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Introdução A fitoterapia chinesa é tão antiga que sua história se confunde com a história da própria Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Até muito recentemente, pouco se conhecia a respeito da forma de medicina praticada na China antes da compilação do Clássico do Imperaor Amarelo (Huang di nei jing). Algumas poucas evidências mostram que por volta de 2000 a.C. essa medicina era bastante diferente daquela que conhecemos hoje. Naquela época, a tarefa de curar era da responsabilidade de shamans, em sua maioria do sexo feminino que, se vestindo com indumentárias que os tornava parecidos com os pássaros, faziam evocações e praticavam rituais de cura. Foi após a compilação do Nei jing que MTC começou a tomar os contornos que ela tem nos dias de hoje. O Nei Jing, cuja autoria é desconhecida, foi compilado entre os anos de 200 a.C. e 100 a.D., é dividido em duas partes, o Su Wen e o Ling Shu, e introduz as bases filosóficas e teóricas da MTC. No Nei Jing, matérias como saúde e doença são descritas como sendo fenômenos naturais, resultado da interação do indivíduo com o ambiente que o circunda. Embora mais dedicado a acupuntura, a fitoterapia, a orientação alimentar e a prática de exercícios físicos estão entre as modalidades terapêuticas nele citadas. A descoberta de onze manuscritos nas escavações da tumba de Ma Wang Dui, em 1973, trouxe informações que mudaram a idéia que se tinha a respeito da medicina praticada na antigüidade. Estudos posteriores indicaram que esses textos, escritos sobre a seda e que não faziam parte da cadeia de transmissão de conhecimento médico, foram concebidos por volta de 1065 a.C. – 771 a.C. Alguns desses trabalhos apresentam discussões sobre exercícios físicos, dietas alimentares e terapias de canais, na forma de moxabustão. O mais importante desses textos é exatamente um tratado farmacológico conhecido como Prescrições para Cinqüenta e Duas Doenças (Wu shi er bing fang). Neste trabalho, substâncias medicinais e poderes sobrenaturais são combinados e utilizados de uma forma totalmente diferente daquela conhecida pela tradição médica da época. Mais de 250 substâncias, similares às encontradas em tratados fitoterápicos posteriores, são listadas com o objetivo de, junto com encantamentos, espantar maus espíritos e demônios. A partir do final da dinastia Han (25-220 a.D.), época em que o Nei Jing recebeu suas mais importantes contribuições, é que a tradição fitoterápica chinesa realmente se inicia com a publicação do livro conhecido como O Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro (Shen nong ben cao jing) e do Tratado do Frio Nocivo (Shang han lung), do estudioso Zhang Zhong Jing. O trabalho de Zhang Zhong Jing se tornou a fonte de todos os manuais de fórmulas

fitoterapia chinesa 3

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Page 1: fitoterapia chinesa 3

Introdução

A fitoterapia chinesa é tão antiga que sua história se confunde com a história da própria

Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Até muito recentemente, pouco se conhecia a respeito da

forma de medicina praticada na China antes da compilação do Clássico do Imperaor Amarelo

(Huang di nei jing). Algumas poucas evidências mostram que por volta de 2000 a.C. essa

medicina era bastante diferente daquela que conhecemos hoje. Naquela época, a tarefa de curar

era da responsabilidade de shamans, em sua maioria do sexo feminino que, se vestindo com

indumentárias que os tornava parecidos com os pássaros, faziam evocações e praticavam rituais

de cura. Foi após a compilação do Nei jing que MTC começou a tomar os contornos que ela tem

nos dias de hoje.

O Nei Jing, cuja autoria é desconhecida, foi compilado entre os anos de 200 a.C. e 100

a.D., é dividido em duas partes, o Su Wen e o Ling Shu, e introduz as bases filosóficas e teóricas

da MTC. No Nei Jing, matérias como saúde e doença são descritas como sendo fenômenos

naturais, resultado da interação do indivíduo com o ambiente que o circunda. Embora mais

dedicado a acupuntura, a fitoterapia, a orientação alimentar e a prática de exercícios físicos estão

entre as modalidades terapêuticas nele citadas.

A descoberta de onze manuscritos nas escavações da tumba de Ma Wang Dui, em 1973,

trouxe informações que mudaram a idéia que se tinha a respeito da medicina praticada na

antigüidade. Estudos posteriores indicaram que esses textos, escritos sobre a seda e que não

faziam parte da cadeia de transmissão de conhecimento médico, foram concebidos por volta de

1065 a.C. – 771 a.C. Alguns desses trabalhos apresentam discussões sobre exercícios físicos,

dietas alimentares e terapias de canais, na forma de moxabustão. O mais importante desses textos

é exatamente um tratado farmacológico conhecido como Prescrições para Cinqüenta e Duas

Doenças (Wu shi er bing fang). Neste trabalho, substâncias medicinais e poderes sobrenaturais

são combinados e utilizados de uma forma totalmente diferente daquela conhecida pela tradição

médica da época. Mais de 250 substâncias, similares às encontradas em tratados fitoterápicos

posteriores, são listadas com o objetivo de, junto com encantamentos, espantar maus espíritos e

demônios.

A partir do final da dinastia Han (25-220 a.D.), época em que o Nei Jing recebeu suas

mais importantes contribuições, é que a tradição fitoterápica chinesa realmente se inicia com a

publicação do livro conhecido como O Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro (Shen

nong ben cao jing) e do Tratado do Frio Nocivo (Shang han lung), do estudioso Zhang Zhong

Jing. O trabalho de Zhang Zhong Jing se tornou a fonte de todos os manuais de fórmulas

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fitoterápicas e o Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro, o primeiro tratado a se

concentrar na descrição individual das substâncias medicinais.

O Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro contém um total de 365 entradas,

uma para cada dia do ano. 252 das substâncias nele citadas são de origem vegetal, 45 de origem

mineral e 67 substâncias de origem animal. O termo “propriedade” das substâncias medicinais

(referindo-se apenas aos métodos de preparo de cada substância) aparece pela primeira vez no seu

prefácio. Tao Hong Jing mais tarde, dividiria as substâncias em “superiores”, “médias” e

“inferiores”. As substâncias “superiores” nutririam a vida, as “médias” os tipos constitucionais

(xing) e as “inferiores” seriam utilizadas no tratamento das patologias. Cada substância é avaliada

pôr sua característica de sabor (wei), de temperatura (qi) e seus efeitos medicinais são descritos

em termos da sintomatologia apresentada. A utilização de cada substância baseia-se somente em

suas propriedades terapêuticas e não em seus supostos poderes sobrenaturais.

A partir deste ponto, a fitoterapia desenvolve-se através da adição contínua de novas

substâncias, junto a uma reavaliação das substâncias já conhecidas, e através da elaboração de

elos entre as teorias da MTC e os efeitos clínicos empiricamente observados dessas substâncias.

O Desenvolvimento da matéria médica

A farmacopéia chinesa vem sofrendo modificações e atualizações pôr pelo menos dois

mil anos. A adição de novas substâncias é resultado da introdução, na tradição oficial, de

substâncias de conhecimento popular não só da China mas de diversas partes do mundo. Muitas

das substâncias empregadas hoje na MTC são oriundas de lugares como o sudeste da Ásia, da

Índia, do Oriente Médio e das Américas.

A primeira matéria médica a surgir depois de Tao Hong Jing foi, A Nova e Revista

Matéria Médica (Xin xiu ben cao - 659 A.D.), também conhecida como A Matéria Médica de

Tang (Tang ben cao) por ter se tornado a farmacopéia oficial da dinastia Tang. Ela contém 844

entradas e foi a primeira matéria médica ilustrada de toda a China. O trabalho de Tang Shen Wei,

conhecido como Matéria Médica Arranjada de Acordo com os Padrões de Desarmonia (Zheng

lei ben cao - 1108 A.D.) se tornou a principal matéria médica utilizada na dinastia Song (960 –

1279 A.D.) e lista 1.558 substâncias. O mais celebrado livro sobre fitoterapia da antigüidade, A

Grande Matéria Médica (Ben cao gang mu) foi editado postumamente em 1596 A.D. e traduzido

para diversos idiomas. Das 1.892 substâncias nele listadas, 1.173 são de origem vegetal, 444 de

fontes animais e 275 são de origem mineral. A tradição continua até a era moderna com a

publicação, em 1977, de um projeto de 25 anos da escola de Jiangsu entitulado Enciclopédia das

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Substâncias da Medicina Tradicional Chinesa (Zhong yao da ci dian). Este livro lista 5.767

substâncias medicinais e é a compilação definitiva da tradição fitoterápica da China até os dias de

hoje.

O Desenvolvimento da teoria

A principal diferença entre o Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro e textos

mais modernos é que não há, no texto mais antigo, nenhuma tentativa de estabelecer uma

conexão teórica entre as propriedades das substâncias (temperatura, sabor, etc.) e seus efeitos

terapêuticos. Embora o Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro mencione os cinco

sabores em seu prefácio, o seu significado não é totalmente explicado. Somente no final da

dinastia Sui (581 – 618 a.D.) e início da dinastia Tang (618 – 907 a.D.) é que tais conexões

começam a ser feitas, com a publicação do livro Matéria Médica das Propriedades Medicinais

(Yao xing ben cao). Este trabalho discute a combinação, a reação, o sabor, a temperatura, a

toxidade, a função, as principais aplicações clínicas, o processamento e a preparação das

substâncias nele listadas.

As propriedades das substâncias medicinais

A primeira das propriedades das substâncias medicinais é a sua temperatura ou, como

também é conhecida, os quatro tipos de Qi. Existem cinco designações principais para descrevê-

la: quente (rè), fria (hàn), morna (wen), fresca (liáng) e neutra (píng). Existem também, variados

graus de calor e de frio e, algumas vezes, termos como ligeiramente frio (wei hán), que significa

um pouco mais para a temperatura fria (hàn) que para fresca (liáng), e ligeiramente morna (wei

wen), que indica uma temperatura um pouco menos quente que a morna (wen), também podem

ser encontrados. A partir dessas informações, já se pode delinear algumas das situações clínicas

em que cada substância irá ser utilizada. Em seu capítulo 74, o Nei Jing afirma que “distúrbios de

natureza quente devem ser resfriados e distúrbios de natureza fria devem ser aquecidos”. É

importante notar que definições relativas à temperatura das substâncias medicinais são subjetivas

e se baseiam exclusivamente na reação do paciente, quando este é submetido a uma determinada

substância. Por essa razão, variações nas temperaturas de algumas substâncias podem e serão

encontradas em diferentes textos.

Uma outra propriedade das substâncias medicinais, inclusive já mencionada tanto no

Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro como no Nei Jing, é o sabor (wei). Os cinco

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sabores descritos são: o picante (xin), o doce (gan), o amargo (ku), o azedo (suan) e o salgado

(xian). As substâncias que não possuem nenhum desses sabores são consideradas como

possuidoras do sabor brando ou insípido (dan).

As substâncias medicinais podem ainda ser descritas como tendo propriedades aromáticas

(xiang) e adstringentes (sè). Substâncias aromáticas são aquelas que possuem a habilidade de

penetrar atravéz de uma turbidez e despertar uma função que estava sendo reprimida.

Adstringentes, característica essa associada ao sabor, são aquelas substâncias que tem a

habilidade de prevenir ou interromper uma extravasão de líquidos.

Na Medicina Tradicional Chinesa, o sabor de uma substância determina, parcialmente,

sua função terapêutica. Substâncias de sabor picante, dispersam e geram movimento. Substâncias

de sabor doce tonificam, harmonizam e, em alguns casos, umedecem. Substâncias amargas

drenam e secam. Substâncias de sabor azedo adstringem e previnem ou revertem uma extravasão

de fluidos. Substâncias de sabor salgado purgam e amolecem. Finalmente, substâncias de sabor

brando eliminam a umidade e estimulam a diurese.

O Nei Jing menciona também proibições e precauções contra o uso de determinados

sabores. “O sabor picante viaja no Qi e, portanto, nos distúrbios do Qi, não utilize alimentos de

sabor picante em quantidades excessivas. O sabor salgado viaja no Sangue e, portanto, nos

distúrbios do Sangue, não faça uso de alimentos salgados. O sabor amargo viaja nos ossos e,

portanto, em distúrbios que atingem os ossos não utilize alimentos amargos. O sabor doce viaja

na carne e, portanto, nos distúrbios da carne não empregue alimentos de sabor adocicado. O

sabor azedo viaja nos tendões e, portanto, não utilize alimentos de sabor azedo nos distúrbios

dos tendões”.

O Desenvolvimento das ações terapêuticas das substâncias medicinais

A idéia de se fazer a ligação entre uma determinada substância medicinal e suas ações e

indicações terapêuticas foi se desenvolvendo ao longo tempo. Por exemplo, o Nei Jing já

mencionava a relação entre os sabores das substâncias e os órgãos Yin: “o sabor azedo entra no

Fígado, o picante nos Pulmões, o sabor amargo entra no Coração, o salgado nos Rins e o sabor

doce entra no Baço”. As ações terapêuticas de uma determinada substância podem, de uma forma

geral, ser descritas em função de suas propriedades (sabor e temperatura). Assim, uma substância

de sabor picante e temperatura morna pode ser empregada no tratamento de um distúrbio de

origem externa associado ao frio, uma substância de sabor picante e temperatura fresca pode ser

utilizada contra um distúrbio externo de natureza quente e assim por diante. Uma conseqüência

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natural desta discussão é o sistema dos oito métodos terapêuticos (ba fa), já descrito

explicitamente por Cheng Zhong Ling no início do século XVIII, no trabalho entitulado

Revelações Médicas (Yi Xue Xin Wu). O método de se agrupar substâncias medicinais de acordo

com suas ações terapêuticas vem sendo empregado desde a dinastia Qing (1644 – 1911) e forma a

base para a classificação das substâncias medicinais em categorias de ação. Os oito princípios

terapêuticos (ba fa) são: promover a transpiração (hàn), induzir o vômito (tù), purgar (xià),

harmonizar (hé), aquecer (wen), limpar (qing), tonificar (bu) e sedar (xiao).

A mais importante das relações, a relação entre uma substância medicinal e uma

patologia ou desarmonia de um órgão interno aparece, pela primeira vez, no século XII, nos

trabalhos de Zhang Yuan Su entitulados Origens da Medicina (Yi Xue Qi Yuan) e Bolsa de

Pérolas (Zhen Zhu Nang). Zhang Yuan Su escreve, por exemplo, que a substância Huang Lian

(Rhizoma Coptidis) drena o fogo do Coração, que Huang Qin (Radix Scutellariae Baicalensis)

dispersa o fogo dos Pulmões e que Zhi Mu (Rhizoma Anemarrhenae

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Substâncias que Aliviam o Exterior

Introdução

As substâncias que aliviam o exterior são as substâncias que possuem a ação terapêutica

de dispersar um agente patogênico, de origem externa (vento-frio, vento-calor, vento-umidade e

summerheat), das camadas mais superficiais do organismo como, por exemplo, a pele e os

músculos. Esta condição manifesta sintomas bem específicos como a febre acompanhada de uma

sensação de aversão ao frio (ou calafrio), dor de cabeça, rigidez no pescoço e dores generalizadas

pelo corpo. Em algumas ocasiões, ocorre ainda uma leve transpiração que, em algumas ocasiões,

dispersa o agente patogênico e dispensa a necessidade de qualquer tipo de intervenção por parte

do terapeuta. Em outras ocasiões, entretanto, essa transpiração não é capaz de dispersar o agente

patogênico, ou ainda, nehuma transpiração é observada. É na ocorrência dessas duas últimas

possibilidades que as substâncias que aliviam o exterior são utilizadas. A grande maioria destas

substâncias possui ação diaforética, ou seja, são substâncias que dispersam as influências

patogênicas através da indução da transpiração. Segundo um antigo provérbio, “Se a doença está

na superfície (pele), o suor a expulsará para fora”.

Algumas das substâncias que aliviam o exterior possuem ainda outras funções

terapêuticas como aliviar a tosse e a asma, controlar espasmos e a dor, expulsar o sarampo e as

urticárias, etc.

SUBSTÂNCIAS MORNAS QUE ALIVIAM O EXTERIOR

As substâncias que aliviam o exterior são classificadas, de acordo com suas ações

terapêuticas, em morna/picantes e fresca/picantes. As substâncias de propriedade morna e

picante tem a característica de dispersar as influências patogênicas associadas ao frio. As

principais manifestações dessa condição são a febre (geralmente baixa) acompanhada por

sensação de aversão ao frio, ou calafrios (as vezes severos), dor de cabeça, rigidez no pescoço e

na nuca, dores generalizadas pelo corpo e ausência de sede.

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Ma Huang Nome farmacêutico: Herba Ephedrae. Nome japonês: Mao. Propriedades: Picante, ligeiramente amarga e morna. Canais em que atua: Pulmão e Bexiga. Ação e Indicação: 1- Alivia o exterior e dispersa o frio: nas apresentações externas do tipo vento-frio

(estágio Taiyang nas seis divisões), caracterizadas pela sensação de aversão ao frio, febre, dor de cabeça e ausência de transpiração. O pulso é superficial (especialmente nas duas primeiras posições) e tenso.

2- Facilita a circulação do Qi dos Pulmões e alivia a asma: quando um ataque externo do vento-frio causa a obstrução do Qi dos Pulmões gerando a tosse e a asma (especialmente o chiado). Ma Huang tanto favorece a circulação do Qi dos Pulmões quanto o redireciona para baixo.

3- Promove a diurese e reduz edema: especialmente eficaz no tratamento dos edemas associados a distúrbios de origem externa.

Cautela e Contra Indicações: Devido a sua fortíssima ação diaforética, a utilização prolongada de Ma Huang (Hb.

Ephedrae) não é recomendada. Sua forte ação dispersiva facilmente causa condições de deficiência. O uso de Ma Huang (Hb. Ephedrae) pode elevar a pressão arterial, causar agitação, tremores e deve ser feito com extrema cautela em indivíduos hipertensos. Cautela recomendada também em indivíduos que, além da transpiração e da asma, apresentem também sinais de deficiência. Dosagem: 3g – 9g. Recomenda-se utilizar Ma Huang in natura nas apresentações externas e Ma Huang processada no mel no tratamento da asma. Comentários: - Ma Huang é a substância medicinal de maior ação diaforética (abrir os poros e

provocar transpiração) de toda a farmacopéia chinesa. - Ma Huang é tão eficaz para promover a circulação e a difusão do Qi dos Pulmões que

pode ser utilizada no tratamento da tosse e/ou asma associadas a apresentações internas.

- O poder dispersante de Ma Huang é sensivelmente reduzido se esta for processada com água ou mel.

- O principal princípio ativo de Ma Huang, a efedrina, tem ação vasoconstritora e, portanto, facilmente promove a elevação da pressão arterial. Embora suave, essa elevação da pressão tende a prolongar-se por mais tempo. A pressão sistólica tende a ser mais diretamente afetada e a elevar-se mais do que a pressão diastólica. Apesar de seu efeito constritor, a efedrina pode causar também a vasodilatação e o aumento do fluxo sanguíneo nas artérias coronarianas.

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Gui Zhi

Nome farmacêutico: Ramulus Cinnamomi Cassiae. Nome japonês: Keishi. Propriedades: Picante, doce e morna. Canais em que atua: Coração, Pulmão e Bexiga.

Ação e Indicação:

1- Harmoniza as camadas nutritiva e de proteção (Ying e Wei repectivamente): nas apresentações externas do vento-frio onde além da sintomatologia característica, ocorrem também sinais de deficiência, especialmente a transpiração. Neste caso, o indivíduo transpira mas nenhuma melhora é observada em seu quadro.

2- Promove o aquecimento dos canais (meridianos) e dispersa o frio: no tratamento das obstruções articulares dolorosas (Bi), especialmente as associadas a uma invasão do vento-frio-umidade nos membros superiores. Utilizada também no tratamento da dismenorréia quando esta estiver associada a um estagnação de sangue causada pela ação do frio.

3- Desbloqueia o Yang e transforma o Qi: no tratamento de edemas relacionados a um acúmulo de fleuma-frio ou a uma deficiência de Yang.

4- Promove o aquecimento e facilita o fluxo de Qi no tórax: quando uma estagnação ou deficiência causam o bloqueio do Yang Qi no peito gerando palpitação, sensação de plenitude torácica e bradicardia.

5- Promove o aquecimento e facilita o fluxo do Sangue no interior dos vasos: no tratamento da dismenorréia (acompanhada ou não de massas abdominais), de dores articulares ou dores no peito.

Cautela e Contra Indicações Essa substância é contra indicada nos distúrbios febris (associados ao calor), nas deficiências de Yin acompanhadas por sinais de calor e na presença de calor no Sangue. Utilizar com cautela durante a gravidez e na presença de menstruação volumosa. Dosagem: 3g – 9g no tratamento de apresentações externas e 9g – 15g no tratamento das obstruções dolorosas (síndrome Bi). Comentários: - Essa substância é frequentemente utilizada para guiar o efeito de uma fórmula para os

membros superiores.

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Zi Su Ye

Nome farmacêutico: Folium Perillae Frutescentis. Nome Japonês: Shisoyo. Propriedades: Picante, aromática e morna. Canais em que atua: Pulmão e Baço. Ação e Indicação: 1- Alivia o exterior e dispersa o frio: nas apresentações externas do vento-frio

caracterizadas pela febre baixa, aversão ao frio (predominante), dor de cabeça, congestão nasal, tosse e ausência de transpiração. Em algumas ocasiões pode ocorrer ainda uma sensação de plenitude no tórax gerada pela estagnação do Qi dos Pulmões.

2- Harmoniza o Aquecedor Médio e promove movimento do Qi: na presença de náusea, vômito e falta de apetite.

3- Alivia o enjôo na gravidez e acalma o embrião: utilizada para aliviar enjôos matinais durante a gravidez ou para acalmar a agitação fetal (desde que ambos sejam causados pelo frio).

4- Alivia o envenenamento causado pelo consumo de frutos do mar: nesse caso pode ser utilizada sozinha ou combinada a outras substâncias.

Cautela e Contra Indicações: Contra indicada nas apresentações de deficiência externa, caracterizadas pela transpiração espontânea, e de umidade-calor no Aquecedor Médio. Dosagem: 3g – 9g. Como substância única, a dose pode ser aumentada até 15g. Não deve ser fervida por mais de 15 minutos.

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Jing Jie

Nome farmacêutico: Flos Schizonepetae Tenuifoliae. Nome Japonês: Keigai. Propriedades: Picante, aromática e ligeiramente morna (muito ligeiramente, quase

neutra. Em muitos textos é considerada neutra). Canais em que atua: Pulmão e Fígado. Ação e Indicação: 1- Alivia o exterior e dispersa o vento: nas apresentações externas do vento-frio ou

vento-calor dependendo das substâncias com que for combinada. 2- Alivia urticárias e a coceira: no estágio inicial de urticárias, sarampo e outras

erupções de pele associadas ao vento. 3- Estanca a extravasão Sangue: utilizada como substância auxiliar no tratamento de

hemorragias como metrorragia e melena.

Cautela e Contra Indicação: Contra indicada na presença do vento interno do Fígado e de feridas abertas. Dosagem: 3g – 9g.

Comentários: - Jing Jie (Flos Schizonepetae Tenuifoliae) é tão eficaz para aliviar a coceira que pode

ser utilizada para tratar urticárias ou eczemas associados a síndromes internas. - A ação hemostática dessa substância é apenas modesta. Recomeda-se tostá-la até

ficar bem escura se for utilizada para esse fim. - Jing Jie (Flos Schizonepetae Tenuifoliae) é comumente combinada com Fang Feng

(Radix Ledebouriella).

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Fang Feng

Nome farmacêutico: Radix Ledebouriella Divaricatae. Nome japonês: Bofu. Propriedades: Picante, doce e ligeiramente morna. Canais em que atua: Bexiga, Fígado e Baço. Ação e Indicação: 1- Alivia o exterior e dispersa o vento: nas apresentações externas do vento-frio

caracterizadas pela presença de dor de cabeça, febre, aversão ao frio e dores generalizadas pelo corpo.

2- Expulsa o vento-umidade e alivia a dor: nas obstruções dolorosas (Bi) associadas a um ataque do vento-umidade. É especialmente eficaz se o vento for o fator predominante.

3- Dispersa o vento: utilizada também como substância auxiliar no tratamento de tremores nas extremidades (mãos e pés), no tratamento do vento intestinal oriundo da desarmonia entre o Baço e o Fígado (o vento intestinal se manifesta como diarréia acompanhada de dor e sangue vivo nas fezes), no tratamento de cefaléias associadas ao vento interno do Fígado e da coceira associada a ação do vento.

Cautela e Contra Indicação: Contra indicada na presença de espasmos e tremores relacionados a deficiência de Sangue e nas deficiências de Yin acompanhadas por sinais de calor (esta substância possui a característica de secar a umidade o que pode piorar ainda mais uma deficiência de Yin). Dosagem: 3g – 9g. Comentários: - Fang Feng (Rx. Ledebouriellae Divaricatae) é mais comumentemente utilizada no

tratamento de problemas associados a um ataque do vento-frio porém, devido a sua eficácia, ela pode ser utilizada também em síndromes externas do vento-calor desde que seja combinada com as substâncias adequadas (por exemplo, substâncias diaforéticas de temperatura fresca ou fria).

- Fang Feng (Rx. Ledebouriellae Divaricatae) é freqüentemente combinada com Jing Jie (Herba seu Flos Schizonepetae Tenuifoliae).