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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE FISIOTERAPIA APLICADA À GERIATRIA E GERONTOLOGIA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação

CURSO DE

FISIOTERAPIA APLICADA À GERIATRIA E GERONTOLOGIA

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

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CURSO DE

FISIOTERAPIA APLICADA À GERIATRIA E GERONTOLOGIA

MÓDULO I

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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SUMÁRIO

MÓDULO I

INTRODUÇÃO

1 HISTÓRICO

2 GERONTOLOGIA COMO DISCIPLINA E CIÊNCIA DO ENVELHECIMENTO

3 DIVISÕES DA CIÊNCIA DO ENVELHECIMENTO

4 DEFINIÇÃO DE ENVELHECIMENTO

5 TEORIAS BIOLÓGICAS DO ENVELHECIMENTO

5.1 TEORIAS ESTOCÁSTICAS

5.2 TEORIAS DE USO E DESGASTE

5.3 PROTEÍNAS ALTERADAS

5.4 MUTAÇÕES SOMÁTICAS

5.5 ERRO CATASTRÓFICO

5.6 DESDIFERENCIAÇÃO

5.7 DANOS OXIDATIVOS E RADICAIS LIVRES

5.8 MUDANÇAS PÓS-TRADUÇÃO EM PROTEÍNAS

5.9 TEORIAS METABÓLICAS

5.10 TEORIAS GENÉTICAS

5.11 OUTRAS TEORIAS

6 PREVENÇÃO: GERIATRIA PREVENTIVA

6.1 PRIMÁRIA

6.2 SECUNDÁRIA

6.3 TERCIÁRIA

6.4 PLANEJAMENTO E ADAPTAÇÃO DE AMBIENTES PARA IDOSOS

6.5 IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO

MÓDULO II

7 EPIDEMIOLOGIA

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7.1 EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA

7.2 CAUSAS DO ENVELHECIMENTO

7.3 OS EFEITOS DA EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA

7.4 A EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER

7.5 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA

7.6 QUALIDADE DE VIDA

7.6.1 Instrumentos de Avaliação de Qualidade de Vida na Velhice

7.7 AVALIAÇÃO DO IDOSO

7.7.1 Anamnese

7.7.2 Exame Físico

MÓDULO III

8 FISIOPATOLOGIA DO ENVELHECIMENTO

8.1 SISTEMA NERVOSO

8.2 SISTEMA CARDIOVASCULAR

8.2.1 Alterações Morfológicas

8.2.1.1 Pericárdio

8.2.1.2 Endocárdio

8.2.1.3 Miocárdio

8.2.2 Alterações das Valvas

8.2.3 Alterações do Sistema de Condução ou Específico

8.2.4 Alterações da Aorta

8.2.5 Alterações das Artérias Coronárias

8.3 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

8.4 SISTEMA RESPIRATÓRIO

8.4.1 Alterações Estruturais do Sistema Respiratório

8.4.1.1 Pulmão

8.4.1.2 Parede torácica

8.4.1.3 Músculos respiratórios

8.4.1.4 Alterações da função pulmonar

8.5 SISTEMA DIGESTÓRIO

8.6 SISTEMA ENDÓCRINO

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8.7 SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO

8.8 SISTEMA URINÁRIO

8.8.1 Envelhecimento da Bexiga

8.9 ENVELHECIMENTO CUTÂNEO

MÓDULO IV

9 PATOLOGIAS E TRATAMENTO FISIOTERÁPICO

9.1 IDOSOS PORTADORES DE DOENÇAS REUMÁTICAS

9.1.1 Osteoartrose

9.1.2 Tratamento Fisioterápico

9.2 OSTEOPOROSE

9.2.1 Sintomas

9.2.2 Tratamento Fisioterápico

9.3 SARCOPENIA

9.3.1 Tratamento Fisioterápico

9.4 DISFUNÇÕES NEUROLÓGICAS

9.4.1 Demências

9.4.1.1 Tratamento fisioterápico

9.4.2 Doença de Alzheimer

9.4.3 Delirium

9.4.4 Depressão no Idoso

9.4.5 Acidente Vascular Encefálico (AVE)

9.4.6 Doença de Parkinson (DP)

9.4.6.1 Tratamento fisioterápico

9.5 DISFUNÇÕES CARDIOCIRCULATÓRIAS

9.5.1 Principais Doenças da Artéria Coronária

9.5.2 Infarto Agudo do Miocárdio

9.5.3 Hipertensão

9.5.4 Programa de Exercícios

9.6 DISFUNÇÕES RESPIRATÓRIAS

9.6.1 Doenças Pulmonares que mais Acometem o Idoso

9.6.1.1 Infecções

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9.6.1.2 DPOC

9.6.2 Tratamento Ambulatorial e Reabilitação Pulmonar

9.7 DISFUNÇÕES URINÁRIAS E SEXUAIS

9.7.1 Técnicas Fisioterapêuticas para Revitalização Geriátrica

GLOSSÁRIO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MÓDULO I

INTRODUÇÃO

O processo de envelhecimento e sua consequência natural, a velhice, é uma

das preocupações da humanidade desde o início da civilização. A história demonstra

que as ideias sobre a velhice são tão antigas quanto à origem da humanidade.

Feitas essas ressalvas, é preciso deixar claro que realmente o século XX marcou

grandes avanços na ciência do envelhecimento, graças aos conhecimentos

adquiridos por meio dos estudos que se desenvolveram desde que os pioneiros

Metchhnickoff e Nascher, em 1903 e 1909, respectivamente, estabeleceram os

fundamentos da gerontologia e geriatria.

1 HISTÓRICO

O século XX marcou a importância do estudo da velhice, fruto, de um lado,

da natural tendência de crescimento do interesse em pesquisar o processo de

envelhecimento, que já se anunciava nos séculos anteriores. Por outro lado, o

aumento do número de pessoas idosas de todo o mundo exerceu pressão passiva

sobre os desenvolvimentos desse campo. (NETTO, 1996).

Foi no início desse século, mais precisamente em 1903, que Elie

Metchnikoff, sucessor de Pasteur, defendeu a ideia da criação de uma nova

especialidade, a gerontologia, denominação obtida a partir das expressões gero

(velhice) e logia (estudo). Esse autor previa que esta área de estudo seria um dos

ramos mais importantes da ciência, em virtude das modificações que ocorrem no

curso do último período da vida humana.

Em vez de aceitar a inevitabilidade da decadência e da degeneração do ser

humano com o avançar dos anos, Metchnikoff pensava que algum dia uma velhice

fisiológica normal poderia ser alcançada pelos homens. Em 1909, a especialidade

passou a ser denominada geriatria, ou o estudo clínico da velhice, como propôs

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Ignatz L. Nascher, médico vienense radicado nos EUA. Esse estudioso, que

estimulou pesquisas sociais e biológicas dentro do envelhecimento e que, por esse

motivo, foi considerado pai da geriatria, fundou a sociedade de geriatria de Nova

Iorque em 1912.

Desde essa época, até 1930, a gerontologia ficou praticamente restrita aos

aspectos biológicos do envelhecimento e da velhice. Em 1930, Warren delineou os

primórdios da avaliação multidimensional e a importância da interdisciplinaridade.

Entre 1969 e 1979, a pesquisa na área aumentou 270%. Entre 1980 e 1990,

abriram-se novas áreas de interesse geradas pelas necessidades sociais

associadas ao envelhecimento populacional e à longevidade, como, por exemplo, o

apoio a familiares que cuidam de idosos dependentes, os custos dos sistemas de

saúde e previdenciário, a necessidade de formação dos recursos humanos, a

necessidade de ofertas educacionais e ocupacionais para idosos e pessoas de

meia-idade. (NÉRI, 2001).

Existem razões para a lentidão do processo, principalmente com relação a

pesquisas na área. E nos países em desenvolvimento a política que domina a

sociedade industrializada e urbanizada sempre teve mais interesse na assistência

materno-infantil e dirigida aos jovens. Além disso, os idosos constituem um grupo

bastante frágil e sem representatividade política. Hoje, cresce o número de

gerontologistas, mesmo porque a população idosa está crescendo

proporcionalmente. (PAPALEO NETTO e PONTE, 1996).

No Brasil, o impacto social é com alguma frequência mais importante que o

biológico. Paralelamente às mudanças demográficas que estão ocorrendo, cresce

também a necessidade de profundas modificações socioeconômicas do país do

Terceiro Mundo, que, além de ser política e economicamente dependente de outras

nações, possui uma estrutura socioeconômica antiga, que privilegia alguns em

detrimento da maioria.

O quadro atual, de crescimento da população idosa acompanhado de falta

de disponibilidade de riqueza, ou, o que é mais comum, de sua perversa distribuição

de renda, contrasta, por exemplo, com o que existe na Inglaterra, onde o

envelhecimento da população já se evidenciava após o início da Revolução

Industrial, quando o estado e a sociedade puderam dispor de recursos para suprir a

demanda que a população idosa exigia.

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À precária condição socioeconômica associam-se múltiplas afecções

concomitantes, perdas não raras da autonomia e independência e dificuldade de

adaptação do idoso a exigências do mundo moderno que, em conjunto, levam o

velho ao isolamento social. A sociedade moderna encontra-se hoje diante de uma

situação contraditória. De um lado, defronta-se com o crescimento acelerado da

população de idosos, e de outro, omite-se perante a velhice ou adota atitudes

preconceituosas contra a pessoa idosa, retardando a implementação de ações que

buscam minorar o pesado fardo dos que ingressaram na terceira idade.

A Revolução Industrial mudou o conceito de valorização intelectual que o

idoso tinha antigamente, ou seja, passou a ser rejeitado pela incapacidade. Outro

aspecto que constitui a história da velhice no Brasil foi o rápido processo migratório

e de urbanização. Hoje, três quartos da população brasileira vivem em áreas

urbanas, o que acarreta problemas sociais ainda mais graves para os idosos e para

toda população.

Outro aspecto que tem sido motivo de interesse é o estudo da velhice

relacionado ao sexo. Segundo o mesmo autor, o aspecto econômico tem levado a

uma crescente participação da mulher na força de trabalho, a fim de contribuir

financeiramente no orçamento doméstico, ocasionando a ausência, na família, de

alguém que cuide do idoso em caso de doença e ou incapacidade física. Por outro

lado, em razão da maior duração de vida da mulher em relação ao homem, ela está

exposta por períodos mais longos a doenças crônicas degenerativas, à viuvez e à

solidão.

Acrescenta-se que as mulheres idosas têm tido, em nossa experiência, uma

participação qualitativa e quantitativamente maior nas atividades relacionadas a

políticas de saúde ao idoso, como fóruns de gerontologia, conselhos municipais e

estaduais de idosos, e também nos cursos e universidade da terceira idade.

Em 1961, foi fundada a Sociedade Brasileira de Geriatria, que teve como

primeiro presidente Roberto Segadas. O processo interdisciplinar acentuou-se

nitidamente na década de 90, principalmente na Região Sudeste em cursos de pós-

graduação.

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FIGURA 1 – NÚMERO DE TRABALHOS NA ÁRE DE CIÊNCIAS DO

ENVELHECIMENTO APRESENTADOS EM CONGRESSOS NO BRASIL E NO

EXTERIOR

FONTE: FREITAS et al., 2006.

Para finalizar esse resumo histórico, é importante ressaltar que as

ciências do envelhecimento, apesar da sua curta existência, ou seja, menos de

um século, têm hoje produção científica invejável.

2 GERONTOLOGIA COMO DISCIPLINA E CIÊNCIA DO ENVELHECIMENTO

Antes de definir o campo de atuação da gerontologia, devemos

relembrar o significado do termo disciplina e se a mesma pode ser considerada

como tal. O Dicionário Aurélio define disciplina como: “qualquer ramo do

conhecimento artístico, científico, histórico, etc.; matéria de ensino; conjunto de

conhecimentos que se processam em cada cadeira de um estabelecimento de

ensino”.

Apesar de os significados serem por si mesmos bastante expressivos,

justificando-se a inclusão da gerontologia nos currículos acadêmicos, o assunto

é motivo de questionamentos. Ou seja, não há necessidade de se criar uma

nova área de investimento, pelo fato de o assunto ser ministrado em outras

disciplinas.

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A própria definição da especialidade finaliza os questionamentos. Assim,

gerontologia define-se como disciplina científica multi e interdisciplinar, cujas

finalidades são o estudo das pessoas idosas, as características da velhice

enquanto fase final do ciclo de vida, o processo de envelhecimento e seus

determinantes biopsicossociais.

3 DIVISÕES DA CIÊNCIA DO ENVELHECIMENTO

- Gerontologia Social: que se detêm aos aspectos orgânicos

antropológicos psicológicos, legais, sociais, ambientais, econômicos, éticos e

políticos de saúde.

- Geriatria: a geriatria tem sob seus domínios os aspectos curativos e

preventivos da atenção à saúde e, para realizar este mister, tem uma relação

estreita com disciplinas da área médica, como neurologia, cardiologia,

psiquiatria, pneumologia, entre outras, que deram origem à criação de

subespecialidades, como a neurogeriatria, a psicogeriatria, a cardiogeriatria e a

neuropsicogeriatria, entre outras. Além disso, mantém íntima conexão com

disciplinas não pertencentes ao currículo médico, embora profundamente

relacionadas, como nutrição e enfermagem.

- Fisioterapia: terapia ocupacional, fonoaudiologia, odontologia e

assistência ocupacional.

- Gerontologia biomédica: tem como eixo principal o estudo do

envelhecimento, do ponto de vista molecular e celular, enveredando pelos

caminhos de estudos populacionais e de prevenção de doenças associadas; ou

seja, sobre uma base genética atuariam fatores extrínsecos (ambiente e estilo

de vida) e intrínsecos como as alterações celulares e moleculares, que

acarretaria a diminuição da capacidade de manutenção do equilíbrio de

homeostase e predispõe a doenças.

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4 DEFINIÇÃO DE ENVELHECIMENTO

O envelhecimento pode ser definido como:

Processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam a perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte. (PAPALÉO NETTO, 1996, p3).

A distinção entre senescência ou senectude, que resulta do somatório

de alterações orgânicas, funcionais e psicológicas próprias do envelhecimento

normal, e a senilidade, que é caracterizada por modificações determinadas por

afecções que frequentemente acometem a pessoa idosa, é, por vezes,

extremamente difícil. O exato limite entre estes dois estados não é preciso e

caracteristicamente apresenta zonas de transição frequentes, o que dificulta

discriminar cada um deles.

Autonomia define-se como a capacidade de decisão, de comando; e

independência como a capacidade de realizar algo com seus próprios meios.

Por exemplo: uma senhora com fratura de fêmur, que, estando acamada, e

dependente, ainda assim pode exercer sua autonomia. O que se procura é a

manutenção da autonomia e o máximo de independência possível.

5 TEORIAS BIOLÓGICAS DO ENVELHECIMENTO

Durante séculos, o estudo da longevidade e do envelhecimento foi

relegado a um papel acessório nas diferentes disciplinas da biologia. No século

XX, esse papel iria mudar, principalmente porque nunca, em toda a história da

humanidade, populações apresentaram expectativas de vida tão altas, fruto

principalmente, da implantação de políticas de saúde pública e medicina

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preventiva, tais como vacinação de diversas moléstias infectocontagiosas e

planejamento e controle sanitário.

Esses foram os principais fatores que impulsionaram o desenvolvimento

da assim chamada biologia do envelhecimento. Essa abordagem deu-se

primeiramente sob o ponto de vista fisiológico, e mais tarde bioquímico. Ou

seja, com o avanço do conhecimento genético, cresceu também a busca por

padrões de hereditariedade da longevidade.

O envelhecimento não é somente a soma de patologias juntas e de

danos induzidos por doenças. Inversamente, nem todas as alterações na

estrutura e função dependentes da idade podem ser consideradas como

mudanças fundamentais ligadas à idade por si só. Em um esforço para

incorporar esse rigor dentro de uma definição, foi proposto que as mudanças

fundamentais relacionadas com a idade devem obedecer a essas condições:

Devem ser deletérias, ou seja, devem diminuir a funcionalidade.

Devem ser progressivas, isto é, devem concretizar-se gradualmente.

Devem ser intrínsecas, isto é, não devem resultar de um

componente ambiental modificável. Cabe ressaltar, aqui, que o

ambiente tem forte influência sobre o aparecimento e velocidade

dessas mudanças, apesar de não ser a causa.

Devem ser universais: todos os membros de uma espécie devem

mostrar tais alterações graduais com o avanço da idade.

5.1 TEORIAS ESTOCÁSTICAS

Parece improvável que um processo tão ordenado como o

envelhecimento se deva a fatores aleatórios ou estocásticos. Contudo, essa

ideia é a base das teorias que postulam ser a deterioração associada à idade

avançada em razão da acumulação de danos moleculares que ocorrem ao

acaso. Tais macromoléculas defeituosas poderiam se acumular por meio de

diferentes mecanismos: falha em reparar danos ou erros causados

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aleatoriamente na síntese de macromoléculas. Em ambos os casos, haveria

perda de função e de informações vitais para as células.

A quantidade dessas macromoléculas incorretas alcançaria um nível em

que algumas ou todas as células de um ser vivo estariam tão deficientes,

metabolicamente, a ponto de causarem a morte do próprio organismo. Porém, é

necessário estabelecer quais células, tecidos ou organismos possuiriam tipos

específicos de moléculas que são particularmente sensíveis a certos tipos de

dano; e é necessário assumir que espécies de vida longa são mais capazes de

tolerar tais danos, que espécies de vida curta.

5.2 TEORIAS DE USO E DESGASTE

As teorias classificadas como “uso e desgaste” são, provavelmente, as

mais antigas precursoras do conceito de falha de reparo. O acúmulo de

agressões ambientais no dia a dia levaria ao decréscimo gradual da eficiência

do organismo e, por fim, à morte. Todos os organismos são constantemente

expostos a infecções, ferimentos e agressões que causam danos leves às

células, aos tecidos e aos órgãos.

Uma fratura pode sarar, mas o osso não voltará a ser tão resistente

quanto antes de o ferimento ocorrer. Atualmente, motivos lógicos contribuem

para o descrédito dessas teorias. Primeiro animais criados em ambientes livres

de patógenos ou de ferimentos não apenas envelhecem como também não

apresentam qualquer aumento em sua longevidade máxima; muitos danos

menores postulados pela teoria do uso e desgaste são mudanças dependentes

do tempo, que provocam aumento na probabilidade de morte, mas não servem

como mecanismos causais para o processo de envelhecimento.

Por exemplo, a perda de dentes em elefantes pode levar à morte por

inanição, sem que estes apresentem, contudo, mudanças significativas em

estrutura e função de outros órgãos e tecidos no mesmo período. Os avanços

atuais em biologias celulares e moleculares reformularam o conceito de “uso e

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desgaste”, mostrando que ele não constitui uma teoria, mas sim o componente

de outra.

5.3 PROTEÍNAS ALTERADAS

Essa teoria esclarece que mudanças que ocorrem em moléculas

proteicas após a tradução, e que são dependentes do tempo, provocariam

mudanças conformacionais e alterariam a atividade enzimática, comprometendo

a eficiência da célula. Possivelmente, as enzimas que foram mudadas são

moléculas de longa vida, isto é, com baixa taxa de turnover, e situam na célula

por um tempo longo o bastante para sofrerem uma desnaturação sutil no

ambiente citoplasmático. Estima-se que entre 30 e 50% do total de proteína em

um animal idoso pode ser composto de proteína oxidada.

5.4 MUTAÇÕES SOMÁTICAS

O acúmulo de mutações somáticas no decorrer da vida alteraria a

informação genética e reduziria a eficiência da célula até um nível incompatível

com a vida. A literatura mostra um aumento de certas anormalidades

cromossômicas em células somáticas ao longo da vida, principalmente em

resposta à radiação ou a mutagênicos, mas não há evidências de que tais

alterações tenham efeitos funcionais. Ao se considerar o envelhecimento como

um todo, há pouco suporte experimental para a teoria da mutação somática.

5.5 ERRO CATASTRÓFICO

Processos incorretos de transcrição e/ou de tradução dos ácidos

nucleicos reduziriam a eficiência celular a um nível incompatível com a vida.

Mesmo que o genoma não contenha mutação somática ou dano no DNA, erros

poderiam acontecer durante o processo de tradução. Um erro catastrófico

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deveria acontecer quando a frequência de erros alcançasse um valor em que um

ou mais processos vitais para a célula assumissem uma ineficiência letal. Se

morrerem células em número suficiente para causar esse efeito, o resultado

seria o decréscimo na capacidade funcional que formaliza o envelhecimento.

5.6 DESDIFERENCIAÇÃO

Essa abordagem sugere que o envelhecimento normal de um organismo

resultaria do fato de as células que o compõem se desviarem de seu estado

apropriado de diferenciação. A teoria da desdiferenciação supõe que mudanças

estocásticas que ocorrem no aparato de regulação gênica resultariam em

mudanças na expressão gênica.

Dados experimentais obtidos com células cultivadas indicam que os

mecanismos de controle genético não parecem relaxar com a idade. A despeito

da ausência de comprovação experimental, essa hipótese ainda permanece sob

investigação, em razão da possibilidade de testes em nível molecular.

5.7 DANOS OXIDATIVOS E RADICAIS LIVRES

A teoria do dano oxidativo postula que todas as deficiências fisiológicas

características de mudanças realmente relacionadas com a idade, ou a maioria

delas, podem ser atribuídas aos danos intracelulares produzidos pelos radicais

livres. Apesar de plausível, esse conceito não pode ser claramente provado ou

negado por um único experimento. Diversos tipos de evidências têm sido

buscados para testar essa teoria, mas ainda existem muitas controvérsias.

Apesar disso, a composição entre oxidação, substâncias antioxidantes e

envelhecimento, mesmo sem comprovação definitiva, têm servido de suporte

para justificar o uso de suplementações e a prática de terapias supostamente

“antienvelhecimento”.

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Lipofuscina é o acúmulo de detritos em sua forma mais simples. A teoria

dos detritos propõe que o envelhecimento da célula é causado pelo acúmulo

intracelular de produtos do metabolismo que não podem ser destruídos, exceto

pelo processo de divisão celular. Acredita-se que Iipofuscinas geralmente

surgem como resultado de auto-oxidação, induzida por radicais livres em

componentes celulares, principalmente estruturas de membrana que contenham

lipídios insaturados.

Entretanto, nenhuma evidência sugere que a Iipofuscina em si seja

danosa. Mas produtos de metabolismo podem provocar substâncias que podem

ser danosas, prejudicando pelo espaço tomado, a função da célula.

5.8 MUDANÇAS PÓS-TRADUÇÃO EM PROTEÍNAS

Modificações dependentes de processos químicos do tempo, ocorrendo

em macromoléculas importantes (como o colágeno e a elastina)

comprometeriam as funções dos tecidos e diminuiriam a eficiência celular,

culminando na morte. Já que um terço do conteúdo total de proteínas de um

mamífero é composto por colágeno, as mudanças nessa molécula, à medida

que o indivíduo envelhece, têm repercussões importantes em praticamente

todos os aspectos morfológicos e fisiológicos do organismo.

5.9 TEORIAS METABÓLICAS

Sabe-se, de longo tempo, que animais maiores apresentam longevidade

maior do que a de seus parentes taxonômicos de tamanho menor, e que sua taxa

metabólica seria inversamente proporcional ao peso do seu corpo. A ligação entre

esses dois fatos leva à ideia de que a longevidade e o metabolismo estariam juntos

em uma relação causal. Em alguns organismos, mudanças da taxa metabólica

induzidas por temperatura e/ou dieta produziriam alterações correspondentes na

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longevidade. Além disso, há dados fortes mostrando que a taxa metabólica tende a

diminuir com a idade avançada.

Essas e outras observações iguais levaram à hipótese segundo a qual a

longevidade pode ser mais bem entendida como função do declínio metabólico.

(PACHECO et al., 2009).

5.10 TEORIAS GENÉTICAS

As teorias desse grupo sugerem que mudanças na expressão gênica

causariam modificações senescentes nas células. As mudanças poderiam ser gerais

ou específicas, podendo atuar em nível intra ou extracelular. A interpretação mais

realista desse cenário seria a de que, dentro do contexto de um dado genótipo com

uma longevidade particular, alterações na atividade desses poucos genes seriam o

suficiente para deslocar o equilíbrio das funções genômicas para uma longevidade.

Contudo, a avaliação experimental é lenta em razão do imenso número de variáveis

e da limitação das técnicas de exploração disponíveis.

5.11 OUTRAS TEORIAS

Apoptose (morte celular induzida por sinais extracelulares), fagocitose

(destruição de células por outras), neuroendócrinas (falência progressiva de células

que levaria ao colapso da homeostasia corporal, à senescência e à morte),

imunológicas (reduções qualitativas e quantitativas na resposta imune seria direta ou

indiretamente em razão da involução inicial e ao envelhecimento do timo), também

são teorias que poderiam explicar o início do envelhecimento, mas sempre

apresentam restrições em alguma parte do estudo.

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6 PREVENÇÃO: GERIATRIA PREVENTIVA

6.1 PRIMÁRIA

Dentro da geriatria preventiva primária, encontram-se todas as ações

voltadas a diminuir ou retardar o aparecimento de disfunções e morbidades crônico-

degenerativas associadas à idade. A questão associada seria quando, então,

começa a geriatria preventiva? Desde a infância seria a resposta mais correta. Ela

engloba o controle e adequação de variáveis relacionadas ao estilo de vida do

indivíduo e da população.

Consta de nutrição saudável, atividade física, evitar a obesidade, afastar o

estresse e evitar o cigarro. O tempo de repouso também é fundamental, ou seja,

dormir de sete a oito horas por dia e fazer trinta minutos de “sesta”.

6.2 SECUNDÁRIA

A ação principal para fazermos geriatria preventiva secundária é o

estabelecimento de revisões periódicas que contribuem para a detecção precoce de

doenças crônico-degenerativas. Esses programas são de mais baixo custo quando

comparados com o custo de tratamento daquele em que a doença já se instalou.

Estima-se ser em torno de 10%.

6.3 TERCIÁRIA

Na parcela da população afetada por doenças crônico-degenerativas e/ou

disfunções associadas também há necessidade de fazermos geriatria preventiva.

Deste modo, para indivíduos afetados por doenças como neoplasias ou

coronariopatias, o médico e o sistema de saúde precisam adotar programas de

reeducação de estilo de vida e de prevenção que garantam a estabilização da saúde

do paciente.

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6.4 PLANEJAMENTO E ADAPTAÇÃO DE AMBIENTES PARA IDOSOS

Com o envelhecimento crescente da população, torna-se cada vez mais

urgente o planejamento e a adequação dos ambientes para pessoas idosas. As

pessoas que envelhecem fazem parte de uma minoria, mas também devem ser

atendidos em suas necessidades de conforto, segurança e atividade. Os idosos

exprimem o desejo de viver em ambientes seguros, nos quais possam exercer

controle personificado.

Querem que esses locais propiciem autonomia, mas com certo grau de

cuidado e de especificidade, o que traz a necessidade de adaptação dos espaços a

capacidades físicas e sensoriais diminuídas. Espaços planejados para receber

idosos portadores de incapacidades físicas, psicocognitivas e sensoriais determinam

o aumento da independência funcional, diminuição de estados de apatia, restrição

no número de queixas de saúde.

6.5 IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO

Segundo Williamson (2008), existem quatro aspectos importantes na

prevenção primária:

A imunização e alguns tipos de vacinas para o idoso, para evitar

determinadas doenças como a gripe em epidemias, em grupos confinados a

instituições, etc.

A manutenção e promoção de saúde na velhice. Cuidados básicos contra

a obesidade, tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, prevenção das doenças do

trabalho e acidentes caseiros, etc.

Esclarecimento de fatores de risco precursores de doenças,

principalmente em indivíduos assintomáticos, para as doenças familiares, bem como

estar atento para as possíveis características do idoso para as múltiplas patologias.

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Esclarecimento da hipertensão arterial na velhice. A prevenção

secundária inclui o diagnóstico precoce das condições reversíveis, ou em estágios

iniciais, ou nos pacientes mais jovens. A manifestação de sintomas é, muitas vezes,

inespecífica e atípica. Assim, no idoso, quedas, estados confusionais,

incontinências, entre outros, devem ser avaliados em profundidade. Ainda segundo

Williamson é muito importante o treinamento dos médicos e profissionais de saúde,

para saberem separar os acontecimentos decorrentes de doenças, daqueles

oriundos do processo do envelhecimento propriamente dito.

E a prevenção terciária implica a detecção das doenças crônicas e

incapacitantes estabelecidas no idoso. Oferecendo a chance de tratamento mais

precoce e mais efetivo possível. Determinados eventos são comuns na velhice.

Besdine (2008) relacionou por ordem de importância, os seguintes

acontecimentos:

- Quedas;

- Fraturas de quadril;

- Incontinência urinária;

- Incontinência fecal;

- Escaras de decúbito;

- Diminuição das acuidades visual e auditiva;

- Acidentes vasculares cerebrais;

- Síndrome da demência;

- Parkinsonismo;

- Hidrocefalia de pressão normal;

- Polimialgia reumática/artrite células de gigantes (art. temporal);

- Osteoporose;

- Osteoartrite;

- Doença de Paget;

- Síndrome do túnel do carpo;

- Estenose do canal medular;

- Coma diabético hiperosmolar não etótico;

- Secreção inadequada de hormônio antidiurético;

- Hipotermia acidental;

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- Leucemia linfática crônica;

- Carcinoma de células basais;

- Linfo adenopatia imunoblástica;

- Tumores sólidos;

- Tuberculose;

- Herpes zoster;

- Arteriosclerose;

- Amiloidose;

- Angiodisplasia de cólon;

- Hipertensão sistólica;

- Hipotensão postural.

Doenças cujo principal fator de risco continua sendo a própria idade tende a

assumir dimensões epidêmicas com o envelhecimento populacional. Um exemplo

ilustrativo é a Doença de Alzheimer (DA). Pode-se dizer que a prevalência de

demência quase dobra a cada cinco anos após os 65 anos, e quase 50% dos casos

de demências são de Alzheimer. Por ser uma doença evolutiva, extremamente

incapacitante e sem medidas terapêuticas eficazes, ainda que paliativas, pode ser

considerada um dos grandes problemas de saúde pública no mundo.

Existem evidências de que o grau de desenvolvimento intelectual possa ser

um fator de risco para perdas cognitivas. Em um país com uma enorme massa de

analfabetos, a preocupação é muito grande, prevendo-se o boom que está por vir.

Na verdade, o que está em jogo na velhice é sua autonomia. Qualquer pessoa que

chegue aos oitenta anos capaz de gerar sua própria vida e determinar quando, onde

e como se darão suas atividades de lazer, convívio social e trabalho (produção em

qualquer nível), certamente pode ser considerada saudável.

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FIM DO MÓDULO I