Fixação e conservação de cadáveres

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    Fixao e conservao de cadveres

    A utilizao de cadveres um mtodo de ensino amplamente realizado. Emdecorrncia desse fato existe a necessidade de preservao de corpos para estudos

    anatmicos e histolgicos o que se torna maior a cada dia, pois cada vez mais difcil

    preencher a demanda de cadveres nas faculdades de medicina, veterinria,

    odontologia, enfermagem e demais reas da sade. Portanto, a utilizao

    destes corpos deve ser otimizada, para que um maior nmero de alunos e

    pesquisadores possa usufruir das vantagens do estudo em um corpo natural.

    Os tecidos provenientes de cadveres so objetos de estudo nas mais diversas reas da

    cincia, mas, para possibilitar seu estudo por tempo superior ao tempo de

    autlise e sem a ao de microrganismos, necessrio o uso de mtodos de fixao e

    preservao, que consiste em mergulh-los em solues qumicos denominados fixadores.

    .A fixao extremamente importante, pois mantm os tecidos firmes, insolveis e

    protegidos. Assim, a boa conservao das peas, alm de no permitir a deteriorao do

    material, tambm evita a proliferao de patgenos que podero causar doenas nas

    pessoas que frequentam o laboratrio.

    Os principais grupos de fixadores so os fenis, aldedos, cidos, compostos

    halogenados, agentes oxidantes, metais pesados e seus sais corantes, enxofre

    e tiossulfatos. Os cidos mais usados so o pcrico, actico, brico, saliclico e

    arsnico. Entre os sais esto o cloreto de sdio, os hipocloretos de sdio, o

    potssio ou clcio, o sulfato de potssio, o nitrato de potssio, o acetato sdico, o sulfato

    ferroso e outros.

    Os mais comuns so o formaldedo, a glicerina, o lcool etlico e o fenol. O

    formaldedo o fixador e conservante mais utilizado, comumente em soluo aquosa

    a 10%. Por ser barato e penetrar rapidamente nos tecidos (seis milmetros em doze

    horas) amplamente utilizado nos laboratrios de anatomia, porm, muitas outras

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    substncias, quando em contato com os tecidos, impedem a proliferao de

    microrganismos.

    Formaldedo

    O formaldedo ou aldedo frmico um dos mais comuns produtos qumicos de uso atual.

    o aldedo mais simples, de frmula molecular H2CO e nome oficial pela IUPAC (Unio

    Internacional de Qumica Pura e Aplicada),metanal. Os aldedos so compostos

    qumicos resultantes da oxidao parcial dos lcoois. Assim, o lcool metanol ao

    perder um tomo de hidrognio d origem ao aldedo frmico, e o etanol, ao aldedoactico (CARVALHO, 2009).

    Na temperatura ambiente, o aldedo frmico um gs incolor, voltil e txico, de cheiro

    muito forte e irritante. O formol ou formalina uma soluo aquosa saturada de aldedo

    frmico a cerca de 37% a 40%, pois precipita-se em concentraes superiores. O

    formol pode ser comprado em vasilhames de plstico e tambores com 5 e 20 L, ou

    ainda o pro-analysis , acondicionado em vidro com capacidade de 1.000 mL, sem

    impurezas (RODRIGUES, 2010).

    Na Medicina, usado como desinfetante, anti-sptico, e pelos anatomistas e

    patologistas para preservarem tecidos, rgos ou cadveres. usado tambm

    em outras reas de atividade, como na produo de papel, madeira compensada,

    resinas e cosmticos, na agricultura como conservante de gros e sementes e na

    produo de fertilizantes, na indstria da borracha, na preservao da madeira e na

    produo de filmes fotogrficos (INWALD, 2001;HERAUSGEGEBEN et al., 2006;

    VINCENT & JANDEL, 2006).

    Apresenta incompatibilidade com oxidantes fortes, lcalis, cidos, fenis e uria e

    apresenta como sinnimos: formol, formalina, xido de metileno,componente de

    exausto de diesel e produto da pirlise (queima) de revestimento de eletrodos

    de solda (TOKUDA et al., 1990).BEHMER et al. (1976), BALLENGUER (1984),

    OLSEN et al. (1984),EGLINTON & LOGAN (1991), HAMAZAKI et al. (1993),

    KARLSEN et al. (1994),MIES (1994), SESSO (1998), ALVES (2002) eRODRIGUES (2010) descreveram que o formol em soluo aquosa a 10%

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    (formaldedo a 4%) o mais utilizado na fixao e conservao de tecidos, devido ao seu

    baixo custo, simplicidade de uso ,fcil penetrao nas peas e ao rpida como

    fixador, embora seja extremamente voltil e tenha cheiro irritante, podendo provocar

    irritao dos olhos e vias respiratrias, lesar mucosas e pele, devendo ser tratado

    como potente cancergeno ocupacional, relacionado com cnceres de vias

    areas superiores e de pulmo, leucemia e cncer no encfalo.

    Em 1995, a Agncia Internacional de Pesquisa em Cncer (IARC) o classificou

    como cancergeno e teratognico (INCA, 2010).Dependendo das circunstncias, o

    formol usado nas concentraes de 3, 4, 5, 10 e 20%. As concentraes mais baixas,

    so usadas em animais de pequeno porte ou fetos ou quando associado a outro fixador,

    enquanto a 20% so empregadas na impregnao de encfalos isolados,por imerso.

    (RODRIGUES,2010).JACKSON et al. (1991) descreveram que o cido frmico um

    dos produtos de degradao do formol, sendo que tal cido frequentemente

    interage com a hemoglobina, produzindo um pigmento acastanhado chamado de

    "pigmento de formol" ou hematina. O uso de soluo tampo evita a acidificao do fixador,

    impedindo assim o aparecimento do pigmento de formol.

    O tamponamento pode ser realizado com diversas substncias, dentre as quais

    destacam-se o carbonato de clcio (MICHALANY, 1990), o fosfato de sdio bibsico anidro

    (RODRIGUES, 2010) e o fosfato de sdio mono-hidratado, que constitui o composto mais

    utilizado (SESSO, 1998; RODRIGUES, 2010).

    Bioquimicamente, o mecanismo de ao ocorre atravs da reao do formol com

    os grupamentos amnicos das protenas, formando ligaes cruzadas ,resultando em um

    composto que em parte desnatura estas substncias. Essa reao ocorreprincipalmente com o aminocido bsico lisina, que contm grupamentos amnicos na

    sua cadeia lateral (-CH (NH2)- COOH).

    Considera-se que 40% a 60% desses grupamentos estejam livres para a reao com os

    aldedos. Entretanto, alm dessa reao, o formol tem outros efeitos pouco

    conhecidos, uma vez que somente essa reao no explica totalmente o seu efeito

    fixador. Essa reao reversvel em gua, o que torna providencial para a

    colorao dos tecidos com os corantes cidos nas tcnicas histolgicas

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    (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2008).J, GUSMMAN (2007) descreveu que o aldedo

    frmico atua como fixador interagindo com os aminocidos lisina e arginina. Tal fixador no

    provoca precipitao de protenas, no preserva gorduras livres, porm fixa lipdeos

    complexos, provoca leve precipitao de outros constituintes celulares e no o fixador de

    eleio para carboidratos.

    A via arterial uma das tcnicas de fixao mais utilizadas, e consiste na injeo do fixador

    pelas artrias. Este mtodo faz com que os cadveres fiquem bem fixados, de forma que

    possam ser usados no s para dissecao anatmica, mas tambm para pesquisa

    (IKEDA et al., 1993).

    Para o preparo da soluo de formol a 10% para a fixao de peas, juntam-se 100 mL de

    formol a 40% (formol puro) a 900 mL de gua corrente ou destilada. Sendo esta

    soluo ligeiramente cida, a eliminao da acidez obtida pela adio de 4 g de

    fosfato de sdio monobsico e 6,5 g de fosfato de sdio dibsico anidro. Para o efeito da

    fixao, a soluo de formol a 10% injetada na proporo de 10% do peso do espcime

    (RODRIGUES, 2010).

    Segundo WERNER et al. (2000), o tempo de fixao varivel segundo o tamanho da

    pea, recomendando para espcimes pequenas, com cerca de 3mm de espessura,

    a fixao em formaldedo por menos de 24 horas e, deste modo, permite a

    recuperao antignica na tcnica de imuno-histoqumica. Mas em peas maiores,

    a fixao deve ser de, no mnimo, 24 horas para que as ligaes cruzadas entre as

    protenas causadas pela fixao possam ser completadas. Do contrrio, essas

    ligaes ocorrem somente na periferia da pea, ficando o interior no fixado onde

    ocorre o fenmeno de autlise, ou seja, decomposio dessas protenas estruturais.

    Por outro lado, a fixao prolongada por formaldedo pode dificultar a tcnica derecuperao antignica, portanto, no recomendado exceder 48horas de fixao, no caso

    do processo imuno-histoqumico (WERNER et al.,2000).

    De acordo com SOARES et al. (2006), o formol no indicado como fixador para estudos

    histomorfomtricos de testculo de felinos, por provocar artefatos que influenciam na

    morfologia do rgo .CHEOKER (2002) e GINO et al. (2004) observaram que o formol tem

    a propriedade de degradar o DNA, no seu todo ou parcialmente, na dependncia da

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    concentrao e do tempo de exposio (fixao) a que um determinado tecido

    submetido.

    Seus estudos baseiam-se em reaes bioqumicas, sem a realizao de um

    estudo propositivo de campo ou experimental. CARVALHO (2009) concluiu que oscadveres fixados com formol na concentrao de 5% apresentaram mnima degradao

    do DNA, porm na concentrao de 10% e 20%apresentaram a degradao do DNA em

    100%.TOMASI et al. (2005) e FONSECA (2007) concluram que ocorre

    desmineralizao ssea em peas fixadas com formol, uma vez que o processo de

    desmineralizao induzido por meio cido, tecidos mineralizados submetidos

    conservao em formol podero sofrer perda de substncia mineral. CURREY et al.

    (1995) e KIKUGAWA & TAKASHI (2004) relataram alteraes naspropriedades mecnicas e resistncia fratura de ossos fixado sem soluo de

    formol.

    Concluram ainda que a formalina aumenta a fragilidade do osso em um perodo

    relativamente curto, tornando-o mais quebradio. Observaram que a concentrao dos

    elementos inorgnicos diludos no formol conservante aumentou proporcionalmente ao

    perodo de preservao. SESSO (1998) ressaltou que as principais alteraes

    celulares consequentes fixao pelo formol incluem a tendncia a separao

    celular, isto , as clulas tornam-se mais isoladas; as mitocndrias nem sempre

    so preservadas; o citoplasma contrai-se em relao ao ncleo e, nas mitoses

    os cromossomos so mal fixados.

    SPICHER & PETERS (1976) verificaram a resistncia de diferentes

    microrganismos ao formaldedo e seu efeito antimicrobiano em diversas

    concentraes e concluram que P seudomonas sp.,Klebsiella sp. e Salmonella

    sp. mostraram-se mais susceptveis ao formaldedo que Staphylococcus sp. Os

    fungos mostraram-se mais resistentes que as bactrias, sendo o Aspergillus

    nigermais resistente que Candida albicans.

    SOLOMON (1975) reportou que o Aspergillus um fungo predominante em

    ambientes fechados e que permanece em nuvens de esporos no ar, podendo penetrar no

    interior de estruturas e contaminar o ambiente interno . importante salientar que o

    processo de fixao dos cadveres visa manter as estruturas dos tecidos com o

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    aspecto apresentado in vivo e, por outro lado, objetiva inativar a ao das

    enzimas autolticas.

    J a conservao, posteriormente fixao, visa impedir a proliferao de

    bactrias e fungos e a macerao dos tecidos, no havendo razo para acreditar que asmesmas substncias qumicas sejam ideais para ambos os processos. Pelo

    contrrio, devemos evitar o uso do formaldedo como lquido conservador de peas

    anatmicas, uma vez que esse fixador apresenta propriedades txicas e outros

    efeitos desagradveis, alm do potencial de risco para a sade de alunos, docentes,

    tcnicos e pesquisadores.

    O Formol no cabelo