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Número 45, 2013 Engenharia Civil UM 21
Gestão dos Resíduos da Construção Civil (RCC) em Canteiros de Obras de
Empresas Construtoras da Cidade de São Carlos-SP, Brasil
Daniel Gobato Röhm1,†
, José da Costa Marques Neto2, Sergio Antonio Röhm
3
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Engenharia Civil, Rodovia
Washington Luís, km 235, SP-310, CEP 13565-905, São Carlos, SP, Brasil
RESUMO
Este artigo tem como objetivo apresentar diagnóstico da atual situação da gestão dos
resíduos da construção civil (RCC) em canteiros de obras de empresas construtoras atuantes
no município de São Carlos–SP, Brasil. Para isso, como metodologia foram aplicados
questionários e entrevistas junto às empresas construtoras da cidade, com vistas buscar
resultados relacionados ao estágio de implantação da gestão de RCC proposta pela resolução
brasileira no307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Também foram levantados dados
na prefeitura municipal para análise do setor gerador. No presente artigo são apresentados os
resultados das análises de percepção das empresas construtoras estudadas em relação à gestão
dos RCC em seus canteiros de obras e do dimensionamento da geração de RCC pelo
parâmetro áreas licenciadas para construções novas junto a Prefeitura Municipal de São
Carlos. Por este parâmetro foi possível concluir que São Carlos aprovou entre os anos de 2009
e 2012, 2.347.694,93m2 de novas construções, o que reflete vertiginoso crescimento da
construção civil na cidade nos últimos quatro anos. Porém, este quadro de expansão não foi
acompanhado de gestão eficiente dos resíduos produzidos nos canteiros, o que pode ser
observado pelo aumento da geração anual de 63.877,76 t em 2009 para 82.413,38 t em 2012.
1. INTRODUÇÃO
Entre os grandes problemas ambientais que podem causar impactes negativos, e em
alguns casos irreversíveis, estão os resíduos sólidos. Esses resíduos exigem a atuação de
profissionais para definição de estratégias de gestão, ou seja, conjunto de diretrizes e
procedimentos que regulamentam arranjos institucionais com vistas identificar os diferentes
agentes envolvidos e suas responsabilidades, os instrumentos legais e os mecanismos de
financiamento e de gerenciamento (Schalch in Marques Neto, 2005).
Segundo Schalch in Marques Neto (2005), a gestão de resíduos sólidos tem papel de
deliberar, por intermédio da ação administrativa, do controle e do planejamento de todas as
etapas do processo: a prevenção; a avaliação do ciclo de vida; a minimização das quantidades
1 Engenheiro de Produção e Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana (DECiv/UFSCar)
† Autor para correspondência: ([email protected]) 2 Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Civil (DECiv/UFSCar)
3 Professor Associado do Departamento de Engenharia Civil (DECiv/UFSCar)
22 Engenharia Civil UM Número 45, 2013
produzidas, por meio da redução, da reutilização e da reciclagem; o tratamento e a disposição
final.
Porém, a geração de resíduos nos mais diversos processos produtivos e seus impactes
ambientais, questões amplamente debatidas pela sociedade, está longe de ser resolvida de
forma efetiva e adequada (Marques Neto, 2005).
Neste contexto, cabe destaque os RCC, visto que são produzidos em grandes
quantidades e podem ter diferentes origens como: construções novas, demolições, reformas e
ampliações de construções existentes.
Segundo Pinto (1999), os RCC são parte integrante dos resíduos sólidos urbanos
(RSU) e representam percentuais que podem variar entre 54% e 70% de toda massa de
resíduos sólidos gerada em um município. Estes percentuais equivalem valores de geração per
capita entre 0,40 e 0,76 toneladas por habitante/ano. Para o autor, a intensificação dos
processos de urbanização devido ao crescimento populacional tem sido fatores responsáveis
pela crescente produção de resíduos.
Com este entendimento, Marques Neto (2009) reforça que as administrações
municipais não levaram em conta que o aumento da população nas áreas urbanas com
respectiva demanda por novas habitações traria um expressivo aumento das quantidades de
RCC geradas pelo setor da construção civil.
Este setor tem papel estratégico no processo de crescimento econômico por contribuir
diretamente para redução do déficit habitacional e geração de empregos. No entanto, o
gerenciamento do enorme volume de RCC diariamente produzido nos canteiros de obras é um
dos principais desafios das empresas construtoras (Marques Neto, 2005).
Zanutto (2012) reforça que apesar desse grande destaque da indústria da construção
civil brasileira na economia nacional, o setor é grande consumidor de recursos naturais.
Segundo a autora, as obras utilizam grande quantidade e variedade de materiais de construção
que, na maioria das vezes, por falta de planejamento, são desperdiçados e transformados em
resíduos.
Para Martins (2012), a geração de RCC pode ser considerada consequência dessas
deficiências do planejamento, visto que a ausência de definição de etapas e atividades produz
perdas e desperdícios.
Além disso, segundo Pinto (1999), nas atividades de construção, reparos e demolição,
as deficiências do processo construtivo contribuem diretamente para aumento do custo final
da construção, além dos custos de remoção, de tratamento e de disposição final dos RCC.
Para evitar a elevação dos custos da produção devido às perdas e desperdícios de
recursos, Martins (2012) afirma ser necessário implantar a gestão e o gerenciamento dos RCC
nos canteiros. Segundo a autora, gerir os diversos recursos utilizados durante as etapas
construtivas permite reduzir e até eliminar a geração dos resíduos, administrando aqueles que
não puderam ser tratados.
Do ponto de vista ambiental, a ausência de gestão dos RCC por parte das empresas
construtoras tem provocado uma série de impactes nas cidades, uma vez que estes resíduos
ainda são dispostos clandestinamente em locais impróprios, como terrenos baldios, margens
de rios e córregos, e geram problemas como: enchentes, poluição visual, proliferação de
vetores de doenças e contaminação do ar, água e solo (Marques Neto, 2005).
Por todos estes aspectos, os RCC no Brasil são um dos principais problemas
ambientais para empresas e cidades e por esta razão, as primeiras diretrizes de gestão desses
resíduos foram instituídas pela resolução nº307 do CONAMA e alteradas pela resolução
CONAMA no448 em conformidade com a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Número 45, 2013 Engenharia Civil UM 23
2. GESTÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM CANTEIROS DE OBRA
2.1. Redução e reutilização dos resíduos gerados nas atividades de construção civil
A geração de RCC está relacionada a quatro fatores que fazem parte do dia-a-dia das
obras: ausência de gestão de RCC nos canteiros de obras; mão de obra despreparada no que
diz respeito ao gerenciamento dos resíduos; perdas e desperdícios de materiais em razão de
projetos pouco otimizados e métodos ineficazes; e consumo excessivo de recursos naturais
por superdimensionamento de serviços da construção (Marques Neto, 2009).
Assim, a busca pela redução da geração de RCC em canteiros de obras não deve
ocorrer mais por meio de ações pontuais para solução de problemas localizados, mas pela
atuação sistêmica no planejamento do empreendimento, desde seu projeto até sua execução
final, passando pelos fornecedores e serviços terceirizados e contratados, o que irá
proporcionar grande economia da construção (Guerra, 2009).
Para Martins (2012), um bom planejamento dos empreendimentos seguido por
gerenciamento e controle adequado da obra pressupõe separação dos RCC na fonte, ou seja,
triagem por tipos durante os processos construtivos. Segundo a autora, a separação dos
resíduos é fator essencial para viabilizar a implantação de práticas de reutilização e
reciclagem, conforme diretrizes propostas pela Resolução CONAMA no307.
Na fase de projeto, algumas preocupações simples como: elaboração de projetos para
produção, modulação de alvenarias e acabamentos, reaproveitamento de fôrmas e
detalhamento de sistemas prediais podem reduzir bastante a geração de RCC. Da mesma
forma, outros fatores como melhoria da qualidade de produtos e serviços, qualificação de
equipes de trabalho, e introdução de novos métodos construtivos também podem contribuir
para redução da geração de resíduos inerentes à atividade de construir.
Segundo John (2000), dentro do esforço para reduzir a produção dos RCC nos
canteiros, é possível supor situações em que a redução dos resíduos traga maiores benefícios
ambientais do que seu próprio beneficiamento, uma vez que a viabilidade econômica da
reciclagem do entulho está diretamente vinculada a intensidade da geração. Portanto, são
necessárias análises prévias para decidir quais serão as melhores ações a serem tomadas com
a finalidade de minimizar os impactes para cada tipo e para cada fase das obras.
Para Cunha Júnior (2005) a distinção dos tipos de RCC por classes, conforme
classificação proposta pela Resolução CONAMA nº307, permitiu ressaltar a importância da
segregação ou triagem dos resíduos nos locais de geração, assim como apresentar formas de
acondicionamento diferenciadas para valorização desses resíduos. Assim, as possibilidades de
reutilização de alguns resíduos durante a execução dos empreendimentos, dependem do modo
como os RCC são triados, acondicionados e manejados nos canteiros.
Segundo Cunha Júnior (2005), mesmo o beneficiamento do entulho e a reservação
ambientalmente adequada dos RCC dependem da segregação por classes dos resíduos na
origem, assim como da qualidade dos serviços de manejo prestados por agentes
transportadores e por operadores de áreas licenciadas para aterros, transbordos ou reciclagem.
De acordo com Grigoli (2000), em todas as etapas construtivas é possível utilizar
materiais reciclados no próprio canteiro de obra, na forma de argamassa, concreto,
assentamentos de pedaços de blocos cerâmicos. Segundo o autor, algumas atividades podem
utilizar resíduos reciclados como:
assentamento de batentes;
assentamento de contramarcos e esquadrias metálicas;
enchimentos de rasgos de paredes;
chumbamentos de tubulações hidráulicas e elétricas;
24 Engenharia Civil UM Número 45, 2013
drenos de floreiras;
contrapisos internos de unidades habitacionais;
drenos de escoamento de águas de chuvas e
shafts para passagem de tubulações.
2.2. Reciclagem de resíduos da construção civil
Segundo John (2000), a reciclagem de resíduos é uma das variáveis mais importantes
da gestão, uma vez que a geração destes é inevitável e que o beneficiamento com reinserção
de materiais recicláveis no ciclo de produção torna a economia mais sustentável. Segundo o
autor, muitas são as vantagens da reciclagem para sociedade, como: preservação de recursos
naturais; economia de energia; redução do volume de aterros; redução da poluição; geração de
empregos; redução do custo do controle ambiental pelas indústrias; aumento da durabilidade e
da economia de divisas.
Porém, não se pode defender a reciclagem apenas pelo aspecto ambiental. É necessário
entender a reciclagem como atividade produtiva, pois gera emprego, renda e conhecimento.
Além disso, a reciclagem deve ser economicamente lucrativa, o que tornaria as atividades
mais atrativas ao empresariado (Sobral, 2012).
Segundo John (2000), para o setor da construção civil é indispensável que seja criada
capacidade de reciclar seus resíduos produzidos em suas atividades, cujo volume depositado
em locais inapropriados tem causado grandes consequências ambientais.
Na visão de Miranda et al. (2009), a solução mais adequada para reciclagem do
entulho consiste na instalação de usinas de beneficiamento, onde podem ser produzidos
agregados reciclados utilizados pela construção civil.
Sobral (2012) cita que a reciclagem é possível, desde que o produto reciclado seja
competitivo em preço e qualidade com relação ao seu concorrente natural produzido a partir
da extração da matéria-prima.
Também cabe destacar que a reciclagem de RCC possibilita a inserção de novos
materiais de construção de baixo custo junto ao mercado consumidor, o que permite acesso às
classes menos favorecidas da população (Martins, 2012).
Por outro lado, para que o produto final da usina seja bem utilizado é necessário
despertar interesse do setor da construção civil quanto às vantagens do uso do material
reciclado (Sobral, 2012).
Segundo Carneiro et al. (2001), independentemente do uso dado ao material reciclado,
existem vantagens econômicas, sociais e ambientais na reciclagem do RCC como:
economia na aquisição da matéria-prima, uma vez que os materiais convencionais são
substituídos por materiais recicláveis;
decréscimo da poluição gerada pelo entulho e suas consequências nas cidades, como
enchentes em dias de chuva e assoreamento de rios e córregos;
preservação das reservas minerais não renováveis;
preservação e redução de áreas de aterros de inertes e de RCC;
criação de alternativas econômicas para as mineradoras, cada vez mais sujeitas às
restrições ambientais;
redução do consumo de energia e de geração de CO2 na produção e no transporte de
materiais.
Santos (2007) reforça outras vantagens que a reciclagem dos RCC com utilização dos
produtos reciclados apresenta:
redução da demanda de áreas públicas para áreas de disposição final;
diminuição de depósitos de RCC clandestinos em locais inadequados;
Número 45, 2013 Engenharia Civil UM 25
economia para as administrações municipais, em razão da diminuição de gastos com
infraestrutura e saúde pública.
Marques Neto (2003) afirma que as vantagens econômicas da reciclagem, em
substituição às deposições irregulares de RCC são apresentadas claramente nos custos de
limpeza pública. Os custos com descarte irregular, correção da deposição com aterramento e
controle de doenças giram em torno de U$10/m3 para as prefeituras, enquanto o custo da
reciclagem corresponde a 25% desse valor.
Atualmente, o volume de RCC gerado pelas obras é considerado muito grande, o que
tem contribuído para redução da vida útil dos aterros. Também os custos dos serviços de
coleta, de transporte e de disposição final têm aumentado nos últimos anos, em razão não só
das quantidades coletadas, mas das distâncias cada vez maiores aos locais de descarte
autorizados. Portanto, a reciclagem e o reaproveitamento dos RCC são de fundamental
importância para controle e minimização dos problemas ambientais causados por estes
resíduos.
3. METODOLOGIA PARA ANÁLISE DA GESTÃO E GERAÇÃO DE RCC EM
CANTEIROS DE OBRAS
O estudo objeto deste trabalho está enquadrado no âmbito das pesquisas qualitativas,
porque teve como objetivo compreender um fenômeno atual e complexo, a problemática dos
RCC. As etapas metodológicas foram divididas em três partes: pesquisa bibliográfica,
pesquisa documental e pesquisa de campo.
Na pesquisa bibliográfica foram levantados conhecimentos a respeito da atual situação
dos RCC nos canteiros de obras, seus impactes ao meio ambiente e as práticas de
gerenciamento para solução dos problemas.
A metodologia adotada para análise da gestão de RCC em canteiros de obras consistiu
na elaboração de questionário, o qual foi aplicado em algumas empresas construtoras da
cidade de São Carlos-SP. Com o intuito de analisar a percepção de cada uma das empresas
pesquisadas, foram desenvolvidas19 questões abertas e fechadas sobre as atuais práticas de
gerenciamento de RCC nos canteiros com base nas diretrizes da resolução CONAMA no
307.
As questões do tipo SIM ou NÃO permitiram obter diagnóstico da situação da gestão dos
resíduos nas empresas pesquisadas, enquanto algumas questões tiveram como objetivo obter
respostas referentes aos motivos pelos quais as empresas deixam de implantar práticas de
manejo dos RCC em suas obras. Para estes casos, foi adotada escala de pesos entre 1 a 5,
proposta por Marques Neto (2009), pela qual foram avaliados fatores de dificuldade
encontrados pelas empresas quanto ao gerenciamento de RCC em seus empreendimentos.As
informações obtidas com os questionários respondidos foram lançadas em uma planilha
eletrônica e a partir desta, foram gerados gráficos, facilitando assim a interpretação das
mesmas.
Também neste trabalho foi utilizada metodologia de cálculo da geração dos RCC de
São Carlos-SP pelo parâmetro áreas licenciadas proposta inicialmente por Pinto (1999) e
adaptada por Marques Neto (2005). Para este dimensionamento foram utilizados
levantamentos de dados por meio de pesquisa documental junto a Prefeitura Municipal de São
Carlos. A metodologia consistiu na triagem, organização dos dados e cálculo das áreas
licenciadas anualmente para construções novas junto a Diretoria de Obras Particulares e de
Fiscalização da Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura
Municipal de São Carlos. Para isso, a referida secretaria foi visitada em julho de 2012, com
vistas à apresentação do estudo e dos dados necessários a pesquisa. A partir daí, o trabalho de
campo foi desenvolvido e as informações foram coletadas, parte por meio eletrônico e outra
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por meio do Diário Oficial do Município. Todos os dados foram tratados e importados em
planilhas eletrônicas com filtros para seleção dos valores das áreas licenciadas relativas a cada
ano.
4. ANÁLISE DO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL DE SÃO CARLOS-SP
Em sua obra, Marques Neto (2005) caracteriza o município de São Carlos como
importante polo industrial e de alta tecnologia do interior do Estado de São Paulo, Brasil.
Segundo o autor, desde os anos 2000, o setor da construção civil local tem passado por
transformações, principalmente em decorrência da estabilização da economia do país. Neste
contexto, a construção civil na cidade tem experimentado crescimento vertiginoso, o que
permitiu as empresas construtoras implantar, com mais eficiência, planejamento de médio-
longo prazo dos empreendimentos.
O crescimento econômico pelo qual São Carlos tem passado nos últimos dez anos,
aliado aos juros mais baixos e a menor rentabilidade em aplicações financeiras atraíram para a
cidade vários empreendimentos imobiliários e com isso, milhares de novas áreas para
construção foram aprovadas. Segundo dados do CRECI - São Carlos, em 2012 o setor
imobiliário cresceu 32% com projeções otimistas para o ano de 2013. Com este cenário, o setor
da construção civil local tem se mantido aquecido, apesar da crise econômica mundial.
De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo
(Sinduscon-SP), no Estado de São Paulo, em 2013 as projeções de crescimento real para o setor
gira em torno dos 4%. Essa perspectiva favorável vai ao encontro dos números crescentes do
mercado imobiliário de São Carlos segundo análises das áreas licenciadas. É possível afirmar que
a alta dos negócios é resultado de grandes investimentos na cidade pelo setor da construção
civil, em especial pelos lançamentos do programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo
Federal.
O programa prevê a construção de três mil habitações em São Carlos até o final de
2013 e os investimentos vão ajudar a reduzir consideravelmente o déficit habitacional na
cidade, estimado em cinco mil moradias.
Outro fator de impulso do setor é a abertura de novos cursos no campus da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) pelo programa de reestruturação da
universidade. A chegada de novos estudantes e professores pode representar até 20% de novas
vendas resultado dos novos empreendimentos imobiliários. A UFSCar faz projeções de
aumentar em 50% o número de estudantes até 2013, aquecendo ainda mais a demanda por
novas construções.
Com relação à tipologia, o foco dos novos empreendimentos são apartamentos de dois e
três dormitórios com garagem. Detalhes como depósitos individuais e vagas para motos, são
exemplos atrativos aos novos proprietários.
No atual momento, a cidade tem sido foco de análises de investimentos de grandes redes de
serviços. No entanto, ainda existe um déficit de edifícios para atender a crescente demanda das
empresas que escolheram São Carlos para se fixar. Este fato pode ser constatado no corredor da
rodovia Washington Luís (SP 310), onde muitos empreendimentos estão em fase de instalação.
Por fim, é possível concluir que o poder de compra das pessoas que estão chegando a São
Carlos para trabalhar ou estudar, aliado a uma indústria diversificada que não depende
exclusivamente de um único setor, tem sido elementos preponderantes para o crescimento do setor
da construção civil na cidade.
Número 45, 2013 Engenharia Civil UM 27
5. CÁLCULO DAS ÁREAS LICENCIADAS PARA CONSTRUÇÕES NOVAS
O cálculo de áreas licenciadas para construções novas é um importante parâmetro para
estimativa da geração de RCC de um município, uma vez que aprovados os projetos com seus
respectivos alvarás de construção, as obras terão início com consequente produção de
resíduos.
Assim, os dados obtidos neste trabalho são representativos para avaliação da geração
de RCC, uma vez que as áreas licenciadas englobam empreendimentos de médio e de grande
porte de São Carlos. Além disso, as construções clandestinas existentes na cidade têm passado
por processos de regularização fundiária junto à prefeitura municipal, o que tem reduzido a
falta de informações sobre este tipo de construção.
As construções clandestinas não licenciadas, em sua maioria, representam obras de
pequeno porte que geram pouco entulho que pode ser compensado pela parcela de obras
licenciadas e não implantadas, presentes no cálculo total de áreas licenciadas.
Em São Carlos, a maior variação do número de aprovações de construções novas junto
à Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento Urbano ocorreu entre os anos de
2009 e 2010. A Figura 1 apresenta esta variação de aprovações por zonas estabelecidas no
Plano Diretor de São Carlos-SP, Lei no 13.691/2005.
Figura 1 - Evolução do número de aprovações de construções novas no município de São
Carlos-SP entre os anos de 2009 e 2010
Entre os anos de 2009 e 2010, todas as zonas territoriais com exceção da zona Z4A,
tiveram aumento significativo de aprovações para construções novas. A zona de ocupação
condicionada Z2, que abrange a maioria dos bairros próximos ao centro da cidade, teve o
maior aumento de aprovações entre as regiões da cidade com variação de 285,75%. A zona de
ocupação induzida Z1, que abrange toda área central, teve aumento de 130,34%. As zonas de
recuperação e ocupação controlada Z3A e Z3B tiveram, respectivamente, aumento de
aprovações de 103,68% e 35,48%. Apenas a zona de regulação e ocupação controlada Z4A,
pertencente a macrozona de uso multifuncional rural teve decréscimo de 73,50% de
aprovações para novas construções neste período.
A Figura 2 mostra o mapa do macrozoneamento da cidade de São Carlos-SP utilizado
para aprovações de novas construções no município.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
Z1 Z2 Z3A Z3B Z4A
834 765 543
217
600
1921
2951
1106
294 159
Nú
mer
o d
e ap
rov
açõ
es p
or
zon
as
2009
2010
28 Engenharia Civil UM Número 45, 2013
Figura 2 - Mapa de zoneamento do município de São Carlos conforme Plano Diretor. Fonte:
Prefeitura Municipal de São Carlos (2013)
Número 45, 2013 Engenharia Civil UM 29
Cabe ressaltar que o grande aumento no número de aprovações de construções novas
em São Carlos, principalmente nos últimos quatro anos, em parte é consequência de
programas do Governo Federal como: programa de redução do imposto sobre produtos
industrializados (IPI) em materiais de construção civil e programa Minha Casa Minha Vida
para aquisição de imóveis.
As áreas licenciadas são aquelas apresentadas em projetos para legalização perante a
Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura Municipal de
São Carlos. Para efeito do cálculo, essas áreas foram separadas por zonas, conforme o plano
diretor da cidade.
As Tabelas 1, 2, 3 e 4 apresentam o total de áreas licenciadas pelas zonas do Plano
Diretor nos anos de 2009 a 2012.
Tabela 1 - Áreas licenciadas (m²) em 2009 para construções novas e regularizações por zonas
do Plano Diretor
Tabela 2 - Áreas licenciadas (m²) em 2010 para construções novas e regularizações por zonas
do Plano Diretor
Tabela 3 - Áreas licenciadas (m²) em 2011 para construções novas e regularizações por zonas
do Plano Diretor
Zona/Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total
Z1 43.642,99 11.709,42 6.850,04 4.727,26 13.502,65 4.293,53 13.421,09 19.926,35 10.726,89 22.947,55 8.386,79 8.802,68 168.937,24
Z2 18.743,95 23.622,44 15.238,72 18.312,77 10.879,68 15.692,69 20.305,53 16.491,48 21.744,56 2.298,94 16.811,54 13.125,86 193.268,16
Z3A 824,64 6.420,23 5.404,26 1.718,68 466,79 748,16 1.139,90 718,82 1.091,11 2.086,38 25.809,77 3.128,91 49.557,65
Z3B 6.655,39 3.021,21 2.285,71 506,52 880,04 1.211,74 2.703,16 481,10 1.607,62 1.486,67 5.482,44 1.750,15 28.071,75
Z4A 265,64 225,26 229,10 24.893,26 25.613,26
Z4B
Z5A 293,73 293,73
Z5B 318,98 132,21 451,19
Total 70.451,59 44.773,30 29.778,73 25.490,49 25.729,16 21.946,12 37.569,68 37.617,75 35.170,18 29.245,48 56.719,64 51.700,86 466.192,98
Zona/Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total
Z1 3.121,49 13.415,90 11.097,07 9.166,07 10.276,63 8.233,84 17.589,57 10.760,29 21.385,10 66.154,79 9.328,20 15.930,68 196.459,63
Z2 11.518,66 11.470,88 15.394,10 12.705,94 13.067,23 79.038,29 31.481,51 12.692,39 20.158,89 31.840,08 15.334,19 12.839,91 267.542,07
Z3A 535,56 43.718,95 1.428,13 1.533,72 1.445,40 1.004,94 3.337,92 1.195,63 3.950,88 2.430,39 2.097,83 2.408,54 65.087,89
Z3B 1.209,35 1.862,55 3.564,41 1.123,67 1.721,80 1.288,15 1.649,88 2.713,43 3.689,97 2.123,68 987,07 1.995,99 23.929,95
Z4A 282,49 60,71 5.545,22 60,00 66,80 31.265,27 26,65 226,80 94,39 47,02 112,06 22.508,50 60.295,91
Z4B
Z5A
Z5B
Total 16.667,55 70.528,99 37.028,93 24.589,40 26.577,86 120.830,49 54.085,53 27.588,54 49.279,23 102.595,96 27.859,35 55.683,62 613.315,45
Zona/Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total
Z1 10.841,33 2.752,34 7.510,30 22.750,35 14.600,76 16.817,34 81.072,48 13.160,19 49.142,21 43.394,40 4.766,08 5.059,85 271.867,63
Z2 11.185,39 7.358,55 19.202,85 13.484,02 22.976,70 11.281,69 103.570,70 20.553,54 20.316,99 41.568,09 15.831,94 5.643,25 292.973,71
Z3A 1.017,53 758,42 1.271,73 1.982,84 1.845,92 2.469,31 4.555,02 2.669,56 1.457,55 5.672,13 7.257,95 1.461,16 32.419,12
Z3B 1.422,20 44,12 2.011,03 1.318,55 1.562,00 2.385,81 3.128,42 1.546,56 1.508,11 4.106,18 5.038,19 1.286,16 25.357,33
Z4A 44,16 76,50 31.337,36 235,85 220,29 72,91 52,08 9.610,90 39,39 211,29 41.900,73
Z4B 31,36 31,36
Z5A 112,00 303,67 415,67
Z5B 196,15 373,30 810,68 238,28 132,80 1.751,21
Total 24.510,61 10.913,43 30.184,41 71.069,27 41.358,68 34.000,68 192.785,19 38.034,12 72.476,94 104.484,50 33.237,22 13.661,71 666.716,76
30 Engenharia Civil UM Número 45, 2013
Tabela 4 - Áreas licenciadas (m²) em 2012 para construções novas e regularizações por zonas
do Plano Diretor
Pelos dados obtidos durante a pesquisa documental, entre os anos de 2009 e 2011
houve aumento significativo de áreas aprovadas para construções novas e regularizações de
construções existentes, o que não ocorreu no ano de 2012. Nos últimos quatro anos, o período
de maior crescimento do setor da construção civil foi entre 2009 e 2010, com aumento das
áreas licenciadas de 31,56%. Entre 2010 e 2011 houve uma redução no ritmo de aprovações e
regularizações, mas ainda com aumento de 8,71%. Cabe destacar que 2011 foi o ano com
maior número de aprovações de novas construções da história da cidade. Em 2012, porém,
devido à crise mundial aliada aos cortes de subsídios como o IPI de materiais de construção,
houve redução no ritmo de novos lançamentos na cidade, observada pelo decréscimo de áreas
licenciadas de 65.247,02m², o que representa 9,79%.Apesar dessa pequena redução, é
possível afirmar que a geração dos RCC em novos empreendimentos continuará crescente
pela falta de gestão.
A Figura 3 apresenta os valores das áreas totais aprovadas e regularizadas pela
Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura Municipal de São Carlos
entre os anos de 2009 e 2012, com média de 586.923,73m2 licenciados neste período.
Figura 3 - Perfil das áreas licenciadas (m
2) no município de São Carlos-SP
A partir da utilização de um Sistema de Informações Geográficas foi possível obter
um mapa temático das áreas licenciadas entre os anos de 2009 e 2012 por zonas, conforme
Plano Diretor do município de São Carlos (Figura 4).
Zona/Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total
Z1 16.846,72 21.492,54 10.855,34 16.398,20 9.692,34 10.442,44 43.158,40 9.337,79 24.778,20 24.083,68 12.556,78 5.717,83 205.360,26
Z2 11.432,67 7.026,24 11.881,01 10.113,31 27.980,27 17.270,54 13.979,72 8.375,58 48.326,24 16.993,60 14.863,88 29.816,73 218.059,79
Z3A 1.527,38 878,88 2.934,67 1.780,31 3.115,97 3.710,32 2.850,62 3.022,51 5.696,24 2.731,50 5.253,93 36.611,17 70.113,50
Z3B 1.734,14 3.471,95 1.885,28 2.363,79 1.086,27 1.112,89 839,24 2.389,31 1.583,44 1.288,79 1.422,47 513,85 19.691,42
Z4A 51,33 4,95 18,76 6.753,15 34.128,80 1.053,79 42.010,78
Z4B 43,00 44.872,86 44.915,86
Z5A
Z5B 290,35 304,03 198,13 160,89 364,74 1.318,14
Total 31.882,59 33.173,64 27.561,25 30.872,49 42.035,74 32.536,19 61.192,72 29.878,34 114.512,92 45.140,57 35.150,85 117.532,44 601.469,74
2009 2010 2011 2012 MÉDIA
466.192,98
613.315,45
666.716,76
601.469,74 586.923,73
Áre
as
lice
nci
ad
as
(m²)
Número 45, 2013 Engenharia Civil UM 31
Figura 4 - Mapa temático das áreas licenciadas entre os anos de 2009 e 2012.
6. GERAÇÃO DE RCC PELO PARÂMETRO ÁREAS LICENCIADAS NA CIDADE DE
SÃO CARLOS-SP
Segundo Marques Neto (2005), sob a ótica da geração dos RCC, em média, as
construções licenciadas e implantadas, somente começam a produzir quantidades maiores de
resíduos, seis meses após seu início nas fases de estrutura e alvenarias. Portanto, para cada
cronograma de obras existem fases de maior produção de resíduos, o que impõe um estudo
mais detalhado, quando da quantificação dos volumes de cada empreendimento.
No dimensionamento da geração de entulho pelo parâmetro áreas licenciadas, foi
utilizada a taxa média de geração de RCC de 137,02kg/m²obtida por Marques Neto (2003) de
diferentes construções novas realizadas em São Carlos-SP. Tomando-se por base esta taxa foi
possível estimar a produção de RCC, em toneladas, entre os anos de 2009 e 2012. A Tabela 5
apresenta o total de áreas aprovadas anualmente e a estimativa anual da geração de RCC, em
toneladas.
Tabela 5 - Geração estimada de RCC por áreas licenciadas para construções novas
São Carlos
2009 2010 2011 2012 Média
Áreas totais licenciadas (m2) 466.192,98 613.315,45 666.716,76 601.409,74 586.908,73
Taxa de geração RCC (kg/m2) 137,02 137,02 137,02 137,02 137,02
Geração de RCC (t/ano) 63.877,76 84.036,48 91.353,53 82.413,38 80.418,23 Geração de RCC (t/mês) 5.323,15 7.003,04 7.612,79 6.867,78 6.701,52
Geração de RCC (t/dia) 175,01 230,24 250,28 225,79 220,32
32 Engenharia Civil UM Número 45, 2013
A geração de RCC por habitante do município (Tabela 6) está elevada com tendência a
crescimento, uma vez que em São Carlos, a exigência de planos de gerenciamento de RCC
em canteiros de obras ainda não foi implantada pela Prefeitura Municipal. Cabe destacar, que
apesar da cidade contar com a lei no 13.867/2006 que instituiu o sistema de gestão de RCC,
poucas empresas implantaram formas de gerenciamento dos resíduos nos canteiros por falta
de regulamentação da referida lei no que diz respeito aos planos.
Tabela 6 - Provável geração de RCC per capita do município de São Carlos-SP pelo
parâmetro áreas licenciadas junto a PMSC
Parâmetro Área
Licenciada
São Carlos-SP
Geração de RCC
(t/dia)
População
(IBGE/2010)
Geração per capita
(kg/habxdia)
2009 175,01 221.936 0,79
2010 230,24 221.936 1,04
2011 250,28 221.936 1,13
2012 225,79 221.936 1,02
Média 220,32 221.936 0,99
7. ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DAS EMPRESAS CONSTRUTORAS EM RELAÇÃO À
GESTÃO DE RCC EM CANTEIROS DE OBRAS
A percepção das empresas em relação à gestão dos RCC em seus canteiros foi obtida
do questionário por meio da análise das respostas.
Quando questionadas se realizam caracterização (quantificação e qualificação) dos
RCC, duas das empresas responderam realizar, enquanto a terceira afirmou não praticar essa
caracterização. Em seguida, foram questionados os fatores pelos quais a empresa que
respondeu de forma negativa não realiza a caracterização. Para isso foi solicitado que a
mesma adotasse pesos para cada um dos fatores que representam dificuldades. O peso 1
corresponde fator de menor interferência na implantação da gestão de RCC, enquanto o peso
5 representa fator de maior interferência. A Figura5 apresenta os resultados obtidos.
Figura 5 - Fatores pelos quais a empresa não realiza caracterização dos RCC
0 1 2 3 4 5
Falta de equipamento
Dificuldade de mão de obra qualificada
Desconhecimento da metodologia
Atividade não agrega valor na obra
Facilidade de remoção e disposição
Outras prioridades
Peso dos fatores
Fatores que podem interferir na
implantação da gestão dos RCC
Número 45, 2013 Engenharia Civil UM 33
Entre os fatores apontados pela empresa que impedem a realização das etapas de
caracterização dos resíduos, atividades que não agregam valor na obra e outras prioridades da
empresa se destacam e receberam peso máximo. A visão da empresa de que a gestão de RCC
não traz benefício algum à obra faz parte da cultura de grande parte do setor da construção
civil, uma vez que o reaproveitamento e reciclagem dos resíduos não são atividades vistas
como oportunidade de ganhos econômicos para os empreendimentos.
Em relação à etapa de triagem dos resíduos produzidos em suas obras, duas empresas
responderam realizar essa etapa, enquanto uma declarou não realizar.Os principais fatores
apontados por essa empresa para não adotar à separação de resíduos durante os processos
construtivos estão relacionados ao comprometimento da produção dos serviços, ao orçamento
da obra e as outras prioridades da empresa. A Figura 6 apresenta os resultados obtidos.
Figura 6 - Fatores pelos quais a empresa não realiza triagem dos RCC
Com o objetivo de levantar mais informações, prosseguiu-se com o questionário,
perguntando às empresas se as mesmas realizavam acondicionamento correto após a triagem
dos resíduos. Das empresas pesquisadas, duas afirmaram acondicionar seus resíduos em
dispositivos adequados, enquanto uma afirmou acondicionar todos os resíduos, de forma
misturada, em caçambas metálicas. A Figura 7 apresenta os fatores pelos quais a empresa não
realiza acondicionamento por tipos de resíduos.
Figura 7 - Fatores pelos quais a empresa não realiza o acondicionamento correto dos RCC
0 1 2 3 4 5
Ausência de dispositivo de acondicionamento
Falta de espaço no local
Diminuição da produção
Mão de obra não qualificada
Serviço não previsto em orçamento
Falta de metodologia
Outras prioridades
Peso dos fatores
Fatores que podem interferir na
implantação da gestão dos RCC
0 1 2 3 4 5
Falta de espaço no canteiro
Alto custo dos dispositivos de acondicionamento
Ausência de treinamento
Atividade não agrega valor na obra
Cultura do uso da caçamba metálica
Dificuldade na implantação da logística do canteiro
Dificuldade no transporte dos dispositivos
Outras prioridades
Peso dos fatores
Fatores que podem interferir na
implantação da gestão dos RCC
34 Engenharia Civil UM Número 45, 2013
Quando questionadas se os RCC são reaproveitados em suas obras, 100% de respostas
foram negativas. Entre os fatores apontados pelos quais as empresas não reaproveitam os
resíduos gerados em seus canteiros, cabe destaque os altos custos para valorização desses
resíduos, assim como possível redução de produtividade nos serviços da construção (Figura
8).
Figura 8 - Fatores pelos quais os RCC não são reaproveitados
Da análise da percepção das empresas em relação ao gerenciamento dos RCC foi
possível perceber que os fatores: possível queda na produção; outras prioridades; e altos
custos para valorização dos resíduos dificultam a implantação das atividades propostas pela
gestão de resíduos.
Com relação aos benefícios ambientais, econômicos e de marketing, todas as empresas
pesquisadas concordam que as ações de gestão de RCC geram tais benefícios.
Todas as empresas entendem que a limpeza do canteiro é parte integrante da gestão
dos RCC e sua frequência deve ser diária.
8. CONCLUSÕES
A primeira conclusão perceptível aponta que as empresas construtoras de São Carlos
ainda enxergam a gestão de RCC como um custo adicional e não como oportunidade de
ganhos econômicos para os empreendimentos, além da falta de comprometimento e
responsabilidade ambiental perante a sociedade, fato este materializado pelas respostas do
questionário.
Neste contexto, a tendência observada para os próximos anos com relação à geração
de resíduos na cidade, estimada em 220,32 t/dia somente em obras licenciadas pela prefeitura,
é de crescimento desenfreado, em razão da ausência de planos de gerenciamento de resíduos
nos canteiros de obras no atual momento. Além disso, apesar da lei municipal no 13.867/2006
instituir o sistema de gestão de RCC, poucas empresas construtoras implantaram, de fato,
práticas de gerenciamento dos resíduos por falta de regulamentação da referida lei.
Quanto à geração per capita de RCC pelo parâmetro áreas licenciadas, estimada em
0,99 kg/(hab.dia), foi possível concluir que está elevada com tendência a crescimento, visto
que São Carlos ainda não exige planos de gerenciamento de RCC em obras da cidade com
consequente falta de fiscalização.
0 1 2 3 4 5
Desconhecimento das formas de reuso
Resíduo muito misturado
Alto custo da valorização
Falta de tempo
Possível queda na produção
Outras prioridades
Peso dos fatores
Fatores que podem interferir na
implantação da gestão dos RCC
Número 45, 2013 Engenharia Civil UM 35
Quanto à análise do setor da construção civil de São Carlos, foi possível concluir que
houve um vertiginoso crescimento do número de construções novas e regularizações de
construções existentes entre os anos de 2009 e 2012, totalizando 2.347.694,93m2. Este fato
tem relação direta com as políticas governamentais de subsídios ao setor da construção civil
por meio de programas como o Minha Casa Minha Vida, além do crescimento populacional
devido à expansão das importantes universidades públicas da cidade. Porém, este quadro de
expansão não foi acompanhado de gestão eficiente dos RCC produzidos nos canteiros, o que
pôde ser observado pelo aumento da geração anual de 63.877,76 t em 2009 para 82.413,38 t
em 2012.
Cabe destacar que 2011 foi o ano com maior número de aprovações de novas
construções da história da cidade, com 666.716,76m².
Por fim, é possível concluir do presente estudo que a gestão de RCC não faz parte da
pauta das empresas construtoras de São Carlos, em parte justificada pela falta de
regulamentação do Plano Municipal de Gestão dos RCC, mas principalmente pela falta de
comprometimento com os problemas ambientais, econômicas e sociais causados por estes
resíduos na cidade.
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