Upload
others
View
2
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
SOFRIMENTO PSÍQUICO DA CRIANÇA AUTISTA
Maria Izabel
Tafuri[1]
INTRODUÇÃO
O texto pretende abordar as características peculiares de crianças diagnosticadas
como autistas, no sentido de refletir o autismo tanto em relação à síndrome de Kanner
quanto às psicoses. Històricamente, o autismo deixou de ser enfocado como sintoma
tanto das crianças ditas autistas quanto daquelas denominadas de psicóticas, limítrofes e
neuróticas. Para melhor compreender o sintoma autismo tanto na síndrome de Kanner e
Asperger quanto em outros distúrbios psicopatológicos na infância são apresentadas
vinhetas clínicas de duas crianças encaminhadas para a clínica escola da universidade
com os diagnósticos de autismo infantil e síndrome de Asperger. O objetivo maior é o de
especificar o sofrimento psíquico da criança ensimesmada a partir do estudo da situação
transferencial da criança com o analista.
O tema proposto refere-se à pesquisa acadêmica em psicanálise com crianças
realizada em universidade pública, há dezessete anos. Essa pesquisa é realizada no
Laboratório de Psicopatologia e Psicanálise do Instituto de Psicologia da Universidade
de Brasília-UnB. As crianças são atendidas na clínica escola do Instituto de Psicologia,
denominada, CAEP- Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos. Atualmente o
grupo de pesquisadores é formado por professores e alunos de graduação e pós-
graduação da Universidade de Brasília. Trata-se não apenas de um grupo de
pesquisadores que elabora textos, dissertações e teses. Hoje, constituímos uma equipe de
trabalho clínico, criamos um lugar de escuta e acolhimento no seio da universidade. O
referencial das nossas pesquisas é, por excelência, a clínica psicanalítica com crianças.
Segundo a nossa experiência clínica no serviço de acolhimento, as crianças que
apresentam sofrimento psíquico grave são sempre encaminhadas de um lado para outro,
desde muito cedo em suas vidas, sem nunca encontrarem atendimento. Assim, a
marginalização passa a ser um lugar a ser ocupado por elas na sociedade. O desafio, a
princípio, foi o de trazer para o interior dos limites de uma instituição universitária o
atendimento clínico psicanalítico de crianças que apresentam sofrimento psíquico grave.
Assim, o acolhimento dessas crianças passou a ser feito no sentido de encontrar um
caminho que possibilitasse o tratamento, evitando o destino da marginalização.
A TÉCNICA PSICANALITICA COM CRIANÇAS ENSIMESMADAS
A utilização de técnicas psicanalíticas com crianças ensimesmadas começou a ser
difundida por Melanie Klein em meios a conflitos com Anna Freud no seio da escola
inglesa de psicanálise. As noções psicanalíticas desenvolvidas por Melanie Klein (1930)
a respeito do quadro clínico do Pequeno Hans caracterizam um tipo de ensimesmamento
hoje reconhecido como um quadro psicopatológico, denominado Transtorno Autista
(DSM-IV) ou autismo infantil precoce. Històricamente, crianças que apresentam os tipos
mais severos de dificuldades de relacionamento e comunicação, combinadas com
déficits de regulação de processos fisiológicos, sensoriais, motores, cognitivos, afetivos
e de atenção, são classificadas na categoria de Transtorno Autista. A descrição original
de Kanner (1943) sobre os “Distúrbios autísticos de contato afetivo” (Autistic
disturbances of affective contact) focalizava um prejuízo básico no desenvolvimento do
bebê, desde o nascimento: uma falha no relacionamento interpessoal pela ausência de
contato visual e responsividade facial, por indiferença ou aversão a afeto e contato físico
(isolamento autístico). O prejuízo na comunicação é marcante e persistente, afetando as
habilidades tanto verbais quanto não-verbais. As brincadeiras imaginativas em geral
estão ausentes ou apresentam prejuízo acentuado. Essas crianças tendem a não se
envolver nos jogos de imitação ou rotinas simples da infância, ou fazem-no fora de
contexto ou de um modo mecânico.
Cabe ressaltar que o autismo de Kanner foi inicialmente classificado como uma
manifestação precoce das esquizofrenias. O autor traçou semelhanças entre os quadros de
isolamento, desde o início da vida, das crianças observadas por ele e o desligamento da
realidade após um período de desenvolvimento normal das crianças ditas
esquizofrênicas. Para Kanner, a aparência clínica de uma criança autista, que não tem
contato com a realidade, é análoga à de uma criança que se desliga da realidade: “nesse
sentido, é possível estabelecer uma analogia entre os dois termos, autismo e afastamento
da realidade” (Kanner,1949,p.70). Essa visão mudou de forma radical, ao longo dos
anos 1940.
Por meio de um estudo longitudinal de mais de cinqüenta crianças autistas, Kanner
(1948) fez uma comparação mais apurada com os casos de esquizofrenia infantil,
discutidos por Ssucharewa, Grebelskaya-Albatz e Despert (p55). De posse desse estudo
comparativo, Kanner passou a descrever as diferenças básicas entre os dois grupos de
crianças e chegou à conclusão sobre a especificidade da sintomatologia do autismo
infantil precoce.
Na década de 1960 Kanner aproximou os critérios específicos desta síndrome dos
critérios tópicos de uma doença orgânica como a fenilcetonúria, o que se conclui da
seguinte citação:
O autismo serve como um paradigma. Desafortunadamente,
nesse caso, não te tão fácil estabelecer as relações de causa e
efeito como Fölling o fez para descrever a fenilcetonúria; mas
nós temos um quadro clínico bem definido, desde início das
manifestações dos sintomas até o seu término, os quais, em seu
conjunto, são inigualáveis e, portanto, específicos, no mesmo,
sentido em que a fenilcetonúria é específica. (Kanner, 1965, p.
134)
Segundo Berquez (1983), as considerações de Kanner sobre a univocidade dos
sintomas podem ser vistas como um divisor de águas na obra do autor. Kanner começou
a pensar os sintomas da nova síndrome a partir de uma evolução obrigatória de um
conjunto de sintomas, à moda do pensamento de Kraepelin. Este, relacionado à noção de
“demência”. Essa forma de pensar se contrapõe à idéia revolucionária de Bleuler sobre a
existência de certa independência dos sintomas secundários em relação ao distúrbio
primário da doença, a exemplo do pensamento autístico do esquizofrênico. O que teria
ocorrido na década de 1950 que pudesse justificar, em Kanner, tal mudança de
pensamento?
Uma das justificativas, apontada por Berquez, refere-se ao panorama internacional
da década de 1960, na qual a síndrome estava inserida. Naquela época, a síndrome de
Kanner, já verdadeiramente reconhecida, começara a enfrentar um problema. Havia uma
forte tendência em difundir uma visão psicopatológica do autismo infantil precoce
através de estudos exclusivos, tanto por parte de pesquisadores europeus quanto de
americanos, sobre os determinantes emocionais do isolamento autístico. Para Kanner,
essa tendência acarretaria riscos de diluição da síndrome, transformando-a em um mero
sintoma das esquizofrenias.
Para Berquez, a análise dessa questão dentro do panorama histórico em que a
síndrome estava inserida mostra que Kanner, na sua luta para preservar a especificidade
da síndrome, tentou distanciar o quanto pôde o autismo infantil precoce do grupo das
esquizofrenias, deixando em segundo plano os estudos psicopatológicos referentes a ela,
como se pode ver na seguinte citação: “Kanner abandonou toda a perspectiva
psicogenética para se voltar resolutamente para as perspectivas orgânicas que lhe
permitiriam combater as tentações de ver o autismo apenas como um sintoma da
esquizofrenia” (Berquez, 1985, p. 39).
A definição da síndrome de Kanner como sui generis é aceita pela grande maioria
dos pesquisadores. O problema está em reduzir o autismo à síndrome e deixar de enfocá-
lo como um sintoma do grupo das psicoses. Se a síndrome de Kanner tem sua
especificidade, como foi demonstrado pelo seu autor e seguidores daí a sua
caracterização como síndrome sui generis o mesmo não se pode dizer do
termo autismo. Oautismo diz respeito a um sintoma presente tanto nas esquizofrenias de
Bleuler quanto no autismo infantil precoce de Kanner, como também em distúrbios
neuróticos. Tendo em vista este fato, é necessário discutir e pesquisar as características
peculiares das crianças chamadas de autistas e, não simplesmente, retratá-las como um
conjunto de sintomas.
Foram escolhidos dois casos clínicos para refletir os sintomas “isolamento
(aloneness) e insistência obsessiva de preservar a mesmice (samness)” considerados por
Kanner (1954) os critérios mais essenciais para o diagnóstico da síndrome do autismo
infantil precoce. Segundo Kanner (1943), existe, na criança autista, “uma necessidade
poderosa de não ser perturbada. Tudo que é trazido do exterior para a criança e tudo que
altera o seu meio externo ou interno representam uma intrusão assustadora. A primeira
intrusão vinda do exterior é a alimentação”. Para o autor, durante o primeiro ano de
vida, os distúrbios alimentares graves são um traço marcante no desenvolvimento da
criança autista. Uma outra intrusão tem origem nos ruídos fortes e nos objetos em
movimento, que desencadeiam uma reação de pavor (enceradeira, liquidificador, secador
de cabelo, brinquedos mecânicos, batedeiras elétricas, etc). Em contrapartida, a criança
autista pode, espontânea e alegremente, fazer barulhos até mais fortes do que aqueles
que teme, concluiu Kanner. Dessa forma, nos autistas, as repetições de ruídos, sons,
palavras isoladas e gestos são monótonos e regidos por um “desejo ansioso obsessivo
para a manutenção da mesmice” (anxiously obsessive desire for the maintenance of
sameness).
Ninguém pode romper com essas repetições com exceção da criança e apenas em
raras oportunidades, disse Kanner. No caso de John, por exemplo, Kanner (1943)
descreveu como as mudanças em sua vida provocavam transtornos graves. Quando os
pais de John mudaram de casa, ele ficou desesperado ao ver os homens da mudança
enrolarem o tapete do seu quarto. John só saiu do quadro desesperador em que se
encontrava quando viu, na sua nova casa, os móveis do seu quarto serem colocados na
mesma posição que antes. “Toda a ansiedade desapareceu instantaneamente, ele parecia
contente, ficou dando voltas pelo quarto, batendo afetuosamente em cada móvel”
(Kanner, 1943, p. 37).
A surpreendente imprevisibilidade da criança autista foi transformada por
Kanner em sintoma patognomônico a necessidade obsessiva de manter a mesmice
(Kanner, 1946). Kanner (1946) considerou que oisolamento e a necessidade obsessiva de
manter a mesmice seriam os dois sintomas patognomônicos, fundamentais para o
diagnóstico diferencial do autismo infantil precoce em relação à deficiência mental,
surdez e afasias. O isolamento (aloneness) foi considerado inato por constatar que as
crianças observadas demonstraram esse sintoma desde o nascimento.
MARIA E O JOGO DOS SONS
Maria, criança de três anos de idade foi encaminhada à clínica da universidade
com o diagnóstico de autismo (Tafuri, 2003). Ela já havia passado por uma equipe
médica que lhe conferira o diagnóstico de autismo infantil precoce. Nos quatro
primeiros meses de tratamento, Maria demonstrou um isolamento autístico severo.
Pulava na ponta dos pés de um lado para outro sem nenhum motivo aparente, não me
dirigia o olhar e não explorava os brinquedos. Emitia sons estridentes e tocava os
objetos com a ponta dos dedos. Girava as mãos em frente ao seu rosto com muita
velocidade e leveza. Parecia hipnotizada com o movimento das mãos.
Franzina, agia ligeiro. Não encostava o corpo em quase nada. Ela não pegava os
objetos para explorá-los ou colocá-los na boca, apenas os deixava escorrer pelas mãos.
No banheiro, ela abria a torneira da pia com freqüência e espalhava água por toda parte,
sem dar a essa atividade qualquer conotação de brincar. Estragar ou sujar a sala da
analista não pareciam ser, para ela, atividades destrutivas. Eram, na realidade, ações
mecânicas, vazias de intenções, ou melhor, com intenções desconhecidas para mim.
Depois de algumas sessões, dei-me conta de que Maria havia tocado em quase
todos os objetos, paredes, móveis e brinquedos do consultório. Mas não se aproximara
de mim, em nenhum momento, nem mesmo para me tocar com as pontas dos dedos. Na
verdade, Maria havia me evitado! Concluí que, para ela, eu não era um objeto qualquer
do consultório.
Essa constatação obtida por meio de sentimentos contratransferenciais foi
importante e me levou a refletir sobre o lugar que Maria havia me colocado na relação
analítica que se iniciara. Ela havia percebido a minha presença de forma indireta: com
um olhar periférico, sem se aproximar ou sem apresentar reações afetivas ou agressivas.
O fato de ela não ter tocado em mim, como fizera com os objetos da sala, indicava que
“sabia” que ali existia alguém a ser evitado. Não se tratava de uma reação de angústia
claramente definida, como seria chorar, não se separar da mãe, ser agressiva com a
analista, quebrar os brinquedos, ficar calada ou não brincar. Era uma reação diferente,
essa de não me dirigir o olhar e não me tocar com a ponta dos dedos.
Estava claro que Maria não podia estabelecer comigo uma relação similar à que
havia experimentado com os objetos e os brinquedos do consultório. Esse fato me
alertou para a presença de um tipo de relação transferencial com Maria. Ou seja, seu
comportamento comigo indicava uma diferenciação em relação ao que ela estabelecera
com os objetos, os brinquedos e as paredes do consultório.
Para Berlinck (1999) podemos caracterizar esse fenômeno clínico como uma
relação transferencial autista, “a libido, por não ser pulsional, ou seja, erótica, não
estabelece ligações. Trata-se, então, de uma transferência autista em que um interlocutor
não se estabelece” (p. 40). Outros analistas já descreveram situações semelhantes àquela
que ocorreu com Maria na situação analítica. Laznik-Penot (1997), recomenda que o
tratamento da criança autista não deva ser realizado apenas por um psicanalista, porque,
ao ocupar o lugar de objeto da transferência, ele apresenta “graves deficiências
sensoriais” que o impedem de perceber uma série de manifestações transferenciais da
criança. Assim, o outro psicanalista, ao ocupar o lugar de observador, pode indicar as
tentativas de ligação do paciente. Por sua vez, Fédida (1990), Rocha (1997), Berlinck
(1999) e Haag (2000) salientam a necessidade de existir um tipo de transferência entre a
criança autista e o psicanalista, como condição para a realização do trabalho analítico. A
discussão engendrada por esses e outros autores se refere também à maneira como o
psicanalista interpreta a relação transferencial com a criança autista, que depende
basicamente do lugar que ele imagina ocupar nessa relação transferencial.
Com Maria, eu me coloquei no lugar daquele que não interpreta. Por quê?
Ela havia evitado me olhar e encostar as pontas dos dedos em mim. Eu também
evitara falar, olhar diretamente para ela ou tocá-la. Interpretá-la, naquele momento, seria
o mesmo que tocá-la com palavras. Isso me pareceu uma atitude clínica apressada
demais. Segundo minha intuição, para aquela criança, as minhas palavras poderiam ser
uma presença ameaçadora. Daí a decisão de ficar calada e ocupar o lugar do “analista
não intérprete”.
Ficar calada na presença de Maria foi uma experiência nova na minha forma de
clinicar e, ao mesmo tempo, uma atitude difícil de ser implementada. As interpretações
brotavam em minha mente de uma forma tão insistente e automática que me impediam
de vivenciar o insulamento em que Maria me colocava. Na verdade, os meus
pensamentos serviam para preencher o meu mundo interno, pois eu me sentia
extremamente só na presença da pequena. À medida que eu tentava explicar, para mim
mesma, as reações de Maria, eu entrava em contato com um saber que apenas me dava
uma ilusória segurança: a de compreender o seu ensimesmamento. Cheguei à conclusão
de que precisaria de um outro tipo de conhecimento para viver o ensimesmamento,
aquele oriundo de minhas impressões sobre aquela criança, e não o conhecimento
proveniente das interpretações explicativas que me vinham à mente, quase que de forma
automatizada.
Ao longo das primeiras semanas de tratamento, identifiquei em Maria três tipos
distintos de ensimesmamento, o que contrasta com a noção de Kanner (1943) sobre
o isolamento ser um déficit inato de ordem neurológica. Ao primeiro tipo de
ensimesmamento, denominei ensimesmamento vazio, tendo em vista a seguinte
observação. No início do tratamento, Maria passava quase todas as sessões correndo na
ponta dos pés, de um lado para outro, sem motivo aparente. Encostava as pontas dos
dedos nos objetos, tendo sempre a mesma expressão em seu rosto. Havia um sorriso
estático nos seus lábios e uns “grunhidos” sempre estridentes, atonais e arrítmicos.
Tomando por base as reações de torpor que me invadiam, confirmei a impressão de estar
diante de um ensimesmamento vazio.
O segundo estado de ensimesmamento de Maria era caracterizado por reações
auto-agressivas e desesperadoras. Ela começava a se morder, chegando a abrir feridas
em seu braço e a bater a cabeça na parede sem motivo aparente. Os “grunhidos” se
tornavam mais fortes e ensurdecedores. Esse quadro me dava um sentimento de
impotência, pois não sabia como consolá-la. A esse comportamento denominei
deensimesmamento sofrido.
O pulso esquerdo de Maria estava sempre em carne viva por causa de suas
freqüentes mordidas. Ela não movia um músculo do rosto para expressar dor, nem
mesmo quando mordia o mesmo lugar do seu braço, o que me causava uma grande
estranheza. Com Maria entrando na fase de ensimesmamento sofrido, eu me deparava
com a minha própria dor, resultado das batidas da cabeça de Maria contra meu peito e
abdome. Além disso, sentia-me desarvorada por não poder dar a ela um colo
apaziguador, ou palavras que pudessem trazer alívio ao seu sofrimento. Eu me sentia
intrusa e impotente ao segurar o seu corpo contra o meu, e impotente também para
aplacar ou amenizar o sofrimento de Maria. Mas não tinha outra escolha, pois Maria se
machucava muito nessas ocasiões.
Havia ainda um terceiro tipo de ensimesmamento, que assim acontecia. Nas
sessões iniciais com Maria, o que mais me chamou a atenção foi
o ensimesmamento prazeroso da pequena criança com ela mesma, que contrastava
com a ausência de relação lúdica e exploratória com os brinquedos e com o ambiente
físico da sala de atendimento, além da ausência de relação afetiva com a analista. Isso
era demonstrado principalmente no “estado de excitação” exibido por ela quando
“grunhia” e balançava as mãos em frente ao seu rosto. Nos momentos
de ensimesmamento prazeroso, Maria ficava mais absorvida com as sensações
oriundas de seu corpo; parava de correr pela sala e de jogar as coisas no chão. Os sons
de seus “grunhidos” eram menos estridentes; “os maneirismos” com as mãos pareciam
ser contemplados por ela e os movimentos do corpo eram ritmados. Um movimento em
que ela balançava o corpo para frente e para trás, em um ritmo cadenciado, como se
estivesse sentada em uma cadeira de balanço invisível.
No ensimesmamento prazeroso, havia uma expressão de tranqüilidade e
“felicidade” no rosto da pequena criança. Utilizo aqui as expressões de Kanner (1943) na
descrição, por serem precisas para o caso deMaria: ela parecia “contente consigo
mesma”, “bastava a si mesma”, “parecia imersa em sensações profundas” e “fechada em
si mesma como em uma concha”.
Nos momentos em que Maria estava no ensimesmamento prazeroso, eu me
sentia interessada em estar com ela, mesmo que fosse apenas para acompanhá-la. Na
verdade, nesses momentos, eu a contemplava!
Observando de forma atenta, era possível reparar que, quando Maria entrava nesse
estado de ensimesmamento prazeroso, seus movimentos corporais obedeciam a um
ritmo cadenciado, completamente diferente daquele apresentado nos estados
de ensimesmamento vazio ou ensimesmamento sofrido. A forma como olhava para
suas próprias mãos era impressionante: ela parecia hipnotizada! Essa característica
contrastava com o olhar fugidio com o qual ela olhava os brinquedos.
Quando Maria entrava nesse ensimesmamento prazeroso, eu passava a escutar
com interesse a sonoridade dos sons que ela emitia. Os sons, que não eram muito
estridentes, me chamavam a atenção. Eram sons mais melódicos do que aqueles emitidos
durante o ensimesmamento vazio ou o ensimesmamento sofrido. Nesses momentos,
ela parecia se deixar embalar pelos sons e por seus movimentos cadenciados.
Em uma das sessões, comecei a imitar os sons que ela produzia nos momentos
do ensimesmamento prazeroso. Considerei importante repetir os sons de seus
“grunhidos” apenas quando Maria estava extasiada consigo mesma para, de alguma
forma, fazer uma diferenciação entre o estado de absorção completa das sensações do
corpo e os outros comportamentos estereotipados, como os de correr, abrir e fechar a
torneira da pia do banheiro, jogar brinquedos no chão, etc.
Com a evolução do caso, ficou claro, para mim, que as ações de ecoar os
“grunhidos” somente no ensimesmamento prazeroso haviam criado uma
descontinuidade. Ao comparar a sonoridade dos meus sons com os “grunhidos”
de Maria, ficou evidente que, por meio daqueles “sons”, ela se fazia presente. Eram
“sons” que ela produzia de forma criativa e individualizada. Não podiam ser
reproduzidos. De fato, minha experiência de imitá-la ficou parecida com a tentativa de
falar uma língua estrangeira sem sotaque. Ademais, não existiam palavras para dar
sentido e criar a ilusão que era possível imitá-la. Havia apenas a sonoridade singular da
voz de Maria.
Com o passar do tempo, Maria começou a se interessar pela origem dos sons que
ouvia, os meus sons. Passou a olhar para a minha boca assim que eu acabava de proferir
os sons. Ela batia as costas das mãos nas paredes e ia se aproximando da minha boca,
porém, sem me dirigir o olhar. Era como se eu fosse apenas boca. Assim, como fazia nas
paredes, começou a passar as costas das mãos em minha boca. Às vezes, me mordia ou
chutava sem que eu tivesse tempo de prever tais comportamentos. Quando isso
acontecia, eu me silenciava, parava de emitir sons, respirava profundamente e ficava
quieta. Com as minhas atitudes, ela recomeçava a emitir os sons.
Percebendo esses comportamentos de Maria, considerei que ela começara a entrar
em um “jogo de sons”, onde havia uma seqüência de repetições sonoras, interrompidas
por comportamentos auto-agressivos. Havia algo mais importante. De acordo com a
minha reação, ela continuava ou interrompia a seqüência dos sons. Essa evolução foi
importante, pois assinalou a entrada de Maria em uma atividade lúdica, mesmo que
incipiente. Como analista, percebi que chegara mais próxima de uma clínica usual, tal
como se procede com outras crianças.
No final dos sete primeiros meses de tratamento, Maria começou a demonstrar
uma capacidade importante: durante o “jogo dos sons”, ela parecia esperar por alguma
coisa, pois ficava quieta observando a minha boca assim que eu parava de emitir os sons.
Ela arriscava também alguns olhares fugidios para mim. De forma periférica, fazendo
estrabismos, ela fazia contato olho a olho, por frações de segundos. Eu repetia os sons, e
ela, após ouvi-los, começava a “grunhir” novamente. Ela passou a manifestar capacidade
de antecipar a entrada no jogo dos sons olhando para a minha boca antes de emitir os
sons. Se eu não emitisse os sons ela entravaem desespero. Ficou claro nesta passagem
clínica a manifestação de um comportamento mais organizado, a necessidade imperiosa
de manter a mesmice e, ao mesmo tempo, surgiu a capacidade psíquica de se proteger
das angústias dessa necessidade imperiosa. A espera dos sons que saíam da minha boca,
tornou-se cada vez mais visível. Foi um comportamento também importante para que eu
imaginasse suas necessidades e, muitas vezes, evitasse o rompimento das seqüências dos
sons. A possibilidade de evitar o rompimento da brincadeira por meio das minhas
respirações e sonorizações surgiu quando Maria passou a demonstrar de forma mais
clara a necessidade imperiosa de manter a mesmice (samness).
Nesse período do tratamento, Maria imprimia uma mesma rotina de ações nas
sessões: chegava sempre correndo e, sem olhar para mim, jogava os brinquedos no chão;
começava a “grunhir” e a esperar pelos meus sons. Quando algo impedia a seqüência
dessas ações, Maria entrava no estado de ensimesmamento sofrido preenchido por
agressões. Às vezes, eu identificava os motivos do sofrimento de Maria. Nesses
momentos, interpretava utilizando poucas palavras. Na maioria das vezes, isso era
impossível. Então eu ficava calada, procurava respirar profunda e pausadamente, não
olhava para os olhos dela e, lentamente, começava a emitir os sons usuais dos seus
“grunhidos”. Com essa forma de agir, Maria voltava à seqüência de suas ações.
Certa vez, logo ao chegar e entrar correndo no consultório, como de costume, sem
me dirigir o olhar, Maria começou imediatamente a se morder e a gritar. Eu a contive
fisicamente, mas ela se rebelou de forma mais violenta do que de costume. Fazendo um
movimento rápido, puxou os meus cabelos com força e me mordeu violentamente. Eu
estava com os cabelos molhados. Era a primeira vez que ela me via assim. Imaginei
queMaria necessitava me ver como nos outros dias, mas falar disso não adiantou nada.
Entrei no banheiro para tentar secar os cabelos com uma toalha e tive uma surpresa.
Ouvi os seus “grunhidos” vindos da sala e os repeti do banheiro. Ela continuou a
responder a seqüência dos sons, mesmo eu estando fora do campo de sua visão. Para ela,
eu estava presente enquanto voz. Isso lhe trazia a possibilidade de dar continuidade ao
“jogo dos sons”, que funcionava como um espelho sonoro.
Nesse episódio, a interpretação verbal pouco adiantou para aplacar a angústia
de Maria. Ela mostrou necessidade de estar comigo desde que eu mantivesse a aparência
de sempre. Ou seja, como a minha voz era a mesma, Maria continuaria a se relacionar
comigo como nos outros dias, desde que não me visse.
Nessa fase, durante as sessões, os comportamentos agressivos de Maria já não
surgiam a qualquer momento. Passaram a estar localizados no “jogo dos sons”; mais
precisamente, no intervalo entre a interrupção dos seus “grunhidos” e a espera dos meus
sons. Comecei a pensar nesses comportamentos como sendo os primórdios de uma
“reação de angústia”, tal como descrita por Klein (1930), pois os comportamentos
agressivos deMaria serviam para interromper a seqüência dos sons. Ou seja, eles tinham
um objetivo, não surgiam do nada, como parecia anteriormente. Sendo assim, em
algumas ocasiões, tornou-se possível prevenir o surgimento de uma angústia
suficientemente forte que impedisse a continuidade do “jogo dos sons”.
PEDRO E O JOGO DA ADIVINHAÇÃO
Pedro foi encaminhado aos 12 anos com o diagnóstico de autismo e/ou síndrome
de Asperger. Até essa idade ele foi medicado para reduzir os comportamentos
hiperativos. Era um bebê muito mole, sem atitude, demorou a engatinhar, andar e falar.
Mesmo com o surgimento da fala ele não estabelece uma comunicação efetiva. A sua
fala é ecolálica, repetitiva e parece à primeira vista ter a finalidade apenas de indagar
aspectos da vida da outra pessoa. Por exemplo, Pedro aborda pessoas desconhecidas
perguntando se elas têm namorado, onde moram...etc. Ele fala por meio dos
personagens das novelas, cria personagens imaginários e conversa com eles
modificando a entonação da voz. São estórias confusas e repetitivas. Tem dificuldades
em transmitir suas necessidades e vontades. Em casa ele insiste em manter a ordem dos
objetos, quando a mãe arruma a casa de um outro jeito ele reage com angústia. Segundo
a mãe ele é bastante hiperativo e parece isolado na maneira dele de viver. Quando quer
algo insiste até conseguir. A mãe se queixa de chegar a um estado de esgotamento
nervoso devido às insistências dele que são demasiadamente insistentes.
Ao longo dos primeiros meses de tratamento, Pedro tenta estabelecer contato
físico com a terapeuta segurando-lhe as mãos e acariciando-lhe os cabelos. Ele refere-se
aos cabelos da analista como românticos e bonitos. Diz também que ela é engraçada e
que gosta muito que ela o imite. Em uma das sessões pediu que ela o desenhasse. Ele
estava usando uma blusa de frio com um logotipo escrito com letras brancas. A
terapeuta reproduziu fielmente a blusa que estava usando e Pedro achou graça disso,
demonstrando interesse na brincadeira.
Antes de uma determinada sessão, Pedro telefonou para a analista pedindo a ela,
de forma insistente e repetitiva, para ir ao encontro dele na próxima consulta com uma
blusa branca que ela estava usando na sessão anterior. No dia seguinte a terapeuta foi
com a blusa e ele a desenhou. Enquanto Pedro desenhava a terapeuta se lembrou de um
pedido dele na sessão anterior. Ele queria dançar com ela enquanto esperavam o término
da sessão.
Sempre se valendo dos nomes de atores de novelas, Pedro conduz as sessões, às
vezes brincando de adivinhar os nomes dos familiares da analista o que não a deixa
confortável. Ele coloca todo o alfabeto em uma folha em branco e manda de forma
insistente que ela fale nomes de novelas e atores que comecem com a letra
correspondente. Oferece pouquíssimo tempo para a terapeuta pensar e fala
insistentemente apontando a letra: “diga, diga, diga, um ator com a letra B... Um ator
com a letra B...Letra B...diga um ator com a letra B...se não souber eu posso
pular...vamos...diga”. Nesse sentido, ele se torna um ditador na relação com a analista,
colocando-a no lugar daquele que não tem outra saída a não ser obedecer. Este tipo de
relacionamento transferencial com a analista permite que Pedro evite os perigos
psíquicos da explosão catastrófica, do aniquilamento.
CONCLUSÕES
A situação transferencial é analisada aqui nos dois casos clínicos como um
índice importantíssimo para a compreensão das noções de autismo e a necessidade
imperiosa de manter a mesmice nos casos de Pedro e o de Maria.
No caso de Maria, a transferência estabelecida foi do tipo autista em que um
interlocutor não se estabelece a principio. Com Maria não havia a possibilidade de
utilizar as palavras para interpretar. A criança não apresentava capacidade psíquica para
se defender das angustias aniquiladoras, ou seja, Maria entrava no ensimesmamento
sofrido sem que a analista pudesse compreender a origem do sofrimento psíquico dela.
Não haviam presença de fantasias associadas ao isolamento, a pequena criança não tinha
fantasias para colorir a realidade externa. Desta forma, a analista não tinha elementos
para compreender o mundo a realidade psíquica da criança. No caso de Pedro as
fantasias surgem, colorem a realidade e fornecem pistas ara a compreensão da realidade
psíquica da criança. No caso de Maria, havia apenas a presença dos sons, a forma
criativa que a criança encontrou para entrar na relação transferencial com a analista. A
capacidade psíquica de evitar as angústias de aniquilamento surgiu com o decorrer do
tratamento a partir do jogo dos sons. Ou seja, não havia a princípio uma relação
transferencial estabelecida por meio das fantasias como no caso de Pedro.
Gostaria de ressaltar que para descrever o isolamento do tipo do apresentado
por Maria é comum se encontrar na literatura “metáforas mortas”, tais como, “tomada
desligada”, “fortalezas vazias”, “conchas”, “carapaças”, etc. Este fato evidencia a noção
de um hermético fechamento autístico, totalmente desligado da realidade, sedimentado,
desvitalizado e despovoado. Quando essas “metáforas mortas” são pensadas à luz das
noções de Freud e Winnicott, ganham uma outra significação, tornam-se “metáforas
vivas”, pois o fechamento autístico é refletido como uma participação ativa que a criança
autista tem diante da realidade externa. No caso de Maria, os sons produzidos por ela
foram na situação analítica vivenciados como a presença de ser da criança.
Na linguagem fenomenológica de Kanner e seus seguidores, a criança autista não se
fecha de forma global e sedimentada à realidade externa. Na verdade, a criança
autista desdenha, ignora e exclui o que lhe é ameaçador. Diferentemente da concepção
de Kanner, Ana Elizabeth Cavalcanti e Paulina S. Rocha (2001), psicanalistas e autoras
do livro Autismos, também pensaram os autistas como metáforas vivas, da seguinte
forma:
(...) metáforas que nunca se sedimentam, nunca morrem, e a estranheza que
experimentamos diante deles é um efeito de sua surpreendente imprevisibilidade.
Eles agem como se fossem “metáforas vivas” e colocam aqueles que se encontram
ao seu redor frente ao estranho, ao imprevisível e, paradoxalmente, frente ao
estranho familiar. (p. 33)
A analista, no caso do Pedro, sentiu-se incomodada e amedrontada por estar
sendo controlada de forma insistente e invasora, desde o início das sessões. Nas
reuniões de supervisão foi possível conversar sobre a necessidade imperiosa
de Pedro em manter o controle da terapeuta, tanto na sua forma de vestir quanto em
relação aos seus pensamentos. Ao longo das sessões foi possível observar a forma
encontrada por Pedro em colocar em cena um dos sintomas mais determinantes do
autismo infantil precoce, a necessidade imperiosa de manter a mesmice associada aos
distúrbios da linguagem e ao isolamento. Se por um lado a presença desses sintomas nos
leva a pensar no quadro de autismo de Kanner, por outro lado, a situação transferencial
vivenciada com Pedro evidencia um sofrimento psíquico mais condizente às psicoses na
infância. A confusão – fusão apresentada por Pedro entre o self e o objeto fica clara
quando ele tenta exprimir, via personagens das novelas, um sentimento que para ele é
sinal de perigo desintegrador. Ele cria personagens que impregnam e distorcem o
sentido de realidade tornando confusos e desordenados a fala e os desenhos.
No caso de Pedro a relação transferencial foi estabelecida desde os primeiros
encontros de uma forma diferenciada a de Maria. A analista foi colocada no lugar de
objeto a ser controlado pela criança. Deste lugar, ela tem palavras para interpretar as
necessidades, desejos e conflitos da criança. A criança, por sua vez, tem a capacidade
psíquica de se defender de angústias aniquiladoras a partir da criação de um mundo
fantasioso próprio que caracteriza nesse caso o isolamento autístico.
Finalmente, o isolamento e a necessidade imperiosa de manter a mesmice, tal
como analisados nos casos de Maria e Pedro na situação transferencial vivenciada na
clínica psicanalítica trazem à tona a noção do sintoma, analisável tanto nas neuroses,
quanto nas perversões, psicoses e autismo. O essencial aqui é compreendermos a forma
como o paciente vivencia o sintoma na situação transferencial a partir principalmente
das contratransferências do analista. A descrição da sintomatologia da criança é
insuficiente para conferir um diagnóstico. Do ponto de vista psicanalítico, o isolamento
de uma criança pode ser analisado como sintoma de quadros psicopatológicos distintos,
tanto em relação ao autismo infantil precoce como também as psicoses, neuroses e
outros.
Freud (1937), em seu último trabalho clínico, Construções em análise, afirmou
que o psicanalista sofre de reminiscências quando se vê aprisionado em cadeias de
sentido. O caminho para sair dessa armadilha seria reviver tais reminiscências na
dinâmica da relação transferencial-contratransferencial, para que estas ganhem novas
significações. Segundo Freud, é preciso recuperar a mobilidade das significações e,
sobretudo, a possibilidade de experimentar, uma vez que é a dimensão transferencial-
contratransferencial que confere poder transformador à cena analítica.
BIBLIOGRAFIA
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION: Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais. 4 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995, p.65-77
BERLINCK, M.T. Autismo, paradigma do aparelho psíquico. Estilos da Clínica, São
Paulo, Instituto de Psicologia – USP, v. 4, n. 7, p. 30-42, 1999.
BERQUEZ, G. L’autisme infantile. Introduction à une clinique relationonnelle selon
Kanner. Paris: PUF, 1983
BION, W.R. The psychoanalytical study of thinking. International Journal of Psycho-
Analysis, v. 43, p. 306-10, 1962.
___ . Learning from Experience. Londres: Heinemann, 1962.
BLEULER, E. Dementia Praecox oder die Gruppe der Schizophrenien.1911.
Dementia praecox oder grupp der schizophrenien. Tradução resumida para a língua
francesa por Henri Ey. Paris: Anaclitis, 1964.
___ . L’invention de l’autisme. Analytica, Cahiers de Recherche du Champ
Freudien. Traduzido do alemão por Yves Kaufmant. Paris: Navarin, 1988.
FÉDIDA, P. Autoérotisme e autisme. Conditions d’efficacité d’un paradigme en
psychopathologie. Revue Internationale de Psychopathologie, v 2, p. 395-414, 1990.
HAAG, G. La pratique psychanalytique avec les enfants autistes: aménagements
techiniques, processus possibles, développements métapsychologiques. In: Pratiques
de la Psychanalyse. Paris: PUF, 2000a. p. 75-86.
KANNER, L. Autistic disturbances of affective contact. Nervous Child, v. 2, n. 3, p.
217-50, 1942-1943.
___ . Early infantile autism. Journal of Pediatrics, v. 25, p. 211-7, 1944.
KANNER, L. Problems of nosology and psychodynamics in early infantile
autism. American Journal of Orthopsychiatry, v.19, p. 416-26, 1949.
___ . To what extent is early infantile autism determined by constitutional adequacies?
In: HOOKER, D. & HARE, C.C. (orgs.) Genetics and the inheritance of integrated
neurological psychiatric patterns. Baltimore: Williams e Wilkins, 1954. p. 368-385
___ . The specificity of early infantile autism. Acta Paedopsychiatry, v. 25, n. 1-2, p.
108-13, 1958.
___ . Infantile autisme and the schizophrenias. Behavorial Science, v. 10, n. 4, p. 412-
20, 1965.
KLEIN, M. The psycho-analysis of children. Londres: Hogarth, 1932.
LAZNIK-PENOT, M.-C. (1995). Rumo à palavra: três crianças autistas em psicanálise.
Trad. Monica Seincman. São Paulo: Escuta, 1997.
ROCHA, P. (org.). Autismos. São Paulo: Escuta, 1997.
TAFURI, M.I. Dos Sons à Palavra:explorações sobre o tratamento psicanalítico da
criança autista. Brasília: ABRAFIPP, 2003
[1]
Doutora em Psicologia Clínica-USP/2002; Master en Integración de Personas com Discapacidad-
Universidade de Salamanca/1999, Professora Adjunta de Psicologia Clínica na UnB; Coordenadora do
Laboratório de Psicopatologia e Psicanálise do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília;
orientadora de teses de mestrado e doutorado.