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HajaMemória! HajaExplicação! HajaRecrutamento! Recordamos a cientista Marie Curie. A crise dos Refugiados explicada. O Haja Saúde! está a recrutar. Sabe mais PÁG. 22 PÁG. 17 You can’t innovate within your comfort zone PÁG. 8

HajaSaúde! Edição setembro/outubro

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Page 1: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

HajaMemória! HajaExplicação! HajaRecrutamento!Recordamos a cientista Marie Curie.

A crise dos Refugiados explicada.

O Haja Saúde! está a recrutar. Sabe mais

PÁG. 22PÁG. 17

You can’t innovate

within your comfort

zone

PÁG. 8

Page 2: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

HajaEditorial! 3

HajaBreves! 4

HajaEntrevista! 5

Haja AEISEC! 7

HajaMemória! 8

HajaCiência! 10

HajaTecnologia! 12

HajaBraga! 13

HajaLivro! 15

HajaCinema! 16

HajaExplicação! 17

HajaConto! 20

HajaSexualidade! 21

HajaDesporto! 22

HajaRecrutamento! 22

HajaNEMUM! 23

HajaCAUM! 24

HajaPassatempo! 24

HajaGula! 25

HajaPaciência! 26

Conselhos da Rebeca 27

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HajaEditorial!3

Um novo ano começa e, com e le , i númeras co i sas aparecem! Sejas caloiro, novo aluno ou então um estudante com um longo percurso, o HajaSaúde! dá-te as boas-vindas e acolhe-te nesta mui nobre universidade e d e s e j a - t e u m n o v o a n o académico incrível.

No entanto, e porque uma vida onde apenas as Unidades Curriculares existem é aborrecida, o Haja desafia-te a agitares a tua v ida e a a t reve res - te po r caminhos paralelos ao curso, dedicando-te a voluntariado, associativismo, música,…

Neste âmbito, e tendo em consideração que muitos dos m e m b r o s d e s t a e q u i p a atravessam outros caminhos, nesta edição poderás encontrar inúmeras crónicas e artigos d e d i c a d o s a a t i v i d a d e s extracurriculares e experiências pessoais, para que possas ter u m a i d e i a d o s d i f e re n t e s percursos pelos quais podes enveredar.

Aproveita os teus talentos, sonha e não te prendas só aos livros pois “o médico que só sabe de Medicina, nem de Medicina sabe” (prof. Pinto Machado, fundador do curso de Medicina da Escola de Ciências de Saúde)

Boas leituras e bom ano!

O HajaSaúde! dá-te as

boas-vindas e acolhe-te nesta

mui nobre universidade.

Joana Silva, 4º Ano

Page 4: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

João Lima, 2º AnoHa

jaBre

ves!

4

Medicina deixa 2 vagas livresDuas vagas levadas a concurso na terceira fase no curso de medicina ficaram por

preencher, de acordo com os dados divulgados pela Direção-Geral do Ensino Superior -

uma vaga no curso de Medicina na Universidade Lisboa e outra na Universidade Nova

de Lisboa.

Estas vagas são de lugares que ficaram disponíveis depois de os estudantes que as

ocupavam se terem candidatado e conseguido, uma nova colocação na 3.ª fase noutro

par instituição/curso.

Medicina no NomeA Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho quer mudar esta

denominação para Escola de Medicina, como forma de melhor mostrar a formação e

trabalho que desenvolve, principalmente para o contexto internacional. O desafio foi

deixado pela presidente da escola, Cecília Leão, ao reitor, António Cunha, que garantiu

que essa mudança ocorrerá assim que tiver lugar a próxima alteração de estatutos.

Menos vagas para especialidade?A Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) acusa o Governo de

desinvestir na formação promovendo uma geração de médicos indiferenciados. Em maio

passado, com a mudança da lei, a autonomia médica é conseguida com o ano comum.

Os estudantes dizem que esse é o caminho para abrirem menos vagas para a

especialidade.

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HajaEntrevista!5João Dourado, 3º Ano | Núria Mascarenhas, 3º Ano

ENTREVISTAÁgata Sá da Costa magister da TMUM

HS! - O que é que te levou a entrar na Tuna de Medicina da Universidade do Minho?

Ágata Sá da Costa - Desde sempre que quis entrar numa tuna, mas, até conhecer a TMUM, não tinha encontrado nenhuma do meu agrado e, como também estávamos muito no início, foi muito gratificante ver e ajudar uma tuna a ser criada de raiz e poder chamar-lhe minha também.

HS! - Achas que fazer parte da tuna é uma tradição que se está a perder?

ASC - Não. Pelo menos nos grupos culturais da Universidade do Minho, nota-se bastante adesão por parte do corpo estudantil, sendo de referir também o aumento significativo do número de grupos nos últimos anos. Acho que é umas das tradições mais vivas, pelo menos da UM, e fico muito feliz que assim seja, uma vez que este tipo de atividades ajuda imenso o crescimento dos estudantes em todos os sentidos, desenvolvendo competências que não se aprendem em sala de aula.

HS! - Qual o papel que as tunas têm na vida académica hoje em dia?

ASC - As tunas são a verdadeira definição de vida académica. Numa tuna há todas as fases desta, desde o trabalho à diversão, desde as saídas à noite e festas às fortes amizades que se criam. É um conjunto completo de experiências que todos os estudantes deviam viver.

HS! - Como é que são os vossos ensaios?

ASC - Temos dois ensaios semanais de, em média, duas horas e meia cada um, nos

quais ensaiamos as músicas do repertório atual e criamos músicas novas, nunca pondo de parte o espírito e a boa disposição de tuna. No entanto, não descuramos o trabalho necessário para atingir as metas de qualidade musical pretendidas.

HS! - Quais os próximos eventos que esperam participar?

ASC - Nos próximos meses vamos atuar no V Tunas D'Ouro - festival de tunas mistas organizado pela Tuna Académica de Oliveira do Douro, na Récita 1.º de Dezembro no Theatro Circo organizado p e l a A s s o c i a ç ã o A c a d é m i c a d a Universidade do Minho, sendo que depois em janeiro começa o trabalho árduo de preparação do nosso próprio festival: III Momentmum, o que não deixa muito espaço a outras atividades… No entanto, estamos à espera de mais convites!

HS! - Como é ser magister da TMUM?

ASC - Ser magister da TMUM é, em primeiro lugar, uma honra para mim; é muito bom e muito gratificante ter um papel ativo no crescimento da tuna. É também cansativo muitas vezes pois não é fácil coordenar 30 pessoas, principalmente naqueles meses críticos pré-festival, mas depois tudo decorre da melhor força e é um prazer enorme ver os frutos do trabalho de equipa. Sim, de equipa. Tudo o que alcançámos não era possível sem a excelente direção que me apoia. Mas de equipa também porque todos os elementos da TMUM a judam pa ra que cada Momentmum seja melhor que o anterior.

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HajaE

ntre

vista!

6 HS! - Porquê a TMUM? O que é que a d i s t i n g u e d a s o u t r a s t u n a s d a Universidade do Minho?

ASC - É mista! Tem algo que mais nenhuma outra tem, que é a capacidade de conjugar sopranos e contraltos com tenores e baixos, e não só, também personalidades totalmente distintas que enriquecem a tuna tanto a nível musical como ao nível de relações interpessoais. Na minha opinião, uma tuna ganha muito com toda esta diversidade.

HS! - Tens algum ponto alto que queiras destacar da tua carreira na TMUM ou da TMUM em si?

ASC - A minha ascensão a doutuna foi algo que me marcou muito e me deixou extremamente feliz. Em relação à TMUM penso que terá sido a organização do nosso primeiro festival - I Momentmum, subordinado ao tema, como não podia deixar de ser, "A Primeira Vez", que foi uma vitória quer a nível pessoal como para a tuna. Foi quando efetivamente sentimos que a tuna deu o salto.

HS! - Já estão a preparar o I I I Momentmum? Podes ceder-nos alguns segredos sobre o próximo festival?

ASC - Sim. Um evento como o Momentmum requer meses de preparação, como tal já estamos empenhados para proporcionar o festival de qualidade a que habituamos o nosso público. Posso levantar uma ponta do véu e revelar que vai ser, mais uma vez, incrível! Mas isso já não era segredo nenhum!

HS! - Por último, queres deixar um apelo a algum interessado a ingressar na TMUM?

ASC - Vem, junta-te a nós! Entrar numa tuna é uma experiência inesquecível! Anda e vê com os teus próprios olhos!

“É muito bom e muito gratificante ter um papel ativo no crescimento da

tuna.”

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HajaAEISEC!7

Kelly Pires, 2º Ano

A AIESEC é uma plataforma internacional para jovens explorarem e desenvolverem o seu potencial de liderança. É a maior organização estudantil do mundo, que cria líderes responsáveis e empreendedores. Tem como grande objectivo a Paz e Desenvolvimento do Potencial Huano, através de experiências internacionais, mas não só, pois toda a organização é gerida pelos seus jovens membros.

Os membros da AIESEC fazem parte de uma rede global e dinâmica, são capazes de contribuir para a mudança social nas suas comunidades e no estrangeiro, enquanto exploram as suas próprias capacidades e providenciam a empresas e outras organizações a oportunidade de desenvolver a juventude.

Queres a chance de mudar a tua vida universitária, de viver o desenvolvimento da liderança jovem dentro de uma rede global? Queres viver uma experiência que te abre a porta ao mundo ou gerir uma organização na tua universidade para desenvolver as tuas habilidades para um futuro de sucesso? Junta-te à AIESEC in Minho!

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Marie Curie foi uma cientista e cidadã extraordinária. Da investigação fundamental apaixonada à translação clínica das suas descobertas, o seu trabalho passou ainda por uma – menos conhecida - participação nos esforços da Primeira Guerra Mundial. No seu percurso contou com a colaboração de outras pessoas extraordinárias, algumas aqui sumariamente apresentadas.

A mulher que viria a merecer dois prémios Nobel nasceu em Varsóvia no ano de 1867, filha de dois professores. De seu nome Marya Sklodowska, trabalhou como professora privada para suportar a sua irmã Bronya enquanto esta frequentava o curso de Medicina, em Paris. A irmã, por sua vez, deu-lhe guarida na mesma cidade, quando Marya iniciou o seu sonho de estudar Física. Chegou a Paris em 1891, onde se licenciou com a

melhor classificação do seu curso, ao qual se s egu i u uma nova l i c enc i a tu ra , em Matemática. Nesse período conheceu Pierre Curie, físico com trabalho já então reconhecido nas áreas da cristalografia e do eletromagnetismo, e com ele casou em 1895.

No seu doutoramento, Marie Curie debruçou-se sobre o estudo dos raios X. Estes tinham sido descritos em 1896 por Wilhelm Conrad Röntgen. Marie e Pierre cunharam o termo “radioatividade”, e demonstraram que esta era uma propriedade de certos átomos. De s cob r i r am novo s e l emento s com propriedades radioativas, além do urânio: o polónio (nomeado em honra à sua terra natal) e o rádio. O casal nunca registou patente destas descobertas, para permitir que qualquer cientista pudesse procurar aplicações para as mesmas. Pela descoberta da radioatividade natural, Marie e Pierre Curie receberam o prémio Nobel da Física em 1903, juntamente com Henri Becquerel. Em 1906, Marie perdeu o seu companheiro de v i d a , q u a n d o P i e r r e f a l e c e u , p o r atropelamento.

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Sofia Leal Santos, 5º Ano

Marie Curie

Marie Curie

Marie Curie e Pierre Curie

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Embora sozinha, prosseguiu o seu trabalho de investigação, tendo a seu cargo as duas filhas do seu casamento e assumindo a direção do Laboratório de Física na Sorbonne, anteriormente ocupada por Pierre. Foi a primeira mulher a ser professora nesta universidade. Em 1911 recebeu o seu segundo prémio Nobel, desta vez da Química, pela descoberta do polónio e do rádio e sua caracterização subsequente. Tornou-se assim a primeira pessoa laureada em duas categorias. Para além do seu gosto pela investigação fundamental, desejava que as suas descobertas permitissem melhorias importantes na qualidade de vida das pessoas. Em 1909, era anunciado o Instituto do Rádio, fundado pela Universidade de Paris e pelo Instituto Pasteur, que visava estender o estudo da radioatividade a futuras aplicações biomédicas. Este instituto tinha duas secções: o laboratório Curie, dirigido por Marie e dedicado à investigação química e física, e o laboratório Pasteur, dirigido pelo médico Claudius Regaud e dedicado ao e s t u d o d o s e f e i t o s b i o l ó g i c o s d a radioatividade.

Quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu, em 1914, o Instituto acabara de ser finalizado. Marie Curie entendeu que devia contribuir da melhor forma que pudesse para o esforço de guerra e fê-lo aplicando a tecnologia que ajudara a desenvolver. Criou uma “carrinha de raios X”, com a qual se deslocava aos hospitais de campanha contando com o material necessário, e auxiliou os cirurgiões a localizarem precisamente balas e estilhaços, salvando vidas e prevenindo amputações evitáveis. Treinou ainda, ao longo dos anos da guerra, cerca de 150 mulheres como técnicas, para poderem fazer o mesmo, cobrindo muito mais postos. Uma destas foi a sua filha mais velha, Iréne, apenas com 17 anos na altura. O Dr. Claudius Regaud, seu parceiro no Instituto, coordenou inicialmente um hospital de evacuação, tendo o seu trabalho clínico e de organização sido reconhecido, o que levou a que o mandatassem para reformar os serviços

de saúde públicos franceses nesse período. Criou um centro hospitalar no qual era realizada investigação em novas técnicas cirúrgicas e médicas para responder às novas armas e patologias com que se iam confrontando no campo de batalha; médicos dos diferentes hospitais iam periodicamente a este centro para adquirir formação. Este viria a ser o modelo adotado pelos hospitais universitários.

Após a guerra, Marie Curie e Claudius Regaud prosseguiram nos seus esforços para obter financiamento para o Instituto do Rádio, criando em 1920 a Fundação Curie, de modo a sustentar a investigação fundamental e de t ratamentos para cancro que prosseguiram.

Marie Curie faleceu em 1934 com leucemia, provável fruto da sua exposição prolongada e maciça a radiações. No ano seguinte, a sua filha Irène Joliot-Curie e o marido e parceiro desta, Frédéric Joliot-Curie, recebiam o prémio Nobel da Química, pelo trabalho que desenvolveram no mesmo instituto.

Marie Curie e a sua “carrinha de Raios X”

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Haja Investigação e Empreendedorismo

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Nesta edição do HajaSaúde!, centrada em empenhamentos paralelos à medicina, propuseram-me que abordasse um que me é especialmente familiar, a atividade de investigador. Referir-me-ei sobretudo à investigação biomédica de translação, aquela à qual me dediquei durante os últimos anos, encontrando-me agora em fase de conclusão do meu doutoramento. Durante o vosso percurso enquanto estudantes de Medicina, certamente já se depararam com lapsos de informação ou temas incompreendidos, quer durante a aprendizagem teórica, quer durante as residências cl ínicas. Em circunstâncias distintas terão perguntado “qual a patofisiologia daquela doença?” e terão recebido a resposta “não se sabe”; se perguntaram “qual o tratamento?” também seguramente já ouviram “trata-se com fármaco X, embora não se perceba com exatidão qual o mecanismo de ação e apenas parte dos doentes responde à terapêutica” ou simplesmente “não tem tratamento conhecido”. São questões como estas sobre as quais nos debruçamos normalmente na nossa atividade de investigação, usando as mais variadas abordagens experimentais. Nos dias de hoje, a investigação enquanto atividade paralela da Medicina é uma extensão natural desta uma vez que a prática da Medicina corrente está alicerçada e é o resultado de vários anos de investigação. Poderão questionar-se se terão perfil para fazer investigação. Não me cabendo a mim responder a essa questão, digo-vos no entanto que, na minha perspetiva, um bom investigador é aquele com uma “mente inquieta e frequentemente insatisfeita”. As respostas como “não se sabe” ou “à luz do conhecimento atual não é possível” ao invés de serem apaziguadoras e aceites como concludentes de um qualquer tema, são na realidade uma fonte de

inquietação, dúvida, crítica e insatisfação para com a falta de conhecimento para respondermos a uma importante questão. A m e n t e d o i n v e s t i g a d o r r e t o r q u i r á imediatamente “tem que haver forma de saber isto!” e começará aquela que é uma das fases mais aliciantes do método científico, o desenho experimental. Nesta fase, sozinho e em equipa, várias ideias colidem, caindo por terra uma por uma até que reste aquela que corresponde à a b o r d a g e m e x p e r i m e n t a l q u e é consensualmente a mais adequada.

Nos dias de hoje, a investigação enquanto atividade paralela da

Medicina é uma extensão natural desta uma vez que a prática da

Medicina corrente está alicerçada e é o resultado de vários anos de investigação.

Passa-se então da secretária para a bancada, onde tanto se manipulam sistemas tão ínfimos como um gene de interesse ou um recetor proteico, como também se podem testar organismos no seu todo, como são exemplo os testes para avaliação de perfis comportamentais em animais e humanos. Sendo verdade que o desenho e realização de projetos de investigação são atividades extremamente aliciantes, não é menos verdade que a rotina de um investigador na área médica/biomédica é também exigente. Para não pensarem que vos vendo a investigação a custo zero, deixem-me esclarecer-vos quanto à forte probabilidade de saírem tarde do vosso laboratório (seja em que parte do mundo for), realizarem frequentemente protocolos experimentais que decorrem durante a madrugada,

HajaC

iência

!António Mateus-Pinheiro, 5º Ano

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HajaCiência!11

19encararem vários protocolos e experiências falhadas, deixarem de saber o que são feriados ou férias e de levarem trabalho para casa (papers para ler, manuscritos para escrever, dados para analisar, reuniões, posters e conferências para preparar). A verdade é que se acreditarem e gostarem daquilo que fazem, fá-lo-ão sempre por gosto, trabalharão em equipa, viajarão para outros países onde poderão conhecer novos investigadores e evoluir com eles, algo que no fim resultará num processo de profundo enriquecimento não só científico, mas sobretudo pessoal.

Sair da nossa área de conforto nunca é fácil, mas muitas vezes

traz os seus frutos.

Aproveito também para vos dar um lamiré sobre uma área irmã da investigação, que se encontra atualmente em franca expan são : o empreendedo r i smo. O empreendedorismo em ciência consiste em cap i t a l i z a r a s i de i a s que temos e desenvolvemos na nossa investigação adotando uma abordagem comercial. Em 2012, e s tava eu no in í c io do meu doutoramento, decidi apostar e criar uma spin-off (uma empresa que nasce a partir, neste caso, de uma universidade) juntamente com mais 4 colegas investigadores. A então batizada Behavioral & Molecular Lab. (Bn’ML) pressupôs que mergulhasse num mundo que me era até então absolutamente desconhecido: criação de empresas, processos de desenvolvimento de produtos e serviços, finanças e gestão, propriedade intelectual, etc. O resultado? Sair da nossa área de conforto nunca é fácil, mas muitas vezes traz os seus frutos. Todo o processo foi extremamente enriquecedor e ver um projeto embrionário inicialmente elaborado num plano de negócio, ganhar finalmente vida e vir a merecer reconhecimento nacional e internacional é algo de gratificante. A

Behavioral & Molecular Lab. é especializada no teste de eficácia de novos fármacos numa fase pré-clínica; neste momento trabalhamos junto de vários clientes a nível internacional, mas o que torna este projeto também a l t a m e n t e a l i c i a n t e é o f a c t o d e conseguirmos aliar a componente empresarial à investigação fundamental, financiando projetos de desenvolvimento de novos equipamentos/protótipos de teste ou mesmo projetos de investigação pré-clínica. Um dos objetivos desta empresa é o de contribuir p a r a a m u d a n ç a d o p a r a d i g m a d a i n ve s t i g ação em Po r tuga l , a s sen te maioritariamente num modelo unidirecional: financiamento → investigação, para um modelo de cresc imento c íc l i co de: financiamento → investigação → criação de valor → capitalização → autofinanciamento → nova investigação. Existem vários outros projetos de empreendedorismo na ECS/ICVS extraordinariamente interessantes.

Espero ter-vos dado uma breve perspetiva sobre a investigação biomédica, nas suas várias vertentes. Sendo certo que a ciência que produzirem poderá não ter na maioria das vezes um impacto imediato no mundo ou saúde dos que nos rodeiam, será mais uma peça a juntar ao puzzle que vocês e centenas de outros investigadores nos 4 cantos do mundo estão a tentar resolver, para daqui a 10, 20 ou 30 anos se possa traduzir n uma de s cobe r t a v e rdade i r amen te revolucionária para a vida das pessoas. Sobretudo, é importante notar que o mundo da investigação vos dotará de uma perspetiva da Medicina e das suas ciências afins que vos permitirá interpretar a saúde e a doença de uma forma mais integrada e transversal, colocando-vos numa posição privilegiada: a de abraçar e resolver as grandes questões da Medicina que estão ainda por responder. Quem sabe se não poderás fazer a diferença…

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“Mais valem dois pombos na mão”

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Jorge Silva, 5º Ano

O surgimento da capacidade de criação de anticorpos específicos para quaisquer epítopos desejados foi um dos marcos revolucionár ios da indústr ia b iotecnológica, conseguindo-se uma enormí s s ima gama de novas a rmas terapêuticas para variadas patologias. A utilização de anticorpos, molecularmente designados por imunoglobulinas, permite usufruir do sistema imunitário intrínseco de modo a tratar outras doenças que não de origem infeciosa. O princípio básico e simplicidade desta utilização baseia-se no facto de existir uma região variável e uma região constante da molécula: a constante liga-se sempre a células do sistema imunitário e a variável ao alvo desejado. Assim surgiram inúmeras novas terapêuticas eficazes para doenças inflamatórias, autoimunes e neoplásicas (entre outras).

Estruturalmente, cada anticorpo é constituído por duas regiões variáveis iguais, que permitem a ligação do anticorpo a dois alvos iguais simultaneamente, denominando-se monoclonais. São estes o tipo de anticorpos mais disseminados no seu uso; contudo, existem também os anticorpos monoclonais bifásicos: este subtipo, já com algumas décadas de existência mas menos reconhecido, objetiva uma atuação mais eficaz da molécula. Possui similarmente uma região variável com o alvo desejado, mas a outra região variável, que é estruturalmente similar nos anticorpos monoclonais, passa a ser uma zona de ligação a CD3, uma molécula transmembranar dos linfócitos T, que leva à sua ativação.

Este tipo de anticorpos acentua ainda mais o pressuposto de uso do sistema imunitário no

Esquema representativo da ligação do anticorpo bifásico à célula do sistema imune, pela região constante, e ao linfócito T e célula tumoral, pelas regiões variáveis.

Page 13: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

HajaTecnologia!13

tratamento de doenças não infeciosas: a região constante dos anticorpos liga-se a recetores denominados Fc, que não são expressos pelos linfócitos T; assim, a ativação subsequente dessas mesmas células torna-se como uma forma de potenciação da resposta. E s t e t i p o d e a b o r d a g e m t o r n a - s e especialmente útil na abordagem a doenças neoplásicas, visto que há possibilidade de e s t a e s t r a t é g i a t e r a p ê u t i c a s e r potencialmente curativa.

Existem ainda outras vantagens importantes deste tipo de anticorpos, a s soc iadas ao seu uso em doenças neoplásicas: o facto de aumentarem exponencialmente o seu potencial citotóxico permite que sejam utilizadas a concentrações bastante inferiores para ser obter a eficácia desejada, o que leva a uma menor carga de efeitos adversos. Por outro lado, e baseado no facto de que vários passos da biologia molecular das células tumorais se encontram alterados, podem-se criar anticorpos com alvos para duas moléculas distintas, mas envolvidas em vias de sinalização paralelas do tumor, podendo-se atingir uma maior eficácia também dessa forma.

Apesar de ser uma tecnologia já existente há vários anos, a sua disseminação não é provavelmente a desejada; as potencialidades desta ferramenta podem ser ainda muito maiores: poder-se-á utilizar em testes laborator ia i s de rast re io de marcadores tumorais (objetivando-se a d e t e ç ã o d e d o i s m a r c a d o r e s simultaneamente) ou até aumentar a especificidade da atuação do anticorpo em determinado tecido, ao se transformar uma das regiões variáveis específica para proteínas expressas apenas nesse mesmo tecido.

Recentemente foi publicado um trabalho na revista Nature Communications (Pegu et. al 2015) a demonstrar resultados promissores de uma terapêutica anti-VIH com recurso à tecnologia de anticorpos bifásicos: uma das regiões variáveis deteta um epítopo específico de células infetadas com VIH, e o outro direciona linfócitos T para as destruir, sendo que os resultados deste trabalho são importantes pois demonstram neutralização, não só do vírus em circulação, como dos reservatórios do mesmo no organismo.

HajaBraga!13

Joana Silva, 4º Ano

Prometeu e as suas lendas Para quem ingressa na Universidade do Minho (ou mesmo para os mais distraídos com mais matrículas que ainda não o saibam) é um must conhecer o significado de um dos símbolos desta nossa mui nobre universidade: o Prometeu. Quem é dado a Mitologia, sabe que Prometeu é o nome de uma entidade m i to l óg i ca : um t i t ã cu jo p r ime i ro aparecimento foi em Teogonia, de Hesíodo, onde o autor relata a história de como esta entidade ludibriou Zeus e as consequências dessa provocação. Reza a lenda que Prometeu colocou à frente de Zeus duas oferendas: uma que era carne envolta por um estômago (um rico conteúdo num invólucro repugnante) e outra que eram ossos envoltos em gordura (um fraco conteúdo num invólucro atrativo). Tendo Zeus escolhido a última, foi aberto um precedente para os

sacrifícios futuros: os humanos passariam a guardar a carne para si e queimariam ossos envoltos em gordura como oferenda para os deuses. Zeus, enraivecido por este ultraje, escondeu o fogo dos humanos no cume do Monte Olimpo. Prometeu, para que os mortais tivessem o mesmo poder que os deuses, roubou o fogo de volta, devolvendo-o aos mortais. Por esse crime, Prometeu foi punido, tendo de ficar eternamente acorrentado a uma rocha sendo que, diariamente, uma águia comia o seu fígado (pois este era regenerado todos os dias). No entanto, mais tarde, Prometeu viria a ser salvo por Hércules (a propósito dos seus Doze trabalhos, mas isso é, literalmente, outra história).

Posteriormente, Hesíodo volta a revisitar

Page 14: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

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(através da escrita) este episódio e desenvolve-o, defendendo que, além do fogo, Zeus também escondeu dos mortais o significado da vida.

Outro dramaturgo, Ésquilo, apresenta novamente a história do titã, acentuando o caráter e o significado das suas transgressões: além de devolver o fogo à Humanidade, Prometeu é responsável por ter ensinado ao Homem as faculdades da civilização como a Escrita, Matemática, Medicina e Ciência.

Assim, Prometeu simboliza o fogo do conhecimento e a luta pela qual todos os têm de passar para alcançar a verdade e o verdadeiro conhecimento.

Neste âmbito, foi inaugurada, em 1992, uma estátua em frente ao Complexo Pedagógico I (aka CP I), da autoria do arquiteto José Rodrigues e que pretende simbolizar o espírito de investigação e de cultura desta universidade.

No entanto, desengane-se quem pensa que os mitos que envolvem o Prometeu acabam por aqui! No âmago da comunidade académica surge outra história, a lenda académica do Prometeu. Segundo esta, sempre que entrar uma rapariga casta na UM e esta terminar o seu percurso académico com a mesma condição com que entrou, cairá um pedaço ao “Prometeu” (obviamente sendo isto referente à bela da estátua). No entanto, após 23 anos de existência, o Prometeu ainda é uma presença contínua que nos recebe à entrada do campus…

Nota: a história de Prometeu não é toda aqui descrita (note-se que não foi abordado o papel de Prometeu na Titanomaquia e na salvação da raça

humana)

Imagem da estátua do Prometeu em frente ao CP II

Page 15: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

HajaLivro!15

Aquele bichinho da leitura tem feito o seu chamamento por estes dias cansativos? Precisas mesmo de fazer uma pausa e não sabes que fazer? Já devias saber que não há nada melhor que um livro para viajar para outra dimensão. Assim, a sugestão desta edição é o livro “Nós” de David Nicholls que nos dá a conhecer uma família do século XXI prestes a embarcar numa longa viagem pela Europa que, aparentemente, tem tudo para correr bem.

Nesta obra-prima que não deixa ninguém indiferente, David Nicholls consegue uma vez mais deixar o leitor colado às páginas deste romance simultaneamente atual e intemporal mas também muito real. Combatendo o conceito ultrapassado do romance, o autor aborda o conceito familiar e os vários desafios a ele associados. Seremos mesmo capazes de fazer alguém feliz? Seremos apenas egoístas? Será que por vezes caímos na rotina e passamos apenas a sobreviver? Quando é que vamos aprender a ser felizes e a valorizar quem está a nosso lado? Serei eu um bom marido? Serei um bom pai? Serei eu um bom filho? Estas e outras questões surgem naturalmente na nossa mente com o desenrolar da história desta família que poderia muito bem ser a de qualquer um de nós. Uma família com tudo aquilo a que se tem direito:

carinho, discussões, risos, lágrimas…

Nicholls, como tem vindo a ser hábito, constrói as suas personagens de uma forma simples e nua com traços de personalidade muito vincados o que as torna mais reais aos nossos olhos. Assim, deixa transparecer um profundo conhecimento da dimensão interior do Homem que pode e deve interessar a todos aqueles que um dia vão lidar com pessoas.

Por outro lado, o ambiente cosmopolita descrito na obra na qual são feitos relatos de dias passados em diversas cidades europeias como Barcelona, deixam o leitor perdido num mapa onde predomina o fascínio, a grandiosidade, o sonho e a aquele desejo de evasão. Definit ivamente este paralelismo entre uma viagem e a dinâmica familiar torna a trama em si mais interessante não por serem despoletados eventos específicos em determinados pontos turísticos mas sim pelo acontecimento das mais banais situações familiar nestes locais. Nicholls mostra de uma forma muito inteligente que nem sempre as viagens são perfeitas e que há problemas que não somos capazes de ignorar…

Um ótimo livro que apresenta de uma forma diversificada e única a dinâmica que existe nas relações interpessoais, bem como a facilidade de mudança dessa mesma dinâmica perante as diferentes circunstâncias da vida que somos obrigados a enfrentar. Sem dúvida que esta será das melhores, se não, a melhor obra de David Nicholls tendo em conta o modo de abordagem a esta temática familiar na qual tudo é posto à prova durante uma espécie de inter-rail.

Vale a pena!

Gonçalo Cunha, 3º Ano

Page 16: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

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Cerca de 3 anos após terminar o curso de Medicina em Buenos Aires, Ernesto Guevara de La Serna conheceu Fidel Castro, a quem se aliou para libertar Cuba da ditadura de Batista. “Che”, como é mais conhecido, foi um líder da Revolução Cubana e é tido nos tempos modernos como símbolo de revolução e luta contra a injustiça. Mas o que levou este jovem a rgent ino a jun ta r a e sp inga rda ao estetoscópio?

Em 1952, Ernesto Guevara suspendeu os seus estudos e embarcou numa viagem com o seu amigo Alberto Granado pela América do Sul, com o objetivo último de fazer voluntariado na Leprosaria de San Paulo, no Peru. Partindo de Buenos Aires, os dois amigos percorreram, entre outros países, o Chile, o Peru, a Colômbia e a Venezuela, onde foram confrontados com realidade do povo latino-americano: vidas de miséria, de opressão e injustiça. Che relatou todas as suas memórias da aventura num diário que foi, em 2004, adaptado ao grande ecrã. “Diários de Che Guevara” mostra-nos como as suas histórias de pobreza, doença e fome que testemunhou

fizeram nascer, no jovem estudante de Medicina, o revolucionário que ficou para a história. Che conheceu a verdadeira identidade do povo latino-americano e sentiu que as barreiras geográficas entre os países da América Latina nada mais eram do que linhas num mapa. A viagem, como o próprio admite, mudou-o: “Ese vagar sin rumbo por nuestra “Mayúscula América” me ha cambiado más de lo que creí.”, revelou-lhe a necessidade de lutar por uma vida justa para toda a América do Sul; a necessidade de uma revolução.

Para o que se sentirem mais curiosidade acerca da história deste ícone revolucionário recomendamos ainda os filmes “Che: O Argentino” e “Che: A Guerrilha”.

Sofia Milheiro, 5º Ano

Diários de Che Guevara (2004)Classificação IMDb (7,8/10)

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No verão de 2015 a Europa presenciou o maior fluxo de refugiados desde a 2.ª Guerra Mundial. Porquê? O que é a crise de refugiados que se vê nas notícias continuamente? Como está relacionado com a Síria? Porque nos devíamos preocupar? Nesta edição do HajaSaúde! tens uma explicação muito simplificada de um tema muito complicado, mas esperamos resolver algumas dúvidas e atualizar-te sobre o que se passa noutras partes do mundo.

A razão principal é a Síria ter-se tornado a maior fonte de refugiados do mundo. Esta situa-se no Médio Oriente, uma terra fértil antiga que existe há, pelo menos, 10 mil anos. Desde os anos 60, o país vêm sendo comandado pela família Al-Assad, que o governou num regime semi ditatorial, até a Primavera Árabe de 2011, quando uma onda revolucionária de protestos e conflitos nos países vizinhos derrubou vários regimes autoritários. Mas os Assad recusaram-se a sair do poder e iniciaram uma guerra civil brutal. Diferentes etnias e grupos religiosos lutaram entre si em coligações temporárias. O Estado Islâmico, um grupo militar jihadista, aproveitou-se da oportunidade e entrou no caos com o objetivo de formar um califado islâmico totalitário. Rapidamente, o grupo se tornou uma das mais violentas e bem-sucedidas organizações extremistas que alguma vez existiu. Ambos lados cometeram crimes de guerra hediondos, usando armas químicas, realizando execuções em massa, torturando em larga escala e causando sucessivos ataques letais em civis. A população síria estava confinada entre o regime, os grupos rebeldes e os religiosos extremistas.

HajaExplicação!17

Kelly Pires, 2º Ano

Crise de Refugiados

Milhares de refugiados

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ação

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1/3 dos sírios foram deportados. Cerca de 4 milhões fugiram do país.

A e smagado ra ma io r i a r e s i de atualmente em campos de refugiados nos países vizinhos1, que oferecem abrigo a 95% dos refugiados, enquanto os países do Golfo Pérsico2 aceitaram zero refugiados sírios, o que fo i cons iderado espec ia lmente vergonhoso pela Amnistia Internacional.

A ONU e o Programa Alimentar Mundial não estavam preparados para uma crise de refugiados nesta escala. Como resultado, muitos abrigos estão lotados e sem suprimentos, submetendo pessoas ao frio, a fome e doenças. Os sírios perderam a esperança de que a situação melhorasse num curto período de tempo, então vários decidiram buscar asilo na Europa.

Entre 2007 e 2015, a União Europeia investiu cerca de 2 mil milhões de euros em proteção, alta tecnologia de segurança e patrulha de fronteiras, mas nunca a um nível capaz de receber um grande fluxo de refugiados. O continente encontrava-se despreparado para o contingente de imigrantes. De acordo com a Convenção de Dublin, na EU um refugiado deve permanecer no país a que teve acesso primeiramente, o que coloca uma enorme pressão nos países fronteiriços que já se encontram com problemas. A Grécia, que está no meio de uma crise económica na escala da Grande Depressão, não teve a capacidade de abrigar tantas pessoas de uma vez, causando casos terríveis de pessoas em desespero e famintas nas ilhas que geralmente são utilizadas por turistas. O mundo precisa de se unir e agir como um só mas, atualmente, encontra-se mais divido que nunca. Muitos países recusaram completamente abrigar qualquer refugiado, deixando os países vizinhos sozinhos na contenda.

Em 2014, o Reino Unido sugeriu cancelar uma grande operação de busca chamada Mare Nostrum que tinha o objetivo de impedir que os imigrantes afogassem no Mediterrâneo. A ideia seria que um número

maior de baixas no mar significaria menos refugiados a tentar entrar no continente. Mas, obviamente, tal não sucedeu.

A maneira como a crise era vista ao redor do mundo mudou de repente quando fotos do corpo de uma criança da Síria encont rado numa pra ia da Turqu ia começaram a circular. A Alemanha anunciou que, sem exceção, aceitará todos os refugiados sírios e agora está a preparar-se para receber 800.000 pessoas em 2015, mais do que a União Europeia inteira recebeu em 2014. Ao longo de todo o Ocidente, cada vez mais pessoas começaram a tomar atitudes, apesar de que o suporte aos imigrantes tenha sido feito, na maioria, por cidadãos e não por políticos.

Mas a lgo amedronta o mundo ocidental: Islamismo, altas taxas de natalidade, criminalidade e colapso dos sistemas sociais. Tendo isto em conta, devem-se rever os factos. Mesmo que a Europa aceite todos os 4 milhões de refugiados e 100% deles sejam muçulmanos, a percentagem de muçulmanos na EU iria subir de 4 para 5%. As taxas de natalidade em muitas partes do Ocidente são baixas, consequentemente, alguns temem que os imigrantes possam substituir a população nativa em algumas décadas; embora as taxas de natalidade sejam mais elevadas entre os muçulmanos na Europa, elas decrescem e ajustam-se aos padrões de vida e crescimento nos níveis educacionais. A maioria dos imigrantes sírios tem uma educação superior e as taxas de natalidade na Síria antes da guerra civil não eram elevadas, a população encontrava-se, de facto, a diminuir. O receio do aumento das taxas de criminalidade também é equivocado, é menos provável que refugiados que se tornam imigrantes cometam crimes do que a própria população nativa. Quando encontram oportunidade de trabalho, estes tendem a iniciar negócios e a integrar-se no mercado de trabalho o mais rápido possível, contribuindo mais para o sistema do que ele consegue extrair deles. Sírios vindo para o Ocidente são profissionais em potencial, o que é urgentemente necessário para sustentar a população idosa do continente.

Page 19: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

HajaExplicação!19

Além disso, refugiados a viajar com smartphones provocam o equívoco de que eles não estão realmente na necessidade de ajuda. A internet e redes sociais tornaram-se uma parte vital de ser um refugiado, por exemplo o GPS é utilizado para navegar por toda a Europa e grupos no Facebook dão dicas e informações sobre obstáculos em tempo real. Tratam-se de pessoas exatamente como nós; se tivesses uma viagem perigosa para realizar, deixarias o teu telemóvel para trás?

A UE é o conjunto de economias mais abastado que existe atualmente; estados bem organizados com sistemas sociais funcionais, infraestruturas, democracia e grandes indústrias, que podem suportar o desafio de uma crise de refugiados se o entenderem. Estamos a escrever a história do mundo com todas as nossas ações. Como queremos ser recordados?

Gráfico que revela o número de refugiados e migrantes chegados à Europa pelo mar

1. Turquia, Líbano, Jordão, Iraque e Egipto. Por ordem decrescente de refugiados a seu abrigo. 2. Arábia Saudita, Kuwait, Qatar, Bahrain, UAE e Iémen.

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O DOCE MIAR DE TOBIAS, O GATO O Tobias miava, miava, ininterruptamente, estridentemente, ensurdecedoramente, em jeito de provocação perene. Miava aos soluços, miava aos gritos, miava em choro, miava em trovão, mas, sobretudo, miava. 

Miava para comer, miava consoante o que queria comer, miava em degradê, consoante a fome; até miava em queixume, quando não gostava do que lhe davam. Mas como nem só de pão vive o gato, também miava para se abrigar, miava para brincar, para que brincassem com ele, para se enroscar numa manta velha, mas sedutoramente fofinha, miava para, resumidamente, tudo. 

Um dia, o Tobias encontrou um amigo. Esse amigo, um outro Tobias, também sabia fazer muitas coisas, com particular destaque, sabia miar. Miava ainda mais estridentemente, mais sonoramente, mais irritantemente. E o primeiro Tobias tinha inveja e queria miar assim também. Então começou a imitar o seu novo amigo. 

Em breve, toda a rua miava, miava, miava, miava, e não se apoquentavam de miar mais um pouco, talvez mais um pouco ainda, um nada mais alto; um verdadeiro gatil! Mas será que conseguiam muito mais? Talvez… No início… não era assim tão difícil abrir mais uma lata, perder um ou dois minutos mais com o Tobias…. mas depois chega o momento de dizer não. O Tobias até insiste, mas não há nada a fazer. 

Agora o Tobias está gordo, pachorrento, mia mais cavernosamente, quase ao arroto, um miar quase que em arroto. Quando anda, mia de dores, mia de cansaço, mia, mia, mia. Agora só sabe miar. Ele bem pensa em ir caçar um rato ou dois, mas agora não consegue, agora é lento, agora é um verdadeiro inútil, absolutamente dependente de outrem para tudo o que precisa…. Quem sabe, até para cagar!

Cada vez mais somos como Tobias; verdadeiros gatos pachorrentos, acomodados, reclamantes, pedintes e requerentes; mas cada vez mais nos damos menos; Deixamos de pensar que o mundo não é, de todo, Tobiascêntrico. Colocamos a culpa de tudo nos outros. Achamos que tudo nos há-de vir de uma entidade misteriosa, qual será ela, que vive para nos servir apenas. Desaprendemos, ou nem chegamos a aprender a fazer; o que quer que seja! 

Enfim, não vem muito neste texto, de facto, apenas um miar, mais um miar queixoso, que culpa os outros de todo o egoísmo que por aí anda, de todo esse egocentrismo. E tão grande é a raiva perante tamanho egocentrismo, que a única coisa que apetece verdadeiramente fazer é deixar-me levar pela maré, lutar pelo meu próprio egocentrismo, porque o meu grande problema, e esse sim tem se ser satisfeito, é não ter o último iPhone 6, não fazer aquela viagem xpto aos Brasil, às Maldivas ou às Canárias, perder, sim, PERDER, tempo precioso, do meu precioso tempo que seria muito melhor usado a jogar mais uma partida de LOL, daquele que preciso para mais uma série irritantemente americanizada, sim, desse precioso tempo… perder desse tempo com um amigo. Quem precisa de amigos, não é? Afinal, o mundo é Tobiascêntrico, já Galileu o dizia há uns bons 4 séculos. Sábio!

HajaC

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Pedro Peixoto, 5º Ano

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Desta vez num registo distinto, proponho-me a mostrar três curiosidades interessantes sobre o tema da sexualidade, que vos vão “agitar” a vida:

Toda a ajuda é necessária:

Um estudo publicado em Setembro de 2015 (Lorenz et al) mostrou que, em mulheres sexualmente ativas, comparativamente às abstinentes, há um predomínio de expressão de linfócitos Th2, denotada por um aumento da citoquina específica IL-4, durante a fase lútea do ciclo menstrual. Este desvio da resposta dos linfócitos Th1 para Th2 é importante para a fertilidade, na medida em que as células Th2 são importantes na não-rejeição imunológica do embrião. Num outro estudo, realizado pelo mesmo grupo, avaliaram-se os níveis de imunoglobulinas em mulheres sexualmente ativas, comparativamente às abstinentes, que demonstraram níveis elevados de IgA na fase folicular (que atrasam o movimento dos espermatozoides) e de IgG na fase lútea (que protegem o organismo de infeções, não afetando o útero), podendo assim levar a um aumento da fertilidade.

Umas células extra no cérebro masculino:

Foi identificado, recentemente, um conjunto de neurónios “extra” no sistema nervoso do nematode masculino, comparativamente ao feminino (Sammut et al, 2015), denominadas MCM’s (mystery cells of the male): estas são neurónios derivados da glia cujo genoma masculino leva à respetiva formação. Assim, do estudo supramencionado acentuou-se a hipótese de uma modulação do comportamento sexual dependente não só de hormonas, mas também de estímulos neuronais: os nematodes do sexo masculino procuravam mais ativamente parceiros do que os hermafroditas e do que aqueles cujas MCM’s foram removidas cirurgicamente.

A genética pode ser muito interessante:

Também num estudo realizado em modelo de nematodes (Noble et al, 2015) foi demonstrado que a variabilidade de um gene pode ter uma grande influência no comportamento sexual: na espécie de Caenorhabditis elegans, os nematodes do sexo masculino tendem a apresentar um comportamento sexual muito variável, podendo este ser autocopulatório, macho-hermafrodita ou macho-macho. Os autores deste estudo denotaram que, na ausência do gene plep-1, que é expresso nos poros excretores desta espécie (quer em machos, quer em hermafroditas), os machos passavam a exibir um comportamento sexual tipicamente macho-macho: tal era devido ao facto de que, na ausência do gene, os poros excretores dos machos passavam a ser atrativos e recetivos aos plugs copulatórios apenas de outros machos, demonstrando-se assim uma influência direta de apenas um gene no comportamento sexual desta espécie.

HajaSexualidade!21

Jorge Silva, 5º Ano

Page 22: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

És rapariga e gostas de futsal?

Então a equipa feminina de futsal de Medicina precisa de ti!

Não precisas de jogar em nenhuma equipa, basta gostares de jogar ;) 

Os treinos começam dia 21 e são sempre à segunda das 19h às 20h. Aparece

Um novo ano começou e queres ter uma atividade extracurricular e não sabes qual?

Se gostas de escrever, de fazer entrevistas, de tirar fotografias, de trabalhar numa parte mais gráfica, de opinar desenfreadamente ou se queres ajudar a desenvolver o

conceito do TEU jornal, então

 o HajaSaúde! é o ideal para ti!

Se estiveres interessado ou se quiseres esclarecer algumas dúvidas que possas ter,

envia-nos email ou uma mensagem privada pelo Facebook 

(https://www.facebook.com/hajasaude.ecs)

HajaD

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Page 23: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

HajaNEMUM

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O Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho (NEMUM) está a organizar a VIII edição do Minho Medical Meeting, um congresso multidisciplinar, a realizar-se na Escola de Ciências da Saúde, de 4 a 6 de dezembro e desta vez vai ser abordado um vasto conjunto de temáticas que funcionarão em blocos de palestras sobre Radiologia de Intervenção | Neurociências  | Novas Técnicas Cirúrgicas |Humanidades

Nesta edição poderá contar, mais uma vez, com oradores nacionais e internacionais, concurso de posters científicos, workshops e jantar de gala.

As inscrições estão oficialmente abertas! De que estás à espera  ? Não percas  esta oportunidade de participar neste congresso especialmente desenhado para alunos, médicos e restantes profissionais de saúde!

E se tens um trabalho de investigação participa no concurso de posters. Este é aberto a estudantes, investigadores e profissionais de saúde e o Call for Abstracts decorre até 10 de novembro! O prémio vencedor do melhor poster ganhará 500€! 

Page 24: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

Tens tempo livre, não sabes como o ocupar e gostas de cantar no

chuveiro? Então traz a tua touca e junta-te a nós, todas as

segundas e quintas às 21h30m no auditório A5 (CP I).

E tu? Atreves-te a ser menino de coro? Ha

jaCAU

M!

24Ha

jaPas

sate

mpo

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David Gonçalves, 2º Ano

Page 25: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

Milkshake de Oreo

INGREDIENTES:

- 6-8 Bolachas Oreo

- 4 Bolas de gelado de baunilha;

- 1/2 Copo de leite;

- 1 Colher de sopa de chocolate em pó

INGREDIENTES OPCIONAIS:

1 Scoop de proteína em pó, de preferência de

sabor a chocolate ou baunilha (para os atletas

esta é uma boa forma de transformar a

sobremesa numa excelente fonte proteica)

INSTRUÇÕES:

Colocar todos os ingredientes num liquidificador e bater bem.

Com uma faca ou no próprio liquidificador triturar 2-4 bolachas Oreo.

Pôr o milkshake no copo e espalhar uniformemente as Oreos picadas por cima.

Agora, é só deliciar-se!

HajaPassatempo!

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Horizontais: 1. Benéfico. 4. Espaço de 24 horas. 7. Pele com lã de animal lanígero. 8. Nau dos Argonautas que, diz a lenda grega, foi à Cólquida, antigo país asiático junto do Mar Negro, em demanda do velo de ouro. 10. Agravar com tributos. 12. Eles. 13. Amolar. 14. Argola. 15. Vagabundo. 17. Linha. 18. Vasilha formada de aduelas, de boca mais larga do que o fundo, onde se pisam as uvas e se conserva o mosto. 20. Extraterrestre. 21. Caloira. 22. Parte de um todo. 24. Guarnecer de asas. 25. Aguardente obtida da destilação do melaço depois de fermentado. 26. Redução de senhor (popular).

Verticais: 1. Que ou o que faz bem. 2. Fígulo. 3. Residir. 4. Oferecer. 5. Seguir até. 6. Aparar em redor. 7. Desloca-se no ar. 9. Sufixo (abundância). 11. Charrua. 14. Falta de progresso. 16. Notícias. 17. Mau humor (fig.). 19. Rio suíço. 21. Também não. 23. A tua pessoa.

HajaGula!25

David Gonçalves, 2º Ano

Page 26: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

Warning: A seguinte rubrica pretende despertar sentimentos de espanto e estupefação com a estupidez. Obrigado. Reader discretion is advised (or not).

(Previously) Anonymous writer is wishing for someone to “Wake me up when November ends” so I can write the next edition news.

Capítulo 6: E viva as grandes festas!

HajaP

aciên

cia!

26Tiago Rosa, 4º Ano

À grande e à… chinesa?

Bem, a partir de hoje teremos de refazer esta expressão sempre estivermos a falar dum assunto em específico: sopa de peixe. Sim, sopa de peixe. E porquê? Bem, po r e s te s d i a s , houve um fe s t i va l gastronómico de Zhengzhou, na província de Henan, na China. E a principal atração do festival foi cozinhada numa panela com 3,15m de diâmetro e 70 centímetros de profundidade. Sim, a sopa de peixe. E agora pensem quantos peixes foram precisos para fazer uma sopa tão grande? Se pensaram em qualquer número maior do que 1, estão erados. O verdadeiro “rei” do festival foi o peixe com 80kg usado para fazer esta sopa. Sim, a sopa de peixe. Chatos. No final resultaram quase 3 toneladas, 3 toneladas de sopa de peixe. Sim, sopa de peixe.

Tia processa sobrinho de 8 anos por este a ter empurrado.

Vamos aos factos antes de mais. Uma mulher de 54 anos foi visitar o seu sobrinho no seu aniversário. Ao chegar, a tia vê a referida criança, que também a vê e inicia uma corrida frenética em direção a ela. Ao chegar perto desta, a criança salta-lhe para os braços e a tia cai ao chão, aterrando sobre o punho e fraturando-o.

Até aqui tudo normal, tirando a parte de que a maioria das pessoas não fratura o punho quando caí, mas tirando esse pormenorzinho, tudo normal. O que veio depois é que é engraçado. Ou não.

Dois anos após o referido acidente, a tia põe um processo em tribunal contra o sobrinho por negligência e exige uma indeminização de 112.000€. "Um menino de 8 anos deveria saber que uma saudação enérgica deste tipo poderia provocar os danos e prejuízos sofridos” pela tia/vítima, alega a vítima/tia. (exercício 1.6: Riscar o que não interessa de forma a fazer uma frase coerente. Se riscarem o parágrafo todo, é porque ando a fazer algo de muito errado.)

Passados quase dois anos e meio, o tribunal deliberou contra o processo iniciado pela tia. O menino tem agora 12 anos e um conhecimento mais alargado do sistema judicial, algo que certamente foi vantajoso durante as brincadeiras do recreio. E se ainda não adivinharam, eu digo-vos: isto passou-se nos Estados Unidos, onde processar a família em somas avultadas de dinheiro por coisas menores é, aparentemente, um assunto recorrente e banal.

Sopa de Peixe

Page 27: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

HajaHumor!

27David Gonçalves, 2º Ano

Conselhos da RebecaAgita a tua vida! E não te esqueças de bater no fundo

Olá amigos, sou eu! Reconhecem o tom de voz? Pois bem, estive de férias no destino paradisíaco de Frossos. Não estava muito vento, só lá mais para o final. Mas é fixe. Gostei. Bem, quero-vos falar de um episódio peculiar da minha vida: a altura em que eu… a agitei. Dizia no pacote e eu não quis contrariar. Mas cedo me apercebi que o meu maior erro não foi ter agitado… mas sim ter deixado passar o prazo. Largando os enigmas por um pouco, sou, como todos sabem, uma senhora do seu metro e meio e dos seus três pares de mamas. Um por biologia, os outros por recreação. E esta senhora não tem pruridos no que toca a abraçar novos desafios – excluindo as situações em que o desafio é, na verdade, um cato. Pois bem, desde tenra idade que tive uma queda por atividades invulgares. Uma delas era efetivamente cair para trás. Mas assim que o meu médico me informou que tinha um número de fraturas ósseas na parte de trás do corpo substancialmente maior do que na da frente, abandonei esta temerária prática, passando a dedicar-me à - claro está - queda para a frente. Quando o número equilibrou continuei com a minha vida. Passei então a dedicar-me à cultura de maltrapilhos. Passaram 7 meses até que me apercebi que um maltrapilho não era um vegetal. Foi um dia terrível para toda a família, que ficou desiludida com o péssimo investimento de 500.000 USD em todas as infraestruturas requeridas para o processo. Devia ter suspeitado quando me tentaram vender aquela forquilha a vapor. Desconfiada, só comprei três… mais 12 de reserva. Dias maus podem acontecer. Como é óbvio, a minha vida não era só atividades estapafúrdias atrás de atividades estapafúrdias; também houve romance! Apaixonei-me por um mestiço. Não resultou. Depois abri um atelier de croché. Foi o ideal para tirar o seu fabuloso corpo da minha cabeça e o seu decrépito hálito do meu ouvido. Ele tinha uma coisa por orelhas… Ai, Adaílton, meu bem. Com o reconhecimento mundial a começar a surgir – assim como a puberdade –, comecei a ficar assustada. Quem eram todos estes empresários que queriam falar comigo? Que correio de ódio era este que recebia de outros grandes nomes da concorrência (como o Croché Guevara ou Os Crochenetas, Lda.)? Que pêlos eram estes que me estavam a surgir nas virilhas? Apavorada, corri para o meu ginecologista e contei-lhe sobre todos estes problemas. Ele tranquilizou-me quanto aos primeiros dois, mas também não me soube esclarecer sobre o último. Disse que devia ser do excesso de vitamina C, e a verdade é que eu à data até comia muitas laranjas. E assim me comecei a estabelecer como uma das mulheres mais influentes do Mundo a ter as mamas assimétricas (eu, não o Mundo. Mas elas depois ficaram porreiras, as 6). A coroação de tal ascensão meteórica ocorreu quando ganhei o prémio Crochemmy para a melhor toalha de mesa vestida por uma atriz de Hollywood. Com um poder desmesurado nas mãos e a civilização moderna a meus pés, deparei-me com um aborrecimento invulgar situado no tronco do meu corpo. Aí instiguei-me à utilização de um hula-hoop. Agora sim, estava completa! Mas como nem tudo são rosas – e esta página está a chegar perigosamente ao fim sem conclusão à vista –, a Vida pregou-me uma rasteira e fez-me voltar às origens. Literalmente. A Vida era a empregada letã que eu tinha contratado pouco menos de 2 meses antes (já ia na terceira, depois de uma cleptomaníaca e outra que só assobiava os dois primeiros versos do Hino Nacional); com efeito, ela rasteirou-me a meio da minha prática de abano instrumentado da cintura e caí – pois claro – para trás. Oh, a nostalgia!... Oh, a lombalgia!... Dessa não tinha eu saudades. Paralisada da cintura para baixo e dos bolsos para a esquerda, um sentimento misto de felicidade, culpa, melancolia e erotismo veio ao de cima. Felicidade por tudo o que conquistei na minha vida; culpa por não ter tratado da melhor forma todos os que me ajudaram a chegar a este ponto; melancolia por não ter aproveitado melhor todo o meu prestígio glorioso. E a vida é mesmo isto, meus filhos. Uma longa e árdua ascensão, e uma queda a pique logo a seguir para nos estragar o esquema. Mas querem saber a parte linda…? Eu também queria. Mas olha, estou paralisada. Pois o que importa reter é mesmo isto: agitem a vossa existência, mas garantam sempre que a consomem antes que passe do prazo. Se não vomitam a carpete toda e depois quem limpa é a empregada. A cleptomaníaca.

(Não, não me esqueci do erotismo. Estou a tratar dele enquanto escrevo esta crónica – estou nua. E não é bonito.)

Page 28: HajaSaúde! Edição setembro/outubro

Jornal Haja Saúde!Edição: Joana Silva, Ana Sofia MilheiroColaboradores: Ana Sofia Milheiro; António Mateus-Pinheiro; David Gonçalves; Gonçalo Cunha; Joana Silva; João Dourado; João Lima; Jorge Silva; Kelly Pires; Núria Mascarenhas; Pedro Peixoto; Sofia Leal Santos; Tiago Rosa.Paginação & Grafismo: Catarina Fontão

NEMUM - Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do MinhoEscola de Ciências da Saúde da Universidade do MinhoCampus de Gualtar, 4710 - 057 BRAGA

Email: [email protected]

Fotografia: http://goweloveit.s3.amazonaws.com/wp-content/uploads/2014/11/How-To-Step-Out-Of-Your-Comfort-Zone.jpg

Foto de capa disponível em: https://media.licdn.com/mpr/mpr/shrinknp_800_800/p/6/005/095/37f/0586652.jpg