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Boas práticas para o bem-estar na suinocultura
Gestaçãocoletiva de matrizes suínas
BRASÍLIAMAPA2018
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO
Secretaria de Mobilidade Social, do Produtor Rural e do Cooperativismo
PROMOVER O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA AGROPECUÁRIA E A SEGURANÇA E COMPETITIVIDADE DE SEUS PRODUTOS.
2018 - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO.
Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução desde que citada a fonte. A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é do autor.1ª edição. Ano 2018
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA
Ministro de EstadoBlairo Borges Maggi
B823g Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Gestação coletiva de matrizes suínas: boas práticas para o bem-estar na suinocultura / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Mobilidade Social, do Produtor Rural e do Cooperativismo. – Brasília: MAPA, 2018.
55 p.
ISBN 978-85-7991-118-7
1. Suinocultura. 2. Bem-estar. 3. Reprodução animal. I. Agricultura Sustentável. I. Título.
AGRIS L01
Catalogação na fonteBiblioteca Nacional de Agricultura - BINAGRI
Kelly Lemos da Silva – CRB-1 /1880
SECRETARIA-EXECUTIVA - SE/MAPA
Secretário-ExecutivoEumar Roberto Novacki
SECRETARIA DE MOBILIDADE SOCIAL, DO PRODUTOR RURAL E DO COOPERATIVISMO - SMC/MAPA
SecretárioJosé Rodrigues Pinheiro Dória
DEPARTAMENTO DE DESENVOLVIMENTO DAS CADEIAS PRODUTIVAS E DA PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL – DEPROS/SMC
Diretor Pedro Alves Corrêa Neto
EQUIPE TÉCNICA
AutoresJuliana Cristina RibasCleandro Pazinato DiasCharli Beatriz Ludtke
Organização e Revisão TécnicaLizie Pereira Buss
Edição e revisãoLeonardo Medeiros
Produção Gráfica e CapaDUO Design
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Secretaria de Mobilidade Social, do Produtor Rural e do CooperativismoDepartamento de Desenvolvimento das Cadeias Produtivas e da Produção Sustentável Coordenação de Boas Práticas e Bem-estar Animal
Endereço: Esplanada dos Ministérios Bloco D, Edifício Anexo, Ala B, Sala 122Cep: 70.043-900 – Brasília/DFTel: (61) 3218.3233www.agricultura.gov.br
INSTITUTO DE COOPERAÇÃO PARA A AGRICULTURAPublicaçao desenvolvida no âmbito do Projeto de Coorperaçao Técnica: IICA/ABC/MAPA Modernizaçao da Gestao Estratégica do MAPA - BRA/IICA/16/001
Endereço: SHI QI 5, Chácara 16, Lago Sul Cep: 71600-530 - Brasília/DFTel.: (61) 2106-5477 / [email protected]
7 | Introdução
11 | Boas práticas na fase de gestação
15 | Tendência global do mercado
17 | Mudança no sistema de alojamento: o cenário brasileiro
19 | Granjas novas e adaptadas
22 | Alimentação das matrizes na fase de gestação
25 | Tipos de grupos de fêmeas no alojamento coletivo
25 | Sistemas estáticos
26 | Sistemas dinâmicos
29 | Sistemas de alojamento coletivo mais adotados no Brasil
29 | Sistemas tradicionais
30 | Sistema em minibox
33 | Sistemas com alimentação eletrônica
35 | Treinamento de leitoas
37 | Enriquecimento ambiental na gestação coletiva
39 | Formação dos grupos
39 | Transferência pré-implantação dos embriões (cobre e solta)
40 | Transferência pós-implantação dos embriões
43 | Principais falhas observadas nos sistemas coletivos
44 | Aspectos comportamentais que afetam os resultados
47 | Checagem diária e manejo das baias hospital
48 | Baias hospital
51 | Escolha do sistema de alojamento
53 | Considerações finais
54 | Referências bibliográficas
Índice
O bem-estar dos animais de produção está diretamente relacionado à saúde das pessoas e à sustentabilidade. Nesse sentido, o conceito de “saúde única” tem como meta mitigar a resistência antimicrobiana
e garantir a efetividade nos tratamentos de doenças infecciosas tanto em humanos quanto em animais. Com a crescente pressão dos consumidores por sistemas de produção de alimentos mais sustentáveis, vem se adotando, em maior escala, práticas de produção que utilizam técnicas de bem-estar animal e de redução do uso de antimicrobianos. Isso representa um impor-tante fator para a melhoria da produtividade, da qualidade e da inocuidade dos alimentos, contribuindo com a segurança alimentar. Entender o conceito de saúde e de bem-estar animal e aplicá-lo na racionalização do uso de anti-microbianos é fundamental para o sucesso das ações.
Introdução
HOMEM AMBIENTEANIMAL
FIGURA 1: homem, animal e ambiente: conectados em uma só saúde e um só bem-estar.
Fonte: Ludtke e Ribas (2017), adaptado de FAO (2013).
UMA SÓ SAÚDE E UM SÓ BEM-ESTAR
De acordo com a OIE (Organização Mundial de Saúde Animal), o conceito de bem-estar animal envolve a maneira como o animal lida com o seu entorno. Um animal está em boas condições de bem-estar se estiver saudável, con-fortável, bem alimentado, seguro, em condições de expressar suas formas de comportamentos inatos e se não estiver sofrendo dores, medo ou angústia.
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Gestação coletiva de matrizes suínas
As boas condições de bem-estar exigem prevenção de enfermidades, administração e tratamentos veterinários apropriados, abrigo, alimentação, manejo e abate huma-nitário. O conceito de bem-estar animal, portanto, refere--se ao estado do próprio animal. A forma de tratar o animal se designa-se com outros termos, como cuidado com os animais, criação ou tratamento humanitário.
Ampliando o entendimento sobre o tema, autores como Mellor e Reid (1994) estabeleceram a definição dos cinco domínios que podem afetar o bem-estar animal: nutrição, ambiente, saúde, espaço físico e, por fim, o estado mental.
Neste contexto, o projeto Welfare Quality (www.welfare-quality.net) desenvolveu um protocolo para a mensuração do bem-estar animal, definindo quatro princípios para que o bem-estar dos animais seja atendido:
» Os animais são alimentados de forma correta? » Os animais são alojados de forma adequada? » O estado sanitário dos animais é adequado? » O comportamento dos animais reflete um estado
emocional adequado?
Esses quatro princípios são o ponto de partida de um con-junto de 12 critérios em que qualquer sistema de mensura-ção do bem-estar dos suínos deveria se basear, tais como:
» Ausência de fome prolongada; » Ausência de sede prolongada; » Conforto em relação a área de descanso; » Conforto térmico nas instalações; » Facilidade de movimento; » Ausência de lesões; » Ausência de doenças; » Ausência de dor causada por práticas de manejo
(corte de cauda, desgaste de dentes); » Expressão de comportamento social adequado, de
forma que exista um equilíbrio entre os aspectos negativos (como agressividade) e positivos;
» Expressão adequada de outros comportamentos, de forma que exista um equilíbrio entre os aspectos negativos (como estereotipias) e positivos;
» Interação adequada entre os animais e seus tratado-res, de forma que os animais não manifestem medo em relação às pessoas que os manejam;
» Ausência de medo.
FIGURAS 2 e 3: alojamentos coletivos de matrizes suínas com enriquecimento ambiental e formação de grupos divididos por baias.
Modelo de produção baseado nos requerimentos de bem-estar da espécie.
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Gestação coletiva de matrizes suínas
A gestação coletiva de matrizes suínas é o tema relacionado ao bem-estar mais debatido nos diferentes públicos que gravitam ao redor da produção desta espécie, desde pro-dutores, agroindústrias, redes de varejo e de fast food, até o público consumidor. A razão do intenso debate deve-se, por um lado, ao impacto econômico acarretado pela mudança do sistema tradicional de produção em celas individuais para o modelo coletivo e, por outro, à degradação do bem--estar dos animais no sistema de produção convencional.
A manutenção de fêmeas gestantes em celas individu-ais na condição de extremo confinamento não condiz com nenhum padrão ético nem científico de bem-estar animal. Isso porque submete os animais a condições que limitam
movimentos e comportamentos fisiológicos inerentes da espécie, como o ato de deitar e levantar, a exploração do ambiente, a escolha voluntária de locais para defecar e urinar, e também a interação adequada com seus pares.
A transição do sistema de gestação individual para a cole-tiva é uma demanda de mercado inadiável, com a qual o setor produtivo precisa se ajustar em favor da sobrevida de seu negócio. E ainda que se trate de uma mudança sem volta, ela representa uma oportunidade para a suinocul-tura brasileira demonstrar seu dinamismo frente a este novo desafio por meio de uma adesão rápida ao novo sis-tema, mantendo a competitividade da carne suína no mer-cado global.
Crédito: Seara Alimentos
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Gestação coletiva de matrizes suínas
Boas práticas na fase de gestação
A adoção de boas práticas na suinocultura assegura a oferta de ali-mentos mais seguros para os consumidores e torna os sistemas de produção mais rentáveis e competitivos. Com base no avanço dos
conhecimentos sobre fisiologia, etologia e produção suína, podemos estabe-lecer um comparativo entre os sistemas de produção em celas individuais e em baias coletivas.
VANTAGENS DESVANTAGENS
CELA INDIVIDUAL
Alimentação individualizada.
Fácil supervisão.
Evita brigas.
Alta incidência de estereotipias.
Conduta apática.
Interações sociais mal resolvidas.
Lesões nos pés e pernas.
Infecções urinárias em decorrência do baixo consumo de água e movimento reduzido.
BAIA COLETIVA
Interação entre os animais.
Redução do estresse.
Redução de problemas sanitários.
Diminuição de estereotipias.
Desafios estruturais com relação ao piso.
Eventual aumento de problemas locomotores.
Aumento de brigas.
Desafios relacionados a competição por alimentação.
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Gestação coletiva de matrizes suínas
GRÁFICO 1: redução significativa de estereotipias ao longo do
tempo de gestação, segundo o tipo de alojamento. As estereo-
tipias são comportamentos anormais ligados ao estresse crô-
nico, e são indicativo importante, pois impactam a reprodução e
a saúde dos animais.
Além de melhorar o bem-estar dos animais, o manejo das fêmeas suínas pelo sistema de gestação coletiva propor-ciona vantagens em termos de produtividade e uma maior segurança para o trabalhador. O Código Canadense de Boas Práticas enumerou uma série de pontos relaciona-dos aos sistemas de alojamento na fase de gestação que devem ser considerados pelos técnicos e produtores do segmento (NFACC, 2014):
» É possível obter produtividade e saúde igual ou supe-rior no alojamento coletivo;
» Os grupos estáticos são melhores que os dinâmicos em termos de bem-estar animal;
» O exercício físico durante a gestação melhora o desempenho das fêmeas no parto;
» No intervalo desmame cio, as fêmeas podem ser mantidas em celas ou em baias. Mas o estresse rela-cionado ao desmame, secagem do leite e entrada em estro associado a agressões do reagrupamento pode se tornar um desafio e afetar negativamente o bem- estar se essa fase não for bem manejada;
» As agressões entre as fêmeas de um mesmo grupo não podem ser eliminadas completamente, mas é possível proteger os indivíduos vulneráveis (nulíparas e primíparas);
» Leitoas que são reagrupadas três a quatro vezes antes do quinto mês de idade expressam menos agressividade que leitoas sem experiência prévia de reagrupamento.
PORCENTAGEM DE ESTEREOTIPIAS VERSUS
TRATAMENTO E DIAS DE GESTAÇÃO
DIAS DE GESTAÇÃO
0-3 21-24 42-45 100-105
COBRE E SOLTA GESTAÇÃO COLETIVA COM 35 DIAS GESTAÇÃO EM CELA
0
15
5
20
30
10
25
35
40
Fonte: Citado por Ribas et al.(2014) e retirado de Perini, J.E.G.N (2017).
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Gestação coletiva de matrizes suínas
Tendência global do mercado
A mudança do manejo da gestação individual para um sistema de aloja-mento coletivo tem sido exigido em muitos países por meio de norma-tivas de proteção e de bem-estar dos animais. Este sistema produtivo
tornou-se uma premissa para a produção de suínos, tendo-se estabelecido datas limites para a conversão das unidades antigas, além da proibição da construção de novas granjas que utilizam o sistema de alojamento individual.
A União Europeia está na vanguarda destas mudanças. Por meio da Diretiva 2008/120/CE, desde 2013 todas as matrizes suínas devem ser alojadas cole-tivamente. Esta normativa é o marco mais importante na transição de sis-temas de alojamento. Seguem essa tendência países como Canadá e Nova Zelândia, além de muitos Estados americanos.
Há que se esclarecer, entretanto, que em alguns locais, o banimento das celas de gestação não compreende todo o período da gestação. Nesses locais, a normativa vigente prevê que parte do período gestacional ocorra em celas individualizadas. A normativa da União Europeia, por exemplo, permite que as fêmeas sejam alojadas em celas individuais até o 28º dia da gestação e nos últimos sete dias (VER FIGURA 6).
Entretanto, desde de que atendam às normas gerais dos tratados de proteção dos animais, os países da União Europeia têm liberdade para aplicar em seus territórios normas mais rígidas de bem-estar do que aquelas determinadas na
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Gestação coletiva de matrizes suínas
FIGURAS 4 E 5: à esquerda, alojamento individual de matrizes
suínas;à direita, sistema coletivo.
FIGURA 6: modelo europeu de gestação coletiva de suínos (tempo decorrido em semanas)
Fonte: Dias (2014) / Créditos: Acervo pessoal autores
diretiva. A Holanda, por exemplo, exige que o alojamento coletivo de fêmeas suínas seja iniciado no quarto dia após a cobertura. No Reino Unido, o alojamento coletivo deve ser contínuo, incluindo o intervalo desmame cio e o parto. Na Suécia, as fêmeas devem estar sempre em grupo, exceto na semana que antecede a data prevista do parto.
Paralelamente às normativas governamentais, mui-tas empresas do segmento da alimentação, como redes varejistas e grandes cadeias de fast food, anunciaram de forma voluntária que passarão a adquirir carne suína somente de empresas que adotam o alojamento coletivo de fêmeas gestantes.
COBERTURA
INDIVIDUAL
DIRETIVA 2008/120/CE
COLETIVO
1 3 5 7 9 11 13 152 4 6 8 10 12 14 16
PARTO
Créditos: World Animal Protection (fig. 4) / Seara Alimentos (fig. 5)
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Gestação coletiva de matrizes suínas
Mudança no sistema de alojamento: o cenário brasileiroMesmo sem uma normativa que trate do tema, no Brasil o posicionamento das empresas processadoras de carne suína é influenciado pelo mercado, que de forma proa-tiva vem aderindo gradativamente ao sistema de aloja-mento coletivo.
Até o momento, a migração de sistema no Brasil já rece-beu a adesão das maiores empresas nacionais do ramo alimentício, que comprometeram-se publicamente com a substituição do sistema de alojamento contínuo de matrizes suínas em celas pelo uso de baias coletivas. Esta mudança contempla suas próprias granjas e também as de seus parceiros integrados ou cooperados. O prazo final estabelecido para o cumprimento da transição foi de 2025-2026.
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Gestação coletiva de matrizes suínas
Granjas novas e adaptadas
Diante da necessidade de se adotar o sistema de alojamento coletivo, o produtor terá duas opções: adaptar as unidades ainda em opera-ção ou construir novas unidades a partir de um projeto integralmente
concebido para esse sistema produtivo. Essa decisão deverá ser tomada de acordo com critérios como: vida útil da granja atual e amortização do investi-mento já realizado, prazo de conversão determinado pelo mercado, produção esperada e o custo de um projeto totalmente novo diante do tempo de amor-tização. Vale considerar que, embora o investimento em um projeto novo seja maior em comparação com a adaptação de uma unidade, os custos se diluem ao longo do período de amortização da granja, que gira em torno de 20 anos.
No caso de se decidir por adaptar granjas em atividade, é preciso remover as celas ou deixá-las abertas, permitindo que as matrizes entrem e saiam quando desejarem. Também é necessário recalcular a produção a partir da área recomendada por matriz, adaptar os pisos e o sistema de escoamento dos dejetos e criar corredores de manejo. Nesta condição, ocorre redução do inventário, mas os impactos na produtividade durante a fase de transição podem ser reduzidos dependendo da capacidade técnica e de gestão da uni-dade. No contexto brasileiro, a dúvida incide sobre o custo da transição caso mantido o mesmo inventário.
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Gestação coletiva de matrizes suínas
CATEGORIA REPRODUTIVA
SUPERFÍCIE TOTAL DE PISO LIVRE (m2 /ANIMAL) SUPERFÍCIE MÍNIMA DE PISO CONTÍNUO COMPACTO
(m2 /ANIMAL) ***GRUPO < 6 ANIMAIS *
GRUPO ENTRE 6-39 ANIMAIS
GRUPO ≥ 40 ANIMAIS **
Leitoas pós cobertura
1,81 1,64 1,48 0,95
Porcas gestantes 2,48 2,25 2,03 1,30
* Em grupos menores de seis indivíduos a superfície total de piso livre se incrementará em 10%.** Em grupos maiores ou iguais a 40 indivíduos a superfície total de piso livre poderá ser reduzida em 10%. *** Desta superfície mínima de piso contínuo compacto, no máximo 15% poderá ser de aberturas de drenagem. Em vigor desde 01 de janeiro de 2013.
TABELA 1: superfície total de piso livre por matriz no período de reprodução segundo a Diretiva 2008/120/CE.
Superfície livre
Independentemente de a granja ser nova ou adaptada, a superfície instalada de piso livre por matriz no sistema coletivo é a mesma. A legislação europeia recomenda 1,64 m2 por leitoa pós cobertura e 2,25 m2 para porcas gestan-tes. Estes valores, entretanto, podem variar em 10% para mais ou para menos de acordo com o tamanho do grupo
(VER TABELA 1 A SEGUIR).
A superfície livre é a área disponibilizada ao animal sem obstáculos e que permite o seu movimento (levantar-se, deitar-se e descansar). Os espaços ocupados por come-douros, bebedouros, e corredores de manejo, por exem-plo, não devem ser contabilizados como superfície livre (VER FIGURAS 7 E 8).
FIGURAS 7 e 8: Exemplos de layout de baia de gestação coletiva
com a definição das áreas livres para as atividades (piso ripado) e
para o descanso (piso compacto).
Créditos: Seara Alimentos
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Gestação coletiva de matrizes suínas
No desenho do espaço livre deve-se considerar uma área coletiva maior e áreas de fuga menores, que auxiliam na dinâmica de interação dos animais e reduz brigas, princi-palmente quando há quebra da hierarquia social e disputa por ração e água. Na área maior acontecem as atividades principais, como alimentação e defecação. Já as baias menores são usadas para o descanso ou para a fuga. As baias menores também contribuem para a formação de subgrupos sociais entre as porcas que se mantêm próxi-mas por afinidade.
Piso
A recomendação da Diretiva Europeia é de uso de pisos ripados com no mínimo 80 mm de largura das vigas (ripas) e 20 mm máximo das aberturas de drenagem. Tal requi-sito é válido tanto para porcas como para leitoas no perí-odo de gestação.
Vale pontuar que produtores brasileiros e norte-ameri-canos obtiveram bons resultados em termos de drena-gem de dejetos e de limpeza dos animais utilizando pisos de 150 mm de largura de vigas com até 27 mm de abertu-ras de drenagem.
De qualquer maneira, para obter bons resultados técnicos e de conforto para os animais não basta apenas um bom projeto dos pisos, mas também garantir a qualidade fabril e a resistência dos ripados. Na prática, os mesmos não podem ter arestas cortantes e desníveis. Devem ter aber-turas uniformes, que facilitam a caminhada dos animais e o desgaste uniforme dos cascos, além de evitar com que as unhas fiquem presas
Climatização
O investimento em climatização é outro ponto que merece ser analisado, tanto nos projetos de adaptação como nas unidades novas. O conforto térmico proporciona um aumento do bem-estar dos animais e também dos funcio-nários, resultando em uma melhora na produção. Para o clima brasileiro, o uso de sistema de ventilação por pres-são negativa torna-se uma boa alternativa visando à manutenção da zona de conforto térmico das fêmeas.
Buscar entender o comportamento dos animais den-tro das instalações é fundamental na avaliação de con-forto térmico: matrizes ofegantes apresentam estresse oriundo do calor, matrizes com pelos arrepiados ou amon-toadas demonstram estresse por frio. Em ambos os
FIGURA 9: unha lesionada por fresta inadequada de ripado.
Crédito: Acervo pessoal autores
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Gestação coletiva de matrizes suínas
casos, é fundamental realizar medidas corretivas para melhorar o bem-estar dos animais.
Alimentação das matrizes na fase de gestaçãoAs matrizes de linhas genéticas selecionadas para produ-zir maior rendimento de carne e menor deposição de gor-dura necessitam de controle individual do consumo de ração para evitar a obesidade. O que é um controle rela-tivamente fácil em alojamento individual, torna-se um desafio no alojamento coletivo em decorrência da compe-tição pelo alimento – dependendo do sistema de alimenta-ção este desafio será maior ou menor.
A Diretiva 2008/120 orienta que as fêmeas gestantes rece-bam uma quantidade suficiente de alimentos volumosos ou ricos em fibras voltadas para amenizar a sensação de fome e suprir a necessidade de mastigação. (VER FIGURA 10). O alto teor de fibra alimentar na dieta aumenta o tempo de ingestão e a saciedade, proporcionando uma redução na frequência das estereotipias, conforme resultados descri-tos por Ramonet et al (1999) e Bernardino et al (2016);
Com este propósito, a Alemanha exige e especifica que o conteúdo de fibra na matéria seca seja de pelo menos 8%, garantindo que a fêmea ingira um mínimo de 200 gra-mas de fibra diariamente.
Nas condições em que se utilizam materiais comestíveis e de qualidade superior como enriquecimento, a exem-
FIGURA 10: adequação da dieta é importante para sensação de
saciedade durante o período gestacional da fêmea suína.
plo da palha e do feno, as quantidades ingeridas podem cumprir a função de componente fibroso da dieta, pois apoiam tanto na redução da saciedade, quanto no com-portamento inato da espécie de exploração pela busca pelo alimento. Nesses casos, recomenda-se a disponibi-lização para cada matriz de um mínimo de 100 gramas de fibra por dia.
Crédito: Acervo pessoal autores
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Gestação coletiva de matrizes suínas
Tipos de grupos de fêmeas no alojamento coletivo
Os modelos de alojamento em grupo para fêmeas suínas gestantes recebem duas classificações baseadas no manejo: os estáticos e os dinâmicos.
Sistemas estáticosOs grupos estáticos são aqueles formados por fêmeas de mesma idade ges-tacional e mantidos sem a incorporação de novas matrizes durante todo o período de gestação [VER FIGURA 11]. Neste sistema, é possível adotar o manejo “todos dentro/todos fora”, em que todos os animais entram e saem ao mesmo tempo da baia alojada. Para estabelecer os grupos, é recomendável for-mar unidades pequenas e homogêneas, de no máximo 20 indivíduos, con-siderando a fase de gestação, a idade e a condição corporal das matrizes. Neste modelo, só se excluem os animais que abortam ou que, por proble-mas de saúde, precisam ser removidos para as baias enfermaria. Este tipo de manejo apresenta uma menor incidência de lesões, conforme descrito por Li e Gonyou (2013).
25
Gestação coletiva de matrizes suínas
Sistemas dinâmicosOs grupos dinâmicos são aqueles formados por matrizes em diferentes períodos gestacionais e que permitem a introdução e a saída dos animais para proporcionar apro-veitamento máximo do lote. O sistema possibilita a forma-ção de grupos maiores, de até 240 indivíduos, mas requer a adoção de equipamentos de alimentação eletrônica. O inconveniente deste sistema é a constante alteração do quadro hierárquico entre os animais, pelo que o controle da agressividade torna-se um desafio (Li e Gonyou, 2013), conforme demonstrado na TABELA 2. Para reduzir as intera-ções negativas neste sistema, recomenda-se que a intro-dução de novos indivíduos seja realizada em grupos de, no mínimo, três animais (VER FIGURA 12).
TABELA 2: frequência de problemas em fêmeas alojadas em sis-
tema eletrônico de alimentação, de acordo com a forma de
manejo do grupo.
GRUPO ESTÁTICO GRUPO DINÂMICO
% de matrizes mancando
1,6 a 5,4 b
Escore de lesões antes do parto
5,7 a 6,2 b
a,b médias seguidas por letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente (p<0,05) .
Fonte: Li e Gonyou, (2013)
FIGURA 11: representação esquemática de grupos estáticos.
Fonte: Adaptado de Ribas et al. (2015)
Fonte: Adaptado de Ribas et al. (2015)
FIGURA 12: Representação esquemática de grupos dinâmicos.
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3Gestação 1 Gestação 2 Gestação 3
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Gestação coletiva de matrizes suínas
Sistemas de alojamento coletivo mais adotados no BrasilSistemas tradicionais
O modelo tradicional de gestação coletiva é composto por baias com um número reduzido de animais, formado por grupos estáticos e com for-necimento de ração de forma manual ou automática (FIGURA 13). Nesta
situação, a ração é oferecida em quantidades iguais para todas as fêmeas do grupo, porém a ingestão varia segundo a hierarquia dos animais. Este modelo não é novidade para a suinocultura brasileira, pois é utilizado há várias déca-das pelos produtores. O principal desafio neste modelo é a manutenção do escore corporal adequado dos animais e a gestão do desperdício de alimento.
29
Gestação coletiva de matrizes suínas
Neste sistema de arraçoamento no chão, é importante haver uma distribuição uniforme dos drops de alimentos, que devem estar dispostos na área compacta. Isso permite um melhor aproveitamento da ração e reduz as disputas entre os animais. Os bebedouros devem ser alocados na área ripada, uma vez que as matrizes tentem a defecar nas áreas mais úmida da baia (VER FIGURA 14).
Sistema em miniboxNeste sistema, a ração é fornecida em comedouros lineares com divisórias individuais ou diretamente no piso, por meio da utilização de drops. As divisórias individuais são metáli-cas e reduzem as disputas no momento do arraçoamento, tornando mais uniforme a alimentação entre os indivíduos.
FIGURA 13: sistema tradicional de alojamento coletivo de
matrizes gestantes
FIGURA14: Layout de baia para distribuição de ração no piso com capacidade para 30 fêmeas.
Crédito: Seara Alimentos
Fonte: Connor et al. 2014
Piso ripado
Piso concreto
Parede da baia
Comedouro
Bebedouro
6 m 3 m
1,80 m
2,40 m
3 m
30
Gestação coletiva de matrizes suínas
Para cada matriz, é necessário assegurar que exista um miniboxe de 45 a 50 cm de largura, com a altura da espalda do animal (VER FIGURA 17). Essas dimensões impedem que duas fêmeas entrem juntas no boxe ou desloquem a outra durante a alimentação. O sistema possibilita melhor con-trole do escore corporal, porém deve ser manejado em grupos estáticos e pequenos de animais, permitindo a manutenção constante da hierarquia.
No sistema de minibox é fundamental separar as fêmeas por tamanho, mantendo nuliparas e primíparas em grupos distintos. Uma das principais vantagens deste sistema é a facilidade de manejo dos animais nas baias.
FIGURAS 15 E 16: sistema de alojamento em minibox utilizado para
matrizes suínas em gestação coletiva.
FIGURA 18: Detalhamento da dimensão do box, que deve seguir até
a altura da espalda do animal, reduzindo a disputa no momento da
alimentação.
FIGURA 17: layout de baia com miniboxes para até 20 animais. Neste
exemplo, o fornecimento de água se dá pela calha de alimentação.
Créditos: Acervo pessoal autores Crédito: Acervo pessoal autores
Fonte: Connor et al. 2014
Piso ripado
Piso concreto
Mini box
Divisória de PVC(mureta vazada)
6 m 4 m
1 m
1 m
4,5 m
31
Gestação coletiva de matrizes suínas
Sistemas com alimentação eletrônica
Conhecido como ESF (do inglês electronic sow feeding), ou estação com controle eletrônico de alimentação, este sistema dispõe de um chip eletrônico aplicado na orelha do animal. Este chip é lido pelo sen-
sor presente na entrada da estação de alimentação, que assim fornece uma quantidade de ração determinada pelo operador do sistema integrado da granja e ajustada à necessidade de cada matriz.
No sistema ESF, trabalha-se com a curva de alimentação individual. Isso sig-nifica que as matrizes receberão uma dieta específica de acordo com o perí-odo da gestação, o estado corporal do animal e o ciclo de parição. O controle alimentar resulta em maior uniformidade da leitegada e em redução dos des-perdícios com ração.
Este modelo é voltado para uma produção em maior escala, pois permite a formação de grupos maiores em sistema dinâmico, otimizando a capacidade da instalação e reduzindo espaços ociosos.
33
Gestação coletiva de matrizes suínas
O principal desafio neste sistema é o treinamento dos ani-mais para a alimentação através das máquinas. É impor-tante atentar-se à recomendação do fabricante a respeito do número de fêmeas por cada estação de alimentação, uma vez que a disputa na entrada do comedouro culmina em agressões no momento de maior busca por comida.
FIGURA 22: disputa na entrada da estação de alimentação pode
gerar lesões de pele e mordedura de vulva.
Um outro modelo já disponível no mercado, entretanto, simplifica o treinamento dos animais, sem impactar na precisão da alimentação individual. Na estação eletrônica de livre acesso, a alimentação também é controlada a par-tir das informações do chip aplicado na orelha da matriz, mas o treinamento do animal resume-se à sua saída da gaiola (VER FIGURA 23).
Crédito: Acervo pessoal autores
Créditos: Granja Miunça
FIGURAS 19, 20 e 21: imagens de sistema ESF. Na primeira foto à
esquerda, alimentação individual na maquina, seguido por layout
da baia e (última foto à direita) sistema de software para controle
integrado dos animais e sistema de alimentação.
34
Gestação coletiva de matrizes suínas
FIGURA 23: sistema de alimentação eletrônica utilizado para matrizes
suínas em gestação coletiva (free access ESF systems – ESF)
FIGURA 24: exemplo de layout de
sistema ESF para grupos de até
150 matrizes. A área ao redor das
máquinas de alimentação per-
mite maior espaço para as dis-
putas resultantes do acumulo de
animais próximos a estação em
alguns períodos do dia.
Treinamento de leitoasNos sistemas ESF é necessário realizar o treinamento das leitoas para que elas aprendam a entrar na máquina para se alimentar (VER FIGURA 25 E 26). Portanto, o treinamento das leitoas é uma etapa essencial para garantir o sucesso na implantação do sistema Esse treinamento costuma ser dividido em três fases:
0,6 m0,6 m
2 m
2 m
180˚
Canto (pelo menos 3m)
Espaço para 6-11 fêmeas
3 m
3 m
3 m
3 m
1,70 m
1,70 m
15 m
Crédito: Acervo pessoal autores
Fonte: Connor et al. 2014
Piso ripado Cerca de PVC
Piso concreto
Parede da baia
ESF
Bebedouro
Área de separação Separador de animais
35
Gestação coletiva de matrizes suínas
FASE 1 (DURAÇÃO DE 1-2 SEMANAS): com a máquina des-ligada, estimula-se a passagem das matrizes uma ou duas vezes ao dia para que elas aprendem a se alimentar den-tro do equipamento. Nesta etapa, os animais perdem o medo do equipamento e associam a informação de que há comida dentro dele.
FASE 2 (DURAÇÃO DE 1-2 SEMANAS): com uma parte das funções da máquina acionada, estimula-se a passagem das leitoas uma ou duas vezes ao dia para que elas acostu-mem a se alimentar desta forma.
FASE 3 (DURAÇÃO DE 2-3 SEMANAS): com todas as fun-ções do equipamento ligadas, assegura-se que as leitoas tenham se adaptado plenamente à máquina.
Nas fases 1 e 2 é fundamental que o manejador auxilie e estimule a condução das leitoas através da máquina por
FIGURAS 25 e 26: baias de treinamento de leitoas no sistema ESF.
Os animais devem habituem-se a passar pelas estações para
ingerir a ração.
FIGURAS 27 e 28: ausência e presença de luz na frente do come-
douro. A luminosidade encoraja a entrada dos animais na
máquina de alimentação, aumentando o sucesso do treinamento.
Créd
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PIC
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DB
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IC
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meio de incentivos positivos, permitindo que elas percam o medo do equipamento e das pessoas que trabalham no processo de condução e verificação dos animais. Para o sucesso do treinamento, recomenda-se a disponibilidade de uma equipe direcionada para este fim, na proporção de um colaborador para um plantel de 2000 matrizes.
Enriquecimento ambiental na gestação coletivaO enriquecimento ambiental tem como objetivo atender à necessidade de explorar dos suínos -- um comportamento natural da espécie. Este é um importante requerimento para o bem-estar de animais criados em sistemas confi-nados tradicionais.
Essa prática reduz interações negativas, como agressões e mordedura de vulva, diminui as estereotipias, aumenta os comportamentos positivos e, assim, melhora a qua-lidade de vida dos animais. O enriquecimento ambiental ajuda a manter as fêmeas “dominantes” mais ocupadas e diminui o assédio entre as colegas de grupo.
FIGURA 29: exemplo de enriquecimento para matrizes em gestação
FIGURA 30: enriquecimento ambiental com o uso de cordas para
mascar
A Diretiva 2008/120/CE da União Europeia traz orienta-ções a respeito do uso de materiais de enriquecimento ambiental recomendados para suínos de todas as idades. Os materiais indicados são palha, feno, madeira, serragem, compostos de champignon, turfa ou uma mescla de todos.
Para haver uma expansão no uso dos materiais de enri-quecimento ambiental para suínos de diferentes idades, é necessário encontrar soluções econômicas, funcionais e sanitariamente adequadas.
Caso a granja tenha dificuldade de implantar o uso dos mate-riais considerados ideais, alternativas devem ser buscadas. As características ideais dos materiais de enriquecimento ambiental são: mascáveis, comestíveis, investigáveis e manipuláveis. Entre os materiais que também podem ser utilizados estão as cordas de sisal ou de algodão, madeiras penduradas, maravalha, casca de arroz e cana de açúcar.
Crédito: BRF
Crédito: Acervo pessoal autores
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Gestação coletiva de matrizes suínas
Formação dos grupos
O momento para a formação dos grupos de matrizes gestantes em rela-ção ao ciclo produtivo, ou seja, a transferência das fêmeas das celas individuais para as baias coletivas, deve ocorrer fora da fase mais crí-
tica para a sobrevivência do embrião, que é entre o sétimo e o vigésimo quarto dia de gestação. Durante este período, o risco de perdas reproduti-vas, como reabsorção e abortos, é muito alto (Souza, 2009). Consequente-mente, devemos transferir as fêmeas antes ou depois dessa fase crítica (VER
FIGURA 31).
Transferência pré-implantação (cobre e solta)As legislações do Reino Unido e da Suécia determinam a manutenção das fêmeas em grupos durante todo o período de gestação, o que apresenta van-tagens e desvantagens. Nestas situações, as matrizes são transferidas para as baias de gestação logo após a última inseminação – um sistema conhe-cido como cobre e solta. Para o sucesso deste modelo, as fêmeas devem ser soltas, no máximo, dois dias após o fim da inseminação para que as brigas oriundas do processo de formação de hierarquia aconteçam antes da implan-tação do embrião.
VANTAGENS DO SISTEMA COBRE E SOLTA: » Estabelecimento precoce do quadro hierárquico do grupo, mantendo-se
mais estável ao longo da gestação; » Menos riscos de reabsorções embrionárias por estresse, uma vez que
as brigas ocorrem nos primeiros cinco dias da formação do grupo. Neste
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Gestação coletiva de matrizes suínas
período, o embrião não sofre influência dos hormô-nios maternos;
» Eliminação total do sistema de celas na fase gesta-cional.
DESVANTAGENS DO SISTEMA COBRE E SOLTA: » Necessidade de mais espaço; » Menor controle sobre o estado corporal; » Maior susceptibilidade a erros de agrupamento.
Transferência pós-implantação dos embriõesNesta condição, as matrizes permanecem no mínimo qua-tro semanas (28 dias) em celas individuais antes de serem transferidas para as baias coletivas. O mais seguro é o rea-grupamento com 35 dias, após o término da formação placentária. Como a movimentação das fêmeas e rea-grupamento ocorre após a implantação dos embriões, há baixo risco de perdas reprodutivas.
FIGURA 31: Esquema representativo da fase embrionária da gestação de suínos. A fase de nidação dos embriões, que ocorre entre o
sétimo e o 24º dia após a fecundação, é a mais crítica. Consequentemente, neste período devemos evitar a transferência das matrizes.
Fonte: Adaptado de Souza, 2009
Fecundação Eclosão do embrião (blastocisto)
Migração dos embriões para o útero
Fixação do embrião no útero, formação e
crescimento da placenta
Influência dos hormônios maternos sobre os embriões
FASE EMBRIONÁRIA
Dia 0 Dia 7Dia 7
ao dia 12Dia 12
ao dia 35
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Gestação coletiva de matrizes suínas
Principais falhas observadas nos sistemas coletivos
Algumas falhas de manejo e estrutura podem comprometer os resulta-dos produtivos e de bem-estar esperados com o alojamento coletivo. O simples fato de as matrizes estarem livres em uma baia não garante a
elas, necessariamente, condições melhores do que no alojamento individual. A seguir destacamos pontos que devem ser considerados para evitar falhas no alojamento coletivo:
» Falta ou má qualidade de treinamento das leitoas nos sistemas de ali-mentação eletrônicos.
» Falta de checagem e atendimento individualizado das fêmeas que não estão consumindo ração.
» Falta de inspeção diária dos grupos e tomada de ações corretivas com os animais que apresentam problemas.
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Gestação coletiva de matrizes suínas
» Falta de manutenção dos equipamentos eletrônicos. » Densidade inadequada das baias de alojamento
(superlotação). » Grupos de gestantes desuniformes em tamanho,
ordem de parto e condição corporal. » Falta de um número suficiente de baias hospital para
alocar as fêmeas que apresentam problemas e que não podem permanecer nas baias coletivas.
» Desenho inadequado das baias, que dificulta a forma-ção de hierarquia e definição de zonas de alimenta-ção, defecação e descanso.
» Pisos de má qualidade ou com necessidade de manu-tenção.
» Falha na detecção de retorno ao estro, resultando na identificação tardia de porcas vazias.
» Falha na manutenção da saúde dos cascos dos animais.
Aspectos comportamentais queafetam os resultadosO ponto chave para o sucesso do manejo coletivo está em compreender o comportamento normal das matri-zes e saber como fornecer as condições apropriadas para os animais manifestarem um comportamento adequado, culminando em boas condições de bem-estar e, consequen-temente, na expressão de todo seu potencial produtivo.
É essencial compreender os aspectos a seguir e tomar as medidas necessárias para evitar perdas em decorrência de manejos que não respeitam o comportamento natural dos suínos:
» Na natureza, as matrizes permanecem em grupos pequenos de seis a oito indivíduos, juntamente com suas leitegadas mais jovens. Os cachaços sexual-
mente ativos não ficam juntos, mas se aproximam quando as fêmeas apresentam cio.
» Os suínos são animais gregários, ou seja, fazem prati-camente tudo juntos: exploram o ambiente à procura de alimento, descansam, dormem e comem em grupo.
» Existem animais definidos como líderes e animais dominantes. Animais líderes são aqueles que iniciam a busca por um recurso. Os dominantes são os que ini-ciam a disputa pelo recurso.
» Ao agrupar animais que não se conhecem, eles dispu-tam a liderança entre si. Por até cinco dias ocorrem brigas para a definição da hierarquia, sendo as mais intensas nas primeiras 72 horas. A intensidade das disputas se reduz na medida em que o grupo estabe-lece o quadro hierárquico.
» Em ambientes confinados, quando o alimento é for-necido de forma restrita e consumido em poucos minutos, as porcas não têm sua fome saciada, o que pode exacerbar os episódios de agressividade.
» É necessário formar os grupos de gestantes por tamanho e ordem de parto para evitar que as fêmeas menores e submissas sofram agressões
» Não se deve introduzir um número inferior a três por-cas nos grupos de gestantes já formados.
» É preciso alimentar as matrizes antes de reagrupá--las, pois as disputas pelo alimento serão mais inten-sas ao se alimentar matrizes famintas em grupos recém-formados.
» Como medida para reduzir a agressividade, é possí-vel aumentar a quantidade de ração fornecida nos pri-meiros dois ou três dias após reagrupamento.
» O estabelecimento de grupos estáticos é sempre pre-ferível quando se prima pelo bem-estar dos animais.
» As fêmeas devem ter a possibilidade de escaparem
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Gestação coletiva de matrizes suínas
das agressões por meio da instalação de anteparos (zonas de fuga).
» A adoção de sistemas de alimentação que promo-vam menos competição, como o ESF ou minibox, traz benefícios de ordem produtiva, econômica e de bem--estar, além facilitar o manejo alimentar.
» A oferta de bons materiais de enriquecimento ambiental aprimora o conjunto de ações necessárias para atingir um bom status de bem-estar.
» Independente do sistema adotado, uma equipe trei-nada e capacitada é fundamental para o bom manejo e resultado zootécnico da granja.
Crédito: DB Genética Suína
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Checagem diária e manejo das baias hospital
A rotina diária do setor de gestação deve prever a checagem individual da saúde e do bem-estar das leitoas, matrizes e cachaços, além da pronta tomada de decisão a respeito dos animais que apresentam problemas.
A inspeção diária dos animais é um fator crítico para o sucesso do sistema de gestação coletiva, reduzindo o números de perdas recorrentes do mau manejo. No desenho da granja deve-se considerar o tempo gasto diariamente pelo operador para este fim, sendo estimado em torno de três segundos por fêmea alojada.
A avaliação precisa ser realizada por um tratador experiente, observando os aspectos comportamentais. Entre os pontos de atenção, estão aspectos como o consumo adequado de ração e água, se os animais caminham natu-ralmente, se apresentam lesões ou escoriações, se há a presença de abortos, entre outros.
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FIGURA 32: independente do sistema adotado pela granja, a falta de
checagem diária adequada nas baias coletivas pode deixar passar
despercebidos problemas de saúde como casos de aborto.
Baias hospital Os problemas mais frequentes que exigem a transferência para as baias hospital são: condições corporais inadequa-das (fêmeas muito magras), claudicações, doenças como diarreia aguda, problemas respiratórios graves, mordidas de vulva, lesões de pele e escoriações por brigas.
As baias hospital devem oferecer melhores condições de conforto que as baias comuns. Recomenda-se que sejam pequenas, representando um volume de até 5% do inven-tário de matrizes. Elas devem estar próximas das baias comuns, com baixa lotação de animais com problemas equivalentes e ter bebedouros e comedouros bem aces-síveis e funcionais. Quando as matrizes apresentam pro-blemas de claudicação, as baias devem obrigatoriamente conter cama.
Crédito: DB Genética Suína
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Gestação coletiva de matrizes suínas
Escolha do sistema de alojamento
Na hora de escolher o sistema de alojamento que melhor adapte-se à realidade da granja, devem ser consideradas muitas variáveis de ordem prática, estruturais e econômicas. Esta análise pode ser feita
tanto para a adaptação, quanto para a construção de uma nova unidade.
Vários fatores devem ser considerados na construção das instalações, entre eles: recursos financeiros, o tamanho do grupo a ser alojado, o tipo de arra-çoamento, a disponibilidade de mão-de-obra, a definição do layout das baias (projeto com áreas de fuga para a formação de grupo menores, baias maio-res retangulares ou quadradas), a presença de material de enriquecimento e o sistema de tratamento de dejetos para facilitar a limpeza e qualidade do ar no ambiente. As informações apresentada na TABELA 3 a seguir podem auxi-liar nesta reflexão.
Para ilustrar, imagine uma pequena unidade de produção. Baseie sua escolha em uma maior disponibilidade de mão-de-obra em proporção ao número de matri-zes alojadas. Para uma grande unidade produtiva, avalie opções automatizadas.
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TABELA 3: Comparação entre diferentes tipos de alojamentos de fêmeas na gestação
FIGURAS 33, 34 e 35: exemplo prático de conversão de granja de gestação de celas para o sistema de gestação coletiva em minibox. Neste
exemplo os ferros oriundos das celas serviram para confecção dos boxes e das divisórias, otimizando assim o material existente na granja.
CELASCELAS
DE LIVRE ACESSO
ALIMENTAÇÃO NO PISO
MINIBOX ESF SISCAL GESTAL
Bem-estar + ++++ +++ +++ +++ ++++ +++
Manejo do Escore Corporal* ++++ +++ ++ +++ ++++ + ++++
Agressividade x x xxx xx xx x x
Custo instalações x xxx x x xxx x xx
Custo operacional x xx xx xx xx xx xx
Facilidade manejo ++++ +++ +++ +++ ++ + ++
Ração usada x xx xxx xx x xxxx x
+ pobre, ++ aceitável, +++ bom, ++++ muito bom x baixo, xx moderado, xxx alto
* Considerando o potencial de obter melhor controle do escore corporal (EC)
Fonte: PIC, 2017.
Créditos: Seara Alimentos
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Gestação coletiva de matrizes suínas
Considerações finais
A competitividade no agronegócio passa obrigato-riamente pelo alinhamento entre a atuação das cadeias produtivas e a visão do consumidor. No
segmento da proteína animal, o conhecimento e a aplica-ção das boas práticas resultam na harmonia entre uma produção ética de carne suína e os anseios de uma socie-dade que prima pela qualidade de vida dos animais.
A difusão de boas práticas relacionadas à gestação cole-tiva de matrizes suínas e a capacitação de trabalhadores das unidades produtivas, dos técnicos que atuam no seg-mento, dos produtores de suínos e dos demais agentes da cadeia sobre tais práticas são fundamentais para garantir uma produção mais ética.
Diante de tantas opções, uma análise criteriosa de inves-timento e dos resultados esperados deve ser feita antes de se decidir pelo modelo mais adequado de produção em gestão coletiva de matrizes suínas.
Créd
ito:
Sea
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O produtor deve entender e respeitar o comportamento do animal para obter sucesso no manejo do sistema, evi-tando assim ser penalizado por dificuldades inerentes ao comportamento gregário da espécie.
No desenvolvimento dos projetos, sejam eles novos ou de adaptação, é preciso ir a fundo nos detalhes construtivos.
Uma mão-de-obra treinada e qualificada faz toda a dife-rença para a funcionalidade do sistema. As falhas mais comuns são aquelas relacionadas à falta de treinamento adequado da equipe ou à inadequação do número de pes-soas para trabalhar no sistema.
Trocar informações e experiências com produtores que já realizaram a transição é uma prática altamente recomen-dável para evitar falhas previsíveis e tornar o processo mais efetivo.
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Gestação coletiva de matrizes suínas
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