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O E vangelho de J esus C risto S egundo M ateus Introdução – Análise – Aplicações Rev. Olivar Alves Pereira Outubro de 2019

Introdução Análise Aplicações - Noutesia · O leão é o rei dos animais. Logo, Mateus apresenta Jesus como Rei. As parábolas desse Evangelho, são chamadas de Parábolas do

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  • O E vangelho de J esus C risto

    S egundo M ateus Introdução – Análise – Aplicações

    Rev. Olivar Alves Pereira

    Outubro de 2019

  • O Evangelho Segundo Mateus

    Introdução, Análise e Aplicações Práticas Rev.Olivar Alves Pereira

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    Introdução ao Evangelho Segundo Mateus

    Evangelho e Evangelhos Estamos diante do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo que foi registrado por um de Seus discípulos, que aqui é identificado como Mateus (também conhecido como Levi). Os outros três que também registraram o Evangelho do Senhor Jesus Cristo foram Marcos, Lucas e João. Os três primeiros (Mateus, Marcos e Lucas) são conhecidos como “Evangelhos Sinóticos” (uma visão de conjunto) por apresentarem os aspectos da natureza humana do Senhor Jesus e compartilharem muito material (veja o gráfico a seguir), enquanto que João enfatiza os aspectos da natureza divina do Senhor Jesus. É importante entendermos que a expressão “segundo Mateus” não significa “segundo a interpretação de Mateus”, mas, sim, “conforme a revelação e orientação do Espírito Santo que lhe foi dada”. “Evangelho” é a mensagem contida nos evangelhos (e em toda a Escritura Sagrada), pois, é a mensagem de Deus anunciando as Boas Novas de salvação aos pecadores. Como disse William Hendriksen, o Evangelho: “Não é o que nós devemos fazer, mas o que Deus em Cristo já fez por nós é a parte mais proeminente dessas boas novas”1. A palavra “Evangelho” (do grego εὐαγγέλιον) nos tempos antigos era usada para anunciar o nascimento do filho de um rei. Um arauto saia anunciando ao povo a boa nova (boa notícia) do nascimento do herdeiro do trono, assegurando assim a estabilidade do reino. Aplicando isso à pessoa bendita de Jesus Cristo, o “Evangelho” além de nos trazer a maravilhosa notícia da nossa salvação, também nos mostra que a mesma é o resultado da decisão e ação Daquele que é Eterno e tem o Seu trono estabelecido por toda a eternidade e que na pessoa do Seu Filho reinará de eternidade a eternidade. O Trono do Universo é do Senhor Jesus (Ap 11.15). Material em comum nos Evangelhos Sinóticos

    Características de cada Evangelho Apesar de conterem muito material em conjunto, e relatarem a história de um mesmo personagem (Jesus) cada evangelista tinha um objetivo em escrever seu evangelho, cada um tinha suas características peculiares; cada um cobre um aspecto da vida de Jesus.

    1 HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p.11.

    Estudo 01

    Mateus 1.068

    versículos

    Em comum 606

    (em forma condensada)

    Marcos 661

    (exceto Mc 16.9-20)

    Em comum 380

    (versículos paralelos)

    Lucas 1.149

    versículos

    Mateus Em comum Mais de 250 versos

    Sem paralelo em Marcos

    Lucas

    Marcos 31 versículos

    exclusivos

    Mateus 300 versículos

    exclusivos

    Lucas 520 versículos

    exclusivos

  • O Evangelho Segundo Mateus

    Introdução, Análise e Aplicações Práticas Rev.Olivar Alves Pereira

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    Mateus: é o mais extenso de todos os Evangelhos. Mateus tinha em mente alcançar os judeus com seu Evangelho, e para isso lançou mão de muitas citações do Antigo Testamento. Se analisarmos cuidadosamente este Evangelho, notaremos um estribilho: “...para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta, que diz...”. Além do que, ele também apresenta uma genealogia, pois, é costume do judeu apresentar sua genealogia, para comprovar que ele é homem de bem, e tem uma família, um nome; e mais do que isso, Mateus quer mostrar aos judeus que Jesus é o Messias prometido. Mateus apresenta Jesus na figura de um leão. O leão é o rei dos animais. Logo, Mateus apresenta Jesus como Rei. As parábolas desse Evangelho, são chamadas de Parábolas do Reino; o sermão da montanha é uma espécie de plataforma do Rei, pois apresenta as características dos súditos do Reino de Deus. Marcos: é o menor de todos os Evangelhos em seu tamanho; não no conteúdo. Marcos tinha em vista os romanos quando escreveu seu Evangelho, pois, a linguagem adotada para termos, medidas e distâncias, era a romana. Ele, procura mostrar Jesus em ação, diferentemente dos outros evangelistas que mostram os discursos de Jesus, bem como estabelece cronologicamente o itinerário do ministério de Jesus. No Evangelho de Marcos, Jesus tem sido representado na figura do boi. O boi é exemplo de servo, que executa seu trabalho, sem reclamar, com mansidão e humildade. Jesus mesmo disse que ele “...não veio para ser servido, mas para servir...” (Mc 10.45). Seu único propósito era obedecer plenamente a vontade do Pai. Lucas: Este tinha em vista os gregos quando escreveu seu Evangelho. A filosofia grega é antropocêntrica, ou seja, o homem é o centro de tudo. O homem é a medida de todas as coisas. Daí então, Lucas harmoniza a mensagem de Mateus que mostra os discursos de Jesus (Sua “filosofia”), com a mensagem de Marcos que o apresenta como homem em ação (que saiu da teoria e foi para a prática). A expressão “Filho do homem” traduz toda a essência da mensagem de Lucas. Lucas apresenta Jesus na figura do homem perfeito. João: Este Evangelho apresenta Jesus de uma forma muito mais complexa e especial. João tem em vista não só os judeus, mas, todas as nações, a quem ele apresenta Jesus como o Filho de Deus, o Messias prometido, o próprio Deus habitando entre os homens. Com exceção do milagre da multiplicação dos pães, que também é citado neste Evangelho como nos demais, João narra outros milagres de Jesus que os demais evangelistas não narraram. Neste Evangelho, Jesus é apresentado na figura da águia, para retratar a Divindade de Cristo. A águia é uma ave que voa muito alto, tem olhos penetrantes; vê tudo e vê de cima. Essas figuras do leão, boi, homem e águia, são uma sugestão da própria Bíblia, pois, basta-nos analisar os textos de Ez 1.10 e Ap 4.7, e entenderemos que são profecias acerca de Jesus.

    Data da Escrita do Evangelho de Mateus É importante ainda lembrarmos que os Evangelhos (escritos apostólicos) não são um “diário” da vida do Senhor Jesus. Os evangelistas (Mateus, Marcos, Lucas e João) não estavam cada um com a sua prancheta em mãos anotando o que o Senhor Jesus fazia quando Ele agia. Tal ideia deve ser rejeitada. Basta vermos a data em que cada um foi escrito para rejeitarmos essa ideia de vez: Marcos (entre 50 e 70 d.C.) Mateus (entre 64 a 70 d.C.) Lucas (entre 60 a 95 d.C.) João (entre 80 a 90 d.C.)

    Essas datas nos mostram que todos os quatro evangelhos foram escritos depois de vários livros do Novo Testamento (p.ex.: a epístola de Tiago foi escrita por volta de 47 d.C.).

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    Os evangelistas registraram a mensagem, o ensinamento do Senhor Jesus em ocasiões específicas de Sua vida, nas quais o que fica claro é que Ele cumpria a “agenda celestial”, isto é, os fatos registrados nos Evangelhos apontam para o cumprimento da tarefa que o Pai atribuiu ao Filho na salvação dos pecadores. Tudo o que temos nos Evangelhos representa uma pequena parte da vida de Jesus, visto que o foco deles não foi fazer uma biografia do Mestre, mas, revelar-nos a Sua salvação. Aceitamos que o livro tenha sido escrito antes do ano 70 d.C., pois, Jerusalém e seu templo ainda não tinham sido destruídos pelo exército romano comandado por Tito, conforme a profecia de Jesus em Mt 24. Não há qualquer menção no livro do acontecimento dessa profecia, o que indica que o livro foi escrito antes do cumprimento da mesma.

    Autor do Livro Existem estudiosos que afirmam que não foi Mateus, o discípulo de Cristo, quem escreveu este livro. Em vez disso, foi alguém próximo a ele, ou que o ouviu pregando sobre Jesus, que teve a iniciativa de registrar os fatos e dar o crédito a Mateus, ou usou o nome dele para dar credibilidade ao livro. Não vamos nos deter aqui nessas afirmações, mas, adotaremos aqui a visão conservadora de que este livro foi realmente escrito pelo discípulo de Jesus, Mateus (Levi). E apresentamos os seguintes argumentos em prol da nossa posição268: a) Mateus (Mt 9.9; 10.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13), também chamado Levi (Mc 2.14; Lc 5.27,29), era, como transparece de seus próprios nomes, um judeu. Isso explica o caráter judaico de seu Evangelho. b) Ao receber o chamado para seguir a Jesus, Mateus era um publicano, ou seja, era um cobrador de impostos em Cafarnaum. Ele trabalhava na “Galileia dos gentios” a serviço de Herodes Antipas. Por esta razão ele tinha de estar familiarizado com as línguas grega e aramaica. O Evangelho segundo Mateus revela que seu autor estava, realmente, familiarizado com mais de um idioma. Assim, as citações que nele se encontram amiúde apresentam uma espécie de paráfrase em que são combinados elementos da Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento) com elementos aramaicos e derivados do hebraico. Além disso, como coletor de impostos, Mateus era obrigado a apresentar relatórios escritos do dinheiro que cobrava. Talvez até mesmo conhecesse algum sistema de taquigrafia. Portanto, ele era a pessoa mais indicada para tomar nota das palavras e obras de Cristo. c) Mateus era um judeu profundamente religioso, e com certeza muito versado nas Escrituras do Antigo Testamento, e, isto é visto na interpretação que ele faz das profecias do Antigo Testamento referentes a Jesus Cristo. d) Um antigo documento da Igreja Cristã chamado “Didachê” (ou ensinamento dos Doze Apóstolos), Justino Mártir, Dionísio de Corinto, Teófilo de Antioquia e Atenágoras de Atenas citam o Evangelho como autêntico e da lavra de Mateus269. e) A tradição da Igreja Cristã é unânime em indicar Mateus como o autor, e nunca menciona outro. Papias (que era bem jovem próximo ao fim do apostolado de Mateus), entre os anos 125-140 d.C., mencionou Mateus, o apóstolo como autor do livro; Irineu (entre os anos 182-188) também apontou Mateus como autor do livro; Orígenes (entre 210-250 d.C.), fez o mesmo; e por fim, Eusébio no início do século IV d.C. Somam-se a isso, as várias citações deste evangelho nos escritos da Patrística (período que vai até o século IV d.C.).

    268 Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p.142. 269 Cf. MACDONALD, 2011, vol.1, p.14.

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    f) Seria difícil explicar como, dentro de um período de talvez sessenta anos desde que esse Evangelho foi composto, o nome de seu verdadeiro autor poderia ter-se perdido e ter sido substituído por um nome fictício. g) Dificilmente poderia ter-se perdido de vista o autor de uma obra tão bela no seu desígnio, tão consistente no seu estilo e tão majestosa no seu conteúdo. h) O fato de que esse Evangelho foi atribuído a um dos menos conspícuos dentre os doze apóstolos, um homem acerca de quem dificilmente se sabe algo, é outro argumento em favor do caráter fidedigno dessa atribuição. Não teria sido mais atrativo credita-lo a alguém mais destacado como Pedro, por exemplo? Mas, como todos os 66 livros bíblicos, Mateus é um livro cuja autoria principal é do Espírito Santo, logo, um livro ao qual devemos nos reportar como normativo para a vida cristã.

    O Propósito do Livro Como judeu que era, Mateus teve como objetivo geral apresentar o Senhor Jesus como o Cristo (Messias) aos judeus. No Antigo Testamento Deus havia prometido que enviaria o Messias (Ungido) para resgatar Seu povo. A primeira vez que esta promessa foi feita está registrada em Gn 3.15. Mateus incisivamente mostra como o Senhor Jesus cumpriu cada uma das profecias do Antigo Testamento com relação ao Messias. Dessa forma, os judeus devem crer em Jesus e não somente isto, mas, também devem anuncia-Lo aos gentios. Os exegetas atualmente são em sua maioria concordes quanto a um aspecto muito belo no livro. Eles o chamam de Pentateuco Cristão270. Em nota a Bíblia de Estudo de Genebra traz o seguinte comentário sobre isso271:

    Algo distintivo que também encontramos em Mateus é a sua apresentação dos ensinos de Jesus, divididos em cinco discursos principais: ética, discipulado e missão, o reino dos céus, a Igreja, e o fim dos tempos. Essas cinco divisões podem ter sido baseadas nos cinco livros de Moisés, com o intuito de apresentar Jesus como sendo o Profeta, assim como Moisés em Dt 18.18. A maioria dos estudiosos hoje reconhece as cinco divisões de ensino como sendo a chave para a estrutura básica de Mateus, especialmente devido ao fato de cada discurso terminar com uma expressão como: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras” (7.28). Além disso, parece existir uma relação entre cada discurso e a narrativa que a precede. Também se nota que as porções narrativas lidam principalmente com a questão da identidade do Rei, enquanto que o material apresentado nos discursos tende a focalizar o povo do Rei. (Grifo meu).

    O Tema do Livro e Versículo-Chave O versículo-chave do Evangelho Segundo Mateus é: Mt 20.28 “tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. Em decorrência disso alguns temas podem ser propostos: Jesus, o Rei e Servo Jesus, o Messias Prometido

    270 Cf. BRUCE, 2008, p.1553. 271 Bíblia de Estudo de Genebra, p.1100.

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    Jesus, o Salvador do Povo de Deus Cremos que uma integração de todos esses temas é o melhor a ser feito, e assim, propomos o seguinte tema para o Evangelho de Mateus:

    Jesus, o Messias Salvador e Rei Servo

    Ele é o Messias (Ungido) de Deus que fora prometido, e o qual o Seu povo esperava; Ele é o Salvador esperado pelos judeus, mas que foi rejeitado por eles (cf. Jo 1.11), que ao verem o Senhor Jesus servindo aos homens e dando Sua vida por eles, os judeus não aceitaram, pois lhes era inconcebível que aquele que se declarava o “Messias” se rebaixasse tanto assim. Contudo, este é um dos pontos principais do Evangelho de Cristo e da Vida Cristã: humildade para servir a Deus e ao próximo, mansidão para não reivindicarmos nossa honra e direitos em face de outras pessoas. Aquele que não compreende essas verdades, definitivamente, não entendeu o Evangelho e muito menos foi transformado em filho de Deus.

    Esboço Adotaremos aqui o esboço apresentado pela Bíblia de Estudo de Genebra, que apesar de ser bem esmiuçado é o que melhor apresenta o conteúdo do livro e contribuirá para a sequência de estudos que pretendemos aqui. I – Prólogo (1 – 2) 1.1. A genealogia do Rei (1.1-17) 1.2. O nascimento do Rei (1.18—2.23)

    1.2.1. Anúncio a José e nascimento de Jesus (1.18-25) 1.2.2. Adoração dos magos (2.1-12) 1.2.3. As três últimas profecias da Infância de Jesus (2.13-23)

    II. A vinda do Reino (3 – 7) 2.1. O início do Reino em Jesus (3.1—4.11)

    2.1.1. Jesus é batizado por João (3) 2.1.1.1. O batismo de arrependimento (3.1-10) 2.1.1.2. O batismo com o Espírito Santo e fogo (3.11-12)

    2.1.1.3. O batismo de Jesus (3.13-17) 2.1.2. A tentação no deserto (4.1-11)

    2.2. O anúncio do reino (4.12-25) 2.3. O primeiro discurso: o sermão do monte (5 – 7)

    2.3.1. As bem-aventuranças (5.1-12) 2.3.2. Interpretando a lei para o reino (5.13-48)

    2.3.2.1. Sal da terra e luz do mundo (5.13-16) 2.3.2.2. Jesus e a Lei, e a Lei de Jesus (5.17-20) 2.3.2.3. O coração da Lei, e a Lei no coração: A Questão do Homicídio (5.21-26) 2.3.2.4. O coração da Lei, e a Lei no coração: A Questão do Adultério e Divórcio (5.27-32) 2.3.2.5. A Questão dos Juramentos (5.33-37) 2.3.2.6. A Questão da Vingança (5.38-42) 2.3.2.7. A Questão do Amor ao Próximo (5. 43-48)

    2.3.3. A piedade no Reino: caridade, oração, jejum (6.1-18)

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    2.3.3.1. A Prática da Justiça na Caridade (6.1-4) 2.3.3.2. A prática da oração – princípios reguladores (6.5-8) 2.3.3.3. A prática da oração – a oração dominical (6.9-15) 2.3.3.4. A Prática do Jejum (6.16-18)

    2.3.4. Um coração para o Reino (6.19-34) 2.3.4.1. Sabe onde está o seu tesouro (6.19-21)

    2.3.4.2. Sabe para qual direção olhar (6.22-23) 2.3.4.3. Sabe o que é mais importante (6.24-34)

    2.3.5. Os Padrões de Julgamento do Reino (7) 2.3.5.1. Cuidado com os julgamentos precipitados! (7.1-5)

    2.3.5.2. Cuidado com as coisas santas (7.6) 2.3.5.3. Cuidado com o que o seu coração quer! (7.7-12) 2.3.5.4. Cuidado com o caminho escolhido! (7.13-14) 2.3.5.5. Cuidado com o mestre escolhido! (7.15-23) 2.3.5.6. Cuidado com o Fundamento Escolhido! (7.24-29)

    III. As obras do Reino (8 – 10) 3.1. Cura de enfermos e o chamado dos discípulos (8 – 9)

    3.1.1. A cura de um leproso (8.1-4) 3.1.2. A cura de um de um servo cujo senhor tinha fé em Cristo (8.5-13) 3.1.3. A cura da sogra de Pedro (8.14-15) 3.1.4. A cura de muitas outras pessoas (8.16-17) 3.1.5. O Candidato e o Convocado (8.18-22) 3.1.6. O Senhor Jesus acalma a tempestade (8.23-27) 3.1.7. A Libertação de Dois Endemoninhados de Gadara (8.28-34) 3.1.8. A cura de um paralítico de Cafarnaum (9.1-8) 3.1.9. O chamado de Mateus (9.9) 3.1.10. O chamado de outros pecadores (9.10-13) 3.1.11. A Plenitude da Vida em Cristo (9.14-17) 3.1.12. A Menina Tocada por Cristo, e a Mulher que Tocou em Cristo (9.18-26) 3.1.13. “Ação, Luz e Som!” – A Cura de Dois Cegos e a Libertação de um Mudo (9.27-34) 3.1.14. Mão-de-obra escassa (9.35-38)

    3.2. O Segundo Discurso: a Missão do Reino (10) 3.2.1. O Chamado dos Doze Apóstolos (10.1-4) 3.2.2. As Instruções para os Doze (10.5-15) 3.2.3. As Admoestações aos Doze (10.16-23) 3.2.4. Os Estímulos aos Doze (10.24-33) 3.2.5. As Admoestações aos Doze (10.34-39) 3.2.6. As Recompensas Para Todos (10.40-42)

    IV. A natureza do Reino (11—13) 4.1. A identidade de João e de Jesus (11 – 12)

    4.1.1. Resposta às obras de Jesus e de João (11) 4.1.1.1. Jesus dá testemunho de Si mesmo (11.1-6) 4.1.1.2. Jesus dá testemunho de João Batista (11.7-15) 4.1.1.3. Jesus condena a dureza dos corações (11.16-24)

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    4.1.1.4. Jesus e o Seu terno convite (11.25-30)

    4.1.2. A Obra que o Pai confiou a Jesus (12) 4.1.2.1. Jesus, o Senhor do sábado (12.1-14)

    4.1.2.2. Jesus, o Servo escolhido e profetizado (12.15-21) 4.1.2.3. Jesus é contestado pelos fariseus (12.22-45) 4.1.2.3.1. A primeira contestação dos fariseus e a resposta de Jesus (12.22-37) 4.1.2.3.2. A segunda contestação dos fariseus e a resposta de Jesus (12.38-45) 4.1.2.4. A Família de Jesus (12.46-50) 4.2. O terceiro discurso: as parábolas do reino (13)

    4.2.1. O Semeador, a Semente, os Tipos de Solo e Sua Explicação (13.1-23) 4.2.2. A boa semente, o joio, o cultivo, a colheita e a explicação da parábola (13.24-30; 36-43) 4.2.3. O pequeno grão de mostarda e o fermento – o avanço do Reino (13.31-35) 4.2.4. O tesouro oculto e a pérola de grande valor – a preciosidade do Reino (13.44-46)

    4.2.5. A rede lançada ao mar e o bom pai – a separação no Reino (13.47-52) 4.3. Jesus é rejeitado por seus familiares (13.53-58)

    V. A autoridade do Reino (14 – 18) V. A autoridade do Reino (14 – 18) 5.1. O caráter e a autoridade de Jesus (14 – 17)

    5.1.1. A morte de João Batista (14.1-12) 5.1.2. Alimentando as multidões e o fermento dos fariseus (14.13 – 16.12)

    5.1.2.1. A primeira multiplicação de pães e peixes (14.13-21) 5.1.2.2. Andando sobre as Águas (14.22-33) 5.1.2.3. Jesus chega a Genesaré (14.34-36) 5.1.2.4. A Verdade e o Amor (15)

    5.1.2.4.1. O que realmente contamina o homem (15.1-20) 5.1.2.4.2. A Mulher Cananeia – A Fé Recompensada (15.21-28) 5.1.2.4.3. Jesus Realiza Milagres Junto ao Mar da Galileia (15.29-39)

    5.1.2.5. A Incredulidade e a Má Influência dos Fariseus e Saduceus (16.1-12) 5.1.3. Revelando o Filho de Deus e sua missão (16.13 – 17.27)

    5.1.3.1. As confissões do povo de dos discípulos (16.13-20) 5.1.3.2. O Caminho do Sofrimento (16.21-28) 5.1.3.3. A Transfiguração de Jesus e a Segunda Predição de Sua Morte (17.1-13) 5.1.3.4. A Cura de um Jovem Endemoninhado (17.14-21) 5.1.3.5. A Humildade de Jesus em Relação ao Pai (17.22-27)

    5.2. O quarto discurso: o caráter bondoso e perdoador do Reino (18) 5.2.1. A bondade para com os pequeninos (18.1-14)

    5.2.1.1. Tornar-se como os pequeninos (18.1-5) 5.2.1.2. Não façam os pequeninos tropeçar! (18.6-9) 5.2.1.3. Não desprezem os pequeninos! (18.10-14)

    5.2.2. O Perdão para os Ofensores (18.15-35) 5.2.2.1. Tratando o Irmão Culpado (18.15-20) 5.2.2.2. Perdoados Devem Perdoar (18.21-35)

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    VI. As bênçãos e os julgamentos do Reino (19 – 25) 6.1. Da Galileia a Jerusalém (19 – 20)

    6.1.1. O que Deus uniu não o separe o homem: o ensino sobre o divórcio (19.1-12) 6.1.2. Jesus e as Crianças (19.13-15) 6.1.3. A entrada no Reino (19.16 – 20.16)

    6.1.3.1. A Verdadeira Riqueza (19.16-30) 6.1.3.1.1. Pobre Jovem Rico! (19.16-22) 6.1.3.1.2. As Riquezas Deste Mundo e as Riquezas do Porvir (19.23-30) 6.1.3.2. A parábola dos trabalhadores na vinha (20.1-16) 6.1.4. Abrindo os olhos dos cegos espirituais e físicos (20.17-34) 6.1.4.1. Abrindo os olhos dos discípulos (20.17-28) 6.1.4.2. Abrindo os olhos de dois cegos (20.29-34)

    6.2. O Rei em Jerusalém (21 – 25) 6.2.1. A entrada triunfal em Jerusalém (21.1-11) 6.2.2. A purificação do templo (21.12-13) 6.2.3. Jesus cura os enfermos e é adorado: primeira crítica dos sacerdotes (21.14-17) 6.2.4. O ocorrido com a figueira (21.18-22) 6.2.5. A autoridade de Cristo: segunda crítica dos principais sacerdotes (21.23-27)

    6.2.5.1 Parábolas a respeito da resistência ao Rei (21.28 – 22.14) 6.2.5.1.1. A parábola dos dois filhos (21.28-32) 6.2.5.1.2. A parábola dos lavradores maus (21. 33-46) 6.2.5.1.3. A parábola das bodas (22.1-14) 6.2.6. Os Atributos de Cristo: primeira crítica dos fariseus (22.15-22) 6.2.7. A questão da ressurreição: A crítica dos saduceus (22.23-33) 6.2.8. O grande mandamento: terceira crítica dos fariseus (22.34-40) 6.2.9. Cristo interroga os fariseus (22.41-46) 6.2.10. Cristo reprova os escribas e fariseus (23.1-39) 6.2.11. O quinto discurso: o julgamento do Reino (24 – 25)

    6.2.11.1. Sinais do fim dos tempos (24.1-31) 6.2.11.1.1. Sinais do fim dos tempos (24.1-14) 6.2.11.1.2. A Grande Tribulação (24.15-28) 6.2.11.1.3. A vinda do Filho do Homem (24.29-31) 6.2.11.2. Parábolas aconselhando à vigilância (24.32 – 25.46) 6.2.11.2.1. A necessidade de vigiar (24.32-44) 6.2.11.2.2. A necessidade de ser fiel (24.45-51) 6.2.11.2.3. A necessidade de viver em santidade (25.1-13) 6.2.11.2.4. A necessidade de boa mordomia (25.14-30) 6.2.11.3. O grande julgamento (25.31-46)

    VII. Paixão e ressurreição (26 – 28) 7.1. Traição e aprisionamento (26.1-56)

    7.1.1. Preparação para a morte de Jesus (26.1-16) 7.1.2. A comunhão com os discípulos (26.17-56) 7.1.2.1. A última páscoa (26.17-19) 7.1.2.2. O traidor é indicado (26.20-25) 7.1.2.3. A primeira Ceia (26.26-30)

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    7.1.2.4. Predita a covardia dos discípulos (26.31-35) 7.1.2.5. A dor no Getsêmani (26.36-46) 7.1.3. Jesus é preso (26.47-56)

    7.2. O julgamento e execução do Rei (26.57 – 27.56) 7.2.1. Julgamento religioso diante do Sinédrio (26.57-75) 7.2.1.1. O Julgamento perante o Sinédrio (26.57-68) 7.2.1.2. Pedro nega a Jesus três vezes (26.69-75) 7.2.1.3. As duas condenações no amanhecer daquela sexta-feira (27.1-10) 7.2.2. Jesus civil perante Pilatos (27.11-26) 7.2.3. O sofrimento de Cristo (27.27-56) 7.2.3.1. A humilhação, zombaria e espancamento (27.27-31) 7.2.3.2. A cruz (27.32-44) 7.2.3.3. A morte (27.45-56)

    7.3. Sepultamento e ressurreição (27.57—28.20) 7.3.1. O sepultamento de Jesus (27.57-61) 7.3.2. Os guardas vigiam o túmulo de Jesus (27.62-66) 7.3.3. A ressurreição de Jesus (28.1-15) 7.3.4. A grande comissão (28.16-20)

    Questões para Reflexão 1) Se alguém lhe dissesse: “Pelo fato de Mateus demorar mais de três décadas para registrar os ensinamentos de Jesus isso tira a credibilidade do mesmo, pois, ele pode ter se esquecido de coisas importantes e inventado outras”. O que você responderia a essa pessoa? 2) Pelo fato de Mateus ter em vista os judeus ao escrever o Evangelho, o que da mensagem do mesmo diz respeito a quem não é judeu?

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    Apêndice 01 Neste gráfico temos

    um plano de leitura em conjunto dos quatro Evangelhos. Lermos nessa sequência os quatro Evangelhos nos dará uma compreensão mais clara da obra redentora de Cristo, bem como nos permitirá vermos os detalhes daqueles textos que aparecem em mais de um deles.

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    O Evangelho de Jesus, O Messias Salvador e Rei Servo

    Textos Correlatos Mt 1 – 2; Lc 1 – 2; 3.23-38; Jo 1.1-14 Esboço I – Prólogo (Mt 1 – 2)

    1.1. A genealogia do Rei (Mt 1.1-17)

    A Genealogia de Jesus

    Mt 1.1-17

    Introdução Os dois primeiros capítulos de Mateus narram os fatos relacionados à infância de Jesus. Muito pouco se sabe sobre esse período de Sua vida terrena. A Bíblia contém várias genealogias, que para nós parecem não ter a menor importância (e atratividade). Porém, precisamos vê-las do ponto de vista dos judeus, e isso porque a cultura judaica valoriza muito as genealogias, pelos seguintes motivos: ✓ Depois da conquista de Canaã, cada judeu deveria ser capaz de recitar sua genealogia para

    determinar o local da sua residência e família, uma vez que Deus determinou a distribuição da terra segundo as tribos, as famílias e as casas dos pais (Nm 26.52-56; 33.54). Isso evitava qualquer usurpação de uma terra que pertencesse a outra pessoa e família272.

    ✓ Porém, a partir do cativeiro assírio (721. a.C.), os judeus do Norte (Israel) passaram por uma miscigenação sofrendo terrível discriminação por parte dos judeus do Sul (Judá). Por isso, era necessário que um judeu sulista soubesse muito bem sua genealogia para provar sua pureza racial e ser considerado um judeu legítimo. Após o cativeiro babilônico, quando os judeus regressaram para a Palestina, se um judeu pretendesse o sacerdócio tinha de provar que era de origem levítica, do contrário seria excluído (Ed 2.62).

    ✓ Nos dias do Novo Testamento, quando Roma dominava o mundo, os territórios dos judeus estavam enfestados de estrangeiros. Daí recenseamentos eram feitos (como nos dias do nascimento de Jesus, ver Lc 2.1-4); para isso era necessário conhecer sua própria genealogia.

    Tudo isso tinha um único objetivo: mostrar a pureza racial de um indivíduo ou família. Ao falar da genealogia de Jesus, Mateus está apontando para o fato de que Ele era um legítimo judeu. E não só isso: Nele se cumpria a profecia messiânica. A diferença das genealogias apresentadas por Mateus e Lucas está no fato que, enquanto Mateus apresenta uma genealogia do começo para o fim (Abraão a Jesus), Lucas apresenta uma genealogia que vai do fim para o começo (de Jesus a Adão). Essa é outra diferença também, a saber, Mateus apresenta Abraão como o primeiro ancestral de Cristo, e isso de propósito, pois, quis mostrar aos judeus que Jesus era um legítimo descendente de Abraão; Lucas por sua vez, como seu objetivo era mostrar Jesus como “homem perfeito”, retrocede até Adão mostrando assim que Jesus é de fato um ser humano como todos os demais homens o são.

    272 Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p.154.

    Estudo 02

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    A Introdução e o Fechamento da Genealogia de Jesus (v.1 e 16) A forma como Mateus começa a genealogia de Jesus merece particular atenção aqui. Mateus apresenta Cristo como: O Deus Eterno O Antigo Testamento começa o seu relato com a criação do mundo (Gn 1.1). É a “primeira criação”273. Enquanto isso, o Novo Testamento inicia-se falando do Criador e exaltando-O. Assim como o Pai, o Filho é eterno e Sua existência remonta à eternidade, antes que houvesse mundo (Mq 5.2). O Messias prometido Ele chama Jesus de “Cristo” (Χριστός) que quer dizer “Ungido”. No v.16 Mateus enfatiza: “Jesus, que se chama o Cristo”. Este adjetivo aponta para o fato de que Jesus Cristo é Aquele a quem o Espírito Santo ungiu e capacitou com poder para consumar a tarefa de salvar o Seu povo. Ele foi ungido para ser o nosso Profeta Principal de quem Moisés falara em Dt 18.15, o único Sumo Sacerdote (Sl 110.4), o Rei eterno (Sl 2.6)274. Ainda sobre o v.16 é importante observarmos como Mateus descreve a relação filial de Jesus com José. Ele não apresenta José como o genitor de Jesus. Em vez disso diz: “E Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus...”. Quando José é chamado de “pai” de Jesus sempre fica claro que é por “adoção”. Nunca é dito de Jesus que ele ao ser gerado teve a participação física de José, mas, tão-somente, que Ele foi gerado fisicamente somente de Maria, cumprindo assim a profecia de que Ele (e só Ele) é a “semente, descendente da mulher” (cf. Gn 3.15). Agora, o mais maravilhoso nisso é que José adotou Jesus como filho carnal, e Jesus adotou a José (assim como fez com todos nós) como filho espiritual (Rm 8.15,23; Gl 4.5). O Rei glorioso Assim como os reis tinham de ter uma linhagem real, Mateus faz questão de apresentar a linhagem real de Jesus. Mateus O apresenta como “filho de Davi” (depois no v.6 também). Essa expressão indica que Jesus é o descendente ilustre de Davi que se assentaria em seu trono por toda a eternidade, ou seja, todas as vezes que o Senhor Jesus for descrito como Rei glorioso que é, Davi seria lembrado como Seu ancestral. Assim, não é Jesus que é honrado por ser descendente de Davi, mas sim, Davi por ser lembrado como “a raiz” da qual o Messias veio (Ap 5.5; 22.16).

    A Estrutura da Genealogia Apresentada por Mateus, v.2-15,17 O verbo “gerar” nestes versículos é empregado a progenitores masculinos, mas, soa estranho, pelo motivo óbvio que quem gera filhos são as mulheres e não os homens. Daí a melhor tradução para o verbo grego γεννάω “gerar” é “engendrou” (colocar a semente) ou “foi pai de...”. Mateus apresenta a genealogia de Jesus Cristo em 42 gerações, sendo três seções de 14 gerações cada (v.17). Entre algumas gerações existem saltos como o que vemos no v.8 entre Jorão e Uzias, pois, entre eles têm os nomes de Acazias (2Rs 8.25; 2Cr 22.1), Joás (2Rs 11.21; 12.1; 2Cr 24.1)

    273 A segunda, ou, “Nova Criação” é a que foi realizada pelo sacrifício, ressurreição e glorificação de Cristo tal como descrito em 2Co 5.17: “E assim, se alguém está em Cristo é nova criatura...”. A palavra “criatura” é κτίσις e literalmente traduzida é “criação”. Em Cristo, em Seu sacrifício, ressurreição e glorificação todos quantos O receberam pela fé são feitos “Nova Criação”. Por este motivo guardamos o Domingo e não o sábado, pois, o Sábado era o dia relacionado à primeira criação, enquanto que o Domingo está relacionado à Nova Criação em Cristo. 274 Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p.157.

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    e Amazias (2Rs 14.1; 2Cr 25.1). O motivo desses saltos se faz ver pelo fato de que Mateus não está preocupado com cronologia, mas, sim, com a cristologia, isto é, a doutrina a respeito da pessoa do Cristo. Assim ficam divididas as seções genealógicas: 1ª seção – de Abrão até Davi 2ª seção – de Davi até o cativeiro babilônico 3ª seção – do cativeiro babilônico até Jesus

    Fatos e Personagens Intrigantes na Genealogia de Jesus Cristo Fatos intrigantes A história de Abraão no tocante ao assunto “geração de filhos” é marcada por fatos sobrenaturais tais como: Isaque foi gerado quando não havia qualquer possibilidade natural para isso (Gn 15; 21); depois foi pedido em sacrifício por Deus do que foi livrado também sobrenaturalmente (Gn 22). “Mateus começa com um nascimento sobrenatural, ou seja, o de Isaque, e termina com outro, ou seja, o de Cristo”275. Mas a esterilidade e a intervenção divina não foram características somente da vida de Sara esposa de Abraão. Foram também na vida de Rebeca (Gn 25.21); na de Raquel esposa de Jacó (Gn 29.31 – 30.26). Olhando para José e Maria, vemos que suas genealogias começam a se colidir em Salatiel e Zorobabel, instrumentos importantes na restauração do povo e de Jerusalém depois do cativeiro babilônico. Personagens intrigantes Enquanto algumas personagens são praticamente desconhecidas exceto pelo fato de estarem aqui na genealogia de Jesus, tais como Esrom, Arão (que não deve ser confundido com o irmão de Moisés, pois, este Arão foi pai de Aminadade o qual foi sogro de Arão irmão de Moisés, ver Êx 6.23), outras ganham destaque por sua reputação ruim. Para uma genealogia de alguém tão importante como Jesus, qualquer antepassado com uma história manchada por pecados e por uma reputação duvidosa, não seria algo bem visto. Contudo, Mateus não omitiu essas personagens. Comecemos por Tamar, nora de Judá. Sua história está registrada em Gn 38. Vendo-se preterida e iludida por seu sogro Judá o qual deveria cumprir a promessa de ter dado seu terceiro filho quando fosse adulto para se casar com ela em cumprimento da lei do Levirato276, ela vestiu-se de prostituta (ficando toda coberta), teve relações com Judá e dele engravidou, gerando os gêmeos Preze e Zera. A próxima personagem que nos intriga por sua reputação é Raabe, a prostituta da cidade de Jericó, que sabendo dos poderosos feitos do SENHOR Deus por Seu povo Israel, acolheu os espias e ajudou os israelitas a tomarem sua cidade tendo assim a sua vida e a vida de sua família poupadas (Js 6) a qual veio a casar-se com Naassom, filho do ilustre Aminadade, líder da tribo de Judá, cujo estandarte era o primeiro na fila quando as tribos marchavam pelo deserto (Nm 7.12-17).

    275 HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p.164. 276 Quando um homem morresse e não deixasse nenhum filho, seu irmão mais velho deveria casar-se com a viúva de seu irmão, e o primeiro filho que este tivesse com ela não seria considerado seu, mas, do falecido, para que a memória deste não ficasse no esquecimento.

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    Outra personagem que nos chama a atenção é Rute, a moabita. Sua reputação é ilibada. Converteu-se ao Deus de Israel pelo testemunho de sua sogra Noemi, e depois que ficaram viúvas juntamente com sua concunhada Orfa, decidiu acompanhar sua sogra cumprindo todos os ditames da Lei quanto à Lei do Resgate, e assim foi acolhida por Boaz, parente mais próximo de seu falecido marido a quem cabia amparar Rute (leia o livro de Rute). A oculta Bate-Seba chamada aqui de “mulher de Urias”, com quem Davi cometeu adultério (2Sm 11,12), também aparece nessa lista. É claro que ela não deve ser a única aqui tendo sua reputação ruim sendo destacada, afinal Mateus ainda acrescenta que ela era mulher de Urias e não de Davi. Temos também Salomão que apesar de ter pedido sabedoria a Deus e recebido, usou-a de forma errada quando contraiu tantos casamentos (ao todo mil) e caiu em terrível idolatria porque suas esposas o induziram a isso. Nem toda a sua riqueza acumulada, nem toda a paz que ele conseguiu por meio desses casamentos-acordos, valeram a pena diante de tão grande tragédia moral e espiritual. O seu filho Roboão, destacou-se por sua arrogância e presunção, custando isso a divisão do Reino de Israel, desfazendo assim toda a riqueza que seu pai havia conseguido. Ezequias foi alguém que teve uma experiência marcante com Deus, pois, recebeu Dele a chance de viver mais 15 anos depois de receber a notícia por boca do profeta Isaías de que haveria de morrer por conta de uma enfermidade. Contudo, não soube aproveitar essa bênção, e deixou o orgulho tomar conta de seu coração, e, numa ato exibicionista diante da comitiva dos babilônios mostrou seus tesouros e riqueza, e os babilônios puderam conhecer os pontos fracos da defesa do reino o que facilitou muito a invasão e tomada de Jerusalém (2Cr 32.31). Seu filho Manassés foi de longe o rei mais iníquo e perverso. Em sua idolatria chegou ao ponto de sacrificar seus filhos no Vale dos Filhos de Hinom (2Cr 33.6). Por tudo isso Deus o entregou nas mãos dos inimigos e ele foi terrivelmente humilhado. Mas, em sua humilhação buscou a Deus e recebeu da Sua misericórdia (2Cr 33.10-20). Encerramos essa lista de personagens intrigantes com José, o pai adotivo de Jesus. Um homem simples e comum, um carpinteiro de Nazaré (Mt 13.55; Mc6.3). Como veremos no próximo estudo, o caráter desse homem e o seu temor a Deus são inspiradores. Enquanto muitos dos ancestrais de Jesus foram marcados por suas reputações manchadas, José, apesar de suas limitações é-nos um exemplo positivo a ser seguido.

    Aplicação Prática Ao olharmos para a genealogia Daquele que é o mais ilustre, o mais importante e o digno de todo louvor e glória, encontramos ancestrais envolvidos em pecados de imoralidade, prostituição, idolatria, orgulho, arrogância, prepotência, e toda sorte de pecados. Porém, o que fica ainda mais evidente é que onde Jesus Cristo está a Graça de Deus se faz presente plenamente. Todos os integrantes da genealogia de Jesus foram pecadores, e todos os pecados cometidos por eles são igualmente desprezíveis. Contudo, a Graça de Deus transformou aqueles que O buscaram (embora nem todos o fizeram como é o caso de Roboão), dando-lhes não só um lugar na Sua genealogia, mas, especialmente na Glória Eterna. Assim, Mateus falando Daquele que revelou-nos a Graça de Deus de forma plena, ele deixa bem claro que mesmo antes Dele vir a este mundo, encarnado, Sua obra de redenção já estava acontecendo!

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    Questões para reflexão 1) O que você responderia a alguém que lhe dissesse que as genealogias na Bíblia além de serem

    “chatas” de se ler também não têm importância alguma? 2) Qual a importância de apresentar a genealogia de Jesus se Ele é Deus?

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    Textos Correlatos Mt 1 – 2; Lc 1 – 2; 3.23-38; Jo 1.1-14 Esboço I – Prólogo (Mt 1 – 2) 1.2. O nascimento do Rei (Mt 1.18—2.23)

    1.2.1. O anúncio a José e o nascimento de Jesus (Mt 1.18-25)

    O Anúncio a José e Nascimento de Jesus

    Mt 1.18-25

    Introdução Alguém disse que o dia mais importante da existência humana não foi quando o homem pôs os pés na lua, mas, sim, quando o Filho de Deus pôs os pés na Terra. Estamos diante do evento mais importante, mais profundo e sublime da história da humanidade, e antes de prosseguirmos, devemos atentar às palavras de Matthew Henry277:

    O mistério da encarnação de Cristo deve ser venerado, e não visto com curiosidade. Se não conhecemos o caminho do Espírito na formação das pessoas comuns, nem como os ossos são formados no útero daquela que está grávida (Ec 11.5), muito menos sabemos como o bendito Jesus foi formado no ventre da virgem bendita. Quando Davi se admira de como ele próprio foi feito em segredo e curiosamente formado (Sl 139.13-16), parece que ele está falando no espírito da encarnação de Cristo.

    O início da história No v.18, Mateus inicia o relato da seguinte forma: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim...”. O que já estava implícito na genealogia, agora Mateus explicita aqui: o Filho de Deus de fato veio a este mundo. O objetivo de Mateus aqui não é satisfazer a curiosidade dos historiadores fornecendo-lhes detalhes do nascimento de Jesus, mas, sim, chamar a atenção para certos aspectos da história do nascimento de Cristo evidenciando que as profecias do Antigo Testamento referentes a Ele haviam se cumprido plenamente. Não se esqueça: Mateus escreveu o Evangelho visando os judeus278.

    A instituição do casamento naqueles tempos “...estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo”. Naqueles tempos a instituição do noivado/casamento era diferente dos nossos dias. Geralmente, um casal era prometido um ao outro já na infância e eles cresciam sabendo do compromisso assumido pelas famílias. Chegando à idade apropriada, acontecia os esponsais, um compromisso de noivado (muito mais rigoroso que o dos nossos dias), o qual só poderia ser desfeito mediante um processo de divórcio caso fosse encontrado coisa indecente num dos

    277 HENRY, 2008, vol.5, p.4. 278 Cf. TASKER, 2006, p.26.

    Estudo 03

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    cônjuges (cf. Dt 24.1), tal como relação sexual com outra pessoa (o que era considerado como o adultério dentro de um casamento). Durante o noivado o casal ficava separado se ter qualquer contato um com o outro. No dia estipulado para o casamento, a noiva aguardava o noivo na casa de seu pai, enquanto as famílias estavam reunidas num outro lugar preparando-se para uma festa que durava dias. O noivo, então, acompanhado de seus amigos mais chegados, saía pelas ruas da cidade ao som de instrumentos musicais, indo à casa do pai da noiva busca-la. Juntos, eles iam para o local da festa, e lá, na presença de todos, retiravam-se para uma tenda preparada para os dois, e ali consumavam o casamento por meio das núpcias. O tempo entre o noivado e o casamento era para que qualquer suspeita fosse desfeita, especialmente em relação à mulher. Se ela estando longe de seu noivo viesse a engravidar, de outro homem, ou mesmo do seu noivo que a tivesse visitado neste período, deveria sofrer as sanções da Lei. Se fosse provado que os dois tivessem fornicado neste período, ambos sofreriam as sanções. José é chamado de “seu esposo” (de Maria), v.19, mas, ele “não a conheceu, enquanto ela não deu à luz a um filho...” (v.25). O verbo “conhecer” (γινώσκω), literalmente, é: “saber, tomar conhecimento sobre algo”, mas, eufemisticamente279 é usado para “relações sexuais”280. Isso confirma tudo o que dissemos sobre o noivado e casamento naqueles tempos.

    O drama de José Pense agora, em José. Sua noiva/esposa estava grávida e o filho não era dele. O anjo Gabriel havia revelado a Maria que ela seria a mãe do Messias, e que, sua fecundação seria algo sobrenatural “pelo Espírito Santo” (ver Lc 1.26-27). As suspeitas e escândalos em torno de uma moça solteira (ainda que noiva de alguém) que fosse encontrada grávida apontava para um único motivo: fornicação. Embora nenhum dos evangelistas afirme que Maria contara a José o ocorrido, não é exagero algum afirmarmos que ela o tenha feito. No momento em que José ficou sabendo que sua noiva/esposa estava grávida, a única coisa que passou pela sua cabeça provavelmente foi: “Maria me traiu”. A expressão “sendo justo” (δίκαιος ὢν) refere-se ao caráter José, ou ao que ele devia fazer, isto é, não expor Maria sem ter todos os fatos esclarecidos? Creio que um pouco de ambas. O justo a ser feito era ter todos os fatos esclarecidos para que um julgamento correto da situação pudesse ser feito. Somente que é justo em seu caráter se preocupa em executar a justiça; quem não o é sai imediatamente vindicando “justiça própria”, isto é, se José não fosse justo, ele pensaria somente em si e pouco se importaria com Maria e a criança, mas, tão somente com a sua própria honra. Embora ele planejasse divorciar-se281 dela, e isso secretamente, José não o fez de imediato. William Hendriksen faz o seguinte comentário282:

    Ele amava Maria e queria tê-la consigo como sua esposa, porém, acima de tudo, ele era um homem justo (cf. Jó l .8; Lc 1.6), um homem de princípios, que de todo o coração queria viver de conformidade com a vontade de Deus, o Deus que levava tão a sério a quebra dos votos matrimoniais. Contudo, José era também um homem bom. Segundo o costume da época, duas avenidas se abriam diante dele: (a) estabelecer uma demanda judicial contra Maria; ou (b) entregar-

    279 O eufemismo é um recurso gramatical e literário que tem como objetivo suavizar o significado de uma palavra. Por exemplo: para não soar rude dizendo que José e Maria “tiveram relações sexuais” (o que expõe a intimidade de um casal de forma indevida), Mateus diz que eles “não se conheceram”, subentendendo “conhecer intimamente”. 280 Cf. GINGRICH-DANKER, 1993, p. 47. 281 A expressão “resolveu deixa-la secretamente”, não quer dizer que ele estivesse escondendo-a para protege-la, mas, sim que realmente queria se divorciar dela. O verbo “deixar” aqui é ἀπολύω e além de significar “libertar, perdoar, livrar, deixar ir”, eufemisticamente, como aqui em Mt 1.19, significa “divorciar”. 282 HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p.187.

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    lhe uma carta de divórcio, despedindo-a silenciosamente, ou seja, sem envolvê-la em qualquer procedimento judicial (ver Dt 24.1,3 e Mt 5.32).

    Escolhendo a segunda alternativa, “Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo” (v.20). Deus nunca deixa os Seus servos sem a compreensão dos Seus propósitos santos na vida de cada um deles. Ao chamar José de “filho de Davi”, o anjo lhe mostra que o Messias que estava sendo gerado no ventre de Maria receberia da parte de José a linhagem de Davi. E assim, mais uma vez Mateus mostra que em Jesus essas profecias se cumpriram. O anjo lhe diz para não temer levar Maria para sua casa e toma-la por sua mulher que de fato era, pois, tudo o que estava acontecendo era a concretização da profecia mais importante da história humana. Assim, o anjo tranquiliza José mostrando-lhe que Maria não foi infiel, mas, sim, fazia parte de um plano maior: trazer ao mundo o Salvador.

    A razão de tudo isso No v.21 lemos: “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles”. Jesus Cristo veio ao mundo para salvar o povo de Deus (os eleitos Dele) “dos pecados deles”. É certo que temos outros inimigos: Satanás e seus demônios, o sistema corrupto e corrompido deste mundo, a morte, mas, todos estes inimigos só tem força sobre nós por causa de outro inimigo, o principal, que nos destrói gradativa e totalmente, a saber, o pecado. Jesus veio para destruir o pecado e nos dar a salvação. A nossa salvação, desde o Antigo Testamento é descrita como um ato exclusivamente Divino. Não tínhamos (e não temos) em nós mesmos qualquer condição de nos salvar. Não Deus tomar a iniciativa, ainda estaríamos mortos em delitos e pecados (cf. Ef 2.1). Mas o que significa “ser salvo”? ✓ Ser liberto do maior de todos os males – a culpa, a corrupção, o poder e o castigo do pecado; ✓ Receber a posse do maior de todos os bens, a vida eterna. Não podemos nos esquecer que ninguém há que seja salvo do pecado, sem que também o seja para uma vida de santidade e pureza. Não faz sentido alguém dizer que é salvo em Cristo Jesus e continuar no mesmo estilo de vida pecaminoso e corrompido de outrora.

    A base de tudo isso Nos v.22-23 Mateus mais uma vez declara que em Jesus se cumpria as profecias do Antigo Testamento referentes ao Messias (Cristo), e aqui especificamente, a de Is 7.14. A expressão “...para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta” é emblemática no Evangelho de Mateus, mostrando que Deus está no controle de tudo como podemos ver no contexto de Is 7.14. Um pouco mais de sete séculos antes de Cristo, uma coligação entre o rei de Israel (Peca) e o rei da Síria (Rezin) foi feita para derrubar o rei de Judá, Acaz, e sua dinastia. Se tal plano tivesse dado certo, a dinastia davídica estaria arruinada, e o Messias não teria como vir ao mundo, pois, é dito que o Messias é “filho de Davi” (Mt 1.1). Mas, a história é o palco da vontade de soberana de Deus. Quem determina os atos dessa peça é o Seu Autor Divino e não as personagens.

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    Os nomes do menino O anjo deixou bem claro que Seu nome seria Jesus. Esta é a variação grega do nome hebraico Josué, que significa “YAHWEH é Salvação”. Havia muitos meninos judeus com o nome “Josué”, mas, somente o filho de José e Maria tinha um título que se tornou Seu nome: Cristo. Assim, “Jesus” é o Seu nome humano, e, “Cristo” (“Ungido”), é o Seu título divino, porque Ele é o Deus-Homem. Há um outro Nome mencionado aqui em relação a Jesus Cristo: Emanuel, que quer dizer “Deus conosco” (cf. Is 7.14; 8.8). Todas as religiões alimentam a esperança de um dia um de seus deuses por os pés neste mundo. Algumas (como a mitologia grega) até se atrevem a afirmar que isto aconteceu. Contudo, somente o Evangelho e o “povo do livro” (Bíblia) pode ter a certeza que o Seu Deus um dia esteve aqui. Jesus Cristo seria chamado, reconhecido como o “Deus conosco”. Ele tem as Suas mãos uma em Deus e outra em nós (1Tm 2.5); Nele as duas naturezas, a Divina e a Humana coexistem em perfeita harmonia (Cl 2.9).

    A obediência e o caráter de José Os v.24-25 encerram destacando a obediência completa de José que pode ser classificada como: inteira, interna e imediata. Ele não ficou questionando e nem mesmo duvidou do que o anjo lhe falara em sonho. Em vez disso, “fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu sua mulher” (v.24). Além disso, assim que o menino nasceu, ele cumprindo a ordem divina, Lhe pôs o nome de Jesus. Matthew Henry diz283:

    Note que aquilo que é concebido pelo Espírito Santo nunca fracassa, mas certamente será trazido à luz em seu devido tempo. O que é da vontade da carne e da vontade do homem, frequentemente fracassa; mas, se Cristo estiver consolidado na alma, o próprio Deus inicia a boa obra que Ele realizará; o que é concebido na graça, sem dúvida nascerá em glória.

    Mas, também é digno de nota o seu caráter. Ele não teve relações sexuais com Maria enquanto ela esteve grávida. As razões para isso não nos são informadas nas Escrituras, mas, com toda certeza José estava agora demonstrando sua preocupação com o menino Jesus. Para que ninguém acusasse que Jesus era filho de José, humanamente falando, José poderia alegar com sã consciência que ele não havia coabitado com sua esposa enquanto o menino não nasceu. O caráter de José exalta a glória de Deus. Quanto à afirmação infundada da “perpétua virgindade de Maria” apregoada pela igreja de Roma, não devemos tomar nosso tempo com fábulas. O exercício imaginativo que esta igreja faz para garantir que Maria seja digna de louvor e veneração passa dos limites do absurdo. O texto aqui é claro em dizer que José não teve relações sexuais com a sua esposa “enquanto ela não deu à luz”, o que deixa implícito que depois eles viverem maritalmente como qualquer outro casal, vindo, inclusive a ter outros filhos (Mt 12.46; 13.55-56; Mc 6.3; Jo 7.3,5; At 1.14). Ao tomar Maria como sua esposa, José levou seu filho como seu filho adotivo; é assim que Jesus tornou-se o herdeiro legal do trono de Davi.

    283 HENRY, 2008, vol.5, p.8.

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    Aplicação prática O Evangelho é a história da nossa salvação efetuada por Deus através de Jesus Cristo, o Seu Filho amado. Ele nos comprou do nosso antigo senhor e dono, o pecado, com Seu sangue precioso, e, nos transformou em Seus servos. Nunca seremos livres. Outrora éramos escravos do pecado; hoje somos de Cristo. Aleluia! E isto implica como vimos, num viver santo diante Dele. Ninguém há que tendo sido salvo por Cristo continua escravo do pecado. Devemos abandonar todo o nosso ímpeto de autojustiça. Que a exemplo de José, não saiamos impulsivamente defendendo nossa honra às custas de infamar outras pessoas. Que busquemos em Deus a nossa defesa, e não só isso, mas, também o esclarecimento dos fatos.

    Questões para reflexão 1) Deus tem Seu plano especial para as famílias. Foi no contexto de uma família que o Seu Filho veio

    ao mundo. Como essa verdade deve ser apresentada àqueles que não só desvalorizam a família como até mesmo militam contra essa sagrada instituição?

    2) Quando você está diante de uma situação em que há possibilidade de infamar alguém, qual é a sua atitude? Você se empenha em não espalhar o assunto, ou faz questão de trazer o assunto à tona?

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    O Evangelho de Jesus, O Messias Salvador e Rei Servo

    Textos Correlatos Mt 1 – 2; Lc 1 – 2; 3.23-38; Jo 1.1-14 Esboço I – Prólogo (Mt 1 – 2) 1.3. O nascimento do Rei (Mt 1.18—2.23)

    1.3.1. O anúncio a José e o nascimento de Jesus (Mt 1.18-25) 1.3.2. A adoração dos magos (Mt 2.1-12)

    A Adoração dos Magos

    Mt 2.1-12

    Introdução No Cap.1 vimos que em cumprimento à promessa de Deus a Davi em 2Sm 7.12-13, Jesus é o herdeiro legítimo do trono de Davi, Mateus O apresentou como o Rei cuja procedência é divina, pois, Jesus é o Cristo de Deus, e, humanamente, descendente de Davi (Mt 1.1). Enquanto o Cap.1 diz que Ele merece as honras por ser o Rei Eterno que é, o Cap.2 mostra que Ele a recebeu. Como Rei que Ele é, honra, glória e louvor devem ser atribuídos a Ele. E é justamente disso que se trata este trecho do livro de Mateus: (1) adoradores chamados de longe (os magos do Oriente); (2) adoradores de perto que desprezaram o seu chamado (os sacerdotes e escribas); (3) adorador falso e fingido que pediu para ser chamado (Herodes). Mas, antes de nos voltarmos para esses três pontos importantes, vejamos alguns erros associados a este momento da vida terrena do Salvador que precisam ser corrigidos.

    Erros na interpretação desta passagem Observe bem essa gravura que retrata a visita dos magos do Oriente ao menino Jesus. O

    que há de errado com essa gravura em comparação com o relato bíblico? 1) Três? Reis? A Bíblia não faz qualquer afirmação sobre o número de magos que vieram adorar a Jesus, nem mesmo que eram reis. Geralmente, associa-se o número deles ao número dos presentes dados: “ouro, incenso e mirra” (v.11). Mas, isso não serve de base284. Eles eram ricos, mas, isso também é insuficiente para afirmar que eram reis; e utilizar o Sl 72.10 e Is 60.3 para afirmar que eles eram “reis”, é, no mínimo forçar o texto. A designação “magos” refere-se a “astrônomos” ou “astrólogos”285, homens respeitados em sua cultura e sociedade.

    284 Ainda há os que apresentam os nomes deles: Melquior, Baltazar e Gaspar, um veio da Índia, outro do Egito e outro da Grécia. Tal afirmação é simplesmente ridícula e sem qualquer fundamento lógico e histórico. 285 Não se deve com isso pensar que há aqui uma aprovação Divina para a prática da astrologia. Enquanto a astronomia é uma ciência séria que estuda os astros celestes, a astrologia sempre foi considerada uma superstição mentirosa e condenada

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    2) Na estrebaria? Um bebezinho? Embora no v.2 os magos perguntaram “Onde está o recém-nascido Rei dos judeus?”, o relato aqui nos mostra que Jesus já tivesse um ou dois anos, pois, porque Herodes mandou assassinar os menores de “dois anos” (v.16)? Ainda que isso possa ser explicado com o caráter cruel de Herodes286, não faz sentido algum matar meninos de dois anos se o alvo era um recém-nascido naquela noite como sugere esta imagem. Eles não encontraram Jesus, Maria e José na estrabaria, mas, sim, “na casa” (v.11). Além disso, o v.7 nos mostra que na ocasião do nascimento de Jesus a estrela apareceu, e, por isso, a atenção dos magos foi chamada para um evento muito importante: o nascimento do Rei dos judeus. Então eles foram para a Judeia para encontrar o tal Rei. A viagem do Oriente287 até a Judeia levou algum tempo, possivelmente, alguns meses.

    Desfeitos esses erros vejamos outras informações do texto que são muito importantes.

    Antecedentes à visita dos magos Comparando o relato de Mateus com o de Lucas nesse período da vida de Cristo, vemos que Mateus nada fala sobre os pastores, os anjos, o cântico de Simeão e a profetiza Ana, entre outros detalhes. Matthew Henry destaca que embora Jesus fosse o “Desejado das nações”, Seu nascimento passou despercebido aos olhos dos judeus. Ele diz288:

    Se o Filho de Deus devia vir ao mundo, poderíamos, com toda razão, esperar que fosse recebido com o maior cerimonial possível, que coroas e cetros se colocassem imediatamente aos seus pés e que os soberanos e os poderosos príncipes do mundo se tornassem seus humildes servos; um Messias assim era o que os judeus esperavam, mas não foi isso que aconteceu. Ele veio ao mundo e o mundo não o conheceu, isto é, Ele veio para o Seu povo, mas o Seu povo não o recebeu.

    Depois do nascimento de Cristo, os primeiros a tomar conhecimento do fato foram os pastores (Lc 2.15), que anunciaram aos outros as coisas maravilhosas que viram (Lc 2.17-18). Oito dias depois, quando Jesus foi apresentado no templo, o velho e piedoso Simeão foi o próximo a falar se manifestar reverentemente diante do Rei (Lc 2.25-35). Por fim, a anciã profetiza Ana “chegando naquela hora” (Lc 2.38), isto é, nos primeiros dias de vida encarnada do Senhor Jesus, “dava graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém”. Tudo isso corrobora com o que dissemos sobre a ocasião da visita dos magos, ou seja, que se passaram quase dois anos em Belém sem que Jesus recebesse atenção até a chegada dos magos. Como disse Matthew Henry289:

    Na verdade, nada iria despertar aqueles que estavam resolvidos a ser indiferentes. Ó, incrível estupidez a desses judeus! E também dos muitos que ostentam o nome de cristãos!

    por Deus (Dt 4.19). Contudo, esses magos eram mais astrônomos que astrólogos. Além disso, não podemos esquecer que eles eram pagãos. 286 Ele ordenou a morte da própria esposa e dos dois irmãos dela por suspeitar de traição. Casou-se pelo menos nove vezes, a fim de satisfazer sua luxúria e de fortalecer alianças políticas (WIERSBE, 2006, vol.5, p.15). 287 A designação “Oriente” (ἀνατολή) é bem indefinida. Muitos afirmam que é a Pérsia, outros, a Babilônia, e ainda outros o extremo oriente asiático. Se tomarmos ἀνατολή como “Anatólia”, uma das sete regiões da Turquia, então teremos uma identificação mais precisa. 288 HENRY, 2008, vol.5, p.8. 289 Ibid, p.8.

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    Símbolos e seus significados Três elementos aqui nesta narrativa são símbolos que vão além de si mesmos e nos comunicam uma mensagem preciosa: os magos, os presentes que eles deram a Jesus e o lugar do nascimento de Jesus, Belém. Os magos Como já vimos, estes homens eram pessoas respeitadas em sua sociedade e cultura. Eram tidos como “sábios”, pois, por seus estudos astronômicos (e astrológicos) conseguiam entender os acontecimentos neste mundo (foi observando essa estrela de fulgor e comportamento ímpar que entenderam que o Rei dos judeus havia nascido). Mas, o que é mais importante no que diz respeito a estes homens é que, sendo eles gentios, e, portanto, pagãos cujos rituais eram centrados nos elementos da natureza290. Eles não eram charlatães. Eram estudiosos que criam piamente ser possível entender os acontecimentos aqui neste mundo com relação a posição dos astros. A questão que surge aqui é: como esses magos ficaram sabendo das profecias do nascimento do Rei dos judeus se eles não eram judeus? William Hendriksen levanta uma hipótese que merece nossa atenção. Ele lembra que nos cativeiros do povo de Deus ocorridos séculos antes, o cativeiro assírio (721 a.C.) e o babilônico (608 a.C.) os judeus espalharam sua fé na promessa de que um dia viria o Messias para libertar definitivamente o Seu povo291. Quer esses magos tivessem vindo do norte da Mesopotâmia (Assíria, Pérsia, Turquia) ou do sul da Mesopotâmia (Babilônia), em todos esses lugares, os judeus estiveram e com certeza propagaram a sua fé. Contudo, o que mais importa sabermos sobre esses magos é o que (ou quem) eles tipificam aqui. Em Lc 2.30-32, em seu belíssimo cântico, Simeão diz que Jesus é a “salvação a qual preparaste diante de todos os povos; luz para revelação aos gentios”. Esses magos eram gentios, e como afirma Matthew Henry, eles exemplificavam aqueles que estavam (e ainda estão) distantes, a quem Cristo haveria de atrair a Si mesmo. Assim sendo, aqueles magos nos representam como gentios que haveriam de ser salvos por Cristo! Os presentes dados a Jesus Eles abriram seus tesouros, e dali tiraram ouro, incenso e mirra. No nascimento dos filhos dos reis era costume presenteá-los com ouro e incenso, mas aqui, algo mais foi dado: mirra. Esses três presentes juntos têm o propósito de honrar e adorar o Rei dos reis. Separadamente, cada um tem seu significado. O ouro simboliza a Divindade e a Glória de Cristo; o incenso é um unguento ou perfume, e sugere a fragrância da vida perfeita e sem pecado de Jesus; mas, a mirra é uma erva amargosa, que expressa os sofrimentos que Ele suportaria carregando os pecados do mundo. Isto tudo é cumprimento das profecias do Sl 72.10 e Is 60.3-6. Esses presentes transformaram-se em recursos para a viagem e estadia no Egito, onde Cristo ficou até a morte de Herodes (Mt 2.15). O lugar do nascimento de Jesus Muito mais do que distinguir em qual Belém Jesus nasceu (havia mais de uma, por exemplo, a Belém na tribo de Zebulom, Js 19.15), o que está em destaque aqui é o cumprimento exato da profecia de Mq 5.2.

    290 Cf. MACDONALD, 1998, vol.2, p.13. 291 Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p.213

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    Belém quer dizer “casa do pão”. E assim não havia lugar mais propício para nascer Aquele que é “o pão da vida”, o “verdadeiro maná”, “o pão vivo que desceu do céu”.

    Os adoradores chamados de longe: os magos (v.1-2,9-12) Como já vimos esses magos tipificam os gentios eleitos por Deus de todas as eras, porque a salvação também é para os gentios. Ainda que estivessem a observar as estrelas e percebido que uma estrela especial indicava um acontecimento há muito esperado, ali vemos a mão de Deus chamando pecadores à salvação e à adoração do Único e Verdadeiro Deus. A salvação dos pecadores é obra exclusiva da Graça de Deus. Os pecadores são chamados por Deus. De outra forma nunca serão salvos. Atendendo ao chamado de Deus em seus corações (ainda que não o soubessem, provavelmente), estes homens saíram em busca de Cristo, provando assim terem a verdadeira sabedoria, a saber, buscar o Senhor Jesus, “em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Cl 2.3). Essa busca tinha o propósito mais nobre que possa existir no coração de uma pessoa: adoração e rendição total a Deus. Os verdadeiros adoradores são procurados por Deus (Jo 4.23), e, quando por Ele encontrados O buscam de todo o coração (cf. v.2) rendendo-Lhe todo louvor, honra e glória que Lhe são devidos (cf. v.11).

    Os adoradores de perto que desprezaram o seu chamado: os sacerdotes e escribas (v.3-6) Os judeus, tanto do povo (“toda a Jerusalém”, v.3) quanto o Sinédrio (principais sacerdotes e escribas), aqueles que faziam parte do povo de Deus, o povo de Israel o qual recebera os “oráculos de Deus” (Rm 3.2), que eram capazes de recitar textos das Escrituras Sagradas referentes ao Messias (cf. v.5-6), mas, que, estando tão próximos do Messias (uns dez quilômetros), mesmo tendo diante de seus olhos tamanha evidência, sequer se dispuseram a ir até ao Messias para adorá-Lo. Enquanto os magos gentios se dispuseram a viajar de longe para adorar ao Messias, os judeus não se importaram com Cristo. “Muitas vezes aqueles que estão mais próximos aos meios estão mais longe do fim”292 (cf. Mt 8.11-12). Como é lamentável ver que à semelhança dos judeus, muitos que nasceram dentro da Aliança de Deus com Seus filhos, foram batizados, até professaram em algum grau a sua fé, sabem partes das Escrituras, mas, estão tão distantes de Cristo mesmo estando tão próximos! A exortação de 2Co 13.5 de estar sempre diante de nossos olhos e seriamente refletida pelos nossos corações: “Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados”.

    O adorador falso e fingido que pediu para ser chamado: Herodes (v.7-8,12) Herodes apresentou-se como um pretenso adorador, mas, suas motivações eram escusas e ímpias, como veremos nos próximos estudos. Pediu para que fosse informado onde estava o Rei dos judeus para “também ir adorá-lo” (v.8), mas, sua intenção era acabar com Aquele de quem ele pensava tratar-se de um sério concorrente ao seu trono. Herodes não era um judeu puro, mas, um idumeu, um descendente de Esaú, o que mostra aqui que este conflito é antiquíssimo, já dos tempos de Esaú e Jacó. Ele viu seu trono ameaçado por um legítimo “Rei dos judeus”, e por isso, tratou logo de acabar com este possível concorrente.

    292 HENRY, 2008, vol.5, p.9.

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    Assim como Herodes há muitos que buscam a Deus, mas, são fingidos, e, portanto, falsos adoradores. Suas intenções não são de vida, mas de morte.

    Aplicação prática Olhando para as três “categorias” de adoradores apresentados aqui, a qual delas você pertence? Sua devoção a Cristo assemelha-se à dos magos: sincera, abnegada e dedicada e que foi recompensada com o verdadeiro conhecimento de Cristo? Ou à dos sacerdotes e escribas: com profundo conhecimento das Escrituras, mas, vazia do conhecimento de Cristo? Ou à de Herodes: fingida, inescrupulosa e com motivações torpes?

    Questão para reflexão 1) Como você responderia a alguém que diz acreditar na astrologia, especialmente por saber que no

    nascimento de Jesus, homens que se davam a essas práticas estavam lá dando a entender assim que a astrologia é permitida por Deus?

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    O Evangelho de Jesus, O Messias Salvador e Rei Servo

    Textos Correlatos Mt 1 – 2; Lc 1 – 2; 3.23-38; Jo 1.1-14 Esboço I – Prólogo (Mt 1 – 2) 1.4. O nascimento do Rei (Mt 1.18—2.23)

    1.4.1. O anúncio a José e o nascimento de Jesus (Mt 1.18-25) 1.4.2. A adoração dos magos (Mt 2.1-12) 1.4.3. As três últimas profecias da Infância de Jesus (Mt 2.13-23)

    As Três Últimas Profecias da Infância de Jesus

    Mt 2.13-23

    Introdução O trecho do Evangelho segundo Mateus que veremos hoje narra três situações: a fuga da família de Jesus para o Egito (v.13-15), a matança dos inocentes (v.16-18), e a volta da família de Jesus para Nazaré (v.19-23). Estes três momentos são profecias a respeito de Jesus referentes à Sua infância, as quais se cumpriram, e, como sempre, Mateus registrou aqui o cumprimento dessas profecias.

    “Do Egito chamei o meu Filho” Assim que os magos partiram voltando por uma rota bem diferente para se desviarem de Herodes, pois, foram advertidos divinamente para assim fazerem (v.12), José também recebeu ordens de um anjo do Senhor para fugir com Maria e Jesus para o Egito para livrar o menino das garras do cruel Herodes que queria mata-lo. “A terra que antes fora um lugar de opressão, agora é um refúgio para o qual a sagrada família pode ir, livrando-se do perigo”293. José recebeu a ordem de Deus de lá permanecer com o menino Jesus e Maria até que fosse avisado por Deus (v.13), porque Herodes queria matar o menino e haveria de procura-lo para isso. Assim, o que Simeão dissera sobre uma espada atravessar a alma de Maria (Lc 2.34-35) começava a acontecer. Aquele menino atrairia para si o ódio do mundo (Jo 15.18), e ainda tão tenro e pequeno isso já começava a acontecer em sua vida. Como sempre, José não questionou a ordem – ele nos é um exemplo de crente que obedece sem questionar. Estrategicamente, partiu à noite, pois, poucas pessoas viajavam, o que também diminuiria consideravelmente as chances de serem reconhecidos e delatados a Herodes. Nada é registrado sobre a chegada, hospedagem e outros detalhes da estada no Egito294. Quanto ao tempo que permaneceram ali William Hendriksen admite que295:

    293 TESKER, 2006, p. 33. 294 Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p. 252. 295 Ibid, p. 252.

    Estudo 05

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    De todas as opiniões que se têm expresso acerca desse tema, aquele segundo a qual o nascimento de Jesus ocorreu no último ano da vida de Herodes, e a volta do Egito ocorreu pouco depois da morte desse rei (“onde permaneceu até a morte de Herodes”), parece ser a melhor.

    Naqueles tempos havia muitos judeus morando no Egito. Isso facilitaria um pouco a vida deles ali por quanto tempo fosse necessário ali passarem. Soma-se a isso o fato de que o Egito não era tão longe, o que seria próprio haja vista Maria ainda estar se recuperando do parto e o menino ser ainda tão tenro. Além disso, os presentes dados pelos magos proveriam as necessidades deles. Mas, o mais importante a ser destacado aqui é que a fuga para o Egito tratava-se de uma profecia de tinha de ser cumprida: “Do Egito chamei o meu Filho” (v.15). Essa profecia foi anunciada por Oséias (Os 11.1), que diz: “Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho”. Aparentemente não há nenhuma profecia no texto de Oséias em relação a Cristo. Contudo, devemos entender que aqui em Mt 2.15 há algo mais que uma tipologia296. Israel não é aqui um “tipo de Cristo”, pelo contrário, a conexão que Mateus faz aqui com Israel e Cristo se dá pelo fato de que Cristo descendeu humanamente falando do povo de Israel. Se Israel tivesse sido destruído no Egito quando lá foi escravo por mais de 400 anos e deixasse de existir, todas as promessas messiânicas e seus cumprimentos estariam fatalmente comprometidos. Assim como Deus livrou Israel das garras do Egito, o menino Jesus também foi livrado das garras de Herodes. O que nos chama atenção aqui é o fato de que Deus tem tudo sob Seu controle e se Ele quiser se valer até mesmo de um inimigo (no caso, o Egito) para executar o bem do Seu bem, Ele o faz, sem com isso comprometer a santidade do Seu caráter, como afirma Matthew Henry297:

    Veja que Deus, quando assim deseja, pode fazer com que o pior lugar do mundo possa servir aos melhores propósitos, pois a terra pertence ao Senhor e Ele faz com ela o que bem entende. Às vezes a terra ajuda a mulher (Ap 12.16). Deus fez de Moabe o refúgio dos seus proscritos, transformou o Egito em refúgio para o seu Filho.

    “Era Raquel chorando por seus filhos e inconsolável porque não mais existem” Provavelmente, não muitos dias depois que os magos partiram, “Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente, mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos” (v.16). Este homem perverso que em toda a sua vida nunca teve autocontrole, não tinha por que agir diferente agora. Por isso mesmo tomou uma decisão drasticamente exagerada: matar todos os meninos menores de dois anos da cidade de Belém e arredores. Como observa William Hendriksen, a fúria de Herodes era consigo mesmo, que, pelo seu descontrole pessoal descontou em crianças inocentes e indefesas. Sim, ele estava irado consigo mesmo, ao ver que a sua astúcia tornou-se um fiasco, pois, pensava ele que os magos haveriam de obedecê-lo. Mas, esses magos foram divinamente orientados a não voltarem para Jerusalém ao encontro de Herodes (v.12)298. O pecado cega o ser humano; torna-o um imbecil e louco. Herodes foi incapaz de perceber a mão de Deus atuando em cada momento da história. Não era a astúcia de quem quer que fosse, mas,

    296 Tipologia ou Tipo, são os eventos históricos ou pessoas do Antigo Testamento que antecipam simbolicamente eventos históricos ou pessoas do Novo Testamento. Por exemplo: quando se diz que alguma personagem do Antigo Testamento é “um tipo” de Cristo, isto quer dizer que o que esta pessoa foi ou fez simboliza o que Cristo foi e fez. 297 HENRY, 2008, vol.5, p.13. 298 Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p.255.

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    sim, a vontade de Deus que prevalecia (e prevalece) sempre. Não foi a sabedoria dos magos que os fez mudar o caminho de volta, pois, por serem homens inteligentes, sabiam que o rei poderia vir contra eles caso desobedecessem. Mas, foi a divina advertência que os fez mudar o curso da viagem, e eles temeram ao Rei dos reis, e não a um déspota arrogante. Herodes experimentou o fracasso pela segunda vez quando ordenou a matança dos inocentes. Enquanto ele matava esses pequenos, o seu alvo, o menino Jesus estava a salvo no Egito. Voltemos nossa atenção à profecia: “Então se cumpriu o que fora dito por intermédio do profeta Jeremias: Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto [choro] e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e inconsolável porque não mais existem” (v.17-18). Alguns fatos são importantes para entendermos essa profecia aqui e o uso que Mateus fez de Jr 31.15. O primeiro diz respeito à localização da cidade de Ramá ficava na divisa entre os dois reinos, Israel e Judá (1Rs 15.17; 2Cr 16.1). Situada cinco quilômetros ao norte de Jerusalém. Por causa de sua localização ela representava aqui os dois reinos (Israel num todo). O segundo fato é o conteúdo de Jr 31. Este capítulo ainda que descreva a dor e desolação causadas pelos babilônios ao invadirem Jerusalém e matar a muitos e levar cativos a tantos outros, este capítulo é riquíssimo em consolação, especialmente mostrando que Deus haveria de consolar Seu povo por meio do Seu “Renovo de Justiça”. Diante disso é importante observarmos o uso que o profeta Jeremias faz do nome de Raquel, a esposa preferida de Jacó. A primeira vez que Belém é mencionada nas Escrituras é em referência à morte e sepultamento de Raquel, cuja morte foi provocada no parto de seu segundo filho, Benoni (“Filho do meu sofrimento”), a quem Jacó depois mudou o nome para Benjamim (“Filho da minha destra”), Gn 35.16-20. Nos dias de Jeremias, quando este profeta lamentava sobre o povo de Judá e os alertava sobre o iminente castigo que lhe sobreviria (o cativeiro babilônico), assim como o castigo que viera a Israel (cativeiro assírio), o profeta ao ver os filhos de do povo, especialmente os jovens e adolescentes sendo arrastados como escravos, Jeremias lança a imagem de Raquel, aquela que tanto queria filhos, como que se ela estivesse a ver seus tão amados filhos sendo levados como escravos e outros sendo mortos, e, por isso ela pranteava. É só uma figura de linguagem que Jeremias estava usando. O paralelo produzido por Mateus é muito claro. Em decorrência da matança das crianças de Belém, ele faz o mesmo uso figurado que Jeremias fez da “mãe Raquel” chorando outra vez, essencialmente pela mesma razão. Esses filhos também foram brutalmente assassinados. Dessa vez a potência mundial que os destruiu não foi Assíria, nem Babilônia, e, sim, Edom (que é Esaú, irmão de Jacó), representado pelo cruel rei Herodes. Os meninos de Belém, de dois anos para baixo, foram assassinados. O menino que era o alvo principal da ira da Herodes foi levado para o exílio. Ele está fugindo para o Egito. Não obstante, também no presente caso há uma ampla medida de consolação para aqueles que perderam seus filhos infantes. Esse consolo está centrado no mesmo “Renovo de Justiça” mencionado por Jeremias. Ele voltará prontamente ao Egito a fim de salvar a todos aqueles que depositam Nele a sua confiança. Então Raquel não deve mais desanimar-se. Ao regressar, o Soberano nascido em Belém um dia pronunciará as consoladoras palavras: ‘‘Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Ml 11.28). Também dirá: ‘‘Deixai vir a mim os pequeninos: não os impeçais; porque a eles pertence o reino de Deus” (Mt 19.14)299. Alguns comentaristas como Warren Wiersbe entendem que não foram centenas e milhares de crianças assassinadas. Na pequena Belém e arredores, não viviam mais que vinte mil habitantes, e

    299 Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.1. p.262.

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    por isso, o número de crianças assassinadas, não passou duas ou três dezenas300. É claro que uma só criança já teria sido demais! Jacó viu Belém como um lugar de morte, mas o nascimento de Jesus transformou-a num lugar de vida! Hoje, poucas pessoas associam Belém a um lugar de morte e sofrimento; em vez disso pensam nela como o lugar onde Cristo nasceu!

    “Ele será chamado Nazareno” Esta é última profecia deste trecho do livro e dos primeiros anos da vida de Jesus. Somos informados de imediato sobre a morte de Herodes. As causas da sua morte nos são desconhecidas, apesar de muitas conjecturas sobre a mesma serem levantadas301. Herodes foi um homem perverso e sua vida é marcada por tantas situações carregadas de maldade. Pouco antes de morrer ele ordenou os principais homens de seu reino se apresentassem a ele, e quando assim fizeram foram presos no hipódromo de Jericó onde foram assassinados. Com isso Herodes pretendia que houvesse pranto na ocasião de sua morte, ainda que esse pranto não fosse por causa da sua morte. Seu filho, Antipater chegou a tramar a morte de seu pai por ver que se demorava muito para ele assumir o trono no lugar dele. O próprio Herodes deixou claro o quão perturbado ele era, pois, tentoU suicidar-se com uma faca enquanto descascava uma maçã. Mas, um dia, a morte veio. Não quando o déspota arrogante a quis, ou quando seus inimigos a quiseram, mas, quando Deus, o Rei dos reis quis. Em seu lugar, como rei da Judeia ficou Arquelau. E nessas circunstâncias, um anjo aparece a José em sonho lá no Egito (v.19) e lhe disse: “Dispõe-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel; porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino” (v.20). E como sempre, José mais uma vez obedece sem qualquer questionamento, e assim, regressou com eles para a Israel (v.21). Mas, apesar de morto Herodes, a Judeia não era segura para eles. Novamente, “por divina advertência prevenido em sonho” (v.22) José se retira com o menino Jesus e Maria para as regiões da Galileia, vindo a habitar “numa cidade chamada Nazaré” (v.23). E assim, José regressou à sua cidade natal (Lc 2.4). Diante de tudo isso não podemos perder de vista que todos os fatos aqui apontavam para um só propósito: “para que se cumprisse o que fora dito por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno” (v.23). Porém, aqui temos uma questão. Qual profeta disse isso? Devemos ver que Mateus fala de “profetas”, no plural, ou seja, o testemunho de vários profetas, e, assim sendo as seguintes passagens do Antigo Testamento comprovam essa multiplicidade de profetas e profecias a respeito da vida de Jesus em Nazaré (Sl 22.6-8,13; 69.8,20,21; Is 11.1; 49.7; 53.2,3,8; Dn 9.26). Estes textos falam do desprezo que o Messias haveria de sofrer. E de fato, Nazaré não tinha qualquer prestígio entre os judeus como se constata nas palavras de Natanael em Jo 1.46 “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?”. Assim sendo, Mateus tinha em sua mente não só a profecia de um determinado profeta aqui, mas, sim, uma profecia cujo assunto era o desprezo que o Messias haveria de sofrer, profecia esta que foi repetida várias vezes no Antigo Testamento. Entendamos aqui “Ele será chamado de Nazareno” como “Ele será desprezado por causa de Sua cidade de origem” como de fato foi, mas também seria identificado como um nazareno. Pelo fato Dele ter sido criado em Nazaré ficou conhecido como nazareno; pelo fato de ter nascido em Belém de Judá, Ele também cumpriu as profecias referentes a este aspecto da Sua vida.

    300 Cf. WIERSBE, 2006, vol.5. p.15. 301 Ver HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p.263.

  • O Evangelho Segundo Mateus

    Introdução, Análise e Aplicações Práticas Rev.Olivar Alves Pereira

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    Aplicações práticas Os propósitos de Deus nunca poderão ser frustrados pelas ações dos homens. Até mesmo quando as ações malignas dos homes parecem atrapalhar o bem estar dos filhos de Deus, ou trazer-lhes dificuldades, o que deve ficar claro para nós é o fato de que Deus está no controle de tudo e até mesmo a maldade e perversidade dos homens ímpios cumprem o proposto de Deus. Quanto mais Herodes perseguia a Jesus, tanto mais Ele era levado para onde Deus queria que Ele estivesse. Diante disso podemos descansar no fato de que Deus está conduzindo todas as coisas em nossas vidas; tão somente, o que devemos fazer é ficarmos atentos às orientações divinas que Ele nos dá em Sua Palavra. Outra verdade que se destaca neste trecho do livro é a que diz respeito às três localidades/cidades: Egito, Belém e Nazaré. Vimos o significado de cada uma dessas localidades. O Egito representava o lugar da escravidão e do sofrimento; Belém representava o lugar de morte e luto; e, Nazaré, o lugar desprezível e quem se originasse