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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB
CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTE - CCTA
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E TURISMO
COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
ORIENTADOR: WILFREDO MALDONADO
HELOISA BELARMINO DE AMORIM
RELATÓRIO FINAL
REVISTA ARTEVIVA
ARTISTAS DE RUA: CRIATIVIDADE, SOBREVIVÊNCIA E LAZER
João Pessoa – PB
2012
HELOISA BELARMINO DE AMORIM
REVISTA ARTEVIVA
ARTISTAS DE RUA: CRIATIVIDADE, SOBREVIVÊNCIA E LAZER
Relatório do projeto experimental como requisito para obtenção do título de bacharel em Comunicação Social, na habilitação Jornalismo no Departamento de Comunicação Social da UFPB.
Área de Concentração: Comunicação Social
Orientador: Prof. Dr. Wilfredo J.J. Maldonado Diaz
João Pessoa – PB
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB
CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTE - CCTA
DEPARTAMENTO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
ATA DEFESA DOS TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO
Aos _____ dias do mês de _____________ do ano 2012, realizou-se nas dependências do Departamento de Comunicação Social e Turismo da UFPB, a cerimônia de defesa do trabalho “REVISTA ARTEVIVA. ARTISTAS DE RUA: CRIATIVIDADE, SOBREVIVÊNCIA E LAZER”, habilitação Jornalismo, apresentado pela aluna HELOISA BELARMINO DE AMORIM, Matrícula nº 10723473. Examinado pelos professores:
Profº. Dr. Wilfredo J.J. Maldonado Diaz, orientador, (Nota: _____).
Profº. Dr. Dinarte Varela Bezerra, membro da banca, (Nota: _____).
Profº. Dr. José David Campos Fernandes, membro da banca, (Nota: _____).
Aprovada com média: _______
Na qualidade de presidente dos trabalhos, lavro esta ata, na qual dou fé e subscrevo.
João Pessoa, _____ de __________ de 2012.
PRESIDENTE DA BANCA
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB
CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTE - CCTA
DEPARTAMENTO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
DECLARAÇÃO DE AUTORIA
Discente: Heloisa Belarmino de Amorim
Matrícula: 10723473
Título do trabalho: Revista Arteviva. Artistas de rua: criatividade, sobrevivência e lazer.
Professor orientador: Wilfredo J. J. Maldonado Diaz
Declaro, a quem possa interessar, que o presente trabalho é de minha única e exclusiva
autoria e que responderei por todas as informações e dados nele contidos, ciente da definição
legal e das eventuais implicações.
João Pessoa, _____ de _________________ de 2012.
HELOISA BELARMINO DE AMORIM
ARTISTAS DE RUA: CRIATIVIDADE, SOBREVIVÊNCIA E LAZER
Relatório apresentado à Coordenação do Curso de Comunicação Social, habilitação
Jornalismo, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social
(Jornalista). Apreciada pela banca examinadora composta pelos seguintes membros:
Aprovado em ___ / ___ / 2012
COMISSÃO EXAMINADORA:
________________________________________________
Prof. Dr. Wilfredo J. J. Maldonado Diaz (Orientador)
________________________________________________
Prof. Dr. Dinarte Varela Bezerra (Examinador)
________________________________________________
Prof. Dr. José David Campos Fernandes (Examinador)
João Pessoa – PB
2012
RELATÓRIO DA REVISTA ARTEVIVA
ARTISTAS DE RUA: CRIATIVIDADE, SOBREVIVÊNCIA E LAZER
Aluna: Heloisa Belarmino de Amorim
Matrícula: 10723473
Orientador: Professor Wilfredo J. J. Maldonado Diaz
RESUMO: Este relatório foi concebido com o objetivo de detalhar a fundamentação
teórica e o processo de produção de uma revista impressa abordando a temática dos artistas
presentes nas ruas de João Pessoa. A revista traz entrevistas com artistas do setor de
artesanato, desenho e pintura, grafitagem e artes circenses. Desse modo, oferece ao público-
alvo uma alternativa de leitura que contribui para a valorização do trabalho desenvolvido por
esses profissionais, bem como, tenta resgatar a importância do seu valor histórico e cultural.
Palavras – chave: arte, cultura, entrevista, revista, jornalismo.
ABSTRACT: This report was conceived with the objective of detailing the theoretical
and production process of a print magazine addressing the theme of the artists present on the
streets of João Pessoa-PB. The magazine features interviews with handcrafts artists, drawing
and painting, graffiti and circus arts. Thus, it offers the audience an alternative reading that
contributes to the appreciation of the work done by these professionals as well as attempts to
rescue the importance of its historical and cultural value.
Keyword: art, culture, interview, magazine, journalism.
AGRADEÇO,
A Deus,
Por ter me dado o dom da vida e ter guiado todos os meus caminhos até hoje.
A minha mãe,
Um exemplo de perseverança e luta para que eu me espelhasse e nunca desistisse.
Ao meu pai,
Em especial, por ter me ensinado ainda em vida, todas as virtudes que o ser humano
deve ter: honestidade, amor ao próximo e respeito.
Aos meus irmãos e sobrinhos,
Que contribuíram com muito carinho acreditando no meu potencial.
Aos amigos,
Que sempre me apoiaram por acreditar no meu sonho e saber que eu estava no
caminho certo que escolhi para a vida profissional.
Ao professor Wilfredo Maldonado.
Que apesar das minhas dificuldades de tempo, horário e distância sempre esteve à
disposição nos momentos mais complicados.
Aos entrevistados,
Por demonstrarem interesse e compromisso.
Enfim,
A todos aqueles que de alguma forma fizeram parte da realização deste projeto.
SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO..........................................................................................08
2. INTRUDUÇÃO...............................................................................................09
3. OBJETIVOS.....................................................................................................10
3.1 Objetivos Gerais...........................................................................................10
3.2 Objetivos Especificos.................................................................................10
4. JUSTIFICATIVA............................................................................................11
5. DESENVOLVIMENTO..................................................................................12
5.1 Pré-Produção..............................................................................................12
5.2 Produção.....................................................................................................13
5.3 Pós-Produção..............................................................................................15
6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................18
6.1 Veículo Revista...........................................................................................18
6.2 Vantagens em relação a outros veículos de Comunicação..........................18
6.3 Gênero Entrevista.......................................................................................19
6.4 A Arte de Rua.............................................................................................21
6.5 A Cultura como Agente Social..................................................................22
7. METODOLOGIA............................................................................................24
8. CRONOGRAMA............................................................................................26
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................27
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................28
8
1. APRESENTAÇÃO
Este relatório corresponde ao projeto experimental revista Arteviva, “Artistas de rua:
criatividade, sobrevivência e lazer” que é o requisito para obtenção do grau de Bacharel em
Comunicação Social da UFPB, com habilitação em Jornalismo. A revista tem como
abordagem histórias de vida reais de artistas que expõem seus trabalhos de maneira informal
nas ruas da capital paraibana, tendo como público-alvo os pedestres que por eles passam
diariamente, estendendo sua distribuição, também, a todos os moradores de João Pessoa que
ainda não os conhecem a fundo.
Trata-se de uma publicação que objetiva valorizar os artistas locais e descriminá-los de
qualquer forma de preconceito, bem como, incentivar o consumo da produção gerada pelos
mesmos que podem variar desde uma apresentação teatral ao ar livre ou até mesmo a
confecção de acessórios utilizando matéria-prima extraída da própria natureza gratuitamente.
Através de textos leves, ilustrações e fotografias que repercutam fielmente a realidade
dos entrevistados, as publicações, em português, terão uma periodicidade semestral de
circulação na capital apresentando um formato diferenciado e criativo, que visa promover a
praticidade, manuseio e reflexão dos leitores para valorização de talentos ocultos
genuinamente paraibanos.
9
2. INTRODUÇÃO
Este projeto de revista impressa pretender apresentar aos seus leitores e,
conseqüentemente, à sociedade a face oculta dos artistas de rua encontrados nos grandes
centros da capital paraibana, João Pessoa.
Para muitos eles são vistos com preconceitos, pois são na maioria das vezes confundidos e
tratados como criminosos. Basta lembrar que muitas pessoas ao passarem por esses artistas na
rua agem de forma quase mecânica subindo seus vidros elétricos automobilísticos ou
simplesmente atravessam a rua para não passarem próximo por medo, ou ainda simplesmente
ignoram fingindo não ouvir e nem ver quem pede ajuda.
Enquanto esses artistas tentam mostrar seu trabalho com sensibilidade, as pessoas que por
eles passam demonstram total insensibilidade à cultura e arte local. Foi por tudo isso que
analisei ao passar em transportes coletivos ou mesmo particulares que optei para a valorização
dos artistas urbanos como forma de inseri-los no mercado de trabalho, ainda que informal, e
abordar a temática em revista com linha editorial específica voltada à cultura e a arte.
Essas pessoas oferecem o que tem de melhor e em troca, até recebem alguma gratificação
que muitas vezes só dá para repor o material gasto nas apresentações. No entanto, o que busco
ao divulgar esse tipo de trabalho é engrandecer esse tipo de arte ignorada por muitos.
É partindo da premissa de que todos são iguais perante a lei e possuem os mesmo deveres
e direitos, bem como, especificamente a um trabalho digno e honesto que através das
entrevistas realizadas com os artistas fiz um trabalho de resgate desses talentos mostrando
suas diferentes histórias de vida e suas dificuldades tão semelhantes encontradas nas ruas.
É um trabalho que desenvolvi de forma a ampliar e enriquecer os conhecimentos a cerca
da arte de rua com base em teóricos, pesquisadores e, principalmente, com a própria fonte. A
pesquisa pretende mostrar a riqueza da arte urbana e sua relação com a sociedade.
10
3. OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS
3.1 Objetivo geral:
Divulgar o talentoso elenco de artistas presentes nas ruas da capital paraibana.
3.2 Objetivos específicos:
• Mostrar como a arte pode levar entretenimento e diversão gratuitamente às pessoas
que transitam pelas ruas.
• Apresentar os novos “artistas de profissão” que foge do desemprego dos grandes
centros urbanos.
• Incentivar um novo olhar da sociedade sobre esses profissionais, valorizando-os e,
não, marginalizando-os.
• Exibir a gama de diferentes artistas espalhados pela cidade seja na área de dança,
música, teatro, grafitagem, pintura, escultura, etc.
• Chamar a atenção das autoridades competentes para a criação de políticas públicas de
valorização desses artistas seja no cenário político e/ou cultural de João Pessoa.
11
4. JUSTIFICATIVA
Os resultados que pretendo alcançar através da presente produção, que consiste na criação
e veiculação de uma revista impressa que irá retratar a realidade do cotidiano de artistas de
rua da cidade de João Pessoa, poderão ser apreciadas por estudantes e profissionais de
diversas áreas do conhecimento, como é o Caso da Comunicação Social, de um modo geral,
como também, por estudiosos das áreas de Sociologia, Serviço Social, Economia e afins.
A aglomeração de grandes talentos de rua num único espaço, a revista impressa, visa
acima de tudo prestar um serviço à sociedade através da publicação de matérias que além de
entreter terão um cunho de responsabilidade social. Mostrar a origem de determinado artista,
sua história de vida, incluindo família e carreira profissional, até seus dias atuais poderão
humanizar mais os leitores que são os mesmos que trafegam por onde esses artistas estão
presentes que passam despercebidos.
O importante não é apenas contribuir financeiramente, mas passar a valorizá-los como
cidadãos e, principalmente, trabalhadores de bem que infelizmente só não possuem a carteira
assinada. A iniciativa desse projeto também visa contribuir para a abertura de espaço de
divulgação dos trabalhos desses profissionais, sejam em eventos particulares ou grandes feiras
e projetos sociais patrocinadas pelos órgãos públicos.
12
5. DESENVOLVIMENTO
5.1 Pré-Produção
Definição da linha editorial e a estrutura da revista
Ao decidir fazer a revista Arteviva, minha preocupação inicial foi evidenciar os
artistas de rua numa linha editorial contrária ao óbvio das publicações locais e até mesmo
nacionais.
A ideia inicial e central seria falar sobre a marginalização dos artistas que vivem e
sobrevivem nas ruas de João Pessoa. No entanto, ao repensar a ideia inúmeras vezes e
compartilhá-la com algumas pessoas mais próximas, pude observar e ser alertada quanto ao
risco de uma possível redundância sobre o tema, pois este tipo de abordagem é o que
encontramos comumente quando se fala desses grandes personagens históricos ao mesmo
tempo que são nossos contemporâneos.
Na abordagem de marginalização evidenciaria a possibilidade de falta de políticas
públicas essenciais e específicas para esta classe de trabalhadores, a exemplo de inexistência
de local fixo para comercialização dos produtos dos artistas seja de qual natureza for ou da
falta de espaço durante todo o ano para sua participação em eventos que representem a
Paraíba diante cenário turístico-cultural nacional.
Diante disso, eis que exponho meu principal desafio: desenvolver uma revista onde
pudessem ser mostrados os artistas de rua de João Pessoa sob a ótica da valorização do ser
humano mediante qualquer situação, do ser integrante de uma família que através da arte
adquire o sustento para uma vida digna e honesta, bem como, do ser artista como peça
fundamental de reconhecimento, resgate e perpetuação da cultura e tradição local. Mostrar o
lado anônimo da história desses artistas que ainda é tão pouco explorado e divulgado pela
mídia.
Para iniciar a pauta da revista, tentei concentrar e lembrar das inúmeras localidades
que eu havia passado na cidade, seja de ônibus ou de carro, e de forma surpresa pude
reencontrar estes artistas na ruas.
Pela falta de previsibilidade, pontualidade, locais fixos e até mesmo pela falta de um
aparelho celular dos artistas foi obrigada a percorrer as ruas, principalmente do Centro de
João Pessoa, quase que diariamente munida de papel, caneta, gravador de voz e câmera
13
fotográfica. Sempre durante a semana em horários de maior movimento como o meio dia e
horário também do meu intervalo de almoço do trabalho, pois nos finais de semana era quase
impossível encontrá-los, visto que, a maioria deles viajavam com destino ignorado ou
simplesmente iam para praia do Litoral Norte vender seus produtos e mostrar sua arte aos
turistas.
Os desencontros foram mais frequentes do que os encontros. Quando eu estava
devidamente equipada eu não os encontrava e vice-versa. Alguns não queriam parar sua
atividade para simplesmente dar entrevista para um anônimo. Muitas vezes foi obrigada
apenas a observar e voltar para casa sem nada de concreto, porém com muitas ideias e
imaginações. Mas eu precisava da peça principal para concluir o meu trabalho, entrevistá-los,
mesmo que pra isso eu tivesse que comprar uma apresentação exclusiva. Isto aconteceu
algumas vezes.
Primeiro eu chegava sem nada nas mãos, estendia o braço para cumprimentá-los, me
apresentava e somente em seguida eu registrava algo. Alguns artistas eu tive que me encontrar
mais de uma vez até eu conquistar a confiança por completo.
5.2 Produção
Coleta de informações
Especificado o conteúdo da revista, iniciei o processo de coleta de informações. Antes
de ir a campo, tentei fazer contatos prévios, primeiramente, com o objetivo de garantir as
pautas que planejei para em seguida agendar as visitas e entrevistas.
No primeiro momento, entrei em contato com as assessorias de comunicação da
Secretaria de Estado da Cultura da Paraíba (Secult) e com a Fundação Cultural de João Pessoa
(FUNJOPE) e ambas me informaram que no momento estavam realizando um trabalho de
catalogação de artistas paraibanos. Por não terem ainda nenhum dado concreto e fugir de
qualquer influência política resolvi por bem ir a campo sozinha para descobrir com meus
próprios olhos quem realmente me encantaria e me surpreenderia num segundo momento
durante entrevista.
- Entrevista ao hippie “Bené”
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Minha primeira abordagem foi a um senhor de olhar pacato e sereno que diariamente
estava sentado ao lado de um tabuleiro de bijouterias artesanais no Parque Solon de Lucena, a
Lagoa. Suas roupas tradicionais e sua aparência bem cuidada contrastavam com o estereótipo
de um autêntico hippie. Após horas de conversa sentados no banco da praça consegui uma
entrevista emocionante e saudosista. As fotos foram feitas por mim num momento de
distração do entrevistado que apesar de muito falante era tímido diante das câmeras.
- Entrevista ao desenhista e pintor Wallace
Para a matéria sobre o artista e suas múltiplas atividades, entrei em contato com o
produtor do Programa Feminíssima da Tv Tambaú - SBT, Wagner Nascimento, que me
sugeriu entrevistar o jovem pintor, desenhista e balconista de hotel. Um jovem dinâmico que
frequentemente participava do programa e por tanto talento prendia a atenção dos
telespectadores.
Não hesitei e acatei a sugestão. Por telefone marquei nosso encontro e o mesmo
sugeriu no mercado Público do bairro de Mangabeira, pelo motivo do mesmo morar nas
proximidades. No local combinado, ele me contou um pouco da sua história de vida e levou
parte do seu acervo de pinturas e desenhos. Pela internet conheci melhor o seu trabalho
através das peças pintadas a óleo de pontos turísticos de João Pessoa, peças bem valorizadas
por artistas principalmente estrangeiros. As fotos foram repassadas pelo próprio artista do seu
acervo pessoal.
Apesar de aparentemente não apresentar perfil de artista de rua, o jovem é um exemplo
de como as novas tecnologias de comunicação tem transformado até mesmo as formas de
comercialização dos produtos, pois o mesmo expõe e revende sua arte em grande quantidade
nas redes sociais. Pela experiência que obteve nas ruas, Wallace considera o ambiente externo
hostil e desvalorizante, pois afirma que a sociedade não considera o suficiente e impõe o
preço dos produtos não sendo justo na maioria das vezes.
- Entrevista ao grafiteiro “Múmia”
No terceiro momento, fui à rua busca de uma arte mais marginal que enfrentasse até
hoje preconceitos explícitos de grande parte da sociedade. Nos corredores da Universidade
Federal da Paraíba, mais especificamente no Departamento de Comunicação – DECOM,
15
comumente encontramos imagens exóticas grafitadas com o intuito de nos chamar atenção
para alguma mensagem implícita na maioria das vezes.
Foi através de um amigo em comum que consegui o contato do artista contemporâneo,
como gosta de ser chamado todo artista que desenha com grafite em paredes. E ao final de
uma tarde, o artista de rua me telefona para dizer que estava fazendo seu último trabalho na
Capital antes de passar um tempo fora por motivos particulares. Sorte ou não, consegui chegar
a tempo e o entrevistei no meio do seu trabalho que se tratava de uma homenagem ao seu
filho que deixaria temporariamente. As fotos foram feitas por mim.
- Entrevista a família circense “Los Iranzi”
Para a matéria da família circense, fui diretamente ao Teatro Santa Roza, Praça José
Américo, para agendar entrevista, pois eu só os conseguia ver raramente em apresentações
rápidas nos semáforos de trânsito. Inicialmente, fui até lá para marcar uma entrevista.
Contudo, já na primeira visita, fechei a matéria. No momento a filha mais velha do casal
ensaiava balé e os outros dois irmãos mais novos estavam na escola. Quando a filha terminou
sua aula, todos nós nos reunimos embaixo de um pequeno anfiteatro e conversamos por horas.
As fotos foram retiradas do facebook da família, do blog da família e outras por mim em
apresentações.
5.3 Pós-produção
Construção do layout da revista e diagramação
Para a realização desta revista, foi utilizado o programa Corel Draw X5. Pensando em
um formato prático, para facilitar o manuseio por parte dos leitores, a Arteviva foi
desenvolvida no formato A4 (29,7 x 21,0 centímetros), somados a 8 milímetros de margens
em todas as extremidades. Porém, a margem entre colunas e textos ficou com 6 milímetros.
Cada página foi dividida em três colunas para facilitar a diagramação e, assim, tornar a revista
mais atraente.
Uma página é editada para que não pareça enunciar nada além da importância que as notícias isoladas (os enunciados) têm para a realidade – se há tantas notícias díspares, nada poderia uni-las naquele espaço a não ser sua relevância. (PEREIRA JUNIOR, 2006, p. 98)
16
Por se tratar de uma revista de artistas de rua, tive o cuidado de dar ênfase às imagens,
sobretudo dos atrativos apresentados. Logo, defini dispor textos e fotos no formato paisagem
e retrato – na horizontal e vertical. Explorei cores para tornar o layout da revista mais
dinâmico, aproximando as tonalidades aos assuntos das matérias. As ilustrações despontaram
como um desafio na diagramação, já que o espaço da revista é restrito e não podia tornar a
disposição dos textos e fotos pesados com a presença delas e, assim, deixar o leitor confuso.
Elas foram feitas à mão em carbono e papel ofício, depois scaneadas numa multifuncional e
repassadas para a diagramação.
A família de fontes utilizadas foi: Garamond, no tamanho 11pt, para o corpo do texto;
Berlin Sans FB Demi para os títulos das reportagens com tamanho variando entre 24 e 48 pts;
Agency FB, tamanho 88 para o nome da revista e Arial Rounded MT Bold em tamanho 10
para os textos anexos ao nome da revista na capa. Nas chamadas foi utilizada a fonte Arial
Rounded MT Bold tamanho 18. Para o melhoramento da qualidade das fotos foram
realizados ajustes de brilho, contraste e intensidade utilizando o programa Corel Photo Paint.
Na contra-capa foi utilizado o texto “Sua majestade, o artista de rua” do escritor
Leonardo Távora, extraído do blog literaturaexposta.blogspot.com.br. Postado no dia 13 de
maio de 2010, o texto foi publicado na revista Arteviva em fonte Arial Rounded MT Bold,
tamanho 9 no corpo do texto e para o título vertical, tamanho 32. As imagens, nesta página,
foram de domínio público de artistas de rua de diferentes partes do mundo.
É importante destacar que evitei o excesso de fontes e cores para não haver confusão
na imagem. Optei por preservar a coerência, simplicidade e a limpeza nas páginas
diagramadas com áreas brancas, mais conhecidas como “áreas de respiro” para preconizar as
regras da boa diagramação.
Diagramar é tomar posição. Todo design gráfico, cada planejamento visual da página impressa, emite informação sobre o material diagramado e a identidade de quem distribuiu os elementos no espaço daquela maneira, não de outra. (PEREIRA JUNIOR, 2006, p. 98)
Neste caso, o que denomino de boa diagramação seria a simplicidade no visual da
revista, a importância atribuída ao valor cultural de casa matéria, a harmonia entre textos e
fotos, a proporção dos espaços e o equilíbrio da tipologia utilizada.
Algumas fotos foram gentilmente cedidas pelos próprios artistas, as demais foram
retiradas por mim utilizando uma Nikon D90 (18 – 105mm). A foto de capa foi retirada da
17
internet. Trata-se de uma grafitagem em parede alterada com recurso de Outline Trace no
Corel Draw X5.
Inicialmente, a diagramação da revista foi feita pela estudante Ivson Lira, mas com o
decorrer dos meses foi necessário fazer alguns ajustes de acordo com a correção dos textos e
fotos. Por isso, teve que ser finalizada pelo design Kléber Barros que aceitou o convite e com
minha colaboração finalizamos o projeto gráfico da Arteviva juntos.
18
6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
6.1 Veículo Revista
Na sociedade atual, a revista é um dos veículos de comunicação que mantém o leitor
mais bem informado sobre determinado assunto específico, pois neste caso é o próprio leitor
que escolhe seu assunto preferido diferenciando-o de tantos outros assuntos e segmentos
disponíveis, bem como, os autores dos textos possuem uma maior liberdade para apurar e
descrever fatos com riquezas de detalhes.
De acordo com Scalzo (2003, p.14), a revista une e funde entretenimento, educação,
serviço e interpretação dos acontecimentos. Possui menos informação no sentido clássico (as
“notícias quentes”) e mais informação pessoal (aquela que vai ajudar o leitor em seu
cotidiano, sem sua vida prática). Este fato diferencia a revista de outros veículos de
comunicação que são mais superficiais e efêmeros, tais como: a televisão, o rádio e os jornais
impressos diários.
Ainda para Scalzo (2003, p.11) uma revista é um veículo de comunicação, um produto,
um negócio, uma marca, um objeto, um conjunto de serviços, uma mistura de jornalismo e
entretenimento.
A revista apresenta característica consultiva de não efemeridade e destinada a um
público específico de uma determinada classe social, idade, ideologia e religião.
6.1.1 Vantagens em relação a outros veículos de comunicação
Numa revista os critérios de clareza, ritmo e realce, ênfase é que determinarão, como
já foi dito, a escolha que deve ser feita num contexto determinado. Como qualquer outro
texto, o de revista se caracteriza pela correção gramatical. Um lazer que mistura sedução,
necessidade de haver personagens, “espetáculos”, etc. Além dessas, há uma outra que
devemos discutir em separado: a liberdade. (VILAS BOAS, 1996, p. 34).
A liberdade de escrita, independente, sem servir a veículos de comunicação de cunho
político ou econômico, faz de algumas revistas um dos meios menos alienantes e mais
formador de opinião, pois se trata em sua maioria de relatos na íntegra feita através de
citações ou de entrevistas.
A linguagem utilizada em cada entrevista é menos formal e mais coloquial pelo
motivo de objetivar atingir a um público que varie em todos os níveis intelectuais.
19
O caso das revistas informativas, e até mesmo das ilustradas e especializadas, não é diferente. Cada um tem seu estilo, seu modo de ser, sua linguagem. Não raro, esta linguagem é definida pelo tipo de leitor que se quer atingir. A linguagem das revistas semanais de informação geral, muitas vezes, é definida pelo modo de “angular” a matéria, de redigir o texto e pelo ponto de vista predeterminado. (VILAS BOAS,1996)
6.2 Gênero entrevista
A escolha do gênero entrevista para iniciar a produção do trabalho foi essencial para sua
confecção com pureza, fidelidade e realidade, abordando uma linguagem ao mesmo tempo em
que era coloquial era, também, íntima.
De acordo com Lage (2005, p.73), “entrevista é o procedimento clássico de apuração de
informações em jornalismo. É uma expansão de consultas às fontes, objetivando, geralmente,
a coleta de interpretações e a reconstituição de fatos”.
Não teria como fazer uma revista sobre artistas de rua sem adequar-se a sua forma de
falar para tentar entender o mundo de cada um e sua vivência. Livre de conceitos pré-
estabelecidos ou julgamentos, procurei no primeiro momento ouvir mais do que falar e/ou
comentar para não interromper o depoimento do entrevistado, bem como, não influenciar seu
raciocínio muitas vezes único e emocionante.
Dentre os diversos tipos de entrevista (ritual, temática, testemunhal e em
profundidade), resolvi escolher esta última, visto que, a fonte maior de todas as informações
de onde partiria a construção da matéria, seria oriunda do próprio entrevistado.
O objetivo da entrevista aí, não é um tema particular ou um acontecimento específico, mas a figura do entrevistado, a representação de mundo que ele constrói, uma atividade que desenvolve ou um viés de sua maneira de ser, geralmente relacionada com outros aspectos de sua vida. (LAGE, 2005, p.75).
A experiência de vida, o conceito, a dúvida ou juízo de valor do entrevistado
transformam-se numa pequena ou grande história que decola do indivíduo que a narra para se
consubstanciar em muitas interpretações. (MEDINA, 1995, p.6).
Procurei a melhor forma de entrevistá-lo sem deixar notá-lo que se tratava de um
trabalho sério e de possível repercussão, pois alguns quando enxergavam gravador e máquina
fotográfica ficavam apreensivos e com dúvidas da procedência da entrevista e do
entrevistador. Para amenizar tal desconforto passei primeiro a usar o diálogo, envolver o
20
entrevistado, antecipando neste momento crucial informações importantíssimas para que em
um segundo momento eu pudesse apertar o “rec” e então começar a gravar oficialmente.
Por isso, as circunstâncias de realização das entrevistas variaram do ocasional a
dialogal. Na primeira forma, as entrevistas não foram programadas e o entrevistado quando
questionado sobre determinado assunto respondia sem ter sido preparado previamente o que
gerou respostas de maior veracidade e relevância.
No entanto, as entrevistas programadas fizeram com que o entrevistado se preparasse
mais, num local marcado e assim também foi possível um aprofundamento maior de detalhes.
O ponto em comum aos dois tipos de entrevista foram suas realizações presenciais sem a
mediação por telefone ou email, o que descaracterizaria o processo de humanização contido
nos depoimentos dos artistas.
Para Lage (2005), a proximidade física permite uma aferição de respota – um
Feedback – rápida, visual e auditiva, corriqueira, a que nos acostumamos desde pequenos e
que nos dá maior segurança.
De acordo com Medina (1995, p.7) sua menor ou maior comunicação está
diretamente relacionada com a humanização do contato interativo: quando, em um desses
raros momentos, ambos – entrevistado e entrevistador – saem “alterados” do encontro, a
técnica foi ultrapassada pela “intimidade” entre o EU e o TU.
Para evitar esse tipo de envolvimento me preparei com antecedência antes de fazer as
entrevistas tentando conhecer com as fontes possíveis os entrevistados. Os que possuíam mais
fama na cidade procurei seus trabalhos em sites, blogs e até mesmo redes sociais como
facebook. No entanto, a cada entrevista era surpreendida com a riqueza das histórias de vida e
profissão. Alguns fizeram da arte sua profissão por paixão e vocação, outros, mesmo não
assumindo, por falta de qualificação adequada.
Evitar opinar foi um dos meus pré-requisitos para que o trabalho tivesse absoluto
aproveitamento. No entanto, em certos momentos foi quase impossível não me comever
diante de tantas histórias alegres e tristes de superação.
O preparo do entrevistador vai, a partir de então, encaminhar a pauta. Se ele não tiver
um repertório generalista acumulado – uma visão social, do político, do econômico,
sensibilidade e conhecimentos acerca dos fatos culturais –, terá de fazer esforço imediato para
se atualizar. (MEDINA, 1995, p. 28).
Apesar de tudo isso eu não podia deixar de salientar o principal, comum a todos os
entrevistados: o perfil humano. Para Medina (1995, p. 51) o depoimento desceu ao subsolo do
21
entrevistado, afloraram traços de sua personalidade, revelaram-se comportamentos, valores. É
a humanização conquistando um espaço na comunicação coletiva.
Por fim, após sair com a pauta, fazer as entrevistas e ficar com um volume enorme de
informações a parte final foi organizar todas as ideias. Primeiro ouvi as gravações e passei
tudo para o papel, organizei o lead, depois os parágrafos e conclui com o título. “E é preciso
resgatar essa energia que vem do próprio ser humano tomado como fonte de informação para
uma entrevista” (MEDINA, 1995, p.82).
De posse das entrevistas, eu poderia redigi-las sob três ângulos: a entrevista tratada
como notícia onde eu poderia destacar os fatos mais relevantes e redigir um lead tradicional,
usar um conjunto de perguntas e respostas mais conhecida como entrevista “pingue-pongue”
ou ainda aproximá-las de um texto de revista, mais perfil.
Por considerar a entrevista perfil mais adequada ao texto de revista, optei por esta
última. Logo, iniciei algumas delas como um relato circunstancial, um resumo biográfico ou
alguns questionamentos. Inicialmente pode aparentar uma redação de nível fácil, mas não é,
pois “ausência de fórmula implica maior dificuldade de redação e necessidade de muitas
informações complementares”. (LAGE, 2005, p. 85).
6.3 A Arte de Rua
O conceito de artista para Michaelis (1998, p. 230) é aquele que faz da arte meio de
vida. O que revela sentimento artístico. Artesão, artífice. Em face da lei, é o bailarino, o
músico, artista de teatro, circo e variedades [...].
Portanto, ao unirmos a definição acima com a expressão “artistas de rua” podemos
considerar que é todo aquele que se apresenta em locais públicos para divulgar seu trabalho e
levar entretenimento para todas as pessoas. Engloba-se todo o tipo de diversão que vai desde a
dança, apresentações musicais, recitais poéticos até mesmo pequenos truques com animais e
acrobacias com fogo.
Por outro lado, é preciso ter cuidado para não confundi-los com os famosos e antigos
saltimbancos da ficção cinematográfica que os considera indivíduo que nas praças públicas
apresenta as suas habilidades, diz facécias, vende drogas, etc. Artista circense.
(MICHAELIS, 1998, p. 1884). No entanto, a linha editorial da Arteviva compreende esses
22
artistas que tratam a arte de rua como profissão que na maioria das vezes a gratificação que
recebem pagam apenas a manutenção dos seus instrumentos de trabalho.
Logo, nossos artistas de rua seriam semelhantes aos “Os Saltimbancos” de Enrique
Martinez e Chico Buarque. Quatro animais muitos diferentes entre si (o jumento, a galinha, o
gato e o cão) buscam um ideal para suas vidas: escapar da opressão de seus donos e derrotar
toda a forma de tirania. Por isso, fogem para a cidade em busca de seus sonhos e de
reconhecimento. (BUARQUE, 2002).
Para retratar a vida dessas pessoas que muitas vezes passam despercebidas ainda não
existe um acervo de livros e sites sobre o assunto específico disponível. A dificuldade em
encontrar esse material prejudicou parcialmente a plena fundamentação teórica desse projeto,
visto que, a importância e relevância de produções jornalísticas como esta sobre o assunto.
6.1.1 A Cultura como agente social
Joost Smiers, em Artes sob Pressão (2003) afirma que a arte é questionável, pois o que
pode ser belo e alegre para um pode não ser para outro. Além disso, as pessoas raramente
concordam sobre o que consideram bom no teatro, no cinema, na dança, na música, nas
artes visuais, no design, na fotografia ou na literatura.
De maneira geral, falta apoio financeiro para certas formas de arte, enquanto outras obtêm fundos em abundância para produção e distribuição. Certas criações artísticas podem ser elogiadas à exaustão ou serem completamente ignoradas pelo público. E com freqüência, parece que esse tipo de apoio, ou falta de apoio, pouco tem a ver com qualidade ou falta de qualidade que se poderia imaginar. (Joost Smiers, 2003).
Dentre várias definições de cultura Michaelis (1998, p.623) descreve que ela é estado
ou estágio do desenvolvimento cultural de um povo ou período, caracterizado pelo conjunto
das obras, instalações e objetos criados pelo homem desse povo ou período; conteúdo social.
Portanto, podemos considerar que a cultura de cada povo está diretamente relacionada à
sua origem, costumes e tradições, bem como, a sua propagação e perpetuação vai depender da
consideração e valorização dos seus descendentes sem considerar uma superior a outra.
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Assim, o grafiti, o artesanto, a música, a pintura, o desenho, a arte circense e todas as
outras formas de expressão artística popular devem ser considerados relevantes para
construção da civilização e cultura de uma sociedade ao longo das gerações.
24
7. METODOLOGIA
Comecei redigindo um Editorial opinativo, bem fundamentado, com o objetivo de cumprir
o papel social da profissão que é informar ao leitor os fatos da vida real, sem deturpações, e
poder ter, conseqüentemente, a liberdade de comentá-los. O objetivo de ser imparcial não
prevaleceu sobre os textos opinativos que estão presentes no conteúdo da revista. Apesar de
ser lúdica na narrativa e alguns momentos, a informação de qualidade e verídica não deixou
de ser interpretada e repassada com ética.
Com uma linha editorial baseada na diversidade cultural e artística da cidade João Pessoa,
a Revista Arteviva é uma publicação inovadora voltada o público jovem e adulto formador de
opinião do país. A revista tenta buscar o novo, através de histórias reais que representem bem
o cotidiano de artistas anônimos. Destina-se ao leitor crítico, que busca sempre encontrar
questões que gerem discussões e possa absorver parte do conteúdo aos seus valores e vivência
de mundo.
A revista é composta por reportagens mais extensas, pois tem o objetivo de mostrar de
uma maneira biográfica a história de vida dos artistas de rua. Em alguns momentos a narrativa
parece mais amena, ora mais divertida ou séria. No entanto, todas elas têm um caráter
interpretativo, mais explicativo e contextualizando. Não esquecendo que acima de tudo o
gênero informativo se sobrepõe aos demais. Os gêneros opinativos, informativos e
interpretativos serão bastante utilizados, juntos a algumas técnicas de entrevista, mesclado a
linguagem do jornalismo literário.
Foram publicadas quatro entrevistas com palhaços, pintor e desenhista, grafiteiro e hippie,
em tamanho A3, com papel couchê, colorido, ilustrado com fotografias dos personagens.
Ouvi bem as fontes, demonstrei interesse pelo que relataram, confrontei informações, ouvi
conhecidos dos entrevistados, foram algumas das atividades. A apuração foi feita de forma
séria, com muitas entrevistas, consultas, investigações, envolvimento com a fonte para lhe
passar segurança e dessa forma os leitores terem todas as informações necessárias.
A descrição de detalhes particulares da vida dos personagens de forma criativa e
aprofundada é um diferencial no registro da vida dessas histórias reais. Esta também é uma
característica proporcionada pelo meio impresso, por isso foi o formato escolhido. Outro fator
que contribuiu para a escolha do meio impresso foi à falta de espaço na mídia atual e assim,
tentei preencher uma lacuna sobre segmentos de revistas alternativas. É um novo formato de
expor críticas e dar espaço a cultural local, pois o que se tem nas publicações é destinado ao
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setor da moda, design, arquitetura e decoração, comportamento, entretenimento, construção
civil e setor imobiliário, bem como, editoria exclusivamente política.
Levar informação sobre o que as pessoas não sabiam, de forma atual, clara, que valorize a
notícia e prenda o leitor ao o final da leitura da reportagem de forma emocionante são
objetivos que pretendo continuar desenvolvendo a partir desta experiência. Afinal, eles
precisam saber que não estão fora daquele contexto e que de alguma forma também fazem
parte ou contribuem para aquele universo “esquecido” ou marginalizado dos artistas de rua.
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8. CRONOGRAMA
Maio, Junho e Julho/2012
Leitura e fichamento de obras. Pesquisa e análise de filmes, livros e revistas que exibissem as características dos artistas de rua.
Agosto/2012
Entrevista com os personagens sobre a temática pesquisada, a partir dos objetos encontrados durante o período de leitura e análise. Construção dos textos informativos a partir dessa etapa.
Setembro/2012
Questionamento junto a historiadores e professores com o objetivo de identificar os fatores sociais, culturais e físicos que tiveram influencia sob os artistas de rua. Introdução e adaptação dessas referências aos textos.
Outubro/2012 Revisão final dos textos e fotografias, formatação e impressão da revista.
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9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A revista Arteviva tinha como objetivo revelar o que são os verdadeiros artistas de rua,
sua origem, sua história de vida pessoal, profissional e seus anseios para o futuro. Divulgar o
cotidiano deles, numa outra ótica abordando as questões estéticas, sociais, políticas,
ideológicas e históricas são alguns dos objetivos da revista. Dessa forma, será possível romper
com os preconceitos e marginalização que são tratados pelas autoridades político-econômica
do país, bem como, pelos próprios transeuntes.
A utilização de entrevistas e de técnicas de jornalismo de revista fizeram com que
praticamente todos os aspectos que envolviam a temática estudada fossem amplamente
analisados e apresentados ao leitor de forma leve e dinâmica, por conta dos artifícios gráficos,
estéticos e estruturais oferecidos por esse segmento jornalístico.
Em relação à temática abordada fica a sensação de inconformismo de que muito ainda
poderia ser explorado de acordo com as necessidades de cada artista entrevistado. Sabe-se que
os quatro entrevistados apenas nos dão uma margem de como a categoria trabalha e é
desvalorizada. No entanto, seria preciso fazer um mapeamento em toda a Cidade, com a ajuda
inclusive de órgãos competentes, para identificar seus pontos de atuação e, consequentemente,
suas respectivas necessidades para o desenvolvimento de políticas públicas de incentivo. De
todo modo, analisar de maneira generalizada baseada apenas nos entrevistados seria uma
catalogação errônea e superficial.
A proposta da revista é ser um espaço aberto para a divulgação dos trabalhos artísticos dos
artistas de rua, pois na atualidade da mídia paraibana as revistas especializadas em sua
maioria são focadas para esporte, moda, comportamento, entretenimento e decoração. A partir
da primeira publicação, as posteriores poderiam ser mais focadas na análise social, histórica
ou psicológica de cada entrevistado. Também poderiam ser analisados os perfis técnicos e
estéticos de cada artista, bem como, diversas outras abordagens relacionadas a obras de outros
artistas e estudiosos.
As propostas citadas anteriormente tiveram que ser relativamente contidas durante alguns
pontos do estudo e redação das matérias. Porém, algumas delas por despertar interesse,
curiosidade e ainda o pensamento jornalístico do poder de transformação social através do
esclarecimento e desmistificação de ideias, as novas análises e pesquisas poderão ser
realizadas em novos momentos com futuras oportunidades.
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10. REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUARQUE, Chico. Os Saltimbancos. 1ª Edição. Rio de Janeiro: José Olímpio, 2007.
LAGE, Nilson. A Reportagem. Teoria e Técnica de Entrevista e pesquisa jornalística. 5ª Edição.Rio de Janeiro/ São Paulo: Record: 2005.
SCALZO, Marília. Jornalismo de revista. 3ª Edição. São Paulo: Contexto, 2006.
MEDINA, C. Entrevista, o diálogo possível. São Paulo: Ática, 1990.
MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1998.
NASCIMENTO, Patrícia Ceolin. Jornalismo em revistas no Brasil: um estudo das construções discursivas em veja e manchete. São Paulo: Annablume, 2002.
PEREIRA JUNIOR, Luiz Costa. Guia para a edição jornalística. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
SMIERS, Joost. Artes sob Pressão: promovendo a diversidade cultural na era da globalização. São Paulo: Escrituras, 2006.
VILAS BOAS, Sérgio. O Estilo Magazine. O Texto em Revista. São Paulo: Sommus Editorial, 1996.
Textos disponibilizados na Internet:
http://obviousmag.org/archives/2005/08/arte_de_rua.html Acesso em: 26.07.2012
http://obviousmag.org/archives/2009/12/graffitis_pintura_classica.html Acesso em:
26.07.2012
http://blogartistaderua.blogspot.com.br/2012/04/e-quem-e-artista-de-rua.html Acesso em:
30.04.2012
http://artistaderua.com/ Acesso em: 04.04.2012
http://teatroderuaeacidade.blogspot.com.br/2012/01/associacao-quer-brecar-artistas-de-
rua.html Acesso em: 25.06.2012
ARTEVIVAEdição nº 01 | Out 2012
ARTESANATOComo sobreviver nas ruas
CIRCOA vida de uma família circence nas praças
GRAFITEProtesto e arte em linhas e cores
PINTURA E DESENHOEm busca de um reconhecimento pela arte
Artistas de rua: criatividade,
sobrevivência e lazer
Heloisa AmorimEstudante de [email protected]/heloisaamorim
Revista Arteviva
Reportagens: Heloisa Amorim
Edição de texto: Heloisa Amorim
e Profº Wilfredo Maldonado
Fotografia: Heloisa Amorim
Ilustrações: Kléber Barros
Diagramação: Kléber Barros,
Ivson Lira e Heloisa Amorim
Expediente
Dados Técnicos
Impressão: Policromia
Tiragem: 10 exemplares
Formato: A4
Papel: Couchê
Índice
4Família Los Iranzi: Os Mambembes que nasceram para brincar
6Grafite Não. Arte Contemporânea
8Bené: O Hippie que sonhava ser médico
10Um artista de múltiplasfunções
esde o início das civilizações se tem conhecimento que existem artistas de rua para alegrar os que por elas passam, bem como, reverter essa irreverência em poucos trocados.
Para fazer a alegria de um “palhaço”, custa pouco ou quase nada. O difícil é fazer com que a sociedade atual reconheça-os como tal sem descriminar seus trabalhos e confundi-los com marginais.
Pais de família, trabalhadores como outro qualquer, com uma grande diferença: nasceram com aptidão para serem artistas e mesmo diante das dificuldades encontradas não fogem ao que está no sangue, na veia: a criatividade.
E foi para dar um pouco mais de espaço aos artistas das ruas de João Pessoa que esta revista foi idealizada pouco a pouco, dia a dia quando fui encontrando-os, muitas vezes casualmente, nas ruas, praças, semáforos e até mesmo nas redes sociais.
O resultado foi surpreendente para mim como estudante, profissional e, principalmente, cidadã. Lições de vida e expressões faciais através de depoimentos emocionantes que jamais poderei apagar da memória.
Nesta 1ª edição da Revista Arteviva você vai encontrar a arte circense com a irreverência da Família Los Iranzi, o depoimento emocionante do hippie “Bené”, a expressão impactante do grafite do jovem “Múmia” e os desenhos e pinturas do talentoso Wallace.
Escrever tantas histórias em tão pouco espaço foi uma missão difícil, mas este pouco mostrará a grandiosidade de muitos deles ainda ofuscadas. Convido-os para viajarem comigo em cada história particular desses personagens da vida real com suas alegrias e tristezas, realizações e ainda muitos sonhos a conquistar.
D
Família Los Iranzi: Os Mambembes que nasceram para brincar
o país do futebol como é o nosso Brasil, a mistura de brasileiros e argentinos talvez não resultasse em nada pacífico. No entanto, eis que há o surgimento de uma feliz e circense família com cinco integrantes de verdadeiros palhaços, ou melhor, como preferem ser chamados: “família de brincantes”.
Com o objetivo de conhecer outras culturas e trocar experiências, mochileiros artistas da América do Sul costumam percorrer os países levando sua arte, malabares e pirofagia para semáforos e praças das cidades por onde passam.
E foi este ponto comum que uniu o palhaço “Chumbinho” (Júnior Iranzi) e a palhaça “Mamadeira” (Viky Iranzi). Mas antes de constituírem uma família eles tiveram vidas distintas bem tradicionais e ligadas ao “sistema”, como costumam dizer.
Ela terminava administração de empresas e trabalhava em um banco da Argentina. Cansada da rotina de trabalho e consumismo exacerbado, Viky veio ao Brasil de férias quando tinha apenas 25 anos. Encantada com tamanha beleza natural das praias nordestinas, ela logo desistiu de voltar e fixou residência na Praia de Pipa (RN).
Para tirar seu sustento, Viky passou a vender bolos e fazer artesanato. Até que conheceu o jovem surfista aventureiro e funcionário de uma pousada, o Júnior. Ele também trabalhou como funcionário de um escritório, mas sempre sonhou em ser livre e viver da arte.
Com tantos sonhos em comum eles iniciaram um romance de natureza bem sólida. Diferente da família da Viky, que não apoiou sua mudança de vida, a mãe do Júnior que tinha veia artística, pois era cantora de seresta, sempre o incentivou à cultura e a música.
E aquele casal que sonhava visitar MachuPichu (Peru), enfrentou grandes desafios que deixou seu relacionamento mais forte e mudou o rumo da história de suas vidas. Neste percurso incerto encontraram vários artistas, também de rua, que sobreviviam exclusivamente da apresentação artística em semáforos.
Logo, aprenderam a fazer malabares, andar em pernas de pau, fazer pirofagia e o principal, fazer as pessoas sorrirem na encenação teatral. E nesse mundo mágico e encantador, pouco a pouco foram nascendo os frutos dessa alegria: a primogênita “Jujuba” (Luana Iranzi), depois “Espoleta” (Pedro Iranzi), e por último a “Conchinha” (Manuela Iranzi).
E assim nasceu a Família Los Iranzi, na estrada há mais de 12 anos, levando alegria aos vilarejos mais remotos e as crianças que nunca viram sequer um palhaço. “Muitas vezes eles não tem dinheiro para nos pagar, mas são acolhedores, oferecem suas casas, refeições e às vezes até mesmo um feijão com arroz.
4
N
O sorriso, as palmas, os agradecimentos são tudo mais emocionante e compensador do que quando passamos o chapéu”, diz a jovem palhaça Jujuba (Luana, 15 anos).
A satisfação em que a jovem narra as mais diferentes histórias inusitadas vividas pela família impressiona. Sem nenhum questionamento “Jujuba” se antecipa e revela que está se preparando para ser uma grande artista junto aos pais e assim que completar a maioridade ela não vai fazer apenas apresentações teatrais, mas também, levar sua arte as ruas e semáforos. “Nosso público está na rua e é para lá que devemos ir”, enfatiza a jovem.
Por enquanto, os três filhos do casal, por meio de bolsas, fazem aulas gratuitas de balé, no Teatro Santa Roza, e aulas de teatro e oficinas de circo no Teatro Piollin que tem os ajudado nas performances dos espetáculos.
Residem no bairro de Jaguaribe, em João Pessoa, há apenas 4 anos, e o último domicílio da família foi em uma comunidade alternativa na praia do Ceará. Lá não tinham televisão e faziam a comida com fogão movido a energia solar. “Tínhamos uma vida muito simples, mas com muita cultura através da leitura de livros e cantadas ao redor da fogueira que costumávamos acender todas as noites”, revela o pai da família, Júnior. Desde então, este foi um dos motivos que alimentam o sonho da família de poder levar arte às pessoas que vivem isoladas.
Os Los Iranzi aperfeiçoaram sua arte pouco a pouco com grandes mestres, entre eles Bonguide da Companhia Carroças de Mamulengo do Ceará. A companhia é formada por um casal que tem 9 filhos e uma bagagem de mais de 30 anos de estrada.
Atualmente a Família Los Iranzi mantém dois espetáculos montados. O primeiro deles, “De volta ao picadeiro” conta a história de pessoas comuns que se transformam em palhaços.
Em cartaz há 8 anos a apresentação já sofreu algumas adaptações tendo o nome inicial de “Caixa Mágica”. Já o segundo, mais bem elaborado, com direção e roteiro baseado em obras de Lúcia Ramalho e Shakespeare, a Família Los Iranzi encena “Tomara que não chova". O espetáculo marcado por poesia, música e muita palhaçada,
retrata a história de uma família circense que tem seu circo queimado e para não parar a jornada de palhaçada segue pelo mundo numa carroça.
Em João Pessoa participaram de campanhas institucionais, sindicais, hospitalares, festivais de cultura de nível nacional e internacional.
Em 2011 foram contemplados com o prêmio do Fundo Municipal de Cultural (FMC) e participaram do Circuito Cultural das Praças da Prefeitura Municipal de João Pessoa. No decorrer do ano passado participaram também do dia Internacional do Teatro e Circo realizado pela FUNESC.
“Apesar das inúmeras dificuldades financeiras que passamos tentando viver exclusivamente da arte, e hoje posso dizer que conseguimos. Mesmo com as apresentações privadas, o nosso lugar mesmo são nos semáforos e praças”, destacou Júnior.
Apesar do reconhecimento e potencial artístico, ainda são confundidos com marginais e pedintes por alguns. “Essas coisas não nos desmotivam. Em meio às apresentações cronometradas nos semáforos com nossos malabares o que importa são os sorrisos que proporcionamos aqueles motoristas que muitas vezes passam por nós enfrentando diversos problemas, mas que por um instante esquece aos nos ver”, diz Viky emocionada.
Em uma Kombi totalmente adaptada que se transforma em camarim e depois em palco, a Família Los Iranzi percorre muitos municípios do interior da Paraíba. Mas o sonho deles mesmo era um ônibus que pudesse dar maior suporte, segurança e conforto. O pai da família, Júnior, desabafa ao falar das condições em que vivem. “No momento moramos de aluguel numa casa. Com o ônibus poderíamos morar nele e fazer nossas viagens. Depois disso, poderemos pensar em comprar uma lona, montar um circo e repassar a tradição para as futuras gerações dos Los Iranzi”.
E o palhaço Chumbinho complementa: “não queremos ser um Cirque de Soleil e ganhar grandes prêmios. Queremos apenas fazer os outros sorrirem. Sou realizado por fazer minha família embarcar nesse meu sonho e ter o pequeno reconhecimento das pessoas
que vão assistir nossas apresentações e se emocionam. Temos mais públicos nos semáforos do que a Xuxa e o Caetano juntos. Acredite”.
Hoje a família argentina da Vicy já apoia sua mudança de vida, Júnior ainda sonha cursar Artes Cênicas na universidade, os três filhos do casal estudam em escolas tradicionais mais pretendem por livre vontade seguir a vida e profissão dos pais e o casal ainda sonha em conseguir uma residência móvel para seguir levando alegria mundo a fora.
Arteviva | Outubro 2012 5
Grafite NÃO. Arte Contemporânea
ilho de mãe solteira, natural de Paudalho, em Pernambuco, Jailson José da Costa, mais conhecido como “múmia”, 25 anos, tem deixado sua marca registrada em muitos muros, antes abandonados, nas ruas da cidade de João Pessoa.
Não foi por acaso que o encontrei. Geralmente solitário ou em grupo, este jovem de mochila nas costas, latas de spray colorido nas mãos, um rabisco de ideias e muita criatividade associa a escrita e poesia aos seus trabalhos de grafitagem gerando um excitante impacto visual por quem passa e observa sua obra de arte.
Numa situação financeira difícil, este artista plástico, como prefere ser chamado hoje, revela que veio morar em João Pessoa há quase 12 anos atrás e lembra que o inicio da sua vida aqui não foi tão fácil assim. Além de morar num bairro pobre com muita miséria e violência, como o São José, ele praticava o vandalismo nas ruas.
“A arte está na veia do artista e ele nunca poderá fugir dela, pois um dia eles vão ter que se enfrentar e se aceitar”. E foi com esta frase que ele me diz como iniciou sua vida profissional.
Sorrindo lembra que sempre gostou de dá uma “cutucada no sistema”. Com frases do tipo “Lula alimenta teu povo”, Jailson percorria as ruas pela madrugada junto com outros parceiros e deixavam suas marcas principalmente em prédios abandonados pertencentes ao patrimônio público.
Um vandalismo com causa que chamasse a atenção dos políticos para os problemas reais da sociedade, os
F quais ele estava inserido. Em contrapartida, ele critica os vândalos atuais que preferem apenas fazer “nomes” e deixar siglas de facções criminosas como forma de apologia à violência ao invés de passar uma mensagem construtiva e de paz.
No entanto, diz que se não fosse este primeiro contato com a pichação talvez não fosse o artista que é hoje. Mas este início ilegal também trouxe sequelas ruins. Os crimes contra o patrimônio lhe renderam muitas apreensões pela polícia em Paudalho, Recife, Campina Grande e, principalmente, na capital onde até hoje presta serviços comunitários, como capinar mato e lavar banheiros de escolas públicas.
Perguntei se estava arrependido e imediatamente responde que não e lembra-se das broncas que sempre levou de sua mãe. “Comecei a desenhar muito cedo e sempre colava nas paredes do meu quarto os rabiscos. Minha mãe entrava lá e rasgava tudo dizendo que era muito feio e me mandava estudar. Confesso que isso me prejudicou um pouco, pois até hoje não conclui meus estudos”, declara Jailson. E com tantas cobranças, falta de estudo e desemprego, ele passou a furtar spray das lojas.
Por essas e outras ele percebeu que este caminho era mais difícil e, logo, resolveu arrumar um “trabalho normal”. Começou como vendedor numa livraria. Queria mesmo era juntar dinheiro para comprar spray e investir na aerografia. Depois se tornou garçom de um restaurante na orla chamado “Fique Peixe”. Mesmo expressão por ele usada com a mãe quando ela resolvia ainda interferir em sua arte,
relata gentilmente.
Conclui que essas experiências foram
boas para deixar a timidez de lado e
aprender a comercializar. Mas a
necessidade de expor o que pensava
sempre falou mais alto. E com dinheiro
para adquirir seu material, aos poucos
foi se aprimorando e ao invés de
rabiscos de protestos passou a fazer
arte contemporânea.
“Acima de tudo tem que se ter amor pelo que faz, foi por isso que comecei a grafitar e não sabia que iria me tornar um profissional. E vale diferenciar que todo grafiteiro é um artista, mas nem todo artista é um grafiteiro”, destaca o jovem.
Hoje o trabalho de “múmia” pode ser encontrado em galerias de arte, shoppings, no Espaço Cultural, muros de escolas, instituições públicas ou privadas, e até mesmo em tapumes de construções civis.
6
Bem recompensado pelo que faz ele diz estar muito feliz. Basta citar que o metro quadrado de suas telas custa o equivalente R$ 1 mil reais. Paralelo a isto, Jailson desenvolve um trabalho de arte educador para crianças em situação de vulnerabilidade social com o objetivo de repassar sua profissão e, consequentemente, livrá-las da marginalização.
Pergunto qual o segredo de tanto sucesso para um artista das ruas e ele me responde que se você encontra o trabalho perfeito, em seguida o retorno vem. E o artista me conta um segredinho: “Sempre chego para realizar um trabalho com uma ideia fixa na cabeça ou um rabisco desenhado no papel. Na parede começo os traços com cera e tento passar para cada pintura um momento que estou vivendo. E de acordo com as emoções os traços também vão mudando”.
Durante nossa conversa ele grafitava um bebe de proporções enormes no muro de uma escola pública no bairro de Miramar. Indefeso, melancólico e com a proteção divina através de símbolos, a criança representava seu filho Gabriel. Múmia revela que no dia seguinte estaria de mudança para Recife e teria que deixar seu filho de apenas 2 anos com a ex-mulher.
Muito triste Jailson canta um pequeno trecho de uma música da banda de reggae Planta e Raíz: “aquele que habita no esconderijo do altíssimo nenhum mal o alcançará”. Ainda tímido não quis revelar o motivo da sua ida, mas diz que não vai deixar de levar sua arte por onde passar.
Questiono sobre a valorização dessa profissão e ele, como a maioria dos artistas de rua, almejam por melhor apoio do poder público como a oferta de cursos profissionalizantes e cursos específicos de desenho onde poderiam se descobrir novos talentos.
“Minha proposta sempre será a valorização do grafite que é um dos quatro elementos do hip hop, que também se subdivide em: break, DJ e Mc. Já vivo um sonho por me realizar profissionalmente e sustentar minha família através da arte”, destaca.
Assim como o Chico Science, o Bob Marley e outros artistas que se destacaram dos demais por transmitir uma mensagem de paz, o “múmia”
também tem um projeto de percorrer o mundo escrevendo trechos da bíblia aliado ao grafite e já começou iniciando pelo próprio corpo. Ele possui várias tatuagens com menções bíblicas.
A pintura é
uma poesia
muda e a
poesia é uma
pintura falada"
Arteviva | Outubro 2012 7
Com apenas um alicate na mão, várias sementes, muita criatividade e principalmente paciência, seu Benedito Fidelis dos Santos, conhecido popularmente como “Bené”, 60 anos, fabrica no banco da praça do Parque Sólon de Lucena, em João Pessoa, uma infinidade de bijuterias artesanais.
Natural da cidade de Areia, distante cerca de 130km da Capital, seu Bené não apresenta nenhuma característica típica dos hippies tradicionais, como: dredes no cabelo, piercings e brincos, roupas alternativas, tatuagens ou até mesmo uma linguagem específica.
Com olhar sereno e calmo, boné na cabeça, camisa de malha estampada e siglas americanas, calça jeans e chinelos nos pés, ele bem que poderia passar despercebido pela população que percorre os corredores da Lagoa se não fosse seu tabuleiro colorido cheio de peças à venda.
Penso alto que ele bem que poderia está do outro lado da calçada junto com os aposentados da sua idade conversando e jogando dominó. Indagado sobre isso ele logo abre um sorriso e exclama sucintamente que a sua profissão lhe trás ânimo para viver, apesar da saúde fraca devido à asma e a não recompensa em termos financeiros.
“É o trabalho que dignifica o homem. Se eu não estivesse aqui, certamente em casa eu não ia ficar”, destacou seu Bené sorrindo. Continuei insistindo sobre a história da sua vida até chegar ali e ele finalmente, depois de horas de conversa, resolve se abrir e eis que começa a me contar.
Bené saiu da cidade de Areia quando tinha apenas 20 anos e deixou para trás uma família de agricultores. Por sonhar alto, almejar uma vida melhor e constituir família, já na cidade de João Pessoa passou algum tempo morando em casa de parentes.
Para se sustentar encarou diversos trabalhos distintos que foram desde ambulante vendendo roupas, calçados e importados, até mesmo
Bené: o hippie que sonhava ser médico
8
como auxiliar de serviços gerais em empresas privadas.
E foi nessa vida de incertezas, altos e baixos, que ele conheceu sua atual companheira que era hippie nata. Ele lembra que ela trabalhava como empregada doméstica numa casa de um artesão no bairro do Varadouro e como um bom curioso e observador passou a frequentar este ambiente.
Pouco tempo depois ele relata que aprendeu tudo no “olhômetro” e junto com sua companheira passaram a fazer suas próprias bijuterias e vender na cidade. Com tantos hábitos e aptidões parecidas seu Bené se torna um hippie autêntico.
Lembra com nostalgia que passou 27
anos sem cortar os cabelos – acabou
chegando próximo aos pés – também
não fazia a barba e nem cortava as
unhas. Atualmente é evangélico e por
este motivo usa os cabelos curtos e
sempre mantém a barba feita. Além
disso, sempre que pode pega sua
bíblia, deixa o tabuleiro de lado e
remete algumas palavras sábias aos
pedestres perdidos em meio às
drogas e ao álcool que por lá passam.
Hoje ele se intitula como “vôvô hippie” e ressalta que mudou bastante depois do casamento e a chegada das três filhas. Lembra que foi um grande aventureiro, mas feliz e que teve a oportunidade de conhecer a profissão da sua vida: o artesanato.
Mas não foi o artesanato que o trouxe a capital, foi à medicina. Com olhos cheios de lágrimas e brilho
Arteviva | Outubro 2012 9
Queria fazer faculdade e se
especializar em pediatria por
não suportar ver criança sofrer”.
reluzente, Bené desabafa que sempre sonhou em ser médico. Queria fazer faculdade e se especializar em pediatria por não suportar vê criança sofrer.
No entanto, a vida acabou o levando para outro caminho. Ele diz que tentou fazer com que suas filhas seguissem pelos “trilhos da academia”, mas nenhuma delas quis.
Ao olhar para trás e fazer um retrospecto da sua vida, peço a Bené que me diga o que ele se considera hoje e quais sonhos ele ainda alimenta aos 60 anos de vida.
“Sou um artista”. É assim que ele começa a falar da sua profissão com orgulho. As dificuldades encontradas ao longo do caminho não o fez desistir de trabalhar dignamente e muito menos se desvirtuar para caminhos errados, como ele mesmo fala.
PPresenciou situações difíceis nas ruas com colegas de trabalho e lembra que muitas vezes repassou suas técnicas gratuitamente para outras pessoas com o objetivo delas ao menos disserem que tem uma profissão e, assim, tentar sobreviver.
Às vezes a profissão se mistura com hobby no decorrer da nossa conversa e ele reforça ainda mais. “Tudo que faço é por amor, porque se fosse pelo dinheiro eu já tinha desistido. O que ganho por mês vendendo as peças nas ruas, praças e praias daqui mal me ajuda a pagar um aluguel de 240 reais lá no bairro do Sesi, em Bayeux, e comprar meus remédios de asma.
Mas mesmo assim eu só deixo de ir pra rua quando eu morrer.”
Após uma pequena pausa na conversa e a citação de alguns trechos bíblicos que ele carrega na sacola em meio às sementes, cordões, bambu, penas de pavão e alguns búzios, ele desabafa.
“A recompensa não é boa. Antigamente as pessoas valorizavam mais. Hoje em dia não. Além da maioria delas não dar valor ao artesanato, muitas vezes acham caro e ainda nos confundem com vendedores de drogas disfarçados. As autoridades políticas também não nos valorizam, pois poderiam nos fornecer um ponto fixo para a gente comercializar. Por isso, já tive minha mercadoria apreendida pelos 'bombados' da prefeitura algumas vezes. Mas só depois da mídia dá em cima é que eles passaram a respeitar mais os vendedores”, ressaltou Bené.
Por essas e outras histórias difíceis é que seu Bené não tem a aprovação da família e filhas para permanecer trabalhando nas ruas. Ele diz que já abandonou muitos sonhos na vida como a medicina e como tudo na vida se modifica e refaz de acordo com as necessidades, ele esclarece que seu esforço diário é para que “de pouquinho em pouquinho” adquira a casa própria e saia definitivamente do aluguel.
Um sonho trivial para a maioria dos brasileiros. Com seu Bené não é diferente. Apesar de artista, tem sonhos simples como todo cidadão que quer viver dignamente e pagar as contas em dia.
E finalizamos nossa conversa com a chegada de um estudante que para diante do seu tabuleiro de bijuterias. Em meio aos elogios de suas peças, ele fica indeciso e não sabe o que levar para casa. Bené logo me fala que é por essas que ele continua fazendo o que faz, arte.
le é pintor, desenhista, músico, professor e até recepcionista de hotel, estou falando do jovem Wallace Vicente da Silva de apenas 29 anos. Vocês se surpreenderam com tantas qualidades numa só pessoa? Eu também.
Quando me falaram do seu trabalho mal sabiam que ele era bem mais que um simples ceramista que usava pratos e outros objetos de cerâmica para pintar belas paisagens naturais e pontos turísticos da sua querida cidade que adotou como casa, João Pessoa.
“Caraíba” como é chamado carinhosamente pelos seus pais, Wallace nasceu e morou muito tempo no Rio de Janeiro vindo apenas anos depois para a Paraíba. Residente no bairro de Mangabeira, desde cedo o jovem se destacava dos seus outros três irmãos pela sensibilidade em que costumava retratar a realidade do cotidiano em pequenos pedaços de papel.
Um artista de múltiplasfunções
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Aos nove anos, Wallace quase que parava no tempo quando ficava desenhando nas folhas do caderno. Levava broncas de muitos professores, menos da professora de Educação Artística que adorava seus trabalhos criativos. Ele lembra que certa vez ela pediu para que todos da sala desenhassem uma caixa de leite. Como queria impressionar, ele até desenhou uma caixa de leite, mas sendo tomada pelo piu-piu, personagem de desenho animado.
Depois disso, seus amigos não paravam de pedir para que ele desenhasse qualquer coisa e sempre em troca de um biscoito, achocolatado e tantas outras guloseimas. Em casa ele diz que não era diferente. Não perdia a oportunidade de desenhar os eletrodomésticos enquanto sua mãe cozinhava e lavava roupas.
E esse menino talentoso foi crescendo até que aos 18 anos fez um curso de desenho profissional oferecido na época pelo Espaço Cultural. Foi a partir daí que Wallace Silva ganhou proporções maiores no seu talento e reconhecimento profissional.
Seu trabalho já pode ser admirado e adquirido por vários pessoenses e turistas que passaram pelos principais shoppings da capital, hotéis e restaurantes da orla.
Ele revela que não foi fácil chegar até aqui e diz que está em constante aprendizado e que muita coisa ainda estar por vir na sua vida profissional. Foi casado, depois se divorciou e para se manter teve que trabalhar como mensageiro de hotel – funcionário que carrega as bagagens dos hóspedes – e agora como recepcionista. Relata que seu sonho é viver apenas da arte, mas por enquanto precisa do emprego fixo porque lhe dá estabilidade financeira e pode adquirir os materiais para seus desenhos e pinturas.
E como já sabemos, o seu talento começou a ser mostrado através dos desenhos. Com um grafite importado da Alemanha, o estandeler, e o papel especial, miteites canson, com sua extrema habilidade e sensibilidade fez vários desenhos usando a técnica do realismo, a qual retrata minuciosos detalhes de rosto, objetos e até animais com manchas e sinais. Explica como se fosse um photoshop natural.
Seus trabalhos já foram exportados
para vários países da Europa e outros estados brasileiros. Atualmente ministra aulas de desenho particular para crianças que tenham ou não aptidão para o desenho. “É importante incentivar a criança desde o início, pois tudo começa com as formas geométricas do triângulo, retângulo e círculo. Basta juntá-las e você já está desenhando sem perceber”, esclarece Wallace.
A habilidade com as mãos, através do desenho, o ajudou na técnica com a pintura em cerâmica. Ao passar pela Praia de Tambaú com a namorada, Wallace ficou encantado com um artista de fora que em alguns segundos, utilizando apenas tintas e os dedos, retratava desenhos lindos e ímpares.
Curioso, incansavelmente tentou replicar a técnica em casa quando acabou descobrindo que também tinha talento para isso. Hoje na época de alta temporada, Wallace chega a receber o dobro do seu salário como recepcionista apenas com a venda das pinturas que expõe no hall do hotel em que trabalha e a venda em seu blog e nas redes sociais.
Ao ver suas peças indaguei sobre o que ele pensa quando está pintando e ele não soube explicar ao certo. “É como um quebra-cabeças aonde vou juntando as cores e formatos. Tenho conhecimento sobre profundidade e daí vão surgindo rios, cachoeiras, pedras, paisagens que nunca presenciei. O mesmo acontece com desenhos que já passei cinco dias para finalizar ou aqueles em cerâmica que termino em apenas trinta segundos”, destaca.
E ele ainda encontra tempo para ser músico. Toca contrabaixo como convidado em algumas bandas de forró-pé-serra e de bailes de formatura. Para se aperfeiçoar pretende fazer o curso de música na UFPB.
Este artista de múltiplas funções e dons revela que ainda tem muitos sonhos. Viver da arte com a instalação de um ateliê onde pudesse expor suas pinturas e desenhos e ainda ensinar a profissão para jovens talentos ainda não descobertos. Ter uma obra sua e ser reconhecido pela característica dos seus traços também é um dos seus objetivos.
E no fim de nossa conversa no Mercado Público de Mangabeira eu ainda estava curiosa: porque ele se
considerava um artista de rua se ele não comercializava nela? Logo me adianta que ele não tem o menor preconceito com os artistas que trabalham circulando pelo centro da cidade.
Mas revela que considera um ambiente hostil e que muitas vezes as pessoas não compram as obras pelo valor que elas têm, mas simplesmente por ter um sentimento de pena e pagam pechinchando para ajudar. Em contrapartida, alega que os turistas não são assim. Diz que sua forma de arte e a maneira que as vende lhe caracteriza sim como um artista popular e de rua.
Finalizamos a entrevista com um desabafo do jovem: “E de pensar que quando criança sonhei, por um curto período, em ser jogador de futebol como meus irmãos por ter ganhado muitas medalhas. Hoje, estou aqui dando entrevista como um artista. Estou muito feliz e realizado, obrigada pela oportunidade”.
Arteviva | Outubro 2012 11
Lá vai ele para mais um dia de batalha. A maquiagem baratinha, a manchar a pele. Desenhos que reproduzem a sua alma a enfeitar seu rosto. A velha roupa, comida pelo tempo. O chapéu engraçado.
E ele sai. Caminhando para um novo dia ganhar. Seu sustento... Sua sobrevivência... E assim segue o artista de rua. Vai para onde ninguém o chamou. Leva sua alegria a quem nem pediu.
Em praças e sinais ele vive para encantar.Ilusão, que transforma gente comum em grandes heróis.Sem que peçamos, lá ele está.Faz tranquilo o seu trabalho.E com sua alegria faz sorrir até o que na vida graça nem vê.
Vai ganhar o que com isso?São migalhas que jogam para ele.Tem dias que nem compensa. Ninguém valoriza.Poucos o percebem.Mas ele insiste, pois acredita naquilo que faz.
Louco! Ele poderia trabalhar em outras tantas coisas.Sim, mas seriam só outras tantas coisas.Não o fariam verdadeiramente feliz.Porque ele faz o que gosta.E quando é assim, até o mais difícil se torna simples...
Sonho de um artista.Dos bancos de praças... Das ruas... Palcos da vida...Vida cheia de insólitos sacrifícios.Trabalho sem expectativa de reconhecimento.Só entende quem tem um sonho que domina o íntimo do seu ser.Só alguém como ele pra levar arte a quem não para pra ver.
(Leonardo Távora)
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB
CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTE - CCTA
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL E TURISMO - DCST