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INCENTIVO E PRÁTICA DE LEITURA: Superação de problemas de · A escola, local de acesso ao saber e formadora de leitores, objetiva promover o contato do aluno com uma variedade

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INCENTIVO E PRÁTICA DE LEITURA: Superação de problemas de

aprendizagem, gosto e motivação da leitura por prazer

Autora Maria Ivanilde Duarte dos Anjos1

Orientador Prof. Me. Flávio Brandão Silva2

Resumo

A leitura tem grande relevância enquanto atividade no processo ensino-

aprendizagem, pois é fundamental para o desenvolvimento intelectual e para a

construção do conhecimento, ampliando a visão de mundo do ser humano.

Com o objetivo de propor alternativas para superar problemas de

aprendizagem na compreensão da leitura; despertar o gosto e motivação para

o hábito da leitura por prazer, desenvolveu-se o presente trabalho de incentivo

a leitura, do gênero textual fábula. Mediante os objetivos propostos,

organizaram-se as atividades em sequência didática, com estratégias que

promoveram compreensão e interpretação da leitura, por o gênero fábula

abordar narrativa curta, vista como excelente exercício de reflexão sobre o

comportamento humano. .

Palavras-chave: Língua Portuguesa; gênero discursivo fábula

1 Professora Licenciada em Língua Portuguesa pela Faculdade de Ciências ,Letras e Educação de Presidente Prudente-São Paulo; Pós graduada em Didática e Metodologia do Ensino, pela Universidade Norte do Paraná de Londrina - UNOPAR

2 Mestre em Linguística e Língua Portuguesa pela Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP; graduado em Letras pela Universidade Estadual de Maringá – UEM; docente do Colegiado do Curso de Letras da Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí- FAFIPA.

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1 - Introdução

Sabendo-se da relevância que a leitura tem enquanto atividade no

processo ensino-aprendizagem, desenvolveu-se este trabalho, com alternativas

para superar problemas de aprendizagem, dificuldades na compreensão da

leitura, buscando despertar o gosto e motivação para o hábito da leitura por

prazer.

De fato, a leitura é uma atividade essencial na vida do homem de nosso

século, uma vez que é através dela que se obtêm informações, que se entra

em contato com as novas descobertas.

A leitura é fundamental para o desenvolvimento intelectual e para a

construção do conhecimento, pois, através dela, o ser humano modifica, amplia

a sua visão de mundo pode defender seus direitos e contribuir para uma

sociedade mais justa. O indivíduo que lê tem um enriquecimento pessoal, pois

a leitura possibilita a interação com o mundo, e contribui para formar ideias e

experiências intelectuais.

A cada leitura, o leitor adquire novos conhecimentos, novas estruturas,

desenvolve novas estratégias, aprende a aprender. Interage com o texto,

compreende, estabelece relações entre o que lê e os conhecimentos prévios

que possui.

A prática de leitura tem uma grande contribuição para o

desenvolvimento dos princípios de cidadania. Desse modo, foi desenvolvido o

trabalho com a leitura significativa de fábulas, um gênero literário que instigou

discussões e reflexões.

Tendo em vista a necessidade de incentivar a leitura, foi desenvolvida a

sequência didática com o gênero textual “fábula”, que proporcionou reflexão

sobre comportamentos, contribuiu para a formação de valores e

desenvolvimento da capacidade intelectual, com estratégias que promoveram a

compreensão e a interpretação do que se leu, em atividades agradáveis, para

formar o leitor crítico e consciente. Houve também atividades para as famílias

dos alunos, que tiveram oportunidade de compartilhar, em casa, as leituras, de

textos e livros levados pelos filhos, expressando, através de relatos, o que a

leitura proporcionou a todos.

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2 - Desenvolvimento

A leitura é compreendida como um ato dialógico, interlocutivo, que

envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e

ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo busca as suas

experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar,

religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que os constituem. O leitor em contato

com várias formas linguísticas enriquece o vocabulário, descobre mundos e

amplia seus conhecimentos. Através da leitura, o ser humano cresce e toma

contato com o universo, (Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa do

Estado do Paraná).

O processo de leitura deve levar o leitor a compreender o texto, de

maneira que o leitor vai construindo uma ideia sobre o conteúdo do texto,

extraído as informações que lhe são importantes, conforme seus objetivos. É

uma leitura que permite pensar, recapitular, relacionar a informação do texto

com seus conhecimentos, e decidir o que é importante ou não.

Um dos objetivos do ensino de Língua Portuguesa é a leitura, que

precisa ser desenvolvida, possibilitando formar o leitor crítico, capaz de saber

ler o que está subentendido, posicionando-se diante do que leu e ampliando a

sua visão de mundo.

Sendo a leitura importante em todos os níveis educacionais, a qual se

constitui numa forma de interação das pessoas de qualquer área do

conhecimento, serão abordadas algumas considerações que embasaram este

estudo.

Para Menegassi (1995), a leitura é um processo que se desenvolve

através de etapas: a decodificação, a compreensão, a interpretação e a

retenção. Ressalta ainda que a construção do sentido no ato da leitura

necessita da passagem por essas etapas, para que o leitor realmente atribua

sentido ao que lê.

A primeira etapa é a decodificação, extremamente necessária para a

realização das outras etapas, é o reconhecimento do código escrito e sua

ligação com o significado no texto. Dessa primeira etapa decorrem todas as

demais etapas envolvidas no processo de leitura.

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A compreensão é a etapa posterior à decodificação. Nessa etapa,

primeiramente o leitor faz uma leitura superficial, depois capta as informações

de que trata o texto, qual tipologia usada. A partir desse entendimento, o leitor

realiza inferências tendo em vista seus conhecimentos prévios.

Durante a etapa de compreensão, já se inicia a interpretação, que é a

terceira etapa do processo, que só ocorre quando o leitor já compreendeu as

informações presentes no texto. É a fase da leitura crítica, na qual o leitor

interpreta os acontecimentos implícitos no sentido do texto, faz comparações,

reconhece o sentido de linguagens figuradas e subentendidas, reflete e faz

análise crítica sobre a leitura, ampliando os seus conhecimentos.

Na última etapa, a retenção, o leitor retém as informações importantes,

absorvendo os conhecimentos para si. Dessa forma, as informações obtidas

durante a leitura passam a integrar o acervo do leitor, ou seja, torna-se

conhecimento novo adquirido.

Serão abordadas a seguir outras considerações que subsidiaram o processo

de leituras apresentadas neste projeto.

Segundo Solé (1998), a leitura é um processo de emissão e verificação

das previsões que levam à construção da compreensão do texto, mediante o

qual se compreende a linguagem escrita. A autora afirma que, para ler, o leitor

necessita ter habilidades de decodificação, e também identificar no texto seus

objetivos, ideias e experiências prévias. É um processo que se realiza de forma

natural, quando o leitor já é experiente e tem a capacidade de fazer inferências,

levantar hipóteses durante a leitura.

De acordo com as considerações de Solé (1987); Kleiman (1989);

Perfeito, (2005) formar o leitor competente é assegurar que o mesmo atribua

sentido ao que lê, que compreenda e saiba ler o que não está escrito,

identificando elementos implícitos, estabelecendo relações entre a leitura do

momento e outras leituras já realizadas.

Leffa (1996) ressalta que um mesmo texto pode ter vários conteúdos,

assim como vários textos podem refletir um só conteúdo. As lacunas deixadas

pelo autor são preenchidas com os conhecimentos e visões da realidade de

cada leitor. Para Leffa (1996), a qualidade da leitura está na reação do leitor,

de como ele processa o texto, e o significado está no resultado que esta leitura

proporciona na mente do leitor.

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Assim, de acordo com Leffa, a construção de sentido a partir do leitor

necessita de que o mesmo tenha competência sintática, semântica e textual, e

uma compreensão da realidade histórico-social que o texto reflete. O autor

enfatiza que:

“Para compreender um texto devemos relacionar os dados fragmentados do texto com a visão que já construímos do mundo. Todo texto pressupõe essa visão de mundo e deixa lacunas a serem preenchidas pelo leitor. Sem o preenchimento dessas lacunas a compreensão não é possível.” (LEFFA, 1996, p. 25).

As práticas de leitura hoje, apesar dos objetivos para formar o leitor

crítico e consciente, entendedor do que lê, ainda são atividades que afastam o

indivíduo dos livros, tornando a leitura atividade desvinculadas da prática do

aluno, com leituras obrigatórias que não atendem os interesses dos jovens. A

formação do leitor envolve práticas que busquem novos caminhos para tornar o

ensino e a aprendizagem de leitura mais significativa e dinâmica. Formar o

leitor competente supõe formar alguém que saiba que vários sentidos podem

ser atribuídos a um texto e consiga justificar e validar a sua leitura a partir da

localização de elementos discursivos no texto.

Na escola, a leitura é trabalhada explorando significados e

interpretações direcionadas, sem o aluno refletir e entender o que o texto diz

além do que está escrito, pois muitas questões propostas nas atividades de

compreensão já têm respostas prontas, são atividades mecânicas, sem

relacionar o que foi lido com a vida, que resulta em mais desinteresse pela

leitura. Conforme a visão de Menegassi (2005), quando o leitor realiza o

processo de interação com a obra e com o autor, com reflexões para o

entendimento, ele desenvolve gosto e prazer pela leitura.

O leitor crítico é ativo perante a leitura, processa e examina o texto, tem

um objetivo que guia a leitura, sabe que o texto não é neutro e que o autor tem

uma visão de mundo e uma maneira de ver a realidade em que o texto foi

escrito, e, portanto, consegue interpretar os aspectos ideológicos implícitos no

texto.

Menegassi (2005) afirma que, para a formação de um leitor crítico, é

fundamental trabalhar uma série de estratégias e habilidades de leitura com

uma diversidade de gêneros textuais que circulam nas diferentes esferas.

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Comentando a afirmação do autor, a leitura dos diversos gêneros desenvolve a

capacidade discursiva e a interação sujeito e texto. Dessa forma, o leitor recria

culturalmente práticas discursivas como prática sociais de comunicação,

fazendo com que a leitura esteja vinculada a situações reais de comunicação.

Enfatiza o autor que a leitura deve ser trabalhada possibilitando ao leitor

interpretar os aspectos ideológicos do texto, pois ele não é neutro, traz em seu

conteúdo uma visão de mundo, de época.

Ler é uma prática essencial para aprender. A partir da leitura, o indivíduo

conscientiza-se de suas necessidades, podendo atuar e transformar a sua

realidade. Sabe-se que a maioria das pessoas não tem o hábito da leitura, pela

falta de incentivo e também por não entender que o acesso às informações

promove transformações com os conhecimentos construídos durante a leitura.

No ensino-aprendizagem de leitura, o texto é visto como uma fonte

produtora de sentidos, que estabelece relações dialógicas com outros textos,

não podendo ser dissociados de seus falantes, das esferas sociais e de seus

valores ideológicos. Qualquer enunciado faz parte de um gênero, pois reflete

as condições especificas e as finalidades de cada esfera social.

Neste sentido, todo texto é uma articulação de discursos, vozes que se

materializam no ato humano, é a linguagem em uso efetivo (Bakhtin, 1999). O

texto ocorre em interação, não podendo ser compreendido apenas em seus

limites formais, pois estabelece relações dialógicas com outros textos. Segundo

o autor, o gênero é uma unidade real da comunicação humana, fenômeno

social carregado de valores, não podendo ser visto isoladamente, mas somente

a partir das situações de interação.

A escola, local de acesso ao saber e formadora de leitores, objetiva

promover o contato do aluno com uma variedade de leituras com diferentes

funções sociais, envolvendo-o nas práticas de uso da língua de textos que

circulam nas esferas sociais, para a formação do cidadão atuante na

sociedade.

O envolvimento com as práticas de linguagem, tanto na leitura, como na

oralidade e na escrita, é muito importante para o desenvolvimento intelectual

do aluno, pois promove sua interação com as mais variadas formas e gêneros

textuais que estão presentes no seu dia-a-dia.

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Os gêneros textuais são fenômenos históricos vinculados à vida cultural

e social, presentes nas atividades de comunicação. São caracterizados pelo

aspecto sócio comunicativo e funcional e não pelo seu aspecto formal.

Rojo (2000) afirma que qualquer enunciado fará parte de um gênero,

pois reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma das esferas,

tanto no conteúdo (temático), no estilo verbal e na sua construção

composicional. Os três elementos (conteúdo temático, estilo e construção

composicional), fundem-se no todo do enunciado e todos são marcados pela

especificidade de uma esfera de comunicação, mas não de uma forma

determinada, porque se se expressa um determinado gênero, o enunciado, o

discurso, o texto será uma resposta ao que veio antes, que precisa de

respostas, o que para a autora, estabelece uma grande diferença entre

intertextualidade e interdiscursividade.

Todo texto manifesta um gênero textual e conhecer o funcionamento

destes gêneros é de suma importância para uma melhor compreensão da

leitura.

Conhecer os gêneros textuais exige o contato com uma variedade de

textos que circulam nas diferentes esferas de comunicação, percebendo que

cada esfera produz um gênero necessário para a sua prática. Muitos destes

gêneros são transformados, renovados, ou criados, a partir das necessidades

de comunicação humana ligados à linguagem.

Dessa forma, torna-se fundamental o trabalho de leitura com base nos

gêneros discursivos, analisando conhecendo, interpretando os gêneros mais

praticados nos meios de comunicação, formais e informais, que circulam em

todos os contextos e situações das diferentes esferas sociais, pois, de acordo

com Bronckart (1999), “a apropriação dos gêneros é um mecanismo

fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas

humanas” (BONCKART, 1999, p. 103, apud MARCUSCHI, 2008, p 10).

Conhecer os gêneros discursivos presentes nas diferentes esferas de

comunicação possibilita a inserção social mais produtiva, e faz com que o

sujeito possa usar, de forma consciente, seu próprio discurso e, assim,

participar ativamente da sociedade.

Assim, a prática de estudo do texto, a partir do gênero textual, favorece

o desenvolvimento das capacidades de contextualização referentes ao campo

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social que envolve o texto, sendo que este conhecimento pode ser atribuído a

outros gêneros da mesma esfera. O contato com a variedade de textos, desde

os gêneros mais formais aos menos formais, favorece melhor interação do

indivíduo com linguagem e a interação com as várias culturas em seu contexto

histórico-social. Pela relevância do trabalho de leitura com base no gênero

discursivo, abordou-se, no trabalho aqui relatado, o gênero textual fábula.

O gênero narrativo abordado possibilitou o desenvolvimento de

estratégias que promoveram a compreensão e a percepção das informações e

ensinamentos implícitos no texto. Para melhor conhecimento do gênero textual

desenvolvido neste estudo, serão apresentados conceitos e definições

pertinentes a esta narrativa.

Fábula é uma narrativa alegórica em prosa ou verso que conclui uma

lição moral, seus personagens geralmente são animais que assumem

comportamentos e ações humanas. Trata-se de uma narrativa curta, de fácil

compreensão e expressiva. A fábula é um texto que passa de forma simples e

direta, conceitos e posturas, levando o leitor a uma reflexão. Sua peculiaridade

reside, essencialmente, na apresentação direta das virtudes e dos defeitos do

caráter humano, ilustrado pela ação dos animais.

Destinada a dar relevo a uma ideia abstrata, a fábula apresenta, de

forma agradável, uma verdade que, de outra forma, tornar-se-ia árida, ou difícil

de ser entendida. O ensinamento moral é o fim e o meio que conclui uma lição

de vida capaz de contribuir para a formação de valores morais, que, usada

como diversão e prazer, ajudam a formar o caráter de crianças e adolescentes.

A presença da moral é muito comum na fábula, sendo explicitada no

começo ou no fim, ou implícita no corpo da narrativa. É a moralidade que

diferencia a fábula das outras formas narrativas.

A Fábula é um gênero muito antigo com raízes na literatura oriental e

estendida à ocidental. Entre os principais autores do gênero, destacam-se: o

grego Esopo (540 a.C.), o romano Fedro (10 a.c. a 69 d.C.), o francês La

Fontaine (1621-1695), o brasileiro Monteiro Lobato (1882-1948).

A fábula nasceu da necessidade natural do homem de expressar

conhecimentos, experiências e situações do seu mundo, por meio de imagens

e símbolos.

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Os primeiros registros do gênero fábula podem ser encontrados na

Bíblia, pois há referência a uma fábula no livro dos Juízes que registra fatos

situados entre 1200 e 1020 A.C. Inserida em um contexto histórico de luta pelo

poder, a fábula relatada por Joatão serve como uma rigorosa crítica ao poder

exercido por alguém que nada produz (o rei que é representado

alegoricamente pelo espinheiro).

As fábulas, nos tempos antigos, eram dirigidas a toda comunidade, para

que entendessem melhor as situações concretas do mundo real. Pelo teor de

ensinamento e doutrinação que a fábula ainda hoje apresenta, era

considerada, na antiguidade, como um gênero apropriado à formação da

criança. A criança, nessa época, era um adulto em miniatura, não havia uma

literatura específica para esta idade. Somente no final do século XVII é que

surge uma literatura específica para atender as crianças.

La Fontaine publicou suas fábulas entre 1668 e 1693, denunciava as

misérias e as injustiças de sua época.

A partir dessa época, muitas histórias escritas inicialmente para adultos

já foram adaptadas para a criança, retirando delas elementos violentos e

aspectos nocivos à educação.

No Brasil, Monteiro Lobato, observando o interesse de seus filhos pelas

fábulas, reescreve as fábulas de Esopo e La Fontaine, e cria suas próprias

fábulas com a turma do Sítio. Lobato usou as fábulas para criticar e denunciar

as injustiças, mostrando à criança a vida como ela é. Outro escrito de fábulas,

Millor Fernandes escreve com humor e ironia, cria e recria fábulas cogitando

valores e antivalores, satirizando a realidade sócio-política econômica de nossa

época.

Até hoje o gênero narrativo fábula existe, e tem o poder de prender a

atenção, de entreter, seduzir os leitores, por ser curto, ter uma mensagem, um

ensinamento. Por meio do caráter educativo das fábulas, podem ser incutidos

valores considerados essenciais para a formação do ser humano, como

despertar o senso crítico, avaliar e selecionar o melhor para as suas vidas.

A intensidade de ensinamentos presentes nas fábulas faz com que o

leitor perceba os aspectos formais característico a esse gênero narrativo e,

principalmente, é levado a refletir as moralidades e a constatar os seus efeitos

no mundo real.

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Ler e ouvir histórias é uma possibilidade que o leitor encontra para

descobrir outros lugares, outras épocas, cheias de curiosidades, conflitos, que

as pessoas vivem durante a vida. Na fábula são apresentados virtudes e

defeitos do caráter humano, ilustrado pela ação de animais.

Portanto, o trabalho com a narrativa do gênero fábula, permite de forma

agradável, desenvolver o processo de leitura aperfeiçoando o senso crítico do

leitor com reflexões sobre as mensagens transmitidas.

Com base nas considerações sobre a importância de desenvolver a

leitura de forma significativa, objetivando incentivar o hábito de ler, será

apresentado o resultado do trabalho desenvolvido neste estudo

Sabemos da relevância que a leitura possui no processo ensino

aprendizagem. Assim, o projeto de intervenção pedagógica, realizado junto aos

alunos da sexta série, do Colégio Estadual Lysimaco Ferreira da Costa-EFM,

Paranapoema, buscou alternativas para superar problemas de aprendizagem e

dificuldades na compreensão da leitura, bem como procurou despertar o gosto

e a motivação para os alunos desenvolverem o hábito da leitura por prazer.

Para que fossem alcançados os objetivos propostos, o trabalho foi

desenvolvido a partir da leitura de textos do gênero fábula, por meio do qual se

procurou instigar discussões e reflexões, de forma que as estratégias utilizadas

possibilitassem ao aluno o desenvolvimento e o aprimoramento de suas

habilidades de leitura (compreensão e interpretação). .

As atividades foram planejadas seguindo o esquema da Sequência

Didática, conforme definido por Dolz, Noverraz e Schewly (2004), ou seja, em

quatro etapas: a) apresentação da situação, b) produção inicial, c)

reconhecimento do gênero selecionado por meio de cinco módulos de

atividades, e d) produção final. A organização em Sequência Didática

proporcionou planejar atividades em etapas, com textos para leitura, expressão

oral e escrita e a reflexão sobre o uso da linguagem nas diferentes situações e

contextos de produção do gênero textual fábula.

O encaminhamento metodológico proposto ajudou o aluno a melhor

compreender o gênero textual trabalhado e contribuiu para o desenvolvimento

da capacidade comunicativa: a oralidade, a competência leitora e a produção

escrita.

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Passaremos a abordar agora as quatro etapas planejadas para a

Sequência Didática deste projeto de leitura:

A primeira etapa consistiu na apresentação da situação, exposta de

maneira clara e detalhada, esclarecendo aos alunos o projeto de comunicação

a ser desenvolvido na leitura do gênero fábula.

Antes de trabalhar, especificamente, com o gênero fábulas, levantando

suas características e função, foram apresentados aos alunos, por meio de

slides, vários gêneros textuais, como: poesia, notícia, bula de remédio,

propaganda, história em quadrinhos e fábula. Lido cada gênero textual

diferente e realizados os comentários quanto à estrutura composicional, o

assunto e a finalidade de cada um, os alunos foram orientados a identificar os

textos que apresentavam as características da fábula, já expostas pelo

professor na apresentação da situação.

Após troca de ideias e comentários dos alunos sobre a leitura,

percebemos que estes puderam identificar a fábula entre os textos, destacando

quais as características encontradas na narrativa: as personagens, animais

com comportamentos humanos, percebendo, inclusive, a moral da história.

A fim de complementar o entendimento dos alunos sobre a fábula, a

professora pediu que eles se lembrassem de histórias com personagens

animais que tinham características e comportamentos humanos; que

finalizavam com ensinamentos ou moral da história; completando que estas

histórias são chamadas de fábulas. A partir das informações apresentadas

pelos alunos, algumas fábulas foram mencionadas, fazendo com que cada

aluno pudesse ter um discernimento maior sobre o gênero textual em questão.

Esta etapa foi importante, pois permitiu a interação dos alunos com o

projeto de leitura desenvolvido. As informações apresentadas durante a

primeira conversa sobre o gênero fábulas possibilitaram ao aluno construir uma

representação do gênero textual em questão e permitiu o reconhecimento de

suas características, o que foi bastante importante para a primeira produção

escrita do gênero exposto, encerrando, assim, a primeira etapa.

Na sequência dos comentários sobre histórias com as características da

fábula, os alunos receberam orientações para produzir individualmente uma

fábula, iniciando a segunda etapa da sequência de atividades.

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Na segunda etapa, o aluno demonstrou o seu conhecimento sobre o

gênero textual apresentado, foi o momento da produção inicial, em que os

alunos elaboraram o primeiro texto escrito, revelando o que sabiam sobre o

gênero abordado. Todos os alunos mostraram-se capazes de produzir o texto,

respondendo às indicações expostas na apresentação da situação. Entretanto,

observando-se as produções dos alunos, constatou-se a necessidade de uma

abordagem mais detalhada sobre a estrutura do gênero, pois algumas

produções demonstraram que ainda faltava clareza a alguns alunos, com

relação à finalidade e estrutura do gênero, como também dificuldades com

relação à análise linguística.

Dessa forma, a análise da produção escrita dos alunos permitiu avaliar,

de maneira clara, as maiores dificuldades encontradas pelos mesmos. A partir

de tal constatação, foram planejados e desenvolvidos os módulos de atividades

necessários para superar tais dificuldades, iniciando-se, com isso, a terceira

etapa.

A terceira etapa foi planejada para desenvolver cinco módulos,

constituídos de atividades organizadas a partir de diferentes níveis de

dificuldades, e que possibilitassem um melhor desempenho em relação à

análise linguística, sendo que foram detectadas algumas em acentuação,

concordância, ortografia e pontuação.

Ainda na terceira etapa, além da reestruturação das produções dos

alunos, também foi enfatizada a estrutura e a temática do gênero, já que alguns

alunos ainda apresentavam algumas dúvidas nesses quesitos.

Assim, com base nas dificuldades apresentadas pelos alunos, foram

desenvolvidas atividades sobre a representação do gênero, o que permitiu ao

aluno fazer uma imagem mais exata sobre o destinatário da fábula e de sua

finalidade. Além disso, foram inseridas atividades para o aluno desenvolver

técnicas na elaboração ou criação de textos vinculados às condições de

produção do gênero enfocado.

As técnicas foram exercitadas com o planejamento do texto, para que o

aluno observasse a finalidade e o que se deseja ao escrever um texto;

considerando o destinatário, suporte, circunstâncias e recursos de linguagem.

Ao planejar o texto, o aluno pôde compreender melhor que cada gênero é

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caracterizado por uma estrutura, que depende da finalidade e de a quem se

destina o texto.

Na realização do texto o aluno observou: os meios mais eficazes para a

produção de seu texto; contexto e situação comunicativa em que o texto é

produzido; a intenção comunicativa predominante; escolhas de linguagem e

recursos adequados ao propósito do texto (adequação do léxico às intenções e

gênero desenvolvido); normas de uso da língua e situações sociais, critérios

fundamentais na revisão e correção dos alunos.

Com o objetivo levar a leitura às famílias dos alunos, proporcionando

momentos agradáveis junto aos pais, desenvolveu-se paralelamente às

atividades de sala de aula a “Mala Viajante” e o “Diário do Leitor”.

Considerou-se relevante a iniciativa de envolver a família na atividade de

leitura, ressaltando a ideia de Menegassi (2005), que atribui grande importância

para a formação do leitor, ao ambiente familiar, e que o autor considera

essencial para o incentivo à leitura desde a infância. Conforme o autor a

criança que observa a família sempre lendo, já inicia seu processo de

aprendizagem de leituras.

As atividades “Mala Viajante”, malas decoradas com motivos de leitura

e “Diário do Leitor”, livro ata decorado para serem registrados os depoimentos

de cada família sobre a leitura, consistiam em levar livros de fábulas e textos

com mensagens sobre o projeto de leitura desenvolvido, para serem lidos junto

a família. Eram sorteados durante a semana três Malas Viajantes e um Diário

do Leitor para os alunos levarem para casa, realizarem a leitura com a família

e, após, registrarem as emoções da leitura, com ilustrações e depoimentos do

que esta proporcionou a todos.

Estas atividades proporcionaram interação da família com o projeto

desenvolvido, em atividades prazerosas de leituras, que puderam ser

registradas, em depoimentos, as emoções, surpresas, dúvidas, descobertas,

trechos mais interessantes das obras levadas para casa.

Dando continuidade, serão apresentados os módulos de atividades da

terceira etapa.

Os módulos de atividades contemplaram exercícios diversificados

relacionados ao domínio do gênero, e às maiores dificuldades da expressão

oral e escrita dos alunos.

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As atividades planejadas para os módulos envolveram: comparação e

entendimento de textos do mesmo gênero, para que os alunos identificassem

os elementos novos inseridos ao texto; a interpretação e a reflexão sobre

versões diferentes da mesma fábula; a reescrita de textos lidos, produzindo

final diferente; e também análise linguística e reestruturação de textos

produzidos pelos mesmos em sala.

No módulo um, o objetivo foi o reconhecimento do gênero fábula. Para

tanto, foram realizadas leituras de diferentes fábulas e, após algum tempo de

discussão sobre a leitura, os alunos analisaram as diferenças encontradas nas

fábulas lidas quanto aos objetivos, mensagem e moral da história. Também

relataram sobre as características e funções de cada texto. Este trabalho,

inicialmente, foi realizado oralmente, com a participação de todos os alunos e,

posteriormente, com o registro escrito sobre a análise dos textos Todos os

alunos participaram da atividade com interesse, demonstrando entendimento

sobre a leitura.

Durante a realização das atividades, a maioria dos alunos se expressou

com mais segurança e descontração, outros um pouco mais tímidos e

inseguros devido à ansiedade, mas isso não impediu que todos participassem

manifestando suas opiniões ou entendimento, de acordo com sua capacidade

de percepção, vivência ou experiência de vida.

O processo de leitura deve levar o leitor a compreender o texto, de

maneira que o leitor vai construindo uma ideia sobre o conteúdo do texto,

extraído as informações que lhe são importantes, conforme seus objetivos. É

uma leitura que permite pensar, recapitular, relacionar a informação do texto

com seus conhecimentos, e decidir o que é importante ou não.

Nesta mesma visão sobre leitura, Kleiman (1989) a considera um ato

individual de construção de significado, que se realiza da interação entre autor

e leitor, podendo ser diferente para cada leitor, pois dependem dos

conhecimentos, interesses e visões que o mesmo traz. Em seus estudos a

autora questiona os procedimentos da leitura na escola, que muitas vezes não

levam a reflexão sobre o entendimento.

“Para compreender um texto devemos relacionar os dados fragmentados do texto com a visão que já construímos do mundo. Todo texto pressupõe essa visão de mundo e deixa lacunas a serem preenchidas pelo leitor. Sem o preenchimento

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dessas lacunas a compreensão não é possível.” (LEFFA, 1996, p. 25)

Nessa perspectiva, a boa leitura é aquela que, depois de terminada,

gera conhecimentos, propõe atitudes, ensina valores, tornando o leitor mais

exigente em perceber e sentir a vida, porque a leitura é um processo de criação

e descoberta, pelo fato de os textos trabalharem a linguagem e os aspectos da

vida social, reunidos com a imaginação de um escritor.

Diante das considerações aqui apresentadas sobre a leitura, trabalhada

de maneira que o leitor possa construir ideias, opiniões sobre o texto, foram

desenvolvidas atividades semelhantes às etapas anteriores, para que o aluno

mobilizasse não só suas vivências, mas também seus conhecimentos textuais

prévios na formulação de hipóteses de leitura. A leitura da fábula instiga

reflexões sobre comportamentos humanos com ensinamentos importantes para

a formação dos jovens, oportunidade para produção oral que favoreceu a

apropriação de recursos de argumentação e prática efetiva de saber ouvir.

Portanto outra atividade do módulo um foi a leitura de fábulas clássicas

de La Fontaine fábula moderna, de Millor Fernandes, com atividades

primeiramente orais e, depois, atividade de análise escrita. Após a leitura, os

alunos analisaram, oralmente, as ações dos personagens e os elementos

novos inseridos nas novas versões das fábulas. Os alunos souberam realizar a

análise identificando as diferenças entre a fábula clássica e a fábula moderna,

refletindo sobre as situações apresentadas, e relacionando as ações dos

personagens com atitudes das pessoas da vida real. Foi uma atividade

bastante produtiva, pois os alunos demonstraram interesse em conhecer as

versões diferentes da mesma fábula, expondo suas ideias com clareza e

segurança, atingindo o objetivo proposto para a atividade.

Logo após a exposição das ideias, os alunos, organizados em duplas,

desenvolveram atividades escritas sobre os ensinamentos das situações

apresentadas na moral da história das três versões diferenciadas, produzindo

novas versões das fábulas lidas, com elementos novos, época, cenário,

sempre adaptando para a nossa realidade, demonstrando entendimento e

êxito.

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Na atividade escrita em que foi solicitada a análise da fábula quanto à

função social, ao conteúdo temático, à estrutura composicional e ao estilo dos

textos, houve a necessidade de mais orientações do professor, pois muitos

alunos não sabiam o que significava cada elemento. À medida que os alunos

manifestavam dúvidas, estas iam sendo esclarecido imediatamente pelo

professor, o que contribuiu para que todos realizassem as atividades

propostas, finalizando as atividades, para iniciar o módulo dois.

No módulo dois, a atividade versou sobre a organização e

sistematização do conhecimento sobre o gênero fábula. Os alunos, após as

leituras dos textos: “A cigarra e a formiga” (Coleção Fábula do bosque- Versão

de Félix M.Samaniego), “A formiga má” e “A formiga boa” (Monteiro Lobato),

realizaram estudo detalhado da situação de produção e circulação do gênero,

destacando os elementos próprios da composição e características da

linguagem utilizada nas fábulas.

Esta atividade teve o objetivo de reconstruir o sentido do texto, com base

em reflexões e discussões sobre o que a leitura abordava, esclarecendo bem a

ideologia subentendida em cada texto em relação ao trabalho e à vida em

sociedade, permitindo ao aluno fazer inferências, tirar conclusões e

desenvolver estratégias de leitura. A discussão valorizou o conhecimento

prévio do aluno e a opinião sobre o tema focalizado, promovendo maior

interação entre os participantes.

Outra atividade do módulo dois foi o círculo de leitura, que teve início

com a escolha de um livro de fábula na biblioteca e, no dia seguinte, a

apresentação da leitura na sala de aula. Na apresentação, os alunos falaram

sobre o autor da fábula, sobre problemas de comportamentos abordados na

história e sobre as ações dos personagens. Esse exercício de análise oral da

leitura motivou a reflexão crítica do aluno sobre o que foi lido, estabelecendo

semelhanças e diferenças encontradas nos textos, sendo posteriormente

relatas nas atividades escritas.

Dando continuidade, iniciou-se módulo três, com atividades que visavam

a exercitar a linguagem nas suas modalidades oral e escrita. Foram realizadas

leituras de várias fábulas, de forma individual e coletiva. Dentre os textos lidos,

os alunos escolheram um para reescrevê-lo com final diferente. Terminada a

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reescrita, foram apresentadas algumas versões produzidas pelos alunos,

promovendo, assim, a interação dos participantes.

Passou-se, a seguir, para as atividades do módulo quatro. com a leitura

dos textos: O pavão do abre-e-fecha (Editora Melhoramentos, Ana Maria

Machado) e O corvo e a raposa (Esopo). As leituras realizadas neste módulo

levaram o aluno a posicionar-se diante do que foi lido, formulando opiniões

acerca da mensagem dos textos.

Para que as atividades cumprissem sua finalidade, foram empregadas

algumas estratégias, como: leitura silenciosa, proporcionando o envolvimento

emocional, despertando o prazer e o entendimento do significado do texto;

momentos para exposição oral sobre o entendimento da leitura; observação e

análise do narrador, foco narrativo, características físicas e características

psicológicas dos personagens; análise das intenções do autor; análise das

ações dos personagens; observação dos preconceitos e atitudes apresentadas

nas narrativas.

Diante das reflexões e análise das leituras, os alunos simularam ser os

personagens e expressaram, por escrito, qual o seria o seu comportamento em

tal situação. A atividade foi encerrada com o registro da opinião dos alunos

sobre o que os textos tinham em comum com a realidade.

O desempenho dos alunos nas atividades de reescrita revelou

necessidade de trabalhar mais exercícios de interpretação de leituras,

passando, assim, para o módulo cinco que consistiu de atividades de produção

escrita, em grupo, individualmente e em exercícios de revisão e reescrita dos

textos.

Desta forma, foram trabalhadas produções coletivas e também

produções individuais. Nas produções coletivas, os alunos organizados em

grupos, produziram fábulas seguindo o planejamento de estrutura do gênero.

Após a escrita do texto, os participantes eram orientados a revisarem

suas produções, refletindo sobre seu próprio desempenho, seus avanços e

dificuldades, momento fundamental de auto avaliação. A revisão de texto era

acompanhada pelo professor, finalizando com a reescrita e apresentação do

texto para a sala.

Após os alunos realizarem as produções escritas em grupos,

desenvolvendo sua criatividade, foram orientados a realizar a revisão e

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reestruturação dos textos produzidos pelos mesmos. Na atividade de revisão

dos textos, os alunos observaram se os textos produzidos estavam de acordo

com as normas de usos da língua, e adequadas ao gênero abordado.

Em outro momento, os alunos realizaram outras produções individuais, e

da mesma forma, terminado a produção, era feito a correção de seus textos

conforme os critérios pré-determinados nas outras revisões. Muitas correções

dos textos eram acompanhadas individualmente pelo professor, com a

reestruturação e reescrita do texto pelo aluno.

Ainda no módulo cinco, também foram desenvolvidas atividades que

envolveram outras habilidades como: desenhos, dramatização com o uso de

fantoches, confecção de cartazes sobre fábulas, materiais estes que foram

utilizados, posteriormente, na socialização do projeto, no seu encerramento.

Nas atividades do módulo cinco, observou-se melhor desempenho dos

alunos na produção escrita, revelando a importância de se trabalhar a revisão

e a reestruturação de textos. As atividades de auto avaliação e de avaliação

dos textos produzidos pelos mesmos, estimularam o aluno a avaliar seu próprio

texto com base nas condições de produção, da construção composicional e

recursos linguísticos estudados.

As propostas das dinâmicas trabalhadas nas leituras, não apenas

serviram para a apropriação de conhecimentos sobre o gênero abordado, mas

promoveu momentos de interação pela e na leitura entre os participantes. O

projeto ajudou a trabalhar atitudes e valores, aspectos fundamentais do

processo educativo, contribuindo para o autoconhecimento e amadurecimento

do aluno.

Considerando os conhecimentos adquiridos sobre o gênero textual

fábula, após serem desenvolvidas atividades de leitura e interpretação,

reflexões e discussões, chegou o momento de produzir o texto final, o que

ocorreu na quarta etapa da Sequência Didática.

Durante a elaboração da produção final, os alunos foram orientados para

que, assim que terminassem o texto, fizessem uma leitura atenta da referida

produção, observando se o texto apresentava os elementos constitutivos da

fábula, bem como o uso de recursos linguísticos e gráficos adequados ao

gênero proposto e à norma padrão. A produção final foi uma etapa importante,

pois, por meio do texto produzido, o aluno demonstrou os conhecimentos

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assimilados em relação ao gênero textual desenvolvido com escrita mais bem

elaborada.

As atividades do projeto de leitura foram encerradas com a socialização

dos conhecimentos construídos durante a implementação, com a participação

da comunidade escolar, dos pais e da comunidade em geral. Nesse dia foi

dramatizada a fábula “As três árvores”, com a utilização de fantoches, a

apresentação de cartazes e dos textos produzidos pelos alunos. Depois foram

ouvidos depoimentos dos pais e da equipe escolar sobre o projeto de leitura de

fábulas, os quais ressaltaram que foi um trabalho importante para desenvolver

a leitura por prazer nos alunos e comunidade.

A equipe pedagógica do colégio acrescentou, ainda, que o projeto de

intervenção pedagógica veio contribuir para a melhoria do processo ensino

aprendizagem dos alunos envolvidos, atribuindo a isto, o trabalho pautado na

leitura de fábulas, gênero textual bastante pertinente ao nível e gosto dos

alunos participantes. Considerou a equipe pedagógica a leitura muito

importante para o desenvolvimento do conhecimento, sendo um desafio para

os educadores de todas as disciplinas, visto que, muitas vezes, os alunos não

apresentam desempenho escolar satisfatório, por terem dificuldade de

interpretar o que leem.

Concluindo, a equipe pedagógica destacou o interesse dos alunos em

participar do projeto, observando que todos foram assíduos nas aulas do

projeto resultando na melhoria do desempenho escolar.

As famílias dos alunos envolvidos no projeto de leitura incentivaram

muito a participação de seus filhos, pois, para eles, a leitura tem muito a

contribuir na formação dos jovens. Elogiaram a atividade de levar a leitura para

a família, afirmando que tal procedimento proporcionou momentos de

interação entre pais e filhos, com textos que traziam sempre um ensinamento

interessante para ser comentado após a leitura.

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Conclusão

Considerando a leitura de grande importância no desenvolvimento do

processo ensino-aprendizagem do aluno, este projeto partiu do pressuposto de

que o principal objetivo da leitura é assegurar que os alunos obtenham sentido

no que leem. É preciso que compreendam os diferentes gêneros de textos que

existem na sociedade e, assim, possam participar da dinâmica que é própria do

mundo da escrita, tornando-se leitores questionadores, capazes de situar-se

conscientemente no contexto social e, ao mesmo tempo, serem capazes de

acionar processos de leitura, praticados e aprendidos na escola.

Compreendendo a necessidade de trabalhar a leitura promovendo

entendimento do aluno para que o mesmo adquira conhecimentos necessários

para a sua vivência, o presente trabalho teve como objetivo principal, despertar

o prazer pela leitura e estimular o hábito de ler.

O trabalho desenvolvido proporcionou ao aluno momentos agradáveis

da leitura de muitas fábulas, oportunizando realizar atividades diversas como:

falar, ouvir, questionar, opinar, dramatizar, reescrever, ilustrar, produzir, assistir

vídeos, apresentar encenações, sobre o gênero textual que promove diversão

e ensinamentos.

As atividades envolvendo a leitura do gênero fábula oportunizaram

desenvolver, no aluno, maior expressividade e criatividade, tanto na oralidade

como na escrita, bem como, facilitou o entendimento das mensagens que os

textos apresentavam, nos trabalhos em grupo, com interação e socialização

dos participantes.

A metodologia organizada em sequência didática teve importância

fundamental no aprendizado do aluno durante o processo de leitura. O

planejamento das atividades em etapas, contribuiu para o aluno melhor

compreender o gênero textual abordado, bem como para desenvolver a

capacidade comunicativa, tanto na oralidade, como na leitura e na produção

escrita.

Os módulos de atividades permitiram trabalhar, com os alunos, níveis

diferentes de dificuldades, melhorando o desempenho dos mesmos

principalmente nas atividades de produções escritas.

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A escolha do gênero textual fábula colaborou de forma significativa

para que os alunos demonstrassem interesse durante as atividades ,refletindo

e emitindo opiniões sobre as mensagens de cada narrativa trabalhada.

Considerou-se, ainda, de suma importância, o desenvolvimento da

oralidade, pois na interação e troca de experiência sobre o entendimento da

leitura, os alunos sentiram-se a vontade para expor opiniões, ouvir os colegas

proporcionando maior compreensão da leitura.

O gênero fábula, apesar de ser uma narrativa curta, com personagens

animais, apresenta um ensinamento que está subentendido, e que, portanto

necessita de reflexão e análise do comportamento dos personagens para

entender a mensagem contida na moral da história, o que colaborou para

muita troca de ideias e opiniões durante as atividades.

Todas as leituras conduziram a reflexões e questionamentos sobre as

atitudes apresentadas pelos personagens, e os alunos após cada análise da

leitura, souberam relacionar a narrativa com acontecimentos da vida real.

As atividades de interpretação e entendimento de cada leitura levaram o

aluno a manifestar ideias, analisar atitudes, refletir sobre mensagens

subentendidas na moral da narrativa, propiciando expressar tanto oralmente

nas conversas em grupo, como também nas atividades escritas, registrando o

que foi aprendido.

Quanto às fábulas clássicas e às modernas, os alunos realizaram

análise identificando as diferenças sobre as situações apresentadas,

relacionando as ações dos personagens com atitudes de pessoas da

sociedade atual.

As atividades de leitura junto a família promoveram a interação dos

pais com o projeto desenvolvido, e também com as leituras de fábulas , sendo

um estímulo maior para os alunos participantes.

Nas produções escritas, as atividades de revisão realizadas pelo aluno,

foi um excelente exercício para o aluno analisar o seu texto e refletir sobre as

normas de usos da língua adequadas ao gênero abordado , realizando a

reescrita de forma correta .

A partir da experiência de atividades sobre a leitura relatada neste

estudo, considera-se que é preciso proporcionar ao aluno, oportunidades

variadas para que ele leia muito, todo tipo de texto e também desenvolva

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habilidades que facilitem o entendimento do que foi lido, o que não está sendo

proporcionado pela escola.

Diante destas considerações, entendemos a necessidade de envolver

os alunos em um trabalho intensivo a partir da leitura, pois quanto mais o aluno

ler, mais capacidade de entendimento ele terá com a leitura.

Observou-se que a leitura trabalhada dessa maneira, influencia a escrita,

pois, o leitor em contato com várias formas linguísticas, enriquece o

vocabulário, desenvolve a oralidade e a escrita, ampliando seus

conhecimentos.

O processo de leitura exposto neste trabalho, não se esgota aqui. A

leitura é trabalhada durante a vida escolar dos alunos. Atividades de incentivo a

leitura são necessárias sempre, envolvendo família e comunidade. As

atividades precisam ser planejadas com objetivos, para que possa desenvolver

no aluno, além do gosto e hábito pela leitura, a leitura compreensiva,

ampliando o horizonte de expectativas dos mesmos.

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