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O capítulo do livro "Mídias Digitais & Interatividade" reflete sobre a natureza dos sistemas hipermídia e as reconfigurações do texto, imagem e som no ciberespaço.
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219Mídias Digitais & Interatividade
Hipermídia: diversidades sígnicas e reconfi gurações no ciberespaço1
Pedro NUNES FILHOUniversidade Federal da Paraíba
A dinâmica do ciberespaço
Inicialmente devemos pensar o ciberespaço como um sistema virtual complexo e
ramifi cado de signifi cações produzidas, armazenadas e disponíveis em forma de
textos, imagens estáticas – dinâmicas e som.
Trata-se de um ambiente imaterial desterritorializado, que opera com diferentes
fl uxos de informação dispostos de modo não linear formando uma rede digital com
conexões sucessivas.
A principal característica desse oceano digital semiótico é atuar em trama
com a velocidade. As informações numéricas que compõem este universo elástico
também atuam em tempo real, ou seja, há uma instantaneidade nos processos de
trocas simbólicas que resultam na permanente construção de novas formas de
sociabilidade.
O processo de semiose, movimento e desenvolvimentos dos distintos signos
de natureza multimídia se efetua com a dinâmica rizomática da instantaneidade,
220 Mídias Digitais & Interatividade
simultaneidade e não sequencialidade das informações que sempre geram novos
signos.
Há de se destacar que o desenvolvimento das tecnologias digitais, o processo
crescente de miniaturização tecnológica e a criação permanente de softwares
avançados e de sistemas inteligentes, permitem o trânsito de diferentes representações
que incidem diretamente na dinâmica da cultura.
Com base neste escopo conceitual o ciberespaço pode então ser caracterizado
como um espaço híbrido de informações sígnicas que se enlaçam de forma recorrente
remetendo-nos infi nitamente para novas informações, dada a sua natureza pluritextual
e sonoro-visual.
Esse novo ambiente virtual do saber que transforma o próprio saber agrega
formas de cooperação fl exíveis que resultam em processos de inteligência coletiva
experienciados na rede. No que pese as formulações críticas a Pierre Lévy quanto a
sua síndrome de cândido (RÜDIGER, 2007), o autor é considerado um dos teóricos
pioneiros a enfatizar a natureza dinâmica desse ambiente virtual de memória:
O ciberespaço, dispositivo de comunicação interativo e comunitário, apresenta-
se como um instrumento dessa inteligência coletiva. É assim, por exemplo, que
os organismos de formação profi ssional ou à distância desenvolvem sistemas
de aprendizagem cooperativa em rede… Os pesquisadores e estudantes do
mundo inteiro trocam idéias, artigos, imagens, experiências ou observações em
conferências eletrônicas organizadas de acordo com interesses específi cos... O
crescimento do ciberespaço não determina automaticamente o desenvolvimento
da inteligência coletiva, apenas fornece a essa inteligência um ambiente
propício. (LÉVY, 1999:29)
Desse modo, o ciberespaço é concebido como um sistema aberto e contraditório
que agrega informações múltiplas descentralizadas montadas com base em diferentes
plataformas técnicas que se apresentam com suporte para constituição social de um
ambiente propício para a produção e o debate cultural que geram formas crescentes
de sociabilidade complexas.
221Mídias Digitais & Interatividade
A arquitetura tecnológica do ciberespaço (rede virtual entrelaçada por uma
infra-estrutura de multiservidores, cabos ou satélites, bancos de armazenamento e
agenciamento de conteúdos) possibilita o diálogo com diferentes mídias e linguagens,
formando um amplo tecido fragmentário com partes que se interconectam a partir de
escolhas deliberadas pelo usuário e onde a noção de tempo anula a noção de espaço
geográfi co. Ainda neste contexto, o ciberespaço pode ser dimensionado como metáfora
das grandes cidades, com seus fl uxos de organizações, redes visíveis e invisíveis,
movimentos espontâneos, sinalizações, regras de funcionamento, deslocamentos e
leis de convivência coletiva.
A cidade em sua diversidade e peculiaridade também possui falhas em
seus mecanismos de funcionamento, opera com bloqueios, tiltes, blecautes,
engarrafamentos, contravenções e situações inesperadas. A cidade virtual
desterritorializada é outro espelho da cidade real e que igualmente abriga tensões
simbólicas em graus diversifi cados. Sua natureza é indiscutivelmente pluricultural,
ambígua e contrastante. Nela se compartilham fl uxos de informações produzidas
e reconstruídas por diferentes cidadãos com práticas culturais distintas, ideologias
afi ns ou em estado de colisão, religiões, línguas diversas, experimentos inovadores do
campo da arte, de associações comunitárias, centros de investigação, comércio, lazer,
sexo e com piratas virtuais (crackers e hackers) que burlam o sistema de segurança.
Isto quer dizer que a cidade virtual fragmentária se edifi ca a partir de uma identidade
coletiva que tem como marca a diversidade cultural, o plurilinguismo, a ordem e a
desordem, o local e o universal, o centro e a periferia e, sobretudo, a complexidade.
Assim a arquitetura liquida da cidade virtus materializa práticas sociais
diversas que reconfi guram o saber tendo em conta que sua temporalidade comporta
a simultaneidade. As experiências semióticas dispostas na rede apresentam
peculiaridades signifi cantes quanto a natureza das mensagens com suas diferentes
estratégias de comunicação. Estão sob um mesmo espaço de confl uências sígnicas
sem fronteiras. Trata-se, no entanto, de um espaço sob domínio da maleabilidade com
respeito à sua estruturação signifi cante que libera do pólo de emissão (LEMOS:2005)
e que ainda possibilita o livre trânsito de informações. Evidentemente que quando
222 Mídias Digitais & Interatividade
tratamos dessa relativa liberdade de informação2 na rede não descartamos a existência
de mecanismos de controle político, censura e formas de espionagem na esfera
estatal por meio da implantação softwares de fi ltragem, implantação de sistemas de
vigilância rebuscados por parte de oligopólios da área de comunicação voltados para
fi ns econômicos, concorrência entre empresas, roubo de dados, quebras de criptografi a
e invasão de sistemas de segurança.
A Arquiescritura (Derrida) da cidade Kbytes – plasmopédia – pode ser também
efêmera, fugaz, metamórfi ca e labiríntica permitindo ao usuário/participante efetuar
percursos diversos, recombinar dados, produzir e modifi car ambientes imersivos.
André Lemos em Andar, clicar e escrever hipertextos acrescenta o seguinte:
O ciberespaço, como meta-cidade (ou mega cidade de bits), é um hipertexto
mundial interativo, onde cada um pode adicionar, retirar e modifi car partes
desse texto vivo escrevendo sua pequena história a essa inteligência coletiva, a
esse ‘cibyonte’ em curso de concretização. Nesse sentido ‘navegar’ é escrever
com imprecisão. (LEMOS, 2006, on-line).
Hipermídia: reconi gurações paradigmáticas
O desenvolvimento dos sistemas hipermídia3 tanto em sua estrutura associativa
no ciberespaço através de redes interligadas e em memórias paralelas, ainda é recente.
Estes sistemas nutrem-se primordialmente dos mecanismos das memórias de acesso
aleatório que integram os sistemas digitais conectados através das redes telemáticas
e satélites.
Os sistemas hipermídia, também denominados inicialmente de hipertextos
por George Landow se apresentam como ferramentas de aprendizagem, produção,
armazenamento e disponibilização de informações multimídia integrando diferentes
tecnologias que absorvem a dinâmica das mídias predecessoras ajustando-se a nova
realidade digital com especifi cidades ainda em delineamento.
Destacamos a hibridização como uma característica auxiliar importante no
contexto de construção da feição dos sistemas hipermídia. Essa espécie de traço
223Mídias Digitais & Interatividade
delineador é de certa forma resultante do processo de convergência das mídias/
tecnologias e, consequentemente, do ordenamento de conteúdos tendo por base
linguagens diferenciadas. A hipermídia
além de permitir a mistura de todas as linguagens, textos, imagens, som, mídias
e vozes em ambientes multimidiáticos, a digitalização, que está na base da
hipermídia, também permite a organização reticular dos fl uxos informacionais
em arquiteturas hipertextuais… O traço da hipermídia está na sua capacidade
de armazenar informação e, por meio da interação do receptor, transmuta-se
em incontáveis versões virtuais que vão brotando na medida mesma em que o
receptor se coloca em posição de co-autor. Isso só é possível devido à estrutura
de caráter hiper, não sequencial, multidimensional que dá suporte as infi nitas
ações de um leitor imersivo.(SANTAELLA:2004:48-49)
Esse diálogo híbrido caracterizado como uma espécie de traço defi nidor da
hipermídia recupera e atualiza as mídias antecessoras e expande a ação de outros
sistemas de representação com características específi cas como oralidade, a escrita e o
sonoro-visual por meio de suportes como o livro, o jornal, o rádio, a televisão música,
fotografi a, cinema, vídeo além de incorporar modalidades artísticas pré-técnicas
como o desenho, a pintura, o teatro, a literatura etc. Esses translados corporifi cados
em forma de passagem das características signifi cantes de outras modalidades de
articulação expressiva ao suporte digital denotam que os sistemas hipermídia se
desenvolveram como um espaço de confl uências intersemióticas.
Dizemos conceitualmente que essa espécie de lugar semiótico que opera com
nexos associativos dinâmicos não sequenciais abriga mecanismos que naturalmente
instauram o processo de hibridização de linguagens e tecnologias (SANTAELLA:2004).
De certa forma esse processo de contaminação em forma de interferência também se
efetua num sentido inverso ao constatarmos que as mídias convencionais igualmente
dialogam com os traços constitutivos da hipermídia e fi ndam de certa forma por serem
infl uenciadas no modo de construção de suas mensagens tendo em conta também o
perfi l mais exigente dos receptores. Assim, os distintos sistemas de representação se
224 Mídias Digitais & Interatividade
revitalizam ou expandem a noção de mídia com a realidade virtual e se somam aos
aportes específi cos da hipermídia, tais como softwares para a produção, tratamento
e auto-edição de texto, imagem e som, transferência de protocolos, sistemas de
busca, indexação, teleconferência, bases de dados com interconexões, compressão
e transmissão de dados, tradutores automáticos, reconhecimento de voz, agentes
inteligentes4, simulações interativas entre outros.
Dessa forma os sistemas hipermídia mudam com as dinâmicas e especifi cidades
dos sistemas numéricos (simultaneidade, fl exibilidade, velocidade, tempo real, não
sequencialidade, interatividade, capacidade de armazenamento, interconexões...) e,
consequentemente, redimensionam o seu corpo virtual volátil incorporados a partir
dos elementos estruturais característicos dos suportes pré-informáticos de base
técnica como os sistemas fotoquímicos (cinema e fotografi a), o jornal, a revista, o
rádio, os sistemas visuais de base eletrônica como o vídeo e a televisão e os modos
de articulação pré técnicos que igualmente envolvem códigos de natureza diversa de
natural verbal, visual e sonora.
No âmbito da hipermídia algumas mídias, agora expandidas, ganham fôlego
diferenciado e outras são re-estruturadas a exemplo do livro eletrônico, da webrádio,
da webTV, plataforma IPTV em que o usuário personaliza a sua programação
televisual que é enviada desde um satélite ou banco de dados com armazenamento
criptografados em “nós locais”, as revistas eletrônicas, bibliotecas virtuais, e, inclusive,
desenvolvimento de páginas dinâmicas com design orgânico que outorgam ao usuário
a possibilidade de movimentar-se através dos enlaces, mapas, diagramas, animações
virtuais, comentários, buscas temáticas, estocar informações e compartilhar
conteúdos na própria rede.
No ambiente hipermídia por meio dos percursos pré-formatados sob forma de
circularidade, o usuário pode desenvolver situações paratáticas realizando múltiplos
caminhos e ao mesmo tempo trabalhar como janelas, consultas on-line enquanto
desenvolve atividades off -line. Esse ambiente com suas formas de ordenamento
complexo se auto-regula meio a uma aparente desordem oceânica onde diferentes
usuários identifi cados, fakes, crakers, nômades ou tribos diversas trafegam produzindo
225Mídias Digitais & Interatividade
as suas marcas e os índices simultâneos, compartilhados ou transmutados por outros
usuários moventes.
Neste sentido, todo ambiente hipermídia, desde a sua estruturação ao acesso
interativo compartilhado, pode ser plenamente compreendido como um modelo
semiótico de representações fl uídas cujas interfaces com os usuários, geram novas
referências. De certa forma, esse ambiente imita a capacidade cerebral de atuar por
livre associação, paralelismos e analogias (NUNES: 2008). A hipermídia se estrutura
como uma rede semântica de informações que nos permite uma compreensão
multidisciplinar por sua natureza, sua capacidade plurisígnica, sua estrutura labiríntica,
a participação imersiva do usuário e a leitura sinestésica que mobiliza os sentidos.
Núria Vouillamoz defi ne hipermídia como
un sistema abierto sin limites ni márgenes, desde el momento que permite
navegar de um modo a outro em uma estructura infi nita que nos reconoce
principio ni fi n: como esquema conceptual, es plurisignifi cativo en tanto que
ofrece múltiples recorridos, multiples accesos y lecturas, de manera que es
posible reconecer uma cierta analogia entre el modelo hipertextual desarrollado
por la informática y el polisemantismo del texto reclamado desde el campo de
la literatura. (VOUILLAMOZ, 2000:74).
Num nível simbólico, os sistemas hipermídia apresentam algumas características
provenientes do texto poético, sobretudo em sua estruturação fragmentária bifurcada
que gera múltiplas possibilidades de percursos ao usuário e, também, pela polifonia
de vozes que ecoam no ambiente labiríntico.
No entanto há de se destacar que a estruturação não sequencial e a presença
de várias matizes semióticas (texto, imagem e som) não signifi cam, por si só, que
a mensagem ou a cultura produzida no ambiente seja poética. Os autores do texto
poético/arte eletrônica possuem a consciência da linguagem em sua complexidade,
do manejo das diferentes textualidades e, sobretudo, são conscientes da forma de
ordenação do signifi cante. A natureza de uma mensagem poética há de pensar-se
para um sistema de representação e recepção ou acesso específi co. Muitas vezes a
226 Mídias Digitais & Interatividade
sua articulação signifi cante refl ete a própria linguagem ou mesmo a sua organização
signifi cante permite múltiplas leituras do mesmo objeto.
Em síntese, um texto criativo produzido no ambiente hipermídia tem que ter
em conta alguns elementos: a natureza desse novo ambiente, sua abertura conceitual
não somente com relação aos percursos, o diálogo intertextual, a conotação que gera
novos signos, a sincronização dos sentidos e a participação do usuário. Isto signifi ca
converter o texto a imagem e o som em uma escritura polifônica5 embasada no arranjo
composicional dos signos.
Arlindo Machado baseado em Rosentiehl utiliza o termo labirinto como metáfora
para a hipermídia e destaca três características: convite à exploração , exploração
sem mapa e à vista desarmada e inteligência astuciosa (MACHADO:1997: 149-151).
Esses traços associados a hipermídia muitas vezes se interpenetram visto que um
usuário desatento em uma exploração específi ca pode transformar o seu percurso
afi nando a sua percepção para trajetórias específi cas.
No entanto, percebemos que muitas produções e experiências hipermidiáticas
disponíveis ou vivenciadas no ciberespaço ainda não assimilaram as especifi cidades
simbólicas inerentes ao ambiente descontínuo e imaterial. São propostas lineares
em sua forma de apresentação não passam de meras transposições lineares no
ciberespaço. Em maior ou em menor grau essas produções são importantes, mas não
apresentam os traços de inovação necessária quanto ao aspecto formal, os modos de
combinação e produção de conteúdo que demandam os sistemas hipermídia. Muitas
dessas possibilidades já estão previamente confi guradas em diferentes softwares e
sequer são exploradas.
Por outro lado, apesar da juventude dos sistemas hipermídia, também percebemos
a existência de propostas criativas avançadas que exploram mais radicalmente o
potencial inerente das estruturas rizomáticas, os jogos de navegação previamente
pensados, as articulações orgânicas entre o verbal, o visual, o sonoro, o estático, o
dinâmico e o silêncio. Refl etem como já dissemos o movimento do conhecimento
com projeção na cultura. Trata-se de experiências compartilhadas em centros de
227Mídias Digitais & Interatividade
investigação multidisciplinares, coletivos grupos da iniciativa privada, universidades
e projetos que enlaçam arte, ciência e tecnologia.
Nessa perspectiva de análise Arlindo Machado na apresentação em O Labirinto
da Hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço advoga o seguinte:
Passados os primeiros momentos de euforia com a descoberta das possibilidades
das novas máquinas, passado o deslumbre diante da pura novidade técnica
da interatividade, é chegada a hora da verdade, quando artistas, criadores,
críticos e investigadores em geral (não apenas técnicos de laboratório) deverão
propor formas mais orgânicas e novas estruturas normativas mais adequadas
às arquiteturas permutativas. (LEÃO, 1997:162).
Nesse sentido há que se destacar que os sistemas hipermídias requerem uma
dimensão estética própria, sobretudo quanto ao aspecto da interatividade, estimulação
sincronizada, simulação dinâmica entre outros. Possuem especifi cidades de linguagem
que também resultam da mescla de outras linguagens. Trata-se de especifi cidades
em construção, visto que no processo de delineamento dessa ‘nova mídia’ há
contaminações provenientes de outras mídias e, sobretudo, por que a hipermídia
funciona como espaço de convergência dos diversos meios existentes na atualidade
com o papel relevante do usuário na construção de suas próprias narrativas, por vezes,
voláteis. Lúcia Santaella em Hipermídia: a trama estética da textura conceitual
ressalta a multidimensionalidade da hipermídia destacando o papel do usuário.
Além de permitir a mistura de todas as linguagens, textos, imagens, som,
mídias e vozes em ambientes multimidiáticos, a digitalização que está na
base da hipermídia, também permite a organização reticular dos fl uxos
informacionais em arquiteturas hipertextuais... o poder defi nidor da hipermídia
está na sua capacidade de armazenar informações, e através da interação do
receptor, transmuta-se em incontáveis versões virtuais que vão brotando na
medida mesma em que o receptor se coloca em posição de co-autor. Isso só é
possível devido à estrutura de caráter hiper, não sequencial, multidimensional
228 Mídias Digitais & Interatividade
que dá suporte as infi nitas ações de um leitor imersivo. (BAIRON; PETRY,
2000:8-9).
Notamos que os sistemas hipermídias pensados como uma espécie de rede
contextual formada por fragmentos de informações diversifi cadas com textos,
construções tridimensionais, animações, enlaces, mapas de navegação e áudio,
estabelecem uma ruptura com a noção narrativa de principio, meio e fi m, rompem
ainda mais com o conceito de autor, valorizando a autoria compartilhada. Mas
também é necessário destacar que há textos somente para leituras, visto que “no todos
los sitemas de hipertexto actuales incluen la democratizante y crucial caracteristica
de permitir al lector contribuir al texto”. (LANDOW, 1997:32).
A tendência nesse novo regime de informação multilinear é que o usuário/leitor,
também co-autor, experimente percursos próprios, associe livremente informações
do seu interesse e salte de um ambiente virtual para outro a partir de suas escolhas
e das possibilidades programadas. Biron e Petry endossam que na estrutura
hipermidiática:
O leitor é destronado de seu exclusivo recurso de leitura e assume a missão de
criador de rotas e picadas, os atalhos sobre os comandos de ‘buscar’ etc. são
visivelmente poderosos e o leitor pode se aproximar de um escritor. O atalho
pode está numa cor, numa forma, num som etc. (BAIRON; PETRY, 2000:54).
Particularmente, o texto, a imagem e o som em ambientes hipermídia são
reconfi gurados, pois se materializam em estado potencial. Essa fl uidez signifi cante dos
sistemas hipermídia apresentada como forma favorável de organizar, armazenar, editar
e construir conhecimentos que expandem a capacidade humana ao serem dispostos
e compartilhados de diferentes processos abertos como redes de relacionamento, net
arte, web arte, simulações interativas, videojogos, wikis, youtube, fl ickr, second life,
orkut, videoconferência, blogs, moblogs, vlogs, sistemas de busca e indexação entre
outros.
229Mídias Digitais & Interatividade
De certa forma, os sistemas hipermídias e o ciberespaço nos convidam
para refl exões mais centradas em suas complexidades mutantes e a produção de
sociabilidades mediadas.
Considerações Finais
Percebemos que o ciberespaço tem sido considerado por alguns autores mais
céticos como uma espécie de esgoto público mundial constatando-se o crescimento
do ciber sexo, do comércio eletrônico e a própria a existência de mecanismos de
controle. Há de se extrair as reais potencialidades dos sistemas hipermídia interligados
ao ciberespaço como ferramentas de interação e que processualmente interferem nos
distintos campos do conhecimento que contaminam as práticas culturais em suas
singularidades e pluralidades contextuais.
Se por um lado caracterizamos, ao longo deste artigo, o ciberespaço enquanto
um espaço virtual fl uído e dinâmico agregado aos sistemas hipermídia por outro,
destacamos que essa nova lógica digital opera com a liberação da produção, aumentos
das formas de cooperação, a disponibilização e o tráfego intenso de diferentes ordens
sígnicas multimídia.
Essa teia virtual nomeada como ciber-cultura-remix (LEMOS:2005) está
amparada em uma infra-estrutura tecnológica e econômica que necessita ser
redimensionada não somente quanto a sua dimensão técnica, tecnológica e política,
mas sim, ser ainda radicalmente transformada no que se refere ao papel direto dos
usuários e desenvolvedores de conteúdos. Isso implica em afi rmar que o potencial
emancipatório presente em raras propostas na rede deve ser perseguido com muito
mais força criativa. Há de observar no presente as tendências futuras por meio de
mobilização de saberes transdisciplinares para o desenvolvimento de projetos
colaborativos, diferenciais, interativos e, até mesmo, observar com maior acuidade as
experiências de natureza transitória que pipocam na rede.
Há de se ter sempre em conta que esses processos de signifi cação enlaçados como
partes integrantes desse contexto estão carregados de ambiguidades e contradições,
230 Mídias Digitais & Interatividade
mobilizam diferentes códigos entrecruzados com a emergência de novos formatos
midiáticos que adquirem especifi cidades semióticas inerentes ao próprio locus digital.
Essas experiências reconfi guram a dimensão comunicacional integrante do cenário
mutante da sociedade contemporânea marcada por paradoxos e formas de exclusão.
Faz-se necessário reconstruir criativamente o ambiente da hipermídia com novas
formas de comunicação muito mais orgânicas e sincrônicas por se tratar de um
espaço dinâmico onde a dimensão tecnológica sempre se transforma e interage com
a dimensão cultural e englobam a dimensão social e coletiva da rede. De certa forma,
os sistemas hipermídia e o ciberespaço nos convidam para refl exões mais centradas
em suas complexidades mutantes e produções cada vez mais descentralizadas.
Notas
1 Artigo inicialmente publicado na revista eletrônica Fórum Media – Portugal. Foi revisto
e atualizado para publicação em versão impressa para o presente livro: Mídias Digitais &
Interatividade.
2 Esse potencial concreto de abertura da rede, o aumento sistemático de usuários e o processo
de trocas de informações em tempo real tem desencadeado mecanismos de controle e
espionagem da informação em países como a China, Irã, Arábia Saudita, Cazaquistão,
Geórgia entre outros. A China através de seu Escritório de Gestão da Informação pela
internet criou uma rede de vigilância virtual que mobiliza diretamente técnicos do governo
e softwares de fi ltragem para remoção de conteúdos indesejáveis, veto a blogs, bloqueio
ao acesso aos periódicos como The New York Times e Ming Pao News e a proibição da
circulação de artigos. Outro exemplo desse mecanismo de espionagem é o ECHELON
desenvolvido pela National Security Agency (NSA) dos Estados Unidos em consórcio com
vários países europeus. O ECHELON pode interceptar diferentes informações por satélite,
fi bra ótica ou microondas de qualquer parte do planeta. As mensagens interceptadas podem
ser gravadas, meticulosamente examinadas, traduzidas, transcritas e enviadas ao centro de
espionagem em tempo real.
3 O prefi xo hiper signifi ca acima, posição superior ou mais além. O termo
hiper foi utilizado na física por Einstein para descrever um novo tipo de
espaço na teoria da relatividade, o hiperespaço: espaço visto de outro modo.
231Mídias Digitais & Interatividade
4 Os autores Luis Bugay e Vânia Ulbricht no livro Hipermídia defi nem agentes inteligentes
como “uma entidade computacional que excuta tarefas delegadas pelo usuário
autonomamente. As origens das tecnologias de agentes inteligentes são embasadas na
inteligência computacional, engenharia de software e domínios da interface humana”.
Segundo os mesmos autores, os atributos dos agentes inteligentes são os seguintes:
delegação, habilidade de comunicação, autonomia monitoramento, atuação e
inteligência. P 114-115
5 Termo inicialmente empregado por Mikail Baktin. Também adotado por Sergei
Eisenstein referindo-se a um tipo de montagem cinematográfi ca que valoriza os elementos
signifi cantes da obra fílmica em forma de composição (montagem polifônica). A escritura
polifônica nos sistemas hipermídia deve ser entendida como a articulação sonoro-visual de
textos verbais, não verbais, movimento e áudio.
Referências
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Bookstore, 2000.
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São Paulo: Iluminuras, 1999.
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SANTAELLA, Lúcia . Navegar no ciberespaço. São Paulo: Paulus, 2004.
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São Paulo: Paulus, 2004.
8 Mídias Digitais & Interatividade
Rádio Digital: desai os presentes e futuros ...........................185Elton Bruno Barbosa PINHEIRO
Pedro NUNES FILHO
Interatividades na mídia ...............................................................203Matheus José Pessoa de ANDRADE
Hipermídia: diversidades sígnicas e reconi gurações no ciberespaço ...................................................................................... 219Pedro NUNES FILHO
A cibernotícia como reconi guração da atividade jornalística no ciberespaço ..........................................................233Rodrigo Rios BATISTA
Educação Mediada por Interface: A mensagem pedagógica da hipermídia....................................................................................255Rossana GAIA
Nasson Paulo Sales NEVES
Mídias digitais: acessibilidade na web e os desai os para a inclusão informacional ..................................................................275Joana Belarmino de SOUSA
YouTube: artes, invenções e paródias da vida cotidiana.Um estudo de hipermídia, cultura audiovisual e tecnológica ........................................................................................285Cláudio Cardoso de PAIVA
Espaços públicos de inclusão digital: comunicação, políticas e interações .......................................................................................305Juciano de Sousa LACERDA
Em busca do tempo perdido: Espaço e progressão dramática em Fahrenheit .............................................................323Mauricio PELLEGRINETTI
O potencial narrativo dos videogames ...................................341João MASSAROLO
Artemídia e interatividade na constituição do bios midiático: um estudo sobre as relações entre comunicação e estética .............................................................................................369Maurício LIESEN
Sobre os Autores..............................................................................391Sum
ário