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CURSO DE ESPIRITISMO Carlos Bernardo Loureiro
Foto do Pesquisador Carlos Bernardo Loureiro
Sumário A ÉTICA E A NATUREZA DA FELICIDADE ............................................................................................... 3
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 3 A ÉTICA E A NATUREZA DA FELICIDADE............................................................................................ 4 O HOMEM NA SUA VALIDADE UNIVERSAL E NORMATIVA ........................................................... 8 OS MITOS E A DIALÉTICA ...................................................................................................................... 11 A DIALÉTICA ESPÍRITA .......................................................................................................................... 13 REFLEXÃO SOBRE O PROBLEMA DO SER .......................................................................................... 15 O CARÁTER EVOLUCIONISTA DA FILOSOFIA ESPÍRITA ................................................................ 18 AS TESES E A FILOSOFIA DE GUSTAVE GELEY ................................................................................ 23 A REPULSA AO ETERNO ......................................................................................................................... 24 ENERGIA E CONSCIÊNCIA ..................................................................................................................... 26
O CAMPO MAGNÉTICO E A VIDA ............................................................................................................. 27 O CAMPO MAGNÉTICO ........................................................................................................................... 27 OS FORTES CAMPOS MAGNÉTICOS AGEM SOBRE OS MEIOS BIOLÓGICOS. ............................. 30 PRINCIPAIS EFEITOS PRODUZIDOS PELO CAMPO MAGNÉTICO ESTÁTICO .............................. 32 O HIPOTÉTICO CAMPO DA VIDA .......................................................................................................... 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................... 38
PROVAS DA SOBREVIVÊNCIA DO SER ................................................................................................... 39 MOLDAGENS OCAS EM PARAFINAS ................................................................................................... 39 AS FOTOGRAFIAS TRANSCENDENTAIS ............................................................................................. 43 FENÔMENOS DE VOZ DIRETA ............................................................................................................... 46 FENÔMENOS DE ESCRITA DIRETA ...................................................................................................... 50 FENÔMENOS DE TRANSFIGURAÇÃO .................................................................................................. 53
ENSAIOS ESPÍRITAS .................................................................................................................................... 55 PORQUE VIVEMOS E PARA QUE VIVEMOS ........................................................................................ 55 A DIALÉTICA ESPÍRITA .......................................................................................................................... 57 A FORÇA DA RAZÃO ............................................................................................................................... 59 POR QUE NÃO SE DISCUTIR OS MISTÉRIOS? ..................................................................................... 61 A COSMOVISÃO ESPÍRITA ..................................................................................................................... 63
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O PENSAMENTO É UMA SECREÇÃO DO CÉREBRO? ........................................................................ 64 A PRECE, O PENSAMENTO E VONTADE.............................................................................................. 68 CONFIDÊNCIAS DE UM PSIQUISTA ...................................................................................................... 70 CONCEITO DÍNAMO-GENÉTICO DA VIDA .......................................................................................... 71 OS PROCESSOS VITAIS E DETERMINANTES DA MORFOGÊNESE ................................................. 75 PSICOMETRIA E VISÃO PANORÂMICA ............................................................................................... 77 GEMAS, AMULETOS E TALISMÃS – INTRIGANTE CAPÍTULO DA PSICOMETRIA ..................... 79 PALIGENESIA ÉTICA E DIALÉTICA ...................................................................................................... 89 O DEVER ESTRITO E SAGRADO DA DOR ............................................................................................ 93 OS VÁRIOS MUNDOS E A ESCALA EVOLUTIVA ............................................................................... 95 A PARAPSICOLOGIA E A ALMA ............................................................................................................ 97
OS SÍMBOLOS ................................................................................................................................................ 98 SÍMBOLO .................................................................................................................................................... 98 O SIMBOLISMO ESOTÉRICO .................................................................................................................. 99 A EXPRESSÃO ESOTÉRICA DO PENSAMENTO ................................................................................ 100
TÍPICAS MANIFESTAÇÕES ANÍMICAS .................................................................................................. 107 IDEOPLASTIA .......................................................................................................................................... 107 ANAGNOSIA ............................................................................................................................................ 108 PERIANAGNOSIA .................................................................................................................................... 108 PROANAGNOSIA .................................................................................................................................... 108 TELEANAGNOSIA................................................................................................................................... 108 AUTOSCOPIA ........................................................................................................................................... 108 PREMONIÇÃO .......................................................................................................................................... 109 DÉJÀ VU E A PREMONIÇÃO ................................................................................................................. 109 DIAPSÍQUICA .......................................................................................................................................... 109 BILOCAÇÃO ............................................................................................................................................. 110 AUTOPREMONIÇÃO ............................................................................................................................... 110 CLARIVIDÊNCIA ..................................................................................................................................... 110 CRIPTESTESIA OU TELEPATIA ............................................................................................................ 111 CAMPO MEDIANÍMICO ......................................................................................................................... 111 CRIPTOMNÉSIA ...................................................................................................................................... 111 DIAPSÍQUICA DERMOGRÁFICA .......................................................................................................... 112 ELONGAÇÃO ........................................................................................................................................... 112 HIPERESTESIA ........................................................................................................................................ 112 METACINESIA ......................................................................................................................................... 113 PARACINESIA .......................................................................................................................................... 113 TELECINESIA .......................................................................................................................................... 113 METERGIA ............................................................................................................................................... 113 METABIOSE ............................................................................................................................................. 113 PERSONISMO ........................................................................................................................................... 114 PICTOGRAFIA .......................................................................................................................................... 114 PSICOCINESIA ......................................................................................................................................... 114 PSICOMETRIA ......................................................................................................................................... 114 ECTOPLASMA ......................................................................................................................................... 114 MAGNETISMO ......................................................................................................................................... 115 KIRLIANGRAFIA ..................................................................................................................................... 115 FOTOGRAFIA PSÍQUICA ....................................................................................................................... 115 TELA PANORÂMICA .............................................................................................................................. 115 TELEPSICOMAGNETOTERÁPICO ........................................................................................................ 116 TRANSFIGURAÇÃO ................................................................................................................................ 116 TRANSE .................................................................................................................................................... 116 GLOSSOLALIA ........................................................................................................................................ 116 BIOPAUSIA ............................................................................................................................................... 117 PIROVASIA ............................................................................................................................................... 117 SONAMBULISMO .................................................................................................................................... 117 SONILOQUIA ........................................................................................................................................... 117
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DERMOÓTICA ......................................................................................................................................... 118 TRANSPOSIÇÃO ...................................................................................................................................... 118 DESDOBRAMENTO DO PERISPÍRITO EM ESTADO DE VIGÍLIA ................................................... 118 LEVITAÇÃO ............................................................................................................................................. 118 O BIÔMETRO DE HIPPOLYTE BARADUC .......................................................................................... 119 PSICOTRÔNICA ....................................................................................................................................... 119
CETICISMO .................................................................................................................................................. 119 HISTÓRIA DO CETICISMO .................................................................................................................... 123
A ÉTICA E A NATUREZA DA FELICIDADE
INTRODUÇÃO
Ernst Cassirer (da Yale University) em seu “na Essay on Man”, cuja
primeira edição, em inglês, foi dada a lume em 1944, afirma que o homem
está sempre propenso a considerar o pequeno horizonte que o cerca como
o centro do mundo e a fazer, de sua vida particular e privada, o modelo do
Universo; mas, precisa renunciar a esta vã pretensão, a esta mesquinha e
provinciana maneira de pensar e de julgar.
Michel de Montaigne (1533-1592), em seus “Ensaios”, que
traduzem, segundo seus critérios, as volutas de uma escrita concêntrica,
revelando lente e inexorável conquista de uma arte de viver, refere-se ao
tema proposto acima, por Cassirer, no momento em que admite que o
homem deveria avaliar as coisas, de acordo com seu verdadeiro valor e
grandeza. O ilustre pensador francês estava possibilitando, destarte, o
desenvolvimento subsequente da teoria moderna do homem. É provável
que as concepções de Montaigne transcendam os limites dessa
possibilidade e se projetem como um autêntico desafio. Na verdade, ao
que se assiste, na modernidade, é que cada pensador oferece uma
particular visão da natureza humana. Estabeleceu-se, e o próprio Cassirer
proclama, “uma completa anarquia de pensamento”. E completa: “que
esse antagonismo de idéias não é apenas um grave problema teórico, mas
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uma ameaça eminente a toda a extensão de nossa vida ética e cultural, não
padece dúvida”. A propósito, vale assinalar o pensamento filosófico de
Max Scheler (1874-1928), discípulo de Husserl, em Die Stellung des
Menschen in Kosmo, 1928;
“Em nenhum outro período do conhecimento humano, o homem se
tornou mais problemático para si mesmo do que em nossos dias... já não
possuímos nenhuma idéia clara e coerente sobre o homem. A
multiplicidade cada vez maior das ciências particulares que se ocupam do
estudo do homem, antes confundiu e obscureceu do que elucidou nossa
concepção a respeito”.
Essa é a inusitada situação a que chegou a filosofia moderna. Ainda
assim, a Psicologia, a Etnografia, a Antropologia e a História conseguiram
reunir extraordinário número de fatos, ao lado de instrumento sofisticados
de observação e de experimentação, tornando as análises mais consistentes
e aprofundadas. Mas, não se pôde encontrar um método adequado e capaz
de equacionar satisfatoriamente, o conhecimento da natureza humana. Isto
quer dizer que a riqueza de fatos não implica necessariamente uma riqueza
de pensamentos. Pretende-se encontrar o fio de Ariadne, que resgate a
filosofia moderna desse labirinto em que ela própria se meteu. É
justamente o que tentamos fazer no ensaio que se segue.
A ÉTICA E A NATUREZA DA FELICIDADE
Ocorreu a Aristóteles (Estagira, 384 – Cálcis, 322, a.C.) que, acima
de todas as questões do mundo físico estavam as questões maiores: qual o
supremo bem da vida? Que é a virtude? Como poderemos atingir a
felicidade e a realização do nosso destino?
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“Aristóteles é realisticamente simples em sua ética”, assevera Will
Durant. Ele se abstém de pregar ideais super-humanos e vazios conselhos
de perfeição. Afirma George Santayana – “Em Aristóteles o conceito de
natureza humana é perfeitamente equilibrado; todo ideal tem uma base
natural e todo natural tem desenvolvimento ideal”. Aristóteles reconhece,
em princípio, que o objetivo da vida não é o bem por si mesmo e, sim, a
felicidade. “Pois nós colhemos a felicidade por si mesma e nunca tendo
em vista algo além dela; amamos a honra, o prazer, a inteligência...por
supormos meios de atingir a felicidade” (ética). Mas, ele compreende ser
mero truísmo dizer que a felicidade é o bem supremo; que é preciso um
conhecimento mais claro da natureza da felicidade e do meio de alcançá-
la. Espera encontrar tal meio perguntando em que difere o Homem dos
outros seres e presumindo jazer a belicosidade humana na plena
manifestação dessa qualidade, especificamente atributo do ser humana.
Ora, a excelência peculiar ao Homem é a faculdade de pensa; por
ela excede e domina todas as outras formas de vida; e como
desenvolvimento desta faculdade lhe deu a supremacia, deve-se supor que
o desenvolvimento dessa qualidade lhe proporcionará a realização do seu
destino para o alcance da felicidade.
A condição primordial da felicidade é a vida da razão – glória
particular do Homem e seu poder. A virtude, ou antes a excelência
(tradução mais adequada ao vocábulo grego Arete), depende do juízo
lúcido, autodomínio, desejos em proporção com as simples possibilidades
e meios; não é acessível ao homem simples nem Dom conferido à
inocência; e sim uma realização da experiência no Homem plenamente
desenvolvido. Mesmo assim, há um caminho para ela, um roteiro para a
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excelência, que atalha muitos desvios e tardanças; o caminho mediano, a
áurea mediocridade.
As qualidades de caráter podem ser dispostas em tríades, em cada
uma das quais a primeira e a última qualidade serão extremos e vícios, e a
do meio uma virtude ou excelência. Assim, entre a coragem; entre a
avareza e a prodigalidade, a liberdade; entre a humildade e o orgulho, a
modéstia; entre a indecisão de Hamlet e a impulsividade e o
arrebatamento de Dom Quixote, o autodomínio. O justo na ética não
difere do certo na matemática; significa – correto, adequado, o que melhor
atua para a consecução do melhor resultado. A excelência é uma arte
adquirida com o exercício e o hábito; nós não procedemos retamente por
termos virtudes ou excelência, e sim temos virtude ou excelência por
procedermos retamente; “estas virtudes formam-se no Homem com a
prática dos seus atos” (ética); somos aquilo que fazemos repetidas vezes.
A excelência não é, então, um ato e sim um hábito; “o bem do Homem
consiste em fazer a alma esforçar-se no caminho da excelência toda a
vida; ...pois como uma andorinha ou um belo dia não fazem a Primavera,
também não é um dia ou um curto lapso de tempo que faz a felicidade”
(ética).
A juventude é a idade dos extremos: “se um jovem comete uma
falta é sempre por excesso ou exagero”. A grande dificuldade dos jovens
(e de muitas pessoas mais velhas) é escapar de um extremo sem cair no
oposto. Pois de um extremo passa-se facilmente a outro, quer por “excesso
de correção”, quer por outra causa: “a deslealdade resvala para excessivos
protestos de dedicação e a humildade paira sobre o abismo da presunção”
(ética). Os que se acham conscientemente num dos extremos dão o nome
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de virtude, não ao meio, mas ao extremo oposto. Algumas vezes é isto um
bem, pois se temos consciência de estar errado num dos extremos,
“aspiramos chegar ao outro lado e atingiremos assim a posição
intermediária..., a exemplo do que os homens fazem para endireitar uma
tábua torta” (ética). Mas, os que estão nos extremos sem disso se
aperceberem, encaram o justo meio como o defeito maior; eles “empurram
para o extremo oposto o homem da posição média; o bravo é chamado
temerário pelo covarde, e chamado covarde pelo temerário” (ética).
Comenta Will Durant, a propósito:
“É óbvio ser esta doutrina da média a formulação de uma atitude
característica que aparece em quase todos os sistemas filosóficos da
Grécia. Platão tivera-a em mente ao chamar a virtude ação harmoniosa; e
Sócrates, ao identificá-la com o saber. Os sete Sábios haviam firmado essa
tradição gravando no Templo de Apolo, em Delfos, a divisa Meden Agan:
Nada em excesso”.
Com isso afirmou Niestzsche em “A Origem da Tragédia” – os
gregos se esforçaram para refrear a sua própria violência e impulsividade.
Mais verdadeiro, contudo, seria pensar que esse preceito refletia a certeza
que possuía o grego quanto as paixões não serem defeitos por si mesmas e
sim a matéria-prima tanto dos defeitos como das virtudes.
“Mas o justo meio” – informa Aristóteles – “não encerra todo o
segredo da felicidade. Devemos ter, também, em boa proporção, bens
mundanos; a pobreza torna o Homem avarento, ao passo que a riqueza,
libertando-o de toda a cobiça e de toda a necessidade, concede-lhe
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facilmente o meio de exercer a virtude. O mais nobre dos auxiliares
externos da felicidade é a amizade. Ela é me verdade mais necessária aos
felizes do que aos infelizes, pois a felicidade se multiplica sendo
compartilhada por outros. É de maior monta que a justiça, pois quando os
homens são amigos, torna-se desnecessária a justiça; mas, se são justos, a
amizade é ainda uma bênção” (ética).
Apesar de os bens materiais e amizade serem necessários à
felicidade, a essência desta reside em nós, no saber profundo e na clareza
do entender.
A ética de Aristóteles é uma variação de sua Lógica: a vida ideal
assemelha-se a um silogismo correto. Ele nos negou um manual das
conveniências em vez de um estímulo ao aperfeiçoamento. Houve quem o
rotulou de “moderado em excesso”. Por outro lado, Mattew Arnold, citado
por Will Durant, consideravam a ética infalível. Durante trezentos anos
este livro e a Política formaram o espírito dos estadistas ingleses, “talvez
para grandes e nobres realizações, mas indubitavelmente para uma lenta e
fria eficiência”.
Aos sessenta e dois anos Aristóteles morreu, voluntariamente,
bebendo o mesmo veneno que impuseram a Sócrates: cicuta.
O HOMEM NA SUA VALIDADE UNIVERSAL E NORMATIVA
O Humanismo nasceria com os gregos, em que se considerava o
homem na sua validade universal normativa. Esse movimento encontraria
os seus pródomos no contexto da filosofia pré-socrática, a partir de Tales
de Mileto, a quem é atribuída esta enigmática expressão: Todas as coisas
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estão cheias de Deuses. Interpretada (mas não aceita) por Werner Jaeger
(Paidéia, Die Formung des Griechischenmennschen”), com este sentido:
“Tudo está cheio de misteriosas forças vivas... tudo tem uma alma.”
E a reflexão sobre o Homem, naquele prístino período, fez escola,
em que se destaca a figura impoluta de Heráclito de Éfeso, um dos mais
notáveis filósofos pré-socráticos, cujas idéias iriam influenciar o próprio
Hegel, na construção e na fundamentação de sua dialética. Para Heráclito,
“tudo corre, nada pára... ninguém pode banhar-se duas vezes nas mesmas
águas de um rio”. Essa teoria do dever universal, se desdobra nesta
sentença de profundo significado antecipando-se, no tempo e no espaço, à
ética cristã, sustentáculo da ética espírita: “Se a felicidade consistisse nos
prazeres do corpo, deveríamos proclamar felizes os bois, quando
encontram ervilhas para comer.” Ou esta outra que parece Ter inspirado o
“conhece-te a ti mesmo”, exortação inscrita no frontispício do templo de
Apolo: “Eu me procuro a mim próprio.”
Mais tarde, surgiria a figura não menos ilustre e sábia de Demócrito,
cujas teorias tentam explicar o universo, os fenômenos e as próprias
atividades espirituais pela combinação dos átomos. Alguns dos
fragmentos das idéias esposadas por Heráclito encontram forte
ressonância no íntimo da Filosofia de Demócrito, que, para muitos, seria o
“pai do materialismo”, mas que, nesses fragmentos, demonstra,
paradoxalmente, uma surpreendente visão espiritualista do ser na sua
complexa mundividência terrena:
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“Escolher os bens da alma é escolher os bens divinos; contentar-se
com os bens do corpo é contentar-se com os bens humanos.” “A felicidade
não reside em rebanhos nem em ouro: a alma é a morada do daimon.”
Esses filósofos pré-socráticos viriam delinear os fundamentos do
patrimônio filosófico grego, embora não se descarte a possibilidade de
uma remota e prisca influência de componentes filosóficos orientais.
Entretanto, a filosofia helenista assumiria, mais tarde, maturidade própria,
específica, inigualável, consubstanciando não exata e literalmente uma
filosofia como fruto de um acordo original com o saber, mas o amor ou a
procura amorosa da sabedoria. Esta não se resumiria, por sua vez, e
simplesmente, no conhecimento teorético das essências, idéias, causas ou
princípios das coisas, mas na vida de acordo, com esse conhecimento, pois
só o acordo, ou a harmonia da vida teorética e da vida prática, poderia
proporcionar a eudeimonia, quer dizer a felicidade, razão de ser da
Filosofia. O terreno já estava preparado. Surgiriam, após, os grandes
semeadores do pensamento grego que iria influenciar não somente as
gerações de outros expressivos filósofos, mas o próprio evolver da cultura
ocidental até os nossos dias. Desponta, então a figura de Platão.
Considerado o continuador das idéias Socráticas, não apenas daria rumo
certos e definidos à filosofia, mas oferecia as condições efetivas,
pedagógicas e políticas que deveriam nortear a sua realização.
Eis, em síntese, os pensamentos do gênio platônico:
Rigor lógico e élan místico. É um espírito que teve uma infância
piedosa e que não esquece jamais a criança que sobrevive no homem. Sob
três aspectos ele reconhece élan de insatisfação que surge no indivíduo e o
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encaminha para alguma coisa que o supera, para o Ideal, para um além
mais real que o universo sensível. Uma aspiração dominante: o BEM.
Platão julgava captar, com a sua Teoria das Idéias, o sentimento e a
essência da dialética socrática e tentava formular, claramente, as suas
premissas teóricas. Esta teoria tem implícito um novo conceito de
conhecimento, substancialmente diverso da percepção sensorial, e um
novo conceito do Ser ou do Real, distinto do que tinham os antigos
filósofos da natureza.
Na elaboração de sua obra, desde a Apologia até o Górgias e deste
até a República, Platão, teve necessariamente que se propor como plano ir
levando o homem de degrau até a vigia mais alta donde poderia abarcar,
enfim, todo o horizonte de sua filosofia.
“Se olharmos em conjunto esta obra” – afirma W. Jaeger – “e dela
subirmos até o seu início, iremos vê-la animada por uma idéia
fundamental, exposta sob forma de diálogo, que consiste em fazer com
que o leitor vá paulatinamente penetrando, cada vez mais, nas entranhas
da Filosofia, e se dê conta do entrecruzamento dos diversos problemas
entre si”.
OS MITOS E A DIALÉTICA
Para exprimir este além, Platão recorre aos mitos, onde sua
imaginação é pródiga: recita imagens que explicam o mundo do devenir
(futuro espiritual) pelas hipóteses veridicidas e as transporta às verdades
intemporais, tentando respeitar as proporções que fazem a armadura do
modelo ininteligível, em prolongamento ao raciocínio por um apelo ao
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sonho. Ele sente que são verdades que as imagens podem exprimir, para
tentar sugerir o inexaurível.
No sonho, quando o espírito rompe os freios das inibições que a
razão lhe impõe e no homem aparece o selvagem e o animalesco em lugar
do domesticado, descobre-se esta parte da natureza humana de que em
geral nem o próprio homem tem consciência. “Platão é o pai da
psicanálise” – sentencia W. Jaeger. E prossegue: “É o primeiro que
desmascara a monstruosidade do complexo de Édipo, a volúpia de se unir
sexualmente à própria mãe, como sendo parte do eu inconsciente, que ele
traz para luz por meio da investigação das experiências dos sonhos; e
apresenta ainda uma série de recalcados complexos de desejos análogo a
este, que vão até o comércio sexual dos Deuses”.
Platão tira, daí, a conclusão de que se deve estender a Paidéia a esta
vida psíquica inconsciente, para opor um dique à ameaça de irrupção
destes elementos subterrâneos no mundo harmônico das emoções e
aspirações conscientes da alma. O método que prescreve para dominar as
tendências negativas, baseia-se na psicologia das três partes da alma. Tem
por fundamento uma relação sã e comedida entre o Homem e o seu Eu.
Da descoberta platônica e das conexões existentes entre a vida dos
sonhos e os atos do homem desperto (estado de vigília), teria Aristóteles
ilações importantes para as suas investigações sobre os sonhos; mas, as
investigações aristotélicas têm mais um caráter de ciências naturais, ao
contrário daquelas de Platão, cuja psicologia do sonho se mantém
vinculada ao problema da educação. Antes de adormecer, o homem deve
estimular em a parte pensante do seu ser; deve servir-lhe uma ceia
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abundante de formosos pensamentos e reflexões, para que ela se concentre
e entre em si. Do mesmo modo deve-se apaziguar a parte irascível da
alma, para que o homem não vá dormir de ânimo excitado. A este
propósito importa que se tenham presentes as formas fundamentais do
movimento no thymos, que são a cólera e o entusiasmo. Por conseguinte,
o sono deve começar a derramar-se pelas duas partes inferiores da alma,
deixando-a ficar livre até o último instante, de modo a que os últimos
efeitos da sua ação apaziguadora continuem a se fazer sentir nas zonas
psíquicas inquietas, durante o período de completa inibição da
consciência, esta pedagogia do sono teve grande influência nos últimos
tempos da Antigüidade. Entre o neopitagóricos, por exemplo, foi ligada ao
labor diário da perscrutação da consciência.
A DIALÉTICA ESPÍRITA
Tudo quando existe, do átomo ao homem, segue uma trajetória que
se perde no infinito, observada tanto no passado como no porvir. Essa
trajetória, porém, tem uma linha progressiva ascendente. Isso quer dizer,
de conformidade com a dialética espírita, que todas as coisas e seres estão
em constante transformação, que não ocupam um determinado e prefixado
lugar, que marcham para estados melhores, estados que conquistarão no
tempo e no espaço. Basta observar-se as pronunciadas diferenças que a
História registra, no que se refere às plantas, aos animais e aos homens
para que se deduza rapidamente que as formas se vão sutilizando,
perdendo a casca e a rudeza primitivas, idealizando-se e seguindo sempre
para um fim superior que as orienta nesse processo formidável e eterno!
Os Espíritos, encarnados ou não, marcham, também, para a conquista de
planos cada vez melhores e, pela Lei Suprema, lutam constantemente para
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desenvolverem os germes divinos que aninham em sua essência imortal.
Conclui-se, daí, que a lei de causa e efeito aplicada ao progresso, não é
fatalista e nada tem que ver com “olho por olho, dente por dente”,
predicado no passado bíblico. É claro, é evidente que os seres trazem sua
herança espiritual e que pesa sobre eles um determinismo. Mas, também, é
certo que seres voltam para tomar formas, a fim de poderem conquistar
novos planos, num batalhar tremendo contra a ignorância, contra a dor e
contra todas as negações de misérias físicas e moral. Se as cadeias aqui
estão atadas às ações e reações se compusessem de argolas exatamente
iguais, constituídas de material grosseiro e rude, o processo de evolução
de energia estimuladora e progressiva. Se tivéssemos que ser vítimas que
fizemos em nosso passado é palingenésico, a Lei de Causalidade teria que
criar novos verdugos para o nosso castigo. Esses verdugos, por sua vez,
em futuro não muito remeto, teriam que ser vítimas de outros verdugo...e
assim por todo sempre! Tal encadeamento, porém, não condiz com a
lógica e, o que é mais grave, não se ajusta à lei do progresso. Não é
absolutamente necessário que o ato do Espírito origine outro ato análogo,
nem que cada situação social do passado exija condição oposta. É ridículo,
absurdo e sem mais elementar raciocínio, pensar-se que os pobres de hoje
são os ricos de ontem, que o ignorante é o sábio de outrora, que o feio
antes foi belo e que o inválido fez abusivo emprego de sua força física. A
evolução, ao contrário, faz com que cada ato repercuta especialmente no
foro íntimo de cada criatura, na consciência do indivíduo, onde se escreve,
indelevelmente, a Lei Divina. Quando o homem começa a compreender
essa realidade através da dor, filha direta da ignorância, abre-se a seus
passos dialeticamente, o caminho da sabedoria. E enquanto começa o
despertar de sua consciência, compreende que aquilo que realizou e fez no
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passado, que tudo quanto serviu, para prejudicar seus semelhantes, pode-
se transformar pelo Amor e pela Virtude; principia, assim, o seu
peregrinar pelas estradas da libertação.
Constituir-se-á, então, o homem em paladino das causas nobres e
justas; defende a cultura, estimula a vontade; trabalha e luta pelo
melhoramento das condições de vida de seu próximo; repele os crimes;
combate todas as formas de escravidão e edifica, dentro de si mesmo, uma
personalidade criadora, ao lado de uma moral dinâmica. Seus
pensamentos, destarte, despertaram para novas e cósmicas verdades!
REFLEXÃO SOBRE O PROBLEMA DO SER
Assim como aconteceu com o Espiritismo, o Darwinismo sofreu
acerbada refutações dos teólogos que acusavam Charles Darwin de
contrariar os sonhadores dispositivos bíblicos sobre a gênese humana,
sempre defendidos com unhas e dentes, e com fogueiras e torturas. Kardec
e Darwin afrontaram, com “O LIVRO DOS ESPÍRITOS” (1857) e
“SOBRE AS ORIGENS DAS ESPÉCIES” (1859), respectivamente, os
preconceitos e a própria ciência da época. Às teorias darwinianas,
relativamente à evolução dos seres vivos, de modo especial o homem,
falta-lhe o princípio espiritual, senhor e soberano dos elos perdidos. O
processo evolutivo das espécies e do homem na face da Terra não é, como
se pensa (e se prega) aleatório, quer dizer, não fica ao sabor do acaso. Há
uma Ordem, um planejamento, sustentado em leis universais perfeitas e
maravilhosamente definidas e direcionadas. Ademais, o “destino” não é
cruel, como se acredita; cruéis são os resultados de atitudes cruéis do
homem, atitudes que ferem, de frente, os ditames da Lei de Deus.
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Ninguém é graciosamente favorecido, nem por condições biológicas, nem,
tampouco, sociais. Não se é criado em palácios e favelas por simples
fatalismo. E o ser humano (se apregoa insensatamente) não é produto do
jogo fortuito de reações específicas aos acasos da existência, na base da
herança genética combinada com as influências do meio. A vida não é
uma dialética moral entre o Eu e que Ortega Y Gasset denominava minhas
circunstâncias”. A vida é mais do que sonha a vã filosofia dos
fisiologistas. E se desiguais são os homens, as famílias, os povos, as raças,
todos são porque assim determina as aptidões e os caracteres morais e
intelectuais, cultivadas e identificadas através de vidas sucessivas. Das
desigualdades não nascem tão somente as injuções que levam ao domínio
e ao poder, ou à miséria e a escravidão; das desigualdades nascem a
competitividade, a expectação diante da vida, a íntima e anímica aspiração
de se ascender levando o homem a negar o “sentido trágico da existência”,
segundo as concepções de ilustre fisiólogo francês do século XVIII
(Bichat). Quando simploriamente definiu a vida como um conjunto de
funções que resistem à morte, mas a ela capitulam, inevitavelmente, o que
inspiraria, neste particular, Martin Heidegger, para quem o homem é um
ser para-a-morte. Na verdade, o ser sobre a Terra, a velha Terra de tantas e
tremendas hecatombes morais, gira em torno do que os gregos chamavam,
inspiradoramente, de pleosnescia: mais poder, maior número de bens,
maiores prazeres. E o homem cai no que os próprios escolásticos
chamaram de “concuspiscentia inordatia” que se divide “apetitus
irascibilis” (exaltado por Nietzche). Mas, e negando o filósofo do “Ser e o
Tempo”, no final da batalha sairemos vencedores, derrotando a morte e as
paixões...
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17
O homem deve libertar-se das influências materiais hereditárias,
familiares e raciais, que traz em suas origens orgânicas, a fim de se
empenhar inteiramente na aventura espiritual em que se põe em jogo o
destino do mundo”, E finaliza: “Todo o processo real se deve processar no
plano do espírito. E por um constante esforço de penetração e de
amplificação interior que o homem cumpre o seu destino e participa, ao
mesmo tempo, da obra universal... A moral da necessidade e do interesse
pessoal que se alimenta nas mesmas fontes da atividade animal é incapaz
de satisfazer aquele que penetrou o sentido e o valor do trabalho humano.
O homem deve labutar na obra coletiva, que o integra no
desenvolvimento universal; e é numa entrega total de si mesmo e numa
obrigação sem reserva que deve esgotar a força, a confiança e alegria. Por
seu turno, Lincoln Barnett, autor da obra “Einstein e o universo” após
evidenciar as concepções revolucionárias da física relativista, mostra
como o conhecimento científico é limitado pelo fato de o Espírito humano
acabar por se descobrir a si mesmo no Universo que explora. A verdade é
que na evolução do pensamento científico um fato se tornou infinitamente
claro: não há mistérios do mundo físico que não conduza ao mistério de
nós mesmos. Todas as grandes vias da inteligência, todos os resumos da
teoria e das conjunturas conduzem finalmente a um abismo que a natureza
não pode franquear. Porque o homem está preso ao seu ser pela sua
finalidade e ligado à natureza. Quanto mais alarga os horizontes, mais
reconhece que – no dizer do físico Niels Bohr – “somos ao mesmo tempo
espectadores e autores no drama monumental da existência “. Ou como
bem disse Benedetto Croce: “O espelho d’água que reflete a paisagem faz
parte da paisagem”.
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Entre os progressos da física e da biologia, as investigações
parapsicológicas dão importante contribuição a esta orientação
espiritualista do pensamento contemporâneo, que se vai tirando do
conhecimento científico em elevado ideal moral e social.
O CARÁTER EVOLUCIONISTA DA FILOSOFIA ESPÍRITA
Segundo Dante Morando (in: “Pedagogia”), citado pelo educador
espírita Ney Lobo (in: “Filosofia Espírita da Educação”, Vol. 1 pág. 50,
Ed. FEB), “uma filosofia que em última análise, não serve para o
melhoramento do homem, é não só inútil e abstrata, senão falsa”.
Acrescenta, à concepção o pedagogo espanhol, que a filosofia objetiva dá
às pessoas a noção dos fins últimos das coisas, não apenas para torná-las
sábia, mas sobretudo para fazê-la melhor. O Professor Herculano Pires vai
até mais longe, afirmando que o Espiritismo, mediante a sua filosofia,
promove a “renovação integral do homem, não apenas do homem na sua
expressão individual e transitória, mas na sua permanente expressão
coletiva” (in: Introdução a obra “Dialética e Metapsíquica” de Humberto
Mariotti.
Na verdade, a filosofia espírita é essencialmente revolucionária,
transformista por excelência, uma autêntica filosofia da ação. Uma
filosofia, sem embargo, evolutiva, que aclama por seu desenvolvimento e
adaptação aos novos tempos. Deve-se observar, contudo, que tal filosofia
nada tem de utópico, contemplativo ou sonhador. Prática por excelência,
ela é a filosofia da INQUIETAÇÃO que nos incita à eterna conquista do
melhor; da LUTA, que esteia no trabalho consciente e nos impede a
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construir; do DINAMISMO, que, por sua vez, impede-nos de estacionar,
proíbe-nos o descanso improdutivo e o devaneio estéril.
André Moreil (“La Vies es l’Oeuvre d’Allan Kardec”, Editions
Sperar, Paris – 1961 – “A Vida e Obra de Allan Kardec”, Editora Edicel,
1966, pág. 130), faz a seguinte pergunta, após tecer algumas
considerações sobre a Filosofia Espírita: “É possível classificar esta
filosofia entre as doutrinas..............
“Sabemos que, para Platão, o nosso mundo é a cópia do mundo
invisível das idéias puras. Este confronto entre a perfeição e o mundo
sublunar é idêntico nas duas filosofias (a espírita e a platônica); mas é
tudo; aí termina a semelhança. Com efeito, as idéias platônicas não tem
individualmente; na medida em que são gerais e que fecundam casos
particulares são essenciais. (...) Ao contrário, os Espíritos são as almas dos
seres que já tiveram existência própria. Além disso, conserva a sua
individualidade. Compreende-se, então, porque o idealismo espírita não é,
realmente, um idealismo próprio, ou melhor, a sua vida particular. (...)
Entre os dois mundos, existe penetração efetiva e não relação...platônica.
Em outras palavras, o mundo puro dos Espíritos não está separado do
mundo corporal e visível. Não há, pois, dicotomia, nem ruptura ou fosso
intransponível. (...)Para o Espiritismo, o mundo do Espírito é, portanto,
um só: o visível é a sua face encarnada, o invisível o reverso
desencarnado.” (...)
Enquanto isso, Humberto Mariotti lembra que a Filosofia Espírita é
revolucionista, porque admite a transformação nos aspectos essenciais do
Se, encarnado a ligação existente entre todas as coisas.
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Mas, como realiza o Espiritismo essa ligação?
Realiza-se ao demonstrar a união que existe entre três reinos da
Natureza, pois sabemos que, no visível, o Ser essencial parte do mineral,
que depois se instala no vegetal e, ao desempenhar o processo necessário,
a Essência passa ao reino animal e deste ao hominal. Daí deverá passar ao
espiritual. Eis aí o caráter dialético do Espiritismo.
O Espiritismo Dialético é obra do pensador argentino Manuel S.
Porteiro. A sua concepção dinâmica dos seres e das coisas permitiu-lhe
entrever que tudo se acha em movimento e em permanente transformação.
Afastou-se desse Espiritismo narrativo de fatos repetidos e compreendeu
como Kardec que, em vez de fenômeno, devia utilizar, antologicamente
falando, o fenômeno da mediunidade. Verificou que o Espiritismo é uma
ciência espiritual que determina uma ciência social. Quer dizer:
compreendeu que o Espiritismo, além de ser um fenômeno científico, é
uma nova interpretação do homem e seu destino e ético relacionado com
processo social e histórico da Humanidade.
À semelhança de Kardec, M. S. Porteiro pensou no homem como
Espírito que encarna e desencarna e se instala na Sociedade para
transformar através de seu progresso e evolução, compreendendo
igualmente que o espiritismo extrai o Espírito do fundo dos seres e das
coisas, como viva realidade que, mediante a sua evolução paligenésica,
movimenta a História, dando ao processo verdadeira intencionalidade
teológica.
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O autor de “Espiritismo Dialético” viu que as coisas estão ligadas
entre si por lei de causalidade e que nada ocorre na Sociedade e na
Natureza sem determinação por número espiritual. Advertindo assim que
tudo está sujeito a movimento incessante e criador e que os próprios
Espíritos encarnados agem ligados causalmente com os homens e demais
seres e coisas.
A sua concepção dialética encontra-se firmada, com precisão
filosófica, na obra “Espiritismo Dialético”, editada em Buenos Aires, no
dia 25 de agosto de 1936. “Neste livro – afirma Humberto Mariotti –
“Porteiro coloca a Filosofia Espírita nos mais elevados planos ideológicos
da cultura no mundo moderno, o que chamou a atenção de quem se
arriscou a considerar o espiritismo “filosofia primária” baseada em larvas
e cascões astrais e, na ordem sociológica, uma superstição de
conseqüências patológicas”. E conclui o autor de “Parapsicologia Y
Materialismo Histórico”: “Todos estes conceitos ruíram ante essa obra,
infelizmente pouco conhecida”.
Neste livro se põem em confronto o materialismo dialético e
histórico e o espiritualismo espírita e palingenésico. Mas, as duas grandes
realidades do Universo – Matéria e espírito, irreconciliáveis até pouco,
harmonizam-se ali, considerando que os dois elementos se sintetizam,
dando conhecimento integral do homem e da história.
O processo das idades em sua fase histórica e espiritual é analisado
pelo pensador argentino de acordo com a concepção Kardecista, para
encontrar numa filosofia social criadora e humanista. Isto demonstra que o
conteúdo da Doutrina Espírita está na própria essência da Natureza, razão
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porque o destino histórico não poderá ser desvirtuado pelos que ainda
sentem preconceitos a respeito do Espiritismo.
O pensamento dialético do Espiritismo não admite a imobilidade
nem a estática na vida do Espírito e dos povos e considera que tudo está
em movimento e em marcha para novos estádios morais e sociais. Para o
Espiritismo Dialético, o homem é um ser que se transforma
continuamente, ampliando a compreensão de tudo que o rodeia e elevando
a consciência às mais puras esferas do Universo. “De grau em grau –
afirma M. S. Porteiro – e sem nunca retroceder, o Espírito, encarnado e
desencarnado através de incessante dialética palingenésica, avança para
novas situações sem se deter definitivamente em ponto algum do
progresso”.
Dir-se-ia, porém, que o conceito dialético do Espiritismo é inovação
doutrinária, o que é verdadeiro. O analista espírita utiliza-se do método
dialético (não se deve esquecer que a dialética é apenas um método) para
encarar os grandes temas do Espiritismo com a precisão exigida pelo
Mundo Moderno. Entretanto, é necessário reconhecer que esse método
está contido na Filosofia Espírita desde a publicação (em Paris) de “O
Livro dos Espíritos”. Diria, a propósito o próprio M. S. Porteiro:
Não é, como se poderia supor, uma inovação sistemática,
fundamental, da Filosofia espírita: é a própria doutrina tratada
dialeticamente à luz da ciência moderna e em concordância com os
fenômenos da natureza e da vida e muito especialmente com os da
psicologia e da história”.
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AS TESES E A FILOSOFIA DE GUSTAVE GELEY
Em sua obra “Do Consciente ao Inconsciente”, Gustave Geley
elabora uma crítica geral do conhecimento (e dos sistemas naturais),
incursionando na área dos problemas maiores do Ser. Termina por
estabelecer uma tese admirável sobre o espírito e a Existência.
É um trabalho de cunho científico-filosófico que se inicia com uma
crítica ao pensamento de Schopenhauer, que teve o mérito de estabelecer
um adequado relacionamento entre a filosofia e os fatos, no momento em
que reconhece “O Mundo como Vontade e Representação” (sua obra-
prima), ao tempo em que faz uma arguta análise do pessimismo do notável
pensador alemão. Sobre o indivíduo e a evolução, escreveu: “(...) só
enfrentaremos o que é possível saber e compreender sobre o destino do
mundo e sobre o destino individual (...)”. Geley tentava evitar “todas as
vãs discussões especulativas, os sistemas contraditórios, onde têm
naufragado, umas após outras, as mais preclaras inteligências (...)”.
Eis em síntese, os dois princípios fundamentais da filosofia,
firmando a obra supracitada:
- O que há de essencial no Universo e no indivíduo é
dinamopsiquismo único, a princípio inconsciente, mas tendo em si todas
as potencialidades. As aparências diversas e inumeráveis das coisas são
apenas as suas representações (idioplastia).
- O dinamopsiquismo essência e criador passa, pela evolução, do
inconsciente ao consciente.
Adiante acrescenta:
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“No indivíduo, o ser aparente, submetido ao nascimento e à mote,
limitados em suas capacidades, efêmero em sua duração, não é o ser real;
não é senão uma representação ilusória, atenuada e fragmentária.
O Ser real, aprendendo pouco a pouco a conhecer-se a si mesmo e a
conhecer o Universo, é a centelha divina a caminho de realizar a sua
divindade, infinita em suas potencialidades, criadora e eterna”.
Finalmente, Humberto Mariotti, ao comentar o magnífico trabalho
de raciocínio de Geley, lamenta:
“O que nos parece estranho e incompreensível é a cultura filosófica
continuar ignorando a teoria do dinamopsiquismo, exposta sobre bases
experimentais por Gustave Geley, em seu livro “Do Inconsciente ao
Consciente”. Esta obra, que deveria ser o fundamento da nova filosofia
idealista, permanece quase esquecida ao lado do “Tratado de
Metapsíquica” de Charles Richet”.
A REPULSA AO ETERNO
Humberto Mariotti fala, em sua obra já citada, no Homem
Impotente, fruto da cultura filosófica, que não foi capaz, ao longo do
tempo, de identificar no ser humano as suas origens pré-universais e
preexistenciais. Pregou-se (e ainda vem se pregando) o “aparecimento” de
um indivíduo, que teve origem nonada, ignorando-se que o ser é criado
“simples e ignorante” que se encarna na realidade material objetivando o
despertar de suas imanentes potencialidades espirituais. O “homem que
morre”, extraordinária expressão de Mariotti, por sua efêmera, jamais
poderia concretizar os ideais de infinitude do ser espiritual, eterno e
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sempre direcionado para o futuro. O “homem que morre” é aquele de que
tratam as doutrinas materialistas, que escoriaram da face da Terra o ser
eterno e responsável perante a sua consciência em face da lei natural. O
“homem que morre” é justamente aquele que esgota, inexorável, na
solidão tenebrosa do túmulo, sem quaisquer perspectivas de o ultrapassar
e projetar-se na dimensão cósmica. Diria, a propósito Humberto Mariotti:
“O homem finito, com seus afetos e aspirações, resultará em tragédia e
fatalidade”.
A repulsa ao eterno preconizada pelo niilismo seria, a nosso ver, o
medo de o homem assumir pessoal responsabilidade diante dos
ordenamentos da lei natural. É, diríamos, uma espécie de fuga, que lhe
parece estratégica. Na verdade, terá ele de assumir as repercussões dos
atos praticados (geralmente violadores da harmonia universal),
compulsoriamente. Não se trata do olho por olho, mas de um processo em
que se destacam a responsabilidade e o respeito ao direito de outrem. A
lei, no caso, tem, realmente, um caráter pedagógico, levando o Espírito a
concretizar-se de sua realidade ontológica, ainda que se situe em um plano
considerado inferior (quando reencarnado) e em uma dimensão
compatível com o seu estado moral (quando desencarnado).
O idealismo filosófico de Geley não significa fuga da realidade;
pelo contrário, significa compreensão do real como idealidade, o que
eqüivale a dizer como realidade do Espírito. Temos, em primeiro plano, o
idealismo psicológico ou “conscienciológico”, que consiste em dizer que a
realidade é cognoscível se, e enquanto, se projeta no âmbito da
consciência, revelando-a como momento ou conteúdo em nossa vida
interior. É provavelmente nesse sentido eu se poderia interpretar o
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aforismo de George Berkeley (“Tretise Concerning the Principles of
Human Knowledge”): ser é ser percebido.
ENERGIA E CONSCIÊNCIA
Para grande número de homens de ciência e de filósofos existe um
laço entre a energia e a consciência. “A consciência” – afirma Kostyleff –
“é uma parte da energia tal como se manifesta no mundo vivente, no
homem”. Henri Berr diz que “a energia em si é, em menor grau, o que o
Eu encontra em si mesmo: a tendência a existir, a existir o mais possível”.
Esta profunda modificação das idéias atingiu, também, a Biologia:
conhece-se a repercussão mundial da obra “O Homem e o seu Destino “,
do biologista Pierre Leconte du Noüy, que vê na evolução qualquer coisa
mais do simples jogo das forças físico-químicas e do acaso, isto é, a
manifestação de uma idéia, de um Querer Supremo. Numa obra intitulada
“O Dinamismo Ascensional”, outro biologista – Gustave Mercier –
desenvolveu uma concepção Segunda a qual a Vida e o Espírito estão
presentes no Universo, que a evolução faz progredir, elemento por
elemento, do reino do determinismo ao reino da liberdade. Eis alguns
pensamentos deste biologista-filósofo: “A criação está sempre em marcha,
mesmo quantitativamente. O Universo desenvolveu-se em si mesmo pelo
seu esforço, englobando os esforços e o trabalho de todas as partes
individuais. Aquilo a que chamamos vida, deriva da organização que não
tem limite inferior. O átomo é organizado, porque é vivo. Nenhuma
cortina de ferro separa o mundo mineral do mundo orgânico”. E conclui:
“A consciência marca o acesso a um estádio superior – o da
Espiritualidade – que se define biologicamente como conquista do tempo
e do espaço, um domínio próprio conducente ao domínio de grande parte
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do Universo e a libertação progressiva da servidão material”. Existe,
efetivamente, identidade natural entre a energia e a espiritualidade humana
e esta permite a progressão e a possessão, em consciência, dos planos que
servem de base ao Universo. E arremata Gustave Mercier: “O Universo
contêm em si próprio a sua razão suficiente e a sua justificação. É o
mesmo que o homem que, doravante, constitui uma peça essencial e que,
pelo desenvolvimento da espiritualidade, deve elevar-se à Fonte Suprema
que acaba de enriquecer com seu esforço”. Enquanto isso, Albert Vandel,
professor de zoologia na Faculdade de Ciências de Toulose, França, na
sua obra “O Homem e a Evolução”, exprime nitidamente a idéia filosófica
fundamental que tende a libertar-se da ciência contemporânea: “Se a
evolução é, antes de mais nada, desenvolvimento do Espírito, emergência
da consciência fora da matéria e do orgânico; se o pensamento é o modo
superior do Ser, como a energia é a forma nobre da matéria, o sentido da
vocação espiritual do homem não apresenta dúvidas.
O CAMPO MAGNÉTICO E A VIDA
O CAMPO MAGNÉTICO
Acreditamos que a maioria dos leitores saiba o que vem a ser um
campo magnético. Pelo menos é raro encontrar-se alguém que ainda não
tenha presenciado um fenômeno produzido pelo campo magnético; por
exemplo: a agulha de uma bússola que teima em apontar para os pólos
Norte e Sul da Terra. A bússola revela que nos achamos, desde que
nascemos, mergulhados em um campo magnético, entretanto, nem
percebemos tal situação. Cosncientizamo-nos desse fato quando
observamos o comportamento da agulha. Esse fenômeno ensina-nos,
também, que nem sempre percebemos um dado tipo de campo, embora ele
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seja uma realidade. Assim, o fato de estarmos mergulhados em um campo
magnético logo nos é revelado quando dispomos de uma bússola. Poderá
ocorrer que sintamos a influência de um campo, sem que necessitemos do
auxílio de um aparelho especial. Por exemplo, notamos a ação do campo
gravitacional da Terra, embora a agulha de uma bússola se mantenha
sensível a esse campo. Esse fato revela-nos uma questão muito
importante: os campos exigem meios adequados para detectá-los. Assim,
um aparelho como a bússola detecta muito bem o campo magnético, mas
fica indiferente ao campo gravitacional e ao campo elétrico também vice-
versa, um voltímetro que registra o campo elétrico é insensível ao
magnético e ao gravitacional.
Será que o fato de não percebemos um dado tipo de campo significa
que sejamos totalmente imunes à ação do mesmo? Por exemplo, teria o
campo magnético alguma influência sobre um ser vivo (nosso caso)?
Houve uma época em que se acreditava que o ímã (campo magnético)
possuísse propriedades curativas. O famoso médico e alquimista Auroelus
Phillipus Theophrastus Paracelsus Bombast Von Hohenheim (1499-1541),
mais conhecido pelo cognome de Paracelso, afirmava:
“Sustento clara e categoricamente, fundamentando-me no que a
experiência me tem revelado, que o ímã guarda um altíssimo segredo que,
enquanto permanecer desconhecido, nos impossibilitará toda a ação sobre
muitas enfermidades”.
O ímã, segundo Paracelso, seria uma verdadeira Panacéia. Curaria
praticamente todas as moléstias, as mais variadas e conhecidas em sua
época, tais como: “O fluxo dos olhos, dos ouvidos, do nariz e das
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articulações externas; por este mesmo método curam-se as úlceras, as
fístulas, o câncer e os fluxos menstruais, etc.”.
Sem embargo de tais afirmativas de Paracelso serem passíveis da
desaprovação da medicina atual, elas eram aceitas naquelas épocas pelos
seus numerosos seguidores, mais ainda, os médicos de então aplicavam o
ímã, com sucesso, na cura das moléstias indicadas por Paracelso!
Foi exatamente um caso de cura de dores do estômago crônicas de
uma senhora, e resistentes aos tratamentos convencionais, que levou Franz
Anton Mesmer (1734-1815) a interessar-se por aquele processo
terapêutico. Após algum tempo de observação, Mesmer chegou à
conclusão de que não era o magnetismo do ímã, a causa das curas obtidas
pela sua aplicação e sim outra espécie de “magnetismo”. Segundo
Mesmer, era o Magnetismo Animal, a partir de 1776 Mesmer declarou-se
contrário à teoria de Paracelso acerca das virtudes curativas atribuídas ao
ímã. Ele conclui que o poder curativo devia-se a outro tipo de
magnetismo, que não o físico produzido pelo ímã. Mesmer admitiu que
havia, na realidade, um magnetismo animal produzido pelo terapeuta. Era
esse “fluido vital” que produzia a cura das enfermidades, afirmativa a ele.
Apoiado nessa hipótese, Mesmer efetuou também curas espetaculares!
Veremos, a seguir, que Mesmer estava correto ao considerar a
inutilidade do ímã na cura das moléstias. Entretanto, não estamos
afirmando, com isso, que as teorias de Mesmer são absolutamente certas.
Tal questão foge à diretriz deste modesto trabalho.
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OS FORTES CAMPOS MAGNÉTICOS AGEM SOBRE OS MEIOS BIOLÓGICOS.
Os ímãs usados por Paracelso e seus seguidores, portanto
disponíveis naquela época, eram portadores de campo magnético muito
fraco. Eram obtidos de um minério de ferro, a magnetita (óxido magnético
de ferro).
Atualmente, pode dispor-se de campos magnéticos estáticos de
grande intensidade, produzidos artificialmente por bobinas alimentadas
por corrente elétrica. Além disso, existem ligas ferromagnéticas capazes
de armazenar campos magnéticos estáticos, com as quais se fabricam
superímãs de cerâmica, alnico, samário-cobalto e neodímio-ferro-boro.
Esses ímãs chegam a alcançar campos remanescentes da ordem de 8.000 a
12.000 Gaus; centenas de vezes superiores aos ímãs disponíveis no tempo
de Paracelso e Mesmer.
As pesquisas mais recentes, feitas com o campo magnético estágio
de alta intensidade, revelaram que este campo inibe o desenvolvimento
dos meios biológicos! O campo chega a ser letal para certos seres vivos!
Vamos exemplificar:
Em 1948, na Universidade de Budapeste, o Dr. Jeno M. Barnothy
levou a efeito uma interessante experiência com ratos submetidos a forte
campo magnético estático. Dois grupos de ratos, de uma mesma ninhada
de seis, foram selecionados para uma experiência em campo magnético
estático de =~5.900 Oresteds (gradiente médio de 100 OE/cm). Cada
grupo consistiu em um rato macho e duas fêmeas. Ambos as grupos foram
alojados em caixas especiais, idênticas, dotadas de ventilação e demais
acessórios para garantir água, alimentação, higiene e conforto.
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Um desses dois grupos foi colocado entre os pólos de um eletroímã.
O outro foi situado em idênticas condições entre os pólos de outro
eletroímã igual, mas que iria manter-se desativado. Os ratos permanecem
confinados quatro dias antes de um dos magnetos ser ativado, a fim de
ensejar o necessário acasalamento. Após essa fase preparatória, um dos
eletroímãs foi ativado. Diariamente, ao meio dia, os ratos de ambos os
grupos eram pesados, a fim de verificar-se o desenvolvimento dos
mesmos e as eventuais alterações que poderiam ter sido provocadas nos
que se encontravam sob a ação do Campo Magnético Estático. Verificou-
se que o Campo Magnético Estático retardou o desenvolvimento dos ratos
a ele submetidos. Tal diferença entre os dois grupos mostrou-se mais
acentuada a partir do quinto dia. Daí em diante, o desenvolvimento dos
ratos submetidos ao Campo Magnético tronou-se significativamente
menor; uma das fêmeas não aumentou praticamente de peso durante as
três semanas subsequentes sob a ação do campo. O macho começou a
perder peso no décimo primeiro dia e morreu logo depois.
É importante assinalar que esse “efeito letal” nos ratos machos foi
também observado em outras experiências semelhantes. Ainda sem uma
explicação, tal fenômeno necessita de mais estudos.
As ratas fêmeas não mostraram nenhum sintoma que sugerisse
outros efeitos adversos. Após quatro semanas de permanência sob a ação
do campo, elas não haviam, até então, dado cria! Uma vez livres da ação
do Campo, foram acasaladas novamente e engravidaram normalmente,
dando nascimento a descendentes perfeitos após vinte dias, período
normal de gestação desses roedores. Tal efeito sugere que o Campo
Magnético Estático apenas inibiu o desenvolvimento do embrião que
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poderia ter resultado do primeiro acasalamento. A fertilidade das ratas não
foi alterada, pois elas engravidaram quando acasaladas após haver cessado
a exposição ao Campo.
O pesquisador, Dr. Jeno M. Barnothy considerou que, sem dúvida,
há muitos fatores que poderiam ter ocasionado o não desenvolvimento dos
ratos. É admissível que o Campo Magnético houvesse provocado um ou
outro desses fatores. “Todavia, não deve ser excluído que o Campo
Magnético possa retardar as atividades mitóticas1 em geral”, afirma ele.
A partir de 1948, o Dr. J. M. Barnothy levou a efeito outras
experiências, a fim de verificar a influência do Campo Magnético Estático
no desenvolvimento de embriões no útero de ratas, bem como sobre o
crescimento de tumores implantados e espontâneos em ratos. Tais
observações, justamente com o efeito do Campo sobre a formação do
sangue, apoiam a suposição de que o Campo magnético Estático retardam
as atividades mitóticas em geral. (Barnothy, 1964, pp.93-99).
PRINCIPAIS EFEITOS PRODUZIDOS PELO CAMPO MAGNÉTICO ESTÁTICO
A lista dos efeitos observáveis, que o Campo Magnético Estático
pode produzir em seres vivos , é bastante ampla. Limitar-nos-emos a
enumerar os que mais nos chamaram a atenção. São rejeição de tumores
implantados; alterações hematológicas; retardamento na cura de
ferimentos e na regeneração de tecidos; efeitos sobre o sistema nervoso
central; queda da temperatura corporal; desaparecimento do ciclo do
impulso reprodutor; reabsorção de embriões no útero; decréscimo na
1 Mitóticas – de mitose = divisão celular, na qual o núcleo forma cromossomo e estes se bipartem, produzindo dois núcleos filhos com o mesmo patrimônio genético original.
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respiração dos tecidos; inibição de culturas bactéricas durante sua fase
estacionária máxima e alterações patológicas no fígado”. (Barnothy, 1964,
p.18).
As explicações para esses efeitos, em sua grande maioria inibitórios
em relação ao desenvolvimento dos meios biológicos, podem ser variadas.
Algumas delas, as mais imediatas, basear-se-iam na possível alteração de
algumas propriedades físico-químicas das substâncias orgânicas.
A primeira substância em que se pensa, quando se observa o
fenômeno do retardamento provocado pelo Campo Magnético, no
processo de desenvolvimento de alguns vivos como os ratos, é a tripsina.
Essa substância é encontrada no suco pancreático e é fator muito
importante na nutrição dos animais. A tripsina é uma enzima catalisadora
da hidrólise das proteínas, facilitando o desdobramento dessas substâncias
em peptinas, polipeptídeos e, finalmente, em aminoácidos. Desse modo, as
proteínas ingeridas nos alimentos conseguem ser aproveitadas pelos
animais, pois esses somente podem absorver os produtos resultantes da
digestão das moléculas protéicas, garças à tripsina presente no suco
gástrico. As proteínas são moléculas muito grandes e, por isso, não
caberiam nos finíssimos canais das vilosidades intestinais. As moléculas
dos aminoácidos são pequenas e conseguem passar por aqueles
canalículos. Se faltar tripsina no suco gástrico, o animal come proteínas,
mas não consegue digeri-las e assimilá-las, advindo daí a redução no seu
desenvolvimento e até mesmo a morte por desnutrição.
Será que o campo Magnético Estático teria alguma influência sobre
a tripsina? Se fosse esse o caso, teríamos explicado a ação inibidora do
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crescimento dos ratos e vários outros processos dependentes da nutrição e
assimilação das substâncias protéicas. Naturalmente não se explicariam
outros fenômenos como a reabsorção de embriões no útero, a rejeição de
tumores implantados, o retardamento na cura dos ferimentos e
regeneração dos tecidos; os efeitos sobre o sistema nervoso central; a
queda de temperatura corporal etc. Entretanto, talvez a ação muito
prolongada da desnutrição protéica pudesse provocar alguns dos distúrbios
enunciados. Mas, experiências feitas com o objetivo de verificar a ação do
Campo magnético Estático sobre a tripsina mostraram que, pelo contrário,
o campo magnético ajuda a ativar e mesmo restabelecer as propriedades
proteolíticas daquela enzima! (Cook e Smith, 1964, pp.246-256). Logo, os
seres vivos submetidos à ação de fortes Campos Magnéticos deveriam, ao
contrário, sofrer um estímulo em seu desenvolvimento. No entanto,
observa-se exatamente o contrário. Qual seria a causa, ou causas, dessa
ação inibidora dos processos biológicos provocada pela exposição a um
forte Campo Magnético Estático? Talvez devêssemos procurar
explicações baseadas em outros princípios que não os físico-químicos
apenas.
O fato de registrar-se casos de inibição no desenvolvimento de
embriões, até mesmo, a reabsorção de embriões no útero de ratas,
retardamento no crescimento de ratos jovens, rejeição de tumores
implantados, bem como atraso na cicatrização de ferimentos e outros
processos dependentes de multiplicação celular, faz-nos pensar na
possibilidade de interferência do Campo Magnético sobre outro tipo já
suspeitado de Campo Biológico implicado na morfogênese e manutenção
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35
dos seres vivos. (Burr, 1972; Andrade, 1958, 1984, 1986; Sheldrake,
1981, 1988, 1991).
O HIPOTÉTICO CAMPO DA VIDA
Em meio à imensa variedade dos fenômenos naturais, a vida se
destaca como o mais estranho e singular. Enquanto a tendência dos
processos físicos e químicos é, da desorganização progressiva, do
crescente desnível energético, da marcha para os estados mais prováveis, a
vida surge como uma corrente oposta a essa meta universal! A vida tende
para a organização crescente, para a evolução constante em busca do
aperfeiçoamento em todos os sentidos, inclusive demandando alcançar o
controle das leis que governam a matéria!
Em resumo, a vida é antientrópica e, com isso, ela contraria o
segundo princípio da termodinâmica, que é uma lei universal.
Para explicar o surgimento da vida em nosso planeta, sem lançar
mão de idéias religiosas criacionistas, os pensadores imaginaram várias
teorias. Tais teorias podem dividir-se em duas grandes categorias, as
mecanicistas e as vitalistas.
As primeiras, as mecanicistas, admitem que a própria matéria
orgânica, após atingir um determinado estágio de complexidade e devido a
fatores ainda desconhecidos, mas exclusivamente materiais, alcançou o
nível biológico e prosseguiu daí em sua marcha ascensional de
aperfeiçoamento, garças á seleção natural.
As hipóteses vitalistas consideram, também, como imprescindível o
estágio orgânico complexo da substância a ser vitalizada, mas não aceitam
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a possibilidade da passagem espontânea do estado da matéria inerte para o
de matéria viva. Os vitalistas supõem que essa transição só é possível
mediante a intervenção de um princípio animador capaz de vivificar a
matéria orgânica já em condições de recebê-lo e alojá-lo. Esse fator
vitalizador seria o único de subtrair o composto orgânico à fatalidade
entrópica devida ao segundo princípio da termodinâmica. Unida ao
referido fator, a matéria inerte passaria ao estágio biológico e continuaria
daí por diante em evolução constante graças ao mesmo fator auxiliado
pela seleção natural.
Os vitalistas mais antigos supunham que referido fator seria uma
espécie de ar que penetrava no organismo a ser vivificado. No Gênese, II-
7, lê-se que o criador, após haver formado o primeiro homem, soprou-lhe
nas narinas o fôlego da vida e tornou-o um ser vivente. Com o evoluir da
ciência, os vitalistas foram definindo melhor a sua concepção acerca do
princípio vitalizador. Ultimamente, os mais modernos atribuem a um
Campo Morfogenético o fator capaz de dar partida aos processos
biológicos. Inicialmente pouco precisa, a descrição do princípio
vitalizador passou a assumir maior coerência e clareza, graças aos
trabalhos de Harold Saxton Burr e seus colegas (Burr, 1957, 1972) e às
idéias de Rupert Sheldrake (Sheldrake, 1981, 9188, 1991).
A tendência, atualmente, é para atribuir-se a um Campo de forças o
processo de vitalização da matéria orgânica. Naturalmente, o mecanismo
desse processo é mais complexo do que possa imaginar simplesmente em
termos de nossa física corrente. O citado Campo seria também
responsável pela organização da forma do ser vivo. Daí a denominação
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dada por Sheldrake: Campo Morfogenético. A atuação desse Campo far-
se-ia mediante uma ressonância mórfica. (Sheldrake, 1991, pp. 115-118).
Experiências mais recentes, levadas a efeito no instituto brasileiro
de pesquisas psicobiofísicas – IBPP, parecem dar apoio às idéias vitalistas.
Especialmente às teorias de Harold Saxton Burr e de Rupert Sheldrake,
particularmente desse último. Entretanto, a hipótese de trabalho adotada
pela equipe do IBPP implica a aceitação da tese espírita, que admite a
sobrevivência do espírito. (Andrade, 1958, 1994 e 1986).
Andrade reconhece que, a inclusão das idéias espíritas em sua
teoria, torna-a dificilmente aceitável pela atual mentalidade científica.
Todavia, a hipótese espírita está tendo cada vez maior apoio nos fatos.
Não nos referimos à abundante fenomenologia que surgiu nos séculos
XVII e XIX, cujos resultados foram desprezados, em sua maioria, sob a
alegação de fraude ou inconsistência do método experimental. Apontamos
as modernas observações de casos de experiências de quase morte (EQM),
as visões em leito de morte (VLM), as experiências fora do corpo (EFC),
os casos que sugerem reencarnação (CSR) e as experiências de
transcomunicação instrumental (TCI) como as mais recentes evidências a
favor da existência e sobrevivência do espírito após a morte do corpo
físico. Pensamos que o establishment científico terá de mudar a sua
posição neste sentido, no século que se avizinha. A essas evidências
acrescentar-se-iam os resultados das experiências laboratoriais da equipe
do IBPP, acerca do Campo Biomagnético. Tais experiências foram
inicialmente realizadas em São Paulo no ano de 1967 e pouco depois
interrompidas, após promissores resultados.
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Em junho de 1995, as pesquisas a respeito do Campo Biomagnético
foram retomadas no laboratório do IBPP, então em sua nova sede na
cidade de Bauru, SP> Novos aparelhos e nova equipe foram empregados
nessa Segunda fase de investigações do hipotético Campo da Vida. Sem
querer dar como definitiva a descoberta desse novo tipo de Campo,
queremos informar que há grandes probabilidades de que tal fato tenha
ocorrido.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, H. G.: (1958) – A Teoria Corpuscular do Espírito. São
Paulo: Edição do Autor.
__________________(1984) – Espírito e Alma. São Paulo:
Pensamento.
__________________(1986) – Psi Quântico. São Paulo.
BARNOTHY, Madeleine F.: (1964) – Biological Effects of
Magnetic Fields. New York: Plenum Press.
BURR, H. S.: (1957) – The Electrodynamic Theory of Life. Yale
Journal of Biology and Medicine. Vol.30, nº3.
_____________(1972) – Blueprint for Immortality. London:
Neville Spearman.
COOK, Elton S.; SMITH, M. Justa, O.S.F.: (1964) – Increase of
Activity, in Biological Effects of Magnetic Fields. New York: Plenum
Press.
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39
SHELDRAKE, Rupert: (1981) – A New Science of Life. Los
Angeles: J. P. Tar Cher.
____________________ (1988) – The Presence of the Past.
London: Collins.
____________________ (1991) – O Renascimento da Natureza.
Trad. Maria de Lourdes Eichenberger e Newton Roberval Eichenberg. São
Paulo: Cultrix.
PROVAS DA SOBREVIVÊNCIA DO SER
MOLDAGENS OCAS EM PARAFINAS
As moldagens ocas em parafina constituem um dos mais instigantes
fenômenos no campo das pesquisas paranormais2. São as mais perfeitas e
completas, impossíveis de serem susceptíveis de fraudes. Só podem ser
obtidas pela desmaterialização das formas que as produzem, constituindo,
portanto, provas absolutas. Nas sessões com a médium Ana Prado em
Belém do Pará, no início da década de 1920, as moldagens ocas em
parafina eram conseguidas pondo-se em prática os seguintes
procedimentos:
Em frente ao Gabinete Mediúnico, onde os Espíritos apareciam
materializados, colocavam-se dois vasos ou baldes fundos – um contendo
água fria e o outro uma porção de parafina fervente, que neste estado se
assemelha a cera derretida.
2 O termo paranormal não deve ser confundido com o sobrenatural, porquanto não aceitamos que existam fatos no Universo que derroguem leis naturais. A melhor atitude é aceitar que aquilo que é admitido como paranormal, deverá no futuro, ser integrado dentro das leis naturais. Esperamos que o conhecimento humano avance, através de pesquisas sérias, idôneas, no terreno sempre fértil da paranormalidade. Voltar-lhe as costas é prova de insensatez.
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Quando os Espíritos se materializam aparecem a frente do Gabinete
Mediúnico e, em plena luz, mergulham a mão, o braço, a perna, o pé ou o
rosto na parafina fundida. Assim que retira o membro escolhido, ele vem
coberto de tenuíssima camada de parafina que o cobre como uma luva.
Seguidamente, mergulham o membro no vaso que contém água fria,
donde passados alguns instantes, retiram-no, ficando a flutuar na água um
exemplar oco, reprodução fiel do membro moldado.
Qual seria o ser vivo desta Terra que ousaria mergulhar a mão em
parafina fervente, e quem, supondo possível sair imune dessa prova,
conseguiria descalçar essa luva sem a inutilizar?
Os pesquisadores observaram que a experiência apresenta sempre o
mesmo resultado, quer a mão tenha dedos unidos, quer afastados um dos
outros, quer os dedos estejam sobre a palma da mão, pois até se conseguiu
um belíssimo exemplar de parafina de duas mãos entrelaçadas.
O professor Alexander Aksakof obteve interessantes moldagens
ocas de mãos cuja abertura apenas tinham as dimensões do pulso, o que
neutralizava inteiramente a possibilidade de fraude. O Professor Cesare
Lombroso, por sua vez, possuía uma belíssima coleção de mãos assim
obtidas e que muito contribuíram para convencer os mais ortodoxos
incrédulos.
O escritor espírita Pedro granja, em sua obra “AFINAL QUEM
SOMOS?”, com prefácio de Monteiro Lobato, informa que o Congrés
espiritualiste International, de 1900, realizado em Paris, o Dr. Bavol ex-
governador de Dahomey, expunha os fenômenos de materialização de que
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ele foi testemunha em Arles e em Eyguéres. O fantasma de uma jovem
romana, Acella, cujo túmulo se encontra em Arles, na França, no antigo
cemitério de Aliscamps, materializou-se, a ponto de deixar a impressão do
rosto, em parafina fervente, essa impressão não foi aceita em côncavo,
mas em relevo, o que seria impossível, se praticado por um ser vivo.
O Dr. Gustave Geley, com o médium Polonês Frank Kluski
(pseudônimo), também conseguiu, condições excepcionais, numerosas
espécies de moldagens cujas fotografias vêm incluídas no seu livro
“Ectoplasmie et Clairvoyance”. Eis como ele descreve os trâmites do
fenômeno.
Um vaso ou balde, flutuando sobre água quente, contém parafina
fundida. Ele é colocado perto do médium durante as sessões. A entidade
materializada mergulha a mão ou o pé, ou mesmo a parte do rosto, por
várias vezes na parafina. Quase instantaneamente se forma um modelo
exatamente aplicável ao membro escolhido. Este molde endurece
rapidamente no ar em contato com água fria contida no outro vaso ou
balde. Depois, a parte orgânica em jogo desmaterializa-se, deixando o
molde aos cuidados dos experimentadores.
Examinadas essas matrizes por modeladores profissionais,
declararam que, evidentemente, se tratava de mãos vivas, únicas capazes
de produzir semelhantes modelagens. Não se pode, pois, explicar esses
traçados de dedos, a não ser concluindo que a mão materializada envolta
em parafina se haja desfeito qual uma nuvem.
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Geley, no livro antecitado, narra o seguinte e significativo episódio.
Numa reunião experimental, as pessoas presentes diziam: Queremos a
modelagem até o cotovelo. Outra idéia: Queremos um pé de criança.
Geley impaciente disse: Porque não as costas? Algum tempo depois
houve um grande froco na água que salpicou as assistentes, era a
moldagem em parafina de costelas. Mas tão finas e frágeis que não
puderam ser modeladas.
Charles Richet, positivando o assunto, diz mais: Geley obteve com
Kluki surpreendentes exemplares que toda a habilidade mecânica dos
modeladores não poderiam reproduzir e que só se explicam pela
desmaterialização de formas moldadas (“A Grande Esperança”).
Os que testemunharam esses estupendos fenômenos interrogaram os
incrédulos perguntando-lhes como um ser humano poderia mergulhar a
mão, o pé ou parte do rosto em parafina fervente sem sofrer qualquer
dano? É impossível sair-se ileso da empreitada. Ademais, molde reproduz
os mínimos detalhes da mão, do pé ou parte do rosto. Ainda assim, não
falta quem negue a autenticidade do fenômeno, baseando-se apenas, na
suposição. Tais opiniões não têm menor valor. São apenas pontos de vista,
e nada mais.
Os incrédulos, depois de esgotados todos os recursos, chegaram à
conclusão de que o mesmo fenômeno poderia ser feito com luvas de
borracha, momentaneamente cheias de ar, pois que uma vez recoberta de
parafina, esfriadas e esvaziadas, seria possível a apresentação da luva.
Exigia-se dos que pretendiam reproduzir o trabalho dos Espíritos o
seguinte: que o fizessem nas mesmas condições impostas aos médiuns,
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isto é, encerrados num compartimento, cabine ou “gaiola” de ferro ou
madeira, ou então costurados dentro de um asco; e finalmente,
apresentando o molde todos os detalhes anatômico da mão, as saliências,
as reentrâncias, as linhas, etc...
Tal convite até hoje não foi aceito, nem aqui no Brasil, ao tempo
dos fenômenos suscitados pela portentosa mediúnica de Ana Prado, nem
em qualquer parte do mundo.
AS FOTOGRAFIAS TRANSCENDENTAIS
Admite o Dr. Gabriel Delanne que a prova fotográfica tem um valor
documental de extrema importância, porque mostra que a famosa teoria da
alucinação é notoriamente inaplicável a tais fatos. A chapa sensível
constitui um testemunho científico que certifica a sobrevivência da alma à
desagregação do corpo físico, que atesta conservar ela uma forma física no
espaço e que a morte não lhe pode acarretar destruição.
Entre os vários casos referidos por Delanne, cumpre destacar o
seguinte, que corrobora o valor da fotografia espírita na (re) afirmação da
sobrevivência da alma durante a pose, disse um dos médiuns estar vendo,
no plano posterior, uma figura negra, enquanto que o outro médium dizia
perceber uma figura brilhante ao lado daquela. Na fotografia (revelada
imediatamente após a sessão), aparecem as duas figuras, muito fraca, a
brilhante, muito nítida, a escura, que é de gigantesca dimensão, detalhe
maciço, traços grosseiros e longa cabeleira.
Nos “ANNLES DES SCIENCES PSYCHIQUES”, formidável e
desconhecido acervo da história psíquica, registram as experiências
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realizadas por Julian Ochorowicz, no campo da fotografia transcendental.
Eis alguns relatos:
A médium Stanilawa Tomeczyk, a certa atura da sessão, informou a
Ochorowicz que o Espírito controle Stasia desejava lhe falar. Em seguida,
o experimentador polonês recebeu o aviso tiptológico do Espírito:
Quero fotografar-me: prepare o aparelho, instale-o no centro do
recinto, enfocando-o a dois metros; não necessito de magnésio, nem da
médium3. Ponha o aparelho sobre a mesa, perto da janela, regulando-o a
meio metro; coloque uma cadeira diante da mesa, depois dêem-me algo
para cobrir-me.
Contentou-se com uma toalha que o pesquisador estendeu no
encosto da cadeira onde o Espírito devia postar-se. Abriu o obturador e se
reuniu a médium fechando a porta da cabine. Em pouco tempo, era visto
um clarão, e, em seguida, a voz da entidade:
Está feita, revela a chapa.
O pesquisador entrou na câmara escura para fechar a objetiva,
acendeu a luz e viu a toalha, antes posta no dorso da cadeira, estava sobre
a mesa, amarfanhada, uma grande folha de papel secante (mata-borrão),
rasgada em parte, e úmida, estava na mesa de cabeceira. Aos três quartos
de hora, se revelava na chapa a imagem do Espírito Stasia, que parecia
3 O espírito avisou ao Dr. Ochorowicz que não precisava de médium na cabine, porque já dispunha do ectoplasma (gasoso) imprescindível à realização do fenômeno. Ele não poderia dispensar a presença da médium no local das pesquisas, sob pena de não ser bem sucedido em seu empreendimento. Na bibliografia a respeito, os investigadores da fenomenologia espiritual têm chamado a atenção para o fato de que os Espíritos podem desenvolver trabalhos de efeitos físicos estando o médium ou médiuns) no raio de ação dos fenômenos e não necessariamente onde eles estão se processando.
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não ter peito, nem ventre, nem pernas, e não podia, pois ter sido
substituído por uma pessoa viva (encarnada e muito menos por um quadro
recortado, porque em toda a periferia da cabeça eram vistos, com lente,
pequenos globos luminosos que provinham de vapores luminosos
fluídicos, com os quais, conforme explicou a entidade espiritual, se havia
constituído.
Pergunta o Dr. Ochorowicz:
(...) não havendo ninguém entrado na cabine, quem teria mudado a
posição da toalha? Quem trasladou e usou o papel secante que se
encontrou molhada, para entrarem contato com os vapores fluídicos?
O Coronel Albert de Rochas publicou, na revista “LUCE E
OMBRA”, as seguintes classificações de fotografias transcendentais:
1º - retratos de entidades espiríticas, invisíveis em condições
normais;
2º - flores, escritos, coroas, luzes, imagens estranhas ao pensamento
do médium e ao operador no momento da impressão da chapa.
3º - tipos que parecem a reprodução de estátua, pinturas ou
desenhos. Estas imagens se podem atribuir, injustamente, a fraude ou
truques grosseiros, quando são a reprodução de imagens mentais, mais ou
menos conscientes, do médium ou signos voluntários dados por
inteligências estranhas do Espaço;
4º - imagens de formas materializadas, visíveis por todos os
assistentes;
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5º - reprodução do perispírito de pessoas vivas;
6º - provas nas quais parece que a revelação nada tenha feito para
aparecer, porém nas quais consta, absolutamente autônoma da
personalidade do observador.
FENÔMENOS DE VOZ DIRETA
O fenômeno de voz direta que se classifica como VOZ DIRETA
realiza-se da seguinte maneira: em presença do médium, vozes
independentes, que absolutamente não provêm dele e que elas próprias
dizem ser de pessoas falecidas, falam e, contraditadas, respondem
esclarecendo e mostrando que ali não está, por detrás da voz, apenas uma
memória, mas uma inteligência apta para ouvir, tanto quanto falar.
Certamente – os mortos comunicantes, além de se exprimirem
correntemente, quando o fazem em línguas ou dialetos desconhecidos do
médium, dão voz o timbre característico, a construção fraseológica
peculiar, a expressão familiar que em vida tinham, bem como, patenteiam
as tendências e a intelectualidade que lhes eram próprias. Não se lhes
escapam também a recordação de qualquer detalhe, por mais
insignificante, da existência terrena sua e de amigos seus, mesmo os já
esquecidos, relatando quase sempre, pormenores ignorados de todos os
assistentes e cuja exatidão se acaba, afinal por corroborar.
As provas, provas cumulativas, vaticina o pesquisador Pedro Granja
– ainda acabarão um dia por persuadir. Com essa arma ofensiva, as
muralhas da ignorância, da descrença e do antagonismo serão postas
abaixo e não há instrumento mais forte e eficaz para lhes completar a
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destruição, do que a prova da sobrevivência, obtida através da
fenomenologia espírita.
Efetivamente – nada há de mais impressionante do que ouvir, outra
vez, a voz querida de alguém falecido. Um pai, uma mãe, um irmão, um
amigo que retorna do além e mantém conosco uma conversa prolongada,
revelando assuntos íntimos e desconhecidos do médium e dos assistentes.
Esta é, sem dúvida, uma prova esmagadora da sobrevivência do ser.
Acresce, ainda, e este é um dado importantíssimo, a entonação da
voz. Quem, por mais habilidoso que seja, poderá imitar vozes de pessoas
que jamais conheceu? E como seria possível alguém expressar-se, em
diversas línguas, com vozes identificadas por parentes e amigos presentes
à sessão, portando-se com absoluta correção semântica e com todas as
modulações peculiares a cada idioma? É inteiramente impossível.
Se alguém levantar a hipótese de ventriloquismo, adverte H. Denis
Bradley (vide Towards the Stars, 1924) terá de admitir que o médium é o
maior mímico e o maior ator falante que o mundo jamais viu, e possuidor
de uma inteligência extraordinária e de uma memória fantástica, visto que
lhe é fácil recordar-se de inúmeros tipos de vozes, com suas
peculiaridades, cadência, sonoridade e inflexões. Essa hipótese do
ventriloquismo desaparece diante do fato de duas, três ou mais vozes do
Além se corresponderem simultaneamente, quer sobre o assunto de que
falam, quer recordando algum fato, como acontece numa reunião social ou
familiar.
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Estas manifestações de voz direta – esclarece o Prof. Edgard
Armond (vide “Mediunidade”) apresentam duas modalidades que são:
fenômenos de classe superior, sendo os primeiros aqueles que os Espíritos
provocam usando fluidos pesados, obtidos no próprio ambiente em que no
momento atuam, e os segundos aqueles que exigem purificação e
filtragem dos fluídos mais finos, obtidos do reservatório cósmico e com
outros elementos operacionais que, no mais das vezes, não estão ao
alcance da maioria dos operadores, exigindo, por outro lado, médiuns de
maior capacidade.
Quando os Espíritos querem se comunicar conosco, materializando
somente a voz, vêem ao nosso plano e sintonizam suas vibrações em
harmonia com o ambiente, reunindo em torno de seus órgãos vocais o
ectoplasma, tomando-o ao médium e aos assistentes, e, desse modo, forma
o órgão adequado para emitir o som4.
Um dos maiores pesquisadores modernos do fenômeno de Voz
Direta, realizando notáveis experimentos com a médium norte-americana
Emilly S. French, conclui: Tenho plena e firme convicção de que a vida
continua; que nada se perde; que é possível, e já se tem conseguido, de
vários modos, a comunicação com os que se acham na vida do além.
Empreguei esforços para realizar uma condição em que se tornasse
possível aos Espíritos revestirem de uma substância física seus órgãos de
respiração, a fim de poderem falar, como quando na Terra.
4 Os cursistas que desejarem colher maiores subsídios sobre o ectoplasma, fluidos, vibrações, sintonia, poderão consultar as seguintes obras: “Dos Raps à Comunicação Instrumental”, de Carlos Bernardo Loureiro; “Ether and Reality”, de Oliver Lodge; “No Limiar do Etéreo”, de Arthur Eindley; “Análise das Coisas”, de Paul Gibier; “A Ciência Avança”, de Rogers D. Rusk; “The Dead Have Never Died” (Os Mortos Nunca Morreram), de Eduard C. Randall; “Au Revior, not Good Bye”, de Dr. Walter Appetard; “Northeleffer’s Return”, de Hannen Swffer.
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E prossegue:
Tive a ventura de lhes ouvir as vozes, pelo melhor de todos os
métodos, milhares de vezes. Centenas de individualidades falaram
servindo-se de seus próprios órgãos vocais, e eu lhes respondi. Dessa
procedência, grandes ensinamentos advêm, assim como o conhecimento
de fatos acima do saber pretensioso dos homens e que em nenhum livro se
encontram.
Concluindo as referências sobre o fenômeno de Voz Direta, cumpre
levar ao conhecimento dos cursistas, o caso seguinte, que se enquadra,
perfeitamente, no contexto da sobrevivência da alma.
H. Deis Bradley, notável pesquisador britânico, autor da obra
“Rumo às Estrelas”, momento antes de desencarnar, estava lendo o livro
de William Gerhardi “Ressurrection” e, de quando em quando, transmitia
em voz alta trechos à mulher, sentada à cabeceira. Eis que
inesperadamente ele caiu sobre os travesseiros desfalecido. A mulher, no
auge da consternação e desespero, chamou-o, sacudiu-o, sem conseguir
reanimá-lo. Correu, então, ao telefone, a providenciar assistência médica.
Mas, poucos instantes depois, Bradley se reanimou, ergueu-se e
sentou na cama. Parecia transfigurado e rejuvenescido. Seu rosto irradiava
uma expressão de estática exultação que já não era terrestre. Em seguida
exclamou:
Estive lá em cima. Vi a morada espiritual. Que maravilha! Tudo é
sublime!
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Assim dizendo, afastou os cobertores, estendeu os braços para o alto
e exclamou: Deixai-me ir! Deixai-me ir!
E caiu para trás. Estava morto...
Alguns meses após, William Gerhardi, autor do livro que Bradley
estava lendo momento antes de morrer, assistia a uma sessão de Voz
Direta que se realizava no “Instituto Internacional de Investigação
Psíquica”. A ele se manifestou o recém-falecido amigo, ao qual
perguntou, à guisa de identificação:
Bradley, poderá dizer-me que livro estavas lendo, quando ocorreu
a sua desencarnação?
Resurrection.
William Gerhardi considerou esta resposta como de alto valor
probante, pois, além da viúva que referira o fato a Gerhardi, ninguém
conhecia tal particularidade. Acrescente-se, ademais, que Gerhardi
reconheceu o amigo falecido pelo timbre de sua voz e pelo seu modo
característico de se exprimir5.
FENÔMENOS DE ESCRITA DIRETA
Kardec afirma em “O LIVRO DOS MÉDIUNS” que o fenômeno da
escrita direta é, indiscutivelmente, um dos mais extraordinários do
Espiritismo. Desde que a possibilidade de escrever sem intermediário é
um dos atributos dos Espíritos, que estes sempre existiriam e em todas as 5 Este caso foi divulgado na Revista “LIGHT”, órgão oficial da Aliança Espiritualista de Londres, fundada em 1881 pelo pesquisador e jornalista Dawson Rogers e o Reverendo e médium extraordinário Stainton Moses. À época da divulgação do episódio envolvendo H. D. Bradley, 1934, a LIGHT ficava na Queensberry Place, 16, London – England.
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épocas produziram os diversos fenômenos que conhecemos, devem ter
produzido a escrita direta na Antigüidade tão bem como hoje. E é assim
que se pode explicar a aparição das três palavras no festim de Baltazar,
escrita na parede principal do palácio real: “MENE, TEQUEL,
UFARSIN”. Estas palavras foram interpretadas por Daniel, a pedido do rei
Baltazar – MENE: contou Deus o teu reino, e o acabou; TEQUEL: pesado
foste na balança, e foste achado em falta; UFARSIN: dividido foi o teu
reino. Naquela mesma noite, foi morto Baltazar, rei dos Caldeus.
A Idade Média, tão fecunda em prodígios ocultos, deve ter
conhecido também a escrita direta. Mas, qualquer que tenha sido os
resultados obtidos nas épocas anteriores, foi somente depois da
vulgarização das manifestações espíritas que se tomou a sério o problema
da escrita direta. O primeiro que deu a conhecer, em Paris, foi o Barão de
Guldenstubbe6. A posição social do Barão, sua independência, a
consideração que desfruta no alto mundo, afastam incontestavelmente
qualquer suspeita de fraude voluntária.
A escrita direta é obtida, como a maioria das manifestações não
espontâneas, pelo recolhimento, a prece, a evocação. Muitas vezes foi
obtida nas Igrejas, sobre os túmulos, junto a estátuas e imagens de
personalidades evocadas. Mas é evidente que o local só influi por
favorecer o recolhimento e a maior concentração mental, pois está
provado que é obtida igualmente sem esses Acessórios e nos lugares mais 6 Barão L. de Guldenstubbe (1820-1873), nobre escandinavo. Foi o Primeiro a pesqisar o fenômeno das mesas girantes na França. É autor de “Pneumatologic Positive et Experimental” e do extraordinário “La Realité, et Phenomène Merveilleux de Leur Écriture Directe”, ilustrado com 36 fac-similes de escrita direta, selecionados de mais do que dois mil de diferentes espécies em vinte (20) diferentes línguas, obtidos entre os anos de 1856 a 1872, sem lápis ou qualquer material de escrita em diversos lugares como: Louvre, Museu de Versalhes, a Catedral de Saint’Denis, Abadia de Westminster, os cemitérios de Père-Lachaise, Montemarte e Monteparmoss.
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comuns, como sobre um simples móvel caseiro, desde que se esteja nas
condições morais exigidas e se disponha da necessária faculdade
mediúnica, isto é, de efeitos físicos.
Achava-se, a princípio, que era necessário colocar um lápis com o
papel. O fato, então, poderia ser mais facilmente explicado. Sabe-se que
os Espíritos movem e deslocam objetos, que pegam e atiram à distância,
podendo assim pegar o lápis e escrever. Desde que o fazem por intermédio
da mão do médium ou de uma prancheta, poderia também fazê-lo de
maneira direta. Logo se verificou que a presença do lápis era
desnecessária, que bastava um simples pedaço de papel, dobrado ou não,
para breves minutos aparecerem as letras. Com isso o fenômeno mudou
completamente de aspecto, sugerindo uma outra ordem de idéias. As letras
são escritas com uma certa substância, e desde que não se forneceu ao
Espírito nenhuma substância, ele a teve de produzir, de compô-la por si
mesmo. De onde a tirou? Eis aí uma questão realmente especial.
A verdade é que o próprio Espírito comunicante produz a substância
de que precisa para escrever, tirando-a, provavelmente, do elemento
primitivo universal, a que submete, por sua vontade, às modificações
necessárias para atingir o efeito desejado. Assim, tanto pode produzir o
grafite do lápis vermelho a tinta de impressão tipográfica ou a tinta
comum de escrever, como a do lápis preto e até mesmo caracteres
tipográficos suficientemente duros para deixarem no papel o rebaixo da
impressão7.
7 Curioso caso de impressão tipográfica direta é relatado na “Revue Spirite”. Tendo o Espírito ordenado a queima do papel assim impresso e a colocação de outro no lugar em que se obtivera o fenômeno. Obedecido, produziu de novo o mesmo efeito e em condições que excluem a menor suposição de fraude.
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Se considerarmos a escrita direta quanto às vantagens que pode
oferecer – esclarece Kardec - diremos que até o presente a sua principal
utilidade consiste na constatação material de um fato importante: a
intervenção de um poder oculto que encontra nesse processo um novo
meio de se manifestar. Mas as comunicações assim obtidas são raramente
de alguma extensão.
A escrita direta é obtida em qualquer língua; em grego, em latim,
em siríaco, em caracteres hieroglíficos etc., mas não servem às
conversações contínuas e rápidas que a psicografia permite.
FENÔMENOS DE TRANSFIGURAÇÃO
O primeiro caso que se conhece, na modernidade, sobre fenômenos
de transfiguração, foi pesquisado por Allan Kardec. O fato ocorrido
durante os anos de 1858 e 1859, aconteceu nos arredores de Saint-Etiène e
vem narrado pelo próprio Kardec:
Uma jovem, de mais ou menos quinze anos, gozava da singular
faculdade de se transfigurar, isto é, de tomar, em dados momentos, todas
as aparências de certas pessoas mortas. Tão completo era o processo que
os assistentes julgavam ter diante de si a própria pessoa cujo semblante
ela produzia, tal a semelhança dos traços fisionômicos, do olhar, do som
da voz e, até, da maneira peculiar de falar.
Este fenômeno renovou-se por centenas de vezes, sem que para isso
a vontade da jovem contribuísse em coisa nenhuma.
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54
Tomou, em várias ocasiões, a aparência de seu irmão, morto
alguns anos antes. Reproduzia-lhe não somente o aspecto, a mas também
o porte e a opulência.
Um médico do lugar, que muitas vezes testemunhou esses
extraordinários efeitos, querendo certificar-se de que não havia naquilo
ilusionismo ou que não era joguete de uma mistificação, fez a experiência
que vamos relatar. Conhecemos os detalhes, pelo que ele próprio nos
revelou, mais o pai da jovem e diversas outras testemunhas oculares,
muito honrados e dignas de crédito.
Veio a esse médico a idéia de pesar a moça no seu estado normal e
de fazer-lhe o mesmo durante a transfiguração, quando apresentava a
aparência do irmão, que contava, ao morrer, vinte e poucos anos, e era
mais alto do que ela e de compleição mais forte. Pios bem! Verificou que
o segundo estado o peso da jovem era quase duplo do seu peso normal.
Concludente se torna a pesquisa, tornando impossível atribuir-lhe àquela
a uma simples ilusão de ótica. (“O Livro dos Médiuns”).
Observe-se que essas transfigurações se produziam sem que para
isso a vontade da jovem contribuísse em coisa alguma.
Quanto a mudança de peso, dever-se-ia pesar, também, os
assistentes antes e depois das manifestações para verificar se eles não
contribuíram com matéria suplementar, ou seja, matéria ectoplasmática,
porque o Espírito quando se manifesta por uma dessas formas físicas, só
os torna ponderáveis à custa de seu médium e das pessoas presentes.
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Os cursistas interessados em aprofundar-se no conhecimento do
fenômeno de transfiguração têm, á disposição, expressiva bibliografia. Eis
algumas obras entre as mais importantes:
“O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec;
“Les Apparitions Materialisées”, de Gabriel Delane;
“Dei Fenomeni di Transfigurazione”, de Ernesto Bozzano;
“Espiritismo Contemporâneo”, de A. Martins Velho;
“Souveniers et Problèmes Spirites”, de Clara Galichou;
“Proceedings of the S.P.R.”
ENSAIOS ESPÍRITAS
PORQUE VIVEMOS E PARA QUE VIVEMOS
A moral do Espiritismo, que é a criadora e dinâmica, gira em torno
da Lei de Causa e Efeito, sem a qual toda atitude humana carecerá de
verdadeiro fundamento. A causalidade responde ao porquê de todas as
nossas ações apontando-nos veredas certas para o futuro. O homem
consciente, o homem que sabe o que é, saberá, sem grandes esforços de
raciocínio, sem maiores sortilégios, o que foi e o que será. A Lei de Causa
e Efeito, assim, é a chave do destino humano, da moral humana, no seu
sentido particular e coletivo, no seu desdobramento individual e social.
Somos o que fomos, através da evolução; seremos o que somos, de acordo
com o evolver da nossa personalidade. Passado, presente e futuro são
frutos do nosso trabalho, das ações que o indivíduo desenvolver dentro de
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si mesmo e dentro da Sociedade, nessa lenta e sacrificial caminhada que
empreendemos, em encarnações sucessivas.
O homem, portanto, analisando do ponto de vista filosófico, não é
mais do que a soma das personalidades vividas adquiridas e realizadas em
todas as peregrinações que empreendeu pela face amarga e dolorosa do
Planeta. Todos nós sabemos que existem na Natureza leis imutáveis, leis
divinas, sobre as quais a nossa vontade não tem conseguido influir:
conhecemos, é verdade, a existência de uma lei universal, que faz com que
todos os corpos caiam sempre na direção do centro da Terra. Existem,
também, leis imutáveis que obrigam os planetas, astros e sistemas
planetários a seguir uma rota prefixada, a qual não podem abandonar.
Essas são as leis da harmonia universal, sem o que não haveria
estabilidade e possibilidade de vida em qualquer plano Cosmo. Para a
garantia do conjunto harmônico espiritual, também existe um princípio
superior que se relaciona com a vida humana. Pra quem não ignora esse
princípio, como nós espíritas, todos os nossos pensamentos, palavras e
ações têm uma importância extraordinária, tanto nesta como em
existências porvindouras. É graças ao poder divino desse princípio – que
se consubstancia na Lei de causa e Efeito – que nosso pensamento medita
nas expressões que pretende usar e nas atitudes que procura transformar
em atos objetivos. As conseqüências que derivam desse pensamento,
palavras e ações constituem o que se denomina de lei de Causalidade.
Para se explicar a vida, em todas as suas nuances, em todas as suas
formas de integração e desintegração, de avanços e de recuos aparentes,
de glórias e misérias, temos a necessidade de estabelecer um antecedente
causal, porque sem causas que influam nas determinações da vontade
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57
humana – de acordo com o processo moral de cada indivíduo – nenhuma
ação se poderá explicar, e a vida não teria a menor finalidade.
O porquê vivemos e para quê vivemos são expressões com caráter
de incógnitas, que só a Doutrina Espírita tem o poder de resolver a aclarar.
A DIALÉTICA ESPÍRITA
Tudo quando existe, do átomo ao homem, segue uma trajetória que
se perde no infinito, observada tanto no passado como no porvir. Essa
trajetória, porém, tem uma linha progressiva ascendente. Isso quer dizer,
de conformidade com a dialética espírita, que todas as coisas e seres estão
em constante transformação, que não ocupam um determinado e prefixado
lugar, que marcham para estados melhores, estados que conquistarão no
tempo e no espaço. Basta observar-se as pronunciadas diferenças que a
História registra, no que se refere às plantas, aos animais e aos homens
para que se deduza rapidamente que as formas se vão sutilizando,
perdendo a casca e a rudeza primitivas, idealizando-se e seguindo sempre
para um fim superior que as orienta nesse processo formidável e eterno!
Os Espíritos, encarnados ou não, marcham, também, para a conquista de
planos cada vez melhores e, pela Lei Suprema, lutam constantemente para
desenvolverem os germes divinos que aninham em sua essência imortal.
Conclui-se, daí, que a lei de causa e efeito aplicada ao progresso, não é
fatalista e nada tem que ver com “olho por olho, dente por dente”,
predicado no passado bíblico. É claro, é evidente que os seres trazem sua
herança espiritual e que pesa sobre eles um determinismo. Mas, também, é
certo que seres voltam para tomar formas, a fim de poderem conquistar
novos planos, num batalhar tremendo contra a ignorância, contra a dor e
CURSO DE ESPIRITISMO
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58
contra todas as negações de misérias físicas e moral. Se as cadeias aqui
estão atadas às ações e reações se compusessem de argolas exatamente
iguais, constituídas de material grosseiro e rude, o processo de evolução
de energia estimuladora e progressiva. Se tivéssemos que ser vítimas que
fizemos em nosso passado é palingenésico, a Lei de Causalidade teria que
criar novos verdugos para o nosso castigo. Esses verdugos, por sua vez,
em futuro não muito remeto, teriam que ser vítimas de outros verdugos... e
assim por todo sempre! Tal encadeamento, porém, não condiz com a
lógica e, o que é mais grave, não se ajusta à lei do progresso. Não é
absolutamente necessário que o ato do Espírito origine outro ato análogo,
nem que cada situação social do passado exija condição oposta. É ridículo,
absurdo e sem mais elementar raciocínio, pensar-se que os pobres de hoje
são os ricos de ontem, que o ignorante é o sábio de outrora, que o feio
antes foi belo e que o inválido fez abusivo emprego de sua força física. A
evolução, ao contrário, faz com que cada ato repercuta especialmente no
foro íntimo de cada criatura, na consciência do indivíduo, onde se escreve,
indelevelmente, a Lei Divina. Quando o homem começa a compreender
essa realidade através da dor, filha direta da ignorância, abre-se a seus
passos dialeticamente, o caminho da sabedoria. E enquanto começa o
despertar de sua consciência, compreende que aquilo que realizou e fez no
passado, que tudo quanto serviu, para prejudicar seus semelhantes, pode-
se transformar pelo Amor e pela Virtude; principia, assim, o seu
peregrinar pelas estradas da libertação.
Constituir-se-á, então, o homem em paladino das causas nobres e
justas; defende a cultura, estimula a vontade; trabalha e luta pelo
melhoramento das condições de vida de seu próximo; repele os crimes;
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combate todas as formas de escravidão e edifica, dentro de si mesmo, uma
personalidade criadora, ao lado de uma moral dinâmica. Seus
pensamentos, destarte, despertaram para novas e cósmicas verdades!
A FORÇA DA RAZÃO
O célebre naturalista inglês Sir Alfred Russel Wallace (êmulo de
Darwin), presidente da Sociedade Britânica de Antropologia, referindo-se
aos fenômenos espíritas declarou: “Eu era um materialista tão completo e
convicto que não podia haver no meu espírito lugar para existência
espiritual e para qualquer outro agente universal, senão a matéria e força.
Os fatos, porém, são coisas bem teimosas. A minha curiosidade foi, a
princípio, despertada por alguns fenômenos ligeiros, mas inexplicáveis,
que se produziam numa família de minhas relações, e o meu desejo de
saber e o amor pela verdade forçaram-me a prosseguir nas investigações.
Os fatos tornaram-se cada vez mais exatos e variados, e ao mesmo tempo
distantes de tudo que a Ciência moderna ensina e de todas as especulações
da filosofia atual. Os fatos venceram-me!” Mais tarde, Russel Wallace
escreveria: “Le Moderne Spiritism” (edição francesa), livro onde inseriu
parte considerável de suas notáveis pesquisas sobre os fenômenos
provocados pelos Espíritos. O outro não menos famoso cientista que se
dedicou, com acendrado amor às investigações espíritas, foi Sir William
Crookes, descobridor do tálium eletroscópio, o fotômetro, o radiômetro e
os raios catódios, que dariam origem aos Raios X, de Roetingen. Este
cientista brilhante, sem preconceito, realizou por anos, meticulosas
pesquisas no campo da fenomelogia mediúnica, obtendo resultados
surpreendentes. Afirma ele no livro “Fatos Espíritas”: “Os diversos
fenômenos que venho atestar são extraordinários e completamente oposto
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aos mais enraizados pontos do credo científico – entre outros a universal e
consagrada ação da força gravitacional”. No discurso que o ilustre sábio
fez em setembro de 1898 no Congresso da Associação Britânica para o
Progresso da Ciência, enfrentando, com coragem própria das grandes
almas, uma platéia de crentes e descrentes, reafirma: “trinta anos se
passaram desde que publiquei as atas das experiências tendentes a mostrar
que fora dos nossos conhecimentos científicos, existe uma força posta em
atividade por uma inteligência diferente da inteligência comum a todos os
mortais. Nada tenho de que me retratar em relação a essas experiências,
quando materializam-se Espíritos à luz do dia, e mantenho as minhas
verificações já publicadas, podendo a elas acrescentar novos fatos,
decorrentes do aprofundamento de minhas investigações sobre a
sobrevivência do Ser após a falência do corpo físico”. Mais tarde, o
descobridor do tálium declarava, categórico, numa entrevista concedida ao
periódico inglês “Two World”: “O espírito está cientificamente
demonstrado”. É deveras importante para a Doutrina Espírita o
testemunho de William Crookes. Afinal de contas, o descobridor do
quarto estado da matéria tem assegurado, nas páginas da História da
Ciência, um lugar ao lado de Newton e do inesquecível Einstein.
Modernamente, as postulações transcendentais de Crookes, baseadas na
investigação criteriosa dos fatos, foram confirmadas por Berkeley, nestas
palavras: “Nenhum objeto existe fora do Espírito que o percebe. O mundo
só se transforma em realidade visível e tangível porque preexiste em nós
um ser imortal que reflete conscientemente dando-lhe objetividade”.
Aos leitores destes arrazoados, recomendamos, como leitura
suplementar, a obra “Provas Científicas da Sabedoria”, de Frederic
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Zollner, professor de Física da Universidade de Leipzig. Este livro poderá
ser encontrado na Livraria Bezerra de Menezes, Shopping São Bento, Rua
Nova de São Bento, Nazaré.
POR QUE NÃO SE DISCUTIR OS MISTÉRIOS?
Há alguns anos, a pesquisadora Elsie Dubugras escreveu um
interessante arquivo, divulgado na Revista O Assunto É..., da Editora
Três, de São Paulo, sobre uma série de questionamentos ligados à religião.
Ela inicia o referido artigo com esta indagação: “O que é salvação?”.
Durante muitos anos procurou o significado dessa palavra, tão
freqüentemente usada pelos religiosos. E repete: “Que seria salvação?”. E
ela tenta responder com as seguintes perguntas: “Das doenças? Das
dificuldades do dia-a-dia? Dos sofrimentos?”
Como não ficasse satisfeita com sua própria tentativa de encontrar a
solução do “mistério”, foi em busca da opinião daqueles que julgava
capacitados a responder: os religiosos. Com variações na forma de dizer,
mas com idêntico conteúdo, afirmavam-lhe “que seria o resgate das penas
eternas causadas pelos pecados cometidos”. Ela admitiu que a resposta
chagara, em princípio ,a lhe causar certa impressão, todavia, ao submetê-la
ao crivo de criteriosa e serena reflexão, percebeu o paradoxo, suscitando-
lhe a seguinte indagação: “Por que Deus onipotente, onisciente, criador
de todas as coisas teria criado seres humanos tão frágeis – seres que
forçosamente errariam – e, ao mesmo tempo, criado um inferno onde
lançaria por toda a eternidade, a não ser que fossem “salvos” de seus erros
através de um esquema que Ele também criara?” Responderam-lhe,
prontamente: “É preciso ter fé.” E ela: “Mas, como se faz para ter fé? – “É
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uma graça que Deus concede”. E insistiu a pesquisadora, com aquela
inquietude própria dos que admitem Deus como a Inteligência suprema –
como conseguir esta graça? – Finalizaram, taxativamente: Isto é um
mistério”. Se as respostas eram, até certo ponto prosaicas, a saída às
perguntas da articulista, fora, realmente, inteligente... Justificava-se a
explicitação: “Mistério não se discute. Não se deve procurar desvendá-los.
E duvidar é pecado. Jamais ela conseguiu, nesse sentido, uma resposta
satisfatória, coerente e justa.”
“Ante essas dificuldades – declarou – acabei por penetrar no deserto
da descrença; mergulhei num vácuo filosófico – religioso onde permaneci
durante muito tempo, até que a curiosidade ou o impulso interno renasceu,
e resolvi procurar a resposta a essas questões”. Lia tudo que lhe caia nas
mãos, entrando em contato com pessoas que professavam doutrinas não
dogmáticas. Não tardou em vislumbrar uma pálida luz no fim do túnel.
Aprendeu, nessa trajetória, e, que prevaleceu o bom senso, “que não é
possível barganhar com o Todo Poderoso. Ele não aceita intermediários
nem tolera, no seu relacionamento com indivíduos, expedientes tipi
“solução brasileira”, com o emprego do tão falado “jeitinho” ou “quebra
galho”. Outra coisa que aprendeu é que milagres não existem. O que
chamamos milagres é simplesmente o fruto de certas leis que foram
sabiamente acionadas. A “graça”, de longe de ser um presente arbitrário
que o Criador concede a alguns privilégios, é, na verdade, o produto da fé
que nasce do conhecimento da razão. E o que parece ser uma “garça” é,
por certo, um teste para o qual poucos estão me condições de responder. A
verdadeira fé é essencialmente ativa e não absurdamente passiva. A
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pesquisadora Elsie Dubugras, nas suas últimas pesquisas, penetrou no
terreno sempre fértil do Espiritismo. Não sei se ela percebeu...
A COSMOVISÃO ESPÍRITA
Qual a posição do homem no Universo? A de “simples pó”, como
proclamou o Eclesiaste? A de “medida de todas as coisas”, como
pretenderam os surfistas? A de um “deserto da Natureza”, como afirmou
Nietzche? A de “uma paixão inútil”, como querem Sartre e os seguidores?
Não. Para a Filosofia Espírita, posição do Homem no Universo decorre do
próprio objetivo da encarnação, qual seja, o de pôr o Espírito em
condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. E para
executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de
harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir,
daquele ponto de vista, as leis de Deus. É assim que, concorrendo para a
sua obra geral, ele próprio se adianta (O Livro dos Espíritos) ou, por
outras palavras, a posição do Homem no Universo é a de um autêntico co-
criador em plano menor, isto é, alguém com condições de,
conscientemente, contribuir para a efetivação do Plano da Criação.
O Homem não é, então, segundo a Filosofia Espírita, nem princípio
nem final de jornada, mas um momento de inexcedível significação.
Consciente, conhece as próprias possibilidades; consciente, sabe que pode
e deve mudar as coisas (incluindo-se entre elas). Tal consciência, porém,
abre ao Homem perspectivas quase divinas, atribuindo-lhe grande dose de
responsabilidade, dono que toma o próprio destino e do mundo que ajuda
a construir. Em que se baseará, todavia, para a garantia da execução de sua
praxes? Onde o timoneiro seguro para a sua ação? Na Lei Natural, a única
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64
verdade para a felicidade do Homem. Ela lhe indica o que deve fazer ou
não fazer, e ele só será infeliz porque dela se afasta. E tal Lei Natural,
segundo preceitua a obra básica da Doutrina Espírita, se inscreve na nossa
Consciência. Por isso que, acreditando (o Homem) poder organizar a Lei
de Deus na Terra, para depois refazê-la a seu modo. Com esse ente de
razão baseado no orgulho não desorganiza senão a si mesmo e ao próprio
mundo!
Resulta indiscutível que a posição do Homem no Universo assume
uma grandiosa importância. No mundo é o Homem um Espírito em
evolução, que necessita dele para evoluir. Por outro lado, também o
mundo não prescinde do Espírito para o seu progresso. O mundo existe, é
fora de dúvida. Nós existimos nele, Homem e mundo, porém, não se
confundem; interdependem-se. Mas o mundo não é escravo do Homem e
o Homem não pode tornar-se escravo do mundo, tanto quanto deve saber
usá-lo corretamente. Em síntese: nem escravizá-lo a si, nem escravizar-se
a ele.
O PENSAMENTO É UMA SECREÇÃO DO CÉREBRO?
Se a inteligência dos vivos fosse capaz de produzir levitações tomar
os tecidos incombustíveis, falar línguas e discorrer sobre temas que jamais
aprendeu, premunir acontecimentos próximos ou remotos, compor obras
de arte comparáveis aos dos grandes mestres, criar fantasmas de seres
reais etc., haver-se-ia de atribuir ao Homem poderes quase divinos.
O professor Charles Henry, no seu livro “O Homem depois da
Morte”, citado pelo pesquisador Faure da Rosa, não teve dúvidas em
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65
proclamar: “A morte de modo nenhum implica a perda da consciência e da
personalidade.”
Maurice Blondel, que escreveu “Ensaio de uma Crítica da Vida”,
por sua vez admite: “A inteligência não carece da integridade cerebral
para se manifestar.” O Dr. Agostinho Itunicha, em discurso da Sociedade
Antropológica da La Plata, comunicava que um jovem de 14 anos, tratado
pelo Dr. Fernando Ortiz, autor da obra “A Filosofia Penal dos Espíritas”,
morrerá no pleno uso das suas faculdades intelectuais apesar de ter a
Massa encefálica completamente destacada do bulbo raquidiano,
nas mesmas condições que as de um homem realmente decapitado.
Na necropsia que fizeram no cadáver, com a maior estupefação dos
cirurgiões, descobriu-se que as meningites estavam cheias de sangue e que
um obsesso ocupava uma parte do cérebro e a protuberância cerebral. No
entanto, pensava como qualquer pessoa saudável algum tempo antes de
morrer.
“Les Annales des Sciences Psychiques” de 1017 referem-se a um
caso curioso apresentado por Edmond Perrier à Academia de Ciência de
Paris, acerca de uma observação do Dr. L.J. Robson: “Um homem que
viveu um ano sem sofrimento, sem nenhuma perturbação aparente
pensando, portanto, apesar de ter o cérebro que não era mais que um
enorme abcesso purulento.”
Um só desses caos, segundo Henri Bergson (1859-1941), autor de
“Ensaios sobre os Dados Imediatos da Consciência”, citado por Charles
Richet, devia ser bastante para demonstrar que a inteligência funciona
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independentemente da integridade do cérebro. Também para Bergson,
ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 1927, cérebro e consciência
correspondem-se porque ambos medem, um pela complexidade de sua
estrutura e o outro pela veemência de sua atividade, o quantitativo de
seleção que o ser vivo dispõe. Mas esta correspondência nada tem de
equivalência nem paralelismo. Precisamente porque um estado cerebral
exprime, simplesmente, o que nada há de ação incipiente no estado do
psicológico correspondente; o estado psicológico excede infinitamente o
estado cerebral.
De uma maneira mais simples, mais clara e probatória, segundo
Faure da Rosa: “A consciência de um ser vivo é solidária com seu cérebro
da mesma maneira que uma faca pontiaguda é solidária com sua ponta; o
cérebro é a ponta acerada onde a consciência penetra o tecido compacto
dos acontecimentos, mais não é co-extensivo à consciência que a ponta o é
da faca.”
Ainda é H. Bergson que reconhece de uma maneira precisa que o
cérebro não é mais que um instrumento de ação.
O cérebro não determina o pensamento; por conseguinte, o
pensamento, em grande parte, pelo menos, é independente do cérebro. O
cérebro é um órgão de pantomia. O seu papel é minar a vida do espírito...
O Espírito ultrapassa o cérebro e a atividade cerebral corresponde, apenas,
a uma ínfima parte da atividade mental. Isto quer dizer também que a vida
do Espírito não pode ser o efeito da vida do corpo, que tudo se passa ao
contrário como se o corpo fosse, simplesmente, utilizado pelo Espírito e
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que, portanto, nenhuma razão temos se supor que o corpo e o Espírito
estejam inseparavelmente ligados um ao outro.
Entre outros testemunhos, Maurice Blondel cita o caso de Claude
Bernard, autor da consultadíssima “Introdução ao Estudo da Medicina
Experimental”:
“Dizer que o cérebro segrega o pensamento eqüivale a dizer que o
relógio segrega a idéia de tempo. O cérebro e o relógio são mecanismos,
um vivo, o outro inerte: eis toda diferença”.
Uma lâmpada elétrica ilumina com a energia que atua o filamento
metálico da ampola... exemplifica Blondel. Se esta ampola se quebrar, a
luz extingue-se. Segue-se daí que a corrente deixou de existir? A prova de
que existe é uma nova lâmpada intacta, ajustada, iluminará imediatamente.
Dá-se o mesmo com a inteligência: “É uma força, uma corrente
espiritual que ilumina o nosso cérebro. Se o cérebro morrer, segue-se, daí,
que a corrente que o fazia atuar deixou de existir?”
Para Edmond Wietrich, o Espírito não pode conceber-se fora de
suas manifestações, de suas múltiplas formas de atividade. É o sinônimo
de pensamento, de consciência, de liberdade. O é o indispensável veículo
da alma; é a sua mecânica. O corpo permite que a alma tenha uma
consciência nítida de si mesma; é o amálgama de estanho que faz a alma
um espelho mágico. Sem ele, a alma regressaria à noite do inconsciente...
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A PRECE, O PENSAMENTO E VONTADE
Pensamento é a única força, a grande causa. Se toda a humanidade
orasse, formar-se-ia sobre o planeta um manto magnético inimaginável em
suas propriedades positivas. Haveria mais saúde, mais paz geral. Se já em
pequenos locais, onde se costumam seguidamente orar, se sente a energia
espiritual das coisas, que seria da Terra se ela fosse um maravilhoso
templo de oração constante?
O indivíduo que ora se fortalece mentalmente. E tendo vigor
mental, tem vigor físico, férrea e natural conseqüência. Física e
espiritualmente, o homem é o que pensa. O que ora, pois, consegue a
realização em si do sonhado binômio integral: paz – saúde. Todo o
equilíbrio celular é comandado pelo pensamento. Em nós, portanto, está a
chave da felicidade. Se a quisermos, obtê-la-emos.
Por outro lado, através da prece podemos aliviar as dores de
inúmeros sofredores. Aliás, sobre isso, há já antiquíssimo conhecimento e
uso através das civilizações milenares. A alma do povo sente a intuição
coletiva, universal, das verdades eternas.
Podemos erradicar vibrações poderosas em benefício de doentes e
de Espíritos sofredores. As energias são aproveitadas pelos guias e
dirigentes, depois de ampliados e modificados em seu tônus espiritual para
objetivos seguros. E quanto maior número de mentes harmonizadas,
melhor a sintonia, mais extensa as possibilidades de recursos.
A capacidade volitiva, enfim, é o principal fator do êxito da prece.
Deve haver desejo, predisposição `renovar-se. A vontade aumenta com a
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compreensão e o próprio exercício. A vontade está diretamente vinculada
à força da fé. Fé e sublimação da vontade, é confiar, é acreditar, é ter
certeza, de que as rogativas sinceras e equilibradas encontrarão a
receptividade.
A prece pressupõe fé, e fé compreende vontade!
A prece, finalmente, é uma solene introspecção, isto é, atenção
dirigida para o íntimo ser. Há diferentes fases nessa introspecção:
Superficial: que se verifica no período intelectual da prece. A
pessoa tenta afastar-se, aos poucos, do mundo objetivo para refugiar-se
dentro dela mesma e sentir-se espiritualmente;
Profunda: aquela m que o ser, conseguido o isolamento do mundo
exterior busca contatar com Deus. Quanto maior a capacidade atencional –
em duração e intensidade – maior ressonância espiritual conseguirá
registrar.
Tais procedimentos, entretanto, não anulam as repercussões
dolorosas motivadas ao longo da vida-de-relação da pessoa, segundo os
atos que praticou, concede-lhe a força de que precisa para enfrentá-las sem
queixumes e revoltas considerando-as imprescindíveis ao seu crescimento
moral. Não foi sem razão, a propósito, que os gênios tutelares da
Codificação do Espiritismo revelaram que a Lei de Deus se encontra
registrada no íntimo do ser imortal. É aí que ele vai construir racional
ente-de-razão em torno dos seus cruciais problemas do seu destino e de
suas dores...
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70
CONFIDÊNCIAS DE UM PSIQUISTA
Por volta de 1884 fundava-se, em Boston (USA), a Sociedade
Americana para Pesquisas Psíquicas por iniciativa de um grupo de
pesquisadores em que se incluía o psicólogo e o professor William James
(1842-1910). A sociedade objetivava “o estudo sistemático das leis da
natureza mental”. Criaram-se, de início, cinco comissões de estudo:
transmissão de pensamento, aparições, casas assombradas, hipnotismo e
fenômenos da atividade do médium.
Em 1888, a Comissão relativa à transmissão de pensamento
apresenta à apreciação da sociedade o seu relatório sobre as experiências
em estudantes da Universidade de Harward pelo professor William James.
O relatório suscitou acerba polêmica, chegando a se levantar a hipótese de
fraude. Esse revés não abateu o ânimo do ilustre pesquisador. Mais tarde,
teria a oportunidade de examinar minudentemente, casos extraordinários
de transmissão por escrita automática, tendo como protagonista a médium
norte-americana Leonore E. Piper, pesquisada pelo Dr. Richard Hodgson,
professor James H. Hyslop, Sir Oliver Lodge, Dra. Mildred Sidgwick
(presidente da Sociedade para Pesquisas Psíquicas de Londres), professor
Charles Richet (Prêmio Nobel de Medicina) e pelo professor Frederic
Myers (autor da magnífica obra “Human Personality and its survival of
Bodily Death”). Afirma-se que o professor William James foi, não apenas
o introdutor da médium no mundo fantástico da ciência psíquica, mas
também se constitui no orientador e amigo da Sra. Piper. Em 1897, já
conhecido pela publicação de seus “Princípios de psicologia”, William
James lança o livro sob o título “A Vontade de Crer e Outros Ensaios”,
uma coletânea de conferências e artigos diversos. Dela extraímos os
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71
trechos seguintes, que traduzem o seu amor pela realidade concreta e
fluente:
“Entre os resíduos não classificados, não há nenhum que tenha sido
tratado com o maior desprezo científico que o grupo dos fenômenos
chamados geralmente místicos. A fisiologia não quer nada com eles. A
Psicologia ortodoxa volta-lhe as costas. A Medicina considera-os ‘efeitos
da imaginação’ – pura forma evasiva cujo sentido, nesta ordem de idéias,
é impossível de precisar. E, entretanto, aí estão apesar de tudo os
fenômenos espalhados em toda a extensão da História”.
Em outubro de 1909, o “American Magazine” estampa um artigo de
autoria de William James, sob o título “Confidências de um Psiquista”,
onde admite que será através do estudo da fenomenologia supra-normal
“que conseguirão levar-se a cabo as maiores conquistas científicas da
geração vindoura”. A geração evidentemente, do século XXI, quando
temos a certeza, terá início a Era do Espírito...
William James desencarnou em 26 de agosto de 1910, em New
Hampshire, legando à Humanidade opulenta bibliografia.
CONCEITO DÍNAMO-GENÉTICO DA VIDA
“Estamos muito longe da perfeição” – disse Oliver Lodge
(“Evolução Biológica e Espiritual do Homem”) – “e cada um de nós é,
individualmente, um artigo inacabado... O Homem é, inegavelmente, um
ser imperfeito, e está, todavia, em vias de desenvolvimento; mas não se
deve perder de vista que nós partimos da idéia de que a criação é uma
operação contínua perpetuamente em curso, em movimento, exigindo
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tempo para atingir a maturidade e dentro da qual todas as coisas aspiram
um fim designado e desejado anteriormente”.
A história da Terra e a história da Humanidade estão igualmente
sujeitas a um processo contínuo de movimento e de transformação, a um
perpétuo vir-a-ser, apresentando, destarte, aspectos variados e distintos,
cambiantes, completando-se uns aos outros relacionando-se entre si e
sucedendo-se no curso dos séculos.
“A substância (vivente) – disse Leon Denis – é um Proteu que
reveste mil formas inesperadas... Todos os seres estão unidos uns aos
outros e se influem reciprocamente. O Universo inteiro está submetido à
lei da Solidariedade” (“O Grande Enigma”).
Aristóteles, adiantando-se à sua época (antes de Cristo) concebeu
também a unidade e continuidade da vida, não apenas no encadeamento
das formas, mas também nos seus caracteres psicológicos e morais.
Em razão dessa monumental e silenciosa progressão evolutiva
reconhece-se a necessidade de uma influência que se exerce de uma
maneira constante para conduzir os seres e as coisas das fases
rudimentares aos estádios mais aperfeiçoados.
Esta influência provém, indiscutivelmente, de uma Causa única, de
um dinamismo psíquico superior que abraça e une todas as coisas e seres
viventes, a todos os dínamos-psiquismo particulares em sua casualidade e
movimento proteiforme. Causa ativa, eficiente, infinitamente sábia,
centralizadora e diretriz das distintas atividades universais.
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“No Universo” – disse o pensador espírita argentino Manuel S.
Porteiro (“Espiritismo Dialético”) – “e como causa essencial de sua
existência, há, fora de toda dúvida, um princípio inteligente ativo criador e
transformador perpétuo.”
Assim o têm estabelecido, ainda que de diversas maneiras e sob
distintos nomes, todos os filósofos dialéticos, à exceção, entenda-se, dos
materialistas, que só admitem a matéria como substância única, como
única realidade e causa determinante da vida e do pensamento.
Heráclito, que fora o primeiro filósofo que pensou dialeticamente,
que concebeu uma concepção dínamo-genética da Vida e do Universo,
afirmou que:
“(...) tudo passa, que nada é, que tudo chega a ser, que nenhum
homem se banha duas vezes nas mesmas águas de um rio.”
Ele admitiu o princípio do movimento e da transformação constante
de tudo o que existe.
Diria, a propósito, Gustave Geley, o genial metapsiquista francês:
“A vida é movimento, a evolução é movimento. O progresso é
movimento, movimento ascendente, de transformação, de perfeição e
eterno rejuvenescimento.”
Leibnitz (Gottfried Wilhelm), o grande filósofo dinamista-
espiritualista e sutil dialético, sustentava que há uma tendência em tudo
quanto existe trabalhar, modificar-se uma aspiração a um fim mais ou
menos permitido:
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“O futuro está cheio de presente... Tudo que não se movimenta e se
transforma, morre.
Ou mais exatamente, não existe (Quo non agit nee existit).”
E completou o autor de “Novos Ensaios sobre a Compreensão
Humana”:
“Tudo marcha, tudo move, evoluciona e progride senão em linha
reta, mas em ciclos espirais de avanços e recuos, de auroras de acasos, de
primaveras e outonos, de vida e de mortes, que, por sua vez recobram
nova vida, num caudal de espiritualidade, de consciência infinitamente.”
A evolução em geral e em particular, em cada ordem das coisas,
tem suas revoluções seu aceleramento e suas rupturas de forma, como
resultado do progresso gradual que, ao chegar ao máximo de
desenvolvimento cíclico, rompe a resistência das forças que a pressionam
e produz mudanças e transformações, não apenas quantitativas, mas,
também, qualitativas. Cada vez que há uma mudança na progressividade
gradual, produz-se um salto, sem que por isto se origine descontinuidade
no progresso da vida, nem alterações biopsíquicas essenciais.
Os trabalhos de Hugo de Vries e de Armando Gautier confirmam,
na área da Biologia, como os de Cope, na Paleontologia, a teoria das
transformações bruscas ou por saltos, que concebeu o gênio dialético de
Hegel, de que se utilizaram Marx e Engels para a formulação do conceito
materialista da História, e que o espiritismo, com Gustave Geley,
redimensionava-o com o sentido espiritualista da evolução.
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Em conclusão: Na Natureza tudo está em contínuo movimento; é
um constante devenir, que não há nada absolutamente estático; nada
isolado ou desvinculado da causalidade universal e do princípio
psicodinâmico que a rege.
OS PROCESSOS VITAIS E DETERMINANTES DA MORFOGÊNESE
A reencarnação é, e será por longo tempo, uma questão em aberto e
assaz controvertida. Deve-se admitir, porém, que os dados até agora
coligidos são suficientes para demonstrar a realidade paligenésica. Afinal
de contas, o acaso (a que se atribui a origem da vida) é apenas uma tese
formulada à revelia das leis que regem o mecanismo existencial. A
propósito, é oportuno registrar, aqui, a opinião do Prof. Edward Conklin,
biólogo da Universidade de Princenton, nos Estados Unidos:
“A probabilidade da vida ter se organizado por acidente é
comparável à de um dicionário completo resultar de uma explosão numa
gráfica”.
A opinião do Dr. Conklin é compartilhada por outros cientistas,
muitos dos quais concordam que o ser humano é uma das ambiciosas
experiências da Natureza e que faz parte integral da organização universal.
Como o Universo é produto da organização e não do acaso, seus campos
regulam tudo que nele existe, incluindo os ser humano, que está sujeito às
suas leis e participa de sua finalidade. Edward Wriothesley Russel, em sua
obra “Reencarnação, o Mistério do Homem”, ratifica as concepções do
Prof. Conklin e acrescenta:
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“O ser humano não é uma relação atômica acidental, nem o
resultado de um ensopado cósmico de proteínas, cozido por raios da
Terra”.
Nossos corpos são o produto de uma organização, e tudo que é
organizado foi previsto e tem uma finalidade. O homem é, pois,
controlado por um acampo organizador eletromagnético, que E.W. Russel
rotulou de campo L (life). A existência desse campo – que é invisível – já
foi cientificamente comprovada por meio de instrumentos e testes
repetitíveis, que mostraram, também, o que faz e como se conduz. O
crédito cabe a dois cientistas americanos, os Professores Harold Saxton
Burr e F.S. Northrop, ambos da Universidade de Yale.
Em seu livro “Blueprint for Imortality”, H.S. Burr afirma que,
utilizando voltímetros para medir campos eletrodinâmicos em seres vivos,
comprovou a existência desse campo, o resultado de processos vitais mais
determinadores da morfogênese e, portanto, das conseqüências funcionais
da estrutura induzida. Esse campo atua na modelação e no funcionamento
dos seres vivos: entre outros, sementes, árvores, bactérias, células, animais
etc.
É óbvio admitir que, destarte, tais campos já existiam antes do
início da organização do embrião no útero, e não há razão para acreditar
que desapareçam quando o corpo físico morre.
Ainda conforme as deduções de Edward Wriotheley Russel, se o
novo corpo físico necessita de um campo eletromagnético L para
organizá-lo, os nossos pensamentos, sentimentos, memórias, etc., não
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precisariam de algo semelhante? Segundo Russel, a transmissão do
pensamento mostra que este tem propriedades semelhantes à de um
campo: reage a outros pensamentos, atua a distância, atravessa obstáculos
de toda natureza e é tão sensível que, quando é hostil, muitas vezes
consegue destruir as experiências sensíveis do fenômeno mental, o que faz
com que a mesma facilidade com que a luz vela um filme fotográfico.
PSICOMETRIA E VISÃO PANORÂMICA
A Psicometria guarda certa relação com o fenômeno da Visão
Panorâmica dos desencarnantes, tratada por Ernesto Bozzano em seu livro
“A Crise da Morte”. Na hora que antecede à desencarnação – e às vezes
quando está passando por um perigo mortal – a pessoa vê, em tempo
rapidíssimo, todos os lances de sua vida terrena, mesmo aqueles que se
achavam em total esquecimento. Este curioso fenômeno constitui um
constante inevitável em toda desencarnação. Não se trata de um
despertamento de memória, como nos casos clássicos de regressão
provocada, mas de um visão imposta ao “paciente” quando menos ele
espera, qual se lhe fosse apresentada numa verdadeira tela, descortinada
em brevíssimos e indimensionados instantes. As experiências realizadas
pelo psicólogo Raymond Moody, em mais de em pessoas dadas como
mortas, a retrospectiva panorâmica da existência vivida era visão
constante, fluente, como se fosse um exame de consciência obrigatório aos
que estão prestes a ingressar no mundo espiritual. Não seria nenhum
absurdo admitir que tanto a psicometria como a visão panorâmica tenham
origem comum nos “clichês astrais”.
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É de salientar, contudo, que na primeira ocorrência do fenômeno é
facultativa, podendo, inclusive, o sensitivo se recusar a entrar em contato
com o objeto a ser psicometrado, enquanto na Segunda ela é compulsória.
Nesse caso, parece que desconhecido botão de um interruptor é religado
de súbito, mostrando sob a luz astral um painel onde estão indelevelmente
gravados todos os lances de sua vida. Na psicometria há sempre um objeto
que serve de indução entre o sensitivo e as vibrações ligadas ao objeto.
Aqui, porém, qual o dispositivo que permite a ligação? Ou, então, “quem”
aciona o “botão” do interruptor?
O mistério se apresenta, por enquanto, impenetrável. Mas é
detectando-o, pensando nele, que algum dia – e disso não temos a menor
dúvida – conseguiremos decifrá-lo. Algumas ilações preciosas, no entanto,
já podemos tirar desses estudos. Tanto na visão panorâmica como nas
imagens percebidas pelo psicômetros, os agentes não estão sujeitos às
limitações do espaço/tempo. Acontecimentos complexos e prolongados,
tais como o retrospecto da vida humana, ou detalhes do ambiente de
antigo templo, são passados vertiginosamente, à maneira de clarões, o que
não impede a total apreensão deles. Experiências como estas têm sabor de
verdadeiras “mostras” da natureza de um estado de consciência que mais
tarde alcançaremos palmilhando as vias evolutivas. O que hoje representa
o vislumbre de uma percepção mais adiantada será o padrão do homem
amanhã. A verdade é que experiência válida que nos mostre ser possível
um tipo de compreensão sem as grilhetas do espaço e do tempo, nos induz
obviamente, que ela só pode ser alcançada fora da bitola tridimensional
em que vivemos na Terra. Assim, somos forçados a admitir as
especulações sobre uma Quarta dimensão, como também não são
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desprovidas de cunho científico – graças, principalmente, à psicometria –
as hipóteses do continuum da consciência cósmica, de William James; do
universo metaetérico, de Frederic Meyers; do continuum espaço-tempo,
do Professor Fantappié, ou ainda do akâsa da antiga sabedoria oriental...
GEMAS, AMULETOS E TALISMÃS – INTRIGANTE CAPÍTULO DA
PSICOMETRIA
Nos idos de 1937, a “Reveu Spirite” iniciava a publicação de uma
série de artigos de autoria do Professor Ernesto Bozzano sob o seguinte e
sugestivo título “GEMAS, AMULETOS E TALISMÃS”, traduzido pela
FEB e transcrito em “reformador” daquele mesmo ano.
No “caput” do artigo, o Prof. Bozzano, confessa que, por longo
tempo, hesitou antes que resolvesse tratar do assunto. Ao decidir-se a
discorrer sobre o especioso tema, acreditava que as lendas e superstições
que o alimentava através dos séculos escondiam inconfundíveis verdades.
Afirmaria, então, o nobre pesquisador italiano: “Tudo, em suma, nos induz
a supor que a imaginação dos povos jamais criou uma lenda que não
tivesse por fundamento uma certa verdade.” E sentencia – “Ora, pois que
nenhuma dúvida há de que uma parcela de verdade se encontre em todas
as lendas e crenças populares, é reconhecer-se que deve haver alguma
coisa de verídico na misteriosa virtude, bem ou malfazeja que foi atribuída
certas gemas e aos amuletos e talismãs, aos quais conviria mesmo
acrescentar as ‘relíquias’ dos santos”.
Em seguida, o Professor Bozzano reporta-se às experiências
desenvolvidas às expensas da extraordinária faculdade mediúnica de
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Reverendo Willian Stainton Moses, baseado na narrativa da Sra. Stanhope
Speer.
São exemplos de “trazimentos”, ou mais exatamente das misteriosas
criações de gemas, pela personalidade mediúnica do “Mentor”.
“Que as gemas em questão eram ‘criações espíritas’ e não
‘trazimentos’ – esclarece Bozzano – as personalidades mediúnicas
constantemente o afirmaram”. Essas pedras preciosas possuíam especiais
propriedades. A safira que o Espírito “Imperator” trouxe a Stainton
Moses, com o fim de lhe facultar uma proteção espiritual, possuía virtudes
curativas.
Quando Moses estava doente, a safira se embaciava e perdia toda a
transparência e assim permanecia até a cura completa.
Em seguida, Bozzano passa a palavra a Sra. Stanhope Speer, que a
relata, o seguinte:
“(...) vimos quase imediatamente formar-se uma auréola de luz em
torno do grupo de experimentadores enquanto perfumes deliciosos se
espalhavam pela sala. Pouco depois, Franklin se manifestou, dando
instruções a cerca das gemas trazidas antes e anunciando que aquela noite
com o auxílio de inúmeros Espíritos, iria constituir e trazer uma safira
para o médium. Previniu-nos de que se tratava de uma jóia muito preciosa,
como igual não existia no mundo. Os Espíritos-Guias a tinham saturado de
diferentes espécies de influências favoráveis, que iriam fazer muito bem
ao médium, assim como do ponto de vista espiritual, como do ponto de
vista físico... No fim da sessão deparamos com belíssima gema prometida
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a Stainton Moses. Era de viva cor azul, mas ao mesmo tempo, de
puríssima água, luminosa. Os Espíritos-Guias previniram a Stainton
Moses que a devia guardar como tesouro, com o maior cuidado e tê-la
sempre consigo. Notamos que, quase sempre, quando Stainton Moses não
estava de boa saúde, a safira se embaciava e mudava de cor”.
Em seguida, Stainton Moses relata que fora na Regent Street
(famosa rua de Londres), à casa dos joalheiros “Leroy and Son”, para
mandar montar num anel a safira. Quando os joalheiros lhe entregaram o
anel, reuniu-se com Espíritos, tendo à frente o “Imperator”, seu guia, afim
de expurgar a jóia das ‘influências’ contrárias que absorvera passando por
tantas mãos. Este relato com detalhes, pode ser encontrado nos
“Proceedings” (Resenhas) das Sociedades de Pesquisas Psíquicas, de
Londres, volume XI.
Na Revista Light, 1883, porém vêm contados pela Sra. Speer, os
trâmites da sessão a que refere o médium Stainton Moses:
“Haviam-nos dito que mandássemos montar as gemas que tínhamos
recebido em outros tantos anéis que traríamos constantemente no dedo.
Essa noite pediram-nos que as puséssemos todas a mesa para que
pudessem saturar de influências espirituais. O Sr. Moses colocou seu anel
no meio da mesa, em um lenço de seda. Logo depois, vimos formar em
torno do grupo o habitual luminoso, enquanto que uma rápida série de
pancadas era dada ao redor da jóia. Manifestou-se, além do “Imperator”, o
espírito Benjamim Franklin, anunciando que o anel tinha sido purificado
das influências contrárias que absorvera no curso do trabalho de
montagem. Depois disso, um orvalho abundantíssimo de deliciosos
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perfumes começou a cair sobre os anéis e sobre nós mesmos. O lenço que
continha o anel de Stainton Moses ficou literalmente ensopado desse
orvalho e lhe conservou o perfume por muitos dias. “Imperator” se
manifestou, por grandes benefícios que havíamos de tirar deles, sob
diferentes aspectos, pois que os Espíritos-Guias reconheceriam sempre e
em todos os lugares sua ‘auras’ e não deixariam de afastar de nós o que
nos pudesse prejudicar, cercando-nos de influências propiciais... Quando
“Imperator” acabou de falar, o médium despertou sobressaltado chegando
a perceber ainda a majestosa figura do Guia”.
Após essa sessão de purificação e de saturação de energias
espirituais, Stainton Moses evoca o Espírito –Guia, com o qual se
comunicava através da escrita automática:
“Moses – Desejo comunicar-me com Benjamim Franklin.
“Espírito-Guia – a propósito de que?
“Moses – ele me trouxe uma pedra preciosa e eu queria obter
explicações sobre isso.
“Benjamim Franklin – A gema que te foi trazida encerra virtudes
magnéticas especiais, que nós lhe transfundimos.
“Moses – infinitamente reconhecido vos sou pela dádiva que me
fizeste.
O joalheiro a quem levei para mandar montá-la num anel ficou
maravilhado e declarou que jamais vira pedra preciosa de tal beleza.
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Agora diz-me: esta safira é de origem terrestre? Ou foi criada por vós
outros? Será coisa diferente do que temos neste mundo?
“Benjamim Franklin – É diferente das safiras terrenas e muito
preciosa. É de valor inestimável, dado que nenhum existe igual no vosso
mundo.
O joalheiro não podia notar as diferenças que há entre a vossa safira
e as que conhece, porque a pedra que te dei tem a aparência e traços
característicos das safiras da terra. Somente pela visão espiritual se chega
a distingui-la das outras.
“Moses – Quão grande é a ignorância do mundo, acerca desses
mistérios!
“Benjamim Franklin – E assim continuará enquanto se conservar
tão material nas suas aspirações. A grande maioria dos homens é
excessivamente mundana, vulgar, para perceber as influências espirituais
de natureza sutil e apurada... Gemas, perfumes e música são os três
grandes veículos da influência espiritual.
O Prof. Ernesto Bozzano retoma a palavra e oferece os seguintes
esclarecimentos:
“Os trazimentos de gemas que Stainton Moses obteve, constituíram
‘criações mediúnicas’ e, não ‘trazimentos’ propriamente ditos. Também
farei notar que, estivessem em causa jóias terrenas subtraídas a seus
proprietários por aquelas personalidades, os jornais da época não teriam
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deixado de falar de uma série de furtos misteriosos de pedrarias de grande
valor, realizadas em joalherias ou em casas particulares.
“Não será inútil previamente, desde já, às insinuações de jocoso que
entendesse de levantar a hipótese de que o Reverendo Stainton Moses
comprava as jóias que surgiram nos cursos das sessões. Respondo,
fazendo notar que o Sr. Moses estava longe de ser rico.
Viveu sempre às expensas dos modestos ganhos que tirava do seu
trabalho”.
Em seguida, o Prof. Bozzano, pretendendo ao que parece, lançar
luzes sobre o inusitado fenômeno, esclarece:
“Os trazimentos de pedras-amuletos que aqui estudamos,
apresentam modalidades de manifestação que levo a supor que alguma
outra parcela de verdade, de categoria muito diversa, se deveria encontrar
oculta e disfarçada no amontoado de superstições que os séculos nos
transmitiram”.
E prossegue:
“O fenômeno é de natureza a não surpreender os que têm
conhecimento da fenomenologia metapsíquica, dado que o fato de uma
saturação fluídica dos objetos, alheia aos próprios objetos, está
cientificamente provada pela existência de psicometria, nas quais a
absorção da ‘aura’ de um indivíduo por objeto qualquer que ele trouxe
longamente consigo, constitui o fundamento das experiências em questão.
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E estes – repito-o – pertencem doravante aos fenômenos metapsíquicos
comprovados”.
É realmente sabido que as experiências de psicometria demonstram
que a matéria, em geral, é susceptível de registrar as vibrações emanantes
dos acontecimentos que perto dela se desenrolam, tornando aptos os
sensitivos psicômetros revelar os seus trâmites muita vez com
surpreendentes detalhes. É assim eu um pequeno fragmento de fóssil da
época quaternária pode revelar um episódio da história geológica e
paleontológica do seu tempo, tal como se dá no caso de um objeto usado
durante muitos anos por um vivo ou um morto, o qual revela ao sensitivo
parte dos acontecimentos que o seu dono viveu.
Segue-se que, em princípio, as experiências de psicometria provam
a existência de qualidade benéfica ou maléfica registradas e conservadas
nas gemas, amuletos e talismãs, graças à intervenção de uma vontade
exterior. Fora, todavia mister que esta se caracterizasse por um poder
excepcional de irradiação, combinado com uma extraordinária energia
volitiva, acrescendo que os objetos assim influenciados teriam de ser
eficazes unicamente nos casos de percipientes ultra-sensíveis. A grande
maioria dos vivos se conservaria insensível a essa influência. É, aliás o
que acontece nas experiências de psicometria, em que somente alguns
raros sensitivos chegam a perceber as influências existentes nos objetos.
Essas circunstâncias são de natureza as proporções modestas a
eficácia benéfica ou maléfica dos artefatos usados como amuletos e
talismãs. Nas instruções dadas pelo Espírito-Guia de Stainton Moses sobre
a maneira que devia ser empregada a jóia-amuleto, depara-se com uma
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observação que limita a sua ação taumatúrgica. Destarte, as propriedades
curativas da influência contida na gema mostrou-se especialmente eficazes
(no caso de Stainton Moses) por o seu o mesmo sensitivo, do contrário,
não seriam experimentados quaisquer efeitos curativos. Entretanto, deve-
se ressaltar, à guisa de exceção, os casos que têm com causa um fato auto-
sugestivo determinado pela fé cega nas virtudes taumatúrgicas do objeto
ou eficácia das práticas religiosas.
O Prof. Bozzano conclui seus arrazoados observando que não se
poderia racionalmente, por em dúvida a origem espirítica dos trazimentos
de pedras-amuletos obtidos nas experiências de Stainton Moses. Não há
no mundo corpóreo pedras preciosas que se embaciem e mudem de cor,
quando o respectivo dono está doente. Despontam no particular, as
seguintes perguntas: não se podendo negar, no caso de que se trata a
existência, nas pedras, de uma situação fluídica de origem exterior, qual
seria então a origem dessa influência? Se não é devida à vontade das
personalidades espirituais que haviam criado as jóias, qual poderia ser o
desconhecido vivo que transmitia a sua influência taumatúrgica? Não tem
resposta esta pergunta, a menos que se busque refúgio, ainda uma vez, na
cômoda hipótese de subconsciência, que houvera tirado do nada as pedras
preciosas para em seguida, as saturar de influência benéficas extraídas de
si mesma e que serviriam para curar... a ela mesma e aos outros. É
evidente que tudo isso raia ao absurdo. Os que com isso se contentam têm
liberdade de fazê-lo, mas com a condição de não falarem em nome de
pesquisas científicas, e, sim, em homenagem ao direito de soltarem os
freios à fantasia.
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Há ainda que destacar: é que uma regra elementar das pesquisas
científicas exige que nunca se chegue a conclusões de origem geral com
fundamento na análise parcial de um só grupo episódico, destacado do
conjunto dos fatos que formam, com ele, uma coisa indivisível. Ora, o
fenômeno de trazimento de pedras preciosas mais não é do que um grupo
episódico pertencente a um grupo prodigioso de outros grupos episódicos
de ordem física e intelectual que, considerado coletivamente, forma um
feixe tal de provas indutivas e coletivas, convergentes para uma
explicação única – a interpretação espirítica dos fatos – nenhuma dúvida
fica sobre a legitimidade dessa interpretação. Unicamente para se chegar a
tais conclusões, é preciso haver estudado, analisado, comparado o
conteúdo de uma enorme documentação concernente às experiências de
que se trata. Os relatos da Sra. Speer a uma série inteira de sessões
experimentais, que duravam nove anos, apareceu na revista LIGHT, entre
os anos de 1982 à 1983. Nunca foram reunidos em volume, nem mesmo
na Inglaterra, e hoje não há como encontrá-los. Contudo, o Prof. Bozzano
possuía a coleção completa desses relatos publicados na LIGHT, o que lhe
possibilitada emitir juízo com conhecimento de causa. Nessas condições, é
manifesto que, se houvesse outros pesquisadores que desejassem a seu
turno, julgar destes fatos, pronunciando contra a origem espírita das
pedras – tirando da análise parcial de um só grupo episódico conclusões
de ordem geral – esses tais cometeriam, pelo menos, um erro imperdoável
de metodologia científica.
O Prof. Bozzano chega a esta conclusão: “os famosos trazimentos
de gemas-amuletos que se realizavam com o auxílio da mediunidade do
Reverendo Stainton Moses, não contribuem apenas para pôr em foco as
CURSO DE ESPIRITISMO
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parcelas de verdade existentes no amontoado informe de superstições que
se aglomeram em torno da história dos amuletos e dos talismãs; não
servem unicamente para clarear este assunto tão obscuro, legitimando-o
em pequena parte e fixando-lhe em limites muitos estreitos a possível
influência. Concorrem, também, de maneira eficaz, para demonstrar a
intervenção incontestável de entidades espirituais nas manifestações a que
nos referimos, o que eqüivale a lhe entender o alcance a todas as grandes
manifestações do mesmo gênero”.
Deve-se louvar, sem embargo, a atitude corajosa do Prof. Bozzano
em tratar de um assunto que, no campo do psiquismo, se conserva menos
elucidado, senão em profunda obscuridade, razão, naturalmente, porque
também é o que dá lugar a opiniões ou crenças mais extremadas, que vão
desde a negação absoluta, até a aceitação e sem reservas de todas as lendas
que se têm divulgado em torno da eficácia desses objetos a que, vai para
muitos séculos, se atribuem as mais variadas e portentosas virtudes.
Mesmo os que se dedicam ao estudo a análise da fenomenologia espírita,
diversificam-se nos seus pareceres sobre o momentoso assunto. Aliás, este
é um dos pontos menos explícitos se mostraram os Espírito da
Codificação, nas revelações e esclarecimentos que transmitiram ao Mestre
Allan Kardec, o qual também pouco se demorou em comentá-lo na obra
básica do Espiritismo – “O Livro dos Espíritos”.
Eis aí um campo vastíssimo que se abre à pesquisa efetivamente
inconclusa, a despeito das experiências com o notável médium Stainton
Moses...
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Os pesquisadores interessados poderão encontrar vasto material
sobre a PSICOMETRIA nas obras a seguir assinaladas:
Psychométrie, L. Deinhard, Paris;
A Manual of Psychometriy: The Dawn of a New Civilization,
Boston, 1886, J. Rhodes Buchanan (o pioneiro no campo de pesquisas
psicométricas);
Traité de Metapsychique, Charles Richet, Paris, 1922;
Nature’s Secret or Psychometric Researchs – W. Dentos e Elisabeth
Denton, Londres;
The Soul of Things – W. Denton, Londres;
Enquête Sur des Cas de Psychométrie, La Vue à Distance Dans le
Temps te Dans L’espace, Edmond Duchâtel, com prefácio de J. Maxwell,
Paris, 1910;
Seeing the Invisible: Pratical Studies in Psychometry, thought
transference, telepaphy and allied phenommena, James Cootes, Londres,
1909.
PALIGENESIA ÉTICA E DIALÉTICA
O Prof. Humberto Mariotti, na sua obra “Parapsicologia e
Materialismo Histórico”, que:
“Se o Homem continuar pensando em sua própria finitude, não há
dúvida que a civilização terminará na mais terrível das catástrofes
CURSO DE ESPIRITISMO
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espirituais. Porque, se o homem-que-morre é quem deve reger o
desenvolvimento humano, tudo será relativo e tenderá a malograr com a
idéia do nada... O homem finito, com seus afetos e aspirações, resultará
em tragédia e fatalidade”.
Contra esse absurdo, só o ensino e a idéia da doutrina palingenésica
podem, realmente, descortinar ao homem seu futuro além dos limites da
morte, substituindo a visão do nada pela imortalidade e do progresso
infinito.
Com base nesta transcendental e ética perspectiva, cunhou-se o
admirável aforismo insculpido no frontispício do dólmn de Allan Kardec,
no histórico Cemitério Pére-Lachaise, em Paris:
“Naitre, Mourir, Renaitre encore et progresser sans cesse, telle est la
loi”.
Destarte, sentencia, por sua vez, o Dr. Gustave Geley:
“As tumbas deixam de ser tumbas: são asilos passageiros para o fim
da jornada das ilusões. E, assim como se desvanece, pela idéia
palingenésica, o caráter fúnebre da morte, também se implode o
monumento de injustiça edificado pelo evolucionismo clássico. Já não há,
na evolução, sacrificados e privilegiados. Todos os esforços individuais e
coletivos, todos os sofrimentos e amarguras desembocarão na realização
da justiça e do bem; mas o bem e a justiça para todos, porque todos
teremos contribuído para a justiça e o bem”.
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Deve-se observar que as concepções geleyanas se identificam com a
dialética de Hegel, filósofo idealista do século XIX. Para o célebre autor
de “Fenomenologia do Espírito”, os fenômenos materiais outra coisa não
são que objetivações da idéia, e o mundo subjetivo se desenvolve por uma
lei de contradição que se opera através de uma tese, de uma síntese (ou de
uma conciliação). Em princípio, a filosofia hegeliana corresponde ao
mesmo processo da filosofia palingenésica do Dr. Gustave Geley. Com
efeito: o Absoluto de Hegel e o Dinamopsiquismo do Metapsiquista
francês, definem na mesma entidade, e as três fases da dialética de Hegel
correspondem, respectivamente, à trilogia do nascer, morrer e renascer.
Deve-se concluir que a evolução, como é brilhantemente concebida,
não tem o poder de mudar a essencialidade do Ser, supõe ao contrário,
uma causalidade essencial, sem a qual não se admite nenhum progresso.
Diria a propósito o pensador brasileiro Jacob H. Neto:
“O movimento e o temo não podem criar, por si sós, o que não
existe – só envolve o que tem existência potencialmente ou em
desenvolvimento”.
Evidentemente, não se passa do não-ser ao ser, nem da quantidade a
qualidade, senão em virtude de uma existência e de uma qualidade
análogas anteriores; de causalidade substancial que as compreenda e as
modifique. Não se pode conceber nenhuma transformação, nenhuma
mudança morfológica fundamental, sem uma causa essencial persistente,
sem continuidade biopsíquica, sem um elemento organizador e diretor da
matéria que leve em si mesmo, potencialmente as possibilidades de suas
metamorfoses.
CURSO DE ESPIRITISMO
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Entretanto, a continuidade biopsíquica não implica a continuidade
morfológica: as formas passam e desaparecem mas a vida psíquica
permanece. É ela que envolvo, emprestando pela reencarnação, progresso
e perfeição às formas que cria. As espécies, tanto quanto os indivíduos,
podem aparentemente, desaparecer e deixar, nos fósseis, os vestígios de
sua existência; mas a vida psíquica que as animava se projeta a outras
dimensões para, mais adiante, animar espécies e indivíduos, sem perder
sua e essencialidade psicodinâmica.
Em suma: tudo é transito para alcançar formas e qualidades novas;
tudo está em perfeito vir-a-ser, sem ser jamais algo definitivamente
concluído. Observe-se porém: o que muda e se transforma continuamente,
através do processo palingenésico, são as formas e qualidades, e, não, a
essência!
Não há, em verdade, descontínuo na evolução biopsíquica. Só a
aparência das formas materiais transitórias pode fazer supor tal
descontinuidade. Apenas os niilistas, para quem essas formas em si
mesmas e suas transformações constituem a única realidade, podem negar
a continuidade da vida psíquica, isto é, a sobrevivência do ser após a
falência do corpo e sua reencarnação.
Heráclito de Éfeso, que se afirma ter sido o primeiro filósofo a
pensar dialeticamente, dizia:
“Tudo passa, nada é, tudo chegar a ser; nenhum homem se banha
mais de uma vez nas mesmas águas de um rio...”
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O DEVER ESTRITO E SAGRADO DA DOR
O sofrimento é condição inexorável do existir terreno, isto é, atinge
e pensa inflexivelmente sobre todas as criaturas que, nesta vida ou em
vidas passadas, faltaram ao cumprimento dos preceitos renovadores das
leis divinas, e não têm ou não tiveram uma vida limpa de erros, ou seja, a
perpetração de atos e de posturas mentais contrários às regras de uma vida
equilibrada e justa.
Ambições desmedidas, invejas turvas, orgulho impertinente, ódio
transformado em vinganças, egoísmo sustentáculo da cobiça, tudo isso
constitui, nas almas, disposições para a maledicência: produto da inveja;
para ofensa e espezinhamento dos outros como produto do orgulho; para a
prática dos mais degradantes crimes, como produto do ódio; para a prática
do roubo e de todas as extensões, que é o caminho sempre percorrido
pelos ambiciosos e egoístas.
De todo este estendal de misérias psíquicas resultam desarmonias
entre os prevaricadores e suas vítimas, possibilitando quadros obsessivos
pertinazes, horrorosos.
Nestas condições, o sofrimento é um providencial estádio de
reabilitação das almas, levando-as a refletir sobre os justos ditames da Lei
de Deus...
A dor tem levado o homem à elaboração das mais diversas
filosofias. Quer dizer que o tem obrigado a pensar. Ora, pelo pensamento,
a maior força do Universo, porque força essencialmente divina, é que nos
libertamos do escuro cárcere a que nós mesmos nos condenamos, quando
CURSO DE ESPIRITISMO
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cega trazemos consciência. O pensamento, só ele, é exclusivamente
nosso, porque cada um de nós é uma mente a atuar no plano das vibrações
correspondentes.
De certo, portanto, o pensamento que levou o homem primitivo,
maravilhado com o espetáculo da Natureza, a soltar o seu primeiro grito
de assombro.
Rodeava-se o mistério e ele, impotente para criar uma que fosse das
maravilhas que se lhe ostentavam, pensou num ente superior, oculto à sua
vista, e entoou, num arroubo espontâneo de admiração, o seu primeiro
hino ao Criador.
Mais tarde, com o conhecimento da própria natureza lhe fosse
desvendado as atitudes da Divindade, tornando-a infinitamente maior e,
por isso, afastando-lha da retina, acabou confundindo a obra com o
artífice.
A própria Natureza, todavia, mostrou-lhe que a dor a todos
acompanha, qual sombra do berço ao túmulo ele inquiriu:
“- Mas, como! Se Deus é bom, como pode ter-nos condenado à
dor?”
Por outro lado, conceber a onisciência e a onipotência associados à
maldade, à iniquidade, à justiça fora absurdo. Mais lógico seria negar-lhe
a existência. Tudo descamba no nada!
A dor, porém, continuou, calma e serenamente, a espiritualizá-lo,
como quem cumpre dever estrito e sagrado.
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OS VÁRIOS MUNDOS E A ESCALA EVOLUTIVA
Os Espíritos Reveladores justificando a diferença entre os vários
mundos e os seres que neles vivem, reportam-se à escala evolutiva
regulada pela reencarnação, apresentando o seguinte raciocínio:
- Deus cria os Espíritos permanentemente, jamais deixando de criar;
- as possibilidades de cada Espírito, conforme o nível de perfeição
- há diferentes ordens de Espíritos, conforme o nível de evolução a
que tenham alcançado;
- as experiências a que estão submetidos, através das reencarnações
sucessivas justificam essa evolução;
- após muitas experiências e reencarnações, os Espíritos atingem o
estado de perfeição;
- tudo acontece nos mais diferentes mundos, igualmente submetidos
a uma hierarquia espiritual;
- passando de um mundo para o outro, o espírito leva consigo as
experiências adquiridas nas anteriores.
Prosseguindo em sua investigação, Kardec pergunta aos
Reveladores, objetivamente, sem meios termos, se os seres que habitam os
diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos, obtendo esta
resposta:
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“É fora de dúvida que têm corpos, porque o espírito precisa estar
revestido de matéria para atuar sobre a matéria. Esse envoltório, porém, é
mais ou menos material, conforme o grau de pureza a que chegaram os
Espíritos. É isso que assinala a diferença entre os mundos que temos de
percorrer, porquanto muitas moradas há na casa de nosso pai, sendo
consequentemente, de muitos graus essas moradas”.
Embora recebesse respostas tão claras, Kardec volta a indagar:
“É nos possível conhecer o estado físico e moral dos diferentes
mundos?” E os Reveladores disseram: “Nós, Espíritos, só podemos
responder de acordo com o grau de adiantamento e que nos achais. Quer
dizer que não devemos essas coisas a todos, porque nem todos estão em
estado de compreendê-las e semelhante revelação os perturbaria”.
Os estudos da EXOBIOLOGIA vêm confirmar as concepções
palingenésicas dos Espíritos da Codificação. O Dr. L. J. Carter, por
exemplo, da Sociedade Interplanetária Britânica, em conferência naquela
organização científica, fez esta sensacional revelação:
“Fala-se, em geral, na vida com nós a conhecemos. Mas, porque
deveria haver somente esta espécie de vida? As descobertas mais recentes
não excluem a vida em outros mundos. Poderá haver muitas combinações.
Poderá muitas centenas de milhares de formas de vida.” Acrescenta, a
seguir, que esse estudo, por ser atraente, vai sendo apreciado seriamente,
com a criação de um novo ramo de ciência para investigar os seres no
espaço. Esse estudo é chamado EXOBIOLOGIA vem sendo ministrado
CURSO DE ESPIRITISMO
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nas melhores universidades da Inglaterra, dos Estados Unidos e da União
Soviética.
A verdade é que os homens de ciência sempre predispostos a negar,
começam a crer nos mundos habitados, confirmando, destarte, o preceito
evangélico de que na “Casa do Pai há muitas moradas”.
A PARAPSICOLOGIA E A ALMA
Afirma-se que a Parapsicologia foi uma criação do Prof. Joseph
Banks Rhine, la Duke University (USA). Na verdade, Max Dessoir já
referia à Parapsicologia em junho de 1889, conforme registro na Revista
Luce e Ombra de julho/agosto de 1931. Émile Boirac também fazia
menção à disciplina, denominando-a de Psicologia Desconhecida. William
Mackenzie, citado por Boirac (L’Avenir des Sciences Psychiques),
dirigente da Revista “parapsicologia”, afirma que “a sua revista nada tinha
de comum com o pensamento de alguns metapsiquistas, que admitem os
fenômenos como sendo coisas do além do túmulo”. E enfatiza: “Não há
nenhuma relação entre o Espírito dos espiritistas e o Espírito da
parapsicologia” (!) O Prof. Herculano Pires admite, em seu livro
Parapsicologia Hoje e Amanhã (Capítulo 1) que a parapsicologia “É uma
disciplina científica, mas não propriamente uma ciência, pois o seu lugar
científico é nos quadros da Psicologia” – E afirma adiante: “É necessário
compreendermos isso para não atribuirmos à nova disciplina uma posição
excepcional no plano do conhecimento, e sobretudo para não lhe darmos
um sentido e um caráter misterioso”. E, conclusivo: “Colocando as coisas
em seu devido lugar, podemos dizer que a Parapsicologia é uma nova
forma de desenvolvimento das pesquisas psicológicas”. E, Em seguida o
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ilustre autor de O Espírito e o Tempo cita o Dr. J. B. Rhine e o seu livro
New World of the Mind, lançado pela Editorial Paidos, de Buenos Aires,
sob o título: El Nuevo Mundo de la Mente, onde o autor afirma,
categoricamente: “El tipo de experiência que más lhama la aténcion, es
aquel en que la intención que se halla detras del efecto producido es tan
peculiarmente la de uma personalidad fallecida que no es razonable
atribuir la acción a ningún outro origen”. O Prof. Deolindo Amorim,
beletrista baiano (de saudosa memória0 reporta-se à orientação seguida
pelo Instituto de parapsicologia de Buenos Aires, Argentina, com base nas
conclusões de J. Banks Rhine, no livro supracitado: “1) Os fenômenos
parapsicológicos evidenciam que existe no homem o fato espiritual; 2) As
provas de que o homem é algo mais do que um ente material vêm
reafirmar a base de todas as doutrinas religiosas, isto é, a sua natureza
espiritual; 3) As experiências de percepção extrasensorial demonstram que
a mente.
OS SÍMBOLOS
SÍMBOLO
O vocábulo SÍMBOLO vem do grego SUMBALLEIN, que
significa LIGAR ou ATAR8.
Das mais remotas eras à modernidade, o processo humano de
comunicação se realiza através de riquíssima SIMBOLOGIA. Os seres
primitivos deixaram nas rochas frias das cavernas os registros indeléveis
de seu “modus vivendi” em um meio inóspito e adverso, onde a luta pela
sobrevivência identificava-o com os irracionais. E um dos maiores
8 Um SUMBALLON era um sinal de reconhecimento: um objeto cortado em duas metades, cujo confronto permitia aos portadores de cada parte se reconhecerem sem jamais se terem visto antes.
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SÍMBOLOS dessas perdidas cidades, o TOTEM, representava,
alegoricamente, animais, plantas e fenômenos da Natureza, como a chuva,
o raio, etc... Afirma-se que o SÍMBOLO é um MICROCOSMO do que
representa:
*Consubstancia, em essência, a força e a energia que lhe deu
origem.
O SIMBOLISMO ESOTÉRICO
É no ESOTERISMO que o SÍMBOLO atinge sua justa dimensão.
Entre os gregos o ESOTERISMO é ensinado de uma maneira íntima e
simbólica, somente aos INICIADOS. Em contrapartida, o ESOTERISMO,
acessível a todos, exposto sob forma de diálogos. Essa FILOSOFIA
ESOTÉRICA estava contida em obras de fundo não-dialético, mas
dogmático. ARISTÓTELES, v.g., dividiu as suas obras em não-esotéricas
ou acroamáticas e esotéricas. Esta distinção estaria ligada
fundamentalmente à forma e aos processos de exposição. Nas obras NÃO-
ESOTÉRICAS os argumentos são claros e mais facilmente inteligíveis;
nas obras ESOTÉRICAS os argumentos são obscuros e simbólicos. Essa
idéia de uma doutrina misteriosa e emblemática reservada aos iniciados
seduziu muitos Espíritos. O ensino do ESOTERISMO era ministrado
oralmente ou através de textos; comportava especialmente a
EXPLICAÇÃO DOS ARCANOS, as TRADIÇÕES DA CABALA e a
MAGIA, o RITO SIMBÓLICO DOS MISTÉRIOS SAGRADOS, assim
como os SEGREDOS DA ALQUIMIA.
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A EXPRESSÃO ESOTÉRICA DO PENSAMENTO
Afirma-se que o PENSAMENTO, a nível ESOTÉRICO, seria a
resposta simbólica do EU9, que nada mais é do que a MANIFESTAÇÃO
OCULTA DO ESPÍRITO (O SER PENSANTE). As idéias, os
sentimentos, os caracteres, a sensibilidade, as idiossincrasias, são atributos
do SER ESPIRITUAL, que se manifestam, de ordinário, em formas
simbólicas inconfundíveis. Não é sem razão que o ESOTERISMO admite
que um símbolo é uma representação que oculta ou vela uma verdade
subjacente, íntima, de ordem espiritual. Destarte, determinadas figuras ou
signos encobrem princípios filosóficos abstratos, e os corpos visíveis são
símbolos de Espíritos ou forças invisíveis. Seria, a grosso modo, aquele
produto ideoplástico da alma, segundo as teses psicodinâmicas de
GUSTAVE GELEY, o gênio metapsiquista francês? Nesse sentido, o
homem viria a ser a manifestação estereológica e simbólica da alma, que
essencialmente não poderia “EXISTIR” na esfera ponderável, porque esta,
a rigor, não lhe é específica...
Ultimamente, vem se constatando um expressivo interesse pelo
estudo e interpretação dos SÍMBOLOS, com o advento das pesquisas na
área (ainda obscura) do INCONSCIENTE. Direcionam, tais pesquisas,
especialmente, para a compreensão dos mecanismos do sonho, seu
conteúdo manifesto e sua função. ARTEMIDORO DE ÉFESO, afirmara:
“Sonhos e visões são incutidos nos homens proporcionalmente à
sua superioridade e instrução”.
9 EU: segundo alguns enciclopedistas, é uma palavra dêictica, vazia de conteúdo semântico, que por papel representa a pessoa que fala. O que constitui a individualidade: *o Eu de cada um; SUJEITO PENSANTE (filosofia); o EGO (psicanálise).
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101
Teria sido esse analista grego o pioneiro no campo da investigação
criteriosa dos sonhos, reunindo-a em cinco volumes (ONEIRO-
CRÍTICA).
Os escritos de ARTEMIDORO influenciaram, mais tarde,
SIGMUND FREUD. Nesse sentido, o “PAI DA PSICANÁLISE”
desenvolveu a técnica da “ASSOCIAÇÃO LIVRE DE IDÉIAS” e a
tradução de símbolos contidos no material psíquico, em que se capitulam
não apenas os contidos no material psíquico, em que se capitulam não
apenas os sonhos, mas atos falhos, impulsos, fantasias, ansiedades etc. as
idéias da existência de um INCONSCIENTE na estrutura da realidade
psíquica, interna, ao tempo dos primeiros trabalhos de FREUD, vinha
sendo abordada por diversos pesquisadores, entre os quais destaca-se
PIERRE JANET (1859-1947) considerado o fundador da Psicologia
clássica, desenvolveu uma teoria do funcionamento psíquico oposta à de
seu contemporâneo SIGMUND FREUD – a PSICOLOGIA DOS
COMPORTAMENTOS. Escreveu: “O AUTOMOTISMO
SICOLÓGICO”, dado a público em 1889. Não apenas PIERRE JANET
discordou das concepções freudianas, mas alguns de seus próprios
discípulos, tais como: ALFRED ADLER, CARL GUSTAVE JUNG,
OTTO RANK, KAREN HORNEY, enquanto outros aprofundaram as suas
idéias: ANA FREUD, S. FERENCZI, MELAINE KLEIN e K.
ABRAHAM, em que assume realce o problema da formação, estrutura e
atividade do EGO.
C.G. JUNG é, sem dúvida, o maior crítico de Freud, particularmente
no que diz respeito à interpretação dos sonhos, oferecendo, às ilações
freudianas, as seguintes contestações:
CURSO DE ESPIRITISMO
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“Da mesma forma que a vida humana não se limita a este ou aquele
instrumento básico, abrangendo, ao contrário, uma multiplicidade de
instintos, os sonhos não podem ser explicados por este ou por aquele
elemento isoladamente, por mais simples e atraente que tal explicação
pareça... Jamais uma teoria simplificada dos instintos será capaz de
abranger toda essa coisa misteriosa e poderosa que é a PSIQUE
HUMANA, e tampouco o sonho, e sua expressão”.
E arremata:
“Os sonhos dão expressão à verdade incontestáveis, a
pronunciamentos filosóficos, a fantasias selvagens, a ilusões, a previsões,
a experiências irracionais, até mesmo a visões telepáticas e talvez a muito
mais”.
Não parece o psiquiatra falando, sempre pragmático, ortodoxo,
sistemático; dir-se-ia um espiritualista convicto, ciente das implicações
espirituais dos sonhos, que assim nascem, sob variada circunstância, nos
refolhos da alma e se projetam insopitáveis, ao consciente; ou decorrem
do contato efetivo e inelutável do espírito encarcerado com a alma liberta
dos grilhões da carne. Desse intercâmbio, não percebido ou não aceito
pelos psicanalistas (repulsa ao eterno) se identifica a gênese dos
problemas maiores e profundos do SER, o Ser que venceu a morte,
integrando-se à dimensão que lhe é essencialmente específica.
O mistério e o poder da PSIQUE HUMANA seriam investigados
por JUNG. Não se limitou à tecer simbólicas e complicadas teorias sobre
o psiquismo; investiu, com inusitada ênfase, na área da fenomenologia
CURSO DE ESPIRITISMO
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103
supranormal, na tentativa de encontrar as respostas de que tanto precisava
para a formação de sua doutrina psicanalítica. Diria, a propósito,
MARTIN EBON, em “THEY KNEW THE UNKNOWN” (The New
American Library, Inc., New York):
“O interesse de JUNG pelo OCULTO, iniciou-se com uma
cuidadosa análise da Literatura do séc. XIX. Em 1897, enquanto era ainda
um estudante, encontrou, numa biblioteca, pequena história de fundo
eminentemente espiritualista, que o impressionou de tal forma que ele iria,
mais tarde referir-se à narrativa em suas “MEMÓRIAS”. A partir desse
contato com a “QUESTÃO ESPIRITUALISTA”, JUNG busca, o tempo
todo, provar, a si mesmo, a verossimilhança dos relatos espíritas. As
experiências de dois cientistas, no particular, suscita-lhe especial atenção:
JOHANN C.F. ZOLLNER, Professor da Universidade de Leipzig e SIR
WILLIAM CROKES, físico inglês de ilibada reputação internacional.
ZOLLNER reúne os iniciais frutos de seu trabalho mediúnico na obra
“TRANSCENDENTAL PHISICS” (física transcendental) enquanto SIR
WILLIAM CROOKES (1832-1919), após reiteradas e frutuosas
experiências espíritas, publica várias obras, entre as quais destacam-se
“RECHERCHES SUR LÊS PHÉNOMÉNES DU SPIRITUALISME”
(edição francesa) e “FATOS ESPÍRITAS”, onde evidencia as notáveis
faculdades mediúnicas de FLORENCE COOK, KATE FOX e DANIEL
DUNGLAS HOME.
Considera-se o ano de 1916 o ponto alto da crise emocional de
JUNG, quando ele começou a ser assediado pelos fantasmas. As
referências do psicanalista a respeito são vagas, emblemáticas, obscuras.
Mas ainda assim percebe-se o que, no íntimo da narrativa, identificam-se
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o real, o verossímil. JUNG sentia uma sensação indefinível de
intranqüilidade; a casa inteira pareceu-lhe cheia de Espíritos de mortos:
“Havia uma atmosfera sinistra envolvendo-me completamente. Eu
tinha a estranha sensação de que o ar estava cheio de entidades fantasmais.
Então, foi como se a minha casa começasse a ser assombrada. Minha filha
mais velha viu uma figura branca atravessando a sala de jantar”. E outras
ocorrências fantasmais aconteceram em uma noite de Sábado na
residência de Jung.
No dia seguinte (domingo), Jung sentiu a casa inteira abarrotada de
Espíritos”. Este relato é parte da obra “SEPTEM SERMONES AD
MORTUS” (Sete Sermões aos Mortos), escrita pelo êmulo de Freud, em,
pelo que parece, escrita automática.
“Isso começou a jorrar de mim – afirma – e no transcorrer de três
noites a coisa estava escrita”.
Jung chega a admitir que a experiência que vivenciou estaria ligada
ao seu estado emocional. Abstraindo-se a fraseologia nebulosa, obscura,
eis o que sucedeu ao fundador da PSICOLOGIA ANALÍTICA. Agora, e
para ilustrar estes arrazoados sobre “SÍMBOLOS” prestemos bastante
atenção na linguagem junguiana, ao concluir o episódio que fora figura
coadjuvante entre os principais e invisíveis atores da fascinante trama
mediúnica:
“Daquele momento em diante, os mortos se tornaram ainda mais
definidos para mim, como as vozes do não-respondido, do não-
solucionado e do não-cumprido; pois uma vez que as perguntas e
CURSO DE ESPIRITISMO
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reclamações, que meu destino obrigou-me a responder, não me vieram do
exterior, elas devem ter vindo do mundo interior. Estas preleções para os
mortos constituíram uma espécie de prelúdio para aquilo que eu tinha para
comunicar ao mundo sobre o inconsciente, uma espécie de modelo de
ordem e de interpretação do seu conteúdo geral”.
E mais adiante afirma:
“Todas as minhas obras, toda a minha atividade criadora VEIO
DESSAS FANTASIAS E SONHSO INICIAIS... Tudo o que realizei
posteriormente em minha vida já estava contido nelas, embora no
princípio, somente na forma de emoções, símbolos e imagens”.
Seriam esses mortos, na concepção de JUNG, elementos autônomos
do INCONSCIENTE? Admite-se que os ‘SETE SERMÕES AOS
MORTOS” contêm ilustrativas antecipações de idéias que iriam
desempenhar importante papel na pesquisa científica posteriormente
desenvolvida por JUNG. E arrematam os hermeneutas:
“Possivelmente, estava o consciente educado falando para o
inconsciente indagador”...
Três anos depois dos “SETE SERMÕES AOS MORTOS” (1919),
JUNG realizou concorrida Conferência na “Sociedade para Pesquisas
Psíquicas” (SPR), em Londres, discorrendo sobre “AS BASES
PSICOLÓGICAS DA CRENÇA NOS ESPÍRITOS”. Em sua fala, ouvida
atentamente por sisudos pesquisadores e seleta assistência, traçou ele um
perfil histórico-antropológico do assunto, em que sobressaía uma
terminologia realmente esdrúxula, vaga, indefinível, considerando os
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povos primitivos como presas de “conflitos psicogênicos”, ao se
dedicarem à adoração dos ancestrais. A conversão de SAULO DE
TARSO, seria devida a “ALUCINAÇÕES AUDITIVAS” (idêntico ponto
de vista postula ERNESTO RENAN) e a “COMPLEXOS
AUTÔNOMOS”. E, à guisa de conclusão, emitiu o seguinte parecer,
baseado, lamentamos dizer, em infundadas especulações:
“Portanto, os Espíritos, vistos de um ângulo psicológico, são
complexos autônomos inconscientes, que aparecem com projeções porque
não têm associações diretas com cego”.
Na década de 1920, JUNG assistiu, em Munich, a várias sessões de
ECTOPLASMIA coordenadas pelo Barão ALBERT VON SCHRECH-
NOTZING, tendo como médium o austríaco RUDI SCHNEIDER, o
Professor BLEULER também estava presente. E o próprio JUNG, na
década de 30 realizaria, juntamente com BLEULER, sessões com o
médium suíço OSKAR SCHLAG. Na ocasião ocorreram fenômenos de
efeito físico e de materialização de Espíritos. Ainda assim, os comentários
do Professor de Zurich, permanecem (pelo menos publicamente)
refratários à sobrevivência da alma e a sua comunicação com os
“VIVOS”, que continuam sendo, para ele, “TESTEMUNHO DA PSIQUE
INCONSCIENTE”.
As dúvidas de C.G. JUNG são, na verdade, compreensíveis: ele não
poderia (assim como o próprio FREUD) admitir, psicologicamente, a
comunicabilidade dos Espíritos, a existência da dimensão definida por F.
ZOLLNER (com quem realizou notáveis experiências), a DIMENSÃO
IMPONDERÁVEL, porque iriam por água abaixo a maioria esmagadora
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dos valores e conceitos psicológicos. Seria o “coup de grânce” da
Psicologia.
Em boa hora avisa o pesquisador MARTIN EBON (obra citada):
“Que ninguém recorra à JUNG em busca de certeza, muito menos no que
diz respeito ao ocultismo”. Ele mesmo falou, no fim de suas
“MEMÓRIAS”:
“Estou atônito, desapontado e contente comigo mesmo, estou
perturbado, deprimido e entusiasmado. Sou todas essas coisas ao mesmo
tempo e não posso tomar as parcelas. Sou incapaz de determinar o que é
de suprema importância e o que não tem importância nenhuma... Não
existe nada que eu tenha absoluta certeza”...
TÍPICAS MANIFESTAÇÕES ANÍMICAS
IDEOPLASTIA
Do grego ideo+plastos+ia, significa modelagem da matéria pelo
pensamento. O termo foi criado em 1860 por E. Durand, da cidade de
Gros, que lhe emprestou o sentido de sugestibilidade: a impressão que o
pensamento, num terreno preparado pela sugestão, pode provocar no
paciente. Julien Ochrowicz, em 1884, lhe deu novo significado: o da
“realidade fisiológica de uma idéia”.
Dr. B.G. Tsinoukas, por reputá-lo etimologicamente impróprio,
inexato e de nenhuma necessidade científica, recomendou, no Congresso
de Paris, o seu banimento.
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ANAGNOSIA
Do grego anagnosis+ia, significa leitura supranormal de textos
ocultos. O tremo e definição de autoria de Stanley Brath, notável
pesquisador psíquico inglês, que o subdivide em quatro classes:
I – Paragnosia
II – Perianagnosia
III – Proanagnosia
IV – Teleanagnosia
PARAGNOSIA
Leitura, com contato, de um texto oculto.
PERIANAGNOSIA
Leitura de um texto nas circunvizinhas.
PROANAGNOSIA
Conhecimento de um texto que ainda não foi escrito ou impresso.
TELEANAGNOSIA
Leitura de um texto a grande distância.
AUTOSCOPIA
Do grego autós+sopein+ia, significa percepção por parte do
indivíduo, dos órgãos do seu organismo.
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Atribui-se a criação do termo ao Dr. Paul Sollier (vide: Les
Phénomènes d’autoscopie, Ed. Payot, Paris). Charles Richet, porém, em
seu Traité de Metapsychique, 1922, afirma que o pesquisador Charles
Feré, em Notes sur hallucinations autoscopiques, usara o vocábulo pela
primeira vez. Enquanto isso, Eugene Osty, do Instituto de Metapsíquica de
Paris, preferiu adotar o termo autovisão.
PREMONIÇÃO
A PREMONIÇÃO modernamente rotulada de PARAGNOSE, é o
conhecimento além dos limites sensoriais. É o mesmo, ainda, que
antevisão, prenúncio, presciência, profecia etc.
DÉJÀ VU E A PREMONIÇÃO
A experiência geralmente relatada de déjà vu sugere o que o D,. J.B.
Rhine rotula de percepção extra-sensorial precognitiva. Exemplo:
Uma pessoa que penetra em sua cabina para a primeira viagem
transoceânica, imediatamente exclama já tê-la visto, nos mesmos detalhes,
sem nunca ter examinado fotografias dela, sem nunca ter pisado num
navio. Talvez – especulam os pesquisadores – o percipiente tenha tido um
sonho precognitivo, esquecido e, contudo, bastante resistente em sua
memória latente para produzir uma experiência de reconhecimento.
DIAPSÍQUICA
Do grego diá+psike+ia, é denominação de Émile Boirac, inserta em
L’Avenir des Sciences Psychiques. É a comunicação de Espírito a
Espírito, estejam eles encarnados ou desencarnados. Boirac tenta
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diferenciar o termo de TELEPSIQUIA, que seria a transmissão do
pensamento a longa distância.
BILOCAÇÃO
Fenômeno pelo qual o Espírito, em estado de transe profundo ou
momentâneo, ou no momento da morte, transporta-se, biloca-se, com a
aparência de realidade ou tangibilidade real, de um lugar para o outro. É o
mesmo que autotelediplosia, desdobramento e bicorporeidade.
AUTOPREMONIÇÃO
Faculdade de conhecimento, por parte do precipiente, de
acontecimentos que lhe dizem respeito, como o dia da morte, doença,
acontecimentos trágicos e alegres.
CLARIVIDÊNCIA
Entende-se por clarividência o conhecimento extra-sensorial de
fatos objetivos dos quais não fomos informados, sendo que a percepção
pelos sentidos comuns é excluída. Esses fatos devem, pois, fugir,
completamente, à ação dos sentidos, quer estejam esses acontecimentos
perto do sensitivo (criptoscopia: conhecimento abnormal de coisas ou
escritos ocultos), quer dizer estejam a uma distância que os tornam
inacessíveis aos sentidos (telescopia: visão abnormal, a distância de coisas
ou pessoas), quer estejam afastados no tempo (clarividência no tempo).
No último caso, é necessário, ainda, distinguir a vidência no passado
(retroscopia) a vidência no futuro (profecia).
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CRIPTESTESIA OU TELEPATIA
A CRIPTESTESIA, termo criado pelo Dr. Charles Richet, é a
faculdade que consiste no conhecimento de fatos ou coisas, conhecimento
esse que o paciente tem pela percepção paranormal (estímulos psíquicos e
anímicos) e, não, pelos órgãos sensoriais.
A CRIPTESTESIA é, nada mais nada menos, que a TELEPATIA
de Frederick Myers, um dos fundadores da famosa S.P.R. – Society for
Psychical Research (1882).
CAMPO MEDIANÍMICO
É o espaço existente, nas experiências de pequenas levitações, entre
as mãos do sensitivo e o objeto levitado. Por esse espaço, atravessa a
corrente fluídica. É a expressão de Julien Ochorowicz, do Instituto de
Psicologia Geral de Paris.
CRIPTOMNÉSIA
A CRIPTOMNÉSIA é um fenômeno que se apresenta com aparente
características de TELEPATIA e da PSICOMETRIA. Entretanto ele
possui tipicidade própria, específica. É termo criado pelo Dr. Théodore
Flournoy, professor de Psicologia da Universidade de Genebra (suíça). É a
faculdade supranormal de leitura na mente dos pacientes, de fatos e idéias,
conhecidos deles em outros tempos. É, então, a faculdade consistente no
conhecimento oculto na subconsciência dos pacientes.
As teorias sobre a CRIPTOMNÉSIA tendem a anular a sua fonte
primordial: a REENCARNAÇÃO. Na realidade, as informações prestadas
pelo sensitivo, normalmente em transe hipnótico, deverão ser
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minuciosamente investigadas, descontando-se dados eventuais de datas e
lugares. A suposição de que o paciente tenha baseado a sua história em
livros, revistas, filmes, documentários de TV, programas de rádio etc., que
leu e/ou a que assistiu, durante um período de sua existência, não
descaracteriza, de modo nenhum, o fenômeno da CRIPTOMNÉSIA.
DIAPSÍQUICA DERMOGRÁFICA
Fenômenos de desenhos na pele do próprio sensitivo que concentra
o pensamento, desejando esta ou aquela dermografia, e o fenômeno se
produz. Assemelha-se à estigmatização ou introssomatismo.
ELONGAÇÃO
Fenômeno de ectoplasmia em que o corpo do médium se
encomprida em alguns centímetros, como ocorreu muitas vezes com
Daniel Dunglas Home. Este tipo de fenômeno foi observado em algumas
sessões experimentais dirigidas pelo sábio inglês William Crookes.
HIPERESTESIA
Do grego hyper+aesthesis+ia, sensibilidade aguçada de alguns
percipientes, é a hiperacuidade dos sentidos normais, na definição do Dr.
Eugène Osty. Faculdade que possibilita a certos percipientes, em tocando
um objeto qualquer, revelar o seu conteúdo. Um dos maiores sensitivos
hiperestésicos do mundo foi o polonês Stephan Ossowiecki, pesquisado
por Julien Ochorowicz e por Gustave Geley.
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METACINESIA
Do grego metá+kinesis+ia, fenômenos de deslocamento de objetos.
A METACINESIA, sendo uma das divisões da METERGIA, compreende
duas modalidades:
- Paracinesia
- Telecinesia
PARACINESIA
Levitação de objetos com o contato do sensitivo.
TELECINESIA
Movimento de objetos sem contato do precipiente, alonga ou a curta
distância.
METERGIA
É a ação ou exteriorização supranormal, variada e complexa,
produzindo deslocação ou movimento de objetos a distância e produção de
efeitos orgânicos no próprio sensitivo. Divide-se em:
- Metabiose
- Metideogenia
METABIOSE
Produção em organismos vivos, por meios paranormais, de efeitos
orgânicos ou biológicos.
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PERSONISMO
De persona+ismo. Atribuem-se a personismo os fenômenos
psíquicos inconscientes que se produzem nos limites da esfera corporal do
sensitivo. É o desdobramento da consciência. Produzem-se no
sonambulismo e no que Pierre Janet chamou de automatismo psicológico
ou prosopopese de René Sudre.
PICTOGRAFIA
Faculdade mediúnica ou anímica em que o precipiente reproduz
desenhos ou pinturas. É o mesmo que PNEUMATOGRAFIA
FIGURADA.
PSICOCINESIA
Influência direta que o agente, sem nenhum contato direto ou
pessoal, atua sobre a matéria física.
PSICOMETRIA
Conhecimento do passado, do presente e da personalidade humana
pela clarividência e por intermédio de contato com objetos pertencentes à
época ou às épocas que o experimentador deseja conhecer. O termo é
criação do Dr. J. Rhoades Buchanan, médico norte-americano, em 1849.
A obra que trata do assunto é a que publicou em Boston (USA), sob o
título A Manual of Psychometriy: the Dawn of a New Civilization.
ECTOPLASMA
O vocábulo ECTOPLASMA é criação do Prof. Charles Richet
(prêmio Nobel de medicina, de 1913), para designar a substância que os
médiuns expelem pela boca, nariz, ouvidos, órgãos sexuais e pelos poros,
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como tênues fios de energia vital, que servem para a realização de
extraordinários fenômenos de ordem física.
MAGNETISMO
MAGNETISMO é conhecido desde as mais remotas eras. Formava
uma parte da Magia ou Ciência dos Sábios de outrora. Os livros sagrados
dos antigos cultos, os hieróglifos do Egito.
KIRLIANGRAFIA
Em 1953, em seu livro Teoria Eletrodinâmica da Vida, o médico
norte-americano Harold Saxton Burr, da Universsidade de Yale, descobriu
um envoltório energético nos seres vivos e até chegou a chamá-lo de
CAMPO L (L= life- vida).
Em 1939, na antiga URSS, Semyon Davidovich e Valentina
Chrisanfovna Kirlian inventaram uma máquina que conseguia fotografar
um halo energético em torno dos corpos dos seres humanos, dos animais,
dos vegetais e, até mesmo, dos minerais. Nascia, assim, a kirliangrafia.
FOTOGRAFIA PSÍQUICA
Um dos sensitivos mais importantes no campo da fotografia
psíquica foi a ascensorista norte-americano, do Kansas, Ted Serious.
TELA PANORÂMICA
O Prof. Ernesto Bozzano admite três categorias de TELA
PANORÂMICA, em que o indivíduo, na iminência da morte, estando ou
não moribundo, vê decorrer, como se fosse numa tela cinematográfica,
toda a sua vida pregressa, desde a infância até aquele crucial momento.
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TELEPSICOMAGNETOTERÁPICO
Consiste na projeção fluídica do magnetizador, a qual tem ação
curativa.
TRANSFIGURAÇÃO
A TRANSFIGURAÇÃO, também conhecida por
ENDOMETAPLASIA, é um dos fenômenos mais raros do psiquismo
experimental. Pode ser mediúnica ou anímica.
TRANSE
Do Latim transire = passar de um estado a outro. Seria uma
condição do “sono aparente” ou “inconsciente”, com marcantes
características fisiológicas.
A verdadeira natureza do TRANSE é desconhecida. Cada sensitivo
apresenta, no particular, características específicas. Daniel Dunglas Home,
o mais notável médium da era kardequiana, afirmou, perante a Sociedade
Dialética de Londres.
GLOSSOLALIA
Vocábulo criado pelo Prof. Theodore Flournoy para rotular a
manifestação de pseudo-línguas (falsas xonoglossias) elaboradas nos
recessos subconscienciais do próprio médium. Não se trata de
desdobramento ou dissociação de personalidade secundária, sugerido pelo
psicólogo William James, o que caracterizaria um processo tipicamente
anímico. Aí, o indivíduo expressaria o conhecimento de uma ou mais
línguas que ele falou em existências pregressas.
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BIOPAUSIA
É o domínio e neutralização das funções orgânicas. Os fenômenos
do faquirismo (quando verdadeiros) incluem-se nesta categoria.
PIROVASIA
É o fenômeno da incombustibilidade paranormal. Ação de suportar
o fogo sem dor e sem danos físicos. O médium Daniel Dunglas Home
apresentava essa insensibilidade ao fogo.
SONAMBULISMO
Do Latim sommus = sono+ambulare = marchar, passear. Estado de
emancipação da alma mais completo do que o sonho.
O sonho é um sonambulismo imperfeito. No sonambulismo a
lucidez da alma, isto é, faculdade de ver, que é um dos atributos da sua
natureza, é mais desenvolvida. Ela vê as coisas com mais precisão e
nitidez, o corpo pode agir sob o impulso da vontade da alma.
Sonambulismo natural – o que é espontâneo e se produz sem
provocação es em influência de nenhum agente exterior.
Sonambulismo magnético ou artificial – o que é provocado pela
ação que uma pessoa exerce sobre outra por meio do fluido magnético.
SONILOQUIA
Do Latim somnus = sono+loqui = falar. Estado de emancipação da
alma, intermediária entre o sono e o sonambulismo. Aqueles que falam
dormindo são soníloquos.
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Allan Kardec rotula de NOCTÂMBULO (do Latim nox, noctis = a
noite+ambulare = marchar, passear), aquele que marcha ou passeia
durante a noite, dormindo. Entretanto, ele sugere que se adote, em tais
casos, a expressão sonâmbulo, uma vez que noctâmbulo e noctambulismo
não implicam, de modo nenhum, a idéia de sono.
DERMOÓTICA
DERMOÓTICA é a palavra usada para descrever a capacidade que
certas pessoas têm de “ver” através da pele e das pontas dos dedos.
TRANSPOSIÇÃO
Do Latim transpositionem. Faculdade supernormal de percepção de
coisas fora dos sentidos normais. Pode ser classificada como:
- Transposição de cores
- Transposição de gosto
- Transposição de sentidos
DESDOBRAMENTO DO PERISPÍRITO EM ESTADO DE VIGÍLIA
A esse fenômeno de natureza anímica se deu o nome de “homens
duplos”.
LEVITAÇÃO
Admitem alguns autores que a LEVITAÇÃO tem uma origem
eminentemente mediúnica. Outros, porém, crêem que ela tenha, também,
uma gênese psíquica ou anímica. Eis, em síntese, como o pesquisador
português Dr. A. Martins Velho explica o fenômeno, afirmando que na
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levitação de corpos humanos as leis que regulam a gravidade não se
alteram, nem se destroem. No caso, simplesmente à força da gravidade
apôs-se outra força aproximadamente igual que permitiu ao corpo flutuar.
Essa força é a “força psíquica”, ou a do sensitivo, ou a de um Espírito
desencarnado. No primeiro caso, o fenômeno é ANÍMICO, no segundo o
fenômeno é MEDIÚNICO.
O BIÔMETRO DE HIPPOLYTE BARADUC
H. Baraduc, desencarnado em 1909, autor de várias obras sobre
MAGENTISMO, em que se destaca Iconographie de la Force Vitale
Cosmique Od, fabricou um aparelho denominado FOTÔMETRO, com o
qual conseguiu medir a força psíquica.
PSICOTRÔNICA
A PSICOTRÔNICA surgiu a partir de 1960. Tentava-se sintetizar
as pesquisas desenvolvidas por investigadores, em várias partes do
mundo, preocupados em estabelecer as interconexões entre energia,
matéria e consciência.
O vocábulo PSICOTRÔNICA é constituído de dois vocábulos:
psyché = Espírito+tron = instrumento.
CETICISMO
Ceticismo é uma pretensa atitude do espírito que erige a dúvida em
norma geral, segundo a qual nenhuma certeza está ao nosso alcance, nem
no domínio experimental, nem no campo racional. A rigor, o ceticismo
não deveria tomar parte no debate do problema do conhecimento, visto
que ele mesmo, pela posição que sustenta, adotando a epochè, elimina-se
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do terreno da disputa. É, assim, uma espécie de intruso nos problemas
críticos da verdade, da certeza científica e da objetividade do
conhecimento. Hoje, praticamente, tal doutrina não recruta mais adeptos,
pelo menos na sua forma radical, seja o ceticismo universal, absoluto.
Podemos resumir os argumentos do ceticismo assim:
1º) Qual a garantia objetiva de que o mundo, no qual se desenvolve
o nosso pensamento, seja de consistência diferente do ilusório, que
construímos os nossos sonhos? Ora, quando sonhamos, acreditamos na
realidade desse mundo sonhado, mas quando despertamos reconhecemos
o nosso evidente erro. E como saber se o mundo real é de natureza
diferente do ilusório, ou seja, do por nós sonhado? Quem sabe se um dia
não despertaremos do nosso sonho atual relativo à concepção do mundo
real e não perceberemos o erro secular em que temos sucessivamente
incorrido?!... Os nossos devaneios, então, poderão ser naturalmente
diluídos, desfeitos!
2º) Pretendendo demonstrar a impossibilidade do pensamento,
raciocinam os céticos ainda assim: ora, para distinguir o que é certo do
que é errado, recorremos ao testemunho da razão, isto é, ao nosso árbitro
supremo, ao nosso juiz infalível: a razão. Muito bem. Mas quem é que vai
julgar esse juiz? E quem pode garantir que não seja esse suposto juiz a
fonte de todos os enganos, de todas as mistificações? Acontece que não
dispomos de um tribunal no qual se faça submeter a razão. E nesse caso, a
razão pode ser juíza de si mesma, apresentando-se, por isso mesmo, sem
títulos, sem credenciais no debate sustentado. Com efeito, os dogmáticos,
que admitem a certeza e o valor da razão como instrumento hábil de
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conhecer, se esquecem de que, justamente, é a razão que está sendo levada
à barra do Tribunal como ré, sentando-se no banco próprio e fazendo-a
juíza de si mesma! Logo, o dogmatismo comete um erro fundamental,
logicamente chamado de “Petitio principie”. Está num círculo vicioso. É o
argumento do Dialelo e que Montagne sintetiza nesta frase histórica:
“Nous sommes au rouet” voltamos sempre ao ponto de partida. “Curiosa
justiça” – assinala ainda Montagne – “que um rio delimita”; não há crime
que no decorrer dos séculos não tivesse seu lugar na história da justiça.
Verdade aquém dos Pirineus e erro dos Pirineus! Francisco Sanches – o
filósofo brancarense – seguiu-lhe as pegadas, tentando inutilmente
invalidar o dogmatismo filosófico. Suas idéias estão impregnadas dum
ceticismo superado.
O Ceticismo às vezes se apresenta mitigado sob a denominação de
probabilismo. A verdade, segundo esta doutrina, não está ao nosso
alcance, mas por falta dela, podemos pelo menos vislumbrar, conhecer o
verossímil!
E podemos agora argumentar que o Ceticismo é uma doutrina
verdadeiramente insustentável, estribado nos próprios argumentos dos
seus defensores. Vejamos: os céticos afirmam que “nunca afirmam nada e
que, mesmo afirmando, o que não afirma, nada afirmam”! Ora, esta frase
nada mais é que uma justaposição de palavras que não exprime nenhum
pensamento, que nada tem de inteligível. Pois, que significa a frase
“mesmo afirmando eu nada afirmo?”. Frase sem correspondência no
pensamento, que o espírito não pode realizar e que, no fundo, constitui
uma violação do princípio de identidade, que tem como caracteres a
evidência, a necessidade e a universalidade. Assim é que, afirmando,
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afirmo, e, não afirmando, nada afirmo. É crucial e lógico. Aliás, em
primeiro lugar, o ceticismo, na sua modalidade radical, na realidade,
nunca prevaleceu e não pode prevalecer jamais. Pois, como observa
Aristóteles, só um vegetal poderia realizar as condições exigidas pelo
verdadeiro ceticismo, das quais a primeira e principal consiste em não
pensar. Mas pelo menos o vegetal – acrescenta, irônico, Aristóteles – nada
diz: ele permanece calado!... Aliás – observa ainda o Estagirita – gostaria
de saber porque os céticos, no momento de almoçar, não se lançam num
abismo! Esta atitude dos chamados céticos, pelo menos, revela uma coisa
e que eles sabem distinguir perfeitamente um almoço de um abismo! Tem
razão o mestre de Teofrasto.
Não há um pensamento que não pense nem um saber que não saiba.
Assim, o ceticismo será um novo sistema sofístico ou um corolário dele.
Em segundo lugar, o outro argumento dos céticos – “Petitio
principie” – parece voltar-se contra o próprio ceticismo, pois que rejeita o
valor do conhecimento, especialmente o racional, mas é justamente
raciocinando que ele rejeita o valor do raciocínio, já que é em nome dele
que ele o repudia. É raciocinando que ele prova, também, não acreditar no
próprio raciocínio. Aliás, a frase de Montagne “Nous sommes au rouet”,
repousa num erro lógico que esse fideísta ou cético moderado atribui ao
dogmatismo. Realmente, para o ceticismo, só é possível aderir ao valor da
razão depois da demonstração desse valor. Ora, sendo isso impossível,
“nous sommes au rouet”! Mas aí é que está o erro, pois resta saber se tudo
deve ser demonstrado, isto é, por exemplo, se aderimos ao princípio de
identidade em conclusão de uma demonstração preliminar. Não é
verdadeiro somente o demonstrável. A propósito, já sabiamente
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sentenciava Aristóteles: “O princípio de uma demonstração não é uma
demonstração”. Quer dizer que na série de raciocínios e preposições que
forma um encadeamento de uma preposição, chegamos sempre ao
demonstrável.
Quanto ao probabilismo, já Santo Agostinho fez, em termos
conscienciosos, uma crítica desta doutrina. Como admitir – pergunta
Santo Agostinho – o verossímil, isto é, o que parece verdade? Como se
pode falar de uma semelhança com aquilo que, por definição, não
podemos saber? Logo, pelo exposto, fica provada e explicada a ausência
do ceticismo na discussão do problema crítico, desaprovando a atitude de
alguns autores, insistindo em fazer intervir o ceticismo no problema
gnosiológico. O Ceticismo aconselha o epochè – a suspensão do juízo,
mas julga, ao negar possibilidade do conhecimento. A escola cética
procurou demonstrar a ataraxia ou tranqüilidade do espírito, que é
condição de felicidade (princípio da indiferença universal). Pretendia que
nada fosse certo!
HISTÓRIA DO CETICISMO
Tivemos Enesidemo de Creta, que teve escola em Alexandria e
criticou a noção de causalidade. Sexto Empírico é ainda o cético ligado ao
pensamento grego, tendo escrito as “Hypotiposes Pirrónicas” e “Contra
Matemáticos”.
Ceticismo prático (Timão) – ao probabilismo (Academia Nova),
segundo Brochart, em sua obra “Os Céticos Gregos”. O mais radical dos
céticos, no entanto, é Pirro, que em muitos passos de sua doutrina, lembra
Sócrates. Disse muito e escreveu pouco. Contribuições posteriores foram
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acumuladas à obra pessoal de Pirro. Platão já argumentava: “Tu sabes o
que dizes ou não sabes. Se sabes tens conhecimento; se não sabes então és
um insensato”. É um argumento contra o ceticismo, total. Os sofistas
foram precursores do movimento cético. Era, ou o relativismo
(Protágoras) ou niilismo (Górgias). A rigor, o ceticismo tinha, em geral,
um caráter mitigado e não radical. O ceticismo é um sistema que nega à
inteligência a possibilidade de atingir a verdade. É, ou universal, ou
particular. O absoluto é o Pirrônico. O mitigado é o acadêmico de
Carnéades e Argesiláu. Existe o ceticismo particular ou agnosticismo. O
ceticismo positivista é um ceticismo particular. A atitude de destruir o
dogmatismo já é uma posição insustentável. O cético radical tem que
suspender o julgamento, isto é, fazer a epochè Daí a impossibilidade da
discussão. Os céticos apresentaram dez tropes (aporias), mais tarde
reduzidas a cinco por Enesídimo:
01. A diversidade dos animais;
02. As diferenças entre os homens;
03. As diversidades do sentido;
04. As circunstâncias;
05. As situações, a distância, os lugares;
06. As misturas;
07. As variações quantitativas;
08.Relação;
09. A freqüência e a rareza;
10. Os costumes, as leis e as opiniões.
Essas são as razões pelas quais a verdade não é possível para o
cético. O Ceticismo vai sofrer a reação do célebre bispo de Hipona.
Husserl, com a sua fenomenologia, adota a epochè, e por isso
mesmo, sua posição é a de um cético moderado, pondo a existência entre
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parêntesis. Heiddeger, seu discípulo, de quem se separa, vai ao plano das
existências. Daí a fenomenologia existencialista.
Convém não confundir a epochè com a dúvida crítica de Kant nem
com a dúvida metódica de Santo Agostinho e Descartes. Kant,
provisoriamente, estuda a possibilidade da razão, (CRÍTICA DA RAZÃO
PURA), para conceber a verdade. A dúvida cartesiana é a instrumental e
provisória. Com esta espécie de dúvida estão noventa e nove por cento dos
filósofos de todos os tempos, podendo incluir-se nesse número o célebre
Claud Bernard.
Heráclito, por se recusar a aceitar o testemunho dos sentidos, é
apontado como partidário do ceticismo absoluto, embora essa posição não
seja assinalada por muitos autores. Evidentemente, afirmava o efesino:
“Tudo escorre, tudo flui, nada pára; nada é, tudo está sendo. O universo é
como um rio: ninguém se banha duas vezes nas águas do mesmo rio”! O
que existe de constante é a mutabilidade, a transformação.
Parmênides – o antípoda intelectual de Heráclito – quando negava o
movimento, pregava o ceticismo. Também negava o testemunho evidente
dos sentidos. E daí a reação sofística contra ambos. Mas os sofistas,
conquanto demolidores, provocaram a maravilha da reação socrática. Sem
eles, Sócrates não seria compreendido!...