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Governana corporativa no setor bancrio: evoluo recente no mercado brasileiro Manoel Surez Banzas Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps- Graduao do Instituto COPPEAD de Administrao da Universidade Federal do Rio de Janeiro ± UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Administrao (M.Sc.). Orientador: Prof. Ricardo Pereira Cmara Leal D.Sc. em Administrao COPPEAD/UFRJ Rio de Janeiro 2005

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  • Governana corporativa no setor bancrio: evoluo recente no

    mercado brasileiro

    Manoel Surez Banzas

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao do Instituto COPPEAD de Administrao da

    Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte

    dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em

    Administrao (M.Sc.).

    Orientador: Prof. Ricardo Pereira Cmara Leal D.Sc. em Administrao COPPEAD/UFRJ

    Rio de Janeiro 2005

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  • ii

    Governana corporativa no setor bancrio: evoluo recente no

    mercado brasileiro

    Manoel Surez Banzas

    Dissertao de Mestrado submetida Banca Examinadora do Instituto COPPEAD de

    Administrao da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos

    necessrios obteno do grau de Mestre em Administrao (M.Sc.).

    Aprovada por:

    Presidente da Banca

    3URI5LFDUGR3HUHLUD&kPDUD/HDO'6F- Orientador

    (COPPEAD/UFRJ)

    3URI$JUtFRODGH6RX]D%HWKOHP'6F

    (COPPEAD/UFRJ)

    3URI0\LULDQ%HDWUL](LUDVGDVNeves, D.Sc.

    (Banco Central do Brasil)

    Rio de Janeiro - Brasil

    Setembro - 2005

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  • iii

    Banzas, Manoel Suarez. Governana corporativa no setor bancrio: evoluo recente no mercado brasileiro/ Manoel Suarez Banzas -2005 999f. Dissertao (Mestrado em Administrao) Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, Instituto COPPEAD de Administrao, Rio de Janeiro, 2005. Orientador: Ricardo Pereira Cmara Leal.

    1. Governana Corporativa. 2. Crises Bancrias. 3. Banco Central.- Teses. I. Leal, Ricardo Pereira Cmara (orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Ps-Graduao em Administrao. III. Ttulo.

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  • iv

    '(',&$75,$

    A meu pai, cuja memria fica. A minha me, cuja memria se foi.

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  • v

    AGRADECIMENTOS Ao professor Ricardo Leal, por sua boa vontade. Ao Banco Central do Brasil. Ao Instituto COPPEAD de Administrao. 6HFUHWDULDGH3yV-Graduao do Instituto COPPEAD de Administrao. Aos meus mestres, que tanto ajudaram nesta jornada. Aos meus colegas, parceiros em todos os momentos.

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  • vi

    RESUMO

    BANZAS, Manoel Suarez. Governana corporativa no setor bancrio: evoluo recente no mercado brasileiro. Rio de Janeiro, 2005. Dissertao (Mestrado em Administrao). Instituto COPPEAD de Administrao, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2005.

    A dissertao tem como objetivo especificar a questo da governana corporativa (GC) no setor bancrio, ressaltando as peculiaridades que diferenciam o setor financeiro do restante da economia. A primeira parte faz um levantamento terico sobre governana corporativa e teoria de agncia, resumindo as origens e a evoluo da discusso acadmica, buscando sistematizar as caractersticas prprias do setor bancrio com relao aos grupos de interesse envolvidos na questo da governana corporativa, vale dizer, acionistas, diretores, investidores, depositantes e reguladores. A segunda parte pretende fazer uma anlise da evoluo recente das questes de GC no setor bancrio brasileiro, destacando o papel do Banco Central como regulador, os novos preceitos preconizados pelo BIS (Bank for International Settlements) e os acordos de Basilia. A partir desta anlise desenvolvido um estudo comparativo entre os casos Banco Nacional e Banco Santos. As concluses procuram indicar possibilidades para o desenvolvimento da GC no setor bancrio brasileiro Palavras-chave: Governana Corporativa, Crises Bancrias, Banco Central

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  • vii

    ABSTRACT

    Banzas, Manoel Suarez. *29(51$1d$ &25325$7,9$ 12 6(725 %$1&5,2(92/8d2 5(&(17( 12 0(5&$'2 %5$6,/(,52. Orientador: Ricardo Pereira Cmara Leal. Rio de Janeiro: Instituto COPPEAD de Administrao UFRJ UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO; 2005. Dissertao (Mestrado em Administrao).

    The dissertation has as objective to specify the question of the corporate governance (CG) in banks, standing out the peculiarities that differentiate the banking sector from ordinary firms. The first part is a survey on corporate governance and agency theory, summarizing the origins and the evolution of the academic debate. The second part tries to make an analysis of the recent evolution of the concepts of CG in the brazilian banking sector, detaching the role of the Banco Central as regulator, the new rules issued by the BIS (Bank for International Settlements) and the Basel Capital Accord. From this analysis, a comparative study between the cases of Banco Nacional and Banco Santos is developed. The conclusions try to indicate possibilities for the development and improvement of CG in the brazilian banking sector.

    Keywords: Corporate Governance, Banking Crises, Central Bank

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  • viii

    6805,2 1 Introduo 1

    1.1 Exposio do assunto 1 1.2 Problema/pergunta 2 1.3 Objetivos 2 1.4 Relevncia 3 1.5 Metodologia 4

    1.5.1 Limitaes do estudo 6 1.6 Estrutura do trabalho 6

    2 Referencial terico 8 2.1 Origens 8 2.2 Definies 9 2.3 A questo da Teoria da Agncia 12

    2.3.1 Dois modelos de definio de governana corporativa 14 2.3.2 A questo da teoria da agncia aplicada aos bancos 15 2.3.3 A natureza do mercado em que o banco opera 18

    3 Governana corporativa de bancos 23 3.1 Regulao e superviso 28 3.2 Melhorando a governana corporativa das organizaes bancrias 29 3.3 Governana corporativa de bancos em economias emergentes 33 3.4 Governana corporativa no Brasil 38

    3.4.1 O papel do Banco Central 43 3.5 Governana corporativa e a endogeneidade das crises bancrias 45

    4 A crise bancria e o caso Nacional 47 4.1 A crise bancria 47 4.2 O caso do Banco Nacional 53 4.3 A fraude 56 4.4 O PROER 60 4.5 A superviso bancria no Brasil pr-95 65 4.6 Transformaes na superviso bancria no Brasil 71

    5 A crise bancria atual e o caso Santos 75 5.1 O caso do Banco Santos 75 5.2 Problemas ps-interveno 84 5.3 O risco legal dos supervisores 86 5.4 O alcance da crise 88 5.5 Medidas do BCB na atual crise 91

    5.5.1 Compulsrio 91 5.5.2 Alteraes no FGC 92 5.5.3 Banco Rural 93

    5.6 Crises e rede de proteo bancaria 94 5.7 Comparativo do caso Nacional (1995) e do caso Santos (2004) 96

    6 Basilia II 101 6.1 Aspectos gerais 101 6.2 Primeiro pilar: capital mnimo requerido 104 6.3 Segundo pilar: reviso no processo de superviso 105 6.4 Terceiro pilar: disciplina de mercado 106 6.5 Disciplina de mercado 107 6.6 Basilia II e o Brasil 110

    7Consideraes finais 112 8 Referncias bibliogrficas 116 9 Apndices 125

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  • ix

    LISTA DE ABREVIATURAS

    ADR - American Depositary Receipt BB - Banco do Brasil BCB - Banco Central do Brasil BCBS - Basel Committee On Banking Supervision BIS - Bank for International Settlements BM&F - Bolsa de Mercadorias e Futuros BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e social BOVESPA - Bolsa de Valores de So Paulo CDB - Certificado de Deposito Bancrio CDI - Certificado de Deposito Interbancrio CPI - Comisso Parlamentar de Inqurito CEF - Caixa Econmica Federal CEO - Chief Executive Officer CMN - Conselho Monetrio Nacional CRSFN - Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional CVM - Comisso de Valores Mobilirios F&A - Fuses e Aquisies FCVS - Fundo de Compensao de Variaes Salariais FED - Federal Reserve FGC - Fundo Garantidor de Crditos FIDC - Fundo de Investimento em Direitos Creditrios FMI - Fundo Monetrio Internacional GC - Governana Corporativa IAN - Informaes Anuais IASC - International Accounting Standards Committee IBGC - Instituto Brasileiro de Governana Corporativa IF - Instituio Financeira IFO - Instituio Financeira Offshore IFT - Informaes Financeiras Trimestrais IGC - Inspeo Global Consolidada ITR - Informaes Trimestrais NYSE - New York Stock Exchange OCDE - Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico ON - Aes Ordinrias Nominativas PIB - Produto Interno Bruto PN - Aes Preferenciais Nominativas PROER - Programa de Estmulo Reestruturao e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro

    Nacional PROES - Programa de Incentivo Reduo do Setor Pblico Estadual na Atividade Bancria PROEF - Programa de Fortalecimento das Instituies Financeiras Federais RAET - Regime de administrao especial temporria SCR - Sistema de Informaes de Crdito do Banco Central SEC - Securities and Exchange Commission SFN - Sistema Financeiro Nacional SPB - Sistema de Pagamentos Brasileiro US GAAP - Generally Accepted Accounting Principles in the United States

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  • x

    $31',&(6

    $31',&( A - Quantidade de instituies financeiras por segmento $31',&(% - Legislao consultada $31',&(& - Princpios de Governana Corporativa (BIS)

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  • 1 Introduo

    1.1 Exposio do assunto

    Em geral, quando se faz pesquisa sobre governana corporativa (GC), existe um corte

    separando empresas financeiras de outros tipos de firma. Este fato decorre da assuno de que

    bancos tm caractersticas muito diferentes das outras empresas, o que pode distorcer os

    resultados. O interesse deste trabalho tentar descrever quais so estas caractersticas que

    fazem da GC dos bancos um caso a parte.

    Bancos tm um papel central na economia. Mobilizam fundos, alocam recursos

    financeiros e desempenham um papel decisivo na governana corporativa de outras firmas.

    Tudo isto significa que, quando os bancos so eficientes, estimulam o crescimento da

    produtividade e a prosperidade da economia inteira. Por outro lado, as crises bancrias podem

    desestabilizar a situao econmica e poltica das naes. Estas externalidades fortes na

    economia fazem a governana corporativa dos bancos uma questo fundamental.

    Esta dissertao tem como objetivo analisar a questo da governana corporativa no

    setor bancrio brasileiro, ressaltando as peculiaridades que diferenciam o setor financeiro do

    restante da economia. A primeira parte faz um levantamento terico sobre governana

    corporativa e teoria de agncia, resumindo as origens e a evoluo da discusso acadmica,

    destacando os principais referenciais tericos. A segunda parte busca sistematizar as

    caractersticas prprias do setor bancrio com relao aos grupos de interesse envolvidos na

    questo da governana corporativa, vale dizer, acionistas, diretores, investidores, depositantes

    e reguladores.

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  • 2

    Nos captulos seguintes, a inteno fazer uma anlise da evoluo recente das

    questes de GC no setor bancrio brasileiro, destacando o papel do Banco Central do Brasil

    (BCB) como regulador, os novos preceitos preconizados pelo Bank for International

    Settlements (BIS) e os acordos de Basilia. A partir desta anlise procura-se fazer um estudo

    comparativo entre os casos da crise bancria dos anos 90 tomando por base a interveno do

    Banco Nacional e a recente crise envolvendo a interveno no Banco Santos.

    As consideraes finais procuram indicar possibilidades para o desenvolvimento da

    GC no setor bancrio brasileiro e nas funes do Banco Central do Brasil como regulador do

    sistema bancrio.

    1.2 Problema/pergunta

    Entre 1994, quando da crise do Banco Nacional e 2004 com a interveno no Banco

    Santos, houve alguma mudana em relao atuao do Banco Central e aos mecanismos de

    defesa do sistema bancrio brasileiro? Como podemos analisar a questo da governana

    corporativa dentro deste contexto?

    1.3 Objetivos

    A finalidade desta dissertao discutir a questo da governana corporativa dos

    bancos. Qual as diferenas destes e uma firma no-bancaria, quais as implicaes para sua

    governana. Dentro desta perspectiva focaliza-se a questo da ao do Banco Central do

    Brasil, rgo supervisor do mercado financeiro.

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  • 3

    A partir do Plano Real e da estabilizao econmica, o sistema financeiro nacional

    passou por grandes transformaes, quase uma centena de bancos desapareceram, a

    participao dos bancos pblicos diminuiu, os bancos pblicos estaduais foram praticamente

    extintos e os bancos estrangeiros aumentaram sua participao. A economia brasileira

    atravessou vrias crises, geralmente associadas a crises nos mercados financeiros

    internacionais. Logo na transio da economia brasileira do perodo inflacionrio, o setor

    bancrio deparou-se com uma crise que poderia ter efeitos muito graves na consolidao da

    estabilizao macroeconmica. O BCB conseguiu solucionar a crise, mas ficou claro que

    estava mal preparado no que tange preveno.

    Neste ltimo ano estamos assistindo a uma crise bancria de pequenas propores,

    evidentemente a atuao do BCB mudou, embora para a percepo do pblico ela ainda seja

    deficiente. Quais as transformaes ocorridas no modelo de superviso bancria brasileiro na

    ltima dcada, e porque os resultados destas transformaes no alcanam a opinio pblica e

    no promovem a melhoria da imagem do BCB junto sociedade civil?

    Dentro deste panorama, este trabalho utiliza o ferramental terico dos autores que

    tratam da governana corporativa, especificamente aqueles que estudam a questo dos bancos

    e sua relao com os rgos reguladores. Atualmente existe uma tendncia em priorizar a

    governana corporativa como um caminho para sistemas econmicos mais eficientes,

    transparentes e justos. Em relao ao setor bancrio, o Novo Acordo de Capitais de Basilia

    (Basilia II) est focado nesta questo. Embora o enfoque esteja na relao entre bancos,

    rgos de superviso e partes relacionadas e menos na questo dos acionistas, permanece

    fundamental a discusso da Teoria da Agncia e da relao principal-agente.

    Este trabalho procura fazer a conexo entre os elementos da conjuntura bancria do

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  • 4

    ultimo decnio e a teoria de governana corporativa, tendo como protagonista o

    comportamento do BCB, suas aes, suas transformaes e seus objetivos.

    1.4 Relevncia

    A intermediao financeira o canal por onde fluem as expectativas dos agentes

    econmicos. Problemas neste setor tm reflexos na economia como um todo. A ao do rgo

    regulador deve ser no sentido de proteger a poupana das famlias, manter o bom

    funcionamento do mercado, estimular a concorrncia, trabalhando para uma maior eficincia

    da economia.

    A questo da governana corporativa dos bancos um assunto ainda recente no meio

    acadmico internacional. Fica evidente a cada novo escndalo financeiro a importncia

    fundamental do debate em relao aos mecanismos de controle e auditoria.

    Governana corporativa no uma panacia para todos os males, mas um caminho

    de evidente construo lgica. A discusso destas questes contribui para o fortalecimento das

    instituies e do mercado.

    1.5 Metodologia

    Dos mtodos qualitativos de pesquisa, o estudo de casos o mais recomendvel

    quando o objetivo explorar as formas de manifestao de um determinado fenmeno.

    Segundo Gil (1996), a flexibilidade do estudo de caso fundamental para as fases iniciais de

    uma investigao sobre temas complexos, para a construo de hipteses ou a reformulao

    de um problema.

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  • 5

    Trs fatores determinam o modelo do mtodo de pesquisa a ser adotado, de acordo

    com Yin (1993): o tipo de pergunta de pesquisa a ser feita, o controle exercido pelo

    pesquisador em relao ao fenmeno pesquisado e, por fim, o carter temporal da pesquisa:

    passado ou presente. O autor ainda descreve os mtodos de pesquisa a serem empregados em:

    estudo de caso, pesquisas (survey), experimentos, histrico e anlise de arquivos.

    Foi escolhida a metodologia de estudo de caso, baseada na analise documental e em

    um vasto levantamento bibliogrfico, a fim de proporcionar parmetros que permitam

    observar e destacar as mudanas ocorridas no Sistema Financeiro Nacional (SFN), na atuao

    do BCB e na evoluo do conceito de GC no setor bancrio brasileiro.

    O uso do mtodo a ser adotado nesta pesquisa, de estudo de caso, plenamente

    justificvel, segundo Yin (1993), na medida em que existem situaes que envolvem uma

    relativa contemporaneidade; isto , ocorrem uma srie, de eventos que so muito recentes e de

    relevante importncia para o estudo. Segundo definio de Yin (1993), estudo de caso uma

    pesquisa emprica que investiga um fenmeno atual da vida real, principalmente quando a

    relao fenmeno e contexto no clara, e que usa mltiplas fontes de evidncia. Goode e

    Hatt (1975) afirmam que o estudo de caso consiste em organizar os dados relativos a uma

    certa unidade escolhida, como, por exemplo, a histria de um indivduo ou grupo, ou ainda de

    um processo social delimitado, valendo-se de entrevistas, questionrios, consultas a

    documentos etc.

    Os dois casos foram escolhidos por tipificarem com bastante nitidez dois momentos

    distintos da economia brasileira, separados entre si por uma dcada. Os casos destacam-se

    tambm por terem recebido grande ateno da imprensa e da opinio publica, permitindo uma

    coleta de informaes mais ampla. Vale ressaltar ainda certas similitudes nos casos das

    falncias do Banco Nacional e do Banco Santos, permitindo um bom nvel de comparao.

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  • 6

    1.5.1 Limitaes do estudo

    Da mesma forma que um nico experimento ou uma amostra particular de um universo

    muito maior no permitem ao pesquisador generalizar suas observaes, um nico estudo de

    caso no permite concluir sobre os resultados a serem obtidos por outras empresas de um

    mesmo pas ou setor de atividade (Yin, 1993; Gil, 1996). Sendo esta sua principal limitao, o

    estudo de caso pode ser entendido como uma alternativa para a busca da expanso de teorias.

    Segundo Yin (1993), a falta de rigor na conduo de uma pesquisa pode existir em

    qualquer metodologia utilizada. O mesmo autor argumenta que uma desvantagem do estudo

    de casos diz respeito subjetividade dos julgamentos na coleta de dados, principalmente

    quanto ao tratamento das inferncias feitas sobre eventos anteriores, relatados em documentos

    ou entrevistas, que no podem ser observados diretamente. No presente estudo podemos

    destacar ainda a restrio do acesso a informaes oficiais do Banco Central. No caso do

    Banco Nacional, o processo ainda encontra-se aberto e com uma srie de disputas judiciais.

    No caso do Banco Santos, por ser muito recente, falta tempo para a sedimentao dos

    desdobramentos.

    1.6 Estrutura do trabalho

    Esta dissertao estrutura-se em sete captulos. O captulo introdutrio procurou definir

    o problema da pesquisa e a justificativa estabelecendo os objetivos, a metodologia e a

    estrutura da dissertao.

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  • 7

    No segundo captulo, procura-se fazer uma reviso bibliogrfica sobre as definies e a

    evoluo histrica dos principais conceitos tericos relacionados com a governana

    corporativa. O captulo seguinte centra-se no conceito de GC aplicada em bancos, suas

    caractersticas e propriedades. Parte-se de uma viso mais genrica e busca aproximar o foco

    da questo de GC em economias emergentes e mais precisamente no caso brasileiro.

    O quarto captulo vai abordar o caso do Banco Nacional e seus desdobramentos com

    relao ao BCB e s mutaes ocorridas na superviso bancria. Como prembulo faz-se um

    quadro da crise bancria que envolve a falncia do Nacional.

    O caso do Banco Santos resume o quinto captulo, alm disso, feito um estudo

    comparativo dos dois casos. No sexto captulo, procura-se mostrar as caractersticas e

    implicaes de Basilia II com relao governana corporativa dos bancos brasileiros.

    Nas consideraes finais, a presente dissertao tenta indicar possibilidades para o

    incremento da GC dos bancos, bem como para a melhoria da atuao do BCB e para o

    desenvolvimento do SFN.

    Para concluir esta introduo, importante ressaltar que os prximos passos do

    trabalho seriam acompanhar o desfecho da atual crise dos pequenos e mdios bancos

    brasileiros, bem como analisar a implementao dos preceitos de Basilia II no Brasil. Uma

    indicao interessante seria realizar um levantamento quantitativo (montantes, prazos, custo

    final e spread) das captaes internacionais de bancos brasileiros e compar-los com um

    ndice de governana1 para observar se existe uma correlao clara entre estes elementos.

    1 Como modelos para construo deste ndice podemos recorrer aos trabalhos de Leal e Carvalhal (2004) e Klapper e Love (2002).

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  • 8

    2 Referencial terico

    2.1 Origens

    Se procurarmos um registro histrico documental da questo da governana corporativa,

    e mais precisamente em bancos, talvez o encontremos em uma carta da Casa Mdici, datada

    de 1455, dando instrues, estipulando minuciosamente os direitos, delimitando poderes e

    obrigaes ao administrador da filial de casa bancria em Bruges, Agnolo Tani. Ele s podia

    VHGHGLFDUDRFRPpUFLROHJDOHDVWUDQVDo}HVOtFLWDVHKRQHVWDV(UD-lhe vedado emprestar a

    prncipes, bem como fazer cmbio com nobres e eclesisticos. Podia emprestar unicamente a

    artfices, mas depois de considerada cuidadosamente a reputao do muturio. Jogos de azar e

    mulheres no estabelecimento eram expressamente proibidos, tampouco aceitar presentes2.

    9iULRVH[HPSORVVHVHJXLUDPFRPRQRFDVRGDVHPSUHLWDGDVGHH[SORUDomRGD&LDGDVQGLDV

    Orientais com o estabelecimento de contratos definindo poderes e obrigaes de acionistas e

    corpo executivo3.

    Adam Smith4, um dos pais da teoria econmica constatou que, quando a propriedade e o

    controle das corporaes no totalmente coincidente, existe um potencial para a ocorrncia

    de conflitos de interesses entre proprietrios e controllers.

    A crise de 1929, com grandes perdas de investidores no mercado financeiro americano,

    e o surgimento das modernas corporaes engendram estudos sobre a Teoria da Agncia e

    modelos de governana das corporaes. Destacam-se os trabalhos de Berle e Means (1932) e

    Coase (1937). Berle e Means apresentaram uma diferente forma de pensar as organizaes,

    2 Ver Roover (1999). 3 Ver Morck, Steier (2005). 4 Ver Smith (1776).

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  • 9

    que acabaria influenciando a nova poltica de mercado de capitais implementada por Franklin

    Roosevelt. Tais influncias encontram-se refletidas em normas que visam ao restabelecimento

    de boas prticas de governana, tais como: Securities Act de 1933; Securities Exchange Act de

    1934; e Public Utility Holding Company Act de 1935. Coase, por sua vez, observa que a firma

    seria uma relao orgnica entre agentes, coordenada por meio de contratos implcitos ou

    explcitos. Ela no corresponderia apenas ao local de processamento de insumos para a

    obteno de produtos; seria tambm um ambiente onde deveria existir a coordenao dos atos

    de agentes econmicos interna e externamente organizao. Ao se considerar a relao

    orgnica entre agentes, passou-se a dar maior relevncia teoria das organizaes, ao se

    analisar a estrutura e o funcionamento de empresas.

    Aps anos de esquecimento, Jensen e Meckling (1976) aplicaram a teoria de agncia em

    corporaes modernas e desenvolveram um modelo de custos de agncia para os acionistas.

    Com base nesse modelo, houve um grande desenvolvimento de pesquisas a partir dos anos 80

    focadas nas corporaes americanas; nos anos 90 essas pesquisas expandiram-se para outros

    pases (Shleifer e Vishny, 1997).

    2.2 Definies

    Governana corporativa pode ser definida simplesmente como o sistema pelo qual as

    sociedades so dirigidas e monitoradas, envolvendo o relacionamento entre acionistas/cotistas,

    Conselho de Administrao, Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fiscal.

    Sob uma perspectiva macro, governana corporativa um conjunto de idias e regras

    referentes a relaes que empresas necessariamente desenvolvem diariamente com outras

    partes interessadas com o intuito de primar por uma gesto de excelncia. importante

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  • 10

    perceber que a noo de partes interessadas (stakeholders) aqui usada extrapola a idia de

    empresa. Assim, por exemplo, o governo, com o qual as empresas se relacionam, pode ser

    entendido como uma parte interessada.

    Por ser bem abrangente, a definio de governana corporativa complexa. A

    governana parte do contexto econmico geral em que as empresas operam, e inclui

    polticas macroeconmicas, o nvel de concorrncia nos mercados, o ambiente jurdico,

    regulamentar e institucional. A interconexo de todas as partes, os chamados relacionamentos,

    forma uma rede de ligaes e pode-se imaginar um verdadeiro sistema de governana

    corporativa.

    Segundo a OCDE (Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico),

    governana corporativa envolve um conjunto de relacionamento entre os gestores da empresa,

    seu conselho de administrao, acionistas e outras partes interessadas. A governana

    corporativa tambm prov a estrutura atravs da qual os objetivos da empresa so definidos,

    os meios necessrios para serem atingidos e como a performance deve ser monitorada. Um

    bom sistema de governana deve prover adequados incentivos para o conselho e gestores no

    alcance dos objetivos que so do interesse da empresa e dos acionistas e deve facilitar o

    efetivo monitoramento, encorajando o uso dos recursos da forma mais eficiente.

    Segundo o Cdigo de Melhores Prticas de Governana do IBGC (Instituto Brasileiro de

    Governana Corporativa) governana corporativa o sistema pelo qual as sociedades so

    dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre acionistas/cotistas, conselho de

    administrao, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal. As boas prticas de

    governana corporativa tm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso

    ao capital e contribuir para a sua perenidade.

    Segundo a CVM (Comisso de Valores Mobilirios), governana corporativa o

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  • 11

    conjunto de prticas que tem por finalidade otimizar o desempenho de uma companhia ao

    proteger todas as partes interessadas, tais como, investidores, empregados e credores,

    facilitando o acesso ao capital.

    Segundo o BIS, sob a perspectiva da indstria bancria governana corporativa diz

    respeito maneira como os negcios e os assuntos das instituies, individualmente, so

    regidos pelo Conselho de Administrao e pela diretoria, afetando pontos como:

    estabelecimento dos seus objetivos corporativos;

    execuo das operaes no dia-a-dia;

    defesa dos interesses das partes envolvidas (stakeholders);

    conformidade com as leis e os regulamentos aplicveis; e;

    cuidado com os interesses dos depositantes.

    0DFH\ H 2+DUD SURpem uma definio mais abrangente sobre governana

    corporativa, ao defini-la como o conjunto de contratos e arranjos institucionais que regem as

    relaes entre acionistas (ou outros grupos interessados) e a administrao das empresas.

    A economia globalizada aumentou o fluxo de capitais, o que significa que empresas tm

    maior acesso a financiamentos de um grupo bem maior de investidores. Os investidores

    internacionais, por sua vez, esto cada vez mais insistindo em altos padres de governana

    corporativa nas empresas em que investem. Existe, ento, uma relao direta entre

    governana, reduo de incertezas e o carter internacional dos investimentos. Alguns

    investidores institucionais internacionais colocam seus prprios cdigos de governana como

    um parmetro para determinar uma deciso de investimento.

    A adeso a boas prticas de governana corporativa por parte das empresas e governo

    ajudar a aumentar a confiana de investidores nacionais e internacionais, podendo ampliar as

    fontes de recursos, reduzindo o custo do capital e restringindo a rea de atuao do capital

    http://www.pdfmachine.com?cl

  • 12

    especulativo.

    Nos ltimos tempos, a ateno pblica internacional sobre escndalos e falncias de

    empresas tem forado governos, reguladores e Conselhos de Administrao de empresas a

    repensar questes de governana como de interesse econmico pblico fundamental.

    Uma governana corporativa efetiva no ir garantir a eficincia na produo ou

    distribuio, e tampouco ir criar uma empresa lucrativa num passe de mgica. Entretanto, sua

    ausncia quase sempre promove o contrrio. Mesmo se fosse o caso de no se levar em

    considerao o fator justia isto , que os acionistas confiam o seu capital a gerentes

    corporativos e diretores que supostamente agem como fiducirios a sociedade como um todo

    necessita de produo contra o desperdcio e a m alocao de recursos escassos. A

    governana corporativa promove o bem comum ao assistir as corporaes a agir de uma

    maneira lgica e responsvel. lgico concluir que quando gerentes e conselhos

    administrativos so responsabilizados por seus atos e decises atravs de um processo de

    superviso transparente, o resultado uma crescente considerao s necessidades societrias

    HGRVDFLRQLVWDV0DFH\H2+DUD

    2.3 A questo da Teoria da Agncia

    Coase foi original ao abordar a questo da firma e analisar que o empreendedor e seus

    empregados (fator) esto integrados nas firmas por meio dos contratos. Jensen e Meckling

    (1976) complementaram o trabalho de Coase com o conceito de assimetria de informao a

    fim de formular o problema da agncia em uma maneira prescritiva, isto com a idia que os

    contratos poderiam ser feitos de maneira a superar a assimetria da informao implcita entre

    os fatores integrados na firma.

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  • 13

    A separao da propriedade e do controle gera um problema da agncia quando a

    gerncia opera a firma em seus prprios interesses, no aqueles dos acionistas. A Teoria da

    Agncia trata da relao entre uma pessoa (o principal) que autoriza e depende das aes de

    outra (o agente) para conseguir os objetivos de uma empresa. A preocupao central da teoria

    com os custos gerados pelos possveis conflitos e como o marco jurdico e a engenhosidade

    no desenho de contratos podem ser utilizados para minimiz-los.

    A Teoria da Agncia est inserida no modelo contratual da firma. A firma um nexus de

    contratos, ao centro do qual est o gestor/dirigente. A firma uma fico jurdica, que serve

    como ambiente para o conjunto de relaes contratuais (explcitas e implcitas) entre os

    elementos que so partes interessadas na empresa. O dirigente se situa no centro de todas as

    relaes entre os interessados na empresa (assalariados, fornecedores, clientes, empresas

    concorrentes, acionistas, banqueiros, reguladores, governos...). As relaes contratuais so

    necessrias devido ao fato de se pressupor que os indivduos que atuam no mercado tenderiam

    a agir de forma oportunista. Essas pessoas, diferentemente do que pressupem as anlises

    econmicas neoclssicas, poderiam assumir uma postura oportunista em algum momento.

    O motivo que leva o principal a contratar o agente o fato de no serem suficientemente

    qualificados ou informados para decidir as questes de aplicao de investimentos (Shleifer e

    Vishny, 1997). Problemas de agncia ocorrem quando o principal no tem poder ou

    informao necessria para monitorar e controlar o agente e quando as compensaes do

    SULQFLSDOHGRDJHQWHQmRHVWmRDOLQKDGDV0DFH\H2+DUD

    A assimetria de informaes existente no ambiente das organizaes pode fazer com que

    os gestores tentem obter vantagens que correspondam aos seus interesses, em detrimento dos

    interesses das outras partes que compem os grupos de relacionamentos da empresa. Por

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  • 14

    estarem no convvio direto com a rede de contratos, que faz parte do ambiente de informaes

    da empresa, os gestores podem vir a se utilizar dessas informaes privilegiadas visando o

    proveito pessoal.

    2.3.1 Dois modelos de definio de governana corporativa

    6HJXQGR 0DFH\ H 2+DUD SRXFD LPSRUWkQFLD WHP sido dada a governana

    corporativa dos bancos, isto particularmente estranho pelo fato de existirem uma quantidade

    significativa de anlises feitas em relao ao papel que os bancos desempenham na

    governana de outros tipos de firmas. O debate intelectual sobre governana corporativa

    esteve focado em dois aspectos muito diferentes. O primeiro concerne a se a governana

    corporativa deve se focar exclusivamente em proteger os interesses dos acionistas na

    corporao, ou se a governana corporativa deve preferivelmente expandir seu foco para tratar

    dos problemas de outros grupos, chamados partes interessadas ou constituintes no-acionistas.

    O segundo enfoque dos estudiosos da governana corporativa comea com a suposio de que

    a governana corporativa deve se concentrar exclusivamente na proteo dos acionistas e nas

    tentativas de especificar as maneiras em que a corporao pode melhorar a proteo queles

    interesses.

    O modelo anglo-americano de governana corporativa difere do modelo franco-germano

    no tratamento de ambas as questes. O modelo anglo-americano concentra sua ateno na

    questo da maximizao do valor para o acionista. O enfoque franco-germano de governana

    corporativa, por outro lado, considera as corporaes como "parcerias econmicas" nas quais

    os interesses de longo prazo das partes interessadas, como bancos e empregados, devem ser

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  • 15

    considerados com o mesmo respeito que os interesses dos acionistas5. O princpio definidor da

    governana corporativa americana de que existe um termo implcito do contrato entre

    acionistas e a firma e que o dever dos gerentes e dos diretores de maximizar o valor da firma

    para os acionistas.

    $VVLP 0DFH\ H 2+DUD GHIHQGHP XP HQIRTXH KtEULGR VREUH JRYHUQDQoD

    corporativa, em que a maioria de firmas est governada de acordo com o modelo americano,

    enquanto os bancos so governados de acordo com uma variante do paradigma franco-

    germano. Essa variante indica que os conselheiros de banco expandam o espao de seus

    deveres fiducirios para alm dos acionistas incluindo alm dos credores, depositantes ou

    detentores de bnus, outras partes interessadas, como o governo e os agentes reguladores.

    Portanto, assumindo os pressupostos dos autores observamos que podemos dividir os

    modelos de analise de governana corporativa em dois padres:

    Modelo americano conceito restrito, foca sua ateno nos conflitos decorrentes

    da separao entre propriedade (shareholders) e gesto.

    Modelo europeu conceito amplo, leva em considerao as mltiplas interaes

    entre a administrao e os grupos interessados (stakeholders). Conceito mais

    aplicvel ao estudo da governana corporativa do setor bancrio, devido aos

    grupos de interesse diretamente ligados.

    2.3.2 A questo da Teoria da Agncia aplicada aos bancos

    A aplicao da Teoria da Agncia ao setor financeiro supe que os bancos operam no 5 Esta diferenciao dos enfoques est relacionada ao fato de que no modelo continental europeu existe uma grande participao acionria do capital financeiro nos conglomerados no-financeiros. Muitos bancos controlam grupos industriais. Nos EUA o controle acionrio mais pulverizado. Sobre este tema ver Demsetz e Lehn (1985).

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  • 16

    mesmo tipo de mercados competitivos e esto estruturados gerencialmente pelas mesmas

    foras que todas firmas restantes. Os especialistas em estudos da operao bancria

    consideram bancos como diferHQWHV H GLVWLQWRV GDV ILUPDV FRPXQV VHMD SRU QD SUiWLFD

    operarem em mercados pouco competitivos ou porque suas caractersticas especficas

    requerem regulamentos restritivos (Goodhart et al, 1998).

    A fim ilustrar a falta do ajuste entre modelos padro da Teoria da Agncia e a firma

    conhecida como banco, ser til rever suas suposies e compar-las s caractersticas dos

    bancos. Segundo Ciancanelli e Reyes (2000), a Teoria da Agncia parte de pelo menos trs

    pressupostos bsicos:

    Mercados normais ou competitivos;

    O nexo da assimetria da informao est na relao entre proprietrios e

    gerentes;

    A estrutura de capital tima requer alavancagem limitada (o teorema de

    Modigliani e Miller)6.

    Em contraste, a operao dos bancos comerciais caracteriza-se por:

    Mercados fortemente regulados ou administrados;

    O problema da agncia mais complexo, envolvendo outras partes interessadas;

    A estrutura de capital altamente alavancada, o que reflete a funo do banco

    como um intermedirio financeiro. Os proprietrios fornecem menos de 10% dos

    fundos emprestados; os detentores de bnus e os depositantes fornecem o resto.

    Para a governana, o problema de agncia mais complexo de especial importncia.

    6 Vale lembrar que segundo esta teoria existe um ponto timo entre capital de terceiros e capital prprio. Em relao aos bancos, pela prpria natureza da mercadoria transacionada, este ponto difere das firmas convencionais. A estrutura tende a ter maior participao do capital de terceiros, tendo um grau de alavancagem muito superior ao das empresas no-financeiras.

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  • 17

    Alm da assimetria da informao entre proprietrios e gerentes, h ao menos trs loci

    adicionais da informao assimtrica nos bancos:

    Entre depositantes, o banco e o regulador;

    Entre o proprietrio, os gerentes e o regulador;

    Entre os devedores, os gerentes e o regulador.

    A importncia destes loci adicionais de assimetria da informao sugere que a natureza

    da firma chamada banco qualitativamente diferente da natureza da firma definida na Teoria

    da Agncia. Essa ampliao da questo das assimetrias ser fundamental no desenvolvimento

    posterior deste trabalho, pois marcar o diferencial entre a crise bancria dos anos 90 e o

    corrente distress financeiro nacional.

    Entretanto, mesmo que ns consideremos a Teoria da Agncia ser de uso limitado na

    anlise da governana dos bancos, o problema da agncia permanece como uma ferramenta

    conceitual importante. A existncia de uma estrutura mais complexa de assimetria da

    informao uma caracterstica distintiva dos bancos comerciais. Vale discutir quais so os

    tipos e as implicaes dessa maior complexidade em relao s assimetrias de informao e

    das relaes principal-agente:

    Informao assimtrica devida existncia de ilhas de informaes - ocorre

    quando diferentes agentes possuem diferentes informaes, cujas aes e

    FRQVHTrQFLDVSRGHPJHUDUSUREOHPDVGHULVFRPRUDOHGHVHOHomo adversa;

    Falhas na coordenao da informao - ocorrem quando os agentes de mercado

    no identificam corretamente o comportamento/situao de determinado

    participante;

    Eficincia da informao - entendida no sentido de que os preos de mercado

    devem refletir toda a informao disponvel; e;

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  • 18

    Transparncia das polticas pblicas, que se refere ao ambiente no qual os

    objetivos de poltica, a estrutura legal, institucional e econmica, as decises de

    poltica e sua lgica, os dados e as informaes relativos s polticas monetrias

    e financeiras, e a responsabilizao das agncias, so fornecidos ao pblico de

    forma compreensvel, acessvel e tempestiva.

    2.3.3 A natureza do mercado em que o banco opera

    O conceito do mercado na teoria da firma de Coase supe a competio perfeita.

    Entretanto, a competio perfeita no um conceito vlido para explicar as caractersticas

    especficas de mercados bancrios (Ciancanelli e Reyes, 2000). A existncia de regulao na

    operao bancria afeta a natureza dos mercados em que a firma chamada banco opera. A

    eliminao pelo mercado das empresas ineficientes, um dos pressupostos de um mercado

    competitivo, pode ensejar o pnico entre os clientes das demais empresas, podendo levar s

    chamadas corridas bancrias. Assim, a liquidez e solvncia das instituies financeiras

    bsica para a confiana do pblico e tem sido historicamente umas das motivaes bsicas da

    regulao. Por outro lado, a completa (e desregulamentada) liberdade de ingresso de novas

    firmas no mercado no desejvel, pois a natureza fiduciria dos ativos financeiros permite

    oportunidades de fraude e especulao por parte de intermedirios financeiros no regulados.

    Uma ferrenha competio no regulamentada no mercado financeiro pode levar a

    prticas predatrias, e a eventuais monoplios, que so reconhecidamente contrrios ao

    interesse pblico. Mercados financeiros geralmente restringem a entrada de novos

    participantes, impem muitas restries operacionais e tm regras diferenciadas na sada das

    instituies. &RQVHTHQWHPHQWH DVSHFXOLDULGDGHVHVSHFtILFDVGRVPHUFDGRV ILQDQFHLURV WHUmR

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  • 19

    que ser a base para a anlise dos problemas relativos Teoria da Agncia e as relaes entre

    JHUHQWHVSURSULHWiULRVUHJXODGRUHVHSDUWHVLQWHUHVVDGDV0DFH\H2+DUD

    Na teoria da firma derivada de Coase, a dinmica do relacionamento entre o mercado e a

    firma no so considerados. A firma e o mercado so tratados como se fossem independentes

    um do outro. Entretanto, uma perspectiva dos sistemas observa que o mercado e a firma no

    so independentes entre si. Assim, se a firma um nexo dos contratos entre fatores, o mercado

    um nexo dos contratos entre firmas e entre firmas e reguladores. Nos mercados financeiros

    esta questo potencializada, pois a inter-relao entre os agentes financeiros faz com que

    problemas em parte do sistema tendam a tornarem-se crises para o mercado como um todo.

    Coase tece consideraes muito breves sobre a influencia da regulao dos mercados no

    desenvolvimento de sua teoria geral. Ciancanelli e Reyes (2000) observam que os

    regulamentos do setor bancrio tm efeitos completamente especficos no mercado e na firma.

    O poder dos mercados de disciplinar os bancos limitado por autorizaes de entrada,

    limitaes de fuses e aquisies, regulamentos administrativos e assim por diante.

    Obviamente, estas condies regulamentares afetam tambm a tomada de deciso da gerncia

    GR EDQFR $OpP GLVVR D ILUPD EDQFR IUHTHQWHPHQWH HQIUHQWD D VXSHUYLVmR GLUHWD DV

    limitaes no espao de negcios e os critrios de habilitao para gerentes e diretores.

    Segundo Ciancanelli e Reyes (2000), a regulao do mercado financeiro tem ao menos

    quatro efeitos:

    A existncia do regulamento implica na existncia de uma fora externa,

    independente do mercado, que afeta a relao entre o proprietrio e o gerente;

    Os regulamentos aplicados neste mercado implicitamente criam uma fora

    externa da governana na firma;

    A existncia do regulador e de regulamentos implica que as foras de mercado

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  • 20

    disciplinaro gerentes e proprietrios de uma maneira diferente do que nos

    mercados no regulados;

    A fim de impedir o risco sistmico, como o emprestador de ltima instncia, o

    rgo supervisor compartilha do risco dos bancos.

    Na literatura convencional sobre governana corporativa, o mercado a nica fora

    externa da governana com o poder disciplinador sobre o agente. A existncia de rgos

    regulamentares significa uma fora externa adicional, com o poder de disciplinar o agente.

    Esta fora completamente diferente do mercado. Age na esfera macroeconmica (no nvel

    do setor de operao bancria) e na esfera microeconmica (no nvel dos bancos individuais).

    O regulamento do setor bancrio revela a existncia de interesses separados e distintos

    dos interesses privados da firma. Como uma fora de governana, o regulamento pretende

    servir ao interesse pblico, particularmente o interesse dos consumidores dos servios

    intermediao financeira. Por esta razo, a relao entre o regulador, a firma e seus

    proprietrios so modelados geralmente como uma relao poltica.

    Na teoria convencional da firma, a ateno focada principalmente na maximizao do

    valor da empresa. Para cumprir esse objetivo o agente tem uma funo bem especifica: a

    maximizao da riqueza do acionista. Do corpo diretivo espera-se agir e tomar decises em

    nome do interesse do proprietrio. A implicao que todo o sistema ou mtodo de

    governana corporativa deve ter como seu objetivo proteger os interesses do principal, que

    significa maximizar a riqueza do acionista.

    Em corporaes bancrias, o agente deve responder no somente ao interesse do

    proprietrio, mas tambm ao interesse pblico expresso pelos regulamentos. A fim de

    assegurar e proteger o interesse pblico, o regulamento impe uma forma de governana

    externa sobre o agente. O regulamento cria restries em processos do mercado, limitando sua

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  • 21

    natureza e espao e sujeita todas as firmas ameaa da ao administrativa do regulador.

    Visentini (1997) observa que o mercado financeiro tem caractersticas de mercado

    administrado devido s restries de entrada, controle de fuses e aquisies, autorizaes,

    rede de seguros etc. Pode-se afirmar que a regulao busca manter a segurana do ambiente

    econmico e no um mercado verdadeiramente competitivo.

    Um dos objetivos principais da governana corporativa nas firmas no-bancarias

    envolve a criao de estruturas de deciso que impeam que o agente exponha os acionistas a

    um nvel mais elevado de risco do que aquele desejado. Nos bancos, a estrutura da ao,

    motivao e comportamento so completamente diferentes. A regulao da operao bancria

    preocupa-se fundamentalmente com a existncia do risco sistmico, o regulamento aplica

    instrumentos julgados eficazes em limitar o risco sistmico. Dentre estes instrumentos

    destacam-se, o papel do rgo regulador como emprestador de ltima instncia, os planos de

    reestruturao do mercado e os sistemas de seguro de depsito. Esses elementos so meios de

    impedir o contgio, corridas bancarias e as outras ameaas integridade do sistema. De uma

    perspectiva de governana, entretanto, a presena destes instrumentos muda dramaticamente o

    relacionamento entre o agente e o principal e a estrutura conceitual requerida compreend-la.

    Estas polticas de limitao do risco do sistema implicam que os proprietrios de banco esto

    compartilhando seu risco com uma autoridade externa. O risco do negcio, aquele que em

    firmas comuns seria carregado totalmente pelos acionistas, assumido somente parcialmente

    pelos acionistas de bancos. Alm disso, vrios autores observam que em vrios pases existem

    EDQFRV TXH VmR WRR ELJ WR IDLO e no obstante o comportamento de maior risco estas

    instituies seriam sempre resgatadas, porque em caso de falncia ameaariam o sistema

    bancrio como um todo. (Vittas, 1992; Goodhart et al, 1998)

    2V UHJXODPHQWRV ILQDQFHLURV WrP FRQVHTrQFLDV HVWUXWXUDLV HP GRLV QtYHLV QR VHWRU

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  • 22

    como um todo e nas firmas individuais que compem o setor. Ou seja, o regulamento cria um

    tipo original de firma cujas caractersticas especficas tm comeado somente recentemente a

    atrair a ateno de pesquisadores de gerncia financeira. Segundo Ciancanelli e Reyes (2000),

    nos bancos deve-se esperar que:

    O problema da governana seja mais complexo;

    O relacionamento entre o agente e o principal original por ser mediado por uma

    fora externa e;

    Os proprietrios podem ser considerados, isoladamente, como a fonte mais

    importante de perigo moral.

    Em suma, a teoria da governana corporativa na operao bancria requer a

    considerao das seguintes questes:

    O regulamento como uma fora externa de governana, separada e distinta do

    mercado;

    As caractersticas intrnsecas do mercado;

    O regulamento como um interesse adicional, externo e separado do interesse da

    firma;

    O regulador constituindo-se como uma parte externa compartilhando o risco.

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  • 23

    3 Governana corporativa de bancos

    O sistema financeiro tem um papel central na economia. Permite a alocao de recursos

    entre poupana e investimento, influi diretamente na governana corporativa de outras firmas.

    Um sistema financeiro eficiente estimula a otimizao da utilizao dos recursos, o

    crescimento da produtividade e a prosperidade da economia inteira. Por outro lado, as crises

    bancrias podem desestabilizar a situao econmica e poltica das naes. Estas

    externalidades fortes na economia fazem a governana corporativa dos bancos uma questo

    fundamental. Bancos bem governados sero mais eficientes em suas funes que aqueles mal

    JRYHUQDGRV ( HP FRQVHTrQFLD GH VXD UHOHYkQFLD QR H[HPSOR GRV EDQFRV D JRvernana

    corporativa no meramente uma questo privada, mas uma questo pblica manifestada

    atravs dos rgos reguladores e superviso bancria.

    Alm disso, no somente a boa governana dos bancos importante, mas diferente da

    governana de outros setores da economia. Os bancos propem perguntas originais ao

    problema da GC devido a suas caractersticas intrnsecas e a sua condio regulada.

    A natureza especfica do negcio bancrio, consistindo principalmente, em receber

    depsitos, fazer emprstimos e em processar informao, e seu papel central em toda a

    economia, como a base para o sistema dos pagamentos, determina diferenas em muitos

    aspectos. Vrios autores identificam caractersticas prprias do setor bancrio, que afetam e

    influenciam a governana corporativa dos bancos:

    Regulao. A existncia do regulamento na indstria de operao bancria tem

    um impacto importante a governana dos bancos (Llewellyn, 2001). A

    regulamentao bancria compreende exigncias de capital, divulgao de

    informao, monitoramento de polticas de emprstimos e proviso, a fim

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  • 24

    assegurar a higidez sistema bancrio;

    Superviso dos bancos por agncias oficiais. As autoridades fornecem subsdios

    monitorao que pode influenciar acionistas e depositantes para exercitar o

    controle (Llewellyn, 2001);

    O relacionamento fiducirio entre os bancos e os seus clientes, incomum fora do

    setor financeiro (Llewellyn, 2001);

    O interesse de todo o sistema econmico em evitar quebras de bancos. Crises

    bancrias tm geralmente um custo social elevado (Llewellyn, 2001);

    Redes de segurana, particularmente fundos de seguro de depsito, criados para

    impedir corridas bancarias e para reduzir o impacto na economia quando um

    banco individual desmorona (Llewellyn, 2001; Macey e O'Hara, 2003);

    Propriedade dispersa. De acordo com Demsetz e Lehn (1985), na economia

    norte-americana os bancos apresentam uma estrutura menos concentrada da

    propriedade do que as firmas de no-financeiras. Caprio et al. (2003) do-nos a

    evidncia emprica mais ampla de uma concentrao mais baixa, especialmente

    no bloco das economias desenvolvidas;

    Estrutura de capital mais alavancada. Os depsitos, linhas de crdito e ttulos de

    dvida representam 90% ou mais do financiamento dos bancos; quando em

    firmas no-financeiras esta proporo permanece tipicamente abaixo de 50 %

    (Macey e O'Hara, 2003);

    Fragilidade. Os bancos so instituies muito frgeis. Sua funo de produo da

    liquidez (a m combinao na estrutura de termo e de liquidez de seus ativos e

    passivos) junto com as relaes elevadas de dvida faz da possibilidade de

    corridas bancrias um risco srio a ser considerado e cria a necessidade para o

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  • 25

    fundo de seguro de depsito (Macey e O'Hara, 2003);

    Risco mais elevado. A falta da disciplina significativa dos depositantes, devido

    existncia do fundo de seguro de depsito (mesmo se h requerimentos de

    capital) incentiva os bancos a assumir riscos mais elevados do que deveriam. Isto

    cria uma necessidade de exigncias mais estritas de accountability para os

    diretores de banco (Macey e O'Hara, 2003);

    Fraude. Os bancos apresentam um risco mais elevado de falncia devido a

    IUDXGHSDUWHHPFRQVHTrQFLDGRVHJXURGHGHSyVLWRTXHUHGX]RLQFHQWLYRSDUD

    monitoramento por parte dos depositantes (Macey e O'Hara, 2003), parte por

    compartilharem seus riscos com a autoridade monetria;

    Conselho de administrao. A evidncia emprica mostra que nos EUA, os

    conselhos dos bancos so maiores e mais independentes (proporo mais elevada

    de conselheiros externos) do que firmas no-financeiras (Adams e Mehran,

    2003);

    %DQFRV VmRPDLV GLItFHLV GH VHUHPPRQLWRUDGRV$V DJHQFLDV0RRG\V H 63

    discordam apenas em 15% dos ratings de bnus de empresas no-financeiras,

    mas discordam em 34% das anlises de bnus emitidos por empresas financeiras

    (Morgan 2002);

    Remunerao dos executivos. Os CEO de bancos americanos recebem maiores

    salrios que suas contrapartes em outros setores (Murphy, 1998);

    Oportunidades de investimento. Bancos apresentam mais opes do que em

    outros setores da economia (Adams e Mehran, 2003).

    Especificidades como, regulao, superviso, estrutura de capital, alavancagem, risco,

    relacionamentos fiducirios, controle societrio e o seguro de depsito, determinam que

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  • 26

    empresas financeiras tenham uma governana corporativa especial com respeito a outros

    setores. As diferenas podem ser resumidas em trs pontos: mecanismos da governana

    internos firma; disciplina de mercado e a atividade regulatria e supervisora pelas

    autoridades.

    Em Lindgreen (1996), encontramos uma interessante diviso das funes de regulao e

    superviso em relao s partes interessadas. Na verso ampliada de governana corporativa,

    assume-se que a necessidade e o estmulo eficincia dos controles devem vir de vrias

    direes. Podemos tipificar estas funes da seguinte maneira:

    Estruturas de governana corporativa (funo interna)

    o Superviso do Conselho de Administrao e do Comit de Auditoria,

    o Cdigos de tica e de melhores prticas,

    o Garantias para os depositantes e credores;

    Disciplina de mercado (funo dos investidores)

    o Disclosure de informaes aos investidores e analistas,

    o Ampliao e cuidados em relao aos stakeholders,

    o Ateno aos mercados de securities (CDI, CDB, Debntures, Dvida

    subordinada, Aes, Swaps, compromissadas...);

    Monitoramento dos supervisores (funo dos reguladores)

    o Exigncias de capital,

    o Autorizaes,

    o Restries a controladores/diretores/conselheiros,

    o Obrigatoriedade de relatrios contbeis,

    o Superviso direta/indireta.

    Na categoria dos mecanismos da governana internos firma, os conselhos de

    http://www.pdfmachine.com?cl

  • 27

    administrao e as aquisies, amigveis ou hostis, tm um papel disciplinador mais fraco nos

    bancos; mesmo que os conselhos sejam maiores, mais independentes, tenham um nmero

    VXSHULRUGHFRPLWrVHVHMDPFRQYRFDGRVPDLVIUHTHQWHPHQWH$FRPSHQVDoo dos executivos

    mais elevada na operao bancria, mas a sensibilidade da remunerao por desempenho

    mais baixa. Finalmente, embora os bancos apresentem estruturas mais dispersas de

    propriedade, na maioria dos pases do mundo comum encontrar o governo como controlador

    ou acionista de bancos (Barth et al. 2001).

    Levine (2003) discute dois atributos especiais dos bancos que os fazem especiais na

    prtica: uma menor transparncia e a regulao maior do governo. Os bancos so geralmente

    menos transparentes do que firmas no financeiras. Embora as assimetrias de informao

    flagelem todos os setores, a evidncia emprica sugere que estas assimetrias informativas so

    maiores com bancos (Furfine, 2001). Na operao bancria, a qualidade dos emprstimos no

    prontamente observvel e pode ser escondida por perodos longos. Os bancos podem

    prontamente esconder problemas prorrogando emprstimos aos clientes e fazendo a rolagem

    de dvidas vencidas. Alm disso, os bancos podem alterar a composio do risco de seus

    ativos muito mais rapidamente do que a maioria de firmas no-financeiras.

    Flannery et al. (2004) analisando o mercado acionrio de bancos americanos, observam

    que bancos menores tm menos negcios do que empresas no-financeiras de mesmas

    caractersticas (tamanho e preo da ao) mesmo tendo bid-ask spreads7 semelhantes. J entre

    grandes conglomerados bancrios no se demonstraram diferenas significativas em relao

    ao seu grupo de controle. Segundo os autores isto se deve a um maior grau de GC e melhor

    superviso em relao aos grandes conglomerados financeiros aumentando o grau de

    transparncia de seus nmeros e uma maior facilidade de avaliao.

    7 Diferena entre as taxas de compra e de venda ofertadas no mercado.

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  • 28

    Por outro lado, os bancos so pesadamente regulados. Por sua importncia na economia,

    por causa da pouca transparncia dos ativos e das atividades dos bancos, e tambm por serem

    uma grande fonte de rendimentos fiscais, os governos impem uma elaborada gama de regras

    ao setor financeiro. No extremo, os governos possuem bancos. Mesmo pases que intervm

    pouco em outros setores tendem a impor fortes regulamentos no setor bancrio (Llewellyn,

    2001). Alm disso, a exploso de padres internacionais de regulao financeira, atravs do

    BIS, do FMI, e do Banco Mundial assegura virtualmente a participao do governo no setor

    bancrio.

    3.1 Regulao e superviso

    Entre 1980 e 1997, mais de 130 pases experimentaram algum tipo de problema com

    seus sistemas bancrios (Lindgren et al, 1996). O fato de essas crises terem ocorrido aps a

    implementao de reformas do sistema financeiro reviveu o antigo debate em economia e

    finanas sobre o papel da regulamentao bancria. Somente mais recentemente passou-se a

    discutir a questo da governana corporativa dos bancos e a seu papel dentro de possveis

    crises sistmicas. Prowse (1997) observa que quando se tratam de bancos, talvez o mais

    importante mecanismo de governana corporativa seja a interveno regulatria que, atravs

    do monitoramento e superviso de suas atividades, impe-lhes restries s metas de

    maximizao de lucro dos acionistas.

    Llewellyn (2001) examina de uma maneira mais ampla a questo da regulao do

    mercado financeiro. Constri um modelo onde os regulamentos sejam somente um dos

    elementos complementares do regime. Estes componentes chaves so:

    A legislao;

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  • 29

    Monitorao e superviso pelas autoridades;

    As estruturas de incentivo encontradas por agncias regulatrias, por

    consumidores e bancos;

    O papel da disciplina de mercado;

    Arranjos da interveno no caso de quebras de banco;

    Mecanismos internos da governana dentro dos bancos; e.

    Os padres disciplinares e de accountability aplicados s agncias regulatrias.

    Com o objetivo da estabilidade financeira (isto reduo da probabilidade de quebras de

    banco e seus custos decorrentes), necessrio encontrar a maneira de otimizar a estratgia de

    superviso combinando estes componentes complementares do regime regulatrio, levando

    em considerao os trade-offs negativos que podem emergir entre eles. Particularmente, existe

    o risco que a regulamentao excessiva diminua o poder dos outros mecanismos, reduzindo a

    eficcia total do regime regulatrio. Definida desta forma, a estratgia regulatria tima deve

    variar entre diferentes pases, pocas e entre bancos individuais.

    3.2 Melhorando a governana corporativa das organizaes bancrias

    O BIS tem sistematicamente divulgado vrios documentos contendo tpicos especficos,

    nos quais a importncia da governana corporativa enfatizada. Dentre estes documentos

    incluem-se: Core Principles for Effective Banking Supervision (1997); Enhancing bank

    transparency (1998); e Enhancing Corporate Governance for Banking Organizations (1999)8.

    Nestas smulas de princpios, salientado o fato de que as estratgias e as tcnicas que so

    bsicas para uma boa governana corporativa incluem:

    8 Ver apndice B.

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  • 30

    Os valores corporativos, os cdigos de conduta e outros padres de

    comportamento apropriados e as sistemticas utilizadas para assegurar o seu

    cumprimento;

    Uma estratgia corporativa bem articulada, pela qual o sucesso de todas as

    empresas e as contribuies individuais possam ser medidas;

    Uma clara definio de responsabilidades e de autoridade na tomada de decises,

    incorporando a competncia hierrquica no processo de deciso, desde os

    empregados at o conselho de administrao;

    Estabelecimento de mecanismos apropriados para a existncia de interao e de

    cooperao entre o conselho de administrao, a diretoria executiva e os

    auditores;

    Fortes sistemas de controles internos, incluindo as funes de auditoria interna e

    externa, a independncia entre o gerenciamento dos riscos e as reas de negcios

    e outras formas de controles;

    Monitoramento especial da exposio a riscos, no qual os conflitos de interesse

    so provavelmente grandes, incluindo os relacionamentos negociais entre

    tomadores de emprstimos ligados ao banco, grandes acionistas, membros da

    diretoria, ou tomadores de decises chave na empresa (operadores, por

    exemplo);

    Os incentivos financeiros e gerenciais, por agir de maneira apropriada,

    oferecidos diretoria executiva, gerncia de negcios e aos empregados, como

    forma de compensao financeira, de promoo e de outros reconhecimentos; e;

    Fluxos de informaes apropriados, tanto as destinadas ao pblico interno

    quanto ao pblico externo.

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  • 31

    Transparncia pode reforar a boa governana corporativa. Assim, a evidenciao, para

    o pblico, de informaes desejvel nas seguintes reas:

    Estrutura do conselho (tamanho, membros, qualificaes e comits);

    Estrutura da diretoria executiva (responsabilidades, nveis hierrquicos

    superiores; qualificao e experincia dos dirigentes);

    Estrutura organizacional bsica (estrutura de negcios e constituio estatutria);

    Informao sobre a estrutura de incentivo (polticas de remunerao na empresa,

    remunerao dos executivos, bnus e opes de compra de aes);

    Natureza e relevncia das transaes com afiliadas e partes relacionadas.

    O Comit de Basilia reconhece que as principais responsabilidades para uma adequada

    governana corporativa apia-se nos conselhos de administrao e nas diretorias executivas

    dos bancos. Entretanto, existem muitas outras maneiras para a estruturao de uma boa

    governana corporativa, inclusive por:

    Governos Por meio de leis;

    Reguladores de ttulos e valores mobilirios, Bolsa de Valores Por meio de

    transparncia de informaes e requerimentos;

    Auditores Por meio de padres de auditoria, relativamente comunicao de

    fatos aos conselhos de administrao, diretoria executiva e aos supervisores; e;

    Associaes de bancos Por meio de iniciativas relacionadas com os princpios

    voluntrios da indstria e os seus acordos, bem como a evidenciao ao pblico

    de tais princpios.

    Por exemplo, a governana corporativa pode ser melhorada pelo:

    Direcionamento de regulamentos, como a proteo aos direitos dos acionistas;

    Forma de execuo dos contratos, incluindo aqueles firmados com fornecedores

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  • 32

    de servios;

    Esclarecimentos sobre o papel da governana; e

    Garantia de que as empresas iro atuar de forma sadia, isto , num ambiente livre

    de corrupo e de suborno, segundo leis e regulamentos e de modo compatvel

    com os interesses dos administradores, dos funcionrios e dos acionistas.

    Tudo isso pode ajudar a promover um negcio adequado, num ambiente de legalidade,

    circunstncia que ir sustentar uma boa governana corporativa, bem como sustentar as

    iniciativas de uma superviso adequada.

    Os supervisores devem estar atentos com respeito importncia da governana

    corporativa e o seu impacto no desempenho da organizao. Eles devem ter a expectativa de

    que os bancos sempre iro implementar estruturas organizacionais que incluam controles

    apropriados. As normas de salvaguardas devem dar nfase responsabilidade e

    transparncia nas aes. Os supervisores devem recomendar que o conselho de administrao

    e a diretoria executiva de cada instituio implementem processos que garantam que eles

    estejam cumprindo integralmente os seus deveres e as suas responsabilidades.

    O conselho de administrao e a diretoria executiva so, em ltima instncia, os

    responsveis pelo desempenho de um banco. Assim, os supervisores devem adotar

    procedimentos de verificao, para garantir que o banco esteja sendo apropriadamente

    conduzido e para chamar a ateno dos administradores sobre qualquer problema que eles

    detectem no processo de superviso. Quando o banco assume riscos que ele no consegue

    medir ou controlar, os supervisores devem fazer com que a diretoria se comprometa com a

    adoo das medidas corretivas necessrias, de forma tempestiva. Os supervisores devem estar

    atentos em relao a qualquer alerta que signifique sinais de deteriorao dos padres de

    administrao do banco. Eles devem ter em mente a necessidade de que haja orientao para

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  • 33

    uma boa governana corporativa e de que prticas adequadas sejam adotadas de forma

    proativa. Eles devem tambm levar em conta as questes relacionadas com a governana

    corporativa, na expedio de orientao normativa sobre outros tpicos.

    Segundo o BIS, em um processo de superviso orientado para a questo da governana

    corporativa, so considerados os interesses de todos os envolvidos na organizao, inclusive

    depositantes, cujos direitos nem sempre so reconhecidos. Portanto, necessrio que os

    supervisores recomendem que os bancos adotem medidas com a finalidade de evitar que os

    depositantes sejam prejudicados em seus direitos.

    3.3 Governana corporativa de bancos em economias emergentes

    Para Arun e Turner (2003), a governana corporativa dos bancos em economias em

    desenvolvimento importante por diversas razes. Primeiramente, os bancos tm uma posio

    dominante em sistemas financeiros de economias em desenvolvimento, e so motores

    extremamente importantes do crescimento econmico (Levine 1997). Em segundo, porque

    seus mercados financeiros so geralmente pouco desenvolvidos, os bancos de economias em

    desenvolvimento so tipicamente as fontes de financiamento mais importantes para a maioria

    das firmas. Terceiro, alm de manter os sistemas e os meios de pagamento da economia, os

    bancos em pases em desenvolvimento so geralmente o depositrio principal para a poupana

    dos agentes econmicos. Em quarto, muitas economias em desenvolvimento tm liberalizado

    recentemente seus sistemas de operao bancria com privatizaes e desregulamentaes e

    UHGX]LQGR R SDSHO GD UHJXODomR HFRQ{PLFD &RQVHTHQWHPHQWH RV GLULJHQWHV GRV Eancos

    nestas economias obtiveram uma liberdade maior em como gerenciar seus bancos.

    A falta de transparncia dos bancos somadas s garantias do seguro de depsito e dos

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  • 34

    fundos de redesconto e s assistncias emergenciais pode incentivar aos banqueiros a aceitar

    maiores riscos, pois uma parte substancial do custo carregada pelo governo. Isto incrementa

    um problema conhecido por risco moral. Somente a melhoria dos sistemas de regulao e

    superviso pode conter a escalada do moral hazard9 nas economias de pases emergentes.

    Alguns economistas discutem que a competio de produtos ou no mercado de servios

    pode agir como um substituto para mecanismos da governana corporativa. O argumento

    bsico que as firmas com gerenciamento inferior sero foradas a sair do mercado por firmas

    mais bem geridas. Entretanto a indstria bancria, possivelmente devido a sua natureza

    intensiva em informao, tende a ser muito menos competitiva do que outros setores

    HFRQ{PLFRV &DSULR H /HYLQH &RQVHTHQWHPHQWH HVWD IDOWa da presso competitiva

    assim como a natureza especial da operao bancria, sugere que os bancos necessitam de

    mecanismos mais fortes de governana corporativa do que outras firmas.

    A capacidade de economias em desenvolvimento de reforar sua superviso prudencial

    questionvel por diversas razes. Primeiramente se aceita que os bancos em economias em

    desenvolvimento devem ter exigncias de capital substancialmente mais elevadas do que

    bancos em economias desenvolvidas10. Em segundo, no h supervisores suficientemente bem

    treinados nas economias em desenvolvimento para auditar bancos. Terceiro, aos corpos

    supervisores em economias em desenvolvimento falta a independncia poltica, que pode

    diminuir sua capacidade de coagir os bancos para cumprir as exigncias prudenciais e para

    impor penalidades apropriadas. Em quarto, a superviso prudencial confia completamente na

    informao da contabilidade exata e oportuna. Entretanto, em muitas economias em

    9 Esta noo baseia-se na teoria da seleo adversa. Os bancos teriam incentivos a assumir maiores riscos devido s redes de proteo estabelecidas. 10 Segundo o Acordo de Basilia de 1988, as instituies deveriam alocar capital em valor igual a, pelo menos, GRYDORU GRV DWLYRVSRQGHUDGRVSHOR ULVFR1R%UDVLO D UHVROXomR5HVROXo}HVQ GHGHDJRVWRGHHQGHGHVHWHPEro de 2001 exige que esta alocao seja de 11%.

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  • 35

    desenvolvimento, regras contbeis, se existirem, so flexveis e, tipicamente, h insuficincia

    GH H[LJrQFLDV QD GLYXOJDomR GD LQIRUPDomR &RQVHTHQWHPHQWH VH XPD HFRQRPLD HP

    desenvolvimento liberalizar seu sistema financeiro sem reforar suficientemente o sistema

    supervisrio prudencial, os banqueiros encontraro um terreno mais fcil para expropriar

    depositantes, investidores e mantenedores do seguro de depsito.

    Alm desses fatores, a introduo de princpios sadios da governana corporativa na

    operao bancria, em economias em desenvolvimento, tem sido obstruda parcialmente pela

    pobre proteo legal, por exigncias fracas da divulgao de informao e por proprietrios

    dominantes (Arun e Turner, 2002). Outro fator a ser considerado a propriedade do governo

    sobre os bancos que uma caracterstica comum em muitas economias em desenvolvimento

    (La Porta et al, 2002). Nas economias onde h uma propriedade extensiva do governo dos

    bancos, o problema principal da governana corporativa o conflito entre o

    governo/contribuintes (como proprietrios) e os diretores/burocratas que controlam o banco.

    Os burocratas que controlam bancos pblicos podem ter interesses diferentes e no alinhados

    com os dos contribuintes.

    Claessens et al (2000) sugerem que a entrada de bancos estrangeiros aumenta realmente

    a eficincia do setor bancrio das economias em desenvolvimento. Uma explicao possvel

    para este fato que os bancos estrangeiros trazem com eles as tcnicas gerenciais mais

    modernas, mecanismos de governana corporativa e tecnologias de informao que os bancos

    domsticos tm que adotar a fim competir eficazmente com seus rivais estrangeiros. Um

    benefcio adicional de permitir a entrada de bancos estrangeiros que o sistema de operao

    bancria pode tornar-se mais estvel. Estudos empricos por Demirguc-Kunt (1998) e Levine

    (1999) sugerem que a presena de bancos estrangeiros reduz a probabilidade de crises

    bancrias e resulta em bancos prudencialmente mais sadios.

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  • 36

    Segundo as concluses de Arun e Turner (2002), em economias desenvolvidas, a

    proteo dos depositantes em um ambiente desregulamentado fornecida tipicamente por um

    sistema de superviso prudencial, mas em economias em desenvolvimento tal proteo

    enfraquecida pela falta de supervisores bem treinados, exigncias inadequadas de divulgao

    de informaes, o custo de levantar capital para o banco e a presena de cartis. A fim de

    tratar destes problemas, os autores sugerem que pases em desenvolvimento necessitam adotar

    as seguintes medidas:

    As polticas de liberalizao necessitam ser graduais e devem ser dependentes

    das melhorias no regulamento prudencial;

    As economias em desenvolvimento necessitam investir na melhoria da qualidade

    das informaes contbeis, assim como na quantidade e qualidade dos

    supervisores de bancos;

    Dado que os limites de capital dos bancos cumprem um papel to importante nos

    sistemas regulatrios prudenciais, pode ser necessrio melhorar leis da proteo

    do investidor, melhorar a divulgao de informaes financeiras e impor deveres

    fiducirios aos diretores/conselheiros de bancos, de modo que os bancos possam

    levantar capital com mais facilidade.

    Adicionalmente, podemos citar Levine (2003), que analisando mercados financeiros de

    economias emergentes sugere que:

    Onde a propriedade do governo difundida, os programas de privatizao so

    essenciais;

    Onde a cobertura de seguro de depsitos do governo extremamente generosa,

    deve-se reduzir a amplitude do seguro induzindo os credores a monitorar os

    bancos;

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  • 37

    Onde os governos usam agncias regulatrias para proteger bancos politicamente

    conectados, h uma necessidade para reformas polticas profundas e o

    desenvolvimento de mecanismos institucionais democrticos, justos e

    transparentes;

    Os governos devem exigir melhores padres contbeis e de auditoria, maior

    transparncia e disclosure de informaes, alm de punir as fraudes e violaes;

    Para permitir uma maior eficincia e monitorao do mercado financeiro, os

    governos e as autoridades reguladoras devem desenvolver um melhor sistema

    legal, incluindo as leis de falncia.

    Uma razo suplementar e fundamental o reconhecimento crescente de que a

    governana corporativa dos bancos tem um papel importante em ajudar a instituies

    reguladoras a executar suas tarefas, permitindo que os supervisores tenham um

    relacionamento de cooperao com a direo do banco (Basel Committee On Banking

    Supervision, 1999).

    Pode-se afirmar que no caso do mercado financeiro brasileiro tem um grau de

    sofisticao que o distancia de outros mercados de economias ditas emergentes. Tanto a nvel

    de produtos, quanto nos meios e na velocidade das transaes o sistema bancrio brasileiro

    tem um padro compatvel com padres de economias desenvolvidas. Tambm em termos de

    superviso bancaria o BCB tem se conduzido uma crescente aproximao aos melhores

    modelos dos pases membros da OCDE11. No entanto, pontos como: a questo do marco legal,

    as insuficincias da legislao e do sistema judicirio; a insuficincia de transparncia nos

    demonstrativos contbeis; o uso poltico dos bancos pblicos; e a falta de independncia do 11 Em 1997 o Brasil tornou-se acionista do BIS, tendo assento nas comisses mais importantes, dentre elas o Comit de Basilia. O treinamento de pessoas envolvidas em superviso bancria foi muito impulsionado graas a esse relacionamento

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  • 38

    Banco Central e da superviso bancria; fazem com que muitos dos problemas destacados

    nesta seo sejam compatveis na anlise do caso brasileiro.

    3.4 Governana corporativa no Brasil

    Recentemente foram publicados alguns estudos que fazem um levantamento

    comparativo de nveis de GC entre vrios paises do mundo (Kappler e Love, 2004; Durnev e

    Kim,2002; Leal e Carvalhal,2004). Pode-se fazer um sumrio das concluses coincidentes

    destes trabalhos atravs dos seguintes pontos:

    A boa governana corporativa positivamente correlacionada com valorizao

    de mercado e performance operacional. Esta relao mais forte em pases

    carentes de um marco jurdico forte;

    Empresas em pases com sistema jurdico mais fraco tm menores rankings de

    GC;

    O nvel de GC tem forte relao com variveis como tamanho, crescimento e

    intangibilidade dos ativos, indicando um forte componente endgeno na adoo

    de prticas de GC;

    Firmas que mantm programas de ADR tm ndices de GC maiores;

    Os direitos dos acionistas foram classificados como a questo mais importante

    de governana corporativa da Amrica Latina;

    75% dos investidores dizem que as prticas do conselho de administrao so

    pelo menos to importantes quanto a performance financeira quando esto

    avaliando companhias para investimentos;

    1D $PpULFD /DWLQD H QD VLD RQGH RV UHODWyULRV ILQDQFHLURV VmR OLPLWDGRV H

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  • 39

    IUHTHQWHPHQWH GH Pi TXDOLGDGH RV LQYHVWLGRUHV SUHIHUHP QmR FRQILDU DSHQDV

    em nmeros. Eles acreditam que seus investimentos estaro mais bem protegidos

    por companhias com boa governana que respeitem direitos dos acionistas.

    A forma como funcionam os poderes nas empresas dos Estados Unidos bastante

    diferente do que ocorre nas economias emergentes. Nos Estados Unidos, na maioria das

    corporaes, a separao de poderes entre acionistas, executivos e conselhos de administrao

    clara. O conselho um contrapeso ao poder dos executivos. Na Amrica Latina, porm,

    executivos e conselheiros so uma extenso do poder dos controladores. Difcil ser diferente

    quando, no Brasil, por exemplo, em mdia trs acionistas controlam 85% das aes com

    direito a voto nas empresas.12 O desafio entender que a governana corporativa uma nova

    fonte de vantagens competitivas.

    O Brasil tem procurado se adaptar a esta nova realidade. A legislao do pas no est

    entre as melhores, mas as empresas esto na vanguarda da governana corporativa. Criado em

    1995, o Instituto Brasileiro de Governana Corporativa (IBGC) foi a primeira instituio

    privada sobre o tema na Amrica Latina. O Brasil o nico pas da regio onde a bolsa de

    valores abriu um espao exclusivo para as empresas com boas prticas de governana

    corporativa. Tambm foram criados Institutos de Governo Corporativo no Mxico, no Peru,

    na Venezuela e na Argentina. Como toda revoluo, as mudanas que envolvem a governana

    corporativa no estaro isentas de custos. Porm o valor das aes e o volume negociado

    aumentam, representando ganhos para o controlador da empresa13.

    Embora governana corporativa no Brasil seja ainda um assunto recente, as

    129HU/HDOH&DUYDOKDO&RUSRUDWHJRYHUQDQFHPDUNHWYDOXDWLRQDQGGLYLGHQGSROLF\LQ%UD]LO 13 Pesquisa da consultoria McKinsey mostra que os investidores estariam dispostos a pagar, em mdia, 22% por aes de empresas latino-americanas com boa governana.

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  • 40

    necessidades de aderncia aos padres internacionais tm determinado um forte impulso a esta

    matria. O estmulo externo de organismos internacionais como o BIS, o FMI ou a SEC, mais

    do que as prprias caractersticas do mercado interno, provocou o interesse e o

    desenvolvimento das prticas de governana corporativa no Brasil.

    Fazendo um sucinto levantamento histrico dos acontecimentos mais relevantes em

    relao evoluo da governana corporativa no Brasil podemos citar:

    Criao do IBGC (1995);

    Princpios e exigncias da SEC para acesso ao mercado de capitais americano a

    partir dos anos 90; hoje so 35 empresas brasileiras listadas na Bolsa de Nova

    Iorque, sujeitas s mesmas exigncias que as empresas americanas.

    Princpios de Disclosure e Governana - BIS (1998);

    Diretrizes do FMI para melhorar a transparncia do sistema financeiro

    internacional (1999);

    Nveis diferenciados de Governana - BOVESPA (2000);

    Nova Lei das S.A. (2001);

    Novo Acordo de Capitais Basilia II (2001/2003);

    ,QVWUXomR &90 Q 2) - Poltica de Divulgao (obrigatria) e de

    Negociao (facultativa);

    Lei Sarbanes-Oxley (2002).

    Em 1999 foi lanado o Cdigo Brasileiro das Melhores Prticas do IBGC, seu objetivo

    central indicar caminhos para todos os tipos de empresas - sociedades por aes de capital

    aberto ou fechado, limitadas ou sociedades civis -, visando melhorar seu desempenho e

    facilitar o acesso ao capital. Estabelece como princpios bsicos de governana corporativa:

    transparncia, equidade e prestao de contas. O Cdigo exige que o executivo principal

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  • 41

    (CEO) e a diretoria satisfaam s diferentes necessidades de informao dos proprietrios, do

    conselho de administrao, da auditoria independente, do conselho fiscal, das partes

    interessadas (stakeholders) e do pblico em geral. Os agentes da governana corporativa

    (Conselho de administrao, executivo principal e diretoria, auditoria independente e o

    conselho fiscal) devem prestar contas de suas atividades a quem os elegeu ou escolheu.

    Tambm segundo o cdigo, o relacionamento entre os agentes da governana corporativa e as

    diferentes classes de proprietrios deve ser caracterizado pelo tratamento justo e equnime.

    Outro passo importante em direo consolidao das prticas de governana

    corporativa no Brasil, foi o lanamento em 11/12/2000 do Novo Mercado e Nveis

    Diferenciados de governana corporativa da Bovespa, que possibilitam adeso voluntria

    condicionada aceitao das regras de cada segmento. Ao optarem por pertencer a esses

    segmentos, as empresas assumem compromissos adicionais aos preconizados na legislao em

    vigor. Tais compromissos envolvem a prestao de informaes e a transparncia necessria

    para o acompanhamento e a fiscalizao de atos dos gestores das empresas, bem como dos

    seus controladores. Visam ainda adoo de regras societrias que caminhem no sentido da

    HTLGDGHGHWUDWDPHQWRGRVDFLRQLVWDVLQGHSHQGHQWHPHQWHGHVHUHPFRQWURODGRUHVRXDSHQDV

    pequenos investidores. Cada mercado apresenta diferentes regras que podem ser resumidas

    assim:

    Nvel 1:

    o Free float mnimo: 25% do capital;

    o Balano e ITR com informaes adicionais;

    o Realizao de ofertas pblicas;

    o Divulgao de acordos de acionistas e programas de opes de aes;

    o Calendrio anual de eventos corporativos;

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  • 42

    o Apresentao das demonstraes do fluxo de caixa;

    Nvel 2:

    o Todos os preceitos do nvel 1;

    o Tag-along (mnimo de 70% para as ON);

    o Balano anual em US GAAP ou IASC;

    o Mandato unificado de um ano para todo o CA;

    o Alguns direitos de voto s PN;

    o Valor econmico nas hipteses de fechamento do capital ou fim do

    registro no Nvel;

    o Adeso Cmara de Arbitragem;

    Novo mercado:

    o Todos os preceitos do nvel 2;

    o Apenas aes ON;

    o Tag-along de 100% das ON nas ocasies de venda do controle;

    o No permitido ter partes beneficirias;

    o Entrada no mercado por meio de distribuio pblica (primria ou

    secundria) no valor mnimo de R$ 10 milhes, ou se tiver mais de 500

    acionistas.

    A CVM tornou pblico em junho de 2002 uma cartilha de recomendaes sobre

    governana corporativa. A adoo de tais prticas comumente significa a utilizao de padres

    de conduta superiores aos exigidos pela lei, ou pela CVM. Por isto, a cartilha no constitui

    uma norma cujo descumprimento seja passvel de punio; exigir explicaes sobre adeso

    SUDWLTXH RX H[SOLTXH 2V SULQFtSLRV IXQGDPHQtais da CVM sobre governana corporativa

    sugerem:

    http://www.pdfmachine.com?cl

  • 43

    Transparncia: Assemblias, Estrutura Acionria e Grupo de Controle;

    Estrutura e Responsabilidade do Conselho de Administrao

    Proteo a Acionistas Minoritrios

    Auditoria e Demonstraes Financeiras

    Qualquer analise sobre governana corporativa no Brasil no pode deixar de comentar a

    necessidade de expandir o mercado acionrio e o mercado secundrio de ttulos. Interessante

    destacar trabalhos recentes sobre GC e o mercado acionrio brasileiro, como Corra de Melo

    (2003) e Alves (2005). Como ilustrao, vale ressaltar que embora todos os bancos sejam

    sociedades annimas, o mercado de aes de bancos resume-se a:

    Bancos com cdigo de compensao 141 (Fonte BCB/Sisbacen);

    Bancos com rating internacional 45 (Fonte Fitch Ratngs);

    Bancos na Bovespa:

    o 19 bancos listados;

    o 6 do governo federal e 5 dos governos estaduais;

    o 15 cotados;

    o 7 com negcios;

    o 4 com liquidez (BB, Unibanco, Ita e Bradesco);

    o 3 no nvel 1 de GC (Unibanco, Ita e Bradesco).

    3.4.1 O papel do Banco Central

    A ao do Banco Central do Brasil (BCB) em relao governana corporativa tem

    recebido muita ateno nos ltimos anos. Com as recomendaes do BIS e a adoo dos

    novos critrios de avaliao de riscos pertinentes ao novo acordo de capitais, governana

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