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  • JESUSe

    MaomMARK A. GABRIEL, PHD

  • A misso da Editora En Su Palabra servir a igreja de lnguas ibricas,fornecendo-lhe materiais

    pedaggicos e de inspirao, escritos por nacionais e para nacionais.

    A menos que haja indicao em contrrio, as citaes do Alcoro foram extradas de OSagrado Alcoro, Texto rabe e Traduo Portuguesa, publicado sob os auspcios deHadhrat Mirza Tahir Ahmad, Quarto Sucessor do Messias Prometido Chefe da ComunidadeAhmadiyya do Islo, publicado por Islam International Publications Limited, Islamabad,Sheephatch Lane,Tilford, Farnham , Surrey GU10 2AQ, Reino Unido.

    As citaes do Alcoro assinaladas TRADUO DE ALI so de The Quran Translation, 7edio, de Abdullah Yusef Ali (Elmhurst, NY:Tahrike Tarsile Quran, Inc., 2001).

    A menos que haja indicao em contrrio, as citaes da Escritura so da Bblia Sagrada,Traduo Interconfessional do Hebraico, do Aramaico e do Grego em Portugus corrente,Edio da Sociedade Bblica de Portugal, Lisboa, 1998.

    As citaes bblicas assinaladas JFA so da traduo Joo Ferreira de Almeida.

    Nota do Autor:Tendo pesquisado cuidadosamente a informao, creio que a cronologia davida de Jesus mais bem representada como surge em Life Application Bible, verso rabe(Pases Baixos: Tyndale House Publishers, 1999). Por essa razo, quaisquer referncias aonascimento, vida e morte de Jesus so citadas dessa fonte.

    N. do T. Para a designao do fundador do Islamismo, optou-se pela verso francesa doseu nome Maom mais conhecida entre os Portugueses.

    ISBN 0-9769966-3-4

    2006 Editora En Su Palabra

    Reservados todos os direitos. Proibida a reproduo parcial ou total, excepto brevecitao, sem a autorizao prvia da Editora En Su Palabra.

    Para encomendas, consultar www.ensupalabra.com.

    Tradutor: Jorge Pinheiro

    Capa: Karen Grindley

    Printed in Miami, FL., USA

  • Dedicado aosEstados Unidos da Amrica

    e ao povo americanoque me abriu o seu pase me recebeu com amor.

    Que este livro os levea uma perfeita compreenso

    da vida e ensinamentosde Jesus e Maom.

    Vosso servo,Mark A. Gabriel

  • ndice

    Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .vii

    SECO 1OS MEUS ANTECEDENTES

    1. Educado no Islo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1

    2. Deixando a Universidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5

    3. O Dia em que Vi Jesus e Maom Lado a Lado . . . . . . . . . . . . . .16

    SECO 2A VIDA DE JESUS E DE MAOM

    4. Destinos da Infncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23

    5. O Incio das Revelaes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30

    6. A Reaco das Pessoas s Mensagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39

    7. Difundindo a Mensagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .48

    8. Os ltimos Dias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .599. Cronologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69

    SECO 3O LEGADO DE AMBOS EM PALAVRAS E ACES

    10. As Suas Mensagens ao Mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77

    11. Os Seus Ensinos Um Sobre o Outro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93

    12. Curas e Milagres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .104

    13. O Significado de Guerra Santa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .121

    14. Ensinos Sobre o Amor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .142

  • 15. Ensinos Sobre a Orao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .153

    16. Atitudes para com as Mulheres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .166

    17. Coincidncias Interessantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .186

    18. Uma Comparao de Ensinos Prticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .191

    SECO 4 CONCLUSO

    19. Resumo dos Pontos Principais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .201

    20. A Minha Deciso Pessoal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .210

    Eplogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .216

    Apndice A: As Fontes de Informao

    Sobre Jesus e Maom . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .219

    Apndice B: Os Ensinos Islmicos Respeitantes s

    Profecias Bblicas Sobre Maom . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .231

    Apndice C: Profecias do Velho Testamento

    Sobre Jesus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .235

    Apndice D: Jesus no Alcoro e na Bblia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .238

    Notas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .240

    Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .253

    Credenciais Acadmicas do Autor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .255

  • Introduo

    Inquestionavelmente, Jesus e Maom so as duas pessoas mais influentes quejamais existiram. Hoje, podemos ver a sua influncia nas duas maioresreligies do mundo: o Cristianismo, com mais de dois bilies de seguidores, e oIslo, com 1,3 bilies.

    Um grande abismo interpe-se entre estes dois grupos. Muitos Cristosreconhecem terem muito pouco conhecimento do que Maom fez e ensinou. Poroutro lado, os Muulmanos acreditam que compreendem quem Jesus era e o queensinou, mas as suas crenas entram em conflito com os ensinos do NovoTestamento.

    E esta a questo: como podemos ter ao mesmo tempo um retrato verdadeirodestes dois homens?

    Primeiro, temos de reconhecer um importante princpio: devemos distinguir older dos seguidores.

    No podemos olhar para os Cristos para saber o que Jesus ensinou, nem paraos muulmanos para determinar o ensino de Maom. No nos devemosconcentrar nas aces dos que se chamam Muulmanos ou Cristos. No importaquantos terroristas se chamam a si mesmos muulmanos, nem interessa quantosnazis ou cruzados se afirmavam cristos.

    Em vez disso, devemos analisar directamente os ensinos e aces de Jesus eMaom, conforme esto registados nas fontes mais fidedignas.

    H uma grande diferena entre uma anlise pessoal das fontes e confiar naanlise dos outros dessas mesmas fontes. Creio que essa a razo de osMuulmanos no compreenderem Jesus e de os Cristos no entenderem Maom.

    A minha inteno com este livro ser vosso guia e levar-vos s fontesoriginais para poderem conhecer pessoalmente estes dois homens.

    Podero perguntar quais as minhas qualificaes para esta tarefa. Respondoque j conheci estes dois homens. Embora tenha agora um nome cristo, nascicom nome muulmano. Embora tenha um doutoramento em Educao Crist,tenho tambm um outro em histria e cultura islmicas atribudo pelaUniversidade Al-Azhar, no Cairo. Embora este livro tenha sido escrito em ingls,a minha lngua-me o rabe. Vivi em ambos os mundos.

    No mundo ocidental, h muita gente com conhecimento da vida de Jesus. Eno mundo islmico, podemos encontrar muitos Muulmanos peritos na vida deMaom. Mas difcil encontrar quem fale ao mundo ocidental sobre Maom a

  • Jesus E MaomVIII

    partir das fontes originais. por essa razo que penso ter algo de especial aoferecer.

    Em relao informao das fontes, recomendo vivamente a leitura doApndice A deste livro, que descreve as fontes que utilizei para dar informaosobre Maom e Jesus. Para um ocidental, quase impossvel compreender ascitaes das fontes islmicas sem ler esse Apndice.

    O restante livro est logicamente organizado para vos orientar atravs dosseguintes tpicos:

    Na Seco 1, apresento os meus antecedentes e de que modocotejei a vida de Jesus e de Maom. Quando escrevo ou falo,raramente descrevo a minha formao em pormenor, mas fao-oneste livro porque quero que o meu leitor saiba que a informaosobre Maom vem de uma fonte qualificada. Se no estiverinteressado em ler a minha histria, passe Seco 2.

    Na Seco 2, falo do que Jesus e Maom fizeram com as suasvidas. aqui que encontramos alguns paralelos espantosos, comoo facto de ambos terem sido alvo de profecia em criana, ambosterem primos que os apresentaram a pblico, ambos foramrejeitados pela sua cidade-natal e ambos foram ajudados por dozediscpulos. Esta seco coloca Jesus e Maom lado a lado, donascimento sua morte.

    A Seco 3 concentra-se no legado que deixaram com os seusensinamentos e exemplo. Tornam-se evidentes profundasdiferenas. Primeiro, ficamos a saber o que cada um reivindicouser e qual a sua mensagem ao mundo. Segue-se uma informaosobre o que Maom disse sobre Jesus e o que Jesus poderia ter ditosobre Maom. Depois, examinaremos as actividades que lhesdominaram a vida Jesus, com curas e milagres; Maom, com aguerra santa. Os captulos catorze, quinze e dezasseis comparam osseus ensinos sobre amor, orao e mulheres. Esta seco terminacom dois captulos que focam citaes que mostram (1) umacomparao da reaco de Jesus e Maom a quatro situaesespantosamente semelhantes e (2) os seus ensinos sobre oitoassuntos fundamentais, comparados versculo por versculo.

  • Introduo IX

    Na Seco 4, resumo os factos importantes sobre Jesus e Maom edescrevo o que me aconteceu pessoalmente, depois de ver Jesus eMaom lado a lado.

    Se estiver a ler este livro num pas livre, um privilegiado. Goza do direitode explorar ideias sua vontade. Muitos dos que vivem no mundo muulmanonunca obtero a informao contida neste livro. Os seus lderes iro impedir queisso acontea. Contudo, tanto a Bblia como o Alcoro dizem que a verdade serevelar por si s (Actos 5:33-40; Sura 2:256). Ento, examinemos os factossobre Jesus e Maom.

  • SECO 1OS MEUS ANTECEDENTES

  • 1Educado no Islo

    Estava um belo dia de Inverno no Egipto. O ar apresentava-se frio e osol brilhava com intensidade. Acabara de tomar o pequeno-almooem casa, onde vivia com minha me, meu pai, irmos, irm, av e um tio.Tinha ento cinco anos, mas recordo-me perfeitamente desse dia.

    O meu tio disse-me: Vamos ler juntos o Alcoro. Tens o teuexemplar? Fui buscar um livro fino que ele me dera dias antes. No eratodo o Alcoro, mas uma das suas trinta partes.

    O meu tio acabara de se graduar pela mais prestigiosa universidadeislmica do mundo, Al-Azhar, no Cairo. Ainda na casa dos trinta anos, eraagora o im da maior mesquita da nossa rea e um homem reverenciadopor todos os Muulmanos devotos.

    Atravessmos de mos dadas a rua at ao pomar da nossa famlia,plantado com videiras, figueiras e laranjeiras. O pomar situava-se perto deum canal e quando nos sentmos na sua margem, pudemos verpescadores, barcos a remos e lavradores que levavam os seus bfalos abeber e a banhar-se nas guas.

    O meu tio comeou a ler. As palavras eram familiares porque as ouviradurante toda a minha vida na mesquita, na rdio e do recitador doAlcoro a quem pagvamos para vir at nossa casa. O meu tio leu oprimeiro versculo do ltimo captulo do Alcoro. Depois, pediu que orepetisse. Assim o fiz. Depois, corrigiu-me a pronncia do rabe clssicoe disse-me que repetisse. Assim o fiz. Procedemos deste modo at eu terdecorado na perfeio este versculo. Depois, passmos ao versculo 2.

    Procedemos deste modo com trs ou quatro versculos. A dada altura,fomos interrompidos. Havia sempre pessoas a querer colocar perguntas aomeu tio sobre problemas da f e leis islmicas, porque ele era um dos

  • Jesus E Maom2

    poucos eruditos que viviam na nossa zona. Enquanto esperava por ele,pus-me a brincar beira da gua. Depois, ele chamou-me: Vai ter com amam e diz-lhe que te prepare para irmos at mesquita.

    Voltei para casa e quando entrei, ouvi o meu av a chamar-me doquarto: Anda c. O meu av tinha cerca de oitenta anos e cegara. Eugostava muito dele e corri para o seu quarto onde se encontrava deitado ebeijei-lhe a mo. Depois, pulei para a cama e dei-lhe um grande abrao.Ele perguntou: Leste o Alcoro?

    Respondi-lhe que sim.Ento, recita, pediu-me, o que fiz.Ficou muito contente por me ouvir. Rapaz, disse ele, louvo a Al

    por ti. Vais decorar todo o Alcoro, vais ser a candeia do nosso lar.Acenei com a cabea e depois sa do quarto para me preparar para ir

    mesquita. Era sexta-feira, o dia santo do Islo, quando o sermo pregadona mesquita. A minha me ajudou-me a vestir a capa branca com o capuz a nossa vestimenta tradicional para ir mesquita. Depois de o meu tiose arranjar, percorremos a meia milha que separava a minha casa damesquita. O meu tio pregou o sermo e o meu pai, irmos e eu sentmo-nos na fila da frente dos homens. A minha me, irm e outras familiaressentaram-se na retaguarda, na zona das mulheres.

    assim que me recordo do dia em que comecei a decorar o Alcoro.

    UMA FORMA DE VIDA

    A partir desse dia, o meu tio tornou-se o meu mentor. Ensinava-menuma base quase diria.

    Quando completei seis anos, inscreveu-me na escola primria Al-Azhar. Na nossa provncia, havia cinquenta escolas primrias seculares,mas apenas uma Al-Azhar. Esta escola da elite especializara-se emeducao religiosa islmica. Nenhum dos meus irmos a frequentara, masda parte deles no houve inveja nem raiva. Ficaram orgulhosos e deram-me os parabns. As pessoas comearam a chamar-me Pequeno xeque.

    Fiz mais do que a escola exigia. O meu tio ajudava-me constantementepara conseguir decorar todo o Alcoro (tem quase a extenso do NovoTestamento) com uma idade muito precoce.

  • Educado no Islo 3

    Quase todas as manhs, ia com o meu pai e o meu tio s oraesmatutinas na mesquita, que comeavam por volta das 3 e meia da manhe terminavam cerca de uma hora depois (dependendo da poca do ano).Depois das oraes, o meu pai e o meu tio costumavam ir para casa dormirmais duas horas antes de partirem para o trabalho. Habitualmente euficava na mesquita com o meu exemplar do Alcoro. Antes de comear adecorar os novos versculos, testava os que eu estudara nos dois diasanteriores. Depois de me certificar que os decorara bem, passava aosseguintes.

    Lia o primeiro versculo da passagem. Depois, fechava o Alcoro erepetia-o, andando de um lado para o outro na mesquita. Depois de fixadoo primeiro versculo, abria o meu Alcoro e lia o segundo. Prosseguiadeste modo at ter decorado tudo.

    Tinha muito cuidado em reter o que aprendera, pelo que gastava doisou trs dias por ms a fazer revises. Se me perguntassem alguma coisaque eu memorizara meses antes, estava tudo muito ntido na minhamemria.

    SETE ANOS DEPOIS

    O meu tio no s me ajudava a decorar como se certificava de que eutambm compreendia o rabe clssico a lngua do Alcoro. O falanterabe vulgar no l nem entende muito bem este tipo de rabe e aprend-lo era uma parte fundamental de uma educao religiosa.

    Durante sete anos, o meu tio ajudou-me, versculo por versculo,captulo por captulo. Quando atingi os doze anos de idade, acabara dedecorar o Alcoro. Segundo o sistema educativo Al-Azhar, s era exigidoque acabasse de o memorizar apenas depois de concluir o grau de bacharelna universidade.

    escusado dizer que a minha famlia ficou encantada. Prepararamuma grande festa para todo o cl, numa enorme sala construda paraacontecimentos especiais do nosso cl. Nunca me esquecerei do meu avcego a chamar-me: Meu filho, onde est o meu filho? Corri para ele edei-lhe um grande abrao, sentindo-lhe as lgrimas a correr-lhe pelo rosto.

    A aprendizagem do Alcoro colocou-me numa posio que me

  • Jesus E Maom4

    granjeou um enorme respeito como criana. As pessoas tratavam-mecomo um santo, porque trazia o livro santo na cabea.

    A partir daquele momento, lia e revia sistematicamente o Alcoro parame certificar de que no me esquecera do que aprendera.

    SUCESSO NOS ESTUDOS

    Quando entrei no liceu Al-Azhar, uma das principais tarefa era decoraras passagens mais importantes dos hadith.

    Muitos ocidentais desconhecem o que so os hadiths, pelo que vouexplicar em que consistem. Os hadith so os relatos dos ensinos e acesde Maom. Esses relatos foram registados pelos seus seguidores maisntimos, pelos seus servos e mesmo pelas esposas. Por exemplo, umhadith pode descrever como Maom orava, como resolveu uma disputaentre dois muulmanos ou um evento ocorrido durante uma batalha.Alguns hadith contm apenas uma nica frase, enquanto outros ocupamuma a duas pginas. A extenso habitual de cerca de trs pargrafos.

    Os seguidores de Maom foram muito dedicados a registar tudoquanto ele fez e disse. H mais de meio milho de hadith! (Para maisinformao, consultar o Apndice A).

    Claro que nenhum de ns iria decorar todos os hadith. Mas a escolafizera uma certa seleco deles para decorarmos em cada semestre. Noprimeiro dia das aulas de hadith, o professor distribua o livro com oshadith que deveramos decorar durante esse semestre. Cada livro continhavrias centenas.

    Decorvamos um a trs hadith por dia durante o ano escolar. O meu tiotambm me ajudava a memorizar hadith adicionais e tomei a iniciativa dedecorar alguns extra. O meu tio estava a preparar-me para pregar namesquita, o que comecei a fazer ocasionalmente, quando aindafrequentava o liceu, aps cuja concluso calculo que tenha decorado entrecinco mil e seis mil.

    escusado dizer que a educao religiosa no liceu era muitometiculosa. Quando os alunos terminavam o liceu Al-Azhar, aos dezoitoanos de idade, estavam qualificados para dirigir oraes e ensinar nasmesquitas sem mais qualquer formao.

  • Educado no Islo 5

    Nessa altura, eu era um Muulmano devoto. O meu corao estavadecidido a seguir o exemplo de Maom em tudo quanto eu fazia.

    NA UNIVERSIDADE

    Depois de concluir o liceu, um dos meus irmos sugeriu-me quefrequentasse a Escola de Farmcia, mas a restante famlia incitou-me acontinuar os estudos religiosos. Por isso, inscrevi-me na Universidade Al-Azhar no Cairo e optei por estudar no Instituto de Lngua rabe, tal comoo meu tio, que era meu mentor, fizera antes de mim.

    Qualquer pessoa de formao islmica est familiarizada com aUniversidade Azhar porque a escola mais importante do mundomuulmano. difcil descrever aos ocidentais a sua influncia porque noOcidente no h universidade com um estatuto equivalente. espantosamente grande cerca de noventa mil alunos em instalaes portodo o Egipto. extremamente antiga a Grande Mesquita em Al-Azharfoi concluda no ano 972 a.C. e as palestras acadmicas comearam trsanos e meio depois.1 unanimemente respeitada descrita nos mdiaislmicos como a mais alta autoridade do Islo sunita.

    Sempre gostei de estudar histria, pelo que escolhi histria e culturaislmicas. Queria aprender mais sobre a pacincia, coragem e consagraode Maom e dos seus companheiros que tanto admirava.

    No meu primeiro dia de aulas, foi com surpresa que percebi o tipo deeducao que estava prestes a receber. O xeque que deu a primeira aula dodia era um indivduo baixo de pele escura, um pequeno bigode e culoscom lentes muito grossas, que nos disse: O que vos disser deve ser aceitecomo verdade. No tolero qualquer forma de discusso na aula. O que euno disser no merece ser conhecido. Ouam e obedeam e no faamquaisquer perguntas.

    Fiquei perturbado com esta filosofia e levantei-me para falar. O xequedeu logo por mim, porque eu estava sentado na segunda fila. Perguntei-lhe: Mestre xeque, como pode haver ensino sem perguntas?

    De onde s, rapaz?, perguntou.Do Egipto, respondi, esquecendo-me que era bvio ser Egpcio.Eu sei... mas de que parte do Egipto?

  • Jesus E Maom6

    Disse-lhe o nome da minha regio, ao que ele retorquiu: Ento, nopassas de um burro ignorante! Disse isso porque as pessoas da minharegio eram desprezadas,

    Repliquei: Sim, devo ser um burro para deixar a minha casa e vir paraaqui ser insultado.

    A turma estava em silncio. Sa do meu lugar e dirigi-me para a porta.O xeque gritou-me Pra a, seu animal! Como te chamas?

    No honra nenhum dizer-lhe o meu nome, respondi com frieza.Perante isto, o xeque ficou irritado e comeou a ameaar-me riscar o

    meu nome da lista de alunos da universidade e mandar-me para a rua.Deixei a sala e dirigi-me ao deo da faculdade, a quem contei o que sepassara. No fim da aula, o xeque foi chamado ao seu gabinete.

    Habilidosamente, o deo convenceu-o a perdoar-me e tambm meconvenceu a ser mais tolerante. Considera-o como uma figura paterna,disse ele, que s deseja corrigir-te e no insultar-te.

    Este incidente introduziu-me no mundo do silncio e da submissoexigido na universidade. O nosso mtodo de estudo consistia em ler oslivros escritos pelos maiores eruditos do Islo, tanto modernos comoantigos. Depois, tnhamos de elaborar uma lista dos pontos principais decada livro e decorar a lista. Havia testes escritos em cada disciplina ealguns professores pediam relatrios. Tambm estudava adicionalmenteliteratura e poesia rabe para meu prazer pessoal.

    Apesar de tudo, muitas vezes colocava aos meus professores perguntasque eles no apreciavam.

    DEMASIADAS PERGUNTAS

    Por exemplo, certa vez perguntei a um professor: Porque queMaom nos disse primeiro para nos darmos bem com os Cristos e depoisdisse para os matarmos?

    O professor replicou: O que o profeta te diz para fazer, faz. O que eleprobe, est proibido. O que ele autoriza, respeita. No s um verdadeiromuulmano se no te sujeitares s palavras de Maom.

    Perguntei a um outro professor: Porque que o profeta Maom pdecasar-se com treze mulheres e -nos ordenado que no nos casemos com

  • Educado no Islo 7

    mais do que quatro? O Alcoro diz que Maom era um ser humano. Ento,porque que tinha direitos extra?

    O meu professor replicou: No. Se analisares com cuidado, vers queAl te deu mais direitos que ao prprio profeta. Al exige que no te casescom mais do que quatro. Mas tens a possibilidade de te divorciar. Ento,podes casar-te com quatro hoje e divorciares-te delas amanh e casares-tecom outras quatro. Assim, podes ter um nmero ilimitado de esposas.

    Para mim, esta no era um resposta lgica, em especial porque ahistria islmica indica que Maom teve tambm o direito de se divorciar.Maom enfrentou tantas dificuldades com as suas mulheres que certa vezameaou divorciar-se delas todas.

    Cheguei mesmo a questionar o Xeque Omar Abdel Rahman, bemconhecido por ser considerado o crebro do ataque bombista contra osWorld Trade Centers em 1993. Quando frequentei Al-Azhar, ele eraprofessor da minha turma em interpretao cornica.

    Deu-nos oportunidade de lhe colocar perguntas, pelo que levantei-me frente de quinhentos alunos e perguntei: Porque que s nos ensina ajihad? Porque que no aborda os outros versculos do Alcoro que falamde paz, amor e perdo?

    Ficou logo vermelho. Podia ver a sua raiva. Mas pude ver tambm queconseguiu controlar-se. Em vez de gritar, aproveitou a oportunidade parareforar a sua posio: Meu irmo, disse ele, h uma sura [captulo doAlcoro] completa chamada Despojos da Guerra. No h nenhuma surachamada Paz. A Jihad e a morte esto cabea do Islo. Se as tirares,cortas a cabea do Islo. As respostas que recebi dele e de outrosprofessores no me satisfizeram.

    Alguns classificaram-me de perturbador, mas outros foram tolerantes,crendo que eu queria sinceramente aprender.

    Ao mesmo tempo, excedia-me nos estudos. Ao fim de quatro anos,graduei-me, sendo o segundo num conjunto de seis mil alunos. Estaclassificao baseava-se nas pontuaes dos exames escritos e oraisrealizados no final de cada ano de estudo. O exame oral concentrava-se namemorizao do Alcoro e dos hadith e as provas escritas abarcavamtemas que estudvamos nas aulas. Em cada ano, podia-se atingir ummximo de mil e quinhentos pontos.

  • Jesus E Maom8

    LICENCIATURA E ENSINO

    Antes de concluir a licenciatura, cumpri um ano de instruo militarobrigatria nas foras armadas. Aps a concluso, regressei a Al-Azhar.Nesta altura, decidira que nenhum professor ou xeque iria ajudar-me aresponder s minhas dvidas. Teria de ser eu a encontrar as respostas. Apreparao da minha tese de licenciatura foi uma oportunidade perfeita.

    No havia ningum que me dissesse o que deveria ler, pelo que analiseiuma grande diversidade de material sobre a histria islmica. Contudo,em vez de encontrar respostas, comecei a ficar cada vez mais desiludidocom o Islo. Sem exagero de qualquer tipo, posso dizer que a histriaislmica uma histria de violncia e de derramamento de sangue desdeos tempos de Maom aos nossos dias. Quando analisava os ensinos doAlcoro e de Maom, podia ver a razo de a histria islmica ter seguidoo rumo que tomou. E interrogava-me: Que Deus concordaria com taldestruio da vida humana? Mas reservei para mim este tipo de pergunta.

    A minha tese de licenciatura causou grande agitao. Evitei questionaro Islo, mas toquei na questo controversa do tipo de governo que deveriater uma nao islmica. O governo egpcio gostou das minhas ideias epreparou uma difuso directa da defesa da minha tese pela estaoradiofnica Santo Alcoro.

    Exteriormente, parecia ter muito sucesso. A universidade pediu-meque comeasse a ensinar na minha rea de conhecimentos histria ecultura islmicas. Aos vinte e oito anos de idade, era um dos mais jovensprofessores que ali leccionaram. Tambm dirigia oraes e pregava numamesquita nos arredores do Cairo. Contudo, interiormente, continuavaainda procura da verdade.

    Neste ponto, j no controlava de facto a minha vida. No podia parare pus-me procura de um outro emprego. A universidade, a minhafamlia, a minha comunidade interrogava-se sobre as razes de eu agirassim. No era lgico abandonar toda esta formao. No tive outra sadaseno continuar este percurso. Comecei a trabalhar no meu doutoramento.

  • 2Deixando a Universidade

    Passei dois anos em pesquisas para o meu doutoramento. Durante essetempo, assumi duas grandes responsabilidades. Leccionava para a Al-Azhar, tanto na universidade do Cairo como em outras universidadesislmicas por todo o Mdio Oriente. Era tambm lder de uma pequenamesquita. Dirigia a primeira, a quarta e a quinta oraes do dia e ssextas-feiras, pregava o sermo e dirigia as oraes desse dia.

    Gostava de ensinar e de falar aos alunos. Ao fim de algum tempo, comeceiuma nova forma de ensino: permitia o debate e deixava que os alunoscolocassem perguntas, o que era uma coisa perigosa. Por exemplo, quandoestava a ensinar sobre os primeiros lderes do imprio islmico, chegmos histria de Muwawiya e do seu filho, o tema da minha tese. Muwawiya foium dos homens que transcreveu as revelaes cornicas para Maom que nosabia ler nem escrever. Tornou-se o quinto governante do mundo islmicodepois de Maom. Antes de morrer, aconselhou o filho a perseguir e a matarquatro homens especficos que ameaavam a possibilidade de o seu filho setornar o lder seguinte do Islo. O filho seguiu o seu conselho; excedeumesmo as recomendaes do pai e matou o neto de Maom a fim de garantira sua posio. Disse aos alunos: Procuremos Deus nesta situao.Precisamos de procurar a misericrdia e o amor nesta situao.

    Queria estabelecer um novo esprito na turma. Quando fui aluno, issono me foi permitido. Queria que eles pensassem livremente e usassem ocrebro sem recearem as repercusses.

    Muitos dos alunos estavam dispostos a pensar criticamente. Umperguntou: Este hadith verdadeiro? Talvez tenha sido inventado pelosJudeus. Levei-o at s origens e respondi: verdadeiro. No foiforjado. Ento comearam a pensar apenas na questo. Mas os alunos

  • Jesus E Maom10

    radicais achavam que eu estava a acusar o Islo. Al, perdoa-nos!,gritaram. s o nosso professor. Fala-nos do Islo. Ests a confundir-nos.

    Estes alunos dirigiram-se aos lderes da universidade e disseram. Esteprofessor perigoso. No sabemos se ele ainda um muulmano ou se um convertido.

    Al-Azhar tem um grande receio de ser invadida pelo interior por umafora estranha. O chefe do meu departamento convocou-me para umareunio. Pensei que a universidade poderia arruinar-me, mas tambmpensava: Estes professores conhecem-me. Conhecem o meu corao e omeu desejo de aprender. Tambm sabem que as minhas perguntas no socoisa nova.

    Na nossa reunio, o chefe do meu departamento descobriu odesenvolvimento dos meus pensamentos. Ficou assustado. Meu filho,disse ele, no podemos tratar este assunto deste modo. H orientaes aque temos de nos sujeitar. No podemos pensar mais do que o prprioprofeta ou mais do que Al. Quando estiveres confuso, limita-te a dizer:Al e o seu profeta conhecem a verdade. Deixa essas coisas nas suasmos e avana. Mas ele percebeu que era preciso tomar cuidado comigo.

    Fui convocado para uma outra reunio com o comit da universidadepara a aplicao da lei. A princpio, tudo decorreu bem. No queriam queeu sasse da universidade e criticasse o Islo.

    A princpio, foram comedidos. Interrogaram-me sobre a minha vida, omeu lar e a minha famlia. Depois, falaram das minhas aulas e dos alunos.Por fim, desafiaram-me: Porque fazes perguntas destas? No sabes quedeves tratar este assunto da forma como todos aprendemos a fazer? Sabesmuito, mas por muito que aprendamos, estaremos longe da verdade. Temdisciplina. Fala do que compreendes. Onde tiveres dvidas, diz Al e oseu profeta que sabem.

    Perguntaram-me: Estudaste A Espada no Pescoo do Incrdulo, comote mandmos? Este livro convoca os Muulmanos a aceitarem os ensinosde Maom sem qualquer discusso.

    Respondi-lhes: Li-o tantas vezes que decorei-o quase todo, como aoAlcoro.

    Neste ponto, tinha uma opo. Podia negar qualquer desvio, concordarem ensinar da forma tradicional e tudo ficaria bem. Em vez disso, disse-lhes

  • Deixando a Universidade 11

    o que de facto eu pensava e respondi: Escutem. O que vou dizer-vos nosignifica que queira acusar o Islo ou o profeta. Creio nisto de todo o meucorao. Vocs conhecem-me. Vocs amam-me. Por favor, no me acusem.Encontrem uma forma de me ajudar e de responder s minhas questes.

    Dizemos que o Alcoro vem directamente de Al, mas eu duvido.Vejo nele os pensamentos de um homem, no as palavras de um Deusverdadeiro.

    O ambiente da reunio alterou-se. Um dos homens ficou furioso.Levantou-se, ps-se minha frente e cuspiu-me no rosto. Seublasfemo!, gritou. A tua me uma bastarda. Percebi pelo seu rostoque se no estivssemos numa reunio com outras pessoas, ele me teriamorto nesse preciso instante. Sai daqui, ordenou.

    Levantei-me para sair. Nesse momento, todo o corpo me tremia e eusuava. Percebi que as palavras que pronunciara eram a minha sentena demorte. E pensei: Vo matar-me? Como? Quando? Quem? Ser a minhafamlia? As pessoas da minha mesquita? Os meus alunos?

    Esse foi o momento mais terrvel da minha vida.Deixei a reunio e fui para casa. No contei minha famlia nada do

    que se passou, mas puderam perceber que alguma coisa me preocupava.Nessa noite, deitei-me cedo.

    UMA VIAGEM AT PRISO

    s trs da manh desse mesmo dia, o meu pai ouviu baterem portade nossa casa. Quando abriu, quinze a vinte homens passaram por ele,com armas de assalto russas Kalashnikov. Subiram as escadas e entraramtodos em casa, acordando as pessoas minha procura.

    Um deles deu comigo a dormir na minha cama. Toda a famlia estavaacordada, chorosa e assustada, quando os homens me arrastaram suafrente para fora de casa. Atiraram-me para as traseiras de um carro eafastaram-se. Eu estava em choque, mas sabia que tudo era resultado doque acontecera na universidade no dia anterior. Fui levado para um localque se assemelhava a uma priso, onde me colocaram numa cela decimento com outro preso.

    Pela manh, os meus pais procuraram ansiosamente saber o que me

  • Jesus E Maom12

    acontecera. Foram de imediato esquadra a perguntar: Onde est o nossofilho? Mas nada souberam de mim.

    Eu estava nas mos da polcia secreta egpcia.

    ACUSADO DE SER CRISTO

    Durante trs dias, os guardas no me deram comida nem gua.Ao quarto dia, comeou o interrogatrio. Nos quatro dias que se

    seguiram, a inteno da polcia secreta era obrigar-me a confessar que euabandonara o Islo e lhe explicasse como tudo acontecera. O seu padroera deixar-me sozinho durante o dia e tirar-me da cela noite para meinterrogarem.

    A primeira noite de interrogatrio comeou numa sala com uma grandesecretria, atrs da qual se encontrava o meu interrogador. Mandaram-mesentar no outro lado. Ele tinha a certeza de que me convertera aoCristianismo, pelo que as perguntas batiam sempre no mesmo: Que pastorfalou contigo? Que igreja frequentas? Porque traste o Islo?

    Ele fez mais do que apenas falar. Tenho cicatrizes das marcas dequeimadura nas minhas mos, braos e rosto provocadas pelo seu cigarroe por um ferro quente.

    Queria que eu confessasse que me convertera, mas respondi-lhe: Notra o Islo. Apenas disse o que acredito. Sou um acadmico, um pensador.Tenho o direito de discutir qualquer tema do Islo. Isso faz parte do meutrabalho e da minha vida acadmica. Nunca pensei abandonar o Islo o meu sangue, a minha cultura, a minha lngua, a minha famlia, a minhavida. Mas se me acusam de ter abandonado o Islo por causa daquilo queeu vos digo, ento tirem-me do Islo. No me importo de estar fora doIslo.

    O guarda agarrou-me e levou-me de volta minha cela. O meucompanheiro de priso, pensando que eu estava a ser castigado por ser umislamicista, deu-me um pouco da sua comida e gua.

    Na noite seguinte, fui levado para uma sala com uma cama de ao. Osguardas no deixavam de praguejar e de me insultar, procurando obteruma confisso. Amarraram-me cama e chicotearam-me os ps at perdera conscincia.

  • Deixando a Universidade 13

    Quando acordei, levaram-me para um pequeno tanque cheio de guagelada. Obrigaram-me a entrar e pouco depois voltei a desmaiar. Quandoacordei, estava deitado de costas na cama, onde me bateram, ainda com asroupas molhadas.

    Passei um outro dia na cela e na noite seguinte levaram-me para forado edifcio. Vi o que me parecia uma pequena sala de cimento, sem janelasnem portas. A nica abertura era uma clarabia no telhado. Os guardasobrigaram-me a subir uma escada at ao tecto e ordenaram: Entra.

    Escorreguei pela abertura e senti a gua a subir-me pelo corpo. Masdepois, para minha surpresa, senti solo firme debaixo dos ps. A guachegava-me apenas aos ombros. Depois, vi qualquer coisa a nadar na gua ratos. Este tipo um pensador muulmano, disseram. Os ratos quelhe comam a cabea.

    Fecharam a clarabia e eu no conseguia ver nada. Mantive-me de pna gua e esperei no escuro. Os minutos passaram. Depois horas. Namanh seguinte, os guardas apareceram para ver se eu estava vivo. Nuncame esquecerei da viso do sol quando a clarabia se abriu. Ao longo detoda a noite, os ratos subiam-me para a cabea e ombros, mas nenhum memordeu. Os guardas levaram-me para a minha cela.

    Na ltima noite, os guardas conduziram-me at porta de umapequena sala e disseram: H algum que gosta muito de ti e quer falarcontigo.

    Estava espera que fosse um dos membros da minha famlia ou umamigo que me ia visitar ou tirar-me da priso.

    Abriram a porta da sala e no seu interior vi um grande co. No haviamais nada na sala. Atiraram-me para dentro e fecharam a porta.

    No meu corao, clamei ao meu Criador: s o meu Deus. Vais cuidarde mim. Como podes deixar-me nestas mos mpias? No sei o que estagente est a tentar fazer-me, mas sei que ests comigo e um dia ver-Te-eie encontrar-me-ei contigo.

    Dirigi-me para o meio da sala vazia e lentamente sentei-me no cho,de pernas cruzadas. O co aproximou-se e sentou-se minha frente. Osminutos passaram-se, com ele a fitar-me.

    O co levantou-se e comeou a andar minha volta, como um animalprestes a atirar-se presa. Depois, aproximou-se do meu lado, lambeu-me

  • Jesus E Maom14

    a orelha e sentou-se. Eu estava muito cansado. Pouco depois de ele sesentar a meu lado, adormeci.

    Quando acordei, o co estava num dos cantos da sala. Correu para mime voltou a sentar-se ao meu lado direito.

    Quando os guardas abriram a porta, viram-me a orar, com o cosentado a meu lado. Ficaram a olhar para mim, muito confusos.

    Este foi o ltimo dia de interrogatrio. Fui ento transferido para umapriso permanente. Nesta altura, no meu corao, eu j havia rejeitado porcompleto o Islo.

    Durante todo este tempo, a minha famlia estava a tentar saber onde eume encontrava. No tiveram sucesso at que o irmo de minha me, membrosuperior do Parlamento egpcio, regressou ao pas depois de uma viagem aoestrangeiro. A minha me telefonou-lhe, a soluar. H duas semanas queno sabemos onde est o nosso filho. Desapareceu. O meu tio tinha oscontactos certos. Quinze dias depois de eu ter sido raptado, ele dirigiu-se empessoa priso, com a ordem de libertao e levou-me para casa.

    UMA CALMA MUDANA

    Algum poder dizer: No admira que este homem tenha abandonadoo Islo. Ficou irritado por ter sido torturado por Muulmanos. Sim, verdade: quando fui torturado no nome do Islo protector, no fizdistino entre Muulmanos e os ensinos do Islo. Por isso, a tortura foi oempurro final que me separou do Islo.

    Mas a verdade que eu j andava a questionar o Islo anos antes de terido parar priso. As minhas questes no se baseavam nas aces dosMuulmanos, mas nas aces de Maom e dos seus seguidores e nosensinos do Alcoro. A ida para a priso foi apenas mais um empurro paraa direco que eu seguia.

    Voltei para casa dos meus pais a pensar no que faria a seguir.Mais tarde, a polcia apresentou ao meu pai este relatrio:

    Recebemos um fax da Universidade Al-Azhar acusando oseu filho de abandonar o Islo, mas depois de um interro-gatrio de quinze dias, no descobrimos provas disso.

  • Deixando a Universidade 15

    O meu pai ficou aliviado ao saber disto. Nunca imaginou que eu umdia abandonaria o Islo e no lhe revelei os meus verdadeiros sentimentos.Ele atribuiu todo o incidente a uma m atitude para com a minha formaopor parte das pessoas da Universidade. Encorajei-o a acreditar nisso.

    No precisamos deles, disse ele, pedindo-me que comeasse atrabalhar de imediato como director de vendas na sua fbrica. Ele nocompreendera a minha luta interior.

  • 3O Dia em que Vi Jesus e Maom Lado a Lado

    Era altura das oraes da manh (cerca das 3.30) e ouvia o som daspessoas a levantarem-se em casa. Estava acordado, mas no faziaintenes de deixar o meu quarto.

    Isto aconteceu poucos meses depois de ter sido libertado da priso enunca mais orei na mesquita. Em vez de ir at mesquita cinco vezes pordia, sentava-me na minha cama ou secretria, a orar ao verdadeiro Deus,pedindo-Lhe que se me revelasse, o Deus que me manteve vivo na priso.Por vezes, no tinha quaisquer palavras para orar e limitava-me a ficarsentado a chorar. As lembranas da priso no me largavam.

    A minha me bateu suavemente porta. No vais hoje mesquita?,perguntou.

    No, respondi. No quero ver ningum.Segundo a cultura islmica, se orarmos no nosso quarto, a nossa f no

    ser posta em causa, porque continuamos a orar a Al, o que significa queainda somos Muulmanos. A minha famlia pensava que eu s precisavade tempo para melhorar. Pensava que eu no queria estar ao p daspessoas.

    A MINHA LUTA INTERIOR

    Sa da priso irritado com o Islo, mas convencido de que havia umpoder superior que me manteve vivo. Todos os dias, aumentava a minhafome por conhecer este Deus. Durante todo este tempo, interrogava-me:Que Deus ser este? Nunca pensei no Deus dos Cristos ou dos Judeus.

  • O Dia em que Vi Jesus e Maom Lado a Lado 17

    Porqu? Ainda estava influenciado pelos ensinos do Alcoro e de Maom.O Alcoro diz que os Cristos adoram trs deuses Deus Pai, Jesus, oFilho e Maria, a me de Jesus. Eu andava procura do nico Deusverdadeiro, no de trs. E o Alcoro dizia que os Judeus eram gente mpiaque corrompera as suas Escrituras. Por isso, eu no queria nada com o seuDeus.

    Isso levou-me a sondar as religies do Extremo Oriente Hindusmoe Budismo. Estudara estas religies quando trabalhava para o meubacharelato e agora descobria mais livros de estudo sobre elas.Interrogava-me se seria o deus do Hindusmo. Seria o deus do Budismo?Depois dos meus estudos, conclu que no.

    Quando queria pensar, sentava-me beira do canal e olhava para agua. gua, plantas verdes, cu, natureza tudo me dava esperana dehaver alguma resposta s minhas questes.

    Todos os dias, depois de trabalhar com o meu pai, voltava para casa ejantava com os meus pais e dois irmos que ainda no se tinham casado.Depois do jantar de quinta-feira, tornara-se tradio contar histrias doshadith, que os meus irmos mais novos muito apreciavam. Deixei de ofazer depois de vir da priso. O meu irmo mais novo estava sempre aperguntar: Porque que j no nos contas mais histrias?

    Depois do jantar, ia passar algum tempo com os meus amigos. Porvezes, amos para o caf jogar domin ou xadrez. Outras vezes, via odesporto na televiso. Outras, caminhvamos pela rua principal ao longodas margens do rio Nilo.

    Voltava para casa bastante cansado, por volta das 11 da noite ou meia-noite. Quando me encontrava sozinho, sentia-me a pessoa maisdesesperada do mundo, porque ainda no havia descoberto quem Deuspoderia ser. Todas as noites, passava uma ou duas horas a tentar dormir.Depois, acordava cedo como era hbito. Sentia o corpo cansado. Comeceia sofrer de grandes dores de cabea.

    Consultei muitas vezes o mdico por causa da cabea. Durante o dia,as cefaleias no me deixavam trabalhar nem viver. Se estava ocupado,esquecia-me delas. mas quando me encontrava sozinho noite, a tentardormir, ento a dor tornava-se mais forte. O mdico receitou-meanalgsicos para tomar todas as noites.

  • Jesus E Maom18

    UMA NOVA RECEITA

    Vivi assim durante cerca de um ano. Um dia, a dor de cabea foi tointensa que me dirigi farmcia para pedir mais comprimidos. Como amaioria dos farmacuticos no Egipto, ela era crist. J era seu clientehabitual, pelo que me sentia vontade a falar com ela. Comecei por mequeixar. Aqueles comprimidos no esto a fazer o mesmo efeito.

    Ela respondeu: Voc est num ponto perigoso. Comea a ficar viciadonos comprimidos. J no est a tom-los por causa das dores. Toma-osporque j no consegue passar sem eles.

    E perguntou-me: Como vai a sua vida? Ela sabia que a minha famliaera muito respeitada e que me graduara na Al-Azhar. Disse-lhe queandava procura de Deus. Ela ficou surpreendida: Ento e o seu deus ea sua religio? perguntou. E contei-lhe a minha histria.

    Ela tirou um livro de debaixo do balco e disse calmamente. Vou dar-lhe este livro. Antes de tomar os seus comprimidos esta noite, procure lerum pouco Vai ver como se sente.

    Segurei nos comprimidos com uma das mos e no livro com a outra.Era um livro de capa de cabedal preto, com as palavras Bblia Sagradaem rabe, escritas na frente. Est bem, respondi-lhe. Vouexperimentar. Sa da loja e virei o livro para mim de modo a esconder ottulo. Depois, voltei para casa e dirigi-me ao meu quarto. Era a primeiravez na vida que pegava numa Bblia. Tinha trinta e cinco anos.

    LENDO A BBLIA

    Era uma noite de Vero, por volta das 10 da noite. A minha dor decabea era intensa, mas no tomei os comprimidos. Pousei-os nasecretria e olhei para a Bblia. No sabia onde comear a ler, pelo que aabri ao calhas em Mateus 5. Era a Bblia pessoal da farmacutica e repareinos seus apontamentos nas pginas.

    Comecei a ler o Sermo do Monte. Imaginei o quadro Jesus nomonte a ensinar as multides que O rodeavam. Ao continuar a ler,esqueci-me que estava em casa. No dava por nada minha volta. Perdi a

  • O Dia em que Vi Jesus e Maom Lado a Lado 19

    noo do tempo. Ao longo do livro de Mateus, a Bblia foi-me cativandocom as suas histrias.

    O meu crebro comeou a funcionar como um computador. No livroem cima da secretria minha frente, via a imagem de Jesus. No meucrebro, via a figura de Maom. O meu crebro era incapaz de deixar defazer comparaes. Estava to cheio do Alcoro e da vida de Maom queera sem esforo que essas coisas me vinham lembrana. Limitavam-se aestar presentes.

    Li a Bblia sem me aperceber do tempo, at ao momento em que ouvio chamamento para a orao da manh.

    LEIAM COMIGO

    Caro leitor, chegmos ao momento da minha vida que lhe queromostrar. Se quiser saber o que me aconteceu depois dessa noite, poder lero resto no final do livro. Mas gostaria de parar aqui por agora e reverconsigo a situao.

    Aqui estava eu, um erudito que gastara trinta anos a estudar o Islo ea vida de Maom. No s praticava o Islo como tinha-o memorizado.Agora, tinha uma Bblia minha frente, que me apresentava Jesus.

    Nas pginas que est prestes a ler, quero que experimente o que vinessa noite no meu quarto no Egipto e o que continuei a descobrir nosltimos onze anos. Sem teologia, sem comentrios, sem palavras bonitas.No tive ningum a meu lado a dizer-me: Isto o que a Bblia querdizer. Limitei-me a ler o que ela me dizia. No precisei que algum medissesse: Foi isto que Maom disse ou fez. Eu decorara tudo a partir dasfontes originais.

    Deixe-me apresentar-lhe Jesus e Maom.

  • SECO 2A VIDA DE JESUS E DE MAOM

  • 4Destinos da Infncia

    Maom: Nasceu em 570 a.D.Jesus: Nasceu em 6 ou 5 a.C.

    medida que lia pela primeira vez a vida de Jesus na Bblia, fiqueiespantado com os imensos paralelos entre a vida de Jesus e a deMaom. Neste captulo, iremos analisar a infncia de ambos e descobrirdiversas dessas semelhanas surpreendentes. Comecemos com o facto deserem ambos primognitos.

    NASCIMENTOS

    Maom nasceu em Meca, Arbia, a 2 de Agosto de 570 a.D. (o dcimosegundo dia do ms de Rabiya do calendrio lunar). O pai de Maommorrera antes dele nascer e Maom foi o primognito e nico filho de suame. A histria islmica no regista muitos mais pormenores, mas h umahistria sobre a noite do seu nascimento. Esta histria foi contada por umdos primeiros seguidores de Maom, que disse:

    Minha me contou-me que testemunhou Amenah BintWahab, a me do mensageiro de Al, a dar luz na noite emque Maom nasceu e que ela [a me de Maom] disse:Tudo quanto via nessa noite era luz. Vi as estrelas afecharem-se sobre mim, a ponto de dizer que estavam a cairsobre mim. 1

  • Jesus E Maom24

    Por outras palavras, quando Maom nasceu, sua me declarou que anoite estava to cheia de luz que lhe parecia que as estrelas haviamdescido terra.

    Vejamos agora a histria do nascimento de Jesus. Quase seiscentosanos antes, uma jovem virgem judia chamada Maria disse que o anjoGabriel a visitara com a notcia de que iria dar luz uma criana a quemchamaria o Filho de Deus (Lucas 1:35). Ante essa declarao do anjo,Maria ficou grvida, apesar de ser virgem. A sua gravidez foi umescndalo, porque estava noiva mas ainda no se casara. O noivo, Jos,pensou que seria melhor terminar aquela relao sem levantar escndalo,mas um anjo disse-lhe em sonhos que Maria engravidara pelo EspritoSanto. Durante a sua gravidez, Maria visitou sua prima Isabel a quemcontou o sucedido. A Bblia regista o seu cntico de louvor:

    Maria disse ento:O meu corao louva o Senhor

    e alegra-se em Deus, meu Salvador,porque Ele olhou com amor para esta Sua humilde serva!

    Daqui em diante, toda a gente me vai chamar ditosa,pois grandes coisas me fez o Deus poderoso.

    Ele Santo!LUCAS 1:46-49

    Isabel estava tambm grvida e esperava um menino Joo Baptista que iria desempenhar um papel fundamental na vida do filho de Maria.Esta ficou com Isabel durante cerca de trs meses, findos os quaisregressou sua cidade natal e a Jos.

    No final da gravidez, Maria e Jos tiveram de se dirigir da sua casa emNazar para a cidade de Belm a fim de se registarem no recenseamentoromano. Foi em Belm que Maria deu luz o seu primognito, Jesus. ABblia conta muitos pormenores das circunstncias do nascimento.

    PROFECIAS EM RELAO AO MENINO JESUS

    As histrias de Jesus e Maom incluem profecias sobre eles enquanto

  • Destinos da Infncia 25

    crianas. As profecias de Jesus ocorreram quando ele ainda era beb. Olivro de Lucas diz-nos que chegado o tempo da cerimnia da suapurificao, conforme a Lei de Moiss, levaram o menino ao templo deJerusalm para o apresentarem ao Senhor... e ofereceram tambm umsacrifcio (Lucas 2:22, 24).

    Um profeta chamado Simeo viu Jesus no templo. Segurou-o nosbraos e exclamou: Agora, Senhor, j podes deixar-me morrer em paz,pois cumpriste a Tua palavra! J vi com os meus olhos o Salvador queenviaste para todos os povos. Ele luz que iluminar os pagos e glriade Israel, Teu povo (Lucas 2:29-32).

    Uma mulher chamada Ana aproximou-se deles nesse momento, deugraas a Deus e comeou tambm a louvar a Deus. E falava do meninoa todos os que esperavam que Deus salvasse Jerusalm (Lucas 2:38).

    Mais tarde, falaremos de uma profecia semelhante que foi dada aMaom adolescente.

    A FAMOSA HISTRIA DA PURIFICAO INTERIOR DE MAOM

    Embora no haja histrias de Maom beb, h um relato muito famososobre a sua infncia. Quem Muulmano e viva no Mdio Oriente ouvirconstantemente essa histria. Calculo que seja mencionada em cerca de25 por cento de todos os sermes!

    Gabriel dirigiu-se ao Mensageiro de Al quando estava abrincar com os amigos. Pegou nele e deitando-o prostrado nocho, abriu-lhe o peito, tirou-lhe o corao de onde extraiucogulo, dizendo: Essa era a parte de Satans em ti. Depois,lavou-o com a gua de Zamzam numa bacia dourada erecolocou-o no seu lugar. Os rapazes foram a correr para juntoda me a quem disseram: Maom foi morto. Todos correrampara perto dele (e encontraram-no bem). A sua cor tinha-sealterado, disse Anas. 2

    Conta-se esta histria para assinalar a posio especial de Maom naf islmica.

  • Jesus E Maom26

    A INFNCIA DE MAOM VOLTA DA CAABA

    Ao enviuvar, a me de Maom foi viver com o beb para junto dafamlia. Ali permaneceram durante seis anos at que ela contraiu umafebre altssima e morreu. Assim, Maom foi viver com o av materno. Afamlia do pai fazia parte da tribo Quraysh, a mais poderosa de Meca. Estatribo controlava o principal local de adorao de toda a Arbia, um templorecheado de dolos, conhecido como Caaba. O av de Maom tinha ahonra de servir como guardio da Caaba. Era o responsvel pelasreparaes e limpeza.

    O templo era constitudo por um ptio murado com uma grandeestrutura em bloco no centro. (A palavra Caaba significa literalmente ocubo). O monumento tinha a forma de um rectngulo e estava revestidocom os tecidos mais finos da poca. Antes mesmo do advento do Islo, opovo acreditava que fora Abrao que o construra. Este monumento eratambm chamado a Pedra Negra, em referncia a uma pequena pedra quese pensava ter cado do cu, escondida dentro da estrutura. Uma vez porano, o av de Maom retirava a cobertura, lavava a estrutura e colocavanovas coberturas.

    Todas as tribos criam num deus supremo, mas no sabiam bem quemera este deus. Por isso, faziam diferentes tipos de dolos. O Alcoro diz arespeito desses dolos:

    Mas aos que tomam por protectores outros alm de Al(diz): S os servimos a fim de nos poderem trazer paramais perto de Al

    SURA 39:4, TRADUO DE ALI

    Apesar de cada tribo adorar o seu prprio dolo, todos rodeavamtambm a Pedra Negra como parte dos seus rituais de adorao. Contudo,no criam que a Pedra Negra representasse o deus supremo.

    Cada tribo tinha tambm as suas tradies para as peregrinaesanuais. Por isso, havia sempre tribos diferentes de visita Caaba. Quandoelas apareciam, davam voluntariamente ofertas em dinheiro, comida ou

  • Destinos da Infncia 27

    animais, que ficavam ao cuidado dos guardies e da tribo de Quraysh.Em rapaz, Maom teria frequentado vrias vezes a Caaba com o av

    ou outros membros da famlia. Cuidar do templo era h geraesobrigao da famlia. Sendo Maom ainda um menino, o av morreu e aguarda do templo passou para um dos seus filhos, Abu Talib, a cargo dequem ficou, pelo que Maom foi viver com o tio e os primos.

    Durante todo o seu desenvolvimento, Maom continuou a passartempo envolvido com a Caaba, onde via as pessoas a prostrarem-seperante os dolos e os comerciantes que viviam custa do fabrico e vendade esttuas. Estas experincias exerceram um grande efeito em Maomquando era ainda um rapazinho.

    Jurou que quando fosse adulto nunca se curvaria perante os dolos queexistiam em toda a Meca e a Arbia daquele tempo.3 Vemos assim ainfluncia de religio da poca sobre Maom. Vejamos agora como areligio do Seu povo afectou Jesus.

    JESUS VISITA O TEMPLO EM CRIANA

    Jos e Maria no puderam regressar sua cidade-natal de Nazardepois de se terem registado para o recenseamento. E isso porque algunssbios do Oriente viram uma nova estrela que interpretaram como sinal deque nascera o rei dos Judeus por quem esperavam h muito. Dirigiram-seao rei Herodes em Jerusalm e perguntaram-lhe onde poderiam encontrareste rei. O rei Herodes, que no era Judeu e fora nomeado governador porRoma, no gostou da ideia do nascimento de um outro rei. Chamou osmestres judeus da lei e perguntou-lhes qual a Escritura que profetizava avinda deste rei. Responderam-lhe que nasceria em Belm (Mateus 2:5). Orei Herodes pediu aos sbios que descobrissem a criana e depois oinformassem do seu paradeiro. Os sbios encontraram Jesus, mas nocontaram nada a Herodes.

    Quando Herodes percebeu que fora enganado pelos sbios, ficoufurioso e ordenou que matassem todos os meninos de Belm com menosde dois anos de idade. Jesus teria sido morto nessa altura; contudo, umanjo disse a Jos que partisse com a famlia para o Egipto. Depois damorte de Herodes, Jos, Maria e Jesus regressaram a Nazar.

  • Jesus E Maom28

    Todos os anos, Jos, Maria e os filhos viajavam at Jerusalm para afesta da Pscoa. (A Bblia diz que Jesus tinha irmos mais novos). Ali,teriam visitado o templo magnfico, construdo por Herodes, numatentativa de ganhar os favores do povo judeu. Era uma estruturaimponente feita de blocos de pedra branca rodeada por um ptio maciorodeado por colunatas.

    Todos os anos, Jesus regressava a Nazar com o seu grupo. Mas aosdoze anos de idade, ficou a ouvir os mestres. A famlia e os amigospartiram na data combinada, mas Jesus no foi. Ficou, bebendo aspalavras dos mestres e colocando-lhes perguntas que os deixavamatnitos.

    Aps um dia de viagem, a me e o pai perceberam que Jesus noestava presente. Ficaram preocupados e na manh seguinte regressaram aJerusalm. Durante mais dois dias, procuraram por toda a cidade,perguntando se algum havia visto o filho. Quando o encontraram notemplo, a me disse-lhe: Porque nos fizeste isto?. Jesus respondeu:No sabiam que tinha de estar na casa de meu Pai? (Ver Lucas 2:48-49).

    Assim, Jesus foi atrado para o templo, enquanto Maom ficoudesiludido com a Caaba. Agora, vejamos o que um sacerdote cristoprofetizou acerca de Maom.

    UM SACERDOTE CRISTO PROFETIZOU SOBRE MAOM

    O tio de Maom, Abu Talib, costumava viajar com uma das caravanasdos mercadores de Meca. Aos doze anos de idade, Maom acompanhou otio numa viagem at Sria. Quando a caravana l chegou, passaram pelacela de um monge chamado Bahira que fazia parte da seita dosNestorianos, o que significava que se considerava cristo, mas negava queJesus fosse o Filho de Deus. Muitas das pessoas na Arbia que se diziamcristos ou eram Nestorianos ou Ebionitas, negando ambos que Jesusfosse o Filho de Deus.

    Assim, a histria islmica diz que a caravana chegou a este sacerdoteque lhes pediu que parassem e comessem consigo. O sacerdote mostrou-se muito interessado em Maom e fez-lhe algumas perguntas. Disse queas respostas de Maom coincidiam exactamente com o que os seus livros

  • Destinos da Infncia 29

    diziam de um profeta que viria um dia. Depois, procurou-lhe um sinalentre os ombros. Quando o descobriu, disse ao tio de Maom: Olha, estacriana vai ser o profeta final para o nosso mundo. Esta a marca deprofeta. Depois avisou-o: No deixes que os Judeus saibam isto ouvejam o seu sinal de nascena nos ombros. Se o descobrirem, tentaromat-lo.

    O que apresentei um registo fiel do que a histria islmica diz sobreeste evento. Contudo, do ponto de vista histrico, h aqui um problema.H registos daquilo em que os Nestorianos e Ebionitas acreditavam. Masno temos qualquer prova de que estivessem espera de um outro profeta.

    CONCLUSO

    O que podemos ver da infncia de Jesus e de Maom? Foram ambosinfluenciados pela religio dos seus dias e passaram tempo nos centros deadorao das suas regies. Ambos foram alvo de profecias em criana.Enquanto Jesus abraou as crenas, do seu povo, Maom comeou aquestionar a adorao dos dolos dos seus dias. Est montado o palco parao incio das suas vidas pblicas.

  • 5O Incio das Revelaes

    Maom: Nasceu em 570 a.D.Jesus: Nasceu em 6 ou 5 a.C.

    Neste captulo, iremos ver o que Jesus e Maom fizeram quando eramjovens e o que aconteceu quando comearam a ensinar uma novaforma de compreender Deus.

    MAOM TRABALHA E CASA-SE

    Tal como hoje, a Arbia era um deserto no tempo de Maom. Issosignifica que, para sobreviverem, as pessoas precisavam de comerciarcom outros lugares para obterem comida, porque no conseguiamproduzir o suficiente. A tribo de Maom, os Quraysh, caracterizava-se porser um povo dado ao comrcio.1 Os lderes de Meca enviavamcaravanas de camelos at Sria ou Imen, carregados com artigos paravenderem. Quando chegavam ao seu destino, os lderes caravaneirosvendiam os seus produtos, usavam o dinheiro para comprar comida eoutras coisas que desejavam, carregavam os camelos e regressavam aMeca.

    Uma das maiores caravanas de camelos pertencia mais rica e maispoderosa mulher de Meca, uma senhora chamada Khadija. A histriaislmica diz que, quando ela viu o carcter honesto e fiel de Maom, ocontratou para conduzir uma caravana at Sria. No seu regresso, osprodutos foram vendidos pelo dobro do investimento feito, o que deixouKhadija impressionada. Embora ela tivesse mais de quarenta anos, fossedivorciada por quatro vezes e tivesse filhos, ofereceu-se em casamento aMaom, ento com vinte e cinco anos de idade. Em geral, as pessoas

  • O Incio das Revelaes 31

    duvidam quando ouvem o relato de Khadija se ter oferecido para casarcom Maom. Contudo, exactamente assim que est registado na histriaislmica. As famlias de Maom e de Khadija tambm se opuseram situao.

    O tio de Maom, que o educara (Abu Talib), e o pai de Khadijaopuseram-se ao casamento. aqui que vemos a primeira refernciahistrica a uma figura-chave na vida de Maom o primo de Khadija.Este primo era conhecido como Waraqa bin Neufel. Era um dos maisimportantes lderes religiosos de Meca, como pastor da maior igreja local.

    Talvez se surpreendam por saber da existncia de uma igreja na Arbiadurante a vida de Maom. Todos os escritos histricos islmicos, emespecial os relevantes para o estatuto religioso de Meca da poca falam dachegada do Cristianismo vindo do Ocidente (Sria, Egipto, Etipia,Imen). Muitas tribos rabes aceitaram-no como sua religio. Contudo,esta forma de Cristianismo era muito diferente do tipo descrito no NovoTestamento. Os dois maiores ramos eram os Ebionitas e os Nestorianos.Ambas as tribos negavam que Jesus fosse divino ou Filho de Deus.

    Uma grande igreja ebionita fora fundada em Meca por Othman Bin Al-Huweirith. O pastor seguinte desta igreja era o primo de Khadija, Waraqabin Neufel.

    Quando Khadija e Maom se quiseram casar, Waraqa apoiou-os.Convenceu ambas as famlias a deixarem-nos casar e ele prprio realizoua cerimnia.2

    Assim, possvel que Maom tivesse de facto algum tipo decasamento cristo e sua esposa provavelmente tambm praticaria a f dosEbionitas.

    Maom continuou a dirigir as caravanas de Khadija. Apesar de ela terquarenta anos de idade, a histria islmica diz que tiveram seis filhos dois filhos que morreram na infncia e quatro filhas.

    JESUS LEVA UMA VIDA SOSSEGADA

    No temos muitos pormenores especficos de Jesus adolescente oujovem. Se recebeu a educao tpica de um rapaz judeu, teria comeadopor aprender a ler e escrever aos cinco anos. Com dez, teria iniciado a

  • Jesus E Maom32

    aprendizagem da lei judaica ou Tor. A sua educao formal estariaconcluda aos dezoito anos. Como Jos era carpinteiro, provavelmenteJesus aprendeu esse ofcio, passando a pratic-lo.3 Em Marcos 6:31, referido como o filho do carpinteiro.

    Pouco tempo antes de Jesus comear a pregar em pblico, Jos deveter morrido, porque a me e os irmos de Jesus so mencionados vriasvezes nos Evangelhos, mas no Jos. Jesus sentiu a responsabilidade decuidar da me (Joo 19:26-27).

    No temos qualquer registo de Jesus se ter casado.Podemos fazer algumas inferncias sobre a sua vida religiosa. Por

    exemplo, quando foi sinagoga de Nazar, foi-lhe dada oportunidade deler as Escrituras. Era uma visita habitual da sinagoga, participando naadorao com os Judeus da sua zona (Lucas 4:16).

    Depois de comear a pregar em pblico, dizem os Evangelhos queJesus se afastava para orar, pelo que podemos assumir que tambm o faziaantes da sua pregao pblica.

    Este um quadro geral da vida religiosa de Jesus. Maom tambmparticipava na vida religiosa do seu tempo na Caaba em Meca, alm depassar tempo em meditao. Analisemos mais de perto esse desenvolvi-mento nas primeiras revelaes do Islo.

    CHEGA A REVELAO A MAOM

    Ainda jovem, na casa dos vinte e poucos anos, Maom comeou arefugiar-se com regularidade numa pequena caverna numa das montanhascircundantes cidade de Meca onde passava tempo a orar ao deusinvisvel, procurando ver a face do Deus criador. Passaria tambm um,dois ou trs dias em orao. Sua esposa, Khadija, levava-lhe gua ealimentos.4

    Maom procurava discutir com as pessoas as suas ideias sobre Deus.Foi grandemente influenciado pelos Ebionitas atravs de sua esposa,Khadija e seu primo Waraqa bin Neufal.5 Waraqa tornou-se o mentor deMaom, ensinando-lhe o Cristianismo. Um hadith diz que Waraqacostumava escrever pores dos Evangelhos em rabe.6

    Alguns relatos histricos dizem que apenas o livro de Mateus foi

  • O Incio das Revelaes 33

    traduzido nesta poca em rabe, pelo que possvel que Maom apenasrecebesse ensino de Mateus. Provavelmente, tambm teve conhecimentoda f dos Judeus. O ensino do Velho Testamento devia limitar-se Tor(os cinco primeiros livros do Velho Testamento, escritos por Moiss) e aosSalmos, chamados os Cnticos de David.

    Ao mesmo tempo, talvez Maom continuasse a ir Caaba. Podemosinferir esta hiptese porque um historiador menciona que Maom seencontrou uma vez com Waraqa quando andava volta da Pedra Negra nocentro da Caaba.7

    Assim, neste perodo da sua vida, Maom era casado, conduziacaravanas, aprendia com o seu primo ebionita e praticava as suasmeditaes pessoais nas cavernas volta de Meca. Continuou esta prticadurante mais de quinze anos.

    Ento, aos quarenta anos de idade (610 a.D.), teve uma experinciaque o deixou aterrado.

    Maom estivera a meditar durante o santo ms do Ramado naCaverna de Hira quando, como afirmou mais tarde, a verdade desceusobre ele.

    O anjo Gabriel apareceu-lhe e disse-lhe: L!Ao que Maom respondeu: No sei ler.O anjo agarrou nele e pressionou-o com tanta fora que Maom

    pensou no poder aguentar mais. E o anjo voltou a ordenar: L!Maom respondeu: No sei ler.Uma vez mais, o anjo apertou-o e libertou-o, dizendo-lhe o que devia

    ler: L! No Nome do teu Senhor que criou (tudo quanto existe). Ele criouo homem de um cogulo (um pedao espesso de sangue coagulado). L!O teu Senhor Muito Generoso.

    Estes foram os primeiros versculos do Alcoro a serem revelados.Esto registados na Sura 96:1-3.

    De que modo reagiu Maom a esta experincia? Disse que o coraocomeou a bater com muita fora ou o seu corao estava a tremer. Osmsculos do pescoo retorciam-se de terror. Correu aos gritos para juntoda esposa: Tapa-me! Tapa-me! Taparam-no at o seu medodesaparecer.

    Depois, contou esposa: Oh Khadija, que se passa de errado comigo?

  • Jesus E Maom34

    Que me aconteceu? Tenho medo. Contou-lhe tudo o que se passara. Aesposa percebeu que ele precisava de conselho.8

    UM SACERDOTE CRISTO ENDOSSA AREVELAO DE MAOM

    Aqui, entra de novo em aco o primo de Khadija, que foi ter com elea contar o que Maom ouvira e vira. Nessa altura, o primo era j umancio e perdera a vista. Waraqa respondeu: Santo, santo, santo juropelo nome de Deus em cujas mos est a minha vida, juro, Khadija, queeste o grande sinal que veio a Moiss e Maom o profeta desta naorabe. Levanta-te e s forte. Khadija regressou para junto de Maom econtou-lhe o que Waraqa lhe afirmara.9

    No dia seguinte, Maom encontrou-se na Caaba com Waraqa que lhedisse: No nome do Deus que controla a minha vida, s o profeta destanao rabe e recebeste os grandes sinais de Deus que vieram a Moiss nopassado. As pessoas negar-te-o e perseguir-te-o e te expulsaro da tuacidade e te movero guerra e se eu for vivo quando esse tempo chegar [aperseguio], defenderei Al da forma que ningum sabe a no ser oprprio Al. E curvou-se perante Maom a quem beijou no rosto,regressando Maom a sua casa.10

    Embora Waraqa afirmasse que defenderia Maom, no foi capaz decumprir a sua palavra. Poucos dias depois ou um curto tempo maistarde, morreu.11

    Assim, temos aqui um quadro de Maom com uma experincia nacaverna, sem ter a certeza do seu significado, mas com a esposa e o primoa defenderem a ideia de que ele fora escolhido como profeta do verdadeiroDeus. Vejamos o que aconteceu quando Jesus se apresentou pela primeiravez como profeta.

    Jesus e Joo Baptista

    Jesus e Joo Baptista j estavam relacionados ainda antes de nascerem.Quando a me de Jesus engravidou, foi visitar a me de Joo (sua prima)para lhe contar o que lhe acontecera (Lucas 1:39-45).

  • O Incio das Revelaes 35

    Quando tinham ambos cerca de trinta anos de idade, Joo foi oprimeiro a apresentar-se em pblico. Foi para o deserto da Judeia ecomeou a pregar que o povo devia arrepender-se dos seus pecados. Opovo vinha de Jerusalm e de toda a regio da Judeia para o ver. Quandoconfessavam os seus pecados, ele baptizava-os no rio Jordo.

    Os Judeus pensavam que Joo talvez fosse o Cristo por quemesperavam. Mas Joo disse-lhes: Eu baptizo-vos com gua, mas um maispoderoso do que eu vir, de quem no sou digno de desatar as alparcas dosps. Ele vos baptizar com o Esprito Santo e com fogo (Lucas 3:16).

    Ento, Jesus deixou Nazar e foi ter com Joo para ser baptizado. OsEvangelhos registam:

    No momento em que saa da gua, Jesus viu abrir-se o cu eo Esprito Santo a descer sobre ele, como uma pomba, eouviu uma voz do cu: Tu s o meu Filho querido; tenhoem ti a maior satisfao.

    MARCOS 1:10-11

    A partir desse momento, Joo reconheceu Jesus como o profeta(Messias) profetizado pelas Escrituras judaicas.

    Joo declarou ainda acerca de Jesus: Eu vi o Esprito de Deusdescer do cu como uma pomba e ficar sobre ele. Eu no oconhecia. Mas Deus, que me enviou a baptizar com gua,tinha-me anunciado: Tu hs-de ver o Esprito Santo descer eficar sobre um homem. Esse o que baptiza com o EspritoSanto. Eu vi-o e asseguro-vos que este o Filho de Deus.

    JOO 1:32-34

    Joo continuou a pregar e a baptizar, mas as pessoas comearam aabandon-lo para irem ouvir Jesus. Quando um dos discpulos de Joo sequeixou disto, Joo disse-lhe:

    No sou o Messias. Apenas fui enviado adiante dele. Nafesta de casamento, o noivo aquele a quem pertence a

  • Jesus E Maom36

    noiva. O amigo do noivo apenas o acompanha e escuta ealegra-se em ouvi-lo. Assim tambm a minha alegria estagora completa. Ele que deve crescer em importncia e eudiminuir.

    JOO 3:28-30

    A mensagem joanina de arrependimento no se limitava s pessoasvulgares. Ele criticou abertamente o rei Herodes por se ter casado com aesposa do irmo. Como resultado, Herodes lanou Joo na priso, ondeacabou decapitado (Marcos 6:145-29).

    Assim, vemos aqui vrias semelhanas fascinantes. Tanto Jesus comoMaom foram reconhecidos como profetas pelos primos que morrerampouco depois.

    A PAUSA NA REVELAO

    Na mesma altura em que Waraqa morreu, as revelaes de Maompararam. Deixou de ser visitado pelo anjo Gabriel.

    Mais tarde, Maom disse que ficara

    to triste... que por vrias vezes procurou lanar-se dos picosdas altas montanhas e sempre que subia ao monte para sematar, Gabriel aparecia-lhe e dizia-lhe: Oh Maom, s narealidade o verdadeiro apstolo de Al. Com isso, o seucorao voltava a aquietar-se, acalmava e regressava a casa.12

    Maom passou um ms na caverna de Hira, procura de maisrevelaes e depois regressou ao vale. Enquanto caminhava, afirmou terouvido algum cham-lo em voz alta:

    Olhei para a frente, para trs, para a direita e para aesquerda, mas no vi ningum. Chamaram-me de novo,voltei a olhar volta, mas no vi ningum. Chamaram-meoutra vez e ergui a cabea e ali no Trono em pleno ar, ele,i.e., Gabriel, estava sentado. Comecei a tremer cheio de

  • O Incio das Revelaes 37

    medo. Aproximei-me de Khadija e disse-lhe: Enfaixa-me.Enfaixaram-me e deitaram-me gua e Al, o Exaltado eGlorioso, clamou: Tu que ests enfaixado! Levanta-te eanuncia, magnifica o teu Senhor, limpa as tuas roupas.13

    Estes versculos esto registados no Alcoro, na sura 74:1-5. Depoisdisto, a revelao comeou a surgir com fora, frequncia e regularidade.14

    Este pode ser considerado o primeiro teste de Maom como profeta,Jesus tambm experimentou um teste imediatamente depois de JooBaptista t-lo apresentado como profeta e Cordeiro de Deus. Vejamosagora esse episdio.

    A TENTAO DE JESUS NO DESERTO

    Depois de ser baptizado por Joo, Jesus foi para o deserto e jejuoudurante quarenta dias. Ao fim desse tempo, diz o evangelho de Mateusque Satans tentou-O por trs vezes. Primeiro, Satans disse-lhe:

    Se s o filho de Deus, manda que estas pedras setransformem em pes.Jesus respondeu: A Sagrada Escritura diz: No se vive sde po mas tambm de toda a palavra que vem de Deus.Ento o Diabo levou-O cidade santa, ao ponto mais alto dotemplo e disse-Lhe: Se s o Filho de Deus, atira-te daquiabaixo, porque l diz a Escritura: Deus dar ordens aos Seusanjos a teu respeito: eles ho-de levar-te nas mos paraevitar que magoes os ps contra as pedras.Jesus respondeu: Mas a Escritura tambm diz: No tentarso Senhor teu Deus.O Diabo levou ainda Jesus a um monte muito alto emostrou-lhe dali todos os pases do mundo e as suasgrandezas e disse: Tudo isto te darei se me adorares dejoelhos. Jesus respondeu: Vai-te, Satans! A Escritura diz:Adorars o Senhor teu Deus e s a Ele prestars culto.

    MATEUS 4:3-10

  • Jesus E Maom38

    Depois de Joo Baptista ser preso, Jesus voltou para aGalileia e pregava assim a Boa Nova de Deus: Chegou ahora! O Reino de Deus est prximo, Arrependam-se dospecados e creiam na Boa Nova.

    MARCOS 1:14-15

    Aqui, podemos ver que desde o incio Jesus estava confiante no seupropsito e identidade. No ficou perturbado com este perodo de teste.Em contraste, Maom teve ideias suicidrias quando as suas revelaesdeixaram de surgir. Agora, vejamos como as pessoas reagiram s novasmensagens que Maom e Jesus apresentavam.

  • 6A Reaco das Pessoas s Mensagens

    Maom: Os treze primeiros anos em Meca.Idade: 40 a 53 anos

    Jesus: um a dois anos de ministrio at ao momento em que enviou discpulos a pregarem sozinhos

    Idade: cerca de 30 anos

    Neste ponto da histria, tanto Maom como Jesus tinham j declaradoque haviam sido chamados para apresentar uma mensagem de Deuspara o mundo. Analisemos os seus primeiros dias de pregao. Veremossurpreendentes semelhanas nas reaces das suas cidades-natal masdiferenas distintas na forma como Jesus e Maom reagiram.

    OS CALMOS INCIOS DE MAOM

    A esposa de Maom, Khadija, foi a sua primeira converso ao Islo, aque se seguiu o seu primo de dez anos de idade (Ali ibn Abu Talib) quevivia com eles.1 O mais importante convertido que se seguiu foi um ex-idlatra chamado Abu Bakr que se tornou um evangelista de sucesso doIslo, convertendo vinte e cinco pessoas, incluindo um homem chamadoAl-Arqam cuja casa se tornou um importante centro onde Maomensinava.2

    Maom falou das suas experincias a seu tio, Abu Talib, que o educara,o qual, comprometendo-se a proteg-lo, no seguiu, porm, os seusensinamentos.

    E o que estava Maom a ensinar nesta altura? Contou ao sobrinho que,

  • Jesus E Maom40

    para se tornar muulmano, deveria dar testemunho de que no h outrodeus seno apenas Al sem qualquer associao e abjurar a al-Lat e al-Uzza [dolos] e renunciar a eles.3 Maom tambm dizia que Gabriel lheensinara uma orao especial que revelou aos seus seguidores.4 Maistarde, Maom acrescentaria novas orientaes que deveriam ser seguidaspara se ser um muulmano.

    No princpio, Maom e os Muulmanos no deram nas vistas. Iam orarpara os vales desertos nos arredores da cidade para no serem vistos pelosoutros.5 Maom viveu assim calmamente durante trs anos em Meca.

    O INCIO DRAMTICO DE JESUS

    A histria de Jesus nos Evangelhos apresenta-nos um quadro bastantediferente do incio da sua obra. Poucos dias depois do baptismo, cincohomens j O acompanhavam por onde quer que Ele fosse (Joo 1:35-40).Dirigiram-se juntos a Jerusalm para a festa judaica da Pscoa. Quandoentraram nos ptios do templo, Jesus fez algo que o marcaria para sempreaos olhos dos lderes religiosos judeus. Quando Jesus viu os homens avenderem gado, ovelhas e pombas e a cambiar dinheiro, irritou-se. Fez umchicote e expulsou homens e animais do ptio do templo, gritando Tiremtudo isto daqui! No faam da casa de meu Pai uma casa de negcios(Joo 2:16).

    Os lderes religiosos questionaram a sua autoridade, mas noconseguiram impedi-Lo. Permaneceu em Jerusalm para a festa da Pscoae realizou sinais miraculosos que levaram muitos a crer n'Ele (Joo2:23). Os lderes religiosos (os Fariseus) comearam a prestar ateno ssuas actividades (Joo 4:1).

    Jesus comeou a falar nas sinagogas judaicas e a sua fama espalhou-se por toda aquela regio... e todos o elogiavam (Lucas 4:14-15). Depoisde ensinar em vrias cidades diferentes, regressou para ensinar na suaterra natal, Nazar, uma pequena aldeia de lavradores, com cerca deduzentas pessoas.

    E o que ensinava Jesus nessa altura? Quando se ergueu para ensinar nasinagoga em Nazar, foi-lhe entregue o rolo de Isaas de onde leu ao povo:

  • A Reaco das Pessoas s Mensagens 41

    O Esprito do Senhor tomou posse de mim, por isso meescolheu para levar a Boa Nova aos pobres. Enviou-me paraanunciar a libertao aos prisioneiros, para dar vista aoscegos, para pr em liberdade os oprimidos e para anunciar otempo em que o Senhor quer salvar o Seu povo.

    LUCAS 4:18-19

    Com o povo a olhar para si, comeou a ensin-los: Esta parte daEscritura que acabaram de ouvir, cumpriu-se hoje mesmo (Lucas 4:21).

    Alguns dias antes em Jerusalm, Jesus dissera a um lder religioso queDeus deu o Seu nico Filho para que quem crer nele no morra, mastenha a vida eterna (Joo 3:16). Uma mulher, num poo de Samaria,disse a Jesus que estava espera do Messias vindouro dos Judeus, ao queJesus respondeu: Tu ests a falar com ele. Sou eu mesmo (Joo 4:26)Em suma, Jesus disse que era o Filho de Deus e que detinha as chaves paraum correcto relacionamento com Deus, que resultaria em vida eterna. Estafoi a mensagem de Jesus desde agora at ao fim da sua vida. (No captulo10, iremos comparar com mais pormenor as mensagens de Jesus e deMaom.

    MAOM REJEITADO PELOS SEUS CONCIDADOSE PELOS LDERES RELIGIOSOS

    Maom difundiu a sua mensagem calmamente durante trs anos atafirmar que Gabriel lhe ordenava que anunciasse publicamente amensagem (aos quarenta e trs anos de idade). Maom decidiu convocaros lderes da tribo de Quraysh e falou-lhes dos seus ensinos. H algumascoisas a recordar dos Quraysh: 1. a famlia de Maom pertencia a estatribo, a um cl chamado Beni Hashim (Beni a palavra rabe para tribo).2. Esta tribo produzia rendimentos que mantinha a Caaba, o centro daadorao dos dolos dos rabes.

    Quando Maom lhes anunciou a sua mensagem, ficaram ofendidos.Disseram ao tio de Maom: Oh Abu Talib, o teu sobrinho amaldioou osnossos deuses, insultou a nossa religio, troou da nossa forma de vida eacusou os nossos pais de erro; ou mandas cal-lo ou ns tratamos dele.6

  • Jesus E Maom42

    Como o tio de Maom era seu protector, as pessoas de Meca nopuderam mat-lo, pelo que perseguiram-no. Por exemplo, avisaram aspessoas que visitavam Meca que o ignorassem. Insultavam-no quandocaminhava em crculos volta da Pedra Negra na Caaba.7

    Os convertidos ao Islo estavam mais ameaados que Maom. OsQuraysh pressionavam-nos para abandonarem a sua f. Se o convertidoera uma pessoa de elevada posio social, troavam dele Se era ummercador, ameaavam-no com o boicote. E se era da classe baixa,espancavam-no.8

    Muitos dos convertidos eram de classe baixa ou escravos. Contudo, como tempo, dois homens poderosos juntaram-se a Maom Umar e Hamza(um dos seus tios). Estes homens eram fisicamente fortes e agressivos, oque intimidou os Quraysh. Para enfraquecer os Muulmanos, os Qurayshdecidiram boicot-los e todo o cl de Maom (Beni Hashim).

    Assinaram um acordo que impunha restante tribo que no secasassem com as mulheres de Beni Hashim nem lhes dessem as suas emcasamento. Tambm no deviam vender-lhes nem comprar-lhes fosse oque fosse.

    O lder do boicote era um homem chamado Abu Lahab, outro dos tiosde Maom. Dirigiu-se ao mercado e disse ao povo: Oh comerciantes,aumentai os vossos preos para que a gente de Maom no vos possacomprar nada. Se algum se preocupar com os prejuzos que tiver eutenho dinheiro suficiente para o compensar.

    Maom anunciou revelaes do anjo Gabriel a renunciar a este homem(Sura 111).

    Ao fim de algum tempo, Maom e os muulmanos abandonaram acidade para irem viver no vale desrtico vizinho. Ali entraram emdesespero. Quando um deles foi cidade comprar comida para a famlia,pediram-lhe duas, trs ou quatro vezes mais do que o normal. Noconseguiu comprar e regressou sem nada para a famlia.

    A histria islmica diz que os seguidores de Maom tinham tanta fomeque comeram os excrementos dos animais e as folhas das rvores. Ficouconhecido como o Ano da Fome.

    Pensemos nisto: Maom e sua esposa Khadija, dantes a mulher maisrica e respeitada de Meca, estavam refugiados no deserto, sem possibi-

  • A Reaco das Pessoas s Mensagens 43

    lidades de comprar comida. Provavelmente teriam consigo alguns dosseus filhos menores. Sobreviveram de vveres trazidos secretamente porsimpatizantes e amigos.9

    Durante todo este tempo, Maom falou de revelaes do anjo Gabriel.Estes versculos seriam reunidos e fariam parte do livro conhecido comoAlcoro. As revelaes costumavam conter repreenses contra os que operseguiam.

    JESUS REJEITADO PELOS SEUS CONCIDADOSE PELOS LDERES RELIGIOSOS

    J vimos como os concidados de Maom o rejeitaram. Agora,vejamos Nazar, a pequena aldeia onde Jesus foi educado. Lemosanteriormente como Jesus se apresentou na sinagoga de Nazar para ler asEscrituras. Vejamos agora como que as pessoas reagiram.

    Depois de ler a passagem de Isaas, Jesus continuou a ensinar. Referiucomo os Seus concidados de Nazar queriam que realizasse milagres,como sucedera em Cafarnaum. Digo-vos a verdade, continuou,nenhum profeta bem aceite na sua terra natal. Depois, recordou-lhesos profetas do Velho Testamento que saram de Israel para ajudarem osno-Judeus. Estas palavras enfureceram as pessoas da sinagoga. Levaram-No at um penhasco fora da aldeia para O matar, mas Jesus passou porentre a multido e seguiu o Seu caminho (Lucas 4:14-30).

    Alm da Sua terra natal, Jesus foi rejeitado por outras cidades e gruposde pessoas. Realizou muitos milagres noutras cidades da Galileia, masrejeitaram a Sua mensagem (Cafarnaum, Mateus 11:23; Corazim eBetsaida, Lucas 10:13). A mensagem de Jesus tornou-se particularmenteofensiva para os lderes religiosos dos Judeus, tal como a mensagem deMaom foi particularmente ofensiva para os lderes idlatras de Meca.

    Os lderes religiosos dos dias de Jesus tambm tentaram mat-Lo, masde um modo diferente dos Quraysh em Meca. Em vez de O mataremdirectamente, procuraram uma forma de O levar a infringir uma lei parapoderem mat-Lo legalmente. Por exemplo, se ele cometesse blasfmia,a lei judaica dizia que poderia ser condenado morte. Se cometesse traiocontra o governo romano, tambm poderia ser executado (Mateus 22:15).

  • Jesus E Maom44

    Face rejeio, o padro de Jesus foi afirmar os Seus pontos de vista emudar-se (Lucas 9:51-56). medida que formos analisando a vida deJesus e de Maom, veremos que a reaco de Maom rejeio foibastante diferente. Vejamos como Maom enfrentou o boicote da sua tribo.

    O BOICOTE REPELIDO / MAOM PROCURA PROTECO

    Aps dois ou trs anos sem qualquer interveno directa de Maom, oslderes dos Quraysh decidiram levantar o boicote. Considerando queestava errado tratarem to mal um dos seus parentes, desfizeram o acordo.Maom e os seus regressaram a Meca onde continuaram a praticar o Islo,embora ainda sujeitos a alguma perseguio.10

    Maom apresentou a sua mensagem, dizendo s pessoas que deviamabandonar os dolos, aceitar Al como o nico Deus verdadeiro e Maomcomo profeta de Al. Tambm citava versculos do Alcoro. Quando lhe erapedido um sinal, respondia: O Alcoro o sinal para vs (Sura 29:50-51).

    Os eventos dos anos seguintes mostram que Maom estava adesenvolver uma nova estratgia para estabelecer o Islo e proteger-se.

    Um ou dois anos depois, morreram duas pessoas muito importantes navida de Maom seu tio Abu Talib, que o protegia dos inimigos, e suaesposa Khadija, que lhe fornecia apoio moral (620 a.D.) Maom tinhacinquenta anos. A histria islmica diz que os Quraysh comearam a trat-lo de uma forma mais ofensiva do que anteriormente. citado umexemplo de um jovem grosseiro que lhe atirou poeira para a cabea. 11Contudo, no so mencionados quaisquer ataques fsicos directos comoespancamento, homicdio tentado ou algo de semelhante. Apesar de tudo,podemos dizer com segurana que Maom se sentiu ameaado porqueprocurou a proteco de outras pessoas ou tribos. (Os seus seguidorestambm procuraram protectores pessoais). A histria islmica diz queviajou para fora de Meca at ao povo de Thaqif, s tendas de Kinda e stendas de Kalb, tendo sido rejeitado por todos.12

    Quando os lderes tribais vinham visitar Meca, Maom encontrava-secom eles. Dizia-lhes que era profeta e pedia-lhes que cressem nele e oprotegessem at Al lhes mostrar a mensagem com a qual elecomissionara o seu profeta.13

  • A Reaco das Pessoas s Mensagens 45

    excepo de alguns crentes de classe mais baixa de Meca, osesforos de Maom tiveram pouco sucesso. Por fim, encontrou a suaoportunidade na longa guerra entre as duas tribos principais da cidadevizinha de Medina-Aous e Kahzraj. Estas tribos dirigiram-se Caaba emMeca para a peregrinao anual a fim de adorarem os seus dolos. Depoisdos seus actos de adorao, alguns representantes reuniram-se de noite naCaaba com Maom, que lhes disse: Aceito a vossa fidelidade desde queme protejam como o fazem com as vossas mulheres e filhos. Um doslderes respondeu:

    Juro no nome de quem te enviou com a verdade que tedefenderemos como defendemos as nossas famlias. Firmaeste acordo connosco, oh apstolo de Al. Somos os filhosda guerra [i.e., sabemos como defender-te]. Essa foi a nossaherana de gerao em gerao.14

    Vemos assim um povo dedicado durante muitos anos guerra a jurarfidelidade a Maom, que estava claramente a estabelecer um acordomilitar com estas tribos. Disse-lhes: Guerrearei contra os que guerrearemcontra vs e estarei em paz com os que estiverem em paz convosco.15

    Neste ponto, vemos uma semelhana irnica com Jesus. Maom disses pessoas com quem estava reunido: Tragam-me doze lderes parapoderem cuidar dos negcios da sua tente. Apresentaram-lhe nove deuma tribo e trs de outra. Assim, Maom escolheu doze pessoas paratrabalharem consigo, tal como Jesus chamou doze discpulos paraandarem consigo.

    Nesta altura, Maom j havia passado treze anos a pregar o Islo.Agora, comeava os preparativos para uma grande mudana.

    Comparemos este quadro da vida de Maom com o modo como Jesusapresentou a Sua mensagem.

    JESUS BASEIA-SE NA PREGAO E NA CURA

    Historimos a primeira metade da vida de Maom como profeta e vamosagora concentrar-nos na primeira metade do ministrio de Jesus. Por

  • Jesus E Maom46

    ministrio, consideramos o perodo de um a dois anos que Ele passou aensinar o povo e a preparar os Seus discpulos antes de os enviar sozinhos.

    Ento, como que Jesus apresentou a Sua mensagem? Viajava decidade em cidade volta da Galileia e da Judeia e pregava. Comoconvencia as pessoas a crerem em si? Curava doenas, obrigava osdemnios a abandonar o corpo das pessoas e realizava milagres naturais.

    Por exemplo, logo no incio do seu ministrio, expulsou um demniode um homem que interrompia o Seu sermo na sinagoga, de Cafarnaum(Lucas 4;33). Depois Jesus dirigiu-se a casa de Pedro, onde lhe curou asogra que padecia de uma febre altssima. Ao cair da noite, uma multidoreuniu-se em casa. Trouxeram-Lhe todo o tipo de pessoas com as maisdiversas doenas e Ele curou-as, impondo as mos em cada (Lucas 4:40).

    Este tipo de actividade granjeou-lhe reaces entusiastas das pessoaspor onde quer que fosse. Traziam-Lhe os que sofriam de vrias doenase males, os que tinham espritos maus, os doentes de nervos e osparalticos. E Jesus curava-os a todos (Mateus 4:24). Um homem a quemcurou de lepra espalhou com tanta eficcia a notcia, que Jesus j nopodia entrar abertamente nas cidades por causa das multides. Ficava noseu exterior em locais solitrios. Mesmo assim, as pessoas iam ter comEle (Marcos 1:45).

    Depois de um milagre em que multiplicou a comida, as pessoascomearam a dizer: Este na verdade o profeta que havia de vir aomundo. Estavam prontos a proclamarem-no rei fora, pelo que Jesusse retirou sozinho para os montes (Joo 6:14-15).

    Tambm se tornou conhecido pela Sua forma de ensino. Mateus disse:A multido estava admirada com os seus ensinamentos. que eleensinava como quem tem autoridade e no como os doutores da Lei(Mateus 13:34; ver tambm Lucas 4; Mateus 13:54). Jesus costumavaensinar as pessoas contando-lhes histrias com significado espiritual(parbolas; Mateus 13:34). Por exemplo, para ensinar o perdo s pessoas,contou a histria de um servo a quem o dono perdoou uma grande dvida(Mateus 18:21-35).

    Quase no final do primeiro ano, Jesus escolheu doze homens entre osque O seguiam (Mateus 10:1; Marcos 3:13; Lucas 6:12). Estes doze

  • A Reaco das Pessoas s Mensagens 47

    tornaram-se os Seus companheiros mais ntimos. Em breve Jesus iriainstru-los quanto ao modo de espalharem a Sua mensagem.

    Maom tambm comeou por trabalhar com os seus doze novoslderes para os preparar para espalhar o Islo por toda a Arbia. Vejamoscomo o conseguiu.

  • 7Difundindo a Mensagem

    Maom: Os sete primeiros anos em Medina.Idade: 53 a 60 anos

    Jesus: um a dois anos de ministrio at viagem final at Jerusalm

    Idade: 34 a 35 anos

    Jesus exerceu o Seu ministrio sempre da mesma maneira desde oprincpio at ao fim. Mas na vida de Maom, h um acontecimento quemarcou uma mudana fundamental. Foi a fuga de Meca para Medina,conhecida como hijra. Neste captulo, veremos o que aconteceu depois damudana de Maom e como ele agiu com os seus doze lderes paraespalhar o Islo. Veremos tambm como Jesus trabalhou com os Seusdoze discpulos para difundir a Sua mensagem.

    Tambm analisaremos um outro grande acontecimento na vida deambos a oposio que enfrentaram da parte das comunidades ou lderesreligiosos judaicos dos seus dias.

    O EXRCITO DE MAOM ESPALHA O ISLO

    No ltimo captulo, deixmos Maom logo depois de ter concludo oseu pacto com as duas mais fortes tribos de Medina. Neste ponto, elecomeou a enviar os seus seguidores em pequenos grupos de Meca paraviverem em Medina, o que levou vrios meses.

  • Difundindo a Mensagem 49

    MAOM CHORA SOBRE MECA

    Quando Maom se preparava para emigrar de Meca para Medina, foipara o topo da montanha sobranceiro a Meca e disse: Oh Meca, juro ques a cidade do meu corao e se os teus habitantes no me forassem aabandonar-te, nunca te deixaria.1

    Por outras palavras, Maom estava a revelar quanto amava Meca.Recordamos as suas palavras porque voltaremos a elas quando eleregressar a Meca oito anos mais tarde.

    Depois disto, Maom e um dos seus mais leais seguidores, Abu Bakr,deixaram Meca de noite e partiram em segurana para Medina. achamada segunda hijra ou peregrinao.2 O calendrio islmico assinalaas datas d. H. ou depois de hijra. Portanto, uma data como 5 d. H. refere-se ao quinto ano depois de Maom ter emigrado para Medina.

    Aps anos em que procurou proteco, Maom estava agora numaposio segura. Que fez ele?

    Autorizao para lutarEm Meca, Maom passara treze anos a mostrar-se cooperante e

    tolerante, nada inclinado violncia. Perdoava com frequncia os que omagoavam e no procurava cobrar qualquer vingana. Depois de semudar para Medina, este meigo cordeiro transformou-se num feroz leo.

    Antes do final do seu primeiro ano em Medina, Maom anunciou queAl lhe dera autorizao para lutar. A histria islmica regista:

    Ento, o apsto