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pro DA DER grama METODO DÁDER MANUAL DE SEGUIMENTO Daniel Sabater Hernández Martha Milena Silva Castro María José Faus Dáder Terceira Edição (Versão em português europeu) 2009 FARMACOTERAPÊUTICO

Guia Dader

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Guia Dader para Atenção Farmacêutica

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  • pro

    DADER

    grama

    METODO DDERMANUAL DE SEGUIMENTO

    Daniel Sabater HernndezMartha Milena Silva Castro

    Mara Jos Faus Dder

    Terceira Edio(Verso em portugus europeu)

    2009

    FARMACOTERAPUTICO

  • Daniel Sabater HernndezLicenciado em FarmciaMaster Universitario en Atencin Farmacutica.Responsvel do Programa Dder de Seguimento Farmacoteraputico.Membro do Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica.Universidade de Granada.

    Martha Milena Silva CastroQumica Farmacutica. Universidade Nacional de ColombiaFarmacutica HospitalarMaster Universitario en Atencin Farmacutica.Membro do Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica.Universidade de Granada.

    Mara Jos Faus DderDoutorada em FarmciaProfessora Titular de Bioqumica e Biologia MolecularResponsvel do Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica.Universidade de Granada.

    Traduo:Ins Isabel Lopes Nunes da Cunha, PharmD, MSc*

    Reviso tcnica e adaptao:Paula Iglsias Ferreira, PharmD, MSc*Henrique Jos Santos, BSc, PharmD, MSc, EFI (OF)**Grupo de Investigao em Cuidados Farmacuticos da Universidade Lusfona (GICUF-ULHT)

    Traduzido do original em espanhol: Mtodo Dder. Gua de Seguimiento Farmacoteraputico, 2007

    Mtodo Dder. Manual de Seguimento Farmacoteraputico, 2009, verso em portugus europeu (acordo ortogrfico)

    dos textos: Dos autores da edio: Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica (CTS-131). Universidad de Granada.Impresso:I.S.B.N.: 978-972-8881-75-7N. DL: 306825/10Nome fornecedor: ROLO & FILHOS II, S.A. - INDSTRIAS GRFICASTtulo: Mtodo Dder. Manual de Seguimento Farmacoteraputico Autor: Hernndez, Daniel Sabater e outrosEditor: Edies Universitrias LusfonasLocal Pub.: LisboaData Pub.: 2010Edio: 1

    A U T O R E S

  • A Jos Pedro Garca-Corpas porque sem a sua valiosa colaborao no se teria podido finalizar este guia.

    A Francisco Martnez-Romero, Fernando Fernndez-Llims e Manuel Machuca por terem desenvolvido as duas primeiras edies deste Guia sobre o Mtodo Dder de Seguimento Farmacoteraputico, a partir das quais foi possvel esta terceira edio. Obrigado por todo o trabalho que partilhmos convosco, que sem dvida foi parte fundamental no nosso crescimento e formao neste tema.

    A Marta Parras, porque sobre ela recaiu a maior parte do trabalho nos primeiros anos do Programa Dder.

    A Jaime Vargas, Ins Azpilicueta, Mariam Beidas e Gerardo Colorado, por partilharem connosco tantas tardes de discusso ou melhor, de conversas produtivas. Graas a esses momentos, que no foram poucos, nem breves, surgiram e amadureceram-se muitas ideias, que agora se encontram no texto. Temos a certeza de que continuaremos a partilhar mais vezes estes fantsticos momentos.

    A Fernando Martnez, Miguel ngel Gastelurrutia, Ingrid Ferrer, Pedro Amariles, Jos Mara Araujo, Narjis Fikri, Emilio Garca, Estefana Lpez e Lorena Gonzlez, por terem realizado o formidvel trabalho de ler o guia (primeiras verses e provas) e por terem realizado as sugestes que consideraram oportunas.

    A Ana Ocaa, que contribuiu com o caso que serve de exemplo neste guia.

    Aos restantes membros actuais do Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica da Universidad de Granada: Sonia Anaya, Jos Manuel Arias de Saavedra, Isabel Baena, Luis Bar, Neus Caelles, Miguel ngel Calleja, M ngeles Campos, Beatriz Carreras, Clarice Chemello, Jos Espejo, Paloma Fajardo, M Jos Ferrer, Macarena Flores, Pilar Garca-Delgado, Paloma Gastelurrutia, Francisco Gonzlez, Jos Ibez, Almudena Jimnez, M Dolores Llamas, Ins Nunes da Cunha, M Rosario Marn, ngel Martn, Jos Martnez, Ana Moreno, Antonio Pintor, Ana Rosa Rubio, Loreto Sez-Benito, Amparo Torres y Laura Tuneu. Porque cada projecto que partilhmos convosco constitui mais uma parte daquilo que somos.

    Finalmente, queremos reconhecer o trabalho realizado pelos coordenadores do Programa Dder nos distintos pases e provncias, o que permitiu a evoluo do Mtodo Dder e, sobretudo s centenas de farmacuticos que realizaram seguimento farmacoteraputico a milhares de doentes, porque graas ao seu esforo, conseguiram que a maioria melhorasse o seu estado de sade.

    Os autores.

    AGRADECIMENTOS

  • n d i c e1. ABREVIATURAS ............................................................................................................

    2. INTRODUO ...........................................................................................................

    2.1. Aproximao ao conceito de Seguimento Farmacoteraputico (SF)........

    2.2. Documentao do Seguimento Farmacoteraputico .................................

    2.3. Histria farmacoteraputica do doente .........................................................

    3. RESULTADOS NEGATIVOS ASSOCIADOS MEDICAO (RNM) ...................................

    3.1. Problemas relacionados com os medicamentos (PRM) no Segundo

    Consenso de Granada (2002) ...................................................................................

    3.2. A evoluo do termo PRM .................................................................................

    3.2.1. Resultados negativos associados medicao......................................

    3.2.2. O termo PRM atualmente ............................................................................

    3.3. Importncia dos resultados negativos associados medicao .......................

    3.4. Suspeitas de resultados negativos associados medicao ........................

    3.5. Classificao dos resultados negativos associados medicao..............

    4. MTODO DDER DE SEGUIMENTO FARMACOTERAPUTICO....................................

    4.1. Oferta do servio ....................................................................................................

    4.2. Entrevista farmacutica: primeira entrevista ....................................................

    4.2.1. Estrutura e desenvolvimento da primeira entrevista farmacutica ........

    4.2.2. Aspetos da comunicao a considerar durante a entrevista

    farmacutica ...........................................................................................................

    4.3. Estado da situao .............................................................................................

    4.3.1. Estrutura e preenchimento do estado da situao ......................................

    4.3.2. Normas e recomendaes para elaborar o estado da situao.............

    4.4. Fase de estudo .....................................................................................................

    4.4.1. Fase de estudo dos problemas de sade ...............................................

    4.4.2. Fase de estudo dos medicamentos ............................................................

    4.4.3. Onde se pode encontrar informao para realizar SF?...............................

    4.5. Fase de avaliao ...............................................................................................

    4.6. Fase de interveno: plano de atuao .............................................................

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  • 4.6.1. Caractersticas e generalidades do plano de atuao ...............................

    4.6.2. Etapas para desenhar o plano de atuao ................................................

    4.7. Entrevistas farmacuticas sucessivas (resultado da interveno

    farmacutica)...............................................................................................................

    4.7.1. Registo das entrevistas sucessivas..................................................................

    4.7.2. Registo das intervenes farmacuticas........................................................

    5. CASO PRTICO ORIENTADO DE ACORDO COM O MTODO DDER ........................

    5.1. Oferta do servio ....................................................................................................

    5.2. Entrevista farmacutica: primeira entrevista ......................................................

    5.3. Primeiro estado de situao ................................................................................

    5.4. Fase de estudo ........................................................................................................

    5.5. Fase de avaliao ..............................................................................................................

    5.6. Fase de interveno: plano de atuao ...........................................................

    5.6.1. Definio e hierarquizao por prioridade dos objetivos. Intervenes

    farmacuticas: planificao...................................................................................

    5.6.2. Relatrio ao mdico .......................................................................................

    5.7. Entrevistas sucessivas (resultado da interveno) .................................................

    5.7.1. Novos estados de situao gerados no SF ..................................................

    5.7.2. Nova fase de estudo .....................................................................................

    5.7.3. Novas entrevistas com o doente e novos estados da situao:

    avaliao das intervenes ..................................................................................

    5.7.4. Fase de interveno: novas consideraes no plano de atuao .............

    5.7.5. Agenda do doente .........................................................................................

    5.7.6. Registo das intervenes farmacuticas ...................................................

    6. B I B L I O G R A F I A ..................................................................................................

    Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.

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  • 1 . A b r e v i a t u r a s

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    AINE: anti-inflamatrios no esteridesAMPA: automedio da presso arterial CF: cuidados farmacuticosDCV: doena cardiovascularE: efetividadeEpS: educao para a sadeES: estado da situaoFRCV: fator de risco cardiovascularHBP: hipertrofia benigna da prstataHTA: hipertenso arterialIF: interveno farmacuticaIMC: ndice de massa corporalKg: quilogramam: metroN: necessidadePA: presso arterialpa: princpio ativoPRM: problema relacionado com os medicamentosRCV: risco cardiovascularRNM: resultado negativo associado medicaoS: seguranaSF: seguimento farmacoteraputicoTHS: teraputica hormonal de substituio

  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.

  • 2 . I n t r o d u o

    O objetivo que se pretende alcanar com a utilizao de medicamentos melhorar a qualidade de vida dos doentes, atravs da cura das doenas ou, quando isto no possvel, controlando as suas consequncias e os seus sintomas.

    A importncia deste objetivo justifica a existncia de um grande nmero de medica-mentos, cada vez com mais qualidade, eficazes e seguros, que constituem a arma teraputica mais usada para manter ou melhorar a sade da populao.

    Contudo, nem sempre que um doente utiliza um medicamento o resultado bom. Em muitas ocasies a farmacoterapia falha. Isto acontece quando os medicamen-tos causam dano (no so seguros) e/ou quando no atingem o objetivo para o qual foram prescritos (no so efetivos).

    Estes fracassos da farmacoterapia foram publicados em numerosos estudos, e atual-mente no existem dvidas de que provocam perdas na sade dos doentes e per-das econmicas ao conjunto da sociedade1-3. No obstante, tambm se demons-trou que os fracassos da farmacoterapia so, em grande percentagem, evitveis4,5.

    Este facto, justifica o desenvolvimento do conceito de Cuidados Farmacuticos (CF), que pretende trazer solues para este problema de Sade Pblica e constituir uma resposta efetiva para detetar, prevenir e resolver estes fracassos da farmacotera-pia.

    Os Cuidados Farmacuticos englobam todas as atividades assistenciais do farma-cutico orientadas para o doente que utiliza medicamentos. Entre estas atividades, o seguimento farmacoteraputico (SF) apresenta uma efetividade maior para atingir os melhores resultados em sade possveis, quando se utilizam medicamentos.

    Em traos gerais, o SF uma prtica clnica que pretende monitorizar e avaliar, con-tinuamente, a farmacoterapia do doente com o objetivo de melhorar os resultados em sade. Atualmente no h dvida, de que dentro da equipa de sade que atende o doente, o profissional mais qualificado para realizar SF o farmacutico, pela sua formao especfica em medicamentos, pela sua acessibilidade e pela sua motivao para que o seu trabalho assistencial seja reconhecido.

    Em resumo, a existncia de um problema de sade pblica (os fracassos da far-macoterapia), que produz diminuio da qualidade de vida e perdas econmicas, requer um trabalho do farmacutico (de modo assistencial), prestando Cuidados

    9Mtodo Dder. Manual de Seguimento Farmacoteraputico. Terceira Edio, 2009

  • Farmacuticos e, especialmente SF, para tentar diminuir a morbi-mortalidade re-lacionada com o uso dos medicamentos, assim como aproveitar ao mximo esta oportunidade para realizar trabalho assistencial.

    2.1. APROXIMAO AO CONCEITO DE SEGUIMENTO FARMACOTERAPUTICO (SF)

    Na legislao espanhola, o SF tem duas implicaes claras: um servio essencial que se deve prestar ao doente e pressupe uma responsabilidade que o farmacu-tico tem de cumprir.

    Tudo isto est na Ley 29/2006, de 26 de julio, de garantas y uso racional de los medicamentos y productos sanitarios6. Nesta lei est exposto que, o trabalho que os farmacuticos e outros profissionais de sade realizam nos procedimentos dos cuidados farmacuticos, tem uma importncia fundamental, uma vez que assegura a acessibilidade ao medicamento, oferecendo, em coordenao com o mdico, aconselhamento em sade, seguimento farmacoteraputico e apoio profissional aos doentes. Esta lei refere ainda que se deve estabelecer um sistema para o segui-mento dos tratamentos aos doentes, que se devia realizar como parte dos procedi-mentos dos cuidados farmacuticos, contribuindo para assegurar a efetividade e seguridade dos medicamentos.

    Anteriormente a esta Lei, em 2001, o Ministerio de Sanidad y Consumo de Espaa, atravs do Documento de Consenso en Atencin Farmacutica7, estabeleceu os procedimentos dos Cuidados Farmacuticos como as atividades assistenciais do far-macutico orientadas para o doente e determinou que o SF era uma destas.

    Atualmente define-se seguimento farmacoteraputico (SF) como o servio profis-sional que tem como objetivo detetar problemas relacionados com medicamen-tos (PRM), para prevenir e resolver os resultados negativos associados medicao (RNM). Este servio implica um compromisso e deve ser disponibilizado de um modo contnuo, sistemtico e documentado, em colaborao com o doente e com os profissionais do sistema de sade, com a finalidade de atingir resultados concretos

    que melhorem a qualidade de vida do doente 8.

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    S e g u i m e n t o F a r m a c o t e r a p u t i c o

    Servio profissional Detetar problemas relacionados com os medicamentos para prevenir e

    resolver resultados negativos associados medicao Implica um compromisso De modo contnuo, sistemtico e documentado Colaborando com o doente e com a equipa de sade Atingir resultados concretos que melhorem a qualidade de vida dos doentes

    Terceiro Consenso de Granada sobre PRM e RNM. 2007

    Em relao a esta definio de SF necessrio fazer as seguintes consideraes:

    O SF constitui uma atividade profissional, na qual o farmacutico tem que assumir a responsabilidade pelas necessidades que os doentes tm em relao aos seus medicamentos. Portanto, no se trata de uma simples aplicao de conhecimentos tcnicos, mas sim do farmacutico ser capaz de utiliz-los e aplic-los para avaliar e intervir em cada situao.

    A deteo, preveno e resoluo dos resultados negativos associados medicao conduz inevitavelmente monitorizao e avaliao contnua (ininterrupta e indefinida no tempo) dos efeitos dos medicamentos que o doente utiliza. Isto transforma o SF numa atividade clnica, na qual o farmacutico vai detetar alteraes no estado de sade do doente atribuveis ao uso da medicao. Para realizar este trabalho dever utilizar e medir variveis clnicas (sintomas, sinais, eventos clnicos, medies metablicas ou fisiolgicas) que permitam determinar se a farmacoterapia est a ser necessria, efetiva e/ou segura.

    A realizao do SF implica a necessria colaborao e integrao do farmacutico na equipa multidisciplinar de sade que atende o doente. Dentro desta equipa, o farmacutico deve conhecer e definir qual a sua funo na gesto e no cuidado dos problemas de sade do doente e, fornecer o seu parecer clnico, elaborado na perspetiva do medicamento, sempre que considere conveniente.

    O SF deve ser disponibilizado de modo contnuo. Isto significa que o farmacutico deve cooperar e colaborar com o doente por tempo indeterminado (compromisso). Para isto, o farmacutico tem de se envolver, no apenas, na preveno ou resoluo dos RNM quando estes surgem,

    Mtodo Dder. Manual de Seguimento Farmacoteraputico. Terceira Edio, 2009

  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.12

    mas tambm, no tratamento integral dos problemas de sade do doente. E, desenvolver aes educativas, monitorizar os tratamentos e os seus efeitos ou, em geral, realizar qualquer atividade que permita otimizar o cuidado dos problemas de sade e obter o maior benefcio possvel da farmacoterapia que o doente utiliza. Para promover a continuidade do SF no tempo, este engloba o desenvolvimento de um plano de atuao destinado a preservar ou a melhorar o estado de sade do doente, avaliando continuamente os resultados das intervenes realizadas para atingir esta finalidade9.

    O SF realiza-se de modo sistematizado. Isto significa que se ajusta s orientaes ou normas, ordenadamente relacionadas entre si, que contribuem para atingir o objetivo: melhorar ou manter o estado de sade do doente. Como tal, o SF necessita da conceo e do desenvolvimento de procedimentos (mtodos) 9-11, facilmente aplicveis, em qualquer mbito assistencial, que definam um modo estruturado e ordenado de atuar, e que, por sua vez, ajudem a focar o trabalho do farmacutico. Deste modo, pretende-se aumentar a eficincia e a probabilidade de xito do servio de SF.

    Neste sentido, o Mtodo Dder de Seguimento Farmacoteraputico12 desenvolvido pelo Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica de la Universidad de Granada apresenta-se como uma ferramenta til, permitindo ao farmacutico seguir normas claras e simples para realizar SF de forma sistematizada. Por outro lado, e na sequncia do comentado no tpico anterior (o SF deve ser disponibilizado de modo contnuo), o Mtodo Dder prope como parte do seu procedimento, a conceo de um plano de atuao com o doente que promova a continuidade do SF no tempo.

    Estas duas caractersticas do SF (contnuo e sistematizado) sero abordadas amplamente no captulo do Mtodo Dder de SF deste guia.

    OSFdeve realizar-sedemododocumentado. A documentao do SF um fator determinante para o desenvolvimento desta prtica assistencial. Isto pressupe que o farmacutico adote um papel ativo, na elaborao de sistemas de documentao adequados, que permitam registar esta atividade.

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    2.2. DOCUMENTAO DO SEGUIMENTO FARMACOTERAPUTICO

    Em Espanha, como qualquer profissional que pratica uma atividade assistencial, o farmacutico est obrigado a cumprir os deveres de informao e de documen-tao clnicaa estabelecidos na Ley 41/200213. Esta obrigao est destacada e exposta novamente na Ley 29/2006, de 26 de julio, de garantas y uso racional de los medicamentos y productos sanitrios6.

    Em relao documentao clnica importante assinalar o seguinte:

    Os profissionais de sade que desenvolvem a sua atividade de modo individual (privado) so responsveis pela gesto e pela guarda da documentao clnica que produzem durante o processo assistencial.

    No SF, tal como no mbito da assistncia mdica, rege o princpio do doente em toda a sua extenso. Entre as suas repercusses, o consentimento informadob uma das mais importantes, tratando-se de um expoente claro da dignidade pessoal, que reconhece a autonomia do indivduo para eleger, entre as diversas opes vitais que se lhe apresentem, de acordo com os seus prprios interesses e preferncias.

    Os profissionais de sade tm de cumprir as suas responsabilidades no tratamento dos dados de carter pessoal do doente. Para isto, seria necessrio solicitar um consentimentoespecficoemmatriadeproteode dados de carter pessoal, onde se informe o doente sobre a finalidade, obrigatoriedade e direitos que tem sobre os seus dados de sade na documentao clnica; tal como se estabelece na Ley Orgnica 15/1999, de Proteccin de Datos de Carcter Personal15.

    Tendo em conta o estabelecido nesta lei, que considera os dados em sade especialmente protegidos e sensveis, a gesto e o tratamento destes dados

    a Documentao clnica: suporte de qualquer tipo ou classe que contm um conjunto de dados e informaes de carter assistencial. Ley 41/2002, de 14 de noviembre, bsica reguladora de la autonoma del doente y de derechos y obligaciones en materia de in-formacin y documentacin clnica. BOE 2002; 274: 40126-40132.

    b Consentimento Informado: conformidade livre, voluntria e consciente de um doente, manifestada em pleno uso das suas faculdades, depois de receber a informao ade-quada, para que ocorra uma atuao que afeta a sua sade. Ley 41/2002 de 14 de noviembre, bsica reguladora de la autonoma del doente y de derechos y obligaciones en materia de informacin y documentacin clnica. BOE 2002; 274; 40126-40132.

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  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.14

    exige a aplicao, de certas medidas de segurana, documentao clnica15,16. Estas medidas esto estabelecidas no Regulamento de medidas de segurana dos ficheiros informatizados que contenham dados de carter pessoal.

    No que respeita especificamente ao SF, a necessidade de document-lo est referi-da no Documento de Consenso sobre Atencin Farmacutica17, onde est exposto que, a realizao de SF implica uma srie de exigncias e requisitos inevitveis, en-tre eles a documentao e registo da atividade, quer das intervenes realizadas, como dos resultados obtidos.

    No contexto europeu, esta responsabilidade do farmacutico encontra-se na Re-comendao do Conselho da Europa de 200118, relativamente ao papel do farma-cutico no mbito da segurana em sade. Nesta, declara-se que o SF inclui, entre outras, afirmaes, a criao de um relatrio farmacutico que inclua o historial do doente, os medicamentos receitados, as informaes clnicas, os resultados terapu-ticos e biolgicos disponveis, assim como as recomendaes feitas ao doente.

    Toda a necessidade gerada em torno da documentao do SF assume que o far-macutico tenha de adotar uma postura pr-ativa na conceo e na implemen-tao dos sistemas de documentao19,20. Apenas registando e comunicando os resultados obtidos se pode demonstrar o benefcio e a efetividade da interveno do farmacutico na sade do doente. Por outro lado, a informao registada deve servir para avaliar os procedimentos realizados durante o SF. Este aspeto deter-minante para melhorar a prtica diria, para conseguir um progresso da atividade e/ou para atingir a sua implementao adequada.

    Em resumo, uma boa documentao um suporte essencial para que, quer a prti-ca, quer a investigao nesta rea, se transformem em realidade 21. Com o objetivo de promover o registo da informao durante o desenvolvimento do SF, o Mto-do Dder considera que, a elaborao da histria farmacoteraputica do doente deve constituir o ponto de partida e a base de trabalho do farmacutico.

    2.3. HISTRIA FARMACOTERAPUTICA DO DOENTE

    A histria farmacoteraputica o conjunto de documentos, elaborados e/ou reunidos pelo farmacutico durante o processo de assistncia ao doente, que contm os dados, opinies (pareceres clnicos) e informaes de qualquer ndole, destinados a monitorizar e a avaliar os efeitos da farmacoterapia utilizada pelo doente.

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    Em traos gerais, na histria farmacoteraputica recolhe-se informao sobre:

    MotivodaofertadoserviodeSF.

    Problemas de sade e efeitos ou resultados devidos utilizao dafarmacoterapia. A histria farmacoteraputica deve conter a informao clnica1 que permita avaliar o estado de sade do doente e as alteraes que ocorrem, em consequncia, do uso dos medicamentos:

    Medies clnicas (ex.: valores de glicemia, presso arterial, etc.) Sintomas e sinais Eventos clnicos Outras apreciaes que o doente possa fazer sobre a evoluo dos seus problemas de sade.

    A importncia desta informao reside no facto de ser a necessria para avaliar os efeitos da farmacoterapia.

    Farmacoterapiadodoente. Inclui-se a informao sobre datas de incio e fim de uso dos medicamentos, ajustes nas doses, dosagens e esquemas teraputicos, alteraes da forma farmacutica e via de administrao, mdicos prescritores, etc.

    Apreciaesdofarmacutico.Na histria farmacutica devem estar todos os pareceres elaborados pelo farmacutico acerca do estado de sade e da farmacoterapia do doente. Estas apreciaes podem constituir, em muitas ocasies, o fundamento das decises tomadas durante o SF.

    Planificao,evoluoeresultadodasintervenesfarmacuticasrealizadaspara melhorar ou preservar os resultados da farmacoterapia. Trata-se de toda a informao relacionada com as aes empreendidas pelo farmacutico para atingir os objetivos acordados com o doente durante o SF. Anotam-se as alteraes produzidas na conduta e nos comportamentos do doente, as decises mdicas tomadas em resposta s intervenes realizadas, assim como, a informao que permita determinar a evoluo do estado de sade do doente, aps as intervenes.

    c Informao clnica: qualquer dado, em qualquer que seja a sua forma, classe ou tipo, que permite adquirir ou ampliar conhecimentos sobre o estado fsico e a sade de uma pessoa, ou a forma de preserv-la, cuid-la, melhor-la ou recuper-la. Ley 41/2002 reguladora de la autonoma del doente y de derechos y obligaciones en materia de informacin y documentacin clnica. BOE 2002; 274: 40126-40132.

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  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.16

    Consentimentoinformado,relatriosparaomdicoeoutrosprofissionaisdesade.

    Dadosdecontactododoente.

    Para facilitar a elaborao da histria farmacoteraputica, o Mtodo Dder prope utilizar uma srie de documentos de registo, que permitem recolher a informao gerada durante o SF, de forma ordenada e estruturada. Entre estes documentos de registo, encontram-se os seguintes:

    1.Apastadahistria farmacoteraputica,que serve de capa para todos os documentos que se vo acumulando durante o processo assistencial ao doente. Alm disto, servir para anotar o motivo da oferta do servio e do incio do SF.

    2. As folhas da entrevista farmacutica, que permitem recolher informao sobre os problemas de sade, os medicamentos e os parmetros clnicos (mensurveis) do doente.

    3. O estado da situao, destinado anlise do caso e avaliao da farmacoterapia.

    4. As folhas do plano de atuao, onde se definem os objetivos a atingir com o doente e onde se programam as intervenes farmacuticas empreendidas para os concretizar.

    5. As folhas das entrevistas sucessivas, onde se anotar a informao proveniente dos encontros reiterados com o doente.

    6. As folhas de interveno, que resumem as intervenes realizadas para melhorar ou preservar o estado de sade do doente e servem como sistema de notificao com o programa Dder de SF.

    Todos estes documentos podero arquivar-se, como parte da histria farmacoteraputica do doente (dentro da pasta desenhada para o efeito) juntamente com outros documentos de provenincias diversas (ex.: relatrios mdicos, anlises laboratoriais, documentos de registo da dispensao e da indicao farmacutica, entre outros).

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    Pasta da histria farmacoteraputica. Fonte: Programa Dder. Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. CTS-131 Universidad de Granada.

    DADERp r o g r a m a

    Seguimento Farmacoteraputico

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    Grupo de investigacin enAtencin Farmacutica (CTS-131)

    Universidad de Granada

    Histria Farmacoteraputica

    Doente:

    Cdigo Dder:

    Dados de Contacto

    Morada:

    e-mail:

    Telefone:

    Mtodo Dder. Manual de Seguimento Farmacoteraputico. Terceira Edio, 2009

  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.18

    A histria farmacoteraputica pode ser de grande utilidade e contribuir para o trabalho de outros profissionais de sade que atendem o doente, pois recolhe informao especfica sobre a farmacoterapia e sobre o estado de sade do doente, em consequncia do uso dos medicamentos. Portanto, a histria farmacoteraputica constitui uma parte especfica, e tambm, um valioso complemento da histria clnica do doente.

    De acordo com a legislao vigente em Espanha, a gesto e a guarda da histria farmacoteraputica responsabilidade do farmacutico e/ou do servio de farmcia que atende o doente. Cada estabelecimento onde se realize o servio de SF tem que estabelecer normas e uma ordem para o adequado arquivamento e acesso informao da histria farmacoteraputica 13,15.

    conveniente que a informao contida na histria farmacoteraputica possa ser acedida, de forma eficaz, para sua consulta. Idealmente, deve ser registada em formato informatizado. Com este propsito e o de informatizar a histria farmacoteraputica dos doentes, o Programa Dder de SF desenvolveu uma aplicao denominada DaderWeb.

    O DaderWeb23 um sistema web online que incorpora vrias utilidades (mdulos) concebidas para apoiar, facilitar o trabalho e favorecer a comunicao dos farmacuticos que realizam SF. Entre estas utilidades, encontra-se uma destinada a elaborar e gerir a histria farmacoteraputica informatizada do doente (evita-se o registo da informao em papel). Alm disto, esta gesto da histria farmacoteraputica est pensada para poder desenvolver as distintas fases do Mtodo Dder de SF: elaborao e avaliao dos estados de situao do doente, desenho do plano de atuao, etc.

    O uso do DaderWeb gratuito e independente. Os nicos requisitos para a utilizao desta ferramenta pelos farmacuticos so um computador com ligao Internet, um navegador WWW e a inscrio ser aceite pela coordenao do Programa Dder.(www.daderweb.es)

  • 19

    3.Resultadosnegativosassociadosmedicao(RNM)

    3.1. PROBLEMAS RELACIONADOS COM OS MEDICAMENTOS (PRM) NO SEGUNDO CONSENSO DE GRANADA (2002).

    Em 1990 Strand e col24 publicaram o primeiro artigo onde se abordou concetualmente o termo drug-related problems, traduzido para espanhol como Problemas Relacionados com os Medicamentos (PRM). Desde ento, e at ao ano 2007, o debate acerca da idoneidade e do significado deste termo permaneceu em aberto.

    Em Espanha, o termo PRM definiu-se pela primeira vez em 1998, no primeiro Consenso de Granada sobre Problemas Relacionados com Medicamentos25. Diferentes interpretaes da definio original levaram a que o conceito fosse revisto novamente no ano de 2002, no Segundo Consenso de Granada26, onde finalmente ficou definido como problemas de sade, entendidos como resultados clnicos negativos, devidos farmacoterapia que, provocados por diversas causas, conduzem ao no alcance do objetivo teraputico ou ao aparecimento de efeitos no desejados.

    necessrio ter em ateno certos aspetos desta definio: De acordo com a WONCA27, resultado define-se como uma alterao

    do estado de sade anterior, e atribuvel interveno em sade. Outros autores, como Bada e Bigorra28 definem resultado, de forma semelhante anterior, como o efeito atribuvel a uma interveno, ou sua ausncia, sobre um estado de sade prvio.

    Ao falar-se de PRM como ...resultados..., devidos farmacoterapia..., entende-se que estes eram uma consequncia (mudana no estado de sade) do uso (ou desuso) dos medicamentos, que, neste caso, constituiriam a interveno em sade. Por isto, os PRM no deviam ser confundidos com os problemas que podem aparecer ou produzir-se durante o processo de uso dos medicamentos, que, em todo o caso, poderiam ser as causas dos PRM (ex.: Sobredosagem de um medicamento).

    d Estado de Sade: descrio e/ou medida da sade de um indivduo ou populao num momento concreto, segundo normas identificveis, habitualmente com referncia a indicadores de sade. Referncia: adaptada do Glossrio de Termos usados na srie Sade para Todos N 9, OMS, Genebra, 1984.

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  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.20

    Os PRM consideravam-se ...resultados clnicos negativos.... Em 1993, Kozman y col.29 definiram, no chamado modelo ECHO, os distintos tipos de resultados que devem ser esperados de qualquer atividade em sade e classificaram-nos em: humansticos, econmicos e clnicos. Por definio, os PRM pertenciam a este ltimo grupo de resultados em sade.Na sequncia do comentado anteriormente, a WONCA27 define resultado clnico como um estado de sade, num momento determinado, em consequncia de uma interveno/situao clnica prvia (doena, tratamento, experincia, etc.) .

    No que diz respeito aos PRM, a palavra negativos d azo a que o estado de sade do doente seja entendido como algo no desejado, como um desvio da normalidade, quer dizer, tal e qual se enunciou na definio do Segundo Consenso de Granada: os PRM como problemas de sade .

    Para medir os resultados clnicos e, em consequncia, as mudanas no estado de sade existem diferentes tipos de variveis. Consequentemente, estas variveis tambm serviriam para medir resultados clnicos negativos devidos farmacoterapia (PRM).

    Os tipos de variveis clnicas utilizadas para medir resultados clnicos so: os sintomas (ex.: dor) e sinais (ex.: tosse), os eventos clnicos (ex.: enfarte agudo do miocrdio), as medidas fisiolgicas ou metablicas (ex.: nveis de glicemia) e a morte28.

    Elementos do processo de uso dos medicamentos

    Interveno

    Medicamento

    Resultados do uso dos medicamentos

    Dosagem do medicamento Consideraes das precaues e contraindicaes Presena das interaes Necessria e correta prescrio/indicao do medicamento Cumprimento das normas de utilizao e administrao Adeso ao tratamento Duplicidade Etc.

    Positivos

    Negativos

    PRM

    Sintomas Sinais

    Eventos Clnicos

    Medies fisiolgicas ou metablicas

    Morte

    e Problema de sade: qualquer queixa, observao ou fato que o doente e/ou mdico percecionam como um desvio da normalidade que tenha afetado, possa afetar ou afete a capacidade funcional do doente.

  • 21

    Frequentemente, estas variveis clnicas so utilizadas em investigao como medidas de resultado para avaliar o funcionamento ou a efetividade de uma determinada interveno ou tratamento (neste caso os medicamentos).

    3.2. A EVOLUO DO TERMO PRM

    3.2.1. Resultados negativos associados medicao

    Como j se viu anteriormente, um dos pontos-chave na definio de PRM dada pelo Segundo Consenso de Granada que os PRM eram resultados (clnicos negativos), pelo que, no deviam confundir-se com falhas ou problemas que pudessem aparecer ou produzir-se durante o processo de uso dos medicamentos, que, em todo caso, poderiam ser causas de PRM.

    Um exemplo que permitir entender esta distino, entre causas e resultados, observa-se com a sobredosagem (excesso de quantidade do frmaco que se administra de uma vez). Se se tivesse considerado a sobredosagem, um PRM, ter-se-ia assumido, por definio, que era um problema de sade, ou seja, um resultado clnico negativo. Contudo, isto no assim. E, no o , porque a sobredosagem no se mede utilizando uma varivel clnica (que, como se comentou anteriormente, medem resultados clnicos); a sobredosagem mede-se, por exemplo, atravs da quantidade de frmaco que se administrou. Est errado pensar que se podia medir a sobredosagem atravs da monitorizao de um determinado parmetro (ex.: modificaes da presso arterial), uma vez que, o que se estaria a fazer, seria determinar o possvel efeito da sobredosagem numa varivel clnica.

    Em concluso e de acordo com o Segundo Consenso de Granada, a sobredosagem podia ser a causa do aparecimento de um PRM, mas nunca um PRM, pois um elemento do processo de uso dos medicamentos, e no, um resultado deste processo de uso.

    Este mesmo raciocnio poderia aplicar-se ao incumprimento, interao farmacolgica, duplicao, etc. Todos estes, tal como a sobredosagem, so problemas que podem aparecer durante o processo de uso dos medicamentos e influir sobre as variveis clnicas do doente.

    Em 2005, Fernndez-Llims e col30 publicaram um artigo no qual reviram o conceito de problemas relacionados com os medicamentos e de problemas da farmacoterapia e as suas relaes com outros conceitos, tal como os resultados negativos da medicao.

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  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.22

    Neste trabalho os autores explicam como o termo PRM amplamente utilizado na literatura, mas nem sempre significando o mesmo conceito. Devido s diversas definies e classificaes de PRM misturou-se processo (causas) com resultados. Neste sentido, destacam-se as classificaes de alguns grupos e sociedades cientficas de referncia, como por exemplo: a PI-doc31, a da American Society of Health System Pharmacist32, a proposta por Cipolle y col33, ou mais recentemente a da PCNE v.4.034 e a publicada por Abu Ruz35. Nestas classificaes, as interaes, o incumprimento (falta de adeso ao tratamento) ou a subdosagem, entre outros, aparecem como PRM. De acordo com o Segundo Consenso de Granada, estes so problemas ou falhas do processo de uso dos medicamentos e seriam causas do aparecimento de PRM.

    No obstante, este facto no se limita apenas a algumas classificaes aceites ou adotadas por certos grupos ou sociedades cientficas, mas tambm se reflete numa grande quantidade de artigos publicados por muitos outros autores, que misturam elementos do processo de uso dos medicamentos com resultados. Por exemplo, Alegre y col36 consideram os erros na administrao ou a duplicao como PRM.

    Outro facto que est exposto no trabalho de Fernndez-Llims y col30 a diversidade de termos que se chegaram a utilizar, sobretudo na literatura anglo-saxnica, para referir os PRM. Isto pode tornar ainda mais difcil a possibilidade de concretizar de maneira uniforme um conceito. Alguns exemplos so: drug-related problems (DRP), drug therapy problems (DTP), medicine-related problems (MRP), medication-related problems (MTP), pharmacotherapy failures, drug treatment failure e pharmacotherapy problem.

    Entre os principais problemas originados pela existncia desta diversidade de termos, utilizados para denominar os efeitos negativos produzidos pelos medicamentos, que alm disso, no tm um significado comum, encontra-se a dificuldade, que vai existir, para conhecer a sua incidncia real e para comparar os resultados obtidos nos diferentes estudos.

    Toda esta confuso que o termo PRM gerava, tornou mais premente a necessidade de se utilizar termos biomdicos, que sendo comummente aceites, trazem uma maior especificidade e no so refutveis. Neste sentido, Fernndez-Llims e col30,37 propuseram a utilizao de: resultados clnicos negativos da medicao.

    O uso desta nova terminologia para designar os PRM foi posteriormente acordado por consenso num grupo de peritos (Terceiro Consenso de Granada sobre PRM e RNM), que, por fim, adotou o termo de resultados negativos associados ao uso dos

  • 23

    medicamentos; de forma abreviada resultadosnegativosassociadosmedicao(RNM)8.

    Os RNM so problemas de sade, alteraesnodesejadasnoestadode sadedo doente atribuveis ao uso (ou desuso) dos medicamentos. Para medi-los utiliza-se uma varivel clnica (sintoma, sinal, evento clnico, medio metablica oufisiolgica,morte),quenoatingeosobjetivos teraputicosestabelecidosparaodoente.

    Recorda-se a definio de PRM do Segundo Consenso de Granada (PRM: entendidos como resultados clnicos negativos), nesta parte do texto, pode-se observar que o conceito de resultado clnico se mantm (prevalece), independentemente do termo empregue para o designar (PRM vs. RNM).

    3.2.2. O termo PRM atualmente

    Uma vez esclarecida a necessidade de se utilizar termos de maior especificidade (RNM), que se prestem menor confuso possvel, preciso comear a aplic-los. No obstante, este passo no fcil de dar. Isto deve-se fundamentalmente ao facto do termo PRM se encontrar muito enraizado e difundido no mbito profissional farmacutico, como se pode deduzir, pela quantidade de anos de trabalho em Espanha e noutras partes do mundo.

    Apesar desta dificuldade, a transio de um termo a outro torna-se cada vez mais indispensvel, j que, alm de ser uma mudana apropriada, o termo PRM deixou deserequivalenteaRNMe,passaautilizar-separadefinirumnovoconceito.

    Este novo conceito de PRM foi proposto desde o Foro de Atencin Farmacutica38.Esta instituio poltica e das cincias relacionadas com o mundo da farmcia, consciente da importncia de uma linguagem comum, assumiu o compromisso de consensualizar um conjunto de definies, de modo a que todos os profissionais que esto relacionados, de qualquer forma, com os Cuidados Farmacuticos, utilizem os mesmos termos com significado idntico.

    As distintas instituies e sociedades cientficas que constituem o Foro so: o Ministerio de Sanidad y Consumo, o Consejo General de Colegios Oficiales de Farmacuticos, as Sociedades Cientficas de Atencin Primaria (SEFAP), de Farmacia Comunitria (SEFaC), e de Farmacia Hospitalaria (SEFH), a Fundacin Pharmaceutical Care Espaa, o Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica de la Universidad de Granada e a Real Academia Nacional de Farmcia.

    Mtodo Dder. Manual de Seguimento Farmacoteraputico. Terceira Edio, 2009

  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.24

    No que respeita ao termo PRM, o FORO prope que passem a denominar-se PRM aquelassituaesquecausamoupodemcausaroaparecimentodeumresultadonegativo associado ao uso dos medicamentos. Portanto, os PRM passam a ser todas as situaes que colocam o utilizador de medicamentos em maior risco de sofrer um RNM. Neste momento, os PRM deixam de ser conceptualmente equivalentes aos RNM,ficandoperfeitamentediferenciados.

    Elementos do processo de uso dos medicamentos

    Interveno

    Medicamento

    Resultados do uso dos medicamentos

    Dosagem do medicamento Consideraes das precaues e contraindicaes Presena de interaes Necessria e correta prescrio/indicao do medicamento Cumprimento das normas de utilizao e administrao Adeso ao tratamento Duplicidade Etc.

    Positivos

    Negativos

    RNM

    PRM

    Sintomas Sinais

    Eventos Clnicos

    Medies fisiolgicas ou metablicas

    Morte

    Para alm disto, o FORO prope uma listagem, no exaustiva nem excludente, de PRM que podem ser apontados como possveis causas de um RNM:

    Administrao errada do medicamentoCaractersticas pessoaisConservao inadequadaContraindicaoDose, esquema teraputico e/ou durao no adequadaDuplicaoErros na dispensaoErros na prescrioIncumprimentoInteraesOutros problemas de sade que afetam o tratamentoProbabilidade de efeitos adversosProblema de sade insuficientemente tratadoOutros

  • 25

    3.3. IMPORTNCIA DOS RESULTADOS NEGATIVOS ASSOCIADOS MEDICAO

    Considere-se o caso de um doente hipertenso, corretamente diagnosticado, tratado com o frmaco que mais de adequa sua situao clnica, que foi corretamente informado sobre o uso do medicamento e que apresenta uma adequada adeso s instrues recebidas e ao esquema teraputico prescrito. A pergunta : Todos estes factos garantem que a presso arterial do doente esteja controlada durante as 24 horas do dia? Responder que sim seria arriscado, j que so numerosos os casos nos quais, por diversos motivos, no se atingem os resultados desejados.

    preciso entender que garantir o processo de uso de um medicamento no assegura queseatinjamresultadospositivosnodoente.

    Esta falta de correlao entre o processo de uso dos medicamentos e os resultados obtidos, torna necessrio que qualquer prtica assistencial se centre, invariavelmente, nos resultados na sade do doente, que so os que verdadeiramente determinam o grau de benefcio ou dano para o doente.

    Em todas as situaes essencial assegurar ou garantir um processo de uso dos medicamentos correto, uma vez que, sem dvida, isto aumenta notavelmente a probabilidade de sucesso no resultado.

    Pelo seu elevado interesse e relevncia, necessrio que os resultados em sade devidos a qualquer atividade assistencial farmacutica sejam devidamente avaliados e medidos. S deste modo se poder avaliar e demonstrar o benefcio

    Relao entre processo de uso dos medicamentos e resultados negativos associados medicao.

    Bom processo de usoResultados positivos

    Resultados negativos

    Resultados negativos

    Resultados positivosMau proceso de uso

    Aumenta a probabilidade

    Aumenta a probabilidade

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  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.26

    e a efetividade da interveno do farmacutico na sade do doente. Por vezes, a ausncia de resultados ou a ausncia de melhoria foi usada como argumento contra o benefcio da interveno do farmacutico. Em investigao, no medir os resultados clnicos de uma interveno ou tratamento considerado uma debilidade, em qualquer estudo sobre uma prtica assistencial.

    O facto de se conferir tanta importncia aos resultados da farmacoterapia no implica descurar a ateno ou no tentar solucionar as incidncias que possam detetar-se no processo de uso dos medicamentos (PRM). De facto, estes problemas podero ser identificados com maior facilidade e frequncia do que os prprios resultados negativos, sobretudo durante processos assistenciais como o da dispensao, no qual h que assegurar que o doente conhece o modo correto de uso e de administrao dos medicamentos.

    3.4. SUSPEITAS DE RESULTADOS NEGATIVOS ASSOCIADOS MEDICAO

    De acordo com a definio, SF8 : o servio profissional que tem como objetivo a deteo de Problemas Relacionados com Medicamentos (PRM), para a preveno e resoluo de Resultados Negativos associados Medicao (RNM). Este servio implica um compromisso que deve ser disponibilizado de modo contnuo, sistemtico e documentado, em colaborao com o doente e com os profissionais do sistema de sade, com a finalidade de atingir resultados concretos que melhorem a qualidade de vida do doente.

    A partir desta definio depreende-se que:

    O SF procura resolver RNM manifestados no doente. Estes podero ser detetados, pois existem variveis clnicas que permitem confirmar a sua presena.

    SF tambm tem de prevenir o aparecimento ou a manifestao de RNM no doente. Estes RNM podem no ter aparecido, mas apresentam uma eleva-da probabilidade de se manifestarem, ou ento no existe a possibilidade de confirmar a sua presena, por no se dispor de uma varivel clnica que permita avaliar o seu estado (existe o problema de sade, mas no pode ser medido).Nestes casos, embora no se possa confirmar a presena do RNM, poder-se- identificar a(s) situao(es) de risco (PRM ou outras causas) que aumenta(m) a probabilidade do RNM aparecer ou se manifestar. Estes ca-sos sero designados por suspeitas de resultados negativos da medicao.

  • 27

    Em suma, considera-se que existe uma suspeita de RNM quando se identifica uma situao na qual o doente est em risco de sofrer um problema de sade associado ao uso dos medicamentos, geralmente pela existncia de um ou mais PRM, que podem ser considerados fatores de risco dos RNM.

    Para entender este conceito apresenta-se o seguinte exemplo: doente com diabetes tipo 2 que no cumpre o seu tratamento antidiabtico oral. Identifica-se um PRM (a no adeso ao tratamento), que corresponde situao de risco que aumenta a probabilidade de que se manifeste o problema (RNM): aumento dos valores de glicemia e de hemoglobina glicosilada A1c. Antes de se manifestar o RNM, a presena do PRM (no adeso) pode gerar o aparecimento de uma suspeita de RNM, sobre a qual o farmacutico poder intervir (ex.: promovendo a adeso) para evitar (prevenir) que o problema de sade se manifeste.

    3.5. CLASSIFICAO DOS RESULTADOS NEGATIVOS ASSOCIADOS MEDICAO

    A classificao dos resultados negativos da medicao semelhante estabelecida para os PRM no Segundo Consenso de Granada26.Para classificar os RNM necessrio considerar as trs premissas que a farmacoterapia utilizada pelos doentes deve cumprir: necessria (deve existir um problema de sade que justifique o seu uso), efetiva (deve atingir os objetivos teraputicos planeados) e segura (no deve produzir nem agravar outros problemas de sade).

    O medicamento (s) que origina um RNM no cumpriu, pelo menos, uma destas premissas. Assim sendo, o RNM (ou a suspeita de RNM, depende da situao) classificar-se- em funo da (s) premissa (s) que no se cumpre (m) .

    Em relao classificao dos PRM do Segundo Consenso de Granada, a proposta de classificao para os resultados negativos associados medicao apresenta as seguintes diferenas:

    Desaparece o termo PRM.

    Desaparecem os nmeros que se associavam a cada tipo de PRM.

    No enunciado dos resultados negativos associados medicao substitui-se em consequncia de na verso original em espanhol e resultante de na verso traduzida para portugus europeu por associado, evitando-se assim uma relao causal to direta.

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  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.28

    ClassificaodeResultadosNegativosassociadosMedicao(RNM) [8]

    Problema de Sade no tratadoO doente sofre de um problema de sade associado a no receber a medicao que necessita.

    Efeito de medicamento no necessrioO doente sofre de um problema de sade associado a receber um medicamento que no necessita.

    Inefetividade no quantitativaO doente sofre de um problema de sade associado a uma inefetividade no quantitativa da medicao.

    Inefetividade quantitativaO doente sofre de um problema de sade associado a uma inefetividade quantitativa da medicao.

    Inseguridade no quantitativaO doente sofre de um problema de sade associado a uma inseguridade no quantitativa de um medicamento.

    Inseguridade quantitativaO doente sofre de um problema de sade associado a uma inseguridade quantitativa de um medicamento

    NEC

    ESSI

    DADE

    EFET

    IVID

    ADE

    SEG

    URID

    ADE

    Por exemplo:Doente com HTA (nico problema de sade), que tem prescrito Enalapril 20 mg (1-0-0) e que no cumpre o tratamento (toma-o dia sim, dia no). Os seus valores mdios de presso arterial so 160/100. O RNM a elevao da PA e classificar-se-ia como uma inefetividade ( a premissa que o medicamento no cumpre) quantitativa (o doente no toma a quantidade que lhe prescreveram).Neste caso, o PRM seria o incumprimento.

  • 29

    O Mtodo Dder de Seguimento Farmacoteraputico um procedimento operativo simples que permite realizar SF a qualquer doente, em qualquer mbito assistencial, de forma sistematizada, continuada e documentada. A sua aplicao permite registar, monitorizar e avaliar os efeitos da farmacoterapia utilizada por um doente, atravs de procedimentos simples e claros.

    O Mtodo Dder baseia-se em obter informao sobre os problemas de sade e a farmacoterapia do doente para ir elaborando a histria farmacoteraputica. A partir da informao contida na histria, elaboram-se os estados da situao do doente, que permitem visualizar o panorama sobre a sua sade e o seu tratamento em distintos momentos, assim como avaliar os resultados da farmacoterapia. Em consequncia da avaliao e da anlise dos estados da situao, estabelece-se um plano de atuao com o doente, onde ficaro registadas todas as intervenes farmacuticas que se considerem oportunas para melhorar ou preservar o seu estado de sade.

    Apesar do Mtodo Dder estabelecer normas bsicas para a realizao do SF, este mtodo caracteriza-se por ser adaptvel e por se ajustar s particularidades do local assistencial onde se pode realizar 39,40.

    Por outro lado, o Mtodo Dder tambm se distingue por evoluir (melhorar) e adequar-se s necessidades de uma atividade clnica - o SF, que est em contnuo desenvolvimento. Isto quer dizer que o mtodo tende a sofrer reformas ou inovaes (atualizaes) devidas experincia adquirida com a prtica do SF, que por sua vez, levam a contnuas revises do mtodo12, 41-43, como por exemplo, a presente.

    As modificaes no mtodo surgem, fundamentalmente, baseadas na experincia acumulada pelos farmacuticos que o utilizam, nas investigaes realizadas graas ao envio das intervenes farmacuticas para o Programa Dder e noutros raciocnios realizados em consequncia do trabalho assistencial, docente e investigador de muitos profissionais.

    A utilidade deste procedimento manifesta-se quando se percebe o elevado nmero de farmacuticos, de diversos pases do mundo, que o pem em prtica44-47. Igualmente, destaca-se a sua capacidade de aplicao em distintos contextos assistenciais. 48-54

    4. Mtodo Dder de Seguimento Farmacoteraputico

    Mtodo Dder. Manual de Seguimento Farmacoteraputico. Terceira Edio, 2009

  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.30

    Em suma, apresenta-se o seguinte esquema que resume as sete etapas do Mtodo Dder de SF:

    Motivo da consulta

    Programao da entrevista

    Plano de Atuao

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    O Doente aceita o SFT?

    Interveno Aceite?

    Oferta do servio

    Estado de situao

    Fase de Estudo

    Fase de Avaliao

    Fase de Interveno

    Entrevistas sucessivas

    Identificaode RNM e outras necessidades do

    doente

    No

    No

    Sim

    Sim

    Entrevista Farmacutica(primeiras entrevistas)

    Sada do servio

    PS controlado

    PS nocontrolado

  • 31

    4.1. OFERTA DO SERVIO

    Em traos gerais, a oferta do servio consiste em explicar, de forma clara e concisa, a prestao dos cuidados de sade que o doente vai receber: o que , o que pretende e quais so as suas caractersticas principais. Obviamente, que o seu propsito ser convidar e incluir o doente no servio de SF.

    O destinatrio indiscutvel da oferta do servio o doente. Este quem vai receber a assistncia e, por isto, quem deve tomar a deciso de aceitar ou no, o servio que lhe foi oferecido.

    Contudo, em certos contextos assistenciais a oferta do servio ao doente inicia-se com a oferta do servio a outros profissionais de sade (geralmente mdicos, responsveis diretos pela sade do doente, no mbito onde exercem), que decidiro previamente se conveniente proporcionar-lhe este novo servio de sade. Isto ocorre em hospitais, em lares de idosos ou em centros de cuidados primrios de sade. importante que quando se oferece o servio a estas pessoas, se apresente documentao de apoio, contendo informao essencial sobre o servio que se pretende prestar.

    Sem dvida, que a farmcia comunitria o contexto assistencial por excelncia onde a oferta do servio realizada diretamente ao doente. Neste mbito, o farmacutico o profissional de sade mais acessvel e prximo do doente, e no existe nenhum membro da equipa de sade, com exceo do prprio doente, que possa interferir na aceitao do servio.

    Geralmente, o servio de SF oferece-se quando se perceciona alguma necessidade do doente relacionada com os seus medicamentos. Algumas situaes que podem refletir esta necessidade e dar lugar oferta do servio so:

    O doente pergunta algo sobre um medicamento, um problema de sade, um parmetro bioqumico ou um relatrio sobre a sua sade.

    O farmacutico recebe uma queixa sobre algum medicamento prescrito ou deteta algum PRM (ver subcaptulo 3.2.2) durante o processo de dispensao de medicamentos.

    O doente manifesta alguma preocupao sobre algum dos seus medicamentos ou problemas de sade.

    O farmacutico observa algum parmetro clnico desviado do valor esperado para o doente.

    O doente solicita o servio de SF.

    Mtodo Dder. Manual de Seguimento Farmacoteraputico. Terceira Edio, 2009

  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.32

    No obstante, independentemente de que exista (ou no) algum motivo que induza a oferta do servio, o SF poder oferecer-se a qualquer doente sempre que se considere que ele possa melhorar os resultados da sua farmacoterapia e/ou, em geral, que o doente possa beneficiar deste servio de sade.

    Como se deve oferecer o servio?Na oferta do servio, as tcnicas de comunicao adquirem especial importncia. A assertividade e as expresses positivas ajudaro a despertar o interesse do doente.

    Ao efetuar a oferta do servio no convm que esta se centre ou se apoie nos aspetos negativos que os medicamentos ou os problemas de sade possam apresentar (o doente j pode ter-lhes medo e no bom aument-lo). Tambm no se recomenda realizar ofertas triunfalistas sobre os benefcios do SF, pois podem criar falsas expetativas e originar decees.

    Existem determinados aspetos que tm de ficar claros na oferta do servio:

    OobjetivodoSFconseguiromximobenefciodosmedicamentosqueutiliza. Utilizar frases do tipo podemos ajud-lo a obter o mximo benefcio dos seus medicamentos, ou vamos tentar melhorar os resultados dos seus medicamentos podem servir para suscitar o interesse do doente por este servio que poder receber.

    Ofarmacuticonovaisubstituirafunodenenhumoutroprofissionaldesade, mas sim trabalhar em equipa. Deixar-se- claro que no se pretende iniciar nem suspender nenhum tratamento, assim como, no se alteraro esquemas teraputicos sem a deciso do mdico. Recorrer-se- sempre ao mdico quando existir algum aspeto dos medicamentos que possa ser melhorado.

    A corresponsabilidade e a colaborao entre o farmacutico e o doente so elementos fundamentais55. O doente tem que saber que no se tomar nenhuma deciso sobre os seus medicamentos sem a sua participao e que, em qualquer caso, tratar-se- sempre de fazer um acordo entre ambos, para tomar a deciso mais oportuna que permita resolver os problemas que possam surgir. Podem-se empregar expresses como vamos trabalhar juntos para conseguir os objetivos a que nos propusemos. Por outro lado, necessrio esclarecer o doente, que livre de abandonar o servio quando o desejar.

    O servio prolongar-se- no tempo. Explicar-se- que periodicamente lhe ser pedido que venha farmcia, o que acontecer em funo das suas necessidades relacionadas com a sua farmacoterapia. Isto pode explicar-se, comentando que (em continuao da frase anterior): Isto pode demorar algum tempo, pelo que, teremos de continuar a ver-nos.

  • 33

    Ao concluir a oferta do servio importante, para que a entrevista farmacutica decorra satisfatoriamente, combinar com o doente o seguinte:

    O dia e a hora em que vai ocorrer o primeiro encontro (primeira entrevista farmacutica). Tambm, pode ser adequado indicar a durao aproximada da entrevista.

    Que traga o saco dos medicamentos. Quer dizer, que traga todos os medicamentos que tem em sua casa, quer os que utiliza atualmente, quer os que j no usa. Isto permite eliminar os medicamentos que o doente j no utiliza e/ou no necessita.

    Que traga toda a documentao clnica disponvel (recordar-lhe que no se esquea da que for mais recente). Por exemplo, relatrios com diagnsticos, anlises laboratoriais, medies feitas em casa. Toda esta informao objetiva sobre os problemas de sade do doente permite esclarecer e completar a informao obtida durante a entrevista pessoal.

    Quem deve ser o primeiro doente em SF?

    Embora o SF permita trabalhar com qualquer doente que tome medicamentos, aconselha-se a comear com doentes cujos problemas de sade possam ser tratados e monitorizados na farmcia (ex.: doentes com hipertenso, com diabetes, com dislipidemia).

    Este tipo de doente possibilita trabalhar com os recursos disponveis na farmcia, como os esfigmomanmetro e aparelhos de medio do colesterol, da glicemia e outros. Deste modo, poder-se-o monitorizar os dados clnicos do doente que permitiro saber se os problemas de sade esto controlados e avaliar a efetividade dos tratamentos. Isto confere uma grande autonomia no trabalho e permite ir ganhando confiana para futuros doentes. Por outro lado, so doentes que precisam de intervenes nos estilos de vida e noutras medidas higieno-dietticas. Isto favorece a interveno educativa direta do farmacutico e o trabalho conjunto com o doente, que se prolongar inevitavelmente no tempo, por se tratar de problemas de sade crnicos.

    Outro aspeto importante a considerar para selecionar o primeiro doente, que apresente alguma queixa ou preocupao. Esta necessidade do doente pelo servio, faz com que tenha uma maior predisposio em colaborar.

    Em geral, tentar-se- evitar que os primeiros doentes em SF apresentem as seguintes caractersticas:

    Mtodo Dder. Manual de Seguimento Farmacoteraputico. Terceira Edio, 2009

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  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.34

    Tomem muitos medicamentos (mais de 5 ou 6).

    Padeam de doenas psiquitricas.

    Apresentem dificuldades em comunicar.

    Estes doentes podero ser abordados posteriormente, quando se dominar o processo.

    4.2. ENTREVISTA FARMACUTICA: PRIMEIRA ENTREVISTA

    As entrevistas farmacuticas com o doente constituem a base do SF. O progresso e os resultados desta prtica assistencial dependem, em boa medida, de como o farmacutico e o doente comuniquem entre si56.

    Nas entrevistas, o doente revela a sua viso sobre os problemas de sade de que sofre e o seu tratamento, aportando informao valiosa (informao subjetiva), que o farmacutico vai recolher, compreender e interpretar 57. importante ter presente e entender que as entrevistas com o doente constituem a principal fonte de informao durante o SF.

    No obstante, em qualquer entrevista clnica 58, o fluxodainformaobidirecionale, portanto, o farmacutico no se limita s a observar ou a tomar notas do que o doente refere. A entrevista serve para recolher informao importante sobre o doente ou para desencadear aes destinadas a melhorar ou a preservar o estado de sade do doente.

    Embora os encontros com o doente se repitam periodicamente durante este processo assistencial, o objetivo dos mesmos pode variar. Na primeira entrevista,

    Exerccio 1. Escolhamos um doente.Para aprender a fazer SF preciso superar os receios e escolher o primeiro doente. importante que saibamos que o propsito para trabalhar com o primeiro doente aprender, e que provavelmente no conseguiremos ajud-lo tanto quanto desejaramos o que poderemos fazer quando domi-narmos o processo.Escolha um doente que se adeque s metas estabelecidas e proponha-lhe o servio de SF. No se esquea de marcar uma data para a primeira entrevista e diga-lhe para trazer o saco com os medicamentos e os docu-mentos de que disponha.

  • 35

    o objetivo consiste em obter a informao inicial do doente e abrir a histria farmacoteraputica. Habitualmente nesta primeira entrevista, o fluxo da informao predominante do doente para o farmacutico.

    Nas entrevistas posteriores (sucessivas) incerto o que se vai realizar: obter informao que possa faltar sobre o doente, efetuar educao para a sade, propor um plano de trabalho ao doente, iniciar uma interveno concreta, obter informao sobre o desenlace de uma interveno, etc. Nestes encontros sucessivos, o farmacutico, que j realizou a fase de estudo e que analisou o caso, poder aconselhar, instruir e fornecer muita informao ao doente.

    Tal como ocorre com a oferta do servio, dependendo do contexto onde se presta o servio de SF, podem existir diferenas quanto informao que se pode obter dos doentes (diagnsticos mdicos, medicao anterior, dados clnicos, exames mdicos, etc.). Isto ocorre por exemplo, em hospitais, lares de idosos ou centros de sade, onde se pode ter acesso histria clnica do doente. Consult-la possibilita:

    Conhecer os problemas de sade e os medicamentos do doente antes de 1. entrevist-lo, o que ajuda a focar os aspetos que se vo abordar durante a entrevista.

    Verificar e complementar a informao obtida na entrevista farmacutica.2.

    Em resumo, as entrevistas constituem um elemento imprescindvel e fundamental para o desenvolvimento do SF. As entrevistas realizam-se tantas vezes quantas se necessitem, quer dizer, cada vez que se precise da interao comunicativa entre o farmacutico e o doente, seja pelo motivo que for.

    4.2.1. Estrutura e desenvolvimento da primeira entrevista farmacutica

    A finalidade essencial da primeira entrevista obter a informao inicial sobre os problemas de sade e os medicamentos do doente, que permita iniciar a histria farmacoteraputica do doente.

    Por outro lado, a primeira entrevista poder servir, por exemplo, para fornecer alguma informao de interesse para o doente e, inclusivamente, para iniciar determinadas aes destinadas a resolver alguma situao indesejada para a sua sade. Desta forma, o doente sentir que j est a beneficiar deste seu encontro com o farmacutico. No obstante, estas aes devero realizar-se preferencialmente em encontros posteriores, quando o caso estiver estudado em detalhe.

    Mtodo Dder. Manual de Seguimento Farmacoteraputico. Terceira Edio, 2009

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  • Etapas para realizar a primeira Entrevista Farmacutica

    Etapa 1. Pergunta aberta sobre as preocupaces de sade. Pretende explorar o que o doente pensa sobre a sua doena. Procura-se que o doente faa uma descrio dos seus problemasde sade desde o seu incio, expondo as suas preo-cupaes

    Etapa 2. Perguntas semiabertas sobre os medica-mentos. A informao obtem-se atravs das seguintes perguntas:

    1. Est a tomar o medicamento?

    2. Est a tom-lo para qu?

    3. Quem o receitou?

    4. Desde h quanto tempo o toma? Vai tom-lo at quando?

    5. Quanto toma?

    6. Esquece-se alguma vez de o tomar? Quando est bem, deixa de o tomar ? E quando sente mal?

    7. Est melhor (sente efeito?, Como sente o efeito?)?

    8. Como o utliza? Tem alguna dificuldade em admi-nistr-lo?, Conhece alguma precauo? (normas de uso e de administrao)

    9. Nota alguma coisa estranha relacionada com a toma do medicamento?

    Etapa 3. Fase de reviso: realiza-se de acordo a sequn-cia o que permite fazer uma reviso da cabea aos ps.

    Motivo da oferta do servio

    Cabelo:Cabea:Ouvidos, olhos, nariz, garganta:Boca (aftas, secura...):Pescoo:Mos (dedos, unhas...):Braos:Corao:Pulmes:Barriga:Rins:Fgado:Orgos genitais:Pernas:Ps (dedos, unhas):Msculos:Pele (securas, erupes...):Psicolgico:

    Parmetros quantificveis (PA, colesterol, peso, altura...):

    Estilos de vida (tabaco, lcool, dieta, exercicio...)Vacinas e alergias.

    Reviso:

    Utilize as tabelas resumo para registar os parme-tros do doente.

    Problema de Sade:

    Problema de Sade:

    Problema de Sade:Incio:Problema de Sade:

    Informao bsica a obter sobre os problemas de sade (P.S.): 1) Preocupaes e expetativas do doente em relao ao P.S., 2) Perceo sobre o controlo do P.S.(sintomas, sinais, parmetros quantificveis associados evoluo da doena, interpretao dos parmetros quantificveis), 3) Situaes ou causas do P.S. no estar controlado., 4) Periodicidade dos controlos mdicos, 5) Estilos de vida e medidas higino-dietticas relacionadas com o problema de sade.

    Problema de Sade: Incio:

    Entrevista Farmacutica: Problemas de Sade Data: Folha: / DADERp r o g r a m a

    Inicio:

    Inicio: Problema de Salud: Inicio:

    Inicio:

    Problema de Sade: Incio:

    Incio:Posologia prescrita

    Posologia utilizada

    Medicamento:

    Substncia Ativa:

    P.S. que trata:

    Data de incio

    Posologia prescrita

    Posologia utilizada

    Perceo da Efetividade: Est melhor?

    Modo de uso e de administrao

    Observaes

    Prescritor:

    Perceo da Seguridade: Algo de estranho?

    Entrevista Farmacutica: Medicamentos Data: Folha: /

    Medicamento:

    Substncia Ativa:

    P.S. que trata:

    Data de incioPerceo da Efetividade: Est melhor?

    Modo de uso e de administrao

    Observaes

    Prescritor:

    Posologia prescrita

    Posologia utilizada

    Medicamento:

    Substncia Ativa:

    P.S. que trata:

    Data de incioPerceo da Efetividade: Est melhor?

    Modo de uso e de administrao

    Observaes

    Prescritor:

    Perceo da Seguridade: Algo de estranho?

    Perceo da Seguridade: Algo de estranho?

    DADERp r o g r a m a

    Data Hora PAS PAD Fr. Car

    Parmetros do doente

    Presso ArterialMedidas antropomtricas

    Glicemia Capilar

    Dados do laboratrio

    Data HbA1c Glic.-jj Col- T TG LDLc HDLc

    Data APA DPA AA DA AJ DJ

    Data Altura Peso IMC Per. Abdom. Ind. Cint/Anca

    Folha: /

    DADERp r o g r a m a

    Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.36

    O Mtodo Dder de SF estrutura ou divide a primeira entrevista em trs partes:A. Preocupaes e problemas de sadeB. MedicamentosC. Reviso geral por sistemas

    A.Preocupaeseproblemasdesade.

    Esta fase da entrevista consiste numa pergunta aberta que pretende indagar sobre as preocupaes de sade do doente. Procura-se que o doente responda amplamente e que realize uma descrio o mais completa possvel sobre os seus problemas de sade desde o incio, expondo as suas ideias e as suas dvidas.

    Para iniciar esta parte da entrevista, conveniente comear com algum comentrio que quebre o gelo e permita iniciar a conversa, uma vez que compete ao farmacutico apresentar-se e estabelecer, de maneira clara, o propsito desta entrevista.

    Por exemplo:

    Boa tarde, o meu nome XXX e sou farmacutico. Gostaria de falar um pouco

    Esquemadaprimeiraentrevista.Pastadahistriafarmacoteraputica. Fonte: Programa Dder.Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. CTS-131 Universidade de Granada.

  • 37

    consigo sobre os seus medicamentos. Mas antes, gostaria que falssemos uns minutos sobre o que mais o preocupa em relao sua sade. Feito isto, o doente deve iniciar a sua resposta.

    Para cada problema de sade referido pelo doente, o ideal seria obter informao, considerada bsica, que facilite a anlise do caso e oriente a tomada de decises. Neste sentido, importante:

    Registar e avaliar a preocupao do doente pelo problema de sade, as expetativas que tem e como convive diariamente com o problema. Tudo isto permite relativizar a importncia que o doente confere a cada problema de sade, o qual pode ser determinante na fase posterior de interveno, pois possibilita dar prioridade e orientar a atuao do farmacutico.

    Conhecer o incio dos problemas de sade, j que isto permite estabelecer relaes temporais com a toma/administrao dos medicamentos. Se for possvel, tenta-se obter relatrios mdicos que indiquem o diagnstico concreto do problema de sade e a sua data de incio.

    Conhecer a perceo do doente sobre o controlo de cada problema de sade. Para isto, h que perguntar-lhe sobre:

    Os sintomas, sinais e medidas clnicas que ele relacione com o controlo do problema de sade. Se se dispe de alguma medicao clnica (ex.: valor de colesterol total) seria conveniente que o doente realizasse a interpretao dos dados.Magnitude ou gravidade das manifestaes clnicas quando o problema de sade no est controlado.Situaes ou causas que associa ao descontrolo do problema de sade.Periodicidade dos controlos mdicos.

    Perguntar acerca dos estilos de vida (dieta, exerccio, tabagismo, etc.) e medidas higieno-dietticas relacionadas com o problema de sade e que integram o tratamento no farmacolgico. importante avaliar o conhecimento e o cumprimento que o doente faz destas recomendaes.

    Habitualmente, a resposta do doente a esta pergunta aberta no costuma centrar-se nos aspetos mencionados. Em geral, recomenda-se deixar que o doente continue at finalizar a sua explicao e ir anotando a informao que tenha faltado obter para lhe perguntar posteriormente na fase da reviso. Outra opo ir conduzindo a resposta e ir abordando paulatinamente os distintos aspetos dos problemas de sade.

    Para conduzir uma conversa com um doente tem que se ter alguma experincia e ter a habilidade necessria, para que qualquer comentrio que surja, no constitua

    Mtodo Dder. Manual de Seguimento Farmacoteraputico. Terceira Edio, 2009

    MariseRealce

  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.38

    uma interrupo nem seja interpretado, pelo doente, como um incmodo. Isto pode ocasionar dificuldades na comunicao.

    Noutros casos, em que o doente comece a falar de determinados assuntos que desviem e desorientem a entrevista, ser imprescindvel intervir para reconduzir a situao, evitando assim que a entrevista se prolongue em excesso e/ou seja ineficiente.Quando se entrevistam doentes que no sejam excessivamente comunicativos e/ou no ofeream uma resposta satisfatria pergunta aberta, d-se continuidade com a entrevista, passando segunda parte:

    B. Medicamentos.

    Para iniciar esta segunda parte da entrevista, centrada na medicao, uma boa opo retirar os medicamentos do saco trazido pelo doente, um a um, para obter a informao oportuna de forma individualizada. Segurar nas embalagens dos medicamentos e mostr-las ao doente, parece ser melhor do que utilizar apenas os nomes dos mesmos, pois muitas vezes, o doente no relaciona os nomes com o medicamento em si. As embalagens podem ser mais familiares.

    Nesta parte da entrevista pode-se aproveitar para limpar o armrio dos medicamentos daqueles medicamentos que o doente atualmente no usa e/ou no necessita (ex. medicamentos fora do prazo, duplicados, etc.).

    Para cada medicamento obter-se- a informao necessria que permita identificar o conhecimento e a adeso do doente, assim como, a efetividade e a seguridade da farmacoterapia. Para se conseguir esta informao sobre os medicamentos propem-se as seguintes perguntas para cada um deles:

    Toma/utiliza o medicamento?1. : Pretende saber se o doente usa o medicamento atualmente e de forma regular.Para que o toma/utiliza?2. : Procura identificar se o doente conhece o problema de sade para o qual toma o medicamento.Quem o prescreveu/indicou?3. : Permite conhecer o destinatrio de futuras intervenes.Desde h quanto tempo toma/usa o medicamento?4. : Pretende identificar a data de incio da prescrio. Trata-se da data de incio do medicamento novo ou, nos casos em que o medicamento j est a ser utilizado, a data em que ocorreu a ltima modificao de: concentrao, dose, dosagem, esquema teraputica, forma farmacutica, via de administrao, etc. Nesta fase, tambm conveniente perguntar at quando deve tom-lo/us-lo?, e determinar se o doente vai deixar de tomar o medicamento em algum momento determinado ou se vai modificar alguns dos aspetos comentados anteriormente.

    MariseRealce

    MariseRealce

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  • 39

    Quanto toma/utiliza?5. : Permite identificar a quantidade de medicamento que o doente toma cada vez que o administra (dose), a frequncia e a durao do tratamento e a distribuio das tomas ao longo do dia. Por cada um destes aspetos dever obter-se informao acerca do modo como foram prescritos pelo mdico e do modo como o doente o faz.Esquece-se alguma vez de o tomar/usar? Quando est bem, deixa de o 6. tomar/usar?, E quando se sente mal?: Estas perguntas tambm permitem conhecer o cumprimento ou a adeso do doente ao tratamento.Est melhor?, Sente o efeito do medicamento? (Como o nota?): 7. trata-se de indagar sobre o modo como o doente perceciona o efeito do medicamento lhe est a fazer. conveniente que o doente descreva a evoluo dos sintomas, sinais e medies clnicas que associa ao efeito do medicamento.Como o utiliza? Tem alguma dificuldade na administrao do medicamento? 8. Conhece a(s) precauo(es) de utilizao?: Este conjunto de perguntas pretende conhecer o modo de uso e de administrao do medicamento: conhecimento e cumprimento das recomendaes das normas de uso e administrao do medicamento, dificuldades com a via de administrao ou forma farmacutica e situaes em que deve ter um cuidado especial com o medicamento.Nota algo de estranho relacionado com o medicamento? 9. trata-se de perceber se o doente considera o medicamento seguro. Verificar se o doente estabelece alguma relao (causal, temporal) entre os problemas de sade de que padece e a toma do medicamento.

    C. Reviso geral por sistemas:

    A reviso geral consiste em realizar uma srie de perguntas sobre o funcionamento ou estado do organismo, por aparelhos e sistemas, desde a cabea aos ps.Pode-se comear perguntando se toma algo para as dores de cabea; se tem problemas de viso ou de audio; se sofre tonturas, etc. Alm disto, servir para registar possveis alergias, assim como o peso e a altura, se no foram anotadas anteriormente.

    Em traos gerais, a fase de reviso est pensada para:Descobrir novos problemas de sade e medicamentos que no tenham sido mencionados anteriormente.Obter informao que o doente no tenha fornecido anteriormente.Verificar a informao obtida nas seces anteriores.Aprofundar os aspetos que no tenham ficado claros.Corrigirqualquererroeesclarecerconfuses que o doente possa apresentar.

    Mtodo Dder. Manual de Seguimento Farmacoteraputico. Terceira Edio, 2009

  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.40

    Nesta parte da entrevista importante demonstrar ao doente que se esteve atento a tudo o que referiu. Por exemplo: disse-me que sentia tonturas principalmente de manh, mas gostaria de saber h quanto tempo comearam ou comentou-me que segue uma dieta adequada para a sua HTA, pode-me dizer que recomendaes est a seguir?.As primeiras entrevistas a doentes servem para que cada farmacutico descubra e assuma o seu prprio perfil como entrevistador, e conhea quais so as suas atitudes e as suas limitaes.

    No se deve pretender fazer uma boa entrevista nem dominar a tcnica com os primeiros doentes; nem sequer num curto perodo de tempo. O trabalho e a experincia so os elementos fundamentais que permitem ao farmacutico ir superando as dificuldades encontradas e ir adquirindo a destreza e as habilidades necessrias para otimizar os futuros encontros com o doente.

    Existem documentos destinados a registar ordenadamente a informao da primeira entrevista. Para a sua conceo teve-se em conta a estrutura descrita (pergunta aberta sobre os problemas de sade, perguntas semiabertas sobre os medicamentos e a reviso geral). Estes documentos tambm podero ser utilizados noutras fases do SF, quando requeridos, para adicionar informao histria farmacoteraputica do doente.

    Problema de Sade:

    Problema de Sade:

    Problema de Sade:Incio:Problema de Sade:

    Informao bsica a obter sobre os problemas de sade (P.S.): 1) Preocupaes e expetativas do doente em relao ao P.S., 2) Perceo sobre o controlo do P.S.(sintomas, sinais, parmetros quantificveis associados evoluo da doena, interpretao dos parmetros quantificveis), 3) Situaes ou causas do P.S. no estar controlado., 4) Periodicidade dos controlos mdicos, 5) Estilos de vida e medidas higino-dietticas relacionadas com o problema de sade.

    Problema de Sade: Incio:

    Entrevista Farmacutica: Problemas de Sade Data: Folha: / DADERp r o g r a m a

    Inicio:

    Inicio: Problema de Salud: Inicio:

    Inicio:

    Problema de Sade: Incio:

    Incio:

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    Documentos para a entrevista farmacutica. Fonte: Programa Dder. Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. CTS-131 Universidad de Granada

    Data Hora PAS PAD Fr. Car

    Parmetros do doente

    Presso ArterialMedidas antropomtricas

    Glicemia Capilar

    Dados do laboratrio

    Data HbA1c Glic.-jj Col- T TG LDLc HDLc

    Data APA DPA AA DA AJ DJ

    Data Altura Peso IMC Per. Abdom. Ind. Cint/Anca

    Folha: /

    DADERp r o g r a m a

    Posologia prescrita

    Posologia utilizada

    Medicamento:

    Substncia Ativa:

    P.S. que trata:

    Data de incio

    Data de fim

    Posologia prescrita

    Posologia utilizada

    Perceo da Efetividade: Est melhor?

    Modo de uso e de administrao

    Observaes

    Prescritor:

    Perceo da Seguridade: Algo de estranho?

    Entrevista Farmacutica: Medicamentos Data: Folha: /

    Medicamento:

    Substncia Ativa:

    P.S. que trata:

    Data de incio

    Data de fim

    Perceo da Efetividade: Est melhor?

    Modo de uso e de administrao

    Observaes

    Prescritor:

    Perceo da Seguridade: Algo de estranho?

    Posologia prescrita

    Posologia utilizada

    Medicamento:

    Substncia Ativa:

    P.S. que trata:

    Data de incio

    Data de fim

    Perceo da Efetividade: Est melhor?

    Modo de uso e de administrao

    Observaes

    Prescritor:

    Perceo da Seguridade: Algo de estranho?

    DADERp r o g r a m a

    Mtodo Dder. Manual de Seguimento Farmacoteraputico. Terceira Edio, 2009

  • Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.42

    4.2.2. Aspetos da comunicao a considerar durante a entrevista farmacutica

    A entrevista farmacutica tem que decorrer num ambiente descontrado, que favorea a proximidade e a confiana no relacionamento farmacutico-doente. O lugar onde se realiza a entrevista deve ter privacidade, ser cmodo e estar arrumado.

    A entrevista e o aconselhamento so atividades exigentes que requerem uma maior dedicao de esforo e de concentrao, do que uma conversa informal, em especial, se o farmacutico principiante.

    Existem determinadas habilidades que o farmacutico deve conhecer e desenvolver em prol de uma comunicao que seja efetiva. Por exemplo, usar uma linguagem adequada, escutar de forma ativa, atuar com empatia, usar e saber interpretar a linguagem no-verbal, facilitar a expresso de sentimentos e promover a tomada de decises em conjunto.

    A linguagem utilizada durante a entrevista tem de ser adequada, em cada caso, s necessidades do doente, tentando evitar o uso de tecnicismos que possam dificultar a compreenso e a comunicao com o doente. Se for necessrio utiliz-los, antes de explicar o termo tcnico, preciso avaliar os conhecimentos do doente, e aps a explicao, tem que se assegurar que foi adequadamente compreendido 59.

    Ao escutar de forma ativa, o farmacutico analisa eficazmente a informao que lhe proporcionada e capaz de dar respostas mais rpidas e meditadas face s questes que o doente lhe pode colocar.

    Os farmacuticos e os doentes comunicam as emoes e outra informao de forma no-verbal. O contacto visual, os gestos, o tom e a clareza da voz, etc., so formas de linguagem no-verbal que podem influenciar notavelmente a comunicao e o farmacutico tem de saber geri-las. Por outro lado, a linguagem no-verbal oferece informao sobre as emoes do doente, a preocupao com um problema de sade, o grau de adeso a um tratamento, etc.

    Atuar com empatia, significa partilhar, perceber e identificar as ideias e o estado mental de um doente, sem o farmacutico ter essas ideias ou sem ter vivido as mesmas experincias. O profissional deve compreender e interiorizar a situao emocional do doente, mas mais do isso, tem de saber transmitir-lhe e fazer-lhe ver que o compreende. Uma atitude emptica por parte do farmacutico favorece a comunicao e pode proporcionar apoio emocional e tranquilidade ao doente.

  • 43

    Exerccio 2. Comecemos a trabalhar.Siga as instrues estabelecidas para realizar a primeira entrevista ao doente. Ao finalizar a entrevista reflita sobre os aspetos que poderia me-lhorar, assim como sobre a informao que lhe pode ter faltado obter. Isto um bom exerccio para aprender e para ser muito melhor da prxi-ma vez.

    Neste mesmo sentido, o contacto emocional facilita a comunicao. Expressar sentimentos de pesar face ao mal-estar do doente, ou de alegria pelos seus progressos, sem exagero emocional, potencia a sensao de confiana e compreenso.

    Desde o incio do relacionamento farmacutico-doente deve fomentar-se a deciso partilhada. O modelo de deciso partilhada o melhor, uma vez que adapta a evidncia clnica, proporcionada pelo profissional de sade, aos valores e prioridades de cada doente, que obviamente so individuais e, em alguns casos, podem no ser coincidentes com as decises dos profissionais 60.

    4.3. ESTADO DA SITUAO

    O estado da situao um documento que mostra, resumidamente, a relao entre os problemas de sade e os medicamentos do doente, numa determinada data. Trata-se de uma ferramenta que permite analisar a fotografiadodoentenuma data concreta.

    O estado da situaoelabora-secomainformaodahistriafarmacoteraputicado doente, que se organiza de forma estruturada num documento. Finalmente obtm-se uma esquematizao dos problemas de sade e dos medicamentos do doente que permite dispor de uma viso geral sobre o estado de sade do doente. Para organizar a informao obtida na primeira entrevista e continuar adequadamente o processo, recomenda-se que se elabore sempre o estado da situao do doente.

    Em geral, o estado da situao elabora-se com os seguintes fins:

    Avaliarafarmacoterapiadodoente.

    Visualizaropanoramaglobaldoestadodesadedodoente.

    Exporumcasonumasessoclnica.

    Mtodo Dder. Manual de Seguimento Farmacoteraputico. Terceira Edio, 2009

  • Cdigo Dder:

    DATA PARMETROS

    Estado da Situao Data: Folha: /

    Sexo: Idade: IMC: Alergias:

    Doente: Cdigo Dder:

    Problemas de Sade Medicamentos Avaliao I.F.

    Incio Problema de sade Controlado Preocupa Desde Medicamento (substncia ativa)

    PosologiaN E S

    Classif. RNM

    Data incioPrescrita Utilizada

    OBSERVAES

    *Diagnstico Mdico Documentado Preocupa: Pouco (P); Regular (R); Bastante (B) Avaliao: Necessidade (N); Efetividade (E); Seguridade (S)

    DADERp r o g r a m a

    Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica. Universidad de Granada.44

    Para que a avaliao da farmacoterapia no apresente dificuldades e o processo de identificao dos RNM decorra satisfatoriamente (ver subcaptulo 3.5), o estado da situao tem que estar corretamente preenchido. Por outras palavras, um estado de situao mal preenchido, quer por falta de informao, quer por m organizao da informao nas tabelas, pode dar lugar a erros e/ou a complicaes na identificao dos RNM.

    4.3.1. Estrutura e preenchimento do estado da situao

    Como se pode observar, o estado da situao tem uma configurao de emparelhamento horizontal entre os problemas de sade e os medicamentos que o doente est a tomar para esse problema de sade61,62.

    Esta configurao do estado de situao est pensada para poder levar a cabo o processo de identificao dos resultados negativos da medicao da forma mais ordenada, estruturada e com a maior probabilidade de xito possvel.

    Modelo de Estado da Situao. Correr CJ, Melchiors AC, Rossignoli P, Fernndez-Llims F. Aplicabilidad del estado de situacin en el clculo de complejidad de la medicacin en doentes diabticos. Seguimiento Farmacoteraputico 2005; 3(2): 103-11.

  • 45

    O estado da situao apresenta cinco partes distintas:

    1. Parte superior. Contm a data do estado da situao, a identificao do doente e outros dados demogrficos e clnicos, como o sexo, a idade, o ndice de massa corporal e as alergias.

    O nmero que identifica cada doente composto por 16 dgitos:Dois dgitos representativos do pas (ex.: Portugal, 35).Dois dgitos correspondentes a cada sub-regio (NUTS II): Norte (11), Centro (12), Lisboa e Vale do Tejo (13), Alentejo (14), Algarve (15), Regio Autnoma dos Aores (16), Regio Autnoma da Madeira (17). Ver os cdigos regionais em www.daderweb.es).Cinco