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Jornalismo científico: tendências recentes José Luís Garcia Instituto de Ciências Sociais Universidade de Lisboa

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Jornalismo científico: tendências recentes

José Luís Garcia

Instituto de Ciências Sociais

Universidade de Lisboa

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Interpenetração entre o alargamento do universo científico e emergência da visibilidade mediática

Tradicionalmente, as informações sobre a ciência e os

cientistas tinham lugar numa secção específica na imprensa

escrita ou em programas especializados na TV e na rádio.

Com a omnipresença da ciência e a tecnologia na economia, na

sociedade e em âmbitos que dizem respeito à cidadania, a

relação entre jornalismo e ciência extravasou o jornalismo

científico.

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Interpenetração entre o alargamento do universo científico e emergência da visibilidade mediática

As questões científicas passaram a ser objecto de atenção e de tratamento por parte dos mass media, numa palavra, estão vinculadas à opinião pública.

A opinião pública tem o estatuto de opinião governante nas sociedades democráticas.

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Exemplos dessas questões:• Política cientifica e tecnológica;• Financiamento da investigação;• Envolvimento na peritagem de grandes obras

públicas e nas que envolvem situações de risco e de incerteza;

• Conexão com o diagnóstico e a resposta a epidemias ou a problemas como as alterações climáticas.

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Estas questões passaram a ser partilhadas pela cidadania e, mais ainda, ao nível da forma como são debatidas no espaço público, a estar dependentes de uma instituição social como os mass media e de actores como os jornalistas.

Orientação da esfera científica para a Orientação da esfera científica para a visibilidade públicavisibilidade pública

Interpenetração entre o alargamento do universo científico e emergência da visibilidade mediática

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Visibilidade pública: aproximação a um campo que tem lógicas, exigências, linguagens e critérios específicos e bem distintos dos da esfera científica

Visibilidade mediática: campo dos media e da Visibilidade mediática: campo dos media e da comunicação mediáticacomunicação mediática

Os meios de comunicação são a instituição que domina o espaço público e que, em larga medida, apesar das recentes dinâmicas abertas pelos novos média, estão na génese dos movimentos de opinião pública.

Interpenetração entre o alargamento do universo científico e emergência da visibilidade mediática

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A participação da esfera científica e dos cientistas na transmissão de informações e conhecimentos para o público é realizada numa posição em que quem domina os movimentos de constituição de opinião pública não são as entidades científicas, mas os meios de comunicação.

Interpenetração entre o alargamento do universo científico e emergência da visibilidade mediática

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A análise das relações entre a esfera científica e os mass media é, portanto, muito importante para compreender as implicações da sua interacção.

Interpenetração entre o alargamento do universo científico e emergência da visibilidade mediática

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Tendências de influência recíproca entre cientistas e jornalistas

A atenção mediática sobre os assuntos científicos não se confina às secções de ciência, tendo antes uma presença transversal em todos os aspectos noticiosos dos media. Esta transversalidade acompanha a própria acção abrangente da ciência e da tecnologia na sociedade, na esfera económica e sobre o mundo natural.

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Tendências de influência recíproca entre cientistas e jornalistas

Em sociedades em que a ciência e a tecnologia penetram

tantos domínios de acção e em que a ciência é fonte de

explicação de fenómenos e de legitimidade, os cientistas

tornaram-se um manancial relevante de informação.

Influências dos cientistas sobre a esfera dos media:• propiciar focos de atenção noticiosa; • orientar a atenção dos mass media para diferentes tipos

de direcção; • ser uma entidade de certificação de informações.

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Influências dos jornalistas sobre a esfera científica:• inverter as prioridades de divulgação científica a partir dos

critérios do próprio jornalismo; • antecipar reacções a tomadas de posição ou pareceres em que os

cientistas estão envolvidos (caso de projectos como COMBO ou co-incineração);

• aconselhar os cientistas sobre as imagens da ciência que convém transmitir aos públicos;

• ser o veículo de controvérsias no interior da própria comunidade cientifica;

• promover certos cientistas e entidades científicas para formas de consagração social;

• contribuir para uma imagem da ciência que não a dos cientistas.

Tendências de influência recíproca entre cientistas e jornalistas

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Se o jornalista necessita do cientista porque

é uma fonte de informações, o cientista

depende do jornalista para aceder ao novo

espaço público.

Mas quem controla a chave do processo de

interpermutação é o jornalista.

Tendências de influência recíproca entre cientistas e jornalistas

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A lógica da produção de notícias sobre assuntos deciência está dependente de:

• A tensão entre os princípios de mercado e os princípios de cultura que atravessam a indústria dos media;

• A organização produtiva, os critérios de selecção, das rotinas profissionais e os padrões de tratamento informativo e a ideologia dos jornalistas e das redacções.

Tendências de influência recíproca entre cientistas e jornalistas

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Tendências de influência recíproca entre cientistas e jornalistas

Os cientistas e as entidades científicas são obrigados a inteirar-se da cultura e das práticas jornalísticas, e têm que ter cuidado com o que devem ou não informar os jornalistas e com a imagem de si e do trabalho científico que fornecem aos jornalistas.

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O problema do acesso dos cientistas ao público

A contingência é um dos mais importantes traços que caracteriza as relações dos jornalistas com a esfera científica.

Os jornalistas operam num universo de múltiplas intermediações que torna muito difícil manter lealdades robustas e estáveis.

Na relação com a esfera científica os jornalistas estão numa posição de interface:• entre os cientistas e os seus pares de profissão; • entre os cientistas e a sua empresa; • entre os cientistas e os seus públicos/audiências.

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O problema do acesso dos cientistas ao público

O público dos cientistas nunca é directamente o conjunto da sociedade.

Os jornalistas são, em primeira instância, o público dos cientistas.

Os cientistas como que transferem para os jornalistas o papel de informar o público sobre a esfera científica. Esta situação dá origem a relações dúbias entre cientistas e jornalistas, em que cada qual pode perder o sentido específico da missão de cada uma das actividades.

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O problema do acesso dos cientistas ao público

A resposta dos meios científicos à força que os

meios de comunicação social têm no espaço público

tem sido de dois tipos:• dispor de meios de comunicação próprios, como

newsletters, sites na internet, e outros suportes comunicacionais de ligação com o público;

• contratar agências de comunicação, empresas privadas, que não estão integradas nos mass media.

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O problema do acesso dos cientistas ao público

O processo de mediação dos cientistas com o O processo de mediação dos cientistas com o público é uma mediação da mediação.público é uma mediação da mediação.

Os cientistas, como estão dependentes da intermediação profissional dos jornalistas, procuram o trabalho de outros profissionais da comunicação em ordem a construir notícias para influenciarem a construção da agenda mediática e seus conteúdos.

A esfera científica procura ter um papel na construção da noticiabilidade através do trabalho de outros agentes da comunicação que, esses sim, passam a dirigir-se aos jornalistas.

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O problema do acesso dos cientistas ao público

Meios próprios de comunicaçãoMeios próprios de comunicação • Vantagens: o controlo sobre a informação cabe ao

empreendimento científico e pode ser uma plataforma disponível para ser consultada como fonte de informação fidedigna.

• Desvantagens: não atingir grandes públicos e os próprios cientistas não estarem apetrechados à tradução dos seus conhecimentos para públicos mais vastos.

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O problema do acesso dos cientistas ao público

Agências de comunicaçãoAgências de comunicação • Vantagens: recorrer a agentes de comunicação que

conhecem os critérios jornalísticos e a interlocutores mais acessíveis a aceitar a informação oriunda dos meios científicos.

• Desvantagens: colocar nas mãos de uma empresa privada a acção de exercer influência numa esfera alheia e questões éticas da relação entre jornalistas e agentes de comunicação.

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O problema do acesso dos cientistas ao público

Possibilidade alternativaPossibilidade alternativa Gabinetes de comunicação formados por jornalistas no

interior das instituições científicas.• Com os gabinetes de comunicação, são os cientistas

que protagonizam a relação com os jornalistas, fazendo-o através de outros jornalistas.

• É construído um novo mediador que não está no ambiente dos media, mas está familiarizado com esse ambiente.

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O problema do acesso dos cientistas ao público

O novo mediador está no ambiente dos cientistas, é porta-voz dos meios científicos, mas é expert dos meios jornalísticos.

Esta orientação tem vantagens evidentes para os meios científicos e não parece ter inconveniências de maior para os meios jornalísticos.

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O problema do acesso dos cientistas ao público

Problemas desta terceira orientação:• adequação dos meios científicos à lógica

mediática;• propensão para uma certa perda de autonomia e do

sentido das prioridades dos cientistas;• condicionamento dos meios científicos pelo

próprio espaço público;• condicionamento da esfera científica pela lógica

das forças que estão a privatizar o espaço público.