7
INDISCIPLINA NA ESCOLA Cleuza Fraga da Silva Gottsfritz 1 Jussara de Souza Campos 2 Prof. Dr. Paulo Gomes Lima 3 Resumo Um dos principais obstáculos enfrentados nas escolas é a indisciplina e conseqüentemente a violência. Fatores sociais vivenciados pelos alunos interferem na sua vida escolar. Muitos são os profissionais que não compreendem as situações conflitantes existentes em sala de aula, muitas vezes resultantes de influências internas, se bem que há também influências externas. Este artigo propõe uma reflexão sobre tal quadro, indicando possíveis encaminhamentos. Palavras chaves: indisciplina, violência, influência, escola. Indiscipline at school Abstract One of the main obstructions lived in the schools are the indiscipline and the violence. Social facts lived by the students, intervene on your student life. There are lot of professionals who don’t understand the conflicts in the classroom, many times resultant of internal influences and sometimes external influences. This article proposes a reflection about such picture, indicating possible guidings. Keywords: indiscipline, violence, influences, school. 1 Professora Efetiva da Rede Oficial de Ensino do Estado de São Paulo-SP, Pós-Graduanda pela Faculdade Ítalo- brasileira. 2 Professora Efetiva da Rede Oficial de Ensino do Estado de São Paulo-SP, Pós-Graduanda pela Faculdade Ítalo- brasileira. 3 Professor do Programa de Pós-Graduação das Faculdades Ítalo-Brasileira, Mestre pela UNICAMP/SP e Doutor em Educação Escolar pela UNESP de Araraquara/SP.

INDISCIPLINA NA ESCOLA - PROF. DR. PAULO GOMES LIMA

Embed Size (px)

DESCRIPTION

AbstractOne of the main obstructions lived in the schools are the indiscipline and the violence. Socialfacts lived by the students, intervene on your student life. There are lot of professionals who don’tunderstand the conflicts in the classroom, many times resultant of internal influences andsometimes external influences. This article proposes a reflection about such picture, indicatingpossible guidings.

Citation preview

INDISCIPLINA NA ESCOLA

Cleuza Fraga da Silva Gottsfritz1

Jussara de Souza Campos2

Prof. Dr. Paulo Gomes Lima3

Resumo

Um dos principais obstáculos enfrentados nas escolas é a indisciplina e conseqüentemente a violência. Fatores sociais vivenciados pelos alunos interferem na sua vida escolar. Muitos são os profissionais que não compreendem as situações conflitantes existentes em sala de aula, muitas vezes resultantes de influências internas, se bem que há também influências externas. Este artigo propõe uma reflexão sobre tal quadro, indicando possíveis encaminhamentos.

Palavras chaves: indisciplina, violência, influência, escola.

Indiscipline at school

Abstract

One of the main obstructions lived in the schools are the indiscipline and the violence. Social facts lived by the students, intervene on your student life. There are lot of professionals who don’t understand the conflicts in the classroom, many times resultant of internal influences and sometimes external influences. This article proposes a reflection about such picture, indicating possible guidings.

Keywords: indiscipline, violence, influences, school.

1 Professora Efetiva da Rede Oficial de Ensino do Estado de São Paulo-SP, Pós-Graduanda pela Faculdade Ítalo-brasileira.2 Professora Efetiva da Rede Oficial de Ensino do Estado de São Paulo-SP, Pós-Graduanda pela Faculdade Ítalo-brasileira.3 Professor do Programa de Pós-Graduação das Faculdades Ítalo-Brasileira, Mestre pela UNICAMP/SP e Doutor em Educação Escolar pela UNESP de Araraquara/SP.

Indisciplina na Escola

“Como diretores de escolas, professores, educadores em geral irão negociar os conflitos ? Não se trata de receitar formas que levem a essa negociação, mesmo porque não existe plano algum que solucione o problema da violência e da indisciplina de modo a eliminá-las por completo. O conflito está sempre presente, o que obriga a trabalhar, a cada momento, com todas as turbulências do dia-a-dia, localizando as formas através das quais elas se compõem em relação aos limites e as coerções da instituição”. (Baudry, 1988, p. 5-17)

Introdução

Se entendermos que a educação é um processo de humanização, isto é, um processo que os

seres humanos organizam intencionalmente para, em relação uns com os outros, se apropriarem

dos avanços civilizatórios em beneficio da coletividade humana e se entendermos que disciplina é

uma ordem consentida, conveniente ao funcionamento regular das organizações sociais, então a

disciplina é objeto de regulação da própria ordem e, portanto, é importante que exista entre os

acordos sociais e instituições, dentre elas na organização escolar, tendo em vista suas finalidades

educativas, no que tange aos direitos, deveres e normas que os disciplinam.

Por outro lado, a manutenção da disciplina tem sido instrumento de autoritarismo na escola

numa leitura linear, refreadora do desenvolvimento dos próprios seres humanos, caracteriza-se

por ordem imposta, muitas vezes resultando em castigo e desumanização explícito ou velado. A

instituição escolar que se conduz por essa leitura é marcada pelo autoritarismo, e nesse

movimento entre manutenção da disciplina pela imposição, manutenção da disciplina pelo

processo de humanização e não disciplina é que se situam a preocupação, as dúvidas e as

incertezas dos professores e alunos nas escolas.

Como manter disciplina

Quando se discute sobre o que é disciplina ou padrões disciplinares instituídos em

determinadas organizações ou setores sociais, logo surge o contraposto da disciplina que se

manifesta na inversão do conjunto de padrões ou comportamentos convencionados do ponto de

vista social e moral. Dito de outra forma, tal manifestação é a indisciplina, que desrespeita o

2

acordo, evocando, neste caso, que sejam aplicadas sanções que leve o indivíduo a perceber a sua

inobservância e retorne para o convencionado em benefício de si e do outro.

A indisciplina em sala de aula tem sido uma preocupação crescente nos últimos anos entre

os educadores. Estes perdem muito tempo buscando restabelecer a disciplina, em detrimento da

interação do aluno com o conhecimento. Assim, o professor, para poder desenvolver seu trabalho,

muitas vezes se vê obrigado a abrir mão de um tempo considerável para conter a indisciplina e

consequentemente para manter a disciplina. Dentre outras formas, a indisciplina em sala de aula

se manifesta em conversas paralelas, dispersão etc. Além disso, vale lembrar que outros

comportamentos discentes também contribuem para a indiscplina. Dentre as principais queixas de

muitos professores da educação básica estão:

• o professor entra em sala de aula e é como se não tivesse entrado,

• propõe conteúdos e tarefas e um número considerável não desenvolve,

• saem no corredor,

• fazem bagunça em sala de aula,

• mascam chicletes,

• ficam de boné durante a aula,

• não vão de uniforme,

• pintam carteiras,

• destroem o patrimônio publico,

• entram sem pedir licença,

• querem ir a todo o momento ao banheiro.

Tudo isso perturba e muito o educador que junto com a equipe escolar deve envidar todos

os esforços para lembrá-los e situá-los da importância da observação disciplinar. Certamente, esta

não é uma tarefa fácil, principalmente se descontextualizada com outros problemas macrossociais

– fome, mortandade infantil, desemprego, neonazismo, trafico de drogas, corrupção, favelas,

pichação, assalto, seqüestro, roubo, trote, danificações dos equipamentos públicos, lixo no chão,

desrespeito a faixa de pedestres, excesso de velocidade, passar o sinal vermelho, dar troco com

balas ou chicletes, não registro de funcionários, não emissão de nota fiscal, não pagamento de

imposto de renda, extermínio de crianças, etc. Enfim, é necessário que se faça uma outra leitura

3

sobre em quais bases devem se assentar as sanções disciplinares. Elas devem de fato serem

aplicadas, mas não destituídas daquela leitura, o que certamente exigirá da escola como um todo

e do professor em particular a assunção de uma consciência comprometida com a transformação

social. É claro que isso não é papel só da escola, mas a ela cabe a responsabilidade de trabalhar e

trabalhar bem crianças, jovens e adultos para a percepção de si como seres humanos e como

sujeitos históricos que podem escrever e reescrever uma outra história da humanidade, a começar

pelo estilo de vida, e por não a partir da escola ?

Escola: que espaço é esse ?

A instituição escolar não pode ser vista apenas como reprodutora das experiências de

opressão de violência, de conflitos advindas do plano macroestrutural. É importante observar que

apesar do mecanismo de reprodução social e cultural as escolas também produzem sua própria

violência e sua própria disciplina.

A classe é o lugar onde se tece uma complexa rede de relações, quando o professor não

consegue perceber essa teia, pode ocorrer conflitos e divisões de opiniões do grupo o que muitos

educadores classificam como indisciplina. Neste caminho o professor desenvolve papel ambíguo:

normalizador formal ou sujeito facilitador do desenvolvimento do aluno ?

O grande problema talvez esteja no fato de o professor se concentrar apenas na sua posição

normalizadora, achando que com isso, ele conseguirá eliminar os conflitos. O professor não deve

querer um controle totalitário, de uma planificação racional, pois os alunos buscam de modos

espontâneos e não planejado o querer-viver que o ser irreprimível. Quanto maior a repressão,

maior a violência dos alunos em tentar garantir as forças que assegurem sua vitalidade, enquanto

grupo. O professor juntamente com seus alunos deveria estabelecer regras comuns, os limites de

fechamento e de tolerância, portanto, nem autoritarismo nem abandono. O educador ocupa o seu

lugar limitador, mas abre brechas para o aluno negociar e viver com mais intensidade a misteriosa

relação que une o lugar-escola e o nós - alunos.

Na sua ambigüidade, a indisciplina não expressa apenas ódio, raiva, vingança, mas também

uma forma de interromper as pretensões de controle homogeneizador imposta pela escola. Tanto

nas brigas (envolvendo alunos, professores e diretores) como nas brincadeiras, existe uma

4

duplicidade que, ao garantir a expressão de forças heterogêneas, assegura a coesão de alunos,

pois eles passam a partilhar de emoções que fundam o sentimento da vida coletiva.

O objetivo de eliminar a violência e a indisciplina ou de colocá-la para fora do espaço

escolar faz com que se perca a compreensão da ambigüidade desses fenômenos que, entre a

ordem e o ordenamento, restauram a unicidade grupal e instalam uma tensão permanente.

Quando essa tensão é vivida coletivamente, ela assegura a coesão do grupo, quando

impedida de se expressar transforma-se numa violência tão desenfreada que nenhum aparelho

repressor por mais eficiente que seja poderá conter.

Considerações Finais

A sociedade mudou e a escola precisa se adaptar ao modo de ver esse novo mundo. As

relações sociais precisam ser recriadas a cada minuto sob o peso milenar da tradição herdada,

pois a ânsia de avançar e de transformar está na ordem da existência do homem: um ser em busca

de si.

Observando a realidade atual, podemos perceber jovens serem violentamente envolvidos

pela mídia do consumo, num mundo cada vez mais globalizado e que contribui para que os

mesmos não tenham noção de seus limites. Muitos jovens buscam a roupa da moda, o objeto

eletrônico do momento, os acessórios que o classificam como incluso ou excluso da sociedade.

Esta sociedade, por sua vez, passa a ser cruel, injusta e desigual em oportunidades. A auto-

afirmação faz parte o processo de desenvolvimento destes jovens e crianças. Que podemos

esperar deles ?

Eles vivem na Idade da Informática, mas isso não os humaniza, vêmo-los se depararem com

uma violência digna do homem primitivo e reproduzem o que conhecem ou que desconhecem

nas relações familiares, nas ruas, nas filas, nas escolas, enfim, em muitos lugares em que se

acreditava que o homem soubesse conviver com o seu próximo.

Mais do que nunca, conscientes deste quadro, professores, pais e sociedade devem primar

por uma educação baseada em valores, valores que possibilitem ao homem perceber-se como

sujeito de sua própria existência, não sujeito para o consumo. Sujeitos que têm direitos e por isso

carecem de políticas públicas adequadas para uma educação de qualidade, para uma distribuição

de renda eqüitativa e condições dignas para os cidadãos como um todo.

5

Não basta mudar a coordenação de uma escola, sua direção ou a equipe de professores ou

mesmo aprimorar o código disciplinar da escola para se controlar a disciplina ou a indisciplina. É

necessário um outro olhar: um olhar sobre quem é o homem, como se desenvolve, quais são suas

necessidades à medida em que se desenvolve e quais valores almeja enquanto sujeito em

construção.

Referências Bibliográficas

AQUINO, Julio Groppa. (Org.) Indisciplina na Escola Alternativa e Prática. 5º Ed. São Paulo:

Summus, 1996.

LEVISKY, Léo David. Adolescência e Violência. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

LIMA, P. G.. Assim educarás a humanidade: tendências sociais, políticas e econômicas norteiam

a forma como a escola educa o indivíduoRevista da Escola Adventista. Engenheiro Coelho -

SP:Unaspress, 2º semestre de 2004.

LIMA, P. G.. La formación del educador reflexivo: notas para la orientación de sus prácticas.

Revista Latinoamericana de Estudios Educativos. San Ángel, México, D.F.: , v.XXX, n.03,

p.117 - 127, 2000.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Disciplina. 6º ed São Paulo: Caderno Pedagógico do Libertad-

4, 1993.

6

7