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::11 Precariedade ::3 Ocupação Urbana ::15 Assis do Acarajé ::19 Supermercado Planeta ::23 Oficina do Senhor ::25 Vida de Repórter ::31 Expediente folha i corr da junho 2009 :: nº 3 Produção da disciplina de Jornal Laboratório do 4º semestre do curso de Comunicação Social - Jornalismo da Faculdade 7 de Setembro.

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Precariedade

::3

OcupaçãoUrbana

::15

Assis doAcarajé

::19

SupermercadoPlaneta

::23

Oficina doSenhor

::25

Vida deRepórter

::31

Expediente

folha icorr dajunho 2009 :: nº 3

Produção da disciplina de Jornal Laboratório do 4º

semestre do curso de Comunicação Social -

Jornalismo da Faculdade 7 de Setembro.

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Caro(a) leitor(a),

O Folha Corrida é um projeto da disciplina Jornal

Laboratório do curso de Comunicação Social -

Jornalismo da Faculdade 7 de Setembro (FA7). A

intenção é produzir um jornalismo contextualiza-

do e humanizado, que estabeleça relações entre

os formatos e técnicas da produção do jornalismo

e o anseios das comunidades pelo acesso a uma

informação significativa. A cada semestre, o Folha

Corrida aborda um determinado logradouro de

Fortaleza, como forma de conhecer sua realidade

em todos os seus aspectos. Em 2009.1, o logra-

douro selecionado foi o bairro Cidade 2000. Pelas

matérias produzidas, é possível observar a

ambiguidade vivida pelo bairro, encravado em

uma grande metrópole mas onde se respira um

clima interiorano. São as percepções de seus

moradores sobre essa realidade, ladeadas pela

subjetividade de nossos repórteres, que tentamos

reproduzir aqui.

Uma boa leitura!

edit

oria

l

:2:

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Crescimento acelerado afeta

moradores da Cidade 2000

São bastante notórios os problemas que a maioria das capitais brasileiras

enfrentam no que diz respeito à expansão e crescimento demasiadamente

acelerado. Em Fortaleza não podia ser diferente. A cidade cresce cada dia mais

e não há uma estrutura adequada e planejada para esse crescimento. No bairro

da Cidade 2000, esse crescimento vem afetando a vida dos moradores e

mudando alguns hábitos e rotinas.

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Na década de 70 o visionário bairro da Cidade 2000 começou a ser projetado pelo arquiteto Rogério Fróes. O projeto do bairro mexeu com os arredores da localidade. Os moradores lembram que havia até uma lagoa no entorno do bairro. Eles desciam do ônibus bem distante de suas casas, mas mesmo assim já achavam aquilo tudo uma maravilha. O bairro foi projetado com três tamanhos de casas diferentes, tendo em vista o estilo de conjunto habitacional que era seguido na época. Hoje não há muitos resquícios do projeto original das casas. O bairro cresceu e com ele uma série de problemas relacionados à ocupação irregular dos espaços públicos.

A Cidade 2000 tem um estilo todo próprio. Ela é dividida em quadras. As

mesmas são divididas por numerações, que vão de 01 a 23 de um lado e de 24 a 46 do outro. As ruas ganharam nome de alamedas e estas são nomeadas de flores, frutas e nomes de mulheres. Ajudam a compor esse cenário poético pequenos bosques que ficam entre uma rua e outra. As casas que à primeira vista parecem pequenas tem uma planta bem diferente, tendo entrada principal em uma rua e saída em outra rua. A solução que muitos acharam para ampliar suas casas foi recorrer aos sobrados e pequenos prédios que chegam até quatro andares.

Infelizmente não satisfeitos ainda com o resultado obtido com essas elevações, os moradores recorreram à invasão das calçadas. Um espaço que por lei deve ser garantido para o tráfego

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Ocupação Urbana

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de pedestres e que na Cidade 2000 não é respeitado. “Acho que o bairro perdeu sua característica interiorana. Aqui as ruas são muito estreitas por causa das casas que tomaram as alamedas e nem conversa na calçada existe mais”, confirma o comerciante, morador do bairro há 37 anos, Tertuliano Pimentel Santiago. Quase todas as ruas sofrem com esse problema e algumas delas só tem pouco mais que meio metro de calçada.

Por conta de estarem sujeitos a andar pelas ruas disputando espaço com os carros que abusam da velocidade, mais uma intervenção foi feita pelos moradores, que construíram lombadas. O que pela lei também é proibido e só deve ser feito por órgãos competentes. “A pessoa será notificada

a desfazer a construção irregular que invade a rua, autuada e multada”, segundo a Assessoria de Imprensa da SER II. O problema é que não há fiscalização, completa a Assessoria, “a fiscalização não existe, pois não há fiscais suficientes na Prefeitura de Fortaleza. As pessoas podem ligar denunciando e aí um fiscal vai até o local”.

Um problema só vai gerando outro. As casas aumentaram, as alamedas ficaram estreitas e os moradores tem que deixar seus carros no meio da rua dificultando mais uma vez o trânsito de pessoas e outros transportes. E a ocupação irregular de espaços que deveriam estar livres para o translado de moradores e visitantes parece que já virou rotina no bairro.

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Ocupação Urbana

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Além de todos os problemas já citados ainda tem o final da linha do transporte alternativo. Essa meio de transporte público foi uma solicitação dos próprios moradores e está no bairro há pelo menos 11 anos. Eles contam hoje com uma frota de 20 carros mais que não tem uma estrutura adequada com garagem no local. Em horário de pico a linha 53, que faz a rota Cidade 2000/Sargento Hermínio, chega a ficar com cinco topiques estacionadas na Alameda das Graviolas. Os responsáveis pelo transporte no local dizem que estão nesse ponto há pelo menos três anos e que tinham sido tirados de outro espaço em frente ao posto de saúde do bairro por conta do barulho causado.

Quando o final da linha mudou para esse ponto do bairro alguns moradores chegaram a reclamar do barulho e do estacionamento em frente as suas casas e estabelecimentos comerciais. “No

Ocupação Urbana

começo a dona do salão da frente reclamava por que as topiques ficavam lá em frente, mas depois que a gente mudou pra esse lado ela não falou mais. Os outros moradores nunca reclamaram”, relata Rafaela da Silva Alexandre, de 23 anos, que é fiscal do transporte alternativo.

Hoje, por conta da inseguran-ça nesse ponto do bairro, os moradores já se acostumaram com os topiqueiros e até vêem isso como uma forma de segurança. “ No começo eu achava que tinha muito barulho e estacionamento irregular. Hoje, por conta da falta de policiais e da delegacia que vive fechada, eles são mais uma forma de segurança pra nós e inibem a presença de assaltantes”, afirma Elizier Nogueira de Amorim, 56 anos, dona de um salão de beleza e que mora no bairro há 30 anos. O bairro ainda conta com seis rotas de ônibus que complementam o transporte dos moradores.

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Transporte alternativo: ajuda ou atrapalha?

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Outro problema que ficou bastante explicito, e foi comentado por várias pessoas no salão da Dona Elizier, foi a questão do Fortal – que é o carnaval fora de época que acontece em Fortaleza e está no bairro da Cidade 2000 desde 2005, segundo Elizabete Trigueiro, 27 anos, que é moradora do bairro desde que nasceu. “O problema não é o barulho, até por que esse a gente quase não ouve, a questão

Ocupação Urbana

mesmo é a falta de segurança por conta das pessoas que vêm de todos os lugares e transitam pelo bairro. A segurança fica só lá dentro da Cidade do Fortal. Sem contar o lixo que fica espalhado pelas ruas durante esse período.” Elizabete e as outras pessoas do salão ainda dizem que eles não foram consultados se queriam o evento no bairro e que já faz dois anos que eles prometem sair de lá e nada.

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UMA BREVE HISTÓRIA DA CIDADE 2000O conjunto habitacional “Cidade 2000” surgiu no ano de 1971, e foi projetado

pelo arquiteto gaúcho Rogério Froes. Rogério dirigiu a Soceplan (Sociedade Cearense de Planejamento e Construção), e foi lá que começou o projeto da 2000, coordenando uma equipe de arquitetos. O projetista era um entusiasta daquele conjunto e deu com muito charme e diferenciação o nome das alamedas (estas nomeadas de plantas, flores e mulheres) e plantou muitas das árvores espalhadas pelas praças e bosques que existem no bairro. Mesmo tendo todo o amor e dedicação pelo conjunto, Rogério morreu jovem, aos 40 anos, vítima de um ataque cardíaco. Só viu inaugurar a primeira rua do conjunto das quarenta e seis alamedas. Hoje uma das praças e à escola de ensino fundamental e médio do bairro levam o nome de “Rogério Froes”.

A Cidade 2000 fez parte dos planos de expansão da zona leste de Fortaleza, para abrigar as chamadas classes populares vindas de muitas cidades do Estado do Ceará. O nome do bairro causa muita curiosidade para moradores e visitantes do bairro. Os moradores acham que o nome Cidade 2000 é uma referência ao número de casas do local, que segundo eles somam um total de 2.000 casas. Porém, o nome “Cidade 2000” é uma alusão ao futuro que se dizia promissor ainda na década de 70. Na época ainda faltavam 30 anos para a chegada de um novo milênio, que já despertava na população muita especulação, curiosidade e medo de um século que todos achavam que seria o fim do mundo. Hoje como prova de que aquilo não passava de um mito, o conjunto virou gente grande e tem 7.885 habitantes, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na época em que foi construído, o bairro ainda tinha características bem distantes dos dias atuais. Os ônibus iam só até o Hospital Geral (de hora em hora), que era exatamente onde acabava a Santos Dumont. Ruas que dão acesso ao bairro (Rua Bento Alburquerque e Gilberto Studart) eram uma imensa lagoa, hoje aterrada e que ganhou uma praça. Já dentro do próprio conjunto, na praça principal, Leonon Onofre, era unicamente formada de areia. Nos anos 70 praticamente quase não existia comércio, e só na década de 80 é que o local começou a comercializar (em fundos de quintal) pequenos mantimentos.

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A ocupação no bairro é grande seja dos aspectos públicos ou até mesmo dos vendedores ambulantes que ficam na praça principal. O pioneiro é um homem chamado Ronny, que em 1998 teve a idéia de vender naquele local e que hoje é o mais famoso vendedor de churrasquinho da praça Leonon Onofre (que todo mundo só chama de Pracinha da 2000). Três meses depois a baiana nascida em Sergipe recém chegada em Fortaleza, Maria do Carmo Santos, a Carminha, também via ali uma possibilidade de renda que pudesse manter sua família e resolveu vender uma comida típica da Bahia, o acarajé.

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Aos poucos os dois vendedores da praça foram ganhando mais companhi-as com a chegada de outros moradores do bairro que também viam ali um negócio rentável. Hoje a feirinha possui 19 barraquinhas e, além de acarajé e churrasquinho, o freguês encontra sanduíche, calzone, vatapá, salpicão, baião-de-dois, batata frita, paçoca e até mesmo peças intimas como calcinhas e camisolas. Com esse número elevado de feirantes a Prefeitura criou um cadastro para controle e organização dos vendedores no espaço público da Praça.

Segundo Carm inha , “esse

Pracinha:fonte de renda e lazer da população

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comércio é muito bom, todo mundo descobriu aqui uma maneira de ganhar a vida e pra ser vendedor não é obrigado ser morador da Cidade 2000. Aqui qualquer pessoa pode vender”. O local ganhou proporções maiores e hoje é uma das praças mais conhecida de Fortaleza pela venda de alimentos e demais produtos. A feirinha virou “point gastronômico” por oferecer um cardápio variado e também pelo baixo valor cobrado pelas comidas.

Os freqüentadores são de diversos outros bairros da cidade, composto por pessoas de todas as idades e condição social. Que ali é um espaço que gera empregos diretos e indiretos não resta dúvidas. O problema está além disso, é o que diz o comerciante e morador do bairro há 37 anos, Tertuliano Pimentel Santiago, 64 anos. “Antigamente aqui era melhor, não existia esse engarrafa-mento causado pelo comércio da praça. Os frequentadores não respeitam o bairro. É carro estacionado por todos os lados e muito som alto.”

Com a fama da pracinha, o número de consumidores só tem aumentado e de segunda a segunda-feira é gente que não acaba mais. De acordo com Gisele Moreira Lino, comerciante do bairro, 28 anos, “a feirinha não é

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problema pro bairro. Aqui é bem tranquilo e até o lixo é recolhido na manhã seguinte pela Prefeitura”. Olhando de um outro ponto de vista parece que não é bem assim, é o que diz Rafaela da Silva, 23 anos, fiscal da transporte alternativo do bairro. “Moro aqui já tem um tempo, gosto da venda dos alimentos na praça, acho que isso é uma diversão do bairro. O problema é que no outro dia fica muito sujeira, e isso é ruim pra gente.”

À medida que a tarde vai caindo, e a noite vai chegando, o espaço fica movimentado e a disputa por um pedacinho de calçada da praça, por uma vaga de estacionamento na rua, barraquinhas sendo montadas, senhas sendo d is t r ibu ídas , cachor ros procurando resto de comidas, crianças correndo pra lá e pra cá, e casais de namorados sentados no banco, vão marcando a rotina da Cidade 2000. Ela começa a viver mais um dia do seu cotidiano agitado, com cara de cidadezinha do interior e imensidão de bairro populoso da capital.

Tatiana Fortes

Thiago Silveira

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Precariedade. Esta é a palavra que melhor define a problemática enfrentada pelo setor de segurança da Cidade 2000, bairro localizado na zona leste de Fortaleza. “23 anos que morei aqui, a Delegacia sempre foi fechada aos finais de semana e feriados”, disse o representante da Loteria Estadual, senhor Deodato, hoje morador da Varjota, que fixa ponto na praça defronte ao 15º Distrito Policial (15º DP). A delegacia está localizada na Avenida Central, e atende aos bairros Cidade 2000 e Praia do Futuro. Tendo como principal causa de reclamação o fato de ser fechada aos finais de semana e feriados, o 15º DP está também entre as delegacias com menor número de policiais da capital, segundo informações do delegado em exercício, Maurício Tindô. Lá são encontrados apenas o delegado, um inspetor chefe, um escrivão, um policial permanente e dois no expediente, que revezam durante a semana.

Indagado sobre este fato, o delegado responsável, Maurício Tindô, reconhece a precariedade do sistema,

Fechamento do nos finais de semana preocupa

moradores da

15º DP

Cidade 2000

porém, dá esperanças: “A estrutura é precária mas fazemos de tudo para atender a população. Com mais delegados, mais escrivães, mais policiais, mais inspetores chefes, num futuro próximo, poderemos nos tornar um Pólo plantonista e atender todos os dias da semana.”

Os moradores do bairro percebem o problema e se mostram desgostosos com a situação. “Sinto como se não houvesse uma delegacia aqui. Já fui assaltado várias vezes. Se estivesse funcionando a delegacia, com certeza teria inibido a ação dos bandidos”, diz o senhor Cleudo, que trabalha há oito anos na Banca de revistas de fronte à Delegacia. Além disso, acrescenta o fato de não conhecer o delegado: “Pra você ter uma idéia, não sei nem o nome dele! Não sei nem quem é!”.

Elisa, que trabalha em uma farmácia a duas quadras da delegacia, também se queixa da situação enfrentada, principalmente por já ter sido vítima de assalto no estabeleci-mento em que presta serviço: “É horrível. No momento em que se

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precisa, não dá segurança. Todo mundo reclama. Para mim, a delegacia não faz diferença. É muito triste.”

Enquanto isso, a população permanece acuada com a ação dos bandidos. Um taxista, que não quis se identificar por medo de ser reconhecido pelos chefes do tráfico, detona: “Dá sensação de insegurança. Sabe este

Precariedade

banco aqui, da praça (ao lado da delegacia)? À noite, é ponto de venda (de droga). O Ronda passa, eles (os traficantes) se escondem. E ninguém sabe aonde vão. Depois, reaparecem”. Nostálgico, relembra os tempos em que teve paz: “Moro aqui há 29 anos. Só teve paz quando a delegacia funcionava a noite toda.”

O HOMEM DA LEI – J. Levi de Freitas

Durante as horas em que o aguardei na delegacia, observei a movimentação de policiais e pessoas. Vez por outra, vindos de outras delegacias, traziam documentos e presos para ele, que com sua voz firme, dirigia as situações, orientava os subalternos e realizava os procedimentos. Tinha de se mostrar sempre pronto para tudo. E assim o foi. Eu, naquele dia, havia vencido dores estomacais e tediosas horas sentado, à espera do calvo homem da lei. Ele, que ainda ficaria ali duas horas além de seu horário de trabalho, vencera apenas mais um dia fatídico em sua vida de delegado brasileiro. Um homem que não gosta de dizer a idade, mas que não esconde o menino que há dentro de si.“A estrutura é precária, mas fazemos de tudo para atender a população.” Assim falou o grisalho homem de 49 anos, fatigado por aquele cansativo dia de trabalho. Em tom calmo, pela primeira vez em horas, como que sedado pela realidade que lhe cerca: ter a responsabilidade de responder pela segurança de dois bairros, além de contornar situações cada vez mais complexas. Um homem que afirma gostar do que faz, porém, que tinha outros planos para sua vida. “Eu queria mesmo era ter sido jornalista!”. Como um pai fala para um filho, despede-se de mim, revelando seu nome, após uma breve pausa reflexiva, ao ser informado sobre a ânsia dos

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Precariedade

populares em lhe conhecer. Delegado Maurício Tindô, o homem da lei da Cidade 2000, revela as necessidades de um sistema de segurança precário e de um bairro ainda considerado pela população um dos menos perigosos de Fortaleza. “Sinta-se em casa”, diz ele. Nem precisa pedir.

Maurício Tindô: Trabalho no cotidiano, com ações pertinentes à Policia civil. Por dia, liberamos cerca de 40 BO's (Boletins de Ocorrência). Fazemos instauração de flagrante por assalto, na maioria. Trabalhamos com o direito do cidadão. É um trabalho estressante. Sou responsável pelo Papicu (Cidade 2000, Varjota e adjacências) e pela Praia do Futuro.

M.T.: Temos entre 30 e 35. São duas celas. Não temos muito contato com eles. Ficam aqui quando são recolhidos ou quando não há vagas nos presídios. Alguns são soltos com alvará da justiça.

M.T.: Atendemos principalmente 157 (assalto) e 155 (furto), solicitação de documentos, crimes de calúnia, ameaça, lesão corporal no trânsito e, raramente, homicídios.

M.T.: Procuro sempre atender bem as pessoas e elas se sentem bem com nosso atendimento. Temos um bom relacionamento com a população, que se mostra satisfeita. Até hoje, nunca recebi nem uma reclamação. Apenas a de sempre, que é o fechamento da delegacia nos finais de semana.

M.T.: De segunda a sexta, das 08 às 18 horas.

Folha Corrida.: Como é seu trabalho?

F.C.: Qual a quantidade de presos aqui?

F.C.: Quais as principais ocorrências que o senhor atende?

F.C.: Como é sua relação com o público?

F.C.: Qual o horário de atendimento da delegacia?

F.C.: Então, senhor, já que já é de sua ciência a insatisfação da população acerca disto, vamos ao ponto: Qual o motivo do fechamento desta delegacia nos finais de semana e feriados, já que ela é tão importante para a região, por ser a mais próxima para a maioria dos bairros atendidos?

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M.T.: Bom, nós somos, essencialmente, uma polícia judiciária, então, em regra, as pessoas procuram a delegacia para resolver conflitos pessoais e iniciar processos através de inquéritos. A polícia tem a finalidade de proteger a população e estamos prontos para atendê-la, estamos à disposição, pois é um direito de cada um, quando sentir-se lesado em seus direitos, procurar a lei. Porém, a nossa estrutura é precária. Contamos com efetivo reduzido. Hoje, por exemplo, estou até sem o escrivão, que está de férias. Mas fazemos de tudo para atender a população.

M.T.: Para isso, é necessário infra-estrutura. Mais delegados, mais escrivães, mais inspetores, poderemos nos tornar um Pólo plantonista e atender todos os dias da semana. Mas isso é para um futuro próximo. Sem data ainda.

M.T.: Temos os Pólos plantonistas: O 2º DP na Silva Paulet é o mais próximo. Mas temos outros DP's, como o 15º, o 8º, o 12º, o 7º, o 30º e o 34º, a Central de flagrantes no Maracanaú e na Caucaia.

M.T.: Desde novembro do ano passado.

M.T.: Isso acontece por eu ter chegado há pouco tempo. Estou nesta delegacia desde novembro do ano passado. Pois eu sou Maurício Tindô, delegado do 15º DP e estou à disposição para qualquer problema.

F.C.: O que é necessário, então, para inverter essa situação, para que a população possa se sentir mais tranqüila, com uma delegacia efetivamente atuante todos os dias da semana?

F.C.: Caso a população necessite de serviços nos dias e horários em que a delegacia está fechada, para onde deve se dirigir?

F.C.: Há quanto tempo o senhor trabalha aqui?

F.C.: Uma última informação para o senhor: a reclamação que foi recebida aqui foi apenas sobre o funcionamento da delegacia, não foi? Pois lhe passo também que os populares estão insatisfeitos por não lhe conhecerem, não saberem seu nome. Nem mesmo o rapaz que trabalha na banca de revistas aqui em frente sabe quem é o senhor.

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O Acarajé do Assisé a maior atração da praça!

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Na Cidade 2000 existe uma pracinha de alimentação que muita gente conhece. Ela funciona todos os dias à noite e fica ao lado da Delegacia do 15º Distrito Policial, bem na entrada do bairro. Mas muitas pessoas desconhecem que, no mesmo bairro, existe outra praça, na Avenida dos Flamboyants, que também abriga várias barraquinhas de vendas de comidas, funcionando todos os dias a partir das 19h.

A praça, apesar de mais ampla, atrai um fluxo de clientes menor, uma vez que não é tão central e, por isso, é menos conhecida. Poucas lojas existem ao redor e o ambiente, residencial e bucólico, muito se parece com o de todo o bairro: tipicamente interiorano. Para quem vai de carro, a facilidade de estacionamento é grande. O local é agradável e tranquilo, tem um campo de areia e uma quadra poliesportiva, vários brinquedos para crianças, muitas árvores e área livre para passear.

Os clientes vêm de todos os bairros de Fortaleza para saborear comidas reg iona is t íp i cas , panquecas , sanduíches, mini-pizzas, pastéis com diversos recheios, espetinhos de queijo, de linguiça, de carne de gado e

de frango, docinhos, bolos e tortas. Tem até barraca de açaí e de comida japonesa. Mas a principal atração da praça, exatamente como acontece na outra (da entrada do bairro), fica por conta mesmo do acarajé.

Assis, ou melhor, Céricles de Almeida Santos, é quem assina o acarajé da praça. O baiano de Conde, cidade que fica na divisa da Bahia com Sergipe, tem 33 anos e trabalha com a ajuda de dois irmãos e de seu filho mais velho, que tem 14 anos. Ele foi proprietário, por vários anos, de um restaurante de mariscos e de comidas típicas em Barra do Itariri, no litoral de seu estado, mas estava insatisfeito com o movimento do negócio, que só rendia em períodos de alta estação.

Encan tado com as p ra ias cearenses, que só conhecia por

Assis do Acarajé

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revistas, resolveu mudar-se de mala e cuia para Fortaleza, onde, desde 2006, trabalha na produção e venda do quitute que o torna mais conhecido a cada dia que passa. Naquele ano, instalou sua primeira barraquinha de acarajé no bairro José Valter e, no ano seguinte, mudou-se para a pracinha da Cidade 2000, onde está até hoje e de onde não pretende sair. Assis tem orgulho em dizer que foi o primeiro do local: “a praça não tinha nada, está assim por causa do acarajé”.

O “Acarajé do Assis”, mesmo funcionando numa barraca de praça, tem estrutura bastante interessante. Enquanto Assis se ocupa em fritar os acarajés, para que saiam no ponto certo, seus irmãos, Cledson (20) e Flávio (23), tratam de rechear os

quitutes, e seu filho, Anderson, serve às mesas. Todos eles são bastante atenciosos e trabalham sorrindo o tempo inteiro.

O acarajé é servido numa cestinha de palha e com colherzinha. Seu preço, Independentemente do recheio escolhido, é de R$3,00. O cliente pode optar entre o camarão cearense, pequeno e sem casca (o sossego), e o defumado, bem maior e com casca, que Assis assegura vir da Bahia. A barraca, que vende aproximadamente 150 acarajés por dia, também oferece caldo de camarão e de sururu (a R$ 2,00 cada) e, nos finais de semana, moqueca de arraia com arroz e farofa (a R$ 4,00).

Quanto aos vizinhos de barraca, Assis fala orgulhosamente: “todo

Assis do Acarajé

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Assis do Acarajé

mundo tem bom relacionamento um com o outro. Estamos até criando uma associação para cuidar melhor da praça”. O bom funcionamento do negócio, a qualidade dos produtos e o atendimento diferenciado e rápido são, para Assis, as causas do intenso movimento em sua barraca. “Saí da Bahia para fazer o que faço e, por isso, tenho que fazer bem feito. O sucesso vem daí”, ressalta o baiano, esbanjando simpatia e profissionalismo.

Além disso, Assis faz questão de dizer que seu azeite de dendê, também vindo da Bahia, tem qualidade bem maior do que o encontrado em Fortaleza. E o caruru, um dos principais recheios da iguaria, feito com quiabo, camarão, castanha e amendoim, é, para o baiano, de qualidade incompará-vel.

A camisa do atendente Anderson ostenta, na parte de trás, e com destaque, os seguintes dizeres:

“Acarajé do Assis – da Bahia para Fortaleza – Cidade 2000”.

No dia 13 de dezembro de 2008, o quituteiro fez uma festa de um ano de praça. Nos seus cálculos, a festança reuniu aproximadamente 600 pessoas. “Teve bolo de um metro e show da Frouxilda Fofolete. Já estou preparan-do a próxima”, arremata Assis com o orgulho próprio de quem, com trabalho e dedicação, consegue vencer na vida.

Já passa das 23h e o dia de trabalho de Assis e seus familiares está chegando ao fim. O bom baiano se prepara para ir embora, tendo a consciência do dever cumprido. E também parte realizado, pois, para ele, é motivo de felicidade saber que seus clientes, assim como ele, retornam para seus lares com um grande sorriso de satisfação estampado no rosto.

Sérgio Alencar

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Mudanças sentidas com a chegada do PlanetaInaugurado em 2007, o Planeta Supermercados muda o quadro de bairro interiorano da Cidade 2000

Daiana Godoy e Monica Andrade

Quem é acostumado a andar pelas ruas pacatas da Cidade 2000 pôde

perceber a mudança no qual o bairro sofreu após a instalação do supermerca-

do Planeta. Inaugurado em novembro de 2007, o supermercado atende a

clientes locais e de bairros vizinhos, como Praia do Futuro e Papicu. Ele faz

parte da rede de supermercado Super Rede. Wagner Tavares, diretor geral do

Planeta, afirma que a instalação do supermercado no bairro foi motivada pelo

desafio de se ter um empreendimento de grande porte em um bairro onde

predomina a fama de ser violento.

“O desafio de termos uma loja em um bairro onde percebemos ser carente,

porém de grande poder aquisitivo, foi que nos motivou. Andando na Cidade

2000 parece que estamos no interior e isso nos chamou a atenção e pensamos:

Por que não investir aqui?”.

De acordo com ele, o fato da região ser discriminada pela fama de ser

violenta dificultou a vinda de uma máquina do Banco do Brasil para o

supermercado. Esse foi um dos pontos destacado pelo diretor à iniciativa da

instalação do supermercado. Apesar dessa má fama, Tavares afirma que

houve investimento em termos de segurança para que os clientes se

sentissem mais seguros. “O Planeta ajudou a própria população a valorizar o

bairro”, reforça.

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Supermercado Planeta

Toda sexta-feira funciona uma feira na praça principal do bairro, onde os comerciantes vendem roupas, verduras, frutas. Segundo a dona de casa Isabel Farias, a instalação do Planeta serviu para oferecer mais uma opção de produtos. “O Planeta é perto de casa, tem novidades, diversas linhas de produtos e conforto, mas

Feira

isso não significa que eu deixo de ir à feira nas sextas-feiras”.

O diretor geral do Planeta, Wagner Tavares, afirma que na chegada do supermercado ao bairro houve uma preocupação com concorrência da feira. De acordo com ele isso mudou, pois a feira, hoje, ajuda os consumidores a conhecerem o Planeta.

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Supermercado Planeta

Considerado concorrente direto do Planeta Supermercado, o Center Box fica localizado na Avenida Santos Dumont. Wagner Távora explica que no começo o Planeta tentou focar no mesmo público do Center Box, que são as classes B e C, mas com o tempo percebeu que tinha clientes que não compravam nem no Planeta e nem no Center Box. “Os clientes estavam optando em comprar no BomPreço, pois queriam produtos mais diferenciados. Portanto, tivemos que nos adequar aos dois concorrentes”, pontua.

Segundo Teresinha Soares, secretária executiva da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), o mercado está em crescimento e no momento não se fala de crise. “Este é o setor que está em crescimento e, pelo menos no momento, ainda não afetado pela crise econômica”.

Concorrência

João Alves mora a 40 anos no bairro e possui uma mercearia com vendas de queijos, frutas e carnes bem em frente ao Planeta. Para ele, depois da chegada da loja ao bairro muita coisa melhorou. “O povo não sabe nada de comércio, quanto mais comércio melhor. Melhorou a movimentação, a vista do ambiente e as pessoas passaram a comprar mais”, declara.

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Em sua chegada, o Planeta contava com um quadro de 80 funcionários, que agora aumentou para 110. Os funcionários são, na maioria, jovens. Joziléia Oliveira, de 19 anos, trabalha há um ano e quatro meses no supermercado e conta que essa é a sua primeira experiência profissional. A jovem, que começou como operadora de caixa e agora é fiscal de caixa, conta que apenas fez cursos de capacitação como informática básica e atendimento. Apesar de morar com a mãe e com a avó, Joziléia declara: “eu trabalho só pra mim mesma”.

Supermercado Planeta

Oportunidade

Aerson Julião é taxista há 28 anos e sempre teve a praça Central como o seu ponto. Segundo Julião, depois que o supermercado começou a funcionar na Cidade 2000 o seu trabalho melhorou. “Para o nosso ramo é muito bom, pois a gente sempre dá uma corrida”. José Barbosa, que

Mudança sentida por taxistas

também é taxista, confessa que esse ponto de táxi é um dos melhores da cidade. Trabalhando nesse meio há 30 anos, Barbosa disse que a vinda do supermercado para o bairro aumentou um pouco o número de corridas. “Mas tem dias que a gente não atende cliente nenhum de lá”, explica.

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A Oficina do Senhor é uma

escolinha de artes que fica próximo ao

Bairro Cidade 2000. Álvaro Cícero, 34,

auxiliar da secretaria, dá alguns dados

sobre o que realmente é o projeto e o

que pretende: “Funcionamos das 8h às

11h30min e das 14h às 16h30min,

atendemos crianças e adolescentes

entre seis e 17 anos”. O auxiliar enfatiza

que há critérios de seleção para

participar: “É necessário que a criança

ou adolescente esteja estudando no

ensino regular, more próximo, e

também damos prioridade aos que vem

da classe baixa”.

Álvaro revelou que a prefeitura

cortou 40% da verba destinada ao

projeto nos últimos meses e que o

número de crianças e adolescentes

atendidos caiu de cerca de 400

matriculadas no ano passado para

cerca de 250 matriculadas este ano.

Álvaro diz como surgiu o projeto e

como foi escolhido o nome. “Começou

com um grupo de freiras que se reuniam

no local para rezar, o grupo de oração

era chamado de João Paulo I. A partir de

19 de março de 1983, o grupo começou

a desenvolver atividades e o nome

mudou para Oficina do Senhor. Hoje o

p r o j e t o é d e s e n v o l v i d o p e l a

Comunidade Católica Face de Cristo.”

De acordo com Odair José, 35,

professor de marcenaria, a Oficina do

Senhor é um lugar aonde as crianças

vão para aprender uma profissão, ter

contato com a religião católica, fazer

refeições, ter tratamento médico, fazer

Oficina do Senhor transforma crianças e adolescentes

Marina Aquino

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educação física e ter reforço escolar.

Além disso, o projeto forma crianças e

jovens para a vida. O próprio Odair

chegou ao projeto quando tinha 14

anos: “Em poucos meses eu já era o

melhor aluno da sala e comecei a ajudar

o professor. Melhorei minha disciplina,

meu comportamento em casa e meu

interesse pelos estudos.”

A jovem Jorgiane Rodrigues, 23,

que há três anos é professora de

reforço escolar do projeto, comenta que

gosta do movimento das crianças. Ela

que chegou à Oficina quando tinha oito

anos de idade conta que o projeto já faz

parte de sua vida e que deu a ela a base

para tentar realizar seu sonho. Ser

enfermeira. “Estou pesquisando um

curso de auxiliar de enfermagem pra

começar, mas depois quero fazer

faculdade de enfermagem.”

Leandra Alvez, 10, estudante,

moradora do Barreiro (localidade da

cidade 2000),confidenciou que adora

as aulas de artes que ensinam a fazer

bijuteria. “Adoro, venho todos os dias.”

Dona Vera Lúcia, 41, mãe de duas

crianças que participam do Projeto

elogia. “A Oficina facilita a minha vida,

tenho mais tempo para cuidar da casa e

sei que meus filhos estão bem

ocupados e fora das ruas.”

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Oficina do Senhor

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Vida de

repórter

E o destino, está no terminal?

Preocupada em não saber o rumo

do bairro Cidade 2000, fui a todos os

“Buscas” da internet. “A produção de

matérias do logradouro escolhido será

durante todo o semestre”, foi o que

meus amigos, que já tinham passado

pela disciplina, falavam.

Sugerido pelo professor, na mesma

noite comecei a ler o livro A alma

encantadora das ruas, de João do Rio.

Nele, flanar é ir por aí, de manhã, de dia,

á noite, meter-se nas rodas da

população, admirar o menino da

gaitinha ali á esquina,.....

Mônica Andrade

Com isso, planejei todo o meu dia.

Separei o bloco de notas, o mapa,

lanche e tudo que tinha direito. No

mesmo dia eu tinha uma consulta as

7:00 da manhã ao odontologista.

Pensei, quanta sorte a minha. O

hospital fica na Avenida Desem-

bargador Moreira, um quarteirão da

Avenida Santos Dumont.

Saí do hospital, dei uma olhada no

mapa e fui pra parada de ônibus. Vem o

ônibus e em letras de forma o nome

SANTOS DUMONT. No momento

entendi que o transporte iria até o final

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da avenida do qual ele carregava o

nome.

Engana-se. Dois ou três quar-

teirões depois, ele resolve entrar a

direita, depois a esquerda e seguir em

frente. Estávamos em paralelo a

Avenida Santos Dumont. Não me

desesperei, pois o que vai, volta. Ou

não?

E para mais surpresa o ônibus

resolve entrar do tão falado Terminal do

Papicu. De inicio eu não sabia bem

onde estava. Mas, pelas informações

que já tinham me falado, cheguei à

conclusão de que estava em um

terminal.

E o destino? Sabe lá o que vai

acontecer. Eu sabia que um dia ainda

viria entrar num terminal, mas não

dessa forma. A surpresa foi grande.

Pois estava na hora de maior

movimentação. Ao chegar ao Bairro

Cidade 2000 fui recepcionada por uma

música animada chamada “Apaixona-

da”, de Aline Barros.

Em meio a tantas árvores, os

passarinhos cantavam todos juntos. No

meio da praça um grupo de mulheres se

movimenta na maior animação. Puxa

Vida de Repórter

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Vida de Repórter

daqui, estica dali, sobe e desce. E em

forma de círculo, um único homem guia

aquela mulherada.

Para os que transitam pela praça

não deixam de dar uma olhadinha e

admirar a beleza feminina. O receio

para muitos fala mais alto e o machismo

também. E les pre ferem fazer

caminhadas ao redor da praça.

O som invade quem passa e

ninguém agüenta ficar parado. Pode se

notar aqui e acolá um pezinho no ritmo.

Mas, a maioria canta e se aquece junto

com os raios de sol para dar boas

vindas a um novo dia.

Durante essa aula, fico sentada

num banco observando tudo ao redor.

Até a cadela dormia tranquilamente

bem próxima da caixa do som. E não

nego que minha vontade mesmo é de

fazer parte daquela animação.

Tudo estava a favor para um belo

dia de pesquisas. Sol, música, gente

animada, um vento forte das árvores.....

Foi daí que notei e relacionei o clima

agradável com as ruas do bairro por se

chamarem de Alamedas. Segundo o

dicionário, Alameda significa rua

densamente arborizada; parque; mata;

rua orlada de árvores.

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Vida de Repórter

Ao perceber que a aula estava

finalizando, me aproximei do grupo e

então obtive informações do instrutor.

Rafael Barbosa, professor de

Educação Física, esclareceu que é um

projeto da Secretaria de Esporte e

Lazer do qual existe há dois anos no

bairro Cidade 2000.

A alegria no rosto de cada uma

delas é visível. No término da aula

algumas ficam ao redor do professor. E

ele em meio a tantos fios da caixa de

som procura atender a cada uma delas.

Vanda é uma das participantes e, já indo

embora, fala de longe da importância do

aquecimento, da aeróbica e da dança

que elas praticam. Vejam só que bela

entrevista, não?

Minha sensação é que todos

conhecem todos, nesse bairro. Me sinto

uma estranha, todos me percebem e

sabem que nunca estive aqui. Alguns se

aproximam e perguntam o real motivo

de estar lá fazendo anotações. Outros

me olham de longe.

A tranqüilidade naquele local é

interrompida apenas por máquinas das

obras no edifício ao lado. Em meio a

árvores, crianças e adultos se

desfrutando dos bancos e brinquedos

que a praça oferece, me surge uma

curiosidade em saber como se chama a

praça. Na tentativa, perguntei para um

taxista como se chama a praça, ele diz

não saber. Perguntei a outro senhor que

passava pela rua e ele também não

soube dizer.

Continuei a observar e sem querer

me deparo com a “Oficina do Senhor”.

Falei com o porteiro que se chama

Márcio. Ele diz que a praça é conhecida

como a Praça da Oficina do Senhor. Lá

diariamente são oferecidas pintura,

maçonaria, leitura e outras atividades

para crianças das comunidades

carentes. A turma se mantém durante

toda manhã e no período da tarde.

A chuva começa e as pessoas

continuam a fazer caminhadas. Os

funcionários começam a limpar, as

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crianças continuam a pedalar.... Até o

filhote de cavalo surge na praça para

passear. Enquanto se pratica esportes,

todos conversam de tudo. Todos se

divertem.

E eu segui meu caminho, pois tinha

muito ainda pra ver. Mais à frente,

acompanhei a dificuldade de um carro

do lixo em passar por uma rua bem

estreita. Eles reclamam da dificuldade

em exercer o trabalho. Um deles deixa

bem claro que não é só devido às ruas

estreitas, mas pela própria comunidade

que não ajuda na limpeza do bairro.

E para minha surpresa, muita

chuva. Cheguei a pensar que essa

chuva se estenderia por todo o dia. E

enquanto isso, fiquei refugiada na

cobertura de um armarinho. Presenciei

o centro do bairro Cidade 2000

alagando em uma rapidez absurda.

Jamais iria imaginar o que estava

acontecendo.

O encanto no inicio da manhã foi

destruído pela falta de saneamento

básico. A imagem é assustadora para

quem presenciou o cantar dos

pássaros, as árvores e a tranqüilidade

do ambiente horas antes.

As pessoas tentavam escapar não

só da chuva, mas também do lixo que

corria nas águas. Sacolas de plásticos,

copos descartáveis, frutas, restos de

comidas e latas de refrigerante se

juntavam na água. Enquanto uns se

protegiam do lixo e da chuva, outros se

divertiam e economizavam utilizando a

água da chuva para lavar carros,

Vida de Repórter

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Vida de Repórter

prateleiras, baldes e até mesmo para

tomar banho.

Morando há 39 anos no bairro, Sr.

João diz que o hábito de jogar lixo em

terrenos baldios é constante. Essa

prática realizada pelos moradores se

agrava cada dia mais. A quantidade de

água da chuva, por menor que seja,

alaga as ruas do bairro. Muitos

moradores reclamam pela falta de

saneamento básico, os esgotos estão

entupidos.

Minha admiração pelo cantar dos

pássaros foi interrompida pelo grito

verde, onde a natureza implora para

cada um de nós um pouquinho só de

sensatez. Por falta de monitoramento

diante dessa contaminação, as belas

ruas das quais carregam o nome de

flores (Margaridas, Orquídeas, Lírios,

Jasmins, Girassóis...) estão sendo

alagadas.

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Folha Corrida - Ano II - Semestre 2009.1

Produção da disciplina de Jornal Laboratório do 4º

semestre do curso de Comunicação Social -

Jornalismo da Faculdade 7 de Setembro, sob a

responsabilidade do professor Edgard Patrício

Produção:

Daiana Godoy

J. Levi de Freitas

Marina Aquino

Mônica Andrade

Sérgio Alencar

Tatiana Fortes

Thiago Silveira

Edição:

Edgard Patrício

Projeto gráfico e editoração:

Lívio Severiano

Contatos - [email protected]

expe

dien

te

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Rua Alm. Maximiniano da Fonseca, 1395Eng. Luciano Cavalcante - CEP 60811 - 020

Fortaleza - CE - Brasil - Fone: +55 85 4006-7600 - Fax: +55 85 4006-7614http://www.fa7.edu.br

folhacorrida