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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 32 - jul-dez 2013
GRAMÁTICA OU GRAMÁTICAS DO
PORTUGUÊS BRASILEIRO? O PROBLEMA DA
IMPLEMENTAÇÃO NA MUDANÇA SINTÁTICA
Marco Antonio Martins
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Resumo: Este artigo reflete sobre os conceitos de mudança
gramatical e de implementação em duas propostas de interface entre
e a teoria da variação e mudança linguística e a teoria gerativa: a
sociolinguística paramétrica e a competição de gramáticas.
Utilizando resultados de dois estudos sobre a ordem VS em português,
o autor defende que a diferenciação entre a natureza quantitativa (do
contínuo diacrônico) e qualitativa (de ruptura estrutural) proposta
pela sociolinguística paramétrica se volta apenas à propagação da
mudança em diferentes fases de uma mesma gramática, e que a
competição de gramáticas permite que se vislumbre o problema da
implementação de forma mais complexa, alinhando diferentes matizes
da origem e da propagação da mudança.
Abstract: This article reflects on the concepts of grammatical change
and implementation in two proposals of interface between the theory
of linguistic variation and change and the generative theory:
parametric sociolinguistics and grammar competition. Analyzing the
results of two studies on the VS order in Portuguese, the author
argues that the differentiation between qualitative (diachronic
continuum) and quantitative nature (structural break) proposed by
parametric sociolinguistics only takes into account change
propagation in different phases of the same grammar, and that
grammar competition allows to look at the problem of implementation
in a more complex way, by aligning different aspects of the origin and
the spread of change.
Introdução
Tomando por base a proposta já clássica de Tarallo e Kato (2007
[1989]) para o estudo da variação e da mudança na sintaxe, numa
harmonia trans-sistêmica que associa o inter- e o intralinguístico, a
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interface entre a sociolinguística variacionista e a teoria gerativa para
estudos de fenômenos em variação e mudança tem sido denominada,
no Brasil, de sociolinguística paramétrica ou variação paramétrica
(RAMOS, 1999).
Numa outra perspectiva, argumento, neste artigo, seguindo
Martins, Coelho e Cavalcante (no prelo), que o modelo de competição
de gramáticas, conforme proposto por Kroch (1989, 2001) – configura
uma proposta diferente de interface entre essas teorias. Mais
especificamente, levanto argumentos a favor da tese de que o modelo
de competição de gramáticas constitui uma maneira diferente de
trabalho na interface entre a teoria da variação e mudança e a teoria
gerativa para o estudo da mudança sintática.
“O casamento teórico” entre essas duas teorias rendeu já um
caloroso debate entre Fernando Tarallo e Borges Neto na década de
1980 do século passado que não vou retomar aqui. Antes, tenho por
objetivo argumentar a favor de que quando assumimos a interface nos
moldes do modelo de competição de gramáticas, os paradoxos de um
casamento – ou de um “projeto herético” – entre essas duas teorias se
desfazem. Levanto dois pontos fundamentais em defesa da proposta
de que, diferentemente do modelo da sociolinguística paramétrica, o
modelo de competição de gramáticas alinha propriedades de uma e
outra teoria – da teoria da variação e mudança e da teoria gerativa –
para o estudo da mudança sintática:
1. A sociolinguística paramétrica está centrada em uma concepção de
mudança proposta pela teoria da variação e mudança e entende a
variação como uma diferenciação quantitativa e qualitativa na
marcação de um parâmetro na gramática de uma língua – variação
intralinguística. Diferentemente, o modelo de competição de
gramáticas assume o conceito de mudança da teoria gerativa,
entendendo que a observação empírica entre formas variáveis no curso
do tempo é a competição entre diferentes formas geradas por
diferentes gramáticas. Desenvolvo essa temática na primeira seção do
artigo.
2. Os estudos no quadro da sociolinguística paramétrica verticalizam a
discussão sobre o problema da implementação para a propagação da
mudança, ou no modo como uma mudança evolui no curso do tempo
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(contínuo diacrônico). Para o modelo de competição de gramáticas, a
percepção da implementação da mudança sintática está centrada nos
pressupostos da teoria gerativa segundo a qual uma mudança se
implementa na gramática de uma língua quando, no período de
aquisição, a criança adquire um parâmetro diferente daquele associado
à gramática alvo. A questão da implementação para ambos os modelos
será desenvolvida na segunda seção.
1. A variação intralinguística – ou sobre AS GRAMÁTICAS do
português brasileiro
Estudos centrados no modelo da sociolinguística paramétrica
entendem a variação e a mudança observada em uma língua, no curso
dos séculos, como o resultado de um processo de variação
intralinguística (em uma mesma língua), pensada nos mesmos termos
daquela observada interlinguísticamente (entre línguas diferentes).
Nesse sentido, a variação entre diferentes formas no curso dos séculos
seria fruto de um realinhamento paramétrico – em termos
quantitativos e qualitativos – na marcação de um parâmetro na
gramática dessa língua. Consequentemente, quando observados os
padrões empíricos de um dado fenômeno em variação e ou/mudança
em textos brasileiros no curso dos séculos, por exemplo, tais estudos
aludem a diferentes gramáticas do Português Brasileiro (PB): a
gramática do PB do século XVIII; do PB do século XIX; do PB do
século XX... Tais estudos são desenvolvidos sob a proposta da
sociolinguística paramétrica para a qual a variação está dentro de um
mesmo sistema, conforme propõem Tarallo e Kato (2007 [1989]).
Na defesa por uma “harmonia trans-sistêmica” para o estudo da
variação intralinguística, Tarallo e Kato (2007 [1989]) apresentam
argumentos a favor de que as diferenças paramétricas observadas
qualitativamente no universo do interlinguístico – na diferenciação das
gramáticas particulares das línguas naturais – podem se refletir
quantitativamente nas frequências de uso na gramática de uma mesma
língua. Nas palavras dos autores:
Empreenderemos, sim, um novo caminho: aquele que resgata a
compatibilidade entre as propriedades paramétricas do modelo
gerativo e as probabilidades do modelo variacionista, seja para
provar seu espelhamento e reflexo, seja para realinhar um
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modelo em função do outro. Acreditamos, assim, num
direcionamento mútuo entre a variação intra- e inter-lingüística,
enfim: na harmonia trans-sistêmica. (p. 20).
E, continuam:
Assim, a lingüística de propriedades paramétricas parece agir no
sentido de TUDO ou NADA; a das probabilidades, na direção
do MAIS ou MENOS. Entre uma e outra lingüística existe,
obviamente, a postura diferenciada frente ao dado analisado. O
TUDO ou NADA do modelo paramétrico sintático aparece, por
exemplo, nos fatores knockout da variação; o MAIS ou
MENOS da variação, por sua vez, permite realinhar
propriedades paramétricas ou mesmo explicar por que uma
mesma língua tem periferia marcada em um parâmetro e não-
marcada em outro. (p. 20).
Nessa perspectiva de análise que conjuga pressupostos da teoria da
variação e mudança e da teoria gerativa, à linguística das
probabilidades caberia a descrição e a explicação das frequências que
um determinado fenômeno em processo de variação e mudança se
manifesta na gramática de uma língua. Esse realinhamento
probabilístico seria interpretado à luz da teoria linguística, no caso, da
teoria gerativa.
Parafraseando Kato, Duarte, Cyrino e Berlinck (2006, p.433),
muito se descobriu sobre aspectos da mudança que envolveu o
Português Brasileiro no final do século passado. E muitas dessas
descobertas advêm de estudos realizados na interface entre a teoria
variacionista e a teoria gerativa, na perspectiva da sociolinguística
paramétrica. O estudo apresentado pelas autoras sobre o “Português
Brasileiro no fim do século e na virada do milênio” dialoga
diretamente com o panorama/diagnóstico previsto em Tarallo (1993)
para o fim do século XX.
Tarallo (1993) apresenta um diagnóstico de uma gramática
brasileira que “emergiu ao final do século XIX” (p.99), no sentido de
que “o cidadão brasileiro já estava de posse, ao final [desse século], de
sua própria língua/gramática” (p.99). Esse diagnóstico se fundamenta
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na observação empírica, considerando a escrita de brasileiros – cartas,
diários e peças de teatro –, de um quadro de mudanças de quatro
fenômenos na sintaxe do português brasileiro no curso dos séculos
XIX e XX. Os fenômenos que envolvem esse quadro estão descritos a
seguir:
(i) Uma re-organização do sistema pronominal; de modo que
por volta de 1880, acontece uma mudança no sistema
pronominal segundo a qual a frequência de retenção começa a
decrescer para SPs (em menor escala) e para objetos diretos (em
maior escala) enquanto a percentagem para sujeitos começa a
crescer (TARALLO, 1993, p.84).
Esse quadro, relativo ao preenchimento do sujeito e ao aumento do
objeto nulo no PB, é, posteriormente, confirmado pelos estudos de
Duarte (1993) e Cyrino (1994).
(ii) Uma mudança nas estratégias de relativização; de modo que,
similarmente ao quadro apresentado pelo sistema pronominal, “por
volta de 1880, a relativa cortadora já havia iniciado seu papel
sintático no sistema: competir contra a estratégia do pronome
lembrete em substituição à relativa peidpiping.” (TARALLO,
1993, p.88).
(iii) Uma re-organização dos padrões sentenciais básicos; evidenciada
pelos resultados que atestam que “por volta [da segunda metade do
século XX] o português do Brasil apresentava uma ordem canônica
do tipo SVO (ou melhor, SV[O], uma vez que sujeitos se tornaram
lexicalizados mais frequentemente e objetos diretos iniciaram sua
caminhada rumo ao objeto nulo)” (TARALLO, 1993, p.96).
E (iv) uma mudança dos padrões sentenciais em perguntas diretas e
indiretas; em que se atesta “um decréscimo da ordem VS, isto é, um
decréscimo da regra de fronteamento ou subida do verbo nas
perguntas diretas a partir de 1937 na modalidade brasileira”
(TARALLO, 1993, p.96).
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Ainda nas palavras de Tarallo, “os quatro casos sintáticos
apresentados [...] devem ser tomados como evidência quantitativa de
que mudanças dramáticas aconteceram [na gramática do português
brasileiro] na passagem do século XIX para o [século XX]” (1993,
p.99).
Como já dito, as mudanças relacionadas a esses (e outros)
fenômenos do português brasileiro no curso dos séculos XIX e XX
foram objeto de vários estudos (ver, por exemplo, os resultados
sistematizados em KATO, 1999). Kato, Duarte, Cyrino e Berlinck
(2006) apresentam uma boa síntese dos resultados obtidos por esses
estudos, sobretudo no que diz respeito aos fenômenos considerados
por Tarallo (1993) – exceto o fenômeno da relativização: a) a perda
seletiva do sujeito nulo, b) o aparecimento do objeto nulo referencial,
c) a perda da inversão verbo-sujeito em interrogativas-Q, e d) a perda
da inversão não acusativa no português. As autoras, com análises
comparativas entre os fenômenos em corpus diferenciados mostram
que o diagnóstico de Tarallo foi acertado no sentido de ser o século
XIX um marco na diferenciação de uma “gramática brasileira” em
oposição ao português europeu.
O ponto que quero destacar aqui é que na análise dos diferentes
fenômenos no texto de Tarallo (1993), já clássico sobre a história do
português brasileiro, e em textos/trabalhos posteriores, como aqueles
sistematizados em Kato, Duarte, Cyrino e Berlinck (2006),
desenvolvidos no modelo da sociolinguística paramétrica, as
mudanças atestadas nos diferentes fenômenos no curso dos séculos
XIX e XX são interpretadas como mudanças quantitativas – no
sentido de uma reorganização paramétrica/na propagação da mudança
– na gramática (ou nas gramáticas) do português brasileiro. Tais
estudos mencionam, inclusive, como já dito, uma gramática do
português brasileiro do século XIX e uma gramática do português
brasileiro do século XX. Esses estudos partem do pressuposto de que,
no processo de mudança que está na origem da gramática do
português brasileiro, há várias gramáticas do Português Brasileiro no
curso dos séculos... Tomam-se, nesse contexto, os textos escritos no
Brasil deste ou naquele período por sinônimo da gramática do PB
deste ou daquele século. Assim como assumem também que textos
brasileiros dos diferentes séculos – muitas vezes por peças de teatro,
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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 32 - jul-dez 2013
cartas particulares etc. – constituem o PB e que textos portugueses
constituem o PE... Nesse sentido, os estudos pautados no modelo da
sociolinguística paramétrica fazem referência a mudanças em uma
gramática do PB do século tal para a gramática do PB do século tal;
numa mudança do PB do século XIX, para o PB do século XX...
Cumpre dizer que para a sociolinguística paramétrica a variação
observada em uma língua está, assim como no domínio da variação
interlinguística, quando consideradas diferentes línguas, no
intralinguístico.
Diferentemente, para o modelo de competição de gramáticas (cf.
proposta por KROCH, 1989, 2003[2001]), a variação está sempre no
universo do interlinguístico, tendo em vista que o que gera/motiva a
variação na sintaxe poderá ser uma marcação paramétrica diferente
que caracteriza necessariamente diferentes gramáticas. Nesse sentido,
quando falamos em casos de variação na sintaxe em textos brasileiros
escritos no curso dos séculos, por exemplo, o que vemos na empiria
será – ou poderá ser – o reflexo de diferentes gramáticas do português,
entendidas como diferentes marcações paramétricas. Esses padrões
instanciariam nos textos diferentes gramáticas do português de modo
que o que se vê no curso dos séculos é uma instanciação da gramática
do Português Brasileiro (PB), da gramática do Português Europeu
(PE), da gramática do Português Clássico (PC)...
É importante dizer, ainda, que de acordo com o quadro teórico da
gramática gerativa, quando falamos em PB, PE e PC estamos nos
referindo a um conjunto de propriedades (paramétricas) que estão
associadas a um estado específico de Língua-I, adquiridas por um
indivíduo que sabe/fala aquela língua, no período de aquisição. E,
consoante com Martins, Coelho e Cavalcante (no prelo), não podemos
entender que quando observamos o (complexo) quadro da escrita no
Brasil do século XIX, em comparação com a escrita no Brasil no
século XX, estamos observando uma gramática do PB do século XIX
e outra do século XX. Não há, nesse sentido, dois estados de Língua-I
que caracterizam o PB. Na verdade, a hipótese que temos defendido é
a de que os diferentes padrões de variação observados – assim como
os diferentes quadros nos diferentes séculos – sejam o reflexo de
construções geradas pela gramática do PB e de construções geradas
por outras gramáticas do português, tais como as do PC e do PE
moderno (cf. CARNEIRO, 2005; MARTINS, 2009, 2010; GALVES;
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CARNEIRO, 2011). A escrita no Brasil do século XIX, nesse sentido,
evidenciaria um quadro complexo em que diferentes padrões
associados a diferentes gramáticas estariam em competição.
E esse é, na verdade, um ponto de confronto entre o modelo de
competição de gramáticas e o da sociolinguística paramétrica. Em
estudos centrados na proposta da sociolinguística paramétrica, fala-se
em GRAMÁTICAS do português brasileiro.
2. A mudança paramétrica – ou sobre a implementação (origem e
propagação) da mudança
Tarallo (1991), em defesa da adequação entre a teoria da variação e
mudança e a teoria gerativa para o estudo da mudança sintática, atenta
para a necessidade da diferenciação entre origem e propagação. Nas
palavras do autor, “o embricamento entre as variáveis internas a serem
analisadas [no estudo da mudança sintática] reflete previsões e
hipóteses teóricas orientando o elencamento dos fatos a serem
testados” (p.20). Nesse sentido, a adequação de estudos que utilizam
ambas as teorias residiria no fato de o levantamento das variáveis
internas – ou forças – que estariam na origem de uma mudança
sintática (tendo em vista a teoria gerativa) deve estar associado à
observação da propagação da mudança no curso do tempo (ancorada
nos pressupostos da teoria da variação e mudança).
Ainda sobre a adequação entre as duas teorias para o estudo da
mudança, Tarallo estabelece uma diferenciação entre mudanças
quantitativas e mudanças qualitativas. Nas palavras do autor, “por
mudança quantitativa, entendem-se [...] casos do contínuo diacrônico;
a noção de mudança no sentido de ruptura estrutural, entretanto,
remete a diferenças qualitativas entre duas fases de um mesmo
sistema” (TARALLO, 1991, p.16, grifo meu). Fica fácil entender que
por mudanças quantitativas tomam-se aqui as mudanças nas taxas (na
frequência) de uso de formas variantes observadas empiricamente no
curso dos séculos. E este é um olhar para a mudança linguística sob as
lentes da teoria da variação e mudança linguística (cf. WEINREICH;
LABOV, HERZOG, 2006 [1968] – WLH). Do mesmo modo, quando
Tarallo faz menção a mudanças qualitativas – ou à ruptura estrutural –
observadas entre duas fases de um mesmo sistema, o mesmo conceito
de mudança proposto pela teoria da variação e mudança linguística
está presente.
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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 32 - jul-dez 2013
Para detalhar o ponto retomemos o conceito de implementação da
mudança para a sociolinguística variacionista, que está associado à
origem e à propagação de uma mudança, e para a teoria gerativa, que
está associado à alteração na marcação de um parâmetro na gramática
de uma língua, o que configura, necessariamente, uma
mudança/ruptura na gramática/ou no sistema.
Para a sociolinguística variacionista, nas palavras de Weinreich,
Labov e Herzog (2006 [1968)], o problema da implementação está
relacionado ao fato de um “dos muitos traços característicos da
variação na fala se difund[ir] através de um subgrupo específico da
comunidade de fala[; e] este traço linguístico então assum[ir] uma
certa significação social – simbolizando os valores sociais daquele
grupo” (p.124). Para os autores, o problema empírico da
implementação diz respeito à origem e à propagação da mudança e,
uma vez que sobre a origem uma pergunta frequentemente leva a
outra pergunta, o que pode gerar um ciclo vicioso, o interesse da
pesquisa deve se voltar à propagação da mudança que pode ser
observada no percurso que as formas variantes traçam na linha do
tempo – o que configura sempre uma curva em “S”.
Para a teoria gerativa, a implementação da mudança está associada
ao período crítico dos primeiros anos da infância em que a criança
adquire a gramática dos seus pares, de modo que “a teoria gerativa
deve colocar a mudança sintática fora da cadeia usual de transmissão
de gramática” (KROCH, 2001, p.37). Sob essa perspectiva, a
implementação da mudança está associada a uma mudança na
marcação de um parâmetro na gramática de uma língua no período de
aquisição. Essa mudança tem por resultado a variação, no curso do
tempo/na comunidade, entre diferentes formas geradas por diferentes
gramáticas.
Se voltarmos à diferenciação proposta por Tarallo (1991), fica
claro que por mudança quantitativa – aquela observada nas taxas de
uso no curso do tempo – e por mudança qualitativa – aquela associada
a uma ruptura estrutural no mesmo sistema – o conceito de
implementação da mudança está centrado na proposta da
sociolinguística variacionista. Ou seja, a variação e mudança na
sintaxe pode ser observada quantitativa ou qualitativamente em uma
mesma gramática, em um mesmo sistema. Essa é a proposta da
sociolinguística paramétrica ou da variação paramétrica (RAMOS,
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1999) em que a variação interlinguística (entre línguas/entre
gramáticas) pode ajudar a entender a variação intralinguística (na
mesma língua/na mesma gramática). Tarallo (1991) assume que a
noção de ruptura estrutural remete a “diferenças qualitativas entre
duas fases de um mesmo sistema”, ou seja mudança na mesma
gramática.
O ponto que quero destacar aqui é que mesmo se valendo da teoria
gerativa para o levantamento de variáveis internas a serem analisadas
no estudo da mudança, a sociolinguística paramétrica coloca em foco
sempre, e necessariamente, a implementação da mudança nos
domínios da propagação no curso do tempo – quer quantitativa quer
qualitativamente.
Como exemplo de uma mudança no sentido de ruptura estrutural –
ou de mudança qualitativa, Tarallo (1991) apresenta resultados do
estudo de Berlinck (1988, 1989) sobre a ordem Sujeito-Verbo em
português. Observem-se tais resultados no gráfico a seguir.
4231
21
0
20
40
60
80
100
Século XVIII(1750)
Século XIX (1850) Século XX (1987)
Gráfico 1: Frequência de VS no cursos dos séculos
(BERLINCK, 1989 apud TARALLO, 1991, p.18)
Os resultados apresentados por Berlinck deixam claro que a
frequência da ordem VS em textos do século XVIII (42%) cai
Marco Antonio Martins
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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 32 - jul-dez 2013
significativamente em relação àquela encontrada em textos do século
XX (21%). Ao submeter os dados a um tratamento estatístico,
considerando as “variáveis internas” que condicionam a ordem do
sujeito em relação ao verbo no curso do tempo, Berlinck descobre que
as forças que atuam no licenciamento da ordem VS nos três séculos
são diferentes. Em textos do século XVIII, condicionam VS nessa
ordem de relevância: 1) o status informacional do sujeito; 2) a
realização do sujeito; 3) a distinção aspectual operação-resultado; e 4)
o tipo de predicador; em textos do século XIX: 1) o tipo de
predicador; 2) a realização do sujeito; e 3) o estatuto da oração; em
textos do século XX: 1) a transitividade do verbo; 2) a realização do
sujeito; 3) a animacidade do sujeito; 4) a distinção aspectual operação-
resultado; e 5) a concordância verbal. Observe-se que os fatores que
condicionam VS nos textos dos diferentes séculos não são os mesmos.
Tal resultado, segundo Tarallo (1991), apresenta
Um claro exemplo de mudança qualitativa no sentido de ruptura
estrutural, isto é: enquanto um fator de natureza notadamente
funcionalista explicava a ordem sujeito – verbo no português
brasileiro do século XVIII [o status informacional do sujeito],
um fator de natureza sintática, a transitividade do verbo, aparece
como o grande condicionador da ordem verbo – sujeito no
português brasileiro do momento [do século XX] (p. 18 –
grifos meus)
Tem toda a razão a análise de Tarallo em relação à ruptura
estrutural no padrão de ordenação VS em português observado em
textos dos diferentes séculos. Os fatores que condicionam a ordem VS
em textos do século XVIII não são os mesmos que condicionam a
ordem VS nos textos do século XX. Mas a ruptura defendida por
Tarallo faz referência a duas (ou três) fases de um sistema/ou de uma
gramática – a gramática do português brasileiro. Note-se que o autor
faz referência a um português brasileiro do século XVIII e a um
português brasileiro do século XX. Em outras palavras, faz-se
referência aqui à implementação da mudança ainda associada à
propagação – nos termos da proposta da sociolinguística variacionista
– e não à origem da mudança como concebe a teoria gerativa. Se
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entendermos que a gramática do Português Brasileiro é o
conhecimento linguístico que um indivíduo que fala (ou escreve)
português brasileiro tem, como estado final da maturação da
Faculdade da linguagem, tal conhecimento não pode estar associado a
fases. Quero dizer com isso que quando o padrão de ordenação VS
muda nos textos no curso do tempo, muito provavelmente, a gramática
do indivíduo que licencia um ou outro padrão não pode ser a mesma.
Também não poderíamos ter uma gramática do português brasileiro
para cada fase/século. Mais acertado seria, portanto, pensar na
hipótese de que estão manifestos nos textos dos três séculos padrões
gerados por diferentes gramáticas do português – mas não do
português brasileiro somente. Seriam padrões gerados por uma
gramática conservadora – o Português Clássico – e padrões gerados
por uma (ou mais) gramáticas inovadoras – o Português Brasileiro e o
Português Europeu moderno – por exemplo.
Para a sociolinguística paramétrica, tomam-se as taxas de variação
no curso dos séculos observadas em fenômenos distintos como
mudanças em si. Quando se observam na empiria as taxas de alteração
na expressão do sujeito, no preenchimento do objeto, na rigidez de
uma ordem SV, tal quadro é interpretado como alterações
paramétricas nas gramáticas do PB. Defendem-se, portanto, a
mudança associada a alterações nas taxas de uso, muitas vezes, de um
único fenômeno, a uma mudança gramatical.
Numa outra perspectiva, na proposta de gramáticas em competição
para a interface entre a teoria da variação e mudança e a teoria
gerativa, a implementação da mudança ocorre quando já se observa
uma variação entre formas geradas por gramáticas distintas, ou seja, a
mudança observada no início da curva em “S”. Isso se deve ao fato de
a mudança paramétrica estar associada ao período de aquisição da
língua/da gramática e não necessariamente ao espraiamento da
mudança na comunidade de fala.
De acordo com o modelo de competição de gramáticas, a
observação na alteração na frequência de uso de um determinado
fenômeno sintático não pode ser interpretado como uma mudança
gramatical em si e por si. Tal alteração pode ser o reflexo de uma
mudança na gramática, no sentido de que quando um parâmetro na
gramática for alterado, a mudança pode se refletir em diferentes
fenômenos superficiais. Para usar o mesmo termo a que se refere
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Tarallo, uma mudança qualitativa no sentido de ruptura estrutural gera
uma nova gramática e essa mudança é necessariamente abrupta
quando, no período de aquisição, a criança adquire um parâmetro
errado da gramática alvo.
A compreensão da mudança sintática via competição de
gramáticas, no sentido de Kroch e colaboradores (KROCH, 1989,
2003[2001]; KROCH; TAYLOR, 1997), tem se mostrado um campo
fértil para o estudo da origem, no quadro teórico da gramática
gerativa, e da propagação, no quadro teórico da sociolinguística
variacionista, da mudança sintática. Abre-se, nesse sentido, um campo
fértil de trabalho em busca de respostas aos problemas empíricos de
encaixamento e propagação no estudo da mudança sintática (WLH,
1968).
O estudo da mudança sintática via competição de gramáticas tem
mostrado que a gradação na frequência de uso de diferentes contextos
superficiais reflete uma mesma (ou única) mudança paramétrica que
pode ser estatisticamente calculada pela Hipótese da Taxa Constante
(HTC). A HTC revela que a gradação nas formas variantes no curso de
uma mudança não é a mudança em sim, mas, antes, é o reflexo de uma
mudança na fixação de um mesmo parâmetro na gramática da língua.
Na verdade, a observação na alteração na taxa de frequência de um
fenômeno específico pode ser interpretada como o reflexo de uma
mudança paramétrica na gramática de uma língua, mas a alteração na
taxa em si e por si não pode ser tomada como mudança. Trata-se
sempre, quando for o caso, de um reflexo de uma mudança, cuja
origem está centrada em uma alteração paramétrica. Nesse sentido, a
proporção da mudança associada a tais diferentes fenômenos deve ser
a mesma, já que a alteração é resultado de uma mudança na gramática
dessa língua. Todas as taxas mudam juntas e em uma direção por que
refletem uma única mudança paramétrica
Nessa linha de raciocínio, o conjunto de contextos que muda ao
mesmo tempo na gramática de uma língua não é definido pelo
agrupamento de uma propriedade superficial, como o aparecimento de
uma palavra ou de um morfema particular, mas pela alteração na
fixação de um parâmetro. Nessa perspectiva, a reflexão sobre o
processo de mudança sintática é um convite à “garimpagem” de tais
fenômenos “superficiais” em busca da origem da mudança.
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DA IMPLEMENTAÇÃO NA MUDANÇA SINTÁTICA
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A título de exemplo de um estudo nessa linha de análise, voltemos
a um estudo sobre a ordem VS, associado à colocação pronominal, na
diacronia do português. Paixão de Sousa (2004) analisa textos
portugueses do século XVI ao XIX e apresenta os resultados
sistematizados no gráfico 2 a seguir em relação à proporção de
sujeitos pós-verbais em sentenças principais.
18 18 2122
99 8
0
10
20
30
40
1525 1575 1625 1675 1725 1775 1825
Gráfico 2: Frequência de VS em textos portugueses
no curso dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX
(adaptado de PAIXÃO DE SOUSA, 2004, gráfico
36/apêndice, p. 59 )
De acordo com os resultados obtidos pela autora, há uma queda na
frequência de VS em textos portugueses escritos a partir do século
XVIII – as taxas de VS em textos escritos entre 1525 e 1675 de 18%,
18%, 21% e 22% caem para 9%, 9% e 8% em textos escritos a partir
de 1725. Paixão de Sousa interpreta esse resultado empírico,
observado no curso do tempo, como uma mudança gramatical –
estrutural – envolvendo diferentes gramáticas do português. A
hipótese defendida pela autora é a de que a queda na frequência de uso
de VS está associada a diferentes propriedades nos padrões de
ordenação de constituintes nas gramáticas do Português Clássico (PC)
e do Português Europeu (PE). Na gramática do PC estariam ativas as
propriedades de fronteamento de constituintes (configuração em que,
Marco Antonio Martins
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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 32 - jul-dez 2013
derivado por movimento na sintaxe, o constituinte pré-verbal estaria
numa posição interna na estrutura oracional), conforme exemplos em
(1), e de adjunção (configuração em que, sem movimento na sintaxe, o
constituinte pré-verbal está numa posição externa aos domínios da
oração), conforme exemplos em (2).
(1) #[XV, sendo X um constituinte de VP tal como advérbios
modais, quantificadores, focos e argumentos do verbo
(PAIXÃO DE SOUSA, 2004, p.72)
a. # [Bem me importava...
b. # [Muito vos desejei...
c. # [Todos me tratam...
d. # [Elas mesmas lhe contaram
(2) X#[V, sendo X uma oração dependente ou um PP adjunto
(PAIXÃO DE SOUSA, 2004, p.74).
a. Suspenso o imperador com esta proposta #[disse-lhe Ariano
b. Em Sintra #[obrigava-me a tomar
c. Por esta razão #[lhe pareceu
O fronteamento de constituintes na gramática do PC seria
explicado pela natureza V2 (verbo em segunda posição) do PC que
não acontece em PE, de modo que essa gramática teria perdido a
propriedade de fronteamento. Em outras palavras, os sujeitos pré-
verbais do PC são, na verdade, sujeitos fronteados, como quaisquer
outros elementos (PPs e outros sintagmas); no PE, uma gramática que
não exibe comportamento de gramática V2, os sujeitos pré-verbais
não são fronteados. Por perder a propriedade de fronteamento, a
ordem VS, em que qualquer constituinte poderia ocupar a posição pré-
verbal, ficaria restrita a alguns contextos na gramática dessa língua.
Há nesse sentido a cristalização de uma ordem SV na gramática do
PE.
Como atestam os resultados de Paixão de Sousa (2006), os
diferentes padrões de ordenação do sujeito nos textos dos diferentes
séculos estariam correlacionados a uma mudança estrutural na
GRAMÁTICA OU GRAMÁTICAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO? O PROBLEMA
DA IMPLEMENTAÇÃO NA MUDANÇA SINTÁTICA
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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 32 - jul-dez 2013
gramática do português – do PC para o PE. E na alteração na
frequência de uso de tais construções estaria refletida a alteração/a
mudança de parâmetros característicos/definidores de uma e outra
gramática.
3. Um ponto de chegada (ou de partida)
Neste artigo, em consonância com a discussão apresentada em
Martins, Coelho e Cavalcante (no prelo), assumo o pressuposto (e
procuro argumentos a favor dele) de que há duas propostas para a
interface entre a teoria da variação e mudança e a teoria da gramática
nos estudos realizados no Brasil: a sociolinguística paramétrica,
proposta por Tarallo e Kato (1987), e a competição de gramáticas,
proposta por Kroch (1989, 2003[2001]). Defendo a hipótese de que
conseguimos um alinhamento teórico entre essas diferentes teorias
quando assumimos uma interface nos moldes do modelo de
competição de gramáticas.
Sobre o lugar da variação linguística – um ponto fulcral de
discussão no alinhamento da teoria da variação e mudança e da teoria
gerativa – a sociolinguística paramétrica propõe que a variação
observada em uma língua, no curso dos séculos, como o resultado de
um processo de variação intralinguística, pode ser entendida nos
mesmos termos daquela observada no universo do interlinguístico.
Nesse sentido, a variação entre diferentes formas em uma mesma
língua no curso dos séculos seria fruto de um realinhamento
paramétrico – em termos quantitativos e não qualitativos – na
marcação de um parâmetro na gramática dessa língua.
Em estudos realizados sobre fenômenos em variação e/ou mudança
no português escrito no Brasil, fala-se em gramáticas do Português
Brasileiro – PB do século XVIII, PB do século XIX, PB do século
XX. O ponto que quero destacar nessa discussão é: quantas – e quais –
gramáticas do português brasileiro “estão em jogo” em relação à
análise de diferentes fenômenos observados em textos escritos por
brasileiros no curso dos séculos? Quantas – e quais – gramáticas do
português brasileiro estão refletidas nas amostras analisadas nesses
estudos? Existe uma gramática do PB do século XVIII, uma gramática
do PB do XIX e uma outra gramática do PB do século XX? Do
mesmo modo, existe uma gramática do PE do século XVIII... e outra
do século XX?
Marco Antonio Martins
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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 32 - jul-dez 2013
Em termos de Língua-I, de acordo com os pressupostos da teoria
gerativa, gramática é uma teoria sobre um conjunto de regras que
permite que um indivíduo – os autores de textos escritos em diferentes
momentos históricos – saiba/fale/escreva uma língua. Nesse sentido,
de acordo com o quadro teórico da gramática gerativa, quando
falamos em PB, PE e PC estamos nos referindo a um conjunto de
propriedades (paramétricas) que estão associadas a um estado de
Língua-I, adquiridas por um indivíduo que sabe/fala português
brasileiro, português europeu...
Fica difícil entender que quando observamos o (complexo) quadro
da escrita no Brasil do século XIX, por exemplo, em comparação com
a escrita no Brasil no século XX, estamos diante de um PB do século
XIX e outro do século XX. Parece não haver, nesse sentido, dois
estados de Língua-I que caracterizam o PB. Na verdade, a hipótese
que temos defendido é a de que os diferentes padrões de variação
observados – assim como os diferentes quadros nos diferentes séculos
– sejam o reflexo de construções geradas pela gramática do PB e de
construções geradas por outras gramáticas do português, tais como as
do PC e do PE moderno. A escrita no Brasil do século XIX, nesse
sentido, evidenciaria um quadro em que diferentes padrões associados
a diferentes gramáticas estariam em competição. Numa análise nesses
termos, estaríamos diante da gramática do PB em competição com a
gramática do PE e do PC.
Nesse sentido, enquanto a diferenciação entre a natureza
quantitativa (de mudança no curso do tempo) e qualitativa (de ruptura
estrutural) proposta pela sociolinguística paramétrica parece se voltar
apenas a um aspecto do problema de implementação – a propagação
da mudança, a competição de gramáticas, permite que se vislumbre do
problema da implementação alinhando às propriedades da origem e da
propagação da mudança.
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Palavras-chave: implementação, gramática, português
brasileiro
Keywords: implementation, grammar, Brazilian Portuguese