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I UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Fundada em 18 de fevereiro de 1808 Monografia Hipotireoidismo após tratamento para câncer de laringe, faringe e cavidade oral: revisão sistemática Rafaela Christina Santos e Miranda Salvador (Bahia) Agosto, 2014

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I

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de fevereiro de 1808

Monografia

Hipotireoidismo após tratamento para câncer de laringe,

faringe e cavidade oral: revisão sistemática

Rafaela Christina Santos e Miranda

Salvador (Bahia)

Agosto, 2014

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II

FICHA CATALOGRÁFICA

1 (Elaborada pela Bibl. SONIA ABREU, da Bibliotheca Gonçalo Moniz: Memória da Saúde Brasileira/SIBI-UFBA/FMB-UFBA)

M672// Miranda, Rafaela Christina Santos e Hipotireoidismo após tratamento para câncer de laringe, faringe e cavidade oral: revisão sistemática/Rafaela Christina Santos e Miranda. -Salvador: RCS, e Miranda, 2014. VIII, 33p. Orientador: Prof. Dr. Marcus Antonio de Mello Borba. Monografia como exigência parcial e obrigatória para Conclusão do Curso de Medicina da Faculdade de

Medicina da Bahia (FMB) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). 1. Câncer de cabeça e pescoço. 2. Radioterapia. 3. Hipotireoidismo. I. Borba, Marcus Antonio de Mello. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Medicina. III. Título.

CDU: 617.53-006

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III

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de fevereiro de 1808

Monografia

Hipotireoidismo após tratamento para câncer de laringe,

faringe e cavidade oral: revisão sistemática

Rafaela Christina Santos e Miranda

Professor orientador: Marcus Antonio de Mello Borba

Monografia de Conclusão do Componente

Curricular MED-B60/2014.1, como pré-

requisito obrigatório e parcial para conclusão

do curso médico da Faculdade de Medicina da

Bahia da Universidade Federal da Bahia,

apresentada ao Colegiado do Curso de

Graduação em Medicina.

Salvador (Bahia)

Agosto, 2014

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IV

Monografia: Hipotireoidismo após tratamento para câncer de laringe, faringe e

cavidade oral: revisão sistemática, de Rafaela Christina Santos e Miranda.

Professor orientador: Marcus Antonio de Mello Borba

COMISSÃO REVISORA:

Marcus Antonio de Mello Borba (Presidente, Professor orientador), Professor do

Departamento de Cirurgia Experimental e Especialidades Cirúrgicas da Faculdade de

Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia.

Rosalita Nolasco Macêdo Gusmão, Preceptora do Programa de Residência Médica em

Endocrinologia da Comissão de Residência Médica do Complexo Hospitalar Universitário

Professor Edgard Santos / Universidade Federal da Bahia.

Murilo Pedreira Neves Júnior, Professor do Departamento de Medicina Interna e Apoio

Diagnóstico da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia.

Antônio Luis de Oliveira Almeida Petersen, Doutorando do Curso de Doutorado do

Programa de Pós-graduação em Patologia (PPgPat) da Faculdade de Medicina da Bahia da

Universidade Federal da Bahia.

TERMO DE REGISTRO ACADÊMICO: Monografia avaliada

pela Comissão Revisora, e julgada apta à apresentação pública no VII

Seminário Estudantil de Pesquisa da Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA,

com posterior homologação do conceito final pela coordenação do Núcleo de

Formação Científica e de MED-B60 (Monografia IV). Salvador (Bahia), em

___ de _____________ de 2014. (dia e mês são manuscritos pela

coordenação do Colegiado, quando do ato de homologação – portanto, não

preencher essa data).

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V

Porque melhor é a sabedoria do que os rubins; e de tudo que se deseja nada se pode comparar a ela.

(Pv. 8:11)

O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e a ciência do Santo, a prudência.

(Pv. 9:10)

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VI

Aos Meus Pais, Marisvalto Lopes de Miranda e

Maria Araújo Santos de Miranda pelo amor e dedicação

incondicionais e por fazerem dos meus sonhos os seus.

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VII

EQUIPE Rafaela Christina Santos e Miranda, Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA. Correio-e:

[email protected].

Marcus Antonio de Mello Borba, Professor do Departamento de Cirurgia Experimental e

Especialidades Cirúrgicas da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da

Bahia/UFBA. Correio-e: [email protected].

INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Faculdade de Medicina da Bahia (FMB)

FONTES DE FINANCIAMENTO

1. Recursos próprios.

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VIII

AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, a quem devo toda honra e glória por ter chegado até aqui.

Ao meu Professor orientador, Doutor Marcus Antonio de Mello Borba, pela atenção e

incentivo durante a realização deste trabalho.

Aos Doutores Murilo Neves e Rosalita Gusmão, membros da Comissão Revisora desta

Monografia.

À minha família por todo o apoio e amor. Aos meus pais, Marisvalto e Maria, pela confiança

e educação. Ao meu irmão Leandro pela orientação contínua nos trabalhos acadêmicos

durante esses quatro anos de graduação; ao meu irmão Gabriel pela ajuda constante, assim

como pelo companheirismo de ambos durante todos esses anos longe de casa.

A Tássio pela ajuda, paciência e compreensão durante todos os momentos em que estive

distante.

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SUMÁRIO

ÍNDICE DE FLUXOGRAMAS E TABELAS 2

I. RESUMO 3

II. OBJETIVOS

III. JUSTIFICATIVA

4

5

IV. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 6

IV.1. Câncer 6

IV.2. Câncer de cabeça e pescoço 6

IV.3. Formas de tratamento 10

IV.4. Complicações 12

IV.4.1. Hipotireoidismo após radioterapia 13

V. METODOLOGIA 14

VI. RESULTADOS 16

VI.1. Características dos Estudos 18

VI.2. Incidência de hipotireoidismo versus radioterapia para câncer de cabeça e

pescoço. 19

VI.3. Hipotireoidismo após radioterapia para câncer de laringe 22

VI.4. Hipotireoidismo após radioterapia para câncer de faringe 23

VII. DISCUSSÃO 25

VIII. CONCLUSÕES 27

IX. SUMMARY 28

X. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 29

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ÍNDICE DE FLUXOGRAMAS, QUADROS E TABELAS

FLUXOGRAMAS

FLUXOGRAMA I. Processo de seleção dos estudos desta revisão 16

QUADROS E TABELAS

QUADRO 1. Artigos incluídos nesta revisão (n=17) 17

QUADRO 2. Artigos excluídos

TABELA 1. Valores de Referência de TSH e T4 livre e Tratamento

TABELA 2. Topografia dos Tumores

TABELA 3. Dose de Radiação e Tempo de Seguimento

17

18

19

19

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I. RESUMO

Introdução: Os cânceres de cavidade oral e laringe são o 5º e 7º em incidência no

sexo masculino estimados para o ano de 2014, respectivamente. O tratamento do câncer de

cabeça e pescoço pode ser feito com cirurgia, radioterapia isolada ou combinada; a escolha

vai depender do estadiamento, ressecabilidade e localização do tumor, além de abordagens

que visem à preservação dos órgãos. As complicações podem ser precoces ou tardias. A

radioterapia pode levar à disfunção da tireoide, especialmente quando é feita na região

inferior do pescoço, resultando em hipotireoidismo primário. Objetivo: Avaliar a incidência

de hipotireoidismo em pacientes adultos que são submetidos à radioterapia como parte do

tratamento para cânceres de laringe, faringe e cavidade oral, como também a incidência de

acordo com o local primário do tumor. Avaliar a relação entre a dose de radiação

administrada e o desenvolvimento de hipotireoidismo. Métodos: Revisão sistemática de

estudos prospectivos e retrospectivos indexados nos bancos de dados PubMed, Cochrane e

Science Direct (Janeiro/2004 – Maio/2014). Resultados: Foram identificados 158 estudos na

literatura e desses, 17 foram incluídos nessa revisão. Discussão: A incidência de

hipotireoidismo total variou entre 17% a 54% após uma mediana de tempo de seguimento de

42,2 meses nos estudos incluídos nessa revisão. A dose limite para o desenvolvimento de

hipotireoidismo ainda permanece indefinida. Mais estudos são necessários para avaliar a

incidência de hipotireoidismo de acordo com o local de acometimento. Conclusão: Os

estudos revelaram uma elevada incidência de hipotireoidismo após o tratamento para câncer

de cabeça e pescoço, principalmente os cânceres de laringe, faringe e cavidade oral, porém

mais estudos são necessários para avaliar a variação dessa incidência com a dose de radiação.

Palavras chaves: 1. Câncer de cabeça e pescoço; 2. Radioterapia; 3. Hipotireoidismo.

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II. OBJETIVOS

Objetivo Principal:

O objetivo primário deste estudo será avaliar a incidência de hipotireoidismo em

pacientes adultos que foram submetidos à radioterapia como parte do tratamento para câncer

de Laringe, Faringe e Cavidade Oral;

Objetivos Secundários:

1. Avaliar a incidência de hipotireoidismo pós-radioterapia segundo o estadiamento

prévio do tumor.

2. Avaliar a incidência de hipotireoidismo pós-radioterapia com os tratamentos

empregados (monoterapia ou tratamento combinado).

3. Avaliar a relação entre a dose de radiação administrada e o desenvolvimento de

hipotireoidismo;

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III. JUSTIFICATIVA

A função exercida pelos hormônios tireoidianos na homeostase do organismo humano é

de grande relevância, pois os mesmos participam praticamente de todas as atividades

metabólicas do corpo. Sabe-se que a privação completa ou até mesmo um baixo nível desses

hormônios leva a manifestações clínicas diversas, desde sintomas gerais como edema,

mialgia, fragilidade da pele e queda de pêlos, até sintomas neuropsíquicos como depressão, e

quadros mais graves como o coma mixedematoso. Outros desfechos intermediários como

hipercolesterolemia e distúrbios do metabolismo dos carboidratos são também relatados

aumentando o risco de doenças cardiovasculares e morte. Diante desses achados, é notório o

comprometimento da qualidade de vida desses pacientes. Muitos pacientes que receberam

radiação em doses variadas na topografia da glândula tireoide, como acontece durante o

tratamento radioterápico dos tumores de cabeça e pescoço, desenvolvem algum grau de

disfunção tireoidiana. O tratamento desses indivíduos é feito de forma relativamente simples

e quase sempre acessível com Levotiroxina. Ao se identificar os fatores de risco que levam

ao surgimento do hipotireoidismo após doses variadas de radiação, protocolos de diagnóstico

precoce e tratamentos adequados podem ser estudados para implementação na prática clínica.

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IV. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

IV.1. Câncer

Câncer consiste no crescimento desordenado de células que têm o potencial de invadir

tecidos e órgãos, além de poder se espalhar para outras regiões do corpo (Instituto Nacional

do Câncer - INCA, 2014).

Existem diferentes tipos de câncer e essa distinção é decorrente do tipo de célula que

origina a neoplasia. O carcinoma, por exemplo, se origina de células do tecido epitelial da

pele, mucosas ou glândulas do corpo, enquanto o sarcoma é um tipo de câncer que se origina

de tecidos conjuntivos, como o músculo, osso e cartilagem.

Os cânceres também diferem entre si devido às suas propriedades intrínsecas: alguns se

multiplicam mais rapidamente, enquanto outros são mais lentos; muitos possuem capacidade

de invasão tecidual a órgãos vizinhos ou distantes, o que é chamado de metástase.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (2014), a etiologia do câncer é determinada por

fatores variados, podendo ser tanto intrínsecos ou extrínsecos ao organismo, assim como

podem ter uma relação entre si. Os fatores extrínsecos são aqueles relacionados ao meio

ambiente, aos hábitos, aos costumes e a cultura, por exemplo; já os fatores intrínsecos são

aqueles relacionados diretamente ao indivíduo, como suas características genéticas e o seu

perfil imunológico. Pode ocorrer a interação dos fatores extrínsecos e intrínsecos fazendo com

que haja um aumento na probabilidade de ocorrência do câncer ou não. Exemplos de fatores

extrínsecos que são reconhecidos como agentes carcinógenos e que atuam mudando a

estrutura genética das células são o cigarro, a exposição excessiva ao sol, os vírus e o álcool.

O aparecimento do câncer vai depender de vários fatores, dentre eles é importante destacar a

intensidade e duração da exposição das células aos agentes carcinógenos. O câncer também

pode ser decorrente exclusivamente de origem genética, porém, estes são raros.

Apesar das agressões sofridas pelas células o organismo possui mecanismos de defesa

naturais que permitem que um dano ao seu material genético seja reparado. O sistema

imunológico, a capacidade de reparo do DNA e a ação de algumas enzimas responsáveis pela

eliminação das substâncias cancerígenas são exemplos de mecanismos de defesa.

IV.2. Câncer de Cabeça e Pescoço

O termo “câncer de cabeça e pescoço” determina várias lesões que ocorrem em vários

sítios anatômicos, como lábio, cavidade oral, nariz, seios paranasais, nasofaringe, orofaringe,

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hipofaringe, laringe, esôfago, glândulas salivares, assim como lesões em orelha e pescoço

(Syrjanen S, 2005).

Segundo Jemal A, et al. (2011), o câncer de cabeça e pescoço é responsável por mais de

550 mil casos de câncer por ano em todo o mundo. Os homens são mais acometidos que as

mulheres. Em regiões da França, Hong Kong, Europa Central e Oriental, Espanha, Itália e

Brasil, a taxa de incidência entre homens é superior a 20 por 100 mil habitantes.

De acordo com o INCA (2014) a estimativa de casos novos de câncer de cavidade oral

por estado da federação para o ano de 2014 é de 11.280 em homens e 4.010 em mulheres, o

que corresponde a um risco de 11,54 casos novos a cada 100 mil homens e 3,92 a cada 100

mil mulheres.

Os cânceres de cavidade oral e laringe são o 5º e 7º cânceres em incidência no sexo

masculino estimados para o ano de 2014, respectivamente. As estatísticas fazem com que o

câncer de cavidade oral seja considerado um problema de saúde pública no mundo. A última

estimativa mundial indicou que haveria cerca de 300 mil casos novos e 145 mil óbitos no ano

de 2012, por câncer de cavidade oral e lábio. Sendo que 80% desses cânceres ocorreram em

países em desenvolvimento (INCA, 2014).

Existem diversos fatores de risco associados ao desenvolvimento de câncer de cabeça e

pescoço situado no trato aerodigestivo superior. Os principais fatores de risco conhecidos são

o tabagismo e o etilismo. Tanto o álcool como o tabaco tem a capacidade de provocar o

surgimento de um câncer, entretanto, sabe-se que quando usados de forma conjunta o risco é

potencializado. Outros fatores de risco também estão associados ao desenvolvimento dos

cânceres de cabeça e pescoço, tais como a radiação ultravioleta; infecções por vírus; má

higiene bucal e deficiência nutricional (Goés C, 2007). O tabagismo é o principal fator de

risco para carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço, sendo que este risco está

correlacionado à intensidade e duração do hábito de fumar. O risco aumentado nos fumantes

se deve ao fato do cigarro conter substâncias carcinogênicas genotóxicas como as

nitrosaminas e hidrocarbonetos policíclicos. (Galbiatti ALS, et al., 2013). O abstêmio do

tabaco mostra risco reduzido, entretanto, não possui eliminação do risco de desenvolver o

câncer (Kumar et al. apud Galbiatti ALS, et al. 2013). O risco de desenvolver o câncer de

cabeça e pescoço também se correlaciona diretamente com a quantidade de álcool ingerida. O

álcool é responsável por aumentar a exposição da mucosa aos agentes carcinógenos, além de

ter substâncias que causam danos diretos à estrutura do DNA.

Segundo Marur & Forastiere apud Galbiatti ALS, et al. (2013), quando o hábito de

fumar está associado à ingestão de álcool o risco de desenvolver o carcinoma de cabeça e

pescoço aumenta em 40 vezes. Entretanto, nota-se que nem todos os fumantes e consumidores

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de álcool desenvolvem câncer, corroborando a ideia de que existe uma susceptibilidade

genética individual de extrema importância na gênese do câncer.

A história familiar de carcinoma de cabeça e pescoço também pode exercer influência

no desenvolvimento dessas neoplasias. Vários polimorfismos genéticos nos genes envolvidos

no metabolismo de agentes carcinogênicos, reparo do DNA ou em vários outros processos

foram associados a risco de carcinoma escamo celular de cabeça e pescoço (Galbiatti ALS, et

al, 2013).

Existem diversos fatores de risco associados ao desenvolvimento de câncer de cabeça e

pescoço, como o tabagismo, consumo de álcool, infecção pelo HPV (papiloma vírus humano)

e pelo vírus Epstein-Barr (EBV). O tabagismo é sabidamente conhecido e tido como um

importante fator de risco para o desenvolvimento desses cânceres. Aqueles indivíduos que

fumam possuem um risco de 5-25 vezes maior de desenvolver o câncer quando comparados a

uma pessoa que não tem o hábito de fumar. Além disso, não é só o hábito de fumar cigarro

que está associado ao aumento do risco de câncer de cabeça e pescoço, o uso de cachimbo e

charuto também estão associados a um risco aumentado, assim como exposição ao fumo

passivo também pode ser um fator contribuinte5. O consumo de álcool também está

relacionado ao aumento do risco de câncer no trato aéreo-digestivo superior. Entretanto,

dados na literatura relatam não ser possível separar os efeitos do tabagismo e do álcool. O

câncer de nasofaringe, embora raro, é bastante comum no Sul da China, e está associado à

infecção pelo EBV. O HPV está associado à cânceres de orofaringe, especialmente em

pacientes do sexo masculino jovens, que podem ser ou não usuários de álcool e tabaco

(Stenson, KM, 2014).

A história familiar de carcinoma de cabeça e pescoço também pode exercer influência

no desenvolvimento dessas neoplasias. Vários polimorfismos genéticos nos genes envolvidos

no metabolismo de agentes carcinogênicos, reparo do DNA ou em vários outros processos

foram associados a risco de carcinoma escamo celular de cabeça e pescoço (Galbiatti ALS, et

al, 2013).

O HSV (vírus Herpes Simplex) também está associado ao desenvolvimento do câncer,

embora menos, assim como a exposição ocupacional ou ambiental a algumas toxinas como o

percloroetileno, amianto, pesticidas, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, formaldeído,

entre outros. A radiação também parece estar envolvida, embora haja um longo período de

latência entre a exposição e o desenvolvimento da neoplasia. Os cânceres relacionados à

irradiação prévia são: de tireoide, tumores de glândulas salivares, cânceres de células

escamosas e sarcomas. Outros fatores como a falta de higiene oral, doença periodontal, estão

associados ao carcinoma da cavidade oral. Apesar da existência de todos esses fatores de

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risco, a variação individual e a suscetibilidade genética de cada um exercem um papel super

importante no desenvolvimento do câncer (Stenson KM. 2014).

As lesões de cavidade oral e laringe são em sua maioria carcinomas de células

escamosas. Existem alguns sinais clínicos que podem dar origem aos tumores de cabeça e

pescoço, como a leucoplasia e eritroplasia. A leucoplasia é decorrente de uma hiperplasia

epitelial subjacente e se caracteriza por hiperqueratose; caso não hajam alterações displásicas

presentes, a chance de desenvolvimento de neoplasia é mínima. A eritroplasia consiste no

aparecimento de machas vermelhas sobre a mucosa, está associada a displasia epitelial e pode

evoluir para um tumor invasivo (40% dos casos).

Os pacientes devem passar por anamnese e exame físico detalhado à procura de massas

localizadas na região de cabeça e pescoço. Deve ser feita a inspeção, palpação, visualização

através de um espelho, endoscopia, para detectar a presença de tumor. O médico deve

investigar o paciente, independente da sua idade ou sexo, questionar quanto à sua atividade

ocupacional, aos hábitos de vida, aparecimento de lesões etc. Durante o exame físico é

imprescindível a visualização da cavidade nasal, cavidade oral, assim como a análise da

mucosa, assoalho da boca, palato mole e palato duro. As gengivas não devem ser esquecidas.

É importante a realização da otoscopia e rinoscopia anterior. Caso o paciente tenha história de

tabagismo ou alcoolismo, o exame físico detalhado é imprescindível para o rastreamento de

lesões. Segundo Poon CS e Stenson KM (2014), além das irregularidades presentes nas

mucosas, o médico deve procurar diminuição na mobilidade das cordas vocais, secreções,

sangramentos e assimetrias. As cadeias nodais cervicais devem ser minuciosamente

examinadas, não devendo esquecer do exame das glândulas salivares maiores, como as

parótidas.

De acordo com Poon CS e Stenson KM (2014), é recomendado que o paciente com

histórico de uso intenso de álcool e tabaco passe por panendoscopia (laringoscopia,

broncoscopia e esofagoscopia). Entretanto, para aqueles pacientes que só apresentam história

positiva de infecção pelo HPV, mas sem outros fatores de risco conhecidos, não se beneficiam

tanto da panendoscopia. O uso de exame de imagens pode ser benéfico ao paciente, uma vez

que possibilita a avaliação do grau de invasão local, avaliação dos linfonodos regionais e a

presença de metástase à distância. Os locais mais comuns de metástase são os pulmões, fígado

e osso (Poon CS e Stenson KM, 2014).

A biópsia feita através de punção aspirativa por agulha fina (PAAF) é uma técnica

altamente sensível e específica, entretanto, pode ser que não diagnostique o tumor em 5-16%

dos casos. A PAAF pode ser útil quando não se consegue obter através da avaliação clínica e

de imagem um resultado conciso. A punção utilizada para fazer diagnóstico inicial de tumor

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de cabeça e pescoço quando o paciente se apresenta com uma massa no pescoço (que pode

ser um linfonodo cervical metastático), mas sem um acometimento primário detectado de

mucosa do trato aéreo-digestivo (Poon CS e Stenson KM, 2014).

Exames de imagem como a Tomografia Computadorizada (TC), Ressonância

Magnética (RM) e Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET), podem ser utilizados para

avaliação do grau de infiltração local do tumor, assim como para verificar o quanto os

linfonodos regionais estão envolvidos e se há metástases à distância ou surgimento de um

segundo tumor primário. A TC proporciona uma maior resolução espacial em relação a RM,

além de poder ser realizada mais rapidamente, o que diminui a probabilidade de presença de

artefatos na imagem final e, também, é melhor para a avaliação da destruição óssea, como

relatado por Poon CS e Stenson KM (2014).

IV.3. Formas de Tratamento

O tratamento do câncer de cabeça e pescoço pode ser feito com cirurgia, radiação e/ou

quimioterapia, a escolha desses vai depender da ressecabilidade do tumor, estadiamento e

localização, além da viabilidade de abordagens que visem à preservação dos órgãos (Marur S,

Forastiere AA. 2008). A terapia fundamental preconizada para o tratamento inicial do câncer

de cabeça e pescoço localmente avançado é a cirurgia e/ou radioterapia, porém está associada

à altas taxas de recidivas locais e à distância. Para melhorar os resultados pós-operatórios,

passou-se a realizar uma abordagem multivariada e a quimioterapia foi adicionada ao

esquema de tratamento, tanto para pacientes que vão ser submetidos à cirurgia, quanto para

aqueles que se recusam a fazê-la, pois preferem preservar seus órgãos. (Bruce E, Brockstein e

Vokes EE, 2013). Diversas abordagens na tentativa de preservação do órgão têm sido

empregadas para tratamento desses cânceres: terapia neoadjuvante com quimioterapia ou

radioterapia; quimiorradioterapia concomitante e quimioterapia seguida de radioterapia.

A radiação ionizante age através da transmissão de energia para os tecidos, causado

danos no DNA e perda da capacidade reprodutiva celular. A unidade de dose de radiação

absorvida é o Gray (Gy), que é definido como a absorção de 1 joule de energia por Kg de

matéria - água ou tecido humano. A radiação pode ser administrada de duas formas: através

de uma fonte externa ou por braquiterapia; a escolha da técnica vai depender do local que se

encontra o tumor, assim como o objetivo da terapia. A maioria dos cânceres de cabeça e

pescoço é tratada com radioterapia externa, que pode ser por fótons de alta energia (raio-x) e

elétrons, produzidos por aceleradores lineares. (Song S, 2012).

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A quimioterapia neoadjuvante é importante e tem se mostrado eficiente, pois é capaz de

reduzir o volume do tumor e melhorar a função do órgão, possibilitando que a terapia local

tenha mais êxito e com menos efeitos adversos para o organismo. Além disso, a quimioterapia

neoadjuvante pode tratar metástase subclínica à distância. Já a terapia sequencial, que consiste

em administrar quimioterapia inicialmente e, em seguida, radioterapia, pode ter os efeitos

benéficos tanto da quimioterapia neoadjuvante, como da quimiorradioterapia concomitante.

Entretanto, a terapia com quimioterapia em adição à radioterapia pode desencadear um

aumento da toxicidade no paciente, o que pode acarretar em dificuldades à adesão do paciente

à terapia, assim como, no retardo na realização da terapia local, quando esta não é substituída

definitivamente. Estudos de metanálise demonstram que a quimioterapia concomitante reduz

significativamente o risco de morte do paciente, quando comparada á terapia local sozinha

(Bruce E, Brockstein e Vokes EE, 2013).

Para Bruce E, Brockstein e Vokes EE (2013), o uso de quimioradioterapia concomitante

com ou sem quimioterapia neoadjuvante nos pacientes com doença classificada como

ressecável, pode ser útil como abordagem para a preservação de órgãos funcionais. Os agentes

utilizados na quimioterapia para câncer de células escamosas de cabeça e pescoço incluem os

compostos da platina (Cisplatina, Carboplatina), o 5-fluoracil e os taxanos (Docetaxel e

Paclitaxel).

Algumas precauções devem ser tomadas antes do início do tratamento. É necessário que

o paciente passe por uma avaliação inicial com uma equipe multidisciplinar antes do início da

quimioterapia neoadjuvante (de indução). Deve ser feita uma avaliação através de exame de

imagens para documentar a existência de metástases à distância; uma avaliação nutricional

deve ser requerida; casos o paciente apresente problemas odontológicos, estes devem ser

tratados; tanto a fala, como a deglutição devem ser previamente avaliados, assim como

qualquer outra morbidade que possa vir a agravar durante o período de tratamento (Bruce E,

Brockstein e Vokes EE, 2013).

De acordo com Bruce E, Brockstein e Vokes EE (2013), a indicação de cirurgia para os

pacientes com tumor primário de cabeça e pescoço persistente ou recorrente, assim como o

acometimento de linfonodos regionais, depende da extensão da doença antes do tratamento e

a resposta do câncer após à terapia. Aqueles pacientes que apresentaram respostas

insuficientes no local do tumor ou no pescoço após a quimioterapia neoadjuvante, assim como

os pacientes que apresentam doença residual mesmo após a quimiorradioterapia

concomitante, devem ser candidatos à cirurgia. Os pacientes que apresentam doença residual

após passaram por quimiorradioterapia concomitante, mostraram sucesso com a cirurgia para

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12

o tumor primário, pois apresentaram um bom controle loco-regional desse tumor, além de

terem a sobrevida prolongada.

A quimioterapia em combinação com radioterapia local alcança melhores resultados

quando comparada com radioterapia sozinha. Além disso, pode verificar uma sobrevida

global equivalente ou superior, assim como preserva a função do órgão em comparação com a

cirurgia e radioterapia sozinha (Bruce E, Brockstein e Vokes EE 2013). Geralmente as

abordagens principais ao tratamento inicial da doença localmente avançada, segundo o

proposto por Galbiatti ALS, et al (2013) é: (1) quimiorradioterapia (com platina)

concomitante, a cirurgia fica reservada para doença residual; (2) cirurgia com esvaziamento

cervical e reconstrução, seguida de radioterapia ou quimiorradioterapia adjuvante, a depender

da presença de fatores de risco; (3) quimioterapia de indução seguida de quimiorradioterapia

definitiva e/ou cirurgia. No tratamento dos carcinomas escamo celulares recorrentes e

metastáticos de cabeça e pescoço a Cisplatina é bastante eficaz, principalmente quando

concomitante à radioterapia. Outras modalidades de tratamento como a radioterapia

hiperfracionada e radioterapia de intensidade modulada (IMRT) têm sido usadas, esta última é

interessante pois oferece uma cobertura mais homogênea da dosagem em relação ao volume

alvo e também uma redução da exposição dos tecidos adjacentes ao tratamento.

A decisão quanto à terapia depende das características do paciente, estadiamento

tumoral, entre outros fatores. O médico deve decidir juntamente com o paciente qual a melhor

terapia a ser usada.

IV.4. Complicações

As complicações do tratamento do câncer de cabeça e pescoço podem ser agudas ou

tardias, classificadas de acordo com o tempo em que se desenvolvem em relação ao término

do tratamento. A radioterapia pode resultar numa ampla variedade de complicações ao

paciente, interferindo negativamente na qualidade de vida do mesmo. A toxicidade aguda se

desenvolve durante ou logo após a conclusão do tratamento, sendo frequentemente

temporária. Entretanto, a complicação tardia se desenvolve meses a anos após o término do

tratamento podendo, muitas vezes, ser um dano permanente na vida do paciente (Galloway T,

Amdur RJ. 2011). As complicações após o tratamento parecem depender de diversos fatores,

entre eles a dose de radiação recebida pelo paciente durante o tratamento. Dentre as

complicações apresentadas pelos pacientes, a xerostomia é a mais frequente e pode ser

permanente, sendo resultante do dano provocado pela radiação ionizante nas glândulas

salivares. Outra complicação que o paciente pode desenvolver é a osteorradionecrose, que tem

seu risco aumentado naqueles pacientes que já passaram por extrações dentárias e cirurgias.

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13

Os pacientes com osteorradionecrose leve podem ser tratados com antibióticos e

desbridamento conservador; se o caso estiver mais avançado, deve se proceder com ressecção

de mandíbula e reconstrução microvascular imediata (Galloway T, Amdur RJ, 2011). A

disfagia e toxicidade do esôfago também são complicações que podem ser prevenidas através

da diminuição da radiação para os músculos constritores da faringe.

IV.4.1 Hipotireoidismo após radioterapia

A tireoide é uma glândula imprescindível para o bom funcionamento do organismo. A

radiação também pode lesionar essa glândula, especialmente quando é administrada na região

inferior do pescoço, resultando em hipotireoidismo primário. A incidência de hipotireoidismo

após a radioterapia para câncer de cabeça e pescoço parece estar associada à dose de radiação

recebida pelo paciente.

Os hormônios da tireoide, tiroxina (T4) e triiodotironina (T3), são responsáveis por

regular vários genes após a sua ativação. Eles agem através de uma via de sinalização

complexa e altamente regulada através da expressão celular de transportadores específicos,

múltiplas formas de receptores, assim como a interação com coativadores e co-receptores

(Brent, GA. 2012). A privação desses hormônios ou a sua redução pode ser prejudicial à

função de várias atividades reguladas por eles.

O hipotireoidismo pode ser caracterizado tanto como sintomático como assintomático.

Essa classificação vai depender do conjunto de sinais e sintomas apresentados pelo paciente.

Entretanto, os sintomas só se fazem presentes após uma disfunção sérica nos níveis de

hormônios da tireoide. Muitos dos sintomas apresentados pelos pacientes com

hipotireoidismo são inespecíficos, como a fadiga, edema, fraqueza, mialgia, pele seca, etc e

podem estar presentes também em outras patologias (Miller MC & Agrawal A, 2009).

Hipotireoidismo clínico é definido como uma diminuição de T4 com um aumento

concomitante de TSH. Já o hipotireoidismo subclínico o TSH encontra-se elevado e o T4

normal. Segundo Miller MC & Agrawal A (2009), o sítio do tumor e a modalidade de terapia

usada são fatores de risco associados ao desenvolvimento de hipotireoidismo após tratamento

com radioterapia.

Existem diversos outros efeitos tóxicos provocados pela radiação, o desenvolvimento

destes vai depender dos tecidos irradiados e da dose de radiação recebida. Outros exemplos de

complicações são: trismo, fibrose no pescoço, lesão da artéria carótida, mielite, neuropatia

óptica e retinopatia e ototoxicidade (Galloway T, Amdur RJ, 2011).

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14

V. METODOLOGIA

Fontes de Informação e Estratégia de Busca:

A pesquisa bibliográfica foi realizada nos bancos de dados PubMed, Cochrane Library

e Science Direct. Para determinar quais estudos seriam incluídos nesta revisão os artigos

foram avaliados inicialmente através da leitura dos seus títulos e resumos. Tanto as

publicações relevantes como aquelas que não possibilitaram um entendimento só com a

leitura do título e resumo, foram selecionadas para leitura do texto completo.

A identificação dos artigos foi realizada através da estratégia de busca baseada no

modelo problema, preditor e resultado (PPR), utilizando os termos e seus sinônimos para a

pesquisa. Os termos usados foram: “câncer”, “head and neck”, “radiotherapy”,

“hypothyroidism”, “larynx”, “pharynx” e “oral cavity”.

Estudos relevantes ao tema puderam ser incluídos nesse estudo através de pesquisa

manual ou referências de artigos, mesmo que não fossem selecionadas através da estratégia de

busca.

Critérios de Elegibilidade

Neste estudo foram incluídos ensaios clínicos controlados, estudos de coorte

retrospectivos e prospectivos e estudos tipo caso-controle. O tempo de publicação será de 10

anos (01/01/2004 a 20/05/2014), todos em língua Inglesa e que envolvam o desenvolvimento

de hipotireoidismo naqueles pacientes que foram submetidos à radioterapia como parte do

tratamento de câncer de cabeça e pescoço. A última pesquisa foi realizada no dia 24 de Maio

de 2014.

Os títulos e resumos de todos os artigos encontrados através da busca foram revisados

por dois pesquisadores, e todos os artigos que preenchessem os critérios de inclusão para a

população, intervenção, comparação e desfechos de interesse foram analisados. A escolha dos

artigos baseou-se na leitura dos títulos e resumos e, quando necessário, de todo texto da

publicação. Após seleção feita por cada pesquisador, ambos se reuniram para análise dos

resultados. Foram selecionados artigos de acordo com a concordância entre esses dois

pesquisadores, sendo consultado um terceiro pesquisador em caso de discordância.

Critérios de Seleção das Publicações:

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Estudos longitudinais;

População: pacientes 19 anos de idade;

Intervenções: radioterapia envolvendo ou não cirurgia e/ou quimioterapia para

tratamento de câncer de cabeça e pescoço;

A tireoide deve estar incluída pelo menos parcialmente nas áreas a serem irradiadas;

Publicações na língua inglesa;

Critérios de Exclusão das Publicações:

Artigos que incluíram população infantil na análise, revisões, capítulos de livros,

relato de caso e artigos cujo conteúdo não fosse relacionado ao tema da pesquisa;

Estudos com pacientes portadores de hipotireoidismo prévio ou qualquer outra

patologia prévia na tireoide;

Pacientes com diagnóstico de hipotireoidismo central;

Realização de tireoidectomia total;

Cânceres de cabeça e pescoço não laringe, faringe ou cavidade oral;

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VI. RESULTADOS

Através da pesquisa no PubMed com os devidos filtros foram identificados 12 artigos.

Com as buscas nos bancos de dados Cochrane Library e Science Direct, 44 e 102 artigos

foram encontrados, respectivamente. Após análise do título e resumo, 121 artigos foram

excluídos. Dos 37 artigos restantes, 8 estavam indisponíveis e 6 artigos estavam repetidos. 23

artigos foram pré-selecionados para leitura completa. Após leitura completa de todos os

artigos, 6 artigos foram excluídos e 17 estudos foram incluídos nesta revisão (Fluxograma 1).

O título dos artigos e os nomes dos autores incluídos nessa revisão estão listados no Quadro 1.

Os artigos excluídos após a leitura estão descritos no Quadro 2.

Fluxograma 1 - Processo de seleção dos estudos desta revisão.

PubMed

(12)

Cochrane

(44)

Science Direct

(102)

158 artigos

Análise do Título e Resumo

(121 artigos excluídos)

37 artigos

08 artigos indisponíveis

29 artigos

06 artigos repetidos

23 artigos

01 Relato de Caso

02 Revisões

03 Excluídos devido aos

critérios de inclusão.

17 artigos

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17

QUADRO 1 - Artigos incluídos nesta revisão (n=17)

Autor, ano N Desenho Título do Artigo

Bakhshandeh M, et

al., 2012 50 Prospectivo Evaluation of thyroid disorders during head-and-neck radiotherapy by using

functional analysis and ultrasonography

Diaz R, et al., 2010 144 Retrospectivo Hypothyroidism as a consequence of intensity-modulated radiotherapy with

concurrent taxane-based chemotherapy for locally advanced head-and-neck

cancer

Tell R, et al., 2004 308 Prospectivo Long-term incidence of hypothyroidism after radiotherapy in patients with

head-and-neck cancer

Citrin D, et al.,

2009 35 Prospectivo Long-term outcomes and toxicity of concurrent paclitaxel and radiotherapy for

locally advanced head-and-neck cancer

Banipal RPS, et al.,

2011 53 Prospectivo

Thyroid diseases as a sequelae following treatment of head and neck cancer

Alterio D, et al.,

2007 73 Retrospectivo Thyroid disorders in patients treated with radiotherapy for head-and-neck

cancer: a retrospective analysis of seventy-three patients

Alkan S, et al., 2008 75 Prospectivo Thyroid dysfunction after combined therapy for laryngeal cancer: a

prospective study

Koc M, et al., 2009 63 Retrospectivo Thyroid dysfunction in patients treated with radiotherapy for neck

Garcia-Serra A, et

al., 2005 206 Retrospectivo

Thyroid function should be monitored following radiotherapy to the low neck

Lo Galbo AM, et

al., 2013 137 Prospectivo A prospective longitudinal study on endocrine dysfunction following

treatment of laryngeal or hypopharyngeal carcinoma

Rønjom MF, et al.,

2013 203 Prospectivo

Hypothyroidism after primary radiotherapy for head and neck squamous cell

carcinoma: normal tissue complication probability modeling with latent time

correction

Wu YH, et al., 2010 408 Prospectivo Hypothyroidism after radiotherapy for nasopharyngeal cancer patients

Norris AA, et al.,

2006 390 Prospectivo Hypothyroidism when the thyroid is included only in the low neck field

during head and neck radiotherapy

Bakhshandeh M, et

al., 2013 65 Prospectivo Normal tissue complication probability modeling of radiation-induced

hypothyroidism after head-and-neck radiation therapy

Munyo-Estefan A,

et al., 2009 55 Retrospectivo

Thyroid function alteration in patients with radiation therapy of the neck

Siala W, et al., 2011 239 Retrospectivo Thyroid toxicity after radiotherapy of nasopharyngeal carcinoma

Bérnat L e Hrusák

D., 2014 83 Retrospectivo

Hypothyroidism after radiotherapy of head and neck cancer

QUADRO 2 - Artigos Excluídos

Artigo Autor Motivo da

Exclusão

Comparison between conventional and intensity-modulated post-operative

radiotherapy for stage III and IV oral cavity cancer in terms of treatment

results and toxicity

Chen Wc,

et al.

Não relacionado

ao tema

Concurrent chemotherapy and intensity-modulated radiotherapy for organ

preservation of locoregionally advanced oral cavity cancer

Pederson

AW, et al.

Não realcionado

ao tema

Long-term results of RTOG 91-11: a comparison of three nonsurgical

treatment strategies to preserve the larynx in patients with locally advanced

larynx cancer

Forastiere

AA, et al.

Não relacionado

ao tema

CONTINUA

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18

QUADRO 2 - [continuação]

QUADRO 2 - Artigos Excluídos

Artigo Autor Motivo da

Exclusão

Hypothyroidism after radiotherapy for patients with head and neck

cancer

Ozawa H, et al. Relato de caso

Radiation-induced hypothyroidism in head and neck cancer patients:

a systematic review

Boosma MJ, et al. Revisão

Radiotherapy-induced thyroid disorders Jereczek-Fossa BA,

et al.

Revisão

VI. 1. Características dos Estudos

A população dos estudos variou de 35 a 408 pacientes com mediana de

acompanhamento de 51,6 meses e a incidência de hipotireoidismo total variou entre 17 e 54%

entre os estudos. A mediana do tempo médio até a ocorrência do primeiro evento de

hipotireoidismo entre os estudos foi de 8,98 meses. Os valores de referências dos hormônios

tireoidianos de cada estudo estão listados na Tabela 1. Os estudos avaliaram, em sua maioria,

pacientes com câncer de laringe, cavidade oral e faringe (nasofaringe, orofaringe e

hipofaringe) (Tabela 2). A maioria dos estudos dividiu a ocorrência de hipotireoidismo em

duas categorias de acordo com a disfunção hormonal: hipotireoidismo subclínico foi

caracterizado como um aumento do TSH e T4 livre normal; hipotireoidismo clínico foi

definido como um aumento de TSH com redução de T4 livre. Alguns estudos consideraram

apenas o aumento do TSH para definir o diagnóstico de hipotireoidismo. As amostras de

hormônios tireoidianos foram colhidas antes do tratamento e após o término dele na maioria

dos estudos. A Tabela 3 mostra a variação da dose de radioterapia entre os estudos

Tabela 1 - Valores de referência de TSH, T4 Livre e Tratamento

Autor TSH Normal

(mUI/L)

T4 Livre Normal

(pmol/L) Tratamento

Tell R, et al. 0,1-50 e 0,2-4,0 10-22 RxT, Cirurgia

Citrin D, et al. - - RxT, QxT

Bakhshandeh M, et al. (E) 0,27-5 12-22 RxT, QxT, Cirurgia

Diaz R, et al. 5,00 - RxT e QxT

Banipal RPS, et al. 0,2-4,0 - RxT, QxT

Alterio D, et al. - - RxT, QxT, Cirurgia

Alkan S, et al. 0,3-5,0 0,58-1,64** RxT e Cirurgia

Koc M, et al. 0,35-5,50 0,89-1,8* RxT, QxT, Cirurgia

Garcia-Serra A, et al. 4,5 - RxT e Cirurgia

Wu YH, et al. <4,0 >0,85* RxT e QxT

Lo Galbo AM, et al. 0,3-4,5 11,0-24,0 RxT, QxT e Cirurgia

Ronjom MF, et al 0,3-4,0 - RxT, QxT, Cirurgia

Norris AA, et al. <4,5*** - QxT, RxT e Cirurgia

Bakhshandeh M, et al.(N) 0,27-5 12-22 RxT, QxT e Cirurgia

Munyo-Estefan A, et al. 4,5 RxT, QxT e Cirurgia

Siala W, et al. - RxT e QxT

Bernát L, et al. 0,3-4,0 11,5-23,0 RxT e Cirurgia

*(ng/dL). **(ng/mL). RxT: Radioterapia. QxT: Quimioterapia.

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19

Tabela 3 - Dose de radiação e Tempo de seguimento

Autor Dose Média (Gy)

(Variação)

Tempo de

Seguimento

(mediana)

(meses)

Incidência de HT (%)

HT total HT

Subclínico HT Clínico

Tell R, et al. 63,3 3,8 (40,0-

68,0) 50,4 17 - -

Citrin D, et al. - 56,5 43 - 43

Bakhshandeh M, et al.

(2012) - - - - -

Diaz R, et al. - - 48 - -

Banipal RPS, et al. - - - 7,54 -

Alterio D, et al. - - 26 - 26

Alkan S, et al. 6,070,35 28,6 49,3 17,3 32

Koc M, et al. 54 (44-66) - 38 25,4 12,7

Garcia-Serra A, et al. 74,4 (58-81,6) 74,4 74 - -

Wu YH, et al. No mínimo 46 Gy 51,6 - 20,5 19,1

Lo Galbo AM, et al. 40-60 10 47,4 27,7 19,7

Ronjom MF, et al - 25 17,2 - -

Norris AA, et al. 50 10-20 - 54 - -

Bakhshandeh M, et

al.(2013) 42,21 12 45 31,03 68,9

Munyo-Estefan A, et al. - - 36,4 - -

Siala W, et al. 70-75 e 50-55 111 24 -

Bernát L, et al. - 34 - - -

VI.2. Incidência de hipotireoidismo versus radioterapia para câncer de cabeça e pescoço

Bakhshandeh M, et al. , avaliou prospectivamente a função da tireoide durante a

radioterapia em pacientes com câncer de cabeça e pescoço (nasofaringe, cavidade oral, laringe

Tabela 2 - Topografia dos tumores

Autor N Sexo

(M/F)

Incidência de HT (%) Local

Clínico Subclínico

Tell R, et al. 308 231/77 17 - Hf, Nf, Of, CO, La

Citrin D, et al. 35 28/07 43 - Of, Hf, La e CO

Bakhshandeh M, et al. (2012) 50 32/18 - - Nf, CO, La

Diaz R, et al. 144 - 48 - La, Nf, Hf, Of, CO

Banipal RPS, et al. 53 49/04 - 7,54 CO, Of, Hf, La

Alterio D, et al. 73 54/19 26 - Nf, Of, Hf, CO

Alkan S, et al. 75 - 32 17,3 La

Koc M, et al. 63 54/09 12,7 25,4 La, Nf, Hf, CO

Garcia-Serra A, et al. 206 - - - Of, Hf, La

Wu YH, et al. 408 286/122 26,3 17,4 Nf

Lo Galbo AM, et al. 137 116/21 19,7 27,7 Hf, La

Ronjom MF, et al 203 157/46 - - CO, Of, Hf, La

Norris AA, et al. 390 - 54 - Of

Bakhshandeh M, et al. (2013) 65 41/24 13,84 30,8 Nf, CO, La

Munyo-Estefan A, et al. 55 42/13 36,4 - La, CO, Hf, Of

Siala W, et al. 239 151/88 24 Nf

Bernát L, et al. 83 23/20 60 40 Boca, palato duro,

palato mole etc.

Obs.: HT: hipotireoidismo. Hf: hipofaringe; Nf: nasofaringe; Of: orofaringe; CO: Cav. Oral e LA: Laringe

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20

e outros). A média de idade foi 55 anos. A dose limiar de 12 Gy foi suficiente para produzir

mudanças significativas no TSH (p<0,000) e 24 Gy para T4 livre (p<0,016), após a 10ª e a 20ª

sessões, respectivamente. Neste estudo, 48% dos pacientes receberam quimioterapia

concomitante e 16% foram submetidos à radioterapia envolvendo a tireoide, enquanto 38%

passaram por cirurgias que não envolveram a tireoide. Os autores mostram que após a

trigésima sessão de radioterapia o nível de TSH foi de 0,70 1,03 e o nível de T4 livre 19,05

4,77. Para evitar que o efeito da radioterapia sobre a hipófise influenciasse nos hormônios

tireoidianos, os dados dos pacientes com carcinoma de nasofaringe foram excluídos.

Ronjom MF, et al., tiveram como objetivo desenvolver um modelo de probabilidade

de complicação do tecido normal induzido o desenvolvimento de hipotireoidismo após

radiação primária para carcinomas de cabeça e pescoço. A dose de radioterapia administrada

nesses pacientes variou de 66 a 68 Gy. O risco de desenvolver hipotireoidismo em cinco anos

foi de 25,6%. No modelo desenvolvido pelos autores, os fatores de risco para hipotireoidismo

foram o volume da tireoide (cm³) (p<0,001) e a dose média para a tireoide (Gy) (p<0,001).

Neste estudo os pacientes com câncer de nasofaringe também foram excluídos devido ao

efeito da radioterapia na hipófise. A incidência de hipotireoidismo neste estudo foi de 17,2%.

A incidência final de hipotireoidismo calculada a partir do modelo foi de 26%; 12% em 1 ano;

19% em 2 anos e 26% em 5 anos.

No estudo de Tell R, et al., os pacientes apresentaram risco de desenvolvimento de

hipotireoidismo de 20% e 27% após 5 e 10 anos, respectivamente. Além disso, através da

análise multivariada, os autores constataram que os pacientes que receberam radioterapia

bilateral no pescoço apresentaram um risco maior de desenvolver hipotireoidismo quando

comparados aqueles que receberam radioterapia unilateral (p=0,02). O risco de desenvolver

hipotireoidismo também se mostrou maior naqueles pacientes que passaram por cirurgia e,

caso a cirurgia envolvesse a tireoide, o risco seria maior ainda (RR=4,74) (p<0,001). 54% dos

pacientes estavam nos estágios III-IV da doença, enquanto o restante estava nos estágios 0-II.

No total 49% pacientes passaram por cirurgia, sendo que 11% desses passaram por

intervenção na tireoide. 75% dos pacientes receberam radioterapia bilateral no pescoço e 25%

receberam radioterapia unilateral. 17% dos pacientes desenvolveram hipotireoidismo, sendo

que a mediana até o desenvolvimento de hipotireoidismo foi de 1,8 anos. Na análise

univariada os pacientes com diagnóstico de câncer de hipofaringe, laringe, nasofaringe,

cavidade oral e orofaringe, apresentaram 20%, 17,4%, 0%, 19,4% e 18,1% de risco de

desenvolver hipotireoidismo, respectivamente (p=0,569). Os que passaram por cirurgia

envolvendo a tireoide apresentaram um risco de 41,2% (p<0,001). Os pacientes que

receberam radioterapia bilateral no pescoço apresentaram um risco de 19,6% de desenvolver

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hipotireoidismo, enquanto os que receberam radioterapia unilateral apresentaram risco de

9,0% (p=0,033). Os pacientes que estavam no estágio I apresentaram risco de 7,1%, estágio II

de 19,7%, estágio III de 25,4%, estágio IV 15,9% (p=0,097).

Citrin D, et al., avaliaram os resultados da administração de quimioterapia (Paclitaxel)

e radioterapia concomitantes em pacientes com carcinoma de cabeça e pescoço avançado (III

e IV). A dose de radioterapia variou de 70,2-72 Gy. Os pacientes desse estudo foram seguidos

em uma mediana de 56,5 meses. A incidência de hipotireoidismo nesse estudo foi de 43%.

Nesse estudo os pacientes foram acompanhados semanalmente durante o tratamento, no

primeiro ano uma vez ao mês e, após o tratamento, bimestralmente; e depois a cada 3-6

meses.

Bakhshandeh M, et al., usaram um modelo de probabilidade de complicação do tecido

normal para determinar a relação dose-resposta da tireoide para o hipotireoidismo induzido

por radiação em cânceres de cabeça e pescoço. 44,6% dos pacientes desenvolveram

hipotireoidismo, 9 hipotireoidismo clínico e 20 subclínico. Os pacientes nesse estudo tinham

câncer localizado em nasofaringe, cavidade oral e laringe. 50,8% dos pacientes receberam

quimioterapia e 30,7% passaram por cirurgia, sendo que 18,5% dos que passaram por cirurgia

passaram por intervenção na tireoide. A dose média para a glândula tireoide foi de 42,21 Gy.

Alterio D, et al., realizaram um estudo retrospectivo com 73 pacientes diagnosticados

com câncer de cabeça e pescoço. 26% dos pacientes desenvolveram hipotireoidismo. A

maioria dos pacientes estava em estágios avançados da doença (III e IV). 23 pacientes

receberam apenas radioterapia; 21 receberam radioterapia e cirurgia e 40 receberam

radioterapia e quimioterapia. A dose média para campos laterais foi de 74,4 Gy. Os

linfonodos supraclavicular e cervical baixos foram tratados com feixes de 50 Gy.

Koc M, et al., avaliaram retrospectivamente as mudanças provocadas pela radioterapia

na glândula tireoide. A incidência de hipotireoidismo foi 38%, sendo que 12,7% foi

hipotireoidismo clínico e 25,4% hipotireoidismo subclínico. Após uma mediana de 15 meses

se desenvolveu o hipotireoidismo clínico; enquanto o subclínico se desenvolveu em uma

mediana de 3 meses. 38% dos pacientes desenvolveram hipotireoidismo, 12,7% clínico e

25,4% subclínico. A mediana para o desenvolvimento de hipotireoidismo clínico foi 15 meses

e subclínico 3 meses.

Munyo-Estefan A, et al., avaliaram retrospectivamente 362 pacientes. 36,4% desses

pacientes desenvolveram hipotireoidismo. 53% dos pacientes tinham câncer de laringe, 15%

câncer de cavidade oral, 10% de hipofaringe e 22% câncer na orofaringe ou em glândula

parótida. 67% dos pacientes desse estudo estavam em estágio III ou IV. Remoção cirúrgica do

tumor e metástases cervicais foi realizada em 70% dos pacientes.

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Garcia-Serra A, et al., realizaram estudo retrospectivo com 504 pacientes com câncer

de cabeça e pescoço. Entretanto, apenas 206 pacientes tinham níveis de TSH aferidos após o

tratamento. Nesse estudo foram excluídos pacientes que receberam quimioterapia adjuvante.

A incidência de hipotireoidismo foi de 42% em 5 anos e 74% em 10 anos. 60% dos eventos

ocorreram durante os primeiros cinco anos de seguimento, aproximadamente. 86 pacientes

receberam apenas radioterapia; 83 pacientes receberam radioterapia e passaram por dissecção

do pescoço e 37 pacientes foram tratados com laringectomia total e radioterapia pós-

operatória.

Diaz R, et al., analisaram retrospectivamente pacientes com câncer de cabeça e

pescoço em estágio avançado tratados com radioterapia de intensidade

modulada/quimioterapia. Após uma mediana de 1,08 anos do término da radioterapia a

incidência de hipotireoidismo foi de 47,7%.

Banipal RPS, et al., estudaram prospectivamente as sequelas induzidas pela radiação

na glândula tireoide, assim como a influência exercida pelo tratamento concomitante com

quimioterapia. Os pacientes desse estudo foram tratados com radioterapia externa (52,8%) ou

quimioterapia concomitante - 5-fluoracil e Cisplatina (47,1%). A incidência de

hipotireoidismo subclínico foi de 7,5%. Os sítios primários dos tumores foram de cavidade

oral, orofaringe, hipofaringe, laringe e parótida. 25 pacientes receberam quimioterapia. 52,8%

pacientes receberam radioterapia sozinha.

VI.3. Hipotireoidismo após radioterapia para câncer de laringe

Lo Galbo AM, et al., avaliaram prospectivamente a incidência de hipotireoidismo em

pacientes com câncer de laringe ou hipofaringe tratados com cirurgia e/ou radioterapia. A

incidência de hipotireoidismo nesse estudo foi de 47,4%, sendo que 27,7% era subclínico e

19,7% clínico. A análise multivariada mostrou laringectomia, hemitireoidectomia e dissecção

do pescoço como fatores preditivos para o desenvolvimento do hipotireoidismo, sendo que os

pacientes que passaram por cirurgia e receberam radioterapia tiveram aumento do risco de

desenvolvimento de hipotireoidismo, assim como a realização de hemitireoidectomia nesses

pacientes também mostrou uma tendência ao aumento de risco. Os pacientes que foram

submetidos à laringectomia total passaram por hemitireoidectomia ipsilateral; 78,3% dos

pacientes que foram tratados com laringectomia total e hemitireoidectomia desenvolveram

hipotireoidismo. A incidência de hipotireoidismo naqueles que não passaram por

laringectomia foi de 36,1%; nos que passaram por laringectomia parcial foi de 33,3% e nos

que passaram por laringectomia total a incidência foi de 78,4% (p=0,000). Naqueles que

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realizaram hemitireoidectomia a incidência foi de 35,4% e para os que não realizaram foi de

35,4% (p=0,000). A incidência de hipotireoidismo naqueles que receberam radioterapia

primária foi de 37,8%; radioterapia pré-operatória 76,2% e radioterapia pós-operatória 76,9%,

p=0,001 quando comparadas entre si. A incidência de hipotireoidismo para aqueles que

receberam doses entre 40-55 Gy foi de 22,2%, enquanto os que receberam dose maior 60-70

Gy a incidência foi de 49,6% (p=0,636). Para quem recebeu quimioterapia a incidência foi de

52,6%, comparado a 46,6% de quem não recebeu (p=0,624). A incidência de hipotireoidismo

após radioterapia foi de 36,1%; a incidência nos pacientes que foram submetidos à

laringectomia foi de 40% e a incidência naqueles que além da radioterapia também passaram

por laringectomia foi de 80%.

Alkan S, et al., realizaram estudo prospectivo somente com homens com o intuito de

avaliar a incidência de disfunção na tireoide nos pacientes submetidos à laringectomia e

radioterapia para câncer de laringe, assim como analisar os fatores de risco para o

desenvolvimento de hipotireoidismo. A incidência de hipotireoidismo nesse estudo foi de

49,3%, 17,3% hipotireoidismo subclínico e 32% hipotireoidismo clínico. A dose de

radioterapia no grupo que desenvolveu hipotireoidismo foi de 6,070,35 Gy, enquanto no

grupo de eutireoideos a dose foi de 5,920,25 Gy (p<0,05). 40% dos pacientes tratados com

laringectomia parcial desenvolveram hipotireoidismo. 59% dos que passaram por

laringectomia total desenvolveram hipotireoidismo. A taxa de lobectomia e foi de 94,6% no

grupo de hipotireoidismo (análise univariada) (p=0,046).

VI.4. Hipotireoidismo após radioterapia para câncer de faringe

Wu YH, et al., avaliaram prospectivamente pacientes com câncer de nasofaringe. Os

pacientes foram acompanhados por uma mediana de 4,3 anos. 20,3%, 34,3%, 18,9% e 26,5%

dos pacientes estavam em estágio T1, 2, 3 e 4, respectivamente. Os pacientes foram

submetidos à radioterapia convencional, conformacional 3D e radioterapia fracionada

alterada, assim como quimioterapia concomitante ou sequencial. 20,8% dos pacientes

passaram por reirradiação. A incidência de hipotireoidismo subclínico nesse estudo foi de

13,72% e de hipotireoidismo clínico foi de 9,8%. A mediana para o desenvolvimento de

hipotireoidismo subclínico e clínico foi de 2,2 anos e 3,2 anos, respectivamente. A incidência

estimada de hipotireoidismo subclínico e clínico após o tratamento foi 9,7% e 5,3% em 3

anos, 15,7% e 9,0% em 5 anos e 20,5% e 19,1% em 10 anos. Na análise multivariada a idade

mais jovem (p=0,004) e radioterapia conformacional 3D (p=0,005) foram associados com um

maior risco de desenvolvimento do hipotireoidismo clínico.

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Norris AA, et al., realizaram estudo com pacientes com diagnóstico de câncer de

orofaringe e tiveram o objetivo de determinar a incidência de hipotireoidismo após a

radioterapia. A radioterapia envolveu a região anterior e baixa do pescoço incluindo a

tireoide. A dose foi de 50 Gy. Os autores calcularam a incidência de hipotireoidismo para o

grupo que foi aferido o TSH (n=169) e o restante dos pacientes (n=390). A incidência de

hipotireoidismo após 5 anos foi de 31% para os pacientes sem dados de TSH e 54% para os

pacientes com dados de TSH.

Siala W, et al., estudaram retrospectivamente os fatores de risco para ocorrência de

toxicidade na tireoide após radioterapia para câncer de nasofaringe. 70,7% dos pacientes

receberam quimioterapia. Dos 24% pacientes que desenvolveram hipotireoidismo, 92%

primário (73% subclínico e 19% clínico) e 8% secundário (central). A taxa de hipotireoidismo

foi de 2,5, 18,1, 24,3 e 35% em 1, 3, 5 e 10 anos, respectivamente. Na análise univariada a

incidência de hipotireoidismo foi 19,8% em homens e 30,7% em mulheres (p<0,04).

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VII. DISCUSSÃO

A literatura relata que hipotireoidismo representa um dos efeitos mais frequentemente

encontrado em pacientes tratados com radioterapia para câncer de cabeça e pescoço. Este

presente estudo revelou que, após a irradiação de pelo menos uma parte da glândula tireoide, a

incidência de hipotireoidismo total varia entre 17% a 54% com o tempo variando desde o

término do tratamento até 10 anos depois e após uma mediana de tempo de seguimento de

42,2 meses. As incidências de hipotireoidismo subclínico e clínico variaram entre 7,54% a

31,03% e 12,7% a 68,9%, respectivamente. É esperado que a incidência de hipotireoidismo

clínico e subclínico seja maior em pacientes submetidos à radioterapia para cânceres de

cabeça e pescoço quando comparados com a estimativa de risco de uma população normal

sem exposições prévias à radiação. Entretanto, não foi possível definir uma dose limite para o

desenvolvimento de hipotireoidismo neste estudo, uma vez que a indefinição da dose no

desenvolvimento do hipotireoidismo se deve à falta de uniformidade existente nos parâmetros

de dose usados, assim como no que diz respeito à definição de hipotireoidismo entre os

estudos.

Bakhshandeh M, et al. (E), os visualizaram diminuição na ecogenicidade da tireoide

através da ultrassonografia com Doppler após a radioterapia e inferiram que seria devido às

complicações decorrentes durante a terapia. Os resultados desse estudo mostram uma

diminuição do TSH após 10 frações de radioterapia, assim como um aumento significativo

nos níveis de T4 livre após 20 frações, sendo que essas alterações se mantiveram até o final

do tratamento. Os autores observaram também mudança na ultrassonografia indicativa de

tireoidite, o que poderia, mais tarde, levar ao surgimento de hipotireoidismo ou

hipertireoidismo. Além do dano decorrente da evolução da tireoidite, os autores concluíram

que haveria também o dano provocado diretamente por radiação na tireoide ou no hipotálamo

e hipófise, levando ao surgimento de hipotireoidismo primário e central, respectivamente.

Esse estudo mostrou que os resultados das mudanças ocorridas na tireoide após a radioterapia

não diferiam significativamente daqueles feitos quando se excluía os pacientes com câncer de

nasofaringe na análise, o que permite dizer que a radiação provoca disfunção tireoidiana

mesmo quando não é feita irradiação na tireoide.

No estudo realizado por Ronjom MF, et al., o risco de desenvolvimento de

hipotireoidismo foi de 19% em 2 anos e 26% em 5 anos, sendo que os autores estimaram que

95% dos eventos se desenvolveriam nos primeiros 5 anos após a radioterapia. Entretanto, a

incidência de hipotireoidismo nesse estudo foi um pouco menor em relação à verificada por

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Bakhshandeh et al., que foi de 45% em uma população de 65 pacientes com um seguimento

mediano de 12 meses. A incidência maior de hipotireoidismo nesse último estudo pode ser

devida à realização de cirurgia. Ronjom MF, et al., também identificaram volumes de tireoide

menores em mulheres que apresentavam risco maior de desenvolver hipotireoidismo.

O estudo realizado por Tell R, et al., a incidência de hipotireoidismo foi de 17%, e os

autores observaram um aumento da incidência para 41% quando a cirurgia incluindo a

tireoide foi realizada. Os autores não encontraram correlação significativa entre uma dose

mais alta de radioterapia para o tumor e o risco de desenvolver hipotireoidismo, mesmo

sabendo que a dose irradiada é de suma importância para a ocorrência de hipotireoidismo.

Entretanto, quando os pacientes foram avaliados em grupos de irradiação unilateral e bilateral

do pescoço, foi encontrada uma diferença significante que permite dizer que o volume

irradiado é importante para o desenvolvimento de hipotireoidismo. Munyo-Estefan A, et al.,

relataram que o modo de tratamento, especialmente a ressecção cirúrgica, é o fator preditivo

mais importante para o desenvolvimento de hipotireoidismo (p=0,054).

Bakhshandeh M, et al. (N) e Koc M, et al., através de análises estatísticas verificaram

que a quimioterapia concomitante não possui nenhum efeito significativo sobre a ocorrência

de complicações na tireoide. Eles atribuíram também a dose de 38,5 a 44,3 Gy como

estimativa para o desenvolvimento de hipotireoidismo de qualquer tipo; no entanto, quando

foi considerado hipotireoidismo clínico, a dose estimada foi 60 Gy.

Na avaliação de Alterio D, et al., o sexo feminino foi associado a uma maior

incidência de toxicidade da tireoide, entretanto, eles ressaltam que as mulheres também

parecem ter o volume da tireoide menor que o dos homens. Koc M, et al., notaram que

embora estudos anteriores tenham concluído que o hipotireoidismo seja mais comum em

mulheres que em homens, eles não encontraram efeito estatisticamente significante entre

essas variáveis. Os autores não encontraram associação entre as variáveis relacionadas ao

tumor, como local, tamanho, estadiamento, estado linfonodal, diagnóstico inicial e duração do

seguimento, com um risco maior de hipotireoidismo. Como a dose de radiação para cada

paciente foi semelhantes nesse estudo, as correlações entre dose e hipotireoidismo não

puderam ser avaliadas nesse estudo.

Siala W, et al., concluíram que o gênero é um fator significativo para a ocorrência de

hipotireoidismo, tendo incidência de 30,7% nas mulheres e 20% nos homens (P=0,04).

Koc M, et al., concluíram através da análise uni e multivariada que cirurgia no

pescoço e dose de radioterapia para o pescoço não possuem impacto significativo sobre o

risco de hipotireoidismo subsequente. Os autores observaram também uma diminuição nos

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níveis de TSH tanto dos pacientes submetidos à cirurgia, quanto dos que não foram;

concomitantemente a um aumento do T4 livre.

Na análise feita por Garcia-Serra A, et al., os pacientes que foram submetidos à

radioterapia no pós-operatório tornaram-se bioquimicamente hipotireoideos duas vezes mais

em relação aos que receberam radioterapia definitiva (80% em 5 anos versus 40% em 5 anos,

P < 0,0001 na análise multivariada).

O volume de tireoide irradiado parece ser um fator de risco para o desenvolvimento de

hipotireoidismo, uma vez que esta disfunção é mais comum se a altura do campo de radiação

é 7 cm (aproximadamente 65-70% do volume total da tireoide), segundo Alterio D, et al.

Diaz R, et al., analisaram volumes de tireoide com controles para idade e sexo e

demonstraram que o volume é um fator de risco, inferindo que indivíduos com volumes

menores de tireoide possuem risco aumentado para o desenvolvimento de hipotireoidismo

após a radioterapia.

No estudo realizado por Wu YH, et al., os principais fatores de risco para o

hipotireoidismo induzido por radiação identificados por eles foram: idade mais jovem (<30

anos), sexo feminino, técnicas de radiação específicas e estágio inicial T.

É extremamente importante o monitoramento constante e periódico de complicações

dos pacientes que passaram por tratamento de câncer. O hipotireoidismo induzido por

radioterapia é um efeito conhecido pela literatura. O paciente que é periodicamente assistido

após o término de tratamento com radioterapia, possui maiores chances de diagnosticar uma

disfunção na tireoide e tratá-la precocemente, evitando transtornos à vida do mesmo. A

dosagem de hormônios tireoidianos deve ser incluída nas avaliações feitas pelos pacientes

tratados para câncer de cabeça e pescoço pelo menos durante os primeiros cinco anos ap´´os o

tratamento, assim como um encaminhamento para o endocrinologista, caso seja notada

alguma alteração. Não se sabe ao certo qual o mecanismo exato do dano provocado pela

radiação nas células. No entanto, posula-se que a radiação ocasione danos diretos ao epitélio

glandular, interferindo na mitose das células, causando perturbação nos vasos, assim como

algumas reações imunes, como referido por Koc M, et al. em seus estudos. Muitas vezes o

acompanhamento rotineiro nos pacientes que após a radioterapia para câncer de cabeça e

pescoço é negligenciado pelo médico, o que pode ser devido à falta de conhecimento sobre a

importância da iatrogenia causada pela radiação sobre a tireoide, deixando de fazer os exames

necessários. Seria interessante a elaboração de um protocolo mostrando a importância do

acompanhamento periódico através de exames de função tireoidiana após o término da

radioterapia para os pacientes com câncer de cabeça e pescoço. Essa vigilância constante

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permitiria um diagnóstico precoce de hipotireoidismo evitando mais prejuízos à saúde do

paciente através da instituição de terapêutica eficaz imediata.

Os desenhos dos estudos incluídos nesta revisão não possuem tanta força metodológica. São

necessários estudos de maior impacto epidemiológico, prospectivos, randomizados e

controlados sobre o tema para que seja determinada a melhora forma de manejar esses

pacientes.

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VIII. CONCLUSÕES

1. Os estudos avaliados apresentaram uma alta incidência de hipotireoidismo naqueles

pacientes submetidos à radioterapia isolada ou em combinação com outros tratamentos

para os cânceres de laringe, faringe e cavidade oral.

2. A ocorrência de hipotireoidismo pós-radioterapia é influenciada positivamente pelo

volume inicial da tireoide, pelo campo de irradiação, pela exposição a tratamentos

combinados e pela dose de radiação.

3. Esta revisão sugere que protocolos de provas de função tireoidiana devam ser

realizados periodicamente nesses pacientes no intuito de se observar um diagnóstico e

tratamento precoces da disfunção da glândula.

4. Estudos prospectivos com maior número de sujeitos devem ser realizados para

identificação de fatores de risco pré-tratamento que auxiliarão na predição prognóstica

da incidência do hipotireoidismo.

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IX. SUMMARY

Introduction: The oral cavity and larynx cancers are the 5th and 7th most incident in males

estimated for the year of 2014, respectively. The head and neck cancer treatment can be done

with surgery, isolated or combinated radiotherapy; choosing will depend on tumor staging,

resectability and localization, besides approaches that aims organ preservation. Complications

can be early or late. Radiotherapy can lead to thyroid disfunction, specially when it's done on

the inferior neck region, resulting in primary hypothyroidism. Objectives: Evaluate

hypothyroidism incidence in adult patients submitted to radiotherapy as a part of the treatment

for head and neck, above all larynx, pharynx and oral cavity cancers as well as the incidence

according to the tumor localization. Evaluate the relation between radiation dosage and

development of hypothyroidism. Methods: Systematic review of prospective and

retrospective studies indexed on PubMed, Cochrane and Science Direct databases

(January/2004 - May/2014). Results: 158 studies were identified in the literature and 17

articles were included in this review. Discussion: Overall incidence of hypothyroidism ranged

between 17% and 54% after a follow up time median of 42,2 months in the studies included

in this review. The limit of the dose for hypothyroidism development is still undefined. More

studies are necessary to evaluate the incidence of hypothyroidism according with the stricken

region. Conclusion: Studies have shown a high incidence of hypothyroidism after treatment

for head and neck cancer, especially larynx, pharynx and oral cavity cancers, but more studies

are needed to evaluate the variation of these incidence with dose ofradiation.

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