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[REVISTA CONTEMPORÂNEA – DOSSIÊ REGIMES AUTORITÁRIOS E SOCIEDADES] Ano 3, n° 3 | 2013, verão ISSN [2236-4846] 186 Uma “ilha descontente”: Disputas e conflitos em torno da memória sobre a Batalha de Okinawa * Ricardo Sorgon Pires * Introdução Esse trabalho tem como objeto central a memória de um evento traumático partilhada por um grupo ainda pouco estudado na academia brasileira, os okinawanos. Devido a esse fato, pretende-se expor, ainda que de maneira breve, alguns aspectos da história desse povo, destacando, em especial, sua relação com os japoneses do arquipélago principal. Desde meados do século XV (quando as ilhas Ryukyu são unificadas em um reino) até a segunda metade do século XIX, o Reino de Ryukyu 1 , formado por um conjunto de pequenas ilhas ao Sul do Japão e próximo à China, possuía relativa soberania com relação aos seus vizinhos. Devido às suas características históricas e geográficas, o povo de Okinawa se formou a partir de matrizes étnicas e culturais diversas, tendo por isso uma cultura fortemente marcada por permutas e miscigenações com diversos povos. Na segunda metade do século XIX, no contexto do avanço do imperialismo europeu na Ásia e da tentativa do Japão de se constituir em estado-nação moderno aos moldes europeus, o frágil Reino de Ryukyu se converte em um cobiçado ponto estratégico em termos geopolíticos. Nesse âmbito, o recém-formado Império do Japão, utilizando um discurso nacionalista no qual afirmava que os okinawanos eram como que “irmãos” dos japoneses e que esses deveriam “proteger” os primeiros das ameaças ocidentais, o Japão invade as ilhas Ryukyu, derruba a monarquia, e em 1879 transforma o antigo reino em Província de Okinawa, a qual existe até hoje. * Artigo recebido em outubro de 2012 e aprovado para publicação em janeiro de 2013. * Doutorando em História Social pela Universidade de São Paulo (FFLCH/NEHO). Bolsista CAPES. Contato: [email protected] 1 Existem diversas denominações para esse arquipélago. O nome Ryukyu pode se referir ao arquipélago de maneira genérica, ou ao nome do reino que existiu até o século XIX, que abrangia todas essas ilhas. Okinawa, por sua vez, é o nome da ilha principal do arquipélago, e também o nome da Província (que abrange todo o arquipélago) que foi instaurada pelo governo japonês em 1879.

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Ano 3, n° 3 | 2013, verão ISSN [2236-4846]

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Uma “ilha descontente”:

Disputas e conflitos em torno da memória sobre a

Batalha de Okinawa*

Ricardo Sorgon Pires*

Introdução

Esse trabalho tem como objeto central a memória de um evento traumático

partilhada por um grupo ainda pouco estudado na academia brasileira, os okinawanos.

Devido a esse fato, pretende-se expor, ainda que de maneira breve, alguns aspectos da

história desse povo, destacando, em especial, sua relação com os japoneses do

arquipélago principal.

Desde meados do século XV (quando as ilhas Ryukyu são unificadas em um

reino) até a segunda metade do século XIX, o Reino de Ryukyu1, formado por um

conjunto de pequenas ilhas ao Sul do Japão e próximo à China, possuía relativa

soberania com relação aos seus vizinhos. Devido às suas características históricas e

geográficas, o povo de Okinawa se formou a partir de matrizes étnicas e culturais

diversas, tendo por isso uma cultura fortemente marcada por permutas e miscigenações

com diversos povos.

Na segunda metade do século XIX, no contexto do avanço do imperialismo

europeu na Ásia e da tentativa do Japão de se constituir em estado-nação moderno aos

moldes europeus, o frágil Reino de Ryukyu se converte em um cobiçado ponto

estratégico em termos geopolíticos. Nesse âmbito, o recém-formado Império do Japão,

utilizando um discurso nacionalista no qual afirmava que os okinawanos eram como

que “irmãos” dos japoneses e que esses deveriam “proteger” os primeiros das ameaças

ocidentais, o Japão invade as ilhas Ryukyu, derruba a monarquia, e em 1879 transforma

o antigo reino em Província de Okinawa, a qual existe até hoje.

* Artigo recebido em outubro de 2012 e aprovado para publicação em janeiro de 2013.

*Doutorando em História Social pela Universidade de São Paulo (FFLCH/NEHO). Bolsista CAPES.

Contato: [email protected] 1 Existem diversas denominações para esse arquipélago. O nome Ryukyu pode se referir ao arquipélago

de maneira genérica, ou ao nome do reino que existiu até o século XIX, que abrangia todas essas ilhas.

Okinawa, por sua vez, é o nome da ilha principal do arquipélago, e também o nome da Província (que

abrange todo o arquipélago) que foi instaurada pelo governo japonês em 1879.

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Em contraste com o discurso oficial, os okinawanos passam a ser tratados como

cidadãos de segunda categoria pelos japoneses, não tendo acesso a diversos direitos

civis e políticos, se não oficialmente, ao menos praticamente. Seguindo uma política

nacionalista, centralizadora e autoritária, os japoneses perseguiam, por diversos meios,

quaisquer manifestações culturais, políticas ou ideológicas que destoavam das oficiais.

Nesse sentido, os okinawanos, que possuíam religião, costumes, língua e mesmo traços

físicos diferentes, sofriam diversas perseguições.

Essas considerações preliminares são importantes para que se compreenda a

seguir os impactos causados, nas relações entre os okinawanos e os demais japoneses

após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, sobretudo com os resultados da Batalha de

Okinawa, a subsequente ocupação norte americana (1945-1972), as disputas de

memórias envolvendo esses dois grupos após o retorno das ilhas ao território japonês, e

por fim, os protestos levado à cabo pelos okinawanos nas últimas décadas, dentre as

quais a grande manifestação ocorrida em 2007, resultado de uma tentativa por parte do

Ministério da Educação do Japão de alteração ou “enquadramento” (POLLAK, 1989, p.

9-12) da memória (nacional e coletiva dos okinawanos) da Batalha de Okinawa, por

meio de revisões nos livros didáticos de história nacionais.

A hecatombe do pacífico: a batalha de Okinawa - história e memória

Considerada como uma das mais sangrentas batalhas da Segunda Guerra

Mundial, tanto pela ferocidade dos combates quanto pelo número de civis mortos,

sobretudo em termos proporcionais, a Batalha de Okinawa (Abril a Junho de 1945) foi

um trágico acontecimento na história dessa ilha, cujos traumas e as dolorosas

lembranças desse conflito, bem como seus desdobramentos, ainda estão longe de serem

“sublimados” pela memória coletiva dos okinawanos.

Com relação à memória coletiva, este trabalho se utiliza do conceito pioneiro

proposto por Maurice Halbwachs, em seu livro A memória coletiva (2006), o qual foi

fundamental por defender que a memória é antes social do que individual, abrindo

espaço para os futuros trabalhos sobre identidade, mentalidade, inconsciente coletivo,

dentre outros. Outro conceito de Halbwachs importante nesse trabalho é o de

“comunidade afetiva”, o qual se refere a um grupo de pessoas que possuem afinidades,

experiências, expectativas e características em comum.

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Esse conceito pode ser aplicado com relação aos okinawanos pelo fato deles

possuírem tais relações em comum, por serem um grupo étnico e cultural distinto dos

outros japoneses e, principalmente, devido às marcas deixadas pela experiência coletiva

da segunda guerra mundial e seus efeitos posteriores. A questão da experiência é algo

fundamental para a construção da memória coletiva. Segundo Halbwachs: “[...] Nossa

memória não se apóia na história aprendida, mas na história vivida”. (HALBWACHS,

2006, p. 79)

Como o cerne desse trabalho são questões como disputas de memórias,

tentativas de impor memórias oficiais e apagar memórias discordantes, um teórico

privilegiado é Michael Pollak, sociólogo francês que, apesar de influenciado por

Halbwachs, enfatiza o quanto a memória coletiva é objeto de disputas violentas.

Segundo Pollak:

[...] Halbwachs, longe de ver nessa memória coletiva uma imposição,

uma forma específica de dominação ou violência simbólica, acentua

as funções positivas desempenhadas pela memória comum, a saber, de

reforçar a coesão social, não pela coerção, mas pela adesão afetiva ao

grupo, donde o termo que utiliza, de “comunidade afetiva”. Na

tradição européia do século XIX, em Halbwachs, inclusive, a nação é

a forma mais acabada de um grupo, e a memória nacional, a forma

mais completa de uma memória coletiva (POLLAK, 1989, p. 3).

O posicionamento de Pollak é importante na discussão concernente às disputas e

conflitos em torno da memória sobre a Batalha de Okinawa, visto que envolve uma

memória oficial construída pelo Estado japonês, e outra, de um grupo minoritário, os

okinawanos, que possui uma “memória subversiva”2.

A intenção não é discorrer sobre a Batalha de Okinawa em termos

historiográficos, analogamente à proposta do sociólogo Eviatar Zerubavel, o objetivo é

perceber o modo como essa batalha é lembrada por okinawanos e demais japoneses, e

como a memória desse ocorrido é convertida em uma narrativa, utilizada para legitimar

ações (no caso dos okinawanos) ou manutenções (no caso dos japoneses) no presente,

sendo por isso objeto de “batalhas mnemônicas” (ZERUBAVEL, 2003, p. 2).

2 Vale esclarecer, contudo, que apesar de ambas serem memórias (oficial e coletiva) as formas de

captação de narrativas orais e escritas são diversas e demandam tratamentos metodológicos específicos.

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Nesse sentido, será utilizado apenas alguns dados e referências elementares

sobre o conflito para demonstrar o quão traumático foi esse evento para a população que

o vivenciou, e suas repercussões, ainda muito presentes, na memória daqueles que

presenciaram o fato, o “viveram por tabela” (POLLAK, 1992, p.201), ou mesmo o

percebem como algo significativo em sua construção identitária.

A Batalha de Okinawa, ocorrida já na fase final da segunda guerra mundial, se

estendeu por cerca de três meses, ao fim do qual jaziam entre 220,000 a 300,000 mortos

(os números variam consideravelmente entre as várias estatísticas realizadas) dos quais

cerca de 14.000 militares americanos, 100.000 militares japoneses, e uma terrível cifra

variável entre 120.000 a 150.000 civis okinawanos de uma população, na época, de

cerca de 450.000 pessoas3. Ou seja, as estimativas mostram que entre um terço a um

quarto da população nativa pereceu diretamente nos combates. Contudo, esses números

não levam em consideração os milhares de feridos, e os mortos em períodos

subsequentes devido às doenças, inanição, ferimentos, dentre outros fatores. O número

de mortos nessas pequenas ilhas é comparável, às estatísticas mais “conservadoras”, ao

número de mortos nos ataques atômicos em Hiroshima e Nagasaki somados, ocorrido

em Agosto de 1945.

Evidentemente, um grande número de civis mortos era esperado nessa batalha,

uma vez que o bombardeio intenso e indiscriminado em cidades e áreas de população

civil foi algo constante e terrivelmente empregado ao longo da Segunda Guerra por

ambos os lados beligerantes (Londres em 1941, Leningrado e Stalingrado em 1942,

Dresden, Berlim e Tokyo em 1945, dentre outros). No entanto, não é possível a

compreensão da matança de civis ocorrida em Okinawa, sem se levar em conta a

participação do exército japonês nesse episódio.

Como acima enunciado, os japoneses, após anexarem as ilhas Ryukyu em 1879,

passam a impor uma intensa política de “niponização” por meio da escola e da

imprensa. A língua e a história japonesa começam a serem ensinadas nas escolas e

muitas manifestações culturais okinawanas são proibidas. A partir de 1936, quando o

exército japonês passa a controlar, na prática, o governo após um golpe de estado, entra

em vigor uma política ultranacionalista, racialista e xenófoba, a qual estava em gestação

3O museu oficial Memorial da Paz da Província de Okinawa estima em cem mil o número de civis

mortos. Por sua vez, José Yamashiro em seu livro (1993, p.226) fala em mais de cento e quarenta mil

mortos. A contagem precisa é impossível, uma vez que muitos corpos não foram encontrados como os

milhares soterrados nas cavernas, ou dizimados nos intensos bombardeios, dentre outros casos.

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em períodos anteriores4. A partir desse momento, grupos minoritários como os

coreanos, chineses, os ainu e os okinawanos são ainda mais discriminados.

Em Okinawa, ocorrem humilhações públicas aos residentes que usavam o

dialeto local ao invés do japonês oficial, ou realizavam certas práticas religiosas ou

culturais tradicionais. Todos estes fatores provocaram fortes descontentamentos

populares, os quais raramente foram expressos publicamente, no período, devido à forte

repressão e ao clima beligerante decorrente das constantes guerras nas quais o Império

japonês estava envolvido. Esse descontentamento popular, bem como o clima tenso de

relações entre esses dois povos chegará a uma situação limite com a Batalha de

Okinawa.

No decorrer da chamada guerra do pacífico (1941-1945), entre Estados Unidos e

o Japão, após um breve período de sucesso e euforia devido a algumas vitórias iniciais,

aos poucos os japoneses sofrem uma série de derrotas em importantes batalhas (Mar do

Coral, Midway, Golfo de Leyte, Guadalcanal, Marianas, Iwo Jima,) em decorrência,

entre outros motivos, da esmagadora superioridade industrial-militar americana. Após a

“liberação” pelos aliados dos territórios ocupados pelos japoneses durante a guerra, o

alvo passa a ser (a partir de 1945) o próprio território japonês, a começar pelas Ilhas

Ryukyu, mais ao sul do arquipélago central.

Logo nas primeiras semanas do conflito em Okinawa, houve um grande número

de civis mortos e feridos, uma vez que os americanos realizaram um intenso

bombardeio aeronaval por toda a ilha, destruindo vilas, cidades, campos de plantação. O

bombardeio foi tão intenso que ele é lembrado pelos moradores da ilha como “Tufão de

ferro” (tetsu no bofu). Com a destruição dessas áreas abertas, milhares de moradores

foram em busca de abrigo nas numerosas cavernas existentes em Okinawa. Além das

cavernas naturais, o exército japonês construiu diversos abrigos e túneis subterrâneos

como forma de contrabalancear o esperado poder de fogo incontestável dos americanos,

obrigando-os assim a combater na ilha a curta distância (FEIFER, 2001, p. 90-96).

Na medida em que a batalha tornava-se desesperadora para os japoneses, os

soldados imperiais que recuavam em busca de abrigo, muitas vezes, expulsavam os

civis, refugiados nas cavernas, “à ponta de baioneta” (YAMASHIRO, 1997, p. 227).

4 Ainda é objeto de muitos debates acadêmicos a questão de como denominar politicamente o Japão

durante o governo militar após 1936. Marcus Willenski (2005, p.77), por exemplo, denomina o Japão nos

primeiros anos da década de 1940 como um Estado Fascista de facto. Hobsbawm (2005, p.135), por sua

vez, afirma que o governo japonês mesmo durante a guerra nunca foi fascista.

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Nesses casos, muitas famílias inteiras eram dizimadas pelo fogo de artilharia (americana

e japonesa), as quais ficavam expostas fora dos abrigos. Em outras situações, segundo

as denúncias do escritor japonês Oe Kenzaburo5, os soldados japoneses obrigavam os

civis escondidos a se suicidarem com granadas para não prejudicar os soldados

japoneses, garantindo o abastecimento regular de alimentos para as tropas6.

Muitos cidadãos da ilha suicidaram-se devido às pressões e à intensa propaganda

realizada pelo exército japonês ao longo de meses, a qual afirmava que os americanos

eram bárbaros que estupravam indiscriminadamente meninas e mulheres e torturavam

os homens de várias maneiras.

Desse modo, muitos civis da ilha convenceram-se de que era preferível o

suicídio à captura. Muitas pessoas decidiam se matar com toda a família usando as

granadas de mão distribuídas pelo exército japonês unicamente para esse fim, ou se

jogar dos penhascos nas partes altas da ilha. Todavia, além dessas pressões por parte do

exército, muitos civis foram obrigados a matar a si e aos seus familiares sob a mira dos

fuzis do exército imperial.

Um caso tragicamente emblemático dessa situação é relatado, na edição de 21 de

Junho de 2005 no The New York Times, pelo jornalista James Brook ao realizar uma

matéria intitulada “1945 suicide order still a trauma on Okinawa”. Nesse artigo, Brook

entrevista um sobrevivente que tinha 15 anos na época da guerra, Takejiro Nakamura.

Em determinado momento, Nakamura relata a seguinte experiência:

"I heard my sister calling out, 'Kill me now, hurry,"' Nakamura said,

recalling how his 20-year-old sister panicked at the approach of U.S.

soldiers. His mother took a rope and strangled his sister.

"I tried to also strangle myself with a rope," he recalled, lifting his

now-weatherbeaten hands to his neck. "But I kept breathing. It is

really tough to kill yourself."

Minutes later, the Americans took them captive.

5 Cabe ressaltar que o escritor e Prêmio Nobel de Literatura Oe Kenzaburo foi processado em 2005 por

um ex-comandante e pela família de um ex-soldado, ambos do exército japonês em 1945, pela acusação

de calúnia e difamação e exigiam indenizações e que os livros do escritor fossem recolhidos e proibidos

de circulação. Em 2007 a justiça japonesa absolveu Oe das acusações, reconhecendo, portanto, como

legítima a visão do escritor de que o exército japonês não apenas incitou como forçou os habitantes da

ilha de Okinawa a se suicidarem. Contudo, pouco depois o Ministério da Educação propôs as alterações

nos livros didáticos de história. (BETING, 2007, p.12) 6 A coletânea de ensaios denomina-se “Notas de Okinawa” foi publicada em 1970 e é citada pelo jornal

Japan Times de 10 de Novembro de 2007.

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"The U.S. soldier touched me to check if I had any weapons," he

recalled. "Then he gave us candy and cigarettes. That was my first

experience on coming out of the cave."

His mother lived into her 80s.

"We talked about the war," said Nakamura, who became a village

leader. "But to the end, she never once talked about killing her

daughter*" (BROOK, 2005).

Nesse relato, é possível perceber que o trágico acontecimento se deu devido à

intensa propaganda realizada pelo exército japonês, a qual realmente convenceu parte da

população civil de que era preferível o suicídio à captura. Com relação à memória, é

relevante pensar na questão do silêncio por parte da mãe de Nakamura. A esse respeito,

o trabalho de Michael Pollak “Memória, esquecimento silêncio” contribui de maneira

muito significativa.

Como afirma Nakamura, ele e a mãe conversaram sobre a guerra e seus efeitos,

isso porque apesar de traumático, essa situação limite foi, com o tempo, superada e, no

caso de Nakamura (que é um líder comunitário) como de tantos outros okinawanos, essa

memória do período da guerra não deveria ser esquecida pela memória coletiva (no

caso, os okinawanos), tampouco pela memória nacional, como o quer certos grupos e

políticos japoneses. Em termos “pollakianos” essa “memória subterrânea”, também

chamadas de “inaudíveis” e “clandestinas”, as quais a memória nacional pretende jogar

para baixo do tapete, resiste, pois ela está intimamente ligada com a identidade desse

grupo.

Pollak afirma que determinadas memórias quando muito traumáticas, como no

caso da mãe de Nakamura, acabam sendo proibidas, indizíveis, ou vergonhosas demais

para serem relembradas e principalmente comunicadas. Segundo ele: “existem nas

lembranças de uns e outros zonas de sombra, silêncios, “não ditos”. As fronteiras desses

silêncios e “não ditos” com o esquecimento definitivo e o reprimido inconsciente não

* “Eu ouvi minha irmã gritando, 'Me mate agora, rápido!'”, disse Nakamura, lembrando como sua irmã

mais velha de 20 anos entrou em pânico diante da aproximação dos soldados americanos. Sua mãe pegou

uma corda e a estrangulou.

“Eu também tentei me estrangular com uma corda,” ele lembra, levando suas mãos agora envelhecidas ao

pescoço. “Mas eu continuei respirando. É realmente muito difícil se matar.”

Minutos depois, os americanos os levaram como prisioneiros.

“ O soldado americano me tocou para verificar se eu tinha alguma arma,” ele lembra. “Depois ele nos deu

doces e cigarros. Essa foi minha primeira experiência ao sair da caverna”

Sua mãe viveu até os 80 anos de idade.

“Nós falávamos sobre a guerra,” disse Nakamura, que tornou-se um líder da aldeia. “Mas até o fim, ela

nunca, sequer uma vez, falou sobre ter matado sua filha. (tradução livre do autor)

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são evidentemente estanques e estão em perpétuo deslocamento” (POLLAK, 1989, p.

8).

Segundo esse raciocínio, pode-se pensar na quantidade de memórias silenciadas

e indizíveis, decorrentes desse episódio, que em breve se perderão com a morte de seus

portadores sem que esses tenham conseguido comunicá-la, apesar de sua importância

para uma compreensão mais apurada desse conflito, especialmente no tocante às

trágicas experiências daqueles que a vivenciaram.

Retomando as questões anteriormente colocadas, faz-se necessário realizar uma

breve explicação acerca da ideologia ultranacionalista presente entre os militares

japoneses. Tal ideologia, propugnada pelo exército imperial foi construída a partir de

uma reatualização e intensificação de uma longa tradição filosófica e marcial dos

antigos samurais que não aceitavam a vergonha da derrota. Assim, os militares a partir

de influências ultranacionalistas concluíram que toda a população japonesa deveria agir

de acordo com os princípios éticos dos antigos samurais (o Bushido), não havendo

distinção entre civis e militares.

Os militares japoneses próximo ao término da guerra propunham um sepukko

coletivo, um sacrifício nacional. A rendição seria a verdadeira morte, a morte em si,

seria uma redenção digna, a apoteose coletiva, que seria construída pela morte

voluntária de cada indivíduo que deveria, nesse ato supremo, mostrar sua reverência

para com a pátria a ao imperador. A chamada “doutrina da lança de bambu” (Takeyari

shugi) era emblemática nesse sentido, visto que propunha armar e treinar os civis com

lanças de bambu, simbolizando a ideia da não rendição e da resistência suicida contra os

inimigos7.

Outro motivo pelo qual houve muitos civis mortos na Batalha de Okinawa foi a

dificuldade de distinção, por parte dos soldados americanos, entre civis e militares. Isso

se deu não apenas porque muitas batalhas ocorreram nas cidades e vilas, mas também

porque os militares japoneses invadiam muitas casas de civis para usá-las como

barricadas para combater os americanos.

No mesmo artigo do Jornal The New York Times, citado acima, James Brook

alega que muitos historiadores de Okinawa estimam que, durante o conflito, cerca de

7Com relação a esse assunto, ver a obra de PINGUET, Maurice. A morte voluntária no Japão. Rio de

Janeiro: Rocco, 1987. Sobretudo o capítulo XII. E também o livro de BENEDICT, Ruth. O crisântemo e

a espada: Padrões da cultura japonesa. São Paulo: Perspectiva, 1972.

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mil civis okinawanos foram assassinados friamente pelos soldados japoneses por serem

pegos utilizando o dialeto local, sendo acusados, por isso, de espionagem.

Em suma, todos esses exemplos demonstram um considerável desprezo por parte

dos militares japoneses com relação aos civis okinawanos. O arquipélago, que foi

forçadamente anexado ao Japão em fins do século XIX e que desde o século XVII havia

restringindo ao mínimo sua força militar, teve um destino tragicamente irônico por ter

sido o único território japonês invadido antes do fim da guerra, o que sofreu maior

destruição, sobretudo em termos humanos, tendo sido também palco da maior e mais

sangrenta batalha da Guerra Pacífico e finalmente, o único território japonês a ser

anexado pelos E.U.A. e convertido em um complexo de bases militares.

O “Peão sacrificado”: Okinawa diante das relações “Japão - Estados Unidos” no

pós- guerra

O fim da Batalha de Okinawa, e pouco tempo depois da própria Segunda Guerra

com a rendição do Japão em Agosto de 1945, não significou o fim da trágica situação

vivida pelos civis do pequeno arquipélago. Para maioria deles, essa batalha foi

completamente desnecessária, haja visto a rendição japonesa pouco tempo depois.

Ademais, milhares morreram devido ao completo descaso do exército japonês que não

priorizou a segurança dos habitantes. Segundo o historiador okinawano Aniya Massaki

no artigo “Compulsory Mass Suicide, the Battle of Okinawa, and Japan's Textbook

Controversy”:

The Battle of Okinawa, fought with the understanding that Japan’s

defeat was inevitable, was the last ground combat between Japan and

the US in the Pacific War. For the Japanese imperial government, the

maintenance of the national polity was the first principle, and gaining

time to prepare for the decisive battle on the mainland and

negotiations for the conclusion of the war were crucial.

[...] [It] was not a battle to protect the people (kokumin) of the

mainland. It was a preliminary battle before eventually taking the

entire nation (kokumin subete) to death along with the Emperor*

(MASSAKI, 2007).

*A Batalha de Okinawa, travada com o conhecimento de que a derrota do Japão era inevitável foi o último

combate terrestre entre o Japão e os EUA na Guerra do Pacífico. Para o governo imperial japonês, a

manutenção da política nacional era o primeiro princípio, e ganhar tempo para preparar as defesas para a

batalha decisiva no continente [as ilhas principais] e para as negociações para a conclusão da guerra era

crucial.

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Para além desses fatores, que por si só bastariam para um profundo rancor e

descontentamento por parte dos moradores da ilha, cabe destacar também que diante das

negociações entre Japão e EUA, logo após a guerra, se acertou entre as partes que

Okinawa seria o único território japonês anexado aos EUA, e a pequena ilha seria

convertida em uma grande base militar americana em razão da sua estratégica posição

geopolítica fundamental no contexto da Guerra Fria, na qual os norte-americanos

julgavam fundamental barrar o expansionismo sino-soviético no Extremo-Oriente.

Nesse sentido, Okinawa foi uma importante base aeronaval dos EUA durante a Guerra

do Vietnã (1964-1975).

Nos dias de hoje, existem 14 bases norte-americanas neste pequeno arquipélago

que representa apenas 0,6 por cento do território japonês, e quase vinte por cento do seu

território está ocupado por essas bases, onde circulam mais de 29 mil militares dos EUA

(aproximadamente dois terços do número total de soldados e bases americanas

existentes em todo o Japão. (INOUE, 2007, p. 2)

Segundo o pesquisador Shuzen Hokama, citado por Yamashiro (1993, p. 226),

Okinawa acabou sendo o “peão sacrificado no xadrez da defesa do Japão

metropolitano”. O Japão derrotado sacrificou Okinawa (a província mais devastada) em

nome da soberania nacional, mais uma vez demonstrando o descaso para com os

okinawanos, considerados, na prática, cidadãos de segunda classe8.

Okinawa ficaria sob jurisdição americana até 1972, quando é reintegrada ao

Japão após anos de pressões da população da ilha, e em menor escala da população

japonesa, em prol de um movimento criado em Okinawa chamado (Ninhon Fukki Undo)

“Movimento de Volta ao Japão”. Entretanto, como visto, o fim do controle político por

parte dos EUA de maneira alguma significou o fim ou mesmo a diminuição de suas

bases e de seu efetivo militar na ilha em razão da permanência dos interesses

americanos na região e ao fato do governo japonês ser aliado a Washington.

Evidentemente, as bases americanas trouxeram muitos problemas para os

okinawanos. O primeiro deles é a própria questão do espaço. Há 14 bases americanas

em uma ilha de mil e duzentos quilômetros quadrados, muitas delas foram construídas

[…] Ela não foi uma batalha para proteger o povo (kokumin) do continente. Foi uma batalha preliminar

antes de eventualmente se tomar uma nação inteira (kokumin subete) para morrer juntamente com o

imperador (tradução livre do autor) 8Nesse sentido, ver também INOUE (2007, p. 4)

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nas poucas terras agricultáveis da ilha após a expulsão de seus antigos donos, alguns dos

quais posseiros das terras há séculos. Ademais, há um grave problema de poluição

química (esgotos) e, principalmente, sonora, devido aos exercícios de tiro, pouso e

decolagem9 (YAMASHIRO, 1993, p. 230). Além disso, durante a ocupação, os civis

okinawanos eram tratados como sub-cidadãos (apesar de oficialmente americanos), pois

seus órgãos de informação sofriam censura pelo governo americano e havia restrições

nas viagens para o exterior.

Ainda mais grave são as diversas acusações de militares americanos de

estuprarem jovens locais, muitas das quais foram arquivadas, enfurecendo a população,

principalmente no período anterior a 1972, quando os americanos possuíam imunidade

jurídica e os okinawanos estavam excluídos de muitos direitos. Um dos casos mais

graves ocorreu em 1995 quando três soldados americanos foram acusados e condenados

por estuprar uma menina okinawana de doze anos de idade10

.

Na época, houve uma imensa manifestação, com mais de 85.000 pessoas,

exigindo punições. Apesar de o caso ter sido averiguado e os militares condenados, as

sentenças foram em torno de sete anos de prisão. Uma pena irrisória considerando a

gravidade do crime, e ao fato de que nos Estados Unidos e mesmo no Japão esse crime

facilmente seria punido com prisão perpétua ou até mesmo com pena capital.

Além desses problemas, é possível identificar na presença americana uma

agressão simbólica a uma parcela da população, envolvendo, sobretudo, a traumática

memória da guerra. A esse respeito, pode-se pensar, por exemplo, na angústia e no

desconforto causado pela ocupação, a qual reatualiza e traz a tona constantemente as

perturbadoras memórias de 1945. Em termos psicanalíticos, a presença das bases, dos

soldados, dos aviões, cujos sons são percebidos como muito similares aos B-29 de

9 De modo a não cair na tentação de uma análise maniqueísta e superficial, é importante destacar que a

questão das bases americanas em Okinawa sempre foi um tema controverso. Apesar da maioria da

população de Okinawa ser contra, muitas vezes, as opiniões se dividem, uma vez que as bases, para além

de seus inconvenientes, são um importante fator econômico de uma ilha cuja economia é ainda muito

frágil. Diversas indústrias, prestadores de serviços, e mesmo o setor de comércio e turismo sofreriam um

grande golpe se todas as bases fossem retiradas. Além disso, muitas pessoas recordam que as bases foram

fundamentais logo após a guerra, pois forneciam muitos empregos diretos e indiretos, alimentos e

assistência médica num momento de extrema dificuldade e após um período de dominação japonesa

marcado por fome, pobreza, entre outras dificuldades. Assim, as diversas questões sobre as bases

americanas demandam um tratamento mais aprofundado, porém, devido às restrições desse texto será

enfatizado apenas o viés “negativo” das bases, no que concerne ao seu impacto sobre a memória da

guerra de parte da população da ilha. 10

Para mais detalhes sobre essa questão ver o livro de INOUE, Masamichi, S. Okinawa and the U.S.

Military: identity making in the age of globalization. New York. Colúmbia University Press, 2007.

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outrora, causam uma sensação de “melancolia” da lembrança de uma experiência

trágica que não consegue ser “sublimada” pela constante rememoração por meio da

presença dos antigos inimigos.

Idelber Avelar pensando em um alargamento do conceito freudiano de luto e

melancolia para uma situação coletiva afirma que

De fato, nos primeiros escritos de Freud sobre o trauma, a

possibilidade de integrar o fato perdido numa série de recordações

associativas, como parte da cura, era visto precisamente como modo

de permitir que o fato fosse esquecido. [...] a recordação terapêutica do

trauma tem o propósito de produzir seu esquecimento (AVELAR,

2003, p. 289).

A partir dessa citação, pode-se perguntar de que forma seria possível para alguns

okinawanos considerar o “fato perdido” (as destruições e mortes causados na guerra)

como pretérito, se ele é diariamente presentificado (um sintoma, portanto de

melancolia) pela presença dos norte-americanos na ilha? Tal presença impede que o fato

e, portanto, o trauma, se torne algo do passado. Isso é um ponto chave no raciocínio

psicanalítico, pois somente quando o trauma é recordado, o que exige sua preterização,

ele pode ser esquecido, e, portanto, superado (ou sublimado), permitindo que se encerre

o luto de forma saudável (sem degenerar em melancolia). Portanto, de certo modo,

alguns okinawanos ainda estão presos nesse quase luto, nesse “passado que não quer

passar”, nessa angústia. É nesse sentido que os autores Laura Elizabeth e Mark Selden

escolheram como título de seu livro, Islands of discontent: Okinawan response to

Japanese and American Power.

Realizando um rápido panorama, pode-se afirmar que após um período marcado

por preconceito e autoritarismo por parte do governo japonês, culminando com a

Batalha de Okinawa, os okinawanos entre os anos 1945 a 1972 procuraram se

“niponizarem” no intuito de deslegitimar a ocupação americana e pressionar o governo

japonês para seu retorno ao território do Japão. No entanto, após realizado esse feito, há

uma onda de insatisfação dos okinawanos, contra o governo japonês, que

resignadamente aceitou a permanência das bases americanas em Okinawa, consolidando

a posição japonesa de aliança com os EUA no contexto da Guerra Fria.

A década de 1970 é um período bastante conturbado, uma vez que as bases

americanas em Okinawa estavam sendo usadas para bombardear o Vietnã. As cenas dos

massacres da população vietnamita pelos bombardeios causou uma rememoração

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trágica da guerra de 1945, e acrescentou certo sentimento de culpa pela utilização das

bases em seu território.

Com o pós Guerra Fria, as pressões para o fim das bases americanas nas ilhas

Ryukyu aumentam, pois não haveria mais qualquer motivo, na visão da maioria dos

habitantes, para a permanência das bases. Contudo, a fraca determinação do governo

japonês frustra a população de Okinawa. Ademais, as constantes tentativas do Estado

japonês de alterar os livros didáticos de história para excluir as passagens relativas aos

massacres e suicídios dos civis okinawanos durante a Segunda Guerra enfureceu grande

parte da população da Ilha, sendo uma situação ainda bastante polêmica e discutida.

O embate de memórias: disputas e manipulações sobre a história ensinada no

Japão

Apesar do fato da censura e da manipulação da história, com vistas a legitimar o

Estado, ser algo típico da construção dos Estados Nacionais, os quais em diversos

países, inclusive no Japão, remontam a meados do século XIX, a presente discussão

estará centrada, sobretudo, na censura e manipulação da história ensinada por parte do

governo Japonês a partir da década de 1980.

De acordo com Miyume Tanji (2006, p. 44), as controvérsias e disputas entre o

governo japonês e Okinawa se iniciaram em meados dos anos 1980, quando o

Ministério da Educação do Japão (Monbusho) realizou uma série de revisões nos livros

didáticos de história referente às ações dos militares japoneses durante a Segunda

Guerra. Porém, antes de realizar as mudanças, relativas à Batalha de Okinawa, o

governo retirou as referências sobre as atrocidades cometidas pelos militares japoneses

contra os civis da China e da Coreia, provocando uma onda de protestos nesses dois

países11

.

Com relação à Batalha de Okinawa, o Ministério da Educação ordenou que se

retirassem as referências sobre o assassinato de civis da ilha pelos militares, e chegou

mesmo a reduzir a contagem do número de civis mortos durante o conflito. Entretanto, a

polêmica principal girou em torno da questão dos “suicídios coletivos”. No período

11

Vale ressaltar que o governo japonês procurou intervir não somente na história ensinada, mas em

diversos campos. Os estudos arqueológicos, por exemplo, continuam a ter problemas com o Estado

quando suas pesquisas contradizem a versão histórica oficial. A esse respeito, ver SAKURAI, 2008, p. 49

e ANDERSON, 2008, p.143.

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dessas alterações impostas pelo Monbusho (1982), houve manifestações de diversos

grupos em Okinawa, associações de professores, historiadores e jornalistas locais,

dentre outros. Esses grupos afirmavam que o suicídio dos civis da ilha em 1945 foi algo

imposto pelo exército japonês.

A questão central das discussões se deu devido ao Monbusho impor o uso do

termo “suicídios coletivos”. Segundo Tanji, ao se utilizar o termo suicídio (jikestu) num

sentido coletivo, cria-se uma distorção do seu significado original na língua japonesa,

uma vez que o mesmo, quando utilizado para se referir à ação de uma pessoa, tem uma

denotação de enfatizar que se trata de um ato de extrema coragem, carregando um

sentido de glorificação. A intenção do governo japonês ao empregar esse termo é de

propor uma separação entre as mortes causadas por suicídio (jiketsu), transformados em

uma demonstração de sacrifício heroico e de lealdade ao Estado japonês, das outras

formas de baixas civis, sobretudo os assassinatos, propriamente ditos, cometidos pelos

militares.

Nesse sentido, a culpabilidade do Estado japonês de impor as mortes aos civis é

camuflada pelo aparente ato de bravura e nobreza coletiva do jiketsu, fazendo com que

as mortes dos civis sejam percebidas como comparáveis às mortes dos militares. Devido

a isso, acrescenta Tanji, muitos okinawanos sobreviventes relutam a falar sobre a guerra

por receio de serem mal interpretados, preferindo muitas vezes o silêncio.

Dentre as diversas formas possíveis de se proceder na manipulação de textos

históricos, no Japão a forma mais utilizada pelo governo é precisamente a substituição

de determinados termos por outros para mascarar eventos ou causar ambiguidades na

interpretação textual, como demonstra Chiristian Laville (1999, p. 133-134).

Esse debate em torno da história e da memória da guerra fez com que, no final

dos anos 1980, diversos grupos de civis em Okinawa passassem a se preocupar em

entrevistar e publicar novas experiências de sobreviventes dos combates com o fim de

produzir versões mais próximas daquelas defendidas pelos residentes.

Após esse embate mnemônico inicial, o que se percebe é um relativo

esfriamento das controvérsias nos anos 1990, apesar da criação em 1996 da “Sociedade

japonesa para a reforma nos livros didáticos de história”*, a qual demonstra a clara e

objetiva preocupação do Estado com relação ao controle, censura e manipulação na

história ensinada nos bancos escolares.

* Atarashi Rekishi Kyokasho o Tsukuru Kai

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Em 2007 os debates voltam a ocorrer de forma agressiva, como visto na grande

manifestação ocorrida em Okinawa nesse ano, na qual mais de 110.000 pessoas se

reuniram em protesto contra o Ministério da Educação do Japão, que impôs novas

alterações nos livros didáticos de história muito semelhantes àquelas dos anos 1980.

Vale mencionar que esse foi o maior protesto coletivo dos okinawanos desde o retorno

da ilha à soberania japonesa em 1972, surpreendendo o governo japonês pelo tamanho

desdobramento provocado pelas novas medidas.

Talvez o governo japonês não esperasse tamanha manifestação em razão do

tempo decorrido dos protestos nos anos 1980 e ao fato de muitos dos sobreviventes

terem falecido ou estarem muito idosos. Entretanto, ao contrário do imaginado, a

passagem do tempo não apagou essas “memórias subterrâneas”. Como firma Pollak:

[...] a sobrevivência durante dezenas de anos, de lembranças

traumatizantes, lembranças que esperam o momento propício para

serem expressas.[...] essas lembranças durante tanto tempo confinadas

ao silêncio e transmitidas de uma geração a outra oralmente, e não

através de publicações, permanecem vivas. O longo silêncio sobre o

passado, longe de conduzir ao esquecimento, é a resistência que uma

sociedade civil impotente opõe ao excesso de discursos oficiais. Ao

mesmo tempo, ela transmite cuidadosamente as lembranças

dissidentes nas redes familiares e de amizades, esperando a hora da

verdade e da redistribuição das cartas políticas e ideológicas

(POLLAK, 1989, p.5).

Pollak está se referindo, nesse exemplo, às memórias que emergiram do

processo de “desestalinização” na Europa Oriental, entretanto, é possível traçar um

paralelo, ainda que com diversas ressalvas, com a situação ocorrida no Japão em 2007.

A nova tentativa de apagar as atrocidades cometidas contra os civis okinawanos durante

a Segunda Guerra provocou um reavivamento dos traumas ainda não superados, os

quais permaneceram existindo mesmo nas gerações que não experimentaram

diretamente o evento. Nesse caso, pode-se pensar no conceito pollakiano de “memórias

herdadas” (POLLAK, 1992, p. 4-5) que afirma que a memória coletiva é transmitida

entre as gerações por diversos meios. Em casos de memórias traumáticas, a herança do

ocorrido é tão forte que alguns descendentes sentem-se como se tivessem passado pela

experiência traumática. Ou seja, certos acontecimentos são “vividos por tabela”, pelas

gerações subsequentes. Assim, a grande eclosão dos protestos em 2007 é um exemplo

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de que a memória de 1945 ainda é algo fundamental para a definição da identidade de

ao menos parte considerável dos okinawanos.

As mudanças ocorridas nesse ano se deram durante um dos governos mais

conservadores do Japão no Pós Guerra, o do Primeiro Ministro Shinzo Abe (2006-

2007). Em Maio de 2007, de acordo com o jornal inglês BBC de 18 de Maio, uma

coalizão liderada pelo Primeiro Ministro aprovou outra lei que afirmava que “amar

nosso país” deveria ser um dos objetivos do ensino obrigatório japonês. Tal lei exigia

que os professores encorajassem o patriotismo como parte integrante do currículo da

educação básica. Apesar dos protestos de diversos grupos e das críticas de alguns

países, a medida foi aprovada.

Com relação às mudanças que versavam sobre a Batalha de Okinawa, após

meses de pressões e protestos, a situação chegou a um impasse, no qual a proposta

governamental foi apenas parcialmente aprovada. Não obstante, muitos civis de

Okinawa não se sentiram satisfeitos, pois a resolução que foi adotada amenizava, ainda

que não negasse, a participação do exército japonês no martírio dos civis durante a

guerra.

História e Memória: algumas considerações

No livro Historical knowledge, historical error: a contemporary guide to pratice

(2007), Allan Megill sugere que o Estado japonês continua a suprimir as atrocidades

cometidas em seu nome na época da segunda guerra. A memória desse evento ainda

seria necessária para manter a estabilidade e a coesão política e social e, nesse sentido,

grande parte da população apoia o governo nessa “correção de memória”. Desse modo,

segundo Megill, pode-se pensar que o que se está em disputa entre o governo japonês e

parte dos residentes de Okinawa é a questão de quem tem o direito de controlar ou

impor o que deve ser lembrado sobre o passado (MEGILL, 2007, p. 18).

Evidentemente, não se trata de uma questão simples de contrapor a história

oficial com a “verdadeira” versão contada pelos sobreviventes da guerra. Como enfatiza

Megill, é algo errado e mesmo perigoso confundir história e memória. Uma história

revisionista da batalha de Okinawa não deve em hipótese alguma ser uma continuação

ou defesa da memória dos sobreviventes, ou seja, ser uma “história afirmativa”

(MEGILL, 2007, p. 21).

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Para este teórico, história e memória não podem ser confundidas, pois são

instâncias que, apesar de complementares, são distintas. A memória envolve uma

grande carga emocional a qual a história não deve ter (ao menos, não como atributo

principal). Por sua vez, a história tem como função primordial ser uma instância crítica

em relação ao passado e à memória. É somente assim que a história pode complementar

a memória, de forma crítica para que não seja confundida ou assimilada por essa última.

A partir desse posicionamento, percebe-se que uma história revisionista da

batalha de Okinawa perpassaria, quase que obrigatoriamente, pela memória dos

okinawanos sobreviventes da guerra. Tal memória, quando analisada criticamente e

confrontada com outras documentações disponíveis, se torna uma importante “matéria

prima” na construção dessa história, a qual pode estar vinculada aos interesses dos

sobreviventes de Okinawa, desde que seja produzida com o instrumental crítico da

ciência histórica.

Assim, a grande preocupação na coleta de testemunhos de sobreviventes pode se

converter em um “efeito colateral” resultante das mudanças nos livros didáticos pelo

Monbusho, uma vez que tal recolha permite que sejam produzidas novas obras de

história ou de memória que contradigam e auxiliem (conjuntamente, mas cada qual com

suas características e objetivos) na resistência a esse longo trabalho de “enquadramento

de memória” realizado pelo Estado japonês nas últimas décadas.

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