4
O AMIGO IMORTAL O estudante da Sabedoria Antiga recordará a evocação que faz J. Krishnamurti em sua obra “O Amigo Imortal”, quando descreve seu encontro com o Buddha. Como é uma obra esgotada, transcrevemos as primeiras páginas do poema, que é de uma serena beleza e de grande profundidade. - 1 - O AMIGO IMORTAL Donde quer que eu olhe, descubro Tua presença; Pleno estou da gloria de Tua magnificência, E ardo no fogo sacro de Tua felicidade. E choro por aqueles Que jamais te contemplam, Pelos que nada sentem Da Tua gloriosa Paz. Em qual forma humana Poderia demonstra-lhes Tua inacessível gloria? Eu me sentei a sonhar num albergue De imponente quietude. Estava a manhã sonolenta E tranqüila; De pé, frente aos céus, Os montes, em azul, Impassíveis, serenos. Ao redor da casa de madeira, Distraídos pássaros em negro e amarelo Saudavam ao sol de primavera. Me sentei sobre o solo Com as pernas cruzadas Meditando; E me esqueci dos montes azuis, Dos pássaros, Do silêncio imponente E do dourado sol nascente. Perdi a sensação de todo o corpo, E meus membros imóveis Repousavam em paz plena de graça. Um jubilo profundo, imensurável, Plenificou meu coração. E minha mente, Ansiosa e impaciente Na concentração,

Jiddu Krishnamurti - O Amigo Imortal

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Jiddu Krishnamurti - O Amigo Imortal

Citation preview

O Amigo Imortal

O AMIGO IMORTAL

O estudante da Sabedoria Antiga recordar a evocao que faz J. Krishnamurti em sua obra O Amigo Imortal, quando descreve seu encontro com o Buddha.

Como uma obra esgotada, transcrevemos as primeiras pginas do poema, que de uma serena beleza e de grande profundidade.

- 1 -

O AMIGO IMORTAL

Donde quer que eu olhe, descubro Tua presena;Pleno estou da gloria de Tua magnificncia,E ardo no fogo sacro de Tua felicidade.E choro por aqueles Que jamais te contemplam,Pelos que nada sentemDa Tua gloriosa Paz.Em qual forma humanaPoderia demonstra-lhesTua inacessvel gloria?Eu me sentei a sonhar num albergueDe imponente quietude.Estava a manh sonolentaE tranqila;De p, frente aos cus,Os montes, em azul,Impassveis, serenos.Ao redor da casa de madeira,Distrados pssaros em negro e amareloSaudavam ao sol de primavera.Me sentei sobre o soloCom as pernas cruzadasMeditando;E me esqueci dos montes azuis,Dos pssaros,Do silncio imponenteE do dourado sol nascente.Perdi a sensao de todo o corpo,E meus membros imveisRepousavam em paz plena de graa.Um jubilo profundo, imensurvel,Plenificou meu corao.E minha mente,Ansiosa e impacienteNa concentrao,Perdia, insensvel, o mundo do irreal.Eu estava transbordante do poder imortal.Como a fresca brisa do lesteQue de sbito surge na existncia E embalsama o ambiente circundante,Ali, frente a frente,Sentado ao oriental,Na forma que o mundo Lhe conhece,Com Sua amarela tnica habitual,Simples e majestoso,Assim estava o Mestre dos Mestres.Fixa Sua vista em mim,E sem um gesto,Tomou assento o Poderoso Ser.Eu lhe olhei e, fervorosamente,A cabea inclineiSua presena,Meu corpo se curvou para frenteEm graciosa reverencia.Aquela nica visoMostrou o avano do mundo diante do progresso,E a imensa distnciaQue se perde ao longe,Entre o mundo de sombras e angstiasE o maior de todos seus Mestres.Quo pouco o mundo compreendeu Sua vidaE tanto como tem dado!Quo jubilosamente,Liberto,O remontar Seu vo Escapando, por fim, da tirnica Roda intrincada da morte e nascimento!Uma vez j iluminado,Como o jardim d seu aroma,Ele deu ao mundo a Verdade.Enquanto eu, reverente, contemplavaOs ps benditos que pisavam num tempoDa ndia a terra afortunada,Meu corao de santo amor preenchido,Num caudal de devoo imensaTransbordou-se indomvel e irreprimido,E se fundiu meu ser nessa felicidade.Minha mente compreendeu desta maneiraExtraordinria e fcil,A Verdade que to ansiosamenteEle alcanou em sem igual combate.E se fundiu meu ser nessa felicidade.Minha alma compreendeu a infinita simplicidadeDa Verdade.E se fundiu meu ser nessa felicidade.Tu eras a Verdade,Tu eras a Lei,Tu eras o Refugio,Tu eras o Guia,O Companheiro e o Amado.Tu embriagaste meu corao,Tu conquistaste minha alma,Em Ti encontrei meu consolo,Em Ti minha Verdade estabeleci.Por donde caminhastes,Sigo eu margem de Tuas pegadas.Donde Tu padeceste e conquistaste,Entesouro eu foras.Donde Tu renunciaste,Eu me folgoSereno, imensurvel.Eterno qual as estrelasQue povoam o firmamento,Eis que retorna a ser ao caboDo gozo e o sofrimento.Feliz para sempre aqueleQue Te compreende e Te amaCom pleno conhecimento.Como o mar, insondvel,Assim s meu amor, infinito.Eis alcanada a Verdade,E numa divina quietudeVigora a crescer meu esprito.Mas, ontem, ansiei me distanciarDo mundo de sofrimentoEm direo a um afastado lugar.De uma montanha em silencio,Eximido,DesligadoDe todas as coisasEm busca de Ti, oh Amado,E agora Te apareces dentroDe mim mesmo, Iluminado.Levo-Te em meu corao.No importa aonde olhe,Contemplo-Te, Feliz, tranqilo, sereno,Plenificando meu mundoA expresso da Verdade.Meu corao est pleno de poder.Minha mente est concentrada.Eu estou pleno de Ti.Como a brisa da nascenteQue de sbito surge na existncia E embalsama a terra circundante,Assim me realizei.Krishnamurti