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IV SIMPÓSIO GÊNERO E POLÍTICAS
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
08 a 10 de junho de 2016
GT Transexualidades: subjetividades e relações institucionais
Gênero como categoria de analise das espacialidades da
Escola de Guardas Mirins em Ponta Grossa -Pr
João Paulo Leandro de Almeida(Universidade Estadual de Ponta Grossa – Mestrando em Geografia)
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IV SIMPÓSIO GÊNERO E POLÍTICAS PÚBLICASGT Transexualidades: subjetividades e relações institucionais
Gênero como categoria de analise das espacialidades da
Escola de Guardas Mirins em Ponta Grossa -Pr
João Paulo Leandro de Almeida1
Resumo: Este trabalho tem por objetivo compreender como a relação de gênero interfere naconstituição espacial da Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João' em Ponta Grossa –Pr. Instituição que a mais de 50 anos presta assistência a crianças e adolescentes componentesde famílias carentes. Criada a princípio para atender meninos no decorrer de sua históriapassou incluir meninas em suas espacialidades, como também outras necessidadesdemonstradas pela sociedade. Tratamos aqui de informações referente a discentes do ano de2013 que constituem informações cadastrais mantidas em um Banco de Dados Base, dandoatenção especial aos motivos de procurar a instituição. A forma de analisar estes se refere aouso de ferramentas computacionais que permite a identificação de palavras inerentes à analise,vindo a possibilitar a constituição de comunidades de palavras, posteriormente ouve umaredistribuição em sub-comunidades que contribui na observação de conexões que na redegeral não eram identificadas. Buscamos conectar com a relação de gênero oque veio a nosproporcionar a identificação da importância desta na composição da instituição conectado àfamília. Onde as mães tem papel fundamental demonstrado pelas expressões referindo-seprincipalmente a trabalho. Enquanto que os pais deixam a desejar, aparecendo juntamentecom palavras que encontram-se atualmente no desgosto social.
Palavras-chaves: Gênero; Espaço institucional; Guarda Mirim.
1 Universidade Estadual de Ponta Grossa; Mestrando em Geografia; [email protected].
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Introdução.
Este trabalho objetiva compreender como a relação de gênero interfere na
constituição espacial da Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João' em Ponta Grossa –
Pr. Como fonte de reflexão utilizamos os motivos de buscar apoio social, juntamente com
dados quantitativos do ano de 2013 que contempla informações das pessoas inclusas como
também de seus familiares que alimentam Bancos de dados Base Libre Office. Esta instituição
se coloca enquanto uma organização não governamental religiosa com estatuto próprio,
instituição civil sem fins lucrativos, de personalidade jurídica de direito privado na categoria
de organização, integrada à política educacional da infância e juventude. É uma unidade
departamental do Instituto Educacional Duque de Caxias (IEDC), que funciona como a base
administrativa de outras instituições que buscam atender socialmente dificuldades de famílias
carentes da cidade.
Nosso recorte temporal se limita ao ano de 2013 justificado pelo escopo do trabalho,
tendo como recorte espacial a Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João'. A escolha por
esta e não outra unidade departamental está conectada à posicionalidade do sujeito
pesquisador, que a alguns anos atrás se colocava dentre as pessoas assistidas. O que vem a
contribuir na compreensão das 'tramas locacionais' (GOMES, 1997), colocadas pela
diversidade constituinte daquele espaço, conectada a regras pré estipuladas
institucionalmente, espacial e temporalmente. O dispositivo inicial para a criação
institucional, foi dado por Epaminondas Xavier de Barros com o apoio de militares,
rotarianos, maçons, espiritas além de diversos componentes da sociedade, para reinserir
socialmente quinze meninos que se encontravam detidos na cadeia pública municipal, devido
a pequenos furtos e invasão de domicílios particulares na década de 1960. De acordo com
Barros (1999) em 1976 com alterações no Estatuto Institucional e sofrendo resistência social
foi aberta a possibilidade de ingresso de meninas no espaço que onze anos antes, fora criado
para meninos.
Na atualidade a Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João' funciona como
contraturno, com aproximadamente 270 pessoas assistidas entre 6 e 18 anos, crianças e/ou
adolescentes cadastradas de acordo com nomes civis, sendo cerca de 37% meninas e 63%
meninos. Embora que as questões que abrangem os cadastros das pessoas assistidas possam
ser consideradas limitadas para analisar a complexidade deste espaço, os motivos dispostos
nas matrículas de criança e/ou adolescente inseridos demonstraram ser abrangentes,
possibilitando a aplicação de parte dos procedimentos por ferramentas computacionais como
proposto por Silva e Silva (2016), para efetuar sua análise, baseando-se na centralidade dos
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sentidos que os enunciados expressam, ampliou a capacidade de interpretação, ficando clara a
conexão com as características familiares a partir dos agrupamentos. Esta técnica é baseada
em procedimentos com uso de uma sequência de softwares livres (LibreOffice, OpenRefine,
Gephi) atribuindo flexibilidade em sua aplicação, permite que na pesquisa supere a posição
baseada na dualidade sujeito objeto.
Ao se referir na relação de gênero como constituinte de um espaço institucional,
trata-se de observar a relação interescalar onde uma influência a outra e age sobre a outra.
Deste modo perpasso inicialmente por discussões referente ao gênero, ao 'sujeito' chegando a
estrutura institucionais e sua base funcional.
Desenvolvimento
O gênero enquanto categoria de análise foi proposto inicialmente pela historiadora
Joan Scott (1995), perpassando pelo significado da palavra gênero demonstra que intrínseco a
ela está a distinção de pessoas por suas características biológicas. No decorrer de seu texto
perpassa por três diferentes ondas do feminismo, a primeira se refere a luta efetuada por
mulheres na França, Inglaterra, Espanha e Estados Unidos no século XIX pela igualdade de
direitos políticos, civis e a educação. A chamada segunda onda se iniciou na década de 1960,
tendo como catalisadoras feministas francesas e norte-americanas. Enquanto as primeiras
tinham como foco a valorização das especificidades femininas frente à dualidade, as
posteriores intensificavam a busca pela igualdade denunciando a opressão masculina. A
terceira onda esta baseada nas obras de Michel Foucault e Jacques Derrida, canalizando o
enfoque ao sujeito passa a abarcar a compreensão do gênero relacional, enquanto categoria
relacional.
Seguindo esta ideia Louro (2004) efetua uma relação entre as marcas do corpo e as
marcas de poder, evidencia que todo ser humano antes mesmo de nascer, em sua primeira
aparição para os pais, o médico responsável pelo pré natal recebe a questão; É menino ou
menina? Ou ainda, mesmo sem ser questionado lança a resposta. No entanto, esta mesma
autora ao relatar sobre as drags queens dispõe uma afirmação colocada por uma delas que “o
corpo se fabrica”(LOURO, 2004 p.85).
Outra autora que efetua intensa discussão referente a gênero e sexualidade se refere a
Judith Butler, em seu texto publicado em 2003 ela observou que o exercício normativo da
identidade de gênero é ditada por regras anteriores ao sujeito, evidenciando o conceito de
performatividade insere que
(…) “o gênero não deve ser construído como uma identidade estável ou um locus deação do qual decorrem vários atos; em vez disso, o gênero é uma identidade
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tenuemente constituída no tempo, instituída num espaço externo por meio de umarepetição estilizada de ato” (fonte: BUTLER, 2003 p.200)
dos quais se estabeleceria a performaces continua dos corpos.
Neste mesmo sentido foi a afirmação de Beauvoir (1980) ao colocar que “nenhum
destino biológico, psíquico ou econômico define a forma que a mulher ou a fêmea humana
assume no seio da sociedade” (BEAUVOIR, 1980. p. 9), explicando a assertiva de que “não
se nasce mulher, torna-se mulher”. Deste modo podemos afirmar que feminilidades são
dependentes diretas das relações numa retroalimentação continua.
Se referindo a masculinidades, o trabalho de Connel (1995 p. 188) se referindo a
'masculinidade hegemônica' traz que “falar de posição dos homens, significa enfatizar que a
masculinidade tem a ver com relações sociais e também se refere a corpos – uma vez que
'homens' significa pessoas adultas com corpos masculinos”. Posteriormente Connell e
Messerschmidt (2013 p. 248), repensam o conceito e retirando a ideia de fixidez ao
deflagrarem que “as masculinidades não são simplesmente diferentes entre si, mas também
sujeitas a mudanças” desafiam ou se ajustam de acordo com a espacialidade e com as relações
de poder que neste se encontram.
Nitidamente de acordo com estas discussões o gênero é uma construção social
relacional, sendo “possível viver masculinidades em corpos considerados femininos e/ou
viver feminilidades em corpos considerados masculinos” como afirmado por Silva e Ornat
(2011 p.31). Retomando a ideia dualista numa perspectiva geográfica Silva (2003) coloca que,
a Geografia brasileira deixou a desejar frente a outras ciência sociais por haver certa
desconsideração às mulheres, tanto como constituinte do espaço, como enquanto produtoras
do conhecimento científico geográfico. Efetuando duras críticas a forma que este
conhecimento vinha e em parte vem sendo feito, faz um convite para o debate em contemplar
o conceito de gênero como categoria explicativa da produção do espaço.
Trata-se assim como necessário efetuar esta abordagem, não desconsiderando
meninas nem meninos na constituição espacial da Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio
João', mas sim compreendendo que o sujeito é imbuído também por característica
'generificada' pela sociedade, experienciando de forma diferente a vivência nestas
espacialidades. Porém através das guias referenciais teóricas devemos considerar também que
a relação de gênero também é uma relação de poder.
Falando do sujeito e do poder Foucault (1995) revela que a primeira palavra tem dois
sentidos, um é o que se submete ao outro por controle e dependência (relacional), e outro
sentido é o ligado à própria identidade pela consciência ou pelo conhecimento de si. Tendo o
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poder técnicas, sendo que uma delas se refere a lutas, estas acontecem por oposição a
dominação, por denúncia da forma de exploração e contrariando a submissão. Este autor
anteriormente (FOUCAULT, 1988) traz em seu texto Vigiar e Punir três partes que
demonstram intrínseca conectividade ao sujeito, á constituição do sujeito, a submissão e as
formas de controles institucionais para com o corpo são abordadas. Na sua terceira parte o
autor aborda as disciplinas, afirmando que elas obtiveram maior êxodo com a hierarquia.
Também é partindo delas que foram criados os espaços complexos, simultaneamente
arquiteturais, funcionais e hierárquicas.
Estrutura Institucional e uma lacuna.
A instituição deste estudo foi criada em 14 de julho de 1965 a partir de uma
conjuntura de pessoas com direcionamento positivista progressista, dentre estas militares,
maçons, rotarianos e espiritas liderados pelo Sr. Epaminondas Xavier de Barros (GODOY,
2007). Ferroviário, aposentado recém adentrado no espiritismo kardecista, tomou a ação de
retirar quinze meninos que estavam detidos na cadeia pública municipal, afim de possibilitar a
ressocialização de tais sujeitos dispôs a eles abrigo, comida e conhecimento. Desde então,
desenvolve atividades de apoio sócio caritativo a componentes de famílias carentes
distribuídas por toda a cidade. Em 2013 aproximadamente 200 meninas e meninos
encontravam-se enquanto compositores do quadro de pessoas assistidas, com indiferença de
gênero, sexualidade, raça/etnia ou qualquer outra categoria identitária para a acensão na
hierarquia militar adotada por ela desde seu princípio e disposto no Manual do Guarda Mirim.
Fundamentada de acordo com sua história relacional, adquiriu atributos defendidos
pelas diversas instituições e pessoas que contribuíram para sua criação e manutenção, está
baseada em três trinômios. De acordo com as conjunturas flexionadas por órgãos superiores
que por vezes tencionam a manutenção institucional, um ou outro trinômio se coloca com
maior evidência e por vezes demonstra-se pouco evidente. Na atualidade se refere ao
Trinômio Social, que segue uma lógica racionalista metafísica conectada a ideia de evolução
pessoal através do conhecimento, afim de viver em sociedade de acordo com suas leis. Para o
precursor da instituição é 'uma regra para o bem viver das pessoas na sociedade
contemporânea'2 contemplando como elementos as palavras: estudar, trabalhar e progredir.
O Trinômio Moral se refere a um arranjo da Disciplina, Hierarquia e Evangelização
Cristã. Os dois primeiros elementos se da pela inspiração no civismo, patriotismo e moral
militar, enquanto que o terceiro é advindo do espiritismo kardecista. Nesta situação a
2 Informação proveniente de diário de campo, com anotações desde 2013 com a reaproximação à instituição.
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instituição não se coloca como formadora de militares e/ou espiritas para a vida adulta, mas
sim de pessoas que venham a exercer a cidadania em sua plenitude. Porém, segundo Silva
(2005) o conceito de cidadania varia no espaço e no tempo com conectividade direta com o
Estado e carácter de 'inclusão total' na atualidade, ela é fruto da Revolução Francesa, da
Independência dos EUA e da Revolução Industrial, que também fora processos de exclusões e
a conquistas de direitos fora através de lutas e persistências. Tais direitos alimentam o
Trinômio Histórico abrangendo mesmo que subjetivamente a Liberdade, Igualdade e
Fraternidade.
A manutenção deste aparato metodológico pelas espacialidades da instituição é
constante, não de forma unitária, há conexões diversas entre os elementos, destacando aqueles
apropriados para cada espacialidade, tendo maior intensidade umas que outras dependendo
não apenas da instância interna da instituição, mas também da exterioridade através também
das necessidades sociais. Podemos então refletir sobre este espaço dialogando com a proposta
de Massey (2008), como sendo uma esfera de multiplicidade de sujeitos e de elementos
metodológicos, constituída por inter-relações de ambos e sempre em construção, onde a forma
de aplicação devem se adaptar a legalidade e ao movimento de pessoas, tendo constante
mudanças daquelas que são assistidas, pois quem não se adaptam à metodologia saem ou por
vontade própria ou pela sensação de outsider, não adaptando-se as regras institucionais.
Semelhante ao disposto por Foucault (1988), ela esta organizada piramidalmente com um
funcionamento em rede de cima para baixo, também se colocando ao inverso e lateralmente
sustentando o conjunto e perpassando os efeitos do poder, sendo os fiscais perpetuamente
fiscalizados dentre as pessoas assistidas, mesmo se colocando como 'superior' na relação de
poder.
No Manual do Guarda Mirim (2012) há direitos e deveres às pessoas assistidas, se
estabelece através do respeito a hierarquia militar, base que dialogá com a organização das
Forças Armadas e órgãos militares, logicamente que sem a rígidas e aplicação de força
constante, compõem o comando a ser seguido por integrantes sem exceção em sua estrutura
organizacional, determinando comportamentos para conquista de graduações superiores
dentre assistidos, partindo de Aprendiz Mirim a Capitão.
Em um estudo sobre os aspectos do cotidiano das mulheres militares, Silva (2007,
s/p) argumenta que “o quartel geralmente é caracterizado como um território exclusivo dos
homens”. Desde a inserção das mulheres nas Forças Armadas Brasileira na década de 80,
estas se limitam a funções administrativas. A autora destaca o carácter dual, baseado em
justificativas bio-psiquicas destas instituições. Mesmo que as mulheres enfrentem
8
dificuldades no espaço militar, estas conseguem flexibilizar a rigidez dualista, não deixando
de ser mulheres, nem passando a ser homens. O jogo de relações entre feixes de categorias
identitárias privilegia elementos masculinos em detrimento dos femininos, segundo
performances necessárias para a formação oficial militar.
Schactae (2013) conectar um espaço militarizado ao gênero considerando o espaço
institucional da Polícia Militar do Estado do Paraná (PMPR) como uma construção simbólica
que constitui divisões de gênero, demostra que as barreiras encontradas pelas mulheres no
acesso a este espaço são mais sólidas e reforçam uma construção histórica de divisão entre
masculino e feminino. Levando em consideração o capital simbólico, a autora demonstra que
as mulheres militares são vistas enquanto uma ameaça ao capital simbólico institucional,
conectado à corporalidade masculina. Isso justificaria limites colocados para a acensão delas
na hierarquia militar na PMPR. Deste modo, a prática militar parece não beneficiar mulheres.
Porém se a acensão na hierarquia militar não se coloca enquanto barreira com
distinções na Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João', abre a possibilidade para
novas configurações, nos últimos 10 anos duas meninas se colocaram como 'capitão feminino'
da instituição. Devemos compreender então que há uma identidade institucional na Escola de
Guardas Mirins 'Tenente Antônio João', porém ela é mais permeável à ascensão feminina na
hierarquia militar ainda que seu histórico esteja relacionado a sujeitos masculinos.
Deste modo as pessoas graduadas, principalmente as meninas experienciam uma
forma de 'espaço paradoxal', recordarmos assim Rose (1993) que nos fornece este conceito,
onde a pessoa simultaneamente ocupa o centro e a margem nas relações de poder. Tendo que
as pessoas assistidas ao buscar a instituição encontram-se vulneráveis socialmente, o que
abordaremos adiante, permite-nos posteriormente pensar este espaço através do conceito de
interseccionalidade. Seu princípio atrelado à feministas negras, mais necessariamente de
críticas efetuadas a abordagens de mulheres brancas, heterossexuais, ocidentais que até a
década de 1970 constituíam a política feminista de acordo com Silva e Silva (2014). Tendo
como fundamental a sistematização efetuada por Crenschaw (1991), onde a
interseccionalidade é uma forma que permite relacionar estruturas de poder que classifica e
oprimem pessoas de acordo com a identidade.
Em outro momento Silva e Silva (2014 p.32) afirmam que as “analises
interseccionais nas quais o espaço é o foco de atenção, possibilitam a criação de uma
perspectiva analítica complexa das vivencias humanas”, extrapola certa fixidez espacial.
Superação de estruturas de poder deixadas claras por bell hooks (1990), argumentando que
posiciona-se às margens da sociedade é ocupar o centro da oposição à hegemonia, é uma
9
forma de resistir, de negar o colonizador, o opressor, ocupar um espaço de resistência é não
falar do 'outro', mas sim do 'eu' marginalizado.
As barreiras a acensão de pessoas da periferia social, com baixa renda e um histórico
associado a descasos estatais, são para Abramovay (2002) componentes para a
vulnerabilidade social, partindo da negativa de acesso à estrutura de oportunidades sociais,
econômicas, culturais, materiais que provêm do Estado, do mercado e da sociedade. O que
propicia a violência sofrida e praticada por jovens. Porém a instituição estudada nesta
conjuntura coloca-se enquanto uma válvula de escape, possibilitante sujeitos (meninas e
meninos) marginais a ocupar a centralidade da relação em vias de fato nas suas espacialidades
ao irem de acordo com as regras institucionais.
Identificação de Motivos: meninas e meninos assistidos e de onde são.
De acordo com nosso recorte temporal 203 pessoas constituíam as espacialidades da
Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João', sendo que dentre os cadastros 71 se
referiam a meninas e 132 a meninos. Através da espacialização dos dados referente ao
endereço podemos constatar a distribuição pela cidade das pessoas assistidas, de forma geral
há concentrações próximas da área central urbana em loteamentos compostos com diversas
famílias com baixo poder aquisitivo, onde há influência direta do relevo com alta declividade
e fundos de vale, como a Vila Nova I e II, Coronel Cláudio e Ronda.
Considerando o gênero das que constituem o espaço da instituição na distribuição
espacial (figura 1 e 2), possibilita observar outra configuração. Ainda que aja uma
distribuição por diversos loteamentos, há quatro agrupamentos bem claros com relação às
meninas, nas Vilas Nova I e II, Coronel Cláudio e Ouro Verde. A primeira se da pela
proximidade com o espaço institucional, as demais primeiramente devemos compreender que
nestes existe necessidades sociais conectadas ao pseudo-acesso a serviços públicos, que
devem ser estudado com maior profundidade futuramente.
figura 1. fonte dados de pesquisa. figura 2. fonte dados de pesquisa.
10
Referente aos meninos que constituintes da Escola de Guardas Mirins 'Tenente
Antônio João' em 2013 a distribuição espacial pela cidade de Ponta Grossa é mais intensa,
concentrando-se com concentrações, além dos dois primeiros loteamentos onde há
concentração das meninas, nos loteamentos Ronda, Borsato, Vilela, Parque Nossa Senhora
das Graças, 31 de março e Santa Paula consequentemente há grande incidência de meninos
que constituem as espacialidades da Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João'.
A analise se deu a partir da proposta de Silva e Silva (2016), fazendo uso de
ferramentas computacionais livres. Porém delimitamos em considerarmos a intensidade que
as palavras aparecem nos motivos de procura à instituição e suas conectividades, uma análises
frequencial e relacional através de grafos, descrito por Corrêa como um conjunto de nós ou
vértices, conectados por conjunto de arestas ou ligações. No conjunto geral de informações
de palavras foi aplicada o desdobramento de comunidades proposto por Blondel et al
(2008) que tem também como proposito revelar informações contidas na
rede que não são evidentes , considerando primeiro uma comunidade para
cada nó/palavra, posteriormente observa-se os ganhos de modularidade
se o vértice de referencia fosse excluso da comunidade e inserido na
comunidade de um nó vizinho, os nós passam a constituir sub-
comunidades onde há maior ganhos de conectividade com sua
participação para os nós da mesma, sendo eliminado arestas que não são
significativas para a composição das redes proporcionadas pela rede geral.
Neste ponto é necessário destacar que primeiramente será abordado apenas os motivos
inseridos nos cadastros de meninas, seguindo pelos cadastros de meninos e posteriormente
relacioná-los a responsabilidade por discentes. Alguns critérios foram considerados para
efetuar os agrupamento de palavras substantivas, aprendizado consideramos aqueles ligados a
profissionalização, educação esta ligado ao reforço para a educação regular, conhecimento se
refere aquele para vida, moral de distinção de certo ou errado conectado ao futuro,
desenvolvimento referente a características próprias da pessoa inscrita e parente e toda pessoa
que não é nem irmão, mãe ou pai, que por vezes se colocam enquanto responsáveis pela
criança ou adolescente.
Partindo dos cadastros das meninas foram identificados 71 motivos, contendo um total
de 29 palavras significativas nas frases, representadas por nós com tamanho de acordo com o
número de vezes que cada palavra aparece, considerando conexões quando duas palavras
apareceram em uma mesma expressão, representado por 166 arestas, com a intensidade de
vezes dada pela espessura da aresta com cores diferenciadas. Obteve-se três comunidades ao
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aplicar a modularidade, que considera a intensidade de conexões entre as palavras que
apareceram. Sendo que a comunidade que aparece com um maior número de conexões
conteve mais de 51% do total de palavras com 55 arestas (Figura 3).
figura 3. fonte: dados de pesquisa.
Temos então como destaque dentre os nós aqueles com maior diâmetro, se referindo
a palavras que mais apareceram como significativas nos motivos de cadastros das meninas na
instituição. As palavras 'Guarda Mirim' e 'trabalho' apareceram mais de 25 vezes, sendo
centrais nesta rede, enquanto que 'militar', 'conhecimento', 'rua' e 'pais' obtiveram volumes de
citações inferiores a 3 vezes. O volume de vezes que as palavras 'sozinha' e 'casa' são intensos,
sendo que a primeira e grande parte da segunda esta conectada diretamente com a manutenção
econômica da família, pois as pessoas responsáveis saem em busca de rendimentos
econômicos deixando de lado o afeto à descendentes.
As arestas demonstram a intensidade de vezes que duas ou mais palavras apareceram
em um mesmo motivo, as cores foram escolhidas aleatoriamente com suas espessuras esta
diretamente relacionado ao peso da aresta, relativo ao número de conexões. As menos
espessas obtiveram peso 1 enquanto que a com maior obteve peso 15 e demonstra um volume
significativo de vezes que as palavras 'mãe' e 'trabalho' apareceram num mesmo motivo.
Na figura 4 demonstra uma segunda sub-comunidade de palavras referente aos
motivos femininos, com nove nós e quase quinze por cento das arestas demonstra enquanto
significativa na formação intelectual e profissional das meninas. Centrais a esta sub-
comunidade de palavras estão o 'aprendizado' e o 'aperfeiçoamento' com onze e doze
aparições consequentemente. Tratando a assim a Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio
João' como um espaço de formação, em construção não apenas de suas delimitações
estruturais mas de pessoas nesta situação das meninas. Os nós com menor diâmetro se referem
a palavras que apareceram ao menos três vezes, sendo que um deles se refere ao 'futuro' que
12
seria posterior à formação e busca de oportunidades. Os pesos de suas conexões estão entre
um e cinco, indo de acordo com o volume de aparições da mesma palavra. Diferentemente da
sub-comunidade com menor número de palavras (5) e aresta (10), representado pela figura 5.
figura 4. fonte: dados de pesquisa. figura 5.
fonte: dados de pesquisa.
Centrais a esta sub-comunidade de palavras estão o 'aprendizado' e o
'aperfeiçoamento' com onze e doze aparições consequentemente. Tratando a assim a Escola de
Guardas Mirins 'Tenente Antônio João' como um espaço de formação, em construção não
apenas de suas delimitações estruturais mas de pessoas nesta situação das meninas. Os nós
com menor diâmetro se referem a palavras que apareceram ao menos três vezes, sendo que
um deles se refere ao 'futuro' que seria posterior à formação e busca de oportunidades. Os
pesos de suas conexões estão entre um e cinco, indo de acordo com o volume de aparições da
mesma palavra. Diferentemente da sub-comunidade com menor número de palavras (5) e
aresta (10), representado pela figura 5.
Constituída pelas palavras 'necessidade', 'medo', 'alcoólatra', 'agressivo' e 'pai' na
conexão com as demais sub-comunidades demonstra a importância de considerarmos o
gênero na analise espacial da 'Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João' em sua
interface com as famílias das pessoas assistidas. Como observamos anteriormente quando nos
motivos de procurar a instituição apareceu a 'mãe', na mesma expressão estão as palavras
'sozinha', 'afeto', 'casa', 'Guarda Mirim', 'disciplina', 'irmã/o(s)', 'qualidade', 'rua' e 'trabalho',
enquanto que o 'pai' se conecta com todas as palavras desta terceira rede. Onde não há uma
centralidade entre os nós, tendo maior intensidade a palavra 'necessidade' pelo 'medo'. Na
correlação das redes podemos afirmar que o gênero importa.
Frente aos 120 motivos encontrado nos cadastros dos meninos foram identificadas 34
palavras/nós com 202 arestas e distribuídas por quatro sub-comunidades. A figura 6
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demonstra a rede com maior número de palavras (13) e arestas (41), do mesmo modo que a
primeira rede de palavras de cadastros das meninas a 'Guarda Mirim' aparece como central.
Numa interface comparativa é evidente que quanto aos meninos há uma maior preocupação
com a 'rua' que vem a ter um sentido negativo para responsáveis na inserção da expressão.
–--figura 7. fonte: dados de pesquisa.
figura 6. fonte: dados de pesquisa.
Nesta é destaque também a importância da instituição, seja dado por conhecidos,
pela busca de conhecimento, para o menino não ficar pela rua ou ainda para a obtenção de
disciplina. Ainda que a 'Guarda Mirim' esteja na centralidade desta sub-comunidade, ela é a
segunda palavra que mais aparece dentre os motivos com 37 aparições. Outro ponto que nos
chama a atenção nesta se refere ao elevado número de conexões com peso um, formando uma
grande rede inferior.
A segunda rede identificada nesta situação apresentou 9 nós e 22 arestas, tendo como
central 'trabalho' e 'mãe', consecutivamente com 28 e 20 aparições. Ainda que 'pai', 'pais'
(quando se refere a pai e mãe) e 'mãe' componham a mesma sub-comunidade é evidente
visualmente o volume de conexões ao 'trabalho', onde a primeira palavra obteve uma aresta
com peso 1 nesta relação, 'pais' possuí uma aresta com peso 4 e a 'mãe' tem uma aresta de
peso 17. Como no caso dos motivos das meninas a palavra 'pai' esta ligado a 'alcoólatra' e
perpassa para além de um problema familiar é também social, visto a dimensão da
'necessidade'. A terceira rede identificada (figura 8) é constituída por 6 nós e 11 arestas, e
demonstram uma preocupação com o 'aprendizado' profissional para os meninos, colocando-
se enquanto central com 24 aparições, estando conectado com maior intensidade à 'ocupação'
e a 'educação'. Aparecendo também nesta o 'contraturno', 'militar' e a 'carreira'.
14
A palavra que mais apareceu dentre os motivos do cadastro de meninos encontra-se
na menor rede (figura 9), contendo as palavras 'sozinho', 'casa', 'encaminhamento' e
'informação' tendo como valores consecutivamente 49,21, 6 e 3, relativo à aparições. Tendo a
maior aresta entre as duas primeiras palavras, não havendo conexão entre 'informação' e
'encaminhamento' sendo que a primeira é dada como ao que é falado da instituição e a
segunda pode se dar ou por outra unidade departamental do IEDC ou pelo conselho tutelar.
Considerações Finais
Perpassando pela observação das redes construídas com as frases contidas nos motivos
de procurarem a Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João' fica evidente que a
constituição de suas espacialidades tem relação direta ou indireta com a relação de gênero, a
primeira se dá pelo fato de que mais de um terço das pessoas assistidas são meninas,
posteriormente entra em conectividade a família de discentes. Onde as mães tem papel
fundamental demostrado pelas expressões referindo-se principalmente a trabalho. Enquanto
que os pais deixam a desejar.
Contudo podemos afirmar que com a técnica aplicada para identificar e organizar as
palavras inerentes à analise, neste trabalho que buscou demonstrar omo a relação de gênero
interfere na constituição espacial da Escola de Guardas Mirins 'Tenente Antônio João' em
Ponta Grossa – Pr, demonstrou-se eficaz na visualização de conexões relacionadas a gênero,
que de forma geral não seriam possíveis. Assim o gênero pode ser visto como interferente não
apenas às espacialidades institucionais mas também nas de famílias.
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