem a seguir, fala desta experiência

migratória.

Canção 01 Lembrando do Sertão

Eu vou-me embora pra minha terra/ Eu vou morá numa palhoça lá na serra

Na minha terra sou mais feliz/ Pois lá eu tenho um certo alguém/ Que eu sempre quis.

Minha cabocla me faz carinho/ E lá eu ouço o cantar dos passarinhos/ Cá na cidade não

tenho consolação

Quando eu penso na morena/Me balança o coração/ Minha gente vou-me embora/ Eu aqui

não fico não/

Não fico não, não fico não/ Tenho saudades das campinas e do sertão/ Vivo lembrando as

caboclinha/

Ai ai, meu Deus como é triste a minha vida.

Eu vou embora? Pra minha terra/ Eu vou morá numa palhoça lá na serra/ Na minha terra

sou mais feliz/ Pois lá eu tenho um certo alguém/ Que eu sempre quis.

Letra e música de Nhô Belarmino e Pereirinha, 1955 - Voz: Nhô Belarmino e Nhá Gabriela.

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As transformações ocorridas na cidade não se restringiram ao aumento

populacional. Leia o texto abaixo e registre outra modificação ocorrida na cidade.

Texto 5

[...] Nas décadas de 1940 e 1950, engrossaram o quadro de emissoras as rádios Guairacá,

Marumby, Curitibana, Universo e Cultura, em Curitiba, Colombo no Município do mesmo

nome, PRJ-2 em Ponta Grossa, Cultura de Cambará, Difusora de Jacarezinho, Legendária

da Lapa, Difusora Platinense de Santo Antonio da Platina, entre outras. (NASCIMENTO,

dez, 1996) [...] Era também pelo rádio que se divulgavam a música popular, as valsas

românticas, boleros, fox-trotes e sambas, sobretudo na voz dos artistas da Rádio Nacional

do Rio de Janeiro. Estes artistas despertavam o furor das fãs quando se apresentavam ao

vivo – caso do cantor Orlando Silva que teve as roupas rasgadas ao sair da Rádio Clube,

após um recital em 1940. Entre os valores que atendiam ao gosto mais popular estavam as

duplas sertanejas como Nhô Belarmino e Nhá Gabriela ou Farias e Toninelo.

BOSCHILIA. (1995 p 41- 58) In: TRINDADE, Etelvina Maria de Castro; ANDREAZZA, Maria

Luiza. Cultura e Educação no Paraná. Curitiba: SEED, 2001, p.108

5. Atividades

a) Ouça canção e observe a letra e a melodia e aponte se a mesma é

triste, alegre ou melancólica.

b) O que a canção Lembrando o Sertão de Nhô Berlarmino e Nhá Gabriela

sugere ou afirma sobre a adaptação do homem do campo na

cidade?Justifique sua resposta.

c) Cite algumas situações específicas que o homem do campo daquela

época poderia encontrar ao imigrar para o meio urbano? Em sua opinião

estas situações ainda acontecem nos dias de hoje da mesma forma ou

de forma diferente? Justifique sua resposta.

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V – Comemorando

Na década de 1950 foi retomado no Paraná o projeto de desenvolvimento

econômico a partir da Industrialização. Esse projeto fazia parte de um projeto

Nacional denominado Plano de Metas proposto pelo presidente Juscelino

Kubitschek de Oliveira. Sob orientação de seu professor ou professora pesquise o que foi o

Plano de Metas do governo JK.

Aqui no Paraná a forte geada de 1953, que fez diminuir o poder de compra da

população, destruiu grande parte dos cafezais e colocou em risco as contas

públicasi·, mas não desestimulou os governantes de dar continuidade ao projeto de

modernização do Estado.

TEXTO 6

[...] A luta pela emancipação política do Paraná começou a ganhar força no início do

século XIX. Os governantes das cidades paranaenses, que faziam parte da cidade de São

Paulo, denunciavam que o governo da província era alheio aos interesses da região. O

projeto de emancipação do Paraná tramitou durante 10 anos na Câmara do Império.

Finalmente em 20 de agosto de 1853 o projeto foi aprovado e transformado em lei em 29 de

agosto do mesmo ano. [...] A Província do Paraná foi oficialmente instalada em 19 de

dezembro de 1853, com a chegada de Zacarias Góes de Vasconcelos, seu primeiro

presidente, que teve como tarefa instalar e organizar a Província. Nesse momento, o projeto

Paraná foi eminentemente de cunho político-administrativo, pois não havia ainda um

discurso de identidade paranaense, de valores comuns a toda população e, sim, objetivos

claramente ligados a determinados setores da sociedade, fossem eles comerciantes do

litoral, fazendeiros ervateiros ou tropeiros.

ARAÚJO, Maria Bethânia de. et.al. Representações, Memórias e identidades. Curitiba: SEED – Pr., 2008, p.13.

6. Atividades

a) Qual a transformação que, de acordo com o texto, ocorreu nas cidades

paranaenses?

b) Relacione o processo de migração da população rural para as cidades com

o “gosto popular” a que se refere o texto.

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Nas comemorações realizadas no ano de 1953, a dupla caipira Nhô

Belarmino e Nhá Gabriela tiveram uma participação muito importante e, por meio de

uma canção, parabenizou o Estado do Paraná pelos 100 anos de emancipação

política.

CANÇÃO 02

PARABÉNS PARANÁ (1953)

Letra: Nhô Belarmino e Pereirinha/ Voz: Nhô Belarmino e Nhá Gabriela

Nós somos paranaenses/ Cantamos ao teu vulto varonil/

O Paraná nos pertence/ Por ele temos amor febril/

Adoramos nossa terra/ E o lindo céu anil/ Salve?

Salve o Paraná/ Pedacinho do nosso Brasil/

Salve! Salve! Paraná/ Pedacinho do nosso Brasil.

Festejas o primeiro centenário/ Do ano feliz que nasceu/

Do sul sei que és milionário/ O Pinho e o Café te enriqueceu/

Parabéns pelo teu aniversário/ Em nome de teu povo parabéns.

Nós somos paranaenses/ Cantamos ao teu vulto varonil/

O Paraná nos pertence/ Por ele temos amor febril/

Adoramos a nossa terra/ E o lindo céu azul anil./

Salve! Salve! Paraná/ Pedacinho do nosso Brasil/

Salve! Salve Paraná/ Pedacinho do nosso Brasil

7. Atividades a) O que o texto 6 informa sobre as datas e 19 de dezembro de 1853?

b) Quais os predicados destacados pela dupla para elogiar o Paraná? (idéia é

que se destaque a menção que eles fazem à natureza:

c) No texto 06, os autores observaram que em 1853, quando a província do

Paraná foi criada, “não havia ainda um discurso de identidade paranaense”.

Relacione o texto com a canção 2 e responda: Na canção “Parabéns

Paraná” ocorre a explicitação de uma identidade paranaense? Argumente

sua resposta.

Na sua percepção, o caipira integra a construção da identidade paranaense nas

comemorações do centenário da criação do Estado do Paraná? Justifique sua

resposta

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No final da década de 1950, mas especificamente em 1959, Nhô Belarmino e

Nhá Gabriela compuseram a canção - As mocinhas da cidade. Essa canção talvez

seja uma das mais conhecidas da dupla.

No Paraná e no Brasil há uma longa história repleta de silêncios e omissões,

as quais são importantes para nós entendermos algumas das representações

estereotipadas que ainda permanecem no nosso imaginário e que acabam sendo

Canção 3

AS MOCINHAS DA CIDADE Nhô Belarmino e Nhá Gabriela – 1959

As mocinhas da cidade são bonitas e dançam bem/ As mocinhas da cidade são

bonitas e dançam bem/ Eu dancei uma vez com uma linda moreninha já fiquei

querendo bem/ Eu dancei uma vez com uma linda moreninha já fiquei querendo

bem.

E o sol já vai entrando/ E a saudade vem atrás/ Vou buscar aquela linda moreninha

para mim ficar em paz/ Fui na casa da morena pedir água pra beber/ não é sede,

não é nada , moreninha/ Eu vim aqui só pra te ver.

Embora seu pai não queira que me case com você/ mas depois de nós casados,

moreninha/ele vai me compreender.

8. Atividade Em dupla, leia o fragmento da canção - As mocinhas da cidade: - Embora seu pai não queira que me case com você/ mas depois de nós casados, moreninha/ele vai me compreender.

a. Qual a hipótese de vocês para o pai não querer o casamento do rapaz

que morava no meio rural com a moça da cidade? Como chegaram a

essa hipótese explicativa?

b. Em sua opinião, atualmente, um rapaz que mora no espaço rural corre

o risco do pai de uma moça da cidade não aceitar o casamento?

Justifique sua resposta.

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naturalizadas por nós. Neste texto procuramos possibilitar a você estudante uma

noção de como estereótipos em relação ao caipira foram construídos e a maneira

como eles foram representados pela dupla caipira Nhô Belarmino e Nhá Gabriela.

Além disso, procuramos evidenciar o contexto social, político e econômico do

Paraná e alguns aspectos sobre Curitiba, por meio da produção destes artistas.

, talvez fosse melhor usar o termo /um rapaz de origem rural/

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REFERÊNCIAS

CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Trad.

Maria Manuela Galhardo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, S.A, 1990.

GRACIANO, Ivan. Belarmino e Gabriela: História, causos e prosas. Curitiba:

Gramofone Produtora Cultural, 2009.

NEPOMUCENO, Rosa. Música caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: Ed. 34,1999.

LOBATO. Monteiro. Urupês. 7ª reimpressão da 37ª edição, 1994. São Paulo:

Brasiliense, 2005.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar História. São Paulo:

Scipione, 2004.

OLIVEIRA, Dennison de. Urbanização e industrialização no Paraná. Curitiba:

SEED, 2001.

PARANÁ, obra coletiva. Representações, Memórias e identidades. Curitiba: 2008.

TRINDADE, Etelvina Maria de Castro; ANDREAZZA, Maria Luiza. Cultura e

Educação no Paraná. Curitiba: SEED, 2001, p.108.

SILVA, Lilia Maria da. NO RASTRO DA VIOLA ESTUDO SOBRE PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL POR MEIO DA MÚSICA SERTANEJA (1940 - 1960). Disponível: http://www.utp.br/historia/revista_historia/numero_4/PDF/Lilia.pdf Acesso 04/02/2011.

i Cf. CARNEIRO, David. Fasmas estruturais da economia do Paraná. Curitiba: Imprensa da Universidade do Paraná, s/d.