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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA – CENTRO DE EDUCAÇÃODEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃODISCIPLINA – PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO I – FUE 1038PROFESSORA – ANDRÉA FORGIARINI CECHIN
A PROBLEMÁTICA HEREDITARIEDADE E AMBIENTE ENFOCADA A PARTIR DAS TEORIAS
MATURACIONISTAS, COMPORTAMENTALISTAS E INTERACIONISTAS
Segundo Bee (1996) a discussão hereditariedade X ambiente, ou natureza X meio ambiente, ou
nativismo X empiricismo, é uma das questões teóricas mais antigas tanto da filosofia quanto da
psicologia. Esta questão, quando formulada por um psicólogo desenvolvimentista, é basicamente: o
desenvolvimento de um indivíduo é determinado por padrões inatos no nascimento ou é moldado
por experiências posteriores a ele?
Antes de abordarmos a problemática em questão, seria interessante explicitarmos alguns
conceitos, tais como HEREDITARIEDADE e AMBIENTE.
“A hereditariedade abrange todas as influências transmitidas dos pais às células do sexo, que se
fundem para formar o rebento. O que as pessoas herdam continua a predispôlas e a estimulálas por
toda a vida, porque o código hereditário atua enquanto existe vida. A hereditariedade é um processo,
no decurso de cujo desenvolvimento emergem os traços genéticos.” (PIKUNAS, 1979, p. 6061)
Ambiente “2. Aquilo que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas; meio ambiente.” (FERREIRA,
1986, p. 101102)
“O meio em que a pessoa vive é tanto físico quanto social. Os vários fatores físicos por exemplo,
clima, localização em um subúrbio descampado ou num bairro congestionado da cidade, o tamanho e
a conveniência do lar continuamente afetam a criança de inúmeras maneiras.” (PIKUNAS, 1979, p.
65)
A polêmica sobre o papel que a herança e o meio ambiente desempenham na determinação do
desenvolvimento é uma discussão que remonta as bases da psicologia evolutiva. Desta discussão
surgiram três tendências ou correntes teóricas:
TEORIAS MATURACIONISTAS ou INATISTAS
TEORIAS COMPORTAMENTALISTAS ou AMBIENTALISTAS
TEORIAS CONSTRUTIVAS ou INTERACIONISTAS
Cada uma dessas teorias defende um ponto de vista em relação à questão da influência da
hereditariedade e do ambiente sobre o desenvolvimento do indivíduo.
1 TEORIAS MATURACIONISTAS OU INATISTAS
Os defensores desta teoria buscam nos princípios evolutivos de Darwin o suporte para seus
argumentos. Acreditase, também, que existe nesta corrente uma influência direta de Platão e de Descartes, quando
estes afirmam que algumas idéias do indivíduo são inatas. Os partidários desta corrente, embora não concordem
totalmente com esta afirmação, acreditam que existe uma prefiguração genética que determina o desenvolvimento do
indivíduo. Segundo BEE (1996)
O argumento não é o de que os bebês nascem sabendo muitas coisas, ou possuem conceitos inatos, mas o de que o bebê está ‘programado’ de alguma maneira para prestar mais atenção a certos tipos de informações, ou para responder de determinada maneira aos objetos.(p. 1718)
Na visão dessa autora, os atuais teóricos maturacionistas diferem da concepção cartesiana por não propor
que esses padrões inatos como “final da estória” mas como “ponto de partida”. Helen BEE acredita que o que se
desenvolve, a partir da configuração genética, é “um resultado da experiência filtrada através dessas inclinações
iniciais”(1996, p. 18)
Os teóricos maturacionistas desprezam a influência dos fatores ambientais como determinantes do
desenvolvimento do ser humano. Para os partidários desta teoria, a maturação desses mecanismos internos do
indivíduo (considerados inatos) é que pode determinar uma modificação no comportamento e, por sua vez, refletir no
meio ambiente em que o sujeito está inserido.
1.1 Principais representantes
1.1.1 Granville STANLEY HALL (18441924) Um dos mais importantes psicólogos norteamericanos do
início do século XX, sendo a ele creditadas importantes realizações tais como: primeiro americano a obter o grau de
Doutor em Psicologia; fundador do primeiro laboratório de Psicologia da América; fundador do primeiro jornal de
Psicologia dos Estados Unidos e da Associação Americana de Psicologia.
Inspirado no trabalho de Darwin, Hall desenvolveu sua teoria baseada em idéias evolucionistas. Acreditava
que a criança se desenvolvia a partir de uma série de eventos geneticamente determinados, que desvelavam
se paulatinamente.
Consciente das limitações das biografias de bebês (“baby journal”) preconizadas por Darwin, Stanley Hall
iniciou a coleta de uma série de dados objetivos das crianças, utilizando questionários com perguntas para crianças
de diferentes idades sobre as coisas que elas poderiam dizer de si mesmas: jogos favoritos, sonhos, brinquedos,
entre outras. A partir destes questionários, Hall extraiu os elementos sustentadores de sua “Teoria da
Recapitulação”.
A teoria da recapitulação endossa a noção de que a Ontogênese (origem e desenvolvimento de um
organismo de um indivíduo e suas funções durante a vida) repete a Filogênese (desenvolvimento de uma espécie,
de sua origem ao estado presente). Ou seja, reforça a idéia de que a seqüência do desenvolvimento observada em
qualquer indivíduo é paralela ao evolucionário desenvolvimento das espécies. Por exemplo, na visão deste autor, as
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habilidades eventuais da criança para caminhar, assemelhamse a transição para a locomoção na postura elevada
na evolução dos antecessores do homosapiens.
De acordo com CABISTANI & MACIEL (1986), Hall foi o pioneiro no estudo da adolescência, descrevendoa
como “uma ‘fase de tempestades e tensões’ correspondente à evolução humana na época do Renascimento e
tendendo à calma ao término da juventude que corresponderia aos tempos Modernos da Evolução da
Humanidade.”(p. 5)
A teoria de Stanley Hall sofreu inúmeras críticas dos partidários da corrente sóciocultural, principalmente por
ter superestimado os fatores de natureza fisiológicos e praticamente desprezado os fatores ambientais.
1.1.2 Arnold Lucius GESELL (1880 1961) É considerado o psicólogo desenvolvimentista que mais se
interessou pelas questões maturacionais do desenvolvimento humano. Estudou psicologia na Universidade de Clark,
em Massachuts, onde recebeu influência de Stanley Hall. Diplomouse em Medicina na Universidade de Yale, por
acreditar que treinamento médico era essencial para o estudo sobre o desenvolvimento infantil.
No início, Gesell interessouse pelo estudo de crianças com retardo no desenvolvimento e, em função disso,
concluiu que o estudo da criança normal era indispensável para a compreensão de crianças tidas como “anormais”.
Iniciou então, por volta de 1919, estudos sobre o desenvolvimento mental de bebês, dirigindo sua investigação à
crianças mentalmente normais. Observou quase doze mil crianças de diversas idades e de diversos níveis de
desenvolvimento e, a partir destas investigações, apresentou uma listagem básica de desenvolvimento infantil entre 3
e 30 meses de idade.
Gesell considerava que desenvolvimento era o conjunto de fenômenos que concorrem para que o
indivíduo seja capaz de realizar funções cada vez mais complexas. Assim, a “maneira de ser” do indivíduo, o
modo como ele age, como se comporta ou se conduz vai traduzir o seu desenvolvimento. Para Gesell,
comportamentos e condutas são termos que se referem a todas as reações sejam elas reflexas, voluntárias,
espontâneas ou aprendidas.
“Assim como o corpo cresce, a conduta evolui, é um processo contínuo” (DOCKHORN, 1995, p. 179). A
evolução da conduta, ou comportamento, iniciase com a concepção e segue uma sucessão ordenada, etapa por
etapa, representando cada uma delas um grau ou nível de amadurecimento. À medida que o sistema nervoso se
modifica sob a ação do crescimento, a conduta se diferencia e muda. Gesell afirma que a criança “nunca estará apta
enquanto seu sistema nervoso não o estiver”.
O desenvolvimento do comportamento depende, então, do amadurecimento, ou de um processo de
maturação, do sistema nervoso, embora também seja influenciado por uma troca recíproca de fatores intrínsecos e
ambientais que afetam a criança. A constituição genética do indivíduo, bem como suas experiências intra e extra
uterinas afetam o seu crescimento físico, intelectual e emocional e isto, por sua vez, determinará sua reação favorável
ou desfavorável às posteriores modificações do ambiente. Por exemplo, uma grave desnutrição intrauterina que se
prolongue pelo primeiro ano de vida da criança poderá afetar seu crescimento, deixandoa mais suscetível a doenças
infecciosas, podendo prejudicar seu desenvolvimento intelectual o que, por sua vez, poderá causar problemas na
esfera social.
Gesell reforça esta idéia afirmando que
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Sem dúvida ele [o bebê] carece de um ambiente em que desenvolva as suas capacidades, e um ambiente favorável garantelhe uma realização também favorável das suas potencialidades de crescimento. mas é preciso ter em mente que os fatores ambientais favorecem, infletem e modificam as progressões do desenvolvimento mas não lhe dão origem. As seqüências e progressões vêm de dentro do organismo. (GESELL, 1989, p. 8)
De acordo com Gesell, existem leis de continuidade e amadurecimento que explicam as semelhanças gerais e
as tendências básicas do desenvolvimento infantil, porém, não há duas crianças que cresçam da mesma maneira.
Cada criança tem um ritmo e um estilo de desenvolvimetno tão característico de sua individualidade como sua
fisionomia.
O desenvolvimento é regular, ou seja, segue uma seqüência de etapas: a criança balbucia antes de
pronunciar palavras, diz palavras soltas antes de formar frases; senta antes de ficar em pé, engatinha antes de
caminhar. De acordo com o ideário de Gesell, existe uma forte correlação do desenvolvimento com o sistema
orgânico, sendo impossível separar as manifestações orgânicas ou mentais do desenvolvimento. Desta forma, o
estado do desenvolvimento deve ser avaliado não apenas por sinais físicos, mas também por sinais dinâmicos, pelo
modo da conduta.
Conforme DOCHKORN (1995), Gesell definiu, arbitrariamente, quatro campos de conduta na avaliação do
lactente:
Conduta motora considera os movimentos corporais amplos e os de coordenação fina: reações posturais
(sustentação da cabeça, sentarse, forma de tocar um objeto, manejálo).
Conduta adaptativa é o tipo de comportamento que se evidencia quando a criança tem que resolver
problemas, referese às mais delicadas adaptações sensóriomotoras ante um objeto ou situações. Por exemplo: a
coordenação de movimentos oculares e manuais para alcançar e manipular objetos.
Conduta da linguagem considera a linguagem no seu sentido mais amplo, incluindo toda forma de
comunicação verbal e audível, bem como gestos, movimentos posturais, etc. Inclui também a imitação e a
compreensão do que expressam as outras pessoas.
Conduta pessoalsocial compreende as reações da criança ante a conduta social do meio em que vive.
São reações múltiplas e variadas, tão dependentes do ambiente que pareceriam fora do diagnóstico evolutivo, mas
observouse como nos outros campos, que a evolução daconduta é determinada fundamentalmente por fatores
intrínsecos do crescimento. Por exemplo: O controle esfincteriano é uma exigência do meio, sua aquisição, porém,
depende, primariamente, do amadurecimento das funções esfincterianas.
2 TEORIAS COMPORTAMENTALISTAS OU AMBIENTALISTAS
Os partidários desta teoria sofreram influência dos filósofos empiricistas, tais como John Locke, que afirmava
que, no nascimento a mente humana é uma tábula rasa. Para os empiricistas todo conhecimento provém da
experiência. Desta forma, os comportamentalistas atribuem toda experiência adquirida em função do meio físico e
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social, refutando toda a idéia da herança genética e reivindicando para o ambiente todo peso da determinação do
desenvolvimento, enfatizando seu papel na modelagem do comportamento.
Para os teóricos desta corrente, o comportamento é resultado efetivo da aprendizagem ou de respostas
condicionadas por determinados estímulos.
Embora os comportamentalistas nãorejeitem as idéia de que existam variáveis inconscientes no indivíduo,
simplesmente as desprezam pois só lhes interessa o estudo do comportamento observável, objetivo.
Principais representantes: Ivan Petrovich PAVLOV (18491936), John Bordais Watson (18781958) e Burrhus
Frederic SKINNER (1904 1990).
3 TEORIAS CONSTRUTIVAS ou INTERACIONISTAS
Os teóricos desta corrente acreditam que o comportamento e o desenvolvimento do indivíduo são
influenciados tanto por aspectos genéticos quanto por aspectos ambientais.
Para os construtivistas é importante conhecer como estes fatores (hereditários e ambientais) se relacionam
entre si.
Neste processo de desenvolvimento, defendido pelas teorias construtivas, o indivíduo constrói seus
conhecimentos e sua própria abordagem do mundo, utilizandose para isto tanto dos fatores hereditários quanto dos
ambientais. Os teóricos desta posição preocupamse em estudar o processamento interno que a criança faz da
experiência.
Principais representantes: Jean PIAGET, VYGOTSKY, WALLON e GARDNER.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. 7.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.CABISTANI, Conchita, MACIEL, Eloísa A. Adolescência: desenvolvimento e implicações educacionais. Santa
Maria: Imprensa Universitária, UFSM, 1986.DOCKHORN, Marlene da Silva M. Desenvolvimento de lactentes e préescolares: aplicação da teoria de Gesell. In:
KREBS, Ruy Jornada (org.) Desenvolvimento humano: teorias e estudos. Santa Maria: Casa Editorial, 1995.FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2.ed. rev. amp. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1986.GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. São Paulo: Ática, 1993.GESELL, Arnold L. A criança dos 0 aos 5 anos. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.MOSQUERA, Juan J. M. et. al. Aprendizagem: perspectivas teóricas. Porto Alegre: Ed. da Universidade/
PADES/ UFRGS/ PROGRAD, 1985.MIZUKAMI, Maria da graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.RAPPAPORT, Clara R., FIORI, Walter da R., DAVIS, Claudia. Psicologia do desenvolvimento. v. 1. São Paulo:
EPU, 1981.
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