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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
MESTRADO EM FINANÇAS E ECONOMIA EMPRESARIAL
HELENA RANGEL MARGEM
PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO E DIRETORIA, VALOR E DESEMPENHO DAS COMPANHIAS BRASILEIRAS
DE CAPITAL ABERTO
Rio de Janeiro 2013
HELENA RANGEL MARGEM
PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO E DIRETORIA, VALOR E DESEMPENHO DAS COMPANHIAS BRASILEIRAS
DE CAPITAL ABERTO
Dissertação apresentada na Escola de Pós Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Finanças e Economia Empresarial.
Orientador: André Luiz Carvalhal da Silva
Rio de Janeiro Maio de 2013
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV
Margem, Helena Rangel Participação das mulheres no conselho de administração e diretoria, valor e
desempenho das companhias brasileiras de capital aberto / Helena Rangel Margem. — 2013.
24 f.
Dissertação (mestrado) - Fundação Getulio Vargas, Escola de Pós-Graduação em Economia.
Orientador: André Luiz Carvalhal da Silva. Inclui bibliografia.
1. Executivas. 2. Empresas — Finanças. 3. Empresas — Avaliação. I. Silva, André Luiz Carvalhal da, 1974- . II. Fundação Getulio Vargas. Escola de Pós-Graduação em Economia. III. Título.
CDD — 658.409
(EPGE-FGV)
of. Myren Beatriz Eiras das Neves (Banco Central do Brasil)
near* FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
EPGE Escola de Pós-Graduação em Economia
HELENA RANGEL MARGEM
PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO CONSELHO DE
ADMINISTRAÇÃO E DIRETORIA, VALOR E DESEMPENHO DAS
COMPANHIAS BRASILEIRAS DE CAPITAL ABERTO
Dissertação apresentada à Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) da Fundação Getulio
Vargas (FGV) para obtenção do grau de Mestre em Economia Empresarial e Finanças.
Data da defesa: 28/05/2013
Aprovada em:03 /
ASSINATURA DOS MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA
ee.(400:tri _Med I I Ir
Prof. André L Allarvalhal da Silva (COPPEAD-UFRJ)
Pro . Marco Antonio Cesar Bonomo
Escola de Pós-Graduação em Economia Praia de Botafogo, 190 - 11° andar 22253.900 Rio de Janeiro RJ Brasil Tel.: (55 21) 3799.5860 Fax (55 21) 2552-4898 Site: www.fav.br/epge E-mail: secernecefev,br
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais que sempre me apoiaram e que com muito esforço me
proporcionaram oportunidades ao longo da minha vida que permitiram a
realização de mais uma etapa.
Ao meu grande amigo Ranulfo Vidigal por toda motivação e apoio.
Ao corpo docente da FGV/EPGE em especial ao meu orientador André
Luiz Carvalhal da Silva, pela compreensão, paciência e sabedoria que
possibilitaram a conclusão desse trabalho.
Aos meus amigos da FGV/EPGE em especial ao Vitor Souza e Gisele
Gammaro pela dedicação e ajuda prestado e, ao Marcelo Ferreira da Costa por
todo companheirismo e humor que contribuíram para superar os desafios do
Mestrado.
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo identificar se a presença de mulheres
no conselho de administração e diretoria gera impacto no valor e desempenho
das empresas brasileiras de capital aberto. Em geral, a literatura sugere que a
participação feminina no conselho de administração e em cargos de diretoria
tende a gerar valor e desempenho superior. Este trabalho realiza um estudo
inédito no Brasil, analisando 658 empresas de capital aberto no período de
2002 a 2009. Os resultados indicam que não existe uma relação
estatisticamente significativa entre presença de mulheres no conselho de
administração e em cargos de diretoria para o valor das empresas, mas existe
uma relação negativa entre presença de mulheres no conselho e
desempenho das empresas.
Palavras-Chave: Mulheres executivas. Conselho de administração.
Desempenho e valor da firma. Companhias brasileiras de capital aberto.
ABSTRACT
This study analyzes if the presence of women on boards of directors and in
executive positions generate impact on firm value and performance. In
general, the literature suggests that female participation on boards of directors
and in executive positions tend to generate higher value and performance.
This work is the first to study the female influence on firm value and
performance in Brazil. The analysis of 658 publicly traded companies from
2002 to 2009 indicates that the relationship between firm value and the
presence of women in senior management and on boards is not statistically
significant. However, there is a negative relationship between operational
performance and presence of women on the board of directors.
Keywords: Women executives. Board composition. Firm value and
performance. Listed companies in Brazil.
SUMÁRIO
1. Introdução............................................................................................6
2. Revisão de Literatura...........................................................................8
3. Dados e Metodologia..........................................................................11
4. Resultados..........................................................................................13
5. Conclusão...........................................................................................19
6. Referências Bibliográficas...................................................................21
6
1. Introdução
A participação de mulheres no conselho de administração e em cargos de
diretoria vem sendo um tema bastante discutido e estudado na literatura
internacional. Os resultados são controversos, mas, em geral, a maioria dos
estudos sugere que as companhias que possuem mulheres no conselho e em
cargos de alta gestão apresentam valor e desempenho superiores. No Brasil,
no entanto, esse tema é ainda pouco estudado, devido à escassez de dados.
Essa dissertação analisa a relação entre a presença feminina no conselho de
administração e cargos de alto escalão com o valor e desempenho das
empresas brasileiras.
A diversidade de gênero no conselho de administração vem ganhando pauta
nas discussões sobre as melhores práticas de governança corporativa, na
medida em que alguns países adotam regras para estabelecer igualdade de
oportunidades.
A atenção ao tema se tornou mais evidente a partir do ano de 2000, quando
grandes empresas americanas como a Enron e Worldcom se envolverem em
fraudes contábeis, colocando em cheque não só os lançamentos contábeis das
empresas, mas principalmente os papeis dos conselhos de administração e
auditorias externas, reforçando ainda mais a necessidade de se criar uma nova
estrutura financeira internacional (Kramer et al.,2006; Martins e Rodrigues,
2005).
Desde então, foram implementados diversos mecanismos para supervisão de
melhores práticas, códigos de conduta e fiscalizações contábeis no mercado
americano. A preocupação das autoridades governamentais era recuperar a
confiança dos investidores e a transparência das práticas corporativas. Estudos
demonstram que a solução para este problema está na composição dos
conselhos de administração, isto é na diversificação de comportamento,
experiências e qualificações dos membros que compõem os conselhos de
administração.
7
No Brasil, começam a ser estudados os resultados obtidos com a participação
de mulheres nos conselhos, uma vez que a adoção de um sistema de cotas
para incentivar a presença feminina nos conselhos apresentou um efeito
positivo. Contudo, o estabelecimento de cotas em lei é ainda muito prematuro,
com apenas um projeto de lei aprovado. Questionamentos sobre a eficiência e
a eficácia do modelo ainda são grandes entraves para regulamentação desse
sistema no país.
No entanto, com o aumento do número de mulheres nas universidades, de
onde se espera que sairão os futuros conselheiros e conselheiras, é provável
que naturalmente ocorra a igualdade de gênero nos conselhos. Um estudo feito
pelo IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) indica que as
mulheres deverão ocupar 10% dos assentos no conselho de administração de
empresas públicas e de economia mista até 2016, atingindo 40% dos assentos
no conselho em 2022.
Este trabalho tem como objetivo identificar se a participação das mulheres
executivas nos conselhos e diretoria afeta o valor e desempenho das empresas
brasileiras. Pela primeira vez no Brasil utilizou-se uma base dados extensa e
atual para realizar um estudo voltado para este tema.
A análise de 658 companhias abertas brasileiras no período de 2002 a 2009
indica que não existe uma relação significativa entre participação das mulheres
no conselho e em cargos de diretoria e o valor das empresas (price-to-book) e
retorno dos ativos (ROA).
Essa dissertação está organizada da seguinte forma. O próximo capítulo
apresenta a revisão de literatura, e o capítulo 3 mostra os dados e metodologia
empregados no estudo. O capítulo 4 analisa os resultados e o capítulo 5
discute as principais conclusões.
8
2. Revisão de Literatura
O conselho de administração é o instrumento central de governança. Por meio
dele, o acionista, os stakeholders, o controle corporativo e a regulação
interagem num complexo caminho para afetar as ações das empresas e o
monitoramento dos gerentes (Monks e Minow (2001)). Por essas razões, o
conselho vem se tornando o foco das reformas de governança corporativa
(Forbes e Milliken (1999)).
Historicamente, o papel dos conselheiros nas organizações era muito pouco
atuante, voltado apenas para o cumprimento das obrigações legais. Neste
contexto, as alterações provocadas pela globalização e pela nova estrutura
global de negócios gera forte impactos nos papeis e responsabilidades do
conselho de administração das empresas.
Para alguns autores, existem quatro fatores que afetam o trabalho dos
conselhos e contribuem indiretamente para o desempenho da firma:
composição dos conselhos de administração, suas características, estrutura e
processo de atuação.
A composição se refere especificamente ao tamanho e aos tipos de
conselheiros que compõem o conselho de administração da empresa (Pfeffer
(1972); Castaldi e Wortman (1984)). O tamanho diz respeito ao número de
membros existentes no conselho. O tipo se refere à reconhecida dicotomia
existente entre os conselheiros internos à organização, que possuem algum
papel executivo na empresa e os que não possuem papel executivo, não
possuem ações da empresa ou de subsidiárias e não trabalharam diretamente
com o executivo principal em outras companhias (Jones e Goldberg (1982);
Chaganti e Cochran (1985)). Outra distinção relacionada ao tipo do conselho se
refere à participação e representação das minorias étnicas e mulheres como
membros. Segundo Zahra e Pearce II (1989), essa configuração representa
amplamente os valores de toda a sociedade e não unicamente os dos
acionistas.
As características do conselho se referem à experiência e formação dos
9
conselheiros, independência para o trabalho nos conselhos, propriedade ou
não de ações da empresa e outras variáveis que influenciam os interesses e o
desempenho dos conselheiros em suas atividades e tarefas (Kesner (1986)).
A estrutura se refere à organização do conselho, divisão do trabalho, formação
de comitês e eficiência de suas operações. Especificamente, esses atributos se
materializam no número e tipos de comitês que os conselhos formam nas
empresas, no fluxo de informações entre os conselheiros, comitês, diretores
executivos, acionistas e o ambiente externo, e principalmente, no modo como
se configura a liderança do conselho (Vance (1983); Zahra e Pearce II (1989)).
Por fim, o processo de atuação se refere, principalmente, às atividades de
tomada de decisão, a partir de cinco elementos: a frequência e a duração das
reuniões, a interface do conselho com o principal executivo da empresa, o nível
de consenso entre os conselheiros, a formalidade dos procedimentos e a
preocupação e envolvimento do conselho com sua própria avaliação (Vance
(1983); Zahra e Pearce II (1989)).
Contudo, vale ressaltar que um dos grandes entraves para se implementar as
mudanças nos conselhos, sejam estas de forma voluntária ou em um ritmo
mais acelerado, está relacionado à forte resistência em se admitir novos
integrantes. Os conselheiros preferem ter como membros diretores-presidentes
e diretores financeiros com mais experiência, que vivenciaram momentos de
crise econômica e a maioria desses são homens. Para limitar a necessidade de
novos entrantes, muitos conselheiros aumentaram idade de aposentadoria ou
reduziram o tamanho dos conselhos (Lubiln (2011)).
Por outro lado, a literatura internacional aborda diversos argumentos favoráveis
à presença de mulheres nos conselhos de administração. A presença de
mulheres pode aumentar a performance, pois uma equipe diversificada
proporciona pontos de vistas diversos e consequentemente torna o processo
de tomada de decisão mais eficiente.
Brammer (2007) divide os argumentos para mais mulheres no conselho em
argumentos para perspectivas de negócios e argumentos para perspectiva
moral, ambos podendo ser divididos em argumentos para igualdade de
10
oportunidades e de representação.
Enquanto alguns estudos acharam uma relação positiva entre diversidade e
performance financeira, outros não acharam relação alguma ou ainda uma
relação negativa (Rose (2007)). Ryan e Haslam (2005) encontraram que as
firmas com mulheres no conselho apresentaram pior desempenho durante os
cinco meses antes da participação das mulheres no conselho
comparativamente ao desempenho de firmas com homens no conselho. Como
resultado, eles concluíram que muitas vezes as mulheres são nomeadas para
os conselhos de administração quando as companhias estão com problemas.
Lee e James (2003) observaram a queda no preço de determinada ação após
a nomeação de um novo CEO e mostraram que essa queda se tornou ainda
maior após essa nomeação ser de uma mulher. De acordo com os autores, os
investidores normalmente associam a nomeação de novo CEO com um
aumento da incerteza, e esta incerteza se tornou ainda maior quando esse
CEO foi uma mulher.
Krishnan e Park (2005) analisaram a relação entre a diversidade e o retorno
dos ativos de 679 empresas da Fortune 1000. Os resultados mostraram uma
relação positiva entre a diversidade na administração e a performance
financeira.
No Brasil ainda existem poucos estudos que consigam estabelecer uma
relação entre o desempenho das firmas e a participação das mulheres
executivas nos conselhos, principalmente devido a restrições na base de
dados. Os estudos de Madalozzo (2011) e Bruschini (2004) apresentam
limitações de informações na base de dados, Martins et al. (2012), Almeida et
al. (2013) e Fraga (2012) analisaram segmentos específicos de empresas de
capital aberto, ressaltando a importância da ampliação dos dados e
aprimoramento de novas metodologias de análises.
11
3. Dados e Metodologia
Nossa amostra é composta de 658 companhias abertas brasileiras no período
de 2002 a 2009. A literatura brasileira ainda não dispõe de estudos com dados
tão extensos sobre a presença de mulheres em cargos de diretorias e no
conselho de administração. A coleta de dados foi feita diretamente no site da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), verificando-se as informações
disponíveis sobre a quantidade de diretores e conselheiros nos informativos
anuais (IAN) para o período de 2002 a 2008 e nos formulários de referência
(FR) para o ano de 2009.
Como o objetivo dessa dissertação é analisar uma longa série temporal de
dados sobre mulheres executivas e conselheiras, utilizamos duas variáveis
para medir a participação das mulheres: proporção de mulheres no conselho
de administração (MULCA) e proporção de mulheres em cargos de diretoria
(MULDIR).
Cabe ressaltar que, quando da apuração do número de diretores e
conselheiros, alguns diretores acumulavam mais de uma diretoria e haviam
diretores que também eram conselheiros. Nestes casos, considerou-se na
contagem um único indivíduo na diretoria e no conselho.
Além das informações sobre as mulheres no conselho e diretoria, também
coletamos dados financeiros (ativo total, patrimônio líquido, faturamento,
EBITDA e price-to-book). Todas essas informações foram coletadas do banco
de dados Economática.
Para avaliar se as empresas que possuem mulheres executivas são aquelas
que apresentam maior valor e melhor desempenho, estimamos regressões em
painel usando o price-to-book e ROA como variáveis dependentes. Nossa
variável de interesse é a participação de mulheres no conselho de
administração e na diretoria. Como variáveis de controle, utilizamos diversas
características da firma identificadas na literatura como determinantes do valor
e desempenho, entre elas, tamanho da empresa, alavancagem, crescimento,
governança corporativa e índice de sustentabilidade das empresas.
12
O painel compreende 658 empresas no período de 2002 a 2009. Os modelos
estimados encontram-se a seguir:
1)
2)
3)
4)
onde PTB é o price-to-book (razão entre o valor de mercado e o valor contábil)
da empresa i no ano t, ROA é o retorno sobre ativos (razão entre o EBITDA e o
ativo total); MULCA é o percentual de mulheres no conselho de administração,
MULDIR é o percentual de mulheres na diretoria, GRO é a média anual de
crescimento das vendas, NM é uma variável dummy que assume o valor 1
quando a empresa está listada no Novo Mercado da BM&FBovespa, LEV é a
alavancagem (razão entre o passivo exigível e o ativo total da empresa),
SIZEAT é o tamanho da empresa (logaritmo do ativo total) e ISE é uma variável
dummy que assume valor 1 quando a empresa esta listada no Índice de
Sustentabilidade Empresarial.
13
4. Resultados
A Tabela 1 apresenta as estatísticas descritivas das variáveis deste
estudo. Em média, o percentual de mulheres no conselho é 9,13%, maior que o
percentual de mulheres na diretoria, 4,93%.
As medidas de valor e desempenho consideradas nesse estudo revelam
que as empresas brasileiras possuem, na média, um valor de mercado 2,32
vezes superior ao seu valor contábil, uma rentabilidade operacional de 4,47% e
um crescimento médio no faturamento de 17,23%.
Quanto à governança corporativa, vale destacar que apenas 14% das
empresas de nossa amostra estavam listadas nos níveis diferenciados da
BM&FBovespa, o que revela um grande espaço para melhorar as práticas de
governança entre as empresas brasileiras.
Tabela 1 – Estatística Descritiva Estatística descritiva de todas as variáveis utilizadas neste estudo de 2002 a 2009. A definição de cada variável pode ser vista no capítulo 3.
Variável Média Mediana Desvio
Padrão Min Max
PTB 2,32 1,40 4,43 0,00 73,90
ROA 4,47 4,50 9,58 -64,80 54,90
MULCA 9,13 0,00 13,69 0,00 100,00
MULDIR 4,93 0,00 10,20 0,00 50,00
SIZEAT 6,15 6,16 0,74 3,54 8,53
NM 0,14 0,00 0,35 0,00 1,00
LEV 59,20 60,40 19,95 1,10 99,90
GRO 17,23 13,69 21,59 -85,90 132,05
ISE 0,07 0,00 0,26 0,00 1,00
14
A Tabela 2 mostra a matriz de correlação das variáveis usadas neste
estudo. As correlações entre o percentual de mulheres no conselho e diretoria
com as variáveis de valor e desempenho das empresas são baixas. A
correlação entre o percentual de mulheres no conselho e diretoria com PTB é
baixa (-0,05 e 0,02 respectivamente), o mesmo acontecendo com ROA (-0,01 e
0,06 respectivamente) e GRO (-0,04 e -0,05 respectivamente).
Vale destacar que as correlações entre o percentual de mulheres no
conselho (MULCA) com o tamanho da firma (SIZEAT) e alavancagem (LEV)
são mais baixos (-0,20 e -0,25 respectivamente). Este resultado indica que a
presença de mulheres no conselho está negativamente correlacionado com o
tamanho e alavancagem da firma. Por outro lado, existe uma correlação
positiva entre presença de mulheres na diretoria (MULDIR) com tamanho da
firma e alavancagem.
Tabela 2 – Matriz de Correlação Matriz de correlação de cada variável utilizada neste trabalho de 2002 a 2009. A definição de cada variável pode ser vista no capítulo 3.
Variável PTB ROA MULCA MULDIR SIZEAT NM LEV GRO ISE PTB 1,00 ROA -0,02 1,00 MULCA -0,05 -0,01 1,00 MULDIR 0,02 0,06 0,07 1,00 SIZEAT 0,01 0,15 -0,20 0,03 1,00 NM 0,10 0,08 -0,04 0,02 0,14 1,00 LEV 0,26 -0,38 -0,25 0,05 0,18 -0,01 1,00 GRO 0,05 0,10 -0,04 -0,05 0,20 0,21 0,02 1,00 ISE 0,06 0,10 -0,03 0,02 0,34 0,22 0,04 -0,00 1,00
A Tabela 3 mostra o teste de diferença de médias e medianas das
variáveis financeiras, para as empresas com e sem mulheres executivas, bem
como os valores-p dos testes t e de Mann-Whitney. Verifica-se que as
empresas com mulheres executivas apresentam menor crescimento de
vendas, são mais alavancadas, possuem melhores práticas de governança
corporativa, são socialmente sustentáveis, maiores e possuem maior valor de
mercado (price-to-book). Todas as diferenças são estatisticamente
significativas a 5%, à exceção do crescimento das vendas, que é significativo a
10%. Não houve diferença significativa entre o ROA dos dois grupos de
empresas.
15
As diferenças entre os dois grupos são significativas não só do ponto de
vista estatístico, mas também econômico. O crescimento médio das vendas
das empresas com mulheres executivas é aproximadamente 15,18%, inferior
ao das empresas sem mulheres executivas 17,35%. A alavancagem das
empresas com mulheres executivas é 60,39%, superior às empresas sem
executivas 57,68%. O price-to-book médio é 2,90 para empresas com mulheres
executivas e 2,34 para empresas sem executivas. Finalmente 20% das
empresas com executivas estão no Novo Mercado, comparado com 15% das
firmas sem executivas nesse segmento. O ISE médio para as empresas com
mulheres executivas é de apenas 5%, enquanto que para as empresas sem
mulheres executivas é de 3%.
Tabela 3 – Teste de Diferença de Médias e Medianas Teste de média e mediana de cada variável utilizada neste trabalho de 2002 a 2009. A mediana está representada em parênteses abaixo da média e o valor-p do teste Mann-Whitney está em parênteses abaixo do valor-p da média. A definição de cada variável pode ser vista no capítulo 3.
Variável Empresas com
Mulheres Executivas
Empresas sem Mulheres
Executivas
Valor –p do Teste t (Mann-Whitney)
GRO 15,18 (12,44)
17,35 (14,04)
0,07 (0,11)
LEV 60,39 (61,55)
57,68 (59,30)
0,01 (0,02)
NM 0,20 (0,00)
0,15 (0,00)
0,00 (0,09)
PTB 2,90 (1,60)
2,34 (1,40)
0,04 (0,11)
SIZEAT 6,07 (6,16)
5,93 (5,98)
0,00 (0,00)
ROA 4,34 (3,70)
4,29 (4,00)
0,94 (0,80)
ISE 0,05 (0,00)
0,03 (0,00)
0,08 (0,55)
A Tabela 4 mostra os resultados das regressões obtidas para o price-to-
book como variável dependente em função da presença de mulheres
executivas no conselho e diretoria. Adicionalmente, também estimamos o
modelo usando as variáveis MULCA e MULDIR defasadas em um período (um
ano antes) para controlar potencial endogeneidade e tentar verificar a direção
da relação entre mulheres executiva e valor.
16
Pode-ser perceber que a presença feminina no conselho e diretoria é
positiva, mas não é estatisticamente significativa. Portanto, não existe
evidência estatística que empresas com mulheres executivas apresentam
maior valor. O mesmo resultado pode ser atribuído à presença feminina no
conselho e diretoria, defasadas em um período, pois ambas não são
estatisticamente significantes.
Vale ressaltar que as variáveis de controle (SIZEAT, NM, LEV e ISE) são
significativas, indicando que empresas menores, mais alavancadas ,com
melhor governança corporativa e índice de sustentabilidade apresentam maior
valor.
Tabela 4 – Valor da Firma e Presença Feminina no Conselho e Diretoria
Modelos de painel com efeitos fixos em que a variável dependente é o price-to-book. As definições de cada variável podem ser encontradas no capítulo 3. Os valores em parênteses representam os valores-p. ***, ** e * denotam significância estatística a 1%, 5% e 10%, respectivamente.
Variável I II III IV V VI
MULCA 0,00 (0,72)
0,00 (0,76)
MULDIR 0,00 (0,57)
0,00 (0,59)
MULCA(-1) 0,00 (0,80)
0,00 (0,73)
MULDIR(-1) -0,01 (0,40)
-0,01 (0,38)
SIZEAT -0,46*** (0,00)
-0,47*** (0,00)
-0,47*** (0,00)
-0,64*** (0,00)
-0,65*** (0,00)
-0,64*** (0,00)
NM 1,19*** (0,00)
1,18*** (0,00)
1,19*** (0,00)
1,03*** (0,00)
1,03*** (0,00)
1,04*** (0,00)
LEV 0,06*** (0,00)
0,06*** (0,00)
0,06*** (0,00)
0,06*** (0,00)
0,07*** (0,00)
0,07*** (0,00)
GRO 0,00 (0,15)
0,00 (0,14)
0,00 (0,14)
0,00 (0,15)
0,00 (0,16)
0,00 (0,16)
ISE 0,94** (0,04)
0,94** (0,04)
0,93** (0,04)
0,92* (0,06)
0,92* (0,06)
0,91* (0,06)
Obs 1356 1351 1350 1221 1220 1220
R2 ajustado 0,08 0,08 0,08 0,09 0,09 0,09
17
A Tabela 5 mostra os resultados das regressões obtidas para o ROA
como variável dependente em função da presença de mulheres executivas no
conselho e diretoria. Adicionalmente, também estimamos o modelo usando as
variáveis MULCA e MULDIR defasadas em um período.
Os resultados encontrados nesta tabela revelam que o percentual de
mulheres no conselho, em ambos os períodos, é negativo e estatisticamente
significativo a 1%, enquanto o percentual de mulheres na diretoria é positivo,
mas não é estatisticamente significativo. O sinal desta variável indica que
existe relação negativa entre a presença de mulheres no conselho e
desempenho operacional.
Os resultados encontrados nessa dissertação estão coerentes com a
literatura internacional que mostram a existência de nenhum efeito ou até
negativo para a presença feminina nos conselhos. Smith e Mette (2005),
realizaram um estudo similar voltado para as empresas dinamarquesas e
encontraram ambiguidade nos resultados, que variam de positivo a zero para
as mulheres na diretoria e negativo para mulheres no conselho. Rose (2007),
Kathleen e Hersch (2005) não encontraram relação entre a diversidade no
conselho e a performance financeira das empresas dinamarquesas.
Tabela 5 – Desempenho Operacional e Presença Feminina no Conselho e
Diretoria Modelos de painel com efeitos fixos em que a variável dependente é o ROA. As definições de cada variável podem ser encontradas no capítulo 3. Os valores em parênteses representam os valores-p. ***, ** e * denotam significância estatística a 1%, 5% e 10%, respectivamente.
Variável I II III IV V VI
MULCA -0,07*** (0,00)
-0,07*** (0,00)
MULDIR 0,00 (0,97)
0,01 (0,58)
MULCA(-1) -0,06*** (0,00)
-0,06** (0,01)
MULDIR(-1) -0,03 (0,33)
-0,01 (0,62)
SIZEAT 0,32 (0,47)
0,53 (0,23)
0,31 (0,48)
0,22 (0,65)
0,39 (0,43)
0,22 (0,66)
NM 0,29 (0,78)
0,41 (0,70)
0,26 (0,80)
0,37 (0,74)
0,52 (0,64)
0,38 (0,73)
18
LEV -0,17*** (0,00)
-0,16*** (0,00)
-0,17*** (0,00)
-0,13*** (0,00)
-0,12*** (0,00)
-0,13*** (0,00)
GRO 0,00 (0,60)
0,00 (0,61)
0,00 (0,62)
0,00 (0,62)
0,00 (0,61)
0,00 (0,60)
ISE 3,27** (0,02)
3,14** (0,03)
3,28** (0,02)
2,72* (0,08)
2,58* (0,09)
2,70* (0,08)
Obs 1813 1808 1807 1604 1602 1602
R2 ajustado 0,06 0,05 0,06 0,03 0,03 0,03
19
5. Conclusão
Este estudo analisa se empresas que possuem mulheres executivas no
conselho de administração e diretoria apresentam maior valor de mercado e
melhor desempenho operacional. Utilizando dados inéditos no Brasil, nossa
análise de 658 companhias abertas brasileiras de 2002 a 2009 indica que não
existe uma relação estatisticamente significativa entre presença de mulheres
no conselho de administração e em cargos de diretoria para o valor das
empresas, mas existe uma relação negativa entre presença de mulheres no
conselho e desempenho das empresas.
Nossos resultados são coerentes com a literatura internacional. A
existência de um efeito negativo para a presença feminina nos conselhos
também foi encontrado nos estudos de Dobbin e Jung (2011), Adam e Ferreira
(2009), Smith e Mette (2005) e Shrader et al. (1997).
Apesar da presença de alguns resultados contraditórios, esse tema
chama atenção para a necessidade de condução de mais trabalhos para
melhor entender o motivo de ainda ser muito modesta a presença de mulheres
em cargos de alta gestão e nos conselhos de administração. Em alguns países
como a Noruega e Suécia, por exemplo, a presença feminina nos conselhos e
diretorias se tornou obrigatória para gerar mais igualdade de gênero nas
instituições. Alguns críticos argumentam que essa lei tem reduzido a
performance de empresas escandinavas, pois mulheres sem grande expertise
têm assumido cargos de alta gestão que eram antes dominados por homens.
Do ponto de vista empírico, os resultados relatados neste trabalho
chamam atenção para a necessidade de se ampliar este estudo, seja
acrescentando informações a partir de 2009 ou separando a amostra das
empresas maiores das de menor porte, conforme verificado em outros estudos.
No entanto, não há nenhuma razão aparente para que os resultados para as
pequenas empresas sejam diferentes, mas é possível que a diversidade de
20
gênero apresente efeitos maiores sobre organizações menores, já que os
esforços individuais são mais perceptíveis.
Espera-se que no futuro próximo, os números tendam a uma posição de
igualdade entre homens e mulheres, já que pelo menos nas universidades o
número de mulheres supera o de homens, de onde se espera que sairão
futuras conselheiras.
21
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