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HajaMúsica! Podíamos ser heróis, só por um dia Haja Livro! “«Os melhores livros são os que nos contam aquilo que já sabíamos.»” HajaVivência! “Life is the flame of Revolution! My fellow brothers, I greet you with a peaceful “Salam” that our hearts long for.” PÁG. 28 PÁG. 24 PÁG. 20

HajaSaúde! janeiro-fevereiro 2016

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HajaMúsica!

Podíamos ser heróis, só por

um dia

Haja Livro!

“«Os melhores livros são os que nos contam aquilo que já sabíamos.»”

HajaVivência!“Life is the flame of

Revolution! My fellow brothers, I greet you with a

peaceful “Salam” that our hearts long for.”

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HajaEditorial! 3

HajaBreves! 4

HajaEntrevista! 5

HajaTecnologia! 10

HajaMemória! 12

HajaBraga! 16

HajaMúsica! 20

HajaCinema! 23

HajaLivro! 24

HajaOpinião! 27

HajaVivência! 28

HajaExplicação! 29

HajaSexualidade! 30

HajaGula! 32

HajaPaciência! 33

Conselhos da Rebecca 35

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Desde o início da Humanidade, que o Homem tem vindo a sentir a necessidade de revoluções e evoluções (sejam elas pequenas ou grandes), para se vir a aperfeiçoar e para alcançar os sonhos que tanto almeja. Estas revoluções que levam a evoluções não são assim tão raras, se olharmos para as páginas douradas da história; desde a invenção/revolução da roda à Revolução Industrial, desde Thomas Edison a Martin Luther King… Todas elas foram e são necessárias para completar a nossa condição e espírito humanos. Nesta edição poderás ler acerca de alguns exemplos de revoluções ou evoluções; desde a ciência de algumas mentes brilhantes como Freud, espírito revolucionário de algumas personalidades interventivas como Maria da Fonte até à música inspiradora para uma consciencialização humana de David Bowie. Terás, ainda, a oportunidade de ler a entrevista cedida pelo novo presidente da AAUM, Bruno Alcaide, assim como um texto refletivo de Aram Abdelhaq, um médico interno da Palestina, além das já habituais crónicas.

Navega nesta edição e deixa-te envolver por esta atmosfera vanguardista… São sempre necessários revolucionários para Humanidade e qualquer um o pode ser! Não tens de o ser a uma escala global, mas podes deixar a tua marca no ambiente que te rodeia. E tu? De que esperas para também revolucionares o (teu) mundo?

“…desde a invenção/revolução da roda à Revolução Industrial, desde Thomas Edison a Martin Luther King… Todas

elas foram e são necessárias para completar a nossa condição e espírito

humanos.”

Joana Silva, 4º Ano

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Catarina Pestana, 4º AnoHa

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Investigador da UMinho entre os melhores oftalmologistas do Mundo Fernando Correia, um dos investigadores do ICVS, está entre os melhores oftalmologistas jovens do Mundo, sendo um dos especialistas que integram a lista “top 40 under 40”, elaborada pela “The Ophthalmologist”, a principal revista científica do sector.

Ao longo dos últimos anos, Fernando Correia recebeu diversas distinções e publicou inúmeros artigos científicos. Segundo o júri, este será um futuro líder e alguém que continuará a contribuir para a evolução na sua área.

Em busca de uma cura Os investigadores da Universidade da Carolina do Norte nos Estados Unidos conseguiram, pela 1ª vez, apanhar o rasto dos aglomerados tóxicos de uma proteína envolvida em alguns casos de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).

Esta nova descoberta permitiu identificar um potencial alvo terapêutico e abre caminho para o desenvolvimento de novas técnicas.

OMS declara estado de emergência

OMS declarou que os casos de microcefalia registados colocam o Mundo em

estado de emergência de saúde pública. Em causa estão milhares de casos de bebés que foram infetados com o vírus Zika e nasceram com esta malformação.

Deste modo, as medidas de vigilância e de coordenação entre as diversas instituições devem e vão ser reforçadas, com o intuito de parar esta epidemia.

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HajaEntrevista!5

Joana Silva, 4º Ano | Sofia Milheiro, 5º Ano

ENTREVISTABruno Alcaide, novo Presidente da AAUM

HS! - Bom dia, Bruno. Antes de mais, a equipa do HajaSaúde! gostaria de te felicitar a ti e à tua equipa por esta vitória. Em primeiro lugar, o que te levou a candidatar a este cargo de elevada importância na nossa Universidade?

BA – Bom dia. Antes de mais, agradeço o convite e a oportunidade desta conversa. Respondendo à pergunta motivaram-me, sobretudo, três razões: os direitos e interesses dos estudantes e a sua defesa, em primeiro lugar. Em segundo, o reconhecimento e apoio dos colegas que me acompanhavam no percurso académico e associativo, e da equipa que aceitou acompanhar-me neste enorme desafio, a quem sou grato pela confiança e pelo esforço. Em terceiro, por acreditar numa ideia de projeto, que acreditamos ser um projeto de Academia e que todos os dias construímos.

HS! - O que é ser Presidente da A s s o c i a ç ã o A c a d é m i c a d a Universidade do Minho?

B A - É s e r r e s p o n s á v e l p e l a representação de uma instituição reconhecida pelo excelente trabalho que desenvolve ao longo do tempo, responsável por representar os interesses pedagógicos, sociais, desportivos, culturais, de 19 mil estudantes, é saber respeitar o t r a b a l h o d a q u e l e s q u e m e a n t e c e d e r a m , g a r a n t i n d o o crescimento contínuo do projeto e projetar o mesmo para o futuro. T e n d o a c o n s c i ê n c i a d a s responsabilidades e dos compromissos assumidos, é com toda a certeza, ser orgulhoso por poder representar a Associação Académica e dos estudantes da melhor academia do país.

HS! - O que pensaste quando soubeste que a lista da AAUM liderada por ti era a única lista candidata?

BA – Quando tive conhecimento de que a lista seria lista única, estando à partida um resultado assegurado, pensei que seria necessário trabalhar no sentido de justificar esse resultado como se existissem outras listas candidatas. O processo da eleição valida um projeto e, apesar de este estar assegurado, era fundamental dar a conhecer o projeto a todos, iniciar um caminho de aproximação a todos os estudantes, representantes dos alunos nos diferentes órgãos, núcleos, grupos culturais, atletas e alcançar um resultado que não deixasse margem para dúvidas do apoio e da força do projeto. Pensei que o trabalho que

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vista!

6 teríamos seria difícil, e maior para credibilizar um processo eleitoral, um resultado e um projeto.

HS!- Pensas que, com uma abstenção a rondar os 85%, a credibilidade e representatividade da vossa lista está comprometida? BA – Os valores da abstenção, infelizmente, são sempre muito elevados. Esta realidade não tem condicionado o trabalho desenvolvido pela Associação Académica, ou retirado credibilidade ao projeto. Num olhar a t e n t o s o b r e o s r e s u l t a d o s e expectativas expressas aquando das eleições, lembro-me de vários colegas me alertarem para o perigo de um aumento da abstenção de forma acentuada. O resultado das eleições acabou por não apresentar esse crescimento gravoso da abstenção, embora se tenha verificado um agravamento face ao ano anterior, mas ao mesmo tempo representa o trabalho s é r i o d e s e n v o l v i d o d u r a n t e a campanha, manifestando-se no melhor resultado obtido por um projeto no processo eleitoral para a AAUM. O resultado permitiu credibilizar a representatividade do projeto de continuidade.

HA! - Sabemos que a tua presidência será, em certa parte, um legado dos mandatos de Carlos Videira. De que forma esperas marcar a diferença face a esse passado? E quais os aspetos que pensas que deverão e serão preservados? BA – Desde o início referi que este seria um projeto de continuidade. Esta continuidade representa a defesa do legado e do trabalho desenvolvido pelo Carlos Videira e que, por isso, a questão não será de marcar a diferença, mas sim de que forma poderemos complementar o trabalho desenvolv ido, proporc ionar um crescimento contínuo da AAUM. Tenho

c o m o r e f e r ê n c i a o t r a b a l h o desenvolvido pelo Carlos Videira e p e n s o q u e o q u e d e v e r á s e r preservado, acima de tudo, será a postura séria, atenta e reivindicativa nas mais diferentes áreas, sem descurar nenhuma.

HS! - Sendo que a vossa lista tem tantos rostos diferentes, com as mais variadas competências e diferenças, pensas que isso constitui uma mais-valia ou encaras isto como um entrave, na medida em que será necessário coordenar pessoas tão diferentes? BA – É uma equipa de grande qualidade! É um grupo sustentado no trabalho e experiência daqueles que no passado recente integraram já direções da AAUM, renovado e otimizado pela irreverência daqueles que agora iniciam o seu trajeto no associativismo. É um grupo de pessoas com experiência no desempenho de várias funções na vida da Universidade, e que estão reunidas pela defesa de um objetivo comum, por isso, será certamente uma ótima oportunidade poder trabalhar em equipa com todos eles.

HS! - Quais as prioridades que estabelecem neste momento? BA – As prioridades neste momento centram-se numa aproximação da estrutura da AAUM aos estudantes, que incentive à sua participação e inclusão nas tomadas de decisão. O projeto é transversal a todas as áreas, por isso, é necessário dar seguimento a todas as atividades e projetos de sensibilização e formação pedagógica, para a promoção do desporto, plano em que, mais uma vez, a AAUM esteve ao mais alto nível, e para promoção da cultura, das atividades recreativas, das d i n â m i c a s s o c i a i s , d o empreendedorismo e das saídas profissionais.

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HS! – Num dos momentos de confirmação da tua candidatura, a f i rmaste que “os d i re i tos e interesses dos estudantes são o que motiva a ação da AAUM e que, em conjunto, querem af irmar um caminho de futuro”. Pensas que isto é possível ou sentes uma certa oposição da comunidade estudantil relativamente à AAUM? BA – Pela experiência adquirida ao longo dos três anos enquanto dirigente da Associação Académica tenho a certeza de que é possível, porque o mesmo tem acontecido desde que integro as direções da associação, no c o n t a t o m u i t o p r ó x i m o e d e c o l a b o r a ç ã o c o m d e l e g a d o s /subdelegados, núcleos, grupos culturais e atletas. É neste sentido que se deve dirigir a ação da associação, e estamos empenhados em concretizar esse objetivo diariamente.

HS! – Um dos objetivos da vossa lista é a implementação do Orçamento Participativo… O que é que se pretende com isso e como seria realizado? Funcionaria como o Orçamento Participativo da Câmara Municipal de Braga ou de maneira diferente? BA – A c r i a ção do o r çamento participativo permitirá que qualquer estudante possa ver implementado um projeto que idealizou e envolver-se nos p r o c e s s o s d a s u a e x e c u ç ã o , conhecendo os mecanismos de trabalho e organização da AAUM. Funcionará em termos de organização muito à semelhança do que representam os o r ç a m e n t o s p a r t i c i p a t i v o s implementados pela Câmara Municipal. Tive a oportunidade de enquanto representante da associação no conselho municipal da juventude interagir e auxiliar na implementação do orçamento participativo jovem de Braga, que cons idero ter t ido resultados muito positivos. Assim, terá

uma verba disponibi l izada, um regulamento para submissão de candidaturas de ideias de projetos e que passará pelo processo da seleção de projetos.

HS! – Relativamente ao papel de observador da AAUM no Conselho Municipal de Juventude de Guimarães e considerando a presença forte dos estudantes minhotos e as inúmeras atividades organizadas pela AAUM nessa cidade, seria importante a AAUM passar a ter um pape l integrante neste Conselho. Assim sendo, quais os obstáculos a esta ação? BA – Este é um dos objetivos da AAUM, ser membro de pleno direito no Conselho Municipal da Juventude de Guimarães. O obstáculo diz respeito ao f a c t o d a s e d e p a r a e f e i t o s administrativos e fiscais da associação ter por referência Braga, mas que acreditamos ser possível encontrar uma so lução para este obstáculo e esperamos ver também concretizado este objetivo.

HS! – Já há algum tempo que se fala na divulgação do Regulamento Académico da Universidade do Minho, mas a realidade é que a maioria dos estudantes não tem conhecimento deste. De que forma pensas ser po s s í ve l a AAUM to rna r e s t a divulgação eficaz, para que este conhecimento alcance todos os estudantes? BA – A Associação Académica nos diferentes fóruns de discussão e atividades que promove com os representantes dos alunos assume como prioritária a apresentação do Regulamento Académico e divulga e a p r e s e n t a d e t a l h a d a m e n t e o regulamento, nomeadamente tendo já decorrido uma ação na Assembleia de Núcleos que se realizou no passado dia 10. Existem ações, como as reuniões

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HS! - Relativamente à nova sede da AAUM… Sabemos que está a ser feito um esforço para ter um espaço consideravelmente grande, onde seja exequível a realização das atividades da AAUM. No entanto, não vos afeta o facto de “abandonarem” o sítio onde foi a primeira Universidade do Minho (atual Bar Académico)? BA – O projeto da nova sede é con s i de rado como p r i o r i t á r i o . Atualmente ocupamos o edifício onde se iniciaram os trabalhos e desígnios da Universidade do Minho. Ao simbolismo de se constituir como espaço de crescimento da Universidade do Minho, acresce também o histórico de atividade da AAUM que se realizada nesse mesmo espaço há mais de 20 anos. No entanto, a realidade da UMinho é totalmente diferente. Nessa altura a Universidade tinha cerca de 7000 alunos e agora sensivelmente 19000 alunos. Existe também uma maior oferta de serviços por parte da associação. É necessário garantir que a sede tenha espaços que possam fazer face às atividades da associação, dos grupos culturais e dos núcleos. É vital para a concretização de uma maior aproximação aos estudantes. A estrutura física de serviço e contato com os estudantes está deslocada do centro da vida académica e deve estar o mais próximo do dia-a-dia dos estudantes.

HS! – Agora uma questão relacionada, de forma direta, com os estudantes de Medicina… Refere-se, há já algum tempo, a necessidade de criação de uma reprografia na Escola de Ciências de Saúde e isso é algo que está no v o s s o p l a n o , m a s i s t o s e r á , efetivamente, uma realidade num futuro próximo ou apenas uma realidade para as próximas gerações?

BA – É um projeto cuja implementação não depende apenas da Associação Académica. Desenvolveremos esforços, num âmbito de colaboração, para que essa seja uma realidade e o objetivo a s s u m i d o c o n t i n u a m e n t e s e j a alcançado.

HS! – A inda relat ivamente ao estudantes de Medicina, e que nos afeta em larga escala... Seria possível a AAUM coordenar esforços com a Escola de Ciências da Saúde no sentido de a semana das Monumentais Festas do Enterro da Gata não coincidir com exames dos alunos de Medicina? Ou isto é algo que vos ultrapassa? BA – A marcação de exames depende sempre da organização do plano de estudos, das unidades curriculares, dos métodos de avaliação. Deve existir, no sentido da proximidade estabelecida, por parte dos delegados e do NEMUM, um papel de articulação com a equipa docente, Conselho Pedagógico e todas as estruturas da Escola de Ciências da Saúde nesse sentido, existindo uma sensibilização da Associação Académica para a abrangência das Monumentais Festas do Enterro da Gata e da participação dos estudantes.

HS! – Outro ponto do vosso plano relaciona-se com as terças-feiras académicas; podes-nos esclarecer o que é que pretendem, ao certo, com estas terças-feiras académicas? BA – As Terças-feiras Académicas consistem numa atividade com tradição que pretende preservar e fomentar as tradições académicas da Universidade do Minho junto da comunidade, promover o convívio entre estudantes através de atividades culturais, divulgando e cooperando com os grupos culturais.

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BA – “O tricórnio vai…” é uma iniciativa que já se realizou no ano passado e a AAUM participa na sua organização. É uma atividade que tem comparação com o “Comboio de Caloiro”, e que consegue reunir a Academia numa iniciativa de promoção das tradições académicas, muito marcada pela imagem do traje académico. Este ano a atividade decorrerá em Coimbra e envolveremos as atividades associativas representativas dos estudantes, no sentido da preparação e organização da atividade.

HS! - Enquanto aluno de Mestrado de D i re i t o Admin i s t ra t i vo , como consegues coordenar o estudo com o trabalho por realizar na AAUM e nas outras atividades em que estás envolvido? BA -   É de facto um dos grandes desafios conciliar a vertente académica e associativa, mas que com alguma dedicação e, obviamente, com uma boa coordenação na gestão de trabalho e tempo, se consegue encontrar um equilíbrio.

HS! – Quais aqueles que consideras os aspetos positivos e negativos de se pertencer à AAUM? BA – Referi recentemente que os aspetos positivos de ser dirigente da A A U M e s t ã o a s s o c i a d o s a o conhecimento, à experiência que se adquire na organização de atividades que têm reflexo para milhares de estudantes, e que, pelos processos e p roced imentos que devem se r cumpridos, permitem um maior conhecimento e desenvolvimento de c o m p e t ê n c i a s t r a n s v e r s a i s e extracurriculares. E muito significativo, é o gozo que se retira por termos a oportunidade de organizar um enorme número de atividades que nas mais diversas áreas de atuação. Não acho que existam aspetos negativos, apenas aspetos menos positivos, que estão

sobretudo diretamente relacionados com uma eventual diminuição de tempo disponível para o convívio com a família e amigos, sendo na maior parte das situações, conciliar as exigências da vida associativa com as da vida pessoal.

HS! - Sabemos que tens a tua irmã na direção… É fácil de lidar com isso ou sentes que esse laço familiar altera, de alguma maneira, a vossa maneira de se relacionarem na AAUM? BA – É um processo fácil de gerir. Gosto de me relacionar de forma próxima e articulada com as pessoas com que trabalho e de criar boa relação com cada uma delas e, com a minha irmã, essa confiança já está estabelecida. Assim o desafio é o mesmo com qualquer membro da equipa, enquanto equipa que é a direção da AAUM devemos lutar pelo objetivo comum de defender os direitos e interesses dos estudantes e aproveitar as excelentes relações que esta experiência permite criar.

HS! - Que conselho darias a alguém q u e n u n c a i n t e g r o u n o associativismo? BA – Aconselho todos a envolverem-se, seja de forma mais ou menos ativa, seja pela participação nas atividades organizadas pela AAUM e pelos núcleos, o ganho de experiência e o crescimento pessoal são muito recompensadores.

HS! - Muito obrigada, Bruno, por esta entrevista cedida e votos de muito sucesso!

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A aplicação “GoodSAM” (Good Smartphone Activated Medics) é mais uma das

revoluções no campo da emergência médica, mais especificamente com recurso às

novas tecnologias e à grande disseminação do uso de aplicações interativas nos

telemóveis. Como os próprios criadores desta aplicação se definem, são uma

“pequena equipa numa missão muito grande”, propondo-se a dissipar as diferenças

que existem entre as taxas de mortalidade no campo das emergências médicas a

nível hospitalar, comparativamente com as que ocorrem fora dos hospitais, que

são, no presente, substancialmente superiores.

A aplicação existe em dois formatos: a do Alerter e a do Responder,

correspondendo respetivamente à pessoa que emite o alerta de emergência, e

àquela que poderá responder. Como Alerter, basta carregar num botão de

“emergência” que o seu pedido é rapidamente disseminado para o sistema da

aplicação, juntamente com a sua localização e ligação para o número de

emergência. O Responder que se encontrar mais perto do local de onde foi emitido

o pedido de ajuda pode aceitar ou recusar este pedido, sendo que se recusar, o

Responder que se encontra de seguida mais perto da localização do pedido irá

receber o mesmo alerta.

Após um Responder aceitar um pedido de ajuda, a aplicação dar-lhe-á

rapidamente o percurso desde a sua localização à do pedido de emergência,

podendo este comunicar a partir deste passo com o Alerter que, por sua vez, será

notificado da receção do pedido. Além disso, o Responder que, ao se inscrever na

aplicação teve de se associar à sua organização (por exemplo um hospital,

bombeiros, etc.), poderá passar a comunicar diretamente também com a

organização que inseriu, permitindo assim um fluxo de ajuda e informação mais

eficaz.

A aplicação mostra ainda no mapa que emite todas as localizações de

cardiodesfibrilhadores mais próximos: tal foi possível construir pelo facto de a

aplicação possuir um sistema de notificação em que, qualquer pessoa pode

Jorge Sila, 5º Ano

A Revolução da Medicina do Smartphone

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HajaTecnologia!11

fotografar um local com um cardiodesfibrilhador e fazer o upload da fotografia,

localização e características do mesmo (a preencher num formulário pré-definido

que é fornecido pela aplicação).

Esta aplicação permite ainda atuar de uma forma preventiva: caso seja

necessário, pode-se recorrer à listagem de todos os Responders que se encontram

inscritos em determinada área de localização, obtendo-se a sua posição num mapa.

É possível selecionar um e comunicar com o mesmo através da aplicação. Tal pode

ser importante, por exemplo, num caso de eventos desportivos ou culturais com

muita afluência populacional: basta alertar o Responder para uma possível

necessidade de intervenção, agilizando-a assim caso seja necessária.

Uma das atualizações mais recentes da “GoodSAM” foi a inclusão de um

sistema de streaming de vídeo, isto é, um Alerter que esteja a socorrer

determinada pessoa poderá, caso seja necessário e/ou pertinente, filmar a

situação, por exemplo, um incêndio ou um cenário de acidente de viação. Este tipo

de comunicação permite ainda que os indivíduos consigam receber instruções mais

facilmente de Responders, por exemplo, de como proceder com o suporte básico

de vida.

De acordo com as estatísticas do website da aplicação, até à data, estão já

registados mais de 13000 cardiodesfibrilhadores e já foram emitidos mais de 10000

pedidos de ajuda, desde a criação da aplicação em 2014. Visitando o mapa

interativo com os Responders no mesmo website, pode-se verificar que já existe 1

na cidade de Braga. De que estás à espera para ser o próximo?

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Hoje em dia, quando pensamos num procedimento cirúrgico, vemos um doente adormecido, tranquilo e sem dor. A anestesia é atualmente tão rotineira que provavelmente nunca pensamos como seria um procedimento cirúrgico sem qualquer controlo de dor. Para nós, é praticamente impossível perceber como a dor associada a amputações podia ser suportada. Seria algo abominavelmente cruel, certo? No entanto, esta era a realidade da medicina e não há muito tempo atrás. Todas as civilizações humanas ao longo dos tempos procuraram desenvolver algum método de diminuição do d e s c o n f o r t o d e p a c i e n t e e m procedimentos invasivos, mas a anestesia, no seu significado mais moderno e efetivo, é relativamente recente. Antes da existência das seringas hipodérmicas e dos acessos venosos rotineiros, a ingestão e a

inalação eram as únicas vias de administração farmacológica que permitiam obter efeitos sistémicos. A descoberta dos anestésicos cirúrgicos na Era Moderna permanece ligada aos anestésicos inalatórios e será nestes que nos iremos focar.

Na Antiga Grécia, Dioscorides, descreveu as propriedades analgésicas da mandrágora. A substância desta planta podia ser usada “em pessoas q u e f o s s e m c o r t a d a s o u cauteterizadas”. Este método de anestesia permaneceu até cerca do século XVII. Do século IX ao XIII, a esponja soporífera era o método de analgesia mais popular. Folhas de mandrágora, erva-moura, papoilas e ou t r a s e r v a s e r am f e r v i d a s e adicionadas à esponja, que era depois colocada sob o nariz do paciente antes da cirurgia. Também há relatos da utilização da esponja com morfina e escopalamina, fármacos da anestesia moderna.

O álcool também era muitas vezes utilizado na era pré-éter, acreditando-se que este era capaz de induzir estupor e diminuir a dor. No entanto, e apesar de se tratar de um depressor do Sistema Nervoso Central, no cenário de uma verdadeira dor cirúrgica, não produzia efeitos analgésicos eficazes, como descreve Fanny Burney num relato onde se pode a falha no controlo da dor e no esbatimento das suas memórias do evento. Além disso, no século XVI, Landanum, uma solução de ópio à base de álcool criada pela primeira vez por Paracelsius, foi muito popular na época Vitoriana e Romântica. Era prescrevido para uma variedade de situações:

Sofia Milheiro, 5º Ano

Uma Medicina sem Dor

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desde um comum resfriado a tuberculose. Mas era muitas vezes usado em excesso e de forma desadequada, como por exemplo era utilizada por amas para acalmar crianças e por poetas e artistas que haviam sido vítimas do seu potencial aditivo.

A manipulação do psiquismo para alívio da dor cirúrgica foi iniciado por Charles Dupotet e Jules Cloquet nos anos 1820, através do hipnotismo, na altura designado mesmerismo. Numa demonstração em 1828, Cloquet removeu a mama de uma paciente de 64 anos enquanto esta permanecia num sono calmo e mesmérico. O apoio desta técnica desvaneceu quando em 1846 o cirurgião britânico Robert Liston realizou a primeira cirurgia com utilização de anestesia de éter.

No séc. XVI, Paracelsus verificou que o éter fazia com que as galinhas adormecessem e acordassem ilesas. Ele devia estar consciente das suas propriedades analgésicas pois reportou que podia ser recomendado para doenças dolorosas. Esta é uma das primeiras observações “perdidas” dos efeitos dos agentes inalatórios, dado que durante os três séculos que se seguiram, este composto permaneceu como um agente terapêutico com uso apenas ocasional. A sua única utilização rot ine i ra era como uma droga recreativa barata para os pobres da Bretanha e da Irlanda, quando os impostos tornavam o gin demasiado caro. Uma variação americana desta prática era conduzida por grupos de estudantes que levavam toalhas ensopadas em éter aos seus rostos.

William E. Clarke, um estudante de medicina de Rochester, Nova Iorque, pode sido o primeiro a utilizar o éter

com intuito anestésico, em 1842. A partir das técnicas que havia aprendido como estudante de química em 1839, Clarke entretinha os amigos com óxido nítrico e éter. Encorajado por estas experiências, Clarke administrou éter, a partir de uma toalha, a uma jovem mulher, Hobbie, a que foi removido um dente sem qualquer dor associada. No e n t a n t o , f o i s u g e r i d o q u e a inconsciência da mulher se devia a histeria e Clarke foi aconselhado a não realizar mais experiências anestéticas. Dois meses mais tarde, Crawfor Williamson Long administrou éter com uma toalha para anestesia cirúrgica em Jefferson, Geórgia. O seu paciente, James M. Venable era um jovem que já estava familiarizado com os efeitos do éter. Tinha dois pequenos tumores no seu pescoço e recusava a sua excisão cirurgia por receio da dor. Long propôs que o éter poderia aliviar a dor e obteve assim consentimento do paciente para proceder ao tratamento. Venable referiu que não estava consciente da remoção dos tumores. Ao determinar o primeiro pagamento por anestesia e cirurgia, Long cobrou-lhe $2.00.

Também os dentistas tinham interesse em fornecer um alívio da dor aos seus pacientes, uma vez que esta uma razão comum para recusarem t ratamento. Um dos pr imei ros dentistas a arranjar solução foi Horace Wells, do Connecticut, que assistiu, em 1844, a uma palestra e exibição de Gardner Quincy Colton acerca do óxido nítrico. Os elementos da audiência foram encorajados a inalar uma amostra do gás e Wells viu um jovem homem magoar-se numa perna, sem dor, enquanto estava sob a influência do agente. No dia seguinte, Colton administrou óxido nítrico a Wells, a seu

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pedido, e em seguida o dentista William Riggs extraiu-lhe um dente. Wells não sentiu qualquer dor durante o procedimento e passou a utilizar o óxido nítrico na sua prática.

Williams Thomas Green Morton foi um aprendiz de Wells e, quando se mudou para Boston, manteve o seu interesse em anestesia e procurou auxílio do químico e médico Charles T. Jackson. Após aprender que o éter, quando aplicado na pele, fornecia analgesia, iniciou experiências com éter inalatório, um agente mais versátil que o óxido nítrico: as garrafas de éter líquido eram fáceis de transportar; a volatilidade do fármaco permitia a sua inalação eficaz; as concentrações necessárias para a anestesia cirúrgica eram tão baixas que os pacientes não ficam hipóxicos. Além disto, possuía uma qualidade única entre todos os anestésicos inalatórios: permitia a anestesia cirúrgica sem causar depressão respiratória.

Motivado pelo seu sucesso, Morton fez uma demonstração pública no anfiteatro Bullfinch, no hospital de Massachusetts, o mesmo local onde a demonstração de Wells com óxido nítrico tinha falhado. Assim, em Outubro de 1846, Morton administraria o anestésico a Edward Gilbert Abbott, que tinha uma lesão vascular no pescoço. No entanto, nesse dia, Morton chegou atrasado pois teve de esperar por um instrumento para completar o novo inalador. Este consistia numa grande reservatório de vidro contendo uma esponja enchumbada com uma mistura de óleo de laranja e éter e um bocal, no qual o paciente colocava a sua boca. Uma abertura no lado oposto permitia que o ar entrasse no reservatório

e fosse puxado através da esponja a cada inspiração. Gilbert Abbott disse estar consciente da cirurgia, mas não tinha sentido dor. Quando os detalhes da técnica de Morton se tornaram públicos, a informação espalhou-se por todo o mundo. Como o éter era de fácil preparação e administração, a anestesia começou a ser realizada nos mais diversos países.

James Young Simpson era um obstetra de Edinburgo, Escócia, e foi dos primeiros a utilizar éter para alívio da dor do parto. Insatisfeito com o éter, Simpson procurou um anestético de atuação mais rápida. Um dos seus associados sugeriu o clorofórmio e Simpson e os seus amigos inalaram este agente depois de jantar, numa festa, em 1847. Imediatamente f i ca ram inconsc ien te s e , quando acordaram, ficaram satisfeitos com o s u c e s s o . D e p o i s d i s t o , S i m p s o n rapidamente tentou incentivar a utilização do clorofórmio. No século XIX, o alívio da dor obstétrica tinha implicações sociais importantes e a anestesia durante o parto era um tema controverso. A ideia

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ória!

prevalente na altura ditava que aliviar a dor do parto contrariava a vontade de Deus. A dor era vista como uma componente do castigo e como meio de expiação pelo Pecado Original. Assim, o clorofórmio só ganhou notoriedade quando John Snow o usou para os partos dos dois últimos filhos da Rainha Victoria. Durante o parto, John Snow deu doses analgésicas de clorofórmio à rainha num lenço. Esta técnica foi designada “anestesia à la reine”.

A descoberta frutífera que nos trouxe o óxido nítrico, o éter etílico e o clorofórmio entre 1844 e 1847 continuou e muitos outos anestéticos inalatórios foram utilizados, como o cloreto de etilo e o etileno. Todos os anestésicos potentes deste período eram explosivos, com exceção do clorofórmio, cuja toxicidade cardíaca e hepática limitou o seu uso na América. As explosões por anestésicos eram raros mas um risco devastador tanto para anestesiologista como para o paciente. Para reduzir o perigo de explosão durante os dias da 2.ª Guerra Mundial, os anestesistas britânicos recorreram ao tricloroeti leno, um anestésico não inflamável. No entanto, no final da 2.ª Guerra Mundial já havia outras classes de anestésicos não inflamáveis em estudo. Dez anos mais tarde, os hidrocarbonetos fluorados revolucionaram a anestesia inalatória. Visto que o fluor é o halogénio mais leve, mais reativo e forma ligações excecionalmente estáveis, que resistem a separação química e térmica, muitas experiências saíram frustradas devida à marcada atividade química do flúor. Na longa jornada pela procura de um anestésico inalatório mais estável e com menor toxicidade, chegamos, em 1963 e 1965 à descoberta de enfluorano e isofluorano. Nos 20 anos que se seguiram

nenhum outro anestésico foi introduzido na prática clínica, até que finalmente o Desfluorano foi introduzido em 1992 e o Sevofluorano em 1994, dois dos anestésicos inalatórios mais utilizados atualmente.

A anestesiologia é uma amálgama de espec ia l idades e técn icas : os anestesistas asseguram a estabilidade hemodinâmica e respiratória do paciente durante uma c i rurg ia , b loque iam se let ivamente d i ferentes funções neuronais, calculam doses farmacológicas e são essencialmente os especialistas da dor. Porém, todo o conhecimento que atualmente possuímos derivou da soma de múltiplas descobertas individuais ao longo de séculos. Este é apenas um pequeno capítulo na longa história da anestesia. Para se tornar naquilo que conhecemos hoje, foi necessário haver desenvolvimento não só ao nível dos anestésicos inalatórios, mas também de relaxantes musculares, técnicas de ventilação, anestésicos locais, entre muitos outros. Mas a importância da anestesia para o desenvolvimento da Medicina Moderne é inegável e encontra-se muito bem expresso no epitáfio de William Thomas Green Morton, um dos fundadores da anestesia: “Antes dele, a cirurgia era sinónimo de agonia.”

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Certo é que todos nós já ouvimos a l g u é m a a s s o c i a r o e s p í r i t o revolucionário e a força das mulheres minhotas a Maria da Fonte… Mas afinal quem foi esta mulher?

Pa r a p e r c e b e r q u e m f o i e s t a revolucionária de que tanto se fala, é importante explicar o contexto socioeconómico que se vivenciava no nosso país na altura em que ela surgiu. Por volta de 1842 foi instaurado em Portugal um regime liderado por António Bernardo da Costa Cabral, constitucional ista, sobejamente apoiado, incluindo pelo seu irmão, José Bernardo da Silva Cabral. Desta forma, surgiu o governo que viria a ser

conhecido como o “governo dos Cabrais”. Com o intuito de modernizar o Estado e de criar novas estruturas, Costa Cabral promulgou medidas económicas, reorganizando e o agravando a estrutura fiscal, com a introdução de novas exigências como a contribuição predial e o recenseamento de propriedade. Além disso, assumiu, este governo, uma reforma que exacerbava os grupos miguelistas, o p o s i t o r e s à i m p l a n t a ç ã o d o liberalismo. Sendo este governo um governo clandestino e que almejava restaurar o absolutismo, a revolta da população ia crescendo, reavivando os sentimentos remanescentes das guerras

Joana Silva, 4º Ano

Haja Revolução, Haja Maria da Fonte

Figura 5 – Imagem representando Maria da Fonte

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HajaBraga!liberais da década anterior que,

apesar de oficialmente terminada a 26 de maio de 1834 com a assinatura da Convenção de Évora-Monte, continuava a ser um motivo de divisão do país.

Neste contexto, a população rural largamente afetada não só pela crise económica resultante da guerra civil, pela “praga da batata” e pela seca que tinham assolado o país assim como por estas medidas, começou a revoltar-se cada vez mais. O auge desta revolta surgiu em 1844, quando foram proibidos os enterros nas igrejas e imposto o depósito dos restos mortais dos falecidos (depois de registo do óbito e obtida licença sanitária) em cemitérios construídos em campo aberto. Esta medida não só levou a um descontentamento popular não só pela rutura de uma tradição multissecular mas também pela exigência do pagamento das despesas do funeral pela parte do povo. Inicialmente, essa lei foi largamente ignorada devido à inexistência de estruturas que servissem para esse proposto (apesar dos impostos aplicados para esse fim), no entanto, quando as autoridades decidiram forçar o cumprimento dessas novas regras, o povo, inflacionado pelo ressentimento acumulado, insurgiu-se v i o l e n t a m e n t e c o n t r a o q u e considerava ser uma opressão dos políticos liberais. Neste aspeto, o povo ganhou um aliado, o clero, que mais conservador assumia esta lei como uma medida antirreligiosa.

Para agravar a situação e o descontentamento popular, a rainha D. Maria II tinha concedido o título de Conde de Tomar a Costa Cabral, assumindo a Realeza uma relação com

grande proximidade dos Cabrais, contribuindo para a insatisfação popular contra a Monarquia.

Neste contexto, apesar de múltiplos incidentes ocorridos por todo o país, a revolta com maior relevo foi no norte do país, a 22 de março de 1846.

A 21 de março de 1846, morre uma habitante da freguesia de Fonte Arcada, nos arredores da Póvoa de Lanhoso, não permitindo o povo que o comissário de saúde viesse atestar o óbito, tendo-o espancado e, na manhã do dia seguinte, um grupo de mulheres decide enterrar a defunta na Igreja do Mosteiro de Fonte Arcada sem autorização da Junta de Saúde e quebrando a lei, e sendo o enterro desprovido de ritual religioso, devido à recusa do pároco, apesar dos pretextos religiosos das mulheres. Nessa manhã, as autoridades decidem intervir de forma dura e violenta pois este já era o segundo incidente da mesma ordem.

Não sendo agressivos com as mulheres, as autoridades resolveram prender as responsáveis por aquele ato e proceder à exumação do cadáver e à sua sepultura no terreno destinado a cemitério. Assim, decidiram deslocar-se à freguesia no dia 24 de março para tais objetivos, mas foram recebidos de forma hostil pela população, armada com foices, varapaus e tudo o que tinham. Sem conseguirem cumprir o seu propósito, prenderam as quatro mulheres que foram consideradas cabecilhas dos incidentes anteriores: Joaquina Carneira, Maria Custódia Milagreta, Maria da Mota e Maria Vidas. Quando, a 27 de março estas iam ser

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julgadas, o povo reuniu-se e marchou até às portas da cadeia, arrombando as suas portas com machadadas. Liderando o grupo iam algumas mulheres jovens, confiantes de que as autoridades não investiriam contra elas e das quais se destacava uma jovem que ia vestida de vermelho, armada com uma clavina e uma pistola presa à cintura, Maria Angelina, que terá sido a primeira a atacar à machadada a porta da cadeia. Quando as autoridades procuravam identificar os insurretos, esta jovem foi colocada no topo da lista, sendo registada como “Maria da Fonte Arcada”, nome posteriormente abreviado para “Maria da Fonte”.

A partir deste momento a alcunha “Maria da Fonte” passou a ser um nome desdenhoso lançado pelos políticos cabralistas para designar coletivamente as mulheres que pareciam liderar a contestação. Posteriormente seria transformado num epíteto das virtudes guerreiras das mulheres do norte de Portugal, das quais se destacam as “sete mulheres do Minho”, apontadas como verdadeiras heroínas da revolta.

Nos dias seguintes, sucederam-se casos idênticos estendendo-se a revolta a todo o Minho e, posteriormente, por todo o país. Com a disseminação por todo o território nacional, já não era uma questão de “Marias da Fonte”, mas sim de um país que estava perante um m o v i m e n t o r e v o l u c i o n á r i o s e m precedentes, ao qual se associaram movimentos políticos anti-cartistas, que pretendiam o derrube dos Cabrais e da Realeza.

E m r e a ç ã o a e s t a r e v o l t a crescente, o governo suspende as garantias constitucionais por 60 dias, passando estes crimes a serem julgados em tribunal de guerra e tendo nessa altura, Silva Cabral enviado ao Porto para, localmente, tentar acalmar a revolta. Não sendo bem-sucedido, a r a i n h a e o s s e u s c o n s e l h e i r o s consideraram destituir o ministério cabralista. Para aumentar toda esta tensão, não só o general Sá da Bandeira associou-se aos sublevados, formando um exército como também alguns dos pr inc ipa i s po l í t i cos dessa época solicitaram à Rainha a demissão do governo. Assim, D. Maria II, perante a incapacidade de controlar a situação, demite o governo a 17 de maio de 1846, entregando-o a Pedro de Sousa Holstein (1.º duque de Palmela) e ao general Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque.

No entanto, apesar do exílio dos irmãos Cabral, a influência destes mantinha uma elevada presença na vida política através dos cartistas que, face à aproximação de eleições, tentam retomar o poder. Com medidas governamentais e com a estabilização política, parecia que o povo tinha serenado. No entanto, almejando pacificar os cabralistas e assumindo que o Duque de Palmela se inclinava demasiado para uma política de esquerda, a rainha resolveu validar um golpe de estado a 6 de outubro, formando um ministério pronunciadamente cartista, presidido pelo marechal Saldanha. Com esta decisão, rebentou novamente uma forte revolta, sendo o duque de Terceiro preso e nomeando-se uma junta provisória, a Junta do Porto. Esta, apesar

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HajaBraga!ter jurado obediência à Rainha, mantinha uma política opositora à opinião da soberana, tentando reverter o golpe de 6 de outubro. Adicionalmente, através da imprensa, denegria-se a imagem de D. Maria II e sugeria-se a sua abdicação do trono, em prol da república ou da regência de D. Pedro V e contribuindo, assim, para uma manutenção da revolta.

Assim, perante o risco que corria o trono, a única solução parecia ser a via militar, sendo a guerra civil inevitável e estando o país dividido uma vez mais entre liberalistas e miguelistas, com uma adesão popular enorme. As garantias constitucionais continuaram a ser suspensas por decreto e, gradualmente, surgiram por todo o país novas juntas que se afirmam subordinadas da Junta do Porto e todas se declaram em rebelião contra o governo. Após vários motins e vários momentos de guerra, a 12 de janeiro são assinadas as bases da “União dos realistas insurgentes com a Junta do Porto”, a aliança entre miguelistas e setembristas. No entanto, e apesar de muitos rebeldes terem sido suprimidos, a revolta continuou, sendo necessária intervenção estrangeira para lhe pôr um fim – a intervenção da Quadrupla Aliança, tendo a revolta continuado até 29 de junho de 1847, dia em que é assinada a Convenção de Gramido, pondo fim a esta guerra civ i l . No entanto, com o ressentimento perante os vencidos por parte da Rainha, surgiram perseguições, as quais criaram um novo clima de instabilidade conduzindo inevitavelmente a uma nova revolta, e que ficaria conhecida como “Regeneração”.

Assim, a revolução de Maria da Fonte foi um dos episódios mais marcantes da história política de Portugal no século XIX e continua a representar um ideal guerreiro e contestador não só das mulheres minhotas assim como de todo o povo português. Efetivamente, não só do espírito corajoso dos portugueses nos Descobrimentos nos devemos lembrar e inspirar, mas também do espírito temerário e patriótico desta mulher (e das outras seis!) e lutar por aquilo que acreditamos e defendemos.

“É avante Portugueses

É avante sem temer

Pela santa Liberdade

Triunfar ou perecer”!

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Podíamos ser heróis, só por um dia.

Ou por quase sete décadas.

David Robert Jones, um miúdo de Brixton que se tornou, indiscutivelmente, um dos mais notáveis ícones do rock moderno e, acima de tudo, uma lenda. Uma lenda que nunca se conformou com o cliché desse estatuto e que é desde sempre o mestre da reinvenção.

David começou com 13 anos a tocar saxofone nas bandas mais alternativas de Londres, The Kon-Rads, The King Bees e os The Mannish Boys. Mas não foi até 1966 que David Robert Jones se tornou David Bowie, com cabelo comprido, os seus dentes estranhos e a cabeça cheia de sonhos de estrelato. E foi assim que a sua carreira começou, com alguns singles esquecidos e a cabeça cheia de ideias. Desde cinema a uma trupe de mimos, David fez de tudo só na década de 60. Porém, só depois de 1969 é que toda a gente queria ser David Bowie.

Com a lendária “Space Odyssey” que atingiu N.º5 nos tops do Reino Unido, David Bowie estava lançado na sua viagem astral. O seu primeiro álbum “The Man Who sold the World” data de 1971 e demonstra o rasgo criativo deste génio onde podemos sentir os primeiros travos a Glam Rock.

Até ao fim dos anos 70, o nosso homem de Marte foi Ziggy Stardust, co-produziu álbuns de Iggy and the Stooges, colaborou com John Lennon e foi a estrela do filme “The Nic Roeg, The Man Who Fell to Earth”, no qual interpretava um génio alienígena no planeta Terra e que em muito influenciou Bowie em tornar-se uma entidade extraterrestre.

No fim dos anos 70, mudou-se para Berlim, numa Europa fortemente dividida pela “cortina de ferro” onde produziu “Low” e “Heroes”. O surrealismo e a experimentação eram a palavra de ordem deste período, sobre Berlim Bowie disse:

Rita Neves, 4º Ano

Figura 6 – David Bowie

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HajaMúsica!

21“Berlin has the strange ability to make you write only the important things. Anything else you don’t mention… and in the end you produce Low.”

Porém, este álbum confundiu as massas que não sabiam o que fazer do esforço do artista, no entanto, “Heroes” cujo track homónimo se tornou outra l e n d a n a c a r r e i r a d e B o w i e f o i extremamente bem recebido e conta-nos uma conexão entre dois amantes no Muro de Berlim. No fim dos anos 70, mudou-se para a Suíça onde no início dos anos 80 gravou “Under Pressure”, a tão afamada colaboração com os Queen, que ainda hoje é impossível não saber a letra, tendo chegado a N.º 1 no Reino Unido.

Em 1983, lançou “Ziggy Stardust: The Motion Picture Album” que captura de uma forma brilhante a energia de Ziggy e as suas aranhas marcianas. Logo depois, Bowie reinventa-se, mais uma vez, e lança “Let’s Dance”, o seu álbum comercialmente mais bem-sucedido, tendo alcançado os 7 milhões de cópias e influenciado bandas como Duran Duran e Boy George.

No final da década de 80, forma uma banda - Tin Machine - que surpreendeu e confundiu os fans e que acabou em 92, conduzindo o artista, de novo, aos seus projetos a solo do qual resultou “Black Tie White Noise”. Este álbum permitiu renovar a fé dos fãs na sua interminável criatividade atingindo o N.º 1 das tabelas inglesas. Em 1994, volta às experimentações lançando “Outside”, num registo muito assombrado e cuja música “The Hearts Filhty Lesson” faz parte da banda sonora do aclamado filme “Se7en”.

Como sempre, Bowie, foi o rei da vanguarda, tendo sido o primeiro a fazer download de uma música distribuída por, e pela Internet, em 1996, “Telling Lies”. Uma nova era tinha começado mas ninguém tinha reparado, deixando Bowie 10 anos à frente do seu tempo, para variar.

E m 1 9 9 7 , c e l e b r o u o s e u quinquagésimo aniversário com uma performance memorável no Madison Square Garden que contou com nomes como Lou Reed, Sonic Youth, Robert Smith, Billy Corgan, Foof Fighters e Frank Black, tendo todos estes artistas cantado Bowie com o Bowie e fazendo deste, um dos mais memoráveis espetáculos da sua carreira e de sempre.

Como se não bastasse ser um génio de referência na música e arte, Bowie decidiu que não chegava, tendo em 1998 lançado o “BowieNet”, tornando-se assim, o primeiro “artista-created Internet Service Provider”. Um ano depois recebeu o Prémio da WIRED para melhor site de entretenimento do ano. De alguma maneira, ainda nesse ano, o nosso querido marciano arranjou maneira de participar num filme, “Exhuming Mr. Rice”, e criar a David Bowie Radio Network no site da Rolling Stone Radio. Mas, não se ficou por aí. Ainda em 1999, Bowie recebeu o Doutoramento Honorário em Música pelo Berklee College of Music, Boston, prémio recebido no passado por nomes como BB King, Quincy Jones e Sting. 1999 foi um ano enorme para Bowie, tendo ainda exposto os seus trabalhos na Cork Street Gallery, em Londres, e tendo arranjado um tempinho para ir receber o prémio Legion d’Honneur a França. Esperem, e eu referi que no fim desse ano ainda lançou um álbum? Sim, “Hours”, saiu em outubro de

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!1999, e foi descrito como um dos álbuns mais autobiográficos do artista, do génio. Um álbum que definitivamente lida com sentimentos comuns a todos nós afastando-se de toda a fantasia e viagem espacial.

Acho que nunca houve um período calmo na vida de Bowie, nem com a entrada num novo milénio. David Bowie fez várias performances no Carnegie Hall pela luta da liberdade do Tibete, foi considerado Artista Mais Influente de Sempre pela NME e no 11 de setembro fez o “The Concert for New York City” no Madison Square Garden, um espetáculo dedicado à sua cidade adotada depois dos atentados. Os 10 foram a década de “ H e a t h e n ” e “ R e a l i t y ” a m b o s acaloradamente recebidos mas depois dos quais Bowie manteve um low-profile.

Em 2012, viu ser erguida uma placa em Heddon Street, Londres, para comemorar a incrível influência de “Ziggy Stardust” das suas aranhas marcianas e claro David Bowie. 2013 seguiu-se com mais uma surpresa, o álbum “The Next Day”.

Finalmente, e eu odeio usar este advérbio de modo aqui, David Bowie lançou, no passado mês de janeiro, “Black Star”. O álbum que Tony Visconti, uma das constantes na vida do ator, descreve como o presente que Bowie nos deixou antes de partir, a sua “Swan Song”. Dias mais tarde, David Bowie embarca na sua última viagem, como Major Tom, Ziggy Stardust, e todas as personagens que preencheram a sua vida, e a nossa. Não consigo depois de escrever tudo isto resumir a vida de alguém que foi excelente em todas as vertentes, que se redescobriu, que nos inspirou que se reinventou a si próprio e à vida como a conhecemos. O alienígena genial que nos

deixou um legado enorme e uma vida que nos fará sempre desejar excedermo-nos a nós próprios, ou atingirmos um quarto do nível de extraordinário em que David Bowie sempre viveu.

Basta sabermos o que o Homem de Marte já tinha conseguido quando tinha a nossa idade para olharmos para a nossa vida e repensarmos o nível de épico que queremos que ela tome, as odisseias no espaço que devemos fazer por que aconteçam. Seja aos 21 como aos 65, Bowie será sempre um ídolo.

E este ano, perdemos um Herói.

Uma lenda que nunca se conformou com o cliché desse estatuto e que é desde sempre o

mestre da reinvenção.

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HajaCinema!

23Gonçalo Cunha, 3º Ano

Desde o início dos tempos foram vários os momentos que ficaram marcados na história devido à mudança, devido à revolução e à renovação. Assistindo nós, como espectadores atentos a essas mudanças com repercussões no nosso modo de viver, pensar e até sentir…

O HajaCinema! desta edição reflete, efetivamente, sobre a renovação, sobre a aceitação e sobre o sentir, estando estes temas marcantes presentes em “Danish Girl”. Também conhecido como “A Rapariga Dinamarquesa”, este é o mais recente filme de Tom Hooper que traz para o grande ecrã a história verídica de duas mulheres extraordinárias Lili Elbe e de Gerda Wegener.

Lili Elbe, interpretada por Eddie Redmayne, foi considerada a primeira mulher transexual a submeter-se à cirurgia genital com o intuito de se tornar uma mulher fisicamente, isto porque emocionalmente já se sentia como tal. É neste papel que mais uma vez Eddie

Redmayne nos surpreende, entregando-se de uma forma tão profunda a Lili que é impossível não sentir aquilo que o próprio sentiu enquanto gravou ou até mesmo aquilo que Lili sentiu ao passar pelas situações representadas. Assim sendo, a sua nomeação para Óscar de Melhor Ator como protagonista para além de óbvia, tornar-se-ia uma vitória caso não tivesse concorrência, aparentemente, à altura.

Já Greda Wegner, papel desempenhado por Alicia Vikander, foi a esposa de Einar Wegener, o conceituado pintor que acabou por se transformar em Lili. Greda foi uma esposa exemplar mas, acima de tudo demonstrou um grande amor à pessoa que ama pelo apoio em todos os momentos da sua vida. Assim, não contamos só com um excelente trabalho desempenhado por Eddie Redmayne, também Alicia Vikander demonstra enormes qualidades enquanto atriz sendo considerada por muitos uma das revelações do ano e, se assim não o fosse, não estaria nomeada para o Óscar de Melhor Atriz Secundária, nem para o Globo de Ouro de Melhor Atriz Protagonista.

O drama desenrola-se na Dinamarca em meados do século XX perante uma sociedade que não conhecia nem compreendia a transexualidade nem as questões que a ela estão associadas. Neste sentido, e embora tudo se inicie como uma pequena brincadeira que permitiu a exposição dos sentimentos e emoções reprimidas desde sempre em Einar, a história acaba por incidir sobre estas mulheres que mais do que desafiar a sociedade desafiaram-se a si mesmas e ao amor.

O filme é, portanto, uma grande obra de arte, não só pela história ou pela forma como ela é interpretada, mas também pelas mensagens que são transmitidas de uma forma simplesmente pura e verdadeira. Se, por um lado, os sonhos só são alcançados com a ambição e luta, por outro são reveladas duas facetas do amor uma vez que é uma história de amor-próprio mas também uma história que nos mostra que a profundidade do amor, da paixão, não se prende com a sexualidade mas sim com as emoções e os sentimentos que desenvolvemos por alguém que nos é realmente importante.

Figura 7 – Cartaz do filme “The Danish Girl”

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Núria Mascarenhas, 4º Ano

«Os melhores livros são os que nos contam aquilo que já sabíamos.»

Dando seguimento ao tema desta edição sobre Revoluções e Evoluções, tive como objetivo ler e elaborar uma crítica sobre um célebre e inovador romance. Senhoras e senhores apresento-vos: “1984”! Este, segundo a Open Education DataBase, faz parte da lista dos cinquenta livros que revolucionaram o mundo. Dentre os quais se destacam: “A República” de Platão; as peças de Shakespeare; “A Íliada e Odisseia” de Homero, etc.

Publicado a 1949, uma distopia baseada na descrição profética de como iria ser a sociedade em 1984.

Orwell descreve um mundo que estaria dividido em três grandes potências (a Oceânia, que reúne a ex-Inglaterra, as ex-Américas, a ex-Austrália, a ex-Nova Zelândia e parte da ex-África; a Estásia e a Eurásia) que se encontram permanentemente em guerra. Oceânia, onde se desenrola a narrativa, é

controlada por um partido denominado Insoc que, tem como chefe político a figura do Grande Irmão (Big Brother). Figura essa, divulgada através de inúmeros cartazes com o slogan “o Grande Irmão zela por ti" ou "o Grande Irmão observa-te" (do original  Big Brother is watching you).

O Big Brother é tido como uma figura amada por toda a sociedade, omnisciente, omnipresente e omnipotente, embora nunca tenha sido visto em pessoa. A sua omnisciência deve-se à vigilância constante a que toda a população estava submetida, através do uso “teletelas” (instrumentos tecnológicos que se assemelham a televisões e que, porém, também são câmaras de segurança), localizadas em todos os recantos imagináveis (em casa, no quarto, na rua, nos escritórios…).

O livro conta a história do quotidiano de Winston Smith, um funcionário do Ministério da Verdade, cujo trabalho consiste em adulterar dados históricos, a fim de moldar o passado à luz dos interesses do presente tirânico Partido. Pois «quem controla o passado, controla futuro. Quem controla o presente, controla o passado!» (in “1984”).

A opressão a que todos estavam sujeitos era tanto física quanto mental. Isto porque, as suas ações eram constantemente vigiadas por câmaras e a frequência

Crítica a “1984” de George Orwell

Figura 8 – Capa do livro “1984”

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cardíaca monitorizada, como se de um polígrafo se tratasse. Se alguém pensasse de forma diferente das ideologias impostas, cometia “crimideia” (crime de ideia) e, fatalmente, seria capturado pela Polícia do Pensamento, torturado e vaporizado, à posteriori. Toda e qualquer atitude, expressão facial ou palavra suspeita poderia significar o fim. Os vizinhos e os próprios filhos eram incentivados a denunciar à Polícia do P e n s a m e n t o q u e m c o m e t e s s e “crimideia”. Desta forma, até as relações amorosas eram terminantemente proibidas.

Winston detesta o sistema, porém evita desafiá-lo, sabendo que se conversasse a respeito com alguém, corria o risco de ser denunciado. Decide, então, ir até um antiquário e comprar um lápis e um bloco de papel. Nele, passou a escrever todos os seus desabafos, num canto “cego” do seu apartamento, onde as “teletelas” não conseguiam focalizar.

Tudo muda quando se apaixona por Julia, funcionária do Departamento de Ficção. O sentimento transgressor fá-lo acreditar que uma rebelião é possível. Através de O’Brien, um colega e membro interno do Partido, Smith inteira-se de uma organização que tem como objetivo acabar com a ditadura atual e construir um mundo livre, onde os pensamentos

não são públicos e a privacidade é um mito… A representação de tudo o que sempre ambicionou! Mas combater o regime não é nada fácil. 

Prevenindo posteriores reclamações ou protestos de qualquer tipo, alerto para

a presença de spoilers a partir de agora.

Tal como era de esperar, Smith e Julia foram presos pela Polícia do Pensamento, que os flagra juntos, num dos encontros amorosos que eles iam tendo. A denúncia é feita pelo dono do antiquário onde Wilson comprara o diário, que também fazia parte da Polícia do Pensamento.

A partir de então, Winston separa-se da sua amada e é brutalmente torturado nas celas do Ministério do Amor. A principal pessoa que o tortura é O’Brien que, sempre esteve a serviço do Partido e tinha agido como um agente infiltrado para tentar capturar o máximo de traidores. Há muito que o Big Brother observava Winston… Tudo o que escrevera no seu diário, tudo o que conversara com Julia, tudo gravado e usado para a sua tortura…

Poucos autores descreveram tão bem a tortura política. Orwell fê-lo tão

Figura 10 – Imagem de “1984”.

Figura 9 – Imagem de “1984”.

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bem que teve o privilégio de se tornar um adjetivo. O termo "orwelliano" é sinónimo dos vívidos e sinistros porões do totalitarismo.

Nas páginas de “1984”, O’Brien, usa um método especialmente cruel: o flagelo com ratos. “Os monstros famintos saltarão por ela como balas. Já viste um rato pular no ar? Pularão sobre teu rosto e começarão a devorá-lo. Às vezes atacam primeiro os olhos. Às vezes abrem caminho pelas bochechas e devoram a língua”, diz a Winston. O objetivo da tortura que lhe foi infligida, por intermédio do medo, era permitir ao Partido, a manipulação dos pensamentos do protagonista; fazê-lo pensar que 2+2=5, se assim fosse n e c e s s á r i o ; f a z ê - l o a m a r verdadeiramente o Big Brother, acima de todas as coisas e, só depois, matá-lo!

Quando conheceu Julia e se apaixonou por ela, Winston jurou que independente do que pudesse acontecer jamais a trairia ou deixaria de amá-la. Porém, diante do terror de ser devorado pelos ratos na sala 101, renegou o seu amor a Julia e implorou para que a torturassem e o poupassem. Desta forma, r enunc i ou a t udo o que amava verdadeiramente.      O plot twis t des te l i v ro é seguramente memorável e algo macabro. Como função pedagógica, a pena aplicada ao personagem o torna obediente a ponto de amenizar a sua crítica ao sistema e a c r e d i t a r q u e o c o r r e t o é  “duplipensar” (O termo original é  Doub leTh ink ,  que s i g n i f i c a a capacidade de acreditar em duas ideias contraditórias e simultâneas entre si. Como por exemplo, cito os três lemas do Partido: “Guerra é paz”; “Liberdade é escravidão” e “Ignorância é força”).

Depo i s de tudo, Winston é libertado. Julia também consegue escapar da sala 101. Encontram-se um dia e trocam algumas palavras, admitem que se traíram e que as coisas nunca voltariam a ser como dantes. Winston olha para um cartaz do Big Brother, pendurado numa das paredes do bar que costuma frequentar e, apercebe-se com toda a certeza de que agora que está vivo e adaptado ao mundo como é, finalmente ama o Big Brother.

Fazendo uma alusão não declarada ao regime da época, George Orwell criou um futuro trágico. Esse futuro se parece, em alguns aspetos, com o que vivemos hoje: a manipulação da verdade por parte dos media; a exploração dos mais carenciados; a falta de privacidade, resultante da massificação dos meios de comunicação e aparelhos tecnológicos; as guerras por territórios, bem como por questões religiosas, etc.

O autor de ficção científica  David Brin afirma que o grande mérito da ficção científica  não é  prever  o futuro, mas “pintar” um tão horrível que as pessoas vão lutar para que ele não aconteça.

Neste sentido, “1984” é, talvez, o livro mais importante do século! Isto porque, a qualquer sinal de tirania, a sociedade, recordando-se do livro, luta para impedi-la!

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Pedro Peixoto, 5º Ano

O surgimento de uma xenofobia atroz por todo o continente devia desconcertar-nos. Ao invés, procuramos justificá-lo. A Europa é o resultado do que cada um de nós pensa, do que cada um de nós é. Seria de esperar que a geração de jovens mais bem preparada que a Europa já viu fosse um baluarte dos valores da liberdade e dignidade humana. No entanto, não é isso que acontece, bem pelo contrário, é uma geração que teme o mundo, saudosista de um passado que já foi e não mais será. Hoje vou debruçar-me sobre uma situação em concreto: Os refugiados de guerra do Médio Oriente.

A 21 de janeiro de 2015, uma sondagem realizada pela Ifop, revelou que 60% dos franceses se opõem à integração dos refugiados de guerra do Médio Oriente, no país. Em Calais, a situação é cada vez mais desesperante, sendo o esforço das várias Organizações Não Governamentais (ONG) aí instaladas absolutamente infrutífero. Mais recentemente a Médecins Sans Frontières planeia instalar um novo campo de refugiados, no sentido de tentar amenizar as condições desumanas em que vivem os refugiados.

No dia 26 de janeiro de 2016, a Dinamarca aprovou uma lei que legaliza o confisco de bens acima dos 1340 euros, a todos os refugiados que requeiram asilo, como forma de suportar os custos inerentes a essa “proteção”.

David Cameron, num discurso recente a 28 de janeiro, mostrou o seu repúdio pela integração dos refugiados Sírios no Reino Unido. Sobre a situação desesperante em Calais, afirmou que os refugiados aí estacionados deviam requerer asilo à França. Nos entretantos, mais de 18 milhões de euros foram alocados para a fronteira em Calais, com o objetivo de reforçar as vedações e o controlo fronteiriço. Nesse mesmo dia, a Suécia anunciou o repatriamento de cerca de 80.000 refugiados por, alegadamente, não cumprirem com os requisitos para se estabelecerem no país. Ao mesmo tempo, a Grécia encontra-se sob a ameaça de ser expulsa do Espaço Schengen se não fizer mais para bloquear o acesso de mais refugiados ao continente.

A 30 de janeiro de 2016, aconteceu uma reunião entre o primeiro-ministro húngaro e o seu congénere búlgaro, no sentido de discutirem medidas para bloquear o acesso dos refugiados Sírios ao continente. Entretanto, a polícia húngara foi já enviada para a Macedónia, no sentido de tentar bloquear a onda de refugiados que tenta transpor os muros construídos ao longo da fronteira da Hungria. A calamidade propaga-se já por vários países da região: Macedónia, Albânia, Croácia, Eslovénia e Áustria fazem parte da lista.

Estes últimos parágrafos, há bem pouco tempo, pareceriam saídos de um qualquer filme sórdido, negro, sem conexão com a realidade. Devido à nossa mansidade, ao nosso comodismo, são apenas e somente a dura realidade. Esta verdadeira crise humanitária, que advém de uma profusa crise de humanidade, é apenas mais um dos obstáculos que enfrentamos atualmente, porventura nem sequer o mais grave. Está na hora de pararmos para pensar, se isto é o que queremos ser, se é isto o que podemos fazer e se este receio do desconforto; esta obsessão pelo número, pelo lucro, é tudo o que podemos almejar, ou antes tudo o que devíamos repudiar. Somos seres humanos, ao final, portanto coloca-se a questão: O que podes fazer para mudar isto? Tudo! Primeiro, começa a pensar como um ser humano!

Somos Europeus?

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Aram Abdelhaq, Medical Intern at Palestine Medical Complex and Post Doctoral researcher at the Palestinian Neuroscience Initiative

Life is the flame of Revolution!

My fellow brothers, I greet you with a peaceful “Salam” that our hearts long for. I’ve been granted an honor to stand humbly before you, and speak about one simple word. I write for you from a landtorn by wars, battles, blood and men’s greed! I speak to youfrom the socalled “Kingdom of heaven”, “God’s place on earth”, “the cradle the heavenly religions”, “the land of peace”. I come to speak of one simple word, Revolution!

Revolution (Thawra), in my native language, comes from a verb that describes the act in which a volcano breaks its silence, overcomes its inertia, and breaks free from the chains and walls which imprisoned it for millions of years, as it erupts through its confined jail, to reach the surface, to turnearth darkness into light, coldness into warmth, silence into a rumbling sound, the sound of freedom.

This is how Revolution should be, just like if it was a volcano. Revolution was never about money, neither about land, tribe or personal vendetta. Revolution is only about life, the sacred holy human life, the very samehumble, perfect human life; with all of its faults and imperfections. It is a fight by life for life; your life, the life of your fellow human brother and, most of all, the pure life of those who are yet to experience the cruelty and mercy that this earth has yet tooffer.

Revolution should be about life and life only, in the same manner a volcano to erupt shall burn down itself over and over, consuming its precious soul to create light; Revolution is all about using our precious lives to create a warm path for the next generation to live and thrive. After all, what in this mortal earth is worthy enough, to give up our priceless lives for, other than…the beautiful life?

Revolution was never just a word for us, Palestinians; it always has been, and always will be, our life, or at least the hope of having a descent one, one that is worthy of human beings. It is our dream that the next generation regain the life that was stolen away from our generation, just as our parents dreamt our generation to have the life stolen away from them, and the one their parents dreamt them to have, too. They all dreamt of life in the land of peace; peace that this land never knew, except in the hearts of those rebels who lived and died in; a kind of peace their hearts only knew as a serene hope that, when calmly giving up their lives, they would let the youngsters to have what they themselves have been deprived of.

Our revolution was never about land per si; it could never be abouta pile of dust and rocks; after all, that is what this whole earth is. It wouldn’t worth a single drop of human blood. Though it stills dear to our hearts, its only value is in the blood that soaks it; the blood that wasshed to keep it, to save it for the little pure ones, so they could have a place where to live and call home; the blood that was spent to save more lives.

The only reason that we stand still in this pile of rocks and dust, all over these centuries of battles, violence and bloodshed, is for this sacrifice not to be gone in vain; is to fulfill the dream by which those rebels ignited their own lives for.

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Kelly Pires, 2º Ano

Em julho de 2015, a Coreia do Norte realizou as suas mais recentes eleições, com cerca de 100% de comparecimento às urnas de votação. Autodenomina-se “República Popular Democrática da Coreia” mas tem sido classificado como o país menos democrático e mais autoritário do mundo. Mas afinal como funciona o governo na Coreia do Norte? Nesta edição do HajaSaúde! tens uma explicação muito simplificada de um tema muito complicado, mas esperamos resolver algumas dúvidas.

A Coreia do Norte figura-se num regime totalitário dirigido por uma dinastia de ditadores. A sua identidade cultural e política é baseada na devoção ao líder Kim Il-Sung, cuja autoridade presidencial está escrita na Constituição. De facto, o líder, falecido há mais de 20 anos, é oficialmente o eterno presidente, tornando a Coreia do Norte a única Necrocracia no mundo. Contudo, é o seu neto Kim Jong Un o atual líder e contém autoridade suprema.

Este governo encontra-se dividido, basicamente, em 3 ramos: executivo, legislativo e judicial. O ramo executivo é controlado pelo Premier, Pak Pong-ju e Kim Jong Un, que também controla a força militar. O ramo legislativo é, essencialmente, um Congresso - Supreme People’s Assembly (SPA). As eleições para a SPA dão-se a cada 5 anos e ocupa-se quase inteiramente por membros do Worker’s Patry of Korea, que é o único partido no poder autorizado pela Constituição. Existem outros dois pequenos partidos, mas são ambos controlados pelo Worker’s Party. O ramo judicial, conhecido pelos seus julgamentos secretos e negligência dos direitos humanos, é constituído por juízes selecionados pela SPA.

Então, como funciona na prática? Os candidatos para o Congresso, a SPA, são escolhidos pelo Worker’s Party. Cada candidato concorre sem oposição e quem quiser votar contra tem de utilizar uma cabine de votação especial. Só que, apesar de ser permitido, é considerado traição, e como na Coreia do Norte se realizam execuções públicas para qualquer ação antiestatal, se calhar, é uma má ideia. A SPA raramente se reúne e tem aprovado todas as leis propostas sem nenhum debate.

Na realidade, o governo passa por todos os movimentos de uma democracia parlamentar enquanto opera como uma ditadura teocrática. Apesar dos norte-coreanos quererem lutar contra inúmeros abusos dos direitos humanos, a encarceração em massa e a fome generalizada, impedem-no de o fazer politicamente. O culto à personalidade em torno da família Kim é uma das forças motrizes deste insano sistema de governo. http://www.voxeurop.eu/

Figura 11 – Caricatura relacionada com o tema.

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Eis a minha segunda intervenção no Haja Saúde! Permitam-me a ousadia de saborear a aliviante tranquilidade e, por fim, expirar o crepitante suspiro, de que não foram admitidas queixas, por uso de linguagem ou termos imprudentes, na última publicação. Sim, certamente concordarão comigo que o tema é apetecível, mas que facilmente se escorrega e também se cai. Ora, prevendo adiados eventuais protestos, que à hora do fecho desta edição não tinham ainda dado entrada na nossa redação, aproveito para prontamente me tentar absolver, cintilar e deliciar alguma boca mais amargurada. Assim, servindo-me da carismática data do segundo mês do ano, vaguearei nas arestas que circunscrevem esta página, pelos propósitos daquilo que entendo deva existir, antes de uma boa sexualidade. Ressalvo, em antemão, que depende sempre do intento e da duração da mesma…

Ora, em boas verdades, já que há muito se zangaram as comadres, a sexualidade pode tomar desígnios diversos, que me privarei de delinear, pois contorcidas são as linhas a seguir nesse mapa, onde o X ou o Y delimitam o lugar do tesouro. Igualmente, senão mais, digno de fazer salivar o pavloviano bicho ou de contorcer as borboletas resistentes ao pH gástrico, sempre que se justifique, deve existir amor. Ainda que efémero, espontâneo ou cárneo, mas pelo menos respeitoso ao toque entre duas pessoas, nem que seja tentando apanhar essa borboleta, que afinal se revela uma sentenciada crisálida. Amor, palavra doce

para alguns, amargurada para outros, voeja trovada às janelas, sarrabiscada por carta, sussurrada em promessas… Perdoem-me, por vezes, deixo-me entusiasmar… Dizia eu, teclada por smartphone e nas redes sociais. O tal fogo que arde sem se ver, em qualquer idade, que Camões conseguiu vislumbrar, ao ponto de o imortalizar num dos mais belos poemas escritos na nossa língua. Esqueceu-se ele, que, penosamente para nós, futuros clínicos, não é objetivável tratar uma ferida que dói, mas que não se sente. Outro paradoxo da Medicina é que, nem o mais poderoso dos analgésicos permi te a l i v ia r a s dores do ta l descontentamento descontente que, às vezes, ele provoca. Mas o que faz gostar de alguém? Será o terno e inocente sorriso? Será o aroma que, ao se volatilizar, belisca o primeiro dos pares cranianos? Será a narcísica nossa semelhança que vemos refletida no fundo do olhar de outrem? Ou será a despolarizante condutância iónica que todo o estudante de Medicina deve conhecer para passar a Fisiologia Cardíaca? Dizia outro poeta: Wise men say, only fools rush in… Pois é, dizem os académicos que o amor inflama certas zonas cerebrais responsáveis pela recompensa, motivação, emoção e funcionamento social. Compreendo também que, os habituais vendedores dos diversos adereços em forma de corações, no dia de S. Valentim, nada queiram com esta conversa. De facto, é emaranhado compreender, como é que um órgão que apenas (e um “apenas”, bem entre aspas) bombeia sangue para todo o corpo pode ser culpado por esse nobre sentimento! Quando se está apaixonado, ocorrerá

João Barbosa Martins, 5º Ano

Juras, sentimentos ou será só biologia?

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alguma modificação no líquido que lá passa? Será que este licor irá contagiar a cabeça, o olhar e os restantes órgãos dos sentidos? Oxigenado, sabemos de ciência exata, que lá não é. Será o sangue, então, lá condimentado com alguma substância que a ciência desconhece e que os aparelhos de laboratório se recusam a detetar? Bem, afirmava-o categoricamente Aristóteles, que esse órgão que também trama quando se despedaça, seria aquele onde as emoções, as perceções e os pensamentos b r i n c a m , f a z e n d o - o t r a u t e a r arritmicamente perante uma paixão. Dirão certamente os pragmáticos e séticos treinadores de bancada – “oh isso é só serotonina e dopamina”. Receio ser mais complexo do que isso, pois se assim não fosse, passar-se-iam a isolar tais compostos e, amiúde, conspirar-se-ia dissolvê-los numa bebida, ou até no limite, injetá-los, picando rapidamente a pessoa não correspondente.

Para que, se desenvolva uma paixão, estão descritas três fases distintas, afinal de contas, foi esta a conta que se fez, em tempos: uma primeira etapa, mediada pelo desejo, t ranscr i ta nas hormonas sexua i s testosterona e estrogénios, em ambos os sexos; uma segunda, caracterizada pela paixão e arrebatamento, mediada pela adrenalina, dopamina e serotonina; e finalmente aquela que conduz ao altar e à vida a dois, apadrinhada pela oxitocina e pela vasopressina. Patente esta que, isto não é uma escada rolante de rumo único e apressada, podendo-se optar por se ficar estático num qualquer degrau, caso os dois assim o entendam, ou ainda que um deles, contrariado, possa ter que a descer a pé. As três substâncias citadas na segunda fase provocam diversos efeitos no organismo, sendo a adrenalina responsável por realidades, como a

constrangedora sudorese ou a eletrizante taquicardia na presença enamorada. No que respeita à dopamina, os efeitos a nível cerebral, são comparáveis aos da cocaína, promovendo um vórtice de deleite. Finalmente a serotonina é a que se pensa ser a principal responsável pelo perseverante e mélico recordar da pessoa querida, emergente entre suspiros e apertadas saudades.

Obviamente que, considerando o âmbito desta rubrica, não me perdoariam aqueles que não me injuriaram pelo último artigo, se não me referisse aos mecanismos fisiológicos da luxúria. Pensa-se que a oxitocina, libertada durante o reflexo medular que impulsiona o orgasmo, seja a responsável por uma maior intimidade e ternura entre o casal. No que respeita à vasopressina, é também libertada após descarga das energias libidinosas e, os cientistas até pensam ser uma das responsáveis pela afamada promessa: “…até que a morte nos separe”, pensando promover a longevidade da relação e do casal. “ E l e m e n t a r ” , r e s p o n d e r i a surpreendentemente e antecipadamente o caro Watson.

Findo, desejando que Haja Saúde, mas também que Haja Sexualidade compreendendo as suas d iversas modalidades, enamorada ou arrojada, mas acima de tudo saudável, pois na “…saúde e na doença…”, poderá ter que haver vasopressina e oxitocina, mas t ambém, have rá s ob re tudo , um pouquinho de apreço e paciência.

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INGREDIENTES: - 3 maçãs; - 1 banana; - 100 gr. de chocolate vegano*; - 100 gr. de farinha integral;- 75 gr. de açúcar; - 75 gr. creme vegetal.

PREPARAÇÃO: 1. Numa tigela misture a farinha integral e o açúcar;2. Junte o creme vegetal em cubos, previamente amolecidos e misture com os dedos

até obter uma consistência de areia grossa;3. Descasque as maçãs  e corte-as em cubos e as bananas às rodelas; 4. Disponha a fruta no fundo de uma assadeira;

5. Corte o chocolate em pedaços e ponha-o sobre a fruta;

6. Espalhe a massa por cima deste preparado e leve ao forno pré aquecido a 200 graus

25 minutos.

Joana Silva, 4º Ano

Crumble vegan de banana, maçã e chocolate

Tendo em consideração que o tema desta edição é Revoluções e

Evoluções, decidimos trazer aos nossos leitores uma receita de uma cozinha que revolucionou a maneira

de encararmos a gastronomia: a Cozinha Vegan.

Assim sendo, atreve-te tu também a enveredar por caminhos que não são os

mais comuns!

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Tiago Rosa, 4º Ano

Warning: A seguinte rubrica pretende despertar sentimentos de espanto e estupefação com a estupidez. Obrigado. Reader discretion is advised (or not).

Capítulo 7: As “Carnavalices” do Mundo: Sinais, Polícias e Rap n’ Roll

Estaremos a precisar de um novo sinal de trânsito?

A Suécia é a nação de um povo engenhoso e inovador - basta irem a uma loja do Ikea para perceberem o espírito de uma nação inteira. Quem me dera que tivéssemos algo assim…

Para além disso, os suecos também se p rezam por se rem uma soc iedade tecnológica avançada, sendo que grande parte do povo está muito ligada às redes sociais. Isto causa um novo fenómeno deveras interessante: os quase-acidentes, relacionados com o desligar do mundo real por estarem agarrados às máquinas – não, os suecos não são todos doentes terminais que

se passeiam pelas ruas -, que se estão a tornar cada vez mais frequentes.

Tão frequentes que, um dia, alguém se lembrou e criou este novo sinal de trânsito: um homem e uma mulher a andar enquanto olham para o telemóvel. E como teve esta pessoa tal ideia? O autor, Jacob Sempler, diz: “Sou dependente das redes sociais, e um dia quase fui atropelado enquanto me dirigia para o trabalho e navegava nas redes socias. Apercebi-me então que não era o único e que algo deveria ser feito sobre isso”.

Jacob e Emil Tiisman desenvolveram então este novo sinal, que espalharam pela cidade de Estocolmo, e rapidamente ganhou o apoio de muitos cidadãos com o mesmo estilo de vida. O grupo que gere o metro da cidade elogiou a iniciativa nas redes socias – que irónico – dizendo que estes sinais também seriam necessários nas estações de metro para alertarem as pessoas a tomar atenção ao entrar e sair dos comboios.

No entanto, as autoridades locais já comunicaram que, embora simpatizem com a iniciativa, os sinais serão eventualmente removidos por não serem oficiais, embora não se comprometam com datas para o fazerem.

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Polícia responde a chamada por vandalismo, mas afinal eram só rappers

O caricato incidente ocorreu no início do mês de fevereiro, em Oldham, Inglaterra. A Polícia recebeu uma chamada de um cidadão preocupado que relatava a presença de “um grupo de 30 homens de cara tapada e armados com bastões de basebol, que estavam a partir carros e a criar desordem”.

Quando a polícia chegou ao local, deparou-se com uma situação invulgar: encontrou o grupo mencionado, mas era apenas composto por 10 homens, armados, tal como a descrição e estavam, de facto, a destruir carros. A parte invulgar era que toda a destruição e rebaldaria estava a acontecer num ferro-velho, onde o dono assistia, tranquilamente, aos acontecimentos... Enquanto, em seu redor, se encontrava uma equipa de filmagens. A situação ficou ainda mais bizarra quando um dos membros da equipa de filmagens lhes perguntou se gostariam de participar.

Depois do espanto e confusão inicial, a polícia averiguou que se tratava, na verdade, das filmagens de um vídeo para uma nova música do rapper Shotty Horroh. A situação foi de tal forma hilariante, que o rapper acabou por dar uma entrevista para uma cadeia de televisão local por causa do incidente, ganhando assim mais publicidade para a sua nova música “FUDT (F*** Up Da Ting)”. Só tenho a dizer que o nome da música, idealmente e em inglês correto, seria “FUTT – F*** Up The Thing”, mas como há liberdade artística, pode ficar tal como é, até porque poderia ser confundido com “Foot” (pé), e ninguém quer fazer essa associação de ideias enquanto ouve rap... Ou música em geral, já agora. Me out.

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Conselhos da RebeccaQuerido, revolucionei o Mundo! Juro que foi sem querer, eu já ponho tudo direito.

Olá olá! Como estão estão? Ups, estou com o reverb ligado gado. Só um bocadinho inho. Pronto. Já podemos falar sobre coisas desinteressantes. Que tema querem ver abordado hoje? Se cobiçarem um devaneio sobre a importância do chá verde na sociedade, liguem para o 760 123 457. Para qualquer outro tema, podem depositar logo o dinheiro no meu bolso enquanto dizem qual é. Analisarei com o cuidado que me é característico todas as sugestões acima de 5 euros. (Pausa longa) Após semanas de reflexão meditada sobre as vossas brilhantes sugestões, decidi ignorar-vos a todos e debruçar-me sobre o tema desta edição – duuh! O tema é “Revoluções e outras cenas”, não é “duuh”. Duuh! Pois bem, se habitualmente enveredo por histórias da minha vida de forma a fazer fabulosos paralelismos metafóricos com o mote ditado pelos ditadores da revista (como em: “os que ditam”, et al.), hoje pego numa tónica diferente. Para começar, já chegamos a perto do meio da crónica e vamos ainda na introdução, num engonhanço que em nada é costume em mim - engonhar, aliás, que é coisa que raramente faço; parêntesis concebo miúde (como em: oposto de “amiúde”), apartes, infrequentes são – excetuando aqueles momentos em que julgo que um aparte seria mesmo bem metido, como claramente não é o caso desta situação. Por outro lado, desta vez pretendo elaborar um tutorial para que tu, Leitor (ou Ana, se fores rapariga), sejas o autor (ou autorAna) da próxima grande descoberta que mudará o rumo de certas coisas e/ou derivados! 1º Passo: despe-te de preconceitos. O Mundo precisa de pessoas de mente limpa, tanto como de pessoas despidas. Para um tutorial mais específico sobre como se despir de preconceitos, recomendo a leitura de uma crónica que já fiz há uma porrada de tempo atrás, no âmbito de “Preconceitos”. Surpreendentemente, fala de… preconceitos. 2º Passo: com o outro pé que não o que efetuou o 1º passo, se não vais estar só a jogar à macaca, pá. 3º Passo: arranja uma equipa. O Mr. T tinha um fumador de charutos, um maluquinho e um vigarista. Claramente, mais vale sozinho que mal acompanhado. Se bem que tinham uma música altamente. Pim pirim pim… Tan tan tan… Sublime. 4º Passo: aqui é onde entram as tuas capacidades de comunicação! Assumindo que estas são ótimas, podes passar diretamente para o passo nº 6; se, por outro lado, não fores uma pessoa arrogante, deves dirigir-te à casa 42, tirar uma carta da Sorte e pagar a fiança da prisão, SEM passar pela casa da partida! E só então poderás continuar a ler. 5º Passo: obrigado por teres um pingo de humildade para achares que precisavas deste passo. Estás de parabéns… q.b. 6º Passo: vai-me à venda. A sério, vai mesmo, e compra o pior par de meias que houver. Veste-as durante uma semana seguida. É nos tempos de sofrimento e suores odorosos que uma pessoa tem as melhores ideias. Aprendi isso da pior maneira quando vivi na lixeira de Creixomil. Acabei por ter a ideia brilhante de sair de lá e voltar para a minha casa, que é bem melhor na maioria dos aspetos. (Ah, para quê as competências de comunicação? Para regatear pelo preço das meias! O Sr. vendedor vai querer cobrar-te um balúrdio, mas se fores inteligente como eu vais conseguir comprá-las ainda por menos de 20€!...) 7º Passo: ter uma ideia brilhante! Se seguiste os outros 6 passos escrupulosamente isto surge de forma natural. Se não surgir, o problema está em ti. Aconselho-te a rever o tutorial “como ser um Humano”, página 1 da Escola da Vida. 8º Passo: admitir que a ideia que tiveste não é assim tão brilhante – na verdade é miserável - e assumir a derrota. Pelo caminho, se conseguires remediar todo o mal que provocaste no Mundo ao tentar pô-la em prática, era o ideal. Todos vamos falhar. O que importa realmente na vida não são os sucessos que vamos ter; o que importa é nem arriscar, falhar menos que os outros e rirmo-nos da cara deles quando fizerem porcaria! Ahah, idiotas!, meter um chip em cães para saber quem é o dono… Loool.

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Jornal HajaSaúde!Edição: Ana Sofia Milheiro, Joana Silva e Gonçalo CunhaColaboradores: Ana Sofia Milheiro; António Mateus-Pinheiro; Catarina Pestana; Gonçalo Cunha; Joana Silva; João Barbosa Martins; João Lima; Jorge Silva; Kelly Pires; Mário Carneiro; Núria Mascarenhas; Pedro Peixoto; Rafael de Vasconcelos; Rita Neves; Sofia Leal Santos; Tiago Rosa.Revisão Linguística: Jéremy Fontes Paginação & Grafismo: Catarina Fontão

NEMUM - Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho

Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho

Campus de Gualtar, 4710 - 057 BRAGA

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