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CAROLINE RASCHE Arquitetura e Urbanismo – 2 ª fase Identificação do texto: MUMFORD, Lewis, Santuario, aldeia e fortaleza, in A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas, São Paulo, Martins Fontes, 2088, pág. 1 – 32. Lewis Mumford (1895-1990) Foi um historiador norte americano que pesquisou nas áreas da arte, ciência e tecnologia. Foi também escritor, crítico literário e professor. Estudou no City College e na New School for Social Research. Colaborou em publicações, e seus primeiros textos publicados tanto em jornais quanto em livros, firmaram sua reputação como escritor interessado pelas questões urbanas. Desde a estréia porém, com "A História da Utopia" (1922), sempre situou seus comentários num contexto amplo, que incluía a literatura, a arte e a ação comunitária como meio para aprimorar a qualidade de vida. Dedicou a sua longa vida ao estudo das consequências da tecnologia na sociedade criticando a desumanização daí resultante. Em outras obras (1934-1941), Mumford advertiu que a sociedade tecnológica deveria entrar em harmonia com o deselvolvimento pessoal e as aspirações culturais regionais. Depois de 1942, lecionou ciências humanas e planejamento urbano e regional em várias universidades americanas. Palavras chave: origem da cidade, caverna, arte e ritual,centros cerimoniais, paleolítico, caça, neolítico, aldeia, agricultura, mulher, caçador, chefe, macho, primordios de cidade. Fichamento: 1. A cidade na história Segundo Mumford, pode-se considerar que a origem da cidade é indefinida e o seu futuro imprevisível, é um lugar cheio de contradições interiores. Levou-se mais de 5 mil anos para se entender apenas uma parcela do que são a natureza e a cidade.

Fichamento - Mumford

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Page 1: Fichamento - Mumford

CAROLINE RASCHE

Arquitetura e Urbanismo – 2 ª fase

Identificação do texto: MUMFORD, Lewis, Santuario, aldeia e fortaleza, in A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas, São Paulo, Martins Fontes, 2088, pág. 1 – 32.

Lewis Mumford (1895-1990)

Foi um historiador norte americano que pesquisou nas áreas da arte, ciência e tecnologia. Foi também escritor, crítico literário e professor. Estudou no City College e na New School for Social Research. Colaborou em publicações, e seus primeiros textos publicados tanto em jornais quanto em livros, firmaram sua reputação como escritor interessado pelas questões urbanas. Desde a estréia porém, com "A História da Utopia" (1922), sempre situou seus comentários num contexto amplo, que incluía a literatura, a arte e a ação comunitária como meio para aprimorar a qualidade de vida. Dedicou a sua longa vida ao estudo das consequências da tecnologia na sociedade criticando a desumanização daí resultante.

Em outras obras (1934-1941), Mumford advertiu que a sociedade tecnológica deveria entrar em harmonia com o deselvolvimento pessoal e as aspirações culturais regionais. Depois de 1942, lecionou ciências humanas e planejamento urbano e regional em várias universidades americanas.

Palavras chave: origem da cidade, caverna, arte e ritual,centros cerimoniais, paleolítico, caça, neolítico, aldeia, agricultura, mulher, caçador, chefe, macho, primordios de cidade.

Fichamento:

1. A cidade na história

Segundo Mumford, pode-se considerar que a origem da cidade é indefinida e o seu futuro imprevisível, é um lugar cheio de contradições interiores. Levou-se mais de 5 mil anos para se entender apenas uma parcela do que são a natureza e a cidade.

Para entendermos a origem das cidades é necessário estudar não apenas o lado histórico, mas, além disso, o lado psicológico humano, ir muito mais a fundo, entender a natureza histórica da mesma e descobrir suas funções originais. E essa análise histórica é necessária para que possa se alcançar uma nova forma para a cidade sem que ocorra a perda do sentimento e da emoção humana.

“As origens da cidade são obscuras, enterrada ou irrecuperavelmente apagada uma grande parte de seu passado, e são difíceis de pesar suas perspectivas futuras.” (pág. 1)

2. Instigações e antevisões animais

Muitos pensam somente remanescentes físicos indicam a existência de organização social, o que não se pode ter certeza, pois muito antes disso, vários locais podem ter sido habitados

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por povos primitivos, mesmo que temporariamente. Mumford afirma que as cidades surgem do principio de ajuntamentos, o que nos mostra que, ao contrario das muitas outras espécies animais, o homem tem habilidade de se agrupar e se fixar, porem várias coisas decorrem do nosso passado animal.

Também afirma que antes de qualquer cidade surgir, houve outros tipos de aglomerações e moradias humanas, o mais primitivo de todos os exemplos é a caverna, depois vieram as pequenas povoações, aldeias e assim por diante. Assim, a vida humana agita-se entre dois pólos movimento e repouso.

“Nem mesmo à complexidade tecnológica da cidade humana falta o precedente animal.” (pág. 4)

3. Cemitérios e templos

Na dura peregrinação do homem paleolítico, os mortos foram os primeiros a ter um local fixo, nesses locais havia marcos para que os vivos pudessem então retornar. O homem antigo possuía uma cerimoniosa preocupação e respeito pelos mortos, manifestada através do sepultamento. Isso pode ser notado até mesmo nas cidades gregas, romanas e egípcias.

Outro marco foram as cavernas, que alem de ter importante papel para finalidades domésticas, foi fundamental para a arte e o ritual, servindo muitas vezes como centro cerimonial.

Marcos fixos como túmulos, santuários, centros cerimoniais e pontos sagrados de encontro agrupavam aqueles que compartilhavam das mesmas crenças e práticas. E mesmo que não servindo de base para uma cidade, mesmo antes de servir como moradia fixa, ela começa a surgir a partir do ponto de encontro cerimonial aonde as pessoas voltam periodicamente. Portanto, muito antes de surgirem aglomerações complexas, apareceram estruturam muito mais simples, como a caverna, que foi para o homem um dos primeiros espaços arquitetônicos.

“A cidade dos mortos antecede a cidade dos vivos.” (pág. 5)

“... a caverna de ao homem antigo sua primeira concepção de espaço arquitetônico, seu primeiro vislumbre da faculdade que tem um espaço emparedado de intensificar a receptividade espiritual e a exaltação emocional.” (pág. 8)

4. A domesticação e a aldeia

A economia do homem paleolítico dependia da sorte, do clima, do acaso, das habilidades... A caça e a coleta de alimentos não estavam mais sendo suficientes para a sobrevivência, dia se comia muito bem, outro se passava fome.

No período mesolítico, começam a se notar os primeiros indícios de vida fixa, com a criação de animais e cultivo de plantas. Essas técnicas foram se aprimorando ao passar do tempo e assim, graças a algumas das espécies domesticadas pelo homem, aumentaram os alimento, a tração e a mobilidade coletiva. Com isso tudo, houve a domesticação do próprio homem, que alem de tudo, fez crescer o interesse pela sexualidade e a reprodução, o que começou a dar um papel mais importante à mulher em todos os aspectos.

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A mulher passou então a ter papel fundamental na aldeia, e era ela quem ditava o ritmo de vida na sociedade da época. Passa então a se ter um novo modo de organização, cada um cumprindo seu papel apropriado em cada fase da vida.

Começam também as noções de moralidade, essa, juntamente com a ordem e a estabilidade da aldeia foram transmitidas á cidade, mas acabaram se perdendo nesta.

“A caça e a coleta de alimentos sustentam menos de quatro pessoas por quilometro quadrado...” (pág. 10)

“A domesticação, em todos os seus aspectos implica duas largas mudanças: a permanência e continuidade de residência e o exercício do controle e previsão dos processos outrora sujeitos aos caprichos da natureza. Ao lado disso, encontram-se os hábitos de amansamento, nutrição e criação.” (pág. 12)

“As atividades do dia tinham por centro a alimentação e o sexo: o sustento e a reprodução da vida.” (pág. 13)

5. Cerâmica, hidráulica e geotécnica

No período neolítico, muitas inovações surgiram principalmente no campo das armas e instrumentos, mas os recipientes foram as principais delas. Esses recipientes foram muito importantes pelo fato de conseguirem armazenar e conservar alimentos.

Esses métodos foram tão importantes para a sobrevivência humana que continuam sendo usados até hoje, mesmo com toda a tecnologia atual, com o vidro e o aço, continuam sendo essenciais. A cidade atual deve muito à aldeia, afinal, alem dessas técnicas, foi ali que surgiu o celeiro, o banco, o arsenal, a biblioteca, o armazém, sempre com o objetivo de manter e conservar o excedente. Nessa época surgiu também a vala de irrigação, o canal, o reservatório, o fosso, o aqueduto, o dreno, o esgoto... Também houve um grande aprimoramento da agricultura e pecuária.

Enfim, todas essas invenções neolíticas foram muito importantes para as cidades.

“Sob o domínio da mulher, o período neolítico é proeminentemente de recipientes é uma era de utensílios de pedra e cerâmica...” (pág. 16)

“Em suma, a configuração da terra foi uma parte integrante da configuração da cidade – e a precedeu.” (pág. 18)

6. A contribuição da aldeia

Tudo o que conhecemos hoje em dia vem sendo criado e aprimorado ao longo da história, a cidade teve seus primeiros indícios, com construções e organização social vem do Neolítico, que teve seus “restos” preservados em pântanos, fundos de lagos, lama...

Mumford afirma que por toda parte, aldeia é um pequeno agrupamento de famílias, cada qual com seu próprio lar, própria crença, próprio oratório. Porem compartilhando a mesma língua, encontrando-se no mesmo centro cerimonial, compartilhando o mesmo modo de vida e trabalhos. Praticamente não existia uma divisão do trabalho, apenas bem rudimentar, sendo determinada pela idade e pela força e não por aptidões como vemos hoje em dia.

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A agricultura desenvolvia-se cada vez mais, juntamente com a criação de animais. Mas no final desse período, os avanços pararam e a cultura acabou solidificando-se. Continuavam se reproduzindo e se multiplicando sem nenhuma mudança no padrão de vida.

Essas aldeias já possuíam muitas características de pequenas cidades. Existia o Conselho de Anciães da aldeia, ali começavam a surgir os conceitos de moralidade organizada, governo, direito e justiça.

“Um aglomerado de cabanas de barro cozido ou de construções de caniço e lama, de tamanho atarracado, a principio pouco melhores do que a morada de um castor.” (pág. 18)

“Por tudo isso, a estrutura embrionária da cidade já existia na aldeia. Casa, oratório, poço, via publica, ágora (...) tudo isso tomou forma primeiro na aldeia...” (pág. 21)

7. O novo papel do caçador

Com o decorrer do tempo, todas as culturas acabam se modificando, novas crenças, novas tecnologias... Assim, o papel do homem na sociedade também foi se modificando, a contribuição masculina no momento estava praticamente nula, porem começa a retornar com a domesticação, amansando e controlando a natureza, vencendo e dominando os animais através da força, da inteligência e principalmente do domínio das armas.

A cultura paleolítica por sua vez, não foi esquecida, mas sim somada aos novos conhecimentos da cultura neolítica. Porem, o caçador paleolítico foi sendo esquecido, a agricultura crescia e cada vez precisava-se menos desse caçador. Assim, a humanidade acabou acomodando-se ao longo do tempo. Porem o caçador, com seu domínio de armas e habilidades de caça passou a proteger a aldeia de seus inimigos mais sérios: os próprios animais, como leões, tigres, lobos... O aldeão por sua vez, não possuía essas habilidades, tornando-se um ser passivo e tímido.

Portando, as aldeias protegidas pelos caçadores, prosperavam melhor do que as que podiam ser atacadas a qualquer hora por animais selvagens. Mas com isso, os protetores dessas aldeias começaram a exaltar vontade de poder, oprimindo os aldeões e tornando-se assim chefes políticos. Dessa forma o aldeão deseja vencer a força e a violência e instituir justiça.

A guerra primitiva não se define pela luta entre dois povos, mas sim pelo domínio sobre seus próprios camponeses. A competição, o conflito, a violência sempre existiram na humanidade, em vários graus e em todos os grupos.

“(...) os predadores, quando podem escolher, muitas vezes preferem o modo de existências suave a um modo mais árduo, e se tornam tão adeptos da vida mais fácil que se comprometem com o parasitismo, vivendo à custa de um hospedeiro passivo, ainda que não inteiramente compassivo.” (pág. 24)

“(...) as oferendas voluntarias vieram a se transformar em tributos, e de como os próprios tributos, mais tarde, se tornam regulares sob a forma de impostos (...)” (pág. 27)

8. A união neolítico-paleolítica

Grupos de caçadores paleolíticos e os novos colonizadores neolíticos absorveram a cultura uns dos outros ocupando o mesmo território e permanecendo juntos.

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A nova tarefa agrícola obrigava o caçador a desempenhar um novo papel na sociedade: governar uma espécie superior de colônia. O machismo volta a dominar a humanidade, e a mulher foi “rebaixada”, a mesma que antes era idolatrada e tinha importante papel na aldeia.

A cidade em suas origens foi o principal fruto da união entre a cultura neolítica e a cultura paleolítica. Novas tecnologias de aprimoramento foram sendo criadas e utilizadas com o passar do tempo. E isso deixou sua marca na paisagem e nas relações humanas dentro da comunidade.

A guerra e a dominação, ao invés de paz e cooperação, foram incluídos na estrutura original da antiga cidade. E embora muita coisa tenha mudado até os dias de hoje, percebe-se que muitas coisas permanecem e que nossa sociedade e cultura atuais vêm sendo moldadas desde aquela época.

“Agora, as armas já não serviam apenas para matar animais, mas para ameaçar e dominar homens.” (pág. 28)

“Ao mesmo tempo, o macho mostrou exagerada reação contra o aspecto feminino de sua própria natureza: o novo herói caçador glorifica-se (...)” (pág. 29)

Opiniões:

Com o texto, pode-se perceber que nada do que faz parte da nossa sociedade nos dias de hoje seria possível se não houvesse os primeiros grupos nômades que criaram os primeiros túmulos como pontos fixos para que lá pudessem voltar.

Com o passar do tempo, as coisas foram evoluindo, a caça, pesca e coleta de alimentos já não era mais suficiente para suprir as necessidades do homem, portanto começaram a habitar as cavernas, esconderijos, posteriormente os acampamentos, e aí então as aldeias, que contribuíram muito com a evolução da humanidade no sentido um principio de organização social e vários métodos que são utilizados até hoje.

A vida humana assemelha-se a vida animal em muitos aspectos, a diferença é que o homem consegue habitar lugar fixo e com estruturas muito mais complexas. A partir daí, a mulher começa a ter um papel muito importante na sociedade, afinal ela é quem dita o ritmo das aldeias e está presente em praticamente todas as atividades, principalmente aquelas ligadas à vida.

Com o avanço da agricultura, o caçador paleolítico troca de papel na sociedade e passa a proteger e conviver com os novos habitantes neolíticos, com isso adquire sede de poder e torna-se chefe das aldeias, tornando o papel do homem super valorizado, deixando mulher em segundo lugar.

Começa então a surgir os primórdios de cidade, através de um senso de isolamento defensivo e a pretensão de territorialidade.

É uma leitura interessante, pois a partir desse texto pode-se começar a entender como surgiram as primeiras aglomerações humanas e depois as cidades, porém cansativa e de difícil compreenção.