Filosofia II - Lógica, Metafísica e Teoria Do Conhecimento

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F I L O S O F I A II

LGICA (FORMAL E MATERIAL)METAFSICATEORIA DO CONHECIMENTO

ad usum privatum

A Filosofia um apetite da sabedoria divina, o anseio de assemelhar-se a Deus, tanto quanto seja possvel ao homem.(Pitgoras, filsofo grego)

A Filosofia a cincia que leva em considerao a verdade. (Aristteles, filsofo grego)LGICA FORMAL LGICA MATERIAL1. PRELIMINARES.I. DEFINIO DA LGICA O termo "lgica" vem de uma palavra grega que significa razo, A Lgica , de fato, a cincia das leis ideais do pensamento, e a arte de aplic-las corretamente procura e demonstrao da verdade.1. ALgica uma cincia, isto , um sistema de conhecimentos certos, fundados em princpios universais. Nisto, a Lgica filosfica difere da Lgica espontnea ou emprica, como o que perfeito difere do imperfeito. Porque a Lgica natural no mais do que uma aptido inata do esprito para usar corretamente as faculdades intelectuais, mas sem ser capaz de justificar racionalmente, recorrendo aos princpios universais, s regras do pensamento correto.2. Cincia das leis ideais do pensamento, a Lgica pertence por isto filosofia normativa, porque no tem por fim definir o que , mas o que deve ser, a saber, o que devem ser as operaes intelectuais para satisfazer s exigncias de um pensamento correto. Ela estabelece as condies, no de existncia, mas de legitimidade.3. A lgica tambmumaarte, isto, um mtodo que permite bem fazer uma obra segundo certas regras.A Lgica, de fato, ao mesmo tempo em que define as leis ideais do pensamento, estabelece as regras do pensamento correto, cujo conjunto constitui uma arte de pensar. E como o raciocnio a operao intelectual que implica todas as outras operaes do esprito, define-se muitas vezes a lgica como a cincia do raciocnio correto.4. A Lgica tem por fim a procura e a demonstrao da verdade, porque a procura e a demonstrao da verdade so o fim da inteligncia e, por conseguinte, da Lgica, enquanto define as condies de validade das operaes do esprito.II. DIVISO DA LGICAVimos que a Lgica quer estabelecer as condies a que as operaes intelectuais devem satisfazer para serem corretas. Ora, estas condies podem ser grupadas em duas grandes categorias. Existem, de incio, as condies que asseguram o acordo do pensamento consigo mesmo, abstrao feita de todo dado particular, de tal sorte que elas sejam vlidas universalmente. Existem a seguir as condies que decorrem das relaes do pensamento com os objetos diversos a que se pode aplicar. Donde as grandes divises da Lgica:1. Lgica formal ou menor. a parte da Lgica que estabelece a forma correta das operaes intelectuais, ou melhor, que assegura o acordo do pensamento consigo mesmo, de tal maneira que os princpios que descobre e as regras que formula se aplicam a todos os objetos do pensamento, quaisquer que sejam.Ora, como as operaes do esprito so em nmero de trs, a saber: a apreenso, o juzo e o raciocnio, a Lgica formal compreende normalmente trs partes, que tratam da apreenso e da idia, do juzo e da proposio, do raciocnio e da argumentao.2. Lgica material ou maior. a parte da Lgica que determina as leis particulares e as regras especiais que decorrem da natureza dos objetos a conhecer. Ela define os mtodos das matemticas, da fsica, da qumica, das cincias naturais, das cincias morais etc, que so outras tantas lgicas especiais. Lgica maior, podemos ligar o estudo das condies da certeza, assim como dos sofismas pelos quais o falso se apresenta sob as aparncias do verdadeiro. Estas questes no se confundem absolutamente com aquelas de que trata a Crtica do conhecimento. No se cuida, efetivamente, em lgica, seno de definir, de um ponto-de-vista formal, o que so de direito a verdade e o erro e quais so as condies de direito da certeza, enquanto que a Crtica do conhecimento tem por objeto resolver a questo de saber se de fato nossas faculdades de conhecer so capazes de atingir a verdade.2. LGICA FORMAL.A Lgica formal estabelece as condies de conformidade do pensamento consigo mesmo. No visa, ento, s operaes intelectuais do ponto-de-vista de sua natureza: isto compete Psicologia, mas do ponto-de-vista de sua validade intrnseca, quer dizer, de sua forma. Ora, todo raciocnio se compe de juzos, e todo juzo, de idias: h lugar, pois, para distinguir trs operaes intelectuais especificamente diferentes:1. Apreender, isto , conceber uma idia.2. Julgar, isto , afirmar ou negar uma relao entre duas idias.3. Raciocinar, isto , de vrios juzos dados tirar um outro juzo que destes decorre necessariamente.A Lgica estuda estas trs operaes em si mesmas, a saber, enquanto elas so atos do esprito, e nas suas expresses verbais, que so: para a apreenso, o termo; para o juzo, a proposio; para o raciocnio, o argumento.Todos os princpios e todas as regras vlidas das operaes do esprito o so tambm e da mesma maneira de suas expresses verbais.A APREENSO O TERMO1. Apreender significa apanhar, tomar, e a apreenso do ponto-de-vista lgico o ato pelo qual o esprito concebe uma idia, nem nada afirmar ou negar. A apreenso difere ento do juzo, que, veremos, consiste em afirmar ou negar uma coisa de uma outra.2. A idia, ou conceito, a simples representao intelectual de um objeto. Difere essencialmente da imagem, que a representao determinada de um objeto sensvel.3. O termo a expresso verbal da idia. Do ponto-de-vista lgico, necessrio distinguir o termo da palavra. O termo pode de fato comportar vrias palavras (por exemplo: o bom Deus, alguns homens, uma ao de estrondo), que, entretanto, constituem uma nica idia lgica.O JUZODefinio do juzo. O juzo o ato pelo qual o esprito afirma alguma coisa de outra; "Deus bom", o "homem no imortal" so juzes, enquanto um afirma de Deus a bondade, o outro nega do homem a imortalidade.O juzo comporta ento necessariamentetrs elementos, a saber: um sujeito, que o ser de que se afirma ou nega alguma coisa; um atributo ou predicado: o que se afirma ou nega do sujeito;uma afirmao ou uma negao.O sujeito e o atributo compem a matria do juzo e a forma do juzo resulta da afirmao ou da negao.Definio da proposio. A proposio a expresso verbal do juzo.Ela se compe, como o juzo, de dois termos, sujeito e predicado, e de um verbo, chamado cpula (isto , elo), pois liga ou desliga os dois termos.O verbo da proposio lgica sempre o verbo ser, tomado no sentido copulativo ou relativo, como nesta proposio: "Deus bom", e no no sentido absoluto, em que ele significa existir, como nesta proposio: "Deus ". Muitas vezes o verbo gramatical compreende a um tempo o verbo lgico e o atributo. Assim, esta proposio: "Eu falo" se decompe, do ponto-de-vista lgico, nesta: "Eu sou falante". Da mesma forma, "Deus existe" se decompe assim: "Deus existente".O RACIOCNIO E O ARGUMENTOI. DEFINIES1. O raciocnio, em geral, a operao pela qual o esprito, de duas ou mais relaes conhecidas, conclui uma outra relao que desta decorre logicamente. Como, por outro lado, as relaes so expressas pelos juzos, o raciocnio pode tambm definir-se como a operao que consiste em tirar de dois ou mais juzos um outro juzo contido logicamente nos primeiros. O raciocnio ento uma passagem do conhecido para o desconhecido.2.O argumento a expresso verbal do raciocnio.3.O encadeamento lgico das proposies que compem o argumento se chama forma ou conseqncia do argumento. As prprias proposies formam a matria do argumento. A proposio a que chega o raciocnio se chama concluso ou conseqente, e as proposies de onde tirada a concluso se chama coletivamente o antecedente:O homem mortal. Ora, Pedro homem (Antecedente).Logo, Pedro mortal (Concluso).4.Conseqncia e conseqente. Estas definies permitem compreender que um argumento pode ser bom para a conseqncia e mau para a concluso ou conseqente. Por exemplo:Todo homem imortal. Conseqncia boa.Ora, Pedro homem. Conseqente mau.Logo, Pedro imortal. Do mesmo modo, um argumento pode ser mau para a conseqncia e bom para a concluso ou conseqente. Seja:O homem livre. Conseqente bom.Ora. Pedro homem. Conseqncia m.Logo, Pedro e falvel.5. A inferncia. O termo inferncia muitas vezes tomado como sinnimo de raciocnio. Na realidade, tem um sentido muito geral e se aplica no somente a toda espcie de raciocnio (deduo, induo), mas tambm, embora menos propriamente, s diferentes operaes de converso. Servimo-nos, neste ltimo caso, do termo inferncia imediata.II. DIVISOComo o raciocnio consiste em se servir do que se conhece para encontrar o que se ignora, dois casos podem produzir-se, conforme seja o que se conhece inicialmente uma verdade universal (raciocnio dedutivo), ou um ou vrios casos singulares (raciocnio indutivo).1. O raciocnio dedutivo. O raciocnio dedutivo um movimento de pensamento que vai de uma verdade universal a uma outra verdade menos universal (ou singular). Por exemplo:Tudo o que espiritual incorruptvel.Ora, a alma humana espiritual.Logo, a alma humana incorruptvel."A alma humana incorruptvel" uma verdade menos geral do que a que enuncia que "tudo o que espiritual incorruptvel".A expresso principal deste raciocnio o silogismo.2. O raciocnio indutivo:O raciocnio indutivo um movimento de pensamento que vai de uma ou vrias verdades singulares a uma verdade universal. Sua forma geral a seguinte:O calor dilata o ferro, o cobre, o bronze, o ao.Logo, o calor dilata todos os metais.III. O SILOGISMO1. Noes Gerais.1. Natureza do silogismo.O silogismoumargumento pelo qual, de um antecedente que une dois termos a um terceiro, tira-se um conseqente que une estes dois termos entre si.a) Composio do silogismo. Todo silogismo regular se compe ento de trs proposies, nas quais trs termos so comparados dois a dois. Estes termos so:O termo maior (T), assim chamado porque o que tem maior extenso.O termo menor (t), assim chamado porque o que tem menor extenso.O termo mdio (M), assim chamado porque o intermedirio entre o termo maior e o menor.As duas primeiras proposies, que compem coletivamente o antecedente, se chamam premissas, e a terceira, concluso. Das duas premissas, a que contm o termo maior se chama maior. A que contm o termo menor se chama menor.b) Forma do silogismo. Para compreender a natureza do silogismo, tal como o definimos, suponhamos que procurssemos a relao que existe entre a caridade e a amabilidade, estabelecendo esta relao, no empiricamente, mas logicamente, isto , sobre princpios necessrios. Para conhecer esta relao e sua razo de ser, iremos comparar sucessivamente a caridade virtude e a amabilidade virtude, porque sabemos que a caridade uma virtude e que a virtude amvel. Podemos concluir desta comparao que a caridade, sendo uma virtude, necessariamente amvel. Quer dizer que deduzimos da identidade (lgica) da amabilidade e da caridade virtude, a identidade da amabilidade e da caridade. A idia de virtude nos serviu, ento, de termo mdio. Donde o silogismo seguinte:

A virtude amvel.t Ora, a caridade uma virtude.t Logo, a caridade amvel.Pode-se imediatamente deduzir da forma do silogismo, tal qual ressalta do que acabamos de dizer, que o termo mdio deve encontrar-se nas duas premissas, em relao, numa (maior), com o termo maior, noutra (menor), com o termo menor e que ele no deve jamais encontrar-se na concluso.2. Espcies de silogismoDistinguem-se duas espcies de silogismos: o silogismo categrico e o silogismo hipottico.A. Definies.1. O silogismocategrico aquele em que a maior afirma ou nega puramente e simplesmente. o de que tratamos at aqui.2. O silogismo hipottico pe, na maior, uma alternativa, e na menor, afirma, ou nega, uma, das partes da alternativa.B. O silogismo hipottico.1. Diviso Existem trs espcies de silogismos hipotticos:a)O silogismo condicional: aquele em que a maior uma proposio condicional:Se Pedro estudar, ser bem sucedido nos exames.Ora, ele estuda.Logo, ser bem sucedido nos exames.b) O silogismo disjuntivo: aquele em que a maior uma proposio disjuntiva:Ou Pedro estudioso, ou preguioso.Ora, ele estudioso.Logo, no preguioso.c) O silogismo conjuntivo: aquele em que a maior uma proposio conjuntiva:Pedro no l e passeia ao mesmo tempo.Ora, ele passeia.Logo, ele no l.2. Reduo. O silogismo disjuntivo e o silogismo conjuntivo se reduzem a silogismos condicionais.a) Reduo do silogismo disjuntivo:Se Pedro estudioso, no preguioso.Ora, ele estudioso.Logo, no preguioso.b) Reduo do silogismo conjuntivo:Se Pedro passeia, no l.Ora, ele passeia.Logo, no l.

3. LGICA MATERIAL

A CINCIA E AS CINCIAS

I. NOO DACINCIA.

1. Definio. Devemos aqui precisar a noo da cincia. O termo cincia encarado de um ponto-de-vista objetivo e de um ponto-de-vista subjetivo.a) Objetivamente, a cincia um conjunto de verdades certas e logicamente encadeadas entre si, de maneira que forme um sistema coerente. Sob este aspecto, a Filosofia uma cincia, tanto quanto a Fsica e a Qumica. Num mesmo sentido, necessrio dizer que ela responde melhor idia da cincia do que as cincias da natureza, porque usa princpios mais universais e se esfora por descobrir a razo universal de todo o real.b)Subjetivamente, a cincia o conhecimento certo das coisas por suas causas ou por suas leis. A pesquisa das causas propriamente ditas (ou do porqu das coisas) reservada principalmente Filosofia. As cincias da natureza se limitam a pesquisar as leis que governam a coexistncia ou a sucesso dos fenmenos (ou pesquisa do como).

2.S existe cincia do geral e do necessrio. Isto resulta da prpria definio da cincia.a) A cincia tem por objeto o geral. Toda cincia, tendo por objeto descobrir as causas e as leis , por isto mesmo, conhecimento do que existe no real do mais geral. O indivduo e o individual, como tal, no e no pode ser objeto da cincia propriamente dita, mas unicamente do conhecimento intuitivo, sensvel ou intelectual.b)A cincia tem por objeto o necessrio, no sentido de que as causas e as leis que atinge so realidades ou relaes que so metafisicamente, fisicamente ou moralmente necessrias, isto , de tal forma que o real, o metafsico, o fsico ou o moral seria ininteligvel sem elas. Deste ponto-de-vista, alm disto, no existe cincia do individual, uma vez que o individual, como tal, contingente (isto , poderia no ser).c)Em que sentido o individual e o contingente so objetos da cincia. A assero de que no h cincia a no ser do geral e do necessrio no significa que a cincia no leve em conta o contingente e o individual, mas, somente, que ela visa, no contingente e no individual, ao que universal e necessrio, a saber, as leis a que obedecem, as causas de que dependem, as essncias e as naturezas que as definem como parte de uma espcie ou de um gnero.

3. As cincias da natureza so disciplinas particulares, abrangendo os diferentes domnios do real. Seu nmero indefinido e elas no cessam de se multiplicar na medida em que o estudo da natureza chega a colocar em evidncia a complexidade dos fenmenos naturais.Podemos, contudo, distinguir entre as cincias da natureza, as grandes categorias que comportam subdivises mais ou menos numerosas. A classificao das cincias tem por objeto determinar e ordenar logicamente estes grupos ou categorias.

II.CLASSIFICAO DAS CINCIAS.

1. As diferentes classificaes. Os filsofos de h muito procuram classificar racionalmente as cincias. Uma tal classificao teria, com efeito, a vantagem de dar uma espcie de quadro ordenado de todo o real. Os principais ensaios de classificao so os seguintes:a) Classificao de Aristteles. Aristteles distribui as diversas cincias em terica (Fsica, Matemtica, Metafsica) e praticas (Lgica e Moral).b)Classificao de Bacon. Bacon divide as cincias segundo as faculdades que elas fazem intervir: cincias de memria (histria), de imaginao (poesia), de razo (filosofia).c)Classificao de Ampre. Ampre classifica as cincias em cosmolgicas (ou cincias da natureza) e noolgicas (ou cincias do esprito).d)Classificao de AugustoComte. Asclassificaes precedentesno so rigorosas, porque as divises que propem no so irredutveis. A classificao de Augusto melhor porque se baseia num princpio mais rigoroso. Consiste em classificar as cincias segundo sua complexidade crescente e sua generalidadedecrescente, o que d a ordem seguinte (corrigindo e completando a de Augusto Comte): Matemtica, Mecnica, Fsica, Qumica, Biologia, Psicologia, Sociologia.

2.Sentido da classificao. Esta classificao no significa que possamos passar de uma cincia a outra sem fazer intervir um elemento novo, isto , que seja possvel reduzir as cincia priores s inferiores. Ao contrrio, cada escala faz intervir um elemento irredutvel nos precedentes. assim que a Mecnica introduz a idia de movimento, que no est includa na noo das matemticas, que se refere apenas quantidade. Do mesmo modo a Biologia, introduz a idia da vida, que nenhuma das cincias precedentes comporta.

DO MTODO EM GERAL

I.NOO DO MTODO.

I.Definio. Noseu sentido maisgeral,omtodo e a ordem que se deve impor aos diferentes processos necessrios para atingir um fim dado. Se nos colocamos no ponto-de-vista do conhecimento dir-se-, com Descartes, que o mtodo "o caminho a seguir parachegar verdade nas cincias".

Importncia do mtodo. Esta importncia evidente. O mtodo tem como fim disciplinar o esprito, excluir de suas investigaes o capricho e o acaso, adaptar o esforo a empregar segundo as exigncias do objeto, determinar os meios de investigao e a ordem da pesquisa. Ele , pois, fator de segurana e economia. Mas no o suficiente a si mesmo, e Descartes exagera a importncia do mtodo, quando diz que as inteligncias diferem apenas pelos mtodos que utilizam. O mtodo, ao contrrio, exige, para ser fecundo, inteligncia e talento. Ele lhes d a potncia, mas no os substitui jamais.

II. DIVISO.Podemos distinguir diferentes espcies de mtodos. Os principais so seguintes:

1. Mtodo de invenoemtodo de ensino. Diz-se porvezes que estes dois mtodos se opem porque o primeiro procede por induo e o segundo por deduo. Na realidade, se verdade que a descoberta se faz na maior parte dos casos por induo(ouanlise) e o ensino por deduo (ou sntese), o inventor e o mestre devero, contudo, utilizar ou dois processou. Ensinar uma cincia , num sentido, conduzir o aluno a reinvent-la por sua prpria conta. Do mesmo modo, inventar freqentemente deduzir de uma verdade geral conseqncias no percebidas.

2.Mtodo de autoridade e mtodo cientfico.

a)Definies. O mtodo de autoridade aquele que, para fazer admitir uma doutrina, se baseia na autoridade, quer dizer, no valor intelectual ou moral daquele que a prope ou professa. Ele comum em matria de f, em que se crem nos mistrios pela autoridade de Deus revelador. O mtodo cientfico aquele que procede por demonstrao e recorre ao critrio da evidncia intrnseca.

b)Autoridade e razo. O mtodo de autoridade faz, tambm,apelo razo, quando mostra que as verdades a crer tm garantias to certas que a razo pode inclinar-se, na convico de obedecer apenas fora da verdade (evidncia extrnseca). Pode ter, portanto, um carter cientfico tambm.Quando se trata, todavia, da autoridade humana, se sbio, levar em conta as opinies daqueles a quem o seu gnio, seus trabalhos, sua vida, recomendam ao respeito de todos, no bastar que nos contentemos em adotar estas opinies sem crtica nem reflexo (como faziam os discpulos de Pitgoras, que se limitavam a dizer, para provar suas doutrinas: "O Mestre disse"). Este mtodo conduziria, de uma parte, estagnao da cincia, e, de outro, levaria a conferir s autoridades humanas uma infalibilidade que no lhes pertence. O recurso autoridade humana no pode, pois, intervir a no ser para guiar a pesquisa ou para confirmar as asseres demonstradas por outros, segundo as exigncias cientficas.

3.Mtodo experimental e mtodo racional. O mtodo experimental se apia nos fatos da experincia. Este o mtodo das cincias da natureza, que partem dos fatos e admitem apenas o critrio da verificao pelos fatos. O mtodo racional aquele que, a partir dos fatos (filosofia), ou a partir de proposies admitidas a priori como evidentes por si (matemticas), procede por deduo ou induo, em virtude das exigncias unicamente lgicas e racionais.

4. Mtodos de construo e de sistematizao. - Estes mtodos tendem a facilitar a organizao do saber em sistemas ou teorias, de tal modo que o encadeamento das idias reproduza o encadeamento das coisas.

III.A DVIDA METDICA.

1. Necessidade da dvida metdica. Diz-se muitas vezes que para bem saber necessrio saber bem duvidar. De fato, toda cincia sendo uma crena raciocinada, supe em seu princpio um estado em que o esprito suspende o seu assentimento s certezas espontneas, abandona seus preconceitos, a fim de no ceder seno evidncia do verdadeiro. Tal a dvida metdica.

2. Limites da dvida metdica. A dvida, mesmo simplesmente metdica, jamais poder ser universal, porque existem certezas cuja evidncia tal que no podem ser recusadas, mesmo ficticiamente. Tais so a evidncia de nossa existncia e a dos primeiros princpios da razo. Quem quisesse colocar em dvida estas evidncias nada mais poderia demonstrar. Toda demonstrao parte necessariamente de um certo nmero de princpios, que sim indemonstrveis, no por falta de clareza, mas por plenitude de evidncia. Diz-se que estes princpios so evidentes por si.

IV.PROCESSOS GERAIS DO MTODO: ANLISE E SNTESE.

1. Noo.

1.1. Anlise e diviso. Sntese e adio. Vimos mais acima que a demonstrao se apia no necessrio, isto , na essncia e nas propriedades das coisas. Ora, chegamos ao conhecimento preciso das essncias ou naturezas e das propriedades apenas por meio da anlise, quer dizer, de uma operao que tende a discernir num todo complexo o que essencial e o que acidental. A sntese se acrescenta anlise como um meio de verificao dos resultados desta.A anlise , pois, uma diviso; e, a sntese, unia composio. Mas o uso tende reservar o nome de anlise s diferentes formas da diviso e o nome de diviso distribuio de um todo em fragmentos ou partes integrantes (que poder ser reconstitudo por um processo que ser, no uma sntese, mas uma adio). Assim, divide-se uma barra de ferro em fragmentos homogneos e a reconstitumos na forja com estes fragmentos. Em outras palavras, a anlise e a sntese visam estabelecer relaes, enquanto que a diviso e a adio se referem apenas quantidade e se exprimem por um nmero: gua == H2O (anlise que d a relao de H e de O); a gua deste reservatrio = 1.000 litros (adio ou diviso).

1.2. Definies. Definir-se- ento em geral a anlise como a resoluo de um todo em suas partes ou como a passagem do complexo ao simples, e a sntese como uma composio que consiste em ir das partes ao todo ou como a passagem do simples ao complexo.

2.Espcies.

2.1.Anlise e sntese experimentais. A anlise e a sntese experimentais (ou reais) consistem em ir do composto aos elementos componentes, ou dos elementos ao todo complexo, que eles compem. Elas se referem, ento, ao ser real. Mas nem sempre so realizveis fisicamente; pode-se decompor a gua em O e 2H e recomp-la no eudimetro a partir de O e 2H; mas s mentalmente se pode decompor a alma em suas faculdades.

2.2.Anlise e snteses racionais. Consistem em ir, primeiro, dos efeitos s causas, dos fatos s leis que as regem, das idias menos gerais s mais gerais (por exemplo, do indivduo espcie, da espcie ao gnero), a segunda, dos princpios s conseqncias, das causas aos efeitos, das idias mais gerais s menos gerais. Elas se referem, ento, aos seres ideais ou lgicos e podem ser feitas apenas mentalmente. Utilizam-se, sobretudo, em Matemtica e Filosofia.

3.Regras de Emprego.

3.1. As regras cartesianas. Descartes resumiu no Discurso do Mtodo as regras de emprego da anlise e da sntese. Estas regras so as seguintes:

a) A anlise deve ser completa. Devo de fato visar a distinguir com o mximo de preciso possvel todos os elementos que compem o objeto estudado,quer este objetoseja mental,como uma idia, ou fsico, como a gua em que o qumico desdobra em O e 2H.

b)A sntese deve ser gradual. "Conduzir por ordem meus pensamentos, comeando pelos objetos mais simples e mais fceis de conhecer, para chegar pouco a pouco como por graus at ao conhecimento dos mais complexos." O que equivale a dizer que sempre necessrio, por referncia anlise anterior, recompor o objeto segundo a ordem que estabelece um elo de dependncia e como que uma hierarquia entre os elementos componentes.

3.2.O controle mtuo. Anlise e sntese devem caminhai unidas, porque elas se controlam uma pela outra. A anlise, se empregada exclusivamente, acarretaria o risco das simplificaes temerrias. O exclusivo recurso sntese tenderia, por seu lado, a favorecer as construes prematuras e arbitrrias. A anlise ajudar, portanto, a prestar snteses objetivas e a corrigir as snteses artificiais. A sntese permitir verificar se a anlise foi completa.

4.Anlise e induo. Sntese e deduo.Podemos agora discernir em que se assemelham e diferem a anlise e a induo, a sntese e a deduo.

4.1. Anlise e induo. A induo uma espcie de anlise, uma vez que decompe o objeto complexo, dado experincia, com o fim de apreender nele a essncia, a natureza, a causa, o principio ou a lei. Nos dois casos, estamos em face de um processo regressivo, isto , inverso da ordem natural, no qual as partes so (ao menos logicamente) anteriores ao todo, e o simples anterior ao complexo.

4.2.Sntese e deduo. A deduo uma espcie de sntese, uma vez que a consiste em ir dos princpios s conseqncias, o que uma composio, ou seja, um processo progressivo, conforme h ordem natural das coisas.

II. METAFSICA

1. NOES PRELIMINARES

1. Noo. O nome metafsica (depois da fsica) foi dado pelos discpulos de Aristteles ao conjunto dos tratados aristotlicos que vinham aps aqueles consagrados s coisas da natureza. Foi desde ento utilizado para designar estaparte da Filosofia que consagrada s realidades que no se situam de forma alguma ao alcance dos sentidos.

2. Diviso. As realidades que no se situam ao alcance dos sentidos podem ser de dois tipos:a) As que no comportam matria de espcie alguma,como os anjos, Deus.b)As que, convindo igualmente aos seres materiais e imateriais, so consideradas pelo filsofo apartadas de qualquer matria e no seu mais alto grau de generalidade.Tais so as realidades designadas sob o nome deser,desubstncia,decausaetc. Estas ltimas compem o objeto daMetafsica geral.As primeiras constituem o objeto deMetafsicas especiais.

2. NATUREZA. MTODO. VALOR.

a)A Metafsica se baseia na experincia.No podemos conhecer pela razo os seres imateriais a no ser na medida em que a ns se manifestem por seus efeitos. A Metafsica deve, ento, apoiar-se sempre nos dados dos sentidos, internos e externos, como tambm nas cincias da natureza, e esforar-se por determinar, peloraciocnio, qual a natureza do ser universal e quais seus princpios e causas.

b)A Metafsica uma cincia.A Metafsica no , pois, uma construo arbitrria, nem umaobrade arte, nemumobjeto de crena irracional. A Metafsica uma cincia, e, em certo sentido, a mais rigorosa, uma vez que seu objeto, estando acima da matria e no submetido a transformao, no incide nas causas de erro que provm dos objetos em perptua transformao.

c)As condies tcnicas e morais da Metafsica.O que verdadeiro, contudo, que aMetafsica,mais do que qualquer outra cincia,requer condies tcnicasdifceis econdies moraisparticulares. Ela procede por abstrao e afasta, como perigosa, a interveno da imaginao. Ao mesmo tempo, exige uma especial firmeza lgica. De outra parte, trata dos grandes problemas da existncia e da natureza de Deus, de nossa origem e de nosso fim. O que dissemos mais acima, sobre o papel da vontade no juzo, suficiente para chegar-se a compreender como a Metafsica exige, no apenas uma disciplina da inteligncia, mas tambm uma disciplina do corao.

d) A Crtica do conhecimento. A Crtica do conhecimento, enquanto tem por objeto determinar o valor de nosso conhecimento, e, particularmente, o valor do conhecimento metafsico, constitui uma necessriaintroduo ao estudo da Metafsica.Esta no poder constituir-se validamente a no ser base de uma razo certa da legitimidade e do alcance de suas investigaes.

3. CRTICA DO CONHECIMENTO

1. Noo. O problema do valor do conhecimento tomou, na filosofia moderna, aps Descartes, uma tal importncia, que pareceu por vezes constituir sozinho toda a filosofia. H nisto um excesso evidente. O operrio no tem como tarefa nica verificar seu instrumento de trabalho! Mas seria um outro excesso contestar a legitimidade da questo de saber o que vale nosso conhecimento.Os "erros dos sentidos", erros da inteligncia, o conflito do conhecimento sensvel e do conhecimento intelectual impem, inevitavelmente, esta questo.

2. Diviso. O problema crtico pode ser dividido emduas partes.A questo que se apresenta de incio a de saberse somos capazes de conhecer a verdade.Trata-se, depois de determinar que verdade somos capazes de conhecer, quer dizer,qual a extenso de nosso conhecimento.O CONHECIMENTO DA VERDADE

No que concerne questo de saber se somos capazes, em geral, de conhecer a verdade, h duas opinies possveis, uma negativa, outra afirmativa. primeira o fato do ceticismo, a segunda do dogmatismo ou racionalismo.

I.O CETICISMO

1. Exposio

O ceticismo admite graus, conforme professe universalmente a impossibilidade de conhecer qualquer verdade, ou apenas a impossibilidade de conhecer o que quer que seja com uma plena certeza. A primeira posio constitui o pirronismo,a segunda,o probabilismo.

1. O pirronismo. O pirronismo (nome derivado de Pirro, filsofo grego) professa que o sbio no deve nada afirmar, uma vez que tudo incerto. Ele aquiesce, contudo, s aparncias; reconhecendo que as coisas lhe apaream de um modo ou de outro, declara-se naimpossibilidade de jamais saber se as coisas so como aparecem.Os argumentos do pirronismo so os seguintes:a)Os erros dos sentidos(o basto que parece quebrado na gua, a torre quadrada que de longe parece redonda, o sol que parece girar em torno da terra, a gua profunda que parece azul etc.) impedem que confiemos nos sentidos, de onde provm todo o nosso saber.

b)Os erros da inteligncia,manifestados pelas opinies contraditrias que os homens adotam sobre os mesmos objetos, e pelas contnuas mudanas que devemos impor s crenas que parecem mais estabelecidas, provam tambm nossa incapacidade fundamental de conhecer a verdade.

c)Argumento do dialeto(do grego: um pelo outro). O valor de nosso saber depende do valor de nossa inteligncia. Mas no podemos conhecer o valor de nossa inteligncia, uma vez que pela inteligncia que deveramos estabelecer este valor.

2. O probabilismo. O probabilismo uma atenuao do ceticismo. Foi proposto pelos Novos-Acadmicos (sobretudo Carnadas e por Ccero. Consiste em afirmar que os argumentos cticos no provam que no possamos saber coisa alguma, mas apenas queno podemos jamais ultrapassar a probabilidade(ou a opinio). Esta pode ser mais ou menos grande, sem jamais igualar a certeza propriamente dita.

2.Discusso

1. No existe verdade e erro a no ser no juzo. Propriamente,no existem erros dos sentidos.Estes, com efeito, no tm outra funo seno a de nos fazer apreender as aparncias (ou fenmenos), e nisto so infalveis. A vista no erra ao perceber como quebrado o basto mergulhado na gua. O erro no pode residir seno no juzo, que um ato da inteligncia; a este incumbe criticar os dados sensveis antes de julgar, comparando as percepes dos diferentes sentidos que se referem ao mesmo objeto.

2. Os erros da inteligncia so acidentais. Os homens se enganam, certo. Mas o erro ser essencial, necessrio, ou ao contrrio acidental? O fato de que retificamos nossas opinies, que nos procuramos convencer mutuamente, prova quens nos cremos capazes da verdade.E ainda um fato que todo um conjunto imenso de verdades conquistou o assentimento unnime das inteligncias.As flutuaes do saber se explicam perfeitamente pela complexidade do reale, em certos casos,pelas influncias da sensibilidade e da vontade,para que algum se sinta autorizado a falar de uma impotncia do esprito humano.

3. Pode-se verificar, sem cair num crculo vicioso, a veracidade da inteligncia. o que mostram as observaes seguintes:

a)A verificao experimental.H muitos meios de verificar o valor de um instrumento. Um deles consiste em servir-se dele: o marceneiro experimenta a serra serrando a madeira. Da mesma forma,o valor da inteligncia se verifica na constituio da cincia, de que ela o instrumento.A cincia chega a bom termo, permite-nos uma ao eficaz sobre a natureza, o que seria inconcebvel se no tivssemos um conhecimento certo e preciso desta mesma natureza.

b)Os casos privilegiados.Por outro lado, h, na ordem especulativa, casos privilegiados em que a inteligncia apreende evidncias absolutas, por exemplo, na intuio dos primeiros princpios. Ora, a evidncia suficiente por si mesma e para si mesma sua prpria luz.A inteligncia,neste caso,percebe,na sua atividade espontnea, a infalibilidade de que dotada quando se exerce segundo sua lei,que a de submeter-se ao objeto.

c)O controle mtuo dos conhecimentos.Afinal, fato de experincia que podemos muitas vezes controlar uns pelos outros nossos diversos conhecimentos: da mesma forma que se controla o tato pela vista e inversamente, os dados da inteligncia podem ser verificados por referncia aos dados da percepo sensvel, em que se encontram sua origem. O verdadeiro deve sempre estar de acordo consigo mesmo.4. O ceticismo contraditrio. Contra o ceticismo em geral, pode-se mostrar que ele no consegue defender-se sem contradio. Se afirma que nada verdadeiro (ou certo), afirma ao mesmo tempo que ele verdadeiro (ou certo), e que nada verdadeiro. Existe, ento, alguma coisa de verdadeiro.

5. O ceticismo praticamente impossvel. Octico,para ser lgico consigo mesmo,no deveria falar, nem se mexer sequer,uma vez que toda palavra e todo gesto implicam em alguma afirmao. Aristteles diz muito bem que o ctico desceria ao plano de vegetal.

6. Inconsistncia do probabilismo. O probabilismo no pode justificar-se melhor do que o ceticismo total. Porque, o instante em que admita que h coisasmais provveisdo que outras, reconhece que h um critrio de verdade segundo o qual se estabelecem os diversos graus de probabilidade. Ora,se existe um critrio de verdade, possvel chegar verdade.Deve-se ento concluir de toda esta discusso que o ceticismo no pode defender-se validamente e, at, que ele se destri ao se afirmar.

II. O DOGMATISMO

A verdade do dogmatismo (chamado tambm muitas vezesracionalismo)(*) resulta imediatamente da refutao do ceticismo, uma vez as duas teses so contraditrias. necessrio, contudo, precisaros argumentos positivos nos quais se apia o dogmatismo para mostrar que somos verdadeiramente capazes de conhecer a verdade. Estes argumentos so de valor designai e devemos logo afastar aqueles que so inoperantes.

(*) O termoracionalismo empregado em tantos sentidos, que necessrio cuidadosamente distinguir. Em primeiro lugar, utilizado, como o fazemos aqui, para afirmar acapacidade da razo humana de conhecer com certeza as verdades que so do seu domnio. sob este aspecto que se agrupam sob o nome defilosofias racionalistasas doutrinas que fazem do conhecimento da verdade a finalidade especfica da inteligncia humana, por oposio s filosofias do sentimento e do corao, que atribuem a aquisio da verdade a processos ou mtodos irracionais. O termoracionalismorecebeu historicamente um sentido mais estrito, que designa todadoutrina que professa a absoluta e exclusiva suficincia da razo humana para a descoberta da verdade em toda a sua extenso,e que repudia, por conseguinte, toda afirmao dogmtica que a razohumanaseria impotente para estabelecer por seus prprios meios e para compreender adequadamente. Concretamente, o racionalismo assim entendido se apresenta como uma recusa da revelao divina dos mistrios, e do conhecimento de f.

1.OMTODOCARTESIANO.

1. Exposio. Descartes professa que,para demonstrar a aptido do esprito para conhecer a verdade, convm comear por uma dvida universal.Esta dvida no a dos cticos (por estar ordenada verdade). umadvida metdica, que tem por fim, descobrir, preliminarmente, se no existe alguma verdade to absolutamente certa que a dvida no possa atingir, e, depois, qual o critrio da certeza.Descartes estende ento a sua dvida a todas as suas certezas espontneas: existncia do mundo exterior, existncia de seu corpo, verdade das demonstraes matemticas, veracidade da inteligncia. Ela no se detm seno diante desta certeza inacessvel dvida mais extravagante:penso, logo existo:certeza da existncia apreendida no ato do pensamento. Sobre esta verdade fundamental, padro de toda certeza, ele se esfora por reconstruir todo o edifcio da cincia.

2. Discusso. O processo cartesiano levanta graves dificuldades.

a)A dvida cartesiana demasiado extensa.No razovel estender a dvida, mesmo simplesmente metdica, s verdades ou fatos que so garantidos por uma evidncia absoluta, como so, por exemplo, as verdades matemticas.

b)O processo cartesiano contraditrio em si mesmo.Ele tem por fim descobrir uma verdade absolutamente evidente. Mas como poder chegar sua meta, desde que admita que as verdadesevidentes espontaneamente admitidas antes da dvida,por causa mesmo de sua evidncia,poderiam ser simples erros? Depois, como antes, sempre a mesma faculdade que conhece: se ela pde errar to gravemente, antes, que garantias, temos ns de que no se enganar depois? Se a evidncia no vale antes da dvida, como valer durante, ou depois?

c)No se pode demonstrar diretamente a veracidade da inteligncia.Toda demonstrao propriamente dita da veracidade da inteligncia um crculo vicioso, uma vez que esta demonstrao no poderia fazer-se a no ser pela prpria inteligncia.A veracidade da inteligncia mostra-se, constata-se, experimenta-se, mas no se demonstra.Da ser ela, de resto, mais certa: ver vale mais do que demonstrar.

2. NOES PRIMEIRAS E PRIMEIROS PRINCPIOS.

A. Natureza e diviso.

1. As noes primeiras. Em Psicologia, o homem adquire naturalmente, quer dizer, pela ao espontnea e necessria da razo, um certo nmero de noes e verdades que esto no princpio de todos os seus conhecimentos, cronolgica e logicamente. este conjunto de noes e de juzos que os modernos chamama razo.As noes primeiras so as deser,decausa,desubstnciae defim.

2.Os primeiros princpios. As noes primeiras doimediatamenteorigem, por um ato de pensamento que coincide com sua apreenso, a um certo nmero de princpios que no fazem mais do que exprimir as leis universais do ser.

a)A considerao do ser em si mesmod origem aoprincpio de identidade:"o que ", ou ainda: "o ser idntico a si mesmo". O princpio de identidade pode exprimir-se sob uma forma negativa: "o que no no ", ou ainda "uma coisa no pode ao mesmo tempo e do mesmo ponto-de-vista ser e no ser"(princpio de no-contradio ou, mais resumidamente,princpio de contradio), ou, sob forma disjuntiva: "uma coisa ou no ", ou ainda: "entre ser e no ser no existe meio termo"(princpio do tero excludo).

b)A considerao do ser em sua relao com os diferentes seresd origem aoprincpio de razo suficiente:"todo ser tem sua razo de ser". Este princpio tem trs aspectos distintos.Do ponto-de-vista da eficincia,exprime-se no princpio decausalidade: "tudo o que comea a ser tem uma causa".Do ponto-de-vista da subsistncia,exprime-se noprincpio de substncia:"todo acidente (ou fenmeno) supe um sujeito no qual ele est inerente".Do ponto-de-vista da finalidade,exprime-se noprincpio de finalidade:"todo ser age tendo em vista um fim", ou ainda: "toda atividade est determinada pela natureza deste ser".

3. Caracteres dos primeiros princpios. Os primeiros princpios so:

a)Necessrios,porque impossvel pensar sem utiliz-los,conscientemente ou no. So tambm necessrios no sentido de queneg-los negar o pensamento, e viol-los no pensar.Impossvel seria dizer que o branco no branco, que o homem um animal sem razo, que o crculo quadrado. Tais asseres no correspondem a nenhuma idia coerente; so puras palavras.

b)Universais,porque, de uma parte,eles caracterizam a razo em toda a sua extenso(universalidade objetiva) e de outra parteimpem-se a toda inteligncia,qualquer que seja, humana ou divina (universalidade subjetiva).

B.Origem.

Tem-se perguntado se os princpios so a priori, quer dizer, anterior a qualquer experincia, oua posteriori. A soluo deste problema leva em conta as seguintes observaes:

1. Os princpios so objetivos "a posteriori" como a noo de ser. Como se viu, os princpios primeiros esto contidos implicitamente na noo de ser, de que no fazem mais do que formular as leis. Ora,a noo de ser uma noo objetiva,que resulta, por uma abstrao espontnea e natural, da apreenso dos seres dados na experincia. Eis por que osprincpios primeiros,antes de serem leis do pensamento,so de incio percebidos como leis do sere no so leis do pensamento seno porque so leis do ser. O pensamento, ao formul-lo, implcita ou explicitamente, no faz mais do que obedecer s exigncias do ser que ele percebe.

2.A intuio dos princpios resulta de uma aptido inata da inteligncia. H, na apreenso dos princpios uni elementoa priori,que consiste naaptido inata da inteligncia. por efeito desta aptido que a inteligncia considerada como naturalmente apta, graas virtudedo intelecto agente, a apreender nos seres o ser universal e as leis mais gerais do ser.A natureza da inteligncia ressalta da anlise que acabamos de fazer. Esta anlise tornou ntidas as verdades seguintes:

1. Ainteligncia capaz de conhecer a verdade:Refletindo sobre a maneira pela qual conhece os princpios, a intelignciatem conscincia de que est determinada a este conhecimento pela apreenso objetiva do ser: elaapreende, assim, sua prpria natureza, que a de se conformar ao ser que percebe.

2.A verdade consiste na conformidade do esprito com as coisas. A inteligncia estando, por natureza, determinada a estar conforme ao ser, no existir verdade a no ser na medida em que ela obedea s exigncias objetivas do ser, quer dizer, em que hajaadequao de seus juzos com o real.Toda a cincia e toda a filosofia se constroem, assim, sob a luz do ser de suas leis universais.

4. A EXTENSO DO CONHECIMENTO

O problema do alcance do conhecimento um problema distinto do precedente, porque o fato certo de que somos capazes de chegar ao verdadeiro deixa subsistir a questo de saber que verdades ou que coisas somos efetivamente suscetveis de conhecer. Podem-se aqui distinguir duas opinies extremas e contrrias, que contm cada uma muitas variedades: uma afirma que s podemos conhecer coisas sensveis(sensualismo e empirismo), a outra, que s conhecemos idias(idealismo).No podemos admitir nem uma nem outra destas teorias. A doutrina que professamos(realismo)mantm-se a igual distncia destas duas opinies, fazendo justia inteiramente ao que existe de certo em cada uma delas.

I.O SENSUALISMO E O EMPIRISMO

1. Princpios do sensualismo. O sensualismo (ou empirismo) tem por princpio fundamental quetodas as nossas idias sem exceo vm unicamente dos sentidose, por conseguinte,nada nos podem ensinar que no seja de ordem sensvel.Esta doutrina foi sustentada na antigidade grega pelossofistas(Grgias, Protgoras) e os epicuristas (Epicuro); na Idade Mdia, por certos nominalistas (Pedro Auriol, Guilherme de Occam, Nicolau de Autricourt); entre os modernos, por Locke, Condillac, Hume, Stuart Mill, etc. Condillac pretendeu demonstr-la rigorosamente ao tentar provar que todo conhecimento se reduz sensao e s transformaes da sensao.

2. Crtica do sensualismo. O erro do sensualismo no est em afirmar que nossos conhecimentos tm sua fonte na experincia sensvel, o que verdade, mas em sustentar que nada contm que no seja de natureza sensvel. Ao contrrio, arazo naturalmente capaz de apreender nos dados sensveis,atravs da abstrao,os aspectos inteligveis do real, que os sentidos no podem distinguire, pelo raciocnio baseado na experincia, descobrir os princpios e as causas do real.

II.O IDEALISMO

1. NOO DO IDEALISMO.

A.Princpio do idealismo.

O idealismo teve, desde Descartes, um imenso sucesso e foi proposto por numerosos filsofos, sob diferentes formas. Pode-se, contudo, reduzir todas estas teorias afirmao de um princpio comum a todas, que se chama princpio da imanncia.Este princpio consiste em dizer que ohomem no conhece direta e imediatamente a no ser seu prprio pensamento(ou suas idias, donde o nome deidealismo).

B. Problema do mundo exterior.Este problema nasce imediatamente do princpio da imanncia. Porquese no conhecemos diretamente a no ser nossas idias, a existncia de um universo distinto do de nosso pensamentono mais certa ese converte num problema a resolver.

C.As formas do idealismo.Podem-se distinguir:

1. O idealismo propriamente dito. Sob este nome, podem-se grupar todas as doutrinas que reduzem o universo a um sistema de idias. Dizendo de outra forma,o universo,por estas doutrinas,no tem realidade a no ser no esprito.Nada existe fora do esprito. Os principais filsofos que propuseram esta doutrina so Berkeley, Fichte, Schelling, Hegel.O idealismo invoca em seu favor os argumentos seguintes:a)A imanncia do conhecer.O princpio de imanncia do conhecer considerado pelo idealismo como evidente. Com efeito, a demonstrao que ele se prope a dar, e que consiste em dizer que oesprito, para conhecer, no pode sair de sipara vagar nas coisas, no tem mais do que as aparncias de uma demonstrao. uma simples petio de princpio ou um crculo vicioso.O princpio de imanncia um puro postulado.

b)Critica das noes de substncia e de matria.Estas duas noes (que Berkeley cometeu o erro de identificar) no correspondem, diz Berkeley,a nada real.Com efeito,a idia de substncia inconsistente.A substncia, tal como a definimos, o que sustenta os fenmenos. Mas, de incio, esta base, se existisse, seria incognoscvel. Alm disso, contraditria, porque tambm ela teria necessidade de uma base e assim ao infinito. Enfim, intil, porque os fenmenos bastam-se a si mesmos.Se se considera a noo de matria, diz Berkeley, chega-se ao mesmo resultado.A matriano nem isto nem aquilo, nem nada de determinado. Ela, ento, absolutamente impensvel e no corresponde a nada real.Berkeley conclui da que todo o real se reduz a fenmenos, os quais nada mais so do as idias.Ser,nesta concepo, perceber ou ser percebido.O universo real, mas um universo de espritos e de idias (donde o nome desta doutrina:imaterialismo).

2.Ocriticismo.

a)O idealismo formal. a doutrina exposta por Kant na suaCrtica da Razo Pura(donde o nome de "Criticismo"). Esta doutrina constitui um idealismoformalno sentido de que Kant reconhecia a existncia necessria de objetos independentes do esprito, e exteriores a ele(o que no admite o idealismo propriamente dito ou material), mas declara-os ao mesmo tempoabsolutamente incognoscveisem si mesmos. Estes objetos no nos apareceriam, segundo Kant, a no ser revestidos das formasa prioride nossa razo e de nossa sensibilidade, mais ou menos come se todas, as coisas nos devessem aparecer vermelhas e deixar-nos na ignorncia absoluta de sua cor verdadeira, como se nossa viso projetasse,por um efeito de sua estrutura,a cor vermelha (cor a priori) sobre todos os objetos que lhe fossem dados.

b)As formasa priorido conhecimento.As formasa priorido entendimento so, segundo Kant, as categorias desubstncia,decausalidade, de finalidadeetc.; as da sensibilidade so as categorias doespaoe do tempo.Se as coisas nos aparecem como substncias, como regidas pelas leis de causalidade e de finalidade, se nos aparecem como situadas no espao e no tempo, isto no significa que sejam tais em si mesmas, mas apenas que ns as fazemos assim. Em definitivo, ouniverso do conhecimento , na sua forma, obra do esprito. c)Argumentos do criticismo.Os argumentos de Kant no so diversos daqueles do empirismo sensualista, que Kant toma a Locke e Hume.Todo conhecimento,diz ele,no pode vir seno dos sentidose como os sentidos s conhecem objetos singulares, sensveis e contingentes, segue-se da que nossas idias, que se referem a objetos universais, no sensveis e necessrias (a idia de homem, a idia de causa, da liberdade, os princpios primeiros etc), so puras construes de razo e no dados objetivos.

3. O idealismo cartesiano. O idealismo de Descartes e de Malebranche no mais do que umidealismo problemtico,uma vez que estes dois filsofos, partindo da hiptese idealista, que vem restabelecer em seguida a realidade do mundo exterior. Mas permanecem verdadeiramente idealistas enquanto afirmam que a crena na realidade do mundo exterior no recorre percepo (uma vez que no percebemos mais do que nossas idias), mas, unicamente, revelao (direta, segundo Malebranche, indireta, segundo Descartes) do prprio Deus.

2. DISCUSSO DO IDEALISMO.

1. O desmentido da experincia. Que o esprito no possa sair de si para ir vagar nas coisas, evidente. Mas no se segue da que ns no conheamos mais do que nossas idias. Isto vai imediatamente contra osentimento to forte e mesmo invencvelde que temosde conhecer as coisas objetivas,exteriores a ns, Se no podemos conhecer seno nossas idias, no se compreenderia o que se chamou com felicidadeos choques da experincia, quer dizer, a obrigao em que nos coloca incessantemente o contato com a natureza de modificar nossas idias e nossos sistemas de idias para nela faz-las enquadrar. A cincia, com suas lentas e difceis investigaes, no cessa de desmentir o idealismo.

2.Falsa noo da idia e do conhecimento.

a)A idia no objeto, mas meio de conhecimento.Para o idealismo a idia o que conhecido; a idia o objeto direto e imediato do conhecimento. Ora, eis a um grave erro.A idia no o que primeiramente conhecido, mas o em que e por que uma coisa conhecida.(No seno por um ato segundo, por reflexo ou retorno sobre si, que a idia como tal pode tornar-se objeto direto do conhecimento.) O que se conhece direta e imediatamente , pois, a prpria coisa, mas na e por sua semelhana, ou seu substituto mental, que a idia.Pela idia e na idia, a prpria coisa est em ns imaterialmente.Da se segue a evidncia irresistvel em que ficamos de apreender, pelo conhecimento, as realidades objetivas.

b)O verdadeiro problema crtico.Compreende-se por isso que o nico problema crtico concebvel consiste em saber, no se existe alguma coisa fora do pensamento (o que no tem nenhum sentido, tanto poderosa e embaraosa a evidncia desta existncia), mas se o que existe evidentemente fora do sujeito que conhece, quer dizer, o universo e tudo o que ele compreende, est bem conforme e em que medida e sob que condies idia que dele temos.

3. Objees idealistas. O idealismo costuma levantar contra a doutrina que acabamos de expor certos argumentos, que convm examinar.a) O que conhecido, dizem os idealistas, deve estar no pensamento. Ora, um objeto distinto do pensamento no estaria no pensamento. Logo, no poderia ser conhecido.Resposta. Oque conhecido deve estar no pensamento, pois esta a prpria definio do conhecimento. Mas no necessrio que esteja no pensamento materialmente (como a gua num vaso): suficiente que a esteja por um substituto mental, como a casa est representada no rgo da viso por sua imagem.b) O objeto no est presente no pensamento a no ser pela idia. No se conhece, ento, o objeto, mas a idia.Resposta. Isto seria verdade se a idia fosse o termo ltimo do conhecimento. Ora, ela no seno o termo mediato: na idia, o esprito percebe o prprio objeto, sem se deter na idia, como tal, mais ou menos da mesma maneira que, na leitura, se percebe o sentido das palavras, sem nos determos nelas como figuras ou sinais.

4. Crtica do imaterialismo. Os argumentos de Berkeley repousam em puros contra-sensos:

a) Noo de substncia. A substncia, ao contrrio do que pensa Berkeley, no um suporte inerte, no qual deslizassem os fenmenos, como as prolas de um colar ao longo do fio que as sustenta. Na realidade, ela inseparvel dos fenmenos ou acidentes, que so alguma coisa dela mesma. Est sujeita transformao, mas a transformao nela interfere realmente. Faltasse a substncia, toda transformao produziria um ser inteiramente novo.

b) Noo de matria. A matria-prima, homognea e indeterminada, o resultado de uma abstrao: ela no existe como tal. Isto no significa que ela no exista de nenhuma forma (o homem, como tal, quer dizer, que no fosse tal ou tal homem, no existiria, mas da no se segue que nada corresponda, no real, a nossa idia de homem). De fato, a matria existe como matria segunda ou elemento constitutivo dos corpos, da mesma forma que o homem existe sob a forma individual (Pedro, Paulo, etc.).

5. Crtica do criticismo kantiano. Kant nega ser um idealista. inteiramente impossvel, diz ele, duvidar da realidade das coisas, porque a simples conscincia de minha prpria existncia ao mesmo tempo uma conscincia imediata da existncia de outra coisa alm de mim. Minha experincia interna no pode ento explicar-se a no ser pela percepo de coisas exteriores a mim. Kant quer, portanto, ater-se a simples idealismoformal.Mas este idealismo mesmo esbarra em srias dificuldades.a)O criticismo kantiano vale o que vale o empirismo sensualista que lhe serve de base.Ora, mostramos mais acima o carter sofistico dos argumentos sensualistas.b) A doutrina deKant, alm disso, contraditria em si mesma,uma vez que admite a realidade de objetos independentes do sujeito que conhece (coisas em si ou nmeros) que ela declara ao mesmo tempo absolutamente incognoscveis. A rigor, se as coisas em si fossem incognoscveis, s poderamos estar certos da existncia dos fenmenos ou aparncias, quer dizer, apenas das modificaes do sujeito que conhece.c)A hiptese das formasa priori arbitrria.Kant no concebe meio termo para um conhecimento entre provir integralmente do sensvel e ser totalmentea priori,quer dizer, ser obra subjetiva da faculdade cognoscente. Ora,isto ser o mesmo que negligenciar gratuitamente a hiptese de uma funo abstrativa do esprito,em virtude da qual este est apto a apreender no prprio sensvel realidades no sensveis (categorias, naturezas e substncias, formas e essncias, leis e princpios). Deste ponto-de-vista, o que, em nosso saber, metaemprico e metafsico, seria ainda (ou, em todo caso, poderia ser) objetivo. Kant cai, pois, no erro de apresentar a hiptese de formasa priori como a nica soluo possvel do problema do conhecimento. No apenas esta no a nica soluo possvel mas nem mesmo a mais clara e a mais conforme aos dados da psicologia.

6. Concluso. Resulta da discusso que o idealismo no pode propor em seu favor nenhum argumento vlido e esbarra em insuperveis dificuldades. Por isso mesmoa verdade do realismo se encontra indiretamente estabelecida.

III.OREALISMO

1. Noo. Chama-se realismo, por oposio a idealismo, a doutrinaque professa a realidade do mundo exterior, quer dizer, de um universo realmente distinto do sujeito que conhece.Esta doutrina no objeto de demonstrao. No se demonstra a evidncia. mostrado, a princpio na Psicologia, e depois ao discutir o idealismo, queh uma verdadeira evidncia na apreenso de objetos realmente distintos do sujeito que conhece.A refutao dos argumentos contrrios deixa subsistir em toda a sua fora esta evidncia fundamental.

2. A evidncia realista. Podemos, todavia, resumir os aspectos da evidncia realista.

a)O carter intencional do conhecimento.Evidentemente, o realismo supe, da parte do sujeito cognoscente, um invencvel sentimento de conhecer, atravs de objetos distintos de si.Nenhum argumento chega a reduzir este sentimento. isto o que se chama, em termos tcnicos, o carter intencionaldo conhecimento: este, por sua prpria natureza,tendepara um objeto distinto dele, para dele se apropriar imaterialmente.

b)O testemunho da cincia.A cincia supe como evidncia a realidade de um mundo distinto do sujeito que conhece. Ela uma procura paciente e minuciosa, cujos resultados so constantemente confrontados com o real, que prevalece.c)O acordo dos homens, entre sisobre os objetos da experincia no pode ser explicado seno pela concepo realista. Se os objetos no fossem mais do que idias no entendimento, seria inconcebvel que meu universo coincidisse constantemente com o de outrem e o de outrem com o meu.

3.O sentido do realismo. importante compreender exatamente o sentido do realismo.

a)O objeto da inteligncia.Afirmando a realidade objetiva do ser e a ordenao essencial da inteligncia ao conhecimento do ser, o realismo exige, de incio, queo objeto da inteligncia seja realmente a universalidade do ser. da que nasce em ns o desejo de saber sempre mais, de tudo penetrar e abarcar pelo esprito.

b)Os limites efetivos da razo humana.Observando, por outra parte, que nossa inteligncia apenas uma intelignciahumana,quer dizer, condicionada em seu exerccio por rgos corporais, o realismo no conseguiria esquecer os limites efetivos de nosso conhecimento, limitado por um mximo e um mnimo.Hrealidades puramente espirituais(Deus, o esprito puro) que nossa inteligncia, ordenada ao conhecimento do mundo sensvel, no pode apreender em si mesmas, mas apenaspor analogia com o sensvel. assim que pensamos o esprito por analogia com o que h de menos grosseiro no mundo dos corpos (spiritus,ar, sopro).H, tambm, no real,tudo o que matria e tudo o que depende da matria:estas naturezas, consideradas na suasingularidadeouindividualidadeconcreta, no so imediatamente acessveis inteligncia, mas apenas apreenso sensvel.

c)O domnio prprio da inteligncia humana. entre estes dois limites opostos que se desenvolve o nosso conhecimento, coma. em seudomnio prprio.E j um belo campo. Inclui asnaturezas-materiais abstratase tudo o que pode ser conhecido por elas, oser universal,suas leis e suas grandes divises,a Causa primeira do ser e os princpios da ordem moral.A isto devemos acrescentar: nossa atividade intelectual e voluntriae, nela,a existncia do sujeito que pensa e que quer.

d)O realismo filosfico no um realismo ingnuo ou literal, como o do senso comum. um realismo crtico, quer dizer, preocupado em determinar, no real apresentado experincia, o que objetivo e o que se deve atividade do esprito.O problema dos universais,examinado em Psicologia, responde, sobretudo, a este cuidado crtico. Sua discusso leva a afirmar que ouniverso do conhecimento no uma cpia do universo objetivo,mas uma construo efetuada pela inteligncia, a partir dos dados sensveis ecorrespondente,sob sua forma imaterial, s realidades da experincia.A experincia inclui o inteligvel, a saber, as formas e as essncias, objetos primeiros da inteligncia, enquanto que idias objetivas das coisas. este mundo de idias objetivas, que existe sob forma singular, que a inteligncia conhece sob forma universal.O universo do conhecimento , pois, o universo real, mas apreendido pelo esprito, segundo o modo imaterial que lhe prprio.

e)O realismo em face do empirismo e do idealismo.Por a se v como o realismo crtico se mantm a igual distncia do empirismo sensualista e do idealismo e conserva de um e do outro o que eles apresentam de verdadeiro, sustentando, de uma parte, que nosso saber tem sua origem nos dados sensveis, e de outra parte, que a razo compe, a partir destes dados, um universo inteligvel ou universo de idias que eqivale s idias (formas e essncias; imanentes aos objetos da experincia.

5. ONTOLOGIA.

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