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In: SILVA, Jamir Luis Silva da; GOTTSCHALL, Carlos Santos; RODRIGUES, Norma Centeno. (Org.).Ciclo de Palestras em Produção e Manejo de Bovinos. VII. ed. Porto Alegre, 2002, v. VII, p. 61-94. Pastejo misto: alternativa para a utilização eficiente das pastagens Paulo C. de F. Carvalho 1 , Laíse da S. Pontes, Cristina M. P. Barbosa, Thércio M. Stella de Freitas 2 1. Introdução A exploração integrada, ou pastejo misto, envolve mais de uma espécie de herbívoro pastejando um mesmo recurso forrageiro, podendo ocorrer simultaneamente ou em períodos sucessivos, dependendo dos objetivos do manejo e das espécies animais envolvidas (Carvalho & Rodrigues, 1997). Praticada em várias partes do mundo, a exploração integrada tem em sua fundamentação a maximização da utilização da forragem de modo a proporcionar um aumento de produção animal que ultrapasse a soma do ganho das espécies utilizadas de forma isolada. Esta busca pela otimização do uso do recurso forrageiro advém do caráter heterogêneo das pastagens, e do fato de que os animais não pastejam tudo o que encontram, eles têm preferências e exercem uma seleção (Hodgson, 1979). A desfolhação seletiva promovida pelo animal em pastejo integra requerimento animal e capacidade metabólica com um vasto conjunto de plantas, nos mais diversos estádios de crescimento e aceitabilidade, que irão determinar diferenças nos componentes da dieta (Robbins, 1987 citado por Montossi et al., 1998). Esta característica de heterogeneidade, natural do ecossistema pastagem e da qual o animal na verdade se beneficia, é interpretada pelo homem como desperdício (Gordon & Iason, 1989). Daí a idéia de se associar diferentes espécies de herbívoros com o intuito de diminuir as “perdas” de forragem. No Rio Grande do Sul, as pastagens naturais representam a base da exploração pecuária, oferecendo o suporte para o desenvolvimento dessa atividade. Poucas regiões no mundo apresentam uma riqueza florística como a encontrada no Bioma Campos. Devido a essa diversidade de espécies campestres, a prática de sistemas de produção com pastejo misto (principalmente de bovinos com ovinos), visando aumentar o aproveitamento desse recurso forrageiro, constituiu numa importante atividade bastante difundida no Estado. Atualmente, com a perda da rentabilidade da exploração de lã, houve um decréscimo no tamanho dos rebanhos ovinos gaúchos reduzindo, assim, as áreas exploradas com esta prática. Contudo, o pastejo múltiplo, bovino e ovino ou outras espécies de interesse econômico, ainda pode constituir numa importante alternativa de manejo quando o objetivo é a otimização do uso do recurso forrageiro. É nesse contexto que se enquadra os objetivos desse trabalho, ou seja, apresentar as variáveis envolvidas no conceito de exploração integrada e avaliar as potencialidades do uso desta prática. 1 Professor Adjunto, Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia – UFRGS 2 Curso de Pós-graduação em Zootecnia - UFRGS

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In: SILVA, Jamir Luis Silva da; GOTTSCHALL, Carlos Santos; RODRIGUES, Norma Centeno. (Org.).Ciclo de Palestras em Produção e Manejo de Bovinos. VII. ed. Porto Alegre, 2002, v. VII, p. 61-94.

Pastejo misto: alternativa para a utilização eficiente das pastagens

Paulo C. de F. Carvalho1, Laíse da S. Pontes, Cristina M. P. Barbosa,

Thércio M. Stella de Freitas2

1. Introdução A exploração integrada, ou pastejo misto, envolve mais de uma espécie de herbívoro pastejando um mesmo recurso forrageiro, podendo ocorrer simultaneamente ou em períodos sucessivos, dependendo dos objetivos do manejo e das espécies animais envolvidas (Carvalho & Rodrigues, 1997). Praticada em várias partes do mundo, a exploração integrada tem em sua fundamentação a maximização da utilização da forragem de modo a proporcionar um aumento de produção animal que ultrapasse a soma do ganho das espécies utilizadas de forma isolada.

Esta busca pela otimização do uso do recurso forrageiro advém do caráter heterogêneo das pastagens, e do fato de que os animais não pastejam tudo o que encontram, eles têm preferências e exercem uma seleção (Hodgson, 1979).

A desfolhação seletiva promovida pelo animal em pastejo integra requerimento animal e capacidade metabólica com um vasto conjunto de plantas, nos mais diversos estádios de crescimento e aceitabilidade, que irão determinar diferenças nos componentes da dieta (Robbins, 1987 citado por Montossi et al., 1998). Esta característica de heterogeneidade, natural do ecossistema pastagem e da qual o animal na verdade se beneficia, é interpretada pelo homem como desperdício (Gordon & Iason, 1989). Daí a idéia de se associar diferentes espécies de herbívoros com o intuito de diminuir as “perdas” de forragem.

No Rio Grande do Sul, as pastagens naturais representam a base da exploração pecuária, oferecendo o suporte para o desenvolvimento dessa atividade. Poucas regiões no mundo apresentam uma riqueza florística como a encontrada no Bioma Campos. Devido a essa diversidade de espécies campestres, a prática de sistemas de produção com pastejo misto (principalmente de bovinos com ovinos), visando aumentar o aproveitamento desse recurso forrageiro, constituiu numa importante atividade bastante difundida no Estado.

Atualmente, com a perda da rentabilidade da exploração de lã, houve um decréscimo no tamanho dos rebanhos ovinos gaúchos reduzindo, assim, as áreas exploradas com esta prática. Contudo, o pastejo múltiplo, bovino e ovino ou outras espécies de interesse econômico, ainda pode constituir numa importante alternativa de manejo quando o objetivo é a otimização do uso do recurso forrageiro.

É nesse contexto que se enquadra os objetivos desse trabalho, ou seja, apresentar as variáveis envolvidas no conceito de exploração integrada e avaliar as potencialidades do uso desta prática.

1Professor Adjunto, Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia – UFRGS 2 Curso de Pós-graduação em Zootecnia - UFRGS

In: SILVA, Jamir Luis Silva da; GOTTSCHALL, Carlos Santos; RODRIGUES, Norma Centeno. (Org.).Ciclo de Palestras em Produção e Manejo de Bovinos. VII. ed. Porto Alegre, 2002, v. VII, p. 61-94. 2. Diferenças na preferência alimentar entre espécies animais e estratégias de

forrageamento

A associação de diferentes características anatômicas (e.g., tamanho corporal, aparato bucal), fisiológicas (e.g., exigências nutricionais, tolerância a compostos tóxicos), comportamentais (e.g., sociabilidade) e epidemiológicas (e.g., tolerância a parasitas) podem levar a complementaridade no uso do recurso forrageiro (Lambert & Guerin, 1989) e, conseqüentemente, uma utilização mais intensiva desse recurso. Fatores como raça, idade, gênero e topografia também exercem influência sobre o consumo voluntário durante o pastejo.

Contudo, o tamanho do animal apresenta o mais consistente efeito sobre o consumo constituindo-se numa característica extremamente importante na definição da eficiência com que um determinado alimento pode ser consumido e utilizado porque traz limitações quanti-qualitativas ao atendimento das exigências nutricionais. As necessidades energéticas em termos de metabolismo basal decrescem não linearmente com o aumento do peso e, portanto, o requerimento metabólico total aumenta em relação ao peso vivo na potência 0,75 (P.V. 0,75). No entanto o volume do rúmem e a capacidade digestiva têm relação isométrica com o aumento do peso vivo (Demment & Van Soest, 1985). A conseqüência disto é que animais grandes são mais capazes de tolerar alimentos de pior qualidade porque a relação requerimento/capacidade digestiva diminui com o aumento do tamanho do animal. A estratégia evolutiva do bovino foi a de desenvolver um enorme compartimento anterior, chamado rumem, que possibilita a retenção do alimento em uma câmara de fermentação e um melhor aproveitamento da fibra. Já o eqüino compensa a sua inferioridade na digestão da celulose através da maior velocidade de passagem do alimento no trato digestivo, o que lhe permite ter um consumo total de alimentos superior ao dos bovinos (Lechner-Doll et al.,1995).

Por um outro lado, o alto gasto de energia por unidade de peso vivo em pequenos herbívoros exige, da parte destes, uma dieta mais digestiva, "concentrada" em nutrientes (Lechner-Doll et al.,1995). Para poder colhê-la, caprinos e ovinos desenvolveram em sua morfologia estruturas anatômicas que lhes permitem ser altamente seletivos. Estes herbívoros apresentam maior capacidade em discriminar e apreender espécies distintas e componentes morfológicos das plantas em diferentes comunidades vegetais apresentando, assim, dietas de maior valor nutritivo. Como resultado do o processo de seleção, o tamanho da mandíbula e o uso da língua pelos bovinos não permitem que estes sejam tão precisos quanto os ovinos em selecionar os componentes mais nutritivos da forragem oferecida, principalmente quando o material verde e o morto estão intimamente misturados e distribuídos desde a base até o topo da pastagem. Não obstante, a mandíbula mais forte e a ação da sacudida da cabeça, dão aos bovinos vantagens no consumo de componentes mais fibrosos da pastagem (Montossi et al., 1998). Estes conceitos estão bem representados no estudo de Montossi et al. (1998) com pastejo misto (bovino e ovino) na região do Basalto-Uruguai com campo nativo. Estes autores destacam a superioridade dos ovinos em selecionar dietas de melhor qualidade, demonstrando a sua maior habilidade em colher preferencialmente os componentes mais nutritivos da forragem oferecida.

É importante salientar que em pastagens de alta qualidade ou quando a comparação é feita entre animais jovens, essas diferenças entre as espécies animais são bastante reduzidas (Collins, 1989).

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Os efeitos combinados de exigência nutricional, tamanho do animal e características anatômicas relacionadas ao processo de apreensão de forragem são a base na distinção dos nichos que compõem a dieta dos animais. Estes fatores interagem com a estrutura da vegetação determinando o peso e composição de materiais da planta que podem ser removidos num simples bocado (Murray & Illius, 1996). Isto significa que existe uma estreita relação entre as características da pastagem (altura, concentração de biomassa e distribuição vertical de partes verdes ou senescentes das plantas) e as dos animais que a utilizam. Os animais leves ficam limitados a nichos onde a qualidade da forragem é elevada, enquanto que os pesados o são a nichos onde, no mínimo, a quantidade seja abundante. O modelo de Illius & Gordon (1993) construído com espécies de ruminantes de tamanhos variando entre 20 e 540 kg ilustra bem estes conceitos (Figura 1).

Figura 1. Nicho alimentar definido pela quantidade e qualidade de forragem para animais

de diferentes tamanhos (Illius & Gordon, 1993). Em condições de pastagem onde exista uma oferta abundante de forragem de baixa

qualidade, animais de menor porte ficam em desvantagem para atingir seus requerimentos em função de sua alta demanda energética (Demment & Van Soest, 1985). Os animais de grande porte têm a vantagem de poder utilizar a estratégia de aumentar o tempo de retenção do alimento, explorando mais eficientemente o material de baixa qualidade. Os bovinos teriam, portanto, uma considerável vantagem em relação a ovinos e, principalmente, em relação a caprinos neste tipo de situação. Os eqüinos, com suas altas taxas de consumo conseguem extrair mais nutrientes por dia que os bovinos, estes últimos limitados pelo mecanismo de retenção da fibra no rúmem (Duncan et al., 1990), mas teriam a desvantagem de passar mais tempo pastejando em função dessa estratégia de consumo elevado.

Murray & Illius (1996) observaram que espécies de tamanhos semelhantes mas com diferentes comportamentos ingestivos poderão utilizar nichos diferentes de plantas.

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Estas relações dieta/morfologia resultam, então, em estratégias de forrageamento (Gordon & Iason, 1989) determinadas por uma série de variáveis associadas ao animal (Tabela 1).

Tabela 1. Estratégias de forrageamento de diferentes espécies de ruminantes (adaptado de Gordon & Iason, 1989).

Ruminantes Bovinos Ovinos Caprinos Estratégia Pastejador Misto

Preferência gramíneaMisto

Preferência arbustivaLargura do maxilar em

relação ao tamanho Largo e chato Largo e chato Estreito e pontudo

Grau de seletividade Baixo Alto Alto Tamanho do rúmen em relação ao tamanho do

animal

Grande Grande Pequeno

Capacidade digestiva - gramíneas fibrosas - árvores e arbustos

Alta Baixa

Alta intermediária

Baixa Alta

Apesar da enorme quantidade de literatura disponível sobre a seletividade da dieta dos ruminantes, não é possível extrapolar princípios específicos a situações gerais. A produção animal referente a cada espécie, neste sistema de exploração integrada, não dependerá unicamente das propriedades do alimento em oferta, mas também do tipo de animal escolhido. O sucesso da exploração integrada estará na dependência da administração destas interações. 3. Sobreposição de dietas e complementaridade

As estratégias de forrageamento características de cada espécie têm como resultado uma gama de alimentos potencialmente utilizáveis em função dos vários fatores discutidos no item anterior. Pode-se esperar, portanto, que animais com estratégias de forrageamento semelhantes, teoricamente, poderiam promover uma "co-utilização" dos recursos disponíveis mais intensa. Esta utilização dos mesmos recursos é chamada de sobreposição de dieta e classicamente é utilizado para determinar o nível de competição por um determinado recurso forrageiro ou, em outras palavras, o nível de complementaridade entre espécies. Isto pode ser exemplificado pelo trabalho de Lechner-Doll et al. (1995), onde o tempo gasto em pastejar determinada espécie forrageira e sua proporção em relação ao tempo total de pastejo foi utilizado para calcular a proporção do tempo de pastejo em que duas diferentes espécies animais utilizam o mesmo recurso forrageiro (Figura 2).

Observando-se, por exemplo, a sobreposição de dietas entre bovinos e ovinos constata-se que os ovinos dedicam 50 % do seu tempo de pastejo a itens também

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Figura 2. Sobreposição de dietas entre herbívoros em relação à proporção do tempo total em pastejo (adaptado de Lechner-Doll et al., 1995).

A complementaridade entre bovinos e caprinos (Figura 3) é grande; a sobreposição

de dietas entre estes, além de pequena, não ocorre no mesmo estrato da vegetação. (Lechner-Doll et al., 1995).

Figura 3. Altura de pastejo em relação ao tempo total em pastejo (adaptado de Lechner-

Doll et al., 1995).

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Os caprinos podem ser usados beneficamente em pastejo misto com outra espécie animal que pasteje mais gramíneas, como os bovinos e ovinos por exemplo, pois irão apresentar pouca sobreposição de dieta se estiverem presentes nas pastagens vegetações arbustivas e arbóreas. Há que se considerar, no entanto, uma importante interferência que o meio pecuário impõe à complementaridade potencial entre espécies. O uso de cercas e de pastagens mono-específicas, por exemplo, restringem a escolha do animal e, portanto, a sobreposição de dietas entre duas espécies é diferente, por exemplo, entre uma pastagem nativa e uma cultivada. Quando existe uma grande diversidade de recursos em oferta, a sobreposição de dietas entre duas espécies é muito menor do que no caso de restrição, onde a freqüência de seleção de um mesmo item é muito elevado. Quando a diversidade do recurso forrageiro é restrita, a oportunidade de expressão dos diferentes padrões de seletividade também é restringida e ambas as dietas se tornam semelhantes (Wright & Connolly, 1995).

Wood (1987) realizou um estudo numa pastagem que estava há mais de há mais de 12 anos sem ser pastejada, no nordeste dos EUA, objetivando avaliar a eficiência dos ovinos, bovinos e caprinos como agentes de renovação biológica. Os tratamentos foram os seguintes 0,5 ha com ovinos; 0,5 ha com bovinos; 0,5 ha com caprinos; 0,5 ha não pastejado. Os animais foram escolhidos visando manter uma taxa de lotação de 100 kg de tamanho metabólico/0,4 ha. Os resultados mostraram que o caprino foi o melhor animal para eliminar espécies invasoras arbustivas-arbóreas, mostrando-se não competitivos com bovinos e ovinos. Para ser evitar uma possível competição, a medida que diminui a população de invasoras arbustivas-arbóreas, o número de caprinos deverá reduzir gradualmente. Portanto, a manutenção de poucos caprinos com bovinos e ovinos poderia proteger a pastagem da reinvasão por espécies arbustivas-arbóreas.

Gordon & Illius (1989) criticam o parâmetro de sobreposição de dietas como estimador de competição entre espécies e apresentam uma hipótese alternativa bastante interessante. Observando a sobreposição de dietas entre bovinos, caprinos, eqüinos e cervídeos durante o verão e o inverno, estes autores constataram uma elevada sobreposição de dietas entre estas espécies quando havia uma grande disponibilidade de forragem de alta qualidade no verão. No inverno, com a redução da forragem disponível e de sua qualidade, observou-se uma baixa utilização de recursos comuns. Segundo estes autores, no verão, onde existe uma elevada sobreposição de dietas entre as espécies, seria exatamente um reflexo da abundância do recurso forrageiro. Bovinos, eqüinos e cervídeos, particularmente, apresentariam uma elevada sobreposição de dietas exatamente porque a competição seria mínima em tais condições. No inverno, cada espécie ocuparia o seu nicho alimentar e utilizaria determinados recursos cuja exclusividade estaria associada à especificidade de cada espécie em relação à dieta. Para existir coexistência entre espécies deve haver algum recurso forrageiro que uma espécie subordinada possa utilizar e que a dominante não possa. Se a espécie dominante pode fazer uso eficientemente de ambos os recursos, então poderíamos esperar encontrar somente ela no sistema. No verão, todas as espécies animais conseguem atingir seus requerimentos nas pastagens de alta qualidade dominadas por Agrostis e Festuca. No inverno a quantidade de forragem diminui e as comunidades de gramíneas de baixa digestibilidade (57%) provêem um refúgio aos bovinos que podem se estabelecer quando excluídos, pelos cervídeos, das comunidades de gramíneas e herbáceas de alta qualidade (65,4%). A elevada exigência destes últimos impossibilita a sua

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Um outro exemplo é o que se denomina facilitação de pastejo e que ocorre com espécies selvagens. A zebra (Equus burchelli) tem uma exigência de alto consumo e pasteja em macegas altas e fibrosas, onde a taxa de consumo instantânea é elevada. O rebrote expõe uma quantidade de folhas novas que é aproveitada pela gazela Thompson (Gazella thomsoni), ou seja, este animal se beneficia da estratégia de forrageamento das zebras apesar de utilizar o mesmo recurso (GORDON & LASCANO, 1993). Isto resulta no que se denomina sucessão de pastejo, onde a zebra movimenta-se na frente, seguida pela gazela. Um mecanismo similar pode ocorrer com espécies domésticas (GORDON & LASCANO, 1993). Bovinos pastejando forrageiras de grande porte, rebaixando-as e induzindo o rebrote que serão consumidos por ovinos. 3.1. Composição da carga animal em pastejo misto

Sendo ou não um indicador de competição, o índice de sobreposição de dietas certamente indica uma utilização comum do recurso forrageiro e será de uso fundamental para a composição da carga animal em pastejo misto. Isto nos introduz aos conceitos de unidade animal e taxa de substituição partindo de uma simples pergunta: Quantas ovelhas equivalem a uma vaca?

Embora existam diferenças entre indivíduos e espécies, o peso vivo elevado à potência 0,75 define o tamanho metabólico de um animal. Ele expressa o fato de que animais menores produzem mais calor e consomem mais alimento por unidade de peso vivo que animais de porte maior. Por exemplo, uma vaca de 450 kg e uma ovelha de 50 kg têm tamanhos metabólicos da ordem de 97,7 e 18,8, respectivamente. A relação em peso vivo é de 9:1, mas a correta é, levando em consideração o tamanho metabólico, de aproximadamente 5:1. Neste trabalho utilizaremos a definição empregada pela Society for Range Management (1989) , segundo a qual uma vaca adulta de 454 kg , seca ou com cria de mais de 6 meses e com um consumo de 12 kg de matéria seca/dia equivale a uma unidade animal (U.A.). Esta definição é muito interessante porque define uma unidade de demanda animal de 12 kg de MS/dia que pode ser utilizada para se calcular qualquer taxa de substituição. Exemplificaremos este cálculo assumindo uma pastagem onde se utiliza uma lotação de 2 U.A./ha . Para simplificação do raciocínio assumimos que esta pastagem vinha sendo manejada com duas vacas de 450 kg /ha. Pretende-se iniciar o emprego de exploração integrada e decide-se substituir uma das vacas por ovelhas. O cálculo é o seguinte:

1) fazer a equivalência do animal a ser substituído em unidade animal;

1 vaca de 450 kg = 1 unidade animal (U.A.) 2) transformar a quantidade de unidade animal a ser substituída pelo número de animais da espécie que fará a substituição;

1 (U.A.) = 5 ovelhas

3) utilizando os dados contidos na Figura 2, considerar a taxa de sobreposição de dietas entre as espécies

n° de animais / taxa de sobreposição

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5 ovelhas / 0.5 = 10 ovelhas

A taxa de substituição de vaca:ovelha nestas condições é de 1/10. A grande limitação para o emprego correto da taxa de substituição é que, embora a equivalência animal possa ser facilmente calculada ou mesmo encontrada em tabelas (vide Valentine, 1990) , a taxa de sobreposição é extremamente variável em função da época do ano e do tipo, abundância e diversidade da forragem em oferta e esta informação é praticamente indisponível em nossas condições. Considerando uma pastagem mono-específica a taxa teórica de sobreposição passa a ser 100 %. 4. Experiências com pastejo misto Grande parte dos trabalhos desenvolvidos com pastejo misto relaciona bovinos e ovinos. Há pouca informação disponível comparando outras espécies domesticadas. Estudos na Argentina têm revelado a importância da introdução de espécies de camelídeos (lhamas, alpacas e em especial guanacos) nos sistemas de produção, devido ao interesse pela extração de fibras para a indústria têxtil. Bakker et al. (1998) destacam que em pastejo misto com ovinos e guanacos, diferenças na composição da dieta foram observadas para uma mesma altura na pastagem de azevém perene. Ovinos selecionavam mais folhas verdes com a diminuição destas na superfície da pastagem (maiores alturas), enquanto que os guanacos aumentaram a seleção por folhas mortas com o aumento da disponibilidade de folhas verdes sobre o horizonte de pastejo (menor altura). As espécies de camelídeos mantêm uma maior proporção de material morto e colmo na sua dieta, intensificando o uso da massa de forragem.

Devido às diferenças no processo de seleção de forragem entre cervos e bovinos, estes animais estão sendo utilizados em sucessão na Nova Zelândia. A mesma área é pastejada por ambas espécies. Como os cervos se caracterizam por uma maior seleção da dieta, primeiramente se utiliza esta espécie na pastagem e, em seguida, entram os bovinos que atuam de modo a obter um aproveitamento mais intensivo desse recurso.

Araújo Filho (1984) estudando diferentes formas de manipulação da vegetação na caatinga nordestina e integrando com várias opções de combinação animal (bovinos, ovinos e caprinos) reportou que a melhor alternativa de manejo, em muitos sítios do semi-árido nordestino, poderia ser o rebaixamento da vegetação lenhosa e pastoreio misto de bovino e caprino. Este autor relaciona o desempenho animal com o tipo de modificação da vegetação nativa. Caprinos produzem mais em vegetação lenhosa rebaixada (corte seletivo da parte aérea de arbustos e árvores a uma altura de 30 cm), enquanto que ovinos e bovinos o fazem em caatinga raleada (controle seletivo de árvores e arbustos). Assim, outras opções de combinação animal seriam ovinos e caprinos na caatinga nativa, caprinos e bovinos na caatinga rebaixada e ovinos, caprinos e bovinos na raleada.

Collins (1989), em estudo com pastejo misto, observou um efeito de competição entre bovinos e ovinos e um efeito de complementaridade entre bovinos e caprinos em pastagem de azevém e trevo-branco. Bovinos e caprinos pastejando juntos apresentaram melhores desempenhos comparados ao pastejo isolado de ambas espécies. Uma maior digestibilidade da dieta e um maior consumo de matéria seca foram observados, especialmente para caprinos, devido ao aumento no consumo de trevos. Os bovinos tiveram

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Nolan & Connolly (1977), em uma das revisões mais completas realizadas até hoje a respeito do pastejo misto, concluíram que a exploração integrada com uma ou mais espécies aumenta a produção por unidade de área e por animal em relação à utilização com apenas uma espécie, tanto em condições de clima temperado quanto em clima tropical. Este efeito positivo estaria relacionado possivelmente a três conseqüências principais do pastejo misto:

1) aumento da produção da pastagem; 2) melhoria da qualidade da forragem; 3) aumento da eficiência de utilização (Nolan, 1980). A origem deste efeito positivo, segundo Baker (1985) e Nolan et al. (1987),

estariam na complementaridade dos padrões de pastejo associados com as diferentes preferências de cada espécie animal por diferentes espécies de plantas, partes das plantas ou localizações geográficas.

Projetos de extensão em fazendas demonstraram a total operacionalidade do sistema bovino/ovino, tendo como resultado a duplicação da carga animal e um aumento de 25 % no crescimento individual (Nolan & Connolly, 1989). Segundo estes autores, metade deste aumento é atribuído aos efeitos do pastejo misto e a outra metade a uma melhora geral do manejo do sistema de produção. Blackford Jr. (1985) relata que a introdução de ovino em pastejo com bovino aumentaria o retorno econômico em 15 a 20 %. Segundo Meyer & Harvey (1985), a exploração integrada é empregada em sistema de produção na Nova Zelândia por maximizar o lucro da atividade através de uma maior transformação de forragem em produto animal.

Isto significa que os efeitos principais do pastejo misto estariam nos componentes planta e animal do ecossistema pastagem. A título de melhorar a compreensão abordaremos separadamente os efeitos em nível de vegetação e os efeitos em nível de animal. 5. Efeitos da exploração integrada na vegetação

Parsons et al. (1983) demonstraram a impossibilidade de otimização simultânea dos processos de interceptação e conversão da energia solar em produção primária e de colheita eficiente desta produção pelos herbívoros através do pastejo. De uma forma bastante simples, isto equivale a dizer que é necessário haver folhas para haver crescimento nas plantas e que, no entanto, é necessário se consumir a maior quantidade possível de folhas para haver uma utilização eficiente. Estes processos antagônicos foram denominados por Briske & Heitschmidt (1991) como dilema ecológico fundamental do ecossistema pastagem e ilustram os limites para se maximizar a eficiência de utilização de uma pastagem (relação produto animal/forragem acumulada; Hodgson, 1979).

A eficiência do pastejo misto na utilização mais ampla do recurso forrageiro em pastagens naturais é ilustrada por Bowns & Matthews (1983). O pastejo misto de bovino e ovino traz um maior equilíbrio na utilização dos componentes da vegetação quando comparado ao pastejo mono-específico de bovinos (Figura 4).

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Figura 4. Níveis de utilização de espécies herbáceas, gramíneas e Symphoricarpos spp. por

ovinos, bovinos ou ovinos e bovinos em pastejo misto (Bowns & Matthews, 1983).

Boswell & Cranshaw (1978) afirmam que o pastejo misto aumenta a produção da

pastagem e a utilização da forragem produzida. A produção da pastagem em sistema com bovino foi de 10900 kg de MS/ha/ano enquanto que em pastejo misto com ovinos variou entre 11900 e 13500 kg de MS/ha/ano. O percentual de utilização da pastagem foi de 52 % no sistema com bovinos e entre 55,5 e 65,4 % em pastejo misto, o que levou os autores a concluírem pela superioridade do pastejo misto em relação ao pastejo unicamente com bovinos. Hodgson & Forbes (1980), no entanto, afirmam que somente através da produção total da pastagem seria difícil de se interpretar os efeitos do pastejo misto, a menos que medidas diretas do fluxo de matéria seca (crescimento, senescência e consumo) sejam feitas.

No entanto, nem todas as associações de animais produzem os mesmos efeitos. Segundo Loiseau & Martin-Rosset (1989), a introdução do eqüino em pastejo misto com bovino diminui a produção da pastagem. Em contrapartida, a introdução do eqüino corrigiria os efeitos negativos do pastejo seletivo do bovino, trazendo em especial um melhor controle das espécies lenhosas.

Uma outra possibilidade do pastejo misto é como manipulador da composição botânica. Um exemplo é o controle de espécies indesejáveis ou tóxicas para uma classe de herbívoros, mas que produzem forragem para outra. Este controle é favorecido por esta prática quando na presença de ovinos. Espécies como carqueja (Bacharis trimera), alecrim (Vernonia sp.), caraguatá (Eryngium horridum), maria-mole (Senecio brasiliensis) e chirca (Eupatorium buniifolium), têm sua freqüência reduzida com a presença dessa espécie animal. Montossi et al. (1998) destacaram que em pastejo misto com bovino e ovino, uma maior proporção de espécies indesejáveis foi encontrada na dieta de ovinos, argumentando

In: SILVA, Jamir Luis Silva da; GOTTSCHALL, Carlos Santos; RODRIGUES, Norma Centeno. (Org.).Ciclo de Palestras em Produção e Manejo de Bovinos. VII. ed. Porto Alegre, 2002, v. VII, p. 61-94. que, em geral, essas espécies apresentam um bom valor nutritivo em minerais como, por exemplo, sódio e, no caso do caraguatá, cálcio.

Em estudo feito por Fox & Seaney (1984), foi observado que as cabras pastejaram maior número de espécies de plantas e obtiveram somente 34% de sua dieta de gramíneas, comparando com 90% para bovinos e 78% para ovinos. Bredemier (1976) relata que os ovinos, embora tenham menor preferência por invasoras arbustivas e maior preferência por gramíneas e invasoras de baixo porte, têm sido eficientes em remover invasoras não procuradas, particularmente em combinação com caprinos.

Murray & Illius (1996) destacam que espécies pequenas têm, botanicamente, uma dieta mais diversa incluindo uma ampla gama de dicotiledôneas que crescem na base da pastagem.

Um outro exemplo de manipulação botânica ocasionado pelo pastejo misto (bovino/ovino), é o caso da região da Campanha do RS. É sabido que mudanças na composição botânica estão sendo observadas, embora de embasamento empírico, devido à diminuição da proporção de ovinos. Houve um decréscimo na freqüência de espécies hibernais (flechilhas) aumentando a presença de espécies mais grosseiras, enquanto que nos campos mais próximos do Uruguai, os quais ainda mantém um elevado número de ovinos, a presença dessas gramíneas hibernais continua bastante elevada.

De acordo com Nolan (1986), o principal efeito do pastejo misto entre bovino e ovino seria através da utilização, por parte dos ovinos, da forragem rejeitada pelos bovinos nas áreas de dejeção. A rejeição se daria inicialmente pelo odor das fezes e, posteriormente, devido à maturidade da planta. A aparente pouca importância da forragem nestas áreas é desmistificada pelo trabalho de Nolan et al. (1986). Em pastagens de uso exclusivo com bovinos, estes autores encontraram 5% da área total sob as dejeções e 15% da área como rejeitada ("plantas altas" em torno das placas de dejeção). Esta pequena área não pastejada continha até 44% da forragem total disponível e concentrava 40% do total de fósforo e potássio de toda a pastagem. Esta maior produção de forragem em áreas de dejeção é compreensível, uma vez que uma placa típica de fezes de um bovino eqüivaleria a uma aplicação de 1040 kg N/ha, 400 kg de K/ha e 280 kg de P/ha (Willians & Haynes, 1995). Se esta forragem não é consumida pelo bovino, não pode haver melhor exemplo de baixa eficiência de utilização.

Tais áreas rejeitadas pelos bovinos podem variar entre 10 e 50% da área total (Nolan & Connolly, 1988), dependendo da pressão de pastejo empregada. A Tabela 2 demonstra que a quantidade de área sob dejeções e a quantidade de plantas altas em relação à área e em relação à matéria seca é inversamente proporcional à proporção de bovinos na lotação empregada.

Tabela 2. Efeito da relação ovino/bovino sobre a área ocupada pelas dejeções e pelas

plantas altas e participação das plantas altas na matéria seca total (Nolan & Connolly, 1988).

% de bovinos na

lotação Dejeções (% da área) Plantas Altas (% da

área) Plantas altas (% da

MS total)

34 1.8 ± 0.2 9.0 ± 0.8 15.9 ± 1.4

66 2.2 ± 0.2 10.2 ± 0.9 18.2 ± 1.5

In: SILVA, Jamir Luis Silva da; GOTTSCHALL, Carlos Santos; RODRIGUES, Norma Centeno. (Org.).Ciclo de Palestras em Produção e Manejo de Bovinos. VII. ed. Porto Alegre, 2002, v. VII, p. 61-94.

100 3.5 ± 0.2 14.5 ± 1.0 31.5 ± 1.6

Nolan et al. (1987) resumem seus estudos nas seguintes observações:

a) As "plantas altas" crescem de 2 a 2.5 vezes mais rapidamente que as plantas não rejeitadas em função de não serem desfolhadas e de manterem um alto índice de área foliar; b) As "plantas altas" têm aproximadamente 4 unidades percentuais de digestibilidade a mais em pastejo misto comparado ao pastejo exclusivo de bovinos ; c) A preferência dos ovinos por estas plantas é aproximadamente 2 vezes maior em relação aos bovinos ; d) Os bovinos rejeitam as "plantas altas" no mínimo durante as primeiras 3 semanas após a dejeção; e) Em pastejo exclusivo de bovinos, 50% da área rejeitada é removida até o final do período de pastejo, porém, apenas 5% da matéria seca é removida. Isto significa que os bovinos pastejam na periferia das áreas de "plantas altas", enquanto as áreas da pastagem mais próximas às placas de dejeção continuam a crescer rapidamente. f) Perfilhos marcados próximos às placas de dejeção são consumidos pelos ovinos e rejeitados pelos bovinos.

Rancourt et al. (1980) avaliou a altura da pastagem pós pastejo de bovinos e ovinos a diferentes distâncias das placas de dejeção de bovinos. Ele observou que a uma distância de 15 cm o consumo pelos ovinos superou o de bovinos em 40%. A partir de 50 cm de distância as diferenças não chegam a 10%. Se algum tipo de animal associado aos bovinos pode fazer uso de uma forragem que é rejeitada por estes e que, no entanto, é de alta qualidade e cuja quantidade não é desprezível, nos parece evidente que se poderia aumentar a eficiência de utilização desta pastagem através de um aumento da eficiência de colheita da forragem produzida. Porém, como o parâmetro eficiência de utilização não depende apenas da colheita da forragem, há que se considerar os efeitos em nível de desempenho animal. 6. Efeitos da exploração integrada no animal

Os experimentos de pastejo onde se associam diferentes espécies animais são extremamente complexos. Os efeitos da escolha de uma determinada lotação se confundem com aqueles advindos do pastejo misto "per se" (Lambert & Guerin, 1989). Segundo Nolan & Connolly (1977), quatro conceitos, individualmente ou em combinação, são à base da maioria dos delineamentos em experimentos de pastejo misto: equalização da pressão de pastejo, equivalência animal, proporções de bovinos/outra espécie e uso de várias lotações para criar diferentes pressões de pastejo. Estas variáveis não são independentes e distintos desempenhos em pastejo misto podem ter origem em uma escolha incorreta da equivalência ou de um efeito específico do pastejo misto, sendo que estas respostas não podem ser separadas quantitativamente (Nolan & Connolly, 1977). Para solucionar estes problemas, Connolly & Nolan (1976) desenvolveram um delineamento onde as espécies animais são utilizadas em várias proporções e em várias lotações, sendo os resultados analisados pela técnica da superfície de resposta. Neste caso o índice de equivalência é redefinido para permitir estudar os efeitos reais da exploração integrada sendo, portanto, o número de

In: SILVA, Jamir Luis Silva da; GOTTSCHALL, Carlos Santos; RODRIGUES, Norma Centeno. (Org.).Ciclo de Palestras em Produção e Manejo de Bovinos. VII. ed. Porto Alegre, 2002, v. VII, p. 61-94. animais de uma espécie que pode substituir um dos animais da outra espécie sem que o ganho de peso dos animais restantes seja diminuído (vide Connoly & Nolan, 1976, para maiores detalhes).

Do ponto de vista de comportamento animal, pode-se afirmar que os eqüinos têm predominância sobre bovinos e ovinos em pastejo misto e que bovinos têm predominância sobre ovinos e caprinos (Valentine, 1990). A agressão aberta entre as espécies é rara, a exceção dos eqüinos (Arnold, 1980), ocorrendo principalmente próximo a aguadas. Valentine (1990) sugere que não se utilizem ovelhas ou cabras com cria ao pé em conjunto com novilhos. Vacas com cria ao pé, ao contrário, ajudariam a evitar a aproximação de predadores (Valentine, 1990).

Uma possibilidade oferecida pelo pastejo misto seria no controle de endoparasitas em bovinos, ovinos e caprinos, através de uma redução no nível de contaminação geral da pastagem (Lambert & Guerin, 1989). As espécies de nematódeos gastrintestinais apresentam o que se denomina especificidade parasitária. Embora essa especificidade seja variável conforme a espécie do parasita, a grande maioria das espécies que parasitam os ovinos não se desenvolvem em bovinos ou eqüinos. (Amarante et al., 1997). As larvas infectantes dos parasitas de ovinos, por exemplo, que forem consumidas por outra espécie, serão destruídas, pois não encontrarão ambientes propícios ao seu desenvolvimento. SANTIAGO et al. (1975) não verificaram ocorrência de infecções cruzadas por espécies dos gêneros Haemonchus, Oesophagostomum, Nematodirus e Bunostomum. O número de larvas de Oestertagia e Cooperia presentes na pastagem foi decrescido à metade em pastejo misto (Grenet & Billant, 1995).

Em relação ao efeito do pastejo misto no desempenho animal, Lambert & Guerin (1989) revisaram 12 experimentos onde não houve efeitos em 2 deles, 5 apresentaram um aumento no ganho de peso de uma das espécies (geralmente de ovinos quando em associação com bovinos) e 5 apresentaram ganho de peso em ambas as espécies (principalmente quando as comparações foram feitas entre animais jovens). Estudos da dieta de animais em pastejo misto sugerem que a substituição de bovinos por ovinos e/ou caprinos aumenta o ganho de peso dos bovinos em pastejo misto porque a pressão de pastejo sobre o componente gramínea é reduzida (Figura 5).

In: SILVA, Jamir Luis Silva da; GOTTSCHALL, Carlos Santos; RODRIGUES, Norma Centeno. (Org.).Ciclo de Palestras em Produção e Manejo de Bovinos. VII. ed. Porto Alegre, 2002, v. VII, p. 61-94.

Anos

Gan

ho p

o r a

nim

al

Somente bovinosBovinos com ovinos e caprinos

Figura 5. Ganho de peso ao longo de 20 anos em pastagens exclusivas de bovinos ou pastejo misto com ovinos e caprinos (Taylor, 1985).

A produção das ovelhas aumenta quando se substituem ovinos por bovinos e

caprinos porque a pressão de pastejo sobre o componente herbáceas diminui, sendo que a produção dos caprinos não é afetada porque a taxa de lotação estaria abaixo da taxa crítica necessária para causar uma mudança na seleção da dieta (Taylor, 1985).

Embora o pastejo misto promova, na maioria dos casos, um aumento no desempenho animal, a magnitude deste efeito está diretamente relacionado à proporção de cada espécie na taxa de lotação, bem como da própria taxa de lotação escolhida. Collins (1989) cita que, quanto menor a proporção de uma determinada espécie maior o benefício desta mesma espécie em pastejo misto. A maior vantagem do pastejo misto em taxas de lotação elevadas indicaria que o efeito do aumento da taxa de lotação no ganho médio diário é menor em pastejo misto comparado ao pastejo exclusivo (Nolan et al., 1987). Outros efeitos associados seriam o aumento de 25 a 40% do número de cordeiros que atingiriam peso de abate ao desmame (13 semanas de idade) e 40 a 60 kg a mais de peso para cada novilho em sistema de recria e terminação (Nolan, 1986).

Em relação ao ganho de peso por unidade de área, os efeitos do pastejo misto teriam como conseqüência dos melhores desempenhos individuais um aumento de no mínimo 10% na produção/área (Nolan, 1986).

Connolly (1987) propôs o índice RRT ("relative resource total") que é definido como a superfície total necessária em pastejo misto para manter um mesmo número de animais de cada espécie no mesmo ganho médio diário que em uma unidade de superfície em pastejo mono-específico. Por definição, quando do emprego em pastejo misto, RRT > 1 significa que uma maior área é necessária em pastejo mono-específico para obter a mesma produção animal de uma exploração integrada, indicando uma maior captura de recursos em pastejo misto, uma captura de recursos distintos ou uma utilização mais eficiente dos

In: SILVA, Jamir Luis Silva da; GOTTSCHALL, Carlos Santos; RODRIGUES, Norma Centeno. (Org.).Ciclo de Palestras em Produção e Manejo de Bovinos. VII. ed. Porto Alegre, 2002, v. VII, p. 61-94. recursos em pastejo misto (Nolan & Connolly, 1989). Um valor de RRT < 1 indicaria uma interferência entre as espécies animais no uso dos recursos.

Entre as proporções ovelha/novilho variando 3:1 e 5:1 o índice RRT é de aproximadamente 1,13, indicando que 13% mais de área é necessária em pastejo mono-específico para se obter a mesma produção. Isto implica em um aumento de 13% na produção por área no pastejo misto comparado ao pastejo exclusivo. Um RRT de 1,10 é ainda observado entre proporções variando de 1.5:1 a 10:1. Estes resultados indicam que os benefícios do pastejo misto estariam associados à uma complementaridade no uso dos recursos (Nolan et al., 1987). 7. Vantagens e limitações do pastejo misto

Existe potencial considerável no uso da exploração integrada para a utilização intensiva de pastagens. No entanto, é importante salientar que grande parte das informações a respeito do pastejo misto tem origem em pastagens temperadas e de associações bovino/ovino. Em nossas condições as informações são escassas ou quase inexistentes. Não obstante, a natureza heterogênea de nosso recurso forrageiro é perfeita para o uso comum de várias espécies animais. Os baixos rendimentos da pastagem natural e o controle de plantas indesejáveis são temas centrais na otimização do recurso forrageiro, tendo o pastejo misto uma importância preponderante como opção de manejo visando a melhor utilização de nossas pastagens naturais, e mesmo as cultivadas.

Resumo de algumas das vantagens do pastejo misto:

- Vantagens sanitárias que resultam na menor incidência de parasitas de uma espécie sobre a outra e da maior limpeza da pastagem, conseqüência da remoção de larvas pelo pastoreio com animais resistentes a espécies distintas do hóspede normal.

- Aproveitamento de áreas inacessíveis, com base na tendência dos bovinos de utilizarem as áreas planas, enquanto que caprinos e ovinos se aproveitam de áreas acidentadas (Araújo Filho, 1984).

- Complementaridade potencial em pastejo. - Utilização de ofertas de alto valor nutritivo aos animais em produção, sem prejuízo do

uso correto da pastagem, quando o rebanho é dividido em classes de produção, iniciando-se com o grupo mais produtivo.

- Aumento da capacidade de suporte em decorrência das diferentes preferências alimentares (aumento do número de itens vegetais que se constituem em forragem).

- Diversificação da produção. Podemos citar, como exemplo, a introdução da exploração integrada em sistemas de produção de leite na Europa, a qual tem contribuído como uma alternativa aos produtores que se viram limitados pelo sistema de cotas. A criação de ovinos para carne contribui para o melhor manejo da pastagem e diversifica a produção (Rouel et al., 1995).

- Melhor aproveitamento da forragem disponível. Em pastagem cultivada, apesar da menor heterogeneidade do recurso forrageiro, uma superioridade na eficiência de utilização da pastagem de no mínimo 10 % pode ser esperada em se utilizando pastejo misto (Nolan & Connolly, 1989), sendo que este efeito estaria principalmente associado à utilização da forragem rejeitada pelos bovinos.

In: SILVA, Jamir Luis Silva da; GOTTSCHALL, Carlos Santos; RODRIGUES, Norma Centeno. (Org.).Ciclo de Palestras em Produção e Manejo de Bovinos. VII. ed. Porto Alegre, 2002, v. VII, p. 61-94. - Manipulação da estrutura da vegetação. Nolan et al. (1986) notaram uma menor

porcentagem de material morto na forragem em oferta, e uma densidade maior dos perfilhos situados próximos a locais de dejeção no pastejo misto bovino/ovino. A melhoria no uso deste tipo de forragem facilita a penetração de luz na base da pastagem, favorecendo o aumento do perfilhamento, incrementando, portanto, a produção de forragem.

- Estabilidade em ecossistemas complexos. - Controle de espécies indesejáveis. Como limitações, podemos citar: - Especialização da mão de obra e necessidade de conhecimentos adicionais de manejo,

em especial sanitários, principalmente quando da introdução de pequenos ruminantes em pastagens de bovinos.

- Redução na escala de produção da espécie primária em algumas situações. - Aumento em custos com cercas e outras estruturas necessárias. - Conflitos em relação à demanda de trabalho. - Comercialização de produtos mais complexa. - Aumento potencial de problemas (e.g., predadores). 8. Considerações finais O maior potencial da técnica de exploração integrada ocorrerá em pastagens que sejam complexas do ponto de vista botânico, e onde a variabilidade topográfica seja grande, pois permitirá uma maior complementaridade entre os animais presentes na associação. A vegetação natural da Serra do Sudeste do Rio Grande do Sul é um excelente exemplo de vegetação com potencial de uso em pastejo misto. Os efeitos positivos da exploração integrada serão provavelmente maiores em pastagem natural do que em pastagem cultivada, dada a heterogeneidade da primeira. O tipo de vegetação, o manejo da disponibilidade, altura e estrutura da forragem em comunidades vegetais são alguns dos componentes mais importantes na determinação da eficiência produtiva dos sistemas pastoris, devido sua influência sobre as taxas de crescimento, consumo e senescência da pastagem, como também seu efeito sobre a produtividade animal. Devido esta complexidade de fatores envolvidos no ecossistema pastagem, muitos resultados obtidos em experimentos com pastejo misto tornam-se difíceis de se interpretar, pois muitas vezes não há segurança em afirmar se efeitos similares não poderiam ser obtidos por uma simples variação da lotação ou do nível de utilização da forragem. Assim, o maior desafio na exploração integrada seria o de identificar padrões complementares de comportamento em pastejo, e de se estudá-los e compreendê-los de uma forma que possam ser explorados em sistemas de produção mais eficientes.

Por último, acreditamos que, entre as técnicas disponíveis que visam a melhor utilização da pastagem natural no Rio Grande do Sul, o uso de pastejo misto esteja entre as mais simples para melhor valorizar o nosso recurso natural. No entanto, a crise da ovinocultura gaúcha tem comprometido seriamente este objetivo, e o rebanho caprino no Rio Grande do Sul ainda é reduzido. Urge a necessidade de políticas públicas que resgatem e fomentem a natureza multi-específica do uso da vegetação natural, particularmente num

In: SILVA, Jamir Luis Silva da; GOTTSCHALL, Carlos Santos; RODRIGUES, Norma Centeno. (Org.).Ciclo de Palestras em Produção e Manejo de Bovinos. VII. ed. Porto Alegre, 2002, v. VII, p. 61-94. momento onde a sociedade anseia por produtos ecologicamente corretos, bem como por produtos que estejam em consonância com o ambiente no qual é produzido. 9. Referências bibliográficas AMARANTE, A.F.T. Profilaxia da verminose ovina, descontaminação de pastagens: In: PRODUÇÃO DE OVINOS, 1990, Jaboticabal, Anais...p.2011-210. ARAÚJO FILHO, J.A. 1984. Pastoreio Múltiplo. In: PEIXOTO, M. A., MOURA, J.C., FARIA, V.P. Anais do 7º Simpósio sobre manejo da pastagem, FEALQ: Piracicaba, SP. p.209- 233. ARNOLD, G.W. 1980. Behavioral aspects of mixed grazing. In:NOLAN, T. & CONNOLLY , J. (Eds.) Workshop on Mixed Grazing. An Foras Taluntais, Dublin. p.140-153. BAKER, F.H. 1985. Multispecies grazing: the state of the science. Rangelands 7:266-269. BAKKER, M. L., GORDON, I..J., MILNE, J.A. 1998. Effects of sward structure on the diet selected by guanacos (Lama guanicoe) and sheep (Ovis aries) grazing a perennial ryegrass-dominated sward. Grass and Forage Science, v.53, p.19-30. BLACKFORD Jr, R.H. 1985. Multispecies systems for California. In: BAKER, F.H. & JONES, R.K. (Eds.). Multispecies grazing. Winrock Int., Arkansas. p.204-206. BOSWELL, C.C., CRANSHAW, L.J. (1978). Mixed grazing of cattle and sheep. Proceedings of the New Zealand Society of Animal Production 38:116-120. BOWNS, J.E. 1989. Common use: better for cattle, sheep and rangelands. Utah Science p:117-123. BOWNS, J.E., MATTHEWS, D.H. 1983. Cattle grazing with sheep: plus for rangelands and production. Utah Science p.38-43. BRISKE, D.D., HEITSCHMIDT, R.K. 1991. An ecological perspective. In: HEITSCHMIDT, R.K. & STUTH, J.W. (Eds.) Grazing Management , An Ecological Perspective. Timber Press, Portland, Oregon. p.11-26. CARVALHO, P.C.F., RODRIGUES , L.R.A. Potencial de exploração integrada de bovinos e outras espécies para utilização intensiva de pastagens. In: PEIXOTO, A.M., MOURA, J.C., FARIA, V.P. (Eds.). SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTAGENS: PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO, 13, Piracicaba-SP. 1997. p. 275-301. COLLINS, H.A. 1989. Single and Mixed Grazing of Cattle, Sheep and Goats. PhD. Thesis. Lincoln College. 195 p. CONNOLLY, J. 1986. Importance and measurement of mixture effects in grazing systems. In: GUDMUNDSSON, O. (Ed.). Grazing Research at Nothern Latitudes. Plenum Press, New York. p. 323- 333. CONNOLLY, J. 1987 On the use of response models in mixture experiments. Oecologia 72:95-103.

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