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Universidade de Aveiro 2013 Departamento de Educação JOANA DE PINHO COUTINHO RESPOSTAS FISIOLÓGICAS DURANTE UM TESTE DE INFORMAÇÃO OCULTA

JOANA DE PINHO RESPOSTAS FISIOLÓGICAS DURANTE UM … · Teste de Informação Oculta, deteção da mentira, frequência cardíaca, resposta , reflexo orientado, carga cognitiva

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Universidade de Aveiro

2013

Departamento de Educação

JOANA DE PINHO COUTINHO

RESPOSTAS FISIOLÓGICAS DURANTE UM TESTE DE INFORMAÇÃO OCULTA

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Universidade de Aveiro

2013

Departamento de Educação

JOANA DE PINHO COUTINHO

RESPOSTAS FISIOLÓGICAS DURANTE UM TESTE DE INFORMAÇÃO OCULTA

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Psicologia Forense, realizada sob a orientação científica da Doutora Isabel Maria Barbas dos Santos, Professora Auxiliar Convidada do Departamento de Educação da Universidade de Aveiro.

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Dedico este trabalho à minha mãe.

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o júri

presidente Profª. Doutora Sandra Cristina de Oliveira Soares

Professora Auxiliar do Departamento de Educação da Universidade de Aveiro

Profª. Doutora Maria de Fátima de Jesus Simões Professora Associada Com Agregação do Departamento de Psicologia e Educação da Universidade da Beira Interior

Profª. Doutora Isabel Maria Barbas dos Santos

Professora Auxiliar Convidada do Departamento de Educação da Universidade de Aveiro

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agradecimentos

À Professora Doutora Isabel Santos pela sua orientação, disponibilidade e apoio ao longo de todo o processo. A exigência e rigor científico que sempre impôs foram essenciais para a conclusão deste trabalho e para o meu crescimento. À Beatriz Oliveira pelo incentivo, motivação, positivismo e espírito crítico desde o primeiro minuto. Sem os seus conhecimentos e apoio teria sido mil vezes mais difícil. À Doutora Susana Brás pela sua incansável ajuda na criação de um algoritmo para automatizar a análise dos dados da Frequência Cardíaca, pela sua disponibilidade constante em esclarecer as minhas dúvidas. Ao Engenheiro Paulo Rodrigues pela partilha do programa que tornou possível a análise automática da Resposta de Condutância da Pele. A todos os participantes deste estudo que foram elementos cruciais na sua conclusão. Sem vocês nada seria possível! À Filipa Fontoura, querida amiga e companheira de todo este percurso e de tantos sonhos, bem como de momentos de desespero e lágrimas. Estiveste comigo durante estes cinco anos, felizes e difíceis, acompanhaste todas as minhas vitórias e dificuldades. Mais do que isso, viveste-as comigo. Um obrigado do tamanho do mundo! Sem ti, isto não teria o mesmo sabor. À Telma Tavares pelas suas “good vibes”, estilo relaxado e capacidade de me fazer rir mesmo quando isso era a última coisa que me apetecia fazer. Obrigada por teres sempre acreditado em mim e me dares força e coragem, sempre. A todos os meus colegas do Núcleo de Estudantes de Psicologia e do curso, em geral, por todo o apoio. Esta etapa teria sido impossível sem o apoio incondicional de duas pessoas muito especiais na minha vida. Mãe obrigada por teres lutado para me proporcionar uma educação completa e me permitires a oportunidade de realizar um sonho. Sei que te orgulhas de mim e isso é o máximo que poderia alguma vez pedir. És a minha Heroína. Zé és o homem mais paciente e carinhoso que existe. Obrigada pelas horas passadas a ouvir-me, pelo constante apoio e por acreditares sempre nas minhas capacidades, mesmo quando eu duvidava. Obrigada pelos abraços na hora certa e por sempre me apoiares e dares força. Obrigada por resolveres os meus problemas informáticos e me proporcionares momentos de descontração. Aos meus avós, primos e tios que sempre acreditaram em mim e vibram com as minhas vitórias. Aos meus queridos amigos, Maria e Sérgio, obrigada pela ajuda dispensada, por me ouvirem, apoiarem e acreditarem em mim. E, por último, um obrigada especial ao Departamento de Educação e à Universidade de Aveiro que me acolheram durante cinco anos.

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palavras-chave

Teste de Informação Oculta, deteção da mentira, frequência cardíaca, resposta de condutância da pele, reflexo orientado, carga cognitiva.

resumo

A deteção da mentira é uma tarefa difícil. No entanto, é um tema que tem suscitado o interesse de diversos investigadores. É notória a importância deste assunto nas ciências forenses, por exemplo, em casos em que o estabelecimento da veracidade das testemunhas é muito importante. Segundo vários estudos os erros na identificação do autor do crime pelas testemunhas oculares são frequentes em 75% dos casos, sendo os erros mais frequentemente cometidos pelas testemunhas oculares os designados por “falsos positivos”, isto é, casos em que ocorre a identificação errada de um suspeito. Porém, apesar de se acreditar que a maioria dos erros cometidos pelas testemunhas são enganos de identificação genuínos, o perjúrio deliberado também contribui para os falsos relatos de testemunhas. Estudos anteriores indicam que o Teste de Informação Oculta (TIO) associado a respostas psicofisiológicas permite discriminar entre mentirosos e inocentes com elevada precisão. Assim, efetuou-se um estudo laboratorial com um TIO para se avaliar se os mentirosos evidenciam uma diminuição da frequência cardíaca e uma alteração da resposta de condutância da pele face a estímulos target, em comparação com os estímulos baseline. Numa amostra de 48 participantes (24 mentirosos e 24 inocentes), com uma média de 21.69 anos de idade, encontraram-se diferenças estatisticamente significativas entre mentirosos e inocentes na frequência cardíaca, revelando que nos mentirosos há uma diminuição da frequência cardíaca nos itens target, comparativamente com os mesmos itens no grupo dos inocentes. Para além disso, no grupo dos mentirosos há uma diminuição da frequência cardíaca face aos itens target, comparativamente aos itens baseline. Estes dados vão de encontro às abordagens do reflexo orientado e da carga cognitiva. Relativamente à resposta de condutância da pele apenas foram encontradas diferenças estatisticamente significativas para o parâmetro latência. Os resultados sugerem que a frequência cardíaca é uma boa medida para distinguir os mentirosos dos inocentes.

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keywords

Concealed Information Test, lie detection, heart rate, skin conductance response, orienting reflex, cognitive load.

abstract

Detecting deceit is a difficult task. However, it is a topic that has sparked the interest of several researchers. The importance of this issue in forensic sciences is notable, for example, in cases where the establishment of the veracity of the witnesses is extremely important. According to several studies the percentage of errors in suspect identification could be up 75%, being the most frequently made errors by the eyewitnesses called "false positives" (cases where occurred the wrong identification of a suspect). Although investigators believe that most of the mistakes made by witnesses are genuine identification mistakes, deliberate perjury also contributes to false eyewitness reports. The Concealed Information Test (CIT) associated with psychophysiological responses allows to discriminate between liars and truth tellers with high accuracy. Thus, a study was made using the CIT for testing whether liars show a decreased heart rate and a change in skin conductance response face to target items, in comparison to baseline items. In a sample of 48 subjects (24 liars and 24 truth tellers), with an average age of 21.69 years, we found statistically significant differences in liars and truth tellers in heart rate. Liars showed a decrease in heart rate in the target items compared with the same items in the truth tellers group. Liars showed a decrease in heart rate in the target items, in comparison with the baseline items. These results confirm both approaches, the orienting reflex and cognitive load. With regard to skin conductance response only statistically significance differences in latency were found. The results indicate that the heart rate seems to be a good measure to distinguish liars from truth tellers.

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Índice

1.Introdução ...................................................................................................................................... 1

2. Método ......................................................................................................................................... 12

2.1. Participantes .............................................................................................................................. 12

2.2 Material ...................................................................................................................................... 12

2.3.Procedimento .............................................................................................................................. 14

2.4.Tratamento e Análise de dados .................................................................................................. 15

3.Resultados .................................................................................................................................... 17

3.1. Análises da Frequência Cardíaca .............................................................................................. 17

3.2. Análises da Resposta de Condutância da Pele .......................................................................... 19

3.3. Análises da Avaliação da Familiaridade dos Estímulos ............................................................ 20

4. Discussão ..................................................................................................................................... 21

5. Referências Bibliográficas ......................................................................................................... 28

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Índice de Figuras

Figura 1 - Média da Frequência Cardíaca (bpm) segundo a segundo para os

Estímulos Target e Baseline em ambos os grupos experimentais na Condição 1 (3

atores diferentes apresentados 5 vezes) e 2 (15 atores diferentes) …………………….. 17

Figura 2 - Médias das avaliações de familiaridade dos Estímulos pelos Mentirosos e

Inocentes………………………………………………………………………………...

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Índice de Tabelas

Tabela 1 – Resultados da análise estatística da frequência cardíaca para cada

segundo, para a interação Estímulo*Grupo…………………………………………….

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1. Introdução

A deteção da mentira é uma tarefa complexa que desde sempre suscitou interesse

devido à sua importância nas ciências forenses, levando vários investigadores a investir

nesta área. Desde os anos 80, tem-se testemunhado um aumento no interesse pelo engano e

sua deteção no campo da psicologia e da Lei (Bensi, Gambetti, Nori, & Giusberti, 2009).

No estudo da deteção da mentira é importante a distinção entre os conceitos de

verdade e mentira. Entende-se que uma afirmação é verdadeira quando descreve

objetivamente uma situação, sendo que o contrário da verdade é a falsidade e não a mentira

(Hessen, 1987). A mentira implica intencionalidade, ou seja, ter o objetivo de enganar o

outro usando quer a falsidade quer a verdade (DePaulo et al., 2003; Furedy, 1986).

Juízes, advogados e procuradores têm que decidir frequentemente a fiabilidade das

testemunhas, uma avaliação crucial que pode afetar fortemente o curso do julgamento e o

veredito final (De Cataldo & Gulotta, 1996; cit. em Bensi, et al., 2009). Sendo as

testemunhas, por vezes, o único meio disponível para determinar a identidade do autor de

um crime (Wells & Olson, 2003), torna-se importante descobrir formas de aumentar a

fiabilidade das evidências das testemunhas oculares.

Segundo vários estudos, os erros na identificação do autor do crime pelas testemunhas

oculares são frequentes em 75% dos casos (Busey & Loftus, 2007; Coxon & Valentine,

1997; Kassin & Gudjonsson, 2004). Os erros que são mais frequentemente cometidos pelas

testemunhas oculares são os “falsos positivos”, isto é, casos em que ocorre a identificação

de um suspeito que não cometeu o crime presenciado (Coxon & Valentine, 1997; Wells &

Olson, 2003). Apesar de se acreditar que a maioria dos erros cometidos pelas testemunhas

são enganos de identificação genuínos (Wells et al., 1998) o perjúrio deliberado também

contribui para os falsos relatos de testemunhas (Wells et al., 1998; Wells, Lindsay &

Ferguson, 1979; cit. em Lefebvre, Marchand, Smith, & Connolly, 2009), trazendo ainda

mais desafios à determinação da veracidade e validade deste meio de prova. Existem

múltiplos incentivos para o perjúrio: recompensas monetárias oferecidas pelos

Departamentos de Polícia por informação que pode ajudar a resolver um crime, diminuição

de penas em troca de testemunho, benefícios concedidos aos reclusos em troca de

informações, ocultar propositadamente a identidade do autor do crime por medo ou para o

proteger (por exemplo, se o autor do crime for um familiar ou amigo, um membro do seu

gang ou co-autor do crime) (Lefebvre, et al., 2009).

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O uso de medidas fisiológicas para determinar quando um indivíduo está a mentir é

um tema controverso com uma longa história (Andreassi, 2007). Foi Lombroso o primeiro

a usar um instrumento elétrico com o objetivo de detetar a mentira, tendo em 1895

monitorizado a atividade cardiovascular enquanto suspeitos reais estavam a ser

interrogados (Iacono, 2000; cit. em Andreassi, 2007). Há cerca de 100 anos atrás foi

Munsterberg (1908; cit. em Andreassi, 2007) que sugeriu que reações emocionais, como

alterações no batimento cardíaco, volume do sangue, condutância da pele e respiração,

deveriam ser estudadas como possíveis auxiliares na distinção entre um suspeito inocente e

culpado. No entanto, já naquela altura este recomendou cautela no uso destas medidas,

uma vez que um homem inocente, especialmente um homem nervoso, pode mostrar-se tão

excitado quanto um homem culpado quando a vítima e os meios do crime são

mencionados; o seu medo de ser condenado injustamente pode influenciar os seus

músculos, glândulas e vasos sanguíneos tão fortemente como se fosse culpado. Assim,

Munsterberg sugeriu que estas medidas se usassem apenas quando um certo número de

itens sobre a cena do crime fossem apenas conhecidos pela testemunha do crime.

O método sugerido por Munsterberg foi descrito mais recentemente por Lykken

(1974; cit. em Andreassi, 2007) como o Teste do Conhecimento Culpado (TCC), sendo

que atualmente é referido com mais frequência por Teste de Informação Oculta (TIO)

(Concealed Information Test - CIT) (Meijer & Verschuere, 2010). Na mesma altura foi

descrito o Teste da Questão Controlo (TQC) por Podlesny e Raskin (1977; cit. em

Andreassi, 2007). Enquanto no TQC o técnico pergunta diretamente questões relevantes

(“Você roubou o banco?”) misturadas com perguntas irrelevantes (“Você está sentado?”),

o TIO envolve a preparação de questões de resposta dicotómica (Andreassi, 2007). Iacono

e Lykken (2002; cit. em Andreassi, 2007) fazem uma clara distinção entre o TIO e o TQC,

o objetivo do TIO é detetar o conhecimento culpado e o do TQC é detetar a mentira.

Em alguns crimes, os investigadores conseguem identificar factos que são, com

elevada certeza, apenas conhecidos pelo autor do mesmo. Estes factos poderão ser

apresentados ao suspeito em forma de questões de resposta dicotómica e o polígrafo pode

ser usado para determinar se o suspeito reage de forma diferente às alternativas target

(itens significativos relacionados com o crime) comparativamente às alternativas baseline

(itens controlo) associadas à mesma questão (Lykken, 1991). Assim, supondo que alguém

foi morto com uma faca (abandonada no local do crime) e que essa informação não foi

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divulgada, apenas o autor do crime poderia saber que tipo de faca foi encontrada (Leal &

Vrij, 2010). Num TIO típico os examinados seriam ligados ao polígrafo e iriam visualizar

uma série de facas, incluindo a que foi encontrada na cena do crime, sendo questionado se

reconhecem cada uma das facas como sendo a que foi usada no crime em questão. O

examinado é instruído a responder “não” sempre que a pergunta é feita e cada faca é

apresentada (Leal & Vrij, 2010). Para um suspeito inocente todas as alternativas são

igualmente plausíveis e irão provocar uma resposta fisiológica similar. Para um suspeito

culpado as alternativas target são significativas e irão provocar um forte padrão de resposta

fisiológica, levando à determinação do conhecimento de detalhes íntimos do crime e ao seu

envolvimento no mesmo (Meijer & Verschuere, 2010).

O TQC é precedido por uma entrevista que serve para convencer o suspeito que o

poligrafo pode determinar com elevada precisão se o suspeito está a mentir ou não. Por

isso, um inocente pode responder “não” com confiança às questões relevantes

(relacionadas com o crime em investigação), uma vez que o polígrafo irá mostrar que está

a responder com a verdade. A entrevista também serve para manobrar o examinado a

responder “não” às questões controlo (perguntas mais gerais mas que se referem a

comportamentos indesejados), sugerindo que confessar atividades ilegais irá influenciar

negativamente os resultados do teste. É defendido que as questões mais ameaçadoras

provocarão respostas fisiológicas mais fortes, sendo o pressuposto fundamental que as

questões relevantes são mais ameaçadoras para os suspeitos culpados, enquanto as

questões controlo são mais ameaçadoras para os suspeitos inocentes. Assim, assume-se que

os inocentes terão respostas fisiológicas mais fortes em resposta às questões controlo,

devido ao medo das suas respostas enganosas os levarem a serem presos pelo crime em

investigação. O TQC tem sido criticado por vários motivos, mas especialmente pela

suposição de que suspeitos inocentes estejam mais preocupados com as questões controlo,

pois, afinal, o efeito induzido pelo stress não é característico da questão controlo mas sim

uma consequência do modo como o funcionamento do teste é explicado ao suspeito.

Consequentemente, a precisão deste teste depende largamente das habilidades do técnico

do polígrafo e não do teste em si (Meijer & Verschuere, 2010). Os críticos do TQC

argumentam que este pressuposto não é suportado pelo estudo científico da psicologia ou

da psicofisiologia, nem é convincente na sua lógica interna (Ben-Shakhar, 2008; Fiedler,

Schmid, & Stahl, 2002; Iacono, 2008).

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Furedy, Davis e Gurevich (1988) afirmam que o TIO é um método cientificamente

mais válido para avaliar a culpa, sendo considerado superior pois as taxas de erro podem

ser especificadas e é menos vulnerável à falsificação (Furedy & Heslegrave , 1988; cit. em

Andreassi, 2007).

Num TIO a probabilidade de ocorrência de um falso positivo está totalmente sob o

controlo do examinador. Um falso positivo significa que, meramente por acaso, ocorreu

um forte padrão de resposta aos itens target (Meijer & Verschuere, 2010). A probabilidade

disto acontecer depende de dois fatores (Meijer & Verschuere, 2010). O primeiro fator diz

respeito às propriedades do teste, a probabilidade de ocorrência de um falso positivo é

inversamente relacionada com o número de questões e o número de alternativas de

resposta por questão. O que significa que a precisão do TIO aumenta com o número de

questões do teste e com o número de alternativas por questão. O segundo fator que

determina a probabilidade de ocorrência de falsos positivos é como se define “um forte

padrão de resposta”. Quando o resultado do teste de um culpado requer que o suspeito

tenha uma resposta fisiológica forte nas alternativas target das cinco perguntas do teste, a

probabilidade de isso acontecer por acaso é menor do que quando se exige uma resposta

fisiológica forte em apenas três das cinco alternativas target. Este controlo tem importantes

implicações. Por um lado, permite ao examinador definir a probabilidade de ocorrência de

um falso positivo a um nível baixo de arbitrariedade e, por outro lado, permite o cálculo da

probabilidade de incorreção do resultado do teste de um culpado. Isto é importante caso

um resultado incriminatório seja introduzido em tribunal.

Uma revisão de estudos sobre a validade do TIO (Ben-Shakhar & Furedy, 1990; cit.

em Andreassi, 2007) indica uma precisão de 84% para sujeitos culpados e de 94% para

sujeitos inocentes. Estes resultados mostram uma maior probabilidade de ocorrência de

falsos negativos num TIO. O TIO originalmente descrito por Lykken (1959; cit. em Meijer

& Verschuere, 2010) usava apenas a resposta de condutância da pele como variável

dependente. Esta medida recebeu maior atenção na investigação do TIO e tem mostrado

ser robusta a discriminar os participantes culpados dos inocentes (Meijer & Verschuere,

2010). Por exemplo, Elaad (1998; cit. em Meijer & Verschuere, 2010) reviu 15 estudos de

simulação de crimes e descobriu taxas médias de deteção de 81% para examinados

culpados e de 96% para examinados inocentes. Uma revisão mais recente de MacLaren

(2001; cit. em Meijer & Verschuere, 2010) demonstrou resultados similares, com uma

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identificação correta de 76% dos participantes com conhecimento culpado e 83% para os

participantes sem o conhecimento culpado.

Muitos investigadores defendem que o TIO está pronto para a aplicação nas

investigações criminais (Ben-Shakhar, Bar-Hillel, & Kremnitzer, 2002), baseando-se no

facto de ser possível controlar a ocorrência de falsos positivos e na sua base sólida na

teoria dos reflexos orientados (Verschuere, Crombez, De Clercq, & Koster, 2004). Apesar

disto, este apenas é usado no Japão (Hira & Furumitsu, 2002; Nakayama, 2002; cit. em

Meijer & Verschuere, 2010). O uso limitado do TIO deve-se, em parte, à dificuldade em

formular itens suficientes que sejam apropriados para o teste (Meijer & Verschuere, 2010).

O pressuposto subjacente ao TIO é que os examinados culpados mostrarão reflexos

orientados quando confrontados com detalhes cruciais do crime (Vrij & Granhag, 2012).

Os reflexos orientados resultam em respostas fisiológicas que podem ser medidas pelo

polígrafo, como o aumento na atividade eletrodérmica (Furedy, et al., 1988; Verschuere,

Crombez, De Clercq, et al., 2004; Verschuere, Meijer, & De Clercq, 2011), e o declínio na

frequência cardíaca (Verschuere, Crombez, De Clercq, et al., 2004; Verschuere, Crombez,

De Clercq, & Koster, 2005; Verschuere, et al., 2011). Este reflexo é a resposta a estímulos

externos novos (por exemplo, o som de um vidro a partir) ou significativos (por exemplo,

alguém a gritar "Fogo!") (Verschuere, et al., 2011). A teoria dos reflexos orientados afirma

que itens target são significativos, provocando um reflexo orientado forte apenas em

sujeitos que reconhecem a informação (Verschuere, et al., 2011). Ou seja, usando o

exemplo referido anteriormente, para o autor do crime a arma usada é significativa e, por

isso, está mais propenso a revelar fortes reflexos orientados quando a faca utilizada para

matar a vítima é apresentada (item target) do que quando as outras facas são apresentadas

(itens baseline). Examinados inocentes não têm qualquer conhecimento da arma do crime

(não sendo significativa) e, por isso, demonstrarão reflexos orientados similares nos itens

target e baseline (Leal & Vrij, 2010).

Se as respostas psicofisiológicas aos itens target podem ser concebidas como uma

componente dos reflexos orientados, é razoável assumir que estão envolvidos processos

atencionais (Verschuere, Crombez, & Koster, 2004). Vários autores propuseram uma

abordagem de processamento de informação na orientação (Graham, 1979; Kahneman,

1973; Ohman, 1992; Sokolov, Spinks, Naatanen, & Lyytinen, 2002; Wagner, 1978; cit. em

Verschuere, Crombez, & Koster, 2004), argumentando que a principal função do reflexo

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orientado é melhorar o processamento de informação, o que não é alcançado apenas pelo

direcionar dos sentidos para o estímulo, mas também pela atribuição de atenção.

Assim, Verschuere, Crombez e Koster (2004) decidiram testar em três experiências se

o conhecimento culpado realmente exige recursos atencionais. Os participantes foram

levados a acreditar que os experimentadores pretendiam detetar cinco de dez imagens que

tinham sido instruídos a memorizar (itens de conhecimento culpado). As restantes cinco

imagens eram apresentadas como irrelevantes (mero conhecimento). As dez imagens

foram apresentadas a par com imagens neutras (imagens que não foram vistas

anteriormente). Imediatamente após as imagens desaparecerem do ecrã, um par de pontos

(.. ou : ) substituía uma das imagens. Os participantes tinham que indicar o mais

rapidamente possível se os pontos foram posicionados horizontal ou verticalmente. As

diferenças entre os três estudos prenderam-se com a tentativa de otimizar as diferenças na

significância entre itens de conhecimento culpado e de mero conhecimento (por exemplo,

no estudo 1 foi o investigador que disse aos participantes quais as cinco imagens

relativamente às quais deveriam esconder o seu conhecimento, no estudo 2 foram os

participantes que escolheram quais as cinco imagens das quais iriam esconder o

conhecimento). Os objetivos da experiência foram distinguir os efeitos da familiaridade e

significância (esperavam que a interferência da tarefa dos pontos fosse maior nas respostas

aos itens de conhecimento culpado em comparação aos itens de mero conhecimento,

traduzindo-se em respostas mais lentas nos itens de conhecimento culpado) e verificar o

tempo que os participantes demoravam a responder à tarefa dos pontos que se seguia aos

ensaios dos itens de conhecimento culpado, mero conhecimento ou neutros. Relativamente

às diferenças no tempo de resposta entre itens de conhecimento culpado e mero

conhecimento, apenas na primeira experiência se obtiveram diferenças estatisticamente

significativas, sendo as respostas mais lentas em resposta aos itens de conhecimento

culpado. Nas três experiências houve um resultado consistente, as respostas foram mais

lentas nos ensaios dos itens de conhecimento culpado do que nos ensaios neutros, o que

revela a existência de uma interferência na tarefa de classificação dos pontos. Estes

resultados suportam a ideia de que o conhecimento culpado exige atenção e são

consistentes com a hipótese do processamento de informação na orientação para o

conhecimento culpado, que afirma que o conhecimento culpado provoca um reflexo

orientado e portanto exige recursos atencionais. Os autores argumentam que esta visão

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cognitiva pode ajudar a explicar de forma integrativa o porquê do conhecimento culpado

poder ser detetado com segurança por medidas fisiológicas periféricas (Por exemplo,

Resposta de condutância da pele, Lykken, 1959; cit. em Verschuere, Crombez, & Koster,

2004) e centrais (Por exemplo, potenciais evocados, Farwell & Donchin, 1991), assim

como por algumas medidas comportamentais (Por exemplo, tempos de reação, Seymour,

Seifert, Shafto, & Mosmann, 2000).

Algumas críticas que foram feitas a este estudo consistiram na hipótese de que a

interferência nos ensaios dos itens de conhecimento culpado se poder dever a um reflexo

defensivo (Verschuere, Crombez, & Koster, 2004). O propósito deste reflexo é proteger o

organismo de estímulos aversivos (Graham, 1979; cit. em Verschuere, Crombez, & Koster,

2004). Embora os autores deste estudo refiram que não encontraram evidências de que os

estímulos de conhecimento culpado utilizados fossem aversivos, sugeriram que em estudos

futuros se utilizassem medidas autonómicas, como a frequência cardíaca, para permitir

uma comparação direta entre o reflexo orientado e o reflexo defensivo. Algumas medidas

comportamentais e do sistema nervoso autónomo e central têm sido relacionadas com o

reflexo orientado, mas a frequência cardíaca tem provado ser um simples, mas eficaz,

índice: diminuição da frequência cardíaca é característica do reflexo orientado, enquanto o

aumento da frequência cardíaca é associado ao reflexo defensivo (Graham, 1979; Graham

& Cllifton, 1966; Lynn, 1966; Sokolov, 1963; Turpin, 1986; cit. em Verschuere, et al.,

2011). De acordo com o modelo de defesa da cascata, o reflexo orientado ocorre quando a

excitação é baixa e a ameaça está distante; quando a excitação aumenta, o reflexo

orientado pode alterar-se para o reflexo defensivo (Verschuere, et al., 2011). A maioria dos

estudos anteriores não tem conseguido testar isto, pois falham na indução de um nível de

stress similar ao observado durante entrevistas criminais reais (Hira & Furumitsu, 2009;

Kugelmans & Lieblich, 1966; cit. em Verschuere, et al., 2011). No estudo de Verschuere e

colegas (2011) a baseline da frequência cardíaca foi similar à reportada em entrevistas

criminais reais, indicando que o polígrafo induziu stress. Mesmo com o aumento do nível

de stress, os participantes revelaram uma diminuição da frequência cardíaca nos itens

target, em comparação com os itens baseline, o que é indicativo do reflexo orientado. As

outras mudanças autónomas, aumento da resposta de condutância da pele e da supressão

respiratória, também suportam a explicação em termos do reflexo orientado.

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No entanto, o reflexo orientado pode não ser o único fator responsável pelas

diferenças nas respostas entre inocentes e mentirosos num TIO (Gronau, Ben-Shakhar, &

Cohen, 2005; Verschuere, Crombez, & Koster, 2004). Outro fator que pode ser

responsável são as diferenças na carga cognitiva (Leal & Vrij, 2010). Investigação recente

sobre a deteção da mentira sugere frequentemente que mentir pode ser cognitivamente

mais exigente (Vrij, 2008; cit. em Leal & Vrij, 2010), por diversos fatores: formular a

mentira deve ser cognitivamente exigente, pois o mentiroso tem que inventar a história;

monitorizar a sua fabricação para que seja plausível e fiel àquilo que alguém já possa saber

ou descobrir, além de que têm que se lembrar do que já disseram em declarações anteriores

para manter a consistência do discurso (Vrij, Granhag, & Porter, 2010).

A elevação da carga cognitiva associada à formulação da mentira não acontece

durante o TIO ou em qualquer mentira de resposta curta. Porém, existem outros fatores que

podem contribuir para aumentar a carga cognitiva num TIO, relacionados com as

dificuldades percebidas durante o ato de mentir (Leal & Vrij, 2010). Para começar, o

examinado culpado tem que suprimir a verdade enquanto responde aos itens target

(Johnson, Barnhardt, & Zhu, 2005) e investigações que utilizaram a ressonância magnética

funcional mostraram que a supressão da verdade é cognitivamente exigente (Spence et al.,

2001; Spence et al., 2004; Vartanian et al., 2013). Na revisão de estudos de Spence e

colegas (2004) concluiu-se que os estudos que usaram a ressonância magnética funcional

na investigação da mentira têm em comum uma descoberta: durante a mentira há um

aumento da atividade de regiões executivas do cérebro (áreas do córtex pré-frontal e do

giro cingulado anterior). No estudo de Vartanian e colegas (2013) cada participante

realizou 80 ensaios em que eram apresentadas sequências de 4 ou 6 dígitos que deveriam

ser memorizadas, sendo que a sequência maior envolvia uma maior carga cognitiva. No

fim de cada ensaio era apresentado um estímulo teste (digito) e a tarefa do participante era

decidir se esse estímulo fazia parte da sequência inicial. Imediatamente a seguir à

apresentação inicial da sequência de dígitos era apresentada uma pista, que indicava se o

participante deveria dizer a verdade ou mentir acerca do estímulo teste (círculo verde -

dizer a verdade; círculo vermelho - mentir). Os resultados indicaram que quando os

participantes mentiam e estavam perante a condição de maior carga cognitiva (sequências

com 6 dígitos) as suas respostas eram mais lentas, o que indica que a mentira pode ser

detetada quando se aumenta a carga cognitiva do suspeito. Os resultados da ressonância

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magnética funcional suportaram a literatura existente, devido à maior ativação do giro

frontal inferior direito (zona chave para a regulação da inibição) durante a mentira na

condição de maior carga cognitiva, comparativamente à mentira na condição de menor

carga cognitiva (sequências de 4 dígitos). Quando os participantes diziam a verdade não

houve ativação desta área. Os investigadores referem que o papel desta área durante a

mentira é suprimir a verdade, sendo que a supressão requer mais esforço quando a carga

cognitiva é maior. Além disso, o examinado culpado tem que ativar intencionalmente a

mentira, enquanto responde aos itens target, o que requer ainda mais esforço cognitivo

(Gilbert, 1991; Walczyk, Roper, Seemann, & Humphrey, 2003; Walczyk et al., 2005). Da

mesma forma, o examinado culpado pode tentar demonstrar uma conduta honesta enquanto

aborda os itens target, para evitar ser apanhado, o que é também cognitivamente exigente

(DePaulo & Kirkendol, 1989; Gronau, et al., 2005). Por fim, os examinados culpados

podem tentar monitorizar o comportamento dos examinadores para perceber se estão a

conseguir enganá-los (Buller & Burgoon, 1996; Schweitzer, Brodt, & Croson, 2002). É

também provável que os efeitos referidos ocorram mais frequentemente durante mentiras

de maior importância, em que os mentirosos estão mais motivados para terem êxito

(DePaulo, et al., 2003; Vrij et al., 2008). Em contexto laboratorial, os investigadores

asseguram a motivação para mentir, normalmente, através da oferta de uma recompensa

(Vrij, et al., 2008).

Leal, Vrij, Fisher, e van Hooff (2008), baseando-se em investigações prévias que

sugerem que suspeitos em entrevistas reais não exibem sinais estereotipados de

comportamentos nervosos, embora possam estar a experienciar elevada ansiedade,

decidiram testar uma nova hipótese: esses suspeitos podem ter experienciado carga

cognitiva enquanto mentiam, o que reduziu a sua excitação tónica, suprimindo os sinais de

nervosismo. A investigação pioneira de Lacey (1967; cit. em Leal, et al., 2008) demonstrou

que a frequência cardíaca diminuía quando sujeitos realizavam tarefas que requeriam

atenção. No entanto, o uso da frequência cardíaca como um índice da excitação tónica é

problemático, já que a atividade cardíaca é controlada pelo sistema nervoso simpático e

parassimpático (Brownley, Hurwitz & Schneiderman, 2000; Ohman, Hamm & Hugdahl,

2000; cit. em Leal, et al., 2008). A atividade eletrodérmica fornece um melhor reflexo da

excitação do Sistema Nervoso Simpático, pois as glândulas écrinas são apenas inervadas

por fibras simpáticas (Adams, 1982; Wallin, 1981; cit. em Leal, et al., 2008). A literatura

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cognitiva também sugere que certos tipos de carga cognitiva poderão reduzir a excitação

eletrodérmica. Estudos mais antigos relataram que quando tarefas stressantes envolvem um

foco elevado de atenção existe uma redução na condução da pele (Harrison & MacKinnon,

1966; MacKinnon, MacKinnon, & Williams, 1959; cit. em Leal, et al., 2008).

Após terem estabelecido que a carga cognitiva diminui a excitação tónica, Leal e

colaboradores (2008) conduziram outra experiência em que concluíram que mentir é

cognitivamente mais exigente do que dizer a verdade e, por isso, os mentirosos

experienciam uma redução da excitação tónica. Os mentirosos deste estudo revelaram uma

diminuição do nível de condutância da pele em resposta aos itens target,

comparativamente aos itens baseline. Enquanto para os inocentes não houve diferenças

significativas entre ambos os tipos de itens. Os resultados em ambas as experiências

revelam que um aumento da dificuldade cognitiva tem um efeito similar à mentira nos

recursos cognitivos, acreditando-se que os resultados deste estudo fornecem uma

explicação do porquê dos suspeitos reais não revelarem sinais de nervosismo nas

entrevistas, mas sim sinais de carga cognitiva (pausas longas, menor piscar de olhos,

menos movimentos de mãos e dedos). Mentir reduz a excitação tónica dos suspeitos devido

à carga cognitiva, resultando em sinais de carga cognitiva ao invés de sinais de

nervosismo. Não está claro o porquê da carga cognitiva suprimir a excitação tónica, mas

uma possível explicação refere que é um reflexo adaptativo para inibir as respostas

emocionais que competem com a fluidez cognitiva (Leal, et al., 2008).

No presente estudo pretendeu-se explorar uma possível aplicação do paradigma do

TIO à identificação do autor de um crime por testemunhas oculares.

A maioria dos estudos da deteção da mentira com recurso a medidas psicofisiológicas

utiliza como procedimento a simulação de um crime. Pensou-se que seria interessante a

utilização de vídeos, assim como Lefebvre e colegas já usaram (2009). No entanto, ao

contrário dos investigadores referidos anteriormente resolveu-se utilizar excertos de filmes

com atores muito famosos. Isto deveu-se, em parte, a questões procedimentais. Uma vez

que pretendíamos focar o TIO na identificação do autor de um crime a pergunta colocada

durante a aplicação do TIO foi sempre a mesma (“É este o autor do crime?”). No entanto,

aumentou-se o número de itens da questão (são sempre 20 itens, 5 itens target – fotos

diferentes do autor do crime - e 15 itens baseline – podem ser 3 atores diferentes,

aparecendo 5 fotografias de cada ator, ou 15 atores diferentes, aparecendo uma fotografia

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de cada um) para garantir uma menor probabilidade de ocorrência de falsos positivos. A

utilização de 5 fotografias para os itens target e de 15 fotografias para os itens baseline foi

igualmente pensada para que os resultados fossem medidos de forma mais precisa, uma

vez que para a realização das análises estatísticas serão realizadas previamente médias para

a FC e RCP dos 5 itens target e 15 itens baseline. Pensou-se que seria interessante utilizar

as duas condições experimentais referidas relativamente ao número de itens baseline pois a

diferença entre o número de itens target e baseline apresentados poderá influenciar os

resultados devido à maior habituação a um destes estímulos (i.e., à identidade de um

determinado ator). Neste caso, na condição 2 (apresentação de 15 atores diferentes como

estímulos baseline) poderá haver uma maior habituação aos itens target, se compararmos

com os itens baseline nesta condição, mas isto não acontece na condição 1, em que cada

um dos itens baseline é apresentado o mesmo número de vezes que o item target (i.e., 5

vezes para cada ator).

Devido aos factos referidos anteriormente (questão colocada no TIO é sempre igual;

decisão de aumentar o número de itens da questão) seria mais exequível encontrar

fotografias suficientes para os itens baseline recorrendo a atores. Para além disso, a

investigação sugere que caras familiares são mais facilmente identificadas, suscitam maior

resposta de condutância da pele e são avaliadas como mais significativas em comparação a

caras não familiares (Tranel, Fowles, & Damasio, 1985, cit. em Ellis, Quayle, & Young,

1999). O estudo de Tranel, Fowles e Damasio (1985; cit. em Dawson, Schell, & Filion,

2007) usou como caras familiares caras famosas (por exemplo, Ronald Reagan e Bob

Hope). Assim, utilizando os atores, famosos e familiares, a probabilidade de haver erros

involuntários na identificação dos culpados seria menor.

Resumindo, existem duas abordagens diferentes que explicam as diferenças entre

mentirosos e inocentes, o reflexo orientado e a carga cognitiva. Estas abordagens fazem

predições inversas no que respeita aos efeitos na atividade eletrodérmica e consistentes ao

defender que há uma diminuição da frequência cardíaca durante a mentira. Uma vez que as

teorias referidas postulam resultados inversos relativamente à resposta de condutância da

pele, no presente estudo, pretende-se investigar estes efeitos, com o objetivo de tentar

averiguar qual das hipóteses é apoiada (aumento da resposta de condutância da pele em

resposta aos itens target – reflexo orientado, ou diminuição da resposta de condutância da

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pele em resposta aos itens target – carga cognitiva). Assim, serão utilizadas como medidas,

a frequência cardíaca e a resposta de condutância da pele para testar as seguintes hipóteses:

H1: No grupo de participantes mentirosos espera-se uma diminuição da frequência

cardíaca durante os itens target, comparativamente com os itens baseline.

H2: No grupo de participantes inocentes não se esperam diferenças significativas na

frequência cardíaca entre os itens target e os itens baseline.

H3: Espera-se uma menor frequência cardíaca durante os itens target no grupo de

participantes mentirosos, em comparação com o grupo de participantes inocentes.

H4: Espera-se que não existam diferenças significativas da frequência cardíaca

relativamente aos itens baseline entre o grupo de participantes mentirosos e de inocentes.

H5: No grupo de participantes mentirosos esperam-se diferenças significativas na

resposta de condutância da pele durante os itens target, comparativamente com os itens

baseline.

H6: No grupo de participantes inocentes não se esperam diferenças significativas na

resposta de condutância da pele entre os itens target e os itens baseline.

2. Método

2.1. Participantes

Foi recolhida uma amostra de 48 participantes (37 do sexo feminino e 11 do sexo

masculino), com idades compreendidas entre os 18 e os 31 anos (M=21.69; D.P=2.578).

De forma a motivar os participantes para a tarefa e garantir a validade ecológica do estudo,

pois numa mentira normalmente existem ganhos ou perdas para o sujeito, sortearam-se

dois vales de 30€ da Media Markt. Constituíram-se dois grupos, o grupo dos mentirosos

(24 participantes, 18 do sexo feminino e 6 do sexo masculino) e o grupo dos inocentes (24

participantes, 19 do sexo feminino e 5 do sexo masculino).

2.2 Material

Os materiais utilizados nesta investigação foram:

1. Segmentos de 16 filmes com atores famosos que retratam homicídios, divididos,

para efeitos de contrabalanceamento, em: Set A e Set B - cada set constituído por 4

segmentos de filmes - apresentados no grupo dos mentirosos; Set C e Set D – cada set

constituído por 4 segmentos de filmes – apresentados no grupo dos inocentes. Cada

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segmento de filme tinha cerca de 1 minuto e 5 segundos de duração, e todos foram

apresentados num monitor ASUS Zenbook ux32vd, com 13.3 polegadas, 16:9 HD. Os

filmes foram formatados através dos programas Movie Maker, Avi ReComp 1.5.0 e Xilosoft

Video Coverter Ultimate 7.7.0. O autor do crime é o ator que aparece predominantemente

nos segmentos apresentados, permitindo uma total visualização do rosto do mesmo. Cada

participante viu 4 segmentos de filmes distintos (Set A, Set B, Set C ou Set D);

2. Cento e sessenta fotografias de atores famosos, divididas em 8 conjuntos. Cada

conjunto de fotografias era constituído por 5 fotografias diferentes do autor do crime

(estímulos target) e 15 fotografias (correspondentes a estímulos baseline). No que diz

respeito aos estímulos baseline, podíamos ter duas condições, i.e., duas composições de

estímulos diferentes. Na composição 1, os estímulos baseline correspondiam a 3 atores

diferentes (ou seja, apareciam 5 fotografias diferentes de cada ator). Na composição 2, os

estímulos baseline correspondiam a 15 atores diferentes (ou seja, aparecia uma fotografia

de cada um dos 15 atores). As fotografias eram apenas faciais, do pescoço para cima, e os

atores encontravam-se em posição aproximadamente frontal com o olhar em frente,

apresentando uma expressão neutra. Todas as fotografias tinham uma altura de 400 pixéis,

para uma resolução de 300 ppp, sendo a largura variável. Todas as fotografias foram

encontradas através do motor de busca Google Imagens e depois formatadas de acordo

com o indicado, através do programa Gimp 2.8. Todos os estímulos baseline possuíam

atributos semelhantes aos do autor do crime (por exemplo, sexo, idade aproximada, raça,

comprimento do cabelo, etc), de forma a nenhum ator sobressair, causando uma maior

ativação por esse facto. Nenhuma das fotografias usadas apareceu em mais do que um

conjunto de fotografias por participante. A seleção das fotografias foi realizada procurando

utilizar apenas atores muito conhecidos da população em geral.

3. Software E-prime 2.0 Professional (Psychology Software Tools, Pittsburgh, PA).

A programação do TIO, apresentação dos estímulos, registo de respostas e sincronização

com o sistema de registo das medidas psicofisiológicas para envio de marcadores de

estímulo e de resposta foi feito com recurso ao programa E-prime (Schneider, Eschman, &

Zuccolotto, 2002).

4. Sistema Biopac MP100, com os módulos de registo GSR100C e ECG100C, para

registo da resposta de condutância da pele (RCP) e eletrocardiograma (ECG),

respetivamente, através do programa Acqknowledge 3.9 (Biopac).

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2.3.Procedimento

Os participantes foram convidados a participar na experiência através da divulgação

de um cartaz pelo campus da Universidade de Aveiro e pelo Facebook, serviço de rede

social.

Os participantes foram recebidos individualmente no Psylab, sendo dirigidos para

uma sala dentro do mesmo. Primeiro foi-lhes entregue o formulário de consentimento

informado (Anexo 1) e a ficha para preenchimento dos dados demográficos (Anexo 2).

Após o preenchimento destes documentos e do esclarecimento de possíveis dúvidas

adicionais, era pedido aos participantes para lavarem as mãos com sabão azul e branco. De

seguida eram colocados os elétrodos para registo da resposta de condutância da pele (RCP)

e da frequência cardíaca (FC). A RCP foi medida através de dois elétrodos colocados nos

dedos indicador e médio da mão não dominante do participante. A FC foi medida a partir

do ECG, registado através de um elétrodo colocado no pulso direito e outro na perna

esquerda. Antes da colocação dos elétrodos para registo da FC a pele era limpa com

recurso a algodão embebido em álcool. O eletrocardiograma e a resposta de condutância da

pele foram registados com uma frequência de 200Hz. Posteriormente eram dadas as

instruções para a tarefa e iniciava-se a experiência. A tarefa consistia na visualização de 4

segmentos de filmes e realização de um TIO após a visualização de cada segmento.

Durante a tarefa, eram registadas a FC e a RCP. Os participantes ficaram sentados numa

cadeira confortável durante toda a experiência.

Criou-se um TIO computorizado específico baseado em Oliveira (2011) visualizado

num computador com um monitor HP-L1710, 17 polegadas. O TIO consistia na

apresentação das 20 fotografias que constituíam o set correspondente ao filme que tinha

sido visualizado, sendo cada fotografia acompanhada pela questão “É este o autor do

crime?”. Antes da apresentação da sequência de fotografias eram dadas instruções aos

participantes para responderem sempre “Não” (tecla “N”) a todas as questões. Das 20

fotografias apresentadas, 15 eram itens baseline e 5 eram itens target. Os itens target eram

fotografias diferentes do autor do crime, e os itens baseline correspondiam a outros atores

que não apareciam em nenhum dos filmes. Antes da apresentação de cada fotografia

aparecia um ponto de fixação durante 1500 milissegundos. As 20 fotografias apareciam

aleatoriamente durante um período máximo de 6 segundos, ou até o participante responder.

O intervalo entre estímulos era variável, entre 18 e 23 segundos.

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No grupo dos mentirosos, metade dos participantes visualizou o set de filmes A e a

outra metade o set de filmes B. No grupo dos inocentes, metade dos participantes

visualizou o set de filmes C e a outra metade o set de filmes D. Metade dos participantes

em cada set visualizaram os primeiros dois filmes com a composição de fotografias 1 (5

itens target + 15 itens baseline correspondentes a 5 fotografias de cada um de 3 atores

diferentes) e os dois últimos filmes com a composição de fotografias 2 (5 itens target + 15

itens baseline de atores diferentes). Esta ordem era contrabalançada entre os restantes

participantes.

Em termos de procedimento, a diferença entre o grupo dos mentirosos e o grupo dos

inocentes foi implementada ao nível dos filmes visualizados, uma vez que estes grupos

viam filmes diferentes. Ou seja, os conjuntos de fotografias utilizados nos TIO foram

iguais em ambos os grupos. Assim, os atores que no grupo dos mentirosos eram os autores

dos crimes e correspondiam aos itens target não apareciam nos filmes que os inocentes

visualizavam. Logo, para o grupo dos inocentes não havia diferença entre as fotografias

target e as fotografias baseline, uma vez que não tinham visto os respetivos atores em

nenhum dos filmes. Portanto, os participantes deste grupo nunca estavam a mentir ao

responder “Não” à questão “É este o autor do crime?”.

No final da experiência os participantes avaliaram o grau de familiaridade

relativamente a cada um dos atores incluídos nos conjuntos de fotografias que visualizaram

ao longo da experiência. Cada fotografia era apresentada isoladamente no computador, por

ordem aleatória, e era pedido ao participante que a avaliasse numa escala de 1 a 7 pontos

relativamente à familiaridade, em que 1 correspondia a nada familiar e 7 a extremamente

familiar. Esta fase de avaliação foi introduzida para testar se a familiaridade dos

participantes com os diferentes atores não diferia entre itens target e baseline.

No final da experiência, pediu-se aos participantes que assinassem um termo de

confidencialidade (Anexo 3) de forma a assegurar que não divulgariam informação

relacionada com a investigação pois tal poderia comprometer a qualidade e fiabilidade dos

resultados obtidos.

2.4.Tratamento e Análise de dados

A análise dos sinais recolhidos e as análises estatísticas foram realizadas de acordo

com o tipo de dados, as características das distribuições, a dimensão da amostra e a

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tipologia das variáveis, utilizando-se para isso os programas MATLAB 7.10.0 (R2010a),

IBM SPSS Statistics 19 e Excel (Microsoft Office 2013).

A análise da frequência cardíaca (FC) foi realizada através de um algoritmo de análise

automática desenvolvido em MATLAB para o presente estudo e que calculava a

frequência cardíaca com base na distância entre cada duas ondas R consecutivas. Uma vez

que os participantes estavam em repouso, existindo menor contaminação de ruído,

verificou-se que este tipo de análise era adequada. Relativamente ao cálculo da FC após a

produção das respostas, foram calculadas as médias para os estímulos target e baseline

segundo a segundo, durante 15 segundos após a respetiva resposta, com base nas

recomendações de Verschuere e colegas (2011). Estes autores referem a utilização de 15

segundos após a apresentação do estímulo para as análises, afirmando que, segundo a

literatura, inicialmente (0-5 segundos) há um aumento da frequência cardíaca e depois uma

diminuição (5-15 segundos), sendo esta desaceleração maior nos itens target do que nos

itens baseline em participantes que possuem informação oculta. A aceleração inicial deve-

se ao dar uma resposta verbal aos itens (Verschuere, Crombez, Smolders, & De Clercq,

2009). Com efeito, Verschuere e colegas (2011) verificaram que a desaceleração

secundária (8-13s pós-estímulo) é significativamente maior para os itens target do que para

os itens baseline. Quando os participantes foram instruídos a permanecerem em silêncio

durante o teste, não dando qualquer resposta verbal, ocorreu uma desaceleração inicial da

frequência cardíaca (Verschuere, et al., 2009).

Foi eliminado um participante das análises da frequência cardíaca devido a falhas

técnicas relacionadas com o registo.

A análise da resposta de condutância da pele (RCP) foi realizada através de um

algoritmo de análise automática desenvolvido em MATLAB. Antes de analisar os dados da

RCP foi utilizado um filtro de passa-baixas (FIR – Low Pass; Blackman – 61dB; com

frequência de cut-off igual a 0.5 Hz). Analisou-se um período entre 1 a 5 segundos após a

apresentação do estímulo para deteção do início da onda. Apesar das recomendações mais

comuns serem de se utilizar um período entre 1 a 3-4 segundos (Dawson, et al., 2007),

decidiu-se estender este intervalo em mais um segundo de forma a incluir a reação à

resposta. Foram calculadas médias para os itens target e baseline nos seguintes

parâmetros: latência, amplitude, risetime e half recovery time. Para além destes parâmetros

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foi também calculada a percentagem média de ausência de resposta fisiológica para os

itens target e baseline.

Das análises dos quatro parâmetros da RCP foram eliminados 3 participantes do grupo

dos mentirosos e 2 do grupo dos inocentes pois não possuíam qualquer valor de resposta

fisiológica para os itens target.

Relativamente às avaliações de familiaridade foram calculadas as médias das

pontuações atribuídas aos atores que correspondiam aos itens target e baseline para cada

participante.

3.Resultados

O desenho experimental do presente estudo correspondia a um 2 (Grupo: inocentes ou

mentirosos) x 2 (Estímulo: target ou baseline) x 2 (Condição, relativamente aos estímulos

baseline: 3 atores diferentes apresentados 5 vezes ou 15 atores diferentes). A variável

grupo era entre-sujeitos, enquanto as variáveis estímulo e condição eram intra-sujeitos.

Assim, as análises estatísticas foram realizadas através de ANOVAs mistas 2x2x2 para os

diversos parâmetros das medidas psicofisiológicas. As interações significativas foram

exploradas através de comparações múltiplas com correção de Bonferroni.

3.1. Análises da Frequência Cardíaca

Após a verificação gráfica dos dados (Figura 1) e seguindo Verschuere e colegas

(2011), decidiu-se realizar ANOVAs mistas segundo a segundo, tal como descrito acima.

Figura 1 - Média da Frequência Cardíaca (bpm) segundo a segundo para os Estímulos Target e Baseline

em ambos os grupos experimentais na Condição 1 (3 atores diferentes apresentados 5 vezes) e 2 (15

atores diferentes)

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Das análises realizadas, apenas a interação entre Estímulo e Grupo emergiu como

significativa.

Como se pode observar pela Tabela 1, nos segundos 1 e 2, a interação entre Estímulo

e Grupo não foi estatisticamente significativa. O mesmo aconteceu nos segundos 8, 9 e 13.

A interação entre Estímulo e Grupo foi estatisticamente significativa do segundo 3 ao

segundo 7, do segundo 10 ao segundo 12 e do segundo 14 ao segundo 15.

Tabela 1 – Resultados da análise estatística da frequência cardíaca para cada

segundo, para a interação Estímulo*Grupo

Segundo F(1,45) p 2

p

s1 .752 .390 .016

s2 2.554 .117 .054

s3 6.215 .016 .121

s4 6.114 .017 .120

s5 9.584 .003 .176

s6 7.802 .008 .148

s7 8.515 .005 .159

s8 2.812 .101 .059

s9 2.307 .136 .049

s10 8.804 .005 .164

s11 20.916 <.001 .317

s12 13.218 .001 .227

s13 .909 .345 .020

s14 4.116 .048 .084

s15 7.564 .009 .144

Análises de comparações múltiplas para explorar a interação entre estímulo e grupo

indicaram que, nos segundos referidos anteriormente as diferenças vão no sentido da média

da FC ser mais baixa nos estímulos target no grupo dos mentirosos, em comparação ao

grupo dos inocentes. Não houve diferenças estatisticamente significativas entre ambos os

grupos relativamente aos estímulos baseline. Simultaneamente, nos segundos 3, 4, 6, 10,

11, 12, 14 e 15, as diferenças estatisticamente significativas indicaram que no grupo dos

inocentes a média da FC perante os estímulos target foi superior à dos estímulos baseline.

Nos segundos 5, 6, 7, 10, 11 e 15, as diferenças estatisticamente significativas indicaram

que no grupo dos mentirosos a média da FC perante estímulos target teve um valor mais

baixo, comparativamente aos estímulos baseline.

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19

Nenhum efeito principal ou outra interação resultou significativo (Anexo 4).

3.2. Análises da Resposta de Condutância da Pele

A análise dos parâmetros amplitude, risetime e half Recovery time não identificou

quaisquer interações ou efeitos principais estatisticamente significativos (Anexo 5).

Para o parâmetro latência verificou-se um efeito principal estatisticamente

significativo da variável Grupo, F(1,41)=6.05, p=.018, 2

p =.129. A média da latência é

superior no grupo dos inocentes (M=2.70), em comparação ao grupo dos mentirosos

(M=2.35). Verificou-se ainda uma tendência para uma interação entre Estímulo e Grupo,

F(1,41)=2.93, p=.094, 2

p =.067, que vai no sentido da média da latência dos estímulos

target ser superior no grupo dos inocentes (M=2.73), em comparação ao grupo dos

mentirosos (M=2.28). Esta diferença não se verificou para os estímulos baseline (grupo

dos mentirosos M=2.42; grupo dos inocentes M=2.67). Finalmente, observou-se também

uma interação entre Condição e Grupo marginalmente significativa, F(1,41)=3.73, p=.060,

2

p =.083, que vai no sentido da média da latência dos estímulos da condição 2 no grupo

dos inocentes (M=2.77) ser superior, em comparação ao grupo dos mentirosos (M=2.26).

Na condição 1 não se verificaram diferenças estatisticamente significativas (grupo dos

mentirosos M=2.44; grupo dos inocentes M=2.63).

Relativamente à percentagem média de ausência de resposta fisiológica, verificou-se

uma tendência para um efeito principal da variável Grupo, F(1,46)=3.59, p=.065, 2

p =.072.

A percentagem média de ausência de resposta fisiológica é superior no grupo dos inocentes

(M=58.35), em comparação ao grupo dos mentirosos (M=45.49). Apesar da interação entre

Estímulo e Grupo não ter sido estatisticamente significativa, F(1,46)=2.04, p=.160,

2

p =.043, as análises de comparações múltiplas com correção de Bonferroni indicaram

que, para os estímulos target, o grupo dos mentirosos apresenta uma percentagem de

ausência de resposta (M=42.50) significativamente inferior (p=.039), em comparação com

o grupo dos inocentes (M=58.13). No grupo dos mentirosos verifica-se também uma

diferença estatisticamente significativa entre estímulos target e baseline (p=.034), em que

os estímulos target apresentam uma média inferior (M=42.50) de ausência de resposta

fisiológica, comparativamente aos estímulos baseline (M=48.48).

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20

3.3. Análises da Avaliação da Familiaridade dos Estímulos

Os dados da avaliação da familiaridade também foram submetidos a uma ANOVA

Mista 2x2, com Grupo como fator entre-sujeitos e Estímulo como fator intra-sujeitos.

A Figura 2 sumariza a média da avaliação de familiaridade dos estímulos pelos

participantes mentirosos e inocentes. Como se pode verificar as avaliações realizadas pelo

grupo dos mentirosos são mais elevadas, em comparação ao grupo dos inocentes.

Relativamente às avaliações dos estímulos target e baseline verifica-se que, enquanto no

grupo dos mentirosos os itens target são avaliados como mais familiares, no grupo dos

inocentes os itens avaliados como mais familiares são os baseline. A apresentação gráfica

dos dados permite verificar a maior discrepância na avaliação de familiaridade dos

estímulos no grupo dos mentirosos.

A análise estatística revelou um efeito principal significativo da variável Estímulo,

F(1,46)=4.46, p=.040, 2

p =.088, que indica que, globalmente, os estímulos target

obtiveram uma avaliação de familiaridade significativamente mais elevada (M=5.38) do

que os estímulos baseline (M=5.14).

Figura 2 –Médias das avaliações de familiaridade dos Estímulos pelos

Mentirosos e Inocentes

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A interação entre Grupo e Estímulo também é estatisticamente significativa,

F(1,46)=11.51, p=.001, 2

p =.200, o que significa que apesar do tipo de estímulo ter afetado

a avaliação da familiaridade, a forma como a avaliação da familiaridade foi afetada pelo

tipo de estímulo foi diferente nos mentirosos e nos inocentes.

Assim, os estímulos target foram avaliados pelo grupo dos mentirosos como mais

familiares (M=5.77), comparativamente ao grupo dos inocentes (M=4.98). Esta diferença

foi estatisticamente significativa (p=.015). Para os itens baseline, a diferença entre as

avaliações do grupo de inocentes e mentirosos não foi significativa (p=.903).

Relativamente à comparação entre estímulos target e baseline no grupo dos mentirosos,

verifica-se que estes avaliaram os itens target como mais familiares (M=5.77) do que os

itens baseline (M=5.16), sendo esta diferença estatisticamente significativa (p<.001). Na

comparação dos itens target e baseline no grupo dos inocentes não se verificam diferenças

estatisticamente significativas (p=.369).

4. Discussão

O presente estudo pretendeu investigar se existem diferenças nas respostas

psicofisiológicas entre mentirosos e inocentes. Usando o TIO os participantes visualizaram

filmes que retratavam homicídios e foram expostos a fotografias, que correspondiam aos

estímulos target e baseline, enquanto se mediam a frequência cardíaca (FC) e a resposta de

condutância da pele (RCP). Decidiu-se testar também duas condições relacionadas com os

itens baseline. Pensou-se que o número de fotografias de cada ator baseline poderia

influenciar os resultados em termos das medidas psicofisiológicas pois a diferença entre o

número de itens target e baseline apresentados poderá criar maior habituação a um destes

estímulos. Assim, na condição 1 utilizaram-se 5 fotografias para cada ator baseline (3

atores diferentes como estímulos baseline, num total de 15 estímulos) e na condição 2

utilizou-se 1 fotografia para cada ator baseline (15 atores diferentes como estímulos

baseline). Devido a esta diferença no número de estímulos baseline, na condição 2 poderá

haver uma maior habituação aos itens target, se compararmos com os itens baseline na

mesma condição, mas isto não acontece na condição 1, em que cada um dos itens baseline

é apresentado o mesmo número de vezes que os itens target (i.e., 5 vezes).

Os valores observados da FC foram mais baixos dos segundos 5-7, 10-11 e 15 em

resposta aos itens target, comparativamente aos itens baseline no grupo dos mentirosos,

confirmando a primeira hipótese do estudo (H1: No grupo de participantes mentirosos

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espera-se uma diminuição da frequência cardíaca durante os itens target,

comparativamente com os itens baseline). Relativamente às comparações entre ambos os

grupos verificaram-se diferenças estatisticamente significativas dos segundos 3-7, 10-12 e

14-15, existindo uma diminuição da FC nos itens target do grupo dos mentirosos, em

comparação ao grupo dos inocentes, o que confirma a terceira hipótese do estudo (H3:

Espera-se uma menor frequência cardíaca durante os itens target no grupo de participantes

mentirosos, em comparação com o grupo de participantes inocentes). Relativamente às

diferenças na FC entre ambos os grupos para os itens baseline não se verificaram

diferenças estatisticamente significativas, o que confirma a quarta hipótese do estudo (H4:

Espera-se que não existam diferenças significativas da frequência cardíaca relativamente

aos itens baseline entre o grupo de participantes mentirosos e de inocentes).

Estes dados estão de acordo com ambas as teorias existentes, que referem a ocorrência

de uma diminuição da FC durante a mentira. Por um lado, a teoria do reflexo orientado

afirma que itens target são significativos, provocando um reflexo orientado forte apenas

em sujeitos que reconhecem a informação (Verschuere, et al., 2011), concretizando-se no

declínio da FC (Verschuere, Crombez, De Clercq, et al., 2004; Verschuere, et al., 2005;

Verschuere, et al., 2011). Por outro lado, a teoria da carga cognitiva refere que os suspeitos

experienciam uma elevada carga cognitiva quando mentem, resultando na redução da sua

excitação tónica (Leal, et al., 2008). Uma vez que os participantes mentirosos mentiam em

resposta aos estímulos target, verifica-se aí uma diminuição da FC, seja em comparação às

respostas aos estímulos baseline no grupo dos mentirosos, seja em comparação aos

estímulos target no grupo dos inocentes. Os participantes inocentes nunca mentiam em

resposta a ambos os tipos de estímulos (target e baseline) uma vez que os atores retratados

nestes estímulos nunca apareciam nos filmes visualizados neste grupo, ou seja, os atores

que apareciam nas fotográficas não tinham cometido nenhum crime. Não existiram

diferenças na FC em resposta aos itens baseline entre ambos os grupos uma vez que tanto

para os mentirosos como para os inocentes esses atores não eram significativos, pois nunca

apareceram em nenhum dos filmes visualizados, não cometendo nenhum crime.

Quanto aos resultados relativos às diferenças da FC em resposta aos itens target e

baseline no grupo dos inocentes verificou-se que a média da FC dos estímulos target foi

superior à dos estímulos baseline dos segundos 3-4, 6, 10-12 e 14-15, rejeitando-se a

segunda hipótese do estudo (H2: No grupo de participantes inocentes não se esperam

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diferenças significativas na frequência cardíaca entre os itens target e os itens baseline).

Estes resultados não eram esperados e não estão de acordo com a literatura. Enquanto para

os suspeitos culpados as alternativas target são significativas e irão provocar um forte

padrão de resposta fisiológica, levando à determinação do conhecimento de detalhes

íntimos do crime e ao seu envolvimento no mesmo, para um suspeito inocente todas as

alternativas são igualmente plausíveis e deveriam provocar uma resposta fisiológica similar

(Meijer & Verschuere, 2010). Estes resultados também não poderão, à partida, ser

explicados pela maior familiaridade dos participantes perante os atores dos estímulos

target pois não houve diferenças estatisticamente significativas na avaliação de

familiaridade entre itens target e baseline pelos inocentes. Uma vez que apenas a

familiaridade foi considerada, poderá haver outra variável responsável por estes dados, o

que deverá ser tido em consideração em estudos futuros.

Relativamente aos resultados da FC verifica-se que os dados são ligeiramente

diferentes do que é referido por Vershuere e colegas (2011). Enquanto no estudo dos

autores referidos a desaceleração da FC foi significativamente maior para os itens target do

que para os itens baseline entre os 8 e 13 segundos, no presente estudo, essa diferença foi

significativa dos segundos 5 - 7, 10 - 11 e 15 (nos mentirosos a média da FC perante

estímulos target teve um valor mais baixo, comparativamente aos estímulos baseline). Na

literatura há referências a diferenças na FC devido ao dar uma resposta verbal (aceleração

inicial) ou ficar em silêncio (desaceleração inicial) nos segundos iniciais após a

apresentação do estímulo (0-5 segundos) (Verschuere, et al., 2009). No presente estudo a

resposta não foi verbal nem silêncio, os participantes respondiam ”não” carregando na

tecla “n” do teclado do computador. Apesar das diferenças se referirem aos segundos

iniciais após a apresentação do estímulo, poderá haver também uma influência nos dados

nos segundos posteriores devido à forma de responder no presente estudo ser diferente.

Relativamente aos resultados da RCP apenas houve diferenças estatisticamente

significativas para o parâmetro latência (tempo que decorre desde a apresentação do

estímulo e o início da onda da RCP). Houve um efeito principal estatisticamente

significativo para a variável Grupo, em que a média da latência foi inferior no grupo dos

mentirosos, em comparação ao grupo dos inocentes. Isto revela que a resposta fisiológica

aos estímulos foi mais rápida globalmente nos mentirosos, o que pode ser explicável pelo

facto dos estímulos target visualizados pelos mentirosos serem muito significativos,

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enquanto para os inocentes nenhum dos estímulos era significativo, demorando por isso a

causar uma reação fisiológica. Houve também uma tendência para uma interação

significativa entre Estímulo e Grupo, sendo que a média da latência dos estímulos target

foi inferior no grupo dos mentirosos, em comparação ao grupo dos inocentes. Mais uma

vez, estes dados podem ser explicáveis uma vez que os itens target são muito significativos

para os mentirosos, mas não o são para os inocentes, por isso os mentirosos podem ser

mais rápidos a reagir aos estímulos do que os inocentes. Os estudos existentes acerca da

deteção da mentira que utilizaram a RCP utilizam a amplitude ou magnitude para realizar

as comparações entre itens target e baseline, e entre mentirosos e inocentes (Furedy, et al.,

1988; Gamer, Verschuere, Crombez, & Vossel, 2008; Verschuere, Crombez, De Clercq, et

al., 2004; Verschuere, et al., 2005; Verschuere, et al., 2009; Verschuere, et al., 2011).

Segundo a literatura o parâmetro mais utilizado é a amplitude ou magnitude (Aranguena,

2001; Dawson, et al., 2007). Em adição à amplitude e magnitude, a literatura refere que

medidas temporais como a latência, rise time e half recovery time também podem ser

usadas, no entanto, estas características da onda da RCP não são reportadas tão

frequentemente, sendo que a sua relação com os processos psicofisiológicos ainda não é

bem compreendida (Dawson, et al., 2007). No presente estudo, pretendeu-se analisar mais

parâmetros para além da amplitude. No entanto, apenas a latência surgiu com efeitos

significativos e, devido à falta de dados na literatura para suportar os resultados obtidos,

estudos futuros são necessários para prestar esclarecimentos. Para além disto, houve

também uma tendência para uma interação significativa entre Condição e Grupo, em que a

média da latência dos estímulos da condição 2 foi superior no grupo dos inocentes, em

comparação ao grupo dos mentirosos. Não é possível interpretar este efeito à luz da

literatura atual, sendo necessários mais estudos para o explorar. Na condição 1 não se

verificaram diferenças estatisticamente significativas entre ambos os grupos.

Ainda relativamente à RCP houve uma tendência para um efeito principal da variável

Grupo para a percentagem de ausência de resposta fisiológica. A percentagem de ausência

de resposta fisiológica foi superior no grupo dos inocentes, em comparação ao grupo dos

mentirosos. Esta diferença pode dever-se ao facto dos participantes inocentes terem menor

reação aos estímulos pois nunca os viram nos filmes. Apesar da interação entre Estímulo e

Grupo não ter sido estatisticamente significativa, as análises de comparações múltiplas

com correção de Bonferroni indicaram que, para os estímulos target, os mentirosos

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apresentaram uma percentagem de ausência de resposta significativamente inferior, em

comparação com os inocentes. Estes dados podem ser explicados pelo facto dos mentirosos

terem visto os estímulos target nos filmes, sendo esses os autores dos crimes, logo era

esperado que houvesse uma elevada ativação nesses itens, existindo uma menor ausência

de resposta fisiológica, em comparação com os inocentes para quem estes atores não eram

significativos. Nos mentirosos verificou-se também uma diferença estatisticamente

significativa entre estímulos target e baseline, em que os estímulos target apresentam uma

média inferior de ausência de resposta fisiológica, comparativamente aos estímulos

baseline. Mais uma vez, a explicação anterior também serve para estes dados. Uma vez

que para os mentirosos os estímulos target eram significativos, era esperado que tivessem

uma menor ausência de resposta fisiológica, em comparação aos itens baseline que não

lhes eram significativos pois nunca apareceram nos filmes visualizados. A amplitude é o

valor médio calculado apenas através dos ensaios em que ocorrem respostas mensuráveis

(diferente de zero) (Humphreys, 1943; cit. em Dawson, et al., 2007). É importante notar

que a complicação relacionada com a amplitude deve-se ao N utilizado no cálculo do

tamanho médio da resposta poder variar dependendo do número de respostas mensuráveis

que o participante dá, e os dados dos participantes sem qualquer resposta mensurável

deverem ser eliminados (Dawson, et al., 2007). Apesar de não existirem dados na literatura

acerca da deteção da mentira que nos permitam fazer comparações das percentagens de

ausência da RCP, parece-nos preocupante ter existido uma média tão elevada de ausência

da RCP (que variou entre 42.50 e 58.35%). Estudos futuros deverão ter em conta esta

medida, para permitir esclarecimentos.

Não havendo diferenças estatisticamente significativas para o parâmetro amplitude e,

como foi referido anteriormente, este é o parâmetro utilizado nos estudos psicofisiológicos

da mentira, não sendo possível fazer comparações com a literatura, rejeita-se a quinta

hipótese do estudo (H5: No grupo de participantes mentirosos esperam-se diferenças

significativas na resposta de condutância da pele durante os itens target, comparativamente

com os itens baseline). Assim, este estudo não permitiu elucidar acerca de qual teoria

(reflexo orientado ou carga cognitiva) estará correta na predição dos efeitos da mentira na

RCP. A teoria dos reflexos orientados refere a existência de um aumento na atividade

eletrodérmica em resposta a estímulos significativos (estímulos target) (Furedy, et al.,

1988; Verschuere, Crombez, De Clercq, et al., 2004; Verschuere, et al., 2011). A teoria da

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carga cognitiva refere que mentir reduz a excitação tónica (diminuição da RCP) dos

suspeitos em resposta a itens target devido à carga cognitiva (Leal, et al., 2008).

Uma vez que a RCP é um sinal bastante sensível, podendo qualquer estímulo

percebido pelo participante produzir uma mudança no sinal, é preciso ter em atenção nestes

estudos o controlo de variáveis externas (por exemplo, auditivas, visuais e térmicas)

(Aranguena, 2001). A temperatura do ambiente e a hora do dia em que se fazem as

experiências são considerados dois aspetos importantes a serem controlados (Hot et al.,

1999; Venables & Mitchell, 1996; cit. em Dawson, et al., 2007). Uma vez que a atividade

eletrodérmica é influenciada pela hidratação do estrato córneo, o nível de condutância da

pele tende a aumentar com o aumento da temperatura ambiente (Dawson, et al., 2007).

Movimentos corporais e respiração profunda podem causar ativação da RCP, por isso, a

não ser que estes fatores sejam registados será impossível distinguir entre verdadeiras

respostas fisiológicas aos estímulos em estudo e RCP não específicas (Dawson, et al.,

2007). Estes dados poderão explicar o porquê de não se terem obtido dados

estatisticamente significativos para o parâmetro amplitude.

A sexta hipótese do estudo foi confirmada (H6: No grupo de participantes inocentes

não se esperam diferenças significativas na resposta de condutância da pele entre os itens

target e os itens baseline) pois não houve diferenças significativas para o parâmetro

amplitude entre os estímulos target e baseline nos inocentes. Para os suspeitos culpados as

alternativas target são significativas e irão provocar um forte padrão de resposta

fisiológica, levando à determinação do conhecimento de detalhes íntimos do crime e ao seu

envolvimento no mesmo, para um suspeito inocente todas as alternativas são igualmente

plausíveis e irão provocar uma resposta fisiológica similar (Meijer & Verschuere, 2010).

Relativamente às variáveis Condição 1 e 2 verificou-se não existirem diferenças

significativas entre ambas. Desta forma, ao contrário do esperado, verifica-se que não

existe uma maior habituação aos estímulos target na condição 2, apesar de se repetirem

cinco vezes, enquanto cada estímulo baseline apenas aparecia uma vez. Isto poderá

significar que apesar dos estímulos target aparecerem mais vezes do que os estímulos

baseline num TIO, isto não é problemático, uma vez que não se verifica a existência de

habituação. Segundo a literatura uma das limitações do TIO deve-se à dificuldade em

formular itens suficientes que sejam apropriados para o teste (Meijer & Verschuere, 2010).

Assim, este estudo vem introduzir uma nova possibilidade para a aplicação do TIO.

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Quando não for possível criar questões suficientes para evitar a probabilidade de

ocorrência de falsos positivos, pode-se aumentar o número de itens por questão.

Relativamente aos resultados da avaliação da familiaridade, o efeito principal da

variável Estímulo, em que as médias são mais elevadas nos itens target, são explicados

pelo facto da média da familiaridade ser extensivamente mais elevada nos itens target no

grupo dos mentirosos. Assim, verificou-se que os itens target foram avaliados como mais

familiares pelo grupo dos mentirosos, comparativamente ao grupo dos inocentes. Isto

poderá dever-se ao facto dos participantes do grupo dos mentirosos terem visto esses atores

nos filmes, enquanto os participantes do grupo dos inocentes não os viram nos filmes. A

mesma explicação serve para a diferença estatisticamente significativa encontrada entre os

itens target e baseline no grupo dos mentirosos, em que avaliaram os itens target como

mais familiares. Quanto às avaliações de familiaridade dos itens baseline não se

verificaram diferenças estatisticamente significativas, podendo ser explicado pelo facto de

nenhum dos grupos ter visto os atores dos itens baseline nos filmes. Quanto à diferença

estatisticamente não significativa encontrada entre os itens target e baseline no grupo dos

inocentes, pode ser explicado uma vez que os inocentes não visualizaram nenhum desses

atores nos filmes. No geral a avaliação de familiaridade dos itens rondou o valor de 5, com

exceção dos itens target que foram avaliados pelo grupo dos mentirosos com um valor de

aproximadamente 6, sendo o mínimo da escala 1 (Nada familiar) e o máximo da escala 7

(Extremamente familiar). Isto revela que foi atingido o objetivo de escolher atores muito

conhecidos da população em geral. Estes dados revelam também que as diferenças

encontradas nas duas medidas, FC e RCP, não se devem à existência de uma maior relação

de familiaridade prévia com os atores escolhidos, já que as diferenças significativas apenas

foram encontradas para os atores que aparecem nos filmes, o que poderá ser explicado por

esse facto.

Ao longo do texto já foram referidas algumas limitações do estudo. Assim, em estudos

futuros deverá controlar-se melhor variáveis exteriores (por exemplo, a temperatura) para

verificar se poderá ter sido essa a razão para a não obtenção de resultados estatisticamente

significativos para o parâmetro amplitude da RCP. A resolução deste problema é

importante pois poderá permitir esclarecer dúvidas relativamente a qual teoria descreverá

melhor os efeitos da mentira na RCP (reflexo orientado ou carga cognitiva). Como

limitação surge também o facto de apenas se ter avaliado o nível de familiaridade dos

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participantes em relação aos atores. Outros aspetos deveriam ser usados para permitir

esclarecer o porquê dos participantes inocentes terem demonstrado uma maior FC em

resposta aos itens target do que aos itens baseline.

Estudos futuros deverão focar-se na análise de outros parâmetros da RCP, além da

amplitude, para permitirem esclarecer e explicar melhor os dados obtidos neste estudo com

a latência e a percentagem de ausência da RCP. Também deverão ser analisados os efeitos

que uma resposta dada num computador durante um TIO poderão ter nas medidas

utilizadas, pois como foi verificado existiram diferenças ligeiras na FC, comparativamente

às respostas dadas verbalmente ou em silêncio noutros estudos.

Como principais conclusões, verifica-se que foram encontradas diferenças

estatisticamente significativas entre os mentirosos e inocentes relativamente à FC, que são

suportados pela literatura. Nos mentirosos há uma diminuição da FC nos itens target,

comparativamente com os mesmos itens no grupo dos inocentes. Para além disso, no grupo

dos mentirosos há uma diminuição da frequência cardíaca face aos itens target,

comparativamente aos itens baseline. Relativamente aos itens baseline não houve

diferenças estatisticamente significativas entre ambos os grupos. Os resultados permitiram

verificar que não existe uma maior habituação aos estímulos target na condição 2, apesar

de se repetirem cinco vezes, enquanto cada estímulo baseline apenas aparecia uma vez, o

que pode trazer importantes repercussões para a investigação e aplicação do TIO.

Métodos para detetar a mentira são muito importantes para os sistemas judiciais. Por

isso, é fundamental investir em estudos deste tipo que poderão ter o potencial de descobrir

aspetos importantes na prática forense dos psicólogos e dos profissionais das forças de

seguranças. O presente estudo pretendeu mostrar uma possível aplicação do TIO às

testemunhas oculares, uma vez que estas podem cometer erros deliberados na identificação

do autor de um crime. Apesar do TIO ter as suas limitações, evidencia ser um método que

pode prestar auxílio nas investigações criminais.

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31

Anexos

Anexo 1

Formulário de Consentimento Informado

Objetivo da experiência

Sendo que, por vezes, as testemunhas oculares constituem o único meio disponível para

determinar a identidade do autor de um crime, torna-se extremamente importante testar

formas de discriminar testemunhas que dizem a verdade das que mentem. Assim, o

objetivo principal desta investigação é estudar o Teste do Conhecimento Culpado neste

âmbito.

Procedimento

A experiência consiste na visualização de uma série de vídeos sobre crimes (natureza

violenta) e de fotografias relativas a suspeitos desses crimes. Enquanto realiza a tarefa

pretendida serão registadas medidas psicofisiológicas (Resposta de Condutância da pele e

Frequência Cardíaca). No final irá responder a um questionário sobre aspetos relacionados

com a tarefa.

Duração

No total esta experiência terá uma duração de aproximadamente 50 minutos.

Riscos para o participante

A sua participação neste estudo não terá qualquer tipo de risco.

Confidencialidade

Garantimos que todos os dados recolhidos serão utilizados apenas para fins de investigação

e não serão usados por mais ninguém além dos elementos envolvidos neste estudo.

Natureza voluntária da sua participação

Caso não deseje que a sua participação seja considerada para efeitos desta investigação,

apenas terá que o comunicar à investigadora. Poderá desistir da experiência a qualquer

momento. Os seus dados serão eliminados imediatamente e na sua presença, sem que tal

implique custos para si.

Contacto

Para o esclarecimento de qualquer dúvida poderá contactar a responsável por esta

investigação: Joana Coutinho – [email protected]

Eu, ____________________________________, tive oportunidade de ler a ficha de

consentimento informado e de colocar as questões que entendi pertinentes. Aceito que os

meus dados sejam utilizados no âmbito desta experiência e de estudos subsequentes a

realizar pela equipa envolvida.

Quero receber informação sobre os resultados desta experiência

Sim □ Não □ Se sim, email: _______________________________________________

_______________________ _______________

Assinatura do participante Data

_______________________ ________________

Assinatura da investigadora Data

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32

Anexo 2

Dados Demográficos

Nº Participante: _____

Scripts utilizados: ___________

___________

___________

___________

___________

Data: ___________

Data de Nascimento: ___/___/___

Idade: ______

Sexo: __ Masculino __ Feminino

Profissão:_______________________________________

Escolaridade:____________________________________

Curso:__________________________________________

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33

Anexo 3

Termo de Confidencialidade

Devido à natureza do estudo em que participou, pedimos o favor de assinar este termo.

“Comprometo-me por este meio a não divulgar nenhum aspeto relacionado com o estudo

em que acabei de participar; compreendo que a divulgação de qualquer detalhe deste

estudo pode comprometer a qualidade e fiabilidade dos resultados obtidos e,

consequentemente, o sucesso da investigação.”

Obrigada pela sua colaboração.

___________________________________

Assinatura do participante

Data: ___/____/____

___________________________________

Assinatura da investigadora

Data: ___/____/___

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34

Anexo 4

Tabela 3 - Resultados da análise estatística da frequência cardíaca para cada

segundo, para o efeito principal da variável Condição

Segundo F(1,45) p 2

p

s1 1.072 .306 .023

s2 .865 .357 .019

s3 .820 .370 .018

s4 .351 .556 .008

s5 .195 .661 .004

s6 .043 .836 .001

s7 .125 .726 .003

s8 .013 .910 .000

s9 .129 .721 .003

s10 .000 .997 .000

s11 .785 .380 .017

s12 .302 .586 .007

s13 .001 .980 .000

s14 .117 .734 .003

s15 .241 .626 .005

Tabela 4 - Resultados da análise estatística da frequência cardíaca para cada

segundo, para o efeito principal da variável Estímulo

Segundo F(1,45) p 2

p

s1 .053 .819 .001

s2 .611 .439 .013

s3 .062 .804 .001

s4 .114 .737 .003

s5 1.006 .321 .022

s6 .115 .736 .003

s7 1.304 .260 .028

s8 1.312 .258 .028

s9 .047 .830 .001

s10 .201 .656 .004

s11 .055 .815 .001

s12 1.647 .206 .035

s13 .130 .720 .003

s14 .364 .549 .008

s15 .000 .983 .000

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35

Tabela 5 - Resultados da análise estatística da frequência cardíaca para cada

segundo, para o efeito principal da variável Grupo

Segundo F(1,45) p 2

p

s1 2.512 .120 .053

s2 3.023 .089 .063

s3 3.369 .073 .070

s4 3.487 .068 .072

s5 3.273 .077 .068

s6 3.060 .087 .064

s7 3.334 .074 .069

s8 3.462 .069 .071

s9 3.309 .076 .069

s10 3.744 .059 .077

s11 3.661 .062 .075

s12 3.517 .067 .072

s13 3.082 .086 .064

s14 2.805 .101 .059

s15 2.772 .103 .058

Tabela 6 - Resultados da análise estatística da frequência cardíaca para cada

segundo, para a interação Condição*Grupo

Segundo F(1,45) p 2

p

s1 .108 .744 .002

s2 .057 .812 .001

s3 .010 .921 .000

s4 .220 .641 .005

s5 .001 .970 .000

s6 .004 .952 .000

s7 .007 .933 .000

s8 .080 .778 .002

s9 .159 .692 .004

s10 .579 .451 .013

s11 .718 .401 .016

s12 .911 .345 .020

s13 .016 .901 .000

s14 .001 .970 .000

s15 .067 .797 .001

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Tabela 7 - Resultados da análise estatística da frequência cardíaca para cada

segundo, para a interação Condição*Estímulo

Segundo F(1,45) p 2

p

s1 1.506 .226 .032

s2 .259 .614 .006

s3 .002 .961 .000

s4 .297 .588 .007

s5 .043 .837 .001

s6 .221 .640 .005

s7 .064 .802 .001

s8 .077 .783 .002

s9 .063 .802 .001

s10 .024 .879 .001

s11 .038 .846 .001

s12 .086 .770 .002

s13 .029 .865 .001

s14 .056 .815 .001

s15 .000 .988 .000

Tabela 8 - Resultados da análise estatística da frequência cardíaca para cada

segundo, para a interação Condição*Estímulo*Grupo

Segundo F(1,45) p 2

p

s1 .004 .952 .000

s2 .109 .743 .002

s3 .011 .915 .000

s4 1.073 .306 .023

s5 1.873 .178 .040

s6 .252 .618 .006

s7 .073 .788 .002

s8 .014 .908 .000

s9 .294 .590 .006

s10 1.826 .183 .039

s11 2.519 .119 .053

s12 1.738 .194 .037

s13 .227 .636 .005

s14 1.719 .196 .037

s15 .976 .329 .021

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Anexo 5

Tabela 9 - Resultados da análise estatística da resposta de condutância da pele, para

os efeitos principais do parâmetro amplitude

Efeitos Principais F(1,41) p 2

p

Estímulo 0.30 .863 .001

Condição 1.644 .207 .039

Grupo 2.938 .094 .067

Tabela 10 - Resultados da análise estatística da resposta de condutância da pele, para

as interações do parâmetro amplitude

Interações F(1,41) p 2

p

Estímulo*Grupo .000 .996 .000

Condição*Grupo 1.831 .183 .043

Estímulo*Condição .597 .444 .014

Estímulo*Condição*Grupo .004 .949 .000

Tabela 11 - Resultados da análise estatística da resposta de condutância da pele, para

os efeitos principais do parâmetro risetime

Efeitos Principais F(1,41) p 2

p

Estímulo .402 .530 .010

Condição .009 .925 .000

Grupo .000 .989 .000

Tabela 12 - Resultados da análise estatística da resposta de condutância da pele, para

as interações do parâmetro risetime

Interações F(1,41) p 2

p

Estímulo*Grupo .166 .686 .004

Condição*Grupo .151 .699 .004

Estímulo*Condição .339 .564 .008

Estímulo*Condição*Grupo .861 .359 .021

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Tabela 13 - Resultados da análise estatística da resposta de condutância da pele, para

os efeitos principais do parâmetro half recovery time

Efeitos Principais F(1,45) p 2

p

Estímulo 2.492 .122 .057

Condição .533 .470 .013

Grupo .185 .670 .004

Tabela 14 - Resultados da análise estatística da resposta de condutância da pele, para

as interações do parâmetro half recovery time

Interações F(1,45) p 2

p

Estímulo*Grupo 1.762 .192 .041

Condição*Grupo .027 .870 .001

Estímulo*Condição .606 .441 .015

Estímulo*Condição*Grupo 1.151 .290 .027