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Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo de baixa rotação de um gerador síncrono de magnetos permanentes de 90 kW Luís Carlos Silva Pinto Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores Orientador: Prof. Doutor Paulo José da Costa Branco Júri Presidente: Prof. Doutor Rui Manuel Gameiro de Castro Orientador: Prof. Doutor Paulo José da Costa Branco Vogal: Prof. Doutor Stanimir Stoyanov Valtchev Novembro de 2015

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Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no

eixo de baixa rotação de um gerador síncrono de magnetos

permanentes de 90 kW

Luís Carlos Silva Pinto

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Eletrotécnica e de Computadores

Orientador: Prof. Doutor Paulo José da Costa Branco

Júri

Presidente: Prof. Doutor Rui Manuel Gameiro de Castro

Orientador: Prof. Doutor Paulo José da Costa Branco

Vogal: Prof. Doutor Stanimir Stoyanov Valtchev

Novembro de 2015

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Agradecimentos

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao Professor Paulo Branco, orientador desta dissertação, por

me ter dado a oportunidade de poder trabalhar consigo ao longo deste semestre. Fui uma

aprendizagem contínua que me ajudou a crescer, não só a nível técnico, mas também ao nível pessoal.

Gostaria também de agradecer aos meus pais e avós por todo o apoio e auxilio que me deram ao longo

de todo o curso e sem o qual não teria sido possível alcançar todas a metas com que sempre sonhei.

Agradecer ao meu irmão por todos os pequenos gestos e conversas que sempre me levaram a nunca

desistir dos meus objetivos apesar das dificuldades. Afinal, como o próprio sempre me disse, se fosse

fácil não tinha piada.

À minha namorada por todo o apoio, afeto e companhia, quer nos bons momentos, quer nos momentos

menos bons.

Por fim, um agradecimento a todos os meus amigos e colegas por toda a amizade e camaradagem e

por tornarem esta jornada mais animada e agradável.

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Resumo

A conversão de energia mecânica em elétrica a bordo das aeronaves tem evoluído significativamente

nos últimos anos. Esta evolução surge com o crescimento da eletrificação dos sistemas de energia

constituintes das aeronaves, por forma de racionalizar a energia necessária a bordo e reduzir o

consumo de combustíveis. Esta dissertação estuda um gerador síncrono de magnetos permanentes

integrado no veio de baixa rotação da turbina de aeronaves. Nas turbinas convencionais, a produção

de energia elétrica é feita por um gerador localizado fora da turbina, acionado por um veio vertical que

extrai energia na forma mecânica da turbina. O objetivo é desenvolver um gerador elétrico com uma

baixa relação potência/peso por fim de reduzir o peso da turbina da aeronave.

Esta dissertação surge na sequência de trabalhos anteriormente realizados no Instituto Superior

Técnico, procurando-se novas soluções para geradores elétricos em aeronaves. O estudo terá como

requisitos de funcionamento do gerador síncrono de magnetos permanentes: potência nominal de 90

kW a uma velocidade de 3000 rpm, 3 pares de polos, gama de temperaturas de operação no intervalo

-60ºC a 150ºC e um conversor eletrónico capaz de fornecer uma tensão eficaz de 115V por fase e

frequência de 400 Hz. O gerador será construído usando Hiperco 50 e magnetos permanentes de

NdFeB.

Nesta sequência, este trabalho irá estudar e analisar as perdas nos materiais e distribuição de

temperaturas no interior do gerador. A temperatura no interior do gerador tem especial interesse de

estudo, visto que o tempo de vida útil dos materiais como magnetos permanentes e dielétrico isolante

dos condutores é reduzido com a exposição destes a temperaturas elevadas. Assim, torna-se prioritário

o desenvolvimento de um modelo computacional do gerador por elementos finitos, a fim de realizar

uma análise termoelétrica e magnética que permita estimar temperaturas nos diferentes materiais

constituintes do gerador em vazio, plena carga e em carga desequilibrada.

Palavras-chave: gerador elétrico integrado, gerador síncrono de magnetos permanentes, sistema

elétrico de aeronaves, potência de perdas, análise por elementos finitos, análise térmica.

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Abstract

The mechanical - electrical conversion on board aircraft is evolving in recent years. This evolution

appears in the context of increasing electrification of the aircraft in order to rationalize the non-propellant

consumed and thus reduce fuel consumption. This dissertation relates to a synchronous permanent

magnet (PM) generator integrated in the axis of the turbine on an aircraft. In a conventional turbine, the

electric generator is located outside the engine and receives the extracted power from the turbine

through a vertical shaft. The objective is achieving an electric generator with a small power/weight

relation, also decreasing the total weight of the aircraft turbine.

This Master’s dissertation continues previous researches carried out at Instituto Superior Técnico,

focused in new solutions for aircraft’s electrical generators. The study will take as functional

requirements for the three-phase synchronous PM generator: 90 kW as its nominal power at 3000 rpm,

3 pairs of poles, temperature range operation from -60ºC to 150ºC and an adequate electronic converter

to deliver an e.m.f equal to 115V RMS per phase at 400 Hz. The generator uses Hiperco 50 electrical

steel for its iron core and NdFeB permanent magnets.

This dissertation studies and analyses temperature distribution in this type of aircraft generators since

this will be directly related to its time-life decrease. Power losses may create conditions particularly

harmful warming to the most sensitive parts of the generator, in particular electrical isolation (dielectric)

and permanent magnets. In this context, it has been developed of a computational model of the

generator via finite element method (MEF) with thermo-electric/magnetic coupling, which may predict

temperatures in its different elements to take into account the conditions of exploitation by the system

where the generator is inserted, i.e., submitted to balanced and unbalanced loads in the aircraft.

Keywords: on-board electric generators, PM synchronous generator, aircraft electrical power system,

power losses, finite-element method (FEM), thermal analysis.

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Índice

Agradecimentos .........................................................................................................................................i

Resumo .................................................................................................................................................... ii

Abstract.................................................................................................................................................... iii

Lista de Figuras ....................................................................................................................................... vi

Lista de Tabelas ...................................................................................................................................... ix

Lista de Acrónimos .................................................................................................................................. xi

Lista de Símbolos ................................................................................................................................... xii

1. Introdução ........................................................................................................................................ 1

1.1. Objetivos Principais ................................................................................................................. 1

1.2. Estrutura do Trabalho .............................................................................................................. 1

2. Enquadramento ................................................................................................................................ 2

2.1. Aeronaves convencionais ........................................................................................................ 2

2.2. More-Electric Aircrafts (MEA) .................................................................................................. 3

2.3. More-Electric Engine (MEE) .................................................................................................... 5

2.4. Produção de energia elétrica nas aeronaves .......................................................................... 6

2.4.1. Produção de energia elétrica nas aeronaves convencionais .......................................... 6

2.4.2. Produção de energia elétrica nas More-Electric Aircrafts ............................................... 8

2.5. Sistema de distribuição de energia elétrica (SDEE) de uma aeronave .................................. 8

2.5.1. Evolução do sistema de distribuição de energia elétrica ................................................ 8

2.5.2. Sistema de distribuição de energia elétrica a frequência constante (CF) ..................... 10

2.5.3. Sistemas de distribuição de energia elétrica a frequência variável (VF) ...................... 12

2.5.4. Sistemas de distribuição de energia elétrica do futuro.................................................. 14

2.5.4.1. Sistemas de distribuição de energia elétrica em Alta Tensão CA ............................ 14

2.5.4.2. Sistemas de distribuição de energia elétrica em Alta Tensão CC ............................ 15

2.5.4.3. Desafios futuros nos SDEE ....................................................................................... 16

2.6. Perdas no gerador de magnetos permanentes ..................................................................... 16

2.6.1. Perdas no cobre ............................................................................................................ 16

2.6.2. Perdas nos materiais magnéticos ................................................................................. 19

2.6.3. Perdas nos magnetos permanentes.............................................................................. 22

2.7. Estimação do tempo de vida do isolamento dielétrico do gerador........................................ 24

3. Definição das hipóteses de trabalho consideradas no estudo do gerador .................................... 26

3.1. Topologia considerada para o gerador ................................................................................. 26

3.2. Modelação da carga do gerador ........................................................................................... 29

3.2.1. Dimensionamento do conversor de interligação entre o gerador e o sistema elétrico da

aeronave. 29

3.2.2. Descrição do sistema elétrico da aeronave a ser alimentado pelo gerador ................. 32

4. Caracterização eletromecânica do gerador síncrono de magnetos permanentes ........................ 34

4.1. Distribuição de condutores para os enrolamentos estatórios do gerador trifásico ............... 34

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4.2. Análise da potência activa fornecida pelo gerador ............................................................... 37

4.3. Comportamento do gerador em vazio ................................................................................... 38

4.3.1. Estudo das perdas de Joule .......................................................................................... 38

4.3.1.1. Perdas no ferro .......................................................................................................... 38

4.3.1.2. Perdas nos magnetos permanentes.......................................................................... 44

4.3.2. Análise térmica do gerador em vazio ............................................................................ 46

4.3.2.1. Análise térmica do gerador em termos de uma metodologia de parâmetros

concentrados .............................................................................................................................. 47

4.3.2.2. Análise térmica do gerador através da sua modelização por elementos finitos ....... 50

4.4. Comportamento do Gerador em Carga ................................................................................. 51

4.4.1. Perdas de Joule a plena carga equilibrada ............................................................... 51

Perdas no cobre ......................................................................................................................... 52

Perdas no ferro ........................................................................................................................... 55

Perdas nos magnetos permanentes ........................................................................................... 57

4.4.2. Análise térmica do gerador em carga equilibrada ..................................................... 58

4.4.3. Estudo das perdas com carga desequilibrada .......................................................... 64

Perdas no cobre ......................................................................................................................... 66

Perdas no ferro ........................................................................................................................... 67

Perdas nos magnetos permanentes ........................................................................................... 68

4.4.4. Análise térmica do gerador com carga desequilibrada ............................................. 70

4.5. Estimativa do tempo de vida útil do isolamento dielétrico do gerador .................................. 71

5. Conclusões ..................................................................................................................................... 73

5.1. Limitações do trabalho e trabalhos futuros ........................................................................... 73

5.2. Considerações finais ............................................................................................................. 73

Anexos ................................................................................................................................................... 76

Anexo I - Característica B(H) do material ferromagnético macio Hiperco 50 .................................... 76

Bibliografia ............................................................................................................................................. 77

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Lista de Figuras

Figura 1: Esquema de distribuição de energia numa aeronave convencional. ...................................... 2

Figura 2: Esquema de distribuição de energia em More-Electric Aircrafts (MEA). ................................. 4

Figura 3: Comparação entre uma (a) turbina convencional e (b) uma More-Electric Engine (MEE). .... 5

Figura 4: Caixa de velocidade mecânica de conversão de velocidade variável em velocidade constante

– Constant Speed Drive (CSD) [7]. ......................................................................................................... 6

Figura 5: Estrutura de um gerador trifásico sem escovas, utilizado para produção de energia elétrica

em aeronaves. ......................................................................................................................................... 7

Figura 6: Esquema de um gerador de corrente alterna (CA) sem escovas. ........................................... 7

Figura 7: Evolução do sistema de produção de eletricidade em aeronaves. ......................................... 9

Figura 8: Esquemático exemplificativo da caixa de velocidades hidromecânica Constant Speed Drive

(CSD) [14]. ............................................................................................................................................... 9

Figura 9: Esquema de produção de velocidade variável para frequência constante (VS/CF). ............ 10

Figura 10: Esquema de um sistema de distribuição de energia elétrica (SDEE) a frequência constante

de uma aeronave. .................................................................................................................................. 11

Figura 11: Esquema da unidade Transformador retificador (TRU) de 12 pulsos. ................................ 11

Figura 12: Esquema de sistema de distribuição de energia elétrica (SDEE) de frequência variável. .. 12

Figura 13: Esquema elétrico típico de um conversor Back-to-Back. .................................................... 13

Figura 14: Estrutura de um Autotransformador retificador (ATRU) de 24 pulsos. ................................ 13

Figura 15: Estrutura de sistema de distribuição de energia elétrica (SDEE) em alta tensão alternada

sinusoidal (HVAC). ................................................................................................................................ 14

Figura 16: Topologia tipica do Buck Boost Converter unit (BBCU)....................................................... 15

Figura 17: Estrutura de sistema de distribuição de energia elétrica (SDEE) em alta tensão de corrente

continua (HVDC) de 270V. .................................................................................................................... 15

Figura 18: Variação da resistividade do Cobre com a temperatura. ..................................................... 17

Figura 19: (a) Representação da secção e diâmetro do condutor circular a ser considerado no método

de Perry, Bennet e Larson. (b) Cava do estator do gerador com os condutores das fases dispostos em

m camadas. ........................................................................................................................................... 18

Figura 20: (a) Família de características B-H. O aumento do valor máximo do campo magnético leva

ao aumento da área interior do ciclo B-H e, por consequência, aumento das perdas por histerese. Linha

de desmagnetização do magneto permanente usado como referência neste trabalho, NdFeB, (b) para

temperaturas de 170, 200 e 230 ºC e (c) para temperaturas entre os -60 e os 140 ºC. (d) Curva de B-H

do material ferromagnético macio Hiperco 50....................................................................................... 20

Figura 21: Comparação das correntes de induzidas em (a) material não laminado e em (b) material

laminado. ............................................................................................................................................... 22

Figura 22: Fenómeno de indução de correntes em material magnético devido à presença no seu interior

de um campo magnético variável no tempo. ......................................................................................... 23

Figura 23: Variação do tempo de vida útil do material dielétrico isolante com a variação da temperatura,

para os materiais GE-EPR e Gexol-XF. ................................................................................................ 25

Figura 24: Representação 2D do gerador de magnetos permanentes em estudo. .............................. 26

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Figura 25: (a) Curva de desmagnetização do Neodímio-Ferro-Boro para temperaturas de -60 ºC a

140 ºC e (b) para temperaturas entre os 170 e 230 ºC (b). (c) Curva B-H da liga Hiperco 50. ............ 28

Figura 26: (a) Esquemático do fluxo de ar circulante numa turbina durante a sua operação [28]. (b)

Indicação da localização sugerida para aplicação do gerador em estudo numa turbina Trent 7000 da

Rolls-Royce [29]. ................................................................................................................................... 29

Figura 27: Conversor CA-CA proposto para a conversão da tensão produzida pelo gerador síncrono de

magnetos permanentes numa tensão de 200V a 400Hz. ..................................................................... 30

Figura 28: Esquema simplificado do conversor CA-CA proposto para a ligação entre o gerador e a carga

representativa do sistema elétrico da aeronave.................................................................................... 32

Figura 29: Esquema simplificado do sistema elétrico da aeronave Boeing 767 considerado como carga

alimentada pelo gerador. ....................................................................................................................... 33

Figura 30: Distribuição das fases em dupla camada e pelas cavas do estator do gerador de forma a

obter um sistema trifásico simétrico e equilibrado. ............................................................................... 36

Figura 31: (a) Sistema de tensões trifásico resultante do enrolamento proposto para uma rotação

completa do rotor a uma velocidade de rotação de 3000 rpm. (b) Análise espectral da tensão simples

produzida pelo gerador e representada em (a). .................................................................................... 37

Figura 32: Perdas específicas do material Hiperco 50 em função da variação do campo magnético B

para as frequências de 60, 400, 800 e 1600Hz, e B entre 1T a 2T. ..................................................... 39

Figura 33: Superfície de ajustamento interpolada pela função Surface Fitting Tool do MATLAB, para os

dados fornecidos pelo fabricante das perdas de joule no material Hiperco 50 e uma variação de

frequência de 0 a 1600 Hz, assim como um campo de indução magnética de 1 a 2 T. ...................... 40

Figura 34: Distribuição da densidade de fluxo magnético pelo gerador a operar a uma velocidade de

3000 rpm e em vazio. ............................................................................................................................ 41

Figura 35: Variação do campo magnético B num dente do estator do gerador, ao longo de uma rotação

completa do rotor 3000 rpm e em vazio. ............................................................................................... 42

Figura 36: Divisão do estator em zonas onde o valor máximo da componente fundamental da indução

de campo magnético presente varia de forma significativa de zona para zona. .................................. 42

Figura 37: Distribuição da intensidade da densidade de corrente induzida no rotor, nomeadamente o

seu valor mais significativo nos magnetos permanentes para operação do gerador em vazio. .......... 45

Figura 38: Evolução da densidade de corrente (a) e da densidade de corrente ao quadrado (b) num

magneto permanente ao longo de uma rotação completa do rotor a uma velocidade de 3000 rpm e com

o gerador em vazio. ............................................................................................................................... 46

Figura 39: Esquema térmico simplificado equivalente em cilindros concêntricos associado ao conjunto

de materiais do gerador para o cálculo das resistências térmicas associadas a cada elemento (ou

conjunto de elementos) do gerador. ...................................................................................................... 48

Figura 40: Circuito térmico equivalente do gerador elétrico em análise. .............................................. 49

Figura 41: Gradiente termico do gerador em funcionamento em vazio e à temperatura exterior de - 56,5

ºC. .......................................................................................................................................................... 50

Figura 42: Comparação entre a análise térmica efetuada analiticamente e a realizada por modelização

térmica por elementos finitos................................................................................................................. 51

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Figura 43: Correntes fornecidas pelas três fases do gerador à sua carga elétrica em funcionamento

nominal equilibrado. .............................................................................................................................. 52

Figura 44: Esquema da distribuição dos condutores de cobre nos enrolamentos do gerador pelas cavas

do estator. .............................................................................................................................................. 53

Figura 45: Variação do campo magnético B num dente do estator do gerador, ao longo de uma rotação

completa do rotor, com o gerador em vazio (azul) e a plena carga (verde). ........................................ 55

Figura 46: Intensidade da densidade de corrente induzida no material ferromagnético com o gerador

em plena carga e a uma velocidade de 3000 rpm. ............................................................................... 57

Figura 47: (a) Evolução da densidade de corrente e do (b) quadrado da densidade de corrente num

magneto permanente ao longo de uma rotação completa do rotor a uma velocidade de 3000 rpm e com

o gerador em plena carga. .................................................................................................................... 58

Figura 48: Gradiente térmico do gerador elétrico a funcionar em plena carga e à temperatura exterior

de -56.5 ºC para uma velocidade de cruzeiro da aeronave. ................................................................. 59

Figura 49: Evolução do coeficiente de transferência de calor nos topos do gerador, ht, com a velocidade

do ar envolvente segundo Mellor, Hamdi, Schubert, Stokum e Di gerlando. ....................................... 61

Figura 50: Motor elétrico de indução com arrefecimento interno, realizado por uma ventoinha acoplada

no veio da máquina. .............................................................................................................................. 62

Figura 51: Distribuição térmica do gerador elétrico numa situação de voo cruzeiro, considerando a

existência de transferência de calor na superfície lateral e topos deste. ............................................. 62

Figura 52: (a) Variação da temperatura máxima sentida pelos magnetos permanentes e (b)

enrolamentos de cobre do gerador com a evolução da velocidade de rotação do veio da turbina e

temperatura do ar exterior envolvente. ................................................................................................. 64

Figura 53: (a) Esquema exemplificativo da ocorrência de uma falha em uma das fases das cargas

modelizante do sistema elétrico de uma aeronave. (b) Esquema exemplificativo da ocorrência de uma

falha em um das fases do gerador que alimento o conversor CA-CA. ................................................. 65

Figura 54: Evolução temporal das correntes fornecidas pelas fases A, B e C do gerador elétrico ao

conversor CA-CA aquando da ocorrência de uma falha aos 0.03 segundos na fase A. ...................... 66

Figura 55: Variação do campo de indução magnética B num dente do estator do gerador ao longo de

uma rotação completa do rotor para: gerador em vazio (azul), gerador a plena carga (verde) e gerador

com carga desequilibrada (vermelho). .................................................................................................. 67

Figura 56: Intensidade da densidade de corrente induzida no material ferromagnético com o gerador

em carga desequilibrada e velocidade de rotação e 3000 rpm. ........................................................... 69

Figura 57: (a) Evolução da densidade de corrente e do (b) quadrado da densidade de corrente num

magneto permanente ao longo de uma rotação completa do rotor a uma velocidade de 3000 rpm e com

o gerador elétrico a alimentar uma carga desequilibrada. .................................................................... 70

Figura 58: Gradiente térmico do gerador elétrico em funcionamento com carga desequilibrada e à

temperatura exterior de -56.5 ºC para uma velocidade e altitude cruzeiro da aeronave...................... 71

Figura 59: Característica B(H) do material ferromagnético macio Hiperco 50. .................................... 76

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Lista de Tabelas

Tabela 1: Constantes que descrevem a característica de tempo de vida útil dos dielétricos GE-EPR e

Gexol-XF em função da sua temperatura. ............................................................................................ 25

Tabela 2: Características do gerador de magnetos permanentes de 90 kVA em estudo. ................... 27

Tabela 3: Propriedades magnéticas do Neodímio-Ferro-Boro. ............................................................ 27

Tabela 4: Propriedades magnéticas e físicas da liga metálica Hiperco 50. .......................................... 27

Tabela 5: Valor das cargas CA e CC do sistema elétrico do Boeing 767 modelado em [30] para uma

potência de 90 kVA. .............................................................................................................................. 33

Tabela 6: Perdas de Joule do material Hiperco 50 para frequências de 60, 400, 800 e 1600 Hz e campo

de indução magnética de 1 a 2 T. ......................................................................................................... 39

Tabela 7: Valores máximos de campo de indução magnética B presentes nas várias zonas do estator

com o gerador em vazio. ....................................................................................................................... 43

Tabela 8: Dados e resultados do cálculo das perdas no ferro nas diferentes zonas do estator do gerador

em vazio. ............................................................................................................................................... 43

Tabela 9: Analogia entre grandezas elétricas e grandezas térmicas. .................................................. 47

Tabela 10: Temperatura resultante da análise térmica por parâmetros concentrados dos materiais

constituintes do gerador quando a funcionar em vazio. ........................................................................ 49

Tabela 11: Harmónicas mais significativas dos sinais de corrente nas fases do gerador em carga

nominal. ................................................................................................................................................. 52

Tabela 12 - Parâmetros necessários ao cálculo da resistência elétrica equivalente associada à camada

inferior das cavas do gerador ................................................................................................................ 54

Tabela 13 - Parâmetros necessários ao cálculo da resistência elétrica equivalente associada à camada

superior das cavas do gerador. ............................................................................................................. 54

Tabela 14: Potência de perdas nos enrolamentos de cobre do gerador para a velocidade de 3000 rpm

e plena carga equilibrada. ..................................................................................................................... 55

Tabela 15: Valores máximos de campo magnético B nas várias zonas do estator com o gerador em

plena carga. ........................................................................................................................................... 56

Tabela 16: Perdas no ferro nas diferentes zonas do estator do gerador em carga plena equilibrada. 56

Tabela 17: Constantes empíricas de caracterização do coeficiente de transferência de calor nos topos

de máquinas elétricas. ........................................................................................................................... 61

Tabela 18: Valor do coeficiente de transferência de calor na superfície lateral do gerador para as

temperaturas analisadas em elementos finitos. .................................................................................... 63

Tabela 19: Valor do coeficiente de transferência de calor nos topos do gerador para as diferentes

velocidades analisadas em elementos finitos. ...................................................................................... 63

Tabela 20: Harmónicas mais significativas dos sinais de corrente nas três fases do gerador e respetiva

resistência dos condutores a estas. Determinação da potência de perdas no cobre do gerador para a

velocidade de 3000 rpm e carga desequilibra....................................................................................... 67

Tabela 21: Valores máximos do campo de indução magnética B nas várias regiões do estator com o

gerador em carga desequilibrada. ......................................................................................................... 68

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x

Tabela 22: Perdas de Joule nas diferentes regiões do núcleo de ferro do estator com o gerador em

carga desequilibrada. ............................................................................................................................ 68

Tabela 23: Estimativa do tempo de vida útil dos dielétricos isolantes GE-EPR e Gexol-FR para as

Temperaturas de 20, 120 e 150ºC. ....................................................................................................... 71

Tabela 24: Estimativa do tempo de vida útil do dielétrico isolante do gerador elétrico, para aplicação em

viagem de médio e longo curso. ........................................................................................................... 72

Tabela 25: Curva de magnetização B(H) do Hiperco 50. ..................................................................... 76

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Lista de Acrónimos

CA - Corrente alternada

CC - Corrente Continua

ESC - Environment System Control

MEA - More-Electric Aircraft

MEE - More-Electric Engine

AEA – All-Electric-Aircraft

TIMES - Totally Integrated More Electric Systems

POA - Power Optimized Aircraft

FBW – Fly-By-Wire

EPS - Electric Power Systems

SDEE - Sistema de Distribuição de Energia Elétrica

CSD - Constant Speed Drive

GMP - Gerador de Magnetos Permanentes

CF - Constante Frequency

VF - Variable Frequency

VS/CF - Variable Speed / Constant Frequency

TRU - Tranformer Rectifier Unit

ATRU - Autotransformer Rectifier Unit

ATU - AutoTranformer Unit

BBCU - Buck Boost Converter Unit

APU - Auxiliary Power Unit

HVDC - High Voltage Direct Current

HVAC - High Voltage alternating current

NdFeB - Neodímio-Ferro-Boro

N3575 - Neodímio-Ferro-Boro

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Lista de Símbolos

Símbolo Quantidade Unidades

𝑃 Potência ativa W

𝑅 Resistência elétrica Ω

𝜌 Resistividade elétrica Ω.m-1

𝐼 Corrente elétrica A

𝐼𝑒𝑓 Valor eficaz da corrente elétrica A

𝑉 Tensão elétrica V

𝑉𝑒𝑓 Valor eficaz da tensão elétrica V

𝑉∆ Tensão elétrica composta V

𝑉∆𝑒𝑓 Valor eficaz da tensão elétrica composta V

f Frequência elétrica Hz

𝜔 Frequência angular Rad.

𝑅𝐶𝐶 Resistência elétrica em corrente contínua Ω

𝑅𝐶𝐴 Resistência elétrica em corrente alternada Ω

𝛿 Profundidade de penetração m

d Diâmetro m

r Raio m

𝜇0 Permeabilidade magnética do vácuo N.A−2

𝜇𝑟 Permeabilidade magnética relativa s/ unidades

B Campo de indução magnético T

𝐵𝑟 Campo de indução magnética residual T

H Campo magnético A.m-1

E Campo Elétrico N.C-1

𝐽𝑖 Densidade de corrente A.m-2

Condutividade elétrica S.m-1

𝑗 Densidade de perdas de Joule W.m-3

𝑁𝑒 Número de espiras s/ unidades

𝑁𝑝 Número de condutores em paralelo por

fase s/ unidades

l Comprimento m

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xiii

S Secção m2

𝐾ℎ Constante de perdas por histerese no ferro W.kg-1.T-n.Hz-1

𝐾𝑒 Constante de perdas de Foucault no ferro W.kg-1.T-2.Hz-1

L Indutância de uma bobine H

C Capacidade de um condensador F

T Temperatura K

𝑅𝑡ℎ Resistência térmica K.W-1

𝐶𝑡ℎ Capacidade térmica J.K-1

𝜌𝑡ℎ Resistividade térmica m.K.W-1

h Coef. Transferência de calor W.m-2.ºC-1

k Condutividade térmica W.m-2.ºC-1

𝐶𝑝 Calor específico do fluido kJ.kg-1.ºC-1

𝜇 Viscosidade dinâmica de fluido Pa.s

𝑁𝑢 Número de Nusselt s/ unidades

𝑃𝑟 Número de Prandtl s/ unidades

𝑅𝑒 Número de Reynolds s/ unidades

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1

1. Introdução

1.1. Objetivos Principais

Os principais objetivos desta dissertação prendem-se com o estudo e análise de um gerador

síncrono de magnetos permanentes para aeronaves. Especificamente, pretende -se desenvolver

um modelo computacional do gerador elétrico para análise via modelação por elementos finitos.

Neste modelo, pretende-se estudar o circuito magnético, perdas por efeito de Joule e o efeito

destas no comportamento térmico do gerador.

Pretende-se assim analisar as perdas nos condutores de cobre, nos magnetos permanentes e

no núcleo de ferro que constitui o rotor e estator da máquina elétrica para uma velocidade de

3000 rpm, uma gama de temperaturas compreendida entre os -56.5 ºC e os 150ºC, e para as

situações de vazio, plena carga e carga desequilibrada. Para cada um destes casos, pretende -

se determinar o modelo térmico, em regime estacionário, de forma a estimar o tempo de vida do

gerador.

1.2. Estrutura do Trabalho

A presente dissertação encontra-se organizada em seis capítulos. No primeiro capítulo,

apresenta-se os principais objetivos e a estrutura do trabalho.

No segundo capítulo, é feita uma introdução teórica às principais temáticas desenvolvidas nos

restantes capítulos. Começa-se pelo enquadramento teórico dos sistemas de distribuição de

energia nas aeronaves convencionais, em contraste com os atuais sistemas. Segue-se a

descrição da evolução das formas de produção de energia elétrica abordo das aeronaves, e a

estrutura dos diferentes sistemas de distribuição de energia elétrica. Por fim, é feita uma

introdução teórica à estimação das perdas de Joule e tempo de vida útil do dielétrico isolante de

uma máquina elétrica.

No terceiro capítulo, são definidas as características do gerador elétrico em estudo, assim como

a carga equivalente que modela um sistema elétrico típico de uma aeronave civil. É também

dimensionado um conversor eletrónico de CA-CA que realiza a interligação entre o gerador

elétrico e a sua carga. São ainda descritas as dimensões, potência nominal, materiais

constituintes e tipo de enrolamento do gerador.

Já no quarto capítulo, é desenvolvida a caracterização eletromecânica do gerador, estimando-se

as suas perdas de Joule em vazio, em plena carga e em carga desequilibrada. Por meio das

perdas de Joule determinadas, é feita a análise térmica do gerador em regime estacionário.

No último capítulo, o quinto capítulo, são enunciadas limitações existentes no trabalho realizado,

apresentando-se propostas de trabalhos futuros que possam dar continuidade ao tema

estudado. São ainda apresentadas as conclusões obtidas ao longo desta dissertação.

Page 16: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

2

2. Enquadramento

2.1. Aeronaves convencionais

A arquitetura de uma aeronave convencional é constituída pela combinação de vários sistemas :

pneumático, mecânico, elétrico e hidráulico. Neste contexto, as turbinas de uma aeronave

desempenham um papel importantíssimo no funcionamento desta. Estas, apesar da sua principal

função ser a de propulsão, têm também o papel de fornecer energia aos sistemas constituintes

da arquitetura da aeronave supracitados, sendo portanto, a principal fonte de energia da

aeronave. Esta energia é obtida através da queima de combustível na câmara de combustão da

turbina onde se dá um ciclo de Brayton completo. Ou seja, o ar que entra na turbina é comprimido

nos andares de compressão até à camara de combustão. Aqui é injetado combustível ao ar

comprimido e dada a sua ignição que, por sua vez, irá acionar os andares de expansão da turbina

propriamente dita. Este processo contínuo permite gerar energia usada como propulsão da

aeronave. Para compreender melhor a interação dos diferentes sistemas, a Figura 1 esquematiza

a típica arquitetura de uma aeronave convencional [1].

Figura 1: Esquema de distribuição de energia numa aeronave convencional.

Turbina Compressor

Sistema anti

congelamento

Sistema de

controlo de

pressurização

Caixa de

velocidades

Gerador

Electrico

Sistema de

distribuição de

energia elétrica

Bomba

Hidráulica

Cargas

comerciaisSistemas

de aviação

Controladores

de voo

Trem de

aterragem

Energia Elétrica

Energia Hidráulica

Energia

Pneumática

Energia

mecânica

Page 17: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

3

Como é possivél compreender pela Figura 1, parte da energia produzida na turbina é transferida para

os sistemas acima referidos e transformada em:

- Energia pneumática – esta energia é obtida a partir do andar de alta pressão do compressor e é

utilizada para alimentar o sistema de controlo de pressurização da aeronave (Environment System

Control - ESC), assim como para fornecer ar quente ao sistema de anti-congelamento da superfície da

aeronave. Este sistema de energia tem a desvantagem de ter uma eficiência muito baixa e de

apresentar uma difícil deteção de fugas.

- Energia mecânica – esta energia é obtida a partir da turbina por meio de uma caixa de velocidades

mecânica e transferida para a bomba hidráulica central, para bombas de equipamentos funcionais da

turbina e para outros subsistemas da aeronave. Fornece também o gerador de energia elétrica

principal.

- Energia hidráulica – esta energia é obtida na bomba hidráulica central e transferida a sistemas de

controlo de voo primários e secundários, ao trem de aterragem (para abertura, fecho e travagem), ao

mecanismo de arranque da turbina, entre outros. A maior vantagem desta fonte de energia é a sua

elevada densidade de energia e robustez. Contudo, tem a grande desvantagem de ser pesado, pouco

flexível devido às suas tubagens extensas, e de poder ocorrer fugas de fluidos perigosos e corrosivos.

- Energia Elétrica – é a energia obtida através do gerador elétrico principal e fornecida aos sistemas de

aviação, à cabine, à iluminação da aeronave, a galerias e a outras cargas comerciais (e.g. sistemas de

entretenimentos para passageiros). O sistema de energia elétrica tem a vantagem de não necessitar

de grandes infraestruturas e de ser muito flexível. No entanto têm a desvantagem de

convencionalmente apresentar uma baixa densidade de energia, comparativamente ao sistema

hidráulico, e de apresentar maior risco de incêndio no caso de anomalias (e.g. curto-circuito).

No final dos anos 70, a ideia de utilizar a eletricidade como fonte de energia dominante cresceu e foram

propostos conceitos como More-Electric Aircraft (MEA) e All-Electric-Aircraft (AEA). Estes são

baseados na substituição completa de sistemas não elétricos, como os referidos acima, por sistemas

elétricos [2].

2.2. More-Electric Aircrafts (MEA)

Desde cedo se propôs o conceito de uma aeronave totalmente elétrica (all-electric-aircraft). De facto,

esta temática tem sido considerada desde a 2ª Guerra Mundial para aplicação em aeronaves militares.

Contudo, a falta de tecnologias de produção de energia elétrica com elevada densidade de energia e

de volume reduzido, assim como a necessidade de um sistema de controlo e monitorização avançado,

tornaram impossível uma maior evolução deste conceito. Desde então, vários foram os programas

criados para a investigação deste tema. O Totally Integrated More Electric Systems (TIMES) foi

desenvolvido com o objetivo de estudar a integração de sistemas elétricos já existentes nas aeronaves.

O US Air Force MEA Program pretendeu investigar formas de aumentar a capacidade elétrica nos

aviões militares de combate. Já o Power Optimized Aircraft (POA) investiga a otimização da gestão da

energia elétrica nas aeronaves [1].

Page 18: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

4

Atualmente, com o avanço nas tecnologias e nos materiais, observa-se um maior crescimento das

tecnologias aeronáuticas, verificando-se um aumento na investigação e implementação de novas

formas de geração, distribuição e uso de energia elétrica abordo. O More-electric Aircraft (MEA) surge

com o objetivo de diminuir o peso das aeronaves, diminuir os custos de manutenção e de ter uma maior

fiabilidade e performance. Isto leva a um crescimento do uso de novas tecnologias elétricas, como

células de combustível, More-electric Engines (MEE), geradores de frequência variável, novos tipos de

sistemas de distribuição de energia e sistemas híbridos de pressurização da cabine. A evolução do

MEA tem sido feita essencialmente por duas formas: remoção de bombas hidráulicas e pneumáticas,

com aumento da produção de energia elétrica; substituição de atuadores hidráulicos por

eletromagnéticos. Na Figura 2, demonstra-se o esquema de produção e distribuição de energia num

MEA [1].

Figura 2: Esquema de distribuição de energia em More-Electric Aircrafts (MEA).

Nesta figura, torna-se claro a ênfase da utilização da energia elétrica como principal fonte de energia

da aeronave, em prol da eliminação dos sistemas hidráulicos, pneumáticos e mecânicos. Assim, o MEA

requer um sistema elétrico de grande fiabilidade, e tolerância a falhas, com sistemas autónomos de

controlo de energia e com a possibilidade de ter níveis de tensão distintos para alimentar as diferentes

Sistema de

energia

elétrica

Gerador de

arranque

Turbina

PrincipalCompressor

Sistema de anti

congelamento

Sistema de

pressurização

Sistemas da

turbina

Cargas

comerciais

Trem de

aterragem

Controladores

de voo

Page 19: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

5

cargas da aeronave. Note-se que as vantagens do MEA poderão ser abrangentes a outros tipos de

transportes, como é o exemplo dos transportes marítimos.

O crescimento dentro da temática MEA, levou à origem da tecnologia Fly-By-Wire (FBW). Esta, como

o próprio nome indica, pretende proporcionar voos mais seguros, fiáveis e amigos do ambiente, onde

os sistemas ineficientes e pesados já referidos são substituídos por sistemas elétricos de grande

fiabilidade e tolerantes a falhas. O crescimento desta tecnologia revelou a necessidade de sistemas de

energia elétrica (Electric power Systems - EPS) mais avançados, por forma a se obter uma maior

estabilidade, eficiência, menor peso e volume. Para além disso, otimiza-se a redução de ruido e de

gases nocivos por parte da turbina [2].

2.3. More-Electric Engine (MEE)

Ao abrigo do programa POA, financiado pela União Europeia, vários têm sido os avanços na

investigação sobre os conceitos de More-Electric Aircrafts e More-Electric Engines. Desta forma,

segundo [3], a Figura 3 esquematiza as principais diferenças entre uma turbina convencional e uma

MEE.

Figura 3: Comparação entre uma (a) turbina convencional e (b) uma More-Electric Engine (MEE).

Tal como representado na Figura 3, as principais diferenças entre uma turbina convencional e uma

MEE são:

- Motor de arranque elétrico. No MEE é usado um motor elétrico para realizar o arranque da turbina em

vez de energia pneumática;

- Eliminação da retirada de energia pneumática do compressor. A única energia pneumática presente

no MEE é usada no sistema de anti congelamento da tampa da turbina;

- Eliminação de caixa de velocidades. A complexidade desta foi crescendo com a quantidade de

dispositivos de acionamento que integra. A sua eliminação permitiu uma redução considerável no seu

peso e volume;

(a) (b)

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6

- Aumento da capacidade de geração de energia. Por exemplo, no Boeing B787, a produção é de

500kVA por canal, em vez de 120kVA, como é o caso do Airbus A320 e do Boeing B767 [3], [4], [5]

e [6].

Em suma, a remoção do sistema de energia pneumática, da caixa de velocidades e do sistema de

arranque pneumático contribui eficazmente para a redução de peso e aumento da eficiência do sistema.

2.4. Produção de energia elétrica nas aeronaves

2.4.1. Produção de energia elétrica nas aeronaves convencionais

Nas aeronaves convencionais, a produção de energia é feita através de geradores acionados por uma

caixa de velocidades que mantem a velocidade de rotação do gerador constante. Esta caixa de

velocidades é denominada de Constant Speed Drive (CSD) e faz a conversão da velocidade variável

do veio da turbina da aeronave para uma velocidade constante, Figura 4.

Figura 4: Caixa de velocidade mecânica de conversão de velocidade variável em velocidade constante – Constant Speed Drive (CSD) [7].

Desta forma, é possível produzir nos geradores um sinal de frequência constante e igual a 400 Hz. Por

norma, os geradores das aeronaves convencionais são máquinas trifásicas síncronas de excitação

hibrida por magnetos permanentes e rotor bobinado. Estes geradores podem ser divididos em três

secções, um gerador de magnetos permanentes, um campo rotativo e um sistema de saída de tensão

trifásico, tal como apresentado na Figura 5 de [8]. Apesar da sua complexidade, este gerador apresenta

uma grande fiabilidade e baixa necessidade de manutenção. Este usa a combinação de um retificador

rotativo e de um gerador de magnetos permanentes (GMP). A saída do retificador do GMP alimenta

um regulador de tensão que, por sua vez, fornece corrente ao enrolamento primário de excitação de

campo. O enrolamento primário de excitação de campo induz corrente no enrolamento trifásico do rotor,

cuja saída alimenta um retificador a díodos acoplado no feio do rotor. O retificador a díodos cria um

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7

sinal pulsante CC que alimenta um enrolamento de campo rotativo. É importante notar que o sistema

de excitação do rotor é completamente independente do estator e não existe qualquer ligação elétrica

direta entre estes.

Figura 5: Estrutura de um gerador trifásico sem escovas, utilizado para produção de energia elétrica em aeronaves.

Por fim, a saída do gerador trifásico principal é feita por um transformador de corrente em cada fase,

que monitorizam a corrente fornecida à carga. Para além disso, pode ainda ser adicionado um

transformador de corrente no neutro, por fim a detetar desequilíbrios nas fases do gerador.

É de notar que a tensão de saída constante é garantida devido ao controlo realizado pela unidade de

controlo do gerador. Esta realiza o controlo do regulador de tensão que permite fornecer a corrente

adequada ao enrolamento primário de excitação de campo do GMP adequada. A construção típica

deste tipo de gerador pode ser verificada na Figura 6 de [8].

Figura 6: Esquema de um gerador de corrente alterna (CA) sem escovas.

Regulador de tensão

Enrolamento de campo rotativo

Retificador trifásico rotativo

Enrolamentos de Saída(ligados em estrela ou em triangulo)Enrolamento de

excitação do primário

Magnetos permanentes montados em 12 polos

Gerador de magnetos permanentes

Retificador trifásico

Montagem de retificador rotativo

CC

Montagem com transformador de corrente

Gerador excitador

Gerador principal

Gerador de magnetos permanentes

Veio do Rotor

Neutro

Trifásico 1200 Hz 8 V CA (sem carga)

Trifásico 400 Hz120/208 V CA

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8

2.4.2. Produção de energia elétrica nas More-Electric Aircrafts

A produção de energia em MEA foi, pela primeira vez, introduzida no Airbus A380, onde a otimização

do sistema elétrico passou pela remoção do CSD. Os avanços na MEE permitiram a evolução na

localização e acionamento dos geradores sendo espectável, num futuro próximo, a existência de

diferentes geradores acionados por diferentes veios da turbina, originando a operação dos geradores

a frequências distintas – produção de energia elétrica distribuída. Em relação à localização dos

geradores, devido à grande evolução dos seus materiais constituintes, estes poderão passar a ser

integrados no próprio veio da turbina. Esta localização leva à necessidade de cuidados acrescidos na

construção do gerador, sendo que estes são ambientes caraterizados por grandes variações de

temperatura e elevados esforços mecânicos. Surge assim a necessidade de realizar novas topologias

de construção de geradores, os geradores de magnetos permanentes e os geradores de relutância

variável [9], [10] e [11]. Para além disso, é essencial a existência de eletrónica adequada que assegure

a qualidade da energia produzida e entregue ao sistema de distribuição de energia [9]. No seguimento

do trabalho [12], esta dissertação foca-se na utilização de um gerador de magnetos permanentes

integrado no veio da turbina da aeronave, em alternativa aos convencionais geradores.

Os geradores de magnetos permanentes satisfazem um grande número de requisitos necessários para

serem utilizados em MEA. Como principais vantagens, estes apresentam uma elevada densidade de

energia e disponibilizam um binário máximo mesmo a velocidade zero. Para além disso, a tipologia

mecânica destes geradores é simples. Por outro lado, o gerador necessita de ser cuidadosamente

projetado de forma a verificar-se que as características de funcionamento dos materiais magnéticos se

mantêm com a variação de temperatura no interior da turbina durante a normal operação. É ainda

necessário ter em conta que num gerador de magnetos permanentes a excitação está sempre presente,

o que pode levar a um indesejado tremor no binário [13].

2.5. Sistema de distribuição de energia elétrica (SDEE) de uma aeronave

2.5.1. Evolução do sistema de distribuição de energia elétrica

Ao longo dos anos, a evolução da indústria aeronáutica, levou a que as aeronaves passassem a usar

um maior número de equipamentos elétricos e eletromecânicos. O aumento desta dependência levou

a que os sistemas de produção e distribuição de energia elétrica sofressem alterações significativas. A

Figura 7 retirada de [3], representa a evolução do SDEE. Entre os anos 1940 e os anos 1950, o SDEE

era alimentado por uma tensão de 28V CC, produzida em geradores síncronos acionados pelas

turbinas da aeronave. Este sistema continha ainda uma ou duas baterias conectadas a um inversor que

fornecia uma tensão alternada de 115V aos instrumentos de voo no caso de emergência.

Por volta dos anos 60, foi introduzido um sistema de tensão de 115V CA com uma frequência constante

(Constant Frenquency - CF) de 400Hz. Este foi possível devido à invenção de uma caixa de velocidades

hidromecânica complexa denominada por Constant Speed Drive (CSD). Na Figura 4 e Figura 8 podem

ser observados o aspeto físico e o esquemático deste dispositivo, respetivamente.

Page 23: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

9

O CSD permitira negligenciar as variações de velocidade da turbina da aeronave e manter a frequência

das tensões produzidas pelo gerador constante. No entanto, devido à elevada complexidade, o CSD

revelou-se um dispositivo pouco fiável, apresentando muitos problemas, especialmente em aviões onde

a aceleração e desaceleração da turbina é mais acentuada.

Figura 7: Evolução do sistema de produção de eletricidade em aeronaves.

Figura 8: Esquemático exemplificativo da caixa de velocidades hidromecânica Constant Speed Drive (CSD) [14].

Por volta dos anos 90, a produção de energia elétrica, em tensão de frequência variável (Variable

Frequency – VF), tornou-se uma realidade. A produção de tensão de frequência variável é a forma de

Page 24: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

10

produção de energia elétrica mais simples, sendo que a variação da velocidade do veio da turbina da

aeronave pode ser desprezada. Assim, a frequência das tensões produzidas varia consoante a variação

da velocidade da turbina. Esta variação está compreendida entre 360 e 800 Hz. Este sistema de

alimentação, apesar de ser bastante fiável, torna necessário ter em consideração o impacto que a

variação de frequência tem sobre os diferentes subsistemas da aeronave.

Com os avanços da tecnologia dos dispositivos de comutação, assim como em mecanismos de

controlo, surgiu o sistema denominado por Variable Speed/Constant Frequency (VSCF). O VSCF

permitiu a remoção do sistema hidromecânico CSD e transformação da frequência variável numa

frequência constante por meio de um conversor eletrónico. Por norma esta conversão é feita recorrendo

a uma ligação CC intermédia, conforme indicado na Figura 9. A tensão CA de frequência variável

produzida pelo gerador síncrono é convertida em uma tensão CC, por um retificador controlado (ou

não) e posteriormente é novamente convertida em CA de frequência constante por um inversor. Em

alternativa também poderá ser utilizado um clicloconversor, ou seja, um conversor CA/CA. A ligação

CC tem a vantagem de poder alimentar diretamente cargas de alta tensão e carregar baterias da

aeronave. Desta forma, verificou-se o crescimento do uso de um sistema de produção de 115V CA a

400 Hz, ainda hoje utilizado [15].

Figura 9: Esquema de produção de velocidade variável para frequência constante (VS/CF).

2.5.2. Sistema de distribuição de energia elétrica a frequência constante (CF)

Nos SDEE a frequência constante, os geradores das aeronaves são, geralmente, máquinas trifásicas

síncronas de excitação hibrida por magnetos permanentes e rotor bobinado. Assim, existe uma unidade

de controlo do gerador que atua como um controlador de excitação de campo da máquina, por forma a

regular a tensão de saída. Este sistema de distribuição pode ser esquematizado de acordo com a Figura

10, tal como apresentado em [2].

O esquema exposto apresenta duas tensões: alternada sinusoidal de valor eficaz por fase de 115V e

frequência de 400 Hz e 28V CC. A tensão CA de frequência constante recorre ao CSD que converte a

velocidade variável do veio da turbina de propulsão da aeronave, numa velocidade constante. Por sua

vez, esta velocidade constante aciona a rotação do gerador que produz uma tensão de frequência

constante. Desta forma, as cargas CA são diretamente alimentadas pelo barramento CA, enquanto as

cargas CC são alimentadas por um barramentos CC, cuja tensão é obtida através de um Transformer

Rectifier Unit (TRU), à frente apresentado.

G

Retificador Trifásico Inversor Trifásico

Ligação CC

Gerador

Trifásico

Carg

a

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11

Figura 10: Esquema de um sistema de distribuição de energia elétrica (SDEE) a frequência constante de uma aeronave.

No SDEE a frequência constante, os principais conversores elétricos existentes são o conversor CA/CC

e o TRU. A bateria representada na Figura 10, é normalmente utilizada como fonte de energia em caso

de emergência. Esta está ligada aos barramentos CA e CC por conversores bidirecionais CA/CC e

CC/CC respetivamente. A tensão CC é obtida a partir de conversores de energia, em vez de produzida

por um gerador CC, visto que desta forma se reduz o tamanho e peso do sistema a instalar nas

aeronaves. Para além disso, a utilização de um gerador CC tem também a desvantagem de ser

necessário grandes extensões de cabos CC, que são extremamente pesados. Por consequência, foi

introduzido o TRU para converter tensão CA em CC. Este dispositivo pode ser instalado junto ao

barramento de tensão CC, eliminando a necessidade de cabos CC de grande extensão.

Adicionalmente, o TRU permite reduzir harmónicas de corrente e, por consequência, ter um valor de

distorção harmónica total (THD) menor [3]. O esquema de um TRU de 12 pulsos pode ser visto na

Figura 11, retirada de [2].

Figura 11: Esquema da unidade Transformador retificador (TRU) de 12 pulsos.

A

B

C

a

bc N

R

𝑉𝑑

𝐼𝑑

𝐿𝑑

𝐼𝑑 /2

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12

Este tipo de SDEE pode ser encontrado em aeronaves civis como é o exemplo do Boeing B747, do

Airbus A340 e do McDonnell Douglas MD-12. É também utilizado em aplicações militares como é o

caso do avião caça Eurofighter Typhoon [15].

2.5.3. Sistemas de distribuição de energia elétrica a frequência variável (VF)

No caso dos SDEE de frequência variável, a arquitetura do sistema é um pouco diferente dos sistemas

de frequência constante. Neste caso, o gerador está ligado diretamente ao veio da turbina, o que faz

como que a tensão alternada de 115V produzida por este tenha uma frequência variável compreendida

entre 360 Hz e 800 Hz. Como já referido anteriormente, este método tem a vantagem de permitir a

remoção do pesado e ineficiente CSD.

A tensão de frequência variável produzida pelo gerador é utilizada diretamente para alimentar cargas

cuja variação de frequência não afeta o seu funcionamento. As restantes cargas são alimentadas por

meio de conversores que transformam a tensão de acordo com a necessidade da carga. Por

conseguinte, é necessário ter um conversor Back-to-Back que converte a tensão CA de frequência

variável, numa tensão CA de 400 Hz. O esquema deste SDEE pode ser observado na Figura 12,

retirada de [2].

Figura 12: Esquema de sistema de distribuição de energia elétrica (SDEE) de frequência variável.

O conversor Back-to-Back é constituído pela associação de duas etapas: conversão de CA para CC e

conversão de CC para CA. Na primeira etapa, um retificador com comando PWM, retifica a tensão de

entrada para uma tensão CC que é entregue a um andar de condensadores. A tensão CC entregue

aos condensadores é, por sua vez, usada numa segunda etapa, como entrada de um inversor com

comando PWM, produzindo uma tensão de frequência constante. O esquema da estrutura deste

conversor pode ser visto na Figura 13, retirada de [2]. É necessário que durante o projeto deste

conversor que se tenha em conta requisitos como o volume, peso e conteúdo harmónico.

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13

Figura 13: Esquema elétrico típico de um conversor Back-to-Back.

O barramento CC visível na Figura 12, é obtido por um Autotranformer Rectifier Unit (ATRU). O ATRU

substitui o TRU da SDEE a frequência constante uma vez que permite um tamanho e peso menor para

os mesmos níveis de tensão. Neste caso o barramento CC tem uma tensão de 270V, em vez de 28V,

visto que esta tensão pode ser obtida diretamente pela retificação da tensão de 115V CA. O ATRU

utiliza enrolamentos desfasados de forma a gerar quatro grupos de tensões CC com 15º de desfasagem

que permitem obter uma tensão de saída de 270V. A estrutura de um ATRU de 24 pulsos pode ser

observada na Figura 14, retirada de [2].

Figura 14: Estrutura de um Autotransformador retificador (ATRU) de 24 pulsos.

Para além dos retificadores já referidos, é ainda utilizado um conversor CC/CC para o carregamento

ou utilização das baterias de emergência.

𝑢𝑎

𝑢𝑏

𝑢𝑐 𝐶2

𝐶1

𝑣𝑎

𝑣𝑏

𝑣𝑐

𝐿𝑜

𝐶𝑜

𝐿

𝐿

𝐿

𝑁

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14

Este SDEE pode ser encontrado em aviões civis com é o caso do McDonnell Douglas MD-90 e o Boeing

B777. Nas aeronaves militares como o F18C/D e o F18E/F também pode ser encontrado este sistema,

no entanto, com a utilização de cicloconversores em vez de ligação CC [15].

2.5.4. Sistemas de distribuição de energia elétrica do futuro

Com o crescimento da eletrificação das aeronaves e o aumento do número de dispositivos elétricos e

eletromecânicos, é inevitável que o aumento de corrente necessária a fornecer aos equipamentos da

aeronave seja maior e, por consequência, que existam maiores perdas nos cabos, assim como a

necessidade de cabos mais largos e pesados. De forma a puder contornar este problema, surge a

necessidade de aumentar o nível de tensão do SDEE. Assim, de acordo com a lei de ohm a corrente

que passa nos cabos será menor, o que leva a menos perdas e a cabos mais leves.

2.5.4.1. Sistemas de distribuição de energia elétrica em Alta Tensão CA

Atualmente, algumas aeronaves já adotaram esta solução, como é o casa do Boeing 787. Na Figura

15, retirada de [2], é sugerido uma estrutura de um SDEE de alta tensão CA, (High Voltage AC – HVAC).

Esta arquitetura demonstra melhorias relevantes em relação à arquitetura convencional, obtendo-se

reduções de 50.7% nas perdas de transmissão de energia e de 42.5% no peso dos conversores

necessários [16].

Figura 15: Estrutura de sistema de distribuição de energia elétrica (SDEE) em alta tensão alternada sinusoidal (HVAC).

Para o correto funcionamento desta arquitetura, é necessário um AutoTransformer Unit (ATU) com a

funcionalidade de gerar uma tensão alternada de 115V e frequência variável, a partir do barramento de

alta tensão (230V). Para além disto, é ainda utilizado um novo dispositivo para o carregamento da

bateria, o Buck Boost Converter Unit (BBCU).

O BBCU é um conversor que consiste em dois andares CC e CA, interligados por um transformador de

alta frequência [17]. A sua estrutura está apresentada na Figura 16, retirada de [2].

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15

Figura 16: Topologia tipica do Buck Boost Converter unit (BBCU).

2.5.4.2. Sistemas de distribuição de energia elétrica em Alta Tensão CC

Em alternativa à arquitetura apresentada no ponto 2.5.4.1. sugere-se um SDEE de alta tensão CC.

Várias alternativas já foram estudadas em [18], sendo que estas passam por:

- +/- 270V CC, duas fases e a terra;

- 270V CC, uma fase e a terra;

- +/- 135V CC, duas fases e a terra;

- +/- 135V CC, duas fases sem terra.

As conclusões obtidas em [18], revelam que, de forma geral, os SDEE HVDC podem eliminar o peso

do sistema em cerca desde 4% a 28%, quando comparado com uma arquitetura de 270/0V CC, com

alimentação 230V CA e uma arquitetura de 270/0V CC com alimentação 115V CA, respetivamente. A

Figura 17 mostra a estrutura de um sistema HVDC de 270V CC de uma aeronave, retirado de [2].

Nesta arquitetura a Auxiliary power unit (APU) é substituída por uma célula de combustível. Isto permite

uma maior eficiência e menor emissão de gases para a atmosfera por parte da turbina da aeronave.

Figura 17: Estrutura de sistema de distribuição de energia elétrica (SDEE) em alta tensão de corrente continua (HVDC) de 270V.

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16

2.5.4.3. Desafios futuros nos SDEE

A constante evolução dos SDEE permitirá um grande avanço na aviação. Os novos dispositivos

elétricos introduzidos, em substituição dos dispositivos convencionais, permitem aumentar a viabilidade

das aeronaves visto que estes têm a particularidade de puderem ser isolados do sistema e rapidamente

substituídos no caso de falha. Mais, é possível prever eventuais falhas propícias de ocorrer através de

sistemas acoplados que modelam o comportamento dos dispositivos, e a sua possibilidade de falha.

Esta previsão poderá ser feita por meio de algoritmos de deteção de falhas.

A contínua evolução dos dispositivos semicondutores é também um bom indicador de melhoria dos

sistemas elétricos das aeronaves no futuro, visto que é espectável o desenvolvimento de equipamentos

mais fiáveis e com maior densidade de energia. Nestes tem-se verificado menores perdas de

comutação, grandes tolerâncias a variações de temperatura e capacidade de comutação de grande

velocidade.

2.6. Perdas no gerador de magnetos permanentes

O estudo das perdas numa máquina elétrica é um aspeto crucial quando se pretende otimizar a

eficiência desta. A não idealidade dos materiais constituintes de uma máquina elétrica leva à existência

de perdas de Joule com diversas origens. As perdas em máquinas com magnetos permanentes podem

ser divididas em três: perdas no cobre, perdas no ferro e perdas nos magnetos permanentes.

2.6.1. Perdas no cobre

O estator do gerador é constituído por material ferromagnético de elevada permeabilidade magnética

e por enrolamentos de cobre. O material ferromagnético constitui o núcleo do estator e do rotor, sendo

que o estator é cortado de forma a apresentar vários dentes e cavas. Nestas cavas estão localizados

os condutores de cobre constituintes das fases do gerador. Estes condutores, por não serem ideais,

apresentam uma resistência elétrica característica do cobre. Assim, é inevitável a presença de perdas

de Joule nos condutores de cobre. Estas perdas são devidas à corrente elétrica que atravessa os

condutores distribuídos pela armadura e são quantificadas pela expressão (1), no caso em que as

correntes e as resistências elétricas nas diferentes fases são iguais.

𝑃 = 𝑛 𝑅 𝐼𝑒𝑓2 (1)

Na expressão anterior, 𝑛 é o número de fases, 𝐼𝑒𝑓 é a corrente eficaz que percorre o condutor e 𝑅 a

resistência elétrica característica dos condutores do estator. Estas perdas podem ser significativas

quando o valor de corrente é elevado ou os condutores utilizados apresentam resistências elétricas

elevadas devido ao efeito pelicular. É de notar que as perdas no cobre são dependentes da

temperatura, uma vez que a sua resistividade elétrica varia com a temperatura. As perdas de Joule no

estator aumentam quando a temperatura do cobre aumenta, uma vez que a resistência dos condutores

é proporcional à resistividade elétrica (2), e a resistividade aumenta com o aumento da temperatura

conforme (3).

𝑅𝑐𝑢 ∝ 𝜌𝑐𝑢(𝑇𝑐𝑢) (2)

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17

𝜌𝑐𝑢 (𝑇𝑐𝑢) = 𝜌0 [ 1 + 𝛼𝑐𝑢 (𝑇𝑐𝑢 − 𝑇𝑐𝑢0 )] (3)

Em (3) 𝑇𝑐𝑢 [°𝐶] representa a temperatura a que o cobre está, 𝜌0 [Ω. 𝑚] a resistividade elétrica à

temperatura de referencia 𝑇𝑐𝑢0 [°𝐶] e 𝛼𝑐𝑢 [°𝐶−1] o coeficiente de temperatura característico do cobre.

De acordo com [19], para uma temperatura 𝑇𝑐𝑢0 igual a 20 ºC, o valor da resistividade, 𝜌0, e coeficiente

de temperatura, 𝛼𝑐𝑢, para o cobre são 1.68 × 10−8 [Ω. 𝑚] e 0.0068 [°𝐶−1], respectivamente. A variação

da resistividade do cobre com a temperatura, segundo (3), pode ser observada na Figura 18.

Adicionalmente à da variação da resistência com a temperatura, na análise das perdas por efeito de

Joule nos condutores das fases, é necessário ter em conta o efeito de proximidade dos vários

condutores, assim como o efeito na distribuição da densidade de corrente na da frequência das

correntes que circulam nas mesmas.

Em [20], são apresentados vários métodos propostos para a determinação de uma resistência elétrica

equivalente e que tenham em consideração os efeitos anteriores para o cálculo da potência de perdas

de Joule. Neste trabalho optou-se pela adoção do método Perry, Bennet e Larson. Este é o método

mais indicado para o estudo em questão uma vez que é o que melhor modela a resistência elétrica dos

condutores quando dispostos em várias camadas. Adicionalmente é também o que melhor se adequa

ao caso em que as correntes circulantes pelos condutores não são sinusoidais. Assim, este método é

descrito pela expressão (4) que dá o valor da resistência em corrente alternada, através da correção

do valor da resistência elétrica em corrente contínua.

Figura 18: Variação da resistividade do Cobre com a temperatura.

𝑅𝐶𝐴 = 𝑅𝐶𝐶 𝜉

2 [

sinh 𝜉 + sin 𝜉

cosh 𝜉 − cos 𝜉 +

2

3(𝑚2 − 1)

sinh 𝜉 − sin 𝜉

cosh 𝜉 + cos 𝜉 ] (4)

Na equação (4), 𝑅𝐶𝐶 corresponde à expressão exata para a resistência elétrica em corrente continua,

segundo o método seguido, apresentada em (5) e previamente introduzida pela expressão (2). Nesta

0 50 100 150 200 250 3001

1.5

2

2.5

3

3.5

4

4.5

5x 10

-8 Variação da resistividade do Cobre com temperatura

Temperatura do Cobre, Tcu

[ºC]

Resis

tivid

ade, [

.m]

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18

expressão, 𝑁𝑒 representa o número de espiras que cada fase tem, 𝑙 o comprimento médio de uma

espira, 𝑁𝑝 o número de condutores em paralelo que constituem uma espira e 𝑑 o diâmetro dos

condutores com secção circular constituintes do enrolamento. Na Figura 19 – (a), pode ser observado

o esquema de uma cava com os vários condutores dispostos em camadas e indicação do diâmetro a

considerar na expressão (5). O valor de 𝜉 é dado pela expressão (6) em que 𝛿 representa a

profundidade de penetração da densidade de corrente que passa pelos condutores, dada pela

expressão (7). Por fim, a constante 𝑚 corresponde ao número de camadas de condutores em paralelo

que cada fase tem nas cavas da máquina, tal como exemplificado na Figura 19 – (a).

𝑅𝑐𝑐 =4 𝜌𝑐𝑢

𝑁𝑝 𝜋 𝑑2𝑁𝑒 𝑙 (5)

𝜉 = 𝑑

√𝜋

2𝛿 (6)

𝛿 =

1

√𝜋 𝜇0𝜇𝑟1

𝜌𝑐𝑢𝑓

(7)

A Figura 19 – (b) representa uma analogia da Figura 19 – (a) mas adaptada ao caso do tipo de gerador

em análise neste trabalho. Nesta figura é possível observar que para além das várias camadas de

condutores, existe duas camadas de fases, o que na literatura é chamada de enrolamento em dupla

camada, ou double layer winding na literatura anglo-saxónica.

Figura 19: (a) Representação da secção e diâmetro do condutor circular a ser considerado no método de Perry, Bennet e Larson. (b) Cava do estator do gerador com os condutores das fases dispostos em m camadas.

1ª camada

mª camada

Condutor

(a) (b)

d

𝑁1

𝑁2

𝑁𝑚

𝑁𝑚 −1

1 2 3 4

Material ferromagnético macio

Isolante entre

condutores

Condutores de

cobre

Isolante entre fase e

núcleo de ferro

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19

2.6.2. Perdas nos materiais magnéticos

As perdas referidas nesta secção são as perdas de Joule existentes nos materiais magnéticos macios

e duros constituintes do gerador e devidas à variação do campo magnético a que cada material é

sujeito. A magnetização e desmagnetização do material dão origem a perdas por histerese e a perdas

por correntes induzidas, as quais podem também ser designadas por correntes turbilhonares ou

correntes de Foucault. As perdas de Joule devidas a histerese magnética do ferro são criadas pela

fricção intermolecular provocada pela variação do campo magnético a que o material está sujeito. As

perdas por cada ciclo de variação de campo são proporcionais à área interior do ciclo da característica

B-H do material e aumentam com o aumento do valor máximo de campo magnético, tal como

representado na Figura 20 – (a) de [21].

Na Figura 20 – (b) e (c), representa-se as linhas de desmagnetização do tipo de magneto permanente

usado com referência para este trabalho [12]. Este é o Neodímio-Ferro-Boro, NdFeB, de nome

comercial N3575 e produzido pela Magnetic Component Engineering [22]. Na Figura 20 – (c) e notório

um comportamento linear quando este material opera na gama de temperaturas compreendidas entre

os -60 e os 140 ºC. Já para temperaturas mais elevadas, entre os 170ºC e os 230ºC, verifica-se na

Figura 20 – (b) que o campo magnético coercivo apresenta uma redução rápida, caracterizada pelo

aparecimento de um decaimento, ou “joelho”. Por fim, na Figura 20 – (d) representa-se a curca B-H do

material ferromagnético escolhido com referência, Hiperco 50.

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20

Figura 20: (a) Família de características B-H. O aumento do valor máximo do campo magnético leva ao aumento da área interior do ciclo B-H e, por consequência, aumento das perdas por histerese. Linha de desmagnetização do magneto permanente usado como referência neste trabalho, NdFeB, (b) para temperaturas de 170, 200 e 230 ºC e (c) para temperaturas entre os -60 e os 140 ºC. (d) Curva de B-H do material ferromagnético macio Hiperco 50.

(a) (b)

(c)

(d)

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 45000

0.5

1

1.5

2

2.5Curva de Magnetização B(H) do Hiperco 50

H [A/m]

B [T

]

(a)

(b) (c)

230ºC 200ºC 170ºC

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 45000

0.5

1

1.5

2

2.5Curva de Magnetização B(H) do Hiperco 50

H [A/m]

B [

T]

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21

A expressão empírica (8) desenvolvida por Steinmetz e apropriada para os materiais ferromagnéticos,

descreve as perdas de Joule específicas por histerese (𝑃ℎ(𝑊/𝑘𝑔)) em função do valor máximo de

campo magnético (𝐵𝑚𝑎𝑥 (𝑇)) e frequência (𝑓 (𝐻𝑧)).

𝑃ℎ = 𝐾ℎ 𝐵𝑚𝑎𝑥𝑛 𝑓 (8)

Nesta relação, 𝐾ℎ é uma constante característica do tipo de material ferromagnético, 𝑛 é um expoente

que tem um valor típico compreendido entre 1.8 e 2.2 consoante o a laminação do material [23]. De

forma geral, os materiais magnéticos duros ou magnetos permanentes apresentam ciclos de histerese

aquando do seu funcionamento normal. No entanto, estes ciclos apresentam uma área de perdas muito

pouco significativa e logo perdas por histerese reduzidas.

As perdas de Joule por correntes induzidas aparecem nos materiais magnéticos quando estes são

sujeitos a campos magnéticos alternados no tempo, Figura 21. O valor das perdas específicas pelas

correntes induzidas (𝑃𝑒(𝑊/𝑘𝑔)) é função do valor máximo de campo magnético (𝐵𝑚𝑎𝑥 (𝑇)) e respetiva

frequência (𝑓 (𝐻𝑧)), conforme a equação (9).

𝑃𝑒 = 𝐾𝑒 𝐵𝑚𝑎𝑥2 𝑓2 (9)

Na relação (9), 𝐾𝑒 é uma constante característica que depende das características magnéticas do ferro

usado e do tipo de magnetos permanentes, assim como 𝑃𝑒 é inversamente proporcional à espessura

das laminas do material ferromagnético. Desta forma, as perdas totais no ferro podem ser estimadas

pela expressão (10), em que os valores de 𝐾ℎ e 𝐾𝑒 podem ser obtidos através dos dados representados

nos catálogos do fabricante do material em análise.

𝑃𝑓𝑒𝑟𝑟𝑜 = 𝑃ℎ + 𝑃𝑒 = 𝐾ℎ 𝐵𝑚𝑎𝑥𝑛 𝑓 + 𝐾𝑒𝐵𝑚𝑎𝑥

2 𝑓2 (10)

É importante ter em conta que estas fórmulas são válidas para os casos em que se verifica uma

excitação de campo magnético sinusoidal. Quando o material magnético é submetido a uma excitação

que não seja sinusoidal, é necessário ter uma abordagem com base nas harmónicas de ordem mais

significativas que descrevem o sinal.

Em alternativa, estudos foram realizados para a busca de uma metodologia que permita a determinação

das perdas para sinais não sinusoidais. Um exemplo deste tipo de metodologia foi estudado em [24],

onde foi proposto uma forma de estimação de perdas no ferro a partir do valor médio e eficaz da tensão

de alimentação, no caso deste trabalho, da tensão gerada.

De forma a minimizar as perdas referidas, o ideal é utilizar materiais ferromagnéticos que apresentem

uma elevada resistividade elétrica, por fim de reduzir a densidade de corrente elétrica. Contudo, é difícil

encontrar materiais ferromagnéticos que cumpram todos os requisitos necessários, sendo muitas vezes

necessário sacrificar alguns dos requisitos de forma a otimizar outros. Isto verifica-se porque há um

grande número de fatores que afetam as suas propriedades magnéticas, sendo os mais importantes a

composição química, o tratamento mecânico e o tratamento térmico da peça. Adicionalmente, o núcleo

de ferro das máquinas elétricas mais comuns é feito por lâminas finas que permitem reduzir as perdas

por correntes de Foucault. Na Figura 21 está representado o efeito da laminação do material magnético

na redução das perdas de Joule neste. No caso do material magnético não laminado, Figura 21 – (a),

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22

as correntes induzidas pelo campo magnético a que o material está sujeito circulam por todo o material,

produzindo perdas por efeito de Joule consideráveis. No caso do material laminado, Figura 21 – (b), o

núcleo ferromagnético é constituído por chapas empilhadas com um verniz isolante entre estas que

permite um aumento considerável da sua resistividade elétrica. Desta forma, as correntes induzidas

limitam-se à lâmina de material ferromagnético isolado, uma vez que os eletrões não conseguem

ultrapassar a camada isolante. Ao reduzir a intensidade das correntes induzidas, existirá menos perdas

de Joule no material magnético e uma maior eficiência da máquina elétrica.

Figura 21: Comparação das correntes de induzidas em (a) material não laminado e em (b) material laminado.

Para além disto, existem também novos materiais ferromagnéticos que permitem obter uma redução

das perdas de Joule no ferro, tais como metais amorfos e materiais ferromagnéticos compósitos

macios. Os materiais amorfos são produzidos através de um arrefecimento rápido de ligas constituídas

por ferro, níquel e/ou cobalto com um ou mais dos seguintes materiais que apresentam características

metálicas e não metálicas em simultâneo, boro, silicone, e carbono. Estes materiais permitem ter

perdas por histerese e por correntes de Foucault muito reduzidas. Já os materiais compósitos,

produzidos a partir de grãos de materiais ferromagnéticos compactados, são muito atrativos para

utilizações em altas frequências e em ambientes de elevadas vibrações. Estes materiais apresentam a

grande vantagem de poderem moldar circuitos 3D, visto que são isotrópicos para o fluxo magnético em

qualquer sentido.

2.6.3. Perdas nos magnetos permanentes

De acordo com a equação de Maxwell presente em (11), ou na forma integral em (12) obtida pelo

teorema de Stokes, verifica-se que o campo elétrico sobre um caminho 𝑙, é igual à variação no tempo

do produto interno do campo magnético 𝑩 que atravessa a superfície 𝑆 apoiada no caminho 𝑙, com a

normal a esta superfície.

B(t)

𝑖𝐹

B(t)

𝑖𝐹

(a) (b)

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23

∇ × 𝑬 = −

𝜕 𝑩

𝜕 𝑡

(11)

∮ 𝑬 ∙ 𝑑𝑙

𝑙

= − 𝑑

𝑑𝑡∫ 𝑩 ⋅ 𝒏𝒔 𝑑𝑆

𝑆𝑙

(12)

Aplicando (11) e (12) aos magnetos permanentes, verifica-se que, caso o campo magnético ao qual

estes estão submetidos varie, será induzido um campo elétrico, 𝑬𝑖, nestes como se ilustra na Figura

22. Assim, sendo o material constituinte dos magnetos, material ferromagnético duro de condutividade

elétrica 𝜎𝑃𝑀 , existirão correntes elétricas induzidas cuja densidade de corrente em cada ponto é

relacionada com o campo elétrico 𝑬𝑖 nesse mesmo ponto pela expressão local (13) e a circular em

planos transversais ao campo 𝑩 (11).

𝑱𝑖 = 𝜎𝑃𝑀 𝑬𝑖 (13)

Figura 22: Fenómeno de indução de correntes em material magnético devido à presença no seu interior de um campo magnético variável no tempo.

As correntes induzidas no material, ou correntes parazitas, criam perdas por efeito de Joule, cuja

densidade de perdas é dada pela expressao (14).

𝐽 = 𝑱𝑖 ∙ 𝑬𝑖 (14)

Juntando a expressão (13) com a expressão (14), obtem-se a expressão (15).

𝐽 =

𝑱𝑖2

𝜎𝑃𝑀 (15)

Desta forma, as perdas existentes nos magnetos são dadas pelas correntes parazitas e expressas pela

expressão (16).

𝑃𝑚𝑎𝑔 = ∫ 𝐽

𝑉

𝑑𝑉 = ∫𝑱𝑖

2

𝜎𝑃𝑀 𝑑𝑉

𝑉

(16)

𝑱𝑖

B(t)

B(t)

𝑙 𝑆𝑙

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24

É importante denotar que o campo magnético nos magnetos permanentes é dado por (17) e que, caso

os magnétos se mantenham nas suas condições de operação normal, o valor de campo de mantem

constante no interior do magneto.

𝐵𝑚 = 𝜇0𝜇𝑟𝐻𝑚 + 𝐵𝑟 [𝑇] (17)

Contudo, uma vez que o estator do gerador em estudo apresenta várias cavas onde são alojados os

condutores das fases, verifica-se uma variação da relutância magnética sentida no rotor é variável.

Assim, quando o gerador está em vazio, as perdas existentes nos magnetos é devida a esta variação

de relutância. Já no caso em que o gerador está em carga, as perdas são, não só devidas à variação

da relutância magnética, mas também devido às correntes a circular nas fases do gerador.

2.7. Estimação do tempo de vida do isolamento dielétrico do gerador

O tempo de vida útil de um gerador elétrico corresponde ao período de tempo desde que este é

fabricado até ao momento em que a performance para o qual foi desenvolvido deixa de ser alcançada

[25]. Este período de tempo é definido de acordo com as características de cada máquina elétrica,

assim como com o tipo de utilização e ambiente em que esta é posta em operação.

Por norma, a experiencia mostra que a chegada ao fim de vida de um motor ou gerador elétrico é

proveniente da deterioração de componentes como: rolamentos, escovas de comutação e isolamento

dos enrolamentos [25]. No caso de estudo desta dissertação, interessa sobretudo estimar o tempo de

vida útil do isolamento dielétrico presente nos enrolamentos do gerador uma vez que estes podem ser

submetidos a grandes variações de temperaturas dada a aplicação do gerador em estudo.

A perda de vida útil de um material isolante depende fortemente das temperaturas a que este está

submetido, verificando-se a importância de correlacionar os intervalos de tempo, t, e a temperatura T

em cada intervalo de tempo a que o material está submetido. Assim, segundo [26], a perda de vida útil

devido à deterioração térmica no dielétrico isolante é dada pela expressão (18), tendendo para o valor

unitário quando o isolante atinge o seu fim de vida.

∑𝑡𝑖

𝐿𝑖

→ 1

𝑛

𝑖=1

(18)

Em (18), 𝑡𝑖 e 𝐿𝑖 representam, respetivamente, os intervalo de tempo a que o dielétrico isolante esteve

exposto às temperaturas 𝑇𝑖 e o tempo e vida máximo que o dielétrico suporta para a temperatura em

causa. Isto é, para o exemplo em que o isolante é exposto à temperatura 𝑇1, este tem uma tempo de

vida útil máximo de 𝐿1. No caso de, por exemplo, 𝑡1 corresponde ao intervalo de tempo 𝐿1

2, o dielétrico

tem ainda metade do seu tempo de vida útil. O valor de 𝐿 pode ser obtido pela expressão (19) [26].

Nesta expressão, B e C são constantes especificas do material dielétrico isolante utilizado. Na Tabela

1 apresentam-se os valores de B e C para dois materiais: GE-EPR e Gexol-XF.

Ln 𝐿 =

𝐵

𝑇+ 𝐶 (19)

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25

Tabela 1: Constantes que descrevem a característica de tempo de vida útil dos dielétricos GE-EPR e Gexol-XF em função da sua temperatura.

Material isolante B C

GE-EPR 12071.2 -22.49

Gexol-XF 13564.5 -24.66

A característica que descreve o tempo de vida útil dos materiais anteriores pode ser observada na

Figura 23, onde se verifica um decréscimo exponencial de L com o aumento da temperatura T.

Figura 23: Variação do tempo de vida útil do material dielétrico isolante com a variação da temperatura, para os materiais GE-EPR e Gexol-XF.

-50 0 50 100 150 200 25010

0

105

1010

1015

1020

Temperatura do Dielétrico Isolante [ºC]

Tem

po d

e v

ida ú

til do D

ielé

tric

o I

sola

nte

[h]

Variação do tempo de vida útil do Dielétrico Isolante com a variação da Temperatura

GE-EPR

Gexol-XF

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26

3. Definição das hipóteses de trabalho consideradas no estudo do gerador

Neste capítulo definem-se as características do gerador elétrico e a sua carga equivalente modeladora

de um sistema elétrico típico de uma aeronave de médio porte. São apresentadas as características

principais do gerador tais como potência e velocidade nominais, dimensões, materiais constituintes e

também o tipo de enrolamento considerado. São ainda referidas neste capítulo as condições de

funcionamento do gerador elétrico, nomeadamente as suas condições de arrefecimento e o intervalo

de temperaturas de operação previstas durante o funcionamento da aeronave.

3.1. Topologia considerada para o gerador

Tal como referido na secção 2.4.2, os geradores usualmente escolhidos para a produção de energia

elétrica no MEA são geradores síncronos trifásicos de magnetos permanentes e geradores síncronos

de relutância variável. Nesta dissertação e no seguimento do trabalho [12], optou-se por um gerador

com magnetos permanentes de topologia clássica apresentado a duas dimensões na Figura 24. Neste,

os magnetos estão dispostos na periferia do rotor e as fases no estator em cavas onde estão inseridos

os enrolamentos distribuídos.

Figura 24: Representação 2D do gerador de magnetos permanentes em estudo.

É de salientar que o gerador da Figura 24 difere do usado no trabalho [12], uma vez este não tinha o

número de cavas e dimensões adequadas para a obtenção de um sistema trifásico equilibrado e com

capacidade para fornecer uma potência de 90 kVA. Por consequência, foi necessário reduzir o número

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27

de cavas de 30 para 27 e aumentar as dimensões do estator do gerador para os valores apresentadas

na Tabela 2.

Tabela 2: Características do gerador de magnetos permanentes de 90 kVA em estudo.

Raio interno do rotor [mm] 65 Largura dos magnetos permanentes [mm] 15

Raio externo do rotor [mm] 99 Comprimento dos magnetos permanentes [mm] 52

Raio interno do estator [mm] 104 Número de cavas 27

Raio externo do estator [mm] 340 Número de dentes 27

Comprimento do gerador [mm] 120 Número de par de polos 3

Largura do entreferro [mm] 5

Os materiais magnéticos constituintes do gerador, assim como a sua localização mais adequada no

veio da turbina, foram estudados na dissertação [12]. Assim, verificaram que as melhores opções para

os materiais magnéticos constituintes são a liga Hiperco 50 como material ferromagnético macio

constituinte do rotor e do estator, assim como magnetos permanentes de Neodímio-Ferro-Boro

(NdFeB) como material ferromagnético duro. Estes materiais são os que se consideraram apresentar

as melhores características magnéticas quando submetidos a grandes variações de temperatura e a

significativos esforços mecânicos inerentes ao gerador e à respetiva localização na turbina.

A Tabela 3 e a Tabela 4 apresentam os parâmetros magnéticos do Neodímio-Ferro-Boro e as

propriedades magnéticas e físicas do Hiperco 50, respetivamente. Para além disso, na Figura 25 – (a)

e (b) representam-se as curvas de desmagnetização do Neodímio-Ferro-Boro para temperaturas de -60

a 140 ºC e de 170 a 230 ºC, respetivamente. Por último, a Figura 25 – (c) mostra a curva de

magnetização do material ferromagnético Hiperco 50.

Tabela 3: Propriedades magnéticas do Neodímio-Ferro-Boro.

Densidade [g.cm-3] 𝐵𝑟 [T] 𝐻𝑐 [kA.m-1] (𝐵𝐻)𝑚𝑎𝑥 [kJ.m-3] 𝑇𝑐 [ºC]

7.5 1.52 1000 450 310

Tabela 4: Propriedades magnéticas e físicas da liga metálica Hiperco 50.

Saturação magnética [T] 2.4

B no cotovelo [T] 1.9 – 2.1

Permeabilidade magnética máxima, 𝜇𝑚𝑎𝑥 [N.A-2] 10000

Perdas Totais [W.kg-1]

50 Hz

1 T 1.01

1.4 T 1.56

1.6 T 1.92

2 T 2.61

400 Hz

1 T 11.02

1.4 T 17.86

1.6 T 24.25

2 T 35.27

Page 42: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

28

1.6 kHz

1 T 85.98

1.4 T 138.89

1.6 T 171.96

2 T 264.55

Limite de esforço de tensão [Mpa] 814

Densidade [kg.m-3] 8110

Preço [€.t-1] 250 000

Figura 25: (a) Curva de desmagnetização do Neodímio-Ferro-Boro para temperaturas de -60 ºC a 140 ºC e (b) para temperaturas entre os 170 e 230 ºC (b). (c) Curva B-H da liga Hiperco 50.

Relativamente à localização do gerador ao longo do eixo da turbina, os resultados obtidos em [12]

indicam que este deve ser acoplado no eixo de baixa rotação da turbina conforme indicado na Figura

26, estando assim submetido a velocidades de rotação compreendidas entre as 1000 e as 3000 rpm.

(a)

(b) (c)

230ºC 200ºC 170ºC

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 45000

0.5

1

1.5

2

2.5Curva de Magnetização B(H) do Hiperco 50

H [A/m]

B [

T]

Page 43: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

29

Para além disso, o gerador deve estar na parte inicial da turbina onde as temperaturas a que está

sujeito são mais baixas, variando entre os -55 ºC e os +120 ºC [27]. Adicionalmente, ao localizar o

gerador na parte inicial da turbina, poderá recorrer-se à entrada de ar da turbina para realizar a sua

refrigeração como se pode ver na Figura 26 – (a). Na Figura 26- (b) representa-se ainda o exemplo de

uma turbina da marca Rolls-Royce tipo Trent 7000, onde se assinala a localização considerada para o

gerador, antes do sistema de compressão.

Figura 26: (a) Esquemático do fluxo de ar circulante numa turbina durante a sua operação [28]. (b) Indicação da localização sugerida para aplicação do gerador em estudo numa turbina Trent 7000 da Rolls-Royce [29].

É de notar que, dado o número de par de polos no rotor e o intervalo de velocidades de rotação do eixo

onde o gerador deve ser acoplado (1000 a 3000 rpm), a frequência dos sinais de tensão do gerador

será compreendida entre 50 e 150 Hz. No entanto, durante a normal operação das aeronaves, a

velocidade de rotação do eixo da turbina onde o gerador está situado é maioritariamente de 3000 rpm,

pelo que no estudo realizado neste trabalho será considerada esta velocidade de rotação.

3.2. Modelação da carga do gerador

3.2.1. Dimensionamento do conversor de interligação entre o gerador e o sistema elétrico da aeronave.

Como pôde ser verificado na secção 2.5, os sistemas de distribuição de energia elétrica das aeronaves

diferem bastante de aeronave para aeronave. Para o estudo do comportamento do gerador quando

submetido à carga do sistema elétrico, tomou-se como base o sistema elétrico simplificado da aeronave

Boeing 767, descrito em [30] e [31]. Este sistema consiste em três barramentos cujo valor de tensão

composta é de 200 V, ou seja, uma tensão eficaz por fase de 115 V. O conjunto destes três barramentos

alimentam por sua vez as diferentes cargas da aeronave, podendo estas serem cargas trifásicas

equilibradas, trifásicas desequilibradas, monofásicas ou ainda conversores eletrónicos que fornecem

uma tensão CC às cargas resistivas.

Dadas as características e velocidade de rotação do gerador e, por consequência, a frequência do sinal

de tensão produzido, é necessário recorrer a um conversor eletrónico que transforme a tensão

produzida pelo gerador numa tensão adequada à utilização no sistema elétrico da aeronave. Assim,

pretende-se um conversor eletrónico que faça a interligação entre o gerador e o sistema elétrico, e que

(a) (b)

Page 44: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

30

forneça uma tensão alternada sinusoidal de 115V por fase e uma frequência de 400 Hz. Desta forma,

propõe-se a utilização de um conversor CA-CA com ligação CC e cujo esquema simplificado se

apresenta na Figura 27. Este conversor é constituído por um retificador trifásico em ponte a díodos,

uma ligação CC e um inversor trifásico com modulação por largura de impulso (PWM – Pulse width

modulation). Assim, o sinal CA produzido pelo gerador é retificado para um sinal CC que alimenta o

condensador (ou bateria de condensadores) na ligação CC. De seguida, o inversor converte o sinal CC

em um sinal CA, através da comutação dos seus semicondutores.

Figura 27: Conversor CA-CA proposto para a conversão da tensão produzida pelo gerador síncrono de magnetos permanentes numa tensão de 200V a 400Hz.

Para que o conversor funcione de acordo com o pretendido, é necessário que os seus componentes

sejam corretamente dimensionados. Isto é, o conversor necessitará de um filtro de entrada que atenue

o número de harmónicas injetadas no gerador, um filtro de saída do retificador para uma diminuição do

tremor da tensão do andar CC e, por fim, um filtro na saída do inversor que elimine as harmónicas de

alta frequência dos sinais gerados.

Começando pelo dimensionamento do condensador da ligação CC, este necessita de manter constante

a tensão fornecida ao inversor. Ao analisar o esquema do conversor, verifica-se que a corrente

fornecida ao inversor, 𝐼𝑖𝑛𝑣 provém da corrente fornecida pelo retificador, 𝐼𝑟𝑒𝑡, e/ou da corrente fornecida

pelo condensador, 𝐼𝑐. A corrente fornecida pelo retificador, quando este conduz, é dada pela expressão

(20), por meio de uma resistência equivalente [32] obtida pela expressão (21), onde 𝑉𝑐𝑐 é o valor médio

da tensão gerada pelo retificador e 𝑃 é o valor da potência necessária à entrada do inversor. Neste

dimensionamento considerou-se que ambos os conversores têm rendimentos de 100% e que a

potência máxima a fornecer ao sistema elétrico da aeronave é de 90 kW.

D1 D3 D5

D2 D4 D6

G(PM)

S1 S3 S5

S2 S4 S6

Car

ga

Rectificador Inversor

Ligação CC

A

B

C

CA

CA

𝐶𝑐𝑐

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31

𝐼𝑟𝑒𝑡 =𝑉𝑐𝑐

𝑅𝑒𝑞

(20)

𝑅𝑒𝑞 =𝑉𝑐𝑐

2

𝑃

(21)

A corrente no condensador é dada por (22), cujo valor deve ser igual à da expressão (20) quando o

retificador não conduz. Desta forma obtém-se (23) para o cálculo do valor aproximado da capacidade

do condensador da ligação CC, onde ∆𝑡 é o quociente do período dos sinais de entrada do retificador

pelo índice de pulsação deste. No caso de um retificador trifásico em ponte a díodos, o valor do índice

de pulsação é 6. Já o termo ∆𝑉𝑐𝑐 é a variação máxima admissível para a tensão na ligação CC. Por

norma, considera-se que este valor é 10% da tensão 𝑉𝑐𝑐.

𝑖𝑐 = 𝐶𝑐𝑐

𝑑𝑉𝑐𝑐

𝑑𝑡 ≈ 𝐶𝑐𝑐

∆𝑉𝑐𝑐

∆𝑡

(22)

𝐶𝑐𝑐 = 𝐼𝑟𝑒𝑐

∆ 𝑡

∆𝑉𝑐𝑐=

𝑃 ∆𝑡

𝑉𝑐𝑐 ∆𝑉𝑐𝑐

(23)

Para o caso em que o inversor é comandado por modulação PWM, o valor da 1ª harmónica da tensão

composta gerada, 𝑉𝐴𝐵1𝑒𝑓, é aproximadamente dado pela expressão (24). Sendo esta a única harmónica

que se pretende obter, o seu valor eficaz deverá ter um valor igual a 200V, concluindo-se portanto que

a tensão no andar CC tem necessariamente que ter valor igual a aproximadamente 327V. Este valor

de tensão no andar CC leva então a que o valor eficaz da tensão composta a fornecer pelo gerador

seja de 243 V. Logo, o valor calculado para a capacidade do condensador do andar CC é de 0.93 mF.

𝑉𝐴𝐵1𝑒𝑓≈ √3

𝑉𝑐𝑐

2√2 (24)

Para além do condensador no andar CC, é necessário um filtro indutivo na entrada das três fases do

retificador por forma a filtrar as harmónicas na corrente e geradas pela comutação dos díodos. O valor

da reatância indutiva a ser inserida à saída de cada fase do gerador é calculada pela expressão (25)

em que, por norma, se considera um valor de 3% da resistência equivalente a que o retificador está

ligado [32]. Em (25), 𝑓 é o valor da frequência das tensões produzidas pelo gerador a 3000 rpm, ou

seja, 150 Hz. Obtém-se assim uma indutância 𝐿𝑓𝑖𝑛 de 38.05 µH para cada bobine do filtro de entrada.

2 𝜋 𝑓 𝐿𝑓𝑖𝑛= 0.03 𝑅𝑒𝑞 (25)

Por último, resta dimensionar o filtro de saída do inversor (ver Figura 28) que permita obter apenas a

1ª harmónica de tensão. A indutância 𝐿𝑓𝑜𝑢𝑡 e a capacidade 𝐶𝑓𝑜𝑢𝑡

deste filtro são calculadas pelas

expressões (26) e (2721), respetivamente [33]. Nestas, 𝑇𝑐 é o período de comutação dos

semicondutores, ∆𝑖𝑙 𝑚𝑎𝑥 é a máxima variação admissível para as correntes nas bobines e ∆𝑉𝑆𝑚𝑎𝑥 a

máxima variação admissível para a tensão simples de cada fase da saída do inversor.

𝐿𝑓𝑜𝑢𝑡

=𝑉𝑐𝑐 𝑇𝑐

2 ∆𝑖𝑙 𝑚𝑎𝑥

(26)

𝐶𝑓𝑜𝑢𝑡

=𝑉𝑐𝑐 𝑇𝑐

2

16 𝐿𝑓𝑜𝑢𝑡 ∆𝑉𝑆𝑚𝑎𝑥

(27)

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32

Neste dimensionamento considerou-se uma frequência de comutação de 20 kHz, uma variação

máxima da corrente na bobine igual a 10% da corrente máxima fornecida pelo gerador e uma variação

máxima da tensão simples de 10%. A partir destes constrangimentos, obteve-se uma indutância 𝐿𝑓𝑜𝑢𝑡

de 0.271 mH e uma capacidade 𝐶𝑓𝑜𝑢𝑡 de 11.6 µF ligadas conforme mostra o esquema do conversor

CA-CA da Figura 28. É de notar que, para que o filtro funcione corretamente, a condição (28) tem de

ser verificada [33], ou seja, a frequência angular do sinal de saída 𝜔𝑠𝑎𝑖𝑑𝑎 do inversor tem que ser cerca

de uma década mais pequena que a frequência de ressonância 𝜔𝑟𝑒𝑠 do filtro, e esta uma década mais

pequena que a frequência angular de comutação 𝜔𝑐 dos interruptores de potência. Verificou-se pois

em seguida que os valores obtidos anteriormente para 𝐿𝑓𝑜𝑢𝑡 e 𝐶𝑓𝑜𝑢𝑡

respeitam a condição (28). A Figura

28 mostra o conversor CA-CA com os filtros de entrada e saída, assim como as variáveis elétricas

utilizadas das expressões (20) a (28).

𝜔𝑠𝑎𝑖𝑑𝑎 ≪ 𝜔𝑟𝑒𝑠 =

1

√𝐿𝑓𝑜𝑢𝑡𝐶𝑓𝑜𝑢𝑡

≪ 𝜔𝑐 (28)

Figura 28: Esquema simplificado do conversor CA-CA proposto para a ligação entre o gerador e a carga representativa do sistema elétrico da aeronave.

3.2.2. Descrição do sistema elétrico da aeronave a ser alimentado pelo gerador

Para o estudo em carga do gerador considerou-se a utilização do sistema elétrico simplificado da

aeronave Boeing 767 descrito previamente em [30]. Este sistema pode ser esquematizado segundo a

Figura 29. O sistema elétrico da aeronave é formado essencialmente por três tipos de cargas

quantificadas na Tabela 5. Uma carga de caracter indutivo e monofásica (1-), ligada à fase A (carga

D). Um conjunto de três cargas trifásicas (3-) ligadas em paralelo e do tipo A, B e C. Por ultimo, há

um conversor trifásico de 12 pulsos (TRU) a alimentar duas cargas monofásicas resistivas, E e F,

indicadas na Tabela 5.

Inversor

SDE

E

Retificador

M

𝐿𝑓𝑜𝑢𝑡

𝐿𝑓𝑜𝑢𝑡

𝐿𝑓𝑜𝑢𝑡

𝐶𝑓𝑜𝑢𝑡 𝐶𝑓𝑜𝑢𝑡

𝐶𝑓𝑜𝑢𝑡

𝐿𝑓𝑖𝑛

𝐿𝑓𝑖𝑛

𝐿𝑓𝑖𝑛

𝐶𝑐𝑐

𝑖𝑐

𝑉𝑐𝑐

𝑖𝑟𝑒𝑡

𝑉𝐴𝐵

𝑉𝐵𝐶

𝑉𝐶𝐴 G

(MP)

A

B

C

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33

Figura 29: Esquema simplificado do sistema elétrico da aeronave Boeing 767 considerado como carga alimentada pelo gerador.

Tabela 5: Valor das cargas CA e CC do sistema elétrico do Boeing 767 modelado em [30] para uma potência de 90 kVA.

Carga Fase R [Ω] L [mH]

A

A 0.84 0.304

B 2.41 1.065

C 2.49 1.129

B

A 14.28 2.752

B 14.28 2.752

C 14.28 2.752

C

A 2.15 0.597

B 1.91 0.712

C 1.91 0.712

D

A 4.34 0.504

B - -

C - -

E - 0.068 -

F - 0.076 -

90 kVA

Cargas 3- A,B,C

Carga 1- D

Conversor de 12 pulsos

Cargas E,F

3- 200 V

400 Hz

G(PM)

Conversor CA - CA

A

CB

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34

4. Caracterização eletromecânica do gerador síncrono de magnetos permanentes

Neste capítulo abordam-se o estudo e o dimensionamento do gerador síncrono de magnetos

permanentes a ser inserido na parte da frente do eixo da turbina de uma aeronave. Assim, será

dimensionado o enrolamento trifásico constituinte das fases do gerador, será feita a verificação do limite

da potência nominal, a análise das perdas no ferro (rotor e estator), as perdas de Joule nos magnetos

permanentes, além das perdas no cobre, assim como a sua variação consoante a carga a que o gerador

está sujeito. Por ultimo e de acordo com as condições de funcionamento do gerador, realiza-se ainda

uma estimativa do tempo de vida útil do gerador para diferentes ciclos de funcionamento, tendo em

conta o tempo de vida útil do isolamento dielétrico dos condutores e a limitação térmica presente nos

magnetos permanentes.

4.1. Distribuição de condutores para os enrolamentos estatórios do gerador trifásico

O dimensionamento dos enrolamentos estatórios de uma máquina elétrica pode, por vezes, ser uma

tarefa complexa, nomeadamente quando se deseja reduzir a magnitude das harmónicas presentes na

força magnetomotriz no entreferro. Por consequência, várias metodologias para o dimensionamento e

análise dos enrolamentos têm sido propostas como em [34], [35] e [36]. De acordo com o método

proposto em [34], o número de cavas por polo e por fase do estator é dado por (29), onde 𝑄𝑠

corresponde ao número de cavas do estator, 𝑛 ao número de fases pretendido e 𝑝 ao número de par

de polos do gerador.

𝑞 =

𝑄𝑠

2 𝑛 𝑝

(29)

Dependendo do valor de 𝑞, o tipo de enrolamento é designado por de integral-slot winding no caso de

𝑞 ser um número inteiro, ou de fractional-slot winding, no caso de 𝑞 ser um número fracionário. No caso

de 𝑞 ser um número fracionário, este pode ser decomposto segundo a relação (30).

𝑞 =

𝑄𝑠

2 𝑛 𝑝=

𝑡

𝑑= 𝐼𝑞 +

𝑏

𝑑

(30)

Nesta expressão, 𝑡 e 𝑑 são o numerador e denominador da fração reduzida que representa 𝑞 .

Reescrevendo 𝑞 na forma 𝐼𝑞 +𝑏

𝑑, o termo 𝐼𝑞 representa a parte inteira de 𝑞 enquanto que o quociente

entre 𝑏 e 𝑑 a parte decimal.

De forma a simplificar o dimensionamento do enrolamento, é possível dividir o gerador em unidades

semelhantes, sendo que se considera uma unidade ao conjunto de cavas correspondentes a um par

de polos, como se indica na Figura 30. Uma vez que para um certo número de pares de polos a

unidades são iguais, basta dimensionar uma para se obter a distribuição do enrolamento por todas as

cavas. Para isso é necessário ter em conta que para cada unidade [35] tem-se:

(i) Número de polos numa unidade é igual a 𝑑;

(ii) Número de cavas por fase em cada unidade é igual a 𝑡 = 𝑞 × 𝑑;

(iii) Número total de cavas em cada unidade é igual a 𝑚 × 𝑡;

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35

(iv) Número de unidades é igual a 2𝑝

𝑑;

(v) Cada fase, em cada unidade, contêm: (𝑑 − 𝑏) grupos de 𝐼𝑞 enrolamentos e b grupos de

(𝐼𝑞 + 1) enrolamentos.

Para além disso, para que o enrolamento dimensionado seja simétrico, é necessário verificar as

condições (31) e (32). Ou seja, o número de cavas tem de ser múltiplo do número de fases e não pode

ser múltiplo do número de polos da máquina.

𝑄𝑠 = (𝑘)(𝑚) 𝑘 = 1,2, … (31)

𝑄𝑠 ≠ (𝑙) (2 𝑝) 𝑙 = 1,2, … (32)

No seguimento do trabalho anteriormente realizado na dissertação [12], o número de cavas proposto,

30 cavas, não satisfaz a condição (32). Assim, optou-se por redimensionar o gerador passando o seu

número de cavas para 27. Este número de cavas permite manter as propriedades eletromagnéticas do

circuito magnético e satisfaz as condições enunciadas em (31) e 32). Mais, ao aplicar a relação (30),

verifica-se que 𝑞 é um número fracionário, pelo que o enrolamento a dimensionar será do tipo

fractional–slot winding.

Por fim, de forma a proceder ao dimensionamento do enrolamento, procedeu-se ao desenvolvimento

de 𝑞 na forma apresentada em (28). Assim, o gerador em estudo tem 2 𝑝

𝑑= 3 unidades, sendo que cada

unidade apresenta 𝑑 = 2 polos e 𝑚 × 𝑡 = 9 cavas, com 𝑡 = 3 cavas por cada fase. Desta forma, tem-

se 𝑑 − 𝑏 = 1 grupos de 𝐼𝑞 = 1 enrolamentos e 𝑏 = 1 grupos de 𝐼𝑞 + 1 = 2 enrolamentos por cada fase.

Aplicando este raciocínio a todas as unidades do gerador, obtém-se a forma da distribuição das fases

para uma camada de enrolamentos como podemos ver na Figura 30.

Devido à maior facilidade de fabrico e menor custo, assim como uma maior facilidade na reparação dos

enrolamentos como apontado em [35], optou-se por realizar um enrolamento em dupla camada. Este

tipo de enrolamento consiste em ter duas camadas de enrolamento nas cavas do gerador, sendo

caracterizado por produzir um menor conteúdo harmónico na máquina. A camada superior e inferior de

enrolamentos são iguais, tendo-se aplicando apenas uma rotação das fases por forma a equilibrar a

distribuição dos enrolamentos pelas cavas do gerador e assim obter-se um sistemas de trifásico de

tensões induzidas equilibrado. O esquema da distribuição do enrolamento ao longo da máquina

resultante do dimensionamento realizado está representado na Figura 30.

Após a realização de uma simulação na ferramenta de elemento finitos da topologia presente Figura

30, com a máquina em vazio e uma velocidade de 3000 rpm, é possível verificar o sistema de tensões

trifásico induzidas aos terminais de cada fase. Este sistema de tensões encontra-se representado na

Figura 31 – (a). A Figura 31 – (b) mostra as componentes harmónicas mais significativas presentes na

forma de onda das tensões trifásicas produzidas.

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36

Figura 30: Distribuição das fases em dupla camada e pelas cavas do estator do gerador de forma a obter um sistema trifásico simétrico e equilibrado.

B+

B+

B+

C-

A+

C-

C-

A+

A+

B-

B-

B-

C+C+

C+

A-

A-

A-

B+

B+ B+

C-

C-C- A+

A+

A+

B-

B-B-

C+

C+

C+A-

A-

A-

B+

B+

B+

C-C-

C-

A+

A+

A+

B-

B-

B-

C+

C+ C+A-

A-A-

1 Unidade

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20-250

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

250

Tempo [ms]

Tensão [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

(a)

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37

Figura 31: (a) Sistema de tensões trifásico resultante do enrolamento proposto para uma rotação completa do rotor a uma velocidade de rotação de 3000 rpm. (b) Análise espectral da tensão simples produzida pelo gerador e representada em (a).

Verifica-se que as tensões geradas constituem um sistema trifásico equilibrado, visto que as três fases

obtidas encontram-se desfasadas de 120º. Verifica-se também que as tensões geradas são alternadas

de frequência fundamental igual a 150Hz e valor eficaz da tensão composta igual a 243 V, tal como

pretendido. Da análise espectral, conclui-se que a harmónica mais significativa da tensão gerada é,

além da fundamental, a 3ª harmónica de frequência de 450 Hz apresentando 25.6 % do valor da

harmónica fundamental (150 Hz).

4.2. Análise da potência activa fornecida pelo gerador

A potência ativa fornecida por um gerador trifásico é função do produto da tensão composta pelo valor

eficaz da corrente nominal fornecida nas fases e o seu fator de potência tal como expresso pela

equação (33).

𝑃 = √3 𝑈∆𝑒𝑓𝐼𝑒𝑓 cos 𝜑 (33)

No caso do gerador em estudo, o valor da tensão composta, 𝑈∆𝑒𝑓, é uma dado fixo, sendo este de valor

igual a 243V, o que corresponde a 33 espiras por fase, 𝑁𝑒. Já o valor da corrente fornecida, 𝐼𝑒𝑓, é

limitado ao valor máximo de densidade de corrente por secção que o material constituinte dos

condutores e seu isolamento suporta. Desta forma, a corrente máxima é dada pela expressão (34).

𝐼𝑚𝑎𝑥 = √2 𝐼𝑒𝑓 = 𝐽𝑚𝑎𝑥 𝑆𝑐𝑜𝑛𝑑 (34)

Nesta 𝐽𝑚𝑎𝑥 é a densidade de corrente máxima suportada pelo cobre por metro quadrado e 𝑆𝑐𝑜𝑛𝑑 a

secção de cada condutor em metros quadrados.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20-250

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

250

Tempo [ms]

Tensão [

V]

Fase A

Fase B

Fase C

0 200 400 600 800 1000 12000

20

40

60

80

100

Frequencia [Hz]

Perc

enta

gem

rela

tiva à

harm

ónic

a f

undam

enta

l [%

]

Valor eficaz da harmónica fundamental (150 Hz) da tensão simples: 114.1 V

(a)

(b)

Nota: valor eficaz da harmónica fundamental (150 Hz) da tensão simples é de 114.1 V

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38

Uma vez que se pretende obter um gerador de potência nominal igual a 90 kVA, ou seja, potência

activa máxima de 90 kW quando o valor de cos 𝜑 é unitário, conclui-se pela expressão (33), que a

corrente máxima a suportar pelos condutores de cobre e seu isolamento é de aproximadamente 303 A.

Assim, sendo 𝐽𝑚𝑎𝑥 um valor conhecido e igual a 5 × 106 A.m-1 à temperatura ambiente, segundo a

expressão (34), será necessário ter uma secção para os condutores dos enrolamentos do estator igual

a aproximadamente 61 mm2. De forma a não se utilizar condutores com uma secção tão elevada, e

reduzir as perdas por efeito de joule nos enrolamentos, optou-se pela utilização de uma associação de

condutores em paralelo equivalente, constituída por 31 condutores em paralelo, 𝑁𝑒, de 2 mm2 a que

equivale um diâmetro, 𝑑, aproximadamente igual a 1.6 mm por condutor.

4.3. Comportamento do gerador em vazio

4.3.1. Estudo das perdas de Joule

Como referido anteriormente na secção 2.6, existem perdas de Joule no gerador, no cobre, no ferro e

nos magnetos permanentes. Estas perdas serão analisadas nesta secção para o caso em que o

gerador funciona em vazio. Sendo esta uma análise em vazio, as perdas no cobre não serão

consideradas uma vez que serão nulas.

4.3.1.1. Perdas no ferro

Por forma a estimar as perdas de Joule no ferro em vazio, foi necessário começar pela análise do

catálogo do material ferromagnético escolhido o Hiperco 50, comercializado pela Carpenter [22]. A partir

dos dados disponibilizados pelo fabricante é possível estimar as perdas específicas, em Watts por

kilograma, em função do campo de indução magnético B no material para um conjunto de frequências

elétricas fornecidas. O andamento das perdas de Joule específicas no material Hiperco 50 pode ser

observado no gráfico da Figura 32 para quatros frequências 60, 400, 800 e 1600 Hz e para uma

variação de densidade de fluxo magnético entre 1 e 2 T. É importante compreender que as perdas

específicas representadas no gráfico da Figura 32, são as perdas específicas totais no ferro, ou seja, a

soma das perdas por histerese e por correntes de Foulcault.

Tendo em atenção que as perdas totais no ferro são quantificadas pela expressão (10), novamente

apresentada em (35), é necessário estimar os valores dos coeficientes 𝑛, 𝐾ℎ e 𝐾𝑒 antes de prosseguir

para os cálculos propriamente ditos. Para isso, utilizou-se a função Surface Fitting Tool do programa

MATLAB. Esta função tem como entradas um vetor de frequências, um vetor de valores de campo

magnético e um vetor com o valor das perdas de Joule associadas a cada par de entradas dos dois

primeiros vetores enunciados. Desta forma, esta função realiza uma interpolação dos valores de

entrada e realiza um ajustamento de uma superfície 2D com o valor de perdas de Joule para qualquer

par de valores de frequência e campo magnético dentro do intervalo definido, Figura 33. Os valores

constantes nos vetores de entrada da função são dados pelos fabricantes do material Hiperco 50 e

podem ser analisados na Tabela 6. Adicionalmente, esta função recebe como entrada a expressão (35)

e realiza o seu ajustamento à superfície 2D interpolada, devolvendo os valores dos coeficientes por

determinar: 𝑛 = 1.674 , 𝐾ℎ = 0.02736 [𝑊. 𝑘𝑔−1. 𝑇−𝑛. 𝐻𝑧−1] e 𝐾𝑒 = 1.256 × 10−5 [𝑊. 𝑘𝑔−1. 𝑇−2. 𝐻𝑧−2] .

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39

Para o ajustamento realizado obteve-se um coeficiente de determinação 𝑅2 = 0.9975. O valor de 𝑅2

atingido indica-nos que os valores obtidos estão corretamente ajustados à expressão modeladora

introduzida para os valores do fabricante, uma vez que este coeficiente toma valores no intervalo entre

0 e 1 consoante o modelo não se ajusta “0” ou se ajusta “1” aos valores inseridos, respetivamente.

𝑃𝑓𝑒𝑟𝑟𝑜 = 𝐾ℎ 𝐵𝑚𝑎𝑥𝑛 𝑓 + 𝐾𝑒𝐵𝑚𝑎𝑥

2 𝑓2 (35)

Figura 32: Perdas específicas do material Hiperco 50 em função da variação do campo magnético B para as frequências de 60, 400, 800 e 1600Hz, e B entre 1T a 2T.

Tabela 6: Perdas de Joule do material Hiperco 50 para frequências de 60, 400, 800 e 1600 Hz e campo de indução magnética de 1 a 2 T.

Perdas de Joule [W.kg-1] Frequência, f [Hz]

60 400 800 1600

Cam

po

Mag

néti

co

, B

[T

]

1 0.55 5.00 15.00 38.00

1.1 0.60 5.60 17.00 41.00

1.2 0.71 6.50 19.00 19.00

1.3 0.80 8.00 22.50 55.50

1.4 0.91 8.80 26.00 60.00

1.5 1.00 9.60 30.50 70.00

1.6 1.15 11.00 34.80 79.50

1.7 1.25 12.50 37.50 89.50

1.8 1.40 14.00 39.50 100.00

1.9 1.50 15.50 43.50 110.00

2 1.62 16.50 47.00 125.00

1 1.2 1.4 1.6 1.8 20

50

100

150

200

250

300

B [T]

Perd

as

esp

ecí

ficas

[W.k

g-1

]

f = 60Hz

f = 400Hz

f = 800Hz

f = 1600Hz

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40

Figura 33: Superfície de ajustamento interpolada pela função Surface Fitting Tool do MATLAB, para os dados fornecidos pelo fabricante das perdas de joule no material Hiperco 50 e uma variação de frequência de 0 a 1600 Hz, assim como um campo de indução magnética de 1 a 2 T.

Uma vez que o gerador será acoplado ao eixo de rotação da turbina da aeronave com velocidades

compreendidas entre as 1000 rpm e as 3000 rpm e que este tem 3 pares de polos, a gama de

frequências do campo magnético produzido pelos magnetos permanentes, o qual atravessa o ferro do

estator, estará entre os 50Hz e os 150Hz. Contudo, durante o funcionamento normal do gerador, este

irá operar maioritariamente a uma velocidade de rotação igual a 3000 rpm. Assim, a frequência do

campo B criado será de 150Hz. Por esta razão, e pelo facto de esta velocidade ser aquela a que o

gerador poderá apresentar valores mais significativos relativamente às perdas de Joule no ferro,

realizou-se uma simulação para obter a evolução no tempo do campo B distribuído no gerador, tal como

apresentado na Figura 34.

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41

Figura 34: Distribuição da densidade de fluxo magnético pelo gerador a operar a uma velocidade de 3000 rpm e em vazio.

Na Figura 34 verifica-se que nos dentes do estator mais próximos dos magnetos permanentes ocorre

uma maior intensidade de campo de indução magnética, tal como indicado pela cor alaranjada (1.6T).

Este resultado permite perceber que os locais onde irão existir maiores perdas de Joule no ferro serão

nos dentes do estator uma vez que ocorrerão, não apenas grandes variações no campo B, assim como

a intensidade de B será a mais elevada em todo o estator.

A Figura 35 mostra a evolução da densidade de fluxo magnético presente em um dos dentes do estator

durante uma rotação completa do rotor à velocidade de 3000rpm. Nos restantes verifica-se que o

resultado será idêntico, existindo apenas uma translação no tempo dos valores de B. É importante

denotar da Figura 35 que o campo magnético B não apresenta um andamento sinusoidal. Apesar da

evolução do campo B representada aparentar a existência de saturação magnética do material

ferromagnético do dente devido ao patamar existente nos picos da onda, na verdade este patamar

ocorre devido à geometria do gerador não estar otimizada. Desta forma, é necessário ter em conta as

[m]

[m]

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42

harmónicas da onda de campo magnético B produzidas aquando da aplicação das relações descritas

na secção 2.6.2 para o cálculo das perdas de Joule no ferro.

Figura 35: Variação do campo magnético B num dente do estator do gerador, ao longo de uma rotação completa do rotor 3000 rpm e em vazio.

Para além de ser necessário tomar uma abordagem que tenha em conta as harmónicas mais

significativas da onda de indução magnética, é também importante verificar que o valor máximo de B

difere nas várias zonas do estator. Ao fazer esta análise, verifica-se que o estator pode ser dividido em

cinco regiões diferentes, tal como indicado na Figura 36, de forma a se obter um resultado mais preciso

quanto às perdas de Joule no ferro.

Figura 36: Divisão do estator em zonas onde o valor máximo da componente fundamental da indução de campo magnético presente varia de forma significativa de zona para zona.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20-2

-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

2

t [ms]

B [

T]

Zona 1 Zona 2 Zona 3 Zona 4 Zona 5

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43

Após a análise dos valores de B em cada uma das zonas apresentadas na Figura 36, organizaram-se

as respetivas harmónicas na Tabela 7. Esta tabela ilustra também o valor máximo de campo magnético

B sentido em cada zona do estator.

Tabela 7: Valores máximos de campo de indução magnética B presentes nas várias zonas do estator com o gerador em vazio.

Zona 1 Zona 2 Zona 3 Zona 4 Zona 5

𝑩𝒎𝒂𝒙 [𝐓] 1.80 1.27 1.07 0.68 0.25

Amplitude da Harmónica [T]

Harmónica Fundamental (150 Hz) 1.43 0.99 0.85 0.55 0.20

3ª Harmónica (450 Hz) 0.50 0.38 0.30 0.1677 0.07

5ª Harmónica (750 Hz) 0.07 0.05 0.04 0.03 0.01

7ª Harmónica (1050 Hz) 0.05 0.06 0.03 0.00 0.01

Da análise espectral do campo B, os sinais analisados apresentam quatro harmónicas significativas,

sendo estas a fundamental (150 Hz), a 3ª harmónica (450 Hz), 5ª harmónica (750 Hz) e a 7ª harmónica

(1050 Hz). Os valores obtidos para a amplitude de cada harmónica, em cada zona, estão listados

também em Tabela 7.

A partir dos resultados obtidos na Tabela 7 e usando a expressão (35), calcularam-se as perdas de

Joule específicas (W.kg-1) existentes nas várias zonas do estator. Assim, na segunda linha da Tabela

8 podem ser vistos estes resultados. Já na terceira linha desta tabela, lista-se o volume de cada zona,

o qual é necessário para o cálculo da massa das mesmas. De acordo com o catálogo do fabricante

[22], o valor da densidade mássica do Hiperco 50 é de 8120 [kg.m-3]. Finalmente, somando as perdas

de todas as zonas do gerador, obteve-se que as perdas no ferro do gerador em vazio são de

aproximadamente 658 W.

Tabela 8: Dados e resultados do cálculo das perdas no ferro nas diferentes zonas do estator do gerador em vazio.

Zona 1 Zona 2 Zona 3 Zona 4 Zona 5

Perdas específicas [W.kg-1] 12.99 7.58 5.31 2.33 0.45

Volume [cm-3] 1192.3 129.6 1.1478 × 104 120.3 7351

Massa [kg] 9.68 1.05 93.20 0.98 59.69

Perdas totais por zona [W] 125.74 7.96 494.89 2.28 26.86

Perdas totais do gerador [W] 657.7

É importante ter em atenção que se considerou que não existem perdas significativas no núcleo de

Hiperco 50 presente no rotor, visto que não existe variação significativa do campo de indução magnética

nesta zona. Apesar da aproximação tomada, na verdade irá existir perdas no rotor por correntes

induzidas. Contudo, estas podem ser desprezadas uma vez que são muito reduzidas. De forma a

confirmar se a aproximação feita pode ser considerada, realizou-se o cálculo das perdas no ferro do

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44

rotor através da aplicação da expressão (35) no módulo numérico do programa de cálculo por

elementos finitos. Desta simulação, obteve-se que o valor da potência de perdas é de aproximadamente

1.52 × 10−5 W, ou seja nulas. De forma global, verifica-se que a potência de perdas no material

ferromagnético macio do gerador em vazio é de apenas 0.73 % da potência nominal do gerador.

4.3.1.2. Perdas nos magnetos permanentes

Tal como referido na secção 2.6.3, a ocorrência de perdas nos magnetos permanentes deve-se à

existência de correntes induzidas no material ferromagnético duro. Estas podem ser facilmente

calculadas pela expressão (16), de novo apresentada em (36).

𝑃𝑚𝑎𝑔 = ∫

𝑱𝑖2

𝜎𝑁𝑑𝐹𝑒𝐵 𝑑𝑉

𝑉

[𝑊] (36)

No modelo 2D do gerador de magnetos permanentes em estudo, verifica-se que o vetor densidade de

fluxo magnético existente nos magnetos permanentes tem uma direção radial, ou seja, com

componentes 𝐵𝑥 e 𝐵𝑦. Assim, as correntes induzidas serão transversais à direção do campo 𝐵, pelo

que o vetor de correntes induzidas apenas terá uma componente segundo o eixo z, 𝑱𝑖 = 𝐽𝑧(𝑥, 𝑦). Ao

aplicar este resultado à expressão das perdas nos magnetos (36) obtêm-se a expressão (37) [37], a

qual fornece a potência total de perdas no volume considerado.

𝑃𝑚𝑎𝑔 = 𝑙𝑚 ∬𝐽𝑧

2(𝑥, 𝑦)

𝜎𝑁𝑑𝐹𝑒𝐵 𝑑𝑥 𝑑𝑦

ℎ𝑚 𝑏𝑚

0 0

[𝑊]

(37)

Em (37), ℎ𝑚, 𝑏𝑚 e 𝑙𝑚 são a altura, a largura e o comprimento do magneto permanente, respetivamente,

e 𝜎𝑁𝑑𝐹𝑒𝐵 a condutividade elétrica dos magnetos permanentes de Neodímio-ferro-boro de valor igual a

1.375 × 106 [S/m] à temperatura de 20 ºC.

Como já referido na secção 2.6.3, estando o gerador em vazio, as correntes induzidas nos magnetos

devem-se apenas à variação do campo magnético nestes, resultado da alteração da relutância

magnética do caminho por onde as linhas de fluxo magnético se fecham no estator. Na Figura 37 é

possível observar a distribuição da intensidade da densidade de corrente induzida nas diferentes zonas

do rotor e as regiões onde ela é maior.

Para se obter o valor total das perdas de Joule em um dos magnetos, utilizou-se diretamente a

expressão (37) na ferramenta de elementos finitos, ou seja, usou-se a função de integração em 2D na

área que delimita um dos magnetos permanentes. Desta forma, foi possível determinar a evolução no

tempo da densidade de corrente 𝐽𝑧, Figura 38 – (a), e do quadrado da densidade de corrente 𝐽𝑧2, Figura

38 – (b), num magneto permanente do gerador, em funcionamento em vazio e ao longo de uma rotação

completa do rotor a uma velocidade de 3000 rpm. Destes valores, foi ainda obtido o valor de perdas

num magneto permanente, verificando-se uma potência de perdas médias por magneto permanente

de cerca de 0.72W, o que perfaz um total de potência de perdas nos 6 magnetos permanentes do

gerador de aproximadamente 4.31 W em vazio. Assim, a potência de perdas nos magnetos

permanentes em vazio são de apenas 0.005 % da potência nominal do gerador, pelo que em vazio

serão consideradas nulas.

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45

Figura 37: Distribuição da intensidade da densidade de corrente induzida no rotor, nomeadamente o seu valor mais significativo nos magnetos permanentes para operação do gerador em vazio.

[m]

[m]

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10x 10

-4 Evolução temporal da densidade de corrente num magneto permanente

Tempo, t [ms]

Densid

ade d

e c

orr

ente

, J

z [

A.m

-2]

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 200

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000Evolução temporal do quadradro da densidade de corrente num magneto permanente

Tempo, t [ms]

Densid

ade d

e c

orr

ente

, J

2 z [

A-2

.m-4

]

(a)

(b)

Page 60: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

46

Figura 38: Evolução da densidade de corrente (a) e da densidade de corrente ao quadrado (b) num magneto permanente ao longo de uma rotação completa do rotor a uma velocidade de 3000 rpm e com o gerador em vazio.

4.3.2. Análise térmica do gerador em vazio

Parte fundamental do dimensionamento de uma máquina elétrica é a sua análise térmica. Esta permite

verificar as diferentes temperaturas dos materiais constituintes e perceber se as suas características

se mantêm. Assim, sabendo a temperatura dos materiais, é possível saber como estes se comportam.

Este conhecimento tem especial interesse nos materiais onde a temperatura máxima admissível pode

ser atingida durante a normal operação da máquina, como é o caso dos magnetos permanentes e do

isolamento dielétrico das bobines de cobre das fases do gerador. No caso dos magnetos, uma

temperatura de operação demasiado elevada (acima da temperaturas de Curie), pode levar a que estes

percam em todo o seu volume as suas características magnéticas [12]. Já os enrolamentos de cobre

que constituem as fases do gerador têm uma limitação térmica mais restritiva ao nível do material

dielétrico isolante existente entre os vários condutores [38], podendo ocorrer a sua degradação quando

exposto a temperaturas elevadas.

De forma a realizar o estudo térmico do gerador, é necessário não apenas identificar as fontes de calor

existentes no interior deste, mas também as condições térmicas que lhe são envolventes. Para o

funcionamento em vazio do gerador, verificou-se na secção 4.3.1 que as fontes de calor são os

magnetos permanentes e o ferro do estator e do rotor, devido às perdas de Joule que existem nestes.

É de lembrar que no estudo em vazio não existem perdas no cobre uma vez que não há qualquer

corrente a circular pelos condutores. Relativamente à temperatura exterior ao gerador, a análise a ser

realizada corresponde à situação em que a aeronave se encontra a uma velocidade e altitude de

cruzeiro. Isto é, uma altitude de 12 km [39], a que corresponde uma temperatura do ar envolvente de

cerca de -56,5 ºC [40], e uma velocidade compreendida entre 878 e 926 km.h-1 [41].

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10x 10

-4 Evolução temporal da densidade de corrente num magneto permanente

Tempo, t [ms]

Densid

ade d

e c

orr

ente

, J

z [

A.m

-2]

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 200

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000Evolução temporal do quadradro da densidade de corrente num magneto permanente

Tempo, t [ms]

Densid

ade d

e c

orr

ente

, J

2 z [

A-2

.m-4

]

(a)

(b)

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47

Existem vários métodos para a realização do estudo térmico de uma máquina elétrica [42]. Neste

trabalho optou-se por realizar primeiramente um estudo analítico, utilizando para isso uma metodologia

e termos de parâmetros concentrados, seguindo então um estudo numérico pormenorizado através de

uma simulação por elementos finitos do gerador elétrico

4.3.2.1. Análise térmica do gerador em termos de uma metodologia de parâmetros

concentrados

Para a realização deste estudo térmico, utilizou-se a analogia entre um circuito elétrico e um circuito

térmico. Desta forma, as leis de resolução de circuitos elétricos podem ser usadas para analisar as

temperaturas nos vários pontos da máquina [43]. Na Tabela 9, representa-se a analogia entre as

grandezas do circuito elétrico e as grandezas do circuito térmico, destacando-se a analogia entre queda

de tensão e variação de temperatura, corrente elétrica e potência calorifica, capacidade elétrica e

capacidade térmica e, por fim, resistência elétrica e resistência térmica.

No estudo presente, apenas se tem interesse em obter as temperaturas dos diferentes constituintes do

gerador em regime estacionário, pelo que, para a formação do circuito térmico não se considerou

quaisquer efeitos térmicos capacitivos. Para além disso, considerou-se também que o fluxo de calor

existente é no sentido radial e não existe troca de calor com o ar pelos topos, mas apenas pela

superfície lateral do gerador. Desta forma, de acordo com [44] e dada a geometria da máquina em

análise, esta pode ser representa aproximadamente por um conjunto de cilindros concêntricos,

conforme a Figura 39, onde cada cilindro representa um material constituinte desta. Ou seja, cada

cilindro apresenta as mesmas características térmicas e volume ocupado pelo material que representa.

Tabela 9: Analogia entre grandezas elétricas e grandezas térmicas.

Grandezas elétricas Grandezas térmicas

Grandeza Símbolo Unidades Grandeza Símbolo Unidades

Tensão V [V] Temperatura T [K]

Corrente I [A] Calor P [W]

Densidade de corrente J [A.m-2] Fluxo de calor q [W.m-2]

Resistência elétrica R [Ω] Resistência térmica Rth [K.W-1]

Resistividade elétrica [Ω.m-1] Resistividade térmica th [mK.W-1]

Capacidade elétrica C [F] Capacidade térmica Cth [J.K-1]

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48

Figura 39: Esquema térmico simplificado equivalente em cilindros concêntricos associado ao conjunto de materiais do gerador para o cálculo das resistências térmicas associadas a cada elemento (ou conjunto de elementos) do gerador.

Cada camada apresentada na Figura 39 pode ser representada em parâmetros concentrados por duas

resistências térmicas. Uma resistência térmica externa, 𝑅()𝑒 , representativa dos fenómenos de

transferência de calor ocorridos nesta camada (condução e/ou convecção) e cuja origem do fluxo de

calor é externo, e por uma resistência térmica própria, 𝑅()𝑝

, quando existe potência calorifica gerada na

própria camada. No caso em que na camada não exista produção de calor, esta representa-se então

apenas pela resistência térmica externa 𝑅()𝑒 .

As resistências térmica externa e própria associadas a cada camada são obtidas pelas expressões (38)

e (39), respetivamente [45].

𝑅𝑐𝑜𝑛𝑑

𝑒 =1

2 𝜋 𝑘 𝐿ln (

𝑟2

𝑟1

) (38)

𝑅𝑐𝑜𝑛𝑑

𝑝=

1

4 𝜋 𝑘 𝐿 [1 − 2 (

𝑟12

𝑟22 − 𝑟1

2) ln (𝑟2

𝑟1

)] (39)

Em (38) e (39), 𝑘 representa a condutividade térmica do material descrito, 𝐿 a profundidade do cilindro

e 𝑟1e 𝑟2 o raio interior e exterior do cilindro, respetivamente.

Para além da transferência de calor existente entre as diferentes camadas do gerador, considerou-se

também a troca de calor por convecção entre o limite exterior do estator e o ar envolvente à máquina.

Esta resistência pode ser obtida pela expressão (40), onde ℎ representa o coeficiente de transferência

de calor por convecção e 𝐴𝑙𝑎𝑡𝑒𝑟𝑎𝑙 a área lateral da superfície do estator em contacto com o ar.

𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣

𝑒 = 1

ℎ 𝐴𝑙𝑎𝑡𝑒𝑟𝑎𝑙

(40)

O coeficiente ℎ pode ser calculado por diferentes métodos, sendo o mais comum recorrendo-se ao

número de Nusselt, 𝑁𝑢 , obtido da relação (41) segundo [46]. Este, por sua vez, pode ser obtido

Eixo

Ferro do

rotor

Magnetos

Entreferro

Dentes do

Estator

Cavas do

Estator

Yoke

Ar

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49

recorrendo ao número de Reynolds, 𝑅𝑒, e de Prandtl, 𝑃𝑟, dados por (42) e (43) respetivamente. Assim,

recorrendo a estes três números adimensionais, o coeficiente de transferência de calor por convecção,

ℎ, fica definido pela expressão (44).

𝑁𝑢 =

0.664 𝑅𝑒0.5 𝑃𝑟0.33 𝑠𝑒 𝑅𝑒 < 5 × 105 𝑒 0.6 < Pr < 50(0.037 𝑅𝑒0.8 − 871) 𝑃𝑟0.33 𝑠𝑒 𝑅𝑒 > 5 × 105

(41)

𝑅𝑒 =

𝜌 𝑣 𝐿

𝜇 (42)

Pr =

𝑐𝑝 𝜇

𝑘 (43)

ℎ =

(𝑁𝑢) 𝑘

𝑙 (44)

De (42) a (44), 𝜌 representa a densidade mássica do fluido em 𝑘𝑔. 𝑚−3 , 𝑣 a velocidade em 𝑚. 𝑠−1

(tendo-se considerado uma velocidade média igual à velocidade da aeronave, 250.56 m.s-1), 𝑙 a

profundidade do gerador em 𝑚, 𝜇 a viscosidade dinâmica do fluido, 𝑐𝑝 o calor especifico do fluido em

𝑘𝐽. 𝑘𝑔−1. °𝐶−1 e 𝑘 a condutividade térmica do fluido em 𝑊. 𝑚−2. °𝐶−1. Para a situação e gerador em

estudo, o valor do coeficiente de transferência de calor obtido foi de 759 𝑊. 𝑚−2. °𝐶−1.

Descritas as diferentes resistências térmicas onde existe transferência de calor no gerador, este pode

ser representado pelo circuito térmico equivalente da Figura 40. O valor de temperatura exterior

representado diz respeito à temperatura do ar envolvente ao gerador e é de -56.5ºC para uma situação

de voo cruzeiro. Denote-se que os valores de potência de perdas indicados no circuito são os

calculados anteriormente na secção 4.3.1.

Figura 40: Circuito térmico equivalente do gerador elétrico em análise.

Por fim, utilizando o circuito da Figura 40, foram obtidas as temperaturas apresentadas na Tabela 10.

Nesta verifica-se que a gama de temperaturas existente nos materiais vai de -34.82 ºC a -53.10 ºC,

não havendo indicação de qualquer limitação térmica à operação em vazio do gerador.

Tabela 10: Temperatura resultante da análise térmica por parâmetros concentrados dos materiais constituintes do gerador quando a funcionar em vazio.

Rotor Magnetos Dentes do

estator Cavas do estator

“Yoke” do estator

Temperatura [ºC] -34.82 -34.82 -49.27 -50.38 -53.10

𝑃𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 𝑃𝑚𝑎𝑔𝑛𝑒𝑡𝑜𝑠 𝑃𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑃𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒 𝑃𝑦𝑜𝑘𝑒

𝑇𝑒𝑥𝑡𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟

𝑅𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟𝑝

𝑅𝑚𝑎𝑔𝑛𝑒𝑡𝑜𝑠𝑒

𝑅𝑚𝑎𝑔𝑛𝑒𝑡𝑜𝑠𝑝

𝑅𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒𝑓𝑒𝑟𝑟𝑜𝑒 𝑅𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠

𝑒

𝑅𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠𝑝

𝑅𝑐𝑎𝑣𝑎𝑝

𝑅𝑐𝑎𝑣𝑎𝑒 𝑅𝑦𝑜𝑘𝑒

𝑒

𝑅𝑦𝑜𝑘𝑒𝑝

𝑅𝑐𝑜𝑛𝑣𝑒

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50

4.3.2.2. Análise térmica do gerador através da sua modelização por elementos finitos

Com o propósito de verificar a precisão dos valores de temperatura anteriormente obtidos (Tabela 10),

realizou-se uma análise térmica do gerador através da sua modelização por elementos finitos. A Figura

41 mostra a distribuição de temperaturas no gerador para as mesmas condições de funcionamento

consideradas na secção anterior. Pela análise dos resultados obtidos verifica-se que as temperaturas

são mais elevadas no interior do gerador, ou seja, no ferro do rotor e nos magnetos permanentes. Este

resultado é que esperar uma vez que apenas se considera transferência de calor no sentido radial e

que só existe dissipação de calor na superfície lateral do estator. No entanto, confirma-se uma vez mais

que não existe limitações térmicas ao funcionamento do gerador em vazio.

Figura 41: Gradiente termico do gerador em funcionamento em vazio e à temperatura exterior de - 56,5 ºC.

Da análise por elementos finitos cujos resultados são apresentados na Figura 42, é também possível

concluir que a aproximação realizada no cálculo analítico das temperaturas no gerador pode ser

considerada válida, uma vez que os resultados obtidos são semelhantes aos obtidos pela simulação

por elementos finitos, existindo apenas uma pequena diferença nas temperaturas dos materiais do

rotor. Esta discrepância deve-se essencialmente à dificuldade em modelizar analiticamente a

transferência de calor existente através do ar no entreferro da máquina e de apenas se considerar

transferências de calor no sentido radial. Contudo, esta discrepância trata-se de um erro por excesso,

o que permite realizar o projeto térmico em segurança.

[m]

[m]

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51

Figura 42: Comparação entre a análise térmica efetuada analiticamente e a realizada por modelização térmica por elementos finitos.

4.4. Comportamento do Gerador em Carga

À semelhança do estudo das perdas do gerador realizado na secção 4.3.1, nesta secção analisam-se

as mesmas mas no caso em que o gerador está a alimentar uma carga elétrica modeladora do SDEE

de uma aeronave. A carga utilizada foi a apresentada na secção 3.2. Em resumo, a carga do gerador

é constituída pelo conversor CA-CA apresentado e pelos diferentes sistemas elétricos típicos de uma

aeronave. Numa primeira etapa, são analisadas as perdas de Joule no gerador numa situação de

funcionamento equilibrado. Já numa segunda etapa, as perdas serão estudadas numa situação de

funcionamento desequilibrado.

4.4.1. Perdas de Joule a plena carga equilibrada

Para obter as perdas no gerador numa situação de normal funcionamento, efetuou-se uma análise

semelhante à apresentada na secção 4.3.1. No entanto, neste estudo foi necessário recorrer à

biblioteca SimPowerSystems da ferramenta de simulação Simulink para a realização da simulação do

circuito elétrico equivalente da carga do SDEE da aeronave. Através desta abordagem foi possível

utilizar as tensões produzidas pelo gerador quando em vazio, tal como obtidas na simulação por

elementos finitos da Figura 31 – (a). O conjunto de tensões obtidas alimenta a carga elétrica

modeladora do SDEE, obtendo-se de seguida a forma de onda das correntes nas fases do gerador.

Neste ponto importa saber que a queda de tensão interna foi desprezada, além da velocidade do

gerador permanecer constante. A Figura 43 mostra a evolução das correntes obtidas. Procedendo de

uma forma iterativa entre a simulação do gerador por elementos finitos e a simulação o circuito elétrico

é possível obter o impacto da carga elétrica nas perdas no ferro, nos magnetos permanentes e no cobre

do gerador.

1 2 3 4 5-60

-50

-40

-30

-20

-10

0Comparação entre método analítico e simulação por elementos finitos

1 - Rotor, 2 - Magnetos, 3 - Dentes, 4 - Cavas, 5 - Yoke

Tem

pera

tura

[ºC

]

Analítico

FEM

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52

Figura 43: Correntes fornecidas pelas três fases do gerador à sua carga elétrica em funcionamento nominal equilibrado.

Como o programa numérico de simulação por elementos finitos apenas permite o uso de fontes de

corrente alternadas sinusoidais, realizou-se a análise espectral dos sinais das correntes representadas

na Figura 43 de forma a puder inserir as componentes harmónicas principais e representativas dos

sinais. A Tabela 11 lista as harmónicas mais significativas.

Tabela 11: Harmónicas mais significativas dos sinais de corrente nas fases do gerador em carga nominal.

Valor eficaz da

corrente na fase A

Valor eficaz da

corrente na fase B

Valor eficaz da

corrente na fase C

1ª Harmónica (150 Hz) 64.94 A 65.38 A 61.45 A

5ª Harmónica (750 Hz) 29.42 A 30.32 A 29.64 A

7ª Harmónica (1050 Hz) 14.69 A 14.85 A 14.11 A

11ª Harmónica (1650 Hz) 4.73 A 5.00 A 5.19 A

13ª Harmónica (1950 Hz) 3.46 A 3.58 A 3.21 A

Perdas no cobre

As perdas nos enrolamentos do gerador poderão conduzir a um elevado aumento de temperatura no

interior do gerador que, por sua vez, poderá trazer problemas não apenas no isolamento assim como

nos magnetos permanentes, significando uma redução do tempo de vida útil da máquina ou mesmo a

sua destruição. Desta forma, é necessário tomar especial atenção a este conjunto de perdas e verificar

qual o seu principal impacto no funcionamento do gerador.

De acordo com os resultados da Tabela 11, observa-se que a corrente nas fases do gerador contêm

um elevado teor harmónico. As perdas são calculadas pela soma das perdas em cada fase que, por

sua vez, correspondem à soma das perdas para cada harmónica de corrente à resistência elétrica

0.02 0.022 0.024 0.026 0.028 0.03 0.032 0.034 0.036 0.038 0.04

-100

0

100

Tempo [s]

Corr

ente

[A

]

Fase A

0.02 0.022 0.024 0.026 0.028 0.03 0.032 0.034 0.036 0.038 0.04

-100

0

100

Tempo [s]

Corr

ente

[A

]

Fase B

0.02 0.022 0.024 0.026 0.028 0.03 0.032 0.034 0.036 0.038 0.04

-100

0

100

Tempo [s]

Corr

ente

[A

]

Fase C

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53

equivalente oferecida pelos condutores para a respetiva frequência (efeito pelicular). Por fim, as perdas

no cobre podem ser calculadas por (45) onde o índice 𝑖 = 1, 2, 3 denota as três fases existentes e o

índice 𝑘 a ordem da harmónica a ter em conta no valor da resistência elétrica equivalente 𝑅𝑘.

𝑃𝑐𝑢 = ∑ ∑ 𝑅𝑘 𝐼𝑒𝑓𝑖,𝑘

2

𝑘=1,5,7,11 𝑒 13

3

𝑖

(45)

De forma a puder proceder ao cálculo da potência de perdas no cobre, é necessário primeiro proceder

ao calculo da resistência equivalente para cada harmónica, 𝑅𝑘. Para isso, é necessário ter em conta

como os condutores estão dispostos nas cavas do gerador, tal como se ilustra na Figura 44. Nesta,

verifica-se que o número de camadas de condutores, 𝑚, na fase superior e na fase inferior da cava é

diferente, pelo que a resistência equivalente de cada uma será também diferente. Assim, como cada

enrolamento por fase passa igualmente pela parte superior e inferior da cava, definiu-se que a

resistência equivalente será a média entre as resistências calculadas para as duas camadas.

Figura 44: Esquema da distribuição dos condutores de cobre nos enrolamentos do gerador pelas cavas do estator.

Na Tabela 12 e Tabela 13 apresenta-se o valor das resistências elétricas equivalentes para a camada

superior e camada inferior das cavas do estator do gerador, respetivamente. Note-se que o valor do

diâmetro 𝑑, o número de espiras, 𝑁𝑒 , e o número de condutores por espira, 𝑁𝑝 , são os definidos

anteriormente na secção 4.2. O valor do comprimento médio de cada espira foi estimado em

aproximadamente 4.72 m, tendo este em conta o comprimento do condutor necessário a percorrer o

interior das cavas (comprimento longitudinal do gerador), assim como o exterior destas, ou seja, nos

topos do gerador.

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54

Tabela 12 - Parâmetros necessários ao cálculo da resistência elétrica equivalente associada à camada inferior das cavas do gerador

1ª Harmónica 5ª Harmónica 7ª Harmónica 11ª Harmónica 13ª Harmónica

f [Hz] 150 750 1050 1650 1950

[Ω.m] 1.68E-08 1.68E-08 1.68E-08 1.68E-08 1.68E-08

d [mm] 1.596 1.596 1.596 1.596 1.596

l [m] 4.72 4.72 4.72 4.72 4.72

Ne 33 33 33 33 33

Np 31 31 31 31 31

𝑹𝒄𝒄 [Ω] 0.042 0.042 0.042 0.042 0.042

[m] 0.0053 0.0024 0.0020 0.0016 0.0015

𝝃 0.2657 0.5941 0.7029 0.8812 0.9579

m 79 79 79 79 79

𝑹𝒄𝒂 [Ω] 0.1149 1.8533 3.5749 8.6424 11.9417

Tabela 13 - Parâmetros necessários ao cálculo da resistência elétrica equivalente associada à camada superior das cavas do gerador.

1ª Harmónica 5ª Harmónica 7ª Harmónica 11ª Harmónica 13ª Harmónica

f [Hz] 150 750 1050 1650 1950

[Ω.m] 1.68E-08 1.68E-08 1.68E-08 1.68E-08 1.68E-08

d [mm] 1.596 1.596 1.596 1.596 1.596

l [m] 4.72 4.72 4.72 4.72 4.72

Ne 33 33 33 33 33

Np 31 31 31 31 31

𝑹𝒄𝒄 [Ω] 0.042 0.042 0.042 0.042 0.042

[m] 0.0053 0.0024 0.0020 0.0016 0.0015

𝝃 0.2657 0.5941 0.7029 0.8812 0.9579

m 44 44 44 44 44

𝑹𝒄𝒂 [Ω] 0.0647 0.6038 1.1377 2.7091 3.7323

Na Tabela 14, apresenta-se o valor da resistência elétrica média equivalente para cada harmónica de

corrente, 𝑅𝑐𝑎, o valor eficaz de corrente das harmónicas em cada fase, as perdas por efeito de Joule

existentes no enrolamento de cada fase e o valor total da perdas de joule existentes no cobre. Por fim,

conclui-se que o valor total de perdas no cobre, em plena carga equilibrada e a 3000 rpm é de

aproximadamente 9672 W, perfazendo uma potência de perdas no cobre de cerca de 10.8% da

potência nominal da máquina.

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55

Tabela 14: Potência de perdas nos enrolamentos de cobre do gerador para a velocidade de 3000 rpm e plena carga equilibrada.

Harmónica 5ª

Harmónica 7ª

Harmónica 11ª

Harmónica 13ª

Harmónica

𝑹𝒄𝒂 [Ω] 0.1249 1.8533 3.5749 8.6424 11.9417

Corrente na fase A [A] 64.94 29.42 14.69 4.73 3.46

Perdas fase A [W] 3196.42

Corrente na fase B [A] 65.38 30.32 14.85 5 3.5

Perdas fase B [W] 3345.58

Corrente na fase C [A] 61.45 29.64 14.11 5.19 3.21

Perdas fase C [W] 3129.63

Perdas totais [W] 9672

Perdas no ferro

Para o cálculo das perdas no ferro, realizou-se uma análise do campo de indução magnética nas várias

regiões do gerador, tal como foi feito o estudo das perdas no ferro com o gerador em vazio. Verificou-

se uma vez mais que o valor máximo do campo B é diferente nas várias zonas, pelo que se procedeu

à divisão do estator do gerador nas cinco regiões diferentes já apresentadas na Figura 36.

Devido às correntes agora a circular nas fases do gerador, verifica-se que o campo B no material

ferromagnético do gerador é o resultado, não só dos magnetos permanentes, mas também resultado

das correntes elétricas que circulam nos diversos condutores das fases do estator. Este efeito é visível

na Figura 45 ao comparar-se a evolução do campo B num dente do estator com o gerador em vazio e

agora a plena carga.

Figura 45: Variação do campo magnético B num dente do estator do gerador, ao longo de uma rotação completa do rotor, com o gerador em vazio (azul) e a plena carga (verde).

0 5 10 15 20-2

-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

2

t [ms]

B [T

]

Em Vazio

Em Carga

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56

Pelo gráfico da Figura 45, verifica-se que o valor máximo do campo B em carga é cerca de 13.25%

menor que com o gerador em vazio. Isto deve-se à presença de correntes nas fases do estator que

produzem um campo de indução magnética de sentido inverso ao dos magnetos permanentes. Desta

forma, o valor das correntes induzidas no ferro será menor do que na situação de estudo em vazio.

Assim, tal como se pode verificar pela expressão (10), irão existir menos perdas por histerese e por

correntes de Foucault. À semelhança da Tabela 7, apresenta-se na Tabela 15 os valores usados nos

cálculos das perdas no ferro com o gerador a funcionar em plena carga.

Tabela 15: Valores máximos de campo magnético B nas várias zonas do estator com o gerador em plena carga.

Zona 1 Zona 2 Zona 3 Zona 4 Zona 5

𝑩𝒎𝒂𝒙 [𝐓] 1.56 1.16 0.87 0.65 0.19

Amplitude da Harmónica [T]

Harmónica Fundamental (150 Hz) 1.20 0.88 0.63 0.52 0.13

3ª Harmónica (450 Hz) 0.41 0.31 0.25 0.14 0.06

5ª Harmónica (750 Hz) 0.15 0.08 0.14 0.04 0.04

11ª Harmónica (1050 Hz) 0.07 0.05 0.06 0.02 0.02

Utilizando os valores da Tabela 15, assim como a expressão (10), obtiveram-se os valores das perdas

no ferro listadas na Tabela 16.

Tabela 16: Perdas no ferro nas diferentes zonas do estator do gerador em carga plena equilibrada.

Zona 1 Zona 2 Zona 3 Zona 4 Zona 5

Perdas específicas [W.kg-1] 10.48 6.01 4.48 2.15 0.38

Volume [cm-3] 1192.3 129.6 1.15 × 104 120.3 7351

Peso [kg] 9.68 1.05 93.20 0.98 59.69

Perdas totais do gerador [W] 550

Para além das perdas no estator, estimaram-se também as perdas por efeito de Joule no ferro do rotor,

as quais resultaram em aproximadamente 0.038 W. Obteve-se assim um total de perdas de Joule em

todo o ferro do gerador de aproximadamente 550 W. Denota-se que, apesar do valor de perdas no ferro

em plena carga ser menor na sua globalidade do que em vazio, a presença de correntes nas fases do

estator leva a um aumento do valor das perdas no ferro situado no rotor. Este fenómeno ocorre porque

para além da variação da relutância magnética sentia no ferro do rotor, existe também campo de

indução magnética variável neste que é induzido pelas correntes que circulam nas fases do rotor. Por

fim, estima-se que o valor de potência de perdas de joule totais no ferro do gerador é de cerca de 0.61%

da potência nominal da máquina.

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57

Perdas nos magnetos permanentes

Para a obtenção do valor das perdas nos magnetos permanentes, realizou-se a mesma análise que no

ponto 4.3.1.2. Tal como verificado nas expressões (11) a (16), as perdas nos magnetos devem-se a

perdas por efeito de Joule, provocadas por correntes induzidas no material devido à variação do campo

magnético sentida. No estudo em causa, para além da variação da relutância magnética do estator, a

variação do campo magnético nos magnetos é essencialmente devida à presença de correntes nos

condutores das fases do gerador. Estas, segundo a lei de Ampere novamente apresentada em (46),

criam um campo magnético variável no tempo que se fecha pelo material magnético do estator e do

rotor do gerador. Desta forma, existe maiores variações do campo de indução magnética e, por

consequência, maiores perdas por correntes parasitas.

∇ × 𝑯 = 𝑱 (46)

Através da simulação por elementos finitos foi possível obter a distribuição das correntes induzidas no

material magnético, tal como apresentado na Figura 46. Na Figura 47 (a) e (b) representam-se as

evoluções temporais da densidade e do quadrado da densidade de corrente, respetivamente, num

magneto permanente para o funcionamento em plena carga e a uma velocidade de 3000 rpm.

Pela aplicação da expressão (37), obteve-se um valor de potência de perdas médio em cada magneto

permanente de 302.8 W, perfazendo um total de 1816.9 W nos 6 magnetos. Assim, soma-se uma

potência de perdas para o estudo em causa de 2.02% da potência nominal do gerador.

Figura 46: Intensidade da densidade de corrente induzida no material ferromagnético com o gerador em plena carga e a uma velocidade de 3000 rpm.

[m]

[m]

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58

Figura 47: (a) Evolução da densidade de corrente e do (b) quadrado da densidade de corrente num magneto permanente ao longo de uma rotação completa do rotor a uma velocidade de 3000 rpm e com o gerador em plena carga.

4.4.2. Análise térmica do gerador em carga equilibrada

À semelhança do que foi feito no ponto 4.3.2, nesta secção será analisado o comportamento térmico

do gerador quando submetido a uma situação de carga elétrica equilibrada. Uma vez mais pretende-

se verificar a existência de limitações térmicas por parte dos materiais constituintes do gerador,

nomeadamente, nos magnetos permanentes e no isolamento dielétrico dos enrolamentos de cobre.

Nesta situação de operação, é esperado que exista um aumento de temperatura significativamente

mais acentuado que na operação em vazio. Este deve-se à existência de correntes a circular pelos

condutores de cobre das fases que provocam aquecimento devido às perdas por efeito de Joule. Para

(a)

(b)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20-5

-4

-3

-2

-1

0

1

2x 10

6 Evolução temporal da densidade de corrente num magneto permanente

Tempo, t [ms]

Densid

ade d

e c

orr

ente

, J

z [A

.m-2

]

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 200

0.5

1

1.5

2x 10

13

Evolução temporal do quadradro da densidade de corrente

num magneto permanente

Tempo, t [ms]

Densid

ade d

e c

orr

ente

, J

2 z [

A-2

.m-4

]

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59

além disso, o facto de existirem corrente nas cavas do gerador provoca um aumento das perdas por

efeito de Joule nos magnetos permanentes. Este aumento tem origem no facto de o campo de indução

magnética criado pelas correntes circulantes nas cavas aumentar a variação do campo magnético

sentida no material condutor dos magnetos. Desta feita, o aquecimento devido às correntes parasitas

nos magnetos será muito elevado.

Uma vez que o resultado da análise térmica por simulação do modelo do gerador elétrico em elementos

finitos apresenta um maior rigor de que a análise térmica analítica, nesta secção optou-se por apenas

se realizar a análise térmica de elementos finitos. Assim, parametrizando a simulação de acordo com

as condições de operação do gerador e perdas obtidas na secção 4.4.1., obteve-se o seguinte gradiente

térmico apresentado na Figura 48.

Figura 48: Gradiente térmico do gerador elétrico a funcionar em plena carga e à temperatura exterior de -56.5 ºC para uma velocidade de cruzeiro da aeronave.

O resultado obtido mostra, tal como esperado, um aumento significativo da temperatura no interior do

gerador elétrico, obtendo-se temperaturas no intervalo de 4.53 a 1519 ºC. Uma vez mais verifica-se

que as temperaturas mais elevadas estão localizadas no rotor do gerador, sendo a máxima localizada

nos magnetos permanentes (1519 ºC). No ferro do rotor obteve-se também uma temperatura máxima

elevada e próxima do valor obtido nos magnetos permanentes (1516 ºC). Já nos dentes e cavas do

estator obteve-se temperaturas máximas de 93.25 ºC e de 88.08 ºC, respetivamente.

Os resultados obtidos para estas condições de funcionamento do gerador mostram que este é

fisicamente impossível de realizar sem que os seus materiais constituintes de destruam. Assim, para

que esta máquina seja operável sem se degradar é necessário utilizar um sistema de refrigeração que

a permita arrefecer e manter a temperatura de funcionamento dos seus materiais abaixo do seu limite

térmico máximo.

[m]

[m]

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60

Sistema de arrefecimento no gerador

Como se pôde verificar anteriormente, o gerador em estudo apresenta limitações térmicas durante a

sua normal operação. Desta forma, para que este possa ser utilizado sem que se degrade pelas

elevadas temperaturas, é necessário utilizar um sistema de refrigeração de forma a arrefecer o interior

da máquina.

Antes de prosseguir com o dimensionamento do sistema de refrigeração do gerador, é necessário ter

em conta que as análises térmicas realizadas anteriormente dizem respeitos à melhor situação de

operação, no ponto de vista térmico. Isto é, para além da situação em que a aeronave está em altitude

e velocidade de cruzeiro, existem outras fases de voo menos favoráveis em que o gerador também se

encontra em funcionamento. Assim, de seguida será feita a análise térmica da máquina não só para a

situação de voo cruzeiro mas também para as situações de aterragem e descolagem da aeronave.

Para além disso, nestas análises serão tidas em conta as trocas de calor por convecção entre os topos

do gerador e o ar envolvente que até então foram negligenciadas. Dada a grande diferença de

temperaturas entre o ar envolvente e os materiais do gerador, esta troca de calor até então desprezada,

tem um papel importante no arrefecimento da máquina.

Situação de voo a velocidade e altitude de cruzeiro

A situação de voo em velocidade e altitude de cruzeiro é a situação de operação mais favorável, ao

nível térmico, para o gerador elétrico. Nestas condições de voo, a temperatura exterior ao gerador é de

aproximadamente -56.5ºC e a velocidade do ar envolvente é em média de 250,5 m.s-1 [41]. Assim, uma

vez mais recorrendo às expressões (39) a (42), obtém-se um coeficiente de transferência de calor por

convecção com o exterior, ℎ𝑙, de 759 𝑊. 𝑚−2. °𝐶−1.

Para além da troca de calor existente na superfície lateral cilíndrica do gerador, existe também uma

troca de calor nos topos do gerador por convecção entre os enrolamentos das fases do estator e o ar

envolvente. De acordo com [46], vários autores tentaram caracterizar o coeficiente de transferência de

calor, ℎ𝑡, em função da velocidade do ar envolvente, como descrito em (47).

ℎ𝑡 = 𝑘1 ( 1 + 𝑘2 × 𝑣𝑘3) (47)

Em (47), 𝑘1, 𝑘2 e 𝑘3 são constantes empíricas sugeridas por diversos autores na Tabela 17 [47] e 𝑣 é

a velocidade do ar envolvente nos topos do gerador em 𝑚. 𝑠−1. Na Figura 49 é possível verificar a

variação proposta pelos diferentes autores para a velocidades do eixo do gerador compreendidas entre

1000 e 3500 rpm, ou seja, velocidades do ar de 10.9 a 38.12 m.s-1.

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61

Tabela 17: Constantes empíricas de caracterização do coeficiente de transferência de calor nos topos de máquinas elétricas.

Autor 𝒌𝟏 𝒌𝟐 𝒌𝟑

Mellor 15.5 0.39 1

Hamdi 15 0.4 0.9

Schubert 20 0.425 0.7

Stokum 33.2 0.0445 1

Di gerlando 40 0.1 1

Figura 49: Evolução do coeficiente de transferência de calor nos topos do gerador, ht, com a velocidade do ar envolvente segundo Mellor, Hamdi, Schubert, Stokum e Di gerlando.

Da figura anterior, verifica-se o ℎ nos topos do gerador para uma situação de voo cruzeiro, ou seja,

para uma velocidade de rotação do veio do gerador de 3000 rpm, está compreendido entre 81.47 e

213 𝑊. 𝑚−2. °𝐶−1. Dada a variação verificada para o valor de h de acordo com cada autor, nesta análise

optou-se pela utilização do valor médio, ou seja, ℎ = 147.21 𝑊. 𝑚−2. °𝐶−1. É importante referir que se

considerou a utilização de uma ventoinha acoplada ao eixo de rotação do rotor, permitindo obter

velocidades do ar mais elevadas. Assim, para o exemplo de uma velocidade de rotação do veio do

gerador de 3000 rpm tem-se uma velocidade do ar de 32.67 𝑚. 𝑠−1. Na Figura 50 pode ser observado

um exemplo deste sistema num motor elétrico de indução.

Realizando a simulação térmica do modelo do gerador por elementos finitos nas condições enunciadas

e tendo em conta os dados anteriormente obtidos, verificou-se a distribuição térmica apresentada na

Figura 51.

10 15 20 25 30 35 400

50

100

150

200

250

v [m.s-1

]

h [

W.m

-2.º

C-1

]

Mellor

Hamdi

Schubert

Stokum

Di gerlando

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62

Verifica-se também que nesta situação, existe uma gama de temperaturas no interior do gerador no

intervalo de -30.2 ºC a 134 ºC, estando a temperatura mais elevada localizada nos magnetos

permanentes. Neste caso as temperaturas observadas não apresentam qualquer limitação térmica à

operação da máquina.

Figura 50: Motor elétrico de indução com arrefecimento interno, realizado por uma ventoinha acoplada no veio da máquina.

Figura 51: Distribuição térmica do gerador elétrico numa situação de voo cruzeiro, considerando a existência de transferência de calor na superfície lateral e topos deste.

Situação de voo em aterragem/descolagem

Na fase de aterragem e descolagem de uma aeronave, a sua velocidade é consideravelmente inferior

a velocidade de cruzeiro. No caso das aeronaves Boeing, a velocidade de aterragem encontra-se entre

Ventoinha de

arrefecimento

[m]

[m]

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63

os 232 km.h-1 e os 293 km.h-1 consoante o seu modelo [48]. No caso especifico da aeronave utilizada

na modelização da carga elétrica do gerador na secção 3.2. - Boeing 767 - a sua velocidade de

aterragem é, em média, de 269 km.h-1. Já a velocidade de descolagem é aproximadamente de 378

km.h-1 [49]. Desta forma, verifica-se que a situação menos favorável ao arrefecimento do gerador, e

que por isso deve ser analisada, é a fase de aterragem. Assim, considerou-se como referência para

este estudo uma velocidade média de aterragem de 269 km.h-1. Sendo que o coeficiente de

transferência de calor por convecção na superfície lateral do gerador é dependente da temperatura

exterior e que durante a descida da aeronave existe um aumento considerável desta, realizou-se a

análise térmica por elementos finitos para temperaturas compreendidas entre os -50 ºC e os 125ºC

com intervalos de amostragem de 25ºC. Para as temperaturas amostradas, os correspondentes

coeficientes de transferência de calor na superfície lateral do gerador estão apresentados na Tabela

18.

Tabela 18: Valor do coeficiente de transferência de calor na superfície lateral do gerador para as temperaturas analisadas em elementos finitos.

Temperatura [ºC] -50 -25 0 25 50 75 100 125

𝒉𝒍 [𝑾. 𝒎−𝟐. °𝑪−𝟏] 201.69 175.43 147.25 117.27 95.31 92.91 89.6 85.29

Adicionalmente à variação do coeficiente de transferência de calor na superfície lateral do gerador com

a temperatura, é também necessário ter em conta o impacto da redução da velocidade de rotação do

eixo da turbina da aeronave devido à aproximação à pista de aterragem no coeficiente de transferência

de calor nos topos do gerador. Assim, realizou-se a análise térmica para velocidades de rotação

compreendidas entre as 1000 e as 3000 rpm, com amostras de 500 rpm. Na Tabela 19 apresenta-se o

valor do coeficiente de transferência de calor para cada velocidade amostrada.

Tabela 19: Valor do coeficiente de transferência de calor nos topos do gerador para as diferentes velocidades analisadas em elementos finitos.

Velocidade de rotação [rpm] 1000 1500 2000 2500 3000

𝒉𝒕 [𝑾. 𝒎−𝟐. °𝑪−𝟏] 69.18 89.23 108.84 128.14 147.21

Através do estudo da temperatura máxima nos materiais da máquina para as diferentes temperaturas

exteriores e velocidades de operação, utilizou-se a função de ajustamento aos dados, Surface Fitting

Tool, do programa MATLAB para obter as interpolações apresentadas na Figura 52. Estas permitem

verificar em que combinações de temperaturas exteriores e velocidades de operação os limites térmicos

dos materiais são ultrapassados. Nesta figura apenas se apresentam os dados referentes aos

magnetos permanentes e aos enrolamentos do gerador, uma vez que são estes os materiais que

apresentam limitações térmicas mais criticas.

Os resultados obtidos na Figura 52 - (a) permitem concluir que pode haver perigo de desmagnetização

dos magnetos permanentes de NdFeB uma vez que a sua temperatura de Curie é atingida para

algumas combinações de velocidade de rotação e temperatura de exterior. Por exemplo, para a

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64

velocidade de rotação de 1000 rpm, verifica-se que a temperatura nos magnetos permanentes é

sempre superior a 314 ºC para todas as temperaturas exteriores do intervalo investigado. Contudo, é

importante referir que para a análise térmica foi sempre considerada uma operação do gerador em

carga nominal, o que na realidade não deverá acontecer durante a fase aterragem e descolagem da

aeronave. Na prática, durante a fase de aterragem a aeronave desliga parte da carga elétrica que o

gerador suporta, pelo que para se ter a certeza de que os magnetos do gerador atingem o seu limite

térmico é necessário modelizar a sua carga elétrica de forma mais minuciosa. Dada a especificidade

da indústria aeronáutica e a sua elevada confidencialidade nas especificações técnicas, neste trabalho

não foi possível realizar a análise mencionada.

Figura 52: (a) Variação da temperatura máxima sentida pelos magnetos permanentes e (b) enrolamentos de cobre do gerador com a evolução da velocidade de rotação do veio da turbina e temperatura do ar exterior envolvente.

Na Figura 52 – (b), verifica-se que a gama de temperaturas nos enrolamentos de cobre do gerador para

as situações analisadas varia entre os 32 ºC e os 293 ºC. De acordo com [38] a temperatura máxima

admissível pelo isolamento dos condutores de cobre é de aproximadamente 250ºC, que corresponde

ao isolamento de classe C. Este isolamento é normalmente composto por uma resina de

Politetrafluoretileno. Uma vez mais verifica-se que o limite térmico do material poderá ser ultrapassado

caso a temperatura exterior do ar envolvente ao gerador seja elevada (> 50 ºC) e/ou a velocidade de

rotação do eixo seja reduzida. Contudo, de forma a ter uma maior segurança nas temperaturas

atingidas nos enrolamentos de cobre poderá ser introduzido um sistema de arrefecimento dedicado a

estes. Sendo os enrolamentos localizados no estator, ou seja, de acesso mais fácil, poderá optar-se

por várias metodologias de arrefecimento, tais como: arrefecimento por condutas de ar no interior das

cavas, utilização de condutores ocos com circulação de ar no seu interior ou arrefecimento por condutas

de água nas cavas do gerador [50] e [51].

4.4.3. Estudo das perdas com carga desequilibrada

À semelhança da análise realizada na secção 4.4.1 do capítulo 4, nesta secção serão estudadas as

perdas de Joule no gerador elétrico para a situação de carga desequilibrada. Para tal recorreu-se ao

método já utilizado na secção 4.4.1, ou seja, foi feita uma interação entre a biblioteca

(a)(b)

Page 79: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

65

SimPowerSystems da ferramenta de simulação do Simulink e o modelo do gerador elétrico por

elementos finitos.

Neste ponto, definiu-se que o tipo de desequilíbrio presente na carga do gerador elétrico corresponde

à perca de uma das fases das cargas (A, B, C, D, E ou F) apresentadas na secção 3.2.2. Esta falha

nas fases pode ser esquematizada de acordo com a Figura 53 – (a), que representa o caso em que

ocorre uma falha de uma das fases da carga trifásica A. Ao analisar todos os casos possíveis de

ocorrência de falhas nas cargas A a F, verificou-se que para qualquer uma das cargas a perca de uma

das suas fases, caso seja trifásica (A, B, C, E ou F), ou fase no caso da carga monofásica (D),

corresponde a um desequilíbrio entre as correntes fornecidas pelo gerador relativamente pequeno (na

ordem dos 4 A). Verifica-se desta forma que o desequilíbrio causado é pequeno e que é mitigado pela

interligação realizada pelo conversor CA-CA entre o gerador e as suas cargas. Portanto, considerou-

se que o desequilíbrio encontrado pode ser negligenciado, uma vez que não é significativo.

Figura 53: (a) Esquema exemplificativo da ocorrência de uma falha em uma das fases das cargas modelizante do sistema elétrico de uma aeronave. (b) Esquema exemplificativo da ocorrência de uma falha em um das fases do gerador que alimento o conversor CA-CA.

Para além do desequilibro na carga sentida pelo gerador com origem numa falha das cargas a jusante

do conversor CA-CA, Figura 53 – (a), poderá também ocorrer uma falha na ligação do gerador ao

próprio conversor Figura 53 – (b). Nesta situação, verifica-se que a corrente que carrega o condensador

da ligação CC do conversor CA-CA, passa a ser apenas fornecida por duas das fases (B e C) do

90 kVA

Cargas 3- A,B,C

Carga 1- D

Conversor de 12 pulsos

Cargas E,F

3- 200 V

400 Hz

G(PM)

Conversor CA - CA

A

CB

A

C

B

(b)

90 kVA

Cargas 3- B,C

Carga 1- D

Conversor de 12 pulsos

Cargas E,F

3- 200 V

400 Hz

G(PM)

Conversor CA - CA

A

CB

A

C

B

(a)

Carga 3- A

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66

gerador e que deixa de existir corrente na fase onde ocorre a falha (neste caso a fase A). Isto leva a

que o valor que circula nas fases operacionais seja muito mais elevado do que quando o gerador está

em operação normal. O valor das correntes nas três fases pode ser observado na Figura 54. Nesta

figura, a ocorrência do defeito na fase A deu-se aos 30 ms.

Figura 54: Evolução temporal das correntes fornecidas pelas fases A, B e C do gerador elétrico ao conversor CA-CA aquando da ocorrência de uma falha aos 0.03 segundos na fase A.

A existência deste tipo de desequilíbrios nas fases do gerador tem um impacto elevado no

funcionamento termoelétrico do gerador, visto que existirão zonas nos enrolamentos do gerador com

um maior aumento de temperatura e, por consequência, maior probabilidade da sua degradação.

De forma a avaliar o efeito no gradiente térmico do gerador, calculou-se uma vez mais o valor de perdas

de Joule no cobre, núcleo de ferro e magnetos permanentes, tal como realizado para uma situação de

carga equilibrada, 4.4.1.

Perdas no cobre

Para o cálculo das perdas por efeito de Joule nos condutores de cobre realizou-se a mesma estimativa

apresentada no ponto 4.4.1. Para tal, foi necessário analisar o conteúdo harmónico das correntes que

passam pelos condutores de cobre. Na Tabela 20 apresenta-se o valor eficaz das harmónicas mais

significativas que descrevem as ondas de correntes nas fases do gerador após a ocorrência de defeito

em uma fase, Figura 54, assim como o valor de resistência que o condutor apresenta para cada

frequência das harmónicas consideradas de acordo com (4).

A potência de perdas por efeito de Joule para o caso de carga desequilibrada considerado é de

16859 W e representa 18,73 % da potência nominal do gerador elétrico. Verifica-se assim que o valor

de perdas de Joule nos condutores é consideravelmente mais elevado neste caso do que na análise

em carga equilibrada. É de notar que neste caso as perdas nos condutores estão concentrada apenas

e duas das fases provocando uma distribuição térmica radial não linear ao longo do gerador. Isto é, nas

0.02 0.025 0.03 0.035 0.04 0.045 0.05-400

-200

0

200

400

Tempo [s]

Corr

ente

[A

]

Fase A

0.02 0.025 0.03 0.035 0.04 0.045 0.05-400

-200

0

200

400

Tempo [s]

Corr

ente

[A

]

Fase B

0.02 0.025 0.03 0.035 0.04 0.045 0.05-400

-200

0

200

400

Tempo [s]

Corr

ente

[A

]

Fase C

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67

cavas onde se localizam os condutores das duas fases com corrente existem temperaturas mais

elevadas que nas cavas da fase sem corrente.

Tabela 20: Harmónicas mais significativas dos sinais de corrente nas três fases do gerador e respetiva resistência dos condutores a estas. Determinação da potência de perdas no cobre do gerador para a velocidade de 3000 rpm e carga desequilibra.

Ordem das harmónicas mais significativas

1ª H (150 Hz)

3ª H (450 Hz)

5ª H (750 Hz)

7ª H (1050 Hz)

9ª H (1350 Hz)

11ª H (1650 Hz)

13ª H (1950 Hz)

𝑹𝒄𝒂 [Ω] 0.1149 0.6963 1.8533 3.5749 5.845 8.6424 11.9417

Corrente na fase A [A] 0 0 0 0 0 0 0

Perdas fase A [W] 0

Corrente na fase B [A] 102.2 73.57 35.11 10.62 8.31 5.01 3.58

Perdas fase B [W] 8429.42

Corrente na fase C [A] 102.2 73.57 35.11 10.62 8.31 5.01 3.58

Perdas fase C [W] 8429.42

Perdas totais [W] 16858.84

Perdas no ferro

Uma vez mais realizou-se a estimação das perdas por efeito de Joule no núcleo de ferro do gerador

elétrico. Para isso voltou a dividir-se o estator do gerador em 5 regiões, tal como apresentado na Figura

36. Novamente, verifica-se que o valor da intensidade de campo de indução magnética B no núcleo de

ferro não é sinusoidal, Figura 55, pelo que se decompôs este nas suas harmónicas mais significativas,

tal como apresentado na Tabela 21.

Figura 55: Variação do campo de indução magnética B num dente do estator do gerador ao longo de uma rotação completa do rotor para: gerador em vazio (azul), gerador a plena carga (verde) e gerador com carga desequilibrada (vermelho).

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20-3

-2

-1

0

1

2

3

t [ms]

B [

T]

Em Vazio

Em Carga Equilibrada

Em Carga Desequilibrada

Page 82: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

68

Tabela 21: Valores máximos do campo de indução magnética B nas várias regiões do estator com o gerador em carga desequilibrada.

Zona 1 Zona 2 Zona 3 Zona 4 Zona 5

𝑩𝒎𝒂𝒙 [𝐓] 2.09 1.37 1.19 0.75 0.42

Amplitude da Harmónica [T]

Harmónica Fundamental (150 Hz) 1.47 1.01 0.85 0.55 0.26

3ª Harmónica (450 Hz) 0.68 0.48 0.45 0.22 0.14

5ª Harmónica (750 Hz) 0.03 0.03 0.09 0.01 0.03

11ª Harmónica (1050 Hz) 0.06 0.08 0.04 0.01 0.01

Através da expressão (10) e dos dados obtidos na Tabela 21, calculou-se as perdas no ferro

apresentadas na Tabela 22. Verifica-se que as perdas de Joule no ferro para a situação de carga

desequilibrada estudada totalizam 945 W, perfazendo 1.05 % da potência nominal do gerador elétrico.

Tabela 22: Perdas de Joule nas diferentes regiões do núcleo de ferro do estator com o gerador em carga desequilibrada.

Zona 1 Zona 2 Zona 3 Zona 4 Zona 5

Perdas específicas [W.kg-1] 16.37 9.02 7.65 2.67 1.04

Peso [kg] 9.68 1.05 93.20 0.98 59.69

Perdas [W] 158.48 9.49 712.66 2.61 61.82

Perdas totais do gerador [W] 945

Perdas nos magnetos permanentes

Para a obtenção do valor das perdas nos magnetos permanentes, realizou-se a mesma análise que no

ponto 4.3.1. Assim, através da simulação do modelo térmico do gerador por elementos finitos foi

possível obter a distribuição das correntes induzidas no material magnético, tal como apresentado na

Figura 56.

Na Figura 57 (a) e (b) representam-se as evoluções temporais da densidade e do quadrado da

densidade de corrente, respetivamente, num magneto permanente para o funcionamento em carga

desequilibrada e a uma velocidade de 3000 rpm.

Conclui-se que, de acordo com a expressão (35), o valor de perdas médias em cada magneto

permanente é de 462.36 W, perfazendo um total de 2774.16 W nos 6 magnetos. Assim, obtém-se uma

potência de perdas de 3.08 % da potência nominal do gerador.

Page 83: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

69

Figura 56: Intensidade da densidade de corrente induzida no material ferromagnético com o gerador em carga desequilibrada e velocidade de rotação e 3000 rpm.

[m]

[m]

(a)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5x 10

6 Evolução temporal da densidade de corrente num magneto permanente

Tempo, t [ms]

Densid

ade d

e c

orr

ente

, J

z [

A.m

-2]

Page 84: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

70

Figura 57: (a) Evolução da densidade de corrente e do (b) quadrado da densidade de corrente num magneto permanente ao longo de uma rotação completa do rotor a uma velocidade de 3000 rpm e com o gerador elétrico a alimentar uma carga desequilibrada.

4.4.4. Análise térmica do gerador com carga desequilibrada

Após a estimativa das perdas de Joule nos diferentes materiais constituintes do gerador elétrico,

realizado no ponto anterior, pretende-se determinar o gradiente térmico deste. Para tal, recorreu-se

novamente à simulação do modelo térmico do gerador elétrico por elementos finitos. Nesta análise

considerou-se uma situação de voo em altitude e velocidade cruzeiro, com temperatura exterior

de -56.5 ºC. Mais, considerou-se o sistema de ventilação introduzida no ponto 4.4.2. Na Figura 58 está

representado o gradiente térmico do gerador resultante da simulação por elementos finitos. Verifica-se

que o desequilíbrio das correntes elétricas que circulam nas fases do gerador tem um impacto direto

no comportamento térmico deste. Logo, nas cavas correspondentes à fase A (onde não circula corrente

elétrica) a temperatura é mais baixa do que nas cavas correspondentes às fases B e C (onde circula

corrente elétrica). Note-se que a escala de temperaturas utilizada na figura foi ajustada para que sejam

visíveis as diferenças de temperatura entre as cavas de fases B e C e a fase A.

À semelhança dos resultados obtidos anteriormente, verifica-se que as temperaturas mais elevadas

encontram-se no interior do gerador, no rotor, e que temperatura máxima está localizada nos magnetos

permanentes. Esta é de 239 ºC e aproxima-se da temperatura máxima admissível, 250 ºC. Este

resultado mostra que apesar de não haver problemas térmicos numa situação de voo cruzeiro, estes

poderão existir caso a aeronave se encontre numa fase de sobrecarga elétrica ou em fase de aterragem

e/ou descolagem. Assim sendo, o gerador deverá ter um sistema de proteção contra a ocorrência de

desequilíbrios elevados na sua carga que permita isolá-lo e protege-lo em caso de falhas.

(b)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 200

0.5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

4x 10

13

Evolução temporal do quadradro da densidade de corrente

num magneto permanente

Tempo, t [ms]

De

nsid

ade

de

co

rre

nte

, J

2 z [

A-2

.m-4

]

Page 85: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

71

Figura 58: Gradiente térmico do gerador elétrico em funcionamento com carga desequilibrada e à temperatura exterior de -56.5 ºC para uma velocidade e altitude cruzeiro da aeronave.

4.5. Estimativa do tempo de vida útil do isolamento dielétrico do gerador

Tal como introduzido no ponto 2.7 do segundo capítulo, a durabilidade do isolamento dielétrico do

gerador elétrico está fortemente relacionada com as temperaturas de funcionamento deste. Assim, de

forma a poder-se estimar o tempo de vida útil do material isolante é necessário tipificar cenários de

operação do gerador. Portanto, estima-se o tempo de vida útil para o isolamento dielétrico do gerador

para a situação de voo de médio-curso e longo-curso. Entende-se por voos de médio-curso, voos de

duração até 5h e voos de longo-curso, voos de duração superior a 5 horas [52]. Em ambos os casos

distingue-se três pares de tempo e temperatura de operação por cada viagem: voo cruzeiro (𝑡1, 𝑇1),

descolagem (𝑡2, 𝑇2) e aterragem (𝑡3, 𝑇3). Neste estudo, estimou-se um tempo de descolagem de cerca

5 minutos, assim como igual valor de tempo para a realização da aterragem. O restante tempo de

operação, voo cruzeiro, considerou-se uma duração de 5 horas nos voos de médio-curso e 10h nos

voos de longo-curso. A partir das análises térmicas realizadas anteriormente, estimou-se de forma

grosseira uma temperatura máxima no isolamento dielétrico de -55 ºC durante voo cruzeiro, 120ºC

durante a descolagem e 150 ºC durante a aterragem.

Para uma operação do gerador às temperaturas anteriores estima-se um tempo de vida útil

apresentado na Tabela 23.

Tabela 23: Estimativa do tempo de vida útil dos dielétricos isolantes GE-EPR e Gexol-FR para as Temperaturas de 20, 120 e 150ºC.

T1 = -55 ºC T2 = 120 ºC T3 = 150 ºC

𝑳𝒊 (GE-EPR) [h] 2.14 × 1014 3.69 × 103 4.19 × 102

𝑳𝒊 (Gexol-XF) [h] 2.34 × 1016 1.88 × 104 1.63 × 103

[m]

[m]

Page 86: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

72

Recorrendo à tabela anterior, verifica-se que o tempo de vida útil do dielétrico isolante do gerador que

é perdido durante a operação numa viagem é dado pela expressão (48) e corresponde a 0.022 % e

0.006 % para um viagem de médio-curso e isolamentos GE-EPR e Gexol-XF, respetivamente. Já para

uma viagem de longo-curso é de 0.022 % para o isolamento GE-EPR e de 0.006 % para o isolamento

Gexol-XF. Apesar de não ser notório dado o arredondamento, verifica-se que numa situação de voo

longo-curso, a perda de vida útil do material isolante é menor. Verifica-se ainda que o isolamento Gexol-

XF é mais apropriada para utilizações em temperaturas elevadas visto que se degrada mais lentamente

que o GE-EPR. Assim, para a duração das viagens em análise, estima-se os tempos de vida útil do

dielétrico isolante apresentados na Tabela 24.

∑𝑡𝑖

𝐿𝑖

3

𝑖=1

= 𝑡1

𝐿1

+𝑡2

𝐿2

+ 𝑡3

𝐿3

(48)

Tabela 24: Estimativa do tempo de vida útil do dielétrico isolante do gerador elétrico, para aplicação em viagem de médio e longo curso.

Tipo de dielétrico

Tempo de vida útil do dielétrico isolante [anos]

Médio-curso

(5h10min por viagem)

Longo-curso

(10h10min por viagem)

GE-EPR 2.66 5.24

Gexol-XF 10.61 20.88

Dos resultados obtidos conclui-se que a exposição do dielétrico isolante a temperaturas elevadas

provoca uma aceleração da deterioração deste e que por isso se deve optar por um sistema de

arrefecimento das fases do gerador mais eficaz em ocasiões de descolagem e aterragem da aeronave.

Page 87: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

73

5. Conclusões

5.1. Limitações do trabalho e trabalhos futuros

O estudo realizado neste trabalho pretendeu seguir os objetivos apresentados no capítulo 1 contudo,

dada a sua crescente complexidade foi necessário negligenciar fases cruciais do dimensionamento do

gerador elétrico. Isto é, o trabalho presente limitou-se a dar continuidade ao trabalho [11], não tendo

sido abordada uma análise analítica, nem sido realizada a otimização da máquina elétrica inicialmente

proposta. Desta forma, é natural a existência de uma potência de perdas neste gerador que representa

uma percentagem considerável da sua potência nominal. Porém, esta limitação abre as portas a

trabalhos futuros, propondo-se os seguintes:

- Otimização do circuito magnético do gerador – Isto é, minimizar as perdas existentes nos

enrolamentos de cobre e nos magnetos permanentes através da alteração da geometria do gerador,

assim como verificar o impacto na redução das dimensões e aumento da eficiência que a alteração do

número de par de polos poderá ter;

- Otimização do conversor CA-CA – Com o avanço da tecnologia dos semicondutores e mecanismos

de controlo e comando destes poderá existir soluções para a realização deste conversor com uma

maior eficiência e com um volume e peso menores. Exemplos destas soluções poderão ser os

conversores matriciais [53];

- Realização de um protótipo – Apesar do cuidado tido durante a realização do projeto do gerador, por

vezes podem surgir fenómenos inesperados na realização pratica em protótipo, pelo que se sugere a

construção e análise experimental do gerador;

- Estudo do impacto do acoplamento do gerador no veio da turbina – após a realização do estudo

termoelétrico do gerador, é necessário o estudo mecânico e análise do impacto da presença do gerador

no veio da turbina. Este estudo tem uma elevada importância visto que a presença do gerador na

entrada da turbina poderá alterar significativamente o fluxo de ar que entra no andar de compressão

da turbina, assim como o binário resistivo oferecido pelo gerador puder vir a reduzir consideravelmente

o rendimento e propulsão da turbina da aeronave.

5.2. Considerações finais

Ao longo desta dissertação estudou-se uma alternativa à geração de energia elétrica a bordo das

aeronaves. Para tal, foi importante investigar as diferentes estruturas de distribuição de energia elétrica,

verificando-se que o sistema mais usual e com maior afirmação na indústria aeronáutica consiste num

sistema trifásico de tensão eficaz igual a 200 V e frequência de 400 Hz. Assim, como fonte de produção

de energia elétrica, estudou-se um gerador síncrono de magnetos permanente, 90 kW de potência

nominal, 3 pares de polos e velocidade de 3000 rpm. De forma a se obter a frequência elétrica desejada

a partir do gerador em estudo, recorreu-se a um conversor eletrónico de CA-CA, constituído por um

retificador trifásico, um andar CC realizado por um filtro capacitivo e um inversor trifásico com

modulação PWM.

Page 88: Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves · Gerador elétrico integrado em turbinas de aeronaves: Análise térmica para uma localização frontal e acoplamento no eixo

74

Ao longo do capítulo 4, realizou-se a caracterização térmica e elétrica do gerador síncrono proposto.

Para tal, iniciou-se com o estudo das perdas por efeito de Joule existentes para uma operação em vazio

do gerador. Verificou-se que as perdas de Joule com maior relevância são as perdas no ferro, pois as

presentes nos magnetos permanentes são pouco significativas nesta condição. Assim, em vazio,

verificou-se que as perdas de Joule existentes em todo o gerador elétrico totalizam 0.735 % da potência

nominal. Este valor de perdas revela-se muito baixo e, por consequência, não irão existir quaisquer

limitações térmicas ao funcionamento em vazio do gerador elétrico.

Quando em operação a plena carga, apurou-se que existe um aumento significativo nas perdas por

efeito de Joule. Este facto deve-se essencialmente à existência de correntes elétricas a circular nos

condutores de cobre dos enrolamentos do gerador. Para esta situação de funcionamento as perdas no

cobre foram as que apresentaram maior valor, seguidas das perdas de Joule nos magnetos

permanentes.

No total obteve-se um valor de potência de perdas de Joule igual a 13.43% da potência nominal do

gerador quando em carga. Este aumento da potência de perdas de Joule releva-se essencialmente

aquando da análise térmica do gerador elétrico, onde se obteve um aumento da temperatura dos

materiais constituintes para além dos respetivos limites térmicos de funcionamento. Verificou-se ainda

que os materiais em que os limites térmicos foram ultrapassados foram os magnetos permanentes e o

isolamento dielétrico dos enrolamentos de cobre. Como tal, surgiu a necessidade de recorrer a um

sistema de arrefecimento que permita reduzir a temperatura para valores de operação admissíveis. Ao

ter em conta o sistema de arrefecimento na análise térmica do gerador elétrico passou a ter-se

temperaturas abaixo do limite térmico dos materiais. Contudo, conclui-se que poderá haver perigo de

sobre aquecimento do gerador em situações em que este opera durante a descolagem ou aterragem

da aeronave.

Por fim, analisou-se ainda o desempenho do gerador elétrico aquando da ocorrência de falhas nas

fases das cargas ou na falha de uma das suas fases que alimentam o conversor CA-CA. Verifica-se

que a falha das cargas alimentadas pelo conversor CA-CA não cria desequilíbrios significativos nas

correntes fornecidas pelo gerador. Já a falha de uma das fases do gerador, causa um desequilíbrio

acentuado nas correntes fornecidas pelo gerador, criando um aumento da corrente fornecida pelas

fases que se mantêm operacionais para cerca do dobro do seu valor. Neste caso, observou-se a

ocorrência de várias zonas mais quentes nas cavas do estator, nomeadamente nas cavas onde se

encontram as duas fases que se mantêm funcionais, alcançando-se temperatura no limite térmico dos

magnetos permanentes e do dielétrico isolante dos enrolamentos. Para esta situação de operação

desequilibrada, a potência de perdas de Joule perfaz um total de 22.86 % da potência nominal do

gerador.

Por último, realizou-se uma estimativa do tempo de vida útil do dielétrico isolante do gerador elétrico.

Conclui-se que este depende fortemente do tipo de exploração que é feito do gerador, sendo que

diminui com o aumento da temperatura de operação e é mais elevado para temperaturas mais

reduzidas. De acordo com os pressupostos admitidos, estimou-se um tempo de vida útil de cerca de

10 e 20 anos para funcionamentos em aeronaves de voos de médio e longo curso, respetivamente. É

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de salientar ainda que a vida útil do isolamento dielétrico pode ser otimizada com o recurso a sistemas

de refrigeração do gerador mais eficazes que o proposto, especialmente para situações de aterragem

e descolagem da aeronave.

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Anexos

Anexo I - Característica B(H) do material ferromagnético macio Hiperco 50

Tabela 25: Curva de magnetização B(H) do Hiperco 50.

B(T) 0.017 0.7 1.5 1.9 2 2.1 2.15 2.2 2.25 2.267 2.275 2.83

H(A/m) 0 39.75 79.5 159 318 477 715.5 1431 3975 7950 11925 15900

Figura 59: Característica B(H) do material ferromagnético macio Hiperco 50.

0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 160000

0.5

1

1.5

2

2.5Curva de Magnetização B(H) do Hiperco 50

H [A/m]

B [

T]

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