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AbstractOne of the main obstructions lived in the schools are the indiscipline and the violence. Socialfacts lived by the students, intervene on your student life. There are lot of professionals who don’tunderstand the conflicts in the classroom, many times resultant of internal influences andsometimes external influences. This article proposes a reflection about such picture, indicatingpossible guidings.
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INDISCIPLINA NA ESCOLA
Cleuza Fraga da Silva Gottsfritz1
Jussara de Souza Campos2
Prof. Dr. Paulo Gomes Lima3
Resumo
Um dos principais obstáculos enfrentados nas escolas é a indisciplina e conseqüentemente a violência. Fatores sociais vivenciados pelos alunos interferem na sua vida escolar. Muitos são os profissionais que não compreendem as situações conflitantes existentes em sala de aula, muitas vezes resultantes de influências internas, se bem que há também influências externas. Este artigo propõe uma reflexão sobre tal quadro, indicando possíveis encaminhamentos.
Palavras chaves: indisciplina, violência, influência, escola.
Indiscipline at school
Abstract
One of the main obstructions lived in the schools are the indiscipline and the violence. Social facts lived by the students, intervene on your student life. There are lot of professionals who don’t understand the conflicts in the classroom, many times resultant of internal influences and sometimes external influences. This article proposes a reflection about such picture, indicating possible guidings.
Keywords: indiscipline, violence, influences, school.
1 Professora Efetiva da Rede Oficial de Ensino do Estado de São Paulo-SP, Pós-Graduanda pela Faculdade Ítalo-brasileira.2 Professora Efetiva da Rede Oficial de Ensino do Estado de São Paulo-SP, Pós-Graduanda pela Faculdade Ítalo-brasileira.3 Professor do Programa de Pós-Graduação das Faculdades Ítalo-Brasileira, Mestre pela UNICAMP/SP e Doutor em Educação Escolar pela UNESP de Araraquara/SP.
Indisciplina na Escola
“Como diretores de escolas, professores, educadores em geral irão negociar os conflitos ? Não se trata de receitar formas que levem a essa negociação, mesmo porque não existe plano algum que solucione o problema da violência e da indisciplina de modo a eliminá-las por completo. O conflito está sempre presente, o que obriga a trabalhar, a cada momento, com todas as turbulências do dia-a-dia, localizando as formas através das quais elas se compõem em relação aos limites e as coerções da instituição”. (Baudry, 1988, p. 5-17)
Introdução
Se entendermos que a educação é um processo de humanização, isto é, um processo que os
seres humanos organizam intencionalmente para, em relação uns com os outros, se apropriarem
dos avanços civilizatórios em beneficio da coletividade humana e se entendermos que disciplina é
uma ordem consentida, conveniente ao funcionamento regular das organizações sociais, então a
disciplina é objeto de regulação da própria ordem e, portanto, é importante que exista entre os
acordos sociais e instituições, dentre elas na organização escolar, tendo em vista suas finalidades
educativas, no que tange aos direitos, deveres e normas que os disciplinam.
Por outro lado, a manutenção da disciplina tem sido instrumento de autoritarismo na escola
numa leitura linear, refreadora do desenvolvimento dos próprios seres humanos, caracteriza-se
por ordem imposta, muitas vezes resultando em castigo e desumanização explícito ou velado. A
instituição escolar que se conduz por essa leitura é marcada pelo autoritarismo, e nesse
movimento entre manutenção da disciplina pela imposição, manutenção da disciplina pelo
processo de humanização e não disciplina é que se situam a preocupação, as dúvidas e as
incertezas dos professores e alunos nas escolas.
Como manter disciplina
Quando se discute sobre o que é disciplina ou padrões disciplinares instituídos em
determinadas organizações ou setores sociais, logo surge o contraposto da disciplina que se
manifesta na inversão do conjunto de padrões ou comportamentos convencionados do ponto de
vista social e moral. Dito de outra forma, tal manifestação é a indisciplina, que desrespeita o
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acordo, evocando, neste caso, que sejam aplicadas sanções que leve o indivíduo a perceber a sua
inobservância e retorne para o convencionado em benefício de si e do outro.
A indisciplina em sala de aula tem sido uma preocupação crescente nos últimos anos entre
os educadores. Estes perdem muito tempo buscando restabelecer a disciplina, em detrimento da
interação do aluno com o conhecimento. Assim, o professor, para poder desenvolver seu trabalho,
muitas vezes se vê obrigado a abrir mão de um tempo considerável para conter a indisciplina e
consequentemente para manter a disciplina. Dentre outras formas, a indisciplina em sala de aula
se manifesta em conversas paralelas, dispersão etc. Além disso, vale lembrar que outros
comportamentos discentes também contribuem para a indiscplina. Dentre as principais queixas de
muitos professores da educação básica estão:
• o professor entra em sala de aula e é como se não tivesse entrado,
• propõe conteúdos e tarefas e um número considerável não desenvolve,
• saem no corredor,
• fazem bagunça em sala de aula,
• mascam chicletes,
• ficam de boné durante a aula,
• não vão de uniforme,
• pintam carteiras,
• destroem o patrimônio publico,
• entram sem pedir licença,
• querem ir a todo o momento ao banheiro.
Tudo isso perturba e muito o educador que junto com a equipe escolar deve envidar todos
os esforços para lembrá-los e situá-los da importância da observação disciplinar. Certamente, esta
não é uma tarefa fácil, principalmente se descontextualizada com outros problemas macrossociais
– fome, mortandade infantil, desemprego, neonazismo, trafico de drogas, corrupção, favelas,
pichação, assalto, seqüestro, roubo, trote, danificações dos equipamentos públicos, lixo no chão,
desrespeito a faixa de pedestres, excesso de velocidade, passar o sinal vermelho, dar troco com
balas ou chicletes, não registro de funcionários, não emissão de nota fiscal, não pagamento de
imposto de renda, extermínio de crianças, etc. Enfim, é necessário que se faça uma outra leitura
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sobre em quais bases devem se assentar as sanções disciplinares. Elas devem de fato serem
aplicadas, mas não destituídas daquela leitura, o que certamente exigirá da escola como um todo
e do professor em particular a assunção de uma consciência comprometida com a transformação
social. É claro que isso não é papel só da escola, mas a ela cabe a responsabilidade de trabalhar e
trabalhar bem crianças, jovens e adultos para a percepção de si como seres humanos e como
sujeitos históricos que podem escrever e reescrever uma outra história da humanidade, a começar
pelo estilo de vida, e por não a partir da escola ?
Escola: que espaço é esse ?
A instituição escolar não pode ser vista apenas como reprodutora das experiências de
opressão de violência, de conflitos advindas do plano macroestrutural. É importante observar que
apesar do mecanismo de reprodução social e cultural as escolas também produzem sua própria
violência e sua própria disciplina.
A classe é o lugar onde se tece uma complexa rede de relações, quando o professor não
consegue perceber essa teia, pode ocorrer conflitos e divisões de opiniões do grupo o que muitos
educadores classificam como indisciplina. Neste caminho o professor desenvolve papel ambíguo:
normalizador formal ou sujeito facilitador do desenvolvimento do aluno ?
O grande problema talvez esteja no fato de o professor se concentrar apenas na sua posição
normalizadora, achando que com isso, ele conseguirá eliminar os conflitos. O professor não deve
querer um controle totalitário, de uma planificação racional, pois os alunos buscam de modos
espontâneos e não planejado o querer-viver que o ser irreprimível. Quanto maior a repressão,
maior a violência dos alunos em tentar garantir as forças que assegurem sua vitalidade, enquanto
grupo. O professor juntamente com seus alunos deveria estabelecer regras comuns, os limites de
fechamento e de tolerância, portanto, nem autoritarismo nem abandono. O educador ocupa o seu
lugar limitador, mas abre brechas para o aluno negociar e viver com mais intensidade a misteriosa
relação que une o lugar-escola e o nós - alunos.
Na sua ambigüidade, a indisciplina não expressa apenas ódio, raiva, vingança, mas também
uma forma de interromper as pretensões de controle homogeneizador imposta pela escola. Tanto
nas brigas (envolvendo alunos, professores e diretores) como nas brincadeiras, existe uma
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duplicidade que, ao garantir a expressão de forças heterogêneas, assegura a coesão de alunos,
pois eles passam a partilhar de emoções que fundam o sentimento da vida coletiva.
O objetivo de eliminar a violência e a indisciplina ou de colocá-la para fora do espaço
escolar faz com que se perca a compreensão da ambigüidade desses fenômenos que, entre a
ordem e o ordenamento, restauram a unicidade grupal e instalam uma tensão permanente.
Quando essa tensão é vivida coletivamente, ela assegura a coesão do grupo, quando
impedida de se expressar transforma-se numa violência tão desenfreada que nenhum aparelho
repressor por mais eficiente que seja poderá conter.
Considerações Finais
A sociedade mudou e a escola precisa se adaptar ao modo de ver esse novo mundo. As
relações sociais precisam ser recriadas a cada minuto sob o peso milenar da tradição herdada,
pois a ânsia de avançar e de transformar está na ordem da existência do homem: um ser em busca
de si.
Observando a realidade atual, podemos perceber jovens serem violentamente envolvidos
pela mídia do consumo, num mundo cada vez mais globalizado e que contribui para que os
mesmos não tenham noção de seus limites. Muitos jovens buscam a roupa da moda, o objeto
eletrônico do momento, os acessórios que o classificam como incluso ou excluso da sociedade.
Esta sociedade, por sua vez, passa a ser cruel, injusta e desigual em oportunidades. A auto-
afirmação faz parte o processo de desenvolvimento destes jovens e crianças. Que podemos
esperar deles ?
Eles vivem na Idade da Informática, mas isso não os humaniza, vêmo-los se depararem com
uma violência digna do homem primitivo e reproduzem o que conhecem ou que desconhecem
nas relações familiares, nas ruas, nas filas, nas escolas, enfim, em muitos lugares em que se
acreditava que o homem soubesse conviver com o seu próximo.
Mais do que nunca, conscientes deste quadro, professores, pais e sociedade devem primar
por uma educação baseada em valores, valores que possibilitem ao homem perceber-se como
sujeito de sua própria existência, não sujeito para o consumo. Sujeitos que têm direitos e por isso
carecem de políticas públicas adequadas para uma educação de qualidade, para uma distribuição
de renda eqüitativa e condições dignas para os cidadãos como um todo.
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Não basta mudar a coordenação de uma escola, sua direção ou a equipe de professores ou
mesmo aprimorar o código disciplinar da escola para se controlar a disciplina ou a indisciplina. É
necessário um outro olhar: um olhar sobre quem é o homem, como se desenvolve, quais são suas
necessidades à medida em que se desenvolve e quais valores almeja enquanto sujeito em
construção.
Referências Bibliográficas
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Summus, 1996.
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a forma como a escola educa o indivíduoRevista da Escola Adventista. Engenheiro Coelho -
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Revista Latinoamericana de Estudios Educativos. San Ángel, México, D.F.: , v.XXX, n.03,
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VASCONCELLOS, Celso dos S. Disciplina. 6º ed São Paulo: Caderno Pedagógico do Libertad-
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