A NOVA CORNETA DO

DIABOEscrito por Sara Rodrigues e João Vítor

Chefe de redacção: João da Ega Lisboa, 1ª Edição, 27 de Fevereiro 1888

FAMILIA MAIA REGRESSA AO RAMALHETE

Afonso e Carlos da Maia regressam depois de anos de ausência

CARLOS DA MAIA E MARIA EDUARDA - ELES SÃO IRMÃOS!

O INCESTO

Maria Eduarda e Carlos da Maia mantêm uma relação amorosa mas afinal de contas, eles são irmãos.

DÂMASO OBRIGADO A ESCREVER CARTA COM SOB COAÇÃO!

Segundo fontes seguras achamos que Dâmaso foi obrigado a escrever esta carta devido aos insultos feitos a João da Ega.

REPORTAGEM SOBRE AS CORRIDAS NO HIPÓDROMO DE LISBOA

No domingo passado, no hipódromo de Lisboa, por volta das 15:00 horas, mais um dia de corridas se iniciava na quente tarde de Junho.

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Madame Castro Gomes e Carlos da Maia mantêm uma relação amorosa já conhecida por todos em praça pública, pois foi referida nas crónicas do High Life, mas afinal de contas eles são irmãos!

Guimarães, tio de Dâmaso, que chegou recentemente de Paris, trouxe consigo documentos escritos por Maria Monforte - mãe de Carlos da Maia e Maria Eduarda Maia, dita Castro Gomes - que comprovam os laços de família entre o jovem casal.

Ao que tudo indica, Maria Monforte, antes de morrer, pediu a Guimarães que entregasse um cofre com vários documentos à família e foi isso mesmo que o Gentleman fez. Maria Monforte descobriu agora que a mãe lhe mentiu toda a vida sobre o seu pai é afinal Pedro da Maia, que se suicidou depois da mulher o abandonar anos atrás.

Face ao escândalo, Carlos da Maia foi fazer uma viagem pela Europa e Maria Eduarda regressou a Paris.

CARLOS DA MAIA E MARIA EDUARDA – RELAÇAO AMOROSA AFINAL É INCESTUOSA, ELES SÃO

IRMÃOS!

O Sr. Salcede pediu a este jornal que fosse publicada a seguinte carta escrita por si a desmentir a carta escrita anteriormente (também publicada nesta edição – carta I) a retractar-se como um bêbado.

Segundo fontes seguras, consta que o Sr. Dâmaso Salcede foi obrigado a escrever esta carta devido ao grande descontentamento com a ofensa a Ega, ao ser visto junto com Raquel Cohen no S. Carlos.

Carta I

“ Ex.mo Sr. – tendo-me Vossa Excelência, por intermédio dos seus amigos João da Ega e Vitorino Cruges, manifestando a indignação que lhe causara um certo artigo da Corneta do Diabo, de que eu escrevi o rascunho e de que promovi a publicação, venho declarar francamente a Vossa Excelência que esse artigo, como agora reconheço, não continha senão falsidades e incoerências: e a minha desculpa única está em que o compus e enviei è redacção da Corneta no momento de me achar no mais completo estado de embriaguez… Agora que voltei a mim, reconheço, como sempre reconheci e proclamei, que é Vossa Excelência um caracter absolutamente nobre; e as outras pessoas que nesse momento de embriaguez ousei salpicar de lama são-me só merecedoras de veneração e louvor. Mais declaro que se por acaso tornasse a suceder soltar eu alguma ofensiva para Vossa Excelência, não lhe devia dar Vossa Excelência ou aqueles que a escutassem a mais importância do que a que se dá uma involuntária baforada de álcool – pois que, por um hábito hereditário que reaparece frequentemente na minha família, me acho repetidas vezes em estado de embriaguez… De vossa Excelência, com toda a estima, etc…”

DÂMASO OBRIGADO A ESCREVER CARTA SOB COAÇÃO

E agora a carta escrita pelo Sr. Dâmaso Salcede sob coacção.

“Meu caro tio! A carta de que fala foi escrita pelo Sr. João da Ega. Eu era incapaz de tal desacato à nossa querida família. Foi ele que me agarrou a mão à força, para eu assinar: e eu, naquela atrapalhação, sem saber o que fazia, assinei para evitar falatórios. Foi um laço que me armaram os meus inimigos. O meu querido tio sabe como eu gosto de si, que até estava o ano passado com tenção, se soubesse a sua morada em Paris, de lhe mandar meia pipa de vinho de Colares. Não fique pois zangado comigo. Bem infeliz já eu sou! E se quiser procure esse João da Ega que me perdeu! Mas acredite que hei-de tirar uma vingança que há de ser falada! Ainda não decidi qual, nesta atarantação; mas em todo o caso a nossa família há de ficar desenxovalhada, porque eu nunca admiti que ninguém brincasse com a minha dignidade… E se o não fiz já antes de partir para Itália, se ainda não pugnei pela minha honra, é porque há dias, com todos estes abalos, veio-me uma tremenda disenteria, que estou que me não tenho nas pernas. Isto por cima dos meus males morais!... “

Afonso e Carlos da Maia regressam ao Ramalhete depois de anos de ausência.

Após terminar o seu curso de medicina em Coimbra, Afonso fez uma viagem de um ano pela Europa e

está agora de regresso ao Ramalhete onde já se encontra o seu avô.

O novo médico da família Maia abriu agora um consultório no Rossio em Lisboa e

um laboratório num velho armazém junto ao Largo das Necessidades

Avô e neto estão agora a morar no grande palacete e parece que a estadia vai ser longa.

FAMILIA MAIA REGRESSA AO RAMALHETE

Entrevistador- Boa tarde, Sr. Dâmaso, como está?

Dâmaso- Boa tarde, estou bastante bem, muito obrigadinho… Mas muito blasé.

Entrevistador- Antes de mais queria agradecer-lhe por ter aceitado o convite de ser entrevistado assim tão em cima da hora. Chegou de uma viagem há pouco tempo, certo?

Dâmaso- Sim, sim, cheguei de França há dois dias no Orenoque, como toda a gente sabe!

Entrevistador- Podemos começar por perguntar se gostou da sua estadia em França.

Dâmaso- Pois claro. Estive algum tempo em Paris a pôr-me a par das novidades e a aproveitar as delícias e encantos que só Paris tem, já

lá não ia há alguns anos.

Entrevistador- E o que acha de diferente em Lisboa?

Dâmaso- Pouco ou nada, nem Lisboa ou Portugal mudam tão rapidamente. Isto é a vergonha da civilização. As pessoas não são tão chiques como lá, Paris é que é chique a valer.

Entrevistador- Conheceu alguém na sua visita a Paris?

Dâmaso- Conheci, principalmente mulheres, sobretudo espanholas, que têm uma fascinação pela minha pessoa e pela minha toilette…

Entrevistador- E como está o seu tio?

Dâmaso- Está bastante rijo e de boa saúde como sempre, pena que não pude passar tanto tempo com ele, ele é bastante ocupado sabe.

Entrevistador- Acredito que seja. Governar um país

como a França ocupa bastante tempo não é verdade? E nem todos podem ser íntimos de Rambetta!

Dâmaso- Sim claro, já ontem bebi uma garrafa de vinho do Porto para me lembrar do que Portugal ainda tem de bom, porque o resto é um chiqueiro, e daqui pouco mais de uma semana irei encontrar-me com alguns amigos no Hotel Central para conviver e tratar de alguns assuntos pendentes.

Entrevistador- Muito bem então, Sr. Dâmaso, muito obrigado por nos dar alguns minutos do seu tempo precioso para a nossa reportagem. Tenha um bom dia!

Dâmaso- Para si também.

ENTREVISTA A DÂMASO

RECÉM-CHEGADO DE PARIS

REPORTAGEM SOBRE AS CORRIDAS NO HIPÓDROMO DE

LISBOA.

No domingo passado, no hipódromo de Lisboa, por volta das 15 horas, mais um dia de corridas se iniciava na quente tarde de Junho. O evento começou calmamente e com alguma monotonia nas bancadas e várias apostas, porém o dia não acabou de maneira tão amigável.

Mais tarde, um jóquei começou a contestar a sua derrota perto da tribuna real, o que causou alarido na polícia e no público presente. A confusão foi tão grande que muitas das senhoras e senhores acabaram a fugir dos seus lugares muito

assustadas e com os vestidos rasgados, mas felizmente não houve feridos. A multidão eventualmente acalmou-se e pouco a pouco as apostas cresceram, assim como o desgosto e felicidade de muitos, incluindo o rei, que afirma ter passado uma boa tarde no geral.

As pessoas porém mostraram-se com atitudes de falta de respeito e

um tanto bárbaras, e queixaram-se da falta de condições do estabelecimento e da falta de entretenimento por parte dos organizadores.

Conseguimos falar com algumas senhoras que tentavam encontrar as suas carruagens para sair da confusão, apesar de algumas não estarem nas melhores condições.

- Alguém rasgou-me o vestido! Este vestido foi encomendado em Paris especialmente para esta ocasião e olhe o que me aconteceu! Estou muita enervada para conversar com quem quer que seja.

E mais não nos disse.

Tentando novamente com outra senhora, já mais de idade e mais afastada do tumulto:

Senhora podia dizer-me o que achou da situação que ocorreu aqui hoje no hipódromo?

Acho que a falta de respeito foi bastante grande por parte do jóquei que perdeu e que a sociedade portuguesa não passa de reles imitadores que tentam ser chiques e não passam de uns 'fadistas' festejantes que só querem é confusão, mais nada.

Espera-se que para a semana as instalações do recinto estejam próprias para o espectáculo e que o público se divirta com os cosmopolitos estrangeiros que irão estar presentes, esquecendo assim o que se passou aqui hoje no hipódromo de Lisboa.

Para quem gosta de andar sempre de olho na actualidade do mundo da moda deixamos agora algumas sugestões que podem ser interessantes…

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